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CAPITULO X Estruturas e processos de grupo 1. Introdug Em 1974 Steiner publicou um artigo com 0 titulo polémico ~ «O que aconteceu ao grupo na Psicologi dando voz a uma perplex amente, recoloca o problema da io especifica da propria disciplina. Steiner referia-se ao declinio que jd entdo se anunciava, no estudo dos processos de grupo, um tema que, em principio. parecia constituir 0 objecto por exceléncia da Psicologia Social. E assim foi de facto, se recuarmos & década de trinta ¢ 2 acgdo pioneira e fundadora de Kiet dade que, voea © pritica, arti- culando método experimental com aplicagio a problemas socialmente relevantes. como, por exemplo, a Tideranga, a frustra de atitudes. Paradoxalmente, ou talvez nao, como adiante serd sugerido, & a partir do proprio movimento ea mudanga iniciado por Lewit € continuado pelos seus wulos. proximos, que a Psicologia Social norte-americana se centra cada vez mais nos disci Jorge Correia Jesuino processos intrapsiquicos € nas interacgdes des- contextualizadas. Sucedem-se assim a época lewiniana em primeiro lugar elley 1967) e, finalmente (Wyer & Srull, 1984) Note-se. ee ia, que 0 interesse pelos fend- menos de grupo nao se desvaneceu, fenémenos que foram continuados por outras tradigoes de pesquisa. Por um lado © estudo dos processos de sienmtamnciatgycr Cap. IX), iniciado por investigadores europeus emigrados nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, permanece na agenda dos investigadores nos dois lados do Atlintico, em grande parte devido: & renovacao introduzida por Moscaviei com 0 estudo oO 3: Caps. HL e 1X), Po TO Tado, deve-se igualmente a investigadores curopeus ¢ designadamente a Tajfel ¢ continuadores o interesse pelos proces- sos, estreitamente interligados, lialgesrelagoesmaTereENpAy( ver Cap. XI). Bem como ve conf e eouperacta eterno | (ver Cap. XII. Estas referencias aos diferentes capitulos deste Manual permitem mostrar que 0 Grupo continua a constituir um tema central GG/PSEHlogia|Social, pelo menos como a dis- ciplina € entendida e praticada nos. centros curopeus Acresce ainda, para voltar & questio de Steiner, que @iestudosdosssupasmmossEstados Unidos, se de algum modo perdeu centralidade na agenda dos psicdlogoy sociais, tornou-se em contrapartida prioritario em disciplinas como a Psicologia das Organizagdes. Teoria dos Siste- mas € Ciéneias da Gestao. Na revisio a que procedem sobre a investi gugo neste dominio, Levine & Moreland (1990). sensiveis. por um lado, as orientagoes europeias €, por outro, aos desenvolvimentos operados noutros campos disciplinares, vém assim a concluir, em resposta a Steiner, que os grupos «estdo de boa satide» (alive and well), embora tenham emigrado para outras bandas. Na altima década verifica-se, contudo, um novo interesse pelo estudo dos grupos. sobre- tudo EStimuladoyporsosepty MeGrath/(199 1, 1993), um consagrado veterano neste € noutros dominios da Psicologia Social. MeGrath © colaboradores (MeGrath 1993; Hollingshead er al,, 1993), a que alias iremos recorrer com fre- quéncia neste capitulo, Retomninn a tidiga6) Jewiniana de aliar o rigor cientifico a relevaneia soci Je, nesse sentido, iniciaram um ambiciose programa de investigago em que grupos de laboratério sao examinados ao longo do tempo, por forma a methor reconstituir as condigoes dos grupos naturais. Por outro lado.este mesmo aulor e a sua equipa introduziram 0 estudo dos grupos electrénicos Ou seja. dos grupos em que interacgdo ¢ mediada por computadores. Dada a revolugdo operada pela Internet € ao correio electrénico a ela associada, este tipo de estuidos assume uma importineia dbvia, que se acha, als, atestada pelo seu crescimento expo- nencial, v Tipos de grupos Ha muitas definigdes de grupo (Hare, 1976: Shaw, 1981). De_um modo geral.acentuam.as ieias de interacedo, interdependéncia ¢ cons Ciencia Mitua (Deutsch, 1968). Uma solugao proposta por McGrath (1984) para evitar o embarago da definigdo consiste em adoptar a metifora derivada do conceito matemitico de conjumtos vagos que define © grupo em termos de gray Assim, um agregado sera tanto_mais grupo; a) quanto menor for © seu nimero de membros: b) quanto maior for a interaegao entre os seus membros; ¢) quanto mais longa for a sua historia; d) quanto menos o seu futuro se reduz ao horizonte proximo da interacgZo corrente, Uma. ‘caraclerizigao deste tipo, presumivelmente inspi- rada na teoria da categorizagao de Rosch (1978), elimina o sempre dificil problema das fronteiras. Por exemplo, nao se estipulam limites minimos ‘ou maximos quanto a0 ntimero_de_membros. Desde Simmel (1950) GUe se debate Se Guero minimo para que um grupo seja considerado como tal deve ser ts ou dois, Como também nao € muito claro qual deva ser o nimero a par- tir do qual um agregado social seja classificado lo como grupo mas como piblico, multidao, comunidade ou sociedade. Depara-se-nos aqui o problema ja colocado por Wittgenstein: onde acaba a cidade e comegam os arredores. ‘Também nao se presereve que a interacgio seja uma condigio necesséria para que um indi- viduo se identifique com um grupo, como seri o caso do QAipo iminimOVestudacosporsTajfel © associados. (1971). Também nao se-exeluem as situagdes dos EFUPOS)/SEtIpaysadé Heh futuro, como os grupos laboratoriais ad-hoc, e. também. 0 easo do grupo dos jurados sblicitado a pronunciar-se sobre culpabilidade © inocén- cia de um arguido. O mesmo critério pode, em seguida, ser apli- cado aos membros dum grupo. Tal como observa, McGrath (1984, p. 9). 09 individuos «ndo per tencem aos grupos no sentido de serem partes J6gicas», mas antes no sentido matematico de membros de um conjunto». Nestas circunstin- cias, eles podem ser simultaneamente membros de varios grupos e a sua insergao e idemtif n cada um deles ser também uma questiio de grau € no uma questio de tudo ou nada Embora com fronteiras imprecisas, © objecto de andlise acha-se suficientemente caracterizado € 08 casos situados préximos dos limites. das diferentes dimensdes apontadas poderao servir para disting andlise ao longo do continuum em que se siti ‘os fenémenos de grupo. ir e articular os diferentes niveis de n Variando as dimensdes ¢ 0s critérios em que elas se base m, natural ser que igualmente se variagdes a0 nivel das tipologias. © Lodewijkx (1994) propdem um conti- uo que Vai la «categoria social» as «organiza- {gOes sociais» Por categori@Noeidly definida a partir da perspectiva dum observador extemo, entende-se uma colecgio de dois ow mais individuos que tm pelo menos um atributo em comum que os distingue dos _membros de outras categorias (Deutsch, 1973, Honwitz e Rabbic, 1982). Passando & perspectiva interna, os membros duma categoria social podem transformar-se num grupo psicoldgico quando se auto-percep- cionam como pertencendo 2 mesma categoria i > (Rabbie e Horwitz, 1969: 1971). ‘guida, UM grupo social torna-se grupo COmpacto (Lewin, 1948) quando alguns ou todos 0s seus membros cooperam uns com os oUFOS a fim de alcangarem objectivos interdependentes (Deutsch, 1973; Horwitz e Rabie. 1989). Com o tempo. 68) gfipos compacts) podem evoluir para grupos organizados, caracterizados por uma estrutura hierirquica do poder. esta- tutos © papéis. bem como por um conjunto de normas € valores implicitos ou explicitos que regulam as interacgdes entre os membros (Sherit 1966; Rabbie ¢ Lodewijkx 1994). E finalmente uma dFganizagaolSocialspode ser definida como Un sistema social hierarquigo’ de grupos organizados por vezes em intercom- petigdo quanto a detinigdo dos objectivos ou & repartigaio dos recursos (Pfeffer © Salancik, 1978). McGraih (1984) propde uma tipolo: simplificada distinguindo entre QFipOsiiliiais grupos artificiais © grupos, mais quase- je maio- ria dos grupos onganizados que integram as organizagdes, tais como as secgdes © departa- mentos, os grupos de trabalho ¢ as comissées, os. circulos de qualidade, as comissdes de traba- Ihadores, etc., caem nesta categoria. E habitual distinguir quando se trata de grupos nas organi- zagoes entre estes tiltimos constituidos. & mai ra formal do poder ¢ ainda entre grupos pér- manentes, com cominuidade no tempo.€ grupos temporérios, com um tempo de actuagio limi- 296 tado.como &, por exemplo,o caso dum grupo de trabalho ou de uma comissao ad-hoc No contexto do trabalho, McGrath ¢ O'Connor (1996) distinguemmainda entre! grupo" de trabalho. equipa © guarnigdo consoante a importancia relativa dos factores — 0 projecto, os membros ou a tecnologia. E sobretudo neste dominio dos grupos naturais, contextualizados, gue se tem verificado um interesse crescente dos especialistas. Em contraste {68 toriais is ou labora Fupos arti 0 grupos especialmente constituidos pelo experimentador para efeitos de abservagiio sistemtica ou de manipulagao de varidveis. Na medida, porém, em que os membros interagem uns com os outros na resolugdo dos problemas experimentais que Thes so colocados éSt@sigru- reais como os Por ultimo, convém mencionar. sobretudo pelas implicagdes decorrentes para a Teoria das (1994). A dile= nea residiria fundamentalmente no grau de consciencializacao e de identificagao dos mem- bros relativamente aos seus grupos de pertenga c/ou de referéneia. Para Harré, como para Rabbie e Horwitz (1988), alids na sequéncia de Deutsch (1968) e de Sherif (1967), os grupos s6 existem. enquanto grupos quando ha interdependéncia entre os membros e. sendo assim, torna-se pro- it o de represe! interaegao dos membros. a enquanto produtos ¢ grupos taxonémicos, como & 0 caso dos grupos is e dos grupos sociolégicos. Esta questao € central para a Grupos. Mais uma vez, ~ mas voltaremos at este ponto —, a difieuldade atenua-se se consicerarmos que as distingdes entre categorias ¢ metacatego- rias de grupos so mais difusas do que radical- mente discontinuas. Particularmente util neste debate ¢, assim, a distingdo recentenienté pro: posta por Moscovici ¢ Doise (1991) entre grupos feoria dos Jechados © grupos abertoS @que equivale a por em causa a nogdo de que © grupo tende natu- ralmente a extruturarse, fechando-se sobre si proprio, bem como a atenuar importancia e pre valencia do conilito endogrupo ~ exogrupo na formagao da identidade do grupo. 3. Aspectos metodolégicos Para 0 estudo dos grupos sao apliciiveis os ipios e recomendagoes relativos a utiliza- io do método cientifico em ciéncias socials e, mais particularmente, em Psicologia Social (ver Cap. IV). O estudo dos grupos recorre aos méto- dos comuns nos outros dominios, tais comoves. métodos experimentais, quase-experimentais & correlacionais. Um aspecto importante a salien- lar reside na dificuldade da sua aplicagao, dado © mimero de sujeitos que 0 estudo dos grupos forgosamente implica, Um plano experimental vulgar de 2.x 2 com 20 sujeitos por célula, o que significa uma amostra de 80 sujeitos, se for apli- cado a grupos de 5 membros implica uma ampstra de 400 sujeitos. Acresce.¢ a observago deve-se a Davis (1996) que, se a probabilidade de 0s sujeitos comparecerem for de 80, 0 que & considerdvel. a probabilidade de formar grupos de 5 sujeitos é apenas de (80)* = . 33. Segundo este mesmo autor, o menor entusiasmo registado nas iltimas décadas pelo estudo dos grupos dever-se-ia em grande medida a esta dificuldade pnitica de recrutamento de sujeitos para as expe- riéncias. Acresce por outro lado que as instala- des requeridas para a observagao sistemitica de erupos € necessariamente dispendiosa pelos meios téeni NS que exige ~ sala de visio num s6 sentido, equipamento de registo de video ¢ Gudio e, mais recentemente, para ox grupos elec- udnicos, «salas de decisio» equipadas com meios informaticos em rede ¢ dispositivos de Projeccao «inteligentes» ¢ todo © «software» associado. Enfim, a propria equipa de investi- gagdo, no caso dos grupos, ter de ser reforgada por virtue da multiplicagdo © coordenacao das tarefas em jogo tanto na recolha como posterior: mente no tratamento ¢ aniilise dos Se 0 laboratério € dificil, 0 grupo natural nao (0 € menos por virtude das dificuldades de acom- panhamento sistemiitico a que se acrescentam as limitagdes te6ricas dos estudos de campo. Tal como observa MeGrath (1984), concili ulos. io E possivel simultaneamente os trés objectivos a que toda a investigagio cientifica aspira: a) gene- ralidade: b) rigor e ¢) relevancia social. Na me- Ihor das hipéteses sacrifica-se um dos objectivos a favor dos dois restantes. Nestas condigdes, © € ainda McGrath que adverte, 0 principio fundamental, na investi- gagdo Sobre grupos como um qualquer outro dominio cientifico, reside ma s dificuldades. priticas associadas & inves- tigagdo dos grupos tem, todavia, estimulado 0 engenho dos cientistas no sentido de desen- volverem métodos mais econémicos como designadamente, 0 caso dos modelos formais introduzides por Davis (1979) com a teoria dos 297 esquemas de decisdo social para estudar as decisdes dos jurados no sistema de justiga norte~ -americano. Os modelos formais utilizados do, regra geral, de tipo matematico, visando formu- lar predigdes sobre as diferentes possiveis com- binat6rias dos juizos prévios A discussio de grupo. De qualquer forma, a validagdo das hipé- teses no dispensa 0 recurso. por exemplo, a jurados antificiais mas. tanto tedrica como pr © ai reside a economia a, torna dispensavel a observacdo do processo interactive. De certo modo, & um retorno a caixa preta dos beha- Viouristas. Um outro recurso metodolégico € a simulagdo das interacgdes de grupo por com: putador com base em regras ¢ modelos teéricos, aprioristicos. Um exemplo recente, que adiante se examinara, é dado pelas investigagdes de Bib Latané (1996) e associados, baseadas na reoria do impacto social. A simulagao dos processos de intera partir de modelos formais abre novas perspect vas de colaboragdo interdisciplinar, nomeada- mente entre a Fisica € a Psicologia Social. Um outro exemplo deste tipo de aproximagdo € dado pelos trabalhos de Galam (1996) e de Galam e Moscovici (1991, 1994 e 1995) sobre os fend- menos colectivos, enquanto articulagao de niveis micro € macro, com base em modelos desen- volvidos no ambito da mecdnica estatistica. 4. Quadro de referéncia para 0 estudos dos grupos © quadro conceptual que, regra g referido na literatura, distingue entre factores antecedentes © resultados mediados pelos processos de interacgiio (MeGrath, 1964, 1984; McGrath e Altman, 1966; Hackman e Morris, 1978; Hackman, 1987). Nao se trata de uma teoria mas apenas duma classificagao de conjuntos de variveis com pos- ee 298 siveis impactos nos resultados das tarefas que os grupos devem levar a efeito. Por factores antecedentes emtendem-se_ as varidveis que influenciam os processos de teracgao. Compreendem os individuos que com- pdem os grupos, as caracteristicas estruturais dos grupos, tais como a dimensao, as modali- do poder. papéis e estatu- s formas de comunicagao € as relagdes de atracgio e rejeigdo interpessoais, € ainda © con texto em que © grupo opera. ou seja. quell a tarefa que realiza, qual a sua envolvente espe fica. qual o ambiente fisico. bem como cultural. politico e econémico. Por processos de interacedo entendem-se a& trocas que se fazem entre os membros do grupo. Compreendem tanto a forma como 0 contetido Ua comunicagio. A forma diz respeito as regu laridades, tanto sincrsnicas como diacrénicas: € © contetido refere-se as modalidades especificas de que as formas se revestem em fungdo do con- texto, assumindo aqui particular relevancia a natureza da tarefa. AS consequéncias dos processos de interac- gf traduzem-se na efiedcia da acgiio colectiva, ou seja, no grau em que o grupo logra atingir os objectivos pars que foi constituido, As articulagdes possiveis entre estes viirios niveis de andlise so, todavia, muito mais com- plexas por virtude, por um lado, dos efeitos de retroaecdo que as interaegdes introduzem nas. varidveis antecedentes, sobretudo a0 nivel dos factores estruturais mas também nas atitudes & motivagdes dos membros, e. por outro lado, pela cemergéncia de factores latentes a0 proprio pro- cesso de interaccdo, ov seja, a factores de in- fluéncia social (ver Cap. IX) que, como recurso, vio moderando os resultados finais. © quadro proposto depende igualmente do tipo de grupo e do tipo de metodologia. Para gru- pos naturais e de acordo com Hackman (1987), as varidveis consequentes no dizem apenas res- peito ao desempenho do grupo. mas também a satisfagao dos membros e sobretudo 2 aprendiza gem colectiva, ou seja, 8 capacidade de © grupo vir a desempenhar sucessivamente_ melhores tarefas futuras de natureza idéntic: 5, Factores antecedentes 5.1. Caracteristicas dos membros As caracteristicas sociodemogrificas © psi- coldgicas dos membros que compdem um grupo ém certamente influéncia nos processos de interacgao © nos resultados deles decorrentes. Trata-se. todavia. dum aspecto menos prioritario na agenda dos investigadores, talvez. por virtude das reservas dos psicdlogos sociais, ou pelo menos de alguns, quanto ao valor explicativo deste tipo de variiveis. Dispde-se. contudo, de informagio nao muito sistematica sobre algu- mas das relagdes mais comummente observadas € resumidas por Shaw (1981) na revisao de lite ratuira que levou a efeito, No tocante a idade cronolégica. a participagao social aumenta com a idade € toma-se. por outro lado, mais diferenciada e complexa: verifica-se também uma tendéncia para o lider ser-mais velho: € que a conformidade aumentaria até aos doze anos, decrescendo a partir de entZo, No que se refere ao género, os dados empi- icos sugerem que, num contexto grupal, as mulheres so menos assertivas e menos compe- titivas do que os homens, usam 0 contacto visual com mais frequéncia, falam mais © sio- mais conformistas. Nos estudos sobre jurados veri cou-se, por outro lado, que as mulheres tendem a enviesar mais do que os homens. no sentido de um veredicto de «nao eulpado» No que se refere a caracteristicas fi psicoliigicas. as relagdes encontradas dizem sobre- tudo respeito as caracteristicas dos lideres emer- se gentes. Verific cia para serem fisicamente mais altos © psicologi- camente mais inteligentes. Por outro lado, os membros mais inteligentes seriam em geral mais. activos, mais populares € menos conformistas. No que se refere & competéncia e capacidade. 6s individuos mais habilitados para a tarefa de grupo seriam em geral mais actives, dariam, mais contribuigdes ¢ teriam mais influéncia na decisdo do grupo. No que se refere a personalidade. os auto- filirios seriam autocriticos © exigentes, mas também mais conformistas. Os individuos mai positivamente orientados para os outros tende- iam a realgar a interacgdo social, a coesio € © moral, enquanto 0s mais positivamente orienta- dos para as coisas tenderiam a inibira interacgdo social, a reduzir a coesio ¢ a baixar o moral do grupo. Enfim, os sujeitos pouco convencionais e se-ia, sim, uma ligeira tendén- 08 ansiosos dificultam © funcionamento eficaz do grupo, enquanto que os individuos bem ajus- tados ¢ que inspiram confianga facilitam a pro- gressio do grupo para os seus objectives. Embora empiricamente fundamentadas, todas estas relagdes so avulsas e precéirias e por isso mesmo devem ser aceites com reservas. As caracteristicas dos membros podem, toda- ia, constituir uma dimensdo a nao negligenciar, sobretudo na constituigdo de grupos naturais bem como no recrutamento de novos membros. 5.2. Caracteristicas do grupo Referiu-se anteriormente nao ser consensual nem porventura desejdvel definir fronteiras no que se refere & dimensio dos convencional, os pequenos grupos si em que os membros podem interagir e torno de problemas comuns. Os pass numa fila de espera dum transporte ptiblico ou 2909 duma bilheteira sio um aglomerado, um grupo serializado na terminologia de Sartre (1960). Um incidente que thes confira um destino comum pode transformar esse simples agregado num grupo. Qualquer aglomerado, qualquer que seja a sua dimensio, multidio, piblico ou audiéncia, constitui um grupo potencial ou, pelo menos, & possivel identificar neles a emer- géncia, sempre latente, de fenémenos de grupo. No que se refere aos limites minimos, autores como Bales (1950) ou Hare (1976) admitem que as diades (grupos de dois) ja exibem caracteristi- de grupo. Para outros autores (Simmel. 1950. Mills, 1953, Caplow, 1956) s6, porém, a partir de tres € possivel considerar a formaga0 de coli- gagdes € isso constituiria, segundo eles. uma condig: 9 minima para se poder falar de grupo. ) mostraram que Mais _especificamentc, or 0 grupo, maior a tendéneia para que uma Tinoria tenda_a_dominar_e maior, por isso mesmo, a percentagem das comunicagdes dirigi- das por essa minoria ao grupo como um todo. Um corolirio imediato é 0 da maior probabi- m: lidade de emergéncia dum lider com o aumento iss ¢ Norton, 1951). nfl da_dimensio do_grupo no desempenho depende da tarefa mas, em termos. genericos, a curva da neia tende a aumen- Tar até um certo ponto_vindo em seguida a diminuir. Compreende-sé que assim seja por virtude do acréseimo quase exponencial das interaccOes possiveis & medida que o mimero de participantes aumenta, Esse aumento progres- sivo do niimero de inteFacgoes nao corresponde Todavia, a_uma maior produtividade de ideias De acordo com Gibb, (1951), a produgio de ideias € uma fungdo negativamente acelerada efici 300 = em relagao a dimensio do grupo. ou seja,a cada _acréscimo_na dimensio do grupo_corresponde um acréscimo_ progressivamente menor do numero de ideias emitidas. Este efeite é devido ais restriges que se verificam no padrao de comunicagao com o aumento do nimero poten cial das interacgdes. O acréscimo das interacgdes produz também efeitos na propria natureza das trocas. Slater (1958) realizou experiéncias em grupos cuja tarefa consistia em discutir proble- mas de relagdes humanas. Os grupos, num total de 24, variavam na sua dimensio entre dois a sete membros, O autor concluiu que os mem bros dos grupos de cinco exprimiam maior satisfagdo e que acima dese nimero surgiam comportamentos competitivos indesejave possivel. € aS regras pritieas apontam nese sentido, que a dimensao ideal do pequeno grupo se nao afaste do «magico numero 7, mais ou menos 2» (Miller, 1956). Um outro aspecto, apurado por Bales Borgatta (1955), também em observagdes efee- tuadas em grupos de dimensio variando entre dois ¢ sete, seria que os grupos de dimensaio par chegam menos rapidamente a um acordo do que 6 grupos de dimensao impar. A composigio do grupo, ou seja,o seu grau de homogeneidade ou de heterogeneidade, tanto. no que se refere a caracteristicas demogrificas, socio logicas ou psicoldgicas, tem também influéneia nos processos de interacgao e, consequentemente, no desempenho do grupo. Mas também aqui nao € facil apontar efeitos principais, havendo sempre que conjugar com outras varidveis tanto estrutu- rais como contextuais, devendo ainda ter-se em conta os processos dinaimicos Hoffman (1959), por exemplo, apurou que a heterogeneidade na composigao dos. grupos oferece vantagens em tarefas intelectuais do tipo e de resolugdo de problemas. Por seu tumno, Rosenberg er al. (1955) concluiram que em tare- fas mecinicas a homogeneidade do grupo estava associada a efeitos significativamente superiores. Na revisdo que efectuou da literatura Shaw (1981) concluiu que os grupos compa- tiveis, no que se refere a motivagdes e carac teristicas de personalidade, consagram menos energia as interacgdes socioafectivas © por isso atingem os abjectivos de forma mais eficaz do que 08 grupos incompativeis. Por outro lado, os membros dos grupos compativeis declaram-se ais satisfeitos com o desempenho do grupo do que os membros dos grupos incompativeis. No que se refere a qualificagdes e diversificagdo, & favordvel desde que as tarefas assim o requei- ram. Finalmente, no que se refere ao género, os grupos heterogéneos tendem a obter melhores resultados mas também a exibirem maior con- formidade. De acordo com Collins ¢ Raven (1968), a cestrutura de grupo pode ser caracterizada em ter mos dt regularidade das relagdes interpessoais e day relagdes pessoa-tarefa, que transcedem as personalidades ¢ as relagdes idiossineriticas dum determinado grupo. Uma estrutura social pode, pois, ser definida como a relacio entre elementos duma unidade social, podendo os elementos ser individuos ou posigoes. As estruturas so, em regra, contrastadts com ‘05 processos, referindo-se estes a mudangas de actividade ao longo do tempo. Mas a distingao apenas conceptual jé que estruturas e processos esto intimamente ligados. implicando-se mutua- mente. No quadro de referéncia que se propos, isto significa que as estruturas se devem situar tanto & montante como a jusante dos processos de interacgdo. As estruturas tém efeitos nos proces Jo € estes, por seu turno, tém efeitos nay estruturas As estruturas indicam o grau de diferenciagao do grupo. No caso dum grupo temporario, sem historia, as estruturas reduzem-se as diferencia- gdes emergentes, tanto no que se refere as con- Tribuigdes instrumentais para a realizagao da tarefa especifica, como no que se refere as rela- ges afectivas entre os membros. A medida, porém, que o grupo adquire continuidade, 0 que seri o caso do grupo que trabalha em permanén- ‘ou em sessdes intermitentes, 0 grupo vai ficando cada vez mais estruturado e os padrdes de actuag3o tendem por seu turno a exercer influgncia nos processos de interacgdo subse- quentes, Podemos inguir var dimen; s estrutu- O estudo das estruturas comunicacionais nos grupos sobrepde-se em grande parte aos aspec- tos relatives ao contexto fisico e organizacional, jd que € este que introduz constrangimentos & condicionamentos interacgio. As redes de comunicagao foram um dos primeiros tépicos a constituirem 0 objecto de investigagao experi- mental nos grupos (Bavelas, 1948: Leavitt, 1951). Posteriormente, muitos outros investi- gadores conduziram experiéncias idénti usando trés a cinco sujeitos, e operando em redes com graus diversos de restrigdes nos canais (Shaw, 1964, 1978, 1981; Glanzer e Glaser, 1959, 1961). ‘A rede adoptada como base de comparagao nestes estudos é, em geral, a roda, que corres- ponde a uma estrutura centralizada onde os membros s6 podem comunicar através dum 301 membro central, pelo que as mensagens deverio passar todas pelo centro da rod. Outro dispositive utilizado € © circulo, em que cada membro esta ligado a dois outros, um ‘a montante ¢ outro a jusante. Ha outros padroes como 0 Y, a cadeia ¢ todos os canais (Fig. 1). Os principais resultados obtidos nestas expe: cias so bastante consistentes. Este é um dos raros dominios em Psicologia Social onde a investigag3o parece ter atingido uma relativa perfeicao. Em primeiro lugar, as redes de comunicagao centralizadas so mais vulnerdveis & saturagao do que as descentralizadas. Por saturacao entende-se a carga total, em termos de tarefa e de papel, exigida ao sujeito que ocupa uma determinada posigdo (Shaw, 1964, 1978). No caso duma rede centralizada, a pessoa que ocupa 4 posicio central satura mais rapidamente. Em seguida, as redes de comunicagao descentra- lizadas sdo mais eficientes quando 0 grupo tem de resolver problemas complexos, enquanto que as redes centralizadas so preferiveis para os problemas simples. Por problemas simples entendem-se os que exigem apenas recolha de informagdio; logo que se disponha de toda a informagao a solugdo é Gbvia. Por problemas complexos entendem-se aqueles que requerem, para além da recolha de informagao, 0 seu trata mento posterior a fim de encontrar a solugao. Tal como sustenta Flament (1961), 0 desem- penho dum grupo & 6ptimo quando ha homo- morfismo entre a rede de comunicagao € 0 tipo de tarefa a efectuar. Faucheux ¢ Moscovici (1960) compararam grupos cuja tarefa consistia em resolver proble- mas (figuras de Euler) com grupos cuja tarefa era de natureza criativa (drvores de Riguet), verificando que a tarefa de resolugao de proble- mas favorece a emergéncia de estruturas cen- tralizadas, enquanto que a tarefa de criatividade favorece as estruturas homogéneas (todos os 302 Figura 1 Redes de comunicagio B&D Homogénea Y Roda (centralizada) a canais). Posteriormente, Abric (1975) mostrow que nfo € tanto a natureza objectiva da tarefa mas a representagio que os membros dela tém que determina a emergéncia da estrutura: quando © grupo considera que a tarefa requer criatividade, tende a recorrer a estruturas des centralizadas, € quando a representa em termos de resolugio de problemas tende a favorecer as cestruturas hierdrquicas Outro aspecto reportado na literatura diz respeito & emergéneia dos lideres, mais proviivel nas redes centralizadas do que nas redes descentralizadas (Leavitt, 1951). Enfim, nas redes centralizadas a organizagao desenvolve-se mais rapidamente do que nas redes descentra- lizadas. mas em contrapartida a satisfaga0 dos membros € menor, com excepgio dos que ‘ocupam as posigdes centrais Uma linha de investigago mais recente. desenvolvida sobretudo em Inglaterra, procurou determinar quais os efeitos produzidos restrin- gindo as modalidades de comunicagdo, ou seja, permitindo aos sujeitos comunicarem através de canais éudio e/ou video (William, 1977). Algu- mas das experiéncias efectuadas utilizaram tare- fas de negociago (Morley ¢ Stephenson, 1977). Estes estudos trouxeram contribuigdes. impor- lantes que constituiram uma primeira aproy magio ao estudo dos processos de interaccao mediados por computador. AS principais conelusdes apontam, uma vez mais, para o efeito moderador da tarefa. Em tarefas puramente cognitivas, em que a dimen- so socioafectiva pode ser mais nociva do que itil, os canais de comunicagao mais «fries» ou mais «pobres», como o audio ou mesmo a men- sagem por escrito, oferecem vantagem sobre os sanais mais «quentes» ou «ricos». como € 0 caso da_comunii face» (Daft Lengel, 1986, Hollingshead er al., 1993). Em contrapartida, em tarefas como a negociagio, em que a redugdo da incerteza depende dum maximo de informagao, tanto verbal como nao verbal, a comunicac: io «face-a “io através de canais mais ficos revela-se mais eficiente. Estrutura sociométrica: coesdo de grupo Outra estrutura de grupo, condicionante condicionada pelos processos de interacgao, diz respeito ay relagdes afectivas entre os varios membros do grupo. Como tal, tem a ver com as caracteristicas dos individuos mas tam- bém depende das caracteristic: ambiente. © programa de investigacdo levado a efeito por Festinger € colaboradores. nos finais dos s do. meio anos 40 num bairro residencial ¢ complemen- tado por experigneias de laboratério, veio, com efeito revelar que a simples proximidade fisica era Suficiente para inerementar a comunicagao e o interpessoal (Festinger, Schachter ¢ Back, 1950, Festinger, Back. Schachter, Kelley e Thibaut, 1952). A partir da estrutura sociométrica (Moreno, 1934) & possivel identificar quais os sujeitos mais populares ~ as estrelas, quais os mais rejeitados — os bodes-expiatérios. bem. como subconfiguragdes, como «cliques» e coligagde: Um aspecto relacionado com a estrutura sociométrica que tem sido objecto de particular atengdo é 0 que se refere & coesio de grupo, enquanto factor de produtividade dos grupos. Festinger define a coesio de grupo como, 303 «a resultante de todas as forgas que actuam nos membros para permanecerem no grupo» (Festinger, 1950, p. 274). Um aspecto central na teorizagao de Festinger € que os grupos tendem produzir pressdes para a conformidade entre os membros, sobretudo relativamente a questoes em que o teste de objectividade é problematico. ‘ou seja, questdes que dependem do consenso intersubjectivo. Uma consequéncia que pode derivar-se consiste em supor que tais pressdes se dirijam prioritariamente para os dissidentes.com 0 exacto objective de os persuadir e que. no caso de tais tentativas falharem, o grupo tendera a marginalizar os membros nao. conformistas. As hip6teses de Festinger foram em grande parte confirmadas tanto através de estudos experimen- lais como de campo. Verificou-se, com efeito. que ha mais interaccdo nos grupos mais coesos do que nos grupos de menor coesao (Back, 1957: Lott ¢ Lott, 1961). Nos grupos altamente coesos os membros tendem a ser amigaveis € coopera- tivos, enquanto que nos menos coesos tendem a funcionar mais como individuos do que como membros dum grupo. No que se refere a satis fagdo, varios estudos de campo indicam igual- mente que os membros dos grupos coesos se sentem em geral mais satisfeitos do que os mem- bros dos grupos pouco coesos (Gross, 1954: Marquis, er al, 1951; Van Zelst, 1952). Por fim, os grupos com elevada coesio exercem maior influéncia sobre os seus membros do que naque- Jes com baixa coesio, designadamente no que se refere & tendéncia para a conformidade. ou seja. para aceitar a opiniao da maioria (Bovard, 1951: Lott ¢ Lott, 1961; Wyer, 1966). Mas a coesio nem sempre € funcional para a qualidade da decisao de grupo. Um efeito per verso da coesio identificado por Janis (1972; Janis e Mann, 197) € oefeito do pensamento gru- pal. De acordo com estes autores, a tendéneia para a conformidade pode na verdade conduzi exame Superficial dos problemas e a aceitar solu- 304 inicial Hammond ¢ colaboradores examinaram apenas grupos» de dois sujeitos mas nos desenvolvi mentos mais recentes devidos a Gigone ¢ Hastie (1993. 1996) propoe-se um modelo formalizado aplicvel a grupos den sujeitos. O juizo do ionalizado em termos duma com ee t 1 Jj ‘ binagao linear dos valores dos indicios informa- cion is relevantes, as opinides dos membros do grupo e a do da informagdo. A opinido de cada membro ¢ hipotetizada como uma com- binagao linear ponderada dos indicios existentes na memoria dos membros do grupo. As dife- rentes ponderagdes nas equagdes do modelo podem ser afectadas por diversos factores. incluindo as diferengas de papéis, as diferencas de importincia ou saliéncia dos indicios e a dis- tribuigdo da informagao. pelos membros do grupo (Gigone ¢ Hastie, 1996 p. 247). Esta linha de investigagdo reveste-se de inte- resse no apenas tedrico mas também pritico, na medida em que pode contribuir para treinar os juizes a tornarem-se conscientes das suas estat ios feitos nesse Sgias de julgamento. Ens: sentido sugerem, alias, efeitos complexos paradoxais, como por exemplo o facto de os sujeitos conseguirem chegar facilmente a acordo quanto ds ponderagdes dos indicios mas sem que tal contribua para methorar 0 acordo final por virtude de aumentarem as inconsis- léncias nas relagdes estabelecidas com o critério (Brehmer, 1976). Com os progressos que se verifica n na psicologia cognitiva e com os modelos de simulagao computacional (Gigone © Hastie, 1996) & de presumir que novos desen- yolvimentos. venham a contribuir para um. melhor esclarecimento deste dominio. Os conflitos cognitives estéo certamente presentes em todas as tirefas que implicam a formulagao de juszos que precedem ay decisdes. Nas situagdes de conflitos de interesse predo- minam todavia outros. processos. psicoldgicos. O rigor do juizo € aqui sacrificado as estratégias de poder visando melhores resultados para as partes em presenga. A negociagio &€ um upo que implica no minimo dois participantes © pode ser definida como «um processo de proceso de tomada de decisio nun contexto de imeracgdo estratégica ou de imerdependéncia» 319) Gesuino, 1992, p. 7). Podemos distinguir entre ‘des: 1) os conflitos de soma zero, ou ‘em que os ganhos de uma das partes sa perdas da outta; 2) os conflitos de soma mista em que as partes em presenga podem simul neamente competir ¢ cooperar, No primeiro caso a negociagdo é de tipo distributive. ou seja, na melhor das hipéteses. ch misso através duma repartigao das diferengas por ambas as partes, a partir duma soma ou solugdo fixa, No segundo caso © conflito tem potencial integrativo, ou seja. 0 objecto de con- {lito comporta no apenas uma dimensdo, o que permite que ambas as partes cooperem na busca de compensagies reciprocas. O exemplo chis- sico sugerido por Follet (1940) ilustra clara- gi-se a uM compro mente a diferenga entre as duas situagdes. Se duas irmas negoceiam a posse duma laranja, a melhor solugao distributiva é partir a laranja ao meio. Mas se apurarmos que uma esta apenas interessada no sumo € a outta apenas interessada na casca, significa que o conflito passou de uma a duas dimensdes e entio é possivel uma solugao integrativa satisfazendo integralmente ambas as partes. Claro que a satisfagao integral € uma situagio limite. Mas desde que 0 pro- blema contenha potencial integrativo € teorica- mente possivel melhorar a solugdo distributiva baseada numa tinica dimensao. Para um melhor desenvolvimento veja-se Jesuino (1992), Uma terceira situagaio envolve dilemay de motivos mistos, em que as partes So confron- tadas com o dilema de competir ou cooperar. O paradigma ckissico para este tipo de situagdes € 0 dilema do prisioneiro, introduzido por Luce € Raifa (1957) (Fig. 6). Consiste num jogo pirado numa ficgdo em que dois criminosos so presos € sem a possibilidade de comuni- ns carem entre si. O juiz tem a certeza de que eles so culpados mas nio tem provas suficientes para os condenar, Coloca a cada um deles a aliernativa de confessar ou no © crime come- 320 tido. Se nenhum deles confessar, serdo condena- dos por uma infracgdo menor — ndo terem licenga de porte de arma. Se ambos confessarem serio condenados pela falta cometida mas com alenuantes. Mas se um confessar € 0 outro nao, © que confessa receberd um tratamento de excepgao por virtude de colaborar com a justig enquanto que © outro sera julgado com a mi xima severidade. Em termos de penas, a situa- go traduz-se na seguinte matri A. estratégia mais racional para cada um dos sujeitos seria confessar mas se ambos a adoptarem chegam a um resultado inferior ao que obteriam se ambos confessassem. Claro que o ideal seria a cooperagaio mas isso implica © risco da traigio do outro conduzir a um mé- ximo de perdas. O para do dilema do prisioneiro condensa em termos abstractos muitas situagdes da via quotidiana. Por exemplo duas empresas poderiam beneficiar economi- zando custos de publicidade dum produto, 0 que implicaria uma cooperagao da qual nao ha garan- tia. E mesmo que as partes possam comunciar centre si isso nao garante que uma delas nao tenha FiGura 6 Matriz do dilema do prisoneiro SendoT>R>P>S fim de beneficiar do lucro atentagao de trair obtido Existe uma literatura vastissima sobre o di- lema do prisioneiro, bem como modelos sofis- ticados para andlise da melhores estratégias a utilizar. O jogo pode, alids, consistir de um Unico ou de um mimero indeterminado de lan E pode envolver 2 ou n jogadores. Neste tiltimo caso ilustra as situagdes igualmente correntes dos dilemas soci is de que 0 caso tipico € 0 siajante & borla». cloquentemente ilustrado pela fuga aos impostos. O paradigma do dilema do prisioneiro reves tese de interesse mostrando que 0 modelo da devisao racional nem sempre conduz.s solugdes mais eficientes, detect: ndo-se efeitos perversos na légica da acgao colectiva. Axelrod (1984), um dos investigadores que muito tém contribuido para este dominio de investigagio, mostra, porém, em primeiro lugar, que € possivel «apren- der a cooperar», e. em segundo lugar, que a cooperagio € eficaz a longo prazo. Num jogo de ni lances, se a principio os contendores tendem a competir, & medida que © jogo se desenrola tendem a cooperar. Deve-se a Rapoport a«desco- berta» da estratégia para «ensinar» a outra parte 4 optar pela cooperacao, por ele designada tit- -for-tat que poderiamos traduzir por olho por olho, dente por dente. Consiste em comegar por adoptar a cooperagao e responder exactamente na mesma moeda sempre que o parceiro, optando pel compet (ver Jesuino, 1992), Para as situagdes de conflito intergrupo invo- cando outros paradigmas, vejam-se os Capitulos Xie XIII, 6. Processos de interac O processo de interacgdo refere-se as tro que ocorrem entre os membros do grupo com vista ao desempenho da tarefa. Na ecco anterior examinaram-se os conted- dos das interacgdes nos diferentes tipos de tarefas. Nesta secgdo examinam-se os aspectos relativos 5 modalidades de participagao ¢ sua distribuigdo ao longo do tempo. Devem-se sobretudo a Bales © associados (Bales, 1950, 1953; Bales e SI : Bales € Strodtbeck, 1951; Borgata Bales. 1953) os primeiros estudos sistemaiticos sobre observagao das interacgoes de grupos. Para o efeito montou na Universidade de Harvard um dos primeiros dispositivos de observagao, utilizando uma sala de observagiio num s6 sentido, que ficou como modelo e que ainda hoje se utiliza no estudo dos grupos. Trabalhou com estudantes de psicolo- gia, as cobaias de sempre. que periodicamente eram convocados para a resolug’o de diversas tarefas como, por exemplo, a resolucao de pro- blemas de xadrez, ou a discussio de problemas humanos. A descoberta fundamental de Bales consistiu em identificar dois tipos principais de interacgdes correspondentes aos dois tipos de problemas que se colocam 20s grupos: as in- teracgdes instrumentais relativas a tarefa ou objectivo a realizar, ¢ as interacgdes expressivas ou socivemocionais, referentes as relagdes entre os membros do grupo. O sistema desenvolvido comporta doze categorias estreitamente rela cionadas entre si, representadas. de forma sim- plificada, no Quadro I. As doze eategorias cobrem as reas instru- mentais (4 a 9) e as dreas socioemocionais (1 a 3 € 10 a 12); as seis categorias instrumentais subdividem-se em trés categorias passivas ou reactivas (7, 8 e 9) © trés categorias prd-activas (4, 5 € 6). As seis eategorias reactivas subdivi- dem-se também em dois conjuntos: um positive: (1,2 3) e um negativo (10. He 12). Bales utilizou estas categorias na observacao sistemitica dos grupos. Para o efeito, a cada dois membros do grupo atribufa um observador treinado a codificar as interacgdes: quem fala a Quapko F O sistema de categoria de Bales Categorias 1 Mostra solidariedade 2 Reduz as tenses, 3 —Coneorda 4 —Dii sugestio 5 Di opinizo 6~ Di oriemtagao Instrumentais 7 — Pede orientagio 8 —Pede opiniao Passivas 9 — Pede sugestio 10— Discord 11 — Aumenta tensio 12 — Mostra antagonismo Expressivas Negativas 667 —Problemas de oriemtacio; 5 e 8 — Problems db avaliagio; 4 © 9 — Problemas de controto; 2 ¢ 10 — Problemas de decisao: 2 € 12 — Problemas emocionais; | ¢ 12 — Problemas de integracio. ‘quem ¢ qual a categoria de interacgdo ~ se pede ou dé informagao, se pede ou dé opiniao,ete..cte Os observadores tinham igualmente que registar niio apenas a comunicagdo verbal mas também a comunicagiio nao verbal, aliss indispensiivel para uma captagdio mais fina dos aspectos. socio- -emocionais. Un tal dispositive de observa’ pesado e envolve custos considerdveis. Mas foi a partir desse trabalho pioneiro que se obtiveram os primeiros dados sobre os padroes de comur cagao nos grupos de tarefa e que, em grande medida, permanecem ainda vilidos Consciente das limitagdes do sistema, poste riormente desenvolver um les veio jistema de anilise que atende nao apenas aos aspectos formais mas também aos contetidos das interac- gdes. Esse novo sistema tem a designagio de SYMLOG ~ acrénimo de Systematic Multiple Level Observation of Groups e. embora teorica- mente mais complexo, permite uma utilizagao mais pritica, flexivel e econémica, dado que a «observagiio» do grupo pode ser teita retrospec- tivamente ea partir das descrigdes dos proprios membros do grupo (Bales e Cohen, 1979). Neste novo sistema utilizam-se, para além das dimen- sdes instrumentais © expressivas. mais dois pares de dimens6 dominancia-submissao © positivo-negative. Para uma descriga0 mais por- menorizada e exemplos de aplicagao veja-se Jesuino, (1987). Note-se que 0 método SYM- LOG foi recebido com indiferenga pela comu- nidade dos psicélogos sociais. limitando-se a sua utilizagio ao circulo restrito dos colabo- radores proximos de Bales. Voltando ao sistema IPA (Interac Process Analysis), Hare (1976) © McGrath (1984) resumem alguns dos aspectos mais importantes que dessa forma foram identifica- dos, tais como: alguns dos membros do grupo falam mais do que os outros Imente alvo de maior nimero de interacgdes: por outro lado. 6 membro que fala mais dirige « maior parte da comunicago ao grupo como um todo e Eo tinico. no grupo, a proceder dessa forma. Os. restantes dirigem a maior parte das suas comu- nicagdes a membros. especiticos do grupo. Ordenando os membros dum grupo quanto as. percentagens das comunicagdes totais que ini- ciam, obtém-se uma curva proxima do perfil de uma fungdo exponencial decrescente: 0 membro mais activo poderi iniviar cerea de 40 por cento, a45 por cento, das comunicagdes, 0 seguinte 17 por cento, ¢ assim sucessivamente, A medida que o grupo aumenta de dimensio € também maior a proporgzio de comunicagao iniciada pelo membro que mais intervém, enquanto que as diferengas entre os diversos membros tendem a diminuir. O nivel de imteracgao €, por seu turno, afectado pela posigio que eles ocupam no grupo, cobrindo 0 conceito de posigao diferentes aspectos, ais como: a) a posigo na rede de comunicagaio — um sujeito numa posigao central tende a intervir mais do que os que ocupam posigdes periféricas; b) o lugar fis ico ~ numa sala de aula, numa mesa de reuni posigio estatutdria; d) a competénci vaglo ou mesmo a atitude relativamente ao problema ou questio a resolver pelo grupo, ou relativamente aos outros membros do grupo. Outro tipo de regularidades identificads partir do sistema de categorias de Bales é que se refere 4 distribuicao das interacgdes. Cerca de metade das interaegdes num grupo sao pré-acti- vas, OW seja, corespondem a iniciativas para resolver a tarefa, e a outra metade € con: por interacgdes reactivas. Em termos do IPA, as categorias 4, 5 & 6 (das orientagdes, opinides © sugestoes) s is. Estas tres categorias abrangem 56 por cento das interac~ gdes, sendo 6 por cento reactivas, Cerca de metade das interacgdes reactivas, ou seja, 25 por cento do total das interacgdes, sd0_positivas (categorias 1, 2 e 3), cerea de metade das res- tantes. isto &, 12.5 por cento do total sdo reac- des negativas. 6 por cento ou'7 por cento do total so perguntas (categorias 7.8 e 9) e respos- tas directas a essas questOes, ou seja, os © por cento a7 por cento das respostas reactiva dos 52 por cento pré-activas completam o total. Para uma revisio bastante completa destes estu- dos ver Bales Hare (1965) e Hare (1976). Outro tipo de regularidades nos padroes de itera 1 diz respeito as mudangas de configu- ragdo ao longo do tempo. ou seja. as varias fases que © grupo atravessa durante a execugao da tarefa De acordo com Bales (1953), © grupo tem necessidade de resolver trés problemas suces- sivos: a) orientacdo, que corresponde a escolha ¢ classificagdo da informagio relativa a tarefa: b) avaliagdo da informagao recolhida; ¢) con- trolo da decisao a tomar. Estas trés fases corres- pondem aos trés pares de categorias centrais do IPA. A medida que o grupo progride, as percen- tagens relativas das interacgdes nestes trés pares de categorias viio-se alterando em conformi- dade: a) a orientagdo € mais elevada no inicio e declina no final da reunidio; b) a avaliagio é mais elevada entre 0 inicio ¢ o meio da reuniao, dec! nando em seguida; c) 0 controle & baixo no inicio ¢ atinge o seu maximo no final. Por outro lado, medida que 0 grupo se aproxima da fase de avaliagio ¢ da tomada de decisiio a tensio aumenta, Este aumento da tensio reflecte-se num aumento das reaegdes negativas contraba- langadas, por seu tumo, pelas reacgdes posi vas. Dai que tanto as reacgdes positivas como as negativas aumentem do principio ao fim, em- bora constituam uma pequena proporgio da sendo também as frequentes do que as ‘alingera 0 seu méximo na liltima fase, embora as reacgdes positivas, expressas para alivio 0 ¢ aumento da solidariedade, predominem no final da sessio. Note-se que esta sucesso de fases diz apenas ito a uma sessio completa do grupo. Ao longo de sucessivas sessdes, como seri 0 caso mais frequente dos grupos formais, ha outras regularidades a ter em conta. Este problema corresponde ao conceito de desenvolvimento do grupo e tem dado origem a considerivel inves- ligagio. Muito resumidamente verifica-se das categorias de Bales. uma tendéneia para uma redugio da actividade instrumental e um aumento correspondente da actividade socio- -emocional. Por seu turmo, este aumento de actividade socioemocional inclui_um ligeiro ‘imo nas concordaneias e um acréscimo resj deere: 324 substancial no alivio da tensao € no reforgo dat solidariedade. sobretudo nas reunides finais. Um outro aspecto importante € o aumento sig- nificativo das reacgdes negativas na segunda reunido, passando duma média de 12 por cento para 18 por cento. ‘A tworia de desenvolvimento de grupo que teri, porventura, mais popularidade deve-se a ‘Tuckman (1965) que distingue quatro fases, cada uma delas composta de dois aspectos: estrutura de grupo ¢ comportamento instrumental, As qua- tro fases identificadas por Tuckman sio desig nadas por: formacdo (forming); confrontagao (storming); estabelecimento de normas (nor- ming), execucdo (performing). Posteriormente, acrescentou uma quinta fase — adiamento (adjourning). Na fase da formagao os problemas estruturais centram-se nas condutas interpessoais aceitdveis e a tarefa consiste n: modo de a realizar, informacio necesséria € como obté-la. Na segunda fase, a0 nivel dat {ura aumenta a hostilidade entre os membros do grupo € para com 0 lider € © grupo divide-se: a0 nivel da tarefa aumentam as re mos estruturais, © grupo converte-se numa enti- dade, surgem normas © mantém-se a harmonia e, 0 nivel instrumental. trabalha-se sobre a infor- magao disponivel de forma produtiva. Na quarta fase, ao nivel da estrutura, © grupo converte-se num instrumento para a resolugao do problema e emergem as solugdes, ou seja, hd coineidéneia entre estrutura do grupo ¢ actividade da tarefa. Recentemente, Gersick (1988, 1989), basean- do-se na observacdo de grupos naturais © em estudos de laboratério, propos um modelo alter- nativo de desenvolvimento de grupo. O modelo utiliza um conceito da hist6ria natural — © equi- librio imermitente (punctuated equilibrium), segundo 0 qual os sistemas evoluem através de longos periodos de inéreia, pontuados por periodos revolucionarios de mudanga quintica. No que se refere aos grupos que observou, a autora identificou uma primeira fase. que vai até cerea de metade do tempo total programado (0s ito grupos observados efectuaram um minimo de quatro © um maximo de vinte ¢ cinco reunides, entre um minimo de sete dias e um maximo de seis meses) © na qual a orientagi global fica definida logo no final da primeira reuniao. A meio do calendirio os grupos sofrem uma transigdo, definindo uma nova orientagio para a segunda fase. A primeira e a cltima reunides sio especialmente importantes: a primeira pelas orientagdes que estabelece para a fase inicial a Gltima pela aceleragao que im- prime para completar a tarefa. A aniilise do processo de interacgao readquire actualmente um novo interesse por parte dos especialistas. como este tiltimo estudo alids do- cumenta, Isto deve-se, em grande medida, i possibilidade de recurso a téenicas mais sofisti- Jas, como o registo em video associado a ter- minais de computadores, ao recurso a modelos formais ¢ ainda & simulag3o computacional hi muito preconizada por Abelson (1968) may que 86 recentemente comegou a ser utilizada no es- tudo dos grupos (Penrod e Hastie. 1980; Stasser e Davis, 1981; Hastie, Penrod ¢ Pennington, 1983; Stasser, 1988; Stasser e Vaughan, 1996). Uma questio que actualmente mobiliza os investigadores consiste na identificaga0 dos fac lores que explicam a hierarquia da partivipagio nas discussdes de grupo. Admite-se que factores antecedentes, tais como caracteristicas de perso- nalidade, estatuto social, competéncia especitica ou acesso a informagao estratégica possam estar relacionados com uma maior capacidade de inter- vengao que tende em seguida a auto-reforgar-se. Muito provavelmente os membros que tém preferéncias firmes por determinadas altemnativas também estario motivados a intervir com mais frequéncia ow mesmo a tomar a iniciativa. Por outro lado, as tarefas intelectuais mais do que as

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