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Sinopse

Xavier Knight sabe que duas coisas garantem o interesse de uma garota:
carros rápidos e dinheiro.
Ele tem as duas coisas. Quando um escândalo o obriga a um
casamento arranjado com Angela Carson, uma zé-ninguém sem um
tostão, ele presume que ela seja uma interesseira — e promete fazer de
sua vida um inferno. Mas as aparências enganam, e às vezes os opostos
não são tão diferentes quanto parecem...
Classificação etária: 18+
E-book Produzido por: SBD e Os Lobos do Milênio
Livro 1
Sumário
1. Um contrato por uma alma
2. Desespero Sombrio
3. Despertar Brusco
4. Mentiroso Mentiroso
5. Toda Amarrada
6. Não Viaje
7. Afogando no céu
8. Mensagem afiada
9. A dor de ontem
10. A agressão do luto
11. Jogando o jogo
12. Adivinhe quem está de volta
13. Tão perto, tão longe
14. Um Knight público
15. Coração disfarçado
16. Território Novo
17. Três é demais
18. Planejando o Futuro
19. Um brinde à vingança
20. Qualquer coisa por você
21. Mais do que um show
22. Linhas Cruzadas
23. Doce como o pecado
24. Expectativas malignas
25. Nas nuvens
26. Atrasado para o riso
27. Sob Ataque
28. Surpresa, Surpresa
29. Descoberta solitária
30. Quem resgatou quem?
Capítulo 1
Um contrato por uma alma

Angela

Todos pensam que são heróis.


Fantasiamos sobre momentos de glória — os que lemos em livros e vemos
em filmes.
Correr para um prédio em chamas para resgatar um cão? Claro.
Doar um rim para um amigo? Sem problemas.
Tentar impedir um assalto à mão armada? Fácil.
Mas a dura verdade é que não sabemos como reagiremos quando o
momento chegar. Não até que o assaltante tenha a arma apontada para sua
têmpora, e você possa sentir o cheiro do metal.
Você será forte o suficiente para isso? Para enfrentar a arma e dizer: —
Escolha-me. Atire em mim. Mate-me.
Quando chegar a hora, o que você escolherá?
Sua vida ou a deles?

Apertei a mão do meu pai, com meu coração na minha garganta. Doeu
vê-lo assim. Estava inconsciente na cama do hospital, com tubos presos
em seus braços e peito. Máquinas apitavam ao seu lado, e uma máscara
de oxigênio cobria seu rosto.
Lágrimas caíam pelo meu rosto, e eu as limpei pela milésima vez.
Ele era uma constante em minha vida. A âncora que mantinha nossa
família unida. Um pilar de força e saúde.
Lucas, meu irmão mais velho, apareceu à porta. Eu me aproximei e o
abracei.
— O que disse o médico? — eu perguntei.
Lucas olhou por cima do meu ombro para o meu pai.
— Vamos para o corredor.
Concordando, eu fui até meu pai e dei um beijo em sua testa antes de
seguir Lucas.
Na luz fluorescente do corredor do hospital, pousei meu olhar sobre
meu irmão. Olhando para seu cabelo desgrenhado, bochechas sem barba
e os círculos roxos profundos sob seus olhos, eu sabia que ele tinha tido
um dia difícil.
— Ouça, Angie... — Lucas começou. Ele pegou minha mão como fazia
quando eu era criança e tinha medo do escuro. — Preciso que você fique
calma, tudo bem? Seja forte. O diagnóstico... é muito ruim.
Eu acenei e respirei fundo.
— Nosso pai... — Lucas começou, parou, e depois desviou seu olhar
para o teto. Então limpou a garganta. — Ele teve um derrame.
Lágrimas frescas brotaram em meus olhos.
— Ainda não sabemos o quanto isso o afeta, mas eles acham que a
ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) teve algo a ver com isso, —
continuou ele.
— O que podemos fazer? — perguntei, com desespero em minha voz.
— Descansamos um pouco, — disse Danny, meu outro irmão, por
trás de mim. Ele se aproximou e me deu um abraço. — Os médicos ainda
estão fazendo alguns testes.
Meus dois irmãos deram uma olhada, e eu sabia que eles não estavam
me dizendo nada.
— O quê? — Eu exigi. — O que está acontecendo?
Lucas balançou a cabeça.
— Você tem uma entrevista chegando, não tem?— perguntou ele. —
Vá para casa e durma um pouco. Nós te ligamos quando soubermos mais,
está bem?
Eu lamentei. Não queria partir, mas sabia que meus irmãos estavam
certos. Era importante que eu conseguisse este emprego.
Nos despedimos e eu saí em direção ao frio ar noturno. Espiei as luzes
da cidade de Nova Iorque ao longe, com um pavor em meu estômago.
Eu me senti impotente.
Não havia nada que eu pudesse fazer?
Xavier

A garota ao meu lado gemeu enquanto eu girava o volante, mandando o


carro para uma curva fechada. Ela riu, alterada pelo speed e champagne
que tomou.
— Xavier! — Ela mordeu o lábio, suas mãos correndo para cima ao
longo da minha coxa. Duas coisas garantem o interesse de uma garota.
O rugido de um carro veloz e uma porrada de dinheiro.
Acelerei meu Lamborghini pelas estradas cênicas de Mônaco. A loira
gostosa ao meu lado tremia de prazer, acariciando o volume em minhas
calças. Ela era uma modelo para um desfile de moda na cidade.
Já havíamos fodido algumas vezes.
Eu nem sabia o nome dela.
Eu sorria enquanto ela desabotoava minhas calças, suspirando de
prazer enquanto ela me levava na boca.
Isso é que é vida.
Acelerando pelas estradas da bela Mônaco atrás do volante de uma
Lamborghini e com meu pau na boca de uma modelo.
Nenhuma responsabilidade para uma empresa multibilionária.
Nenhum pai irritante vigiando cada passo que dou.
Sem putas traidoras que agiam pelas minhas costas e...
Eu passei por um sinal vermelho, e o clarão de uma sirene policial
gritou pelo ar noturno. Encostei, observando as luzes piscando em meu
espelho retrovisor.
— Puta merda, — murmurei.
A loira começou a olhar para cima, mas eu a empurrei de volta para o
meu pau.
— Eu mandei parar?
A modelo continuou seus esforços, ansiosa para agradar.
O policial saiu de seu carro e começou a abrir caminho até a minha
porta.
Bem, eu pensei, olhando para a cabeça balançando para cima e para
baixo no meu colo. Isso vai dar uma puta história.
Brad

Chamei meu assistente ao meu escritório, resmungando alto sua


frustração. Era a terceira vez em menos de um mês que Xavier fazia
manchetes, e não por estar beijando a cabeça de bebês ou se oferecendo
como voluntário em hospitais.
Não.
Meu filho tinha sido preso em Mônaco por condução imprudente e
indecência pública.
Eu belisquei a ponta do meu nariz.
Houve uma batida na porta.
— Entre, — eu gritei sem olhar para cima. Ron, meu assistente de
vinte e seis anos, entrou. — Você viu a notícia?
A boca de Ron abriu e fechou algumas vezes.
Ele não precisava dizer nada. Eu duvidava que houvesse uma alma em
toda Nova Iorque que não a tivesse visto. A manchete estava em toda
parte.
— Ligue para os advogados e traga Frankie da RH para cá. Por favor.
Ron acenou com a cabeça e se retirou do meu escritório.
Atravessei a sala até a janela de vidro que preenchia toda a parede
norte do meu escritório, olhando para as ruas de Nova Iorque lá embaixo.
Eu teria que me exceder para garantir que as ações de meu filho não
tivessem nenhuma repercussão na empresa, ou nele. Eu gostava de dizer
que tinha dois filhos: Xavier e Knight Enterprises.
Separando-me dos empreendimentos petrolíferos de meus pais,
construí o principal conglomerado hoteleiro e hospitaleiro do mundo a
partir do zero. Minhas duas maiores alegrias na vida foram meu filho e
minha empresa.
E agora ambos estavam em perigo.
De novo.
Com pesar, o rosto de minha linda esposa vinha à mente.
Amélia. Quem me dera que você ainda estivesse aqui. Você saberia como
ajudar Xavier.
Meu olhar sobre as ruas foi desviado para o Central Park. Eu e minha
amada passeávamos juntos pelo parque, sentávamos e comíamos em um
banco junto às árvores.
— Ron! — eu gritei. Ouvi o deslize da porta do meu escritório. —
Cancele minhas reuniões. Vou dar um passeio.
Angela

Caminhei ao longo dos caminhos íngremes do Central Park, tentando


limpar minha mente. Estava voltando da floricultura da Em, depois de
fechar a loja.
Os longos troncos dos salgueiros envergavam com a brisa fria do final
de verão. Os cisnes flutuavam ao longo da superfície transparente de um
lago próximo. A conversa das crianças brincando voava pelo ar, e os
amantes se abraçavam na grama.
Eu coloquei um buquê de lírios em meus braços, tendo algum
conforto em seu cheiro suave. Meu coração ainda doía ao pensar em meu
pai no hospital, mas eu tinha que me manter forte.
Notei um senhor mais velho sentado sozinho em um banco; seus
olhos fechados em oração. Não sei o que me levou à sua direção, mas
antes de me dar conta, eu estava ao seu lado. Ele parecia tão triste.
Tão quebrado.
— Com licença — eu falei.
Ele abriu os olhos, piscando com surpresa enquanto olhava para mim.
— Pois não, — ele respondeu.
— Eu só queria perguntar se você estava bem, — eu disse. — Você
parecia um pouco... pra baixo.
Ele se inclinou para frente sobre o banco e apontou para uma placa
gravada na parte de trás.
— Estou apenas me lembrando de alguém importante para mim, —
disse ele, com uma voz grave.
Eu li a gravura.
Para Amélia, amada esposa e amada mãe. 16/10/1962 — 04/04/2011
Meu coração se partiu.
Eu lhe entreguei meu buquê de lírios, sorrindo.
— Para Amélia, — eu ofereci.
— Obrigado —. Ele se adiantou para pegar o ramo de flores, com as
mãos tremendo. — Posso perguntar seu nome?
— Angela Carson, — respondi.
Brad

Eu vi Angela partir, com uma sensação de paz que afugentava o que


preocupava meu coração. Eu dei tapinhas no banco, sorrindo para o céu.
Obrigado, meu amor. Você me mostrou a resposta.
Pus minha mão no bolso do meu casaco, puxando meu telefone.
— Ron, me dê o máximo de informação possível sobre Angela Carson.
— Examinei o buquê que ela havia me dado, notando o nome da florista
na embalagem de papel.
FLORICULTURA DA EM.
Eu acenei para mim mesmo, pois um plano se formava em minha
mente.
— E traga meu filho de volta para Nova Iorque.

Danny: Angie. Venha rápido


Danny: É sobre nosso pai.

Angela: O que aconteceu?!

Danny: Ele teve um ataque cardíaco.

— Conseguimos ressuscitar seu pai, — disse o médico, com uma voz


grave. — As vítimas de derrame são suscetíveis a ataques cardíacos nas
primeiras vinte e quatro horas após o derrame. Estamos de olho nele e
continuaremos a fazer testes para ver o que podemos fazer. — A maneira
como ele disse fez parecer que não estava confiante de que haveria
muito.
— Obrigado, doutor, — disse Lucas.
O médico acenou com a cabeça e nos deixou.
— Quanto tempo o papai vai ter que ficar aqui? — perguntei. — Não
parece que ele esteja em condições de voltar para casa.
— Talvez não tenhamos escolha, — disse Danny.
— O que isso quer dizer? — eu perguntei.
Meus irmãos olharam um para o outro. Meu coração bateu no meu
peito. Pude sentir más notícias chegando. Finalmente, Lucas voltou-se
para mim.
— Não temos como mantê-lo aqui, Angie.
Pestanejei.
— O quê?
Danny passou as mãos pelo cabelo, com o rosto pálido.
— Estamos falidos.
— Como? O restaurante... — O restaurante tinha sido a vida do meu
pai quando éramos crianças. Nossa mãe também tinha trabalhado lá, até
adoecer. Meus irmãos assumiram o controle assim que terminaram a
faculdade.
— Ele aguentou por uns anos. A recessão teve seu preço. Nosso pai
colocou uma segunda hipoteca sobre a casa para tentar nos ajudar. —
Lucas suspirou. Ele parecia derrotado.
— Por que você não me disse? — eu perguntei. — Tenho uma
entrevista em breve, então talvez...
Mas Danny estava balançando a cabeça.
— As contas do hospital estão chegando em breve...
Eu não podia ficar mais lá — no corredor, no hospital. Era muito
claustrofóbico. Eu me afastei de meus irmãos. Minhas pernas trêmulas
me levaram pelos corredores e escadas abaixo até que me encontrei do
lado de fora, em frente ao hospital.
Era o meio da noite, então não havia ninguém para me ver cair de
joelhos no meio da calçada. Ou assim eu pensei...
— Com licença — disse uma voz profunda atrás de mim.
Soluçando, olhei para cima e vi um homem perto de mim.
— Sim, posso ajudá-lo? — murmurei, limpando meus olhos.
O homem se ajoelhou diante de mim, e eu ofeguei enquanto o
reconhecia.
Era o homem que eu havia encontrado antes no Central Park. Aquele
a quem dei meu buquê de lírios.
— Perdoe minha intromissão. Meu nome é Brad Knight.
Fiquei sem ar. Brad Knight?
O Brad Knight?
O bilionário por trás das Knight Enterprises?
— Eh, — gaguejei.
— Eu sei de sua situação, Angela, e posso ajudar. Eu posso ajudar com
as contas médicas de seu pai.
Minha cabeça girou. Os alarmes tocaram em minha mente.
Como é que ele sabe disso tudo? O que ele quer de mim?
— Eu pagarei por tudo. E me certificarei de que seu pai seja bem
cuidado. Você só tem que fazer uma coisa por mim. — Ele parecia tão
genuíno, mas havia uma pitada de desespero em sua voz. Ele se
recompôs, olhando diretamente nos meus olhos.
— Preciso que você se case com meu filho.
Capítulo 2
Desespero Sombrio

Angela

Emily franziu a sobrancelha enquanto me via comer um pote de sorvete


Ben and Jerry em meu pijama, com meu cabelo amarrado de forma
bagunçada.
— Você está bem? — ela perguntou.
— Super, — eu disse com a boca cheia de chocolate.
Ela suspirou, pegando seu próprio pote de sorvete do freezer. Sentou-
se ao meu lado, enfiando uma colher cheia de baunilha na boca.
— Põe pra fora, — exigiu.
— Estou muito estressada, — admiti. — Meu pai está no hospital, e
vamos ter problemas para pagar as contas. — Acabei de ter uma
entrevista com Curixon, e receio ter estragado tudo, e... — minha voz
vacilou.
E um certo bilionário fez um pedido ridículo na outra noite.
Mas eu não queria contar à Emily.
Como eu poderia?
— Você não estragou tudo, — Em me assegurou.
— Você foi ótima, não é? Você mesmo me disse.
— Pensei que fui, — eu disse. — Agora já não tenho tanta certeza.
Era verdade; eu realmente tinha me dado bem com o entrevistador.
Curixon era uma grande empresa, e eu esperava finalmente poder dar
bom uso ao meu diploma de engenharia em Harvard. Havia passado os
últimos meses trabalhando meio período na floricultura da Em.
Ela até me deixou morar com ela em seu apartamento.
Eu estaria totalmente ferrada se não fosse por ela.
— Você salvou minha vida, Em, — eu comecei. — Se não fosse por
você me deixar ficar aqui...
— Chega de drama, — ela disse antes que eu pudesse agradecê-la
novamente. — Você sabe que tem permissão para ficar o tempo que
quiser. Só não quero ver você desperdiçar sua vida varrendo o chão da
minha floricultura quando você poderia estar trabalhando em algum
lugar como Curixon. Mesmo que você traga ãs e admiradores aleatórios
pra loja. Você é muito esperta para isso, Angie.
Meu coração parou por um instante.
Em não reconheceu Brad, então. Graças a Deus.
— De qualquer forma, estou de saída. — Em se levantou, jogando sua
colher na pia e o pote de sorvete vazio no lixo. — Fique bem. — Ela
calçou os sapatos, e antes que eu desse por isso, ela tinha desaparecido.
Eu estava sozinha.
Minha mente se voltou para a outra noite. Honestamente, eu pensei
que era tudo uma espécie de sonho louco. Mas quando percorri os
contatos do meu telefone, seu nome ainda estava lá.
Brad Knight.
Eu rastejei para fora da sala de estar e fui para minha cama,
enrolando-me em uma bola. Fechei os olhos e deixei a minha mente
voltar para aquela noite.

— O quê?! — Eu me afastei de Brad, colocando um espaço entre nós. —


Isto é algum tipo de brincadeira?
Ele me observou, balançando a cabeça para si mesmo.
— Lamento muito, — disse ele. — Eu me antecipei. Por favor, deixe-
me explicar.
Olhei para trás de mim. As portas do hospital não estavam muito
longe. Eu poderia correr para lá se fosse preciso.
Além disso, havia algo naquele homem que me fazia querer confiar
nele. Ele parecia tão sincero e bondoso. Talvez fosse por causa da sua
idade?
Eu acenei com cautela, gesticulando para que ele continuasse.
— Depois que você foi tão boa para mim esta tarde, eu sabia que tinha
que pagar seu ato de bondade. Visitei a floricultura da Em. Era de lá que
vinha o buquê que você estava segurando.
— Sim, mas...
— Eu vi isso no papel. E falei com a Em, uma garota adorável. E
depois perguntei de você, Sra. Angela Carson. Ela disse que a conhecia
bem. Que você estava em um pequeno hospital em Nova Jersey porque
seu pai tinha acabado de adoecer.
Eu acenei, ainda incrédula em toda esta conversa.
— E por favor, perdoe a pergunta, mas sua família não tem os
recursos necessários para manter seus cuidados... seu tratamento, sua
estadia no hospital, o mais confortável possível, tem?
Eu neguei com a cabeça.
— É aí que eu posso te ajudar, Angela. Podemos nos ajudar. — Ele
sorriu, seus olhos desapareceram em meio às rugas de pé de galinha.
— Então, você quer que eu me case com seu filho, — repeti suas
palavras de antes. Senti como se fossem alienígenas saindo da minha
boca.
Brad acenou com a cabeça.
Pensei no que eu sabia sobre o filho de Brad.
Xavier Knight.
Eu o conhecia, é claro. Como eu não poderia? Ele era uma
celebridade. Rico nojento e lindo de morrer.
Qualquer garota se lançaria à chance de ser sua esposa.
Mas ele parecia ser do tipo rebelde. Eu tinha visto as manchetes e
artigos sobre ele, de vez em quando, durante os últimos meses.
Sexo.
Drogas.
Corridas.
Ele era selvagem.
Perigoso.
Um arrepio corria pela minha espinha, mas não conseguia dizer se era
por medo ou excitação.
— Mas por que eu? — eu perguntei. — Tenho certeza de que você
poderia encontrar um milhão de meninas que são mais bonitas e mais
bem-sucedidas do que eu. Alguém mais adequado para seu filho.
— Você é uma alma pura, minha querida. Você pode não saber, mas é
rara. Eu quero o melhor para meu filho, como qualquer pai faria. Eu acho
que você pode ajudá-lo. Confio em meu instinto, e meu instinto agora
diz que isto vai funcionar.
Pestanejei.
Uma alma pura? O que isso quer dizer?
— Mas o casamento não é apenas um pedaço de papel, — eu
argumentei. — Você não pode simplesmente assinar um contrato e se
apaixonar.
— Isso pode ser verdade, mas o amor é paciente.
— Como você sabe que não vou me casar com seu filho e depois me
divorciar dele no dia seguinte? — Eu estava me fazendo de advogada do
diabo, já que precisava de respostas para esta hipótese confusa.
Em vez de se afastar, ele se aproximou de mim e pegou minha mão.
Seu toque foi caloroso e estranhamente reconfortante.
— Eu não acredito que você faria isso, Angela. Como eu disse, sua
alma é pura. Mas se você precisar de algum tipo de plano de seguro, olhe
para trás.
Eu virei e vi o hospital, iluminado pelos candeeiros da rua.
— As contas médicas não são brincadeira. Tratamentos, reabilitação,
atendimento 24 horas. Tudo isso custa dinheiro, querida. Se você
cumprir sua parte do acordo, eu lhe prometo, pela minha vida, que
também cumprirei minha parte.
Minha mente estava agitada. Tinha que haver uma maneira diferente.
— Eu tenho uma segunda entrevista para este trabalho amanhã.
Posso ser capaz de...
— Angela, — disse ele, interrompendo-me. — Você sabe quanto custa
uma noite de internação no hospital? Setecentos dólares a cada noite.
Um exame de sangue de rotina custa duzentos e cinquenta dólares. Se
eles, Deus nos livre, tiverem que usar o desfibrilador, são mais quinze mil
dólares.
Fechei meus olhos.
— Por favor. Por favor, pare. Dê-me só um minuto para pensar. —
Tentei organizar meus pensamentos confusos.
Meu pai.
O restaurante.
Meus irmãos.
Anos de dívidas.
Um novo emprego.
Curixon pagava bem. Se eu conseguisse a posição, eu poderia pagar as
coisas lentamente.
Emily me deixaria viver com ela por mais um tempo se isso
significasse salvar a vida do meu pai.
Como eu poderia me casar com um homem que não amava e muito
menos conhecia?
— Por que você está me ajudando? — eu perguntei.
— Quando você veio até mim esta tarde, — começou ele, — você
respondeu a uma oração que eu havia enviado ao céu. Você me deu
forças quando eu precisei. Por isso, agora estou aqui para responder suas
orações. Estou aqui para lhe dar força, e é assim que eu posso fazer.
Pensei sobre isso, minha respiração saía entre breves intervalos.
Eu estava realmente considerando isso?
— Angela? — Brad me chamou suavemente.
— Posso ao menos ter algum tempo para pensar sobre isso? — eu
perguntei. — Isto é muita coisa para assimilar.
— É claro, — ele disse.
Brad me entregou um cartão de visita, feito de um metal fino e leve.
Acho que papel é muito plebeu para um bilionário, pensei de certa forma
delirante.
— Ligue-me quando decidir. — Ele sorriu para mim antes de se virar.
— Eu realmente acredito que isso vai funcionar, Angela. Eu realmente
acredito.

Meu telefone tocou, acordando-me do meu devaneio. Virei sobre minha


cama, verificando o identificador de chamadas.
CURIXON LTD.
Eu me enfiei direito na cama, com meu coração martelando no peito.
Está bem, está bem, está bem, está bem.
Eu respirei fundo.
— Olá? — Eu disse, disposta a não tremer minha voz.
— Olá, é a Angela Carson falando?— disse uma voz feminina do outro
lado da linha.
— É ela.
— Olá, Angela. Só estou ligando para informar que infelizmente
decidimos seguir em frente com outros candidatos a este trabalho.
— Oh. — Meu coração afundou.
— Manteremos sua solicitação arquivada caso outra posição se torne
disponível.
— Está bem. Obrigada.
O que mais eu poderia dizer?
Depois de mais alguns segundos de dolorosas trocas de palavras,
desmaiei no travesseiro, com a cara primeiro.
Então minha entrevista não foi tão boa assim.
Senti lágrimas de frustração brotarem em meus olhos, e as deixei de
molho no travesseiro. Havia muito mais em jogo do que apenas pagar as
contas e ter algum dinheiro para gastar.
A vida do meu pai estava em jogo.
Peguei meu telefone, rodando pelos meus contatos.
Olhei fixamente para o número de Brad Knight, meu polegar
pairando sobre o botão de chamada.
Não é que eu tenha muita escolha.
Aperto o botão de discagem, selando meu destino.
— Olá? — Brad atendeu.
— Olá Sr. Knight, é a Angela.
— Angela! — Ele me cumprimentou calorosamente. — Fico feliz que
tenha ligado. — Então, posso presumir que...? — Ele deixou a pergunta
no ar.
Eu respirei fundo. Senti que seria esmagada por baixo do peso das
palavras que se formavam em minha boca.
— Sim, — eu disse. — Eu aceito.
Senti algo dentro do meu coração se encolher e morrer.
— Eu me casarei com seu filho.
Capítulo 3
Despertar Brusco

Brad

Eu não podia acreditar que ela tinha dito sim. Mesmo sendo um homem
de negócios muito bem sucedido, mesmo acostumado a ser tratado como
o magnata que eu era, ainda me encontrei sem palavras. Havia algo tão
inocente sobre ela.
E ainda assim, aqui estava ela, apertando as mãos em um arranjo que
forçaria sua vida por um caminho diferente. Eu poderia concordar em
pagar as contas médicas de seu pai, mas de alguma forma, eu ainda me
sentia em dívida com ela.
Alguns dias haviam se passado desde que eu a havia localizado no
pequeno hospital de New Jersey, e hoje era o dia em que nos reuniríamos
para discutir os mínimos detalhes do acordo.
Eu a convidei para um chá no Plaza, e ela aceitou prontamente. E
quando ela perguntou:
— Qual praça? — Eu não pude deixar de rir; a garota foi
inequivocamente encantadora.
Eu tinha acabado de me sentar à minha mesa habitual, aquela no
canto com poltronas de veludo de ambos os lados. Era verdade que
muitos dos meus associados frequentavam esta sala de jantar, mas esta
mesa, escondida atrás de arranjos florais, facilitava evitá-los.
Eu estava apenas verificando meus e-mails quando senti toda a
disposição da sala mudar, como se uma rajada de vento tivesse entrado
numa sauna, deixando todos lá dentro refrescados.
Olhei para cima, e lá estava ela. Ela entrou nervosamente na sala,
olhando em volta como uma criança perdida. Eu não pude deixar de
sorrir e me sentir ainda mais seguro sobre meu plano.
Angela

Acordei assustada esta manhã, surpresa com como tinha conseguido


dormir até tarde. Tomei chá com Brad Knight, agendado para o início da
tarde. Cara, pensei, essa é uma frase que eu nunca pensei que diria. O que as
pessoas vestem para um chá da tarde?
Um terno de negócios?
Um vestido de babado?
Pensei em pedir ajuda a Em, mas depois teria que explicar com quem
eu estava me encontrando, e por quê. E isso me pareceu ter mais um
problema totalmente diferente. Então, em vez disso, vesti minhas roupas
normais, um jeans e uma blusinha, calcei minhas botas pretas favoritas, e
saí.
Após consultar o Google, soube que o Plaza não era na verdade uma
praça, mas o Plaza Hotel. Frequentado por pessoas ricas, o Plaza tinha
uma mistura de negócios e celebridades.
E o chá da tarde não era apenas de camomila ou pekoe tipo orange.
Foi um evento. Eu li tudo isso no trem, olhando para o jeans que eu havia
escolhido usar. Eu era um peixe fora d’água, isso era claro. Meus nervos
estavam cada vez mais à flor da pele.
Será que eles sequer me deixariam entrar?
Assim que entrei, o porteiro saiu correndo de trás de sua mesa e
colocou uma mão no ar, parando-me.
— Madame?
— Oi, sim, — eu gaguejei. — Estou aqui para o chá?
Ele apenas levantou uma sobrancelha.
— Vou me encontrar com o Sr. Knight, — eu disse, também não
acreditando muito nisso. Mas dizer o nome dele foi o suficiente.
— Ah, perfeito, — ele disse, seu sotaque francês o torna ainda mais
intimidante. — Siga-me.
Assim que ele abriu as portas da sala de jantar, eu fiquei sem ar. A
decoração era tão meticulosamente arranjada, tão impossivelmente bem
coordenada, que eu sentia que apenas caminhar por ali seria arruiná-la.
Olhei ao meu redor, de mesa em mesa, sentindo-me como uma
estrangeira. E então vi Brad no fundo, levantando-se e acenando. O
concierge, ainda ao meu lado, levantou outra sobrancelha para mim.
— Obrigado por sua ajuda, — eu disse suavemente, e atravessei as
mesas de pessoas que eu só tinha visto em revistas. Caramba.
— Sente-se, — disse Brad assim que eu me aproximei. Ele apontou
para a cadeira de veludo em frente a ele, e eu senti como se tivesse
afundado em uma nuvem no momento em que me sentei. — Obrigado
por se juntar a mim.
— Obrigada por me convidar, — respondi, cheia de nervosismo. —
Este lugar é incrível.
— Isso?— ele disse, olhando em volta. — Isso não é nada. — Mas ele
tinha um sorriso no rosto, sinalizando que estava brincando. — É algo a
que você vai se acostumar.
— Não acho que poderia.
— Acredite em mim, — ele disse, — o brilho e o glamour se
desgastam. Há um limite para quantas garrafas de champanhe você pode
comprar antes de perceber que não tem ninguém com quem goste de
dividi-las. Mas é por isso que você está aqui.
— Você bebe champanhe no chá? — perguntei, confusa. Nesse
momento, o garçom apareceu, usando uma gravata borboleta. Pensei que
ele poderia ser um modelo. Ele olhou para o Brad.
— Sr. Knight? O de sempre?
Brad acenou com a cabeça e ele desapareceu sem sequer olhar para
mim. Então Brad se inclinou para frente, e eu pude perceber que ele
estava se preparando para começar A Conversa.
— Então, Angela. O que você pode não saber sobre meu filho, Xavier,
é que ele já passou por muita coisa. Crescer comigo como pai não é fácil,
ao contrário do que muitos poderiam acreditar. Há muita pressão. E
pressão em lugares pequenos....
— Causa uma explosão, — eu terminei. E então senti sangue
correndo para as minhas bochechas. Teria eu acabado de interromper o
Brad Knight?
Mas ele apenas acenou para mim.
— Exatamente. Xavier tem andado por todo o lado ultimamente. E eu
acho que você... você tem a capacidade de fazê-lo criar raízes em algum
lugar. Para lembrá-lo do que é importante. Isso é o que estou propondo.
— Então, eu me caso com seu filho, e você garante a saúde do meu
pai... suas contas médicas...
— Tudo será pago, — ele disse, com uma certeza que me fez confiar
nele. — Desde que você me garanta que nosso acordo, nosso arranjo,
nunca será dito a mais ninguém. — Ninguém pode saber por que você
está fazendo o que está fazendo. Nem sua família, nem seus amigos. E
nem Xavier. Nunca meu filho.
Ele me entregou um documento com várias páginas. Eu vi que era um
contrato, com pelo menos trinta cláusulas. E então o rosto do meu pai
passou pela minha mente — o rosto que eu tinha visto na cama do
hospital, todo pálido e fraco.
Minha mente estava me dizendo para parar, para pensar sobre isso,
mas era como se minha mão estivesse trabalhando sozinha. Tirei a
caneta chique da mão do Brad Knight e assinei o contrato.
Depois, ainda com as mãos tremendo, tomei um gole do chá
fumegante que o garçom-modelo colocou diante de mim.

Brad: 15h, Central Park.

Brad: Sessão de fotos do casamento.

Brad: Devo enviar um carro?

Angela: Tudo bem.


Angela: Eu pego o trem.

Alguns dias após a reunião no Plaza, Brad estava me enviando instruções.


Eu nunca tinha ouvido falar de uma sessão fotográfica de casamento
antes. Claro, eu sabia que os noivos tiravam fotos no casamento, mas
semanas antes?
Brad tinha me dito para usar o que eu achasse confortável, então eu
presumia que seria casual. Mas assim que saí da estação Columbus
Circle, vi Brad de pé na borda do parque. Ele estava na frente de um
trailer — o tipo de trailer que os atores usam quando estão filmando
cenas. Ele me acenou, com verdadeira excitação no rosto.
— Angela! Aqui!
— Estou indo! — Eu disse, quase gritando. Não foi bem um grito nem
uma voz interior.
Quando atravessei a rua e estava a poucos passos de chegar até Brad,
ele abriu a porta do trailer. Eu podia ver o caos se desdobrando lá dentro.
— Há aqui um cabeleireiro, um maquiador e um estilista para você,
— ele disse, batendo palmas. — Não tenha pressa. Vamos começar a
filmar na hora mágica.
— A hora mágica? — perguntei, porque essa era a coisa mais recente e
confusa que ele tinha dito.
— Entre 16h30 e 18h30, — respondeu ele. Então ele sussurrou: — É o
que eles me dizem, de qualquer forma.
Antes que eu pudesse responder, uma das mulheres estilosas dentro
do trailer me puxou e fechou a porta atrás dela.

Xavier: Chegarei tarde.


Brad: Isso é inaceitável, Xavier.

Brad: Xavier?

Brad: Filho, responda-me.

Eu não podia acreditar no rosto que vi olhando para mim no espelho.


Meu cabelo havia sido empilhado em cima da minha cabeça, em uma
coisa complicada de trançar o nó superior, com um par de fios soltos
emoldurando meu rosto. Parecia extravagante e descontraído ao mesmo
tempo. Então, em outras palavras, não parecia nada comigo.
A maquiadora, Sky, demorou mais de uma hora para fazer meu rosto.
Meus olhos estavam suavemente forrados com tinta marrom escuro, e o
blush em minhas bochechas me fazia parecer toda rosada. Eu nunca usei
maquiagem, além do pincel ocasional de rímel, e ter tanto em mim
parecia que eu estava brincando de me vestir como adultos.
— Já está pronta…? — Brad disse, batendo na porta semi-aberta. Mas
ele parou quando me viu.
Eu estava com um vestido de renda branca que ia até meus joelhos, e
um par de saltos de sete centímetros que me dava ansiedade. Eu mal
conseguia andar sem cair, mas ninguém ao meu redor parecia se
importar. Brad tomou conta da minha aparência.
— Você está linda, — ele disse de forma paternal, e eu imediatamente
imaginei meu próprio pai dizendo a mesma coisa. Eu sorri.
Ele pegou minha mão e me levou para fora, certificando-se de que eu
estivesse pisando bem a grama. Quase caí algumas vezes, mas quando vi
a sessão fotográfica montada no parque, esqueci os sapatos.
Havia luzes amarradas nas árvores, um enorme cobertor de
piquenique na grama, e um buffet de charcutarias e garrafas de vinho
geladas em uma mesa próxima. Parecia uma propaganda em um
programa da HGTV.
— Isto é... incrível, — eu disse, voltando-me para Brad.
— Espere até ver o casamento, — ele disse, piscando. Tudo isso foi
inacreditável. Olhei novamente em volta, percebendo o que estava
faltando.
— Onde está o Xavier?
Brad hesitou — a primeira vez que eu o vi inseguro assim, mas antes
que ele conseguisse falar, sua atenção se deslocou para algo atrás de mim.
Um enorme sorriso envolveu seu rosto.
— Desculpe-me, querida, — ele disse, e então passou rapidamente
por mim, indo abraçar seu filho.
Foi quando eu o vi. Xavier Knight, com seu um metro e noventa de
altura. Ele era alto, moreno e bonito. Isso ficou claro imediatamente. Ele
abraçou seu pai e depois me olhou nos olhos, com toda a frieza.
Brad o levou até onde eu estava, e me beijou na bochecha com um
suave "Olá".
— Oi, — eu disse, com olhos no chão, sentindo as palmas das mãos
começarem a suar.
A sessão fotográfica propriamente dita foi feita em quinze minutos.
Estávamos sorrindo e olhando um para o outro nos olhos. Bem,
tentando, de qualquer forma.
Olhar para ele era como olhar para o sol. Ele tinha uma intensidade
que era quase insuportável. Mas cada vez que eu desviava o olhar, o
fotógrafo gritava: — Nos olhos dele! — E um fotógrafo extravagante
gritar pra você era ainda mais embaraçoso do que o rubor que vinha
sempre que eu fazia contato visual com meu noivo.
— Isso vai impressionar o The Times, — disse o fotógrafo quando
terminamos. — Não via um casal tão atraente desde Jennifer e Brad.
Apesar de tê-lo ouvido claramente, eu sabia que ele não poderia estar
falando de mim. Eu estava estranha, e minhas bochechas já devem estar
da cor de tomates maduros.
Mas então vi Xavier caminhar na minha direção, uma garrafa de
vinho em sua mão, e meus nervos ficaram ainda mais altos. Ele vai
esperar algo de você. Você precisa fazer alguma coisa com elegância. Mas
eu nunca havia tido um namorado antes, então, como minha mente
continuava agitada, eu não tinha certeza de como proceder.
Eu vi Brad a alguns metros de distância, apertando a mão do
fotógrafo, e ele me viu olhando e sorriu. E então ele viu seu filho vir em
minha direção, e seu sorriso cresceu. Voltei para Xavier, que estava quase
bem na minha frente.
— Foi um prazer conhecê-lo, — eu disse, porque me senti obrigada a
dizer algo, mas não sabia bem por onde começar. Ele sorriu para mim,
mas algo pareceu estranho. Havia algo sinistro nele, em seu sorriso.
Como se algo não estivesse certo na expressão de Xavier.
Eu olhei para o chão, esperando que ele dissesse algo. Mas em vez
disso, ele levou seus lábios até a minha bochecha.
— Eu não sei quem você é, — começou ele, suas palavras me bateram
logo no ouvido. — Eu não sei o que você quer. Mas você não me engana.
Não caio nesse cabelo, maquiagem e vestido. Você não me engana.
Seus lábios escovaram o outro lado do meu rosto agora, e então ele
sussurrou mais veneno.
— Não caio nessa, sua puta oportunista. E eu te odeio, porra.
Capítulo 4
Mentiroso Mentiroso

Angela

A água quente caía sobre minha pele, mas por mais que eu esfregasse, eu
ainda me sentia suja.
Que nojo.
Eu não podia acreditar como Xavier tinha falado comigo. Eu não
podia acreditar no que ele pensava de mim — que eu estava atrás do
dinheiro dele e do nome de sua família.
A ideia de usar alguém assim era suficiente para me deixar enojada, e
ainda assim era exatamente o tipo de pessoa que ele tanto acreditava que
eu fosse.
Foi aí que a ironia me atingiu.
Eu fui atrás de seu dinheiro.
Se não fosse pela fortuna dos Knight, eu nunca teria concordado em
casar com Xavier Knight.
Mas eu não era uma oportunista egoísta.
Eu estava fazendo isso para salvar a vida do meu pai.
Mas isso melhora as coisas?
Depois de desligar o chuveiro, enrolei uma toalha bem apertada ao
redor do meu corpo. Qualquer coisa para não me deixar em pedaços.
Sequei-me e vesti meu pijama de forma robótica, minha mente estava
longe.
Quando desmaiei na cama, meus olhos caíram sobre um quadro
emoldurado do outro lado do meu quarto. Era uma foto de mim, Danny,
Lucas e meu pai.
Todos nós parecíamos tão felizes.
Nosso pai parecia tão saudável.
A foto foi tirada na última Ação de Graças. Danny tinha queimado o
peru e Lucas tinha feito muito recheio, mas estava perfeito.
Todos nós nos esprememos no sofá velho e gasto da sala de estar e
assistimos a uma partida de futebol sem nos preocuparmos com o
futuro.
Coloquei minha cabeça em minhas mãos.
Como tudo mudou tanto em apenas um ano?
Nosso pai foi sempre um pilar de força. Depois que a mãe faleceu, ele
assumiu o papel de ambos. Ele era a única constante, uma rocha
constante na tempestade da vida.
E agora ele estava no hospital, e eu não tinha certeza se ele ia...

Em: Olá, menina.

Em: Tá a fim de (emoji de sushi – 🍣) à noite?

Eu olhava para os pequenos emojis de sushi, a pequena e despretensiosa


imagem que me salvava dos meus pensamentos.
A última coisa que eu queria fazer era sair em público. Meus
cobertores sussurraram sedutoramente para mim, tentando-me com a
promessa de escuridão e silêncio.
Mas talvez sair fosse exatamente o que eu precisava. Mesmo que fosse
para escapar dos meus pensamentos por uma noite.
Para me afastar da memória de Xavier me encarando com seus olhos
azuis...

Angela: OK, te encontro no lugar de


sempre em 40 min
Em: Uhuuulll

— Você é bom demais para Curixon de qualquer forma, — disse Em,


colocando mais um pedaço de sashimi de salmão em sua boca.
Mergulhei meu nigiri de atum em molho de soja, cantarolando sem
compromisso.
— Ainda não entendi, — murmurei. — Tive uma sensação tão boa
depois das minhas entrevistas.
— Bem, eles que saíram perdendo. — Em arrancou um prato de sushi
de salmão da esteira transportadora na nossa frente. Ela estava
rapidamente acumulando uma pequena torre de pratos vazios ao seu
lado.
Eu mastiguei minha comida sem degustar.
Se ao menos Curixon tivesse dado certo. Talvez eu não tivesse
acabado ficando noiva de um bilionário odioso.
Meus olhos vagueavam preguiçosamente sobre a esteira lenta diante
de mim. Eu tinha tantas escolhas, mas nenhuma delas era nem um pouco
atraente.
Em colocou um rolo de salmão no meu prato vazio.
— De qualquer forma, não viemos aqui para chorar. — Ela sorriu para
mim, e eu não pude deixar de sentir meu espírito se elevar um pouco. —
Feliz pré-Ação de Graças.
— Feliz pré-Ação de Graças, — eu respondi, e batemos nossos
pedaços de sushi juntos antes de comê-los.
Todos os anos, Em e eu temos nossa própria refeição de pré-Ação de
Graças antes de irmos passar com nossas famílias.
— De qualquer forma, — disse Em ao redor de uma boca cheia de
comida, — você ouviu falar da agitação no Central Park hoje cedo?
— Hmm?
— Aparentemente, um casal mega-rico realizou uma sessão
fotográfica chique pré-casamento. Eles até bloquearam uma seção inteira
para que ninguém conseguisse se aproximar.
Eu me engasguei, tentando ao máximo não enviar pedaços de sushi
voando sobre a esteira.
Em me deslizou um copo de água.
— Não é? Quão louco é isso? — Ela suspirou, melancólica. — Imagine
ser tão rico e apaixonado que você poderia reservar o Central Park.
Eu bebi um pouco de água, depois limpei minha garganta.
— Sim, eu imagino que...
Eu não podia exatamente dizer a ela que aquilo era minha sessão
fotográfica pré-casamento.
Nem eu poderia corrigi-la.
Claro, Xavier era mega rico.
Mas nós definitivamente não estávamos apaixonados.
O olhar de ódio e repugnância de Xavier me passou pela mente
novamente.
Nada poderia estar mais longe da verdade.
— Angela? Você está bem?
Eu pestanejei, caindo em meus pensamentos.
— Claro, — eu menti.
— Parece que você viu um fantasma...
— S-Só um pouco cansada, acho.
Em me olhou fixamente, seus olhos procuravam os meus. Eu nunca
fui uma boa mentirosa. E Em me conhecia melhor do que ninguém.
Mas eu não poderia dizer a verdade, nem se quisesse. Eu não poderia
dizer a ninguém. Nem mesmo à minha família. Eles provavelmente
acabariam descobrindo. Era impossível esconder para sempre um
casamento tão proeminente.
Mas eles nunca poderiam saber a verdade sobre meu acordo com
Brad Knight.
Eu fui literalmente contratada para mentir.
E assim o fiz.
— De qualquer forma, tenho que fazer alguns preparativos de última
hora para o Dia de Ação de Graças de amanhã, — eu menti novamente.
— Eu vou pra casa.
— Certo, — disse Em, com um tom neutro. Eu não podia dizer se ela
acreditava ou não em mim, mas ela abandonou o assunto.
Levantamo-nos e, depois de pagar, saímos para o ar fresco noturno.
Sentia meu coração pesado de culpa. Tinha que mentir para minha
melhor amiga.
E isso foi apenas o começo...

Lucas: Não se esqueça da torta

Angela: (3 emojis de espanto 😲😲😲)

Lucas: ...

Lucas: Sério?

Angela: Oops...

Lucas: Nova York muda as pessoas.


Angela: Eu vou voltar pra buscar.

Lucas: Não se preocupe, tudo bem.

Lucas: Só ajude com o peru antes que Danny o queime.

Frustrada, encostei-me na minha cadeira e fechei os olhos.


Eu não podia acreditar que tinha esquecido a torta de nozes. Era
praticamente um dos pontos básicos no Dia de Ação de Graças.
Mas é que eu estava com a cabeça cheia.
O trem passou por cima de um pequeno obstáculo, e eu me movi no
meu assento, encostando minha cabeça contra a janela e olhando para
um mundo que desaparecia.
Eu estaria em Heller em uma hora; queria que já estivesse lá.
Meu pai nos garantiu que ele estava bem o suficiente para ter o Dia de
Ação de Graças em casa.
Meus irmãos continuavam me dizendo como ele estava muito
melhor, e eu mesma mal podia esperar para vê-lo. Mal podia esperar para
ver todos.
Eu senti meu coração relaxar. Percebi o quanto estava aliviada por
estar saindo de Nova Iorque. Mesmo que fosse apenas por alguns dias,
algum tempo longe do drama do contrato seria bom para mim.
Isso me daria espaço para respirar e elaborar um plano.
Depois do que me pareceu um século, eu estava finalmente subindo os
degraus da frente da minha casa de infância.
Eu bati à porta e Lucas respondeu, envolvendo-me em um grande
abraço de urso.
— Você cheira a trem, — ele disse, puxando-me para dentro de casa.
— Prazer em vê-lo também, — eu disse, pondo minha língua de fora.
Eu entrei e uma onda de nostalgia me atingiu.
Foi aqui que eu cresci. A casa que me tinha visto celebrar e lamentar
na vida em medidas iguais.
Era aqui que eu e Em costumávamos assistir filmes só para adultos,
onde Lucas e eu costumávamos construir castelos de travesseiros e
comer Nutella do pote.
Mas estar de volta agora, com tudo o que havia acontecido, parecia
diferente.
Era como se de alguma forma esta casa não pudesse mais me proteger
do mundo exterior.
— É ela? Angie? — E lá estava ele, vindo para o corredor em uma
cadeira de rodas. Ele se parecia mais com o pai que conhecia do que com
o homem na cama do hospital.
— PAI! — Eu saltei na sua direção, abraçando-o com força. Ele
realmente parecia mais saudável. Vê-lo fora do hospital fortaleceu minha
determinação.
Se aturar um bilionário zangado significasse que meu pai ficaria
bem... então que assim seja.
— Meu Deus, Angie, estou aqui, — ele disse, rindo. — Eu não vou a
lugar nenhum, minha filha. A menos que você me empurre até lá.
— Eu sei. — Tentei limpar sorrateiramente uma lágrima antes que ela
me saísse do olho. — Estou feliz em vê-lo. Você está ótimo.
— Pronta para ver o peru?
— Você quer dizer Danny? — Eu brincava.
— EU OUVI ISSO! — Danny gritou da sala de estar. Eu sabia que ele
já estava sentado no sofá assistindo futebol, seus olhos colados à TV.
Não consegui impedir que um sorriso bobo se espalhasse pelo meu
rosto.
Isso era exatamente o que eu precisava.
Nossa campainha tocou, e todos nós olhamos para a porta em
confusão.
— Estamos esperando alguém? — perguntei ao Lucas.
— Não. — Seus olhos se iluminaram por um segundo. — Você
convidou a Em?
— Não, ela deveria estar com a mãe dela. — Caminhei em direção à
porta e a abri...
E de repente, meu pequeno santuário de Ação de Graças foi desfeito
em pedaços.
Porque ali parado, bonito, perfeito e completamente deslocado, com
uma caixa de torta de nozes nos braços, estava Xavier Knight.
Ele me mostrou um sorriso brilhante, mas não chegou aos seus olhos.
Eles pareciam frios. Calculistas. Como um lobo que brincava com sua
comida antes de começar a matança.
— Olá, querida, — ele zombou.
Meu coração deu um pontapé pelo exagero. Eu estava prestes a ter
um ataque de pânico total. Minha família nem sabia que eu estava saindo
com alguém, muito menos casando com o solteiro mais rico da cidade de
Nova Iorque.
— O que você está fazendo aqui...
— Angela? — O pai chamou às minhas costas. — Quem é esse?
Um poço de pavor se abriu em meu estômago quando ouvi minha
família se aproximar de mim.
— U-um, isto é...
Xavier avançou ao meu lado, seu comportamento cruel e zombeteiro
desapareceu em um piscar de olhos.
Ele enrolou um braço na minha cintura, e sorriu para mim, sua
expressão exalando amor e carinho. Ele parecia a definição do parceiro
perfeito.
Mas eu o conhecia de verdade.
Ele me odiava profundamente. Seu toque parecia mais amarras do
que um abraço. Eu senti os olhares de meu pai e de meu irmão focados
no gesto e meu rosto queimando de vergonha e constrangimento.
— Eu sou Xavier, — disse meu torturador, com sua voz amanteigada.
— Eu sou o noivo de sua filha.
Capítulo 5
Toda Amarrada

Xavier

Não sei o que deu em mim quando decidi visitar a família de Angela no
Dia de Ação de Graças.
Talvez tenha sido uma curiosidade mórbida.
Talvez eu quisesse ver como era a família de uma oportunista.
Talvez eu quisesse conhecer seus pontos fracos para poder expulsá-la
da cidade antes do temido dia do nosso casamento.
Mas tudo o que encontrei foi um momento embaraçoso ao redor da
mesa de jantar e uma refeição de merda.
Eu dei outra mordida no peru, conseguindo de alguma forma manter
uma cara séria.
Por mais que eu o encharcasse com molho, ainda sentia mais vontade
de dar uma mordida na porra do deserto do Saara.
— Mais recheio?
Procurei o irmão mais velho oferecendo-me outra colher cheia de
esterco. Ele estava obviamente tentando ser educado, mas eu sabia que
ele estava se forçando a isso.
Eu pude sentir a hostilidade em ondas de toda família.
— Por favor, — eu disse, segurando meu prato para um recheio mais
insípido. — Meus cumprimentos ao chef.
— Pelo menos alguém lembrou de trazer a torta, — comentou o outro
irmão. Ele estava tentando preencher o silêncio. — Você poderia ter dito
que traria, Angie.
— Eu queria que fosse uma surpresa, — Angela se engasgou.
— Bem, com certeza foi uma das grandes, — murmurou o pai. Ele me
olhou fixamente, e eu, em troca, coloquei um sorriso falso no meu rosto.
Ele definitivamente estava desgastado com a idade. Parecia que ele tinha
acabado de sair do hospital.
— Então, como vocês dois se conheceram? — ele grunhiu.
— É uma história engraçada, na verdade. — Eu dei um sorriso afiado
à minha noiva oportunista. — Mas Angela conta melhor do que eu.
Ela imediatamente ficou muito vermelha. Seu rosto parecia ter sido
cozido em um forno por muito tempo. Eu toquei a carne seca no meu
prato.
Tenho certeza que vocês têm muito em comum, coitados.
— Nós nos encontramos inesperadamente...
Sentei-me e ouvi Angela contar uma balela sobre como nos
encontramos em um lugar modesto. Contribuí com acenos de cabeça e
sorrisos, além de um ou dois risos nos momentos apropriados.
Não tenho certeza do que esperava encontrar ao ir à casa de Angela.
Um covil de cobras?
Uma família cigana itinerante de golpistas?
Eu esperava que eles tentassem me bajular. Para pedir coisas ou
lisonjear o peixe grande que sua filha havia pescado em sua linha de
mentiras.
Mas até onde pude perceber, eles pareciam uma família velha
entediante e regular. Eles eram superprotetores e preocupados com sua
preciosa filha e irmã. Aos seus olhos, ela não podia fazer nada de errado.
Ela era uma santa.
Um anjo.
Mas este anjo estava mentindo.
Eu a observei com os olhos focados.
Falando em um nível completamente superficial, Angela era muito
bonita. Não tinha como negar isso. Ela tinha um cabelo loiro luxurioso,
olhos brilhantes e inteligentes, e o tipo de corpo que faria qualquer
homem sonhar acordado.
Ela era uma mistura de a garota que morava ao lado com uma mulher
pinup da revista Playboy.
— Parece que vocês dois estão se indo bem rápido, — disse o pai. — O
que você gosta em Angela? O que o fez propor à minha filha?
— Pai! — ela protestou.
Eu dei uma olhada na Angela. Seus olhos de corsa eram largos e
suplicantes.
Eu poderia ter dito a verdade naquele instante.
Ter contado à família seu segredinho.
Mas isso não me teria feito nenhum bem.
Tudo o que eu sabia era que, se eu casasse com esta mulher, meu pai
me garantiria minha posição na empresa. Eu acabaria recebendo meu
direito de nascença como CEO da Knight Enterprises.
E se isso significava enganar esta família de caipiras de Nova Jersey,
que assim seja.
— O que ela tem para não se gostar? — eu perguntei. Eu olhei nos
olhos de Angela. — Sua filha é linda. Ela é a mulher mais compassiva e
gentil que já conheci. E eu sei que ela vai ser honesta e leal para o resto de
nossas vidas juntos.
Angela desviou o olhar e teve a decência de olhar para baixo com
vergonha.
— Hmm... — o papai oportunista grunhiu e enfiou uma colher cheia
de purê de batata na boca.
Ele não parecia totalmente convencido, mas abandonou o assunto
por enquanto.
Senti a mão de Angela apertando a minha por baixo da mesa. Ela me
olhou de relance e me disse em silêncio: — Obrigada.
Por uma fração de segundo senti a tensão em meus ombros relaxar.
Minha irritação e raiva desapareceram sob o seu toque, e me vi perdido
em seus olhos.
Mas então a parte racional do meu cérebro reprimiu o lado estúpido e
sentimental.
Afastei-me dela, mais zangado do que antes.
Não caia em seus truques.
Tudo o que as mulheres sempre querem é o seu dinheiro.
Seu status.
E se você baixar a guarda por um segundo sequer, elas vão arrancar seu
maldito coração.
— Parece que começou o segundo tempo do jogo, — disse um dos
irmãos. Os homens correram para a oportunidade de escapar da
conversa embaraçosa do jantar. Eu não os culpei.
— Eu cuido da louça, — eu disse quando começaram a pegar seus
pratos. — É o mínimo que posso fazer, sendo um convidado surpresa e
tudo mais.
— Obrigado, — disse o pai Longtooth. Ele começou a se deslocar até
a sala antes de parar e olhar para mim. — Você é ã de futebol?
— É claro, — eu disse. — Que se danem os Eagles.
Ele grunhiu sua aprovação antes de desaparecer na sala de estar, junto
com seus filhos.
Mas o mais problemático do grupo decidiu ficar.
Ela silenciosamente ajudou a limpar a mesa, recusando-se a
encontrar meu olhar.
— O que você ganha com isso? — eu perguntei.
Angela

Eu quase deixei cair o prato que estava segurando.


— Você está chantageando meu pai? — Xavier continuou. — Por que
diabos ele quer que eu me case com você?
— Não estou chantageando ninguém, — eu disse.
— Então o que diabos está acontecendo? — Ele se aproximou e se
elevou sobre mim. Mas ele não estava tentando me intimidar.
Pela primeira vez desde que eu conheci Xavier, ele parecia sincero.
Sua expressão aberta e confusa não era atuação.
— Seja honesta comigo, — ele disse, com uma voz baixa.
As borboletas vibraram em meu estômago.
Meu coração bateu nos meus ouvidos.
Este foi um vislumbre do homem por trás da máscara cruel.
Ele estava estendendo um ramo de oliveira.
Estará tudo bem se eu lhe disser a verdade?
Ele vai me odiar menos? Odiar-me mais?
Seremos capazes de ter um relacionamento real?
Abri a boca, mas as palavras não vieram. A verdade foi selada por trás
do contrato que eu havia assinado com Brad.
— Eu... eu realmente gosto de você, e pensei que poderíamos ter uma
vida feliz juntos. — As palavras soaram frágeis e fracas, mesmo para os
meus próprios ouvidos.
O rosto de Xavier escureceu, e eu vi o ramo de oliveira pegar fogo
diante de mim. Ele se afastou de mim, aquela máscara cruel e fria
deslizava de volta para o lugar de antes.
— Você está errada sobre isso, — ele disse, suas palavras tão afiadas
quanto uma faca. — Nossa vida juntos vai ser qualquer coisa exceto feliz.

— ISSO NÃO É REAL! ISSO NÃO PODE SER REAL!


Minha amiga Em refletiu meus pensamentos quando ela chutou seus
sapatos e correu através do chão de mármore aquecido.
Olhei à minha volta na suíte nupcial do hotel Tribeca dos Knight. O
lugar parecia mais um museu do que um quarto. Era tudo tão perfeito.
Mas eu não consegui sequer sentir o mínimo de excitação dentro de
mim mesma.
Na semana entre o Dia de Ação de Graças e o casamento, meu pai
tinha tido outro derrame.
Eles o colocaram em coma induzido há alguns dias. Eu queria correr
para o lado dele, mas Lucas e Danny me disseram que não havia nada que
eu pudesse fazer. Ele estava estável.
E eles não sabiam quanto tempo ele ficaria em coma...
Senti lágrimas brotando em meus olhos.
Meu pai não estaria lá para me acompanhar até o altar.
Em voltou da grande cozinha e me entregou um copo.
— Mimosas? — Eu franzi a sobrancelha para a bebida. — Ainda mal
passou do almoço.
— Garota, se houver algum dia que você pode beber um pouco mais
cedo, é hoje. — Ela bebericou seu próprio coquetel. — Você vai se casar.
Eu tinha contado para Em a mesma história que contei para minha
família. Tinha contado a mentira com tanta frequência que eu mesma
quase começava a acreditar nisso.
— Um brinde a você, — disse Em, batendo seu copo ao meu. — Estou
tão feliz por você estar feliz. — Ela olhou diretamente para mim ao dizer
aquilo, os olhos dela analisando os meus. Era quase como se ela estivesse
esperando eu, para confirmar.
Uma batida na porta me salvou de responder. Em apressou-se e a
abriu, revelando um bando de mulheres de aparência fabulosa em
uniformes todos pretos.
— Nós somos a equipe nupcial, — disse a da frente. Notei a Sky, a
maquiadora da sessão fotográfica, entre elas.
As mulheres marcharam para o quarto e começaram a montar seus
equipamentos no banheiro do tamanho de um quarto. Uma delas
apontou para mim e, com um movimento brusco de seu queixo, fez um
gesto para que eu a seguisse.
Todas trabalharam na minha aparência durante o que pareceram
horas. As mulheres eram como um quarteto de fadas madrinhas furiosas,
transformando-me em Cinderela por chicotadas antes do baile.
Eu não estava acostumada a ser mimada. Sempre que eu levantava
um dedo para ajustar alguma coisa, eu era repreendida com olhares
duros e assobios agudos.
Elas usaram em mim produtos de beleza que eu nunca havia visto
antes em minha vida.
Aparentemente, meu vestido foi desenhado pessoalmente por alguém
chamado Alexander Wang.
Sentime entorpecida. Quase como se eu estivesse tendo uma
experiência fora do corpo. Mas quando todas elas terminaram, quando
eu me vi no espelho, tudo entrou em foco.
Não sou eu. Não é possível.
Mas era. Minha pele estava envolta em uma seda destinada a uma
rainha. A maneira como ela se arrastava e se agarrava, a maneira como o
marfim fazia minha pele brilhar, a maneira como o espartilho abraçava
minha figura e a cauda caía diretamente atrás de mim no chão, tudo era
perfeito.
Perfeito demais.
— OHMEUDEUSOHMEUDEUSOHMEUDEUS, — Em gemeu e
correu em direção ao reflexo, admirando o vestido.
— Você está tão bonita. Você está tão real. O que é este vestido? Onde
posso conseguir um?
— Em, — eu disse depois de alguns segundos, meus olhos ainda
fixados em mim no espelho. — Está acontecendo. Eu vou me casar.
Ela se aproximou de mim e apertou minha mão.
— Você vai, Angie. Você vai.

Em tinha ido se sentar em seu lugar no banco da frente — porque ela era
minha dama de honra, Brad tinha insistido que apenas Xavier e eu
ficássemos de pé na plataforma elevada. A equipe nupcial também tinha
ido embora, então era só eu, sozinha, numa suíte grande demais. Estava
num vestido que eu não deveria estar usando, com o cabelo todo para
cima, e meu rosto contornado e realçado.
Era isso.
Respirei fundo e tomei outro gole de champanhe, depois abri a porta
e saí. No segundo em que o fiz, ouvi meu nome ser chamado do fundo do
corredor. Virei-me para encontrar Danny, todo bem-vestido com o
smoking. Eu sabia que ele não tinha um smoking, que provavelmente era
alugado ou emprestado por um amigo, e isso me fez sorrir. Isso me fez
sorrir.
— Oi, Danny, — eu disse enquanto ele me dava um abraço de urso.
— Você está deslumbrante, — ele disse. — Isso é uma loucura.
— Eu sei.
— Eu esperava te encontrar antes... você sabe, antes do seu grande
momento, — ele disse, e não conseguiu mais me olhar nos olhos. —
Lucas está reservando nossos assentos lá dentro, mas... Olhe, mana, eu
sei que nós lhe fizemos passar um mau bocado por causa disso. Mas você
tem que saber, Angie, estamos orgulhosos de você. O papai também está.
— Você acha?
— Ele está orgulhoso de tudo o que você faz, você sabe disso. Você é a
mais inteligente de nós, — ele disse. E eu sabia que ele estava falando
sério, o que pesava ainda mais no meu coração. — Mas se esse filho da
puta alguma vez fizer algo para te machucar, você sabe que temos um pé-
de-cabra do tamanho do Kentucky em nosso galpão.
Eu não pude evitar as lágrimas nos olhos.
— Eu sei, Dan, — eu disse, tentando olhar para o teto para que as
lágrimas não caíssem e arruinassem o trabalho árduo da Sky. Eu não
estava me sentindo muito inteligente. — Obrigada.
Ele apertou meu ombro de maneira fraternal.
— Vejo você lá dentro. — E então ele andou de volta pelo corredor.
Eu tomei uma inspiração de ar. Agora era tudo por minha conta.
— Ei, — ele gritou, quase na porta.
— Sim?
— Não tropece, — ele disse. E então entrou na sala onde o meu
futuro seria decidido. E, passo a passo, pouco a pouco, eu também o fiz.
Xavier

O atrevimento daquela garota. Eu não podia acreditar que ela foi em


frente com o casamento depois do que eu havia dito a ela. Isso selou o
negócio. Ela definitivamente estava nele pelo dinheiro. Nenhuma garota
respeitável, normal e simpática se casaria com o homem que lhe disse
que ele a odiava... ainda mais na sessão de fotos do casamento.
Basicamente, no Dia de Ação de Graças, eu havia dito a ela que nossa
vida seria um inferno.
Eu olhei para a sala à minha frente. Meu pai tinha planejado tudo. O
maior salão de baile do nosso hotel em Tribeca, lírios brancos cobrindo
todas as superfícies. Quinhentas pessoas lá para assistir ao espetáculo,
para ver seu único filho se transformar em um homem.
Se isso não provasse o quanto eu queria o maldito emprego na
empresa, então nada o faria.
E então o rosto dela preencheu minha mente. A outra ela. Aquela que
me fez pensar que eu era capaz de amar e depois partiu meu coração bem
na minha frente, rindo o tempo todo.
Assim que eu comecei a me preocupar com meu passado, o violinista
começou a tocar. Foda-se. Chegou a hora.
Eu vi meu pai no banco da frente parecendo mais satisfeito do que
nunca. Tive que admitir, foi bom vê-lo assim, sorrindo e se divertindo.
Ele e mamãe tinham estado tão apaixonados por todo o seu casamento,
até que ela faleceu. Ele tinha se tornado mais estoico depois, mais
recluso. Mas ali, nos bancos, ele ria e abraçava a todos.
As grandes portas se abriram, e meus olhos se deslocaram para o
fundo da sala. As pessoas nos bancos se levantaram. Pensei no casamento
de meus pais, e em como havia sido lindo. Esse não seria assim.
Não.
É melhor que esta menina esteja pronta para o pior casamento de sua
vida.
Capítulo 6
Não Viaje

Brad

Não há nenhuma celebração como um casamento. Em meus sessenta


anos de vida, essa foi talvez a única coisa que eu poderia dizer com
certeza em um determinado dia. A decoração, o vestuário, o espetáculo
em si — tudo em nome do amor. E o amor — o amor real, o verdadeiro
amor — era a única coisa em que eu tinha fé.
E então o que foi que este velho orquestrou?
Não importava que eu tivesse sido o único a encontrar o anjo que
poderia ajudar a salvar meu filho. O que importava era que ele estivesse
aberto a ela. Claro, foi preciso convencimento. As crianças hoje em dia
não aceitam instruções como costumávamos fazer com nossos pais, mas
isso não era nem aqui nem lá.
Assim que eu pus na mesa o papel — meu papel — na empresa na
frente do rosto de Xavier, ele havia aceitado. O casamento, o trabalho,
tudo. Seu coração estava aberto para que ela entrasse nele, e isso era tudo
o que importava.
Hoje olhei ao redor do salão, cheio de familiares e amigos, associados
e clientes, e não pude deixar de me sentir orgulhoso. O organizador do
casamento havia acertado na mosca.
A sala estava coberta de flores — lírios brancos, é claro — e
ornamentos leves pendurados em postes ao longo das paredes. Havia
uma plataforma elevada onde os votos seriam feitos, e o padre estava de
pé atrás de Xavier enquanto esperavam a noiva.
Os bancos tinham sido especialmente instalados para combinar com
o piso de carvalho, e vieram com almofadas de marfim. O florista tinha
entrelaçado lírios em cada banco, e havia pequenas luzes brilhantes entre
eles. A sala inteira estava radiante, como deveria estar.
Fiquei feliz em ver os bancos cheios até a borda, embora não
tivéssemos permitido que a imprensa assistisse à cerimônia lá dentro. Eu
queria que o maior número possível de olhares sobre meu filho e sua
nova esposa testemunhassem o dia em que suas vidas mudariam. Eu
sabia no fundo do meu coração que esta era a decisão certa para ele, e eu
estava tão orgulhoso de estar lá para vê-lo. Só desejava que Amelia
estivesse aqui ao meu lado. Enquanto olhei ao redor, acenando aos
convidados com os quais fiz contato visual, não pude deixar de pensar na
minha amada — a razão de estarmos todos aqui hoje, a razão pela qual
pude encontrar orientação e, por sua vez, guiar meu filho. Eu sentia falta
dela todos os dias, mas hoje sentia falta de algo a mais.
Então as portas se abriram, e todos os convidados se levantaram.
Quando me virei, olhei e vi minha querida Angela, minha querida
nora, andando pelo corredor, senti minha amada ali mesmo comigo.
Angela

Não tropece. Não tropece.


As palavras de Lucas se repetiam em meus ouvidos, e eu não sabia se
os nervos ou os sapatos eram a razão pela qual eu pensava que poderia.
Eu não tinha tantos olhos em mim desde que... esqueça isso. Eu nunca
tinha tido tantos olhos em mim.
Foi emocionante subir até o altar no meu casamento, sozinha. Eu não
fui uma daquelas meninas que haviam crescido sonhando com seu
casamento ou qualquer outra coisa, mas eu sempre pensei que meu pai
estaria ao meu lado, acompanhando-me até o altar. Mas ele estava a
quilômetros de distância, em uma cama de hospital. Em coma.
Não chore, Angela, ordenei-me. Há muita gente assistindo.
Finalmente, cheguei à plataforma elevada. Tomei minha posição em
frente ao meu noivo, o homem que me odiava mais do que qualquer
outra pessoa. O homem que mal me conhecia, mas que também estava
salvando a vida do meu pai, mesmo que ele não o soubesse.
Eu lhe dei um sorriso nervoso. Ele apenas me encarou de volta.
O padre sorriu para mim, depois para Xavier, e depois gritou para a
multidão:
— Sentem-se. Estamos hoje aqui reunidos para testemunhar o santo
matrimônio e o compromisso de amor entre Angela Carson e Xavier
Knight...
E depois disso, sua voz se afastou e eu me perdi em pensamentos.
Olhei para Xavier, vi seus olhos escuros e sua mandíbula robusta. Vi a
barba fina em seu queixo, como se ele fosse descolado demais para se
barbear no dia de seu casamento. Depois observei seu smoking, o tipo de
smoking que deixaria o departamento de fantasias da Gossip Girl com
inveja. Tinha sido provavelmente projetado por alguém fabuloso como
Armani, ou Dolce & Gabbana, talvez até feito sob medida. Era preto e
elegante e tudo o que um homem poderia querer.
E ainda assim, eu colocaria dinheiro no fato de que Xavier não
poderia se importar menos com seu smoking. Ou com este casamento.
Ou com qualquer outra coisa, na verdade.
— Angela?
O padre me olhou com expectativa, e eu senti cada olhar da sala
pousar sobre mim. Minhas bochechas queimaram. Onde nós estávamos?
O que eu deveria dizer?
— Eu aceito? — Eu me recompus, e o padre sorriu, acenando com a
cabeça.
E então ele se voltou para Xavier. — E Xavier Knight, você aceita
Angela Carson para ser sua legítima esposa, na pobreza e na riqueza, na
saúde e na doença, até que a morte os separe?
— Eu aceito, — ele disse, como se lhe tivessem perguntado se ele
achava que o sal era um tempero útil.
— Bem, então, senhoras e senhores, eu vos declaro marido e mulher.
Xavier, você pode beijar sua noiva.
Havia gritos e aplausos dos espectadores, e eu esperava nervosamente
por qualquer movimento do Xavier. Eu estava esperando um beijo
simulado, um aperto de mão, ou talvez até mesmo uma bofetada na cara.
Mas o que ele fez em seguida me surpreendeu ainda mais.
Ele se inclinou para frente até seus lábios quase tocarem os meus, e
sorriu quando disse:
— Sou um homem poderoso. Eu consigo o que quero. E o que eu
quero é arruinar você.
E então ele me beijou nos lábios, enquanto a minha mente e meus
olhos se enchiam de lágrimas.
Quando ele finalmente se afastou, virou-se e saiu da plataforma à
minha frente, recebendo os parabéns dos convidados enquanto voltava a
subir o corredor. Eu não podia acreditar como ele foi capaz de cuspir
fogo em mim para rir com todos os outros, como se nada tivesse
acontecido.
O padre, vendo minhas lágrimas, me deu uma palmadinha nas costas.
— É sempre um dia emocionante. Desejo-lhes a sorte dos céus, — ele
disse.
Depois de um segundo, eu pensei, que eu poderia ter agora. E então
segui meu marido para fora de nossa cerimônia de casamento.

Em: Onde você tá?

Angela: Banheiro.

Angela: Eu quero ir embora.

Em: É o seu casamento...

Angela: Há algo que tenho que te dizer.


Angela: Sobre por que eu me casei com
ele.

Em:??

Em: Olá? Angie?

Eu estava no banheiro, sentada no chão frio.


Coloquei meu telefone de volta em minha bolsa.
Eu ainda estava vestindo meu vestido, mas não consegui ficar na pista
de dança por mais um segundo.
Eu estava cansada de ter que fingir sorrisos e beijos no ar para cada
pessoa que Brad me apresentava, e estava ainda mais cansada de ter que
aceitar as felicitações de pessoas que eu não conhecia.
Eu sabia que já havia contado demais a Em, mas não me importava.
Meus pés doíam, meus lábios estavam rachados e sentia meu coração
sem forças. Eu estava apenas... cansada.
Houve uma batida na porta, e então ouvi Em me chamar.
— Angie?
Sem me levantar, fui abrir a fechadura e ela entrou. Ela me viu no
chão, bochechas molhadas, rímel provavelmente no meu rosto.
— Angie, o que está acontecendo? O que você tem para me dizer?
— É... demais, — eu disse.
— O que foi esse texto? Por que você se casou com ele?
Era essa a hora. A hora de admitir a verdade, de pedir ajuda a Em.
Nossos olhos estavam conectados e eu queria tanto revelar tudo. Mas
minha boca estava congelada. Eu não podia dizer nada. Ela olhava para
baixo, como se estivesse ferida pelo meu silêncio.
— Você quer que eu traga Xavier?
— Não! — Eu quase gritei com ela. A hora havia passado. — Não, ele
não iria entender. Eu só... é tudo tão estranho para mim.
Ela sentou-se do meu lado, mal conseguindo apertar suas pernas ao
lado das minhas. Só o ato me fez sorrir.
— Eu entendo. Eu te entendo. Sim, isso é uma loucura. É esmagador,
estranho e aterrorizante. Mas o importante não é o caviar ou os sapatos
Christina Labootin...
— Christian Louboutin. Eu acho.
— Tanto faz. Você sabe o que quero dizer. O importante é que você
ama Xavier, e ele te ama. E há muito amor aqui hoje à noite, celebrando
com vocês. — Ela se inclinou para mais perto de mim e agarrou minha
mão. — Eu sei que seu pai adoraria estar aqui, Angie. Ele teria
enlouquecido, vendo todos vocês vestidos assim.
— Ele provavelmente estaria bebendo de cabeça para baixo.
— Angela, acho que ninguém aqui conhece esse jeito de beber. — Ela
tinha razão. Mas depois eu a vi hesitar. — Você realmente o ama, certo?
— Quem, Xavier?
— Sim, — disse ela, sua impaciência agora era clara. — Xavier. O
homem com quem você acabou de se casar.
— Sim, — eu disse suavemente, mas com os olhos no chão. — Sim.
— Então vamos voltar lá para fora. — A voz dela era leve e alegre
enquanto ela me ajudava a levantar. Eu não pude deixar de pensar se ela
acreditou em mim. E mesmo que acreditasse, o que minha melhor amiga
pensaria sobre a garota que casou com o rico playboy duas semanas
depois de conhecê-lo?

— Mais uma, — disse Xavier por trás de mim enquanto eu ia buscar um


copo de água no bar.
— O quê?
— Mais uma dança que temos que fazer, — ele disse novamente, e
desta vez pude sentir o cheiro do álcool em seu hálito. Ele olhou para um
casal de meia-idade. — Eles queriam nos ver dançar.
— Eles querem nos ver dançar?
— Eu não faço perguntas. Eles são clientes, eles querem que
dancemos, vamos dançar.
— Certo, — eu disse enquanto ele agarrava minha mão, metade
puxava e metade me guiava até o casal.
— Angela, querida, você está simplesmente linda, — disse a mulher
com muito botox.
— Obrigada, — eu saí antes que ela continuasse.
— Mal podemos esperar para ver você e Xavier fazendo um pequeno
baile — você sabe o que eles dizem. Você pode ver o amor na dança, —
disse ela, e eu lamentei interiormente.
Se eles quisessem ver amor, deveriam procurar em outro lugar. Mas
em vez de reclamar, eu segui Xavier até a pista de dança e o deixei me
girar pela sala, elogiando-me por ter trocado o champanhe pela água.
Caso contrário, eu não teria tanta certeza de que o salmão grelhado
ficaria dentro de mim.
Quando terminamos, eu esperei que Xavier dissesse "obrigado", "bom
trabalho" ou qualquer coisa remotamente agradável. Afinal, eu havia
acabado de lhe fazer um favor. Em vez disso, ele só acenou para os
clientes, atirou um olhar vazio em mim e depois decolou na outra
direção.
— Aí está você, Angela, — ouvi atrás de mim, e me virei para
encontrar Brad. Ele parecia muito feliz, e eu também fiquei por ele estar
se divertindo. Realmente, eu estava.
— Estou aqui, — eu disse, sorrindo para ele. — Você fez um trabalho
maravilhoso com tudo. De verdade, é tudo incrível.
— Fico feliz que você pense assim. — Então, ele pôs a mão em seu
bolso e puxou uma chave de quarto de hotel. — Isso é para a suíte de lua-
de-mel, minha querida. Eu já dei a de Xavier a ele. Vão, divirtam-se. Amor
jovem, não há nada melhor, — ele disse, e parecia que essa última parte
era mais para ele do que para mim. Ele se virou, batendo palmas, e se
afastou de mim antes que eu pudesse agradecer a ele.
Não querendo mais nada com a festa e sem saber para onde Xavier
tinha ido, dirigi-me para os elevadores e, uma vez lá dentro, bati no botão
para o último andar. Todas essas suítes chiques, a comida gourmet e o
licor caro — nada disso me deixava mais confortável com minha escolha.
Pense em seu pai, eu me lembrava. Ele precisa de você.
Quando cheguei ao último andar, tive que caminhar o que me
pareceu uma milha antes de chegar à porta da suíte.
Eu deslizei a chave do quarto para dentro da fenda e vi a luz ficar
verde. Depois, empurrei a porta para abrir e entrei, respirando pela
primeira vez desde que eu tinha começado o corredor. Fechei a porta
atrás de mim e acendi a luz, chutando meus sapatos e ouvindo meus pés
gritarem: — OBRIGADO!
Eu estava começando a me lembrar que precisaria de alguém para me
deixar sair deste espartilho quando ouvi uma voz masculina vindo de
uma das salas. Provavelmente Xavier, pensei. Então, parti em direção à
sala, esperando que, se eu pedisse gentilmente, ele me ajudaria. Não de
uma forma sexual — de jeito nenhum.
Eu me senti desconfortável só de pensar nisso. Mas eu queria dormir
em algo que não fosse um espartilho apertado e não pensei que o estilista
com o cabelo amarrado apertadamente apreciaria que eu subisse na cama
na obra-prima do Sr. Wang. Então, quando cheguei ao quarto, abri a
porta sem pensar, e...
Eu fiquei sem ar. Ali, diante de mim, a poucos metros de distância, em
cima da cama almofadada king-size com os lençóis de 1000 fios
totalmente brancos, estava meu marido.
E ajoelhada, com o rosto nos lençóis e o rabo no ar, gemendo quando
os movimentos vinham cada vez mais rápidos, era uma mulher
bronzeada e de cabelos escuros.
Mas não apenas qualquer mulher bronzeada e de cabelos escuros.
Era Sky. A maquiadora.
Xavier virou-se para ver quem tinha aberto a porta. Ele não parou de
se mexer, ou mesmo diminuiu sua movimentação. Apenas sorriu. E
continuou gemendo.
— Ei, Angela, você se importa de fechar a porta ao sair?
Capítulo 7
Afogando no céu

Angela

Na noite do meu casamento, eu tinha saído da suíte de lua-de-mel o mais


rápido que pude. E depois dormi na suíte nupcial, sozinha.
Não era suficiente que Xavier estivesse dormindo com outra mulher
no dia em que se casou comigo. Não, ele tinha que pegar uma mulher
que eu conhecia, uma mulher com quem eu tinha passado algum tempo
naquele dia. Uma mulher que sabia como eram os meus poros de perto.
Era como se ele estivesse tentando me machucar de propósito, para me
punir por casar com ele.
Ontem de manhã, depois de sair do hotel o mais rápido que pude,
tinha me enterrado de volta em meu quarto no Brooklyn. Em tinha
voltado para Heller para visitar sua mãe, então eu tinha o lugar todo para
mim.
Eu havia passado 24 horas observando o Netflix e pedindo comida,
mas quando acordei esta manhã, ainda não me sentia melhor.
Provavelmente porque eu sabia o que era hoje... tanto quanto tentei me
convencer do contrário.
Hoje foi o dia em que tudo se tornou verdadeiramente real.
Na semana passada, Brad havia sugerido que adiássemos nossa lua-
de-mel até Xavier fechar o negócio em que estava trabalhando para a
empresa, para que ele pudesse se concentrar nas férias e realmente
aproveitá-las. Eu tinha concordado imediatamente. A ideia de passar
tempo de qualidade com Xavier Knight era suficiente para me deixar
enjoada.
Mas hoje eu deveria me mudar para nossa nova casa. Eu estava
prestes a passar muito mais tempo, de qualidade ou não, com meu
marido.
Eu tinha pesquisado no Google o endereço assim que Brad me enviou
ontem. Estava no prédio mais exclusivo do Central Park South, e era a
cobertura. O que significava que o último andar era todo nosso. O
Google disse que tinha uma vista fantástica do parque e da cidade, um
elevador privado, um spa interno equipado com sauna e seis quartos.
Tudo isso me fez pensar em algo.
Seis quartos? Na cidade de Nova Iorque? Olhei à minha volta os
trezentos metros quadrados que Em e eu dividimos em seu apartamento.
Estava apertado, claro, mas me sentia em casa. Eu tinha começado e
terminado de arrumar minha mala dentro de uma hora, depois me fiz
um sanduíche. Eu dei uma mordida, mas mal conseguia engolir sem
querer vomitar. Meu estômago parecia travar quando eu estava nervosa.
Joguei o sanduíche no lixo e puxei minha mala para fora do
apartamento, acenando ao primeiro táxi que passou.
Nós aceleramos em Manhattan e, antes que eu me desse conta,
estávamos em frente ao meu novo prédio. Eu abri a porta do carro e,
antes que eu pudesse sair com os dois pés, um dos porteiros
uniformizados se apressou em vir até mim. Ele parecia genuinamente
perturbado por eu não ter esperado por ele para abrir a porta do carro.
— Bom dia, Sra. Knight.
Eu vacilei, mas depois me recuperei. Não foi culpa dele que fosse meu
nome.
— Bom dia, — eu disse. — Qual é o seu nome? — Ele olhou para mim
como se eu tivesse feito algo errado novamente.
— Pete.
— Oi, Pete, — eu disse. Eu não sabia de nenhuma das regras não ditas
que claramente corriam desenfreadas com essas pessoas, mas achei bobo
não saber o nome de alguém com quem eu estaria interagindo muito.
Pete pegou minha mala e me guiou através do enorme lobby,
passando pelos elevadores, até o meu próprio elevador privado com o
selo PH.
— Você quer que eu suba com a mala?
— Tudo bem, eu posso levar, se for mais fácil.
— O que você preferir, Sra. Knight. — Lá estava ele novamente.
— Posso levar, — eu disse, e ele empurrou a mala no elevador e
esperou que as portas se fechassem entre nós. Quando fecharam, sentei-
me no banco almofadado atrás de mim — sim, o elevador tinha um
banco dentro dele — e tentei me concentrar na minha respiração.
Inspirar por três, exalar por três inspirar por três, exalar por...
As portas se abriram, e eu vi o que parecia ser um palácio estendido
diante de mim. Meu exercício respiratório havia voado pela janela. Eu
estava tentando recuperar o fôlego quando entrei no saguão da minha
nova casa.
A luz natural entrava através das janelas do chão ao teto que
revestiam a parede. Era uma sala de estar de conceito aberto, o que
significava que eu podia ver a sala, a biblioteca e a cozinha de onde eu
estiver parada.
A ampla sala de estar foi decorada em tons de bege e creme, e incluía
dois sofás para quatro pessoas, um par de poltronas de couro creme e
uma televisão de tela plana tão grande que podia ser uma tela de cinema.
A cozinha parecia o sonho de um chefe de cozinha. A geladeira, os
fornos e os fogões pareciam todos de última geração. O melhor que o
dinheiro podia comprar.
E quando virei minha cabeça para começar a admirar a biblioteca,
ouvi um 'Olá?' do fundo do corredor.
Virei e vi uma senhora de aparência leve, provavelmente na casa dos
cinquenta anos, vestida com um uniforme de camareira, caminhando na
minha direção. Seus movimentos eram tão rápidos e coordenados que
era hipnotizante observá-la.
— Olá, — repetiu ela, e eu percebi que ainda não tinha respondido.
— Oi, — eu disse. — Desculpe. Eu sou Angela... er... Knight. Acabo de
me mudar.
— Sim. Sim, — disse ela, e antes de chegar até mim, ela girou nos
calcanhares e começou a recuar rapidamente pelo corredor. — Eu sou
Lucille. Venha por aqui. Eu lhe mostro o espaço. — O sotaque dela era
definitivamente europeu, mas eu não distingui de onde imediatamente.
Eu a segui, puxando minha mala atrás de mim.
— De onde você é? — perguntei, tentando conversar. Eu precisaria de
um aliado neste palácio, isso ficou claro.
— Eu moro aqui. Em Nova Iorque. — E assim mesmo, sem sequer
olhar, ela deixou claro que não queria falar. Pelo menos não comigo.
Depois de passar o que parecia ser um punhado de portas fechadas,
finalmente chegamos na porta certa. Ela virou a maçaneta e me deixou
entrar primeiro, e deixe-me dizer, era lindo. Eu certamente não fiquei
desapontada.
Os pisos eram de madeira e cobertos com tapetes de pelúcia branca,
as paredes eram cor de casca de ovo, havia espelhos em forma de arte
pendurados sobre eles, e a cama parecia uma nuvem, toda fofa e branca.
É lindo, eu disse novamente para mim mesma.
Mas não era como o resto do condomínio. Na verdade, não. Cada
quarto que eu tinha visto até agora parecia que tinha sido adaptado para
a realeza, ou uma capa de revista de decoração de interiores. Ou um
knight. E esta sala... pareceu um pensamento posterior. Mas então eu me
detive. O que eu estava dizendo? Eu estava reclamando? Em quem eu
tinha me tornado? O que meu pai diria se tivesse me ouvido?
— É bonito, — eu disse, voltando-me a Lucille. Mas a Lucille apenas
bufava — sim, bufava — e voltava rapidamente pelo corredor.

Angela: Em não vai acreditar nisso...

Angela: Esta cama...

Angela: É uma nuvem.

Angela: Ou o céu?
Angela: Em?

Angela: Você está aí?

O som do elevador. Não havia como enganar. Alguém mais estava


subindo. O dia inteiro tinha sido só eu e Lucille, embora ela fosse
praticamente invisível. Eu fiquei ocupada desfazendo a mala, mas mesmo
quando fui buscar um copo de água na cozinha, não a vi nem ouvi.
Mas agora, alguém mais estava aqui.
Pressionei meu ouvido até a porta, escutando o toque da abertura da
porta do elevador. Segurei a respiração, esperando poder saber de quem
era a voz.
— Eu não sei quantas vezes tenho que dizer a vocês. Aquecedores de
assento ligados, aquecidos, — uma voz masculina estrondosa trovejou da
área da sala de estar. Bem, essa não foi muito difícil. O marido está em
casa.
— É claro. Desculpe, senhor.
Pensei em ficar fora do fogo cruzado e permanecer no meu quarto,
mas eu sabia que eventualmente teria que cumprimentá-lo. Talvez fosse
melhor acabar com isso agora, para mostrar a ele que estava pronta para
iniciar uma relação civilizada. Afinal, estávamos vivendo juntos agora.
Então eu saí, entrei no corredor e vi um Xavier escrevendo algo em seu
telefone.
O homem que ele estava castigando estava vestido de preto, tinha a
cabeça raspada e segurava óculos de sol de aviador em suas mãos. Ele
parecia calmo e incrivelmente intimidante. O homem virou-se para mim
primeiro, depois limpou sua garganta e olhou para Xavier. Xavier olhou
para cima. Ele me viu, não mostrando qualquer expressão.
— Marco, esta é minha esposa. — Da maneira como ele disse esposa,
você teria pensado que ele teria dito — mosquito que não me deixa em
paz. — E então ele saiu, indo para uma porta que eu presumia ser seu
quarto e a batendo atrás dele.
Eu recorri ao Marco.
— Oi, Marco. Prazer em conhecê-lo. Eu sou Angela.
— Ei, — ele disse, frio como gelo, enquanto saía direto para uma sala
diferente. Ele claramente também não estava na Equipe Angela.
Em uma cobertura tão grande, com tudo que uma garota poderia
querer, eu nunca me senti tão só.
Pensei que ligar para Em, ela me ajudaria. Ela ainda não tinha
respondido aos minhas mensagens, o que era estranho, mas talvez ela
não as tivesse ouvido chegar. Quando eu estava de volta ao meu quarto,
eu liguei para ela e senti um alívio puro quando ela atendeu ao terceiro
toque.
— Olá?
— EM!
— Olá, Angie. — Ela parecia distraída.
— Onde você está? Está tudo bem?
— Estou apenas na loja. Do que você precisa? — Do que eu preciso?
— Oh, nada. Eu só... só sinto sua falta. E do apartamento.
— Você acabou de chegar aí. E sua cama parece ótima. — Então, ela
recebeu as mensagens.
— Oh, é mesmo. Quero dizer, é linda.
Indescritivelmente incrível.
— Mm, — disse ela, e desta vez eu estava certa de que ela parecia
distante.
— Mas não é nada parecido com o que foi dividir o pequeno
apartamento com você, Em. Sinto falta do aconchego. O quanto nos
divertimos.
— Angela, você está aí há cinco minutos. Você vai se acostumar com
isso. Como com todo o resto, — ela disse.
— O que isso quer dizer?
— Só isso... olha, estou feliz que esteja feliz, está bem? — Ela
continuava dizendo isso — quando estávamos nos preparando na suíte
nupcial, quando ela me deu um beijo de despedida no casamento, e
novamente agora. Eu começava a me perguntar se era uma desaprovação
disfarçada de simpatia.
— Obrigada, — foi tudo o que pude dizer.
— Olha, tenho que ir, está bem? Está chegando um cliente. — Eu
sabia que isso não poderia ter sido verdade. Eram seis da tarde de uma
segunda-feira.
— Posso ser honesta com você? — eu perguntei.
— Sempre, — disse ela, e desta vez ela soou mais suave.
— Eu não sei se me encaixo aqui, Em. É um mundo tão estranho em
que eles vivem. Todo mundo é... frio. E há estas regras. Ninguém diz
quais são a você. Eles só esperam que você saiba...
— Angie. Ouça-me. Você escolheu esta vida, está bem? Você decidiu
se casar com ele. Não posso continuar segurando sua mão e lhe dizendo
o que você quer ouvir. Este é o caminho que você escolheu, e você vai se
acostumar a ele — a cama de nuvens, os sapatos chiques, tudo isso. Agora
eu realmente tenho que ir. — E ela desligou.
Em nunca tinha desligado antes, nem tinha sido tão afiada com suas
palavras. Claro, já tínhamos tido brigas antes, mas nunca sobre decisões
importantes na vida. E sempre tínhamos sido capazes de falar sobre isso.
Eu liguei novamente. A chamada foi direto para a caixa postal. Ela
claramente não queria conversar comigo. Minha vida estava em absoluta
desordem, e a única pessoa que eu podia culpar era eu mesma.
Afundei-me mais na cama de nuvens, jogando minhas mãos sobre o
meu rosto. Meus olhos se abriram e depois se fecharam. Em seguida,
abertos. Em seguida, fechados. Desejei, nesse momento, que o leito de
nuvens me engolisse inteira.
Capítulo 8
Mensagem afiada

Angela
Lucas: desculpe, não posso falar.

Angela: Ok.

Angela: Sem problemas.

Atirei meu telefone para o outro lado da cama. Eram sete da manhã, e eu
tinha passado minha primeira noite na cobertura. Depois de desligar o
telefone com Em ontem à noite, eu não tinha saído do meu quarto
novamente. Eu tinha vestido meu pijama, afundado em meu novo
colchão e mantive meus olhos fechados até chegar o sono.
Pensei que adormecer tão cedo ontem à noite teria me deixado
acordar refrescada, otimista sobre o dia que chegava, mas, em vez disso,
eu tinha acordado sentindo-me igualmente solitária. Os espelhos ao
redor da sala também não estavam ajudando; eles apenas me lembravam
que eu era a única aqui.
Eu tinha tentado ligar para o Lucas. Normalmente, uma conversa
rápida com ele poderia me animar em qualquer dia. Suas piadas sempre
tiveram uma maneira de me lembrar de não me levar muito a sério. Mas
mesmo ele não queria conversar esta manhã.
Eu me sentei, vendo meu rosto refletido em um espelho oval na
parede do outro lado do cômodo. Eu olhava tão brava quanto me sentia.
Eu tinha colocado meu cabelo comprido amarrado antes de adormecer, e
agora não estava apenas desarrumado, tinha perdido todo o trançado que
havia feito. Então eu tinha os cabelos apontando para todas as direções,
além da pele que precisava ser hidratada e os lábios que precisavam de
um manteiga de cacau.
Mas eu sabia que arrumar-me não me faria realmente sentir melhor,
então decidi fazer algo a respeito do meu estado de espírito primeiro.
Saltei da cama, vesti uma legging velha e uma camiseta esportiva, amarrei
meu cabelo em um rabo de cavalo, calcei meus tênis e saí.
Por sorte, não cruzei com ninguém, pois me apressei a entrar no
elevador. Achei que não conseguia lidar com uma hostilidade tão cedo.
Pressionei 'L' para o lobby e me maravilhei com a velocidade do elevador,
descendo rapidamente os trinta e cinco andares e me deixando no andar
térreo em dez segundos. Achei que nunca me acostumaria a isso.
Andei pelo saguão, colocando meus fones na orelha. Havia residentes
que se sentavam em cima dos móveis luxuosos e outros que conversavam
uns com os outros pela porta da sala do correio.
Todos eles pareciam ser ricos, como se, mesmo em suas roupas
matinais casuais, ainda fossem melhores do que todos os outros. Eu
ainda tinha meus olhos neles quando estava quase na porta e esbarrei
diretamente em Pete, o porteiro.
— Nossa, — eu soltei, e ele se apressou para me firmar.
— Você está bem, Sra. Knight?— perguntou ele, preocupado com a
cara de susto. Eu vi os residentes se virarem para ver o que era a confusão
e senti um calor na minha cara.
— Eu estou bem. Estou bem, — eu mesmo disse rapidamente,
empurrando a porta para abrir. — Sinto muito, — eu disse, dando-lhe
uma olhada rápida antes de sair. Agora eu realmente precisava de ar.
A brisa fria de outono atingiu meu rosto imediatamente, e ajudou a
me tirar de meus pensamentos. Virei à direita e depois esperei que a luz
do semáforo mudasse, pulando para cima e para baixo no lugar para
manter meu ritmo cardíaco acelerado. Quando ficou verde, eu corri para
o outro lado da rua e me dirigi ao Central Park.
Ao percorrer grupos de turistas, famílias e pessoas que só queriam ver
um pouco de natureza logo pela manhã, eu não pude deixar de sorrir.
Todos estavam aqui juntos, aproveitando a vida e dando o melhor de si, e
por alguma razão eu não conseguia explicar, fui acostumada com um
sentimento de esperança. Se eles podiam estar aqui fora tentando,
fazendo seu melhor, então eu também poderia fazê-lo.
Esse sentimento de esperança foi o que me motivou a correr mais
rápido do que em meses, usando as crianças risonhas e os jogadores de
futebol grunhindo na grama ao meu lado como espectadores que eu
estava tentando impressionar. Quando parei para respirar, eu já tinha
corrido pouco mais de cinco quilômetros. Nada mal, pensei eu, dando
tapinhas figurativos no ombro. Caminhei por um tempo para me
acalmar, deixando a endorfina correr pelo meu corpo, e então atravessei
a rua e entrei numa cafeteria antiga na esquina.
Não vi ninguém trabalhando atrás do balcão quando entrei pela
primeira vez, então olhei em volta, confusa. Foi quando eu vi o homem
sentado em um pequeno banco ao lado do balcão, quase escondido de
onde eu estava parada. Ele estava lendo o New York Times, e claramente
não tinha ouvido ninguém entrar na loja.
Ou isso, ou ele simplesmente não se importava em se levantar e
ajudar um cliente. Mas eu estava de tão de bom humor com minha
corrida, que nem me importava. Fui até o barista e, parado bem na sua
frente, comecei a conversar.
— Olá! — Eu disse alegremente, e ele olhou para mim. Ele parecia
estar perto da minha idade, com olhos quentes e um sorriso fácil.
— Isso foi um olá e tanto, — ele disse. — Você deve estar de bom
humor.
— Acho que sim. Agora, pelo menos... — Eu disse.
— Agora?— perguntou ele, de pé e dirigindo-se para trás do balcão.
Mas não antes que eu pudesse ver a página do jornal que ele estava
lendo: Página Seis.
— Estes últimos dias têm sido uma montanha-russa. Mas eu
simplesmente, não sei, fiquei farta deles — ... Eu supus, metade para meu
benefício e metade para o dele.
— Ah, uma daquelas semanas, hein? Bem, o que posso lhe oferecer?
Olhei ao redor da cafeteria, só percebendo agora que ela estava
completamente vazia. Uma cafeteria quase vazia? Isso nunca aconteceu
em Nova Iorque. Então meus olhos chegaram ao menu do café, no
quadro-negro encostado na parede do balcão. Eu o escaneei.
— Vou querer o café com leite de hortelã-pimenta, — eu disse.
— Escolha interessante, — respondeu o barista, começando a
trabalhar no café expresso. — Você corre na vizinhança?
— Pelo parque, sim, — eu disse. — Acabo de me mudar para cá, na
verdade.
— Oh, legal, — ele disse, vaporizando o leite. — Por onde?
— Bem perto do parque.
— Que rua?
Eu estava tentando evitar dizer isso, sabendo o quanto o nome da rua
soaria pretensioso. Especialmente para um barista. Mas eu também não
queria ser rude.
— Central Park South, — quase sussurrei. Ele me olhou de relance,
não dando muito. Eu sentia que tinha que me justificar de alguma forma.
— Meu marido... ele já vivia no prédio. Por isso, vou morar com ele.
— Você acaba de se casar, ou algo assim?
Eu acenei com a cabeça.
— Há apenas alguns dias, na verdade.
— Bem, parabéns, — ele disse, sorrindo para mim. Mas então, de
repente, algo mudou nos olhos do barista, e ele olhou diretamente para
mim novamente. — Eu sei quem você é, — ele disse, derramando o leite
sobre o café expresso. — Você é a nova esposa de Xavier Knight.
Eu olhei para o chão, com a vontade de pegar meu café e ir embora.
Mas eu ainda não havia pago.
— Certo?— ele pressionou.
— Sim, — eu disse.
— Eu sabia! Eu a reconheci do anúncio do Times. E suas fotos de
casamento estão por toda parte. Duh, é claro que é você.
Ele me entregou meu copo, inclinando-se para frente sobre o balcão e
realmente me medindo.
— Então, por que a montanha-russa dessa semana?
— Oh, não é nada. Quanto devo a você?
— Uma resposta real, — ele disse, mas depois sorriu. — É por conta
da casa. Você é um cliente de primeira viagem.
— Você não tem que fazer isso...
— Ah, de verdade, — ele disse, colocando a mão no ar. — É um prazer
conhecê-la. Tome a bebida. Eu sou Dustin. Dustin Stirling. — E ele
estendeu sua mão. Eu a apertei.
— Angela... Knight.
— Olá, Angela. Ok. Então, de volta a você. Você não precisa me dizer
nada, porque eu sou claramente um estranho, mas seja qual for o seu
estado de espírito, saiba que você o tem muito bem. Você é casada com o
homem mais rico e legal da cidade. Sério. Toda garota quer devorá-lo, e
todo homem quer ser ele. Ou devorá-lo. Se é que você me entende
— Não, eu... eu entendo, — eu gaguejei, não acostumada à sua forma
de falar sem filtro. — Estou muito feliz. De estar casada. Sério.
Ele manteve seus olhos em mim, e eu esperava que eu não estivesse
dando nada.
— De qualquer forma, obrigada pelo café com leite. É delicioso. E foi
um prazer conhecê-lo, — eu disse, virando para a porta.
— Ei, eu estou aqui, tipo, sempre, — ele disse à minha figura indo
embora. — Se você quiser um amigo, ou um outro café com leite de
hortelã-pimenta ridiculamente bom, venha até aqui.
— Certo, — eu disse, oferecendo um último aceno antes de voltar
para a rua onde ninguém sabia de meus segredos. Verifiquei meu telefone
para ver se tinha alguma ligação perdida do Lucas, mas tudo o que vi foi
uma tela preta. Meu celular não tinha mais bateria, provavelmente ficou
sem enquanto eu estava correndo. Ótimo.

Xavier: ONDE
Xavier: Esta

Xavier: Você

Xavier: ???????

Eu estava no elevador, sonhando acordada com o banho quente que


estava prestes a tomar, quando as portas se abriram e me tiraram de
dentro dele. E ali, sentado na poltrona de cor creme na sala de estar,
estava Brad.
— Ah, lá está ela! Vem, vem, querida, — ele disse, de pé para me
cumprimentar.
Caminhei até ele e o beijei na bochecha, vendo meu marido
comovente no sofá em frente a ele. Xavier não ficou de pé.
— Eu não sabia que você estava vindo, eu teria ficado aqui, — eu
disse.
— Bobagem, eu não queria perturbar seu dia. Alguma coisa divertida
planejada?
— Eu estava apenas correndo. — Meu olhar foi para Xavier. Seu olhar
estava um pouco pior do que de costume como se estivesse atirando
dardos em mim.
— Você tem algo divertido planejado, Xavier? — perguntei-lhe,
tentando mostrar a Brad que os recém-casados eram civilizados, pelo
menos.
— Eu vou trabalhar nos dias de semana, — ele disse, sendo
condescendente. — Na verdade estou atrasado, pai.
— Certo, certo, é claro, — disse Brad, levantando-se novamente. —
Bem, eu só queria aparecer e ver como os pombinhos estavam se saindo.
É tudo ótimo aqui, não é?
— Sim, — eu disse, e Xavier apenas acenou com a cabeça.
Brad veio me beijar na bochecha novamente, e depois apertou a mão
de seu filho.
— Estou feliz por você estar aqui, Angela, — ele disse antes de chegar
ao elevador. — Você agora faz parte da família.
— Eu também, — eu me engasguei. — Obrigada. — E então ele se foi.
Pensei que logo estaria livre para tomar um banho quando ouvi algo
se despedaçar atrás de mim.
Virei-me para encontrar Xavier, parado e me encarando, fragmentos
do que um dia foi um vaso de vidro no chão na sua frente. Eu fiquei
chocada. Ele claramente tinha acabado de deixá-lo cair no chão.
— Limpe-o, — ele disse.
O quê?
— Como é que é?
— Você me ouviu. Você quer causar problemas em minha vida,
convidando meu próprio pai sem me avisar com antecedência, então eu
vou manda-lo de volta para você. Esta é uma confusão que eu fiz. Você a
limpa.
Fiquei atordoada.
— Eu não... eu não o convidei, — eu disse, sabendo que minha voz
estava soando mais fraca a cada segundo.
— Você pode mentir o quanto quiser. Não seria muito fora do caráter.
— Eu não estou mentindo. — Mas ele já estava batendo a porta de seu
quarto, e eu podia ouvir uma gargalhada feminina lá dentro.
Eu olhei para o vidro no chão, sabendo que não era meu feitio
simplesmente deixá-lo lá. Alguém poderia se machucar muito. Então,
encontrei a pá e pude varrer os fragmentos.
Eu pensei que estava sozinha quando ouvi a voz de Lucille atrás de
mim.
— Eu faço isso, — disse ela.
Eu me voltei para ela.
— Está tudo bem, estou quase terminando.
E então ela fez algo que eu nunca teria esperado. Ela caminhou na
minha frente, beijou seu dedo e pressionou-o na minha testa. Ela
pareceu maternal e firme, tudo de uma só vez.
Talvez tudo o que foi preciso foi suportar a raiva de meu marido para
me ganhar um aliado na cobertura. Mas quanto eu posso suportar?
Capítulo 9
A dor de ontem

Angela
Desconhecido: Olá, Angela?

Desconhecido: Esta é Betty. De Curixon.

Angela: Olá?

Desconhecido: Eu sou o assistente do Sr. Kinfold.

Angela: Oh!

Angela: Em que posso ajudá-los?

Desconhecido: Na verdade, acho que posso ajudá-la...


Desconhecido: Você poderia me encontrar para um café esta
tarde?

Desconhecido: Starbucks na 54a com a 3a.

Eu estava a um quarteirão do Starbucks onde eu deveria encontrar Betty.


O Sr. Kinfold era um grande Vice Presidente de uma importante empresa
de tecnologia, e eu realmente pensei que tinha arrasado na entrevista. Eu
tinha saído do escritório do centro da cidade, convencida de que tinha o
emprego.
Ele era um homem simpático. E tinha uma filha da minha idade e foi
rápido em me dizer o quão impressionante era a minha média na
universidade. Nós nos demos bem. Então, quando recebi o e-mail de
rejeição alguns dias após a entrevista, tive que lê-lo três vezes antes de
entender o que ele dizia. Que eu não tinha conseguido o emprego. Que
eu não era boa o suficiente.
Mas agora, com sua assistente me estendendo a mão, senti a pequena
excitação das borboletas em meu estômago começar a vibrar. Talvez o Sr.
Kinfold tenha percebido seu erro e tenha enviado sua assistente para me
pedir desculpas, para ver se eu ainda estava precisando de um emprego.
Eu respirei fundo para acalmar meus nervos e abri a porta, deixando
um homem de negócios sair antes que eu entrasse na cafeteria
movimentada.
Olhei à minha volta, vendo muitos trabalhadores de terno digitando
em seus laptops e telefones, com um café na frente de cada um deles. Eu
estava tentando me lembrar de como era Betty. Será que ela tinha cabelo
ruivo? Ou era marrom escuro e encaracolado?
Mas então eu ouvi:
— Angela! Aqui! — Eu me virei, seguindo a voz para uma pequena
mesa na parte do fundo da loja. Estava apertada entre duas outras mesas,
uma tomada por um universitário que cheirava a cigarros, e outra por
uma babá com duas crianças loiras que se contorciam. Betty, que de fato
tinha cabelos castanhos escuros e encaracolados, estava de pé com um
sorriso educado no rosto. Ela parecia nervosa.
— Oi, — ela disse, oferecendo sua mão para um aperto de mão.
— Prazer em vê-la novamente, — eu disse, sacudindo-o. Nós duas nos
sentamos.
— Obrigado por me encontrar, — ela começou, e eu a vi escanear o
Starbucks como se ela estivesse se certificando de que ninguém
importante ouvisse suas próximas palavras.
— Sei que isto não é exatamente convencional, e sei que da última vez
que você ouviu falar de nós, não conseguiu o emprego...
Aqui vamos nós, eu pensei. Este é o momento que vou lembrar para
sempre.
— Mas eu só... eu queria que você soubesse o porquê. Por que você
não conseguiu o emprego.
— Oh... — Eu me afastei, meu desapontamento é palpável. Isso não
era uma oferta de emprego. Era uma análise detalhada de onde eu havia
errado.
— O Sr. Kinfold gostou de você. Na verdade, você era sua melhor
escolha.
— Eu era...
— Eu já estava escrevendo seu contrato quando ele recebeu.
Recebeu o quê?
Tenho certeza de que parecia tão confusa quanto realmente estava. E
os olhos dela se movendo nervosamente não estavam ajudando. Ela se
inclinava para frente, seus cotovelos sobre a mesa e seu rosto a apenas
alguns centímetros do meu.
— Você estava trabalhando na Gelsa Inc. antes, certo? Em Jersey?
Eu acenei com a cabeça.
— O Sr. Kinfold... recebeu um documento da Gelsa. Do Sr. Lemor,
especificamente. — Eu me agarrei ao nome, e depois senti meu corpo
inteiro travado. O Sr. Lemor era meu antigo chefe. Ele foi a razão de eu
ter me mudado para Nova Iorque.
— O Sr. Lemor nos escreveu uma carta... foi um aviso.
— Um aviso sobre mim? — eu perguntei, incrédula.
— Não. Mais como um aviso para nós. A Gelsa é uma empresa
multinacional com poder sobre muitos de nossos clientes. Ela tem a
capacidade de interromper nossos negócios em um nível maciço. E
Lemor... Ele se certificou de que, se a contratássemos, ele dificultaria as
coisas para nós.
— Mas isso é... isso é ilegal, — eu me engasguei.
Ela suspirou.
— Ilegal, imoral, são todas essas coisas. Lemor é conhecido no setor.
Ele é o cara que luta em cada batalha como se fosse a Terceira Guerra
Mundial, sabe? O Sr. Kinfold é um bom homem, mas ele não queria
arriscar.
— Não quando há tantos engenheiros mecânicos de nível básico. Eu
entendo, — eu disse, apesar de ter sido inundada por uma melancolia.
— Eu nem deveria saber, mas li bem a carta quando a recebemos. Eu
leio a maior parte do correio do Sr. Kinfold, mas isso... nunca tinha visto
nada assim. Eu poderia me meter em sérios problemas se alguém
descobrisse que eu lhe disse, mas achei que você merecia saber, — ela
disse, atravessando a mesa e dando tapinhas na minha mão. O contato
físico me surpreendeu, mas me pareceu genuíno. — Eu não sei o que
aconteceu entre você e Lemor, mas ele está claramente mantendo o
controle sobre você. E ele esta paralisando a maioria das empresas.
Portanto... tenha cuidado, — disse ela. — Homens poderosos não
pensam duas vezes em foder com mulheres jovens, sabe? — Ela pegou
seu café e sua bolsa, e ficou de pé.
— Obrigado. Por me contar, — eu disse, e ela acenou com a cabeça
antes de ir embora.
Suas palavras continuaram brincando na minha mente. Homens
poderosos não pensam duas vezes em foder com mulheres jovens.
Ela estava certa. E eu sabia disso em primeira mão. O Sr. Lemor era o
homem que eu mais temia ver há onze meses. Ele não era apenas meu
patrão. Ele era o homem que tinha me perseguido e assediado
sexualmente. E ele era também, aparentemente, o homem que não me
deixava esquecer, sem contar o que não poderia fazer à minha carreira.
Xavier

Hoje não era o meu dia. E depois do tumulto do casamento, ter minha
nova esposa mudando-se para minha cobertura e ter o negócio da
propriedade da semana passada a um preço mais alto do que eu pensava,
eu realmente precisava que fosse o meu dia.
Tinha começado bem o suficiente. Cheguei à minha sessão de
ginástica matinal sem ninguém tentando falar comigo. Nada me
incomodava como as interrupções na academia, onde uma garota com
um top apertado ou um mano com uma camiseta agarrada me
reconhecia e tentava iniciar uma conversa. Eu não vou à academia para
conversar. Eu não vou lá para conhecer garotas, e com certeza não vou lá
para conhecer caras.
Ir à academia pela manhã tinha se tornado minha saída, desde que
tudo com ela aconteceu... no início do ano. Puxar ferro me fez esquecer o
fato de que meu coração havia sido esmagado. Tirava meu estresse e
minha raiva. Isto é, até eu sair da academia e tudo voltar a ser o mesmo.
Mas enquanto eu estava lá, isso me fazia sentir competente e em
controle. Como um homem.
Portanto, a academia desta manhã estava ótima. Esse não foi o
problema. O problema veio mais tarde, depois do almoço, quando recebi
uma ligação sobre uma de nossas propriedades em Paris. Atraso no
desenvolvimento, disse o empreiteiro. Algum problema com a obtenção
de autorizações da cidade, e tudo isso me pareceu uma besteira.
E meu pai, é claro. Ele não ficou muito entusiasmado em ouvir a
notícia. Porque qualquer coisa que dê errado enquanto eu estiver no
escritório é um reflexo do meu trabalho.
— Você não está dando seu melhor, Xavier, — ele disse.
— Isso estava fora do meu controle.
— Nada está fora de nosso controle. Você teve algumas semanas de
distração. Eu compreendo...
— Eu não estou distraído, porra.
— Cuidado com o seu tom.
E foi assim que aconteceu. Um barco podia afundar na porra do
Á
Ártico, e se eu estivesse sentado em meu escritório, ele encontraria uma
razão para fazer disso minha culpa.
Portanto, o evento de gala que eu estava tentando evitar, aquele
programado para daqui algumas semanas em um de nossos outros hotéis
em Paris, agora eu terei que ir nele. Para que eu possa verificar
pessoalmente o empreiteiro e passar algum tempo 'mostrando a cara'
pela cidade.
‘Mostrar a cara’ era como meu pai gostava de descrever as pessoas
intimidadoras.
— Quando não o veem, não podem temê-lo, — é o que ele sempre
diz. Não que Brad Knight seja o cara mais intimidador do mundo. Você
não atravessaria a rua se o visse caminhando na sua direção à noite. Mas
ele é um homem com artilharia sem fim e com o bom senso de empregar
aqueles que sabem como usá-la. Então, sim, eu aprendi com o melhor, eu
diria.
Mas a última vez que estive em Paris, eu estava lá com quem me
fodeu. Aquela que pegou meu coração e o deixou cair da porra da Torre
Eiffel como se fosse um pedaço de chiclete mastigado. E nós estávamos lá
comprando seu vestido de noiva — aquele que ela quase usou no altar,
caminhando para mim.
Mandei Marco me buscar no escritório mais cedo para que eu
pudesse tentar me acalmar. Eu estava tentando pensar se havia alguma
maneira de sair de Paris, de ir ao evento de gala e mostrar a cara, quando
o carro parou. Estávamos quase em casa, apenas rastejando pela 6ª.
Avenida, mas o carro parou de andar.
— Mas que merda foi essa? — Eu gritei com o Marco.
— Não tenho certeza, chefe, — ele respondeu, depois estacionou o
carro e saiu.
Ele deu a volta pela frente e abriu o capô.
Eu vi vapor através do para-brisa. Que se dane isso, eu pensei. Não
estou morrendo em uma explosão de carro no centro da cidade. Eu notei
os carros e pedestres ao meu redor observando.
Coloquei meus óculos escuros e me afastei do carro, do Marco, sem
qualquer palavra.
Angela

Eu tinha deixado o Starbucks atordoada. Se Lemor não tivesse enviado


aquela carta, eu estaria trabalhando para o Sr. Kinfold. Eu não teria
precisado aceitar o acordo de Brad Knight, e eu não seria o saco de
pancada de Xavier Knight. Tudo estaria normal com minha melhor
amiga e minha família ficaria orgulhosa de mim.
Eu estava subindo a 6ª, quase na 57ª, quando vi o mesmo Bentley de
carvão que Xavier dirigia. Bem — não dirigia, mas que conduziam para
ele. Marco, o motorista, dirigia-o. Eu esgueirei os olhos, lendo a placa do
carro.
Que coincidência, eu pensei. Aquele era o carro do Xavier. E estava
amontoado entre os carros, preso no trânsito congestionado.
De repente, o carro soltou um som e desacelerou, parando
completamente. Após alguns segundos, Marco saiu do banco do
motorista e foi até o capô, puxando-o para cima. Eu vi uma nuvem de
fumaça ao redor dele.
Provavelmente, um motor superaquecido.
Eu me perguntava se Marco era inteligente o suficiente para manter o
líquido de refrigeração no porta-malas. Eu estava a cerca de meio
quarteirão do carro quando vi Xavier saltar do banco de trás e bater à
porta, e andar pela calçada sem uma palavra para Marco.
Pensei tê-lo visto em seu pior momento, mas o homem continuou
provando que eu estava errada.
Quando cheguei ao carro, vi Marco empurrando e pressionando as
coisas por baixo do capô.
— Ei, — eu disse. — Você precisa de ajuda? — Levou um segundo para
ele me reconhecer, mas depois o fez.
— O que você sabe sobre carros?
Eu me curvei e apontei para a mangueira de resfriamento, a coisa que
estava tão degradada que você podia praticamente ver buracos no aço.
— A mangueira precisa ser substituída, — eu disse. — Mas, por
enquanto, um fluxo de fluido de resfriamento serve. Você tem algum na
parte de trás?
Ele olhou para mim como se eu estivesse falando latim.
— Provavelmente uma garrafa azul, — eu disse, mas desta vez mais
devagar. — Vai ter escrito, 'líquido de refrigeração'.
Ele olhou para mim, provavelmente tentando descobrir se eu estava
tirando sarro dele ou não. Quando eu mostrei um sorriso, ele me deu um
aceno e foi até o porta-malas, retornando alguns momentos depois com
o líquido.
— Fantástico, obrigada, — eu disse, e pude começar a trabalhar.

Quando Marco e eu voltamos ao prédio quinze minutos depois, eu tinha


aprendido um pouco sobre ele. Ele cresceu fora de Boston e fez duas
excursões na Marinha antes de ser contratado pela equipe de segurança
de Brad Knight, e agora seu trabalho era cuidar de Xavier. E conduzi-lo
por aí. Não é exatamente uma promoção a meu ver.
Marco veio para abrir a porta traseira do carro para mim e, quando o
fez, perguntei-lhe:
— Ei, Marco? Você se importa de manter isso entre nós?
— O que você quer dizer?
— Que eu ajudei com o carro. Eu não quero que Xavier... hm,
descubra.
— Por quê?
— Parece que não é o que deveria fazer, eu acho.
— Oh. Está bem, claro, — ele disse, com confusão aparente.
— Boa noite, — eu disse, indo direto através das portas. Eu não sabia
se podia confiar no Marco para manter o segredo entre nós, e já podia
sentir meus nervos se debatendo. Eu sabia que, se Xavier descobrisse, ele
encontraria algum motivo para me castigar. E eu não podia suportar
mais hostilidade hoje. Tinha tanta certeza disso.
Capítulo 10
A agressão do luto

Angela

Angela: Estou quase lá.

Danny: Droga.

Danny: Fiquei preso no restaurante.

Danny: Desculpe

Eu estava a um quarteirão do hospital quando recebi as mensagens de


Danny, e mesmo sabendo o quanto ele e Lucas estavam trabalhando duro
nos últimos meses, mesmo sabendo que não poderia ficar bravo com ele
por priorizar o restaurante, uma parte de mim ficou chateada.
Era sempre difícil ver nosso pai no hospital, mas era ainda mais difícil
quando eu tinha que vê-lo sozinho.
Depois de consertar o carro de Xavier ontem à noite, eu tinha feito
massa e assistido TV na sala de estar, mas não o tinha visto na cobertura.
Ele estava escondido em seu quarto ou estava fora durante a noite,
porque eu ainda não o tinha visto quando saí para o trem naquela
manhã.
Claro, eu poderia ter conseguido um passeio de chofer até o hospital
com o cartão preto que Brad me deu, mas havia algo relaxante na viagem
de trem até Jersey. Além disso, gastar dinheiro de forma tão frívola ainda
me deixava desconfortável.
Agora era início da tarde, e eu entrei pelas portas giratórias,
imediatamente atingido por aquele distinto cheiro hospitalar — uma
mistura entre antisséptico e tristeza. Entrei no elevador com duas
enfermeiras vestidas de bata rosa e púrpura. Pareciam ter a minha idade,
e estavam brincando uma com a outra.
Eu acenei para as enfermeiras, desejando poder ser tão
despreocupada quanto elas pareciam ao sair do elevador, com meu
coração pesado no peito. Eu não tinha certeza do que estava prestes a ver,
e estava me preparando mentalmente para o pior.
Segui as placas no corredor, descendo um corredor, através de outro
conjunto de portas, até uma sala de espera. Aproximei-me do balcão da
recepção.
— Olá, — eu disse, esperando que meu tom soasse alegre. Otimista.
Talvez se eu estivesse otimista o suficiente, isso mudaria a realidade. —
Estou aqui para visitar meu pai. Ken Carson.
— Ah, Ken. Que querido. Ele está no 820. Siga este corredor para
baixo, — disse a enfermeira, apontando para trás dela, — até que você
possa virar à direita. E então ele está na primeira porta à direita.
— Obrigada, — eu disse, e comecei pelo corredor.
— Ele está indo muito bem, — a enfermeira disse atrás de mim. — Ele
é guerreiro.
Eu sorri por isso, depois continuei em direção ao seu quarto.
Eu empurrei a porta para abrir uma fresta, coloquei minha cabeça e,
espreitei. Pude sentir a cor escorrer do meu rosto quase imediatamente.
Ele parecia ainda mais pálido, ainda mais frágil, do que da última vez
que o vi no hospital. Seus olhos estavam fechados, e ele estava conectado
a tantos fios e tubos diferentes que eu não conseguia entender o que era
o quê. Eu dei um passo para dentro.
— Pai?
Seus olhos tremeram por um segundo antes de abrir. Ele virou a
cabeça — com pouca força, mas o suficiente para me ver no canto — e o
sorriso mais tênue apareceu em seu rosto.
— Aí está minha garota, — ele disse, e sua voz era tão grave quanto a
de um fumante idoso.
— Oi, — eu disse, desejando que minhas lágrimas não viessem
enquanto eu corria para a cama. Envolvi meus braços à sua volta da
maneira mais gentil que pude.
— Como você está?
— Eu... estou ótimo, — ele se irritou. — Fale-me de você. Mas antes
disso, você pode me trazer uma bebida? Alguma coisa forte?
— Papai, — eu disse, olhando para ele. Eu tinha que sorrir. De alguma
forma, mesmo através de toda a doença, de toda a fraqueza, seus olhos
ainda conseguiram segurar suas travessuras.
Apertei sua mão e depois peguei o copo de água na mesa de cabeceira.
Trouxe o canudo até seus lábios e ele tomou alguns goles com gratidão.
— Como foi o casamento? — Meu pai tentou soar casual, mas a voz
dele estava grave de emoção. Eu podia dizer o quanto o machucou o fato
de ele não ter podido estar presente.
— Foi uma coisa chata, realmente, — eu disse, tentando manter meu
tom leve. — Muito abafado para o seu gosto. Você estaria apenas
gritando para sair dali.
— Angie...
— Falaremos mais sobre isso da próxima vez, — assegurei-lhe. — Por
enquanto, concentre-se em ficar melhor. A enfermeira diz que você é um
guerreiro.
— Fui uma vez, — ele disse. — E Gerard começou.
Eu ri. Senti aquela mesma onda de segurança — aquela em que eu
sabia que se ele ainda estivesse brincando, ele ficaria bem.
— Mas falando sério, Angie, sobre seu marido...
Houve uma batida na porta. Eu dei um suspiro silencioso de alívio. Eu
não queria ter aquela conversa nessa hora.
Não quando meu pai parecia tão frágil.
Um homem bonito de meia-idade carregando uma ficha em uma mão
e um café na outra caminhou para dentro, um sorriso no rosto.
— Dr. Kaller, — disse meu pai, suas palavras foram calorosas.
— Ei, grandalhão, — disse o médico. — Você já tem as senhoras te
visitando?
— Somente minha filha.
— Olá. — Eu ofereci minha mão para ele. — Eu sou Angela.
O médico colocou seu dossiê na mesa e apertou minha mão.
— Marc Kaller. — Estou no caso do seu pai desde que ele voltou para
cá, — explicou ele.
— Seu pai é um ícone ao redor destes salões, Angela. Ele tem esta
superpotência onde ele pode irritar qualquer um, e ele sempre recebe sua
sobremesa no minuto em que pede.
— Soa como ele. — Eu sorri.
O Dr. Kaller se abaixou para verificar seus sinais vitais, mediu sua
temperatura e, em seguida, pegou seu arquivo novamente e acenou para
meu pai.
— Posso falar com você no salão por um segundo, Angela? — ele me
perguntou.
— Oh, é claro, — respondi. — Volto em um minuto, — eu disse,
abaixando-me para beijar meu pai na bochecha.
— Ela é minha filha! Nada de tocar! — disse meu pai e saiu correndo
de sua cama enquanto nos retirávamos para o corredor.
Senti minhas bochechas queimando, mas não pude deixar de rir. Ao
menos meu pai ainda estava sendo pai.
Assim que o Dr. Kaller fechou a porta do quarto do pai e me
acompanhou alguns passos mais adiante pelo corredor, eu pude perceber
que havia algo ali. Seu rosto mudou, não mais oferecendo a expressão
despreocupada e fácil de usar que ele usou lá dentro do quarto. Algo mais
sombrio turvava seus olhos.
— Angela, eu só quero ter certeza de que você está em dia com tudo o
que está acontecendo com seu pai. Seus irmãos estiveram aqui ontem à
noite, mas houve mais algumas mudanças.
— Está bem.
— Você sabe que o tiramos do coma ontem, e ele tem respondido
bem. Mas ele ainda não está comendo sozinho, e sua esclerose... está
progredindo.
— Rapidamente. Poderíamos tentar combater cada um dos sintomas
individualmente, mas os esforços seriam superficiais e não preventivos.
Não há maneira de impedi-los de voltar, ou piorar. Portanto, o próximo
passo típico... é garantir que ele esteja o mais confortável possível... — Eu
não podia acreditar no que estava ouvindo. Eu sabia o que isso
significava. Isso significava desistir. O Dr. Kaller viu minha expressão e
continuou imediatamente.
— Mas há algo que quero trazer à tona. — É um tratamento
experimental. É uma combinação de medicamentos e práticas diárias de
reabilitação, tudo isso poderia ser feito no hospital. Mas não há nenhuma
precedência para este tratamento, Angela. Quero ter certeza de que você
entende que há riscos. Ainda não está nem no mercado.
— Então, você está dizendo que ou é... ou é um tratamento não
testado ou... nada?
Ele olhou para mim, olhos cheios de simpatia, ou piedade, ou algo
mais. Ele deu um rápido mas certo aceno de cabeça.
— É uma decisão difícil. Não mencionei isso a seus irmãos ontem à
noite porque queria ver como seriam as primeiras vinte e quatro horas
fora do coma para ele, por isso recomendo aos três que falem sobre isso.
De verdade, com base no que vocês se sentem confortáveis.
— Está bem, — eu disse, acenando para mim mesma. Meus irmãos.
Eles ajudariam a descobrir o que fazer.
— Oh, e Angela?
— Sim?
— O tratamento experimental... por ser tão novo, e tão complicado,
vem com uma etiqueta de preço bem grande.
— Oh.
— Se funcionar, é algo que poderia dar forças a seu pai por mais de
um ano — continuou ele. — E no momento, porque não se qualifica para
o seguro, a pílula e a reabilitação estão saindo cerca de mil dólares por
dia.
As palavras deixaram de ter significado para mim. Mil dólares por dia?
Essa pílula estava envolta em caviar de ouro? Mas depois pensei em Brad
e Xavier e na minha cobertura solitária. Eu tinha feito o arranjo por uma
razão.
Já eram 3 da manhã quando voltei para casa. Eu não queria deixar
meu pai imediatamente, e o trem estava atrasado para voltar para a
cidade. Eu estava exausta, subindo de elevador até a cobertura quando
ouvi o rádio pulsando através das paredes.
Quando a porta se abriu, tive que tapar meus ouvidos. A música
estava tão alta que pensei que nunca mais seria capaz de ouvir nada
falado em um volume normal.
Eu estava caminhando para meu quarto quando, de repente, a música
parou. Eu me virei, e lá estava Xavier. Ele estava usando jeans escuro e
uma camisa branca desabotoada até o umbigo. Seu rosto estava coberto
de uma barba nova e tinha olhos avermelhados.
Ele definitivamente havia estado festejando.
Pensei em quantos dias não nos víamos. Xavier provavelmente estava
bebendo e se divertindo até tarde.
— Aí está minha esposa, — ele disse. Eu o vi de olho na minha camisa
da Old Navy, e meu Converses surrados.
— Oi, Xavier, — eu disse, tentando manter minha distância. Mas
então as palavras do médico soaram na minha cabeça.
Um tratamento experimental. Mil dólares por dia.
Minha mente exausta estava inquieta. Talvez fosse melhor perguntar
primeiro a Xavier para que ele não ficasse bravo por eu ter ido escondida
até Brad. E ele estava claramente intoxicado, então talvez ele reagisse
melhor. Talvez ele tivesse um coração, desta vez. Sim, Eu pensei. Esta é
uma boa ideia.
Xavier estava tropeçando em direção à cozinha. Ele estava servindo-se
de um copo de vinho quando eu o segui e fiquei do outro lado do balcão.
— Ei, há algo que eu queria lhe perguntar, — eu disse, esperando que
minha voz tivesse pelo menos um pouco de confiança.
— O quê?— ele disse, bebendo o vinho.
— Meu pai... ele está...
— Oi, esposa. Já foi muito disso. — Ele me cortou e transformou sua
mão em uma boca de jacaré que se agitava para cima e para baixo. Um
sinal para falar. Ele está dizendo que estou falando demais.
— Se você apenas me deixar explicar...
— CALA. A BOCA. Quão mais claro eu tenho que ser, — ele disse, e
agora ele estava bebendo direto da garrafa. — As pessoas estão sempre
falando comigo. Sempre conversando. Eu só quero silêncio.
Esqueça isso, Eu pensei. Eu me virei e me dirigi para o meu quarto.
— Ei!, — ele gritou. Eu continuei andando. Mas depois ouvi-o correr
atrás de mim e senti uma mão no meu cotovelo antes que eu pudesse
fazer qualquer coisa. Ele me encurralou contra a parede. Seu aperto ao
redor da garrafa de vinho em suas mãos estava tão apertado que tive
medo que ela se quebrasse.
— Ei, — ele disse, mais suave, como se estivesse tentando flertar.
Como se eu fosse outra garota. — Você é minha esposa, sabia disso?
— Eu sei, Xavier.
— Portanto, não se afaste de mim. — Ele estava tão perto de mim que
eu podia contar os cílios dele.
— Está bem, — eu disse. Tentei me afastar de suas mãos, mas ele se
manteve forte.
— As esposas devem fazer coisas por seus maridos. Para serem
esposas, — ele disse, e o fedor do álcool escorria dele.
— Vou para a cama, — disse com firmeza, e desta vez, forcei meu
caminho para fora de seu alcance.
Ele quebrou a garrafa de vinho na parede ao seu lado. O som me fez
pular, e quando me virei para enfrentá-lo novamente, ele me deu o
sorriso mais sério que eu já havia visto.
— Você vai aprender a fazer o que EU MANDO, — ele disse. — Você
vive aqui. Você vive de mim. Você vai aprender a ser útil.
Então ele estava caminhando na minha direção, e seus olhos corriam
por todo o meu corpo. Mas desta vez, eles não estavam olhando para as
manchas na minha camisa, nem para os buracos nos meus sapatos. Eu
sabia que ele estava imaginando o que estava por baixo.
— Xavier, pare, — eu pedi, minha voz implorando. Mas ele
continuou.
— Você é uma puta oportunista, — ele disse. — Você deveria começar
a agir como tal. — Senti como se uma faca tivesse sido empurrada para
dentro do meu intestino. E então suas mãos estavam sobre meus ombros,
passando pelo meu cabelo.
— Você está bêbado, — eu disse, e minhas palavras o fizeram parar de
vaguear. Eu não sabia por que, mas sabia que era minha chance. Virei-me
para ir até meu quarto o mais rápido que pude, e foi quando vi Lucille
descendo o corredor.
Nós fechamos os olhos — ela podia ver a dor e o medo em mim, e eu
podia ver o instinto materno nela — e ela me acenou para dentro do meu
quarto. Quando passei por ela, ela agarrou minha mão e sussurrou:
— Eu cuido disso.
E então eu estava em meu quarto, com a porta trancada e meus
pulmões lentamente recarregando com ar.
Como passei da minha antiga vida para viver em uma casa que parece
uma zona de guerra?
Deitei-me na cama, minha mente foi passando de imagens do pai
para imagens do Xavier bêbado. Se alguém podia lidar com o Xavier
bêbado, era o pai.
Capítulo 11
Jogando o jogo

Xavier

Acordei com uma maldita dor de cabeça assassina. Ouvidos zunindo,


cabeça doendo e a boca com um gosto estranho. Procurei água e
encontrei uma na minha cabeceira. Lucille, pensei, lembrando-me
vagamente dela me acompanhando ao meu quarto ontem à noite. Que
maldito anjo.
Eu tinha sonhado com ela... aquela que me partiu o coração, aquela
que me arruinou.
Eu não sonhava com ela há algumas semanas, e isso não estava
facilitando a minha ressaca. No sonho, ela estava ao meu lado no meu
carro. Estávamos correndo por uma pista de aeroporto, nada além de
quilômetros de asfalto diante de nós. Mas meus olhos não estavam na
estrada; eles estavam nela. Ela estava girando um fio de cabelo comprido
ao redor de seu dedo, e seus olhos brilhavam para mim.
E então ela se virou para mim e, em sua voz suave, com seu tom de
julgamento, ela disse:
— Você está bêbado.
E então meus olhos se abriram e eu estava acordado.
Vesti-me para o trabalho e saí do prédio, quase dando um soco na
cara do Marco por me perguntar se eu queria parar para o café da manhã.
Parecia que eu queria parar para o café da manhã? Só de pensar na
comida era suficiente para me fazer vomitar em todo o banco de couro
cinza-carvão feito sob medida. Quando cheguei ao escritório, meu pai
estava sentado no meu sofá.
— Isto é uma surpresa, — eu disse, terminando o resto de minha água
e sentando na cadeira em frente a ele.
— Meu Deus, Xavier, — ele disse, balançando a cabeça. — Você está
fedendo.
— Eu não tive tempo de tomar banho esta manhã.
— Bem, você cheira como se tivesse tomado banho em 1 ontem à
noite.
Eu estava prestes a dizer algo de volta, mas pensei melhor sobre isso.
Eu sorri.
— Em que posso ajudá-lo esta manhã, pai?
Ele colocou suas mãos sobre os joelhos.
— Só queria que você soubesse que combinei um jantar para você,
com o Sr. Graden e sua esposa. — O Sr. Graden era o proprietário de um
hotel no Soho que estávamos tentando comprar e mudar de nome, e
estávamos em discussões com ele há mais de um ano. Mas ele estava cada
vez mais a bordo com a ideia, recentemente.
— Oh, ele aceitou?
— Não foi um aceite completo, mas agora ele está mais interessado,
com certeza. Você terá que fazer seu melhor trabalho hoje à noite.
— Eu faço sempre o meu melhor trabalho, — eu disse.
— Veremos sobre isso. — Ele se levantou para ir. — Oh, e traga
Angela. Graden vai trazer sua esposa. Jessica, eu acho que esse é nome
dela. Vai humanizá-lo.
Angela. Lembrei mais da noite de ontem: eu a agarrando, chamando-
a de vadia oportunista. Ótimo. Eu tinha certeza de que ela estaria ansiosa
para causar uma boa impressão.
— Você entendeu? — Meu pai olhou para mim com expectativa.
Ficou claro que ele não iria embora até que eu confirmasse seu plano.
— Eu entendo. Sim. — Isso ia ser interessante.

Xavier: Mulino

Xavier: 20:00
Angela

Eu tinha acabado de falar ao telefone com Brad quando recebi as


mensagens de Xavier. Brad tinha me dado a resposta de que havia um
jantar — muito importante — com associados comerciais potenciais, — e
estava esperando que eu fosse. Ele disse que não seria nada além de
divertido para mim. Meu único trabalho seria usar meu charme para
tornar a noite o mais divertida possível para o casal que se juntou a nós.
Mas a ideia de estar em qualquer lugar com Xavier, de ter que fingir
que não éramos apenas amigáveis, mas apaixonados, era simplesmente
absurda para mim.
Mas pensei em meu pai, eu me lembrei.
Ele precisava do tratamento; era a única opção.
E, por mais difícil que fosse para mim admitir, eu estava meio grata
por Xavier ter estado tão bêbado. Isso significava que eu não precisava lhe
dar nenhuma explicação sobre meu pai, o que significava que eu não
havia violado o contrato. Eu balancei a cabeça para mim mesma. Como
pude estar tão fora de mim que pensei que era uma boa ideia?
Olhei meu armário e encontrei minha roupa mais elegante: um
macacão de seda esmeralda com uma laço na cintura. Eu o tinha
comprado com a Em há alguns anos para usar na festa de formatura da
minha turma em Harvard. Mas, no último segundo, eu tinha decidido
usar um vestido preto simples e velho.
Esta noite seria a noite do macacão. Eu tirei o cabide do armário e o
pendurei em um gancho na parede. Depois passei uma escova pelo
cabelo, maravilhando-me com o tempo que tinha demorado. Demasiado
longo. Eu precisava de uma mudança.
Caminhei até minha mesa e abri a gaveta, tirando um cartão de visita
que Brad havia me dado no dia da sessão fotográfica do casamento.
— Se houver algo que você precisar, qualquer coisa, eles podem
ajudá-la aqui, — ele disse, entregando-me o cartão. O Carlyle Studios foi
inscrito na parte de cima e, por baixo, lia-se: Cabelo. O rosto. Estilo.
Eu disquei o número de telefone no meu celular.
— Olá?
— Olá, aqui é Angela... Angela Knight.
Ouvi sussurros abafados no fundo. Então:
— Oh! Olá, Sra. Knight. Em que posso ajudá-la?
— Eu esperava... cortar meu cabelo.
Quando sai dos estúdios Carlyle, meu cabelo estava dois centímetros
mais curto, em camadas que o faziam parecer volumoso e brilhante. Eu
sabia que o que estava por dentro era o que mais importava, mas não
pude deixar de pensar que, às vezes, quando me sentia perdida, ter meu
exterior montado poderia ser melhor coisa a se fazer.
— Uau. Você está incrível, — disse Pete, o porteiro, enquanto eu
caminhava pela porta que ele segurava aberta. Eram sete quarenta e
cinco, e eu estava pronta para ir ao centro da cidade.
Meu cabelo parecia o mesmo de quando deixei o Carlyle Studios
naquela tarde. Ele salpicava sobre meus ombros em ondas suaves, as
camadas fazendo com que as mechas parecessem estar sempre em
movimento. Eu tinha até mesmo feito um esforço com minha
maquiagem.
E o macacão realmente caiu como uma luva. A seda se agarrou a todas
as minhas curvas, e minha pequena cintura estava em exposição graças
ao laço, e o decote mostrava apenas o suficiente para não ser demais.
— Obrigado, Pete, — eu disse, e falei sério. Foi bom ter um voto de
confiança antes de entrar no jantar com o homem que me acusou
verbalmente na noite passada.
Pete acenou por uma cabine, e eu entrei, rolando a janela para baixo e
observando como as luzes brilhantes passavam por mim. Quando
chegamos ao restaurante, eu saí da cabine e caminhei até a anfitriã.
— A mesa de Xavier Knight, — eu disse, surpresa com minha própria
confiança. Deve ter sido o corte de cabelo.
— Por aqui, — disse ela.
Quando cheguei à mesa, vi que eu era a última a chegar. Xavier
parecia mais elegante em um terno chique, como um ex-aluno dos
sonhos de uma escola preparatória.
Do outro lado dele estavam os associados comerciais muito
importantes, presumi. O homem tinha provavelmente cerca de quarenta
e cinco anos, com cabelos grisalhos e um rosto atraente e amigável. Ele
estava com um terno azul marinho e seu relógio brilhava sob as luzes do
restaurante.
Sua esposa sentou-se ao seu lado e parecia uma modelo. Ela tinha
todos os traços elegantes e traços macios, e usava um vestido de pêssego
com um decote grande.
Quando eles me viram, cada um dos homens se levantou. Xavier
colocou um braço em volta da minha cintura e beijou minha bochecha,
fazendo bem o papel de marido. Eu vacilei, mas acho que ninguém
notou.
— Oi, querida, — ele disse em voz alta.
— Oi, — eu disse, instruindo-me a apenas sobreviver àquele
encontro.
— Jay Graden, — disse o homem em frente a Xavier, estendendo a
mão.
— Prazer em conhecê-lo, — eu disse, e quando apertamos as mãos, a
outra mão dele veio para cobrir a minha. Parecia quente, como se eu
pudesse confiar nele.
E então andei em volta da mesa para a Sra. Graden, que também me
ofereceu sua mão. Mas seus movimentos foram mais lentos, e não
trememos tanto quanto nos abraçamos por um momento.
— Olá, querida, — ela disse, e eu me agarrei a cada palavra. Tudo nela
parecia que tinha saído de uma revista.
Sentei-me, e um garçom imediatamente encheu meu copo com vinho
branco. Tomei um gole, sabendo que precisaria dele.
— Então, vamos falar de negócios? Eu sei que você está procurando
um novo proprietário, e nossa rebranding não faria nada além de elevar o
nome de sua família, — começou Xavier, mas foi interrompido.
— Pare, Xavier. Ainda nem pedimos nossos aperitivos. Vamos parar
com a conversa de negócios. Para o bem das belas senhoras.
— Com certeza, — Xavier ajustou, não mostrando nem mesmo uma
lasca de aborrecimento. Fiquei impressionada. — Diga-me, como foi
Milão?
— Ooh, foi divino, — gemeu a Sra. Graden de seu assento. — A moda,
o vinho, tudo. Divino. — Eu nunca tinha ouvido ninguém falar como ela
antes, não na vida real. Era como se ela soubesse que todos os olhos
estavam sobre ela, e foi isso que lhe deu o impulso para continuar.
— Maravilhoso, — Sr. Graden deslumbrava. — Estivemos lá por
quanto tempo, quinze dias, querida? Não foi o suficiente. Vocês dois
deveriam aparecer por lá.
— Vamos acrescentá-la à lista, querida... — disse Xavier, dirigindo a
pergunta para mim.
— Oh, sim, — eu respondi, esperando que minha surpresa não fosse
perceptível. — Definitivamente. Acrescentada à lista. — Senti minhas
bochechas queimando. Talvez tenha sido do vinho, ou talvez tenha sido
pela atenção.
Ou talvez seja a mentira que você está contando, sentada à mesa como se
tudo entre você e seu marido fosse alegre, eu pensei.
— Com licença, — eu disse, e empurrei minha cadeira para trás para
que eu pudesse ficar de pé. Antes que pudesse ver qualquer reação deles,
dirigi-me ao banheiro.
Salpiquei água em minhas mãos, desejando não estar usando tanta
maquiagem para poder fazer o mesmo com meu rosto. Eu me olhava no
espelho e tentava reconhecer a garota que conhecia antes de tudo isso.
Eu não tinha certeza de poder vê-la.
Quando eu saí do banheiro, senti uma mão agarrar meu ombro.
— Ei, — disse a voz, e eu me virei para encontrar Xavier. — Olha, —
ele começou: — Sei que a noite passada foi zuada. Eu estava bêbado.
Provavelmente disse alguma merda que eu não deveria ter dito.
Os olhos dele estavam se movendo, como ele não estivesse
acostumado a pedir desculpas.
— Mas este jantar é realmente importante. Por isso, preciso que fique
quieta e ria quando contam piadas, está bem? O que quer que você
precise me dizer, faça-o depois de sairmos. Certo?
Fiquei atordoada. Aqui estava eu, pensando que Xavier só se
importava com Xavier. Mas agora estava claro que ele também se
importava com a empresa de seu pai. Isso não significava que eu o tivesse
perdoado, mas também não queria fazer nada para ferir Brad.
— Tudo bem, — eu disse, e voltei para a mesa. Quando nos sentamos
de volta, o Sr. e a Sra. Graden estavam olhando um para os olhos do
outro. Não foi até que Xavier limpou a garganta que eles perceberam que
estávamos de volta.
— Ah, bem-vindos, — disse o Sr. Graden. — Espero que vocês não se
importem. Pedimos algumas entradas.
— Perfeito, — disse Xavier.
— Ótimo, — eu ecoei.
O Sr. Graden apertou as mãos.
— Então, Xavier. Conte-me sobre a mulher que te fisgou. É bom ver
você finalmente sossegado.
Xavier olhou para mim.
— Bem, eu conheci Angela, e nós... instantaneamente...
Eu vi que ele estava se afogando. Eu sabia que ele não sabia nada a
meu respeito.
— Ele sempre fica sufocado contando a história, — eu disse,
interrompendo a tempo, e os olhos dos Gradens se voltaram para mim.
— Nos encontramos em uma loja de bolinhos na cidade, na verdade.
Eu olhei para Xavier.
— Eu tinha acabado de sair de uma entrevista e precisava de algo para
me animar, e Xavier também estava tendo um dia ruim. Pegamos os
pedidos do outro por engano e... começamos a conversar. O resto, bem,
tudo se encaixou no lugar.
A Sra. Graden bateu palmas, gemendo de novo.
— Tão bonito.
— E para o que você estava sendo entrevistada? — perguntou o Sr.
Graden.
— Uma posição de engenharia mecânica. Em Curixon.
— Eu conheço Curixon. Engenharia mecânica? — Ele parecia
estupefato. Meu querido marido também parecia.
— Sim, — eu disse. — Essa é minha formação, então esse era o
trabalho que eu estava procurando.
— Estou vendo. E onde você obteve seu diploma?
— Harvard.
— Você estudou engenharia em Harvard? — perguntou o Sr. Graden,
sem sequer tentar esconder sua surpresa. Ele olhou de mim para Xavier,
que estava tentando engolir seu próprio choque.
— Fui realmente afortunada. Foi uma experiência maravilhosa, — eu
disse honestamente.
— Você, senhor, — disse o Sr. Graden, voltando-se para Xavier, —
encontrou um tesouro de uma esposa.
Os olhos de Xavier ficaram em mim, e eu não conseguia mais ler a
expressão em seu rosto. Mas quando ele falou, talvez pela primeira vez
em todo o tempo em que eu o conhecia, suas palavras soaram genuínas.
Ele disse, lenta e simplesmente:
— Parece que sim.
Capítulo 12
Adivinhe quem está de volta

Angela
Desconhecido: Eu não era bom o suficiente, mas Xavier Knight
é...

Desconhecido: Tenho olhos em todos os lugares.

Desconhecido: Você não pode fugir de mim.

Desconhecido: Boa sorte, Sra. Carson.

Desconhecido: Você vai precisar.

Olhei para as milhares de mensagens recebidas no meu telefone,


sentindo o meu estômago revirar com cada uma delas. Meu telefone
estava sobre a mesa, e Dustin tentou espreitar para ver o que estava
deixando meu rosto pálido.
— O que é isso?, — perguntou ele. Nós estávamos em sua cafeteria, e
ela estava novamente vazia.
Eu tinha passado pela loja sempre que ia dar uma corrida, o que tinha
sido frequente nas duas últimas semanas. Correr me deixava espairecer
um pouco, e isso me deu uma válvula de escape. E fugir daquela
cobertura... bem, isso foi uma benção se eu já tivesse visto uma.
Embora, esta manhã, minha corrida não tivesse sido uma fuga tão
grande quanto uma hora ininterrupta para pensar.
A segunda parte do jantar de ontem à noite tinha corrido bastante
bem, com Xavier e eu até conseguindo rir algumas vezes um com o
outro.
Quando ele pegou minha mão para me ajudar a levantar da cadeira
quando estávamos saindo, pareceu quase natural. Ele tinha me ajudado
em seu Bentley, e então, explicando que ia encontrar um amigo para uma
bebida por perto, Marco me levou para casa.
Tudo isso foi mais do que civilizado. Foi amigável, como se ele tivesse
me conhecido e agora não me odiasse. Talvez ele até gostasse de mim.
Tudo ficaria muito mais fácil se pudéssemos nos dar bem. Não
sentiria cobertura tão perigosa o tempo todo, e talvez eu até começasse a
me sentir em casa no lugar onde eu vivia.
Estes foram os pensamentos que tive em minha corrida desta manhã
— embora cheios de possibilidades, também estavam cheios de
esperança.
Mas agora, aqui estava eu com Dustin, sentada em uma mesa na loja
vazia, bebendo lattes de hortelã-pimenta e falando sobre um filme que
ele tinha visto ontem à noite.
E foi quando as mensagens começaram a chegar, que minha atenção
passou da recapitulação animada de Dustin para o meu telefone. Mesmo
sendo um número desconhecido, eu sabia exatamente de quem ele era.
— Olá? — perguntou Dustin, acenando sua mão diante dos meus
olhos. — Quem é?
— Não é nada, — eu disse.
— Se não fosse nada, você não pareceria ter visto apenas o fantasma
do Michael Jackson. — Desembucha, — ele empurrou.
Olhei para ele, vendo o rosto bonito de um barista de vinte e quatro
anos olhando para mim. Seus olhos gentis pareciam me lembrar que, por
ora, com Em não respondendo a mim e meus irmãos constantemente
ocupados com o restaurante, ele era o único amigo que eu tinha.
— Certo. Está bem. É o meu antigo chefe, — eu disse, com olhos
abatidos. Eu estava tirando minhas cutículas, tentando me distrair da dor
que estava sentindo por dentro.
— Quem é ele?
— Ele era o chefe da Gelsa, uma empresa tecnológica realmente
importante. O fundador original era de minha cidade, Heller, por isso a
sede fica lá. Eu trabalhei para ele por pouco mais de onze meses.
— Certo... você não está me dando muito aqui, Angela.
Eu suspirei. Depois olhei para Dustin.
— Ele estava... ele estava tentando me fazer... dormir com ele. O
tempo todo que eu trabalhei lá. No início, ele me convidava para jantar.
Mas quando eu continuava a rejeitá-lo, ele começou a me obrigar a ir a
reuniões particulares em seu escritório.
— Ele tentava tocar na minha perna ou no meu ombro. E quando
parei de ir, a situação piorou. Ele me ligava, deixava mensagens na caixa
postal, e me seguia para casa do trabalho. No final, era como se eu não
pudesse ir às compras sem vê-lo em algum lugar ao fundo. Era muito
ruim.
— Meu Deus, — ele disse, com sua mão voando para pegar a minha.
Eu olhei para nossas mãos e ele sabia o que eu estava pensando. — Oh,
eu sei que você é casada, Angela. Não se preocupe. Não estou interessado
em você... bem, não estou interessado em mulheres, — ele disse. — Mas
de volta a você.
E rápido assim, ele havia me revelado algo tão privado que eu me
senti bem revelando meu problema. Estava à vontade.
— Eu tentei desistir. Durante um mês inteiro, embora o trabalho
fosse incrível e eu adorasse o trabalho, simplesmente não consegui lidar
com seu assédio constante.
— Eu havia trocado meus números algumas vezes, mas ele sempre
conseguia me localizar. Comecei a ter ataques de pânico. Finalmente
contei aos meus irmãos o que estava acontecendo, e foram eles que me
deram forças para realmente desistir.
— E depois?
— Pedi minha demissão e ele me chamou ao seu escritório. Entrei e
me certifiquei de que a porta fosse deixada aberta. Ele tirou a carta de
demissão de minhas mãos e sussurrou, com a voz mais cruel que você
possa imaginar, que eu nunca mais trabalharia. Ele disse que uma vez que
deixasse sua empresa, era isso. Ele se certificaria de que eu nunca poderia
ser contratada. — Eu olhei para Dustin, e tinha certeza de que ele podia
ver a dor em meus olhos.
— Ele me disse que eu não deveria ter dito não.
— Querida, — disse Dustin, e ele apertou minhas mãos ainda mais, —
você não merece isso. Ninguém merece isso, especialmente você. — Ele
agarrou meu telefone e leu as mensagens.
— Meu Deus. Você já foi à polícia?
Eu acenei com a cabeça.
— Quando começou, e depois novamente antes de desistir com meus
irmãos. Mas eles disseram que eu não tinha nenhuma prova. Além disso,
ele é um grande e poderoso CEO, e eu sou apenas alguém inexperiente
de vinte e três anos de idade. As probabilidades nunca estiveram a meu
favor.
— Então você só o está ignorando?
— Ele estragou muito da minha vida, mas... eu realmente não posso
fazer nada. Ele tem o poder e recursos. Ele vai desistir eventualmente,
certo?
— Você já contou ao Xavier? Ele provavelmente poderia ajudar...
— Não! — eu gritei. Depois olhei novamente para baixo. — Não
quero que ele pense que eu sou uma donzela em apuros. É... é
embaraçoso.
Dustin olhou para mim com tanta pena que pensei em chorar.
— Não, pare com isso, — ele disse, levando-me às lágrimas. — Não
desperdice nenhuma lágrima pelo seu chefe horrível, esse filho da puta.
Você me entendeu?
Eu confirmei.
— Sabe de uma coisa? Que se dane isso. Nós vamos aproveitar o dia.
— O quê? O que você quer dizer com isso? — Mas Dustin já estava
levantando, limpando o balcão e fechando a caixa registradora. Ele virou
a placa na janela.
— Dustin! Você pode fazer isso?
Ele olhou para mim e encolheu os ombros.
— Eu não sei. Provavelmente não. Mas, ei, eu acabei de fazer.
Depois ele me ofereceu sua mão, e eu a agarrei, e ele me guiou para
fora da cafeteria, quarteirão abaixo, até uma estação de trem.
Quando saímos na Prince Street, bem no coração do Soho, Dustin me
arrastou para um spa de unhas enfiado em um porão na esquina.
Quando entramos, eu fiquei impressionada com o quanto o spa
parecia luxuoso por dentro; o exterior tinha sido tão desinteressante.
Tudo era mármore: os pisos, as mesas de manicure e as paredes. Todos os
técnicos de unhas estavam vestidos de branco, e havia uma música suave
e melódica.
— Dustin! — um coral de técnicos chamou quando entramos.
— Como você pode ver, sou um cliente habitual, — disse-me ele antes
de acenar para eles. — Venho aqui sempre que estou tendo um dia de
merda, — explicou ele. — Nada que uma boa pedicure não possa
consertar, não é?
Uma técnica enérgica saltou para cima de nós, agarrando cada uma
de nossas mãos.
— O que será hoje?, — perguntou ela.
— A obra, — disse Dustin, sem me consultar.
— A obra! — repetiu a técnica, e convocou outra. Esta tinha cabelos
longos e trançados, mas era um pouco mais tímida.
Ela pegou minha mão e me guiou até o lugar para pedicure. Eu tirei
meus sapatos e me preparei para tirar minha mente dos horrores do meu
passado.

Quando chegamos à nossa quarta loja, eu quase tinha esquecido as


mensagens de texto. Tínhamos conseguido manicures e pedicures, uma
limpeza de pele cada um, e depois fomos às compras.
Fomos a três lojas sem parar, onde Dustin me convenceu a comprar
dois vestidos slinky, um blazer e o par de jeans mais apertado que eu já
tive.
— Sua bunda parece que pode estar em um vídeo Kanye, — ele disse,
e depois pegou meu cartão e o roubou ele mesmo. — Você e seu marido
vão me agradecer mais tarde.
Meu marido. Mas antes que eu pudesse me debruçar sobre Xavier, ou
ter algum tempo para sentir mais melancolia, Dustin estava me puxando
para a loja número cinco.
Esta era uma loja de chapéus, onde chapéus de todas as formas e
tamanhos revestiam as paredes. Eles tinham apenas uma coisa em
comum: seus preços exorbitantes.
— Meu Deus, há tanto tempo eu queria um desses, — exclamou
Dustin, conferindo o fedora de bronze em sua cabeça no espelho.
— Parece... bom? — Eu ofereci.
— Sim, parece bom. Por oitocentos dólares, é melhor.
— Oitocentos dólares! Por um chapéu?
— Não é apenas um chapéu, — ele disse, tapando meu ombro. — E
uma declaração.
Eu não pude deixar de rir. Havia algo tão bom em estar perto de
Dustin.
Não precisei observar tudo o que eu disse ou ficar atenta ao
significado de seus comentários. Foi fácil, como sair com a Em. Ele se
importava comigo porque eu era eu, não por causa do meu novo
sobrenome.
Eu o vi se olhando no espelho e fui tomada pelo desejo de fazer algo
agradável para ele. Ele havia tirado minha mente de meu antigo chefe, de
Xavier, por um dia inteiro.
Ele era um verdadeiro amigo quando eu não tinha mais ninguém a
quem me apoiar.
— Ei, Dustin, — eu disse, movendo-me para que ele me passasse o
chapéu.
— Você quer provar?
Eu apenas balancei a cabeça e a levei para a caixa registradora. A
vendedora olhou para mim com ceticismo, como se ela não acreditasse
que eu fosse realmente pagar por isso. Afinal, eu estava usando meu
Converse surrado.
Mas eu lhe entreguei o cartão preto dos Knight, e sua boca quase caiu.
— Oh-meu-deus, é sério? — perguntou Dustin, com sua boca aberta.
Eu sorri para ele, depois me dirigi ao vendedor.
— Se você puder embrulhá-lo, seria ótimo.
— Claro, — ela respondeu, passando o cartão e assistindo enquanto
eu assinava o recibo. Em seguida, ela embrulhou o chapéu em um lindo
pacotinho, amarrando-o com um laço azul-claro.
Ela me entregou, e eu o entreguei a Dustin, bem quando um rosto
familiar entrou pela porta.
Era a Sra. Graden, a esposa do sócio comercial muito importante dos
Knight. Ela me reconheceu imediatamente, seu rosto estava aquecido
quando veio para beijar minhas bochechas no ar.
— Querida!, — exclamou ela. Então ela se voltou para Dustin, de olho
nele e depois de olho em mim. Ela notou a sacola na mão dele. — Estes
chapéus, — disse ela.
— Exatamente, — disse Dustin, acenando profusamente e oferecendo
sua mão a ela.
— Eu sou Dustin. Dustin Stirling.
Ela o deixou apertar a mão dela.
— Jessica, — ela disse a um volume logo acima de um sussurro, e
depois voltou-se para mim.
— Já estávamos de saída, — eu disse, na esperança de me retirar desta
situação o mais rápido possível.
Era divertido estar neste mundo quando éramos apenas eu e Dustin,
mas ter uma verdadeira socialite lá, uma que me conhecia e ao meu
marido, tirou toda a diversão da brincadeira dele. E eu me senti nervosa,
por alguma razão eu não conseguia me controlar.
— Foi bom ver você, — acrescentei, e ela sorriu calorosamente, seus
dentes brilhavam mais do que uma lâmpada. Ela beijou minhas
bochechas mais uma vez, e então, com um último, — Ciao, — ela voltou
sua atenção para um chapéu preto na parede distante.
Dustin e eu saímos da loja, e quando olhei para trás pelo vidro da
frente, tive quase a certeza de ter visto Jessica nos observando partir.
Xavier

Meu telefone tocou no meu bolso.


Eu franzi a sobrancelha ao sair do carro e puxei meu celular. Esqueci
de colocá-lo no silencioso. Eu sempre o fazia antes das grandes reuniões
de negócios. Eu estava bem fora do local da reunião e precisava do foco.
Mesmo assim, eu não pude deixar de olhar para a tela.
Era uma mensagem de Jessica. A esposa de Graden, o homem de
negócios que eu estava prestes a conhecer. Estávamos prestes a fechar
um grande negócio.
Eu gemi.
Provavelmente não devo ignorar isso então.
Mas quando olhei as mensagens, eu desejava ter ignorado.

Jessica: Xavier! Você precisa ficar de olho na sua esposa.

Jessica: Eu a vi fazendo compras hoje.

Jessica: Com outro homem.

Jessica: E pareciam ser muito amigáveis um com o outro...


Capítulo 13
Tão perto, tão longe

Xavier

Eu olhei para a tela do meu celular quando uma onda de raiva surgiu em
mim.
Minha esposa estava causando problemas para mim.
Novamente.
Não preciso desta merda.
Empurrei meu celular de volta para o bolso e tentei relaxar. Eu
precisava de uma cabeça fria para fechar este negócio.
Darei um trato na maldita esposa mais tarde.
Eu estava no Hatchback, um bar pitoresco no distrito financeiro,
onde homens que passavam o dia inteiro cuidando de negócios vinham
para descontrair. Não era meu cenário — nenhum lugar que oferecesse
tacos de foie gras era — mas Graden tinha sugerido isso, então aqui
estava.
Depois do jantar que tivemos com nossas esposas, eu estava bastante
confiante de que o negócio estava prestes a se concretizar. Ele havia
pedido para nos encontrarmos para o happy hour desta noite, e eu tinha
a sensação de que iria para casa um homem muito mais feliz do que
quando acordei esta manhã.
O jantar tinha me colocado de bom humor, com certeza. Nada me fez
sentir tão bem quanto ganhar no meu trabalho, e este — este — era
certamente o meu maior ganho até agora.
Eram quase sete da tarde, e o bar estava lotado com mais Hugo Boss e
Giorgio Armani do que em uma loja de roupas. Homens entre vinte e
cinco e sessenta e cinco se misturavam, com as mãos cheias de uísque ou
cerveja.
Acho que em todo o espaço havia três mulheres, e duas delas eram
bartenders. Você teria pensado que era um bar gay em West Village, mas
todos os homens aqui dentro certamente não estavam enganados.
Não que eles fossem totalmente homofóbicos, é claro — isso era ruim
para os negócios. Eles gostavam de mulheres. Eles só precisavam de
algum lugar para beber e falar como homens.
— Ei, aí está ele. Knight! — Eu me virei para encontrar Graden indo
até mim, com outro homem a reboque. Eu me levantei para apertar sua
mão.
— Como está indo? — perguntei, sorrindo calorosamente para
Graden. Eu estava pensando nas primeiras impressões, mas eu sabia que
o acompanhamento era igualmente importante. Pergunte a qualquer
mulher com quem eu tivesse dormido mais de uma vez. Eu era bom no
acompanhamento.
— Bom, bom, — respondeu Graden, dando tapinhas nas minhas
costas. — Obrigado por nos encontrar. Este é Mickey. Ele é o meu cara.
Um conselheiro, digamos assim.
— Ei, Mickey, — eu disse, apertando sua mão.
É disso que estou falando, eu pensei. O homem tinha trazido seu
assessor de negócios. Ele estava definitivamente mais do que interessado;
ele estava pronto para falar. Mal podia esperar para ver o olhar no rosto
do meu pai.
— O que os senhores estão bebendo? — Eu perguntei, acenando para
a bartender ao mesmo tempo.
Ela era bonita, de um jeito meio universitário, de Kansas.
— Vou tomar um Glenfiddich, — disse Mickey.
— Faça dois, — acrescentou Graden.
— Três Glenfiddich puros, por favor, — eu disse a bartender,
atirando-lhe um sorriso. Eu só acrescentei um 'por favor' quando a
garota que estava tomando meu pedido era alguém com quem eu
dormiria. E esta garota, com suas covinhas e seu sotaque sulista, era
alguém que eu levaria absolutamente para casa.
— Por que vocês não vão procurar uma mesa na parte de trás e eu
levo as bebidas? — Eu disse aos homens, e eles acenaram, andando para
encontrar um espaço vazio.
— Aqui está você, — disse a bartender, entregando-me as bebidas. Eu
dei a ela meu cartão. — Abro uma conta, Sr. Knight? — Ela piscou
inocentemente para mim.
— Claro, — eu lhe disse. — Estarei aqui por um tempo. — Eu lhe dei
o olhar, aquele que garantiu que ela soubesse que eu estava interessado
em mais do que bebidas.
— Eu gostaria disso, — respondeu ela, e soltou uma risada.
Levei as bebidas de volta para onde Mickey e Graden haviam
conseguido uma mesa. Estava tão lotado aqui que eu não me
surpreenderia se eles tivessem passado um cheque para obtê-lo. Graden
novamente deu-me um tapa nas costas enquanto eu me sentava.
— Obrigado, Xavier.
— Não por isso, chefe, — eu disse.
— Então, vamos ao que interessa. Mickey aqui quer ouvir seu tom,
por isso, estabeleça-o.
Eu olhei diretamente para Mickey. Ele parecia inofensivo o suficiente.
Seu cabelo encaracolado era grisalho um pouco nas pontas, e seus pés de
corvo eram definitivamente visíveis, mas seu terno era italiano, e seu
relógio era um Rolex de edição limitada.
Portanto, o homem tinha claramente feito uma boa escolha em um
momento ou outro.
— Está bem, Mickey. O negócio é o seguinte. O hotel Graden é
claramente uma propriedade que vale a pena. Só o local vê projeções
acima do dobro do que os outros lugares do mesmo bairro nos dariam. E
tem tido uma boa corrida. Uma puta corrida, desculpem minha
linguagem, cavalheiros.
Ambos soltaram uma gargalhada.
— Mas há um tempo e um lugar para sair. E eu sei sua perspectiva
sobre isso, — eu disse, olhando para Graden, — é que você quer sair
agora. Você quer sair, mas você quer olhar por cima do ombro e ver seu
legado.
— É isso que estou lhe oferecendo, Graden. A chance de ver uma
rebranding, de ver uma propriedade bem-sucedida se tornar ainda mais
bem-sucedida, mas também a chance de ver reconhecidos os anos que
você dedicou a ela... Homenageado. Sua pegada estará sempre lá se for
um hotel Knight. Isso eu posso lhe prometer.
Eu olhava de homem para homem, tentando avaliar a reação. Pensei
que tinha sido ótimo, mas ambos estavam demorando a digerir. Logo
quando eu estava prestes a dizer outra coisa, para preencher o silêncio
que lentamente se tornava ensurdecedor, Graden bateu palmas.
Uma vez, depois duas vezes. Depois três vezes.
— Isso, — ele disse, — foi lindo.
Olhei para Mickey, tentando iluminar quaisquer que fossem seus
pensamentos, mas seus olhos só tinham o mesmo olhar vidrado e
profundo para eles.
— Qual é o cronograma?, — perguntou ele, finalmente olhando para
mim.
— Estaríamos procurando começar a construção estética em seis
semanas, no máximo, — eu comecei. — Lobby, spa e academia de
ginástica para começar. O nosso objetivo é ter um novo restaurante no
telhado em funcionamento até março. Estamos visando profissionais de
negócios que querem o centro da cidade, então vamos precisar nos
diferenciar o melhor possível do centro.
Mickey acompanhou minhas palavras, acenando com a cabeça a cada
duas sentenças. Pensei que eu o tinha na mão. Por isso, continuei.
— Estou pensando na mistura entre o Mandarim Oriental e o NoMo.
Queremos a elegância de uma propriedade cinco estrelas estabelecida,
mas queremos que ela seja fresca, — eu disse, prestes a continuar falando
quando Graden levantou a mão e interrompeu.
— Espere um minuto, — ele disse, lendo algo em seu celular. —
Desculpe interromper, mas... que mundo pequeno... — murmurou ele.
Então ele olhou para mim. — Adivinhe quem minha esposa encontrou
hoje.
— Quem? — perguntei, esperando que ele não conseguisse ouvir a
impaciência em minha voz.
— Sua esposa! Jessica disse que viu suas compras com... um homem...
em La Sur, aquela loja de chapéus.
Ele o disse casualmente, mas o tom evidentemente mudou quando
ele disse "um homem". Ele estava me julgando, perguntando-se sobre
minha esposa e meu relacionamento. Perguntando-se quem era o
homem.
Pensei imediatamente nos textos que Jessica me enviou antes.
Porra...
Eu não poderia tê-lo duvidando se ele poderia confiar em mim, não
agora.
Eu precisava ser compreensível.
Eu precisava ser compreensível e confiável.
— Que mundo pequeno! — Eu quase gritei, desta vez dando tapinhas
em seu ombro. — Aqueles chapéus, todos gostam deles. — Quando
Graden olhou para mim, um sorriso educado em seus lábios, algo havia
se deslocado em seus olhos. Eu podia ver a dúvida tomando conta.
Merda. A raiva corria pelas minhas veias como uma jangada por um
rio. Eu estava chateado. Eu desci meu uísque. Minha mulher estava lá
fora me envergonhando, interferindo nos negócios. Isso era inaceitável.
Eu não dei a mínima para com quem ela estava em particular, quando
os olhos não estavam por perto para vê-la. Eu fiz o que eu queria e ela
podia fazer o que queria.
Mas em público?
Nós éramos a porra do quadro de amor e lealdade. Sangrávamos o
casamento, dia sim, dia não. Como ela poderia ter sido tão estúpida?
Eu queria sair imediatamente do bar e lhe dar uma lição, deixá-la
saber o quão idiota ela tinha sido. Avisá-la sobre estar em público
novamente com aquele cara, ou com qualquer outro cara que não fosse
eu.
Não, que se foda isso. Ela nunca mais veria aquele cara de novo,
público ou privado. Era o mínimo que ela podia fazer, já que ela corria
pela cidade passando o cartão preto em chapéus de fantasia.
Mais um olhar sobre Mickey e eu sabia que a produtividade da noite
tinha acabado.
Uma vez que saí, os homens iam falar se podiam trabalhar com um
homem que não conseguia manter as rédeas sobre sua esposa.
Um homem que ou não sabia o que sua esposa andava fazendo, ou
não se importava.
Pensei, deixe-os ter a conversa agora. Abri um e-mail em meu
telefone, fingindo lê-lo e reagindo.
— Cavalheiros, — interrompi, — Eu adoraria sentar aqui com vocês a
noite toda, mas um colega precisa da minha ajuda. Desculpem-me por
encurtar a noite. — Ambos ficaram de pé quando eu o fiz, acenando para
mim.
— Manteremos contato, — disse Graden, a camaradagem em sua voz
se foi.
— Perfeito, — eu disse. — Boa noite.
Eu estava tão zangado que andei a toda velocidade para fora do bar,
esquecendo completamente meu cartão e a bartender do sul com as
covinhas.
Só quando Marco estava percorrendo a West Side Highway é que me
lembrei de ambos e senti ainda mais fúria entrar na minha corrente
sanguínea.
Ela fodeu com meus negócios.
Ela fodeu com a minha vida sexual.
Ela ia ter que aprender seu lugar.
Capítulo 14
Um Knight público

Angela

Eu estava em casa cozinhando biscoitos. Eu sei que parecia tosco, como


uma espécie de dona de casa de um milhão de anos atrás, mas eu adorava
assar.
Eu era ã de qualquer coisa que exigisse que eu usasse minhas mãos
para criar algo, qualquer coisa que viesse com uma receita. Eu tinha
acabado de colocar os biscoitos no forno quando ouvi o elevador zumbir.
Olhei pelo corredor do meu quarto, pensando se eu teria tempo
suficiente para chegar lá antes que as portas do elevador se abrissem. Mas
antes que eu pudesse terminar o pensamento, as portas se abriram.
E ali estava Xavier, de olhos vermelhos, com o terno pendurado sobre
o braço. Antes que eu conseguisse dizer uma palavra — ou pensar em
dizer — ele estava marchando até mim, e palavras saíam de seus lábios.
— Com que filho da puta você estava comprando hoje?
— O quê?
— Quem era o homem?
— Meu amigo? Dustin.
— Oh. Dustin, — ele disse, e ficou claro que ele estava zombando de
mim. — Deixe-me deixar algo muito claro para você, Sra. Knight. Tudo o
que você faz nesta cidade chega em mim. TUDO.
Eu estava tão confusa que nem sabia por onde começar. Pensei em
voltar às compras com o Dustin.
— Tive uma reunião de negócios com a Graden hoje à noite, — ele
balbuciou. Oh. Sim, tínhamos encontrado com a Jessica. Aí estava minha
resposta.
— Ele disse que sua esposa a viu fazendo compras... com um homem.
— Foi o ciúme que eu detectei em sua voz?
— Estou me lixando para o que você faz no seu tempo livre, no seu
próprio espaço, — ele disse, me jogando na cara. Talvez não tenha
ciúmes, eu pensei. — Mas você não interfere nos meus negócios. Você
não vai me envergonhar novamente. Você me entende?
— Sim, mas eu não queria interferir...
— ME ESCUTE. — Ele bateu com a mão no balcão da cozinha. —
Você não deve estar em público com nenhum homem que não seja eu.
Você pode ter custado à empresa a merda do NEGÓCIO. Você entendeu
isso? Você percebe o quão estúpida você foi? Eu te proíbo de ver esse
homem até o fechamento do negócio.
— Você me proíbe?
— Você me ouviu. Você está vivendo sob meu teto, usando meu
dinheiro, você pode obedecer a uma simples regra. Além disso, se o bom
velho pai descobrisse que você estava fazendo alguma coisa para ferrar
este negócio, você teria mais a responder do que apenas a mim. — Suas
palavras eram tão grossas, tão afiadas, que eu as sentia me cortar.
Eu não tinha mais nenhuma energia dentro de mim. Pensei nas
mensagens de texto do Sr. Lemor, sobre meu pai, e olhei em volta para
minha nova vida. Eu estava cansada de lutar para encontrar o lado bom.
Ao ver a desistência no meu rosto, Xavier se virou e marchou até seu
quarto, batendo a porta.
— Ele é meu único amigo, — eu disse suavemente à cozinha vazia,
como se dizer as palavras ajudasse a tornar menos real o que acabara de
acontecer. Mas nada veio em resposta. Olhei à minha volta, sentindo-me
perdida. Ainda era só eu e meus biscoitos.

Claro, eu já tinha me sentido sozinha neste quarto cem vezes antes. Mas
esta era a primeira vez que eu não tinha Em e não tinha Dustin. Ambas as
minhas redes de segurança da cidade de Nova Iorque, antigas e novas,
não queriam ter nada a ver comigo.
Eu tinha ligado para Dustin depois que Xavier explodiu comigo,
contando-lhe sobre a regra que me proibia de vê-lo. Eu tinha tentado rir
disso, me certificando de que ele soubesse o quão absurdo eu achava que
era.
Mas Dustin não tinha rido.
— Xavier Knight proibiu você de me ver? Como eu, especificamente?
— Sim, — eu tinha respondido. — Mas é só até o fechamento deste
negócio...
— Isso é uma bagunça. Muito bagunçado. Eu não posso ter o maior
nome da cidade me odiando dessa maneira, — disse Dustin. — Parece
que há um alvo nas minhas costas ou algo assim.
— O quê? Não, Dustin, ele só está exagerando...
— Angela, tenho que ir, está bem? — E então ele desligou. Assim
mesmo, nossa amizade parecia ter acabado.
Acho que entendi por que ele estava tão agitado. Eu sabia como era
ser apontado como o inimigo por uma pessoa no poder. Como era
assustador saber que eles tinham mais controle sobre seu futuro do que
você.
Mas agora, não era apenas o Sr. Lemor que controlava minha vida.
Era meu marido, também.
Já era ruim o bastante eu ter que viver com Xavier, ter que ouvi-lo
gritar comigo pelas menores razões. Mas agora ele estava cortando
ativamente minhas relações pessoais, como se minha vida não
importasse nem um pouco.
Ele claramente não tinha respeito por mim. Ele pensou que eu tinha
casado com ele por seu dinheiro e seu nome, e eu não podia me defender
ou explicar nada — não sem quebrar as cláusulas.
Quanto tempo eu poderia ficar tão solitária?
Quantas semanas, meses, anos eu poderia passar sem ter um
verdadeiro amigo?
Minha tristeza se transformou em frustração, depois em fúria com
Xavier, mas também em fúria pela injustiça da vida. Eu estava
começando a enlouquecer, quando meu telefone se iluminou com uma
mensagem de texto.
Desconhecido: Pare de me ignorar.

Desconhecido: Vai se arrepender.

E meu sangue fervia ainda mais. Eu sabia que era o Sr. Lemor. A audácia
dos homens com poder e dinheiro para tentar controlar cada minuto do
meu dia; era inacreditável.
Quem eles pensavam que eram?
Por que eles pensaram que poderiam mandar em mim como uma
criança?
Então meu telefone tocou.
Você só pode estar de brincadeira! Eu deixo sair o som mais animalesco
— um som que eu nem sabia que era capaz de fazer — e respondo.
Mas eu não esperei que ele falasse.
— ME. DEIXE. EM PAZ! — Eu gritei pelo telefone.
Eu estava ofegante. Acho que nunca havia falado com alguém assim
antes, e meu coração batia mais alto do que um tambor. Estava tremendo
enquanto esperava por uma resposta — qualquer coisa.
Depois ouvi uma voz calma, tão controlada que soava quase doce, do
outro lado.
— Você vai desejar, — ele disse, — não ter dito isso para mim.
Joguei meu telefone do outro lado da cama, o mais longe possível de
mim.
Minhas mãos ainda estavam tremendo.
Saltei ao som das mensagens recebidas. Parte de mim queria ignorar o
telefone, mas minha curiosidade levou o melhor de mim. Eu precisava
saber o que ele estava dizendo. Era como dirigir por um acidente de carro
na rodovia. Você tinha que olhar porque, de alguma forma, não saber era
pior.
Rastejei até o canto da minha cama, onde o telefone estava deitado
com a face voltada para baixo, e lentamente o virei. Eu nunca tinha
ficado tão aliviada. O nome de Danny piscava sobre a tela.

Danny: Angela.

Danny: Você tem que vir para ver o pai.

Angela: ???

Angela: Está tudo bem?

Danny: Ele está bem.

Danny: Mas ele está fazendo uma birra.

Angela: Por quê?

Danny: Aparentemente você tem evitado falar sobre seu


casamento

Danny: Ele não quer adiar mais.


Merda. Outro problema a ser resolvido.
Eu havia evitado falar sobre isso.
Eu simplesmente não tinha coragem de continuar mentindo
diretamente na cara do meu pai. Mas essa era a única opção além de
evitar o assunto, então eu teria que fazer isso.
Eu soltei um grande fôlego e saí da cama, retirando meu pijama.
Puxei um par de jeans, uma camiseta, e amarrei meus Converses, depois
me dirigi para a porta.
Eu não tinha certeza se seria capaz de manter as mentiras na sua
frente.
Especialmente não quando ele estava indo tão mal.
Mas eu tinha que ser forte, por causa dele.

— Pai?
— Entre, filhinha, — ele disse, claramente se esforçando para tirar
cada palavra.
— Danny disse que você estava se sentindo melhor.
— Eu estou, eu estou, — ele disse, pegando minha mão e a beijando.
O silêncio se estendeu por um segundo diante de seus olhos enrugados
em um sorriso. — Você não pode evitar a conversa para sempre.
Eu acenei com a cabeça. Senti-me como uma criança prestes a ser
repreendida. Como se eu tivesse sido pega em flagrante com a mão no
biscoito.
Mas em vez de um pote de biscoitos eu estava no fundo de uma teia
de mentiras e enganos. Era um segredo de bilhões de dólares onde a vida
do meu pai estava pendurada na balança.
Eu respirei fundo, me apoiando.
— Ei, se anime, — brincou ele. — Eu não estou bravo. Não vou dizer
como foi imprudente e louco se casar tão rápido.
— Você acabou de dizer.
— Ah, eu acho que sim. — Ele riu, e eu não pude deixar de rir com ele
com pesar. Eu mantive meu olhar no chão.
Se ele soubesse a verdade, ele poderia ter outro ataque cardíaco.
— Filhinha, olhe para mim, — ele disse, com seus olhos ficando
rosados. — Você está feliz?
Eu olhei para meu pai, o homem que eu mais amei na vida. Minha
pessoa favorita. E eu estava lá com ele, conversando com ele. Então
acenei com a cabeça, uma lágrima escapando bochecha abaixo.
— Então, não se preocupe comigo. Entendeu? Eu estou feliz. Estou
feliz por você. Eu estou orgulhoso. Minha filhinha é uma esposa. — Ele
apertou minha mão agora, e outra lágrima caiu.
— Não chore.
— Sinto muito.
— Então, fale-me sobre ele.
— Você o conheceu na Ação de Graças, lembra-se?
— Claro, mas eu mal conheço o cara. Quanto às primeiras
impressões, eu não fiquei impressionado. Parecia que você ia desmaiar a
qualquer segundo naquela ocasião.
— Eu estava apenas nervosa com o que todos vocês pensariam, — eu
disse. E era verdade. Mas provavelmente não pelas mesmas razões que o
pai estava pensando.
Eu não estava nervosa para apresentar meu noivo à família.
Eu estava nervosa com a revelação do segredo.
Levantei minha mão esquerda para enxugar as lágrimas da bochecha
e meu pai assobiou, olhando o anel no meu dedo.
— Nossa, isso é uma pedra, — ele disse.
— No fim das contas, Xavier é um Knight. Você não precisa se
preocupar com nada.
Os olhos de meu pai se estreitaram o suficiente para que eu
percebesse, como se ele estivesse juntando a coincidência de tudo, mas
depois eles voltaram ao normal. Eu me perguntava se eu tinha imaginado
tudo.
— Bem, estou feliz por minha filhinha ter alguém para cuidar dela, só
isso. Depois daquele último idiota. — Ele estava falando sobre o Sr.
Lemor.
Meus irmãos haviam dito a ele depois que eu deixei a empresa e
ajudaram a explicar ao meu pai porque eu estava deixando um emprego
tão perfeitamente adequado. Quando lhe disseram, papai tinha corrido
para seu quarto e emergiu alguns segundos mais tarde com um taco de
beisebol.
— Tudo bem, — ele disse, — onde está o filho da puta?
Mas eu não queria pensar no Sr. Lemor ou Xavier agora. Eu precisava
colocar o foco de novo no meu pai.
— Então, seu tratamento experimental começa amanhã?
— Sim, senhora.
— Vai funcionar.
Ele olhou para mim, seus olhos ficaram rosados novamente.
— Pode apostar que sim, — ele disse.
Puxei a cadeira de visitante para perto de sua cama e enfiei meus pés
debaixo de mim, segurando suas mãos com força. Eu sabia que teria que
voltar para a cidade em breve, mas por enquanto eu só queria um pouco
mais de tempo com meu pai.

Eu estava de volta ao trem. Havia algo tão reconfortante em ver milhões


de árvores passarem. Eu gostava de pensar sobre aquelas árvores, sobre
como elas estariam ali, crescendo e morrendo, crescendo e morrendo, se
alguém estava ali para vê-las ou não.
Foi humilhante pensar nisso. O mundo gira com ou sem você. Isso
realmente colocou minha vida em perspectiva. Eu era apenas mais um.
Meus problemas não eram os únicos problemas.
Mas já chega, eu disse a mim mesma. Sem mais lamentações. Amanhã
era um novo dia, e eu estava pronta para enfrentá-lo sem hesitar. Peguei
meu celular, procurando uma distração. Pensei em tentar o New York
Times.
Eu estava rolando e rolando, tentando encontrar um artigo para ler,
mas nada chamou minha atenção. Eu precisava de alguma coisa
divertida. Por isso, fiz o que qualquer pessoa de vinte e poucos anos faria.
Fui para as fofocas online.
Eu estava folheando o Yorker, um blog de fofocas baseado em NYC,
passando por histórias sobre o último escândalo da Bravo Housewives e
da Miss Teen America, quando vi algo que me impediu de ter frio.
Você já sentiu alguma vez uma reação tão visceralmente que pensou
que poderia ser fatal? Como um ataque de pânico tão ruim que você
parou de respirar?
Bem, isso foi o que foi. Meu coração parou. O barulho ao meu redor
recuou até que eu não conseguia ouvir nada. Minha visão estava turvada
por manchas brancas. Tive que segurar meu telefone até o rosto para ler
qualquer coisa, e quando o fiz, desejei não o ter feito.
Havia uma foto de mim e de Xavier em nossa noite de núpcias.
Sorrindo para a câmera, parecendo que estávamos apaixonados. E por
baixo daquela foto, havia outra foto. Uma que apresentava apenas a mim.
Eu estava olhando diretamente para dentro da câmera, meus cabelos
úmidos pendurados em linha reta. Meus olhos estavam largos. A foto me
mostrou da cintura para cima. E eu estava nua.
Como isso pode ser? Nunca tinha tirado uma foto de mim mesma nua
em minha vida. Eu nunca tinha tido um namorado! Como poderia existir
esta foto? E como ela está estampada em toda a Internet?
Eu tentei me acalmar. Está bem, Angela. Seja esperta. Procure por pistas.
Eu me esgueirei para a foto, agradecendo ao senhor pela barra preta
que cobria meus seios. Notei os armários ao fundo. Armários? Minha
mente correu. Onde eu tinha estado com armários?
E depois me atingiu: a academia da Gelsa. Era a única academia onde
eu já tinha ido. Isto foi tirado no vestiário. Eu devia estar me trocando,
mas quem teria sido capaz de tirar uma foto como esta sem eu ver?

Desconhecido: Eu sempre venço.


Desconhecido: Você nunca mais vai trabalhar.

Sr. Lemor.
É claro.
Eu queria matá-lo.
Fiquei tão dominada pela raiva e pela humilhação que não tive
coragem de pensar em como ele poderia ter feito isso. Agora não.
Agora, eu precisava entrar em contato com o Yorker e fazer com que
eles retirassem o artigo. Então eu precisaria vasculhar o resto da internet
para procurar resíduos...

Em: ANGELA!!!

Em: VOCÊ VIU? PQP???

Em: ESTÁ EM TODO LUGAR!!!

Oh, meu Deus. Ai, meu Deus!


Já era ruim o suficiente que a Em estivesse falando comigo. Ela vinha
ignorando meus textos há dias.
Okay, relaxe. Faça você mesmo o Google e encontre os sites com a foto e
peça-lhes calmamente que a removam.
Eu mesmo pesquisei no Google. E encontrei a mesma imagem, em
vários websites. Mais sites do que eu poderia contar. Alguns mais
respeitáveis, outros menos.
E aqueles sites não regulamentados, aqueles que visavam a clickbait a
qualquer custo? Eles não se preocuparam em colocar a barra preta sobre
meu peito.
Fui exposta para que o mundo inteiro visse.

Xavier: Seus nudes estão na internet.

Xavier: Lembra-se quando eu te disse para não me


ENVERGONHAR?

Danny: Angela.

Danny: Ligue-me.

Danny: Agora.

Eu não podia acreditar nos meus olhos.


Minha melhor amiga, meu marido, meu irmão.
Todos eles tinham visto a minha foto de topless. Todos eles
presumiram que eu mesma a tinha tirado.
Fechei os olhos, e o diabinho na minha mente riu. É com isso que você
se preocupa? ele perguntou, dançando com sua forquilha. E o resto de
Nova Iorque?
Parecia que eu estava em cima de um penhasco alto, à beira do
precipício.
Meu fôlego chegou com um ar curto enquanto olhava ao redor do
trem.
Eu estava imaginando, ou todos estavam me mandando olhares
estranhos?
Encolhi-me em meu assento, apertando meus olhos.
A minha vida acabou...
Capítulo 15
Coração disfarçado

Xavier

Eu não podia acreditar. Pensei que a garota tinha entendido o que eu


estava dizendo na outra noite, quando eu deixei bem claro que ela
deveria ficar fora dos holofotes.
Pensei que até mesmo um bebê teria sido capaz de me entender.
Mas aparentemente não.
Ou ela não tinha me entendido, o que significava que ela era tão
burra quanto um bloco de madeira, ou então ela tinha procurado
propositadamente a pior maneira que podia para me ferrar. E não apenas
eu, mas meus negócios.
O que significava que ela havia mexido com os negócios de meu pai. A
imprensa podia me chamar do que eles queriam — egoísta, cheio de mim
mesmo, o que quer que fosse — mas a verdade é que eu nunca quis que
meu pai se ferisse como resultado de algo que eu fiz.
Eu não sabia se esta era sua retaliação da noite em que eu estava
bêbado, ou do dia em que eu havia esmagado o vaso no chão, ou algo
completamente diferente, mas era claramente uma resposta a algo.
Ou então não era, e ela estava tão desesperada para jogar seu rosto no
mundo, para se tornar famosa a qualquer custo, que ela havia liberado
seus próprios nudes.
Essa seria a explicação mais psicótica. Eu conhecia algumas socialites
muito atentadas, mas nenhuma delas iria tão longe.
Eu estava furioso. Independentemente do seu raciocínio, a foto havia
vazado.
E estava em todos os lugares. Não era suficiente que ela tivesse de
alguma forma enganado meu pai e casado com o nome de Knight?
Por que ela precisava arruinar tudo o resto para mim, também?
Eu estava andando no chão do meu escritório quando meu pai
entrou. Eu queria pular e enfiar meu dedo na cara dele, para gritar:
— Isto é culpa SUA!
Mas eu não podia falar com ele dessa maneira, nem mesmo agora.
Talvez ele fosse um pouco confiante demais às vezes, mas ele ainda era o
homem que cuidou de mim durante toda a minha vida.
Então, tentei me controlar enquanto ele se aproximava de mim.
— Filho, — ele começou, com seu rosto grave, — Não consigo
imaginar o que você está sentindo.
— Estou muito chateado, — eu disse, batendo com o punho na mão
para dar ênfase.
Ele respirou fundo.
— Cuidaremos do maldito que vazou aquelas fotos, — ele disse.
E foi aí que percebi que nunca havia sequer considerado a
possibilidade de outra pessoa vazar as fotos. Mas eu confiei em meu
instinto.
Se parecia e cheirava como uma puta à procura de ouro e de atenção,
então provavelmente era.
— Comecemos do início, — eu disse. — Redução de danos.
— Temos a equipe de Frankie em Relações Públicas que lida com os
pontos de venda online, e Steph, da editora, cuidará da impressão.
Donnie está atirando calúnias para qualquer um que ouça. Isto será
varrido para debaixo do tapete até o final do dia, — disse meu pai, com os
olhos bem abertos.
— Meu Deus. Tudo bem, — respondi. — Obrigada por ter o controle
disso.
— Você é meu filho. E ela é minha filha, — disse meu pai.
Eu podia sentir o sangue começar a aquecer em minhas veias, e eu
sabia que tinha que tirá-lo do meu escritório antes que eu explodisse.
— Preciso de algum tempo sozinho.
— Claro, — ele disse, e com um último olhar simpático, ele deixou a
sala. Eu me certifiquei de fechar a porta atrás dele.
Angela

Eu havia desligado meu telefone no trem e ele permaneceu desligado o


dia todo. Além da minha viagem da estação Penn para casa, eu tinha
estado sozinha. E pela primeira vez, eu não estava reclamando. Sozinha
significava não ser alvo de olhos curiosos, sem perguntas.
Significava estar segura.
Quando cheguei à Penn Station, arrumei meu cabelo na frente do
rosto e comprei o primeiro boné I ❤ NY que pude encontrar.
Depois usei o número de serviço do carro que Brad me tinha dado há
semanas, aquele que eu nunca tinha precisado usar antes. Normalmente
eu preferia o metrô, mas hoje eu precisava da privacidade que os vidros
escuros me traziam. Quando meu carro da cidade parou, subi e deixei o
silêncio passar por cima de mim. Quando chegamos ao prédio, saí e
desviei tanto o olhar do porteiro que passei correndo. Mas não consegui.
Tenho certeza que todos e até suas mães tinham visto a foto, tinham
formado algum tipo de opinião sobre a garota que a tiraria. E a soltaram.
Eu não queria ver essa opinião nos olhos de ninguém.
Corri pelo saguão, permitindo-me finalmente respirar assim que as
portas do elevador se fecharam. E quando cheguei à cobertura, pisei no
meu quarto o mais silenciosamente possível no caso de alguém mais
estar em casa.
Eu não precisava de Lucille ou Marco — ou, Deus me livre, Xavier —
tendo a chance de me fazer qualquer pergunta. Eu não podia aceitar.
Fechei minha porta silenciosamente e fui para a cama, finalmente
deixando sair a emoção. As lágrimas vieram de maneira forte e rápida, e
eu empurrei meu rosto para dentro do travesseiro para silenciar os sons
de lamentação.
Depois veio a raiva, e meus gemidos se transformaram em gritos.
Não é justo. Não é JUSTO!
Agora eu estava socando o travesseiro, um punho fechado contra a
superfície mole.
Minha vida havia passado do normal para o terrível, do típico para o
mais distante do típico, em um mês. E tudo tinha começado com Brad
Knight.
Tudo tinha começado porque me foi oferecida uma maneira fácil de
resolver meus problemas, e eu tinha aceito sem considerar as
consequências. Eu tinha certeza de que o Sr. Lemor tinha visto fotos
minhas e de Xavier nas notícias, ou ouvido que tínhamos nos casado, e
era por isso que ele estava aparecendo assim agora.
Ele não queria que mais ninguém me tivesse.
Se eu tivesse acabado de pedir um empréstimo ao banco, ou
encontrado outro emprego em outra indústria, com o qual o Sr. Lemor
não pudesse interferir, eu teria conseguido pagar pelo tratamento do
meu pai.
Mas eu sabia que estava mentindo para mim mesma. Seu custo de
tratamento já era de quase cinquenta mil dólares, e isso antes do teste.
Esta era a única solução.
Mas valeu a pena a destruição total da minha vida?
Enquanto estivesse fechada nesta torre de marfim, não saberia o que
seria capaz de fazer sozinha. Talvez sair daqui e colocar minha vida
novamente nos trilhos fosse a chave para encontrar um emprego de
verdade e ajudar meu pai.
Sem qualquer interferência bilionária. Eu tinha certeza de que
poderia haver algum tipo de plano de pagamento. Alguma coisa.
Liguei meu celular, ignorando todas mensagens e chamadas perdidas
que piscavam na tela. Eu queria falar com uma pessoa, e apenas uma
pessoa.

Angela: Posso ir até você?

Brad: É claro.
Brad: Nos encontramos lá fora.

Troquei de roupa e saí da cobertura. Eu tinha chamado o carro de volta, e


ele estava esperando lá fora. Eu estava andando pelo saguão, ainda
cabisbaixa, quando ouvi uma voz a alguns metros de mim dizendo algo.
Quando meus olhos se levantaram para ver quem tinha falado, a voz
se repetiu.
— Que vergonha, — disse Pete, o porteiro. Ele abriu a porta, e eu não
podia dizer se ele estava me culpando ou tendo piedade de mim. Eu olhei
para o chão e entrei no carro da cidade.
Ele chegou ao prédio de escritórios onde a empresa Knight estava
instalada, e Brad estava esperando do lado de fora. Ele viu o carro e
deslizou para dentro imediatamente.
— Querida, — ele disse, me envolvendo em um abraço. Pensei que já
tinha dominado minhas emoções até então, mas as lágrimas não
paravam de chegar. — Está tudo bem. Está tudo bem. Ponha pra fora, —
ele disse, esfregando minhas costas.
— Desculpe, — eu chorei em seu ombro.
— Está tudo bem. Estamos nessa. Está tudo sendo consertado
enquanto falamos.
— Consertado?
— Temos a melhor das melhores equipes de RH, Angela, e é melhor
você acreditar que é a prioridade número um. — O próximo outlet,
online ou impresso, que compartilhar aquela foto ou até mesmo
mencionar seu nome, será processado e processado novamente. Você
entendeu?
Eu acenei com a cabeça. Mas o peso sobre meus ombros ainda estava
lá, me lembrando como era difícil ficar de pé quando estava de pé com os
Knight.
— Brad, eu tenho que... falar com você. — Eu solucei e ele me
entregou um lenço.
— O que é isso? — Ele me olhou com tanta gentileza, tanta
preocupação genuína, que me senti mal ao dizer o que estava prestes a
dizer. Mas eu tinha que desabafar.
Limpei meu nariz e depois comecei.
— Não posso mais fazer parte do arranjo, — eu disse. — É demais. É
muito difícil. Xavier me despreza, eu sei que sim, e o resto de minha
família e amigos não entendem este mundo. E eu também não, Brad. Eu
me sinto como uma estrangeira em minha própria casa. Não sei como
falar, nem como agir, e os olhos estão sempre voltados para mim. Há
muita pressão. E agora, isso....
Eu exalei, surpresa por ter falado tudo isso.
— As pessoas estão atrás de mim.
Eu estava esperando que Brad abrisse a porta do carro e me
empurrasse para fora, para me castigar, ou gritar comigo, ou me
chamasse de estúpida. Mas, em vez disso, ele pegou minha mão na dele.
— Doce menina, há algo tão honesto em seu coração, — ele disse.
— Obrigado por ter sido tão sincera comigo. Sabe, há um bilhão de
meninas que matariam suas próprias mães para estar em sua posição. É
verdade, — ele disse, para meu choque.
— Peço desculpas pela morbidez, mas você tem acesso à riqueza e ao
status que a maioria só sonha.
— Mas eu não... eu não quero nada disso.
— Exatamente, — ele disse, e tocou a ponta do meu nariz. — Sei
como o mundo deve parecer a você agora. Mas você vai se adaptar. Você é
uma garota inteligente. Você virá a saber que as notícias de hoje já são as
de ontem. As pessoas estão atrás de você porque você tem o que elas
querem.
— Mas o que você também tem é um exército de pessoas prontas para
protegê-la. E quanto a Xavier... — ele disse, lançando um rápido olhar
pela janela, em direção ao prédio onde seu filho estava. — Há muita coisa
que você não sabe sobre ele, minha querida. Muita coisa. Eu sei que
todos os defeitos que estão espalhados pelas colunas de fofocas são
verdadeiros. Que ele é um garoto de festa, um mulherengo. Que ele gasta
dinheiro como se fosse água em uma floresta tropical.
— Não estou tentando insultar seu filho, Brad, — eu disse
suavemente. — Eu só não vejo como nós... jamais poderíamos funcionar.
Nós somos tão diferentes...
— Ah, — Brad me interrompeu. — Mas é aí que você está errada. É
verdade que seu coração é puro e o dele tem estado ao redor do
quarteirão. Mas deixe-me assegurar-lhe que o coração dele está muito
presente. Ele está apenas escondido, no momento.
Eu me esgueirei, sem ter certeza de que Brad realmente conhecia seu
filho.
— Deixem-me contar-lhe uma história. Uma história sobre um jovem
que se apaixonou por uma jovem mulher. Um jovem que estava tão louco
de amor que ofereceu à jovem o que o coração dela desejava. O mundo. E
eles estavam prestes a se casar, e ele nunca havia se enchido de tanta
alegria.
— E, na véspera do casamento, a jovem decolou. Desapareceu. Com o
anel de noivado que poderia lhe comprar uma nova vida, e o amigo mais
antigo do jovem.
Deixei as palavras de Brad afundarem em mim, chocada.
Xavier teve seu coração partido, seu anel roubado. Ele foi traído por
sua noiva e seu melhor amigo. Sua festa, seus gritos, sua incapacidade de
confiar em alguém fora daqueles que ele realmente conhecia, tudo
começava a fazer sentido.
— Por favor, doce menina, — disse Brad, ainda agarrando minha mão.
— Dê outra oportunidade ao meu filho. Dê uma chance ao arranjo. Ele
está ali em algum lugar. Eu sei que você pode ajudar a trazê-lo de volta.
Eu olhei para o bilionário abnegado que estava diante de mim, que
queria tanto ver seu filho se tornar o homem que ele sabia que poderia
ser.
E eu vi meu próprio pai, deitado na cama do hospital, orgulhoso de
sua filha e prestes a iniciar um tratamento experimental que poderia
salvar sua vida.
Talvez o peso ainda estivesse em meus ombros e talvez eu não tivesse
ideia que novos horrores o amanhã traria. Mas sentada ali, no fundo do
carro, estacionado do lado de fora do extravagante edifício de escritórios,
eu senti que pelo menos tinha algum propósito.
Como se houvesse algo que eu pudesse fazer. E me deu a entender
que eu não estava lá apenas para ajudar meu pai.
Eu estava lá para ajudar meu marido, o homem com o coração
partido.
Capítulo 16
Território Novo

Angela

Vamos lá. Atenda. Por favor.


— Alô?, — ela finalmente respondeu.
— Oi, Em, — eu disse, prendendo minha respiração para sua reação.
Tinham passado algumas semanas desde a última vez que nos falamos.
Não porque eu não tivesse tentado falar com ela — devo ter enviado dez
mensagens por semana — mas porque ela não tinha interesse em
responder.
Não foi como nas outras vezes em que nos metemos em brigas
estúpidas e uma de nós ficou brava, mas depois fizemos as pazes no dia
seguinte e rimos sobre isso por causa de biscoitos com gotas de
chocolate.
Não, isso foi muito diferente. Isso dava a entender que a Em estivesse
brava. Parecia que ela havia... superado isso. Me superado.
Ela estava esperando por mim para dizer algo. Para provar que havia
um motivo para eu estar ligando, mesmo depois que ela evitou
claramente minhas tentativas anteriores.
Queria que eu fosse nessas coisas.
Você conhece o ditado que diz que os pais exaltados dizem sobre seus
filhos que falam rápido? Como eles seriam capazes de vender gelo para
esquimós, ou algo parecido?
Bem, eu nunca tive essa capacidade.
Lucas, claro. Ele estava sempre falando para sair dos problemas, com
os professores, com nosso pai, com qualquer pessoa.
Mas eu... eu não tinha rede de segurança. Não podia confiar em mim
mesmo para criar uma sequência de desculpas ao cair de um chapéu.
Como resultado, eu me tornei muito boa em seguir regras.
Se você não tiver problemas, não tem necessidade de se livrar deles.
Mas agora, aqui estava eu, minha mente andando em círculos. Por
onde eu poderia sequer começar? Como eu poderia verbalizar o quanto
eu queria minha melhor amiga de volta, sem explicar mais nada?
— Em, escute... — Eu comecei, e depois tive uma vontade muito
semelhante à que eu tinha quando era criança, quando Lucas estava
falando sobre uma história animada e eu estava observando o rosto de
nosso pai, não acreditando nela.
Não, o vizinho não chutou a bola de futebol pela janela do carro de
nosso pai. E assim eu soltava a verdade.
— Em, papai está doente, — eu disse, pensando que era um bom lugar
para começar.
— Eu sei, Angie, — disse ela, sua voz era mais suave. — Lucas tem me
atualizado. — Lucas? Mas isso me saiu da cabeça tão rápido quanto
entrou, porque eu já estava me preparando para o que eu ia dizer a
seguir.
— Suas contas, seus tratamentos... não havia como. — Eu estava
sufocando lágrimas, surpresa com como tudo isso soou repugnante
quando eu disse em voz alta.
— Não tínhamos condições de arcar com isso.
— Mas você é casada com um Knight pelo amor de Deus, — disse ela,
e depois parou imediatamente. Como se ela estivesse entendendo.
Eu respirei fundo.
— Conheci Brad Knight sem saber quem ele era. Ele parecia tão...
triste. Ele estava sozinho em um banco de jardim no dia em que eu
descobri que tinha chegado à próxima rodada de entrevistas, e eu estava
distribuindo aqueles lírios no parque. Eu perguntei se ele estava bem.
Conversamos, muito brevemente, e eu meio que me esqueci dele. Mas ele
me localizou, Em, logo depois que meu pai teve o primeiro derrame. E
ele... ele fez uma... proposta.
— Proposta?
— Se eu o ajudasse a consertar o coração de seu filho, ele me ajudaria
a consertar a saúde de meu pai.
Ouvi uma forte inalação de ar através do telefone.
— Eu sei. Eu sei. Mas é o meu pai, Em, e ele está sozinho na cama do
hospital. Há estes tubos... que saem de dentro dele. E ele é tão frágil. —
Eu comecei a soluçar.
— Shhh, Angie, shh. Está tudo bem. — E eu quase pude senti-la
acariciando meu cabelo.
Apertei meus olhos.
— Eu o odeio, Em.
— Seu pai?
— Xavier. Ele é horrível. Ele é tão cruel comigo. Ele acha que eu me
casei com ele por seu dinheiro, ou para ser uma Knight. Ele não tem ideia
do papai.
— Por que você não lhe diz?
— É contra as regras. Eu assinei este contrato com Brad...
— 'Um contrato'?
— Ele é um bilionário. Tenho certeza de que ele faz com que todos à
sua volta assinem contratos.
— Isso é verdade. — Em riu. E eu senti o alívio inundar meu corpo.
Talvez ela estivesse finalmente compreendendo. — Então, se você não
pode lhe dizer, você também não pode...
— Te dizer, — eu terminei. — Mas eu tive que dizer. Eu não podia
continuar... continuar mentindo sobre isso. Estou tão triste, Em. Tão
sozinha. Todos pensam que sou este monstro que se casaria por dinheiro,
e sei que não deveria me importar com o que as pessoas pensam, mas é
difícil ser tão odiada por todos, especialmente quando sua metade
superior nua é exibida em todos os blogs...
— Sim, posso perguntar sobre isso?
— Sr. Lemor, — eu disse, e ela novamente ofegou.
— NÃO!
— Sim.
— Aquele filho da mãe, — ela rosnou. — Mas como?
— Eu não tenho ideia, — suspirei. Tinha pensado tanto sobre isso,
mas ainda não conseguia entender. — Foi tirada na academia da Gelsa.
No vestiário.
— Você foi até a polícia, certo?
— Brad me fez prometer que eu o deixaria lidar com isso. Na verdade,
agora eu deveria estar trancada na cobertura. Ter um paparazzi ou
qualquer um que fosse tirar uma foto minha lá fora neste momento só
pioraria as coisas. Para os Knight e para mim.
— Você está em quarentena?
— É para minha segurança.
— Você se ouve, Angie? Levante-se. Vista-se, — instruiu Em. —
Estarei lá fora em trinta.
— O quê?
— Você me ouviu. Ponha seu traseiro em algo bonito.
— Em, não é uma boa ideia. Não quero mais colunas de fofocas
falando de mim. Você pode simplesmente vir até aqui? Posso fazer
biscoitos com gotas de chocolate como costumávamos fazer...
— Angela. Você não precisa de um biscoito com gotas de chocolate.
Você precisa de um martini. Agora, repita depois de mim: Estou saindo
da quarentena.
— Estou saindo da quarentena, — eu disse, tentando parecer mais
convencida do que sentia. Mas se isso significava que a Em estava de
volta à minha vida, acho que eu ia beber o martini.
Em me pegou em um táxi, e aceleramos no centro da cidade.
Estávamos fazendo nosso caminho pelo distrito de Meatpacking quando
Em bateu no banco do passageiro na frente dela.
— Aqui, senhor! Descemos aqui!
Ela deu dinheiro ao motorista e me puxou para fora do carro.
Estávamos em frente ao Iceberg, o mais novo e mais quente clube da
cidade. A fila parecia ter um quilômetro de comprimento, e todos nela
estavam bem vestidos e bonitos.
Voltei-me para a Em.
— Não podemos entrar ali!!
— Não só podemos — ela sorriu para mim pecaminosamente — mas
iremos.
— Mas, Em! Olhe para eles. — Eu olhei para a linha, depois para
minha própria roupa.
Claro, eu estava com meu novo jeans, aqueles que Dustin dizia —
fizeram da minha bunda uma peça central, — mas isso não foi suficiente
para me aceitar nele.
Ela me agarrou pelos ombros e me olhou bem nos olhos.
— Angela, você precisa disso. Nós precisamos disso. Então pegue
minha mão e deixe-me usar seu novo sobrenome para nos levar para este
clube.
Havia algo tão natural em seguir as instruções de Em, como se minha
mente tivesse acabado de rebobinar de volta ao ensino médio.
Ela sempre teve uma maneira de saber o que era melhor para mim,
mesmo quando parecia ser a decisão mais assustadora que eu poderia
tomar.
Assim que suas sobrancelhas se levantaram, esperando pela minha
aprovação, eu acenei rapidamente. E rapidamente, ela pegou minha mão
e nos levou, passando pelas pessoas bonitas, até a porta.
Xavier

Você teria pensado, nos dias de hoje, que as pessoas não estariam tão
interessadas em ver um par de peitos. Mas nas últimas vinte e quatro
horas, as únicas conversas que eu tinha ouvido eram orientadas, direta
ou indiretamente, em torno daqueles que pertenciam à minha esposa.
Os estampados por toda a Internet, os falados em todos os veículos de
imprensa, fofocas ou não.
Porque a imagem era real, e imagens reais não mentem.
Ao contrário dela.
Ela colocou aquele ato de "Tenho tanta classe", — aquele que faz você
sentir quase pena dela. Ela mencionou o nome de Harvard como se fosse
suficiente para justificar todas as merdas obscuras que ela fez. Como se
só porque ela tinha um diploma de primeira linha, ela pudesse lucrar em
qualquer círculo que lhe agradasse.
E fazer o inferno correr solto sobre o filho da mãe azarado a quem ela
estava destinada.
Então, sim, o trabalho hoje não foi grande coisa.
Nem mesmo meus colegas puderam evitar. Eles não paravam de me
perguntar se eu estava — a par — de diferentes situações. Um de meus
assistentes tentou se juntar a eles e eu o despedi.
Era melhor não testar um homem que tivesse que lidar com os nudes
vazados de sua esposa.
Quando falei com meu pai, ele disse que havia falado com Angela e
ela concordou com tudo, que ela não deveria falar com a imprensa, que
estaríamos tratando de tudo desde as RP até o jurídico. E que ela deveria
permanecer na cobertura até que a história morresse.
Enquanto o plano me incomodava ainda mais no início, pensando em
como eu encontraria a garota com mais frequência se ela estivesse
fechada dentro do condomínio do que se ela tivesse livre na cidade,
percebi que minha reputação tinha que vir acima do meu espaço pessoal.
Se ela me envergonhava em público ou desistia de um pouco de
espaço para respirar, a escolha era bem clara.
Marco abriu a porta do carro para mim na frente do meu prédio e eu
saí, passeando pelo saguão e entrando no elevador. Eu me perguntava se
eu deveria dar-lhe outra conversa severa, ou se meu pai tinha falado
sobre tudo.
Por que não? Eu pensei. Melhor tê-la assustada do que pensar que ela
poderia escapar com algo assim novamente.
Esse era o problema das mulheres. Mesmo aquelas que pareciam
confiáveis e normais sempre tinham algo na manga.
Era as que não se suspeitava que deveríamos suspeitar.
As portas se abriram, e eu entrei na cobertura.
— ANGELA! — Eu gritei. Não houve resposta. Caminhei direto para o
quarto dela, batendo na porta. — ANGELA, — gritei novamente,
colocando meu ouvido até a porta.
Mesmo se ela tivesse adormecido às nove da noite, não havia como
ela ter ficado dormindo durante o meu barulho.
— Ela saiu, — disse Lucille, correndo pelo corredor até mim.
— O quê? — Eu me enfureci, depois me senti mal por isso. Lucille não
merecia minha raiva. — Desculpe, mas... o quê?
— Ela saiu. — Lucille encolheu os ombros. — Você quer jantar?
— Não! — Então eu me peguei novamente com raiva. — Não, está
tudo bem. — E depois voltei a invadir o corredor para o elevador. Eu ia
encontrar minha esposa.

Xavier: ONDE VOCÊ ESTÁ ?

Xavier: VOCÊ DEVERIA ESTAR NA


COBERTURA!

Xavier: ISSO NÃO É PIADA!

Xavier: RESPONDA-ME!!!

Angela

Tirei o celular vibrando do bolso de trás e, vendo que era o Xavier, voltei
a colocá-lo lá. Eu estava me sentindo bem e não precisava que ele me
trouxesse de volta para baixo.
Tomei mais um gole do Jack e da Coca-Cola que a Em havia me dado,
surpresa com o quão doce era e como desceu suavemente.
— É tão bom! — Eu gritei para Em.
— O quê?, — perguntou ela, com a mão ao ouvido. Estava uma
loucura aqui dentro.
O DJ estava tocando algo chamado — trap music, — e a batida
pulsava por todo o clube. Nós estávamos na seção VIP.
Assim que Em mencionou meu sobrenome, o porteiro nos conduziu
até a área fechada no andar de cima. Tínhamos nosso próprio bar, nossos
próprios banheiros e até mesmo um — concierge, — caso precisássemos
de alguma coisa.
Voltei-me para Em misteriosamente quando a concierge disse que
essa última parte era para nós agora, e ela apenas me acenou indo
embora.
— Não se preocupe com isso, — disse ela, de uma forma que me fez
pensar que ela estava se referindo a drogas ou outras coisas ilícitas.
Mas agora, em vez de me preocupar em me repetir novamente, eu
apenas tomei mais um gole da deliciosa bebida. Em estava dançando,
seus quadris balançando com o tempo ao ritmo da música.
Ela parecia não precisar de esforço, tão graciosa, e eu desejava poder
ser mais como ela. Mais no momento. Tomei outro gole, e outro, até que
nada mais saiu do canudo.
Eu olhei para o copo, percebendo que estava vazio.
Eu precisava de mais. Eu estava me sentindo bem pela primeira vez
em muito tempo, e não queria que isso acabasse.
— Eu vou... — Eu disse a Em, que estava indo até o bar, mas logo
depois, eu senti alguém agarrar minha cintura.
— Precisa de um refil?
Eu me virei para ver quem estava falando comigo, e tenho quase
certeza de que eu ofegava audivelmente.
Ele era lindo, como uma espécie de Hércules. Cabelos dourados,
olhos verde-esmeralda, alto e musculoso. Ele usava uma camisa branca
debaixo de um casaco preto, e carregava a confiança de alguém que sabia
que se parecia com um deus grego.
— Eu sou Carrey. Oliver Carrey, — ele disse enquanto beijava minha
bochecha.
Eu dei risadas.
— Eu sou Angela.
— Vamos?, — ele disse, e eu acenei com a cabeça, então ele amarrou
seu braço através do meu e me guiou até o bar. Eu olhei para Em, mas ela
ainda estava dançando.
Eu sorri, sentindo-me no momento pela primeira vez.
O rosto de Xavier me passou pela cabeça, mas eu o afastei com a
mesma rapidez.
Ele sempre foi tão mau pra mim. Tão cruel e desconfiado...
Eu estava aqui para me divertir depois de um dia estressante. O que
havia de errado com isso? Então e se eu falasse com um cara gostoso?
Senti sua mão descansar no meu pequeno dorso enquanto ele me
conduzia em direção ao bar. Eu olhei para ele e ele me mostrou um
sorriso brilhante.
E se isso não ficar só na conversa? uma pequena voz na minha cabeça
sussurrou.
Capítulo 17
Três é demais

Xavier

Ela não só estava ignorando a regra de ficar em casa, mas também estava
ignorando minhas mensagens. Foi preciso um maldito conhecido meu
vê-la no Iceberg para que eu descobrisse onde diabos ela estava.
Quando parei, senti-me como a porra do Hulk.
Fiquei surpreso que minha camisa Calvin Klein não tivesse rasgado.
Eu saltei do carro antes que Marco pudesse abrir a porta e subi até a
entrada, mal consegui esperar que o cara da porta abrisse antes de entrar
tempestuosamente.
Eu não estava interessado em perder mais tempo.
Subi as escadas até a seção VIP, onde uma socialite que mal conhecia,
uma não gostosa suficiente para transar, tinha me dito que minha esposa
estava aqui. Olhei à minha volta, tentando olhar na escuridão.
Eu odiava estar sóbrio em baladas. Era como se estivesse em um
campo de batalha sem adrenalina.
Você começa a questionar tudo.
Eu estava caminhando através de corpos contorcidos, empurrando
qualquer mão que tentasse me agarrar. Eu não estava aqui para socializar
— isso eu deixei claro. Então, uma garota de aparência familiar chamou
minha atenção, sentada em uma mesa com o que parecia ser um atleta
profissional.
Futebol, talvez. Ela tinha cabelos escuros com franja, pele pálida e o
que parecia ser um sorriso permanente em seu rosto.
Ela definitivamente tinha estado no primeiro banco no casamento.
Eu andei até a mesa e bati nela no ombro.
— Angela?, — eu perguntei.
— O quê?
— ANGELA!
Ela me ouviu daquela vez, e parecia que ela também me reconhecia.
Ela apenas rolou os olhos e encolheu os ombros e depois voltou para a
conversa com os jogadores de futebol.
Sacudi a cabeça e soltei um rosnado, mas a música afogou-o.
Eu continuei procurando. Continuei tecendo através de vestidos e
ternos, saltos altos e mocassins, até que me encontrei no bar. Eu estava
prestes a pedir uma bebida quando vi cabelos loiros pelo canto do olho.
Eu virei minha cabeça em direção a ela, e lá estava ela.
Minha amada esposa.
Rindo com outro homem.
Eu não poderia explicar a raiva a você se tentasse. Foi tudo
consumido, como uma traição. Não porque ela estava flertando com um
homem, é claro.
Eu não podia dar a mínima para o que esta garota fazia com outros
homens.
Eu não fiquei com ciúmes.
Não, foi uma questão de respeito. Era sobre ela não me envergonhar
no clube mais exclusivo da cidade, aquele em que ela não teria sido
autorizada a entrar se não tivesse jogado meu nome na porta.
— ANGELA.
Ela se virou imediatamente, seu rosto corado ficou pálido.
— Vamos, — eu disse, colocando seu copo quase vazio no balcão do
bar e agarrando seu ombro.
— Não, — ela chorou.
— Ei, cara. — O cara loiro colocou a mão no meu braço. — A garota
ainda não quer sair.
— Tire a porra mão de cima de mim, cara, — eu disse, quase
esperando que eu pudesse brigar.
Não, esqueça isso. Eu tinha que pensar em minha imagem. Voltei para
Angela.
— Nós estamos indo. Agora.
— Mas eu estou me divertindo, — disse ela, soando como uma
maldita criança.
Antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa para me irritar, eu
peguei sua mão e a agarrei o mais forte que pude sem machucá-la,
levando-a para fora da sala, descendo as escadas, e para a calçada.
— Mas... — ela começou.
— Entre, — eu disse, apontando para a porta que Marco lhe segurava
aberta.
— Não, — disse ela, seus braços cruzados. — Se eu tiver que ir, quero
andar.
— Você quer andar? Estamos em novembro.
— Eu não me importo, — disse ela. Eu não tinha ouvido este tipo de
desafio em sua voz antes. Não querendo fazer uma cena no meio do
Meatpacking, eu deixei fazer como quisesse.
— Tudo bem, — eu me passei. — Eu vou com você.
Ela foi para a rua e eu tive que persegui-la. Quando chegamos à 32ª,
ainda não tínhamos trocado uma palavra.
E seus olhos não paravam de se fechar. Parecia que ela ia adormecer
no meio do caminho.

Xavier: 33ª e 6ª

Marco: A caminho

Marco subiu a 6ª Avenida com um timing perfeito, e assim que vi o carro,


deslizei para dentro.
Estávamos andando em silêncio no carro há alguns minutos quando
ela olhou para mim.
— Por que você é tão ruim comigo?, — perguntou ela, com uma voz
que parecia tão genuína que me pegou desprevenido.
— O quê?
— Por que você é tão ruim comigo? — ela repetiu. Não foi uma
pergunta que ela quis dizer como um insulto. Ela só queria saber.
Olhei para a mulher sentada ao meu lado e ela não se parecia com o
tipo de garota que eu imaginava que ela fosse.
Ela parecia jovem, e inocente, como se ainda não tivesse visto muito
do mundo.
Eu me vi amolecendo. Talvez fosse porque ela estava bêbada e não se
lembraria de nada amanhã, ou talvez fosse porque dizer isso em voz alta
fosse na verdade um pouco terapêutico.
Mas, em ambos os casos, eu lhe dei uma resposta.
— Eu não confio nas pessoas.
— Por quê?
— Já confiei no passado. E acaba sempre... sendo um erro.
— Você não merece isso, — disse ela, suas palavras tão docemente
simples.
— Eu teria me entregado a ela, — eu disse. Eu olhava para frente,
deixando a verdade emergir. — Eu teria dado tudo a ela. Mas ela... ela
tinha outras ideias.
Depois senti uma mão fria cobrindo a minha no assento. Eu vacilei,
olhando para baixo e vendo a mão da minha esposa. Quando olhei para o
rosto dela, vi o olhar dela pela janela.
Era como se ela soubesse me dar espaço, me deixar ter um momento
para mim mesmo.
Quando chegamos ao prédio, eu mesmo acenei para Marco e a ajudei
a sair do carro. Ela tinha ficado de alguma forma mais bêbada desde que
saímos do clube, e estava tropeçando por todo o lado.
Em vez de esperar que ela caísse, decidi tomar o assunto em minhas
próprias mãos e a colocar meus braços. Eu a carreguei como uma criança
pelo saguão e a sentei no banco quando estávamos no elevador.
Quando as portas se abriram, eu a levantei novamente e a
acompanhei até seu quarto, abrindo a porta e deixando-a cair sobre a
cama. Ela estava acabada, com seus olhos fechados e sua boca
ligeiramente entreaberta.
Ela parecia pacífica, e eu não queria acordá-la. Se ela acordar, alguém
vai ter que lidar com o vômito dela.
Então a deixei assim, cabeça no travesseiro, sapatos ainda calçados, e
fui servir-me de uma maldita bebida.
Angela

Acordei com um susto, ouvindo os pássaros cantando bem do lado de


fora da minha janela. Minha cabeça estava doendo.
Que horas eram?
Por que a janela estava aberta?
Por que parecia que eu estava usando sapatos?
Abri os olhos lentamente, piscando diante da luz que preenchia
minha visão. Depois de um momento de ajuste, inclinei lentamente a
cabeça para baixo até olhar para o meu corpo.
Parecia que eu ainda estava, de fato, usando meus sapatos. E meus
jeans, minha camisa e meu blazer, com provavelmente a cara ainda cheia
de maquiagem.
Ah. Estava me lembrando de tudo.
Em e eu no Iceberg. Os coquetéis doces, doces. O homem
misteriosamente lindo...
E Xavier. Ele vindo me encontrar, ordenando-me que saísse do clube.
Permitindo-me andar e, quando eu não podia mais andar, pedindo a
Marco para nos buscar.
A maneira como ele olhou para mim no carro, como se estivesse
realmente me vendo pela primeira vez. E a maneira como ele falava sobre
a mulher que o machucara.
Ele foi tão honesto, tão ele mesmo. Eu não me lembrava muito depois
disso, mas de alguma forma tinha chegado à minha cama sã e salva.
Supondo que eu não tivesse chegado aqui sozinha, o que era mais que
provável, dado o quão intoxicada eu estava — o que era um problema
totalmente diferente — o Xavier tinha me colocado na cama e me
deixado vestida.
Tenho certeza que se ele quisesse, ele poderia ter tentado... ou feito...
seu pior, como se eu fosse uma de suas outras garotas.
Mas ele não o fez. Parecia que eu estava vendo um lado diferente de
Xavier, o lado que Brad tinha me prometido que existia.
Saí da cama e, ouvindo vozes no salão, abri minha porta. Eu estava
andando pelo corredor com a intenção de agradecer a Xavier quando ele
ouviu meus passos e se virou. Ele estava fumegando.
— ... E VOCÊ! — ele gritou, e eu instintivamente cobri meus ouvidos.
Isso foi muito mais alto do que minha ressaca poderia suportar. — Você
me fez correr como uma BABÁ a noite toda! NÃO é meu trabalho cuidar
de você.
— Eu só vim pra dizer obrigada, — eu saí com parcimônia. Isso não
ajudou. Marco, que tinha sido o destinatário de seus gritos antes de eu
entrar na sala, apenas olhou para seus pés.
— Eu não preciso do seu OBRIGADO! PRECISO QUE MINHA
ESPOSA NÃO CORRA PELA CIDADE DE NOVA IORQUE ME
ENVERGONHANDO A CADA DIA. O que há de tão complicado nisso?
Eu estava tremendo agora, disposta a não chorar.
Eu estava errada.
Eu sabia exatamente quem era Xavier.
Eu estava olhando em frente, tentando não olhar diretamente para
ele, quando ele se aproximou de mim. Desta vez ele falou a um volume
normal, com uma voz mais suave: — Não basta que você leve meu
dinheiro e meu nome? Você precisa pegar minha imagem e pisar nela
também?
Havia tanto veneno em sua voz que pensei que poderia realmente me
envenenar. Então eu corri para o elevador, empurrando meus soluços até
que as portas se fechassem atrás de mim e eu pudesse chorar em paz.
Quando elas abriram novamente no lobby, limpei minhas bochechas
molhadas e me apressei a passar. Então eu estava do lado de fora, na
calçada, e comecei a andar.
Encontrei-me do lado de fora da porta da cafeteria de Dustin,
abrindo-a antes que eu pudesse me convencer a não fazê-lo. Estava vazia,
como sempre.
Quando Dustin me viu, sua expressão ficou sombria.
— Eu pensei que você não podia falar com pessoas como eu, — ele
disse.
— Dustin, não se tratava de você. Foi porque a esposa do colega de
Xavier me viu fazendo compras com outro homem, e em seu estranho
círculo de elite, isso é ruim. Desculpe-me, está bem? Mas não se tratava
de você. Era sobre me castigar. Levar meu único amigo embora.
Ele amoleceu e me olhou com um olhar sério.
— Sabe, quando você entrou na loja pela primeira vez, eu sabia quem
você era. E eu não me importava em ser seu amigo. Só pensei que ficar
perto de você me daria alguma... publicidade.
A cor em meu rosto sumiu.
— Publicidade?
Ele olhou para baixo.
— Não estou orgulhoso disso. Mas eu pensei que qualquer uma que
seja casada com Xavier Knight tem que ser uma cretina. Então, o que há
de errado em usar alguém que o mereça? Mas então...
— Você estava tentando me usar por causa do meu sobrenome? —
Xavier estava certo.
— Logo no início, sim. Mas isso mudou! Acredite, eu não dei a
mínima para a publicidade quando estávamos realmente andando juntos.
Bem, isso é uma mentira. É claro que eu me importava com a
publicidade. Mas sua amizade era mais importante para mim...
Minha mente estava em colapso.
— Dustin, pare. Publicidade para quê?
— Minha arte, — ele disse calmamente. Nunca o havia ouvido dizer
uma palavra tão silenciosamente.
— Sua arte?
— Eu sou um artista. Um em dificuldades, é por isso que trabalho
aqui. Eu não queria magoar ninguém, principalmente você. Apenas
pensei... as pessoas querem saber o que a esposa de Xavier Knight está
fazendo. Com quem ela está andando. Então, se me vissem, estariam
interessados em ver meu trabalho.
Eu olhei para Dustin. Eu sabia o que era convencer-se a usar alguém
para um bem maior.
E ele estava sendo honesto comigo agora. Seus olhos pareciam
genuínos. E ajudar as pessoas sempre me dava um golpe de endorfina.
— Se você tivesse me dito isso no início, eu o teria ajudado.
— Eu sei disso agora, — ele disse. — Mas antes eu pensava que você
era apenas mais uma louca por dinheiro. Sem ofensa.
— Me mostra.
— Te mostrar o quê?
— Sua arte.
Dustin puxou seu celular e mexeu nele até encontrar um quadro que
ele pintou. Era bom. Bom o suficiente para que eu abrisse a boca antes
que eu pudesse pensar bem nas palavras.
— Se você me prometer que não mente mais, então eu o ajudarei.
— Você está falando sério?, — perguntou ele, chocado. Eu acenei
antes de ter tempo de considerar como poderia ajudar, ou se era a coisa
inteligente a fazer.
Antes que o rosto de Xavier enchesse minha mente e eu soubesse que
teria outra pessoa a quem responder.

Eu estava voltando para a cobertura quando meu telefone tocou. Era o


Brad.
— Olá?
— Oi, Angela, querida. Há algo que eu gostaria de falar com você.
Você pode me encontrar no Plaza?
— Claro que sim, — eu disse. Pelo menos agora eu sabia que o Plaza
não era uma praça na verdade.
— Sobre o que seria?
É
— É sobre o Sr. Lemor, — disse Brad, com sua voz fria.
Meu sangue se transformou em gelo.
— Temos uma maneira de derrubá-lo, — prosseguiu Brad. — E
precisamos de sua ajuda.
Capítulo 18
P lanejando o Futuro

Angela

Cheguei ao Plaza, sentindo-me mais do que um pouco nervosa.


Do que o Brad estava falando? Poderíamos realmente deter o Sr. Lemor?
Desta vez eu não precisei da ajuda do concierge para encontrar a sala
de jantar, nem ele me impediu antes que eu mesmo pudesse chegar lá.
Andei pela sala, sorrindo educadamente para as senhoras e senhores — e
eles eram senhoras e senhores — que eu passei no caminho.
Quando cheguei à mesa do Brad, ele estava de pé.
— Oi, querida, — ele disse, e caminhou para beijar minha bochecha.
— Oi, Brad, — eu disse, na verdade me sentindo um pouco mais à
vontade em sua presença.
— Sente-se, por favor. — Sentei-me na cadeira em frente a ele.
Eu suspirei.
Aqui vamos nós.
— Então, sobre o que você disse ao telefone... — Eu comecei.
— O Sr. Lemor não vai fazer mais nada, Angela, não se preocupe.
Bem... ele não será alguém com quem você precisará se preocupar depois
de hoje.
Eu havia contado tudo sobre o Sr. Lemor no carro do lado de fora de
seu escritório, logo após o vazamento da foto. Eu havia contado a ele
sobre os onze meses e meio cansativos que eu havia passado trabalhando
para ele, como ele me perseguia e me ameaçava até eu não aguentar
mais.
Brad prometeu que faria tudo o que pudesse para detê-lo. Eu só não
acreditava que isso pudesse acontecer tão rápido.
— O que você quer dizer? — eu perguntei.
— Minha equipe elaborou um pequeno plano para garantir que seja
feita justiça. Lemor vai se comportar da maneira como tem se
comportado continuamente, mas desta vez ele será pego. E o
Departamento de Justiça de Nova Iorque terá algo a dizer sobre as
consequências.
— Eu não estou... eu não estou entendendo, — eu disse, assim que
um garçom trouxe sanduíches e scones pequenos e outro serviu
champagne e chá para nós.
— Encontramos uma mulher que também trabalhou perto de Lemor,
uma mulher que foi submetida ao mesmo assédio que você mesmo
conheceu. Ela está disposta a nos ajudar, — explicou ele.
— Dessa forma, quando a história se desenrolar, você estará longe
dela. Uma nota lateral distante, não a heroína principal.
— Quem é ela? — Eu sussurrei.
— Receio não poder lhe dizer isso, — ele disse, mordendo um bolinho
de semente de papoula e de limão. Havia um pouco de farelo em seu
lábio superior.
— Prometemos à jovem o anonimato, para nosso melhor controle da
situação. Ela estará em um de meus hotéis esta noite, o hotel que Lemor
frequenta. Ele vai vê-la no bar e... bem, como dizem, o resto será história.
— Como... como você vai pegá-lo?
— Mandei instalar câmeras, — ele disse, lavando o scone com um
gole de champagne.
Minha mente estava andando em círculos. Era como algo fora de um
filme de James Bond.
— Eu quero ver, — eu disse. Não podia acreditar que tive a coragem
de falar com tanta certeza, ao Brad Knight no Hotel Plaza, nada menos
que isso.
Mas eu precisava ver o homem que me atormentava cair.
— Você pode lidar com isso? — Ele olhou para mim, com ar de figura
paterna. Eu sabia o que meu próprio pai diria — nunca. Eu era delicada
demais para ver algo assim.
Mas, no fundo, eu sabia que isso não era verdade. Eu podia lidar com
isso. Eu precisava lidar com isso. Ver Lemor ser pego era a única maneira
que eu tinha para poder seguir em frente superar o que ele me fazia
passar. Era agora ou nunca.
Então tomei um gole de champanhe, sentindo imediatamente um
zumbido de confiança na minha mente.
E quando olhei para Brad Knight, o homem mais poderoso de Nova
Iorque, disse com minha voz mais confiante:
— Sim.

Brad
Brad: 19h00.

Brad: Quarto 913.

Desconhecido: Estive pensando...

Desconhecido: Não tenho certeza se esta é uma boa ideia.

Brad: Pense nas outras mulheres. Se você


não o impedir, mais se machucarão.
Brad: Homens como este não param a
menos que sejam forçados a isso. Agora
você tem o poder.

Desconhecido: Você está certo...

Desconhecido: Vamos acabar com isso.

Eu não tinha certeza de que trazer Angela junto era a coisa certa a fazer.
Eu podia notar que ela era uma jovem sensível, e este homem a havia
humilhado e depreciado por um período substancial de tempo.
Eu mesmo queria matar o desgraçado, mas a Diretoria não teria
gostado disso.
A jovem que havia concordado em nos ajudar veio até nós através de
uma de minhas assistentes, que havia encontrado suas queixas contra
Lemor apresentadas ao departamento de RH da Gelsa há dois anos. Elas
haviam sido varridas para debaixo do tapete, é claro.
— Revisado e dispensado, — em termos técnicos. Mas ela ainda
estava trabalhando para a Gelsa como freelancer, e ainda que ela não
estivesse mais no prédio com Lemor diariamente, eu tinha certeza de que
ele ainda a atormentava.
Eu mesmo me aproximei da mulher e, expliquei a situação, que outra
mulher, querida por mim, havia sido afetada pelo mesmo homem das
mesmas maneiras e ele não hesitaria em arruinar outras vidas se não
fosse parado.
Eu queria lhe oferecer algo mais, algo como dinheiro, mas sabia que
isso não seria bom em um tribunal quando o filho da puta for julgado.
Então, em vez disso, brinquei com o coração dela e funcionou. Como
qualquer pessoa humana com consciência, a mulher tinha concordado
em parar o monstro que a tinha abusado, e outras depois dela.
Eu lhe disse para vir ao hotel às sete da tarde para uma suíte e lhe dei
todo o tratamento real. Cabelos, maquiagem, até mesmo uma massagem
para acalmar seus nervos. Parecia o mínimo que eu podia fazer.
Quando entrei na suíte uma hora e meia depois, tive que admitir que
a jovem parecia radiante. O vestido que o estilista havia escolhido era
perfeito.
Era sedutor em sua sofisticação, e eu sabia que o maldito não teria
nenhuma chance.
— Você pode fazer isso, — eu lhe disse junto à porta. — Você é a
diferença entre ele se safar com suas ações e ter que pagar.
Ela acenou para mim, parecendo calma e recolhida.
— Eu sei. Eu dou conta.
Coloquei uma mão no ombro dela e a beijei na bochecha.
— Estou orgulhoso de você, — eu disse. — Obrigado.
Ela acenou para mim, depois abriu a porta e caminhou pelo corredor,
prestes a enfrentar o que certamente seria a noite mais assustadora de
sua vida.
Angela

Brad tinha me dito para encontrá-lo no quarto 913 às oito e quarenta e


cinco, mas eu estava tão ansiosa que cheguei ao Hotel Tribeca uma hora
mais cedo e andei em círculos em torno dele. Era o hotel onde eu tinha
me casado, mas nesta noite, eu estava nervosa por estar lá por uma outra
razão.
Finalmente, às oito e trinta e cinco, eu me deixei entrar no lobby.
Caminhei até o banco do elevador, tentando casualmente espreitar o bar
do hotel à minha esquerda. Mas eu não vi nenhum rosto familiar.
Eu andei de elevador até o nono andar e caminhei até o quarto. Bati à
porta, e ela se abriu na segunda batida.
— Você está pronta? — perguntou Brad. Eu acenei rapidamente, e ele
me deixou entrar.
Lá dentro, havia um burburinho de atividade. A suíte se encaixava
confortavelmente em todas as telas montadas para exibir ângulos
diferentes de dois lugares: o bar do hotel e um quarto de hotel vazio.
Atrás das telas estavam três homens, cada um vestindo preto e
usando um fone de ouvido. Um sentado estava atrás de um laptop, onde
parecia que tinha algum tipo de controle de áudio.
Agora parecia mesmo um filme de James Bond.
— Eles são policiais? — perguntei tranquilamente ao Brad.
Ele apenas balançou a cabeça.
— Minha equipe de segurança, — explicou ele. — Eles também fazem
trabalho de informação.
Eu acenei novamente, sem palavras. Não podia acreditar que ele tinha
feito tudo isso por mim, para destruir o homem que tinha se esforçado
tanto para me destruir.
— Obrigada, — eu disse com sinceridade. Ele pegou minha mão na
dele, e eu pude ver a suavidade em seus olhos.
— Estamos prontos, — um dos homens de preto, gritou para o
quarto.
Os olhos de todos estavam focados em uma das telas, onde uma
mulher de vestido preto tinha acabado de sentar-se no bar. O barman foi
até ela, e ela disse algo que não podíamos ouvir.
Poucos momentos depois, ele lhe trouxe um martini.
— Não se preocupe, ela não está bebendo, — disseme Brad. — Ela e o
barman sabem que ela só vai beber bebidas sem álcool esta noite.
Inteligente, eu pensei. Fiquei surpreso com o quanto pensava sobre
isso. Movi meus olhos em direção a todas as telas, tentando encontrar
uma que mostrasse seu rosto. Mas tudo o que vi foram suas costas e seus
cabelos castanhos encaracolados.
— Aqui vamos nós! — Um homem diferente de preto gritou, e todos
os olhos voltaram novamente para a tela.
E meu coração parou. Lá estava ele.
Sr. Lemor, todo o um metro e setenta dele, vestido com um terno que
fez o seu melhor para esconder sua figura. Ele andava com o queixo tão
alto que sempre me perguntei como ele não tropeçava.
E ele estava indo numa linha reta até onde a mulher misteriosa se
sentava.
Eu estremeci, pensando no medo que ela devia estar suportando, o
medo que estávamos observando na câmera. Não me pareceu justo.
— Mas não conseguimos ouvir nada, — disse a Brad, meus olhos
colaram na tela quando Lemor tocou o ombro da mulher e sorriu.
— Podemos, — ele disse, movendo-se para o fone de ouvido
escondido em seu ouvido direito. Eu era a única que estava sem um na
sala. — Achei melhor que não ouvisse a voz dele.
— Eu quero ouvir.
As sobrancelhas de Brad subiram novamente.
— Eu não quero que você reviva...
— Não. Eu preciso ver e ouvir tudo. Se ela está passando por isso, eu
não quero que ela fique sozinha.
Depois de um segundo, ele acenou com a cabeça. Ele caminhou até a
mesa e pegou outro fone de ouvido, ajudando-me a colocá-lo. E então ele
apertou o botão ON.
Instantaneamente ouvi o zumbido no bar. Mas tudo isso desapareceu
quando ouvi as primeiras palavras de Lemor.
— Você se importa se eu me juntar a você?
Ele fez a pergunta como se a mulher dizer que não seria o necessário
para que ele se afastasse. Mas eu o conhecia. Ele nunca simplesmente se
afastou.
— Claro, — disse ela, e eu fiquei imediatamente impressionada com o
quanto ela me parecia familiar.
— Esse é um vestido e tanto, — disse Lemor, e eu o vi levantar um
pedaço do cabelo da mulher de seu ombro. Observei o corpo inteiro dela
tenso e o sorriso tomou o rosto dele.
E naquele momento, ela se virou para o lado, para ver se alguém no
bar havia notado sua ousadia. A câmera captou uma imagem clara de seu
rosto, e sua respiração se prendeu.
Sua voz parecia familiar porque ela era familiar.
Era Betty, a mulher que me encontrou para tomar café, que me avisou
sobre a interferência de Lemor em minha vida.
Minha boca secou enquanto me imaginava em sua posição. Ela foi tão
corajosa. Tão forte. E tudo o que eu estava fazendo era sentar-me aqui,
vendo como Brad e Betty faziam tudo isso.
Deve haver algo que eu possa fazer para ajudar...
Capítulo 19
Um brinde à vingança

Brad

Eu estava preocupado com ela. Com as coisas que ela estava


testemunhando, as coisas das quais eu não conseguia protegê-la. Ela era
forte e eu não tinha dúvidas sobre isso.
Você tinha que ser forte depois de passar pelo que ela tinha passado.
Mas Angela, ela era uma guerreira. A maneira como ela lidou com
tudo, a maneira como ela estava tão concentrada em garantir o sucesso
da batalha que ela não se preocupou consigo mesma.
Então foi por isso que o fiz.
Estávamos vendo o desgraçado flertar com Betty, a jovem que havia
concordado em ajudar, quando dei uma olhada em Angela. Ela estava
pálida como um fantasma, seus olhos mais largos do que eu jamais os vi.
Ela não estava piscando, não estava se movendo. Então eu a ajudei a
sentar em uma cadeira, em algum lugar ela ainda teria uma linha de visão
direta para as telas.
Eu sabia que ela iria resistir se eu lhe pedisse para desviar o olhar.
Eu lhe trouxe uma garrafa de água, mas ela foi ignorada. Ela estava
seguindo em frente e eu não pude deixar de me sentir responsável.
Mas, novamente, eu sabia que se fosse eu, eu gostaria de vê-lo. Tudo
isso.
Eu não conseguiria superar a questão para seguir em frente de outra
forma.
— Posso lhe arranjar outro? — Lemor perguntou à jovem mulher,
sinalizando para o barman.
— Claro, — disse Betty, e até meus velhos ouvidos podiam dizer que
sua voz estava cheia de nervosismo.
O barman fez as bebidas e, por uma fração de segundo, tive medo que
Lemor o visse despejar água tônica no martini da Betty em vez de vodca,
mas ele tinha tanta atenção no peito dela que não olhou para mais nada.
— Devo dizer que estou agradavelmente surpreendido com sua
simpatia esta noite, Sra. Watson.
— Me chame de Betty, — ela respondeu. Eu olhei para Angela, que
encolheu. Embora toda a situação fosse difícil de ser observada, só ela
podia realmente compreender a magnitude da dor.
— Muito bem, então, Betty. Um brinde, — ele disse, levantando seu
copo cheio. Ela fez o mesmo com seu segundo martini.
— A novas amizades, — ele disse, e eu queria esmurrar o desgraçado
através da tela. Ela sorriu com um sorriso esticado, e eles tocaram os
copos.
Logo depois, Angela olhou para mim, e parecia uma criança.
— Talvez você estivesse certo, — disse ela. — Talvez isso seja muito
difícil.
Tomei um assento ao lado dela, e sabendo que tudo o que podia fazer
era contar a verdade, comecei a falar.
Angela

Depois que o Lemor e a Betty brindaram, eu podia sentir meu estômago


se agitando. Eu não sabia se ia vomitar ou desmaiar, mas parecia que ia
ser definitivamente um dos dois.
E depois tive que me lembrar que esta era a parte mais fácil. O
verdadeiro problema ainda nem sequer havia começado.
Virei-me para encontrar Brad ao meu lado. Quando ele chegou à
mesa? Eu estava tão concentrada nas telas que não tinha ideia do que
estava acontecendo ao meu redor.
No segundo momento em que sentiu meu olhar sobre ele, ele se
virou, e vendo como estava ansioso para me ajudar, para tornar tudo isso
melhor, isso me fez sentir ainda mais.
— Talvez você estivesse certo. Talvez isso seja muito difícil, — eu
disse. — E isso é apenas o começo.
Esse era o pensamento que não me escaparia, que eu teria que
observar aquele monstro na outra tela, a que gravava o quarto do hotel,
não o bar do hotel. Eu teria que vê-lo fazer o que ele nunca tentou
comigo.
Eu era uma garota crescida e sabia o que estava por vir. Mas a ideia
era suficiente para me fazer correr para fora do hotel.
Claro, eu já sabia no que estava me metendo. Mas vendo isso em ação,
vendo Betty, aquela que tinha me ajudado, colocar-se nesta situação...
Eu não tinha certeza se tinha em mim o necessário para lidar com
isso.
Tirei o fone de ouvido da orelha, colocando-o sobre a mesa. Brad
tinha tomado um lugar ao meu lado, e agora ele olhava para mim, algo
entre a pena e a firmeza cambiando em seu rosto.
— Eu não vou mentir para você, — ele disse. — Não vai ser bonito. E
você pode sair desta sala a qualquer momento, sabendo que Lemor
nunca mais será uma ameaça para você.
Ele colocou uma mão em cima da minha, e seu calor escorreu através
de mim, de alguma forma me acalmando.
— Mas se fosse eu, e este fosse meu pesadelo, eu ficaria. Eu ficaria e
veria o filho da puta se incriminando na câmera, para ter certeza de que
eu tinha algo em minha mente para reproduzir que não fosse ele
ganhando. Eu gostaria de vê-lo cair.
As palavras de Brad afundaram em mim, e eu sabia que ele estava
certo. Eu precisava me sentir capacitada, apenas uma vez, quando se
tratava de Lemor.
E sentada aqui nesta suíte, observando cada movimento dele,
sabendo de algo que ele não sabia, era fortalecedor.
Com um aceno lento, voltei a colocar o fone no meu ouvido. Você
pode fazer isso, eu disse a mim mesma.
Após sua quarta bebida, Lemor fez a pergunta.
— Você gostaria de subir as escadas? Eu tenho uma reserva
permanente neste hotel todos os fins de semana. Os dias de semana em
Jersey são o suficiente para mim.
Betty riu, e quase pareceu genuína. Fiquei impressionada com o
desempenho dela. Se tivesse sido eu, já teria me acovardado há muito
tempo.
— Eu também tenho um quarto aqui, — disse ela, — uma pequena
estadia.
— Oh, adorável! — ele disse, claramente um pouco mais do que
bêbado. Ele pediu a conta ao barman e ofereceu seu cartão.
Quando o barman o levou, ele disse:
— Traga isso para minha suíte, hein, garoto? Não há tempo para
esperar por ela agora.
E então ele ajudou a Betty a sair de seu banco, não fazendo nenhuma
tentativa de esconder o fato de que ele a estava sondando.
Eles deixaram o bar juntos, e nós os vimos andando até o banco do
elevador. Durante um minuto e meio eles estiveram no elevador e
caminhando até seu quarto de hotel, não pudemos vê-los ou ouvi-los.
Aquele minuto e meio me enlouqueceu. E se ele lhe fez alguma coisa?
E se nós não o pegamos? E se chegássemos tarde demais?
Mas então eles estavam abrindo a porta do quarto do hotel.
— AQUI Vamos! — Um dos homens de preto gritou, e eu suspirei.
Nós estávamos de volta.
Lemor abriu a geladeira do frigobar e abriu uma garrafa de
champagne enquanto Betty olhava nervosamente em volta do quarto. Ela
aceitou uma taça de champanhe, eles brindaram novamente, e eu tive
que me lembrar de respirar.
— Sabe, Betty, você é sempre bem-vinda a voltar para a equipe Gelsa
para sempre, em tempo integral. Sinto saudades de tê-la por perto no
escritório. Vê-la andando pelo corredor... — ele disse, dirigindo seus
comentários aos seios dela.
— Na verdade, eu adoraria ter você trabalhando na minha equipe, sob
minhas ordens, diretamente. —
— Qual é sua proposta exatamente? — ela perguntou, inclinando-se
para mais perto dele.
Eu tive que engolir a bílis na garganta. Eu não tinha ideia de como ela
estava se mantendo tão firme.
— Bem, podemos arranjar algo, tenho certeza. Se você me faz feliz, eu
posso fazer você muito, muito feliz. Tudo o que eu disser na Gelsa é
ordem, minha querida. Está na hora de você deixar Curixon.
Ele rodou um pedaço de cabelo dela em torno de seu dedo, o rosto
dele a poucos centímetros do dela.
— Se você me fizer companhia, farei com que você tenha um papel
real na Gelsa. Acabou-se o trabalho de assistente. Vamos colocá-la na
gerência.
— Então, se eu dormir com você... você me recrutará para a gerência?
Isso é mais do que um salário de seis dígitos.
— E você mereceria cada centavo disso.
— É isso aí, rapazes! — outro homem de preto gritou, e dois deles
correram para a porta.
— Mexam-se, mexam-se, mexam-se. — Então eles estavam fora da
suíte, e eu esperava que eles chegassem a tempo.
— E daí? — Lemor lhe perguntou, baixando ainda mais o rosto. Ela
estava visivelmente tremendo agora, isso eu podia notar.
Eu pude ver o champanhe em sua mão dançando dentro do copo.
— Apresse-se, — eu sussurrei, desejando que os homens já chegassem
lá.
— Então... — Betty respondeu, tão baixo que eu mal consegui ouvir.
E então ele a beijou, sua taça de champanhe caiu no chão enquanto
ele a empurrava de volta para a cama, empurrando-a. Eu joguei meu fone
de ouvido no chão e empurrei minha cadeira para longe da mesa.
— NÃO! — Eu gritei, sentindo as lágrimas e o vômito vindo. Brad
colocou uma mão no meu ombro.
— Está tudo bem, Angela, está tudo bem...
Mas eu simplesmente o empurrei. Eu não podia acreditar. Lemor
estava em cima dela, tocando-a, e ela não conseguia empurrá-lo...
— Veja! — Brad disse, apontando para a tela.
Limpei meus olhos e olhei. Lá estavam eles, batendo na sala e
arrancando Lemor de cima dela. Ele foi jogado no chão por um,
enquanto o outro ajudava Betty a correr para fora da sala.
Minha respiração estava por toda parte, e Brad estendeu a garrafa de
água para mim.
— Está feito, — ele disse enquanto eu bebia um gole.
— Está tudo acabado. Vamos mantê-lo em uma sala separada até a
chegada da polícia. Teremos as fitas prontas.
— Para onde ela vai agora? — perguntei entre as respirações
ofegantes.
— Casa, — disse Brad. — Todos nós podemos ir para casa.
Pensei na cobertura. Nunca havia parecido tão segura.

Acordei no sábado de manhã com um barulho de batida. No meu passeio


de carro de Tribeca para casa ontem à noite, não consegui parar de
pensar na força da Betty. Como ela havia perseverado em uma situação
tão difícil.
Foi inspirador.
Eu queria sentir esse tipo de força. A última vez que senti isso foi
quando fiz minha entrevista com o Sr. Kinfold, quando tive a certeza de
que minhas qualificações me tornariam a pessoa certa para o trabalho.
Mas desde minha rejeição, e com tudo o que havia acontecido com
meu pai e os Knight, me faltava essa sensação de certeza. Eu não me
sentia no controle de nada.
Perdi a sensação de ter um emprego em que sabia que seria bom. Um
emprego que me fez sentir produtiva, como se eu pudesse fazer a
diferença.
Com Lemor não sendo mais uma ameaça, eu poderia começar a
tentar novamente, de verdade, sem medo do que ele poderia fazer. O
pensamento me fez sorrir, mesmo que minhas mãos ainda tremessem
intensamente de tudo o que eu tinha observado no quarto do hotel.
Quando voltei à cobertura, estava exausta e adormeci quase
imediatamente. E se não fosse por este baque, aposto que poderia ter
dormido ainda mais tempo.
Eu não me dei ao trabalho de trocar meu pijama enquanto saía da
sala. Xavier normalmente não acordava até a tarde de sábado. Pensei que
a batida estava vindo da cozinha, mas ao me aproximar da porta do
quarto do Xavier, percebi que estava meio aberta.
E antes que eu pudesse me deter, eu tinha dado um passo muito
grande — e tinha uma linha clara de visão para o quarto de Xavier. Onde
ele estava intimamente enredado não com uma, mas com duas mulheres.
Meu suspiro saiu antes que eu pudesse pará-lo, e foi suficientemente
alto para a atenção dos três. Eu nunca havia sentido o calor subir tão
rapidamente até minhas bochechas.
Eles estavam todos... tão nus. E assim emaranhados, como chicletes
em cabelos encaracolados.
— Sinto muito! Desculpe, — eu gaguejei, mas Xavier apenas riu. E as
mulheres se juntaram a ele.
— Venha, querida, junte-se a nós! Está quente aqui dentro, — ele
disse, tão humilhante como sempre. As mulheres continuavam rindo. Fui
humilhada.
— Essa é minha esposa, — ouvi-o dizer enquanto corria de volta ao
meu quarto.

Angela: Eu preciso de você

Angela: Em

Angela: Em????

Em não estava respondendo, mas eu precisava de alguém a quem


desabafar. E rápido. Vesti o primeiro jeans e blusa que pude encontrar e
corri do meu quarto para o elevador, mais rápido do que jamais havia
corrido antes.
Eu não abri meus olhos para além de um estreito olhar até que as
portas se fecharam.
Quando cheguei à floricultura da Em, o belo arranjo de flores fora da
vitrine me distraiu da cena que tinha acabado de suportar na cobertura.
A Em tinha organizado prateleiras de lindas plantas em vasos, com um
par de plantas em vasos maiores em ambos os lados da porta.
As flores eram coloridas e em plena floração, e tudo parecia perfeito.
Ao contrário do meu casamento.
Fiquei de tal forma presa em minha própria mente que abri a porta
sem me perguntar por que ela estava fechada. Em nunca fechou a porta
da loja durante o horário comercial.
— Você nunca vai adivinhar o que Xavier acabou de fazer com... —
Mas eu me afastei quando percebi o que estava acontecendo. Em estava
sentada no balcão, curtindo com um homem que estava entre as pernas
dela.
Eu estava prestes a balbuciar um pedido de desculpas e corri de volta
para fora quando o homem se virou para ver quem estava falando. E foi
quando eu vi o rosto do homem. Era Lucas.
Meu irmão Lucas.
Meu irmão Lucas se agarrando com minha melhor amiga.
Capítulo 20
Qualquer coisa por você

Angela

— ... e eu entrei e ela estava no balcão, pegando MEU IRMÃO!


— NÃO! — Dustin estava extasiado, com olhos tão abertos quanto os
meus.
— Eu sei, — eu disse, querendo contar a ele o que eu tinha visto com
Xavier também, mas sabendo que não podia. Dustin ainda pensava que
Xavier e eu nos amávamos.
Estivemos no SoHo 149, uma das galerias mais exclusivas da cidade,
montando para a exposição de Dustin naquela noite. Eu estava
ajudando-o a descarregar os quadros da van alugada e revelando o que eu
tinha visto entre Em e Lucas no dia anterior.
— O que eles disseram a você?
— Nada! — Eu mesma exclamei, ainda não acreditava muito em tudo
isso.
Minha melhor amiga e meu irmão. Há quanto tempo eles mentiam
sobre isso? Eles estavam se pegando no meu casamento? Na minha
formatura na faculdade?
Parecia uma traição clichê.
— Fiquei tão chocada que acabei por sair correndo.
— Eles tentaram ligar para você?
— Em me ligou, umas seis vezes. E Lucas deixou algumas mensagens
na caixa postal. Mas eu ainda não sei o que dizer a eles.
— Bem, como você se sente?, — perguntou ele, e percebi que poderia
haver um mundo onde eu não estivesse louca. Onde eu estava feliz por
duas das minhas pessoas favoritas se encontrarem.
Mas ainda era estranho.
— Eu não sei.
Tiramos os dois últimos quadros envoltos em plástico bolha do baú e
os acompanhamos até a galeria, colocando-os sobre as mesas ao lado dos
outros. Havia doze ao todo, mas não consegui ver nenhum deles sob as
camadas protetoras de plástico.
— Podemos desembrulha-los? — eu perguntei.
Ele estava circulando o espaço agora, olhando de parede vazia para
parede vazia. Era uma galeria bastante grande, com um layout de
conceito aberto que usava pilares para lhe dar forma. As paredes eram
brancas e os pisos eram de madeira para que toda a atenção estivesse
voltada para o trabalho do artista.
— Quero pregar a sequência primeiro, — respondeu ele, ainda
analisando as paredes.
Eu podia dizer que ele estava nervoso, mesmo que ainda estivesse
agindo como se estivesse confiante. Desde o momento em que chegamos
à galeria e conhecemos o Sr. Johnson, o proprietário, até o momento, ele
tinha balançado as mãos em punhos e batido lentamente com eles nas
pernas.
— Vai ser incrível, — eu disse, indo para ficar ao seu lado.
Coloquei uma mão em seu ombro e apertei. Ele olhou para mim e
sorriu, e depois voltou para as paredes.
— Acho que vamos de preto e branco e deixamos sangrar em cor, e
depois, para o final, eu lhes darei escala de cinza. Uma metáfora. Regras,
caos, depois a realização de que nenhuma das duas existe sem a outra.
Fiquei atordoada. Quem diria que Dustin Stirling era tão eloquente?
— Não tenho ideia do que você disse, mas parece ótimo.
Ele acenou com a cabeça.
— Eu também pensei assim.
Pedi para almoçarmos, e ele veio quase imediatamente. Sentamos no
chão frio e devoramos nosso Lo Mein, e eu não pude deixar de me sentir
bem. Eu havia usado o nome Knight para assegurar o SoHo 149 para a
noite.
Quando o contatei na semana passada, o Sr. Johnson não estava
muito receptivo à ideia de um desconhecido usando sua galeria, mas eu
lhe assegurei que Dustin tinha talento de classe mundial porque, bem,
um Knight saberia, certo?
Ele disse que precisaria de algum tempo para pensar sobre isso, então
quando ele finalmente me chamou de volta ontem à noite, fiquei
surpresa.
Levou cerca de meia hora para convencê-lo, mas ele acabou
concordando, e mesmo que eu tremesse do outro lado da ligação, eu
estava orgulhosa de mim mesma por manter minha voz calma o tempo
todo. Ou, pelo menos, a maior parte do tempo.
O SoHo 149 permitiria a Dustin ter sua primeira exposição de arte
real em um lugar que praticamente lhe garantiria patronos, o que era
obviamente importante para um recém-chegado.
E não apenas patronos, mas pessoas que conheciam e se
preocupavam com a arte.
Quando eu lhe disse que havia arranjado a galeria para sua exposição,
pensei que ele ia desmaiar.
— Obrigado, obrigado, obrigado! — ele cantou, e depois correu ao
redor do balcão do café para me abraçar.
Ele me levantou do chão e me girou, e foi o suficiente para tirar
minha mente de toda essa coisa de Em/Lucas. De qualquer forma, por
um tempo.
Dustin saiu imediatamente do café e alugou uma van, colocou seus
doze quadros favoritos no porta-malas, e eu o encontrei no centro da
cidade. O Sr. Johnson fechou a galeria durante a tarde para que Dustin
pudesse se instalar.
Como tudo foi tão de última hora, todo o processo foi apressado, mas
o SoHo 149 foi reservado para o mês seguinte.
Quando dei a Dustin a opção de esperar, ele gritou:
— Não! Chega de esperar!
E assim foi.
— Seria engraçado se fizéssemos tudo isso e ninguém viesse, — ele
disse, me puxando para fora de meus pensamentos. — Como se fôssemos
uma árvore na floresta e ninguém nos visse cair, será que realmente
caímos?
É
— Dustin, você está no SoHo 149. É o melhor dos melhores, de
acordo com o The New Yorker, de qualquer forma. As pessoas virão.
— Você está certa, — ele disse, enfiando mais macarrão em sua boca.
Então ele olhou para mim. — Você acha que Xavier poderia passar por
aqui? — Meu estômago esfriou. Xavier. Eu ainda não lhe havia contado
nada disso. Não era como se falássemos muito de qualquer maneira, mas
eu sabia que ele ficaria bravo. Ele sempre ficou.
Os olhos de Dustin estavam me suplicando agora; ambos sabíamos
que a presença de Xavier significava que haveria mais socialites e
imprensa na galeria.
— Eu não sei, Dustin...
— Você poderia perguntar? Por favor... — Eu olhei para meu amigo,
para os nervos claramente tomando conta de seu corpo. Respirei fundo e
acenei com a cabeça. Que tipo de amiga eu seria se não me colocasse em
risco?

Lucas: Pare de me ignorar.

Lucas: Angie, vamos lá.

Eu estava no elevador do prédio de escritórios do Xavier quando vi as


mensagens de Lucas. Queria responder, de verdade, mas ainda não
conseguia descobrir o que dizer. Então deixei cair o telefone de volta na
minha bolsa.
O elevador abriu suavemente, e eu saí para o 38° andar. Vi o balcão da
recepção e fui até lá.
Pensei que vir ao escritório de Xavier seria uma boa ideia porque ele
teria que me deixar entrar e não poderia gritar.
Afinal, eu era sua esposa, então o que pensariam seus colegas se ele
me chamasse de palavrões?
Mas agora eu estava percebendo como eu era um peixe fora d’água.
Meu cabelo estava amarrado num laço e bagunçado, além disso estava
com meus jeans rasgados e camiseta branca, embora perfeitos para um
dia ajudando a organizar uma galeria, não eram trajes típicos de um
escritório. E tinha meu Converse.
Mas era tarde demais; a recepcionista já tinha me visto.
— Oi, estou aqui para ver meu marido. Xavier Knight?
— Oh, claro, — ela disse, correndo ao redor de sua mesa e movendo-
se para que eu a seguisse. — Venha por aqui.
Eu não podia acreditar. A mulher, provavelmente por volta da minha
idade, estava me tratando como se estivesse... intimidada ou algo assim.
Acho que nunca intimidei ninguém em toda a minha vida.
— É lindo lá fora, — eu disse, tentando colocá-la à vontade enquanto
andávamos pelos corredores.
— Oh, com certeza, Sra. Knight, — ela respondeu rapidamente.
O que está acontecendo?
Quando chegamos ao escritório de Xavier, ela bateu à porta de vidro
fechada. Tudo era vidro: a porta, as paredes... Eu podia ver tudo dentro
do escritório, inclusive meu marido. Ele estava vestido inteligentemente
com um terno preto com um botão azul pálido, e estava esfregando as
têmporas quando a recepcionista bateu.
Ele a viu, depois a mim, e se levantou lentamente. Em seguida, ele
caminhou até a porta e a abriu.
— Você sabe que deve me chamar antes de deixar um visitante entrar,
— ele disse, suas palavras dirigidas à recepcionista.
— Eu... eu sei, — ela gaguejava. Eu queria abraçá-la.
— A culpa foi minha, — eu disse. — Tenho algo para falar com você
sobre o que não podia esperar em casa.
— Bem, entre, querida, — respondeu ele, enfatizando a última palavra
e abrindo mais a porta. Entrei no escritório, pensando no que me havia
metido.
— Feche a porta atrás de você, — instruiu ele. Ponderei minhas
opções, percebendo que não tinha uma razão válida para não fazê-lo.
Uma que eu podia verbalizar, de qualquer forma.
— Desculpe interromper seu dia, — eu disse suavemente, esperando
que pudéssemos ser civilizados. Eu abordaria o assunto com leveza,
casualmente, e talvez ele não fosse tão odioso. Apertei minhas mãos na
frente dos quadris, tentando impedi-los de tremer.
— O que é isso?, — perguntou ele. Ele estava de volta atrás de sua
mesa, inclinado sobre seu computador, verificando algo.
— Você tem planos para hoje à noite?
— Por quê? — ele esbravejou, com sua cabeça chicoteando para
enfrentar a minha.
— Eu... meu amigo, ele está tendo uma exposição de arte. No SoHo
149. E eu pensei que seria bom para... se você vir, — eu disse, certa de que
ele seria capaz de notar minha voz trêmula.
E esperando que ele não a usasse contra mim. Mas ele apenas riu.
— Você me quer em uma exposição de arte? Para quê, levar mais
pessoas para lá? Conseguir mais imprensa? — Ele estava me analisando
para obter respostas. — Você é transparente, você sabe.
— Sim, — eu disse, suavemente, mas com firmeza. — Você traria mais
pessoas e mais publicidade.
— Você quer uma medalha?
— O quê?
— Por sua honestidade, — ele disse, seu sarcasmo me mordia.
— Mas eu pensei que seria bom para você também. — Agora ele
olhou para mim novamente.
— Meu amigo, o artista, é o Dustin. Aquele com quem a esposa do Sr.
Graden me viu fazendo compras. Achei que seria bom tê-lo na galeria
para que a imprensa pudesse ver você e eu juntos, que somos ambos
amigos dele.
Mordi a bochecha, à espera de sua resposta.
A ideia tinha acabado de chegar a mim alguns segundos antes de eu
dizer em voz alta, e eu sabia que seria ou inteligente ou
devastadoramente estúpido.
Parecia que eu estava esperando que Anúbis pesasse meu coração.
Xavier
Ela teve a coragem de vir ao meu escritório como se tivesse o direito de
estar aqui. Meu dia já estava em declínio. Meu pai tinha vindo me avisar
que Graden não tinha respondido a nenhuma de suas ligações e
perguntou se ele tinha me dito alguma coisa sobre a proposta.
Eu também não lhe contei o que aconteceu quando recebemos as
bebidas do happy hour ou como ele não tinha atendido nenhuma das
minhas ligações. Eu não pude.
Então, sim, eu estava chateado com o negócio da Graden.
Fiquei chateado por meu pai continuar olhando por cima do meu
ombro, esperando que eu estragasse tudo.
E agora eu estava chateado por ela estar aqui no meu escritório,
parecendo toda nervosa e gentil, mesmo sabendo que não enganavamos
ninguém. Fazia parte do jogo dela, sendo de fala mansa. Foi como ela se
safou com toda a merda que fez.
Mas nenhuma mulher que se casasse com um Knight, que escolhesse
dinheiro e nome em vez de dignidade, poderia ser gentil. Debaixo de sua
maciez havia um dragão respirando fogo, e eu queria ter certeza de que a
moça sabia que não poderia me queimar.
— Mas eu pensei que seria bom para você também, — disse ela, sobre
eu fazer uma aparição na exposição de arte de seu amigo.
Quanto culhão ela tinha para girar na minha frente.
— Meu amigo, o artista, é o Dustin. Aquele com quem a esposa do Sr.
Graden me viu fazendo compras. Achei que seria bom tê-lo na galeria
para que a imprensa pudesse ver você e eu juntos, que somos ambos
amigos dele.
Olhei para ela, vi ela desviar seus olhos do meu olhar, suas mãos se
segurando bem. Suas bochechas ficaram mais avermelhadas a cada
segundo.
Ela é uma especialista, eu me lembrei. Uma perita em desempenhar o
papel.
Mas depois pensei em Graden e no negócio que eu estava tão perto de
fazer antes que ela estragasse tudo. Talvez ter uma foto minha na
imprensa e o cara com quem ela tinha ido às compras o acalmasse.
Talvez ele acreditasse que minha esposa era leal.
Esperei mais alguns instantes, deixando-a ficar na tensão. Eu tinha
certeza de que ela estava ficando louca, esperando minha resposta, e eu
adorava ter esse tipo de poder.
— A que horas? — Finalmente, eu perguntei. Seus olhos encontraram
os meus imediatamente e se abriram.
— Oito e trinta.
— Certifique-se de que o The Times esteja lá, — eu disse, e então me
sentei novamente na minha mesa.
Se eu fosse aparecer na imprensa em alguma exposição de arte sem
nome no centro da cidade, seria melhor que fosse o The Times. Lancei
um olhar de volta para minha esposa, que ainda estava ali, uma expressão
em seu rosto que parecia que ela não sabia dizer se isso era realidade ou
não.
Eu limpei minha garganta. Deixe-me em paz.
— Desculpe. Desculpe, — ela disse então empurrou a porta do
escritório para abrir. — Obrigado, Xavier, — ela disse, voltando para mim
antes de sair. Parecia genuíno, mas eu não o reconheci.
E então ela se foi.
Capítulo 21
Mais do que um show

Angela
Dustin: Estou enlouquecendo.

Dustin: As portas abertas em 2.

Dustin: Onde vc está?

Vi meu telefone acender com novas mensagens e corri para a


escrivaninha, onde ele estava. Eu sabia que estava atrasada, o que não era
meu feitio.
Mas depois do estresse da conversa com Xavier em seu escritório, eu
precisava de algo para me relaxar, então tomei um banho quente,
tentando esfoliar minha ansiedade.
Apressei-me para entrar no pequeno vestido preto que havia
comprado com o Dustin, a única coisa que eu mesma havia encontrado
na loja. Era lindo em sua simplicidade, uma saia clássica de linha A com
top ajustado e um decote conservador.
Em seguida, coloquei umas sapatilhas e corri da cobertura, felizmente
encontrando um táxi do lado de fora.
Eu tinha esquecido de pedir um carro quando estava no andar de
cima e não tinha tempo de pegar o metrô, então só me restava um táxi.
Quando cheguei ao SoHo 149, já estava quinze minutos atrasada. Mas
quando olhei através das janelas da loja do chão ao teto, minha culpa se
dissipou. O lugar estava lotado.
Paguei ao motorista do táxi e pulei para fora, caminhando até o
guarda de segurança junto à porta. Era uma bela noite de outono, e o céu
noturno criou o cenário perfeito para a festa bem iluminada que
acontecia lá dentro.
— Olá! Sou amiga do Dustin, — exclamei. O segurança acabou de me
olhar, segurando sua prancheta.
— Nome?
— Angela. Angela Knight. — Ele se afastou imediatamente, abrindo a
porta para mim. Assim que entrei pela porta, fui atingida pelo calor de
uma sala lotada.
Pessoas bem vestidas e interessantes se movimentavam pela galeria,
segurando taças de vinho e rindo umas com as outras. As pinturas
estavam penduradas nas paredes, e grupos de pessoas estavam em frente
a cada uma delas, apontando e apreciando.
Meu coração disparou. Não podia acreditar que tínhamos
conseguido. Ele tinha conseguido. Eu estava tão feliz por ele, tão
orgulhosa.
— Angela! Aqui. — Eu ouvi a voz de Dustin do outro lado da galeria.
Virei-me e o encontrei, vestido com um blazer verde-marinho e calças
pretas brilhantes, junto à barra no canto. Ele estava conversando com um
homem mais velho de óculos. Eu caminhei até eles.
— Olá! — exclamei, beijando sua bochecha. — Isso é incrível!
— Não é? — acrescentou ele, claramente tonto. — Angela, este é o Sr.
Sorento. Sr. Sorento, apresento-lhe Angela Knight.
— Oi, — eu disse, apertando a mão do Sr. Sorento.
— Prazer em conhecê-la.
— O Sr. Sorento é o gerente da Garagem em Tribeca.
— Oh?. — Eu disse, tentando ser indiferente sobre o fato de que eu
não tinha ideia do que isso era. De repente, uma mulher estilosa, com
um casaco de couro e batom de coral, apareceu atrás do Dustin.
— Sr. Stirling. Tina Carlyle do The Times. Eu esperava ter uma
palavra com... — Dustin me deu um olhar ohmeudeusohmeudeus e
depois se voltou para a mulher.
— Tina. Querida. Eu estava pensando que você nunca apareceria, —
ele disse, seu charme no nível 1.000 enquanto a guiava pelo cotovelo até
uma parte mais silenciosa da sala.
Isso deixou o Sr. Sorento e eu juntos, ao lado bar. Meu lado
introvertido quis se despedir e apreciar a arte sozinha, mas havia algo
inspirador em ver Dustin sair de sua zona de conforto e se dar tão bem.
Talvez fosse a hora de eu fazer o mesmo. Então, respirei fundo e me
virei para o homem que estava diante de mim.
— Sr. Sorento, me fale sobre a Garagem?
Afinal, a Garagem era o ponto alto das modernas galerias de arte em
Nova Iorque. Não estava tão estabelecida como a Bird em Williamsburg
ou The Juniper no Upper East Side, mas de qualquer forma estava
recebendo atenção constante da imprensa e dos compradores.
O Sr. Sorento era o gerente, o que significava que ele estava
encarregado de encontrar a arte que a galeria expunha. Portanto, era um
grande negócio que ele estava aqui na exposição de Dustin, e um negócio
ainda maior com o qual ele tinha procurado ativamente Dustin para
falar.
Ele havia dito que Dustin havia falado com ele sobre sua inspiração
para a pintura e sua infância difícil e que se sentira semelhante a ele por
ambas as explicações.
Eu estava muito contente por meu amigo. Claro, eu sabia que iríamos
encher a galeria — graças ao meu marido — mas não tinha ideia de que
teríamos uma resposta tão positiva por parte das pessoas da indústria.
— Como você o encontrou? — perguntou-me o Sr. Sorento.
— O que você quer dizer?
— Dustin, — ele disse, e eu pensei no dia em que nos encontramos na
cafeteria.
— Eu estava correndo no parque, e parei para tomar um café. Dustin
estava trabalhando nessa cafeteria fofa, e começamos a conversar, — eu
disse, dando a ele toda a história. O Sr. Sorrento estava acenando com a
cabeça.
— Você tem um olho bom, — ele disse, e agora eu entendi. Ele pensou
que eu fiz o que ele fez. Ele pensou que eu encontrava artistas e lhes dava
oportunidades.
— Oh, eu não estou no ramo. Dustin é apenas um amigo meu, — eu
expliquei, e o Sr. Sorrento me olhou com um olhar de curiosidade.
— Vocês eram amigos antes de ver a arte dele? — Eu confirmei. O Sr.
Sorrento tomou seu vinho e encolheu os ombros.
— Acho que isso é inteligente. Dustin é uma ave rara, mas
geralmente, quanto melhor a arte, pior o amigo. Foi um prazer conhecê-
la, Sra. Knight, — ele disse, dando um aperto no cotovelo antes de se
virar e encontrar um novo grupo para conversar.
Aconteceu que a noção do Sr. Sorrento de mim como recrutadora ou
caçadora de talentos ou qualquer que fosse o título do trabalho não era
toda aquela novela.
Ao longo da noite, conversei com alguns outros gerentes de galerias,
alguns críticos de imprensa e muitos compradores sérios.
Todos me elogiaram por um trabalho bem feito, como se a arte de
Dustin fosse um resultado direto da minha iniciativa. Embora eu
quisesse um trabalho em que pudesse ser boa, para me fazer sentir
competente e forte, não era exatamente isso que eu tinha em mente.
Xavier
Entrei na galeria e fiquei francamente surpreso com o quanto ela estava
cheia. E cheia de pessoas de qualidade.
Reconheci Tina e Marc do The Times, Sylvia do The New Yorker, e
aqueles críticos esotéricos irritantes, Paul e Benny, usando o mesmo
tweed que sempre usaram.
Como se eles fossem banqueiros na Depressão ou algo assim.
Depois vi minha querida esposa, com um vestido preto básico que
fazia sua pele parecer muito mais pálida em comparação. Não um pálido
doente, mas um pálido que parecia não ver sol há cerca de um ano.
Claro, ela era bonita, objetivamente, mas eu não pude evitar minha
reação instintiva toda vez que a via. Raiva. Apenas pura, sempre presente,
sempre crescente, raiva.
Eu fechei os olhos com ela e tenho quase certeza de ter visto seu lábio
Ó
tremer em resposta. Ótimo.
— Querida! — Eu gritei do outro lado da sala, e todos ao meu redor se
viraram para ver quem eu estava chamando. Vi suas expressões se
encherem de reconhecimento "Oh, sua esposa!" e a expressão de Angela
se encher de preocupação. Percebendo que se eu esperasse que ela se
aproximasse de mim, eu ficaria esperando muito tempo, comecei a
caminhar em direção a ela.
— Que show, — exclamei, esperando que ela pegasse o sarcasmo na
minha voz.
Ela me abraçou e beijou minhas bochechas, e eu pude sentir seu
corpo iluminado tremer, como um cachorro pequeno que acabou de sair
do banho.
— Obrigada por ter vindo, — disse ela, em voz alta o suficiente para
que aqueles ao nosso redor pudessem ouvir. Ela estava desempenhando o
mesmo papel que eu, e qualquer culpa que eu possa ter sentido por ter
causado seus tremores foi embora, sem mais nem menos. Ela sabia o que
tinha assinado.
— Onde está o homem do momento? — perguntei, escaneando a sala.
Nesse momento, eu senti uma mão no ombro e girei para encontrar
Benny, o crítico que usava tweed.
Ele estendeu sua mão para que eu apertasse.
— Sr. Knight, — ele disse, — sempre um prazer.
— Oi, Benny boy, — respondi, dando-lhe um sacudida. Os três copos
de uísque que eu tinha bebido a caminho do SoHo 149 tinham acalmado
meu temperamento, claro, mas também me deram um impulso para me
divertir um pouco.
— Você está procurando por Dustin? Ele está junto à peça final, ao
redor daquele pilar ali mesmo, — apontou Benny.
— Maravilhoso, — eu disse, batendo nas costas do Benny com um
pouco mais de força do que eu precisava. — Simplesmente maravilhoso.
Oh, Angela! — Eu cantei, e todos os olhos voltaram a cair em cima dela.
As bochechas dela estavam visivelmente vermelhas. Cara, ela é boa em
fingir que não gosta da atenção.
Ela se aproximou de mim, e eu agarrei sua mão, e juntos caminhamos
até a pintura final.
— E este deve ser o Dustin!
Dustin, o homem que me envergonhou aos olhos do público, que
pode ou não ter arruinado o melhor negócio em potencial que eu já havia
fechado por conta própria, estava na minha frente. Estávamos mais ou
menos na mesma altura, ambos com mandíbulas robustas e o tipo de
olhos que viram sua porção de merda na vida.
Ele não se acovardou, como a maioria das pessoas fez. Em vez disso,
ele estendeu uma mão.
— Xavier Knight, — ele disse simplesmente. — Obrigado por ter
vindo à minha exposição.
Ouvi uma câmera disparar, talvez tenha visto um flash ou dois.
— Qualquer coisa por Angela, — eu disse, e dei um bom sorriso. Eu
não tinha certeza do que Dustin sabia, ou o que ele queria, mas havia
muita coisa não dita aqui.
Estava me irritando, me fazendo querer agarrá-lo pelo estúpido
casaco que ele estava usando e empurrá-lo contra a parede até que ele me
implorasse que o deixasse ir.
Mas eu não consegui. Havia imprensa aqui.
Brad

Xavier havia me mencionado que ele iria a uma galeria que estava em
exposição no SoHo 149 esta noite, o que para ele é bem surpreendente.
Ele nunca havia gostado de ir a nenhum evento cultural, a não ser que eu
o arrastasse até lá. Ou que sua ex-noiva o tivesse.
Houve um tempo em que, se ela mencionasse que não assistiria à
ópera, ele compraria seus ingressos para aquela noite.
Por isso, fiz algumas ligações. Eu tinha que saber o que meu filho
andava fazendo. E afinal um velho amigo meu, Alfred Kent, tinha
negócios com o Sr. Johnson, o proprietário da galeria.
Não demorou mais de um minuto ao telefone com o Sr. Johnson para
saber que havia uma exposição de um novo artista esta noite e que tudo
havia sido orquestrado por uma Angela Knight.
Assim que ouvi o nome dela, meu coração se alegrou. Ela não só
estava ajudando um talento desconhecido a encontrar uma exposição,
mas estava ajudando meu pobre menino a sair da escuridão.
Acabaram-se as bebidas alcoólicas em bares noturnos, sim senhor.
Meu filho estava saindo para a cidade com sua esposa.
E a isso... bem, eu não podia faltar.
Eu entrei no SoHo 149 e tentei ser discreto. Vi meu filho e Angela
andando de mãos dadas, e depois vi os dois conversando com um jovem
com uma roupa que o fazia artista até a última célula. Eles trocaram
algumas gentilezas.
Eu não pude ouvir muito, mas vi seus sorrisos e soube.
Em seguida, Xavier caminhou em direção ao bar e pegou um copo de
vinho, e eu vi Angela o seguir.
Então eu caminhei até os dois.
— Que noite! — exclamei, não conseguindo conter minha excitação.
Ambos foram maravilhosos.
— Brad, que surpresa, — disse Angela ao me ver. Ela envolveu seus
braços ao meu redor e me beijou na bochecha, e eu estava certa de que
minha amada poderia sentir o calor da jovem mulher até o céu.
— Eu não perderia isso.
— Eu não sabia que você viria, — disse Xavier, trazendo o copo aos
seus lábios.
— Vocês dois parecem um casal tão bonito. Tão encantador, tão
pensativo. Estou orgulhoso de você, filho, — eu disse, estendendo minha
mão para que ele apertasse.
Ele o fez, e realmente parecia que estava de volta. O filho que eu
sempre soube que ele era.
Voltei-me para Angela, aquela que o tinha feito voltar para casa.
O anjo que tinha agraciado minha vida e a vida daqueles de quem
mais gosto.
— E Angela. Você. Seu talento, sua generosidade. Ouvi dizer que você
encontrou o jovem com sua obra de arte nas paredes. Sua tenacidade e
seu olhar, querida, você é realmente algo. Estou tão orgulhoso. Tão, tão
orgulhoso.
Eu a puxei para outro abraço e a senti relaxar em meus braços.
Percebi como deve ser difícil para ela, com seu pai tremendamente
doente. Eu devo ter sido a coisa mais próxima que ela teve de seu pai.
Em cima da cabeça de Angela, eu olhei para meu filho. Ele estava me
observando abraçar a jovem mulher com uma intensidade tão profunda
que eu não entendia bem.
Talvez ele estivesse tão consumido com as duas pessoas que ele mais
amava se abraçando, que era quase demais para ele.
Eu o olhei mais uma vez e lhe ofereci um sorriso. Ele sorriu de volta, e
eu acenei com a cabeça.
E foi isso. Deve ser assim.
Capítulo 22
Linhas Cruzadas

Angela

Eu acordei com um grande sorriso no rosto. Essa foi talvez a primeira


vez, na minha cama grande e fofa, na minha grande e fofa cobertura, que
isso havia acontecido.
A exposição de arte foi incrível. Não só o trabalho de Dustin foi
incrivelmente bem recebido, mas todos com quem eu tinha falado
tinham sido tão... simpáticos.
Depois de todos os parceiros de negócios e amigos da família que
conheci através dos Knight, no casamento e em outros lugares, fiquei
com a impressão de que nunca me daria bem com ninguém do círculo
deles.
Mas ontem à noite eu senti algo diferente. Eu me senti apreciada e...
não sei, visível.
Talvez fosse porque eles faziam parte de um subconjunto diferente.
Claro, as pessoas de lá ontem à noite tinham sido importantes e bem-
sucedidas. Mas eles não eram empresários corporativos que
consideravam uma viagem a St. Barths um fim de semana decente.
Não, eles eram amantes de arte. Cultos, com estilo e mente aberta de
uma forma que parecia muito diferente, em vez de se preocupar com
isso.
Talvez eu tivesse encontrado meu grupo.
Fiquei animada e com vontade de compartilhar minha noite com
todos que conhecia. Eu tinha planos de ir a Jersey e ver o meu pai hoje, o
que era perfeito. Eu sabia que ele ficaria tão feliz por eu ter ajudado a
organizar uma exposição de arte de sucesso.
Ele ficaria feliz que eu tivesse ajudado meu amigo a obter o
reconhecimento que ele merecia. E depois que vi meu pai, pensei em
passar na casa da Em e compartilhar com ela.
Ainda não tínhamos falado sobre ela e Lucas, mas agora meu bom
humor estava me ajudando com isso também.
Parecia o momento certo para discutir tudo.
Assim que pensei nela e em Lucas, percebi que provavelmente seria
uma boa ideia avisá-lo de que eu iria ao hospital. Eu também ainda não
havia respondido às suas mensagens, então peguei meu celular e,
respirando fundo, mandei-lhe uma mensagem.

Angela: Olá Lucas.

Lucas: Oh agora você responde.

Angela: Desculpe-me.

Angela: Eu não sabia o que dizer.

Lucas: Me desculpa também.

Lucas: Não sabia como te dizer.

Angela: Está... tudo bem.


Angela: Eu amo vocês dois.

Lucas: Você está realmente de acordo com isso?

Angela: Eu não sei.

Lucas: Bem, isso já é um bom começo.

Angela: Estou indo para o hospital agora.

Angela: Você quer vir?

Lucas: Quem me dera poder.

Lucas: Preso no restaurante.

Eu suspirei. Sentime bem por ter tirado a limpo isso com ele, mas
realmente desejei que ele viesse ver nosso pai comigo. Era sempre difícil
vê-lo sozinha, e Lucas tinha uma maneira de cortar a tensão.
Mesmo quando estávamos rodeados de doenças e más notícias, ele
conseguiu fazer com que eu sorrisse. Mas hoje, eu teria que ir sozinha.
Tomei banho, me vesti e depois comecei minha viagem.
Quando cheguei ao hospital, já era tarde e o lugar estava agitado com
a atividade. Vi mais sorrisos no saguão do que jamais havia visto lá antes,
e isso me fez sorrir também.
Talvez eu não precisasse do apoio moral de Lucas, afinal de contas. Eu
tinha um bom pressentimento. Sobre o dia, sobre o papai, sobre mim
mesma.
Não achei que nada pudesse me derrubar.
Quando cheguei ao quarto do meu pai, vi que a porta dele estava
fechada.
Eu bati e depois abri, vendo um grande feixe de cobertores em cima
da cama do hospital.
— Pai? — Houve um momento de silêncio em que eu não tinha
certeza de onde procurar. Ele ainda estava preso à cadeira de rodas, para
não estar no banheiro sem uma enfermeira por perto para ajudar.
Talvez ele estivesse fora da sala?
Mas depois houve um grunhido de baixo da pilha de cobertores, e
uma mão frágil emergiu. Ele tirou os cobertores de um rosto — um rosto
que pertencia ao papai.
Seus olhos haviam afundado ainda mais em seu rosto. Sua pele estava
pálida o suficiente para que eu pudesse ver o azul das veias em seus
braços. Ele sempre foi meio careca, mas agora parecia ainda mais careca.
Eu tentei não reagir, tentei não mostrar a ele minha surpresa ou
preocupação, mas não acho que tenha feito um bom trabalho.
— Filhinha, venha aqui, — ele disse, segurando uma mão trêmula. —
Continuo sendo eu.
Eu queria que minhas lágrimas fossem e incomodassem outra pessoa.
Hoje não cairiam. Hoje não.
Eu fui até meu pai e me curvei para dar-lhe um abraço, beijando-o na
bochecha.
— É tão bom te ver, papai.
— É sempre bom ver você, pequena.
— Como você está?
— As pílulas estão me deixando lento. Não sei o que te dizer. — Ele
tinha começado os testes no fim de semana passado, e todos nós
pensamos que ele melhoraria depois que começasse. Mas ele parecia...
pior.
— Você se sente melhor no geral?
— Ainda não, mas o médico diz que é normal. Tem que ficar pior
antes de melhorar. — Eu dei um aperto em seus dedos magros.
— É esse o espírito, — eu disse. Eu me sentia mal por ter demorado
tanto tempo para voltar.
Eu deveria ter aparecido antes.
Eu deveria ter sido mais presente.
Houve uma batida na porta. Ambos nos viramos para encontrar o Dr.
Kaller colocando apenas a cabeça na sala.
— É seguro entrar?
— Olá, Dr. Kaller, — eu disse, aliviada por ter outra pessoa na sala.
Especialmente alguém que foi treinado para saber o que dizer em
situações como esta.
— Como você está, Angela?
— Eu estou bem, estou bem. Como você está?
— Bem, obrigado. Ei, quando terminar a visita com o campeão, você
pode passar pelo meu escritório? É logo ao fundo do corredor.
— Claro, — eu disse, tentando não pensar sobre o que isso significava.
Parecia uma chamada para o escritório do diretor, só que não seria eu
que estaria em apuros. Seria meu pai.
O Dr. Kaller acenou para nós e depois voltou para o corredor, e eu
voltei para o meu pai. Tentei recuperar a sensação que tinha hoje cedo,
pensando que poderia ser contagioso. Eu queria que meu pai sentisse as
endorfinas.
— Pai, adivinha só.
— O que eu sou, um bebê?, — perguntou ele, mas sorriu e me deu um
aperto de mão.
— Escute, — eu comecei. — Meu amigo, Dustin, é um artista. Mas ele
nunca tinha tido seu trabalho visto por ninguém antes. Então eu o ajudei
a planejar uma exposição de arte nesta galeria de arte do centro da
cidade. Foi ontem à noite! Todos adoraram, papai. Todo mundo adorou.
Meu pai olhou para mim, e eu vi as lágrimas se acumularem em seus
olhos. Como se ele não acreditasse que eu me tornasse esta pessoa, este
adulto, que tenta coisas novas e conseguiu.
Ele estava olhando para mim da mesma forma que o fez em minhas
cerimônias de formatura e em meus jogos de vôlei, com o orgulho
radiante de seu rosto.
— Olhe para você, — ele disse, e levou minha mão aos seus lábios. Ele
beijou a parte de cima e eu não conseguia me lembrar de um tempo em
que ele tinha sido tão abertamente suave.
— Você é uma mulher. Você é sua própria mulher. — Eu me curvei
novamente, e desta vez eu o segurei e não soltei.

O Dr. Kaller olhou para cima quando eu bati na porta semi-aberta de seu
escritório.
— Angela, entre.
Entrei e sentei-me, e ele apertou as mãos no colo.
— Os testes estão causando danos ao seu pai. Os medicamentos são
fortes, mas por alguma razão, ele está respondendo mais seriamente às
complicações do que os outros.
— O que... o que isso significa?
— Seus sintomas são piores. E eles estão afetando sua qualidade de
vida de forma bastante intensa. É claro que é algo em que se deve pensar.
Minha mente estava girando. Sua qualidade de vida?
— Então você está dizendo...
— Eu não estou dizendo nada. Não definitivamente. É algo que você e
seus irmãos devem levar em consideração, só isso. Se seu pai continuar
piorando, talvez não valha a pena continuar por este caminho.
— Mas não há outro caminho, — eu disse, minha voz era mansa. —
Você acha que devemos apenas 'deixá-lo confortável'?
Eu repeti as palavras que ele me disse da última vez que conversamos.
— Ele é um guerreiro, — eu disse. E apesar de meu volume ser baixo,
meu tom era outro.
O Dr. Kaller olhou para mim como se eu estivesse em uma ponte que
estava prestes a ruir.

Angela: Ligue-me

Angela: 911

Angela: Lucas

Angela: Atenda seu telefone!

Angela: Eu preciso que você RESPONDA

Angela: Lucas!!!

Lucas: Opa.

Lucas: Estou aqui mesmo.


Lucas: Por que você está assustadora? Pensei que tivesse dito
que estava tudo bem.

Angela: SÓ ATENDA O SEU TELEFONE!

Lucas: Eu te disse que estou no restaurante.

Lucas: Você se assusta com nada.

Lucas: Você disse que nos ama.

Lucas: Vamos ser felizes.

Angela: Do que você está falando?!!?

Lucas: Você está ficando louca sem motivo.

Lucas: Eu não posso fazer isso agora.

Lucas: O restaurante está ocupado.


Angela: Mds

Angela: Lucas

Angela: É sobre o pai.

Angela: NÃO sua vida amorosa!!!

Lucas: Ah.

Lucas: Merda

Lucas: ????

Angela: Ele está piorando.

Angela: O dr. disse que temos que pensar


nas próximas opções.
Lucas: O que isso significa?

Lucas: Próximas opções????

Angela: Basta me ligar.

Angela: Quando você não estiver muito


ocupado.

Foi uma longa viagem de trem de volta. Toda a energia positiva que eu
tinha quando acordei esta manhã tinha se evaporado. As endorfinas
tinham desaparecido há muito tempo.
Agora era só eu e meus pensamentos. Meus pensamentos
fumegantes.
Eu não podia acreditar no Lucas. Ele pensou que eu estava me
assustando com ele e a Em, embora eu tivesse dito esta manhã que iria
superar isso! Ele me chamou de louca, disse que eu estava reagindo
demais.
Mas foi ele quem fez tudo escondido, que começou algo com minha
melhor amiga sem sequer me perguntar primeiro.
Quais eram as regras para algo assim? Eu não sabia. Eu nem sabia
quem saberia. Mas eu sabia que deveria ter sido consultada em algum
momento. E eu não fui.
Lá vou eu querendo clarear as coisas, eu pensei. Não estava com
vontade de falar sobre nada com Lucas ou Em agora, nem sobre a luxúria
um pelo outro, nem sobre a exposição de arte. De alguma forma, a
traição parecia fresca.
E então meus pensamentos se voltaram para o meu pai. Como ele
parecia fraco naquela cama de hospital, como eu estava desesperada para
ajudá-lo.
Não era justo que fosse ele quem estava passando por isso. Ele não
merecia.
Pensei no Dr. Kaller e no que ele tinha dito. Que tínhamos duas
opções: desistir ou fazê-lo suportar mais dor por uma razão incerta.
Eu não tinha certeza do que era pior.
Eu me dispus a parar de pensar nisso. Não me faria bem, nem a mim
nem ao meu pai, ter um ataque de pânico no trem.
Parecia que minhas entranhas estavam tão enroscadas que poderiam
implodir, mas mesmo tentando mudar meus pensamentos de volta para
a noite passada, para a exposição de arte, não estava ajudando. Então eu
virei minha cabeça para a janela e tentei me concentrar nas árvores que
passavam tão rapidamente que mal conseguia vê-las.
Quando voltei à cobertura, caminhei pelo elevador, entrei no
corredor e depois parei.
Ali estava Xavier, de costas para mim, debruçado sobre o balcão da
cozinha.
Não senti a habitual falta de ar, o medo que vinha com a sua presença
por perto. Talvez fosse porque eu estava tão emocionalmente exausta
depois deste dia ou talvez fosse porque ele era menos ameaçador quando
estava de costas para mim. Eu não sabia.
Ele não tinha camisa, e suas calças pretas estavam penduradas nos
quadris. E então eu estava admirando seus músculos das costas antes de
poder me deter, o modo como seus ombros largos contrastavam com sua
cintura afunilada e seus quadris.
Ele tinha algum tipo de cicatriz desde o quadril esquerdo até o ombro
direito que eu nunca tinha visto antes.
Por que você teria visto isso? Eu mesma me repreendi.
Ao vê-lo assim, nu e aberto, ele parecia quase vulnerável. Eu não sabia
como ele não tinha me ouvido entrar, com o ding do elevador e tudo
mais, mas ele não tinha mexido um músculo desde o minuto em que eu
cheguei ali.
Eu me perguntava o que havia me possuído.
Será que eu estava tão desesperada por aquelas endorfinas que eu fui
levada a olhar para o homem que tinha sido tão consistentemente
horrível para mim?
Sacudi a cabeça e entrei no corredor, tentando fazer meus passos
mais altos para que ele percebesse que não estava sozinho.
Mas à medida que eu me aproximava cada vez mais, ele permanecia
na mesma posição. Eu estava quase na cozinha quando vi os fones em
seus ouvidos. Ah. Ele estava escutando música.
Antes que ele pudesse me ver, eu passei por ele e entrei em meu
quarto.
A porta se fechou silenciosamente atrás de mim, e eu respirei fundo,
deixando-a sair. Infelizmente, a confusão do dia não saiu com ela.
Capítulo 23
Doce como o pecado

Xavier

Mas que porra é essa? Meus olhos estavam abertos agora, apesar de meu
corpo estar gritando para que eu voltasse a dormir. Parecia que eu tinha
acabado de entrar na cama há alguns minutos.
Olhei ao meu lado, onde sempre havia uma ou outra mulher jovem.
Mas estava vazia.
Eu tentei abalar meu cérebro por um tempo e um dia. O que eu fiz
ontem à noite? Vi meu celular, mas estava do outro lado do meu quarto,
na mesa do café, junto à poltrona. Isso foi muito mais longe do que eu
estava disposto a ir para encontrar as respostas.
Pense, eu mesmo fiz o pedido. Ontem à noite foi a exposição de arte.
Não, esqueça isso. A exposição de arte foi na quinta-feira à noite.
Ontem à noite... ontem à noite não saí do escritório até tarde. E
quando eu saí, fui direto para Hatchback. Certo. Esse era o bar onde eu
tinha me encontrado com Graden para o happy hour há algumas
semanas atrás.
Pensei em passar por ali, tomar algumas bebidas — ou mais algumas
bebidas, devo dizer — e ver se aquela bartender com covinhas estava
trabalhando. Eu tinha aberto meu escritório com bourbon ontem cedo.
Eu precisava de algo para facilitar a banalidade da reunião da diretoria
no final da tarde.
Cheguei ao Hatchback já carregado, tendo que me segurar no
corrimão da escada interna. Fui até o bar, coloquei minhas mãos sobre o
balcão e me ergui direito.
Eu vi uma bartender morena, duas morenas... ah, a terceira era a
vencedora.
Era a garota com quem eu tinha deixado meu cartão, que parecia ser
do sul.
Eu a olhei fixamente até que ela olhou para mim, e quando ela olhou,
suas covinhas apareceram. Ela estava definitivamente sorrindo.
— Sr. Knight.
— Vim para encontrá-la, — eu disse, sem piscar os olhos. Se eu sabia
uma coisa sobre falar com as mulheres, era ser direto. Elas gostavam, e
isso me levou aonde eu queria estar mais rápido.
— Veio mesmo? — perguntou ela, com os cílios dela tremulando. —
Eu esperava que você passasse por aqui para pegar seu cartão de volta,
mas acho que seu assistente o pegou para você.
— Marco. — Eu acenei com a cabeça. — Ele limpa depois das minhas
trapalhadas.
— Você não me parece tão atrapalhado, — disse ela, brincando com o
colar em seu decote.
Fácil.
Demais.
Perguntei a que horas seu turno terminava, e ela disse que teria que
verificar o horário no escritório nos fundos, e se eu gostaria de ir checar
com ela?
Quando tomamos mais uns shots e colocamos nossas roupas de volta,
eu já tinha bebido uísque suficiente para impressionar um soldado
irlandês.
Esta porra de ressaca.
E foi isso. Eu joguei as cobertas de cima de mim, não me importando
que eu tivesse apenas com as cuecas em que eu tinha dormido. Nadei no
corredor e ouvi o som novamente.
Mas não havia ninguém lá.
Era como se minha mente estivesse pregando uma peça em mim. Eu
fui até a cozinha, mas definitivamente não havia ninguém lá. Fui até o
corredor... e foi quando a vi.
Ela estava de cócoras, de costas para mim, com as mãos trabalhando
rapidamente sob o armário abaixo da pia. Mas eu não percebi isso
primeiro.
O que eu notei foi a camiseta branca de tamanho exagerado que ela
usava e que mal cobria o rabo. Suas longas pernas estavam
completamente expostas, até as coxas.
Eu não entendia o que estava acontecendo. Eu sabia que a odiava, a
mulher que não estava nem a um metro de mim, minha esposa.
Mas eu não podia me afastar dela. Não quando ela estava vestida
desta maneira. Meu Deus, controle-se, eu mesmo ordenei. Você não tem
doze anos, porra.
Eu limpei minha garganta. Sua cabeça se moveu para ver quem estava
lá, e seus largos olhos focados nos meus. Ela tinha olhos azuis, grandes e
macios como os de uma criança.
O resto de suas características eram igualmente delicadas. Desde a
leve curva de seu nariz até a cor rosada de sua boca, era como se seu rosto
tivesse sido desenhado.
Eu já estive com minha parte de mulheres bonitas, mas nenhuma
parecia tão inocente quanto ela.
Ela mordeu seu lábio.
— Desculpe, eu o incomodei? — Sim, você incomodou. Mas algo veio
sobre mim e, em vez de revelar a verdade, eu tive um impulso para acabar
com a preocupação dela.
— De jeito nenhum. Eu só vim buscar café e... o que você está
fazendo?
— Oh, eu posso fazer um para você, — disse ela, de pé. — O marido
de Lucille acabou de chegar, então ela foi ao seu encontro. — Mas eu não
estava prestando atenção nas palavras que saíam da boca dela, porque ela
tinha se levantado.
A camisa, embora curta enquanto ela estava agachada, agora mal
cobria sua região pélvica.
Eu não sabia dizer se ela não sabia ou não se importava.
— Tudo bem, — eu saí, mas ela já estava se movendo, colocando o
filtro na máquina de café e pegando um pouco de café.
— Sei que você tem aquela máquina de café expresso chique, mas não
sei como usá-la, então espero que você não se importe apenas com o café
normal.
Eu a observei enquanto ela se movia, a camiseta chegando
perigosamente perto de me mostrar mais do que uma pequena amostra.
Ela virou a cabeça sobre os ombros e levantou as sobrancelhas, e eu
percebi que eu não tinha respondido.
— Está ótimo. Ótimo. Ótimo, — eu disse, caindo sobre minhas
palavras. O que estava acontecendo? Eu nunca fiquei sem palavras. — O
que você estava fazendo... uh, lá embaixo?
— Oh, o carburador estava apenas um pouco entupido. Lucille ia
chamar o encanador, mas ele sempre demora alguns dias para chegar,
então pensei, por que não fazê-lo eu mesma?
— Você sabe como consertar o carburador?
Ela apenas mordeu o lábio e encolheu os ombros.
— Não é muito difícil. — Então ela abriu o armário acima de sua
cabeça, aquele com os copos. As canecas estavam na segunda prateleira,
então ela teria que chegar até ela.
Quando ela começou a chegar, eu mesmo corri e agarrei as canecas,
mas na pressa de manter suas áreas privadas, er, privadas, eu não levei em
conta o espaço pessoal.
Eu estava bem atrás dela, com a mão no armário, tentando pegar uma
caneca.
E ela se surpreendeu com meus movimentos e, ao fazê-lo, se voltou
para mim.
Assim, seu corpo mal vestido, aquele com as curvas que eu podia ver
muito claramente, foi pressionado contra mim.
Eu podia me sentir duro quase imediatamente, o que era estranho,
porque nunca me senti tão duro tão rapidamente, especialmente por
causa de um contato tão limitado.
— Sinto muito, — disse ela rapidamente, Virando-se e apoiando-se
no balcão. Mas isso não melhorou nada porque agora eu tinha uma visão
frontal completa dela.
Eu vi seus mamilos através da camiseta e pude ver a calcinha de renda
branca que ela estava usando por baixo.
Ela mordeu o lábio novamente, parecendo a mesma mistura nervosa
e inocente que ela sempre teve quando eu realmente prestava atenção.
Baixei a caneca até o balcão sem tirar meus olhos dela.
Ela levou a mão até o pescoço e o coçou, e a camiseta subiu mais um
centímetro, mostrando-me mais coxa do que eu podia aguentar.
Sem esperar mais um segundo, eu mergulhei nela.
Eu agarrei seu rosto e a beijei, o beijo mais gentil e caloroso que eu já
tinha tido há algum tempo.
Ela gostou tanto disso, que eu pude sentir.
Seus braços estavam envoltos em mim, mas mesmo assim, eu
precisava estar mais perto. Então eu a abracei com força e a levantei, suas
pernas agora envoltas em torno da minha cintura.
O calor irradiava de seus quadris para minha virilha. Ela estava
balançando, girando, e eu pensei que iria perder o controle ali mesmo.
Meu Deus, parece que você tem doze anos, eu mesmo me castiguei.
Empurrei-a para o balcão e abri-lhe as pernas, entrando entre elas.
Então, comecei a sentir o que havia ali. Comecei pelos lábios dela,
deixando-a beijar meu dedo indicador, deixando-a levá-lo à boca. Ela
chupou, me olhando bem nos olhos. Algo sobre aquela inocência, e
aqueles lábios... caralho.
Segui minhas mãos para baixo, sobre seu pescoço e até seus seios.
Toquei seus mamilos através do tecido fino e ouvi um gemido escapar de
seus lábios.
— Isso parece... agradável, — sussurrou ela, e havia algo de tão
virtuoso na maneira como ela dizia. Como se ela estivesse genuinamente
surpresa.
Massageei seus seios mais intensamente e pus meu rosto para baixo e
chupei um mamilo através da camisa. Ela gemeu novamente, e eu estava
pronto para tomá-la logo ali.
Mas eu sabia que ela precisava de mais. Ela merecia mais, pensei, e eu
não tinha ideia de onde tinha vindo esse tipo de pensamento.
Enquanto eu chupava o outro mamilo dela, comecei a puxar a
camiseta dela para cima. Primeiro ela expôs a parte superior da coxa,
depois a calcinha, depois o estômago liso. Beijei sua barriga e tirei a
camiseta de seus seios, que depois também beijei.
Eu a puxei até o fim e observei como o cabelo comprido dela caía de
volta depois. E então olhei para ela, nua, exceto pela renda, e a urgência
ficou mais forte.
Ela estendeu a mão, tocando meu peito nu, e o contato me fez
estremecer. Foi só então que percebi que estava tão nu quanto ela.
Comigo apenas em minha cueca, ela teria sido capaz de dizer que eu
estava excitado o tempo todo.
E depois estávamos nos beijando novamente, e eu estava brincando
com a bainha da calcinha dela.
E então passei um dedo por cima dela e ouvi um gemido mais alto em
resposta. Esfreguei-me em círculos, cada vez mais rápido, até que seus
olhos se fecharam e ela estava ofegante.
— Oh... oh meu Deus... oh meu Deus... — ela gemeu, e todo o corpo
dela tremeu. Então seus olhos se abriram, e ela mordeu o lábio. — Eu
nunca me senti... assim antes.
— Você não? — eu perguntei, beijando o pescoço dela.
— Nada tão... intenso. — Isso me deixou ainda mais selvagem,
sabendo que eu fui o primeiro a lhe dar essa sensação. Depois senti a
mão dela sobre mim, subindo e descendo o meu comprimento.
Lutei para me controlar, mas vê-la, senti-la, tudo isso estava se
tornando demais.
Eu a levantei do balcão e a beijei profundamente enquanto me
agachei no chão, depois me sentei, ela estava se agachando.
Depois ela se inclinava e me beijava, e eu a agarrava, mas mesmo
assim não era suficiente.
Eu me tirei de minha cueca e deslizei sua calcinha para o lado, e então
eu estava lá dentro. Eu estava empurrando, e ela estava encontrando cada
empurrão com um movimento próprio, de alguma forma tomando o
atrito muito mais intenso.
Ela estava gemendo, e eu não conseguia parar de vê-la — a maneira
como seu corpo se mexia, como ela tocava seus próprios seios, seu
próprio quadril — eu queria que aquela visão durasse para sempre.
Ela voltou para mim, com as mãos segurando meu rosto enquanto
movia seus quadris para cima e para baixo, para cima e para baixo.
— Isso parece... tão bom, — disse ela, com sua voz rouca.
E alguns momentos depois, com seus movimentos se acelerando e
minha urgência conhecendo novas alturas, nós dois gritamos. Eu não
conseguia me lembrar da última vez que havia terminado assim.
O baque, o mesmo baque, fez com que meus olhos ficassem bem
abertos.
E eu estava de volta na minha cama, no meu quarto. Olhei à minha
volta, confuso. Então eu a vi ao meu lado.
A bartender. A do Hatchback, a que tem as covinhas. Ela estava de pé,
olhando para mim, com a mão no estômago.
Eu a empurrei para longe de mim, sabendo que se sua mão se
movesse mais longe ela sentiria mais do que ela esperava.
— O que é isso, — perguntou ela, sobre o som, mas agora o sotaque
dela me incomodava.
— Você pode ir verificar?
Ela encolheu os ombros e acenou com a cabeça, saindo da cama.
Mesmo em sua calcinha preta e sutiã, com sua figura inacreditável e sua
disposição de garota de república, eu não estava pensando em transar
com ela.
Ela abriu uma fresta na porta e chamou.
— Olá?
Ouvi os passos se aproximando. Depois a voz de Lucille.
— Desculpe, senhorita, estou fazendo pãezinhos.
— Que horas são, Lucille? — Eu gritei da cama.
— Dez e trinta, Sr. Xavier.
Eu suspirei enquanto a bartender fechava a porta e voltava para a
cama, subindo por cima de mim e espreitando para baixo.
— Estou pronta para mais diversão, — disse ela, mas meu foco não
poderia estar mais longe.
Capítulo 24
Expectativas malignas

Xavier

A bartender ainda estava de joelhos, olhando para mim em sua lingerie


quando ouvi o toque do elevador.
— Quem diabos é agora? — Eu resmunguei, sentando.
Ela colocou uma mão no meu peito.
— A empregada vai atender, não vai? — ela disse, seu sotaque piorou
minha dor de cabeça.
Eu ainda estava pensando no sonho que eu tinha tido, aquele em que
eu estava envolvido em uma cena de sexo íntima, apaixonada e
duradoura com minha esposa.
A esposa que eu odiava.
— ANGELA! XAVIER!
Merda. Essa era a voz do meu pai. Na sala. Fora do quarto onde eu
estava atualmente dividindo a cama com uma bartender quase nua,
minha esposa dormia em um quarto diferente.
Saltei da cama e mexi para vestir o par de jeans mais próximo que
pude encontrar.
— Você precisa ir, — eu disse a bartender, mal olhei para ela.
— Você está... você está falando sério?
Eu acenei com a cabeça.
— Agora.
— CRIANÇAS, É UM DIA AGRADÁVEL DEMAIS PARA VOCÊS
DORMIREM TANTO!
Ele ainda estava no foyer pelos sons. Joguei uma camiseta e encontrei
o vestido da bartender no chão, atirando-o para ela.
— Vai, vai.
Eu estava tentando pensar em uma maneira de levar Angela ao meu
quarto — apenas pelas aparências, é claro — quando vi o celular na
minha mesa-de-cabeceira acender.

Angela: Seu pai está aqui.

Xavier: Eu sei, eu tenho ouvidos.

Angela: Ele vai saber que dormimos


separados.

Angela: Ele não pode saber que...

Xavier: Eu sei.

Xavier: Estou tentando pensar.

Angela: Há uma garota com você que não


deveria estar aí.

Xavier: Eu tenho que escondê-la.


Xavier: Onde está meu pai?

Angela: Acho que junto ao elevador ainda.

Angela: Se ele for para a cozinha você pode


levá-la sorrateiramente para fora

Xavier: Mas como vou levá-la até lá.

Xavier: Precisamos fazer com que ele se concentre em algo.

Xavier: Além de nós.

Angela: Lucille está aqui.

Angela: Ela pode ajudar.

Xavier: Estou pensando.


Angela: Eu posso ouvi-lo andando.

Xavier: EU SEI.

Xavier: Ainda pensando.

Angela: Ele não pode ver a garota, Xavier.

Estava pensando em como responder a isso quando houve uma batida à


minha porta.
Foda-se.
— Um minuto, pai! — Eu gritei, rachando meu cérebro para
encontrar uma saída. Mas depois ouvi Lucille do outro lado.
— Sou eu! Eu venho com uma toalha! — Corri para a porta e abri
uma fresta, o suficiente para ver seu rosto e pegar a toalha.
— A Sra. Angela teve uma ideia. Se faça de doente. Como um cão. E
vá para o quarto dela. Eu tomo conta da menina.
Ela passou por mim quando disse isso, olhando diretamente para a
bartender tentando se fechar novamente no vestido da noite passada.
Eu não tinha outra solução, então acenei e peguei a toalha. Antes de
Lucille me deixar fechar a porta, ela sussurrou: — Aja naturalmente e seu
pai não vai perceber.
Eu balancei a cabeça. Aqui estava eu, de ressaca e recebendo
conselhos de minha empregada. Quem diria que este dia chegaria.
Eu fechei a porta e fui até o banheiro da suíte. Salpiquei água quente
no rosto e esfreguei meus olhos até ficarem vermelhos, e depois usei as
duas mãos para bagunçar meu cabelo. Dei algumas bofetadas no rosto,
com força, tornando minhas bochechas rosadas.
Depois deslizei para fora do jeans que tinha acabado de vestir e
encontrei um par de calças de moletom velhas no meu armário. Estiquei
o colarinho da minha camiseta até que ela parecesse abatida.
E eu dei uma olhada no espelho. Ótimo.
Voltei para o quarto. A bartender olhou para cima, chocada, cobrindo
seu rosto.
— O que aconteceu com você? — Essa era a resposta que eu estava
esperando. Agora eu convenceria meu pai e a menina a não se sentirem
tão chateados por serem expulsos.
— Estou doente, — eu disse, acompanhando sua bolsa até ela. — Eis o
que vai acontecer. Você vai precisar ser tão sorrateira quanto uma espiã...
— O quê? Por quê?
— Bem. Eu sou casado, — eu disse. — Mas você já sabia disso, então
poupe o drama.
Seus olhos se alargaram. Eu não gostava de ser cruel com meninas
que não o mereciam, mas ultimamente a linha que determinava quem
era estava indiscernível para mim.
Ela dormiu de boa vontade com um homem casado, então quão
inocente ela poderia ser?
— Vou correr para a sala de estar e Lucille vai colocá-la no elevador.
Mantenha sua cabeça baixa até estar na rua lá fora. Entendeu? Quer que
eu repita?
Ela parecia que ia chorar.
Quer ela fosse inocente ou não, eu não tinha tempo para lágrimas,
então peguei a mão dela na minha e a olhei bem nos olhos.
— Eu me diverti com você. Você é uma ótima garota. Agora eu preciso
que você me ajude. Você pode fazer isso?
Ela amoleceu, olhou para o chão e, em seguida, piscou os olhos para
mim. Ela estava definitivamente quente, então por que eu não senti
nada?
— Tá bom, — disse ela suavemente.
— Boa menina, — eu disse, e lhe dei um beijo na bochecha.
— Até a próxima vez. — E então eu amarrei a toalha molhada ao
redor do pescoço e abri a porta, deixando sair uma tosse intensa.
Angela

No segundo em que ouvi a tosse de Xavier, abri a porta do meu quarto.


Este teria que ser a performance de uma vida inteira.
Eu não queria fazer nada para ferir Brad, e se ele descobrisse a
verdade sobre nossa situação de vida, sobre seu filho trazer para casa
mulheres diferentes a cada noite, ele definitivamente ficaria entristecido.
Então eu corri para o salão.
— Xavier! Estou chegando! — Ele parecia terrível. Seu rosto estava
suado e vermelho, e eu nunca o havia visto antes com roupas tão
esfarrapadas. Ele continuava tossindo.
— Eu não — Ele parou para tossir — sei o que está acontecendo.
— Tudo bem, — eu disse, agarrando-o pelo braço e puxando-o para
mais perto do meu quarto. — Vai ficar tudo bem.
— Oh, querido, — ouvi Brad dizer por trás de nós enquanto nos
seguia até o meu quarto. Senti os olhos dele observando. — Posso fazer
alguma coisa?
— Tudo bem. Vou pegar o xarope para tosse... — Xavier soltou outra
tosse enorme, e eu o embalei em meus braços, esfregando seus braços. Eu
costumava cuidar de Lucas quando ele estava doente, então isso não era
novidade para mim.
Xavier não parecia ser Xavier. Parecia apenas um garoto que precisava
da minha ajuda.
Ele tossiu novamente.
— Xavier, vou só correr para o meu banheiro e pegar o...
— Besteira, — disse Brad. — Eu pego. Diga em qual gaveta está.
— Está no armário dos remédios! — Eu disse, e Xavier e eu fechamos
os olhos. Brad estava quase no meu banheiro quando vi Lucille correr da
cozinha para o quarto de Xavier.
Ela estava sem dúvida guiando a pobre garota para dentro do
elevador.
Ouvi os fracos sons de abertura e fechamento das portas do elevador
e, alguns segundos depois, Brad voltou com a garrafa em suas mãos.
— Bem aqui, — ele disse.
Eu não pude deixar de sorrir.
Todos nós nos mudamos para a sala, e depois da apresentação que
acabamos de fazer, estando perto de Xavier não nos sentimos tão hostis.
Ele continuava me dando olhares estranhos, olhares que demoravam,
mas eu apenas encolhi os ombros.
Talvez ele nunca tivesse sido cuidadoso por alguém que não fosse
pago pra isso — mesmo que ele estivesse apenas fingindo estar doente.
— A razão de eu ter vindo, — começou Brad, sentado em uma
poltrona de couro em frente a nós no sofá, — é para dar aos dois um
pouco de boas notícias. — Ele olhou de mim, ainda em meu pijama com
meu cabelo em rabo de cavalo, para seu filho de pele manchada.
— Vocês dois parecem que poderiam usar boas notícias. — Ele soltou
um risinho.
— Lamento que tenha vindo em uma manhã tão difícil, — eu disse.
— Xavier me pediu para dormir no quarto de hóspedes ontem à noite
para que eu não pegasse a gripe dele. — Xavier olhou para mim, como se
estivesse procurando algo em meu rosto. Então ele voltou para o pai dele.
— Não queria que ela ficasse doente por minha causa.
— Meus pombinhos, — Brad se acalmou. — Ok, o negócio é o
seguinte. Xavier, você sabe sobre a quarta-feira de gala.
Xavier acenou com a cabeça.
— Até lá já estarei melhor.
— Claro que estará! Angela, você também se juntará a nós.
A cabeça de Xavier levou um tiro.
— O quê? Pensei que era só você e eu na mesa.
— Era, — disse Brad. — Mas então Grant, você se lembra de Grant,
ele decidiu trazer sua esposa junto. E o resto dos meninos seguiram o
exemplo. Então agora é menos uma mesa de negócios e mais uma mesa
social. Então, Angela virá junto. Se não se importar, querida.
— Claro, — eu gaguejei. Um evento de gala?
— Maravilhoso. É esta quarta-feira. Xavier lhe dará os detalhes. Tenho
certeza de que ele está morrendo de vontade de exibi-la. — Brad ficou de
pé, batendo palmas uma vez.
— Vou embora agora, e deixo você voltar à sua recuperação.
Caminhei até ele e lhe beijei a bochecha.
— Obrigada por ter vindo, — eu disse.
— Você vai adorar. Paris, no inverno. Não há nada mais romântico.
O que ele acabou de dizer! Eu olhei para Xavier, mas sua cabeça estava
abaixada, olhando para o chão. Então voltei para Brad.
— Paris? — Eu sussurrei.
— Xavier não lhe disse? É lá que é o evento de gala, querida. — Ele
beijou minha outra bochecha e deixou Lucille acompanhá-lo até o
elevador. Quando as portas fecharam, olhei para Xavier, ainda em estado
de choque.
— Vamos a Paris?
— Por que você não disse não? — perguntou ele, imediatamente
depois de eu ter falado. Ele parecia bravo.
Eu estava tão confusa. Eu pensava que estávamos nos entendendo.
Tínhamos acabado de usar o trabalho em equipe para convencer Brad de
que estávamos realmente apaixonados, então eu estava pelo menos
esperando que fôssemos civilizados quando ele partiu.
Mas ele não tinha ido nem cinco segundos antes de Xavier começar a
gritar comigo, como se tivesse esquecido tudo o que eu tinha acabado de
fazer por ele. Este era o Xavier que eu estava mais acostumada a ver,
aquele que me deixava nervosa.
— Você queria que eu dissesse não?
— Por que eu gostaria que você dissesse sim? — gritou ele, de pé. —
Esta era para ser uma viagem de negócios. Para assinar um acordo muito
importante. E depois do negócio que você arruinou, você e seu amigo
artista, eu preciso que este seja perfeito.
Eu dei alguns passos para trás. Ele não estava fazendo nenhum
sentido. Eu não sabia como responder.
— Eu... sinto muito.
— Você está arrependida?
— A ideia não foi minha, — eu disse calmamente, olhando para o
chão. — Eu tenho coisas para fazer na cidade na quinta-feira. Tenho uma
entrevista para um trabalho. Agora eu não poderei ir a isso.
Mesmo que eu estivesse dando uma desculpa, era verdade. Eu tinha
uma entrevista. Era em uma startup tecnológica chamada Jumper.
Era uma empresa pequena, mas que vinha se destacando no mundo
da tecnologia. Quando eu os procurei, eles não tinham ouvido falar de
mim ou do meu chefe.
Ajudou que eu tivesse usado meu nome de solteira, é claro, mas
mesmo assim. Fiquei entusiasmada pela entrevista, pela oportunidade de
me tornar útil a uma empresa que estava fazendo grandes coisas.
Mas agora eu teria que cancelar para poder ajudar os Knight. Quanto
mais eu pensava sobre isso, mais frustrada ficava. Mais um exemplo de
que eu coloco minha vida de lado para que os Knight pudessem tirar de
mim o que precisavam.
E nenhum agradecimento em troca. Era como se todas as coisas que
eu tivesse feito por eles passassem despercebidas.
Pior do que passar despercebidas, ele gritava.
— Oh, pobre alma! Você não poderá ir a uma entrevista! Eu não
poderei conseguir uma parceria multimilionária de rebranding porque o
Graden odeia você! Porque ele sabe que você é uma oportunista! Por isso,
preciso deste acordo de Paris para compensar TODAS AS COISAS QUE
VOCÊ ESTÁ ARRUINANDO!
Eu senti as lágrimas chegando. Tentei apertar meus olhos para
segurá-las, mas não adiantava.
— Você tem a audácia de reclamar por ter sido convidada, — disse
Xavier, mudando de tom agora. — Você deveria estar muito grata.
Capítulo 25
Nas nuvens

Angela

Eu estava tendo um daqueles momentos musicais. Aqueles em que você


se sente de certa forma e tenta ouvir música que a fará sentir algo mais.
Era terça-feira de manhã, e eu tinha que me encontrar com Xavier no
aeroporto em uma hora.
Eu estava sentindo uma mistura de emoções: assustada, chateada,
frustrada.
Assustada, porque a ideia de estar em uma cidade estrangeira sozinha
com Xavier era uma ideia que eu nunca tinha tido que enfrentar antes.
Perturbada, porque desde que Brad tinha vindo no domingo, Xavier
não tinha nem mesmo olhado para mim, muito menos pedido desculpas.
Era como se ele estivesse me evitando ativamente.
Apesar de ter sido ele quem gritou comigo, que me assustou, foi como
se me ver fosse muito difícil para ele.
E frustrada porque eu ainda estava irritada, já que minha vida tinha
que esperar sempre que Brad ou Xavier precisavam de mim e que Xavier
nunca reconheceu que era difícil para mim também.
Mas debaixo de todas essas emoções, não pude deixar de me lembrar
que eu estava indo para Paris. Eu estava indo para a única cidade que
toda garotinha sonhava em visitar.
E eu tinha que ir.
Na verdade, a música estava ajudando a aumentar minha animação.
Eu estava dobrando as blusas em uma mala que Lucille trouxe para mim
e até me senti dando um pouco de brilho no refrão.
Eu havia contado ao papai sobre minha viagem pelo telefone ontem à
noite, mas não havia falado com mais ninguém. Meu pai parecia estar
com um som rouco e fraco, assim como quando eu o visitei na semana
passada.
Mas ele ainda era meu pai, continuava a contar piadas sobre eu comer
pernas de sapo.
— Se eu não ouvir você coaxar quando você voltar, ficarei
desapontado, — ele disse.
Eu queria ligar para Lucas e dizer-lhe, mas as coisas ainda estavam
estranhas.
Tínhamos conversado brevemente sobre nosso pai, prometendo
marcar uma hora com Danny e o Dr. Kaller para rever todas as opções,
mas o Dr. Kaller tinha recomendado manter o pai nos testes até o final
do mês. Portanto, não tínhamos necessidade de nos vermos.
Decidi que ligaria para ele assim que voltasse a Nova Iorque. Ele era
meu melhor amigo, meu irmão, e eu sentia falta dele. Enquanto ele
estava feliz, eu estava feliz.
Em, por outro lado, tinha me ligado muito. Tínhamos falado algumas
vezes esta semana, mas toda conversa tinha sido curta. Eu não fiz
nenhuma pergunta urgente, nem ela deu respostas detalhadas.
Assim, fingimos que tudo estava normal e que nada tinha acontecido.
Mas por alguma razão, embora tenhamos falado no domingo à noite, eu
não lhe havia contado sobre Paris.
Percebi que eu queria que alguém além do meu pai ficasse
entusiasmado por mim, para compartilhar minha pequena animação.
Então eu peguei meu celular e enviei uma mensagem de texto para ela.

Angela: Tenho novidades.

Angela: Grandes novidades.

Em:?????
Em: Manda

Angela: Começa com um 'P'...

Em: Xavier vai ser PAPAI?!?

Angela: MDS

Angela: NÃO

Angela:!!!!!!!

Em: Então eu preciso de uma dica melhor

Em: Paris?

Em: Oh, meu DEUS!

Angela: A... R... I... S...


Em: PARIS!?!?!?!

Angela: Sim!

Angela: Estou saindo em uma hora.

Em: Angie

Em: Costumávamos sonhar com Paris

Angela: Eu sei!

Angela: Estou entusiasmada

Em: Como estão as coisas com o Xavier?

Angela: Estão... ok

Angela: Com seus altos e baixos.


Em: Ao menos você terá Paris.

Cheguei ao aeroporto e encontrei Marco esperando por mim junto às


portas do Terminal 3.
— Pronta?, — perguntou ele, tirando minha mala rolante de mim. Eu
acenei, e começamos a caminhar para um elevador junto à parede lateral.
O elevador era tripulado por um ascensorista com um terno preto,
usando óculos escuros, mesmo estando nós dentro do prédio. O homem
apenas acenou com a cabeça para Marco e apertou o botão para baixo.
Marco e eu descemos com o elevador, e depois as portas se abriram.
Andamos pelo chão até chegarmos a umas portas, e Marco manteve
uma aberta para mim enquanto andávamos do lado de fora. Estávamos
em uma pista de decolagem, isso estava claro.
Vi um Range Rover estacionado e, a alguns metros à sua frente, um
jato. Eu não podia acreditar. Ninguém tinha me dito que estávamos
pegando um jato. Marco andou à minha frente, e eu corri para
acompanhar.
— Isso é... isso é só para nós?
Ele olhou para mim e sorriu. Xavier já estava subindo as escadas para
o jato quando o alcançamos. Eu olhei para Marco, e ele me pediu que o
seguisse. Então eu comecei a subir.
Fiquei sem palavras. O interior do jato estava imaculado, como nada
que eu já tivesse visto antes. A última vez que estive em um avião eu
tinha sete anos de idade.
Minha mãe e meu pai haviam me levado, Lucas e Danny para a
Flórida para ver nossos avós. Os pais de minha mãe moravam lá, e
tínhamos passado um fim de semana com eles.
Lembro-me do voo ser aterrador, com muita turbulência. Eu não
tinha voltado a bordo de um avião desde então. Mas isso, isso não parecia
um avião. Parecia um palácio futurista, com assentos de couro
caramelizado e cobertores em cima.
Até mesmo as comissárias de bordo pareciam celebridades. Olhei em
volta e vi Brad em uma cadeira, uma máscara de olhos sobre seu rosto.
— Eu não estou dormindo, — ele disse, como se me sentisse olhando.
Ele tirou um canto da máscara dos olhos. — Oi, querida.
— Olá! — Eu disse.
— Xavier foi para o quarto para dormir um pouco. Você pode se
juntar a ele, se quiser. — Eu estremeci com a ideia de dividir uma cama
com Xavier no meio do céu... Eu nem conseguia pensar nisso.
— Tudo bem, eu fico aqui fora com você.
— Escolha qualquer lugar que quiser. — Sentei-me ao lado de uma
janela e apertei bem o cinto de segurança. Eu não podia acreditar que,
em poucas horas, eu estaria em Paris.
Xavier

Aterrissamos em Paris e entramos no Mercedes G-Wagon que estava


esperando no asfalto, acelerando diretamente para o hotel. Era o meio da
noite aqui, e eu estava pronto para chegar à cidade.
Não me importava que eu deveria mostrar a cara amanhã de manhã.
Paris não dormiu, assim como eu também não. Quando paramos, entrei
no hotel sem esperar pela Angela.
Meu pai levou um carro separado para o hotel, então eu não precisei
me preocupar com suas perguntas. O que foi bom porque eu não
suportava mais estar no mesmo espaço que ela.
Depois daquela noite, daquele sonho, eu tinha tido mais dois sonhos
como aquele. Era como se ela não deixasse meu subconsciente em paz. E
eu também não conseguia me afastar dela quando estava acordado.
Eu a queria fora da minha cabeça e fora da minha vida. Eu sabia que
não gostava da garota. Eu sabia que ela era uma pequena oportunista que
só se importava com uma coisa — usando o que os Knight tinham a seu
favor.
Então eu não sabia porque uma parte de mim estava tão
visceralmente cativada por ela.
Eu sacudi esses pensamentos e peguei a chave do quarto do atendente
da recepção.
— Obrigado, — eu disse, virei e me dirigi para o elevador. Entrei na
suíte e estava colocando minhas coisas no quarto principal quando a
porta se abriu.
Era Angela, com os olhos mais fechados do que nunca.
— Oh. Estamos no mesmo quarto.
— Claro que estamos, — eu soltei. — Meu pai fez os preparativos.
— Certo, — disse ela. — Desculpe.
— Este é meu, — eu disse, e depois fechei a porta para não ter que vê-
la mais. Ouvi-a empurrando a cabeça para os outros quartos, tentando
encontrar outro.
Eu tirei a roupa que havia usado no voo e vesti uma roupa diferente e
depois voltei para a área principal da suíte.
— Eu vou sair. O evento de gala é amanhã às sete e meia.
A porta dela se abriu e ela espreitou para fora.
— Entendi, — disse ela suavemente.
Fizemos contato visual por um momento e depois abri a porta da
frente e caminhei pelo corredor.
Angela

Eu estava em meu quarto na suíte do hotel, olhando pela janela. Era a


manhã seguinte, e me senti refrescada quando acordei. Eu nem tinha
ouvido Xavier chegar em casa depois de uma festa. E agora, eu estava
olhando para a cidade que estava diante de mim.
Claro, era triste que eu estivesse na cidade do romance sozinha. Mas
eu não queria ficar pensando nisso.

Brad: Estou na sua porta.

Brad: Abra, por favor.


Eu aconcheguei meus cabelos ondulados atrás das orelhas e corri para
fora do meu quarto até a porta da frente da suíte. Abri e lá estava Brad,
parecendo muito europeu em um blazer azul.
Ele beijou minhas duas bochechas e depois me entregou um
envelope.
— Querida, bem-vinda a Paris, — ele disse, pronunciando Paris à
maneira francesa.
— É incrível, — eu soltei.
— A primeira vez sempre é. — Ele piscou o olho. — Pegue isso. Vá
para o endereço no cartão. — Eu abri o envelope e encontrei um cartão
de visita em branco, com um endereço rabiscado no verso.
— O que é isso?
— Um mundo totalmente novo, — ele disse, apertando meu braço. —
Encontre um vestido para você. Para hoje à noite, — acrescentou ele,
depois se virou.
Eu o vi desaparecer pelo corredor e não pude deixar de me sentir
entusiasmada. Brad sempre me fez sentir como uma princesa, mesmo
quando seu filho me fazia sentir como um sapo.
Dei mais uma olhada no quarto do Xavier, pensando se ele estava lá
dentro.
E então saí para o corredor, com a bolsa no ombro e o cartão de visita
na mão. Ia encontrar um vestido.
Quando cheguei ao endereço, vi que se tratava de uma loja de roupas
especializada. Os mais sofisticados e intrincados vestidos que eu já tinha
visto.
Quando me apresentei à senhora chique atrás do balcão, a que tinha
cabelos grisalhos e com batom vermelho brilhante, ela me olhou de cima
a baixo. Depois ela deixou rolar um sorriso lento pelo rosto.
— Bom, — disse ela. Ela começou a puxar os vestidos para baixo e
colocá-los no trocador, que era mais como uma suíte.
Ela me trouxe uma taça de champanhe para beber enquanto
trabalhava, e quando tinha o número de vestidos com os quais estava
feliz, ela tirou a taça das minhas mãos.
— Você. Vá, — disse ela, apontando para o trocador. Ela me entregou
o primeiro vestido, uma obra-prima sem alças amarelo pálido que era
elegante e original ao mesmo tempo.
Ela me ajudou a colocá-lo, e quando estávamos olhando para ele no
espelho, ela arranhou o nariz e deu um abanão na cabeça.
— Próximo.
E esse foi o processo. Ela me ajudava a vestir um vestido, a coçar o
nariz, a abanar a cabeça e a voltar para a prancheta de desenho. Até que
experimentei o preto. Era de veludo preto, o que soava estranho, mas ao
vê-lo... uau.
Foi espetacular. Apertou meu corpo, mas ainda estava confortável. E
quando a senhora o viu, sua mão foi até o coração e ela arfou. Eu sabia
que era esse.
Ela o embalou e o levou para a frente.
— Tenho o cartão de Monsieur Knight no arquivo, — disse ela e me
deu um par de stilettos pretos em uma bolsa separada. — Você usa isso.
Eu acenei com a cabeça.
— Certo. Obrigada.
A senhora estava apenas imprimindo o recibo quando outra
vendedora, mais jovem, com um cabelo loiro e olhos verdes brilhantes,
veio até o registro.
Ela disse algo à senhora em francês, o que eu não entendi. Mas então
ouvi a senhora responder, com a palavra "Knight" na frase.
A menina loira disparou seus olhos de volta para mim, me olhando de
cima a baixo de uma forma que me fez sentir violada. Então ela riu e se
voltou para a senhora que me ajudou.
— Não. — Ela riu novamente, a senhora bateu em seu braço, e então
a garota foi embora. Eu não sabia o que tinha acabado de acontecer, mas
a endorfina deixou meu corpo tão acelerado quanto chegou.
Eu peguei a sacola de roupa e de sapatos da senhora.
— Obrigada, — eu disse, com meus olhos no chão enquanto eu saía
correndo da loja. Eles provavelmente estavam falando sobre como o
vestido não deveria ser usado por uma pessoa como eu.
Como se não enganasse ninguém, no evento de gala, em Paris, ou em
qualquer lugar. Todos podiam ver que eu não pertencia a este lugar.
Capítulo 26
Atrasado para o riso

Angela

Angela: Estamos indo juntos?

Angela: Para o evento de gala?

Angela: Xavier

Angela: Olá?

A suíte do hotel estava vazia quando voltei, e Xavier não estava


respondendo às minhas mensagens. Eu me preparei em meu quarto,
sozinha, pensando que quando eu terminasse, Xavier já estaria de volta
de onde quer que estivesse.
Eu sabia que ele tinha amigos em Paris, que ele tinha negócios a fazer,
mas não esperava que ele me abandonasse completamente no segundo
em que chegássemos aqui.
Vamos, Angela, eu mesma me repreendi. É claro que Xavier Knight a
abandonou.
Já estava com o vestido agora, e eu me olhava no espelho. Mesmo
depois do banho quente que tomei, ainda não me sentia como se o tecido
merecesse me cobrir.
Fechei os olhos e tentei me convencer a sentir novamente os
sentimentos que havia sentido da primeira vez que me vi usando o
vestido no espelho. Na loja, no trocador gigante, com a vendedora chique
ofegando em aprovação.
Naquele instante, eu me sentia digna.
Puxei meus cabelos na frente de meus ombros, levando minha
ondulação naturalmente macia até logo abaixo da linha do pescoço do
vestido. Apliquei algumas pinceladas de rímel e coloquei um pouco de
bálsamo labial para acrescentar um pouco de umidade.
Estavam secos desde o voo. Depois verifiquei o relógio.
Eu estava ficando sem tempo para esperar que Xavier voltasse para a
suíte. O evento de gala era lá embaixo, no salão de baile, mas eu tinha
que tomar uma decisão.
Eu poderia esperar que ele voltasse, e possivelmente ser castigado por
Brad por estar atrasado, ou poderia descer a tempo e ser castigada por
Xavier por não esperar por ele. Até eu sabia que maridos e esposas,
inclusive aqueles que não estavam exatamente apaixonados, deveriam
entrar juntos nesses eventos.
Ponderei minhas opções. Eu tinha sido castigada por Xavier quase
todos os dias desde que nos casamos. Embora não fosse a coisa mais
agradável de suportar, muitas vezes terminando comigo em lágrimas,
não achei que fosse tão doloroso quanto o desapontamento de Brad.
Brad sempre foi gentil comigo, como se acreditasse em mim, e eu não
queria que isso desaparecesse. Eu queria que ele continuasse a ter
orgulho de mim como nora.
Então peguei minha bolsa, endireitei minha aliança e saí da suíte do
hotel às sete e vinte e seis da noite.
Assim que as portas se abriram, vi um homem usando um terno e um
fone de ouvido sinalizando para eu atravessar o conjunto de portas à
minha direita. Virei minha cabeça, conseguindo ver mais três homens de
terno com fones de ouvido, um na frente de cada um dos elevadores.
Este vai ser um espetáculo e tanto, pensei eu.
— Mademoiselle?, — o homem designado para o meu elevador disse
impacientemente. Sua mão continuou apontando para as portas atrás
dele.
— Desculpe, — eu disse, andando o mais rápido que pude nos saltos
de dez centímetros que a vendedora tinha me dado. Meus pés já estavam
apertados, mas consegui chegar inteira até as portas. E então as empurrei
para abrir.
Por dentro, parecia um casamento real. O salão de baile era enorme.
Tentei perceber onde terminava, mas parecia o horizonte. Cada vez que
eu pensava entender onde estava em relação a ele, o final parecia ficar
mais distante.
Para onde quer que eu olhasse havia lustres dourados, peças centrais
douradas, joias de ouro.
Havia um tapete dourado à minha esquerda e um grupo de pessoas
lindas em roupas inimaginavelmente bonitas esperando sua vez de
descer por ele.
Em frente ao tapete, havia uma fila de fotógrafos, suas câmeras
piscando com a pressa de touros atacando um toureiro.
Outro homem com um fone acenava para eu entrar. Olhei em volta
freneticamente. A ideia de ser fotografada sozinha, com todos os olhos e
lentes dos fotógrafos sobre mim, era aterrorizante.
E então eu o vi.
Sempre em frente, falando com um bando de mulheres
impossivelmente magras. Ele estava usando suas mãos para fazer grandes
gestos, parecendo tão animado como sempre. Daqui eu podia ver o
sorriso em seu rosto. Eu não podia acreditar.
Ele tinha vindo para o evento de gala sem mim.
O homem com o fone de ouvido diante de mim se virou para ver o
que eu estava olhando, e não deve ter tido problemas para perceber que
era Xavier.
— Você quer que eu vá buscar seu marido para que vocês possam tirar
uma foto juntos, Madame Knight?, — perguntou ele, com um sotaque
francês forte.
— Uh... isso seria... ótimo, — eu disse, sentindo minhas bochechas
ficarem vermelhas sob o olhar daqueles ao meu redor. Então o homem
saiu correndo para trazer Xavier até mim, e eu esperei as palavras
inflamadas que eu sabia que ele diria quando chegasse.
Aguente firme, eu me instruí. Era apenas uma noite. E foi para Brad.
Eu vi que o homem tinha chegado a Xavier e estava apontando para
mim. Eu desviei meus olhos quando eles começaram a caminhar na
minha direção e, sem querer, olharam para um homem de meia-idade,
baixo e robusto, vestindo uma gola rolê preta debaixo de seu terno
trespassado.
Senti os cabelos em meus braços se levantarem por uma razão que
não pude nomear. Talvez tenha sido a intensidade com que ele olhou
para mim.
Voltei para a frente da sala, a tempo de ver Xavier dar os últimos
passos até mim.
— Oi, querida, — ele disse, alto o suficiente para que aqueles ao meu
redor pudessem ouvir. Ele beijou ambas as minhas bochechas. — Você
está linda.
— Obrigada, — eu disse. Embora parte de mim soubesse que era só
para disfarçar, as palavras que saíram de sua boca ajudaram a elevar a
minha confiança. Era quase nossa vez de caminhar no tapete, e a senhora
encarregada de organizar todos saudou Xavier pelo nome.
— Bem-vindo de volta, monsieur, — disse ela, ignorando-me
completamente. Eles trocaram algumas palavras, e então ela o dirigiu
para o centro do tapete. Ele me olhou de volta, segurando sua mão com
expectativa.
Eu nunca tinha ficado tão feliz em pegar a mão do meu marido. Ele
olhou diretamente para as câmeras e deu seu rosto de sempre: meio
sorriso com uma mandíbula fixa, olhos levemente esguios.
Depois de um segundo de observação do que ele estava fazendo,
tentei sorrir o melhor que pude. Eu não queria exagerar, mas também
não queria parecer que não estava me divertindo. Por isso sorri
genuinamente, com a boca fechada.
Depois do que pareceu uma vida inteira, Xavier me tirou do tapete.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, um casal mais velho nos
parou, nos cumprimentando.
— Xavier! Ela é adorável, — exclamou a senhora, me medindo.
— Obrigada, — eu disse, com olhos no chão. Eu sentia que ia ter uma
overdose de atenção.
— Você se saiu bem, filho, — disse o homem, batendo no ombro de
Xavier.
— Eu tento, Grant. Você sabe disso. — O casal riu.
— Pensamos que você estaria em nossa mesa? — perguntou a mulher.
— Eu também pensava assim, mas meu pai teve uma reorganização
de última hora. Parece que queria todas as crianças na mesa das crianças.
— Nesse caso, é melhor você me guardar uma dança, Xavier, — disse
a mulher enquanto afastava seu marido.
— Vou reservar três pra você, — respondeu ele, piscando. Ele estava
em seu habitat.
— Vamos para a mesa, — ele me disse, decolando na direção das
mesas redondas que cobriam a maior parte do espaço.
Ao nos aproximarmos daquela mesa em que muitas das meninas com
quem o vi falar antes estavam sentadas, senti as palmas das minhas mãos
suarem. Essas meninas pareciam modelos, como o tipo de mulheres que
iam ao Pilates e namoravam celebridades.
O tipo de mulher que não ficaria deslocada ao lado de Xavier em um
tapete dourado.
Todas elas se viraram quando chegamos à mesa, e Xavier na verdade
levou um tempo para me apresentar.
— Senhoras, — começou ele, — esta é Angela. Minha esposa.
As mulheres olharam de Xavier até mim. Eu mantive minha
respiração — seus olhos cobriram cada centímetro de mim enquanto eu
esperava — e então, finalmente, aquela sentada mais próxima de onde
estávamos, começou a bater palmas.
Calma. E então as outras mulheres, todas elas se juntaram a nós.
Até que todas as quatro, com seus vestidos de grande comprimento,
estavam aplaudindo. Eu estava confusa.
Estavam me aprovando? Ou estavam zombando de mim?
Esta era uma estranha saudação de costume na França?
Mas então a líder falou.
— Ela é belle, — ela zombou, apesar de eu achar que sabia que a belle
era uma coisa boa. Como linda. Xavier sorriu, como se estivesse na
brincadeira, e puxou uma cadeira para fora para sentar.
Olhei para ele por algum tipo de explicação, mas quando ele sentiu
meu olhar, voltou-se para mim e disse:
— Venha, sente-se. — Então eu puxei o assento ao lado dele e sentei-
me.
As mulheres tinham começado a falar entre si novamente, a mais
próxima de Xavier puxando-o para a conversa, e eu novamente fiquei do
lado de fora. Um garçom apareceu atrás de mim e disse algo em francês
que eu não entendia.
Eu não queria ser objeto de mais atenção, por isso acenei com a
cabeça para ele. Ele repetiu as mesmas palavras novamente, e eu abri a
boca, mas nada saiu.
— Ela terá o Grigio, — a mulher ao lado de Xavier falou ao garçom.
Fui humilhada, me chutando por não ter apenas pedido que ele
falasse inglês. Todos falam inglês. O servidor acenou com a cabeça e
caminhou até o balde de gelo que segurava duas garrafas, trazendo uma e
servindo-me um copo.
Eu tomei um gole, meus nervos estavam inquietos.
— Calma, senhora, — disse a líder em voz alta do outro lado da mesa.
— Este fica nervoso quando sua mulher fica bêbada. — Ela piscou o olho,
olhando para Xavier.
Senti minhas bochechas queimarem pela milionésima vez. Será que
ela estava insinuando que ela e Xavier tinham...?
— Não seja ruim, Darla, — respondeu Xavier, chutando uma perna
sobre a outra e inclinando-se para trás em sua cadeira.
— Por quê? É assim que você gosta de mim, não? — Ela piscou o olho
de novo. As mulheres todas riram. Eu não podia acreditar nela, nem
nelas. Eu estava sentada aqui do lado. Ele era meu marido.
— Com licença, — eu disse calmamente, empurrando minha cadeira
para trás e deixando a mesa. Eu precisava de algum espaço para respirar.
Havia um bar junto à parede, e estava bem vazio. Eu passei por cima e
pedi um copo de água com gás. O barman o trouxe quase imediatamente,
mas antes que eu pudesse agradecê-lo, senti uma mão no ombro.
— Essa não é uma bebida forte o suficiente para uma senhora tão
bonita, — disse o homem de antes, o de gola alta, com um sotaque
francês forte.
Olhei para sua mão, ainda descansando em cima do meu ombro nu.
— Tudo bem, — eu respondi. Agarrei minha bebida para me afastar,
mas sua mão apertou minha mão.
— Não posso convencê-la a tomar uma bebida comigo...
— Talvez mais tarde, — eu disse, encolhendo os ombros. Eu não
queria ser rude, mas havia algo nele que fazia meus sentidos ficarem em
guarda. Peguei meu copo e caminhei ao redor da circunferência do salão
de baile, absorvendo durante todo o tempo todos os detalhes que tinham
sido arranjados.
Quando voltei para a mesa, já havia cestas de pão e manteiga. Tomei
meu lugar, as mulheres e Xavier ainda estavam de conversa.
Deixe-os falar. Eu teria um pedaço de pão, pensei, e peguei a cesta.
Ao deixar cair um pãozinho fresco em meu prato e espalhar um
pouco de manteiga sobre ele, fiquei tão preocupada com o cheiro bom
que não percebi que a conversa ao meu redor havia parado.
Eu trouxe um grande pedaço de pão para a minha boca e mordi —
estava delicioso — mas depois ouvi a mulher mais próxima de Xavier
dizer:
— Ela come pão?
Eu engoli, olhando para as mulheres que me olhavam com
repugnância. Nenhuma delas estava comendo. Nem mesmo Xavier
estava.
— Sua esposa, — começou a líder, olhando diretamente para meu
marido. — Ela estará gorda antes que você perceba.
— A gordura é melhor que ser brega, — outra se intrometeu.
— Pelo menos quando você é brega, você não está roubando o
dinheiro de outro.
Meus ouvidos começaram a zumbir. Sangue correu para o meu rosto.
Eles estavam falando de mim.
E assim abertamente, sem vergonha alguma. Os insultos
continuavam vindo, cada um pior do que o último, e Xavier apenas
sentado ali, um sorriso em seu rosto.
Sempre pensei que meu marido seria um homem que me defenderia,
que me protegeria e que se asseguraria que eu estivesse longe do perigo.
Mas em vez disso, meu marido apenas tomou outro gole de seu vinho
gelado e riu junto com as mulheres que não comeram pão.
Capítulo 27
Sob Ataque

Angela

Era um borrão. Eles estavam rindo, todos eles, e eu me sentia como se


estivesse em um palco com um holofote gigante sobre mim, com o
público capaz de ver meus pontos mais fracos, de apontar minhas
vulnerabilidades, sem muito esforço.
Eu nunca havia sido objeto de tal intimidação antes. Não que eu
tivesse sido popular no colegial — nem de longe — mas nunca fui aquela
em quem as crianças legais concentravam sua atenção.
Eu era quieta e desaparecia facilmente, então fazer troça de mim não
teria sido muito divertido.
Mas aqui, em um lugar como este? Eu fiquei sem chão. Eu sabia que
neste vestido, com esta multidão, eu parecia que estava tentando
desesperadamente me encaixar. E eu tinha me casado com Xavier
Knight, que era a pièce de resistance da elite.
Portanto, eu era um alvo fácil. Mas mesmo assim, eu não podia
acreditar que eles me tratavam assim. Estávamos fora do colegial. Eles
não deveria ter previsto isso?
Eu estava no banheiro, no banco para deficientes. Normalmente eu
nunca ficaria ali porque isso não era justo para as mulheres em cadeira de
rodas que realmente precisavam, mas era uma emergência.
As lágrimas tinham começado a vir quando eu estava correndo o mais
rápido que meus calcanhares podiam me carregar para fora do salão, e a
única coisa em que eu podia pensar era que eu precisava de um lugar
seguro para me esconder.
O banheiro para deficientes era o único aberto, portanto era minha
única opção. Eu não podia ter mais nenhum dos participantes do evento
tirando sarro de mim, então saltei para dentro e tranquei a porta o mais
rápido que pude.

Angela: Em

Angela: Está aí?

Em: Sim, na loja.

Em: Apenas ajudando um cliente, vc está bem?

Angela: Sim...

Angela: Eu estou bem

Eu não sabia porque não disse a verdade a Em, que eu era o motivo de
riso de toda a cidade. Que eu obviamente não pertencia a esse mundo,
como eu vinha dizendo o tempo todo.
Que meu próprio marido teria derramado sangue de porco sobre
mim se isso fizesse parte do plano que as meninas tinham conspirado.
Mas então percebi que era porque nunca tinha sido humilhada desta
maneira antes. Nunca tinha ficado tão envergonhada e constrangida, ao
ponto de falar se tornar uma dificuldade tão grande.
Pensei que minha bússola moral, e minha adesão a segui-la, garantiria
que eu pudesse sempre ficar de pé e ter orgulho de minhas ações. Mas
aqui estava eu, em um banheiro para deficientes, soluçando porque tinha
comido um pouco de pão.
Tirei um lenço de papel do rolo e sequei minhas bochechas. Estava
cansada de me sentir mal comigo mesma. E parecia que o tempo todo eu
tinha conhecido os Knight, que era tudo o que eu tinha feito.
Eu assoei meu nariz com o papel higiênico e decidi que era o
suficiente.
Chega de sentir pena de mim mesma.
Acabei com esse coitadismo.
Eu estava aqui por Brad, e era apenas uma noite. Consegui usar um
vestido fabuloso e estar rodeada de ouro em todos os lugares que olhava.
Então eu empurrava a humilhação para o lado e eu coloquei um
sorriso no meu rosto, e talvez se eu tentasse o suficiente, eu pudesse me
enganar e me divertir um pouco.
Eu reapliquei meu bálsamo labial, e depois saí do banheiro. O
banheiro estava cheio quando entrei, mas agora estava vazio. Talvez isso
fosse um sinal de que ninguém mais se meteria comigo.
Caminhei até o espelho e, colocando minhas mãos sobre o mármore
frio do balcão, me olhei nos olhos.
— Você é Angela Carson. — Eu balancei a cabeça. Eu teria que ser real
comigo mesmo.
Eu comecei de novo.
— Você é Angela Knight, — eu disse. — E você vai superar isso.
Eu o disse com uma intensidade tão calma que eu,
surpreendentemente, acreditei nas palavras. Certifiquei-me de que não
havia rímel sob meus olhos, e depois saí do banheiro.
Brad, de smoking, saiu do banheiro dos homens quando eu emergi.
Eu o vi primeiro.
— Olá! — exclamei, e ele me viu, um enorme sorriso crescendo em
seu rosto.
— Angela, — declarou ele, me pegando pela mão e me girando. —
Você é simplesmente arrebatadora.
— Obrigada, — eu disse, corando novamente. Mas, desta vez, por
uma boa razão.
— Não, obrigado. Por ter vindo. Eu sei que Xavier está agradecido por
você estar aqui.
Mordi a língua antes de poder contar-lhe qualquer história sobre
meus companheiros de mesa.
— Claro, — eu disse em seu lugar. — Eu conheci algumas de suas
amigas.
— Oh, as senhoras? Sim, ele as conhece desde a escola preparatória.
As melhores da França. Venha, venha, eu a acompanho de volta à mesa.
Meu estômago se espreitava, mas eu ergui a cabeça e aceitei o
cotovelo de Brad enquanto andávamos através das mesas. Quando
chegamos à minha, Brad limpou sua garganta.
Havia um refrão de "Olá! Brad!" e "Prazer em vê-lo"!
E depois de inclinar-se sobre cada mulher e ter tido uma breve
conversa com elas, Brad deu tapinhas nas costas de Xavier, beijou sua
mão e acenou, e então ele saiu para conversar com outro participante. As
mulheres voltaram sua atenção para mim.
— Para onde você foi? — perguntou a líder.
A mulher ao lado dela bateu algumas vezes na narina e depois
levantou a sobrancelha para mim, como se ela estivesse implicando algo
que eu não entendia.
— Uma drogada, também? — perguntou-lhe a mulher ao lado de
Xavier.
— Ah, sim, — respondeu a líder. — Isso faz sentido. Ela usa o dinheiro
para as drogas. Classique, não?
Tudo o que eu tinha dito a mim mesma no banheiro foi embora. Eu
não podia mais estar nesta mesa, nem por mais um segundo.
Então eu peguei minha bolsa na parte de trás da cadeira e fui embora,
ouvindo as mulheres e o riso de Xavier atrás de mim. Eu não sabia para
onde estava indo, mas sabia que precisava sair de lá.
O jantar ainda nem tinha sido servido, mas era demais. O vestido
apertado e estes malditos sapatos estavam dificultando o movimento
para além de um ritmo de caminhada, mas eu estava determinada a sair
da sala o mais rápido que podia.
Finalmente entrei pelas portas e estava de volta ao elevador, mas
parei, vendo Brad falando com um dos homens de fones em frente aos
elevadores.
Ele estava tendo uma conversa animada, e eu não queria que ele me
visse partir.
Voltei para as portas que abriam a gala. Não pude voltar para dentro,
de jeito nenhum. Olhei em volta, tentando manter meus movimentos
lentos e sutis para que Brad não me visse no canto do olho dele.
Eu vi uma porta. Não sabia aonde ela levava, mas neste momento, não
me importava. Abri-a o mais silenciosamente que pude e a fechei da
mesma maneira.
Agora eu estava em um corredor, e o segui até outra porta. Empurrei-
a e entrei no que parecia ser outro salão de baile, só que este era menor e
não decorado.
Havia uma dispersão de mesas e cadeiras, um pequeno palco e um
bar. Estava escuro, e estava vazio. E uma sala vazia era tudo o que eu
realmente precisava.
Sentei-me no chão, contra a parede, e deixei cair as lágrimas. Desta
vez, não tentei detê-las.
Poucos momentos depois, a porta do salão de baile se abriu, e eu
vacilei enquanto a luz entrava. Quando a porta se fechou e meus olhos se
ajustaram à penumbra, eu percebi que era o homem da gola rolê.
— Olá, — ele disse, aproximando-se de mim. — Eu o vi sair, e você
parece tão... tão triste, que pensei em vir para ter certeza de que você está
bem.
Ele se ajoelhou na minha frente, e acho que viu as lágrimas.
— Oh não! Oh não, linda senhora, por que as lágrimas?
— Eu estou bem, — eu disse, farejando. Eu tentei me levantar, mas ele
colocou suas mãos sobre meus joelhos e me empurrou de volta para o
chão.
— Você não está em condições de sair, mademoiselle, — começou ele.
— Diga-me. Diga a Jacques o que está errado.
— É que... não estou me sentindo muito bem, — eu disse, notando
que suas mãos ainda estavam sobre meus joelhos.
Seus polegares estavam se movendo em círculos agora, subindo
lentamente pelas minhas pernas. Tentei novamente me levantar, mas
suas mãos eram muito pesadas, empurrando-me para baixo.
— Eu estou bem. Vou procurar meu marido agora.
— Oh, seu marido? É por isso que você não quer tomar a bebida
comigo?
— O quê? Oh... não... eu só... eu não estava com muita sede.
— Não minta para Jacques, — ele disse, me encarando com a mesma
intensidade de antes.
Eu estava mais do que desconfortável agora. Seus olhos escuros
pareciam assombrosos, e esta sala estava tão vazia. Eu senti suas mãos
alcançarem minhas coxas.
— Por favor... por favor, pare, — eu disse, tentando tirar as mãos dele.
— Parar o quê?, — ele disse, e lambeu os lábios.
— Você é tão magnífica. Você irradia. Desde o momento em que te vi,
hmmm, — ele disse, e sem nenhum aviso prévio, ele se espreitou para
frente, pressionando seu corpo contra o meu.
Os lábios dele estavam no meu pescoço, e eu estava gritando com a
minha cabeça contra a parede, longe dele.
— Pare! Pare! — Eu gritei, mas não adiantava.
Todo o peso dele estava em cima de mim, e então sua mão veio ao
meu rosto para puxá-lo de volta para baixo para que seus lábios
pudessem encontrar os meus. Eu me senti como se estivesse debaixo
d'água, me afogando, vendo a cena em câmera lenta em algum lugar fora
do meu próprio corpo.
— MMMMMM, — eu tentei gritar, mas era como se seus lábios
estivessem colados aos meus.
Eu estava procurando algo no chão ao redor, qualquer coisa que eu
pudesse usar para tirá-lo de cima de mim. Foi quando eu me lembrei dos
meus sapatos.
Estiquei o máximo que pude, e ele apenas gemeu em resposta, à
medida que mais do meu corpo foi sendo pressionado contra ele. Eu
estava quase alcançando, então consegui, meus dedos se fecharam ao
redor do salto e o tirei do meu pé.
Ele estava se mexendo e gemendo, e todas as células do meu corpo
gritavam de agonia.
Levantei o sapato e, com toda a força que pude reunir, enfiei o salto
na parte de trás de seu pescoço.
Seus olhos se abriram e ele soltou um — AAHHH!
Suas mãos se moveram para a parte de trás do pescoço para verificar a
gravidade, e eu o empurrei com tudo o que tinha, correndo para a porta.
Eu não olhei para trás, não enquanto corria pelo corredor lateral, não
enquanto corria pela primeira porta e entrava no elevador, e não
enquanto as portas do elevador se fechavam, mantendo-me segura
dentro de mim.
Eu não podia processar o que tinha acabado de acontecer.
Tudo o que eu sabia era que tinha que voltar para a suíte, agora.
O elevador finalmente chegou ao meu andar, e eu corri pelo corredor
até estar em frente à porta da suíte.
Enfiei o cartão-chave na fechadura e pulei de pé em pé até que a luz
verde piscou.
Foi só então que percebi que havia deixado um dos sapatos no salão
de baile.
Uma vez lá dentro, desmaiei contra a parede, afundando no chão.
Estava tremendo insanamente, minha mente estava girando, e sentia que
vomitaria a qualquer segundo.
Eu toquei meu corpo a procura de ferimentos. Meus lábios se
sentiram inchados pelo contato, mas fora isso, eu estava bem.
De repente, tive este desejo avassalador de estar tão longe deste
vestido quanto humanamente possível. Estava se tomando
claustrofóbico, sua forma de apertar meu corpo e a espessura de seu
tecido.
Eu precisava sair.
Eu mesmo o desabotoei, ali mesmo, e o deixei no chão.
No meio da suíte em minha roupa íntima, finalmente senti que podia
respirar.
Capítulo 28
Surpresa, Surpresa

Xavier

Eu me senti mal com a maneira como Darla e o resto das meninas


francesas trataram Angela?
Sinceramente, sim.
Darla era a maior filha da puta que eu conhecia, e nem mesmo a
garota que se abanava no meu dinheiro merecia esse tipo de tratamento.
Mas ao mesmo tempo, era como se fosse o reino animal. Era preciso
apenas deixar as mulheres correrem umas contra as outras até estarem
cansadas o suficiente para vir para a cama.
Darla e eu, tínhamos tido uma caso na escola preparatória. Era casual,
nunca mais do que sexo. Para mim, de qualquer forma. Mas ela parecia
nunca ter superado isso.
Assim, enquanto ela era uma cuzona para todos, ela era uma cuzona
com um lado de raiva incontrolável e cheia de ciúme para qualquer
garota que eu trouxesse comigo. Angela deixando a mesa havia sido uma
vitória em seus olhos.
Ela mandou o garçom trazer uma garrafa de champanhe para a mesa,
e uma vez que ela a abriu, estávamos fazendo o pedido em dois minutos.
Eu havia esquecido como eram os franceses — eles podiam beber.
Tomei meu terceiro copo e me inclinei para trás, absorvendo a mesa.
Mulheres bonitas em todos os lugares.
E claro, elas podiam beber. Mas eu também podia.
Cerca de uma hora depois, quando a mesa estava repleta de chocolate
e soufflés Grand Mamier, eu vi meu pai caminhar até nós.
— Senhoras, — ele disse, e então ele tomou um lugar na cadeira vaga
de Angela. — Onde está Angela?
— Ela não estava se sentindo bem. Uma enxaqueca, — respondi sem
pausas.
— Ah, que pena, — ele disse, abanando a cabeça.
— Pobre garota. Ela é realmente uma boa garota, Xavier.
— Eu sei.
— Você sabe? — ele disse, com seu olhar sem pestanejar. Eu acenei
com a cabeça. Dois poderiam jogar este jogo.
— Ótimo, — continuou ele, — porque tenho uma surpresa para vocês
dois. Vamos, vamos até a suíte e dar-lhe a notícia.
— Já? Ainda mal terminamos a sobremesa.
— Sua esposa está em sofrimento, Xavier. Você não estar com ela já é
espantoso. — Então terminei o copo de Pinot Grigio que Angela mal
havia tocado, e segui meu pai para fora da gala.
A desgraçada, ela realmente arruinou tudo.
Angela

Eu estava no banho, há o que parecia ser um século. Eu havia tomado


banho primeiro, precisando tirar toda a grosseria de cima de mim, vendo
como a água quente batia na minha pele e se juntava aos meus pés.
Quando me senti limpa, empurrei a rolha para o ralo e me sentei,
vendo a banheira encher.
E eu estava aqui, sentada na água fervente, desde então. Sentia-me
bem, com o calor. Como um lembrete de que meu corpo ainda podia
sentir, que ainda estava intacto.
Fechei meus olhos. Talvez eu ficasse aqui para sempre. Xavier
provavelmente nem notaria. Minhas mãos foram para os joelhos, onde o
francês havia primeiro colocado suas mãos. Depois subi pelas minhas
pernas, até minhas coxas, da mesma forma que as mãos dele o fizeram.
Por mais difícil que fosse lembrar, eu não queria esquecer. Mesmo
depois de tudo o que havia acontecido com Lemor, este era um novo
sentimento para mim. Eu nunca tinha tido alguém, um homem,
colocando suas mãos em mim daquela maneira.
Enfiei minhas unhas na pele pálida das coxas. Eu queria me lembrar
desse tipo de dor. Esse tipo de desamparo. Para que cada vez que eu
estivesse prestes a reclamar de ter um dia ruim, ou ouvir alguma garota
estúpida me insultar, eu me lembraria de como era o verdadeiro terror.
— Olá? Angela?. — Meus olhos se atreveram a olhar a porta fechada
do banheiro. Isso soou como o Brad. Por que ele estava aqui? Eles tinham
ouvido o que tinha acontecido? Quem teria dito a eles? Quem mais viu?
Apressei-me para tirar o plugue do ralo e me enrolei uma toalha de
hotel. Em seguida, abri a porta.
— Eu estava apenas tomando banho, — eu disse, ouvindo minha
hesitação na voz. Essas foram as primeiras palavras que eu disse em voz
alta desde o salão de baile.
— Não se apresse, vamos esperar, — Brad falou de volta. Entrei em
meu quarto e encontrei um roupão pendurado no armário, pelo qual
troquei a toalha. Sentindo-me adequadamente coberta, entrei na área
comum.
Tanto Brad quanto Xavier estavam sentados, e olharam para mim
quando eu entrei.
— Como você está se sentindo? Você já tomou alguma coisa? —
perguntou Brad.
— Não... não, eu acho que vou ficar bem. Só um pouco de descanso. É
tudo o que eu preciso.
— É claro, vou deixá-los a sós em um momento. Mas primeiro... —
Ele fez uma pausa, tirando algo do bolso do casaco. Parecia um daqueles
chaveiros turísticos que se podia comprar no aeroporto, mas eu não
conseguia perceber quais eram as letras.
— São Tomás? — disse Xavier, esticando seus olhos para o chaveiro.
— São Tomás! É uma ilha, uma ilha privada, no Caribe, — exclamou
Brad, claramente entusiasmado. — Praias de areia branca, oceano
límpido e um dos melhores resorts do mundo.
— Estou confusa... — Eu disse, a seguir.
— Eu também, — Xavier completou.
— Vocês vão lá, — disse Brad, levantando-se e abotoando seu blazer.
— Vocês dois. Vocês partem amanhã, e vão pegar o jato. Feliz lua-de-mel,
— ele disse com um piscar de olhos, e depois caminhou até a porta.
— O quê? Amanhã? — perguntei, minha voz tremia.
— Isso é impossível. Tenho outra reunião com o gerente da
propriedade amanhã...
— Errado. Estou assumindo a reunião no seu lugar. Seu casamento,
seu amor, que vem primeiro.
Um painel de fúria cobriu o rosto de Xavier, mas desapareceu um
segundo depois.
— O jato sai às nove horas da manhã. Não deixe Jack esperando. Você
sabe como ele fica com atrasos. — E então a porta se abriu e fechou, e
Brad se foi.
— Jack? — foi a única palavra que pude dizer.
— O piloto, — disse Xavier, de pé. Ele jogou um travesseiro contra o
chão. — Isso é uma farsa.
— Eu sei, — eu disse. — Eu... eu concordo, — acrescentei.
— Você concorda? Bem, isso me deixa tão contente, — ele disse,
pingando sarcasmo de sua língua. Então ele viu algo junto à porta. Eu
segui seu olhar e senti meu estômago cair. Ele caminhou até ele,
lentamente, e o pegou.
Meu vestido.
Eu sabia o que ele ia dizer antes de abrir a boca.
— Presumo que este seja o seu vestido, — ele disse.
Eu acenei com a cabeça. Era tudo o que eu conseguia.
— E você simplesmente... deixou-o. No chão.
— Xavier, deixe-me explicar, — sussurrei, as lágrimas voltaram a vir.
Foi surpreendente que eu ainda tivesse lágrimas. Ele se aproximou
mais de mim, e ainda mais, e depois deixou cair o vestido sobre meu
ombro.
Eu estava esperando pelos gritos, pelas palavras duras e pela
crueldade. Mas em vez disso ele sorriu para mim, não mais do que um
centímetro entre nós. O sorriso era frio e sinistro, como se tivesse algum
significado fora do meu entendimento.
E com mais um segundo dele mirando em mim, me olhando, com
nada mais do que aquele sorriso sinistro, senti como se tivesse algo
errado.
E então ele se virou e saiu pela porta, da mesma forma que seu pai
havia feito. E novamente fui deixada sozinha, com apenas os
pensamentos que corriam ao redor de minha mente.
De alguma forma, as armas silenciosas eram piores do que as que
gritavam com facas jogadas em minha direção; foram elas que rasgaram a
minha pele e deixaram sua marca bem no meu coração.
Eu estaria em lua-de-mel com um homem que me odiava. Rastejei até
a cama, acariciando as enormes almofadas ao meu redor. Fechei meus
olhos.
Parte de mim estava entusiasmada em ir dormir porque qualquer
sonho seria melhor do que hoje. Mas a outra parte de mim se dispôs a
ficar acordada. Porque quanto mais cedo eu adormecesse, mais cedo eu
seria confrontada por Xavier.
Em um jato só para nós.

Eu acordei com suor frio. O edredom estava meio fora da cama, e os


travesseiros haviam sido espalhados ao meu redor. Ou eu estava lutando
contra um fantasma durante o sono ou meu sonho não havia sido
melhor do que os acontecimentos de ontem.
Eu vi a luz entrar pela janela e virei para o relógio: 8:37 da manhã.
Tudo o que eu queria fazer era ficar na cama, assistir a um filme e fingir
que o mundo lá fora não existia.
Mas em vez disso, eu tinha vinte e três minutos para fazer as malas e
me encontrar com Xavier lá fora, onde um carro nos levaria a um jato
que nos levaria a uma ilha.
Eu nunca tinha temido algo tão luxuoso em minha vida. Saltei da
cama e, tirando um par de jeans e uma camiseta de manga comprida da
minha mala, tirei o roupão de banho.
Vesti as roupas e, em seguida, eu fui até o banheiro para verificar meu
rosto. Meus olhos ainda estavam vermelhos, como se eu não tivesse
parado de chorar, e não tinha energia para me maquiar. Então amarrei
meu cabelo com um laço no topo da cabeça e dei o dia por terminado.
Eu levei minha mala até o saguão sem esperar para ver se Xavier ainda
estava na suíte. Eu tinha aprendido minha lição ontem: ele não ia esperar
por mim, não importava o destino.
No meu caminho através do foyer, meus olhos se atreveram a dar a
volta por todos os lados. Eu estava com a paranoia de encontrar o
homem francês com a gola rolê, então eu estava agradecida pela
atividade matinal que acontecia ao meu redor.
Mesmo se eu o visse, não estaria sozinha.
Funcionários e hóspedes do hotel passaram pelo lobby em alta
velocidade, tomando café e conversando alegremente. O homem não
podia tentar nada aqui. Mas eu não o vi, e consegui chegar até o carro da
frente sem nenhuma interrupção.
O motorista colocou minha mala no porta-malas e depois me ajudou
a entrar no banco de trás, e assim que Xavier saiu do saguão e saltou para
dentro do carro, estávamos a caminho.
Nos dirigimos direto para o asfalto, e o motorista me ajudou a sair do
carro. Ele levou minha mala até o pessoal do aeroporto, que, por sua vez,
a carregou para o jato.
Subi as escadas da mesma forma que tinha feito em Nova Iorque,
novamente atrás de Xavier. Quando cheguei ao interior do jato, esperava
ter a mesma reação ohmeudeus.
Mas em vez disso me senti dormente, como se nada mais pudesse me
surpreender ou me impressionar. Tomei o mesmo lugar que tinha no
caminho para Paris, e Xavier foi para o quarto sem dizer uma palavra
para mim.
— Patricia, você se importa? — ele perguntou a caminho de lá. Uma
bela atendente de bordo com cabelo ruivo correu atrás dele,
desaparecendo no quarto.
Fechei meus olhos. Ainda dormente.
O avião decolou pouco depois e, desta vez, eu estava muito menos
preocupada. Talvez tenha sido por ter passado por tanto horror nas
últimas vinte e quatro horas que viajar milhares de milhas acima de
todos os outros foi uma mudança bem-vinda.
Ou talvez fosse porque eu estava me adaptando mais rápido do que
eu pensava.
Estávamos voando há cerca de seis horas, e eu estava terminando um
saco de batatas fritas, quando ouvi o piloto falar pelo intercomunicador.
— Sr. e Sra. Knight, este é Jack, seu capitão. Só queria avisá-los sobre
uma possível turbulência a que estamos a caminho, devido a um tempo
estranho que se instalou de repente.
Ele foi interrompido pela queda rápida do meu estômago. Parecia que
o avião tinha acabado de mergulhar por mil milhas, como se eu estivesse
na parte assustadora da montanha-russa, mas não havia nenhuma pista
abaixo.
Procurei por alguém que me dissesse que isso era normal. Mas
Patricia não tinha saído do quarto de Xavier e a outra comissária de
bordo não estava em nenhum lugar à vista.
Voltamos a cair. Minha respiração começou a ficar mais rápida. E
depois caímos novamente, desta vez por ainda mais tempo.
A voz de Jack retomou,— ... mais do que o esperado, peço desculpas
pelo...
E então estávamos pulando para cima e para baixo, como se o céu
fosse um trampolim, e na próxima vez que olhei pela janela, vi uma
chama vindo da asa do avião.
Isso não é bom.
Isso não é normal.
A outra comissária de bordo saiu correndo de uma área na frente do
jato, seus brincos dançavam agressivamente com seus movimentos.
— Vista isto, — ela gritou comigo, jogando um colete salva-vidas na
minha direção.
Meu coração estava batendo fora de controle quando deslizei minha
cabeça pelo colete laranja. Eu não sabia o que estava acontecendo, e
então o avião caiu novamente, e antes que eu pudesse me deter, eu estava
vomitando no assento ao meu lado.
E então caímos novamente, mas desta vez, não paramos.
Meu estômago estava todo na minha garganta, meus olhos estavam
fechados e imaginei que estava em um daqueles passeios de parque de
diversões que te levantavam e depois te deixavam cair.
Tudo estava escuro. Eu não sabia se isso era porque meus olhos ainda
estavam fechados ou porque não havia mais nada para ver. Não sentia o
ponto de impacto e não podia dizer se sentia alguma dor.
Tudo o que eu sabia era que tudo tinha acabado quase tão
rapidamente quanto tinha começado.
Capítulo 29
Descoberta solitária

Angela

Meus olhos se abriram lentamente, um de cada vez, e imediatamente


senti uma dor abrasadora em minha perna. A minha direita. Minha mão
se movia em direção à dor, e sentia algo molhado. Tinha que ser sangue.
Tudo era um borrão. Eu tinha embarcado no jato com Xavier. Ele foi
para o quarto com a aeromoça, eu estava na cadeira... e depois caímos... e
a asa estava pegando fogo...
Percebi que minha cabeça, deitada, estava olhando diretamente para
o céu.
Eu não estava mais dentro de nada. Virei minha cabeça para o lado,
depois para o outro lado, e meu entorno ficou bem claro.
O jato estava bem ao meu lado, mas eu estava em uma praia.
— Olá? — Eu chamei, ainda na mesma posição. Eu estava de costas,
com medo de me mexer por medo de agravar meus ferimentos. Eu tinha
visto os programas médicos na TV.
Eu sabia que o choque tinha uma maneira de mascarar a dor que você
sentia.
Minha perna latejou, como que para dizer, você pode me sentir, não é
mesmo?
Eu me empurrei para cima, nos cotovelos, e olhei em volta. Eu não vi
ninguém perto de mim. Na verdade, eu não vi ninguém. O que eu vi foi o
avião, monstruoso no tamanho de perto, e percebi a sorte que eu tinha
tido.
Se eu tivesse caído um metro mais perto, eu teria sido enterrada
debaixo dele. Mas de alguma forma eu caí do céu apenas com uma perna
machucada.
Finalmente espreitei a minha perna, mordendo o meu lábio. Eu não
era boa com sangue, mas sabia que teria que ser eu mesma a cuidar disso.
Especialmente se eu estivesse sozinha aqui.
Sempre fui eu quem estava em casa para cuidar de Lucas ou Danny
quando eles estavam doentes ou quando precisavam ser levados às
urgências por causa de uma lesão esportiva.
Eu os tinha visto levar pontos suficientes para conhecer o
procedimento. E quando olhei para a incisão em minha coxa, ela se
parecia muito com uma ferida que precisava de pontos.
Consegui sair do meu próprio corpo e cuidar do corte como se
pertencesse a outra pessoa. Tirei minha camiseta de manga comprida e a
enrolei em volta da coxa, tentando estancar o sangramento. Mais tarde
eu encontraria algo para me costurar.
Eu decidi tentar ficar de pé. Havia mais quatro pessoas no voo, e
todas elas tinham que estar em algum lugar. Comecei a mancar, um
passo de cada vez, ao redor do avião.
Eu estava assustada com o que iria encontrar. Rezei para que não
houvesse corpos, mas depois revisei minha oração para dizer que não
houvesse cadáveres. Eu queria todos os corpos vivos que eu pudesse
conseguir.
— Tem alguém aqui? — Eu chamei novamente, minha voz sendo um
forte contraste contra o silêncio da ilha. Era assombroso estar aqui e não
ver uma alma. Eu continuava andando pelo jato, não encontrando nada
nem ninguém.
Meu celular tinha desaparecido, e eu não tinha nenhuma fonte de
alimento ou água. Pensei no que eu sabia: que uma pessoa podia ficar
três dias sem água e trinta dias sem comida antes de sucumbir à
desidratação ou à desnutrição.
Você estará fora daqui antes disso, eu mesma assegurei. Xavier Knight
está desaparecido. Eles virão.
— Xavier? — Eu gritei, com saudades dele pela primeira vez na minha
vida. Comecei a voltar para a ilha, onde estavam as árvores.
Eu estava caminhando através das árvores, tecendo dentro e fora
delas, quando cheguei ao final, encontrando mais areia e água do outro
lado. Caí na areia, sentindo seu calor me aquecer do frio da brisa do
oceano.
Olhei ao meu redor. Era o oposto da cidade de Nova Iorque, com a
correria de pessoas, tráfego, edifícios altos e um fluxo infinito de
atividades.
Como diabos eu acabei aqui?
Há pouco tempo atrás eu era uma garota normal, tentando viver em
Nova Iorque.
E agora...
Agora eu era a esposa de um bilionário apenas em nome, encalhada
em uma ilha deserta. Eu estava ferida, assustada e completamente
sozinha.
Eu olhei para o céu azul brilhante e vi uma nuvem solitária passar
preguiçosamente.
Se apenas eu pudesse flutuar na brisa e ser livre...
Uma brisa suave passou por cima de mim e eu senti uma calma
repentina assentar em meu peito.
Talvez tenha sido melhor assim.
Aqui fora, eu não precisava mais me preocupar com nada.
Sem mais paparazzi intrometidos ou redes de notícias tentando
escavar minha vida privada ou inventar mentiras sobre mim.
Sem mais olhares esnobes ou abusos da elite rica com os quais eu
nunca teria me dado bem.
Acabaram-se os maridos abusivos que me odiavam.
Sem mais vender minha alma por contas hospitalares que eu nunca
poderia pagar.
Chega de mentir para mim mesma...
Fechei os olhos, e me senti à deriva junto com a maré.
— Angela...
Meus olhos se abriram e me sentei tão rápido que minha cabeça
girou.
Aquela voz...
Olhei em volta, com esperança a encher meu peito.
E lá estava ele. Olhamos de relance, seus olhos mais azuis que as
profundezas do oceano diante de mim.
— Xavier, — eu solucei. Talvez por fim conseguiríamos sair desta ilha.
Mas então Xavier desmaiou.
Eu me mexi, ignorando a dor na minha perna. Tropecei em direção ao
local onde ele estava de barriga para baixo na areia.
Antes que eu pudesse me deter, minhas mãos estavam sobre ele,
rolando-o para me encarar.
Suas costas estavam agora tocando a areia, e seu rosto estava
cinzento. Ele tinha um grande galo na testa e uma lesão ao seu lado. Seus
olhos estavam fechados, e seus lábios secos como o deserto.
— Xavier, — eu sussurrei. Ele parecia morto. Tentei sentir seu pulso,
mas minhas mãos tremiam tanto que não conseguia sentir.
Então eu coloquei minha bochecha até sua boca e esperei para sentir
um sopro. Esperei pelo que parecia ser a eternidade, segurando minha
própria respiração para não perder nada.
Nada.
Eu respirei fundo e tentei sentir o pulso novamente. Desejei que
minhas mãos parassem de tremer.
Por favor, por favor, por favor..
Mas eu não conseguia sentir nada. Nem um único batimento.
Lágrimas brotaram em meus olhos.
Xavier se foi...
Capítulo 30
Quem resgatou quem?

Xavier

Estou morto.
Eu não tinha certeza onde estava, mas sabia disso com certeza.
Eu estava flutuando em um vazio sem fim e escuro. Eu não podia
sentir meu corpo. Eu nem tinha certeza se ainda tinha um.
Era só eu, sozinho, com meus pensamentos disformes.
Flashes de memória se desdobraram em minha mente.
O rosto da mulher que eu amava. A mulher que havia partido meu
coração.
A angústia da traição.
O golpe do desgosto do coração.
O calor de fúria que consome tudo.
A raiva voltou a mim agora, aqui nos meus momentos finais. Pude
senti-la me queimando.
Então é assim que termina...
Lembrei-me de ver Angela na praia antes que meu corpo desistisse.
Seus cabelos brilhavam dourados ao sol, seus olhos refletiam o
oceano cintilante ao nosso redor.
Uma pancada de arrependimento me atingiu.
Eu a tinha tratado como merda. Pior que merda, na verdade. E,
sinceramente, ela não merecia nada disso.
Engraçado como a morte finalmente colocou tudo em perspectiva
quando já era tarde demais.
Eu me rendi à escuridão, me deixando ir...
Mas então eu senti algo.
Uma suave pressão sobre meus lábios. A sensação era como uma brisa
refrescante, respirando vida em meus pulmões, enchendo meu coração.
Meus olhos se abriram. Respirei fundo, com um sopro agitado.
E eu estava olhando nos olhos de um anjo.
Angela

— Graças a Deus, graças a Deus, — eu disse. Coloquei a cabeça de Xavier


no colo, tirando os cabelos dos olhos dele.
— Ang... — Ele começou a tossir violentamente.
— Shh, — eu insisti. — Não tente falar. Descanse um pouco.
Mas Xavier parecia determinado a falar. Eu franzi a sobrancelha de
preocupação. O que era tão importante que ele tinha a dizer?
— Obrigado... — ele disse, mas mal era um sussurro.
Ele fechou os olhos, e por um segundo eu temi o pior. Mas a
constante movimentação em seu peito levou esses pensamentos para
longe.
Ele está mal.
Ele tinha um corte feio na testa, e parecia que seu ombro estava
deslocado. Fiz uma careta quando coloquei seu ombro de volta em um
movimento. Arranquei um pedaço da minha camisa para fazer uma
tipoia para ele.
Olhei novamente ao redor da ilha deserta, uma nova determinação
me enchia.
Eu não estava mais sobrevivendo apenas por mim. Tinha que lutar
tanto por mim quanto por Xavier, pelo menos até ele acordar.
Eu nunca o havia visto tão indefeso, e parte de mim até gostava de ver
este lado humano dele.
Quando ele estava com dores, quando estava ferido, ele era como o
resto de nós.
Deixei Xavier na areia para tentar nos encontrar comida. Eu sabia que
o sol ia se pôr logo, e estava preocupada com o quanto ele estava pálido.
Então, olhei em volta, analisando minhas opções. A floresta parecia
poder abrigar um bando de diferentes tipos de animais, mas eu sabia que
com minha perna não poderia correr ou lutar se eles não aceitassem bem
a ideia de serem comidos. Por dois intrusos humanos, nada menos que
isso.
Por isso, eu fui para o mar.
Afundei-me na água, gostando da maneira como o líquido frio
salpicava minhas pernas. Toda a areia que se agarrou aos meus
tornozelos saiu no segundo em que entrei nas ondas, e me senti
imediatamente limpa.
Percebi que, se eu fosse pescar algum peixe, precisaria ir mais fundo.
E eu ia precisar de uma espécie de arma.
Então, voltei para a margem e encontrei a árvore mais próxima. Eu
peguei um pequeno galho que estava bem perto da minha cabeça e raspei
sua ponta contra a árvore até que ele ficou parcialmente afiado.
Então eu tirei meus jeans, não querendo deixá-los encharcados. Se
estivesse frio à noite, eu ficaria feliz em ter um par de calças secas para
vestir.
Armada com minha lança improvisada, voltei para a água. A água
salgada me machucou no início. Doeu tanto que eu gritei, gritando para
o céu, enquanto as lágrimas caíam livremente.
Mas era um tipo diferente de dor. O tipo de dor que me fez sentir
livre, como se eu não tivesse que esconder o que estava passando.
Talvez fosse a situação ou o ambiente em que eu estava, mas eu senti
que merecia chorar e gritar aqui tanto quanto eu queria. Depois que a
dor diminuiu e meus olhos secaram um pouco, eu abaixei todo o meu
rosto debaixo d'água.
Voltei para a superfície, esfreguei os olhos e depois comecei a nadar
até o mar.
Assim que fui mais fundo, decidi mergulhar e ver com o que eu estava
trabalhando. Mantive meus olhos abertos, e após alguns momentos, eles
se ajustaram à queima do sal.
Eu vi um peixe do tamanho da palma de um homem adulto.
Eu apunhalei-o de imediato, minha lança atravessando seu pequeno
corpo.
Quando emergi, levei a lança até meu rosto em choque.
Lá estava ele, meu peixinho. Eu tinha encontrado comida para nós
sozinha.
Meu pai vai adorar esta história, pensei eu, e então percebi que esta
história começou quando meu avião caiu. Então talvez ele não adorasse
tudo isso.
Segurando minha lança como um troféu, voltei para a costa.
Xavier

Meu corpo inteiro estava pulsando com um tipo distinto de dor, como
quando você acorda após uma noite de muita festa e sente cada órgão
dentro de você reclamando. Isso era o que estava acontecendo comigo
agora.
Meu corpo inteiro sentiu o peso do acidente.
O sol estava se pondo forte sobre mim, então eu me inclinei sobre
meu ombro bom para me inclinar melhor contra a brisa. O vento frio
atingiu meu rosto, e quase me relaxou. Eu estava olhando para o oceano
quando vi uma figura emergindo da água.
Não apenas uma figura qualquer, mas a figura de Angela. A figura de
minha esposa, quase totalmente exposta.
Pisquei, tentando perceber o que ela estava vestindo, se é que estava
vestindo algo. Vi a parte de cima da camiseta dela — ela tinha rasgado o
fundo da camisa para fazer uma tipoia para meu braço — e alguma
calcinhas.
Mas foi só isso.
Mesmo sabendo que era errado olhar para ela assim, sem que ela
soubesse, não conseguia arrancar meus olhos dela.
E o sonho repetido que eu tinha voltava agora — dela em várias
etapas de nudez, dela me implorar por mais.
Eu esfreguei os olhos. Recompondo-me. Ela estava cuidando de mim.
O mínimo que eu podia fazer era tratá-la com respeito. Especialmente
depois da maneira como eu a tinha tratado por tanto tempo antes.
Eu a vi pegar seus jeans ao lado de uma árvore a alguns metros de
distância e puxá-los, e então ela começou a caminhar até mim. Fechei
meus olhos, fingindo estar descansando.
— Estou de volta, e olha o que eu tenho, — exclamou ela. Abri meus
olhos e vi um galho de árvore com uma ponta afiada.
Ela mesma deve ter afiado, eu pensei, atordoado. Na ponta afiada
havia um peixe.
— Você está com fome?, — perguntou ela.
— Como você...
— Não foi muito difícil, — disse ela, modesta. — Eu sou boa com
minhas mãos. Meu pai me ensinou a consertar carros quando eu era
jovem, e depois disso, consertar praticamente qualquer outra coisa se
tornou fácil.
Huh. Pensei em quando o Bentley quebrou em Midtown, e o Marco
me disse que uma mulher aleatória tinha parado para ajudá-lo a
consertar. Poderia ser...
Mas antes que eu pudesse dar sentido a qualquer coisa, Angela estava
arrancando um pedaço do peixe e me entregou.
— Eu sei que não é exatamente filé mignon, mas você precisa comer
alguma coisa. Por favor.
Então eu a deixei me alimentar com o primeiro pedaço de peixe e
depois com outro. E antes que eu soubesse, ela tinha me alimentado com
tudo, não comendo nada.
— E você? — eu perguntei.
— Não se preocupe comigo, — disse ela, e naquele momento, tive a
certeza de que não conhecia essa mulher de jeito nenhum.
Que tipo de pessoa trataria alguém como eu, alguém que se esforçou
para tornar sua vida mais difícil, com tanta gentileza? Se ela estivesse
atrás do meu dinheiro, não seria a seu favor ter me deixado morrer?
Se eu fosse ela, provavelmente teria sido isso que eu teria feito.
Mas em vez disso, aqui estava ela, cuidando dos meus ferimentos e
me alimentando de peixes que ela mesma havia pescado. Parecia surreal,
como se ela fosse um anjo colocado ali por uma razão.
Eu tentei me sentar sozinho, mas ela viu minha dificuldade e me
ajudou. Quando estava de pé, toquei as costas da mão na testa e senti a
umidade.
— É suor, não sangue, — disse ela, lendo minha mente. — Você está
com calor? Você quer tirar isso? — perguntou ela, movendo-se para a
camisa que não tinha utilidade em uma ilha.
Eu acenei, e ela me ajudou a tirar por trás. Ela ficou atrás de mim por
um momento depois de ter saído, e eu pensei ter sentido o olhar dela nas
minhas costas.
Na minha cicatriz.
— O que aconteceu? — perguntou ela em silêncio.
Eu não queria falar sobre isso, não agora. Não precisava de outro
lembrete de dor; eu já tinha o bastante. Mas eu queria responder-lhe,
dar-lhe algo depois de tudo o que ela me havia dado.
— Eu estive em um acidente de carro, — eu disse.
— Recentemente?
— Há cerca de um ano.
Eu estava olhando para o chão, pegando areia e vendo-a cair. Ela
voltou e sentou-se ao meu lado, vendo-me brincar com a areia também.
Ficamos ali sentados em silêncio durante horas, conhecendo-nos
através das palavras que não dissemos.
Angela

Este foi um Xavier diferente. Um Xavier que me agradeceu, que sorriu


para mim, que me respondeu em frases completas sem um toque de
sarcasmo. Era como se ele tivesse se tornado uma pessoa completamente
diferente.
Isso, ou ele tinha começado a me ver como uma pessoa
completamente diferente.
Estávamos sentados no mesmo lugar na areia, deixando que o silêncio
fácil tomasse conta, enquanto o sol se punha. A temperatura havia
baixado, mas não muito.
Eu me senti confortável, como se não tivesse nada com que me
preocupar.
Eu sabia que, pela manhã, eu realmente começaria a me preocupar.
Mas, por enquanto, eu estava em paz. Mais ou menos. Agora eu estava de
costas, contando com as estrelas no céu.
Foi quando eu ouvi isso.
Estava se aproximando cada vez mais, mas reconheci o som
imediatamente.
Um helicóptero.
Estava muito escuro para eu ver qualquer coisa no céu, mas eu estava
certa de que estava lá, vindo por nós. Eu acordei Xavier.
— Xavier, ei, acorde, — eu disse. — Eles estão aqui. Eles estão aqui
atrás de nós.
Xavier sentou-se, esfregando o sono de seus olhos, e olhou em volta.
Alguns minutos depois, um helicóptero estava pousando perto do jato
destruído.
Eu ajudei Xavier a levantar e juntos mancamos em direção a ele.
Um homem com um traje militar estava inspecionando o exterior do
jato quando nos ouviu chamar por ele.
— EI! — eu gritei. — Nós estamos aqui!
Ele se voltou para nós.
— Sra. Knight? Sr. Knight?, — ele chamou de volta.
— SIM! — Eu gritei, cheia de alívio. Quando chegamos até ele, ele
chamou outro homem a bordo do helicóptero, que nos ajudou a subir.
Colocamos os cintos de segurança nos assentos de couro e nos deram
fones de ouvido grandes para minimizar o som. Um enorme cobertor foi
jogado sobre mim e outro sobre Xavier.
Eu olhei para ele, meu marido, e ele me olhou de volta. Eu não sabia o
que dizer. Eu nem sabia se deveria dizer alguma coisa.
— Muito bem, pessoal, estamos prontos. Vamos levá-los para casa em
segurança.
— E os outros? Eles estão... — Eu me afastei.
— Eles foram encontrados em uma ilha diferente, a alguns
quilômetros de distância. Devem ter sido atirados do avião. Estão a
caminho de um hospital enquanto falamos.
Eu soltei um suspiro de alívio — pelo menos todos estavam bem. E
então o helicóptero estava decolando, voando conosco de volta para o
céu onde estávamos há apenas algumas horas.
Observei a pequena ilha se afastar, a escuridão engolindo-a inteira.
— Odeio voar, — eu disse.
— Eu também, — respondeu ele. Virei-me para olhar pela janela ao
meu lado, vendo nada além de escuridão. Eu não sabia como seria a vida
quando Xavier e eu voltássemos para Nova Iorque.
Eu não sabia se ele voltaria a ser o monstro que me castigava ou se
continuaríamos de mãos dadas.
Tudo o que eu sabia era que gostava de estar lá para ele. Eu gostava de
cuidar dele e ajudá-lo a se sentir bem.
E eu gostava de pensar que talvez Brad tivesse tido razão, que havia
mais no Xavier Knight do que se via.
Senti a mão de Xavier encostar na minha. Um toque suave, quase
hesitante. Eu estendi a mão e, lentamente, nossos dedos se entrelaçaram.
Nós não dissemos mais nada. Não precisávamos dizer nada. Ambos
nos consolamos só de termos um ao outro lá.
Fechei meus olhos e sorri, apreciando seu calor.
Talvez este acidente de avião tenha sido a melhor coisa que nos
poderia ter acontecido…
Continua no Livro 2…
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