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Wwilin@unn RIC PSICOLOGIA DE MASSAS DO FASCISMO Martins Fontes {NDICE Prefacio a edi¢do em lingua inglesa..... Prefacio 4 38 edicdo em lingua inglesa, corrigida ¢ aumentada : a : Glossdtio. .. ee eee eee eee Cap. 1 — A ideologia como fora material . . 3 A clivagem 3 Estrutura econdmica e ideologica da sociedade alema entre 1928¢ 1933 ..ceeeeeeeee erect 9 Comoa psicologia de massas vé 0 problema 18 A fungao social da represso sexual ..+--++00 00057" 23 Cap. 2-A ideologia autoritéria da familia na psicologia de massas do fascismo ..---+eeeerrttrtt 33 O fishrer e a estrutura de massas . - 33 A origem de Hitler... - eee Fi 36 A psicologia de massas da classe média baixa 39 Lacos familiares € sentimentos nacionalistas « 46 A autoconfianga nacionalista 59 A “domesticagao” dos operarios industriais ..-----+°* 63 Cap. 3 — A teoria da raca — seu contetido a Seuconteddo...--r 008 tt , 7 Fung¢ao objetiva & subjetiva da ideologia 7 15 Pureza de raga, envenenamento do sangue & misticismO . - 16 | - Ey ner Lycee 93 Cap. 4-0 simbolismo da sudstica se mia sexual sobre a familia auto- aS, Cap. 5 — Os pressupostos da econo! Cee we Cap, 6 — O misticismo organizado como 0 Cap. 7 — Cap. 8 - Cap. 9 - rganizacfo intemacional Pe +. 109 anti-sexual,..+++++* peeeenee O interesse pelaigreja sss rr rt” .. 109 A luta contra 0 “bolchevismo cultural” 114 O apelo aos sentimentos misticos.. ++ +rsee rete ees 122 O objetivo da revolu¢ao cultural a luz da reagZo fascista.. 131 A economia sexual em luta contra 0 misticismo ....-+> 135 Os trés elementos fundamentais do sentimento religioso.. 136 Inculcagfo da religifo através da ansiedade sexual ...-+- 143 Inculcagfo do misticismo na infancia ..-+-> weeeee 143 Inculcagao do misticismo na adolescéncia . - 146 Vitoria ou fracasso ve seee creer 147 Veneracdo da Virgem Mariae ojoveml «e+e er erect’ 155 Autoconfianga sadia e gutoconfianga neurotica .- +--+ ~~ 158 Algumas questdes da pratica da politica sexual ..------ 161 Teoriae pritica ..-eeeeeeeerecse 161 A luta contra 0 misticismo até agora. -- +++ +" °° 162 Felicidade sexual oposta 20 misticismo ..-+ +--+ 168 A erradicaga0 do sentimento religioso no individuo . 170 Prdtica da economia sexual e objegdes «+++ -+-* 173 Ohomem apolitico....+sererrrreretee te 189 ‘As massase oestado ..+-sererrrctr sete” 193 1936 — dizer a verdade: mas como ¢ quando? «+--+ 196 “Q que ocorre nas massas humanas?”..-- seer 204 0 “anseio socialista” ...+-eeererrreee 211 A“extingdo do estado” ...eeererceseree eT! 222 Concepgdes de Engels ¢ Lenin sobre a autogestd0 ---++° 223 O programa do partido comunista da Unido Soviética (89 Congresso, 1919) -eeseerere seen 233 A “instituig40 da democracia soviética” ss. eee errr tt 239 O desenvolvimento do aparelho do estado autoritario 4 partir de relagdes sociais racionais os. essere erent! 250 260 A funcfo social do capitalismo deestado....eeeetrt’ Cap. 10 — Fungdo biossocial do trabalho......... Perr 267 O problema da “disciplina de trabalho voluntério” ....- 267 Cap. 11 — Dar responsabilidade ao trabalho vitalmente necessdrio! .. 291 O que é a “democracia do trabalho”? .....+++ 292 O que hé de novo na democracia do trabalho? .. . 295 Cap. 12 — O erro de célculo biolégico na luta do homem 297 dade... cece cece e ener erent O nosso interesse pelo desenvolvimento daliberdade .... 297 incapacidade para a liberdade e visdo de Rigidez bioldgica, vida autoritaria e mecanica . « 311 O arsenal da liberdade humana . 324 337 Cap. 13 — Sobrea democracia natural do trabalho aor Estudos sobre as forcas sociais naturais com © proposito 337 de superar a peste emocional O trabalho em contraste com 2 politica . 339 Notas sobre critica objetiva e cavilag6es irracionais . -.-- 347 trabalho é, na sua esséncia, racional...- +++ ++070 0" 350 e outro tipo de trabalho . . 358 Trabalho vitalmente necessario Amor, trabalho e conhecimento sao as fontes de nossa vida. Deveriam também governé-la. Wilhelm Reich Prefacio a Edigao em Lingua Inglesa Na primeira edigéo em inglés da Psicologia de Massas do Fascismo, publicada em 1946, Reich afirmava que a sua teoria da economia sexual aplicada ao estudo do fascismo “resistira @ prova do tempo”. ‘Ao publicar-se agora esta traducdo mais exata, quase quarenta anos depois da sua edigao original em alemao, todos os indicios levam a crer que a presente obra nao tem apenas interesse histdrico, tendo continuado a “resistir & prova do tempo”. Na realidade, o violento combate que atualmente se trava entre as forcas da repressdo e€ as forgas auto-reguladoras da natureza vem comprovar claramente a yalidade das declarag6es de Reich. Elas so mais sdlidas do que nunca e quaisquer tentativas no sentido de negar a sua validade terao de defrontar-se com o conhecimento da energia org6nica fisica, principio comum do funcionamento que s¢ aplica a todos os fenémenos biol6- gicos e sociais. Por mais exagerada que parega € por mais fantasiosa que se considere a descoberta, pode-se prever que ela continuara a resistir, tanto & rejeicdo irracional, baseada na indiferenca, maledicén- cia ou em falsas interpretag6es mecanicistas, quanto a atitudes de aceitagio mistificadora irracional ou de sele¢ao fragmentaria, que estabelecem arbitrariamente uma fronteira entre o que € desejavel ou nao. Este ultimo problema é particularmente complicado em azo da tendéncia exagerada das pessoas para julgar a obra de Reich de acordo com seus préprios interesses € preconceitos sem a capacidade XU para penetrar em dominios do conhecimento ainda inexp] exemplo, é um fato que, apesar de Reich ter feito ee eee Por a utilizagdo politica das suas descobertas, a juventude conte contra tem-se servido de algumas partes das suas primeiras obras ae seus proprios objetivos, a0 mesmo tempo que despreza a sa ra ss nuagao légica no dominio ot e fisico. Os primeiros ee de Reich no moviment da higiene mental e as suas investigacées sobre a estrutura do catéter humano sao tao indissocidveis a descoberta posterior e decisiva da Energia Vital, como o ser humaze é indissocidvel da vida. Se a Psicologia de Massas do Fascismo alzsm dia vier a ser compreendida e utilizada de algum modo, se a vida “frustrada” alguma vez se libertar, € se palavras como “paz” ¢ “amor” deixarem de ser meros chavées vazios de significados, en:3e o funcionamento da Energia Vital ter de ser aceito € compreendide. Por mais que se ridicularize e se calunie a descoberta, ela nao pode ser ignorada se € que o homem alguma vez conhecerd as forgas. af aqui misteriosas, do seu interior. Neste trabalho, Reich aplica os seus conhecimentos clinicos 3 estrutura do caréter humano ao cenério politico ¢ social. Contests yeementemente a opiniao de que o fascismo é a ideologia ou 0 mode de agir de um individuo ou de uma nacionalidade, ou ainds ee qualquer grupo étnico ou politico. Reich rejeita igualmente wee pretacao exclusivamente sécio-econémica dos idedlogos marxistas. ae Reich, o fascismo é a expresso da estrutura irracional do caret . homem médio, cujas necessidades bioldégicas primarias ¢ cujes eel sos tém sido reprimidos hé milénios. Reich analisa cuidados a fungio social dessa operagéo e 0 papel decisivo que * — autoritéria e a igreja desempenham. Prova qué toda e qualquer Ts de misticismo organizado, como € 0 caso do fascismo. baseia anseios orgésticos nao satisfeitos das massas- ost desta e a atual ments Nunca ser4 demais sublinhar a importnci vez que a estrutura do cardter humano, responsdvel a fascistas organizados, subsiste nos nossos dias ¢ revels pert nos atuais conflitos sociais. Para que algum dia S¢ consi er caos € a agonia do nosso tempo, é necessatio levar em XIV trutura do caréter que os produz: numa es Palavra, é necessdrio ever 8 psicologia de massas do fascismo, gonhee MARY HIGGINS Administradora do The Wilhelm Reich Infant Trust Fund Nova York, 1970 XV Prefacio 4 3.2 Edicao em Lingua Inglesa, Corrigida e Aumentada Uma longa e ardua pratica terapéutica com o cardter humano levou- -me a conclusdo de que, na avaliacdo das reacdes humanas é necessé- rio considerar trés niveis diferentes da estrutura biopsiquica. Estes niveis da estrutura do carter sao, conforme tive ocasiao de expor na minha obra Andlise do Cardter, depésitos, com funcionamento proprio, do desenvolvimento social. No nivel superficial da sua perso- nalidade, o homem médio € comedido, atencioso, compassivo, respon- sdvel, consciencioso. Nao haveria nenhuma tragédia social do animal humano se este nivel superficial da personalidade estivesse em contato direto com o cerne natural profundo. Mas, infelizmente, nao € esse o caso: 0 nivel superficial da cooperagao social naéo se encontra em contato com o cerne biolégico profundo do individuo; ela se apdia num segundo nivel de cardter intermediério, constituido por impulsos cruéis, sddicos, lascivos, sangiiindrios e invejosos. E o “inconsciente” ou “reprimido” de Freud, isto é, 0 conjunto daquilo que se designa, na linguagem da economia sexual, por “impulsos secundarios”. A biofisica orgénica tornou possivel a compreensao do incons- ciente freudiano, aquilo que é anti-social no homem, como resultado secundario da repressdo de exigéncias biolégicas primdrias. E quando se penetrar, através deste segundo nivel destrutivo, até atingir os substratos biolégicos do animal humano, descobrir-se-4, invariavel- mente, a terceira camada, a mais profunda, que designamos por cerne bioldgico. Nesse cerne, sob condicdes sociais favordveis 0 homem é XVII um animal racional essencialmente honesto, trabalhador, cooperativo tendo motivos, odeia. E absolutamente imposs{vel conse- guir-se uma flexibilidade da estrutura do caréter do homem atual, através da penetragao desta camada mais profunda e tao promissora, sem primeiro eliminar-se a superficie social esptiria e nao genuina. Mas, ao cair a mascara das boas-maneiras, 0 que primeiro surge nao é a sociabilidade natural, mas sim 0 nivel de cardter perverso-sdico. F esta infeliz estruturagao que é responsdvel pelo fato de que qualquer impulso natural, social ou libidinoso, proveniente do cerne bioldgico, seja forgado a atravessar © nivel das pulsdes secundarias perversas, que o distorcem, sempre que pretenda passar & a¢ao. Esta distorgio transforma a natureza originalmente social dos impulsos naturais em perversidade e, deste modo, Jeva a inibigéo de todas as manifestagdes auténticas de vida. Tentemos transportar esta estrutura humat e politica. facil descobrir que os diferentes agrupamentos politicos e ideo- Idgicos da sociedade humana correspondem aos diferentes niveis da estrutura do cardter humano. Nao incorremos, certamente, no erro da filosofia idealista de supor que esta estrutura humana se mantera imutével para sempre. Depois que as necessidades bioldgicas originais do homem foram transformadas pelas circunstancias e pelas modifi- cagées sociais, e passaram a fazer parte da estrutura do cardter huma- no, esta ultima reproduz a estrutura social da sociedade, sob a forma de ideologias. O cerne biolégico do homem nao encontra repres' desde o colapso da primitiva forma de organizacao social segundo a democracia do trabalho. Os aspectos “naturais” e “sublimes” do homem, aquilo que o liga ao cosmos, s6 encontram expressao autén- tica nas grandes obras de arte, especialmente na misica e na pintura. Mas nao tém contribuido de maneira decisiva para a configuragao da sociedade humana, se por sociedade se entender comunidade de todos os homens, e nao a cultura de uma pequena camada superior e rica, Nos ideais éticos e sociais do liberalismo, vemos representadas as caracteristicas do nivel superficial do cardter: autodominio e tole- rancia, O liberalismo enfatiza a sua ética, com o objetivo de reprimir 0 “monstro no homem”, isto é, o nivel das “pulsdes secundérias”, 0 que ama e, na para a esfera social entacao social XVIII “inconsciente” freudiano. A sociabilidade natural da camada mais profunda, do cerne, permanece desconhecida para o liberal. Este deplora e combate a perversio do cardter humano por meio de normas éticas, mas as cat4strofes sociais do século XX provam que essa tatica de nada adianta. Tudo o que é autenticamente revolucionério, toda a auténtica arte e ciéncia, provém do cerne biolégico natural do homem. Nem o verda- deiro revoluciondrio, nem o artista nem o cientista foram até agora capazes de conquistar e liderar as massas, ou, se o fizeram, de manté-las por muito tempo no dominio dos interesses vitais. Com o fascismo, as coisas se passam de modo diferente, em oposi¢éo ao liberalismo e a verdadeira revolugao. O fascismo nao representa, na sua esséncia, nem o nivel superficial nem o mais profundo do carter. mas sim o nivel intermedidrio das pulsdes secundérias. Na €poca em que este livro foi escrito, o fascismo era geralmente considerado como um “partido Politico” que @ semelhanca de outros “grupos sociais”, defendia uma “idéia politica” organizada. De acordo com esta visao, “‘o partido fascista impunha o fascismo por meio da forga ou de ‘manobras politicas’”. Opondo-se a isso, minhas experiéncias médicas com homens e ‘mulheres de diferentes classes, ragas, nagdes, credos, etc., ensina- ram-me que o “‘fascismo” é mais do que _expresséo politica- __ mente organizada da’ estrutura do_carater_do_ do homem_médio, io, uma “ sentido caracterial, o “fascismo” é a atitude emocional basica do homem oprimido da civilizagao autoritdria da maquina, com sua maneira mistica e mecanicista de encarar a viday E 0 cardter mecanicista e mistico do homer’‘moderno que cria os os partidos | fascistas, e nao vice-versa) =====2=2=2=2SOSOC~CS~C experiencias em andli io sei oe Ceta As minha "hm tinico individuo que nae S14 Portador, py «nao existe va = do pensamento e dO sentiment fascistas Se nto politico distingue-se de Outros pariig " 0 fato de ser sustentado_e defendido Por mas estrutura, - fascismo CO! reaciondrios pe manas. A lorme responsabili ; m Estou plenamente consciente da en Ponsabilidade Contida nestas afirmagoes. Desejaria, para bem ces mente ae Perturbado, as massas_trabalhadoras_estivessem_ 1gualmente conscientes da sug responsabilidade_pelo fascismo. Lo. £ necessdrio fazer uma distingao rigorosa entre o comum e o fascismo. A Alemanha do imperador Gu militarista, mas nao fascista. Como o fascismo é sempre e em toda a apoiado nas massas, revela todas as caracteristi “estrutura do cardter das massas humanas: nao é, como geralmente se cré, um movimento exclusivamente reacionério, mas | sim um amélga. ma de sentimentos de revolta_e idéias sociais reacionérias. ~ } Se entendemos por revoluciondria a revolta racional contra as situagdes insuportaveis existentes na sociedade humana, o desejo ra- cional de “ir ao fundo, & raiz de todas as coisas” (“radical” ~~ “raiz”), para melhoré-las, entio o fascismo nunca € revolucionérié.’ Pode, isso i de emogdes revoluciondrias. Mas nio sim, aparecer sob o disfarce i lucionatio 0 médico que combate a doenca com mas sim aquele que investiga as causas da doenga com calma, coragem e consciéncia, e a combate. A revolta fascista tem sempre origem na transformacao de uma emogéio revoluciondria em ilusio, pelo medo da verdade. 0 fascismo, Na g| reacdes irracionais do 4 quem falta Coragem Clonal na historia da h como mero interesse j XX Mhilitarismo ilherme fo; Parte um movimentg Cas € contradigdes da ua forma mais pura, € 0 somatério de todas as cardter do homem médio. O socidlogo tacanho, Para reconhecer o papel fundamental do irta- umanidade, considéra a teoria fascista da raca mperialista ou, apenas, como simples “precor ceito”. ° mesmo acontece com 0 politico irresponsdvel e palavroso: a extensao da violéncia e a ampla propagacao desses “preconceitos raciais” sio prova da sua origem na parte irracional do cardter humano. A teoria racial nado é uma criagaio do fascismo. Pelo con- trério, o fascismo € um produto do édio racial e _a sua expresséo _ politicamente organizada. Por conseguinte, existe um fascismo alemao, — italiano, espanhol, anglo-saxénico, judeu e arabe. A ideologia da raga é uma grande expressdo biopdtica pura da estrutura do cardter do homem orgasticamente impotente. O carater sddico-perverso da ideologia da raga revela-se também na atitude perante a religido. O fascismo seria um retorno ao paganismo e um arquiinimigo da religido. Muito pelo contrario, o fascismo éa_ expressio m4xima do misticismo religioso. Como tal, reveste-se de uma forma social particular. O fascismo apdia a religiosidade que provém da perversao sexual ¢ transforma o caréter masoquista da velha religido patriarcal do softimento numa religiao s4dica. Em resu-- ~ mo, transpoe a religiao, do “campo extraterreno” ‘da filosofia do sofri- mento, para o “dominio terreno” de assassinio sddico. - A mentalidade fascista é a mentalidade do “Zé Ninguém”, que é “4 § _ subjugado, sedento_de autoridade_e, a0 mesmo témpo, revoltado._ Nao é por acaso que todos os ditadores fascistas sio oriundos do ( _ambiente reaciondrio do “Zé Ninguém”. O )_magn ‘ta_industrial e 0 militarista_feudal nao fazem mais do que aproveitar-se deste fato “social para os seus proprios fins, depois de ele se ter desenvolvido no dominio da repressao generalizada dos impulsos vitais. Sob a forma de fascismo, a civilizagao autoritaria e mecanicista_colhe no “Zé Ninguém” reprimido nada mais do que aquilo que ele semeou nas” massas de seres humanos subjugados, por meio do misticismo, mili- tarismo € automatismo durante séculos, O “Zé Ninguém” observou bem demais 0 comportamento do grande homem, e 0 reproduz de modo distorcido e grotesco. O fascista € 0 segundo sargento do exército gigantesco da nossa civilizagao industrial gravemente doente._ Nao é impunemente que o circo da alta politica se apresenta perante o “Zé Ninguém”; pois 0 pequeno sargento excedeu em tudo o gene- ral imperialista: na musica marcial, no passo de ganso, no comandar e no obedecer, no medo das idéias, na diplomacia, na estratégia € na tdtica, nos uniformes e nas paradas, nos enfeites e nas condeco- ragées. Um imperador Guilherme foi em tudo isto simples “amador”, XXI se comparado com um Hitler, filho de um pobre funcionério piblico, { Quando um general “proletério” enche o peito de medalhas, trata-se do “Zé Ninguém”™~que~néo quer “ficar atrés” do “verdadeiro” general. |} a 2 a £ preciso ter estudado minuciosamente e durante anos o cardter do “Zé Ninguém’”, ter um conhecimento fntimo da sua vida atrés dos bastidores, para compreender em que forcas o fascismo se apdia. ~[} __Na _revolta da massa de animais humanos maltratados contra a —§ civilidade_oca do falso liberalismo (nao me refiro ao verdadeiro libe- ralismo e & verdadeira tolerancia) aparece o nivel do cardter, que consiste nas pulsdes secundarias. oo 7 .-O fanético fascista nfo pode ser neutralizado, se for procurado unicamente de acordo com as circunstancias politicas prevalecentes, apenas no alemdo e no italiano, e nado também no americano e no chinés; se nao for capturado dentro da prépria pessoa; se nao conhe- cermos_as instituigdes sociais que o geram diariamente. = O fascismo sé pode ser vencido se for enfrentado de modo objetivo e prdtico, com um conhecimento bem fundamentado dos processos da vida. Ninguém o consegue imitar nas manobras politicas e diplomaticas e na ostentagéo. Mas o fascismo nao tem resposta para os problemas prdticos da vida porque vé tudo apenas como reflexo da ideologia ou sob a forma dos uniformes oficiais. Quando se ouve um individuo fascista, de qualquer tendéncia, insistir em apregoar a “honra da nagao” (em vez da honra do homem) ou a “salvagao da sagrada familia e da raga” (em vez da sociedade de trabalhadores); quando o fascista procura se evidenciar, recorrendo a toda a espécie de chavdes, pergunte-se a ele, em ptiblico, com calma e serenidade, apenas isto: “O que vocé faz, na prdtica, para alimentar esta nacado, sem arruinar outras nacdes? O que vocé faz, como médico, contra as doengas crénicas; como educador, pelo bem-estar das criangas; como economista, contra a pobreza; como assistente social, contra 0 cansago das mes de prole numerosa; como arquiteto, pela promogao da higiene habitacional? E agora, em vez da conversa fiada de costume, dé respostas concretas e praticas, ou, entao, cale-se!” Daqui se conclui que o fascismo internacional nunca serd der- rotado por manobras politicas. Mas sucumbird perante a organizacao XXII natural do trabalho, | do amore do conhecimento. em escala inter, “nacional. "Nav nossa sociedade, o trabalho, o amor e o conhecimento nao sao ainda a forca determinante da existéncia humana. E mais: estas grandes_forgas do principio positivo da vida nao estéo ainda cons- cientes do seu poder, do seu valor insubstituivel, da sua extraordindria importincia para o ser social. E por isso que hoje, um ano depois da derrota militar do fascismo partidario, a sociedade humana continua a beira do precipicio. A A queda da nossa civilizagao é inevitavel se os trabalhadores, os cientistas de todos os ramos vivos (e nao mortos) do conhecimento e€_os que dao e recebem o amor natural, nao se_ conscientizarem, a tempo, da sua gigantesca responsabilidade._ " O impulso vital pode existir sem o fascismo, mas o fascismo nao pode existir sem o impulso vital. E como um vampiro sugando um corpo vivo, impulso assassino de rédea solta, quando o amor deseja consumar-se na primavera. A liberdade humana e social, a autogesto da nossa vida e da vida dos nossos descendentes processar-se-4 em paz ou na violéncia? Esta é uma pergunta angustiante, para a qual ninguém sabe a resposta. / / Mas, quem compreende as fungGes vitais no_animal, na crianga recém-1 ascida, quem conhece o significado do trabalho. dedicado, seja ele um mec&nico, pesquisador ou artista, deixa de pensar por meio “de conceitos que os manipuladores de partido espalharam por este “mundo. O impulso vital nao pode “tomar o poder pela violéncia”, 1; / pois nem saberia o que fazer com o poder. Significa esta conclusao / que o impulso vital estaré sempre sujeito ao gangsterismo politico, serd sempre sua vitima, seu martir? Significa que o politico continua- r4 a sugar o sangue da vida para sempre? Tal concluso seria errada. Minha fung4o, como médico, é curar doengas; como investigador, é descobrir as relagdes da natureza até aqui desconhecidas. Se me aparecesse um politico qualquer pretendendo forgar-me a abandonar os meus doentes e o meu microscépio, eu nao me deixaria perturbar: eu o poria na rua, se ele nao desaparecesse voluntariamente. Depen- de do grau de insoléncia do intruso e nao de mim ou do meu trabalho, eu ter que usar a forca para proteger dos intrusos 0 meu trabalho sobre a vida. Imaginemos, agora, que todos aqueles que estado envol- vidos num trabalho vital vivo pudessem reconhecer a tempo o politi- XXIII re queiro. Agiriam do mesmo modo. Este exemplo simplificado contg talvez um pouco da resposta A pergunta sobre como o impulso sit terd de se defender contra aquilo que o perturba ou o destréi, A Psicologia de Massas do Fascismo foi pensada entre 1930 e _1933, anos de crise na Alemanha. Foi escrita em 1933 e Publicada em setembro de 1933, na Dinamarca, onde foi reeditada em abril de 1934. Desde entdo, passaram-se dez anos. Pela revelagio da natureza irracional da ideologia fascista muitas_yezes esta_obra recebeu aplau- sos demasiado entusiastas e sem embasamento num verdadeiro co.” “nhecimento, vindos ‘de todos os setores politicos, aplausos esses que nao levaram a nenhuma ac&o apropriada. Cépias do livro — as vezes sob pseudénimos — atravessaram, em grande ntmero, as fronteiras alemas. A obra foi acolhida com jubilo pelo movimento revolucio- nario ilegal, na Alemanha. Durante anos, serviu como fonte de contato com 0 movimento antifascista alemao. Os fascista proibiram-na em 1935, juntamente com todas as outras obras de psicologia politica.) Mas foi publicada, parcialmente, na Franga, na América, na Tchecoslovdquia, na Escandinavia, etc., e discutida em longos artigos. Apenas os partidos socialistas, que viam tudo sob o angulo da economia, e os funciondrios assalariados do partido, que controlavam os drgaos do poder politico, nao Ihe encontraram qualquer utilidade, até hoje. Por exemplo, os dirigentes (1) Em Deutsches Reichsgesetzblatt (diario oficial que publica as novas leis), n° 213, de 13 de abril de 1935: “segundo o [VO = Verordnung = decreto (N. do E. americano)] de 4 de fevereiro.de 1933, as obras O Que é a Consciéncia de Classe, de Ernest Parell, [Pseudénimo usado por Reich (Nota do E. americano)], ¢ Materialismo Dialético e Psicandlise, de Wilhelm Reich, n.°* 1 e 2 da série poli- tico-psicolégica dos editores de politica sexual Copenhague-Praga-Zurique, bem co- mo todas as outras obras programadas para esta série, devem ser confiscadas € retitadas de circulacdo pela policia prussiana, pois constituem perigo para a ordem a seguranga ptblicas.” 41230/35 II 2B1 Berlim 9/4/35 Gestapo N2 2146, 7 de maio de 1935. Segundo o decreto do presidente do Estado pro- mulgado em 28 de fevereiro de 1933, € proibida no Estado, até ordem em con- trério, a distribuigio de todas as publicagdes estrangeiras da série politico-psicolé- gica dos editores de politica sexual (Editores de Politica Sexual, Copenhague, Di- namarca, e também, Praga, Tchecoslov4quia, Zurique ¢ Sufca). III P, 3952 53. Berlim 6/5/35 R. M. d. I. dos partidos comunistas da Dinamarca e Noruega criticaram-na vio- lentamente, considerando-a “contra-revolucionéria”. Por outro lado, é significativo que a juventude de orientagao revoluciondria perten- cente a grupos fascistas tenha compreendido a explicagao < da natureza irracional da teoria racialydada a pela economia séextrat—~ , Em 1942, chegou da Inglaterra a proposta de se traduzir para o inglés a Psicologia de Massas do Fascismo. Isso me levou a avaliar a utilidade da obra dez anos depois de ter sido escrita. O resultado desse exame reflete, com exatidao, as gigantescas transformagdes que revolucionaram o pensamento nos tiltimos dez anos. Além disso, constitui a pedra-de-toque da resisténcia da sociologia da economia sexual e da sua relaco com as revolugdes sociais do nosso século. J4 nao pegava neste livro hé muitos anos. Quando, depois, comecei a corrigi-lo e a amplié-lo, fiquei surpreso com os erros de reflexao que eu havia cometido, quinze anos antes, com as profundas revo- lugdes do pensamento que haviam ocorrido e com as exigéncias que a superagdo do fascismo haviam imposto a ciéncia. Primeiro, permiti-me celebrar uni grande triunfo. A andlise_da_ _ideologia do fascismo, baseada nos pzincfpios da economia sexual, nao s6 resistiu_ao tempo mas também | se confirmou brilhantemente, © seus aspectos essenciais, ‘durante o os tiltimos dez_anos. Sobreviveu — “3s concepgdes puramente econémicas_do.marxismo_corrente, com “que os partidos marxistas alemaes tentaram_opor-se ao fascismo. ~ E um elogio para a Psicologia de Massas do Fascismo 6 pedido de reedicgfo, dez anos depois de ter sido escrita. Disso nao se pode gabar nenhum escrito marxista de 1930 cujo autor tenha condenado a economia sexual. Minha revisio da segunda edicao reflete a revolucao ocorrida no meu pensamento. Por volta de 1930, eu desconhecia as relugdes naturais que se estabelecem entre os trabalhadores, homens e mulheres, na democra- cia do trabalho. Os insights rudimentares da economia sexual sobre a formagio da estrutura humana, pertenciam, aquela altura, ao ambi- to do pensamento dos partidos marxistas. Eu trabalhava, entdo, em organizacées culturais liberais, socialistas e comunistas, e estava habi- tuado a utilizar os conceitos convencionais da sociologia marxista nas minhas exposigdes sobre a economia sexual. A enorme contradi- Gao entre a sociologia da economia sexual eo economicismo corrente XXV jé entdo se revelava, em discussdes embaracosas com yg nérios dos partidos. Mas, numa €poca em We ainda natureza basicamente cientifica dos Partidos Marxistas = Va guia compreender por que motivo os Membros de...’ Dao, tiam, com tanta violéncia, as Conseqiié Nias SOciais do médico, exatamente ao mesmo tempo i que empregadon trabath, pequenos comerciantes, estudantes, ete., acorriam em ma. Perio nizagdes orientadas pelos Principios da €conomia as adquirirem conhecimentos sobre a vida viva, Nunca “professor vermelho” de Moscou que, em 1928, foi em dos meus cursos universitérios, em Viena, para defender 2 um do partido” contra a minha. Disse, entre Outras coisas a linha plexo de Edipo era uma asneira”, que tal Coisa nao See ‘ . anos depois, os seus camaradas russos ram esmagados sol - ti Atorze dos homens-méquina alemies, esctavizados pelo fiihrer, angus eceu exatamente 0 vam os arquivos do nosso instituto: quanto m conseqiiéncias sociais do trabalho de psicologia de Massas, tanto mais Severas se tornaram as contramedidas dos dirigentes Partidarios. ]4 em 1929-1930, a social-democracia austriaca fechou as Portas das suas OrganizagGes culturais aos conferencistas da nossa Organizacao, As OrganizagGes socialistas e comunistas, nao obstante os Protestos dos seus militantes, proibiram a distribuicao das Publicagdes da “Editora Para Politica Sexual”, no ano de 1932, em Berlim. Ameacaram me atar_logo que o marxismo alcancasse o poder na Alemanha. Em ne 1932, as Organizagdes gomunistas da Alemanha vedaram os seus ae de reuniio ao médico especialista em_ economia sexual, conta vontade dos seus 7 membros. A minha expulsao de ambas as org “a Goes baseou-se no fato de eu tér introduzido a sexologia na sma. “e ter demonstrado como ela afeta a formagao da estrutura : funcio- Nos anos que decorreram entre 1934 ¢ 1937, foram ode cl narios do partido Comunista que chamaram a ens sexual. europeus de orientagao fascista para o “perigo” da fee de economia Ha provas documentadas destas sre es modo qu Sexual eram apreendidos na fronteira soviética do mi Contrario, como pro ‘als amplas eram as wvteer 0s milhares de refugiados que procuraram salvar-se do fascismo alem&o; nao hd argumentos validos que justifiquem isso. a ~—— Estes eventos, que na época pareciam absurdos, tornaram-se absolutamente claros enquanto revia a Psicologia de Massas do Fas- cismo. O conhecimento biolégico da economia sexual havia sido comprimido dentro da terminologia marxista comum como um ele- fante numa toca de raposa. J4 em 1938, quando revia o meu livro sobre a juventude,) observei que, decorridos oito anos, todos os termos da economia sexual tinham conservado o seu significado, “enquanto as palavras de ordem dos partidos, que eu incluira no livro, _se tinham esvaziado de sentido. O mesmo aconteceu com a terceira edicio de Psicologia de Massas do Fascismo. Esté claro, hoje em dia, que o “fascismo’?nao_¢_obra_de_um. Hitler ou de um Mussolini, mas sim a expressdo da estrutura irracio-_ nal do homem da_massa. Est4 mais claro hoje do que ha dez anos que a teoria da raca é misticismo biolégico. Estamos hoje mais pro- ximos da compreensao do anseio orgdstico das massas do que esté-— vamos hd dez anos, e ja se generalizou a impressao de que 0 misticismo fascista é 0 anseio orgdstico restringido pela distor¢ao “mistica e pela inibigho da Sexualidade natural. As afirmagdes da economia sexual sobre 0 fascismo sao hoje ainda mais validas do que h4 dez anos. Pelo contrdrio, os conceitos partiddrios do marxismo | usados neste livro tiveram de ser riscados e substitufdos por novos conceitos. Significa isto que a teoria econdmica do marxismo € basicamente, falsa? Pretendo responder a esta pergunta com um exemplo. Serao “falsos” o microscépio da época de Pasteur ou a bomba de 4gua que Leonardo da Vinci construiu? O marxismo é uma teoria econd- mica cientifica construfda com base nas condicdes sociais existentes nos princfpios e meados do século XIX. Mas o processo social, longe de se deter af, prosseguiu no século XX, numa orientagéo fundamen- talmente diversa. Neste novo processo social, encontramos as carac- teristicas essenciais do século XIX, do mesmo modo que encontramos, no microscépio moderno, a estrutura basica do microscépio de Pasteur e, no atual sistema de canalizagGes, 0 principio basico de Leonardo (2) © autor refere-se a Der Sexuelle Kamp} der Jugend (O Combate Sexual da Juventude). (N. do E.) XXVII V ° microsc6pio de Pasteur nem a bomba de idade pratica. Foram ultrapassados Por ci tem a? ; totalmente novos, que correspondem a noyac ¥ tecnologia. OS P: idos marxistas da Europa ges 8 moderne 9 declinio (nao digo isso com prazer), poe cassaram © cones um fenémeno essencialmente NOVO, como & “ere tentado end XX, ei conceitos apropriados ao século XIx. % fascismo “sécu no organiZaGao social porque nao souberam man.” Foram derrotados Sa as possibilidades vitais que cada teoria cien. ter vives © dee fo lament© o fato de ter exercido a minha atividade tifica core Sitios anos, em organizagOes marxistas. Meu conhe. médica ae dade nao provém dos livros, mas foi adquirido eet a partir do meu envolvimento pratico na luta das res humanas por uma existéncia digna e livre. Os melhores insights no campo da economia sexual decorrem exatamente dos meus proprios erros ao pensar sobre essas massas humanas, Os mesmos erros que as tornaram predispostas 4 peste fascista. Sendo médico, tive muito mais possibilidade de conhecer o trabalhador internacional e seus problemas do que qualquer politico partiddrio. O politico nao vé mais do que a “classe 2 operdria”, em quem pretende “infundir consciéncia de classe”. Eu, | rio, via o homem como uma criatura_ que vinha se su. jtandgo_a dominacao das piores condigdes ‘sociais, condigdes que ele prdprio criara, que ja faziam parte inte- grante do seu cardter, e das quais procurava, em vao, se libertar. abismo que separa a visio puramente econdmica da visio biosso- ciolégica intransponivel. A teoria do “homem de classes’ opunha-se a natureza irracional da sociedade do animal “homem”. : je, nem vinci. Mas. E uF yer util Hoje, € do conhecimento geral que as idéias econdmicas marxis- tas Penetraram no pensamento do homem moderno, influenciando-o ¢m maior ou menor grau, freqiientemente sem que os economistas © Cate = questio ténham consciéncia da origem das suas idéias. mo “classe”, “lucro”, “exploragdo”, “uta de classes’ “mercadoria” e “maj . i € “mais-valia” tornaram-se senso comum. Por tudo iss. ee Partido que se possa considerar herdeiro : trata de fatos est ° Patriménio cientifico do marxismo, quando x chavSes que j4 ae lo desenvolvimento sociolégico e nao de me" © correspondem ao seu contetido original. XXVIII Entre 1937 e 1939, desenvolveu-se sob o enfoque da economia sexual 0 conceito novo da “‘democracia do trabalho’. A terceira edi- go da Psicologia de Massas do Fascismo explica, nas suas caracte- risticas fundamentais, este novo conceito, que contém_as_melhores descobertas sociolégicas do marxismo, validas até hoje. Ao mesmo ‘tempo, leva em conta as alteracdes ais por que passou 0 conceito de “trabalhador”” no _decurso dos tltimos cem anos. Sei, por expe- riéncia propria, que serao precisamente os “iinicos representantes da classe operdria” e os atuais e futuros “dirigentes do proletariado internacional” que combaterao esta ampliacéo do conceito social de trabalhador, acusando-o de “fascista”, “‘trotskista”, “contra-revolucio- nario”, “inimigo do partido”, etc. Organizacdes de trabalhadores que expulsam negros e praticam o hitlerismo nao merecem ser considerados como fundadoras de uma sociedade nova e livre. E quando o “hitle- rismo” nao é exclusivo do partido nazi ou da Alemanha; ele penetra nas organizag6es de trabalhadores e nos circulos liberais e democra- ticos, O fascismo nao é um partido politico, mas uma certa concepgao de vida e uma atitude perante o homem, ‘0 amor e o trabalho. Isso ‘em nada altera o fato de que a politica praticada pelos partidos marxistas antes da guerra se esgotou, ndo tendo qualquer futuro possivel. Assim como 0 conceito de energia sexual se perdeu dentro da organizagao psicanalitica, vindo a reaparecer, com uma forga nova, na descoberta do orgone, também o conceito do trabalhador interna- cional perdeu o sentido nas praticas dos partidos marxistas, reapare- cendo no Ambito da sociologia da economia sexual. Ora, as atividades do economista sexual s6 sao possiveis se estiverem enquadradas_no “conjinto do irabalho social necessdrio, ¢ nao € possivel no ambito da Vida vazia de trabalho, reacionéria ¢ mistificadora. A sociologia baseada na economia sexual nasceu das tentativas para harmonizar a psicologia profunda de Freud com. a_teoria econd-_ mica de Marx. A existéncia humana é determinada tanto pelos pro- cessos instintivos como pelos processos sécio-econdmicos. Mas as tentativas ecléticas de reunir, arbitrariamente, “instinto” e “economia” devem ser rejeitadas. ‘A sociologia baseada na economia sexual resolve _ a contradicgao que levou a psicandlise a esquecer 0 fator social € 0 marxismo a esquecer a origem animal do homem, Coma j4_disse em_ “outra ocasifio, a psicandlise € a mae da economia sexual e a sociologia frraa tl ‘ J Co as 2 Wont at XXIX hart Herman cet) OS Pati, AOU ;. Mas um filho é mais do que a somq al. dos é0 Pi independente; € a seme; cus Pais, jatura viva, nova € Independente; mle do futuro,” § Un, ae acordo com a nova acepcao econémico-sexya} . ” demos a algumas alteracdes ha t °° Cong “trabalho”, procecemos ista”, “sociatigna ee Mlog iyro. Os conceitos de “comunista”, “socialist a tiene etc., foram substituidos a termos “sPecificamenta me gicos € psicolégicos, tais como Tevol Ucionério e ientitieg» cols eles implicam é “revolugao radical”, atividade racional”. “Gh Que raiz das coisas”. Bar Tais alteragdes correspondem a0 fato de que hoje i nip predominantemente os partidos socialistas ¢ comunistas, on . Sig em contraste com eles, muitos agrupamentos nag Politicos « a e sociais de todas as tendéncias p velam uma on asses cada vez mais revolucionéria, isto é, que anseiam por y social inteiramente nova e racional, Passou a fazer Parte de consciéncia social universal — ¢ mesmo os velhos Politicos 0 dizem — que, como resultado de sua luta contra 0 mundo inteiro se envolveu ni internacional, revoluciondria, do” foram cunhadas ha mais City de Scns te Clencig de oliticas que re Nossa burgueses 4 Peste fascista, » indispensdveis e tes ciéncia de sua Capacidade. tuido por “consciéncig Profissional” oy O marxismo do século XIX limitava a “consciéncia de classe” a0 trabalhador manual. Mas os outros trabalhadores, de profissdes indispensdveis, eram contrapostos ao _“proletari ado” e designados como “intelectuais’” oy “pequeno-burgueses”,‘) Esta justaposigio a a OU ool a ito impor- squematica, hoje inaplicavel, desempenhou um papel muito imp. a d aan “conscién- tante no triunfo do fascismo na Alemanha, O conceito de “cons Cia de classe” nao s6 io onde € muito limitado, como também nao o etraballo Sequer a €strutura da classe dos trabalhadores maniais. expres industrial” e “proletariado” foram, por isso, substituidos pelas () “Petty bourgeois”, na edigo americana. (N. do E. bras.) ; — Xxx Th » GOP Very Vy f sdes “trabalho vital” e “trabalhadores”. Estes dois conceitos abrangem todos aqueles “realizam um trabalho vital para a extsiéncia da sociedade, Além dos trabalhadores industriais, esses CO conceitos incluem™ Yambém médicos, professores, técnicos, escritores, administradores sociais, agricultores, cientistas, etc. Esta nova concepgao_vem. preen- cher uma lacuna _que contribuiu_largamente_para_a_atomizacéo_da_ sociédade humana trabalhadora conseqiientemente, lev levou ao fascis-_ “mo tanto preto quanto vermelho. aia A psicologia marxista, desconhecendo a psicologia de massas, opds o “burgués” ao “proletério”. Isso é psicologicamente errado. A estrutura do cardter nao se limita aos capitalistas; atinge igual- mente os trabalhadores de todas as profissdes. Ha capitalistas liberais e trabalhadores reaciondrios. O cardter nao conhece distingdes de classe. Por isso, os conceitos puramente econédmicos de “burguesia” e “proletariado” foram substituidos pelos conceitos de “reaciondrio” e “revoluciondrio” ou “libertdrio” que se referem ao cardter do homem e nao & sua classe social. Esta alteragdo foi forcada pela peste fascista. O materialismo dialético, cujos principios foram desenvolvidos por Engels no Anti-Diirhring, transforma-se em funcionalismo ener- gético. Este progresso foi possibilitado pela descoberta da energia biolégica, 0 orgone (1936-1938). A sociologia e a psicologia adqui- riram, assim, uma.s6lida base biolégica, o que nao péde deixar de exercer influéncia sobre o pensamento. E, com a evoluco do pensa- mento, os velhos conceitos modificaram-se, aparecendo novos concei- tos para substitui-los. Assim, o termo marxista, “consciéncia” foi substituido por “estrutura dindmica”, “necessidade” por “processos instintivos orgonéticos”, “tradigio” por “rigidez bioldgica e carac- teriolégica”’, etc. O conceito de “iniciativa privada”, na acepgfo do marxismo corrente, foi mal interpretado pela irracionabilidade humana, como se o desenvolvimento liberal da sociedade significasse a abolicio de toda propriedade privada. Isto foi, evidentemente, aproveitado pela Teacao politica. Ora, desenvolvimento social e liberdade individual nada tem a ver com a chamada aboligio da propriedade privada. O conceito marxista de propriedade privada no se aplicava as cami- sas, calcas, méquinas de escrever, papel higiénico, livros, camas, segu- tos, residéncias, propriedades rurais, etc. Esse conceito referia-se XXXI jade privada dos meios Sociais de Prodyes a propric’ am o curso geral da Sociedade; on “tio, jyamente geterm centrais hidrdulicas ¢ elétticag 1 Sula, lust eles ar de ae dos meios de producig” to, Minas te iat “social imrorque foi confundida com - “eet Uy cava © exatame estudrios, livros, moradias, etc,, gq a "Optiags, picho Pe de (rE ia dos. No decurso do século Passady. ° com Tot nn de POBUROwnes g on nalizaco © da em todos 0s. paises capital istas, em uns mais XD ragao PM a ~ He vem oulre’ trutura do trabalhador e a sua cana: Como a estrutura Co tal w ePaCidade nerdade estivessem muito inibidas para permitir que ele a liber ido desenvolvimento das organizacdes SOCiais, 0 “Esta Plas. ao rapido esenv i eee Stado nea. regou-se de realizar os atos que competiam a “Comunidade os balhadores. Na Rissia Soviética, tida Como bastiiio do mani a nada ha que se parega com a “socializacdo dos teios de prody ™, Acontece que os partidos marxistas simplesmente Confundiram “ee lizagéo” com “nacionalizacéo”. Mostrou-se, Nesta guerra, que woe no dos Estados Unidos também tem o direito ¢ OS meios de nace nalizar empresas de funcionamento deficiente. A Socializacio des meios de producdo, a sua transferéncia de Propriedade private & alguns individuos para propriedade Social, soa muito menos atertoi zadora se tivermos presente que hoje, em Conseqiiéncia da gum, existem, nos paises capitalistas, relativamente poucos propria independentes, enquanto que ha muitos trustes responsdveis perant o Estado; e que, além disso, na Russia Soviética, as industrias soci certamente nao s&o geridas Pelos seus trabalhadores, mas por gr’ de funcionérios do Estado. A socializagdo dos meios sociais de prs G0 86 serd vidvel ou possivel quando as massas trabalhadoras Teme ruturalmente maduras, isto é, conscientes de sua resp oa ar ere esmagio lidade para os gerir. Atualmente, as massas, na sus aa maioria, nao estao nem dispostas e nem maduras para fa - uma socializagao de grandes indistrias, no sentido G ‘chi Ser geridas apenas pelos seus trabalhadores aor ie Processo os técnicos, engenheiros, diretores, ae da, BN buidores, etc., € socioldgica e economicamente a assim no G40 € hoje rejeitada pelos proprios operérios. * poder. Partidos marxistas ha muito teriam conquistado Pata XXXII Esta € a principal explicagao sociolégica do fato de a iniciativa privada do século XIX estar se voltando, cada vez mais, para uma economia planificada, em moldes de capitalismo de Estado. Deve-se afirmar claramente que também na Riissia Soviética no existe socia- lismo de Estado, mas sim um rigido capitalismo de Estado, no sentido rigorosamente marxista da palavra, Segundo Marx, a condicao social do “‘capitalismo” nao se origina, como acreditam os marxistas comuns, a partir da existéncia de capitalistas individuais, mas sim da existén- cia de “modos de produgfo capitalistas” especificos. Em resumo, origina-se da economia de mercado, e nao da “economia de uso”, do trabalho assalariado das massas e da produgao de mais-valia, indepen- dentemente de esta mais-valia reverter em favor do Estado acima da sociedade, ou em favor de capitalistas individuais, pela apropriagao da produgio social. Neste sentido estritamente marxista, o sistema capitalista continua a existir na Rtissia; e subsistiraé enquanto as massas humanas forem dominadas pelo irracionalismo e pelo autori- tarismo, como sao atualmente. A psicologia da estrutura, ada naeconomia sexual, acrescenta a visao econdmica da sociedade uma nova | interpretagaa_do_cardter_e, da _biologia humana. A eliminacao_dos_capitalistas_individuais_e_a “substituigao_do_capitalismo_privado_pelo_capitalismo_de Estado_na_ “Riissia em nada_veio_alterar_aestrutura do_cardter tipico, desampa-~ e subserviente das massas_humanas.. “Além disso, a ideologia politica dos partidos marxistas europeus baseou-se em condigdes econémicas que correspondiam a um periodo de cerca de duzentos anos, isto 6, do século XVII ao século XIX, no qual a mdquina se desenvolveu. Em contrapartida, 0 fascismo do século XX colocou a questo fundamental do cardter do homem, do “misticismio humano € do desejo de autoridade, que cobre um periodo de quatro a seis milénios. Também nisso o marxismo corrente tentou enfiar um elefante numa toca de raposa, A estrutura humana, da qual trata a sociologia da economia sexual, nao lesenvolveu nos tltimos duzentos anos; ao contrério, reflete uma civilizacao patriarcal autori- taria de muitos milénios. Na realidade, a economia sexual vai ao le afirmar que os abomindveis excessos da era capitalista, nos~ itezentos anos (imperialismo predatério, defraudacéo do tra- balhador, opressiio racial, etc.), apenas foram_possiveis porque a estrutura humana das incriveis massas_ que suportaram tudo isso se XXXIII liberdade incapaz de idade, inc: dente da sein fato de esta estrut 7 icismo. inaca ‘ao tornou totalmente depe 9 misticismo anisutanaees rela cease i sociais © P em nada altera og sey “io criada pelas eae inata no homem, “reestruturaggo™. ica a portanto, uma conenst uma saida Chama sexual, ¢ Se raieeeey baseada na omia sta Ponto de vi Portanto, ositivo da pa avra, do Que is radical, no sentido estrito.e p r ser radical o “ip -iuuito mais radica : a se se entende por ser 1 0 do Marxismo, co nie, de todas as Coisas”, ura ter Sendo a raiz~ a : ivel superar 4 Peste mclui que € tao eee trezenty anos i co im fascist See sociais adotadas nos . toca de raposa (300 an enfar um elefante (seis mil anos) num. ancs). tural biolégicg A descoberta dademocracia do or onan, Bi 4 resposig relagoes humanas internacionais deve ser consi $ “a0 fascismo, Isto € verdadeiro meg € nenhum €cono iOfisicg t8Snico 9, mo qu mista Sexual, " democrata do trabalho dog ROSsos dias Viva 9 tempo Suficiente Ta constatar Sua com Sobre g itracionalidade pleta Tealizacio ¢ seu triunfo na Vids social, —~ "© _ _ ~~ Sci Wilhelm . Reich alne, agost Ode 1949 Glossario Matérig Organica Pode sey Teproduzido &xperimentalment S bions esto carre jados ergia organi a © transf aMm-se em Proto- 20ariog @ bactériag, BIO A Disturbio resultante Perturbacag da Pulsagag bio- lgica em © organism, bra; Processog de doenca que perty, aParelho aut no a ° €canismo central Um distarh descarg @ exc} Cao biossexual, ane A a. TR, Ho, ©Mocracig do balho na Sistema j Oldgico oy « liticg” i i dade hy Mana pela Propane ae t ie oles ; ou de p POS ligados Por uma j; ig d ian al do tra lho € 9 Conjunto Ses qa noctacia natu. Pelas relacg interpessoai Taciong " reBidas esenvo} Modo natural anign eam. “resceram ¢ s Tncipal i ue, pela primeira vez na hist ie jologias se ccna oma sossbilidaile de regulacio fy Se aoa derivada nao de ideologias ou condicdes conan mas sim de processos naturals eee volvi le o inicio. A “politica’ 00 a eee = rejeigdo de toda e qualquer politica ou de, As massas de homens e mulheres trabalhadores nao estar; da responsabilidade social; pelo contrério, serao sobrecarreg ela. Os representantes da democracia do trabalho nao a Sria da tura da & sere, © témse trabalho Magogia, Go livres jadas com mbicionam, tornar-se fiihrers politicos. A democracia do trabalho transforma conscientemente a democracia formal, que se exprime na simples eleigio de representantes politicos e nao implica qual responsabilidade por parte dos eleitores, numa democraci; factual e prética em escala internacional. Esta democraci a partir das seguintes funcdes: amor, trabalho e conhe: se desenvolve organicamente. Combate Estado totalitério, ndo através de atitu de funges vitais prdticas que obedecem as suas Proprias leis, Resu- mindo: a democracia natural do trabalho nao € um programa Politico, € uma funcdo natural, fundamental e biossociolégica da Sociedade, que acaba de ser descoberta. ECONOMIA SEXUAL. Este lagao da energia biolégica ou, economia da energia sexual d quer Outra a auténtica, '@ Se origina Cimento, Ela © misticismo e a idéia do ides politicas, mas Por meio conceito se refere ao modo © que € praticamente o mi lo individuo. Economia se de regu. esmo, da caracteriza o trabalho de Reich desde a €poca em que refutou a filosofia cultural de Freud até a descoberta do orgone, a partir da qual preferiu o termo “orgonomia”, ciéncia da Energia Vital, ENERGIA ORGONIC. ‘A. Energia Césmica Primordial; est4 presente m tudo e pode ser . observada visualmente, termicamente, eletros- copicamente € por meio de contadores Geiger-Mueller. No organismo vivo: Bioenergia, Energia Vital, Descoberta por Wilhelm Reich entre 1936 e 1949, XXXVI ESTRUTURA DO CARATER. Estrutura tipica de um individ sua maneira estereotipada de agir e reagir. O conceito orgonémics de caréter é funcional e bioldgico, e nao um conceito estatico, psico, égico ou moralista. FUNCIONALISMO ORGONOMICO (“ENERGETICO”). Técnica de pensamento funcional que dirige a investigacao orgénica, tanto clinica como experimental. O seu principio basico é a identidade de variantes no principio comum de funcionamento (PFC). Esta técnica de pensamento desenvolveu-se no decurso das investigagdes sobre a formagao do cardter humano e levou a descoberta da energia orgénica funcional no organismo e no cosmos; revelou-se, assim, como reflexo correto dos processos bdsicos naturais, tanto vivos como nao-vivos. IMPOTENCIA ORGASTICA. A falta de poténcia orgastica, isto €, a incapacidade de entrega total & convulsao voluntdria do organismo e de descarga completa da excitagéo no auge do abrago genital. fa caracteristica mais significativa do homem médio da nossa época e, pelo represamento da energia biolégica (orgone) no organismo, proporciona a fonte de energia para sintomas de biopatia e irracio- nalidades sociais de toda espécie. POLITICA SEXUAL. © termo “politica sexual” refere-se a apli- cacao pratica dos conceitos de economia sexual as massas, no cendrio social. Este trabalho foi realizado entre 1927 e 1933, na Austria e na Alemanha, no seio dos movimentos revoluciondrios pela liberdade e de higiene mental. SEXPOL. Nome da organizagao alema que se ocupava das ativi- dades de politica sexual de massas. VEGETOTERAPIA. Com a descoberta da couraca muscular, 0 pro- cesso terapéutico da andlise do carater modificou-se, para libertar as energias vegetativas reprimidas, 0 que veio restabelecer a capa- cidade de motilidade biofisica do paciente. A combinagao da anilise do cardter com a vegetoterapia € conhecida como vegetoterapia ana- litica do cardter. Mais tarde, a descoberta da energia orgénica no organismo (bioenergia) e a concentracao da energia orgénica atmos- férica, por meio de um acumulador de energia orgonica, tornaram necessdrio que a vegetoterapia analitica do cardter continuasse a se desenvolver, incluindo a terapia org6nica biofisica.

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