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|| RESUMOS DE INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES INTERNACIONAIS — 2019 ||

NOTA: ESTES RESUMOS SÃO BASEADOS NOS SUMÁRIOS DA DOCENTE E NOS APONTAMENTOS DE AULA

CONCEITOS-CHAVE:

• RELAÇÕES INTERNACIONAIS — Conjunto de relações/interações/comunicações entre os


vários atores internacionais e que atravessam as fronteiras. Revelam-se cada vez mais
complexas em virtude da sua interdependência e do aparecimento da ideia de uma
solidariedade da comunidade dos Homens e dos Estados. Tal levou à criação de instituições
coletivas permanentes (= organizações internacionais) com objetivos de cooperação, e até
de unificação, no seio da sociedade internacional.

o ATENÇÃO: Nas Relações Internacionais, não existe uma teoria geral; aliás, não existe
uma só teoria.

• ESTADO — Entidade abstrata político-social criada pelo Homem e juridicamente


organizada para executar os objetivos da soberania nacional e regular as relações de
convivência.

o ATENÇÃO: Estado  Nação — O conceito de Nação envolve a existência de vínculos


comuns entre os habitantes de determinado local. Trata-se do conjunto homogéneo
de pessoas que se consideram ligadas entre si por vínculos de “sangue”, idioma,
religião, cultura, ideias e objetivos, entre outros (sentimentos relativamente
uniformes). Já a definição de Estado envolve, necessariamente, o aspeto da
organização jurídica desse mesmo conjunto de pessoas (sociedade). Essa definição
explica porque é que uma Nação surge antes do próprio Estado e porque é que as
Nações podem subsistir sem um Estado (como a Nação Judaica antes da criação do
Estado de Israel).

▪ ESTADO DE FACTO = Povo + Território + Poder político organizado

▪ ESTADO DE JUS = Povo + Território + Poder político organizado +


Reconhecimento internacional

• POVO — Conjunto de pessoas dotadas de capacidade jurídica para exercer os direitos


políticos assegurados pela organização estatal. Difere de “População”, cujo conceito
envolve aspetos meramente estatísticos do número total de indivíduos que se sujeitam ao
poder do Estado, incluindo, por exemplo, os estrangeiros, apátridas e os visitantes
temporários.

o ATENÇÃO: POVO  NAÇÃO — Embora o conceito de nação esteja ligado ao conceito


de povo, contém um sentido político próprio: a nação é o povo que já adquiriu a
consciência de si mesmo.

• SOBERANIA — Qualidade do poder político de um Estado, que não está submetido a


nenhuma autoridade superior. É o atributo de um Estado que se refere aos seus direitos de
exercer, completamente, jurisdição sobre o seu próprio território e sobre um determinado
povo. Enquanto unidades soberanas, os Estados têm o direito de ser autónomos e
independentes internamente, bem como de ser reconhecidos pelos demais Estados do
sistema internacional. Em termos de soberania, todas as entidades são iguais, ainda que
não o sejam em termos de poder.

o SOBERANIA VS AUTONOMIA
▪ A soberania representa mais do que autonomia no que diz respeito ao
grau de independência e desprendimento com que é exercido o poder.

▪ A soberania é poder político supremo, porque não está limitado por nenhum
outro poder na ordem interna, e é poder político independente, pois na
sociedade internacional não tem de acatar regras que não sejam
voluntariamente aceites.
▪ A soberania permite o exercício da autonomia, mas cuida de restringi-lo a certas
distribuições de competência.

▪ O poder soberano, como fonte originária da ordem normativa, estabelece e


regula os termos do poder autónomo.

▪ A soberania carateriza o Estado na ordem internacional, enquanto a autonomia


interessa à ordem interna somente.

• CIÊNCIA POLÍTICA — É a teoria e prática da política, bem como a descrição e análise dos
sistemas políticos e do comportamento político. Trata-se de um conceito operacional é
possível, difícil de definir. A ciência política abrange diversos campos, tais como a teoria e
a filosofia políticas, os sistemas políticos, ideologia, economia política e política e direito
internacionais, entre outros. Emprega, igualmente, diversos tipos de metodologia. As
abordagens da disciplina incluem a filosofia política clássica, estruturalismo, behaviorismo,
racionalismo, pluralismo e institucionalismo. Enquanto ciência social, a ciência política usa
métodos e técnicas que podem envolver tanto fontes primárias (documentos históricos,
registos oficiais, etc.) quanto secundários (artigos académicos, pesquisas, análise
estatística, etc.).

o ATENÇÃO: Ciência Política  Política — A Ciência Política é o conhecimento, é a


disciplina que estuda os conhecimentos, as instituições e as ideias políticas, tanto em
sentido teórico (doutrina) como em sentido prático (arte). O Estado é a matriz do
estudo da Política.

o CONCEITO OPERACIONAL DE CIÊNCIA POLÍTICA — Disciplina social e autónoma que


engloba atividade de observação, análise, descrição, comparação, sistematização e
explicação dos fenómenos políticos.

• POLÍTICA — Assim como o conceito de poder, o conceito de política encontra diversas


definições. Política pode ser tanto a ciência dos fenómenos referentes ao Estado, a um
sistema de regras respeitantes à direção dos negócios públicos, a arte de bem governar os
povos, quanto um conjunto de objetivos que formam determinado programa de ação
governamental e condicionam uma ação. Para as relações internacionais, o mais
importante é a ideia do conjunto de objetivos que determinam as orientações e as ações
dos atores internacionais.
• PODER — Nas abordagens realistas, poder é a variável predominante nas relações entre
os atores internacionais. Não só determina o comportamento dos atores estatais, que,
segundo os realistas, é condicionado pela busca incessante de incremento de poder, como
também é uma característica inerente deles. Contudo, diversas são as conceções de poder:

▪ PODER = Ter a faculdade, possibilidade de ou autorização para realizar alguma


coisa.
▪ PODER = Ter ocasião, oportunidade, meio de dispor de força ou de autoridade.
▪ PODER = Força física ou moral, capacidade de influência.
▪ PODER = O direito de deliberar, agir, mandar.

o DIVISÃO DE PODERES — A ideia da divisão de poderes é um princípio geral do direito


constitucional (também conhecido por checks and balances system). A divisão
tripartida dos poderes foi sugerida por vários filósofos, mas é a Monstesquieu que se
deve à sua definição e divulgação. Foi positivada, primeiramente, na Constituição das
ex-colónias inglesas na América. Num sentido técnico, considerando-se que o poder
político é uno, indivisível é indelegável, não se poderia falar em separação de poderes,
mas em distinção de funções ou divisão funcional de poder. Assim, surge a seguinte
divisão:

▪ (1). Função Legislativa


▪ (2). Função Executiva
▪ (3). Função Judicial

o HARD POWER — Força militar: inclui o setor militar, a força de armas e guerra e tentativas
de quedas de governos, entre outros.

o SOFT POWER — Diplomacia, ou seja, levar o estado a negociar connosco e a resolver os


conflitos de forma pacífica e com recurso ao diálogo, recorrendo, por vezes, à “ameaça
diplomática”.

o SMART POWER — Conjuga o Hard Power com o Soft Power de uma forma inteligente. Este
poder pode ser potencial quando nos referimos a países que efetivamente têm recursos que
lhes permitiriam ser bastante poderosos (por exemplo, a Alemanha e o Japão) e pode ser real
quando as potências, para além de terem os meios, os conseguem usar para seu benefício.

o OUTROS TIPOS DE PODER:


• Político — EUA, UE
• Económico — G20, UE
• Social —UE
• Cultural— UE, Grécia, Portugal, França, Reino Unido, Itália, EUA
• Financeiro — G20
• Comercial — China, EUA, UE

• ANARQUIA — A ideia de anarquia internacional refere-se à ausência de uma potência que


estabeleça e garanta a ordem internacional. É uma característica definidora da política
internacional e do sistema vestefaliano de RI, onde não existe um poder soberano superior
que regule as entidades do sistema. A anarquia internacional do final do século XX e início
do século XXI baseia-se num sistema de autoajuda e de alianças, onde uns Estados são mais
fortes que outros e onde os primeiros podem ter a tentação de subjugar os mais fracos à
sua força superior. Na terminologia política, o termo anarquia não é equivalente a
desordem no meio do caos, mas tão somente de ausência de governo efetivo. Neste sistema,
os Estados são obrigados a salvaguardar eles mesmos à sua segurança e outros interesses
vitais. Enquanto algumas das grandes potências mantém uma preocupação constante com
a sua segurança e estão prontas, a qualquer momento, para recorrer à força se necessário,
a maioria dos Estados da sociedade anárquica prossegue uma cooperação pacífica por
largos períodos e procuram estabelecer entre si uma ordem estável e equilibrada.

• COMUNIDADE INTERNACIONAL — Comunidade  Sociedade: Enquanto as comunidades


se caracterizam por laços de afetividade, nas sociedades os laços baseiam-se em interesses
comuns. Além do mais, enquanto a comunidade é uma associação espontânea é natural, a
sociedade resulta de necessidades pragmáticas de associação ou convivência.

• SOCIEDADE INTERNACIONAL — Para Hedley Bull, «uma sociedade de Estados (ou


sociedade internacional) existe quando um grupo de Estados, que tem consciência de
interesses e valores comuns, formam uma sociedade, no sentido de se considerarem
interligados por um conjunto de regras comum que orienta as suas relações e que
partilham no trabalho das instituições comuns. [...] Simultaneamente, cooperam no
funcionamento das instituições, como, por exemplo, os processos de direito internacional,
o sistema de diplomacia e das organizações internacionais e os costumes e convenções de
guerra». A sociedade internacional é:

o (1). PLURALISTA — no sentido de permitir a convivência de uma pluralidade de


atores, cada um com objetivos e lógicas alicerçados em tradições históricas próprias
(podem ser atores estatais ou não-estatais, como as organizações internacionais,
multinacionais ou o indivíduo).

o (2). DIVERSIFICADA — em termos da natureza das normas que orientam a


convivência social e no que diz respeito à forma como essas normas estão implantadas
nas diferentes áreas geográficas e temáticas (embora a obediência às normas possa
não ser obrigatória, o seu incumprimento tem um custo que resulta do impacto
negativo sobre as expectativas de outros, sob a forma de sanções ou mesmo de
reprovação moral e descrédito internacional).

o (3). EVOLUTIVA — porque a passagem do tempo reflete-se na distinção que se vai


fazendo entre as normas limitadas por lógicas particularistas ou imediatistas (que
acabam por cair em desuso quando as circunstâncias se alteram) e normas que
beneficiam de algum consenso e ganham espaço e legitimidade própria.

• REGIMES INTERNACIONAIS — Sendo difícil negar a enorme importância da cooperação


internacional, certos autores procuraram na ideia de regime um instrumento para explicar
o funcionamento e a evolução de processos de cooperação. Assim, os regimes
internacionais são aqueles conjuntos de disposições governativas (processos, regras,
normas e, em alguns casos, instituições funcionais especiais), instituídas para regular e
controlar determinados tipos de atividades transnacionais em que esta regulação e
controlo aparecem como matérias de interesse comum a uma série de Estados. A ideia
central da teoria dos regimes é que grande parte do relacionamento internacional acontece
segundo regras preconcebidas que são consideradas de benefício mútuo pelos
participantes, ou pelo menos pelos participantes mais importantes e influentes.

• NÍVEIS DE ANÁLISE — Na teorização, o nível de análise a que nos reportamos é


fundamental. Os Estados, os indivíduos e o sistema global têm sido, segundo Knenneth
Waltz, os objetos mais comuns de análise em RI. Três níveis de análise possíveis são o
interestatal, o transnacional e o sistémico. No passado, era o nível interestatal que
dominava, explicando o comportamento dos Estados em termos de oportunidades e de
constrangimentos no palco internacional e também de pressões e de necessidades
económicas, sociais e políticas no interior do Estado. Contudo, a partir de dada altura, os
fenómenos transnacionais, ou sejam, que atravessam fronteiras sem serem
necessariamente controlados pelos Estados, passaram a assumir maior protagonismo na
disciplina de RI. Por sua vez, a análise sistémica tem privilegiado a forma como a estrutura
do sistema constrange e é constrangida pelas unidades que participam no sistema, sejam
Estados ou outros intervenientes. Estes três níveis, apesar de serem os mais frequentes na
disciplina de RI e de nos ajudarem a compreender políticas e processos internacionais no
mundo contemporâneo, não dão a chave para todas as circunstâncias, dado que o mundo
em que vivemos é demasiado complexo para poder ser reduzido a um modelo, embora
algumas tendências se vão tornando evidentes. Os adeptos do ponto de vista anárquico
privilegiam a importância dos Estados e, portanto, tendem a concentrar os seus esforços
no nível interestatal (realismo clássico) ou no nível sistémico (neo-realismo). Aqueles que
pensam vislumbrar uma comunidade internacional consideram muito importante estudar
fenómenos a nível transnacional, mas podem também adotar uma perspectiva mais
sistémica. Os adeptos da ideia de sociedade internacional tendem a desvalorizar as
abordagens interestatais, preferindo desenvolver os seus raciocínios nos outros níveis. Mas
estas tendências são apenas isso, não consequências lógicas ou necessárias de opções
anteriores a nível dos pressupostos.

OUTROS CONCEITOS:

• BALANÇA DE PODER — Entendida como uma situação de simetria de poder entre


unidades estatais que lhes cria uma situação de equilíbrio. Pode ser criada pelos atores
internacionais de forma deliberada ou pode surgir espontaneamente no sistema em
virtude de combinações e arranjos políticos naturais que se vão formando. Os Estados
orientam as suas políticas externas em função do próprio equilíbrio. Para isso, as alianças
tornam-se fundamentais, alianças essas que podem ser de dois tipos: alianças a priori, que
se formam independentemente do regime/tema em questão; ou alianças a posteriori, que
se formam à medida do interesse dos atores em interação.

• CAPABILITIES — Capacidades internas de um Estado, aquilo que no seu conjunto auxilia


na determinação do seu poder. Como é um atributo do Estado, as capabilities são mais
importantes para as conceções cujo ator estatal é o ente mais relevante.

• LOW POLITICS — Temas considerados de menor importância pelos atores internacionais


dentro da agenda internacional. Geralmente associam-se a qualquer questão que não esteja
ligada à segurança e interesses estratégicos. Meio-ambiente, Direitos Humanos e
Desigualdades Sociais são, tradicionalmente, considerados temas de low politics. É
considerada uma parte da agenda mais democrática e com maior capacidade de formação
de regimes internacionais.

• HIGH POLITICS — Temas considerados de maior importância pelos atores internacionais


dentre da agenda internacional. Geralmente associam-se às questões de segurança e
interesses estratégicos.
• DILEMA DE SEGURANÇA — Ideia desenvolvida por John Herz, o dilema de segurança
ocorre quando um dado Estado se começa a armar tendo em vista a sua própria segurança
e, consequentemente, a sua auto preservação. A lógica por detrás é que somente um Estado
militarmente poderoso poderá sobreviver no sistema internacional anárquico. Ainda que
para fins defensivos, esse armamento poderá fazer com que os demais Estados no sistema
internacional adotem uma postura agressiva em relação ao primeiro, começando,
igualmente, a adquirir armas. Esta reação por parte dos demais Estados gerará insegurança
no primeiro, que reiniciará o processo de armamento.

ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS — Por atores das RI entendemos todos os agentes ou
protagonistas com capacidade para decidir das relações de força no sistema internacional, isto é,
agentes com poder para intervir e decidir das Relações Internacionais nos seus mais variados níveis, de
forma a poderem atingir os seus objetivos. A política internacional depende, em grande parte, do jogo
dos atores.

• ESTADO — Define-se pela reunião de três elementos ou características: um território, um


povo e poder político soberano. Juridicamente, a unidade estatal distingue-se das outras
coletividades territoriais pelo critério da soberania. Os Estados diferem uns dos outros em
razão do seu tamanho, da sua potência, da sua força militar e da forma do seu governo
(=regime político) - o governo deverá ser entendido em sentido lato, englobando o poder
político e o aparelho administrativo. Isto pressupõe a presença de uma organização capaz
de assumir as principais funções estatais, como, por exemplo, legislação, administração,
jurisdição, defesa da integridade do território, proteção da população e funcionamento dos
serviços públicos. No plano interno, dizer que o Estado é soberano significa, simplesmente,
que ele tem o poder de comandar e de decidir em última instância. No plano internacional,
a soberania não quer dizer que o Estado não tenha que se submeter a regras obrigatórias
que lhe são superiores. Significa, ao invés, que o Estado não é submetido sem o seu
consentimento a qualquer autoridade ou organismo que lhe imponha um constrangimento.
Todos os Estados são juridicamente iguais e soberanos, todos têm os mesmo direitos e os
mesmos deveres fundamentais. Com efeito, a simples coexistência de várias entidades
estatais impõe-lhes regras minuciosas de repartição de competências. Se nenhum Estado
está subordinado a outro, mas somente ao Direito, então o Direito é a condição de
existência da Sociedade Internacional. Os Estados são os atores principais a nível
internacional e contam-se, atualmente 193 Estados.

o PRERROGATIVAS DOS ESTADOS


▪ Direito de celebrar e fazer tratados (Jus tractum) — só os Estados têm o
direito de os fazer, pois são fontes de direito internacional.
▪ Direito de enviar e receber diplomatas.
▪ Direito de fazer a guerra (jus belli) — só um Estado é que pode declarar
guerra a outro Estado.

NOTA: Depois do século XIX, os Estados deixam de ter o monopólio das RI, passando a ter concorrência,
por exemplo, das organizações internacionais. O Estado permanece enquanto ator privilegiado da cena
internacional, mas já não é o único. Assim, paralelamente aos atores principais, é necessários analisar
os chamados atores derivados ou secundários.

• ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL — É uma estrutura de cooperação interestatal, uma


associação de Estados soberanos perseguindo objetivos de interesse comum através de
órgãos autónomos.
• ORGANIZAÇÕES INTERGOVERNAMENTAIS — Assumem particular relevo nas RI devido
ao papel que desempenham como instrumento de aproximação pacífica e de cooperação
entre os Estados. São atores permanentes e dinâmicos, constituindo um importante órgão
de criação, de aplicação e de controlo da observância do Direito Internacional. É um
conceito que exprime a tentativa de imprimir uma certa ordem às RI através do
estabelecimento, para além das fronteiras de cada Estado, de vínculos duradoiros entre
governos ou grupos sociais desejosos de defenderem interesses comuns no quadro de
órgãos permanentes, com personalidade própria, distintos das instituições nacionais,
capazes de exprimir uma vontade própria e tendo por objetivo desempenhar certas
funções de interesse internacional. O elemento organização implica permanência e vontade
própria. Já o elemento internacional resulta do facto de os membros da organização serem
sujeitos do direito internacional (as organizações são, ainda, criadas por meio de um
instrumento de DI, o tratado internacional).

o EVOLUÇÃO:
▪ 2ª METADE DO SÉCULO XIX — Surgem as primeiras organizações
internacionais de carácter regional amplo e universal (Uniões
Administrativas).

▪ SÉCULO XX — A maior parte das organizações são instituídas após a 2ª Guerra


Mundial.

o IMPORTÂNCIA ATUAL DAS OI — Interdependência crescente dos Estados e dos


povos nos mais diversos domínios da atividade humana.
▪ Preservação da paz e da segurança (ONU).
▪ Liberalização do comércio internacional (OMC).
▪ Apoio financeiro (FMI, BIRD, etc.)
▪ Desenvolvimento de um setor da economia (FAO).
▪ Cooperação no domínio cultural (UNESCO).

o CLASSIFICAÇÃO DAS OI:


▪ Em função do quadro territorial em que as OI desenvolvem a sua ação
(universais ou regionais).
▪ Em função do seu objeto (com fins gerais ou com finalidades
específicas/particulares).
▪ Em função da sua estrutura jurídica (de cooperação; de integração).
▪ Em função da facilidade ou dificuldade de ingresso (abertas ou fechadas).

NOTA: Juridicamente, as OI, tal como os Estados, são sujeitos do Direito Internacional, ou seja, possuem
personalidade jurídica internacional. Contudo, ao contrário dos Estados, não possuem território,
necessitando de realizar um acordo (accord de siège) com o Estado anfitrião de forma a definir as
condições, imunidades e privilégios inerentes à parcela do território onde será instalada a sede da
organização internacional.

• INDIVÍDUOS — Apesar da maioria dos teorizadores internacionais rejeitarem a noção de


que os indivíduos são atores internacionais (quase todas as autoridades legais negaram ao
indivíduo o estatuto de sujeito de direito internacional), um liberal típico argumentaria que
o indivíduo tem de a base para qualquer teoria social, já que só os indivíduos são reais,
enquanto que a sociedade é uma abstração. Podem adotar o papel de representantes de
outros atores (OIG, ONG, etc.) ou de membros de minorias e podem, igualmente, ter um
papel no âmbito internacional quer enquanto indivíduos, quer enquanto coletivos.

• GRUPOS SUBNACIONAIS — Podem ser partidos políticos, os meios de comunicação social


ou uma miríade de grupos de interesses restritos que procuram influenciar a política
externas dos Estados através da opinião pública. São relevantes, dada a conexão
significativa entre a política interna e a política internacional. Aliás, a própria opinião
pública pode ter efeitos nas determinações da política internacional. Podemos considerar
a opinião pública internacional como uma vasta convergência de opiniões públicas
nacionais dominantes, da qual se pode extrair uma linha de conduta a seguir ou um objetivo
a atingir.

• GRUPOS TRANSNACIONAIS E ORGANIZAÇÕES NÃO ESTATAIS — Entendemos por


forças transnacionais todos os movimentos ou correntes de solidariedade de origem
privada que se estabelecem através das fronteiras e que tendem a impor os seus pontos de
vista e objetivos no sistema internacional. Trata-se de forças que, ao pretenderem alcançar
determinados objetivos, afetam a vida internacional. Inclui todas as entidades (políticas,
religiosas, económicas e comerciais, entre outras) que operam de forma transnacional, mas
cujos membros não são os governos ou os seus representantes legais.

• MULTINACIONAIS — As firmas multinacionais são empresas cuja sede social se encontra


num determinado país e que exercem as suas atividades num ou mais países, por
intermédio de sucursais ou filiais, em que a estratégia e a gestão são concebidas ao nível de
um centro de decisão único que coordena e dirige o conjunto, com vista a maximizar o lucro
do grupo. Apesar da falta de consenso dentro da disciplina das RI quanto ao impacto das
empresas multinacionais nos países de acolhimento, podemos destacar o seu papel a nível:

o (1). ECONÓMICO — pelo desenvolvimento económico da área de implantação da


multinacional, bem como de uma série de empresas nacionais que lhe garantem
vários serviços.

o (2). SOCIAL — pela promoção da formação profissional, bem como pelo aumento do
nível de vida dos seus funcionários.

o (3). POLÍTICO — quer pela corrupção dos dirigentes políticos dos países de
acolhimento, quer pela pressão (possível graças ao seu peso na economia nacional)
junto das autoridades no sentido de serem tomadas medidas administrativas
favoráveis à empresa.

▪ Este impacto a nível político está condicionado quer pelo grau de


cumplicidade/hostilidade que existe entre a multinacional e o governo onde está
instalada a sociedade-mãe, quer pelo grau de dependência (absoluta ou relativa)
entre a multinacional e o território de acolhimento.

• ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS — Agrupamento, associação ou movimento


constituído com carácter duradouro, por particulares de diferentes países, com vista à
prossecução de objetivos não lucrativos. Esta definição salienta as várias características de
uma ONG:
o Carácter internacional, quer da composição, quer da sua atividade.
o Carácter privado, sendo constituída por indivíduos ou associações e não Estados, não
tendo, por isso, no ato da sua constituição, um tratado intergovernamental.
o Carácter desinteressado das suas atividades, ou seja, não pode ter fins lucrativos (
Multinancionais).
o Juridicamente, está vinculada ao Estado onde foi instalada a sede, obrigando a um
bom relacionamento com o Estado anfitrião, dado que não beneficiam de
personalidade jurídica internacional — quaisquer que sejam a sua importância
política ou o seu orçamento, exercem as suas atividades segundo as regras nacionais
do Estado no qual está fixada a sua sede. A sua ação desenvolve-se, inicialmente, no
quadro dos Estados, mas adquire cada vez mais uma dimensão transnacional.

• MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO NACIONAL — São organizações políticas que lutam em


nome da sua população, para a libertar da tutela ou de uma ocupação ilegítima. Este conflito
com o poder central inscreve-se, na maior parte das vezes, no jogo de potências exteriores.
A 2ª Guerra Mundial favoreceu a criação de movimentos de resistência contra o ocupante.
Já outros movimentos nasceram nos territórios coloniais dos Estados europeus, com o
objetivo de aceder à independência. Os Movimentos de Libertação Nacional são entidade
que não exercem autoridade legal sobre um território específico. O seu objetivo é
precisamente a aquisição de um território e, consequentemente, a formação de um Estado.
Todavia, poucos são os que reúnem as condições necessárias para atingir este tipo de
objetivo.

• SANTA SÉ — Enquanto personificação internacional da Igreja Católica, pode ser


considerada um ator secundário pela sua influência na evolução das RI. Pelas suas
características, tem sido confundida quer com um Estado (Vaticano), quer com uma
organização internacional (carácter internacional, permanência, etc.). Não sendo um
Estado, a sua origem é estatal e a Santa Sé tem personalidade jurídica internacional
limitada, detendo, nomeadamente, o poder de legação ativa (Núncios) e passiva, celebração
de tratados (Concordatas) e participação nas organizações internacionais (geralmente
como observador).

• 1º DEBATE — IDEALISMO E REALISMO


o E.H. CARR — Até que ponto a conduta política e a condição anárquica da
política internacional poderiam ser transformadas numa ordem mundial
fundada em padrões de cooperação e na interdependência global?

o IDEALISMO (=UTOPISMO)
▪ Para Carr, a maioria dos utópicos descendia intelectualmente do
otimismo iluminado do século XVIII, do liberalismo do século XIX e do
idealismo Wilsoniano do século XX. Trata-se da teoria das RI que põe a
tónica na importância das normas morais e legais e das organizações
internacionais, em oposição à teoria realista, que enfatiza o poder, o
interesse nacional e a soberana independência do Estado. O idealismo vai
buscar os seus fundamentos teóricos a autores como John Locke, que
argumentou que, apesar do estado de natureza e da inexistência de uma
soberania coletiva, os povos podiam desenvolver laços e fazer contratos
entre si, diminuindo assim a violência e a ameaça de anarquia. Esta
abordagem das RI põe acento tónico na interdependência e na
cooperação, considerando que as RI contemporâneas não correspondem
ao modelo conflitual e interestatal do paradigma realista. Efetivamente, a
dinâmica de modernização desencadeada pela Revolução Industrial
contribuiu para tecer uma teia complexa de interdependências entre as
diversas sociedades e para fazer aparecer novos tipos de atores nas RI. O
idealismo sublinha a importância do direito e das organizações
internacionais, bem como da influência da ética e da opinião pública nas
questões das nações. Concentrando-se na questão de como os
relacionamentos internacionais deveriam ser conduzidos, os utópicos
desprezavam a política da balança de poderes, os armamentos nacionais
e o uso da força nos assuntos internacionais. Pelo contrário, destacavam
as prerrogativas e as obrigações legais internacionais, a natural harmonia
de interesses na paz como regulador da preservação da paz internacional,
uma confiança extrema na razão e na sua capacidade para conduzir as
questões humanas, tal como na capacidade da opinião pública mundial
para construir a paz.

▪ O utopista mantém que a humanidade é suscetível de um progresso significativo.


Assim, e a nível internacional, o panorama político pode ser transformado
mediante o desenvolvimento de novas instituições tais como a SDN e as Nações
Unidas, o que significa que, através do estabelecimento de certas normas, a
conduta política pode ser modificada. Elemento central desta teoria é o
pressuposto da harmonia de interesses na paz ao nível da coletividade, baseada
no interesse de cada indivíduo num mundo pacífico. Um sistema internacional
baseado em governos representativos seria necessariamente um mundo
pacífico. É por esta razão que um dos pontos essenciais da teoria utópica era a
autodeterminação nacional (embora essa nem sempre trouxesse consigo
governos representativos, contrariamente as suposições dos idealistas).

▪ O descontentamento com a versão realista dos acontecimentos resultou do facto


de ser vista como empiricamente incorreta ou inadequada. Parecia haver
demasiadas coisas importantes no sistema internacional que a teoria realista
ignorava. Em particular, os aspetos económicos das relações internacionais
foram amplamente ignorados ou, mesmo que notados, delegados para uma
posição subordinada. Os campos das relações internacionais e da economia
internacional prosseguiram em aparente ignorância mútua do trabalho da
outra.

▪ Se os realistas assumem que os Estados existem como entidades independentes


e autointeressadas, os pluralistas centram-se na noção de interdependência
complexa. Dizer que os Estados ou outros atores são interdependentes é o
mesmo que dizer que eles não podem separar completamente os seus interesses
dos interesses daqueles com quem interagem de forma próxima. Os atores têm
de ser sensíveis às ações dos outros, na medida em que sintam os efeitos desses
atos. Estes atores são vulneráveis à medida em que são capazes ou não de ajustar
políticas para minimizar os mais variados efeitos adversos que uma decisão
provoque.

▪ Os pluralistas argumentam que a atividade internacional não é apenas uma


questão de comportamentos dos Estados, mas também de outros atores. Além
do mais, embora logicamente diferente, argumentam que os Estados não são tão
conscientes no que concerne segurança e poder como os realistas dizem.
Enquanto a maior parte da formas de plurissecular enfatizam o comportamento
económico internacional, não negligenciam outros atores internacionais. Os
movimentos religiosos e os movimentos nacionais, entre outros, são vistos como
atores de pleno direito e não apenas como instrumentos dos Estados. Até ao
ponto em que esta influência é bem sucedida, as políticas governamentais
podem desviar-se da norma realista.

▪ Por fim, podemos considerar as organizações internacionais, criadas pelos


Estados. Os realistas argumentam que não são verdadeiramente atores
independentes, mas apenas instrumentos/meios para facilitar a interação entre
os Estados. As organizações internacionais podem expandir o leque da
cooperação entre os Estados, mas não são elas próprias atores internacionais.
Pelo contrário, os teóricos dos regimes defendem que as instituições formadas
por Estados acabam por desenvolver uma identidade própria. Com a
continuidade da interação, as expectativas parecem convergir para um conjunto
partilhado de normas, usos e práticas.

▪ A teoria será muito criticada face aos desenvolvimentos internacionais no


período entre guerras e aos quais não consegue dar respostas adequadas.

o REALISMO:
▪ O aparecimento do realismo está alicerçado na onda de contestação que
resultou do falhanço da primeira geração de escritores em RI em
atingir objetivo que eles próprios se propuseram — encontrar métodos
pacíficos para a resolução de conflitos e eliminar o recurso à guerra. Os
Estados tinham interesses irreconciliáveis e cada um procurava
promovermos seus interesses da maneira mais proveitosa para si. Nestas
circunstâncias, a velha teoria do equilíbrio de poder oferecia mais
garantias para a manutenção da paz do que esta invenção recente
chamada segurança coletiva. A ética e a moralidade, nesta perspetiva,
resultavam da prática política e da posição de cada um no sistema
internacional.

▪ Segundo Reinhold Neibuhr, o meio internacional é o palco onde os vários


Estados procuram de modo egoísta promover os seus interesses à custa dos
interesses dos outros. A problemática deriva da própria natureza humana, que
é propícia aos conflitos que resultam da luta pelo poder.

▪ Os realistas defendem que os Estados são os atores mais importantes no sistema


internacional, sendo a segurança do Estado a motivação primária para a sua
ação. Se um Estado permanece desprovido de meios de tal modo que os seus
vizinhos possam daí tirar partido por meios militares ou outros, então o Estado
poderá ser atacado. Existe, pelo menos de forma latente, uma guerra de todos
contra todos. A condição humana é uma condição de insegurança onde os
predadores têm vantagem sobre os mais fracos. Esta perspetiva é muitas vezes
denominada de power politics.

▪ O realismo é uma teoria pessimista nos seus pressupostos e conclusões,


derivada do pensamento de Thomas Hobbes no século XVII. Se houvesse
anarquia, a vida seria horrível, bruta e curta, não porque os seres humanos sejam
necessariamente agressivos, mas porque temem a possível agressão de outros e
permanecem desse modo num estado de insegurança armada que facilmente
levará a atos violentos. O governo é necessário numa sociedade para promover
ordem e segurança, incluindo segurança física contra a violência. Contudo, na
cena internacional não existe um governo mundial, logo o sistema internacional
é anárquico e a segurança deve ser o objetivo primeiro de cada Estado.

▪ Os realistas não negam que há outras formas de comportamento internacional,


como o comércio. Contudo, olham-nos como subordinadas a questões de
poderio militar e segurança. Assim, os governos permitem e até apoiam as trocas
comerciais, mas apenas na medida em que estas não ameacem a hierarquia dos
seus interesses onde a segurança é dominante.

▪ O realismo vai buscar a sua designação à crença dos seus aderentes de que estão
a ser realistas e a olhar o mundo como ele é. De facto, se vamos trabalhar no
sentido de uma sociedade internacional mais pacífica, temos de reconhecer
como as pessoas realmente se comportam, mais do que manter uma versão
idealizada da realidade.

▪ Após a 1ª Guerra Mundial houve algum desencanto com o realismo. Se a guerra


foi consequência do realismo, foi certamente uma doutrina desastrosa. Os
idealistas tornaram-se, de seguida, mais influentes. Também eles pensavam o
Estado como ator central e reconheciam que haveria Estados a operar com base
no princípio das políticas de poder. A experiência do período entre guerras não
foi, contido, favorável a esta doutrina mais otimista. A 2ª Guerra Mundial voltou
a dar ao realismo centralidade como meio dominante de olhar o sistema
internacional.

▪ A preocupação realista com o Estado resulta das preocupações com a segurança


e as questões de poder. Os Estados são as únicas organizações que podem
exercer poder militar numa escala significativa - têm exércitos e podem impor a
ordem interna. Externamente, estas forças podem ser usadas como ameaça ou
como defesa, tornando o Estado num ator central.

▪ A ênfase na segurança e violência potencial deriva de um argumento pessimista,


mas plausível. Um Estado, tendo os meios de violência disponíveis, pode impor
a sua vontade e levar o sofrimento aos outros. Esses, por sua vez, terão de se
defender, recorrendo, igualmente, à organização de meios de violência. Assim,
apenas um potencial indicador de violência empurra-nos para o mundo realista
onde a sobrevivência dos Estados, e das sociedades, depende da segurança como
objetivo dominante. Dado que a guerra e a violência são sempre uma
possibilidade, a segurança tem de ser o objetivo dominante dos Estados, mesmo
dos pacíficos. A situação agrava-se quando os Estados adquirem armamento
como forma de antecipação das ameaças. Não importa quão genuinamente
pacíficas são as suas intenções, isso gerará na mesma maior suspeição no
sistema internacional e resultará no que chamamos de Dilema de Segurança.
Segundo os realistas, o cenário não é, contudo, tão grave como pode parecer à
primeira vista. Há maneiras, mesmo de acordo com os princípios realistas, que
permitem algum grau de estabilidade e de paz. O mais importante é a Balança do
Poder. Apesar do poder ser central na visão realista, pode ser manipulado com
vista à estabilidade internacional. A Balança de Poder é uma destas habilidades.

▪ Há duas Balanças de Poder:


• Balança de Poder Simples — Conhecida como sistema bipolar,
aplica-se quando há apenas dois Estados envolvidos. Assim,
defende-se que se dois Estados tiverem poder militar aproximado,
não lutarão. Uma guerra será capaz de produzir um impasse com
custos enormes e pouco a ganhar. Ambas as partes se aperceberão
disso. Deste modo, haverá paz ou, pelo menos, ausência de guerra.
De certo modo, pode ser visto como o modelo balance of power.
Contudo, se um dos blocos se tornar mais poderoso, esse extremo
do "baloiço" ganhará a posição dominante e poderá, então, atacar o
lado mais fraco. Mesmo que não o faça, pode ameaçar fazê-lo,
procurando daí retirar benefícios em termos comerciais ou
territoriais como recompensa pela sua não-ação. Uma pequena
mudança no poder relativo do "baloiço" e o equilíbrio acaba. No
entanto, esta é uma visão demasiado pessimista.

• Balança de Poder Complexa — Conhecida como sistema multipolar,


verifica-se quando há mais de dois Estados envolvidos. A situação de
equilíbrio complica-se quando há mais Estados envolvidos devido à
possibilidade da formação de alianças entre Estados que não têm
necessariamente de ser idênticos em poder. Nessas alianças, cada Estado
gostaria de dominar o sistema, mas são todos bastante hostis à ideia de
qualquer outro poder ser dominante. Se entre as alianças formadas entre
os Estados existir balança de poder, o equilíbrio persistirá. Contudo, se uma
aliança parecer mais poderosa que outra, o bloco mais fraco tentará que
um outro Estado se junte a ele. Poderá mesmo não ser preciso uma aliança
formal, a ameaça de a formar poderá ser suficiente para conter os Estados
agressores. À medida que os diferentes Estados forem alterando o seu
poder relativo, por razões económicas ou outras, serão necessárias
mudanças constantes nas alianças de modo a manter o equilíbrio. A balança
de poder não será estática durante muito tempo, devendo-se esperar
padrões de variação com regularidade. O sistema de balança de poder
produz um sistema relativamente pacífico, pelo menos em teoria. Contudo,
os teóricos não defendem que a guerra nunca acontece. O padrão geral de
comportamento significa que um sistema estável será mantido, onde não
haverá guerra. Para que este sistema funcione é necessária uma condição -
os Estados devem juntar-se às alianças ou deixá-las, puramente com base
na estrutura de poder do sistema. Isto significa que um Estado deverá estar
preparado para se aliar a outro mesmo não concordando com as suas
políticas internas. Terá de ser um exercício com base apenas no poder,
senão não funcionará.

▪ TEORIZADORES:
• HANS MORGENTHAU — Sugere seis princípios que regem o
sistema político internacional:
• (1). POLÍTICA = NATUREZA HUMANA — A política
evolui e altera-se, mas os princípios nos quais se
assenta são sempre os mesmo, princípios esses com
raízes na natureza humana, considerada egoísta,
comandada pela vontade de poder e, acima de tudo,
imutável.

• (2). POLÍTICA  DE OUTRAS ÁREAS DE INTERVENÇÃO HUMANA


— Isto porque a política e quem a faz têm sempre, e unicamente, em
vista a procura do poder enquanto interesse primordial do Estado.

• (3). INTERESSE DO ESTADO = PODER — Definido com e pela


procura do poder, sendo influenciado por fatores históricos, culturais,
materiais e conjunturais.
• (4). POLÍTICA VIVE EM PERMANENTE TENSÃO INEVITÁVEL COM
A ÉTICA E A MORAL — A obrigação moral do Estado é a
sobrevivência nacional. Muitos princípios e regras éticas e morais
entram em conflito com os objetivos do Estado e, quando tal ocorre, o
Estado deve ignorar e esquecer esses princípios, visando apenas a
sobrevivência nacional e o poder.

• (5). REALISMO REJEITA QUALQUER IDENTIFICAÇÃO ENTRE OS


OBJETIVOS DE CADA ESTADO E A VONTADE DIVINA — Trata-se de
uma associação inconcebível aos olhos de Morgenthau (motivações
por detrás das políticas externas  justificações éticas, religiosas ou
ideológicas).

• (6). REALISMO DEFENDE A AUTONOMIA E A ESPECIFICIADE DA


ESFERA POLÍTICA EM RELAÇÃO A OUTRAS — Tais como a esfera
económica ou a jurídica, entre outras.

▪ DIFICULDADES DO REALISMO — Para os realistas, alcançar a paz resulta da


manipulação do poder. Todos os outros temas se subordinam a este. Pressupõe,
ainda, uma visão particular auto interessada que implica prontidão para usar a
violência, o que, de modo compreensivo, poucos acham atrativa.

• 2º DEBATE — BEHAVIORISMO E TRADICIONALISMO


o Diz respeito à legitimidade de diferentes modos de análise na disciplina.

o Não é mera coincidência que o debate entre behavioristas e tradicionalistas era


também um debate entre diferentes lados do Atlântico - os protagonistas de uma
abordagem científica eram americanos e os defensores do tradicionalismo eram
principalmente ingleses.

o BEHAVIORISMO (=POSITIVISMO)
▪ É uma abordagem metodológica que tem as suas raízes nas ciências
naturais e que chegou à disciplina das RI vindo de outras ciências
humanas, como a ciência política e a psicologia. O objetivos dos
behavioristas era a introdução de métodos mais sofisticados e rigorosos
no estudo da ciência política e das RI. Os métodos das ciências naturais
eram, segundo eles, o caminho para o desenvolvimento futuro da
disciplina e, portanto, anunciaram que tinha chegado o momento para as
análises estatísticas, as hipóteses verificáveis ou falsificáveis e as
previsões feitas com base em teorias científicas. Daí resultaram alguns
instrumentos de análise que se tornaram importantes para o
desenvolvimento da disciplina, tais como a Teoria das Decisões, as
Análises de Sistemas e o Conceito de Integração Internacional.

▪ O debate acabou por nunca ser concluído. A ideia da objetividade e teorias


isentas de qualquer conteúdo ideológico tem hoje pouca aceitação na disciplina,
mas existe um consenso em torna da necessidade de definir claramente a
terminologia a explicitar, com rigor, os nexos causais e as possibilidades de
generalização.
▪ Os behavioristas pretendem formular hipóteses suscetíveis de procedimentos
de verificação ou de invalidação enunciadas em termos matemáticos e
universalmente aceitáveis. Pretendem, portanto, construir varáveis
quantificáveis.

▪ Sem visar este tipo de formalização, os primeiros "realistas" definiram objetivos


ambiciosos, que poderiam sugerir um programa de pesquisa de tipo empirista.
O seu realismo pretendia dar uma explicação científica da política internacional.
Os teóricos que partilhavam dessa ambição encontraram uma ampla audiência
no seio de uma corrente positivista americana dita behaviorista.

▪ A ciência devia evitar as questões ideológicas e os problemas de ética e da


doutrina, ocupando-se da realidade, dos factos. O critério da cientificidade situa-
se nos enunciados teóricos passíveis de serem objeto de uma experimentação.
As definições deveriam ser operacionais. As hipóteses deveriam ser
confrontadas com os factos empíricos. Daí ser necessário reunir proposições
suscetíveis de serem revogadas ou confirmadas, no sentido de alargar o campo
do conhecimento científico neste domínio.

▪ Os adeptos das abordagens clássicas foram acusados por estes empiristas de


oferecer quadros de análise pouco rigorosos, frequentemente de natureza
ideológica. Os clássicos, por sua vez, responderam desacreditando a visão
limitativa e errónea das ciências sociais proposta pelos "quantitativistas",
sobretudo sublinhando a pobreza dos seus resultados. Estes últimos eram,
efetivamente, insignificantes. Os adeptos da corrente behaviorista serviram-se
não só da formulação teórica, mas também dos métodos das ciências. Eles
acumulam factos, frequentemente sem se preocuparem em definir os conceitos
e as hipóteses que justificam a sua investigação. Este tipo de procedimento
manifesta geralmente erros grosseiros na conceptualização dos problemas a
resolver, demonstrando a fraqueza da própria reflexão conceptual e
metodológica.

▪ Muitos autores acreditaram ser possível desenvolver uma pesquisa científica


alinhando correlações arbitrárias entre os factos para explicar os fenómenos
recorrentes da política internacional. O positivismo consiste, então, numa teoria
explicativa do conhecimento científico, identificando metodologias válidas e
critérios para a verdade científica. Parte do pressuposto que os factos empíricos
existem e podem ser descritos independentemente da teoria. A partir da
observação de factos empíricos, os positivistas estabelecem regras científicas
cuja validade se comprova pela possibilidade de serem confirmadas ou negadas
mediante outras observações empíricas.

▪ CRÍTICAS:
• A escolha de factos a estudar representa uma opção condicionada
por determinados pressupostos e estes, por sua vez, condicionam as
conclusões.

• Não há critérios neutros para determinar o que é relevante como objeto de


estudo e o aparente consenso que pode existir em torno de um assunto
normalmente esconde divergências profundas sobre o leque e os limites da
matéria que se considera pertinente.

• Nas ciências socias, a interpretação dos factos envolve avaliações éticas,


sendo impossível uma isenção rigorosa.
▪ O pós-positivismo deve, segundo alguns autores, ser combatido, pois representa
a vertigem do relativismo e da perda de significado (atitude normativa, baseada
em valores conservadores). Isto significa que o debate se situa no plano
ideológico, no qual o caminho de cada um só pode ser eliminado pela sua
hierarquia de valores.

▪ MODELOS DE MORTON KAPLAN


• Kaplan acreditava que na política internacional as unidades
seguiam regras de comportamento descritíveis,
independentemente do tempo e do espaço de interações específicas,
propondo-se a deduzir regras a partir dos seus modelos.

• Para tal, apresenta seis sistemas diferentes:


• Dois históricos (Europa dos séculos XVIII e XIX e da Guerra
Fria);
• Quatro hipotéticos (Sistema Bipolar Rígido, Sistema Universal,
Sistema Hierárquico Internacional e Sistema de Veto
Universal);

• Apesar de um exercício interessante, a sua utilidade revelou-se duvidosa.

▪ FUNCIONALISMO E NEOFUNCIONALISMO
• O funcionalismo de David Mitrany é um programa de ação para criar
um mundo melhor, sobretudo um mundo liberto de guerras.

• A explosão de comunicações e transações alteram o mundo e sublinham a


necessidade de novas formas de organização e cooperação internacional.
Para além disso, os Estados são cada vez mais ambiciosos e
simultaneamente menos capazes de satisfazer as necessidades dos seus
cidadãos, bem como de garantir a paz e a segurança.

• Visto que os Estados eram incapazes de satisfazer as necessidades de bem-


estar económico e social das populações, estas tarefas devem, cada vez
mais, ser atribuídas a organizações internacionais que responderiam a
essas funções.

• A coordenação internacional deve desenvolver-se segundo as necessidades


verificadas e não de acordo com modelos pré-estabelecidos. No
funcionalismo, as funções determinam-se a si próprias e determinam
também as suas formas de organização interna mais apropriada.

• É necessário identificar interesses e valores comuns entre os cidadãos de


Estados diferentes que permitam a criação de órgãos internacionais mais
apropriados à satisfação dessas necessidades ou interesses comuns. Todo
este processo, segundo Mitrany, teria o efeito de retirar parcelas de poder
aos Estados e, por conseguinte, de reduzir as possibilidades de conflito.
Simultaneamente, desenvolver-se-ia a cooperação internacional, o que
teria o efeito de canalizar a lealdade das populações para as OI's.

• Assim, as necessidades das populações só podem ser satisfeitas mediante


a criação de agências internacionais baseadas numa autoridade técnica ou
funcional, e não territorial.
• O funcionalismo tem um efeito de spill-over, transferindo competências
cada vez maiores para as novas agências internacionais criadas para lidar
com os novos problemas que se fazem sentir.

• É uma estratégia para a paz, pois a promoção do bem-estar das populações


diminui as razões para o recurso à guerra.

• O desenvolvimento mais interessante relacionado com o funcionalismo


prende-se com a experiência da integração europeia. Os seus princípios
foram reformulados por via do trabalho de Ernst Haas que, numa época de
vanguarda do behaviorismo, promoveu o chamado neofuncionalismo.

• Haas duvidava do automatismo do processo de spill-over referido por


Mitrany, defendendo que um processo de aprendizagem e imitação só
aconteceria se outros fatores, nomeadamente a dinâmica política,
estimulassem o processo de aprofundamento e cooperação.

• De certo modo, o funcionalismo e o neofuncionalismo surgem como


contestação ao domínio do realismo. Contudo, ao presumir que a mudança
progride sempre no sentido da integração internacional e que o caminho
será ditado pela racionalidade, com apenas ocasionais desvios de percurso
por erros de liderança ou da opinião pública, incorrem ambos em erro. Há
uma dificuldade persistente em compreender a impossibilidade de separar
questões técnicas e políticas e, por conseguinte, de lidar com o grande
plano político por detrás do microproblema técnico.

▪ TEORIAS DA INTEGRAÇÃO - TRABALHO DE KARL DEUTSCH


• Deutsch partilha com a escola inglesa um pano de fundo dominado
pela imagem de uma sociedade internacional razoavelmente
ordeira e hierárquica, negando, portanto, a ideia de anarquia
internacional subjacente às análises realistas.

• A integração acontece quando «um grupo populacional obtém, num dado


território, um "sentimento de comunidade", a par de instituições e práticas
suficientemente enraizadas e generalizadas para assegurar, a longo prazo,
expectativas de transformação pacífica entre a população».

• Esta ideia não é estática, apontando antes o caminho para uma evolução
gradual do processo de integração, dependendo da evolução das
expectativas.

• Deutsch distingue dois tipos de integração:


• COMUNIDADES AMALGAMADAS - Acontecem quando as
entidades políticas preexistentes se fundem, passando a
constituir um só Estado (exemplo dos EUA e Alemanha, entre
outros).

• COMUNIDADES PLURALISTAS - Mantém as suas próprias soberanias,


mas não têm total liberdade de opção nas suas escolhas políticas. Os
seus membros recusam o recurso à guerra como método de resolução
de conflitos (exemplo da EU).
• NOTA: O nível de transações entre Estados é uma das
características mais importantes para o desenvolvimento das
comunidades.

• PROBLEMAS DO TRABALHO DE DEUTSCH:


• Princípio redutor de que apenas existem dois caminhos - para
a frente (=mais integração) ou para trás (=menos integração).

• A experiência da integração europeia obriga a desenvolver um


quadro mais complexo.

• Deutsch não analisa as condições e mecanismos que podem levar à


desintegração (exemplo da Jugoslávia e União Soviética, entre
outros).

▪ TRANSNACIONALISMO E INTERDEPENDÊNCIA
• Mais uma reação à imagem de anarquia internacional, onde os
Estados são os únicos atores.

• As relações transnacionais são «os contactos, coligações e interações que


atravessam fronteiras e que não são controlados pelos órgãos centrais de
política externa dos governos». Mais precisamente, são interações
internacionais nas quais pelo menos um dos atores não é nem um governo
nem uma instituição intergovernamental.

• Os transnacionalistas relegaram para um segundo plano os estudos sobre


questões diplomático-militares, preferindo privilegiar matérias
económicas, comerciais, financeiras e culturais.

• Em vez de anarquia internacional, os transnacionalistas sublinhavam a


enorme importância e frequência da cooperação internacional, que
consideravam a norma da vida internacional, muito mais do que o conflito.
A ideia de permanente conflitualidade foi abandonada em favor do
conceito de interdependência.

• A política internacional passa a ser vista como um sistema de


interdependência complexa, com três características essenciais:
• Múltiplos canais de ligação entre sociedades, incluindo
formais e informais, e, noutro plano, intergovernamentais e
transnacionais.

• Ausência de hierarquia entre os assuntos, com uma distinção pouco


clara entre matérias de foro interno e matérias internacionais,
remetendo assuntos militares para um lugar menos a priori que
outros assuntos.

• Irrelevância da força militar para resolver problemas num contexto


de interdependência complexa, servindo a força militar apenas para
situações que envolvam outras regiões ou outros blocos políticos.

• Num contexto de interdependência complexa há uma pluralidade de atores


e nenhum deles é capaz de controlar o sistema.
• CRÍTICAS:
• Exagero da novidade dos fenómenos transnacionais.

• Os fatores que permitem pensar em termos de um sistema político


mundial não significam que se tenham desenvolvido interesses e
valores comuns.

• A par de processos de integração internacional há manifestações de


desintegração, fragmentação e recusa do global, entre outros.

o TRADICIONALISMO
▪ Por outro lado, os tradicionalistas desconfiavam de que a disciplina era
na sua essência incompatível com os objetivos práticos dos cientistas e
que o debate estava condenado a ser eterno e não um passo ultrapassável
no processo de acumulação de conhecimentos.

▪ Os adeptos da abordagem tradicional consideram que os factos socias se


ocultam, a maior parte das vezes, nas tentativa de os circunscrever por
procedimentos de pesquisa estritamente científicos, análogos aos que vigoram
para a apreensão dos fenómenos naturais. Afirmam que os esforços que visam a
construção dos modelos explicativos inspirados nos modelos das ciências
naturais se revelam enganadores, ilusórios. Os factos não existem em si, fora dos
quadros conceptuais que permitem apreendê-los. Os dados empíricos e as
correlações entre estes dados não trazem nenhuma explicação dos fenómenos
políticos e socais.

▪ Por conseguinte, na conceção teórica de inspiração weberiana, os factos só são


compreensíveis caso o observador venha a reconstituir a vontade dos atores e,
para o ator poder compreender, terá que se comprometer. Este procedimento
"compreensivo" coloca também o problema da objetividade. A realidade social
não existe enquanto tal, antes é apreendida através dos conceitos. O estudioso
mobiliza, deste modo, o seu intelecto e a sua emotividade. O ator irá esforçar-se
por reprimir esta última, procurando avaliar os acontecimentos e processos
sociais de maneira neutra e equitativa. Todavia, o seu estudo parte
necessariamente de crenças, de normas e de opiniões, que, no fundo, traduzem
a sua identidade, os seus interesses.

▪ Excluir toda a subjetividade para dar resposta à ascese de um investigador


neutro e isolado não é necessariamente um bom procedimento de pesquisa, uma
vez que se sabe o papel que joga a sensibilidade na análise do real. A distância e
a imparcialidade não são qualidades úteis à investigação, ao contrário da
empatia, a compreensão no sentido weberiano do termo.

▪ É, no entanto, necessário escapar a duas armadilhas - procurar uma


objetividade, mesmo que transcendente, ou cair numa subjetividade
incomunicável, logo, arbitrária. As ciências sociais, tendo por objetivo descrever,
compreender e interpretar a realidade humana, devem necessariamente dar-
lhes sentido.

▪ A linguagem das ciências sociais é frequentemente imprecisa. Alguns autores,


que se colocam na linha da tradição positivista, veem aí uma fonte de fraqueza.
Outros, pelo contrário, consideram essa leveza uma riqueza. É pelo facto da
linguagem se renovar, por ser equívoca, que passamos a compreender a
complexidade do real, a alterar o quadro de referência e a descobrir o que é
inédito.

▪ O estatuto científico da corrente é definitivamente sancionado pela comunidade


de investigadores — esse requer a capacidade de justificar racionalmente a
teoria, bem como a validação através de normas intersubjetivas reconhecidas.

▪ A análise científica da realidade consiste frequentemente no rompimento com o


senso comum. Consequentemente, o grande público não ignora as principais
questões destas disciplinas e integra rapidamente os seus conceitos e a sua
linguagem. Todavia, este esforço de ruptura passa pela adoção de um sistema de
interpretação, concedendo significado e coerência às práticas sociais. Pode
implicar a descoberta de estruturas condicionantes da ação individual ou
coletiva e visa revelar o sentido das práticas sociais, dos símbolos e dos mitos
que orientam a ação política.

▪ Certos sistemas de explicação tendem à construção de factos que escapam


efetivamente à evidência do senso comum. Quando os estruturalistas se
esforçam por procurar sistemas de relações socialmente determinantes, estão a
exprimir uma escolha hermenêutica que tende a privilegiar fenómenos que não
teriam sido assinalávamos num outro sistema de interpretação.

o O DEBATE ENTRE TRADICIONALISTAS E BEHAVIORISTAS


▪ No centro deste debate encontramos a epistemologia, ou seja, a questão
de saber como é produzido o conhecimento. O behaviorismo assentava
naquilo a que chamamos epistemologia positivista, de acordo com a qual
o conhecimento procede da nossa experiência sensorial, daquilo que
observamos acerca do mundo que nos rodeia. Esta abordagem opõe-se,
assim, à metafísica, a qual relaciona o conhecimento a fontes que se
situam para lá da observação empírica e que inclui o raciocínio humano,
a contemplação, a intuição e a introspecção. Se os fenómenos com que
trabalhamos não podem ser submetidos a uma análise empírica, então a
ciência behaviorista tem uma relevância limitada para o
desenvolvimento da teoria das RI.

▪ Os atores behavioristas tornaram-se dominantes nos EUA, enquanto os realistas


tradicionais britânicos se mantiveram geralmente céticos face aos métodos
quantitativos, sendo, portanto, céticos quanto à possibilidade de prever ou
aplicar uma análise probabilística às questões humanas.

• 3.º DEBATE — ESTRUTURALISMO


o O estruturalismo vem adicionar às críticas já iniciadas por David Mitrany ou
Karl Deutsch ao pensamento realista. Discordem quanto ao significado dos
Estados e ao seu comportamento. As críticas afloram também o conjunto de
atores envolvidos, embora não disputando o significado de outros atores. Esta
nova abordagem passa por olhar a estrutura do sistema como mais do que os
atores e ver até que ponto isso fornece uma melhor explicação de alguns
aspetos significativos da cena internacional. O estruturalismo parte do
princípio que há, subjacente às aparências, uma estrutura que causa a
reprodução e repetição de relacionamentos sociais e que é essa estrutura que
nos interessa compreender. O objetivo é desvendar a natureza do sistema
internacional, ou seja, da estrutura internacional, que domina e orienta todas
as intervenções e manifestações deste campo de estudo. Além do mais, todo o
relacionamento internacional é visto como um conjunto integrado que não é
facilmente desmembrável.

o Em vez de olharmos para os atores, como os Estados, olhamos as estruturas, como a


riqueza, população e padrões comerciais, etc.

o Dentro de um esquema estrutural, os atores, Estados ou não, têm pouca liberdade de


manobra. A ênfase nas decisões, como dada pelos pluralistas, restringe-nos aquilo que
os estruturalistas considerariam assuntos de menor importância.

o Os estruturalistas são céticos da influência das organizações tendo impacto fora dos
constrangimentos estruturais. São ainda mais céticos face à influência dos indivíduos.
Contudo, isto entra em conflito com outras interpretações.

o NEO-MARXISMO
▪ Dentro do termo “estruturalismo” podemos olhar diferentes correntes,
mas geralmente identificamos estas correntes de pensamento com uma
influência marxista forte, de forma implícita ou explícita nas
metodologias, objeto de estudo e conclusões. No entanto, uma análise
estruturalista não é necessariamente uma análise marxista, pois pode
desenvolver princípios bem diferentes dos marxistas ou ir além daquilo
que Marx reconhecia.

▪ A influência de Marx é visível, mas algumas linhas de pensamento que se


seguiram desviaram-se bastante das suas principais ideias. O termo
estruturalismo refere-se ao conjunto das linhas de pensamento que
desenvolveram ataques radicais à distribuição de poder nas relações
internacionais.

▪ No contexto de um crescente número de países a tornarem-se independentes, as


questões do desenvolvimento e subdesenvolvimento surgem em força e
aparecem as reclamações de uma nova ordem económica internacional — as
análises estruturalistas servem para fundamentar e dar coerência intelectual a
essas reivindicações, especialmente às prioridades dos países descolonizados.

▪ O elemento chave na estrutura internacional é o capitalismo, cuja expansão


representa o crescimento das possibilidades de exploração e aumento dos
problemas do subdesenvolvimento. O estruturalismo procura explicar como
surgirá situação atual de marginalização de alguns países, sectores da população
ou mesmo povos inteiros com referência a fenómenos internacionais ou globais.

▪ Os estruturalistas identificam a conflitualidade entre classes, que é induzida pelo


capitalismo, e consideram que a ideia de comunidade internacional é limitada
por dinâmicas de opressão e de luta contra a opressão.

▪ A ideia realista de uma sociedade de Estados independentes, soberanos e


mutuamente impermeáveis não fazia sentido para aqueles que concentravam as
suas atenções sobre os novos países do Terceiro Mundo e que sabiam bem que
as sociedades e economias destes novos países e, portanto, também as suas
políticas externas, eram profundamente influenciados por Estados mais
poderosos ou mesmo por grandes empresas multinacionais sediadas em países
da parte Norte do planeta. Enquanto que, para os transnacionalistas, a
importância do número crescente de relações transnacionais era positiva, para
os estruturalistas significava diferença e clivagem, ou seja, uma interpretação
negativa.

▪ O objeto de estudo dos estruturalistas é, assim, o sistema económico capitalista


mundial, a lógica de expansão e de domínio do capitalismo e a forma como estes
fatores determinam o relacionamento entre atores a nível internacional.

▪ TEORIA DA DEPENDÊNCIA
• As teorias estruturais decorrentes do pensamento de Karl Marx
defendem uma grande mudança na estrutura do sistema
internacional. Uma destas é a teoria de dependência, que,
basicamente, argumenta que quando estamos na presença de atores
económicos poderosos, sejam eles multinacionais privados ou
estatais, que possam beneficiar do uso do seu poder de monopólio
ou quase monopólio para enriquecer, fá-lo-ão mesmo que isso
signifique manter pobres os países pobres. Isto não é apenas
consequência do poder de decisão de um pequeno grupo, resulta da
estrutura da economia política internacional. A estrutura política e
económica do sistema determina o padrão geral do seu
comportamento. Deste modo, os autores desta teoria entendem o
subdesenvolvimento como resultante de uma relação, como um
desenvolvimento e não simplesmente como algo que aconteceu.

• As teorias da dependência tinham por objetivo essencial explicar o


desenvolvimento do subdesenvolvimento e a manutenção dos
desequilíbrios internacionais em matéria da distribuição de riqueza e
perpetuação da pobreza. As relações norte-sul acabaram por ser objeto
central de análise.

• A divisão centro-periferia não se limita à divisão internacional do mundo


em Estados. Dentro de cada Estado existe um centro e uma periferia e,
internacionalmente, o domínio é exercido de forma conjunta pelo centro de
cada país (=visão de Galtung). A principal característica do sistema
internacional é, portanto, o nível de violência estrutural. Galtung nega que
a expansão do capitalismo seja a fonte determinante de toda a estrutura,
reforçando os aspetos não económicos da sua análise. A introdução do
capitalismo em todos os cantos do globo não levou ao progresso, não levou
ao desenvolvimento e não levou a revoluções quando se atingia o ponto de
saturação. Para responder a esse problema, Galtung fala, então, na
dicotomia centro-periferia, que corresponde a regiões desenvolvidas e
subdesenvolvidas. Procura explicar o uso e reprodução do poder a nível
internacional e o modelo que ele desenvolve procura descrever os
mecanismo impessoais que permitem concentrar o poder em
determinadas zonas do mundo, a favor de algumas e em detrimento de
outras.

▪ TEORIA DO SISTEMA-MUNDO (WALLERSTEIN)


• A teoria do sistema-mundo olha a emergência de uma estrutura
hierárquica na economia capitalista mundial ao longo dos séculos.
Esta estrutura tem um centro, formado por Estado industrializados
concentrados no hemisfério Norte, cuja riqueza tem sido uma
função na sua relação com as áreas periféricas. A periferia existe
numa posição de dependência estrutural, dada a sua incapacidade
para avançar para além da produção de matérias-primas. Os
Estados na semi-periferia que produzem bens de luxo são a base do
sistema, pois oferecem uma espécie de tampão contra a polarização
entre os ricos e os pobres e, desse modo, a revolução. Recentemente,
alguns destes Estados, previamente na periferia dependente,
conseguiram mover-se para a semi-periferia, como os Tigres
Asiáticos, entre outros.

• Se todo o mundo constitui um sistema, o seu funcionamento estrutural só


pode ser compreendido através do estudo histórico integrado das
diferentes dimensões espaciais do sistema. Isto é, cada região tem
determinadas funções no contexto global do sistema-mundo e os processos
sociais apenas podem ser analisados nesse contexto de interligação global.
A unidade de estudo é este sistema-mundo.

• Considera que as relações económicas funcionam como ponto de partida


para o estudo do sistema-mundo, mas compreende também que as
instituições não económicas não são meramente estruturais. A economia-
mundo, outro modelo importante de Wallerstein, é uma entidade unificada,
mas existe uma divisão entre as entidades políticas. Isto significa que os
agentes económicos que exploram regiões periféricas não sofrem pressão
política para redistribuir alguma da riqueza que conseguiram gerar,
porque não são obrigados a obedecer às instituições políticas das regiões
periféricas.

▪ CRÍTICAS
• A incompatibilidade do modelo vestefaliano com as preocupações
manifestadas por Wallerstein, Galtung ou pelos outros autores da
teoria da dependência é seguramente a principal razão para a pouca
atenção dedicada à literatura de RI por escritores que se inserem
nestas tradições mais radicais. Acabam por usar exemplos
históricos escolhidos propositadamente para justificar as suas teses
e, por vezes, revelam uma visão demasiado mecanicista das relações
políticas e, em particular, do Estado.

o NEO-REALISMO (=REALISMO ESTRUTURAL)


▪ A Guerra Fria, na qual se disputou a supremacia mundial, criou um
ambiente propício a teorias que se baseavam na imagem da essência
anárquica das relações internacionais.

▪ O ressurgimento do realismo colocava de novo a questão da conflitualidade e da


guerra no cerne dos relações internacionais.

▪ O neo-realismo regressa à imagem de um sistema anárquico para argumentar


que é nessa base fundamental que vamos encontrar a chave da natureza política
internacional. Separando o sistema das unidades que o compõem (os Estados),
o neo-realismo diz que só uma teoria sistémica pode explicar a natureza da vida
internacional. Isto é, considera que o comportamento das unidades resulta da
natureza do sistema e não o inverso. O neo-realismo procura identificar as
estruturas eternas da anarquia internacional para construir teorias explicativas
do comportamento internacional. Este interesse por estruturas fundamentais
leva a que, por vezes, o neo-realismo seja classificado de realismo estrutural.

▪ Enquanto Morgenthau explica o comportamento dos Estados com referência a


uma determinada natureza humana imutável, Waltz dispensa por completo as
considerações sobre a natureza humana, considerando que o comportamento
dos Estados se explica pela natureza do sistema internacional. A única qualidade
intrínseca dos Estados que é interessante, na perspetiva de Waltz, é o poder
relativo, isto é, o lugar do Estado na distribuição das capacidades internacionais.
Assim, o comportamento dos Estados compreende-se olhando a estrutura que
enquadra toda a política internacional e olhando o lugar que esses Estados
ocupam na hierarquia de poder (ou capacidades).

▪ Enquanto o realismo aponta para a acumulação de poder, o neo-realismo


considera que o poder em excesso pode ser indesejável, podendo atrair
coligações rivais. Defende, por isso, a distribuição do poder entre os aliados, de
forma a assegurar a sua posição de liderança durante mais tempo.

▪ O neo-realismo vê o Estado como homogéneo, dotado de vontade e objetivos que


procura cumprir dentro do contexto internacional. Além do mais, demonstra
relutância em reconhecer outros atores ou participantes nas relações
internacionais. O pano de fundo anárquico de concorrência e disputa
internacional produz, segundo o neo-realismo, importantes limitações às
possibilidades de pensar e praticar a cooperação internacional. O neo-realismo
não nega a existência de cooperação internacional, mas afirma que a cooperação
acontece apenas quando as circunstâncias o permitem, quando não constitui
uma ameaça aos interesses vitais dos Estados e quando não se verifica uma
situação em que os ganhos relativos de outro Estado rival são superiores.

▪ A teoria de Waltz depende da dinâmica da natureza (constante) do sistema


internacional e da distribuição (conjuntural) do poder entre os atores. A
evolução que existe resulta das diferenças relativas de acumulação de poder
entre os Estados e a mudança internacional apenas se pode explicar com recurso
a esses elementos. Daí o neo-realismo ser frequentemente acusado de ter
grandes dificuldades em lidar com os sentidos, as lições e as consequências das
História.

▪ REALISMO ESTRUTURAL: O NEO-REALISMO DE WALTZ


• Sublinha que para compreender o comportamento do sistema
internacional temos de começar pelo sistema e depois mover-nos
para baixo até aos atores individuais e não o oposto, como o
realismo tradicional fazia.

• Waltz baseia o seu argumento explicitamente na análise dos economistas


dos mercados individuais. Os realistas estruturais argumentam que os
Estados se encontram na mesma situação. Têm de reagir ao sistema como
ele é, embora seja a acumulação das suas reações que determina o sistema.

• Os realistas estruturais defendem que os Estados, o poder e a segurança


são centrais, tal como no realismo clássico, mas também reconhecem
importância aos atores económicos. Contudo, estes estão em última
instância subordinados aos Estados, embora desempenhem o seu papel
num sistema mais rigorosamente definido. Uma vez que todos os Estados
prosseguem o poder, a situação em que qualquer Estado é colocado
determina amplamente o tipo de política que deverá seguir. Tem pouca
liberdade de ação e isto aplica-se aos Estados grandes e poderosos, bem
como aos pequenos Estados.

• O que determina o comportamento dos Estados é o sistema como um todo,


que de facto impõe comportamentos aos Estados individuais, apenas
dando-lhes liberdade de escolha.

• O neo-realismo escolhe como elemento essencial o sistema internacional


enquanto estrutura que determina os comportamentos políticos que se
desenvolvem entre os seus membros. Para o realismo estrutural, a política
internacional é mais do que o somatório das políticas externas dos Estados
e do contrapesa exercido por outros atores do sistema. Deste modo, Waltz
sustenta uma perspetiva neo-realista baseada em relacionamentos
padronizados entre os atores no interior de um sistema anárquico. O
realismo estruturalista destaca aquelas características da estrutura que
moldam a forma em que os componentes se relacionam. Os atores
desenvolvem, asism, um relacionamento horizontal uns com os outros,
sendo que cada Estado se encontra em igualdade formal (soberania) com
os outros. Waltz define a estrutura através do princípio (hierárquico ou
anárquico) que o organiza. Além disso, define a estrutura através da
especificação das funções das unidades. Quanto mais hierarquizado é o
sistema, maior é a diferenciação de funções; quanto mais anárquico, maior
é a similitude de funções entre as unidades.
• Fazendo-se valer do realismo clássico, Waltz trata os Estados como
«unidades ou atores que, no mínimo, procuram a sua sobrevivência e, no
máximo, lutam pelo domínio universal». Assim sendo, e coerente com a
teoria realista, Waltz aponta a necessidade de emergência de uma balança
de poderes.

• CRÍTICAS
• Tal como os sistemas internacionais dispõem de estruturas,
também as unidades têm estruturas suscetíveis de afetar o seu
comportamento sob a forma de diferentes estratégias de
segurança nacional e políticas externas.

• Assim, o neo-realismo é acusado de ter dificuldade em lidar com as


lições e consequências da História. Não dão, portanto, relevância aos
processos históricos na base da constituição histórica de contextos
políticos.

• TEORIA REALISTA NEOCLÁSSICA

▪ NEO-LIBERALISMO (=INSTITUCIONALISMO)
• Como a proposta neo-realista de Waltz atribuía importância
fundamental à estrutura anárquica do sistema internacional e à
posição relativa de cada Estado dentro desse contexto, tornou-se
importante identificar de forma mais precisa os elementos que
caracterizam as estruturas fundamentais do sistema político
internacional. Os autores que defendiam uma interpretação mais
abrangente do conceito de estrutura, interpretação essa que focasse
a normalidade e a frequência da cooperação internacional e não
apenas a natureza conflituosa do pano de fundo anárquico, foram
apelidados de institucionalistas (ou neo-liberais). O termo é
empregue para caracterizar uma abordagem que se baseia na
possibilidade de progresso internacional (incrementos de paz,
cooperação e ajuda mútua para resolver problemas comuns)
através da criação e operação de instituições (formais ou informais).
A questão central que distingue o neo-realismo do neo-liberalismo
em RI é a natureza e o papel das instituições, daí o termo
«institucionalismo».

• O institucionalismo procura compreender o comportamento dos Estados,


em especial a cooperação e o conflito entre Estados, por via das instituições
que dão significado e atribuem importância a esse comportamento.
Considera ainda que o comportamento do Estado é altamente
condicionado, mas não determinado, pelas instituições. As instituições são
definidas como «conjuntos de regras (formais e informais), ligadas entre si
e persistentes no tempo, que prescrevem o comportamento de cada ator,
constrangem as atividades e moldam as expectativas.» Esta definição inclui
três categorias de instituições: organizações, regimes e convenções. As
instituições afetam o comportamento dos Estados de diversas maneiras.

• NEO-REALISMO E NEO-LIBERALISMO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA


• (1). Ambos concordam que o relacionamento internacional
assenta sobre uma base de anarquia internacional, mas os neo-
realistas atribuem mais importância a esta ideia do que os
institucionalistas. Para esses, os regimes, a cooperação e a
interdependência acabam por atenuar a natureza anárquica
do sistema internacional, enquanto que para os neo-realistas
esses fatores são conjunturais, episódicos e temporários.

• (2). Os neo-realistas consideram que a cooperação internacional é


mais difícil de obter e manter do que pensam os institucionalistas.

• (3). Os neo-realistas consideram que os Estados calculam os seus


interesses em função dos ganhos relativos que obtêm face a outros
Estados, enquanto os institucionalistas sublinham principalmente os
ganhos absolutos que os Estados auferem participando em atividades
cooperativas internacionais.

• (4). Os neo-realistas presumem que as questões de segurança


predominam nas prioridades do Estado, enquanto os
institucionalistas presumem que o progresso económico é
frequentemente mais prioritário.

• (5). Os institucionalistas atribuem importância aos objetivos e às


preferências dos Estados, enquanto os neo-realistas interpretam o
comportamento dos Estados em função das suas capacidades, o termo
que utilizam ao falar de poder.

• (6). Ambos concordam que existem regimes e instituições


internacionais, mas, enquanto os institucionalistas consideram que
estas estruturas atenuam o pano de fundo anárquico e que a sua
presença altera o comportamento dos Estados, os neo-realistas
argumentam que as instituições nada alteram em matéria da essência
da política internacional.

• Em ambas as perspetivas, o Estado é visto como um ator unitário e racional


- os institucionalistas consideram que certos fatores internos podem
também influenciar o comportamento dos Estados, mas o Estado não deixa
por isso de ser um ator com propósitos e comportamentos unitários no
plano internacional.

• Partilham, igualmente, a noção de anarquia internacional, embora o


institucionalismo atenue ligeiramente a hostilidade deste meio ambiente,
dizendo que os Estados, reconhecendo interesses comuns, criam
instituições úteis para a prossecução desses interesses comuns.

• RACIONALISMO — O ponto de partida do Racionalismo é a ideia de que os seres humanos


são muito mais racionais do que aparentam (Hobbes e Maquiavel) e que, portanto,
reconhecem imediatamente que há uma coincidência de interesses de longo prazo entre os
Homens e que essa coincidência de interesses se desenvolve no contexto da própria
sociedade que, conjuntamente, compõem. Visto que o interesse de todos é servido havendo
regras e ordem, os Racionalistas consideram que o estado natural da Humanidade é a
procura dessas regras e dessa ordem. Tal como no caso do Realismo, os Racionalistas
consideram que a política internacional começa por ser a política da anarquia, porque não
existe um Leviatã. Mas, ao contrário dos Realistas, os Racionalistas pensam que a
coexistência internacional, bem como uma certa noção de humanidade que transpõe
fronteiras, acabam por deixar a sua marca civilizadora nas relações internacionais.

• PLURALISMO — Os Estados são, e continuarão a ser, os mais importantes atores do


sistema internacional e, em grande medida, o consentimento dos Estados para o
desenvolvimento de normas internacionais continua a ser uma condição sine qua non. Mas
importa também reconhecer que atores não-estatais têm vindo a ganhar importância no
palco internacional, nomeadamente as organizações internacionais, não-governamentais,
empresas transnacionais e indivíduos. Cada um destes atores tem exercido influência sobre
a natureza do sistema internacional contemporâneo. Existem, frequentemente, impulsos e
interesses contraditórios entre estes múltiplos atores e, deste processo de confrontação
sociopolítica, resultam, gradualmente, em inovações no sistema internacional e na própria
natureza dos intervenientes.

• DIVERSIDADE — A ideia de sociedade internacional não pressupõe que o mundo esteja


ordenado segundo regras codificadas, homogéneas na sua aplicação e coerentes entre si.
Há grandes variações nas normas relevantes e isto produz um mundo diversificado. Todas
as normas têm em comum duas coisas: geram expectativas quanto ao comportamento de
outros atores no sistema internacional (grau de confiança e previsibilidade) e o seu
incumprimento tem um custo (impacto negativo, via jurídica, sanções, natureza política,
etc.).

• EVOLUÇÃO — O que importa estudar é exatamente o ser humano dentro de um contexto


social, neste caso a sociedade internacional. O contexto da sociedade internacional exerce
uma influência importante sobre a natureza dos próprios participantes que, por sua vez,
obedecendo às pressões internacionais e a outras que resultam das transformações sociais,
políticas ou económicas a nível local, contribuem para definir as características da
sociedade internacional a cada momento. A sociedade internacional deve, portanto, ser
entendida como dinâmica e reflexiva, na medida em que se verifica uma influência tanto
dos atores sobre o sistema, como do sistema sobre os atores. Implicitamente, esta
caracterização sugere-nos que para compreender a dinâmica da sociedade internacional
temos de ter em conta as transformações sociais, políticas e económicas que se fazem sentir
tanto junto do sistema como junto dos atores.

• ORDEM — A Escola Inglesa considera que a grande maioria dos conflitos de interesse que
surgem no domínio internacional são passíveis de resolução dentro de procedimentos e
regras que são reconhecidas por todos. Enquanto que os Realistas consideram que a guerra
é a outra face da moeda da diplomacia, a Escola Inglesa chama a atenção para o facto de
muitas vezes se evitar a guerra devido ao recurso a mecanismo tendentes ao
estabelecimento da ordem. Embora a ordem internacional seja melhor para alguns do que
para outros, não se trata propriamente de um simples instrumento na mão dos poderosos.
As normas podem ser inconvenientes, mas representam contributos importantes para a
continuidade da sociedade internacional, sendo em si mesmo garantias importantes para a
maioria dos participantes, mesmo que tenham por objetivo alterar determinadas
características dessa sociedade. Para a Escola Inglesa, a ordem na sociedade internacional
é um valor em si mesmo e a compreensão da natureza dessa ordem é a chave para a
compreensão da sociedade internacional e das relações internacionais. É um valor em si
mesmo, porque é uma condição prévia para a realização de outros desideratos, como sejam
a justiça ou o bem-estar. Contudo, uma determinada ordem pode ser injusta, ou indesejável,
por alguma razão, bem como pode ser desadequada face às mudanças sociais que se
registam no mundo.

• 4.º DEBATE — CONSTRUTIVISMO

o O sentido e significado que damos às coisas tem a ver com o facto de a realidade
ser socialmente construída pelos seres humanos num contexto de interação
social. A nossa compreensão do mundo é o resultado de conceitos socialmente
construídos, não de instrumentos intelectuais derivados objetivamente.

o De acordo com Alexander Wendt, o construtivismo é uma teoria estrutural baseada


no pressuposto de que os atores são socialmente construídos. Aquilo que acabou por
ser definido como Estado ou interesses nacionais não é mais do que o resultado das
identidades sociais dos atores. Tais interesses e identidades encontram-se em
constante fluxo no interior das chamadas estruturas sistémicas intersubjetivas, que
consistem naquilo a que Wendt designa por entendimentos partilhados (shared
understandings), expectativas e conhecimento social (social knowledge).

o Para estes autores, os regimes e outras instituições são mais do que o conjunto de
regras e normas — os próprios mecanismos institucionais existentes podem
contribuir para um processo de aprendizagem que aumenta a possibilidade de
políticas de convergências entre os Estados.
o A evolução cognitiva da ação política coletiva é composta essencialmente por três
dimensões:

▪ (1). INOVAÇÃO — criação de novos valores e expectativas que são aceites no seio
de um grupo.

▪ (2). SELEÇÃO — a medida em que os valores e as expectativas se enraízam nas


mentes dos membros do grupo.

▪ (3). DIFUSÃO — o grau em que os novos valores e expectativas alastram de um


grupo ou Estado por outro grupo ou Estado.

o As comunidades epistémicas, definidas como elites que dispõem de um entendimento


partilhado de um determinado objeto e que desenvolvem estratégias para alcançar os
seus objetivos, desempenham um papel inovador de grande relevância.

o No processo de seleção, os Estados têm um papel fundamental, enquanto que, na fase


de difusão, a evolução cognitiva é promovida, ao nível internacional, pelos regimes e
outras estruturas institucionais, reflexo de um consenso intersubjetivo evolutivo que
vai moldando o meio social global.

o Este entendimento intersubjetivo molda a identidade dos Estados no seio do sistema


internacional e da sociedade internacional. A sociedade internacional é fundada em
estruturas intersubjetivas, elas próprias resultado de ideias e crenças que produzem
condutas baseadas em regras e valores comumente aceites e firmemente arreigados
nas instituições e práticas.

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