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u nas abordagens 4 educagao da crianga Surda: do Oralismo 4 Comunicacao Total, e desta ao Bilingiiismo' Fernando C. Capovilla (Instituto de Psicologia, Universidade de Sto Paulo) Nas méos de seus mesires, a Lingua de Sinals & extraordinariamente bela e expressiva, um veiculo para atingir a mente dos Surdos com facilidade e rapides, © para pernitir-thes comunicar-se: um veiculo para 0 qual nem a ciéncla nem a arte prodiziu um substitu & altura, Aqueles que ndo a entendem falham em perceber suas possibilidades para os Surdos, sua poderosa influéncia sobre 0 moral e a {felicidade social daqueles que sao privados de audicao, e seu admirével poder de ‘conduczir 0 pensamenio a mentes que, de outro modo, estariam em perpétua eseuridao. Tampouco podem avatar 0 poder que ela tem sobre os Surdos. Enquanto howver dois Surdos sobre a face da Terra e eles se encontrarem, haverd sinais, J. Schuyler Long (1910). The Sign Language. A Lingua de Sinals & 0 verdadero equipamento da vida mental do Surdo; ele pensa ‘se comunica apenas por este meio, e ele recebe por este mesin meio os conceitos as idéias(.). Ela (.) precede qualquer outra linguagen e, abrindo caminho para ‘0 pensamenio, permite ao Surdo apreender a palavra e a propria idéia de Tinguagem. A Lingua de Sinais um meio indispensivel de commicagio entre 0 professor € 0 aluno, ¢ é de enorme valia em sala de aula para a explicagio de concetas e palavras. Ela nao apenas abre cantinho para o ensino inicial, como ‘amisém oferece um apoio continuo para o processo de orientago e explicagio, Oto F. Kruse (1853). Sobre Surdos,educapao de Surdos,einstiigdes para Surdos, “Juntamente com notas de meu dri de viggem A importincia da linguagem para o desenvolvimento humano A falta de uma linguagem tem graves conseqiiéncias para o desenvolvimento social, emocional ¢ intelectual do ser humano. O valor fundamental da linguagem esta na comunicacdo social, em que 2s pessoas fazem-se entender umas pelas outras, compartiham experiéncias emocionais e intelectuais, ¢ planejam a condugdo de suas vidas © @ de sua comunidade. A linguagem permite comunicacio ilimitada acerca de todos os aspectos da realidade, concretos e abstratos, presentes ¢ ausentes. Permite tambéri reinventar © mundo cultural, para além da experiéncia fisica direta do aqui e agora. Gragas & linguagem, a crianga pode aprender sobre o mundo, beneficiando-se da experineia viedria para além da mera imitagio e observacio direta. Pode também socializar-se, adquirindo valores, regras e normas Este capitulo é um desdobramento de trs trabalhos anteriormente publicados, um artigo no periédico Reflexdes € Pesquisa em Psicologia (Capoville, Capovilla, & Macedo, 1996), um artigo no periédico Ciucia Cognitive Teoria, Pesquisa e Aplicagao (Capovilla, 1997b), € um capitulo (Capovilla, 19984) publicado no Manual Iusorado de sinats (Capovilla, Ruphael, & Macedo, 1998). 1480 Fernando C. Capovilla e Walkiria D. Raphael sociais e, assim, aprender a viver em comunidade. A linguagem permite & crianga obter explicagdes sobre o funcionamento das coisas do mundo e sobre as razdes do comportamento das pessoas. Se nio hhouver uma base lingifstca suficientemente compartilhada, e um bom nfvel de competéncia lingustica ‘para permitir uma comunicaco ampla e eficaz, o mundo da crianga ficard confinado a comportamentos estereotipados aprendidos em situagSes limitadas. Assim, se a linguagem tem a importante fungdo interpessoal de permitir comunicagao social, ela também tem a vital fungéo intrapessoal de permitir 0 pensamento, a formagio e 0 reconhecimento de conceitos, a deliberada resolugo de problemas, atuacio refletida e a aprendizagem consciente. Concepgdes histérieas sobre a Surdez AAs consideracdes acima sio muito pertinentes. No entanto, se a elas se adicionar a falsa crenga, ‘Go disseminada na Lingiistica até inicios da década de 1960, de que a linguagem falada € a nica forma de linguagem, fica ficil entender boa parte dos preconceitos que ceream o Surdo. Durante séculos a crenga de que 0 Surdo ni seria educsvel ou responséivel pelos seus atos foi justificada com base em textos cléssicos, tanto sacros quanto seculares. No século IV a.C., Arist6teles supunha que todos 0s processos envolvidos na aprendizagem ocorressem através da audigfo © que, em ‘conseqléncia, os Surdos seriam menos educéveis do que os cegos. Na Idade Média, supunha-se que os Surdos no teriam acesso & salvagio, ji que, de acordo com Paulo na Epistola aos Romanos, a f6 provém do ouvir a palavra de Cristo (Ergo fides ex audito, auditur autem per verbum Christi). A esse propésito, no entanto, como lembra Sacks (1990), € preciso reconhecer que, séculos mais tarde, seria essa mesma preocupacio para com a salvago dos Surdos que acebaria motivando religiosos no mundo todo, como 0 abade Charles Michel de I'Epée na Franga, o reverendo Thomas Hopkins Gallaudet nos Estados Unidos, © o padre Eugene Oates no Brasil, a trabalhar com Surdos procurando resgatar seus ‘Mesmo nos séculos XVIII e XIX, filésofos da linguagem continuavam a disseminar a idéia de ‘que o Surdo seria incapaz de aprender e pensar. Uma honrosa excecio do século XVIII foi 0 filésofo Condillac. Embora a principio considerasse os Surdos como meras estétuas sensiveis ¢ méquinas ambulantes, incapazes de pensamento ¢ linguagem, depois de comparecer incégnito as aulas do abade de Epée, ele se converteu ¢ forneceu o primeiro endosso filos6fico da Lingua de Sinais e de seu uso na educagio do Surdo (Lane, 1984). Infelizmente, no entanto, a quase totalidade dos fil6sofos nfo se dava 20 trabalho de conhecer tudo aquilo sobre que escreviam. Por exemplo, em sua Antropologia a partir de uma perspectiva pragmética, apés ressaltar que 0 cariter semiGtico nao-icdnico dos sons da linguagem € a forma mais habilidosa de denominar as coisas, Kant (1793) concluiu que os Surdos “nunca podem atingir mais do que um anélogo da razio" (1980, p. 49), e que, mesmo apés aprender a sentir os movimentos dos érgios da fala, o Surdo “nunca chegard aos conceitos gerais porque os sinais de que ele precisaré para tanto nunca serio capazes de representar uma generalidade” (1980, p. 54). ‘Schopenhauer também expressava idéias semelhantes. Para ele, os Surdos no teriam acesso direto a0 raciocinio, jf que o raciocinio depende da linguagem, e, & época, cria-se que toda linguagem plena teria de ser necessariamente oral. No campo das ciéncias, coube & Psicologia a honra de ter precedido a propria Linglfstica no reconhecimento do status linglfstico da Lingua de Sinais. Em sua Psicologia @iica, 0 fundador da Psicologia Experimental, Wilhelm Wundt (1911), foi 0 primeiro académico a defender a concepgao da Lingua de Sinais como idioma auténomo, ¢ do Surdo como um povo com cultura prépria, Enquanto isso, na Lingiifstica, a Lingua de Sinais ndo era considerada com o objeto de estudo. Saussure (1916) enfatizava a arbitrariedade das relagdes entre o signo € o seu referente, © a jconicidade de certos sinais era vista como prova de sua inferioridade. A época concebia-se a Lingua de Sinais como uma forma inferior de comunicagio composta de um vocabulério limitado de sinais Treen Miedo seeulo XXI, a falsidade de tal concepezo € bastante conhecida (Belugas Hoek, Lillo- Paain, & OGrady, 1993; Fenera Brito, 1993; Klima, Belg, & Poizner, 1986, a Lodi, & Pereira, 1993; Poizner, Klima, & Bellugi, 1987), Ascensio e queda do Oralismo Padronizada ¢ forte, em que ndo havia lugar para fraquezas ou cultura. Nesse cultura, ser diferente era arrscado, ¢ 0s Surdos py E presiso reconhecer que o papel central da linguagem para o desenvolvimento humano nunca i {pi neeado por qualquer método, quer oralisa ou de sinal. Dé fato, a Eafine nen intensivo da i uzus oral por parte dos oralisas era conseqiéneiadiria de sua consciéncis da desks importaneia da sasuagem © da competéncia linglisice. O méiodo oralisia objeivava levar 6 Sindee ae ea Gesenvolver competéncia Linguistica oral, 0 que the permitiria desenvelveree emocional, social ¢ i dos ouviaten ” 4° modo mais normal possivel,integrando-te como um membro produtve go oie i os ouvintes. i i ml hi He 1482 Fernando C. Capovilla e Walkiria D. Raphael Entretanto, apesar das intengdes de integragdo, ndo se pode dizer que 0 método oralista tenha ‘sucesso indiscutivel em atingir seus objetivos, quer em termos de desenvolvimento da fala, quer da leitura ¢ escrita. Em todo o mundo, apenas um pequeno percentual daqueles que perderam a audic&o Precocemente consegue oralizar de modo suficientemente inteligivel a terceiros. Na Alemanha, de acordo com 0 Frankfurter Allgemeine Zeitung (06/11/95), tal percentual é estimado em meio porcento Além disso, infelizmente, como sua articulagao incomum tende a ser recebida com estranhamento pelos uvintes, muitos dos que conseguiram aprender a oralizar sentem-se inibidos e desencorajados em fazé-lo fora de seu circulo de amizade no dia a dia. Na Inglaterra foi observado que, apés a educagio «especial oralista, apenas 25 porcento dos Surdos que graduam-se aos 15-16 anos de idade conseguem articular a fala de um modo que seja inteligivel, pelo menos por seus préprios professores (Conrad, 1979), Em termos de leitura e escrita, a mesma pesquisa mostrou que, dos graduados, 30 porcento eram ‘analfabetos © menos de 10 porcento tinham um nfvel de leitura apropriado a sua idade. O nivel de leitura médio era equivalente ao de criangas de nove anos. Os dados mostraram, ainda, que suas habilidades de leitura labial eram igualmente insatisfatérias. De acordo com Prillwitz (1990), apesar de {todos os seus esforgos, sob © método oralista, as habilidades de leitura e escrita dos Surdos tendem a limitar-se 20 nivel da terceira a quinta série do primeiro grau. Além disso, em consequéncia das limitagSes no desenvolvimento das competéncias lingtifsticas de leitura e escrita, tende a haver deficiéncias sérias também em outras dreas de conhecimento e matérias escolares. Ainda assim, hd sempre o argumento de que existem exceg6es, isto é, Surdos que conseguiram desenvolver relativamente boas habilidades de leitura e eserita sob método oralista. No entante, tal ‘argumento 36 revela quio rebaixadas tornaram-se as expectativas sob a filosofia oralista estrita. A partir da década de 1960, no entanto,tais expectativas comecaram a ser revistas de modo que, 2 partir de entio, sucessos ocasionais passaram a néo ser o bastante: Era preciso torné-los regra. Um ultimato {i dado & filosofia de ensino oralista: Ou ela demonstrava que podia obter melhores resultados a partir de novos desenvolvimentos metodol6gicos e instrumentais eapazes de reverter quadro, ou ela deveria ser descartada em favor de uma outra filosofia de ensino baseada em sinais naturais. E, de fato, varios desenvolvimentos metodol6gicos e tecnolégicos surgiram desde a década de 1960 até o final do século XX, todos sempre acompanhados de grandes expectativas. Por exemplo, 0 . desenvolvimento dos aparelhos auditivos na década de 1960, os projetos de intervengio precoce ¢ 0 desenvolvimento de novos modelos de gramética na década de 1970. Na década de 1980, houve novos desenvolvimentos tecnolégicos na acistica dos aparelhos auditives, e programas de computador para auxiliar a percepgiio da fala como 0 Phonator © 0 Visible Speech. Na década de 1990, foram os {implantes cocleares ¢ os programas de treino auditivo intensivo nos primeiros anos de vida. Embora todos esses desenvolvimentos que procuram reparar a deficiéncia auditiva possam ter levado 2 indiscuttveis casos de sucesso individual, ainda assim parecem estar bastante aquém do objetivo maior ‘que € permitir ao Surdo, em geral, a aquisigao e o desenvolvimento normais da linguagem. A era da Comunicagio Total Apesar de seus resultados modestos, todos esses esforgos voltados para permitir a audigio © evar & oralizacdo parecem justficar-se, dada a importincia vital da linguagem para o desenvolvimento hhumano. No entanto, o que permaneceu esquecido durante todo um século desde o Congresso de Milo de 1880 até cerca da década de 1980, € que a linguagem oral nfo é a nica forma de linguagem. Como © objetivo maior da filosofia educacional oralista era/permitir o desenvolvimento da linguagem e como cla nunca chegou a realizar satisfatoriamente este objetivo, passou a tornar-se cada vez mais atraente a ‘déia de que aquele mesmo objetivo de permitir ao Surdo a aquisigio ¢ o desenvolvimento normais da Diciondrio Enciclopédico Hustrado Trilingite da Lingua de Sinais Brasileira 1483 Jinguagem poderia vir a ser alcancado por uma outa filosofia educacional que enfatizasse nao a linguagem oral, mas todo e qualquer meio possivel, incluindo os préprios sinais. A filosofia educacional da Comunicagdo Total (Ciccone, 1990; Denton, 1970, Raymann, & Warth, 1981) advoga ©.uso de todos os meios que possam facilitar a comunicacio, desde a fala sinalizada, passando por uina sévie de sistemas artficiais, até chegar aos sinais naturais da Lingua de Sinais. A segio seguinte Gescreve alguns dos sistemas de sinais desenvolvidos nessa época. A Comunicagio Total advoga 0 uso de um ou mais desses sistemas, juntamente com a lingua falada, com 0 objetivo bsico de abrir canais 4 comunicagio adicionais. E mais uma filosofia que se opie 20 Oralismo estito do que propriamente uum método. AA Tedengio dos sinais s6 comegou a torna-se realidade a partir das pesquisas basicas seminais de Stokoe (1960) em seu instituto de pesquisas linghisticas na Universidade Gallaudet, em Washington D.C. ¢, mais tarde, com Klima e Bellugi (1979). Desde enti, em todo o mundo ocorreu uma explosio de pesquisas acerca da estrutura lingifstica das Linguas de Sinais, tomando-se um rico objeto de ¢studos nio apenas da Lingiistica, como também da Psicologia, Neurologia, Educagao, Sociologia Antropologia. Sob o impacto dessas pesquisas basicas sobre a Lfngua Americana de Sinais, na década te 1970 a filosofia educacional Oraista estrita cedeu lugar & filosofia educacional da Comunicagao Total, que propunha fazer uso de todo © qualquer meio de comunicagio (quer palavras ou simbolos, Quer sinais naturais ou artificiais) para permitir o desenvolvimento da linguagem da erianga Surda, Sob & protect dessa| nova filosofia educacional, nessa época comegaram a surgi diversos sistemas de sinais cujo objetivo central era aumentar a visibilidade da lingua falada, para além da mera leitura labial. Procurando tomar a lingua falada mais discernivel ao Surdo, 0 objetivo de tais sistemas era suxiliar a compreensio da lingua falada c, assim, melhorar o desempenho do Surdo na leitura e na escrita. De acordo com Hansen (1990), com a filosofia da Comunicagdo Total e a conseqiiente adogao a lingua falaca sinalizada nas escolas € nos lares, as criangas comegaram a participar das conversas ‘com seus professores ¢ familiares, de um modo que jamais havia sido visto desde a adogao do Oralismo esttto. No fim da década de 1960 ¢ inicio da década de 1970, na Dinamarca por exemplo, o progresso fomou-se to aparente que a fala sinalizada usada na Comunicagio Total foi logo adotada como "0 ‘método” por exceléncia, Recursos da Comunicagio Total Consideremos agora um pouco mais atentamente alguns dos recursos da Comunicago Total que ajudaram a melhorar 0 desempenho académico das criancas Surdas. Os sistemas de sinais (Bornstein, 1979) podem basear-se no vocabuldrio da Lingua de Sinais, mas adicionar a ele aspectos da lingua {alada ou, entGo, podem adotar um vocabulério artificial. Sua caracteristica mais importante é que. neles, a ordem de producdo dos sinais sempre segue a ordem da produgdo das palavras da Ungua Jalad, que é emitida simultaneamente. Sistemas de sinais podem set empregados simultaneamente 3 lingua falada, e permitem transmitir & crianga Surda algumas das regras das linguas faladas que aparecertio na escrita que ela deveré aprender. Assim, a estrutura das sentengas construfdas por meio de sistemas de sinais transfere-se mais facilmente & lingua escrita do que a estrutura das mensagens em Lingua de Sinais. Hi linguas faladas sinalizadas em uma série de paises, tais como Estados Unidos, Franga, Riissia, Dinamarca, etc. Exemplos de sistemas que se baseiam no voeabulirio de sinais so 0 Portugues ‘Sinalizado (Rabelo, 1991), o Inglés Sinalizado (Bomstein & Saulner, 1984), 0 Seeing Exact English, 0 Seeing Essential English, e 0 Signing Exact English. Estes sho conhecidos genericamente coino Manually Coded English (Costello, 1994). O Seeing Essential English (Anthony, 1971) objetiva 1484 Femando C. Capovilla e Walkiria D. Raphael formar compostos de sinais bisicos, ¢ sinais de partes de palavras, afixos, prefixos, e assim por diante. Signing Exact English (Gustason, Pfetzing, & Zawolkow, 1975) estende o principio de composigao ‘inda mais (por exemplo, decompondo today, tomorrow, ¢ yesterday em to + day, to + morrow, c Jester * day). © preco de tal principio de composigao é uma certa artificialidade semantica, Para contornar tal problema, o Inglés Sinalizado (Bornstein et al, 1975) tenta codificaro significado em vez da forma, inventando sinais de mazeagio para as formas flexionadas do Ingles falado, De acordo com Bornstein (1979), a grande desvantagem dos sistemas de sinais consiste no fato de que constituem uma solugio de compromisso que, além de requerer em grande esforso por parte do aprendiz, acabam sendo Sempre insuficientes como meio principal de comunicagio, devido is complexidades de flexdo da lingua falada que se est tentando sinalizar com marcadores. Tais complexidades incluem a concordéncia nominal, a concordincia verbal, a concordincia figurada, c a regéncia, dentre outras, Hi ainda sistemas de sinais que adotam um vocabulério completamente artifical como, por exemplo, o sistema de sinais de Paget-Gorman (SSPG) que foi concebido para ajudar eriangas Surdas 8 aprender a lingua falada ¢ eserita, ¢ que vem sendo empregado com criangas que apresentam severos distirbios de aprendizagem (Rowe, 1982). Seu objetivo primério é dar suporte a aprendizagem da lingua falada e escrita. Para tais criangas, ele pode ser usado com graus variados de marcagio gramatical, comerando a partir de uma forma telegrafica e progredindo até construir a estrutura lingiiistiea plena (como, por exemplo: 1. Jodo; 2. dé Jodo; 3. dé para Jodo; 4. dé para o Joio). Tal sistema deriva de um conjunto artificialmente criado de 21 posigdes manuais e 37 sinais bisicos. De acordo com Crystal e Craig (1978), de todos os sistemas de sinais, SSPG ¢ o que reflete a lingoa falada ‘com maior precisfo. As vezes ha alguma superposicao iednica com a Lingua de Sinais Britanica, mas 0 sistema de inflexto & totalmente diferente, Seu uso atingiu 0 pico na década de 1970, sendo que, no inicio da década de 1980, era usado em 34 porcento das escolas com 33 porcento das criancas, especialmente criangas com distirbios de aprendizagem, com deficiéncia fisicas e autistas (Kieran, Reid, & Jones, 1982). Os voeabuldrios de sinal objetivam dar suporte parcial & aprendizagem da lingua escrita¢ falada, Como exemplos, temos a Cured Speech, que consiste num sistema ou método manual (Cornett, 1975) Para transmissio fonémiea (Montgomery, 1981) ¢ eujo objetivo é auxiliar a leitura labial; e 0 Yocabulério Makaton (Walker & Armfield, 1982; Walker et al., 1985) que objetiva dar suporte a criangas Surdas com dificuldade de aprendizagem. Cued Speech consiste na classifieagao dos padres labiais de acordo com sus aparéncia, © no oferecimento de dicas manuais para distinguir entre os mais parecidos. Teis dicas envolvem oito padres manuais, e quatro posicdes manuais, todos executados pela mio dominante préxima a0 lado do rosto, dentro do foco visual das criancas. O Vocabuldrio ‘Makaton foi originalmente ctiado para Surdos com deficiéncia mental, como um instrumento de capacitagdo de linguagem, Consiste em um sistema desenvolvimental de 350 sinais derivados de um dialeto da Lingua de Sinais Britinica, Tais sinais podem set combinados em sentencas & medida que a ctianga desenvolve a habilidade de compreender ¢ usar os sinais. Isto ocorre por meio de um sistema simples de ensino de sinais baseado em recompensas. No final da década de 1970, era usado em mais de 80 porcento das escolas para criangas com distirbios severos de aprendizagem na Gri-Bretanha (Kieman, Reid, & Jones, 1982). Era mais usado do que a Lingua de Sinais Britinica, jé que a incidéncia de distirbios severos de aprendizagem € oito vezes maior do que a da surdez profunda, A soletragao digital por meio do alfabeto manual (Capovilla & Raphael, 2001a; Wilcox, 1992) existe ha mais de 300 anos (Anénimo, 1698; Dalgarno, 1661), ¢ consiste na rTepresentaco, ponto a onto, das letras da eserita alfabética. Seu uso requer a clara representaglo de cada letra do alfabeto, ‘Consequentemente, na China ¢ em Israel, ela no ¢ usada. E bastante empregada na Gri-Bretanha e nos Estados Unidos, onde os Surdos empregam a soletracZo digital para a comunicagdo interpessoal, ¢ onde ‘seu uso incorporou-se as Linguas de Sinais Britinica e, especialmente, & Lingua de Sinais Americana Dicionério Enciclopédico llustrado Trilingiie da Lingua de Sinais Brasileira 1435 que, freqilentemente, “tomam emprestada” do Inglés a primeira letra, conforme documentado por Battison (1978) c Costello (1994). Na Lingua de Sinais Briténica, é usada especialmente para nomes de pessoas © lugares; ao passo que na Lingua de Sinais Americana ¢ usada para iniciar os sinais de ‘mancira geral. Como exemplo de um sinal em que a forma da mao representa a primeira letra da {radugio do sinal para o Inglés, temos 0 sinal MONDAY, em que a mao articula a letra M. Isto também. Parece ser verdadeiro para a Libras, se bem que em muito menor grau. De fato, como pode ser constatado neste dicionério, nos sinais SAADO ¢ DOMINGO a mio articula as letras $ ¢ D, respectivamente. De acordo com levantamentos computadorizados num Manual Ilustrado de Sinais preliminar (Capovilla, Raphael, & Macedo, 1998), apenas 10 porcento dos 1515 sinais compilados naquele manual sao inicializados, ou seja, em apenas um a cada dez sinais a mao articula a letra-chave do nome escrito, em Portugués, correspondente ao sinal. Nas Linguas de Sinais Britinica e Americana, a inicializagio parece ser bem mais freqiiente do que na Libras. Tem sido documentado que & freqiiéncia de inicializagio de sinais tende a aumentar ao longo da evolugio dessas linguas (Costello, 1994). Assim, espera-se que a freqiéncia de inicializagdo de sinais tenda a crescer na Libras, a medida que esta se desenvolva. A propésito, uma particularidade interessante da Libras, e que demonstra o efeito estruturador que ela vem softendo do Portugués falado © escrito, slo os sinais dos dias da semana SEGUNDA-FEIRA a SEXTA-FEIRA, em que a mio articula os nimeros correspondentes 2 a 6. Como se sabe, diferentemente de outras linguss, como 0 Espanhol eo Inglés, em que os nomes de deuses pagios (0-2. © Sol, a Lua, Saturo, Marte) continuam a denominar os dias da semana (c.g., Sunday, Monday, Saturday); em Portugués, devido a ago da Igreja, o primeiro dia da semana é concebido como o dia do ‘Senhor (ic., Dominus, domingo), ¢ 08 demais, a partir dele, sio coneebidos como férias (ou dias livres, no dedicados ao Senhor), ¢ rotulados a partir do segundo dia da semana, como segunda-feira (ou féria), terca-feira, © assim por diante. Assim, 0 fato de que a articulagio da mio acompanha ¢stritamente esta caracteristica muito peculiar da Lingua Portuguesa pode ser tomado como evidéncia incontestivel do efeito estruturador do Portugués sobre a Libras. Em sums, embora seja um sistema de Comunicagao em si, a soletragdo digital (Capovilla & Raphael, 20012) tornou-se parte da Lingua de Sinais do Surdo adulto, Desta mancira, a propésito, como a Lingua de Sinais incorpora elementos da eserita alfabética (mesmo quando os Surdos conversam entre si em Lingua de Sinais), no se pode dizer que ela seja propriamente pura. A queda da Comunicacio Total e a ascensio do Bilingiismo Sob a prote¢do da filosofia educacional liberal da Comunicago Total, os diversos sistemas de sinais criados, de fato, conseguiram aumentar a visibilidade da lingua falada, para além da mera leitura labial e, assim, em certa medida, lograram auxiliar a compreensio da lingua falada. De fiato, nao se Pode negar o valor dos métodes da Comunicac20 Total para a visualizagdo da lingua falada em uma série de dreas de aplicagdo para ensino da lingua escrita. No entanto, havia outros aspectos eriticos em 4que os problemas comeyavam a acumular-se. Tais problemas diziam respeito a0 fato importante de 4que, embora, por principio, a Comunicago Total apoiasse o uso simultineo da Lingua de Sinais com sistemas de sinais; na pratica, tal conciliago nunca foi e nem seria efetivamente possivel, devido a natureza extremamente distinta da Lingua de Sinais. De acordo com Hansen (1990), em meados da década de 1970, comegaram a surgir problemas para os quais a Comunicago Total parecia ndo ter resposta. Embora a comunicacdo entre as criancas Surdas © a comunidade ouvinte tivesse melhorado drasticamente com a adogao dos métodos ‘da 1486 Fernando C. Capovilla e Walkiria D. Raphael (Goimunicasdo Total, foi observado que as habilidades de leturae escrita ainda continuavam muito mais timitadas do que o esperado. Para descobrir por que, na década de 1970, pesquisadores do Centr ae Desguisafilmava as conversagdes entre Surdos em Lingua de Sinais.Outra linha de pesquisa ilmava ag rofessorss do centro enquanto ministravam aulas aos seus alunos, falando e sinalizando a0 meen, Droduziam a melhora esperada na aquisic&o da letura ¢ escritaalfabéticas, os pesquisadores decidtray panera com wis do Ponto de vista de um aluno Surdo enti, discutr com as professoras o que poveta estat acontecendo, Para tanto, eles filmaram as aulas em Comunicagio Total ministradas psies Professor cm que elas sinalizavam e oralizavam ao mesmo tempo. Eno, colocando #8 profescores {fa Pele" de seus alunos Surdos, eles exbiram as fitas ’s professoras, mas sem o som da file Panes seartpani re, Sescobero, entéo, que, quando estavam impossibilitadss de ouvir a fala que ‘SGampantava a sua sializagio, as professors exibiam uma grande dificuldade em entender o que cles Fens haviam sinalizado! As préprias professorus perceberam entio que, quando sinalisivan c {alavam ao mesmo tempo, elas costumavam omitir inal e pstas gramaticals que eram excesses corbreensio das comunicagées, embora até entio costumassem eret que eslavam a sinalisar cada belavra concreta ¢ de fungdo gramatical em cada sentenga falada. A conclusto desconcertanienears Pana of 8 de due, durante todo o tempo, as criangas nfo estavam obtendo uma versio visual da lingua {Giada na sala de aula mas, sim, uma amosta lingtistica incompletae inconsistent, em que nent er damuala abo ealavrs faladas podiam ser compreendidos plenamente por si sos. Em conseqiencia Gaavela abordagem, para sobreviver comuniativamente, as ciangasestavam se tomando nlo bilvatce iano Se esperava, mas sim hemilingies, por assim dizer, sem ter acesso pleno a qualquer uma das linguas, ¢ sem conhecer os limites entre uma e outra. Assim, com a Comunicagio Total, embora 0s sinais tivessem sido admitidos A escola para Fad asiedo da lingua falada ceseria, © nfo como uma Kingua em seu prprio dieito, a lingua fade sinalizada nto parecia mais suficiente para a comunidade que acabava de aber oe olhee & Som a disseminagio das pesquisas e 0 sprofundamento da compreensio da complexidade Posentice das Linguas de Sinais (eg. Belli, 1983; Bellugi, Klima, & Poizner, 1988; Bellugh, Polaner, & Klima, 1983), no tardou a surgir a expectativa de que a propria Lingua de Sinais natural ng Cprunidade Surda,e nfo mais a lingua falda sinalizada, poderia sero vefculo mais spropriado pars-c bsaate © 9 desenvolvimento cognitivo e social da crianga Surda. Logo emergiu a posigio de que a Finsova da Comunicagso Total deveria ser substnda pela flosofia do Blingdismo, em que a inoe Gist 2 Lingua de Sins poderiam conviver lao a lado, mas nfo simuitancamente, No ilingiisems 9 ehietivo 6 levar © Surdo a desenvolver habilidades, primeiramente em sua Lingua de Sinais natural 2 ‘bssaUentemente, na agua escrita do pfs a que pertence. Taishabiidadesincluem compreender ¢ Sralizarfluentemente em sua Lingua de Sinais,e ler © escrever fluentemente no idioma do pats ox cultura em que ele vive. De acordo com Hansen (1990), levando em consideragao a defeituoe Diciondrio Enciclopédico Nustrado Trilingite da Lingua de Sinais Brasileira 1487 couvintes sinalizadores, ele pode usar sua Lingua de Sinais. Ao conversar com ouvintes nio- sinalizadores, ele pode escrever, ou oralizar, ou usar um intérprete ouvinte. Ao conversar com ouvintes ‘que falam ¢’sinalizam a0 mesmo tempo, ele pode escolher uma forma sinalizada da lingua falada (Pidgin) que, embora difira dos sinais naturais da Lingua de Sinais, é mais inteligivel ao ouvinte, jé que baseia-se na lingua falada, ‘Um programa bilingile pioneiro ‘Um passo seminal para concretizar o Bilingilismo foi dado pela Suécia, que foi o primeiro pais a reconhecer politicamente os Surdos como uma minoria lingiistica com direitos politicos assegurados 2 educagdo na Lingua de Sinais ¢ na lingua falada (Prillwitz & Vollhaber, 1990). E curioso observar que, tem todos 0s paises com excecio de Burundi, a mudanca de atitude, que culminou na adogio regular das respectivas Linguas de Sinais para a éducagio da crianca Surda, foi mediada pela aceitagdo da Iingua falada sinalizada (Lane, 1984). Hansen (1990) descreve um programa dinamarqués de pesquisa que acompanhou, durante oito anos, o desenvolvimento da aquisigdo da Lingua de Sinais e das linguas falada e escrita por nove criangas Surdas dos seis aos 14 anos sob a filosofia educacional do BilingUismo. Filmando as interag6es comunicativas das criangas e obtendo registros de suas produges linglisticas, o programa pode acompanhar o desenvolvimento das habilidades de sinalizagio, leitura, escrita e, mesmo, oralizacio. Nesse programa bilingtie, foi decidido que o primeiro ano seria dedicado exclusivamente a0 desenvolvimento da linguagem de sinais como lingua matema que forneceria a base para a edificacio escolar. Para avaliar experimentalmente 0 nivel de desempenho lingUstico em Lingua de Sinais, 03 pesquisadores usaram inicialmente uma tarefa de descrigo de desenhos animados de televisio. Eles verificaram que, aos sete anos de idade, apenas duas das criangas conseguiam comumnicar-se com sinais de um modo apropriado & sua idade. Dois anos depois, sete das nove criancas dominavam fluentemente Lingua de Sinais, sendo que em apenas duas o nivel de sinalizacio nao era condizente com sua idade. Todas as nove demonstraram uma grande expansio de vocabulério de sinais, conhecendo a gramética da Lingua de Sinais e sendo capazes de contar uma estoria sem as hesitagGes de ficar procurando pelos sinais apropriados. Ainda assim, as eriangas apresentavam problemas com certos padres gramaticais, como 0 uso de proformas, de topicalizagio e de expresses e movimentos faciais para modular os sinais. A propésito de metodologia de pesquisa, notando uma disparidade entre 0 nivel de sinalizagio ‘exibido pelas criancas em sua conversagao espontiinea ¢ o desempenho na prova de contar uma estéria a partir de trechos de filme, os pesquisadores perceberam a necessidade de usar amostras lingisticas mais naturais como, por exemplo, pedir as criangas para descrever suas férias de verio. Embora de avaliagio muito mais trabalhosa para o pesquisador, tais amostras livres mostraram-se muito mais informativas e representativas do nfvel real de desempenho lingifstico das criangas A partir do segundo ano do programs, Dinamarqués falado ¢ escrito foi introduzido como a primeira lingua “estrangeira”. Foi observado que algumas criancas tinham excelentes habilidades devido a programas de leitura precoces e/ou a alguma audicio residual (duas das nove criangis néio cram propriamente Surdas, mas “duras de ouvido"). Assim, para fins de ensino da lingua falada © escrita, as criangas foram divididas em dois grupos, conforme seu desempenho, Nesse programa de ppesquisas baseado na filosofia do Bilinglismo, Hansen ressalta que "para o ensino de letura-escrita em Dinamarqués foram empregados todos os recursos possfveis, incluindo a Lingua de Sinais, 2 lingua falada, textos escritos, comegdo da fala, exercicios de articulacdo, a Ieitura labial emparelhada com 2 fala, © a soletragio digital, além do método dinamarqués mio - boca, ¢, finalmente, 0 treino de 1488 Fernando C. Capovilla e Walkiria D. Raphael entoagio ¢ de ritmo da fala." (Hansen, 1990, p. 59). Ap6s escolher uma est6ria, o professor escrevia as sentengas na lousa. Em seguida, ele pedia as criangas para ler essas sentengas em voz. alla, € tentar traduzi-las em termos de seu significado geral. O professor explicava 0 contedido ¢ o significado das palavras por meio da Lingua de Sinais. Nos dias seguintes, as sentengas eram repetidas na conversagio natural, ¢ as criangas eram convidadas a ler as estérias inteiras sozinhas. Entio o professor fazia uestdes sobre a estéria em Dinamarqués € os alunos tinham de responder na mesma lingua. Se as eriangas © desejassem, podiam langar mio de recursos adicionais de soletragao digital, sinais de Suporte, ou do sistema mio - boca. Se as eriangas néo entendessem a questio, o professor perguntaria ovamente em Dinamarqués e, se necessério, traduziria em Lingua de Sinais. Nesse programa de pesquisa, foi observado que as criangas gostavam muito de brincar de um Jogo que elas préprias haviam inventado que consistia em assentar-se sobre as suas préprias miios ¢ {entar comunicar-se umas com 2s outras por meio da lingua falada. Muitas das criangas também colocaram espontaneamente para si mesmas, como um objetivo proprio a ser alcangado, 0 desenvolvimento de sua habilidade de articular a lingua falada, de modo a poderem ser entendidas Pelos ouvintes. De modo geral, o programa foi muito bem sucedido em varios aspectos. Por exemplo, aos 12 anos de idade, cinco das nove criangas tinham um nivel de leitura igual ao das eriancas uvintes; © aos 14 anos, sete das nove conseguiam ler com uma certa fluéncia. Aquelas eriangas também passaram a escrever em Dinamarqués, sendo que o telefone de texto (Tetzchner, 1994a, 1994b) Consista no maior agente motivador para a aquisigdo da escrita fuente, Em consequéncia do forte desenvolvimento das habilidades de leitura, houve uma grande expanso do vocabulério de palavras, 0 que, por sua vez, melhorou substancialmente as habilidades de leitura labial. Mais importante que qualquer habilidade isolada foi o progresso geral observado nas habilidades sociais, cognitivas © académicas dos jovens, e nas habilidades de tomar decisSes informadas acerca de si mesmos ¢ de encontrar seu lugar no mundo. Gragas a esse programa de Pesquisas ¢ a outros similares a filosofia do Bilingitismo goza hoje de grande aceitacio na Dinamarca, tanto por parte do governo quanto das escolas ¢ da comunidade em geral. Hoje, assim que tém um filho diagnosticado como surdo, os pais comegam a aprender Lingua de Sinais ¢ a tomar providéncias para ue seu filho possa ser colocado em creche e pré-escola onde possa conviver com outras criangas Surdas ¢ deseavolver um léxico funcional de sinais naturais. s dados auspiciosos de tal programa de pesquisa longitudinal sio plenamente compatveis com ‘as expectativas. De acordo com Oksaar (1990), 0s efeitos positives da educagio bilingile da crianga ‘Surda so muitos. Eles incluem 0 desenvolvimento adequado de competéncias linglistica © ccomunicativa, a aquisicéo espontinea da Lingua de Sinais, com o desenvolvimento intuitivo de regras Tingtisticas em contextos sociais naturais motivados ‘lingUisticamente, a conexio baseada na experiéncia entre 0 uso da linguagem e a formagdo de conceitos, 0 desenvolvimento de padrées de linguagem apropriados & faixa etiria para auxiliar em uma série de fungSes (c.g., auto-regulacio, interagdo, obtengo ¢ expresso de informagdo) ¢, finalmente, o desenvolvimento de tespeito identidade préprios como pessoa Surda. E hoje geralmente aceito que a aprendizagem escolar e a aquisigio das linguas falada e escrita possam desenvolver-se mais apropriadamente sob a filosofia do Bilinglismo, em que a crianga tem oportunidade de crescer em interago com. sinalizadores competentes, Na citaglo que encabeca © presente capftulo, o Surdo alemao Kruse enfatiza a intima ligagdo entre 0 uso da Lingua de Sinais e 0 desenvolvimento do pensamento e da aprendizagem da crianga Surda. De acordo com Prillwitz (1990), apés sua viagem a Paris, Kruse expressou sua tejeigo do uso de sinais orientados pela lingua falada. Para ele, a tentativa de aproximar a Lingua de Sinais da lingua falada mutila a L{ngua de Sinais, a qual s6 poderia ser desenvolvida plenamente por Surdos em Dicionério Enciclopédico lustrado Trilingie da Lingua de Sinais Brasileira 1489 instinsigbes onde é cultivada, Hoje, no infcio do século XXI, € razoavelmente bem aceita a posigao de que a filosofia educacional da Comunicaglo Total serviu de transicéo entre as filosofias opostas do Oralismo estrito e do Bilinglismo. Ao permitir a introdugdo dos sinais na prética educacional regular com os Surdos, mesmo que como recurso para permitir aumentar a clareza da lingua oral para os Surdos, ela permitiu flexibilizar a rigidez do Método Oralista estrito e, assim, preparar o eaminho pare © resgate da Lingua de Sinais como veiculo formal para a educagio escolar regular do Surdo. Além 20, ponjue = mimica e a pantomima usam o mesmo canal visoespacial e quiroarticulat6rio que o das Linguas de Sinais, ¢ porque, no fluxo da sinalizacto, os gestos de mimica e pantomima frequentemente ‘ccorrem intercambiados com os sinais (Bellugi & Klima, 1976; Klima & Bellugi, 1979), durante muito ‘empo ns Lingiifstica pensou-se que os sinais seriam apenas mera mimica e pantomima, indignos de um ‘estado Tnelistico. Curiosamente, até 0s estudos pionciros de Stokoe (1960) ¢ de Klima ¢ Belluzi (G979) que cstabeleceram firmemente 0 siarus linglistico das Linguas de Sinais, o Gnico expoente 2 ‘defender as concepgies lingiistica © antropoldgica das Linguas de Sinais como idiomas plenos ‘Brlpsios, e dos Sunios como ux povo com uma cultura autGnoma, nfo foi um lingiista mas, sin, 0 9 ‘Gs Psicologia Experimental, Wilhelm Wundt. A propésito, do mesmo modo, o primeiro Diciondrio ‘enciclopédico trilingite da Libras (Capovills, Raphael, & Luz, 2001b, 2001e) é fruto dos esforoos ‘dedicados de uma equipe de psioGlogos experimentais, e ndo de lingtistas. Esperamos que tais dads: ossam incentivar um maior cavolvimento dos psicélogos brasileiros no estudo da Lingua de Sinais € ‘uma maior partcipago ma edacagao da crianca Surda, assim como acontece na maior parte dos paises desenvolvidos. 1490 Fernando C. Capovilla e Walkiria D. Raphael Copovilla, F.C. (2006a). A evoluglo nas abordagens & edueagdo da crianga surda: ‘Do Oralismo & Comunicagao Total, ¢ desta ao Bilingtismo. Em F. C. Capovilla, & W. D. Raphacl (Eds) Dicionério enciclopédico ilustrado wilingie da Lingua de Sinais Brasileira (3° ed, Vol. 2, pp. 1479-1490), Sio Paulo, SP: Edusp, FNDE-MEC. Resumo: 0 capitulo enftiza « importincia da lnguagem para o desenvolvimento social, emocional e inilectual da crionca. Revé alguns fatores prcossocais ¢ concepedes histiricas que auziliam a entender attudes quanto ao Surdo, da Antigiiidade classica até 0 inicio do século X21, @ relata alguns achados que dausliam a compreender alguns dos motos subjacentes mudanga de orienagio da flosofiaeducacional quonto eo Surdo, do Oralisno a Comunicagio Totah ¢ desta ao Bilingiisna. Descreve também alguns dos recursos ofereides pela CComunicagdo Total, além de um programa bling pioneiro multo Bem sucetido due inegra a maior parte daqueles recursos. A partir da importncia crucial da linguagem para © desenvolvimento da cranga, 0 capitulo defende a Imersio da crianca Surda no universolingisico do Sinal © mais precocemente possivel ¢ explora as vantagens da educagéo bilingiie, ecemplificando-a com a deserigéio de tum projeto bem sucedido, Approaches to the education of the Deaf child: The evolution from Oralism to Total Communication to Bilingualism Abstract: The chapter emphasizes the importance of language for the soctal emotional and intellectual development of the Deaf child. Ii revisits some psychosocial factors and historic conceptions that help to understand anitudes towards the Deof, from the Greeks 1o contemporary days. It also analyzes some research findings that help to comprehend some of the reasons underlying the shift ‘that has Occurred in the educational philsophy concerning the Deaf, from Oralisn 10 Total Communication to Bilingualism. It also describes some of the resources offered by Total Communication, as well as a pioneer succesyfl program In bilingual education that inegraies most of those resources. Gen. the crictal importance of language for child developmen, tke chapter stresses the importance ofthe bilingual education ofthe Deaf chil.

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