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do Amarante
Instituto Militar
de Engenharia
Uma ponte para o futuro
Fundada pelo Decreto no 8.336, de 17 de dezembro de 1881,
por FRANKLIN AMÉRICO DE MENEZES DÓRIA, Barão de Loreto,
Ministro da Guerra, e reorganizada pelo
General de divisão VALENTIM BENÍCIO DA SILVA,
pelo Decreto no 1.748, de 26 de junho de 1937.
Comandante do Exército
General de exército Enzo Martins Peri
Conselho Editorial
Presidente
General de brigada Aricildes de Moraes Motta
Beneméritos
Coronel Nilson Vieira Ferreira de Mello
Professor Arno Wehling
Membros Efetivos
General de exército Gleuber Vieira
General de exército Pedro Luís de Araújo Braga
Embaixador Marcos Henrique Camillo Côrtes
General de divisão Ulisses Lisboa Perazzo Lannes
General de brigada Geraldo Luiz Nery da Silva
General de brigada Sergio Roberto Dentino Morgado
Coronel de artilharia Luiz Sérgio Melucci Salgueiro
Professor Guilherme de Andrea Frota
Professor Paulo André Leira Parente
Professor Wallace de Oliveira Guirelli
Biblioteca do Exército
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José Carlos Albano do Amarante
Instituto Militar
de Engenharia
Uma ponte para o futuro
1a edição
BIBLIOTECA DO EXÉRCITO
Rio de Janeiro
2013
BIBLIOTECA DO EXÉRCITO Publicação 898
Coleção General Benício Volume 500
ISBN 978-85-7011-533-1
Vários autores.
CDD 355.00711
Instituto Militar
de Engenharia
Uma ponte para o futuro
Apresentação
Professor Rex Nazaré Alves
Prefácio
General Rodrigo Balloussier Ratton
Autoria de Capítulo
Tenente-coronel Roberto Ades
Tenente-coronel Paulo César Pellanda
Professor Itamar Borges Jr
Apresentação
L
ouvável é a proeza de colocar em um livro a história de nosso
Instituto Militar de Engenharia. Sem dúvida, a obra incorpora
mais de 200 anos de atividades nas áreas de ensino e pesquisa, incluindo
o desenvolvimento nacional cujo berço é essa respeitável casa. Tenho o
privilégio de conhecê-la por mais de meio século, como iniciativa de três
engenheiros militares professores: o general Atila Magno da Silva, o general
Carlos Campos de Oliveira e o coronel Wervroer. Naquela ocasião, o Instituto
iniciava os estudos sobre energia nuclear. Percorrendo os seus corredores
e estudando muito, atingi a posição de diretor executivo da Comissão
Nacional de Energia Nuclear. Foi quando tive a honra de convidar o coronel
Rui Fortes, cujos conhecimentos em engenharia química tornavam-se
indispensáveis para enfrentar o recente desafio lançado à comissão:
descobrir o caminho para o domínio do ciclo de combustível nuclear. A
missão do Rui era de construir uma base de projetos de engenharia química
na Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).
De imediato, era fundamental a busca de nomes adicionais para
compor a equipe. Entre os nomes propostos estava o do então major
José Carlos Albano do Amarante, ao qual atribuí a missão de desenvolver
tecnologia experimental para produção de dióxido de urânio, ou seja, uma
planta piloto para obtenção de UO2. Foi uma feliz indicação que acolhi por
conhecer o passado da engenharia química do IME, cujo berço estava
na fábrica de Bonsucesso. Era a primeira metade da década de 1980. O
cromossoma do Amarante tinha o mesmo DNA de seu irmão José Alberto
com quem tive a satisfação e o orgulho de, em conjunto, trabalhar.
A partir daquela época, os meus contatos com o Amarante tornaram-
se mais frequentes, incluindo naquela fase o período do IPT, e mais tarde
no seu retorno ao IME. Naquele momento, já aposentado na Cnen eu
viii Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
N
o final dos anos 1990, tive a grata oportunidade de trabalhar
diretamente com o autor, durante seu período de comando no
Instituto Militar de Engenharia. Lembro-me de que, certa vez, perguntei-
lhe sobre a razão de possuir, em sua mesa de trabalho, estatuetas de
Dom Quixote e de Napoleão. Recebi a seguinte resposta: “São minha
inspiração, pois gostaria de sonhar como o primeiro e realizar como o
segundo.” Essa passagem ficou marcada em minha memória e representa
bem a personalidade do nobre chefe e amigo, general Amarante, um
estudioso inquieto e vocacionado para as atividades profissionais, às
quais se dedicou integralmente ao longo de sua vida, especialmente a
Ciência e Tecnologia e o ensino de Engenharia com ênfase para a área de
emprego militar.
Com prazer, vivenciei, como executor, algumas passagens
mencionadas nesta publicação; acompanhei outras com admiração
e respeito, não só por sua criatividade, mas sobretudo pela ousadia
com que o autor as implementou e divulgou em artigos e palestras.
Foi um período marcante em minha vida, pois muito me inspirou no
prosseguimento da carreira. Por isso, é com muita honra que expresso
breves palavras para abrir este documento. Nele estão registrados dados
e significativos fatos para a história e desenvolvimento da Engenharia
Militar Brasileira.
Na Introdução, general Amarante observa que a obra é uma
consolidação de artigos em sua maioria elaborados por ele próprio e
com diversas parcerias. Deve o leitor ter o cuidado de se colocar no
momento histórico em que os textos foram escritos. Assim, entenderá
melhor o assunto, bem como verificará a inovação e ineditismo que por
ventura possam ter ocorrido.
x Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
Introdução ............................................................................................ 1
E
ste livro reporta, em grande parte, a trajetória da escola de
Engenharia Militar Brasileira desde o Brasil Colônia até
o Brasil Futuro. Narra a epopeia das sequentes gerações de militares
engenheiros desde Portugal, que resultou em uma escola exemplar
estruturada por duas colunas basais: excelência e pioneirismo.
O livro é relacionado com o ensino e a pesquisa e situa o ponto focal
no IME do passado, do presente e do futuro, escola considerada uma das
melhores do Brasil. A nossa visão da escola de Engenharia pioneira e
referencial de qualidade no País é composta ao longo de 12 capítulos.
Destacamos na narrativa os períodos relacionados com a prestação
de nossos serviços ao Instituto Militar de Engenharia (IME): como
aluno, como professor de graduação, como professor de pós-graduação
e também como comandante e reitor. Acrescentamos nossa atividade de
coordenador das pesquisas do IME quando trabalhamos na Secretaria
de Ciência e Tecnologia do Exército.
Os assuntos que compõem o livro foram publicados como artigos
ao longo dos últimos 20 anos e espelham o nosso modo de pensar sobre
a ciência, a tecnologia e a inovação aplicadas ao ensino, à pesquisa, ao
desenvolvimento, à produção e à logística. São 12 textos autocontidos,
como se fossem integrantes de uma coletânea de 12 livretos.
O primeiro capítulo1 faz a descrição do nascimento formal da
Engenharia Militar no mundo, com base no confronto fortificação-
artilharia, e sua repercussão no Brasil Colônia. Esse capítulo salienta
o papel da educação no País, particularmente no Rio de Janeiro, e
enfatiza que “a educação técnica no Brasil deu os primeiros passos há
cerca de 300 anos”. Buscando as origens, encontraremos a primeira
intenção comprovada de se fazer uma escola de Engenharia, no intuito
2 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
meios cada vez mais sofisticados para exercer o poder, explorando a força
física, o capital e, atualmente, o conhecimento. O engenheiro é o fazedor de
ferramentas modernas. Nesse contexto, a universidade durante a idade
do conhecimento e, em particular, a escola de Engenharia desempenham
função estratégica na formação do profissional responsável direto pela
produção tecnológica. A universidade deve estar preparada para formar
profissionais adequados a trabalhar nesse novo ambiente e, também,
deve realizar a pesquisa multidisciplinar característica da modernidade.
São discutidas estratégias para adaptação de uma escola de Engenharia
militar para enfrentar os desafios do binômio conhecimento-defesa.
Capítulo 1
Histórico do IME:
suas raízes e sua estrutura1
José Carlos Albano do Amarante2
Luiz Castelliano de Lucena3
Origens da Engenharia
A
defesa, caracterizada pelo escudo, existiu a partir da criação
da primeira arma, o porrete; sua construção, de fácil cópia,
constituiu provavelmente a primeira tecnologia de ataque gerada de
maneira absolutamente intuitiva, empírica. Desde a Idade da Pedra, o
conhecimento e a defesa sempre evoluíram paralelamente.
O primeiro engenheiro de que se tem notícia foi o egípcio Imhotep,
construtor da famosa pirâmide em Saqqärah, próximo a Menfis, em
2550 a.C. Os sucessores de Imhotep – egípcios, persas, gregos e romanos
– levaram a engenharia a grandes realizações na base de métodos
empíricos, ajudados pela aritmética, geometria e conhecimentos
superficiais da ciência física. Por sua vez, a engenharia militar é a mais
velha das capacitações técnicas, e os engenheiros militares foram os
primeiros soldados “científicos”.
Primórdios
A história do Instituto Militar de Engenharia coincide, de certo
modo, com a história do ensino militar e a história do ensino da
engenharia no Brasil.
As primeiras notícias sobre ensino de engenharia militar
remontam ao holandês Miguel Timermans, “engenheiro do fogo”, que
teria estado no Brasil “encarregado de formar discípulos aptos para os
trabalhos de fortificações”. Na realidade, D. João IV (1640-56), inspirado
pelo sucesso das Aulas recém-criadas em Portugal, atribuiu a missão
a Miguel Timermans, que aqui permaneceu três anos (1648-50).12 Os
resultados de seu trabalho não são conhecidos, e é provável que tenha
ocorrido um insucesso nessa ambiciosa missão.
Foi necessário meio século para a ocorrência de nova tentativa
para o início do ensino de artilharia e de engenharia em solo brasileiro.
A educação técnica no Brasil deu os primeiros passos comprovados há
cerca de 300 anos. Buscando as mais antigas origens, encontraremos a
primeira intenção de se fazer uma escola de Engenharia no texto da Carta
Régia de 15 de janeiro de 1699, do rei de Portugal, na qual manifestava o
seu desejo de criar, no Brasil Colônia, um Curso de Formação de soldados
técnicos na arte de construção de fortificação.
O intuito era promover a defesa da Colônia dos ataques de outras
nações e prover recursos humanos para o desenvolvimento colonial.
Foi instituída, então, em 1699, a Aula de Fortificação, a cargo do capitão
engenheiro Gregório Gomes Henriques, enviado ao Brasil em janeiro de
1694 para dar aulas aos condestáveis (comandante de força ou chefe de
artilheiros) e aos artilheiros do Rio de Janeiro.
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 15
A Aula da Bahia
Por outro lado, na Bahia, sede do Governo Geral, o ensino de
Engenharia logo se firmou. Tudo começou em 1696, antes mesmo da
Carta Régia de 1699, quando o governador ordenou ao capitão José
Pais Estevens “... venha todos os dias ... a ensinar aos oficiais e soldados
e mais pessoas que quiserem aprender e dar lição de castrametação
e de fortificação...”!18 Os resultados desse esforço apareceram com a
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 17
As publicações e o ensino
No final do século XVII, a obra Método Lusitânico de Desenhar
Fortificações e as lições não editadas sobre ataque e defesa das
praças do engenheiro-mor e lente da Academia Militar da Corte, Luís
Serrão Pimentel, constituíam o essencial do programa de formação
do engenheiro. Para além das regras práticas sobre o desenho das
fortificações e dos seus diversos elementos, incluía noções de geometria,
aritmética decimal e trigonometria. A partir de 1713, os engenheiros
passaram a contar com a tradução portuguesa do livro de Pfeffinger
Fortificação Moderna, resumindo o que havia sido escrito nos países
europeus mais avançados no assunto.
Em 1728 e 1729, Manuel de Azevedo Fortes, também engenheiro-
mor e lente, publicou dois tomos do seu O Engenheiro Português,
passados em apostila na Academia Militar da Corte. O primeiro
compreendia a Geometria Prática sobre o papel e sobre o terreno, o uso
dos instrumentos necessários aos engenheiros, o modo de desenhar e
dar aguadas às plantas militares e à Trigonometria Retilínea. O segundo
tratava da Fortificação Regular e Irregular, do Ataque e Defesa das
Praças e do uso das armas de guerra, incluindo as noções essenciais da
Artilharia. Azevedo Fortes tinha já publicado, anteriormente, um livro
sobre elaboração de cartas geográficas.
O sargento-mor José Fernandes Pinto Alpoim produziu as
primeiras obras didáticas de ensino superior no Brasil. Como lente da
Aula Militar do Rio de Janeiro, publicou O Exame de Artilheiros (1744)
e O Exame de Bombeiros (1748), obras que incluíam os conhecimentos
matemáticos necessários à Artilharia.26
O ensino na Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho
evoluíra para o modelo moderno de um lente por matéria. Para um curso
acadêmico com duração de seis anos, ela contava com o comandante do
quartel do Regimento de Artilharia – que ao mesmo tempo era o lente
– para os cinco primeiros anos do curso e com outro para o último ano,
correspondente à engenharia civil. Além desses professores, a Real
Academia oferecia diversas cadeiras com lentes específicos para cada
uma.
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 21
Ramo militar
Por outro lado, a formação de engenheiros militares passou a ser
feita na Escola Militar da Praia Vermelha (1874 a 1904) e na Escola de
Artilharia e Engenharia do Realengo (1905 a 1912).
No período considerado de influência alemã e com a criação da
Arma de Engenharia, em 4 de janeiro de 1908, o Decreto 2.712, de
31 de dezembro de 1912, estabeleceu a concessão do certificado de
engenheiro militar aos alunos que concluíssem o curso da Escola de
Artilharia e Engenharia. Esse dispositivo permaneceu até 1918, quando
o novo regulamento da Escola Militar do Realengo deixou de prever tal
procedimento.
A Engenharia Militar
e o desenvolvimento nacional
José Carlos Albano do Amarante1
Luiz Castelliano de Lucena2
M
esclando atividades militares nos combates de defesa
do território com atividades técnicas relacionadas com
a infraestrutura militar, econômica e administrativa da Colônia, a
engenharia militar exerceu primordial função na construção do Brasil,
durante o período colonial. Para isso, participou da saga brasileira em
outras quatro vertentes: 1) atividades e obras de defesa do território
brasileiro; 2) A história do Instituto Militar de Engenharia coincide,
de certo modo, com a história do ensino militar e a história do ensino
da engenharia no Brasil, demarcação de fronteiras, levantamentos
geográficos e topográficos, mapeamento e levantamento de itinerários;
3) atividades administrativas e construção de obras públicas e civis
diversas (construções civis e religiosas, estradas; serviços públicos,
entre outras);3 e 4) atividades industriais e logísticas.4
da costa que vai do Rio de Janeiro até o Porto de São Vicente”; “Rio de
Janeiro”; “Das ilhas de Maricá ao Cabo de São Tomé” e “Demonstração da
Capitania do Espírito Santo até a Ponta da barra do Rio Doce”.
O desenvolvimento da colônia ocorreu mais intensamente na
região Sudeste. Esse fato, associado às disputas no sul com os espanhóis,
provocou a mudança da sede do governo da Bahia para o Rio de Janeiro
e motivou a criação do Vice-Reino em 1763. Quando se encerrou o
reinado de D. Maria I, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo eram
capitanias gerais, e o Espírito Santo, capitania subalterna.
Com relação à cartografia da região Sudeste do século XVIII e do
início do XIX, Isa Adonias assevera ter sido:
Considerações parciais
Durante o período de Brasil Colônia, as principais contribuições da
engenharia militar de Portugal consistiram em preciosos trabalhos de
topografia e cartografia e definiram as fronteiras e os detalhes geográficos
de nosso território, de construção de obras civis e prédios públicos e
de construção de fortes, não só para a defesa da costa marítima como
também para a estratégica definição dos limites territoriais interiores.
Nesse último mister, pode-se afirmar que os nossos colonizadores foram
brilhantes e competentes.
O Brasil é hoje imenso e não sofreu perda territorial significativa por
causa de duas características fundamentais dos portugueses. Primeiro,
a sua atitude integrativa no campo social gerou um povo pacífico e
ordeiro. Essa índole proporcionou às gerações atuais um território não
dividido por querelas internas. Segundo, sua larga visão estratégica,
implantando fortes nos limites territoriais pretendidos, facilitou
sobremaneira o trabalho da diplomacia acerca das lides fronteiriças. O
contorno externo do Brasil atual foi estabelecido magistralmente por
nossos colonizadores.
Nesse contexto, a engenharia militar escreveu sua história com
letras de ouro. Mesclando atividades militares nos combates de defesa
do território com atividades técnicas relacionadas com a infraestrutura
militar, econômica e administrativa da Colônia, a engenharia militar
participou profundamente da construção do Brasil.
Por sua alta competência, o engenheiro militar ocupou posições
estratégicas, chegando inclusive a governador de capitania, além de ser
o responsável pela construção da infraestrutura colonial brasileira.
O engenheiro militar, por sua vez, criou as condições para a
preservação e fabricação do armamento de defesa e manufaturou
os primeiros produtos industriais; foi, a um só tempo, o guerreiro, o
construtor, o demarcador, o cartógrafo, o administrador, o governador
e o homem público.
Ciência e tecnologia
As atividades científico-tecnológicas no Exército, relacionadas
com a indústria, podem ser identificadas desde o longínquo ano de
1762. A evolução do setor pode ser visualizada em três ciclos:
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 57
Em 1932:
– Fábrica do Andaraí, destinada à fabricação de granadas de
artilharia e de morteiros;
Em 1933:
– Fábrica de Curitiba, destinada à produção de viaturas coloniais
hipomóveis, cozinhas de campanha hipomóveis, equipamentos de
transposição de cursos de água e reboques para viaturas;
– Fábrica de Itajubá, como consequência da montagem do fuzil
mauser 1908 no AGR e destinada à produção de armamento leve;
– Fábrica de Juiz de Fora, destinada à fabricação de elementos para
as granadas de artilharia e de morteiro;
– Fábrica de Bonsucesso, destinada à fabricação de máscaras
contra gases, produtos químicos fumígenos e de gases de guerra;
Em 1939:
– Fábrica de Material de Comunicações, hoje Fábrica de Material
de Comunicações e Eletrônica (FMCE), destinada à produção de
telefones de campanha, centrais telefônicas, rádios de campanha e
cabos telefônicos.
62 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
– Fábrica da Estrela;
– Fábrica de Realengo;
– Fábrica de Piquete;
– Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro;
– Arsenal de Guerra de General Câmara, fruto da transferência do
Arsenal de Guerra de Porto Alegre para General Câmara no Rio Grande
do Sul, ocorrida na década de 1930.
– em 1984:
a) criação da Secretaria de Ciência e Tecnologia (SCT), com a
finalidade de gerenciar o empreendimento científico-tecnológico do
Exército;
b) criação do Centro de Avaliações do Exército (CAEx), com a
finalidade de avaliar operacionalmente os materiais.
2) Cidade de Petrópolis
O major engenheiro Júlio Frederico Koeler arrendou a fazenda do
Córrego Seco, do Imperador D. Pedro II, e ali estabeleceu uma colônia
de imigrantes alemães, que foi o núcleo inicial da cidade de Petrópolis,
fundada em 1845. Além do plano urbanístico, o major Koeler também
projetou e construiu o Palácio Imperial, atual Museu.
6) Biblioteca Nacional
É imponente construção na avenida Rio Branco. A direção da obra
de ereção foi do general engenheiro Francisco Marcellino de Souza
Aguiar. O prédio começou a ser construído em agosto de 1905 e foi
inaugurado em outubro de 1910.
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 69
7) Palácio Monroe
Esse prédio, sede do Senado Federal até a sua mudança para
Brasília, foi construído primitivamente em Saint Louis (Estados Unidos),
para servir como o pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de
1904 naquela cidade americana. Seu projeto, de autoria do general
engenheiro Francisco Marcellino de Souza Aguiar, mereceu elogios da
imprensa americana e o grande prêmio do júri da Exposição. O detalhe
interessante é que a estrutura era desmontável para possibilitar a
sua reconstrução no final da avenida Rio Branco, onde ficou até ser
inutilmente demolido na ocasião da construção do metrô do Rio de
Janeiro.
Cartografia
No Império, as iniciativas mais importantes de levantamento da
carta do Brasil foram a Comissão da Carta Geral do Império, a da Carta
Itinerária e a Comissão Astronômica.
A Comissão Geral da Carta do Império, embora bem planejada
pelo marechal Henrique Beaurepaire Rohan, não logrou realizar seu
objetivo, pela complexidade da tarefa e falta de recursos técnicos. Dela
resultou, apenas, a Carta Geográfica do Brasil, apresentada na Exposição
Internacional de Filadélfia (EUA, em 1877). Essa carta, porém, não
passou de uma compilação das anteriores que vinham do Brasil Colonial,
retificadas em uma ou noutra parte.
Nos primeiros anos da República, por iniciativa do Estado-Maior
do Exército, foi elaborado pelo tenente-coronel Feliciano Mendes de
Morais um novo plano de levantamento da Carta Geral do Brasil (1901).
Surgiu, daí, a Comissão da Carta Geral da República (1903). Participaram
da Comissão alguns dos mais ilustres engenheiros militares do Brasil,
entre os quais os generais Augusto Tasso Fragoso, (Francisco Marcellino
de ?) Souza Aguiar, Feliciano Mendes de Morais, Alípio di Primio, Alfredo
Malan, José Antonio Coelho Neto, coronel Armando Assis e muitos outros.
Os engenheiros geógrafos militares integrantes da Comissão da Carta
Geral foram diplomados pela Academia Real Militar, Escola Superior de
Guerra, Escola Militar do Brasil e Escola de Estado-Maior.
Astronomia
Em 1845, o ministro da Guerra, Jerônymo Francisco Coelho,
mandou instalar o observatório astronômico na Escola Militar e
designou o professor Eugênio Fernandes Soulier de Sauve para cuidar
de sua organização e instalação no Morro do Castelo. O decreto de julho
de 1846 dava o nome de Imperial Observatório do Rio de Janeiro e o
destinava a formar e adestrar os alunos da Escola Militar e da Academia
Naval. Ele é o precursor do atual Museu de Astronomia e Ciências Afins,
localizado no bairro de São Cristóvão.
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 71
Telégrafo
Em 1851, o coronel engenheiro Polydoro Quintanilha Jordão e o
professor Guilherme Schuch de Capanema realizaram, entre duas salas
afastadas da Escola Militar, a primeira transmissão telegráfica no País.
No dia 11 de maio de 1852, foi inaugurada a primeira linha telegráfica
brasileira, que era subterrânea e tinha 4.300m de extensão, entre o
Palácio da Quinta da Boa Vista e o Quartel-General do Exército, no
Campo de Santana.
Iluminação elétrica
Em 1857, aconteceu no Brasil a primeira experiência pública de
iluminação elétrica, no prédio da Escola Central, por ocasião do baile
dado a 7 de setembro, em homenagem aos imperadores.
Somente em 1883, Campos, na Província do Rio de Janeiro, passou
a ser a primeira cidade da América do Sul a ter um sistema permanente
de iluminação pública à eletricidade.
Engenharia aeronáutica
Em 1936, foram construídos nas oficinas do Parque Central
de Aviação, no Campo dos Afonsos (Rio de Janeiro), naquela época
pertencente ao Exército, os primeiros aviões M-7. O Parque dos Afonsos
era do Exército, pois ainda não existia a Aeronáutica. O avião M-7 foi o
primeiro projetado e construído no Brasil e chegou a ser produzido em
série. Ele era um biplano, com estrutura de madeira e tela, muito estável
e fácil de pilotar. O seu projetista e construtor foi o engenheiro militar e
futuro brigadeiro Antônio Guedes Muniz.
Outras contribuições
Algumas outras contribuições passam a ser enumeradas:
(como a nova família de blindados para 2010, cujo primeiro modelo foi
denominado Guarani e entrou em linha de produção em 2013).
O IME simultaneamente necessita capacitar-se a formar o
engenheiro militar moderno, adequado aos desafios atuais. Para tanto,
está implementando um programa de modernização do ensino de
engenharia e visa ao seguinte perfil profissiográfico:
Conclusão
Do exposto, pode-se citar como principais conclusões:
O ensino da Engenharia
Militar no Brasil1
José Carlos Albano do Amarante2
Abertura
A
Associação Brasileira de Engenharia Militar(ABEM), por
ocasião da reunião de gala, anual, do Conselho da Medalha,
vem tradicionalmente prestando homenagem a personalidades de
nossa história, passada e recente, que se destacaram por meio de atos,
ações e participações que vieram a contribuir para o desenvolvimento
das Forças Armadas brasileiras, por meio das atividades relacionadas à
Engenharia Militar.
No início dos tempos da Engenharia Militar no Brasil, entretanto,
para que tais atos, ações e participações pudessem ter a necessária
relevância e, sobretudo, serem conduzidos a bom termo e com resultados
de sucesso, tornava-se de vital importância a existência de pessoal
capacitado e treinado na então arte de construir e fazer engenharia.
Logo foi percebido que essa capacitação deveria, obrigatoriamente,
por questões de independência, ser gerada e multiplicada em território
nacional.
Muito foi feito até os dias de hoje, em nosso país, para o
desenvolvimento da arte de fazer engenharia, mas podemos ter o
orgulho de afirmar que a origem foi a Engenharia Militar e seus centros
de formação, cujas atividades remontam a cerca de 300 anos.
No ano de 1999, o Conselho da Medalha prestará honras e
homenagens às instituições de grande significado para as Forças
Armadas e que formam seus engenheiros militares.
78 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
Primórdios
Como foi visto no capítulo 1, o primeiro esforço português,
consequente no sentido de graduar engenheiros militares no Brasil
Colônia, remonta à Carta Régia, de 15 de janeiro de 1699, do rei D. Pedro
II. Com essa providência, o rei tinha como objetivo capacitar os nativos a
realizar a defesa contra ataques de outras nações à Colônia e contribuir
para o desenvolvimento colonial.
O modelo educacional adotado privilegiava o emprego de aulas
distribuídas pelas cidades mais importantes da Colônia. O objetivo foi
atingido no campo do ensino.
Cumpre ressaltar que, a partir da segunda metade do século
XVIII, foi identificada uma enorme afinidade entre a arte de fortificar e
a arte de artilhar. A consequência é que as Aulas evoluíram para Aulas
de Fortificação e Artilharia, formando engenheiros com conhecimentos
nos dois campos.
Real Academia
Chega-se ao final do século XVIII, encerrado com a pródiga década
de 1790, já que, a partir dela, o ensino evoluiu, aperfeiçoando-se os
alicerces da estrutura que chegou à Independência.
80 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
Evolução na Marinha
Em 1831, pouco antes da reforma da Academia Imperial Militar
para a Academia Militar da Corte, foi proposta a criação de um curso de
“Engenheiros Construtores Navais”. Esse curso seria ministrado em três
anos, depois da conclusão dos dois anos de curso básico da Academia,
então denominado de “curso matemático”. Teria sido o primeiro curso de
engenharia especializada do Brasil, mas nunca chegou a ser implantado.
Em razão da inexistência de cursos de engenharia naval, os
profissionais que dirigiam a construção naval no Arsenal de Marinha
– impropriamente chamados de construtores – eram simplesmente
antigos operários que passavam a mestres e depois a construtores. O
único aprendizado profissional dessas pessoas era o feito nas aulas de
geometria e desenho do próprio Arsenal, pelo estudo como autodidatas
e, especialmente, pela experiência. A necessidade de melhor formação
para esses profissionais já era sentida e, mais de uma vez, foi reclamada.
O relatório anual do ministro da Marinha, de 1834, dizia
taxativamente que:
Conclusão
A síntese do pensamento moderno indica que as instituições que
não se preocuparem com o domínio da tecnologia e da comunicação
social estarão condenadas ao fracasso no século XXI. Nesse sentido, os
Órgãos de Formação de Engenheiros Militares têm buscado capacitar
recursos humanos para atender às crescentes demandas nacionais no
campo da ciência e tecnologia, visando romper o hiato tecnológico que
separa o Brasil das grandes potências.
As atuais gerações de engenheiros militares buscam inspiração
nos seus antecessores para dar continuidade ao passado de realizações
e manter a admirável posição de importante polo produtor e irradiador
de cultura técnica, em parceria com as comunidades acadêmicas de
cunho nacional e internacional.
Pode ser notado que as origens do Ensino da Engenharia Militar
em cada uma das Forças são distintas e que ocorreram em épocas
também distintas. As soluções adotadas por cada Força diferem entre
si, com semelhanças no Exército e na Aeronáutica, os quais possuem
instituições próprias de altíssimo nível técnico e de reconhecida
qualidade na formação de jovens civis e militares – o IME e o ITA.
De modo distinto, a Marinha optou por um convênio com a Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, de onde se deu partida a
elevado grau de desenvolvimento técnico para as duas instituições nas
áreas de Hidrodinâmica, Teoria do Navio, Arquitetura Naval e Sistemas
Integrados de Propulsão.
Apesar das diferentes soluções, idades e características próprias, o
ensino da Engenharia Militar Brasileira teve em comum a sensibilidade,
a determinação e a vontade de vencer de seus pioneiros, bem como a
convicção e o apoio dos seus chefes militares.
De tudo apresentado, pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas,
que a Casa do Trem foi o berço da Engenharia Militar e da Engenharia
Brasileira, que o Estado do Rio de Janeiro se constituiu no palco principal
da evolução da educação de Engenharia do Brasil e que o pioneirismo
se mantém até os dias de hoje, no âmago das Forças Armadas, com
a preocupação em formar o engenheiro característico da Idade do
Conhecimento.
Para encerrar, deixaremos nossos agradecimentos aos Órgãos de
Formação do Engenheiro Militar e aos que construíram o passado em
O ensino da Engenharia Militar no Brasil 93
Bibliografia
PIRASSUNUNGA, O Ensino Militar no Brasil Colônia
D. PEDRO II, Carta Régia, de 15 de janeiro de 1699.
Capítulo 4
C
aminhavam5 em direção à Praça Quinze, que iriam rever
depois de reinaugurada pela Prefeitura, em 1997. A
restauração havia sido primorosa. Gostaram muito. Aproveitaram para
visitar o Museu Histórico Nacional. Lembraram os fatos que o velho
prédio testemunhara. Bem à entrada, uma placa no chão assinalava o
exato local em que tombara, mortalmente ferido, o marechal Bittencourt,
patrono do Serviço de Intendência. Velhos amigos, José Cesar e Paulo
Carlos retornaram à Praça Quinze.
Sentaram-se e pediram bebidas e tira-gostos. O bar permitia-
lhes ver o velho Paço, à rua Primeiro de Março e, ao longe, os muros do
Museu Histórico. Bem ao centro da praça, a estátua do marechal Osorio.
Sem entenderem bem como, repentinamente se sentem retroceder no
tempo...
À sua frente, salta de um tílburi sisudo senhor, enfatiotado,
bengala à mão. Aproxima-se célere e entrega-lhes um documento,
letras artisticamente desenhadas à pena, tinta nanquim, por esmerado
calígrafo. A tinta ainda fresca, o papel apergaminhado e o anúncio do
barbudo portador emprestavam especial valor ao texto: “Saibam todos,
Sua Majestade dignou-se criar novo liceu!”
De fato, era importante. Um decreto!
96 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
Evolução global
O
período histórico contemporâneo experimenta uma mudança
de ritmo denunciadora do início de nova era. A humanidade
ensaia os primeiros passos na Idade Tecnológica, caracterizada pelos
sintomas iniciais de um crescimento exponencial da capacidade de
realização técnica do homem.
Nesse cenário, a ciência e tecnologia passa a constituir-se na 5ª
Expansão do Poder Nacional. Ela permeia a outros quatro campos do
Poder – o Político, o Econômico, o Psicossocial e o Militar, de tal modo
que será difícil para um país que sonha com o primeiro mundo descartá-
la de suas prioridades, sob pena de ficar eternamente dependente e ser
um mero consumidor de produtos sofisticados, fabricados no exterior e
disponibilizáveis no próximo século.
Em uma avaliação histórica, passando por toda a evolução do
homem, desde o momento em que ele deixou o seu caráter nômade
e começou a ser sedentário, fixando-se à terra em razão da revolução
agrícola, observa-se que o ciclo evolutivo foi marcado por revoluções:3
– revolução agrícola;
– revolução urbana, a fase de aparecimento das primeiras
civilizações;
– revolução filosófica, que marcou o nascimento do pensamento
filosófico;
– contrarrevolução religiosa, no obscurantismo, quando o
conhecimento erudito ficou hibernando nos monastérios;
102 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
O ambiente atual
A Revolução Tecnológica
O ambiente atual é de um mundo “entrópico, competitivo e
assimétrico na distribuição do poder, da riqueza e das benesses do
progresso”. A Revolução Tecnológica proporcionou um cenário indutivo
de crescimento da ciência e da tecnologia, onde ora a ciência é o
agente promotor do desenvolvimento da tecnologia, ora a tecnologia
proporciona meios para o crescimento científico. É um processo até
dialético.
O papel da educação
Sabe-se que tanto a ciência quanto a tecnologia resultam de
processos cumulativos do conhecimento, em que cada geração herda
um estoque de conhecimento e de técnicas, o qual pode ser acumulado
se a geração assim o desejar, e se o condicionamento social permitir.
A educação é o principal veículo de transmissão e de fixação do
conhecimento; o homem, o ser responsável pela expansão das fronteiras
do saber.
Dado que a geração do conhecimento é função direta do número
de pesquisadores, o processo de desenvolvimento do binômio ciência-
tecnologia é exponencial. Essa característica é tão significativa que estão
vivos 90% de todos os cientistas produzidos no planeta Terra. Então, não
é nada assustador o progresso científico-tecnológico experimentado pela
humanidade. Ele é perfeitamente justificável, perceptível e explicável e
continuará nessa taxa por algum tempo, até o surgimento de algum fator
restritivo desse processo.
Na perspectiva da evolução, pode-se observar que as dificuldades
morais, políticas e ambientais antepostas à C&T não são totalmente
novas. Nos tempos atuais, o relacionamento estreito da ciência
com a indústria, a defesa, a política e o próprio meio ambiente está
tornando obsoleta a ciência particularizada pela visão reducionista
e cartesiana. Agora, a ciência deve compreender o mundo natural
104 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
Aspectos psicossociais
No campo social, algumas características são fundamentalmente
impactantes. A mulher começa a demonstrar o seu valor e passa a
ocupar importante lugar na sociedade.4 Por quê?
A atividade econômica era, inicialmente, baseada no poder do
músculo. Hoje dá lugar a outra que se radica no poder da mente, e
isso elimina desvantagens fundamentais no caso das mulheres. Além
disso, é agora possível às mulheres exercerem maior controle sobre os
nascimentos – a oportunidade e o número de gestações – do que em
qualquer outro momento da história.
Em consequência, a mulher passa a assumir uma função igualitária
ao homem, pelo menos em oportunidades de trabalho. Abrindo um
parêntese, o IME está de mãos dadas com a evolução histórica e já conta
em seus bancos escolares com a inteligência, a determinação e a argúcia
da mulher brasileira.
Por outro lado, essa maior abertura ao mercado de trabalho
provocou algumas repercussões. A individualidade passa a ter
importante atribuição na estrutura social. Começa a haver o conflito na
base da família tradicional, o que promove a cisão na família celular – a
família do pai, da mãe e dos filhos.
Aspectos econômicos
A atualidade nos apresenta outras características. A economia,
que até pouco tempo era apoiada fundamentalmente na produção,
começa a ter primordial caráter na exploração dos produtos. Os serviços
começam a ter significativo papel na economia.
A fabricação, que na Idade Industrial era massificada, torna-
se flexível, especializada e voltada para o cliente. O automóvel,
antes produzido em grandes quantidades, mas em poucos tipos,
agora é oferecido com múltiplas características. Inicia-se a prática
da diferenciação. É o efeito da individualidade na economia. Até no
consumo, o homem moderno quer preservar a individualidade.
Aspectos políticos5
Hoje o conhecimento transformou-se em poderoso instrumento do
poder. Sabemos que o poder é um dos principais instrumentos políticos
postos à disposição do homem. Na primeira instância de sua evolução,
106 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
Aspectos militares
Nessa conjuntura, o Exército recebe influências diretas da ciência
e tecnologia e indiretas pelos processos acima descritos. Assim, cabe o
questionamento de como a C&T impactará o desempenho operacional
do Exército no futuro.
Se tomarmos a Guerra do Golfo6 como marco inicial dos conflitos
militares na Idade Tecnológica, podemos visualizar os “maravilhosos”
sistemas de armas que desfilaram na vitrine tecnológica do Golfo, como
produtos de primeira geração da nova era. Daqui a algumas décadas,
eles serão vistos como relíquias ultrapassadas, da mesma maneira como
os carros primitivos são hoje vistos.
Por essa razão, as características operacionais e tecnológicas de
guerras dessa nova era ainda não estão bem analisadas e definidas.
Mesmo assim, pode-se constatar:
A globalização7
Na década de 1990, finalmente as inovações tecnológicas
associadas com a automação de fábricas e escritórios, a telemática, a
engenharia genética, a biotecnologia, o laser e as fibras ópticas estão
confirmando novo ciclo econômico mundial. Este é tão forte que está
promovendo profundas modificações políticas, psicossociais e militares
nas sociedades terrestres do final do século XX. O novo ciclo de inovações
é a base tecnológica da tão falada globalização.
Empurrada inicialmente por razões econômicas e com base na
altíssima velocidade com que flui a informação, a globalização instalou-
se de forma quase definitiva no planeta.
Além disso, gostaria de explorar um pouco a faceta cultural do
fenômeno de globalização. “Assim procedo porque ele atua decisivamente
nas consciências, nas posturas mentais, nas expectativas das pessoas e
nas pautas comportamentais. Para quem cogita de capacitar recursos
humanos, é imperioso diagnosticar a “cabeça” da geração que vive a
efervescência globalizante, sobretudo no plano cultural”. A atual geração
é mais interativa, mais aberta à inovação, exigente em suas expectativas
e ávida de conhecimento, e assim deve ser considerada no modelo
pedagógico de sua educação.
Pós-graduação em química
Total de cinco os alunos inscritos, relacionados no item Pós-
graduação stricto sensu, que deram início ao curso.
A modernização do ensino no IME 111
da reserva, seja homem seja mulher. Cabe ressaltar que isso tudo é
realizado no mesmo prazo em que as universidades civis graduam seus
engenheiros.
Essa é uma situação adversa. E nas situações adversas, devemos
procurar extrair meios para obter vantagens alternativas. O IME
encontrou a chave do sucesso. Ele ministra, no País, o único curso de
engenharia para formação de líderes da área de ciência e tecnologia, em
condições de atuar no meio militar ou no âmbito da sociedade civil.
Nesse período de arrancada para apresentar bom desempenho,
o IME ostentou um corpo docente de peso. Para caracterizar os
professores diferenciados, selecionou professores que faziam a diferença
e mereciam ser tomados como exemplo, além de serem reconhecidos
como “professores eméritos” do Instituto:
SE/2 – Seção de Ensino 2: Professor Emérito Doutor Eduardo C. S.
Thomaz.
SE/3 – Seção de Ensino 3: Professor Emérito Cel R/1 Ney Bruno.
SE/4 – Seção de Ensino 4: Professor Emérito Doutor Ronaldo
Sérgio de Biasi.
SE/7 – Seção de Ensino 7: Professor Emérito Doutor Rex Nazaré
Alves.
A construção do presente
O ser humano é quem faz as realizações acontecerem. Uma
combinação de seleção, que resulta no vestibular mais exigente do País,
e uma política de valorização profissional do corpo docente asseguram
uma escola que funciona com qualidade. Evidentemente, os egressos do
Instituto constituem um grupo de ex-alunos de valor.
Na participação em grandes projetos nacionais existiram os
engenheiros formados no IME, que se tornaram responsáveis pelo
sucesso dos empreendimentos. O presente e a notoriedade do IME
foram construídos por dois importantes grupos de ex-alunos:
Conclusão
Vivemos a chamada Revolução Tecnológica que alimenta os
fenômenos globalizantes e atua em um mundo incerto e ambíguo,
120 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
Introdução
A
revolução do conhecimento já se instalou na grande maioria
dos países, mesmo naqueles ditos subdesenvolvidos.
As classes dominantes cada vez mais contam com a nova moeda:
a informação pronta em mínimo espaço de tempo. A humanidade
ensaia os primeiros passos na Idade Tecnológica,3 convivendo com
crescimento exponencial das inovações e utilidades. O trabalho braçal
vem sendo substituído por máquinas, o que resulta em redução dos
efetivos de operários nas fábricas. É o setor terciário ou de serviços
que tem mais empregos, e isso está exigindo requalificação do pessoal
dispensado das indústrias. Apenas o trabalho criativo e empreendedor
terá vez, realizado em pequenas empresas ou mesmo nas residências.
Na indústria e na agroindústria permanecerão técnicos cuja formação
não será a que a maioria das escolas de hoje está prestando.
Os formandos do amanhã, nas diversas engenharias, deverão
estar preparados para a rápida adaptação às inovações tecnológicas
e científicas, ocorrentes em célere ritmo. Desse modo, estarão aptos a
atingir, com a máxima eficiência, os resultados esperados na solução de
problemas. Precisarão de uma visão integrativa associada aos produtos
que idealizarem e, sobretudo, estarem preocupados com os efeitos que
suas obras possam causar ao derredor. Deverão aprender a trabalhar
em equipes multidisciplinares, com toda certeza.
122 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
– Leitura Selecionada;
– Inglês;
– Presença em cursos na UFRJ e na Unirio;
– Liderança;
– Ciclo de Palestras;
– Atividades musicais e sociais.
(a)
(b) (c)
Conclusão
É inevitável que encontremos o aluno do IME, uma escola de
engenharia com pensamento voltado para os fenômenos globalizantes,
em um mundo incerto e ambíguo, dominado por sociedades que
privilegiam o conhecimento. Diante de uma evolução tecnológica sem
precedentes, é viável trazê-lo, não só ele como outros engenheirandos,
para o confronto com outras áreas, pela oportunidade de uma Visão
Humanística. Afinal, é importante saber fixar em si mesmo e nos seus
Um projeto de visão humanística em escola de engenharia 129
Agradecimentos
Agradecemos ao professor Rodrigo Balloussier Ratton, chefe
da subdivisão de ensino de graduação, pela prestação de informações
relativas ao controle acadêmico e aos diversos subprojetos, que estão
sob sua coordenação. Registramos, também, a participação do professor
Rubenildo Pithon de Barros, experiente em assuntos ligados ao ensino
de engenharia, na revisão deste trabalho.
Capítulo 7
S
ob a proteção de Deus e o sentimento de júbilo da plateia
aqui presente, o Instituto Militar de Engenharia, nesta manhã
gloriosa de 18 de fevereiro, formaliza o início do ano letivo do ano 2000.
No cumprimento do honroso ofício de apresentar-lhes a Aula Inaugural,
o comandante ocupa a tribuna para mostrar-lhes os rumos a seguir
durante a evolução do Calendário Escolar.
Nesse ponto, queremos destacar a presença do excelentíssimo
senhor general de exército Horácio Raposo Borges Neto, secretário de
Ciência e Tecnologia. Assinalamos as presenças dos excelentíssimos
senhores.
Agradecemos as presenças dos senhores pais, com os quais
compartilhamos o orgulho dos seus filhos na conquista do difícil
ingresso no IME e asseguramo-lhes que, nesta escola, uma das portas de
entrada do Exército Brasileiro, todos os esforços serão colimados para
transmitir-lhes o saber que esta casa concentra.
Aos alunos, queremos afirmar a satisfação que experimentamos
neste encontro e que vocês são a motivação principal e a razão de ser
dos nossos trabalhos.
Aos professores, reitero a confiança depositada e a certeza de que
saberão conduzir, com equilíbrio, retidão nos julgamentos, disciplina e
entusiasmo, as aulas sob suas responsabilidades.
Na aula inaugural de 1999, apresentamos o tema A Modernização
do Ensino no IME. Hoje, com tal projeto já iniciado, enfatizaremos as
Metas de Trabalho para o Ano 2000.
132 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
Fundamentação
As mais significativas mudanças, nos tempos atuais, não se dão
na estrutura do corpo humano, mas sim na estrutura das ideias e do
conhecimento e propicia os mais variados desdobramentos: sociais,
econômicos, políticos e, de modo acentuado, científico-tecnológicos.
A ciência e a tecnologia passaram a ser tratadas como uma única
área, em virtude da forte interdependência entre elas, da crescente
utilização de conhecimentos científicos para a geração de tecnologias
e da necessidade de avanço tecnológico para a produção de novos
instrumentos para o trabalho de cientistas.
O Poder, só para recordarmos, é estudado em seus cinco campos: o
psicossocial, o militar, o econômico, o político e o científico-tecnológico;
esse último, o irmão mais novo da família, segundo a Doutrina da Escola
Superior de Guerra.
A segunda metade do século XX, logo depois da Segunda Guerra
Mundial, caracterizou-se pela forte interferência dos governos na
área científico-tecnológica e, consequentemente, na educacional. As
nações beligerantes, empenhadas nesse conflito, desencadearam uma
mobilização da comunidade científica e tecnológica jamais pensada.
Essa comunidade foi direcionada para a busca de soluções de conflitos
táticos e estratégicos, dependentes de novos conhecimentos, que
pudessem conduzir a novos produtos e métodos de gerência, ligados à
logística, aos simuladores, à tecnologia da informação, ao processo de
tomada da decisão e a outras áreas bélicas.
Todo o esforço empenhado, a partir de então, foi intensificado
durante o período da Guerra Fria, e os avanços científicos de portes
extraordinários motivaram inovadoras e importantes aplicações
civis. Tornou-se mais que evidente a constatação de que a capacidade
tecnológica de um país é a principal força motriz para o desenvolvimento
político, econômico e social.
Uma característica peculiar do conhecimento científico-
tecnológico é a velocidade com que suas fronteiras se deslocam. O
contínuo monitoramento de tal evolução requer, antes de mais nada,
uma ininterrupta e redobrada atenção no ensino e na pesquisa.
Tal motivação constitui-se em um dos pilares do projeto de
“Modernização do Ensino no IME”, cujo texto básico encontra-se à
Metas do plano de modernização do IME para o ano letivo de 2000 133
Projeto Pedagógico
É o pilar central do edifício da Modernização. Envolve um
conjunto de atividades que conformarão o Projeto Pedagógico e visa à
revisão curricular, à modernização dos métodos de ensino, do sistema
de avaliação, da atualização dos professores com novas práticas
pedagógicas e das normas gerais relativas à condução do ensino.
O Projeto Pedagógico será elaborado por integrantes do corpo
docente que, espontaneamente, desejarem participar desse trabalho,
apoiados por profissionais da pedagogia a serem contratados pelo IME.
Reestruturação organizacional
A partir do Projeto Pedagógico e da Modernização das Instalações,
o IME necessitará de um suporte administrativo mais eficiente,
moderno, dinâmico e ágil. Para isso, deverá adequar o seu organograma
aos requisitos de eficiência e modernidade.
Recursos humanos
Os recursos humanos de uma instituição é o seu bem mais
precioso. É o homem que faz as coisas acontecerem e implementa ações
para melhoria das atividades fim e meio. A ênfase de nosso esforço será:
– Controle Acadêmico;
– Fluxo Eletrônico de Documentos.
– interligação com a Internet II (Rede Rio II) (de 2 para 155 Mbps);
– projeto e instalação de nova rede interna de maior velocidade
(de 10 para 100 Mbps);
– montagem do Laboratório de Computação Científica.
Conclusão
No quadro de mudanças e de novos desafios presentes na vida
do estudante moderno, em um ambiente no qual o conhecimento é
adquirido, além dos bancos escolares, em uma miríade de fontes de
informações disponibilizadas pelos meios de comunicação, em tempo
real, e pela Internet em áreas que evoluem a cada instante, há que se
dedicar breve momento à reflexão.
Guardem em suas mentes que o homem, a grande fonte de poder
pela sua natureza gregária, detém a capacidade de discernir os valores
eternos dos mutáveis. Mudam os métodos e os processos, mudam as
estratégias para se alcançar os objetivos, mudam as estruturas, os modelos
e as tecnologias para o estudo de um sistema, mas permanentes são os
princípios morais e a excelência do caráter. Imutáveis são a disciplina,
a obediência, a ordem, a hierarquia e a ética. Sejam, a todo o momento,
exemplos de conduta irrepreensível, de competência profissional, de
desambição, de modéstia, de simplicidade e de probidade.
Cultivem com reverência as tradições desta casa e sejam gratos ao
nosso País pela oportunidade dos conhecimentos que aqui receberão.
Sejam reconhecidos ao Exército Brasileiro, instituição que hoje
lhes acolhe e certamente lhes propiciará esmerada formação moral e
primorosa preparação intelectual.
Muito obrigado.
Introdução
O
Instituto Militar de Engenharia, nesta manhã de 2 de março,
honrosamente os recebe e lança o marco inicial do ano letivo
do ano 2001, sob a proteção de Deus e a distinção da plateia aqui presente.
No cumprimento do honroso ofício de apresentar a Aula Inaugural,
o comandante ocupa esta tribuna para apontar, aos corpos docente e
discente, o rumo a seguir durante a evolução do Calendário Escolar.
Agradeço a presença dos senhores pais, com os quais compartilho
o orgulho de seus filhos na conquista do difícil ingresso no IME e
asseguro-lhes que, nesta escola, uma das portas de entrada do Exército
Brasileiro, todos os esforços são colimados para transmitir aos nossos
alunos o saber que esta casa concentra, as tradições de liderança e
pioneirismo e, sobretudo, a visão humanística que deve inspirar toda a
obra de engenharia.
Aos alunos, razão de ser e centro de gravidade desta casa, quero
dizer da imensa satisfação que experimento, neste encontro solene, para
o início de mais um ano letivo.
Aos professores, uma vez mais, reafirmo a confiança depositada
e a certeza de que conduzirão as atividades acadêmicas com equilíbrio,
retidão no julgamento, disciplina e, além do mais, com muito entusiasmo.
Na Aula Inaugural do ano passado, falei sobre as “Metas de Trabalho
para o Ano 2000”. Hoje, abordarei o tema “O IME no alvorecer do século XXI”.
O cenário inicial
A Teoria Restrita da Relatividade, como ficou conhecido o trabalho
“Sobre a eletrodinâmica dos corpos em movimento“, publicado por Albert
142 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
O conhecimento científico-tecnológico
O homem procurou adaptar-se ao habitat muito antes de possuir
um pensamento erudito. Por exemplo, para proteger-se das intempéries,
ele percebeu que, se friccionasse pedaços de madeira seca, ia gerar o
fogo. Isso já era tecnologia. Ele não tinha o conhecimento do que era
madeira e fogo.
A história da tecnologia, antes mesmo do que a da ciência,
está imbricada com a história do homem. Não se pode ignorar uma
característica fundamental do homem, sintetizada de maneira genial
por Benjamin Franklin: “O homem é um animal fazedor de ferramentas.”
Entretanto, com mais ênfase, nós diríamos que o homem é o animal
fazedor de ferramentas. Assim, a tecnologia nasceu com o homem,
enquanto a ciência deu seus primeiros passos durante o período de
fulgor da civilização grega.
Tanto a ciência quanto a tecnologia resultam de processos
cumulativos do conhecimento, no qual cada geração herda um estoque
de conhecimento e de técnicas, que pode ser acumulado, se a geração
assim o desejar e se o condicionamento social permitir. A educação é
o principal veículo de transmissão do conhecimento, e o homem o ser
responsável pela expansão das fronteiras do saber.
A ciência e a tecnologia evoluíram paralelamente. A primeira,
originada na Grécia, possuía características dogmáticas; já a tecnologia
se desenvolveu em bases empíricas.
No século XVII, entretanto, ocorreu radical mudança no enfoque
do conhecimento da natureza – o que envolveu objetos, métodos e
O IME no alvorecer do século XXI 147
Mensagem do comandante
Hoje iniciamos o novo ano letivo de 2001. Aos novos alunos,
rapazes, moças e oficiais oriundos da AMAN, que aqui adentraram
depois de difícil e disputado exame vestibular, dou-lhes as boas-vindas
e lhes desejo sucesso.
O IME no alvorecer do século XXI 155
N
este capítulo é apresentado o processo de criação e de
desenvolvimento do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Defesa (PGED) do Instituto Militar de Engenharia. As bases
conceituais do mais novo programa de pós-graduação do IME também
são discutidas. O principal objetivo do PGED é formar recursos humanos
por meio de pesquisas de alto nível em ciências e em engenharia com
caráter multi e interdisciplinar e o foco em questões de defesa.
Essa realização tornou-se o primeiro passo na direção da
modernização do ensino e pesquisa no IME. Do processo de criação e por
estarem concordando com o passo no futuro, os seguintes professores
contribuíram com o apoio irrestrito rumo à modernidade. Eis a lista
dos professores que trabalharam no processo de criação da PG em
Engenharia de Defesa, pela ordem de aparecimento no capítulo:
Introdução
O mais novo programa de pós-graduação do Instituto Militar de
Engenharia, nos níveis de doutorado e mestrado, foi aprovado pelo
Conselho Técnico-Científico da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes), em dezembro de 2008. A história do
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Defesa (PGED) começou
formalmente em 2005 – com a determinação do Departamento de
Ciência e Tecnologia (DCT) do Exército (Brasil, 2005a),1 órgão de direção
setorial ao qual o IME está subordinado – para o Instituto realizar
um estudo com a finalidade de reorientar o foco das suas pesquisas e
fortalecer a pós-graduação.
A ideia de um programa de pós-graduação em ciências e
engenharia, que aglutina professores de distintos programas e voltado
para assuntos de defesa, já circulava no IME havia algum tempo, depois
de ter sido lançada pelo professor Fernando Peixoto, então na Seção de
Engenharia Química. A proposta do programa de Engenharia de Defesa
estava ganhando corpo. O IME mais uma vez tomava a iniciativa e se
preparava para dar mais um passo na longa estrada do pioneirismo.
Algumas discussões internas genéricas em torno dessas ideias
avançaram no Instituto, fomentadas especialmente pela então chefe
Engenharia de Defesa: o mais novo programa de pós-graduação do Instituto... 159
As características do PGED
Nas últimas décadas, o mundo presenciou uma série de conflitos,
nos quais ficou demonstrado o crescente aumento do nível de
complexidade dos aparatos tecnológicos utilizados. O desenvolvimento
desses equipamentos envolve a integração de conhecimentos científicos
e tecnológicos de várias áreas das engenharias e ciências, aparentemente
bastante afastadas. Além disso, as fronteiras disciplinares limitam o
entendimento e a proposição de soluções abrangentes.
Em face dessa complexidade, exige-se nova concepção para
formar recursos humanos em nível de pós-graduação, fundamentada
em princípios, como a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade.
O primeiro está relacionado com a possibilidade de pesquisadores com
formações disciplinares distintas trabalharem conjuntamente em torno
de um único tema, cada qual utilizando sua cultura. Já o segundo, está
relacionado com a perspectiva da geração de nova cultura em certa área
do conhecimento, em função da transferência de métodos e ferramentas
de várias áreas. O desenvolvimento dessa nova cultura acarretará o
avanço das fronteiras da ciência e da tecnologia voltadas, no caso, para a
área técnico-científica de defesa, bem como para a formação de recursos
humanos especializados.
A conceituação discutida foi baseada no documento de Área do
Comitê Multidisciplinar da Capes. Nesse contexto, pode-se definir a
Engenharia de Defesa como
AC –Engenharia de Defesa
– LP1: Comunicações e Inteligência em Sistemas de Defesa
– LP2: Mecatrônica e Sistemas de Armas
– LP3: Modelagem e Simulações em Sistemas de Defesa
Considerações finais
É importante observar que a proposta atual do PGED foi o fruto
do amadurecimento de um processo iniciado em 2005, moldada
pelas inúmeras sugestões e críticas recebidas, internas ou externas.
Apresentamos o caminho percorrido para implementar o Programa de
Pós-Graduação em Engenharia de Defesa (PGED) do Instituto Militar de
Engenharia.
Trata-se de um curso inédito no País e com enfoque multi e
interdisciplinar, voltado para aplicações e desenvolvimentos científico-
tecnológicos em técnicas em Sistemas de Defesa. O PGED integra também
o primeiro curso de doutorado do IME com grande foco em engenharia.
Uma discussão mais aprofundada sobre os principais aspectos da
fundamentação, do conceito e da estrutura do PGED, como também
do seu caráter inter e multidisciplinar e da sua contextualização, foi
apresentada neste capítulo.
O desempenho do IME nos últimos anos em editais que
contemplaram a área de Defesa foi também importante fator na
consolidação dessa proposta inovadora para a pós-graduação nacional,
combinando engenharia, ciências e defesa.
174 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
Agradecimentos
Os autores agradecem aos ex-comandantes do IME, general Ernesto
Ribeiro Ronzani e general Emilio Carlos Acocella, e ao atual comandante,
general Amir Elias Abdalla Kurban, pelo grande e indispensável apoio
prestado à criação e consolidação do PGED.
Capítulo 10
A Engenharia de Defesa:
Curso de Especialização
General José Carlos Albano do Amarante
Almirante Marcílio Boavista da Cunha
General Emilio Carlos Acocella
Professor Eurico de Lima Figueiredo
Professor Itamar Borges Jr.
Contextualização
A
evolução da tecnologia possibilitou ao homem dispor de
meios de defesa cada vez mais sofisticados para exercer o
poder e empregou sucessivamente a força militar, o capital e, atualmente,
o conhecimento. A segurança de uma nação é fortemente influenciada
pelos instrumentos do poder, entre os quais se destacam os materiais e
serviços de defesa.
Por outro lado, o homem é o “animal fazedor de ferramentas” de
combate. O engenheiro de defesa é o fazedor moderno dos meios de
combate.
Chegamos, então, ao início do século XXI, à fase caracterizada por
verdadeira explosão tecnológica. Agora, o casamento entre a ciência e
a tecnologia transforma-se em indutivo processo, de um para outro. A
ciência promove a tecnologia e a tecnologia promove, capacita a ciência.
É um processo até dialético.
No começo do século XX, no entanto, a universidade era o palco de
uma ciência profissional na sua organização social, reducionista no estilo
e positivista no espírito. Assim, o estilo dominante de trabalho, naquele
período, era reducionista: as investigações eram concentradas nos
176 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
UD 4: Eletrônica e Comunicações.
UD 5: Optoeletrônica.
UD 6: Tecnologia da Informação.
UD 7: Biotecnologia.
UD 8: Processamento de Sinais.
UD 9: Mecatrônica.
UD 10: Explosivos, Propelentes e Pirotécnicos
UD 11: Trabalho em Grupo.
Formação de engenheiros
na época do conhecimento
Reportagem de Andréa Antunes, publicada em 2 de janeiro
de 2001 no semanário Folha Dirigida, sobre a Educação
ministrada no Instituto Militar de Engenharia (IME)
A
primeira escola de Engenharia das Américas e a terceira do
mundo, o Instituto Militar de Engenharia, na Praia Vermelha,
Urca, vem escrevendo uma trajetória de sucesso ao longo dos anos. Além
do pioneirismo, a excelência é outra característica da instituição, que
mais uma vez obteve conceito “A” no provão.
Há três anos no comando do Instituto, o doutor e mestre em
Engenharia e ex-aluno da instituição, o general de brigada José Carlos
Albano do Amarante revela a fórmula do sucesso do IME, que já angariou,
entre outros, os Prêmios de Qualidade Rio 1999 e 2000 e de Qualidade
do Governo Federal 2000.
Na opinião do general de brigada, a Educação precisa passar
por uma reforma pedagógica de modo a desenvolver a criatividade e a
capacidade reflexiva dos jovens.
Folha Dirigida – Já que a verba é pouca, como vocês fazem para manter
a qualidade do ensino?
General Amarante – Para podermos funcionar, prestamos serviços.
Nesse ponto temos convênios e projetos que realizamos ao longo do ano.
Hoje, por exemplo, somos responsáveis pela duplicação das estradas
que vão de São Paulo a Buenos Aires.
Folha Dirigida – O IME é uma instituição que exige muito dos alunos,
tanto no aspecto disciplinar quanto no conteúdo didático. Há evasão?
General Amarante – Quando o aluno sente que não conseguirá passar,
até porque aqui o estudante não pode ser reprovado em nenhuma
matéria, ele tranca matrícula. De cada 100 alunos que ingressam no
Instituto, saem apenas 80 com o diploma. Os outros 20 são perdidos
durante o curso, mas isso ocorre pelos mais diversos motivos.
Folha Dirigida – O Sr. acha que ele está provocando mudanças nas
instituições de ensino superior?
General Amarante – Sem dúvida. Existem exemplos de escolas que
começaram mal no Provão e hoje estão bem, ajustaram-se. Isso porque
o Provão é uma forma de visibilidade, e os alunos procuram as escolas
que têm um bom conceito. De alguma forma, a sobrevivência dos cursos
está associada ao Provão.
que possuem uma queda maior pela Engenharia. Por isso não vamos
utilizar o Enem e continuaremos com nosso vestibular.
Introdução
O
presente trabalho apresenta estratégias para a adequação de
uma escola de Engenharia Militar, no caso o Instituto Militar
de Engenharia (IME) do Brasil, para enfrentar os desafios deste século,
no contexto da acelerada evolução científica e tecnológica e de um
mundo globalizado.
Contemplando o ambiente atual, analisamos o papel da educação
em face da Revolução Tecnológica em seus aspectos psicossociais,
econômicos, políticos e militares, e o fenômeno da globalização.
As estratégias foram e vêm sendo discutidas pelos componentes
dos corpos docente e administrativo do IME e apontam para um modelo
que esteja vinculado ao presente, evitando que o ensino continue
ligado aos paradigmas da Revolução Industrial, caracterizada pelo
reducionismo e pela ótica monodisciplinar.
Visa, pois, a adaptação da escola ao momento da informação,
sintetizado pelo crescimento exponencial da capacidade de realização
do homem, mediante a criação de núcleos de pesquisa e projetos para
coordenar a execução de atividades interdisciplinares. Nesse ambiente,
ressalta-se a importância da visão humanística como um atributo
do engenheiro da atual Idade do Conhecimento. Estabelecem-se as
características e as condições de implantação de um projeto que visa
propiciar aos alunos contato permanente com assuntos relacionados
com anseios da sociedade e com ciências ligadas ao Comportamento
Humano, em complemento às disciplinas curriculares de engenharia.
188 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
Robótica
Essa tecnologia tem a finalidade de substituir funções
originalmente realizadas pelo homem, pelas mesmas funções realizadas
pela máquina, como é o caso do veículo aéreo não tripulado (Vant).
Assiste-se hoje a uma tendência disseminada entre as potências
militares do mundo de emprego crescente da robotização na guerra.
O IME no século XXI 189
Automação
Essa tecnologia tem por objetivo realizar a automação das funções
tecnológicas do combate – sensoriamento, processamento e atuação
(SPA) – em sistemas, valorizando a guerra cibernética.
Existe uma tendência mundial para a automação (SPA), tanto em
sistemas militares quanto em sistemas civis. O espectro de repercussões
tecnológicas da atualidade sinaliza para a automação das funções
tecnológicas do combate.
É o caso do funcionamento automático de um sistema de armas,
integrando as funções SPA. Tomemos como exemplo o Sistema Patriot,
que fez sua estreia na Primeira Guerra do Golfo (1991) e, por isso, foi o
primeiro sistema bélico automatizado. Ele ostentava o funcionamento
automático, resultante da integração das funções tecnológicas, no ciclo
do combate SPA. Empregou componentes que cumpriam o papel de
sensor, processador e atuador, para abater o míssil iraquiano Skud, sem
a interveniência humana.
Na medida em que substitui o componente humano nos processos
envolvendo a tomada de decisão para resposta a determinadas ameaças,
190 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
Guerra eletromagnética
A quarta dimensão do combate tem o propósito de estabelecer um
confronto entre meios militares de sensoriamento (S), processamento
(P) e atuação (A), que operam usando equipamento eletromagnético.
Na Segunda Guerra Mundial, o radar eletromagnético descerrou
as cortinas de exploração de outras faixas do espectro eletromagnético,
ampliando o conceito de visão ótica, para visão eletromagnética. A
engatinhante tecnologia de sensoriamento abriu o campo visual para
varrer a faixa das micro-ondas.
A ciência e a tecnologia responderam rapidamente com notável
expansão da exploração do campo eletromagnético (AMARANTE,
1992).2 Nas Guerras do Golfo (1991 e 2003), os aliados fizeram desfilar
extensa gama de equipamento de sensoriamento, processamento
e atuação. Agora, os meios militares atuam em variadas bandas do
espectro eletromagnético, varrendo o ultravioleta, o infravermelho, as
ondas milimétricas, as micro-ondas e a radiofrequência.
A exploração da quarta dimensão do combate, a dimensão
eletromagnética, poderá ser decisiva na guerra do futuro. Em relação
às guerras recentes, a dimensão eletromagnética deverá ser ampliada,
passando a contribuir, por exemplo, para o emprego de atuadores de
pulsos de energia concentrada (Laser). Como ampliação da capacidade
de sensoriamento, todos os sintomas de presença e atividades de tropa
poderão ser detectados. Por outro lado, a quarta dimensão deverá varrer
as funções tecnológicas de combate (SPA).
Guerra sistêmica
A guerra sistêmica tem o propósito de empregar as funções
tecnológicas do combate (SPA) nos meios de guerra, de forma integrada
e automatizada, entre sistemas de defesa.
O IME no século XXI 191
Guerra cibernética
A guerra cibernética tem por finalidade atingir a capacidade de
processamento dos sistemas adversários na guerra convencional, na
guerra assimétrica ou em atos terroristas. A cibernética, ou seja, a guerra
de softwares, constitui-se no terceiro tipo de guerra entre sistemas.
Nesse tipo de guerra, o hacker politicamente motivado, ou seja,
o combatente hacker, atua com softwares maliciosos, para danificar
a capacidade operativa de sistemas de combate e/ou de sistemas da
infraestrutura pública ou privada do estado-nação adversário. Dessa
maneira, o hacker pode realizar ações de sabotagem e/ou espionagem.
Esse tipo de confronto tem um formato semelhante à guerra de
informação, algumas vezes vista como análoga à guerra convencional.
O IME no século XXI 193
Teratecnologia
A tecnologia da computação
Supercomputador, em uma definição simples e acessível, é
um computador que está à frente dos demais, em capacidade de
processamento, particularmente, considerando a velocidade de cálculo
e a capacidade de solução de problemas complexos. Com o passar do
tempo, como a evolução tecnológica é cada vez mais rápida, surgem
supercomputadores mais potentes, deixando os antigos líderes
simplesmente como desktops.
Costumamos fazer a seguinte pergunta (SIQUEIRA, 2012):12
“o que significa para você, leitor, um quatrilionésimo de segundo?
Nenhum ser humano talvez tenha uma ideia aproximada do que seja
um intervalo de tempo tão fugaz quanto esse.” Agora, imagine um
supercomputador que faça 1 quatrilhão de cálculos por segundo. Com
esse desempenho, cada cálculo dessas máquinas não demora mais do
que um quatrilionésimo de segundo. Muitos leitores perguntariam: “Mas
existem supercomputadores capazes de fazer 1 quatrilhão de cálculos
por segundo?” Sim! Existem vários que alcançam essa velocidade de
processamento. Não é ficção.
Os super-rápidos
Uma pesquisa publicada no site www.top500.org nos apresenta,
anualmente, a classificação dos supercomputadores mais rápidos
do mundo. Este ano o site divulga pela 35ª vez o ranking dessas
supermáquinas. Vale a pena conhecer a lista atual dos 10 mais velozes
do planeta. A primeira grande surpresa nessa lista é a estreia da China
que possui o segundo mais veloz do mundo:
Nanotecnologia
É a tecnologia geradora de matérias-primas e produtos com
tamanhos nanométricos, ou seja, com a dimensão maior, da ordem
de um bilionésimo de metro. O livro Máquinas da Criação, de Eric
Drexler, descreve a nascente tecnologia em que máquinas de tamanho
nanométrico manipulariam átomos, moléculas e matéria. Levando o
conceito de miniaturização ao extremo, a nanotecnologia tem o objetivo
de construir estruturas complexas, átomo a átomo, molécula a molécula.
Por vezes, ela é designada de “fabricação molecular”, englobando
vários tipos de pesquisa que trabalham com dimensões inferiores a
mil nanômetros (um nanômetro é igual a 0,000.001 milímetros). Para
realizar a fabricação molecular, a nanotecnologia utiliza os processos de
montagem posicional e autorreplicação.
O primeiro pressupõe que cada átomo seja colocado no seu devido
lugar, implicando a existência de robôs mínimos, cujas dimensões
permitam a manipulação individual de átomos e moléculas. O segundo
envolve a construção de sistemas capazes de copiarem a si próprios e
de, com esse conhecimento, construírem outros produtos.
Em consequência, podemos entender a fabricação molecular como
uma tecnologia futura que irá nos permitir a construção de grandes
objetos, com a precisão atômica, de forma rápida, barata e virtualmente
sem defeitos. Mecanismos robóticos irão posicionar e provocar reação
em moléculas para construir sistemas com complexas especificações
atômicas. Quando a fabricação molecular estiver disponível, ela irá
oferecer computadores imensamente potentes, capítulos de consumo
de alta qualidade e dispositivos capazes de curar doenças, mediante a
reparação do organismo em nível molecular.
São imensas as aplicações da nanotecnologia.13 Em abril de 2005,
em um painel coordenado pelo Canadian Joint Centre for Bioethics
(JCB), e realizado com 63 especialistas mundiais, para identificação
O IME no século XXI 197
Complexidade
Aplicação aos fenômenos complexos naturais
A Complexidade corresponde à multiplicidade, ao acoplamento
e à interação contínua da infinidade de sistemas e de fenômenos que
compõem o mundo, as sociedades humanas, o homem e todos os seres
vivos.14
Em seu livro intitulado Complexidade: a ciência emergente no
limiar da ordem do caos, Mitch Woldrop15 escreve “sobre um ponto, que
permanece na fronteira do caos, onde os componentes de um sistema
nunca se fixam o bastante, e ainda nunca propriamente se dissolvem na
turbulência...”
Gell-Mann, que propôs a existência do quark como peça
fundamental da estruturação atômica, recebeu por essa contribuição
significativa o prêmio Nobel de Física, em 1969. No seu livro, O quark e o
jaguar, argumentou que uma mesma teoria, a Teoria da Complexidade,
poderia explicar o simples, na física do quark em um átomo, e o
complexo, na física de sistemas complexos adaptativos, caracterizada
pela complexidade da caça noturna realizada por um jaguar. Como até
hoje os progressos na Teoria da Complexidade foram pequenos, Horgan
aproveitou a oportunidade para criticá-la.
Devemos estar conscientes, no entanto, de que existem sistemas
adaptativos complexos que, segundo Gell-Mann, são sistemas que
aprendem e evoluem lançando mão de informações adquiridas a partir
de sua interação com o meio ambiente. Esses sistemas proliferam no
mundo real, podendo envolver uma criança aprendendo a língua ou a
evolução biológica resultante da interação com o ambiente, como ocorre
com as bactérias que desenvolvem resistência aos antibióticos. A ciência
relacionada a esses fenômenos ainda está longe de ser compreendida,
mas acreditamos que a chave para a adaptação ao meio ambiente
198 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
Cognição
É o ato ou processo de conhecer, incluindo a atenção, a percepção,
a memória, o raciocínio, o juízo, a imaginação, o pensamento e o
discurso. A partir da década de 1950, estabeleceu-se uma convergência
entre os conceitos computacionais e as funcionalidades do cérebro
humano, tais como: armazenamento, reparação, memorização e
codificação de informação. Outra convergência é observada entre a
cognição e a inteligência artificial: as tarefas cognitivas, quais sejam, o
conhecimento, a aprendizagem, a explicação, a resolução de problemas
e o planejamento. As funções ativadas pelo campo da inteligência
artificial20 provocam a elucidação, a representação, o processamento e a
organização do conhecimento.
Bordogna acredita que a humanidade se encontra no limiar de
uma revolução cognitiva, responsável pela minimização da revolução
da informação. Essas conquistas irão deitar as fundações para a
ereção de áreas de real importância, desde a alfabetização de crianças
até a compreensão de processos de aprendizados; da produção de
computadores assemelhados ao ser humano e robôs capazes de projetar
redes e sistemas capazes de cognição.
Holismo
De acordo com Humberto Mariotti, reducionismo é o ponto de
vista clássico, consolidado por Descartes, que divide o todo em partes
e as estuda em separado. Em consonância com Edgar Morin, é a visão
200 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
A ciência do amanhã
Proceder a uma avaliação prospectiva tanto da ciência quanto da
tecnologia é uma tentativa complicada. Entretanto, o momento especial
que estamos vivenciando nos leva a focalizar alguns pontos que poderão
ser úteis para a nossa compreensão, quando chegar à próxima revolução
civilizatória que será a nona.
Com a Revolução Científica ocorrida no século XVII, o homem
dedicou-se no século seguinte, o XVIII, a sistematizar o conhecimento
O IME no século XXI 201
Neurociência
O que é o cérebro?
Apoiando a concepção de Galileu, Descartes estabeleceu que
o cérebro era composto por duas partes: mente e matéria. A matéria
era relacionada à substância física e dotada de extensão. A mente era
responsável pelo pensamento; portanto, não tinha extensão. Em suma,
Galileu e Descartes faziam distinção entre a operação física do cérebro e
o processo cognitivo.
Em 1791, Galvani demonstrou que nas células do cérebro transitava
a eletricidade. Essa constatação provocou investigativa corrida ao estudo
do cérebro, sem conseguir, entretanto, grandes avanços. Em 1870, Golgi
descobriu que o sistema nervoso central era integrado por milhões de
neurônios. Além disso, estabeleceu que a informação, colhida pelos
nervos sensoriais, era remetida ao cérebro para processamento e que os
neurônios, depois do processamento, comandavam os nervos motores.
Essa descoberta foi a base científica da automação.
No início do século XX, Adrian, Gasser e Enrianger descobriram
que a descarga de impulsos elétricos nos neurônios causava a liberação
de substâncias químicas, cujas funções eram o envio de mensagens a
outros neurônios, estabelecendo um processo contínuo de pensamento
ou de ação reativa irrefletida. Eles conseguiram estimar que, depois
de uma descarga, os neurônios levavam em torno de um milésimo do
segundo para serem recarregados.
Recentemente, a separação entre a matéria e a mente passou a
ser contestada ao se verificar que muitos comportamentos associados
à mente eram, ao menos em parte, determinados pela bioquímica.
Atualmente, os pesquisadores começam a desprezar a separação
O IME no século XXI 203
Funcionamento do cérebro
Tais contribuições científicas estabeleceram o caminho para
a moderna neurociência, responsável pela enorme quantidade de
informação sobre as funções cerebrais. O cérebro humano é, muito
provavelmente, o órgão mais complexo do corpo. Ele é responsável
tanto pela condução das mãos de um exímio cirurgião ou de um pintor
magnífico quanto pelo controle de funções básicas do organismo,
reflexivas ou espontâneas. É o produto mais elaborado do processo
evolutivo do homem na superfície terrestre. Há cerca de 300 mil anos, o
Homo erectus, nosso ancestral, tinha um cérebro que pesava 500g, que
corresponde a cerca de um terço do peso atual de 1,5kg.
A peça fundamental do cérebro é o neurônio. O sistema neural
central é composto por bilhões de neurônios, que são células diferenciadas
capazes de receber ou enviar sinais, iniciando comunicação com a célula
vizinha mediante descargas elétricas, em um processo chamado de
sinapse. Cada neurônio estabelece conexão com dezenas de milhares
de outros neurônios. Essas conexões não são do tipo liga-desliga, elas
variam de intensidade e determinam uma qualidade na transmissão.
Assim, os neurônios são conectados em complexas redes neurais, as
quais compõem o cérebro. Essas redes funcionam processando sinais
elétricos responsáveis pela atividade cerebral.
É nesse desempenho cooperativo simultâneo de milhões de
neurônios que reside a enorme sofisticação e a incrível capacidade
computacional do cérebro, em comparação com os computadores
atuais. A diferença de desempenho entre o cérebro e o computador
não reside na escala temporal, uma vez que o tempo de recarga do
neurônio é de um milésimo do segundo, muito maior do que o tempo de
processamento do computador que é da ordem de 100 milionésimos do
segundo. A diferença está no número de processadores e na qualidade
da descarga neural. No cérebro, milhões de neurônios são ativados,
transmitindo e recebendo informações mediante descargas elétricas de
intensidade variável, o que estabelece uma qualidade na condução. No
computador, o número de processadores é muito menor, e as conexões
204 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
Conclusão
Os estudos sobre o futuro apontam para características
operacionais que estarão presentes nos combates do porvir: velocidades
de computação elevadíssimas (teravelocidades), meios ocupando
espaços mínimos (nanodimensão), os equipamentos serão complexos,
cognitivos e holísticos. Essas características sinalizam a direção do
desenvolvimento tecnológico e operacional. Joseph Bordogna, da US
National Science Foundation, defende que “ a Ciência e a Tecnologia são
forças transformadoras. Por essa razão, por esses campos emergentes,
territórios imprevisíveis, irão mudar e expandir as nossas capacidades
como engenheiros e inovadores”.
É bem provável que os engenheiros tenham que desenvolver
alguns predicados, tais como ser fabricante astuto, inovador confiável,
agente de mudança, mestre da integração, viabilizador de empresas, um
gerente de projetos tecnológicos e um domador do conhecimento. Eles
irão precisar bem mais do que habilidades científicas e técnicas. Além
dessas, os engenheiros irão necessitar lidar com sistemas complexos,
coordenando o emprego de imensas quantidades de tempo, dinheiro,
pessoal, conhecimento e tecnologia para um destino comum.
Todos os progressos nessas áreas – tera, nano, complexidade,
cognição, holismo, ciência do futuro e neurociência – irão estabelecer
a capacidade para um campo de projeto integrado muito além do que é
imaginável com a tecnologia atual.
As teravelocidades são tão elevadas que não temos a mínima ideia
do seu valor. Basta tentar imaginar a velocidade de um quatrilhão de
cálculos por segundo. Na verdade, ninguém talvez tenha a mínima ideia
do que seja um instante tão fugaz quanto esse.
Considerações finais
O
IME ostenta singular papel em minha vida. No campo
profissional, o laço é muito apertado. Durante uma
demonstração do sistema de foguetes 108 rotativos, conduzida
por professores e pesquisadores, alimentei a decisão de me tornar
engenheiro militar. Para entronar essa posição, escolhi o material bélico,
que assegurava o ingresso no Instituto sem concurso. Fui aluno, professor,
comandante e reitor dessa casa sagrada. Ainda hoje presto, com todo o
entusiasmo, apoio à sua divulgação em programa de entrevistas: O Voo
da Humanidade – Estação Futuro.
A grande história, no entanto, é a do IME, berço da Engenharia
Militar brasileira e herdeiro direto da Real Academia de Artilharia,
Fortificação e Desenho, terceira escola de engenharia do mundo e primeira
das Américas, criada em 1792 e suportada em seu funcionamento por
duas colunas básicas: a excelência e o pioneirismo. Durante 82 anos, nos
tempos da Colônia e do Império, constituiu-se na única escola brasileira
de engenharia. Em 1874, chamada de Escola Central, assumiu o nome
de Escola Politécnica e passou a ser um estabelecimento de ensino
inteiramente civil, desvinculando-se assim, em definitivo, de sua antiga
origem militar. A Escola Politécnica atingiu o apogeu de fama e prestígio
pela competência e valor das realizações de seus egressos. Em 1937,
ela passou a se denominar Escola Nacional de Engenharia. A partir da
mesma data, 1874, a versão militar da escola de engenharia seguiu sua
trajetória até o IME de hoje.
Hoje vivemos a chamada Revolução Tecnológica que alimenta os
fenômenos globalizantes, atuando em um mundo incerto e ambíguo,
dominado por sociedades que privilegiam a terceira esfera do poder – o
conhecimento.
216 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro
9
SILVA, E. A. A História da Cartografia Brasileira – 500 Anos do
Descobrimento do Brasil pelos Portugueses. In: Congresso Brasileiro de
Pesquisadores Negros. Recife: Universidade de Pernambuco, 2000, p 8.
10
ADONIAS, I.; FURRER, B. Mapa: Imagens da Formação Territorial
Brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Emílio Odebrecht, 1993, p. 27.
11
TAVARES, A. L. A engenharia militar portuguesa na construção do
Brasil. Lisboa: Edições Speme, 1956, p. 46.
12
Ibidem, p. 199.
13
CURADO, S.C. O Ensino da Engenharia Militar no Brasil até a
Independência. In: Simpósio Comemorativo dos 300 anos da Criação
da Aula de Fortificação no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército, 1999.
14
“...ordeno ao sargento-mor desta praça José Velho de Azevedo proceda
em tudo o que se oferecer nela, nesta minha ausência e carecer de
remédio pronto...”, documento de 13 de ? de 1699, do Governador do
Maranhão, caixas do Pará do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU).
Em 1700, pediu folha corrida e, em 10 de Junho de 1701, o governador
certificou que estava servindo na Capitania.
15
CURADO, S.C. op. cit, p 1-20.
16
Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/Catarinense/
Efemerides/agosto.html >
17
MAROCCI, V.P. As Aulas de Engenharia Militar. A construção da
profissão docente no Brasil. Bahia: Cefet. Disponível em < http://www.
sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe4/individuais-coautorais/eixo02/
Gina%20Veiga%20Pinheiro%20Marocci%20-%20Texto.pdf.>.
18
CURADO, S. C., op. cit, loc. cit.
19
TAVARES, A. L., op. cit, p 118-174.
20
CURADO, S.C., op. cit., loc. cit.
21
Idem.
22
Colectanea de dados e factos chronologicos que se prendem à existência
do Arsenal desde o anno de 1733 até 1909 (Abril), Escriptorio da 2ª
Seção, Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, 1909.
23
WINZ, A.P. História da Casa do Trem. Parte I, Rio de Janeiro: Museu
Histórico Nacional, 1962, p 148.
24
TELLES, P.C. S., op. cit., p 87-89.
25
WINZ, A. P., op. cit., p. 148-150.
Notas 219
26
TAVARES, A. L., op. cit, p 183.
27
CURADO, S.C., op. cit., loc. cit.
28
COLLECTANEA.DE DADOS, Boletins de 1792-93.
29
LUCENA, L.C., op. cit, p. 21.
30
MOTTA, Jeovah. Formação do Oficial do Exército. Rio de Janeiro:
Biblioteca do Exército, 1998, p 21.
31
LUCENA, L.C., op. cit, loc. cit.
32
Military Academy of United States history. Disponível em: <http://
www.usma.edu/about.asp.>
58
Gomes Freire de Andrade. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/Gomes_Freire_de_Andrade.>
59
TELLES, P.C. S., op. cit., p. 43.
60
ADONIAS, I.; FURRER, B. op. cit., p. 140.
61
TELLES, P.C. S., op. cit., p. 71.
62
Ibdem, p 73.
63
Ibidem, p. 182.
64
Ibidem, p. 70-71.
65
WINZ, A. P., op. cit., p. 93.
66
TELLES, P.C. S., op. cit., p. 74.
67
FERREZ, Gilberto. O Rio de Janeiro e a defesa do seu porto. Rio de
Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1972.
68
TELLES, P.C. S., op. cit., p. 73.
69
Ibidem,p. 52-55.
70
Leal, Paulo Nunes, pp 1-16.
71
VIANNA JÚNIOR, W. S. O Governo Geral no tempo dos Felipes. XII
Encontro Regional de História. Rio de Janeiro: ANPUH, 2006. Disponível
em: <http://www.rj.anpuh.org/Anais/2006/conferencias/Wilmar%20
da%20Silva%20Vianna%20Junior.pdf.>
72
TOLEDO, B. L. A Ação dos Engenheiros Militares na Ordenação do
Espaço Urbano no Brasil. Colóquio “A Construção do Brasil Urbano”.
Lisboa: Convento das Arrábidas, 2000. Disponível em<http://revistas.
ceurban.com/numero4/capítulos/capítulo_08.htm.>
73
SOUSA, J.P.; REI, J.C.M. A formação em química de explosivos na
Academia Militar. Revista da Academia Militar. Disponível em: www.
academiamilitar.pt/proelium-n.o-9/formacao-em-química-de-
explosivos-na-academia-militar.html .
74
WINZ, A. P., op. cit., p. 75-153.
75
COLLECTANEA DE DADOS, Boletins de 1779/93
76
WINZ, A. P., op. cit., p. 213-254
3
ANAIS DA BIBLIOTECA NACIONAL, v. LIX, 1937, p. 237.
4
Da Coletânea de dados e fatos cronológicos que se prendem à existência
do Arsenal desde o ano de 1733 até 1909 (Abril), Arsenal de Guerra do
Rio de Janeiro, 1909, p. 4.
5
Idem nota 14.
6
WINZ, A. P., op. cit., p. 148.
7
TELLES, P.C. S., op. cit., p. 87.
8
ANAIS DA BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO, op. cit., p. 302.
7
LEI nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional.
8
FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
9
PLANO GERAL DE ENSINO E PESQUISA DO IME, de 1999.
10
RELATÓRIOS diversos da Seção.
2
BRASIL. Portarias números 124 e 126 do Estado-Maior do Exército,
de 29 de agosto de 2006. Criação do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Defesa no IME. EME: Brasília, 2006b.
3
BRASIL. Decreto nº 5.484, de 30 de junho de 2005. Política de Defesa
Nacional. Ministério da Defesa: Brasília, 2005b.
4
BRASIL. Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Estratégia
Nacional de Defesa. 2 ed. Ministério da Defesa: Brasília, 2008.
5
FERREIRA, A. M. Sistemas de Combate do Futuro: Elementos para a
Formulação Conceitual. 2004. Curso de Direção para Engenheiros
Militares, Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro,
2004.
6
ACOCELLA, E. C.; Áreas de conhecimento tecnológico de interesse do
Exército Brasileiro; Monografia (Especialização) - Curso de Política
Estratégia e Altos Estudos Militares, Escola de Comando e Estado-Maior
do Exército: Rio de Janeiro, 2004.
7
BRASIL. Decreto nº 5.484, de 30 de junho de 2005. Política de Defesa
Nacional. Ministério da Defesa: Brasília, 2005b.
8
BRASIL. Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Estratégia
Nacional de Defesa. 2 ed. Ministério da Defesa: Brasília, 2008. Disponível
em: <https://www.defesa.gov.br/eventos_temporarios/2009/
estrategia/arquivos/estrategia_defesa_nacional_portugues.pdf>.
Acesso em: 21 de setembro de 2009.
9
BRASIL. Capes/MEC: Plano Nacional de Pós-Graduação, PNPG 2005-
2010. Brasília, 2004.
10
ACOCELLA, E. C. A Postura Estratégica Dissuasória e os Objetivos
para a Ciência, Tecnologia e Inovação de Interesse da Defesa Nacional.
PADECEME, 2006, 11, 76.
11
Borges Jr, I., Pellanda, P. C. e Ronzani, E. R.; Proposta do Programa de
Pós-Graduação em Engenharia de Defesa - PGED. Instituto Militar de
Engenharia, Rio de Janeiro, 2006.
12
PELLANDA, P. C. A Pós-Graduação em Engenharia de Defesa no
Contexto do Sistema de Ciência e Tecnologia do Exército Brasileiro. 2008.
Dissertação de Mestrado em Ciências Militares, Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2008.
13
BRASIL. EME: Plano Básico de Ciência e Tecnologia do Exército 2007-
2010, Brasília, 2006.
Notas 227
lqes.iqm.unicamp.br/images/pontos_vista_capítulo_divulgacao_35_1_
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14
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Extraído de capítulo de mesmo título publicado na Revista do Clube
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Referências
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