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José Carlos Albano

do Amarante
Instituto Militar
de Engenharia
Uma ponte para o futuro
Fundada pelo Decreto no 8.336, de 17 de dezembro de 1881,
por FRANKLIN AMÉRICO DE MENEZES DÓRIA, Barão de Loreto,
Ministro da Guerra, e reorganizada pelo
General de divisão VALENTIM BENÍCIO DA SILVA,
pelo Decreto no 1.748, de 26 de junho de 1937.

Comandante do Exército
General de exército Enzo Martins Peri

Departamento de Educação e Cultura do Exército


General de exército Ueliton José Montezano Vaz

Diretor do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército


General de brigada Marcio Roland Heise

Diretor da Biblioteca do Exército


Coronel Eduardo Scalzilli Pantoja

Conselho Editorial

Presidente
General de brigada Aricildes de Moraes Motta

Beneméritos
Coronel Nilson Vieira Ferreira de Mello
Professor Arno Wehling

Membros Efetivos
General de exército Gleuber Vieira
General de exército Pedro Luís de Araújo Braga
Embaixador Marcos Henrique Camillo Côrtes
General de divisão Ulisses Lisboa Perazzo Lannes
General de brigada Geraldo Luiz Nery da Silva
General de brigada Sergio Roberto Dentino Morgado
Coronel de artilharia Luiz Sérgio Melucci Salgueiro
Professor Guilherme de Andrea Frota
Professor Paulo André Leira Parente
Professor Wallace de Oliveira Guirelli

Biblioteca do Exército
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Homepage: http://www.bibliex.ensino.eb.br
José Carlos Albano do Amarante

Instituto Militar
de Engenharia
Uma ponte para o futuro

1a edição

BIBLIOTECA DO EXÉRCITO
Rio de Janeiro
2013
BIBLIOTECA DO EXÉRCITO Publicação 898
Coleção General Benício Volume 500

Copyright © by Biblioteca do Exército

Coordenação editorial: Paulino Machado Bandeira


Rogério Luiz Nery da Silva
Fotos: José Carlos Albano do Amarante
Revisão: Suzana de França e Ellis Pinheiro
Capa e diagramação: Byte Systems - Soluções Digitais

I59 Instituto Militar de Engenharia: uma ponte para o


Futuro / José Carlos Albano do Amarante (Org.). –
Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2013.
252 p.: il.; 23 cm. – (Biblioteca do Exército; 898.
Coleção General Benício; v. 500)

ISBN 978-85-7011-533-1

Vários autores.

1. Instituto Militar de Engenharia (Brasil) – História.


2. Engenharia militar – Educação. 3. Colégio Militar do
Imperador (1840). I. Título. II. Série.

CDD 355.00711

Impresso no Brasil Printed in Brazil


José Carlos Albano do Amarante

Instituto Militar
de Engenharia
Uma ponte para o futuro

Apresentação
Professor Rex Nazaré Alves

Prefácio
General Rodrigo Balloussier Ratton

Coautoria de Capítulos Esparsos


General Paulo Cesar de Castro
Almirante Marcílio Boavista da Cunha
General Emilio Carlos Acocella
Coronel Luiz Castelliano de Lucena
Coronel Cícero Vianna de Abreu
Professor Eurico de Lima Figueiredo
Professor Manuel Domingos Neto

Autoria de Capítulo
Tenente-coronel Roberto Ades
Tenente-coronel Paulo César Pellanda
Professor Itamar Borges Jr
Apresentação

L
ouvável é a proeza de colocar em um livro a história de nosso
Instituto Militar de Engenharia. Sem dúvida, a obra incorpora
mais de 200 anos de atividades nas áreas de ensino e pesquisa, incluindo
o desenvolvimento nacional cujo berço é essa respeitável casa. Tenho o
privilégio de conhecê-la por mais de meio século, como iniciativa de três
engenheiros militares professores: o general Atila Magno da Silva, o general
Carlos Campos de Oliveira e o coronel Wervroer. Naquela ocasião, o Instituto
iniciava os estudos sobre energia nuclear. Percorrendo os seus corredores
e estudando muito, atingi a posição de diretor executivo da Comissão
Nacional de Energia Nuclear. Foi quando tive a honra de convidar o coronel
Rui Fortes, cujos conhecimentos em engenharia química tornavam-se
indispensáveis para enfrentar o recente desafio lançado à comissão:
descobrir o caminho para o domínio do ciclo de combustível nuclear. A
missão do Rui era de construir uma base de projetos de engenharia química
na Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).
De imediato, era fundamental a busca de nomes adicionais para
compor a equipe. Entre os nomes propostos estava o do então major
José Carlos Albano do Amarante, ao qual atribuí a missão de desenvolver
tecnologia experimental para produção de dióxido de urânio, ou seja, uma
planta piloto para obtenção de UO2. Foi uma feliz indicação que acolhi por
conhecer o passado da engenharia química do IME, cujo berço estava
na fábrica de Bonsucesso. Era a primeira metade da década de 1980. O
cromossoma do Amarante tinha o mesmo DNA de seu irmão José Alberto
com quem tive a satisfação e o orgulho de, em conjunto, trabalhar.
A partir daquela época, os meus contatos com o Amarante tornaram-
se mais frequentes, incluindo naquela fase o período do IPT, e mais tarde
no seu retorno ao IME. Naquele momento, já aposentado na Cnen eu
viii Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

havia prestado concurso e sido admitido como professor no IME. Tudo


isso gerou em mim enorme satisfação em poder contribuir com o então
general Amarante, reitor da nossa casa. Havia grande lacuna criada pela
ausência da história de tão importante marco da engenharia no Brasil.
Sem dúvida, ele é a pessoa indicada para fazer a busca detalhada da
história do IME. Ele está saldando, dessa maneira, uma dívida criada pela
ausência de história tão importante quanto emocionante.
A sequência de capítulos traz à baila as raízes, a funcionalidade e
a contribuição para o desenvolvimento brasileiro. Remonta ao Colégio
Militar do Imperador. Busca a inclusão da visão humanística no processo
de modernização do IME. Descreve de forma agradável e objetiva o longo
e fértil caminho percorrido pelo IME.
A leitura atenta do livro me remeteu a algumas passagens plenas de
realizações, advindas de tão intenso convívio. Identifiquei personagens
que participaram da minha convivência. Cheguei mesmo a preencher
a memória relembrando nomes e fatos citados no texto. Veio-me à
lembrança o inspirador acampamento tecnológico, no qual se misturava
a necessidade das operações militares com a criatividade dos excelentes
alunos, dando origem a protótipos de meios e procedimentos meramente
militares. Não pude também esquecer a magnífica contribuição do IME
ao desenvolvimento da água pesada, tão bem conduzido nessa casa e
interrompido na década de 1970. Sem dúvida, são pequenas lembranças,
mas tenho a certeza de que jamais foram esquecidas por Amarante.
No capítulo denominado “O IME no século XXI”, participamos
de novo cenário mundial, em que as tecnologias têm aplicações
diversificadas, e os países centrais procuram, por meio de restrições,
impedir o acesso dos países periféricos a tecnologias críticas e duais.
Devemos sim compartilhar a responsabilidade com a geração atual na
busca de um futuro mais independente do nosso País com uma inclusão
ampla na era do conhecimento.
O conflito cria novo contexto e muda o seu pretexto, porém os
interesses finais permanecem os mesmos. Somente o conhecimento e o
desenvolvimento prático de seu benefício podem garantir o Brasil que
sonhamos.

Professor Rex Nazaré Alves


Prefácio

N
o final dos anos 1990, tive a grata oportunidade de trabalhar
diretamente com o autor, durante seu período de comando no
Instituto Militar de Engenharia. Lembro-me de que, certa vez, perguntei-
lhe sobre a razão de possuir, em sua mesa de trabalho, estatuetas de
Dom Quixote e de Napoleão. Recebi a seguinte resposta: “São minha
inspiração, pois gostaria de sonhar como o primeiro e realizar como o
segundo.” Essa passagem ficou marcada em minha memória e representa
bem a personalidade do nobre chefe e amigo, general Amarante, um
estudioso inquieto e vocacionado para as atividades profissionais, às
quais se dedicou integralmente ao longo de sua vida, especialmente a
Ciência e Tecnologia e o ensino de Engenharia com ênfase para a área de
emprego militar.
Com prazer, vivenciei, como executor, algumas passagens
mencionadas nesta publicação; acompanhei outras com admiração
e respeito, não só por sua criatividade, mas sobretudo pela ousadia
com que o autor as implementou e divulgou em artigos e palestras.
Foi um período marcante em minha vida, pois muito me inspirou no
prosseguimento da carreira. Por isso, é com muita honra que expresso
breves palavras para abrir este documento. Nele estão registrados dados
e significativos fatos para a história e desenvolvimento da Engenharia
Militar Brasileira.
Na Introdução, general Amarante observa que a obra é uma
consolidação de artigos em sua maioria elaborados por ele próprio e
com diversas parcerias. Deve o leitor ter o cuidado de se colocar no
momento histórico em que os textos foram escritos. Assim, entenderá
melhor o assunto, bem como verificará a inovação e ineditismo que por
ventura possam ter ocorrido.
x Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

O autor navega no tempo ao buscar as origens históricas da


Engenharia Militar, o que se pode chamar de “Pré-história”, ainda no
Brasil Colônia, antes mesmo da criação da Real Academia de Artilharia,
Fortificação e Desenho, marco inicial do ensino de Engenharia no nosso
País.
Os relatos dos diversos artigos não se restringem à narrativa
histórica; o autor aprofunda suas colocações ao observar condicionantes
e importantes contextos, além de alterações e mudanças vivenciadas,
como as implementadas no Projeto Visão Humanística, em sua maioria
relevantes e atuais.
Como não poderia ser diferente, a explanação contida nos artigos
gira em torno do Instituto Militar de Engenharia (IME), herdeiro
histórico da primeira escola de Engenharia das Américas, considerado
o “Berço da Engenharia Nacional”. É abordado o pioneirismo do IME na
implantação de cursos, na inovação de atividades efetuadas pelo autor
em seu comando e na contribuição de seus ex-alunos ao desenvolvimento
nacional e atendimento a demandas da sociedade brasileira. São
resgatados fatos e dados essenciais a serem perpetuados por todos que
tiveram a honra de passar pela “Casa do Engenheiro Militar”, tanto em
cursos de graduação quanto de pós-graduação, mormente os atuais e
futuros engenheiros militares. Em complemento, é apresentada sucinta
passagem pelo ensino dos Colégios Militares.
Uma forte instituição possui sólida base histórica. Assim, a
Engenharia Militar não é diferente, por isso precisa ter a história
registrada e acessível àqueles cuja missão é manter e dar continuidade
a essa rica e especial trajetória. Esta publicação contribui de forma
significativa para divulgar e disseminar esses primordiais aspectos, pois
consolida as informações em um único documento e serve de notável
fonte de dados para o destino do IME e da Engenharia Militar.
Com narrativa bastante objetiva, o autor facilita o entendimento
dos fatos e princípios evidenciados e possibilita ao leitor a ciência dos
conteúdos de forma agradável e direta. Na parte final, Amarante estimula
a prospecção do futuro do ensino da Engenharia Militar e sua aplicação.
Considera cenários e condicionantes existentes, que merecem do leitor
aprofundamento das ideias, em função da dinâmica a que está sujeito
o mundo moderno, não só pela presença das novas tecnologias, mas
Prefácio xi

também por implicações doutrinárias e logísticas impostas por esses


mesmos conhecimentos tecnológicos.
Por fim, a consolidação dos assuntos abordados nesta publicação
preenche uma lacuna existente nos registros e informações a respeito
da Engenharia Militar. A leitura se reveste de singular importância para
aqueles que possuem interesses e responsabilidades por esse ramo de
atividade e, notadamente, para aqueles cuja missão é dar continuidade ao
considerável segmento da estrutura das Forças Armadas, em particular
do Exército: a Engenharia Militar.

Nosso sincero agradecimento ao autor pela iniciativa e


perseverança.

General Rodrigo Balloussier Ratton


Comandante do Instituto Militar de Engenharia
Sumário
Apresentação ...................................................................................... vii
Prefácio .................................................................................................. ix

Introdução ............................................................................................ 1

Capítulo 1 – Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura ... 7


Origens da Engenharia ............................................................................ 7
O surgimento da Engenharia Militar e da Cartografia ............... 7
O ensino de Engenharia Militar em Portugal ................................. 12
O ensino de Engenharia Militar no Brasil Colônia ....................... 14
Primórdios .............................................................................................. 14
A Aula do Rio de Janeiro .................................................................... 16
A Aula da Bahia ..................................................................................... 16
As Aulas de Pernambuco e Maranhão ......................................... 17
A Casa do Trem (1762) ...................................................................... 17
A Academia Real de Artilharia, Fortificação e Desenho
(1792) ................................................................................................... 19
As publicações e o ensino ................................................................. 20
Ensino superior militar de Engenharia e formação .................... 22
Evolução do ensino superior militar ........................................... 22
Evolução do ensino superior em Engenharia .......................... 27
Educação de nível secundário/primário ......................................... 34
Educação de nível técnico ...................................................................... 35

Capítulo 2 – A Engenharia Militar e o desenvolvimento


nacional .............................................................................................. 37
Atividades e obras de defesa do território brasileiro ................. 37
xiv Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Demarcação de fronteiras, levantamentos geográficos e


topográficos .............................................................................................. 43
Atividades administrativas e obras civis ......................................... 50
Atividades industriais e logísticas ...................................................... 54
Considerações parciais ............................................................................ 56
Ciência e tecnologia .................................................................................. 56
1ª Fase – Ciclo dos Arsenais ............................................................ 57
2ª Fase – Ciclo das Fábricas ............................................................. 59
3ª Fase – Ciclo da Pesquisa e Desenvolvimento ..................... 63
Contribuições da Engenharia Militar ................................................ 67
Construção civil e urbanismo ......................................................... 68
Primeiras estradas de rodagem ..................................................... 69
Abastecimento de água para o Rio de Janeiro ......................... 69
Cartografia .............................................................................................. 70
Astronomia ............................................................................................. 70
Telégrafo .................................................................................................. 71
Iluminação elétrica ............................................................................. 71
Engenharia aeronáutica .................................................................... 71
Outras contribuições .......................................................................... 71
O Exército, o IME e o futuro ................................................................... 73
Conclusão ...................................................................................................... 74

Capítulo 3 – O ensino da Engenharia Militar no Brasil .......... 77


Abertura ......................................................................................................... 77
Primórdios .................................................................................................... 78
A Casa do Trem e o Arsenal de Marinha .......................................... 78
Real Academia ............................................................................................. 79
Ensino militar no século XIX ................................................................. 83
Evolução no Exército a partir da Casa do Trem ............................ 84
Evolução na Marinha ................................................................................ 87
Evolução na Força Aérea ......................................................................... 90
Conclusão ...................................................................................................... 92
Bibliografia ................................................................................................... 93

Capítulo 4 – Do Colégio Militar do Imperador ao Sistema


Colégio Militar do Brasil ou de 1840 a 1998 ........................... 95
Sumário xv

Capítulo 5 – A modernização do ensino no IME ....................... 101


Evolução global ........................................................................................... 101
Evolução no ambiente militar .............................................................. 102
O ambiente atual ........................................................................................ 103
A Revolução Tecnológica .................................................................. 103
O papel da educação ........................................................................... 103
Aspectos psicossociais ....................................................................... 105
Aspectos econômicos ......................................................................... 105
Aspectos políticos ................................................................................ 105
Aspectos militares ............................................................................... 106
A globalização .............................................................................................. 107
O papel do IME nesse cenário .............................................................. 107
Pioneiro no ensino das engenharias ............................................ 108
Pioneiro na pesquisa das engenharias ....................................... 108
A excelência no ensino e pesquisa ................................................ 111
A construção do presente ....................................................................... 112
Os luminares da Engenharia Militar ............................................ 113
Participação em grandes projetos nacionais ou em
atividades de relevo nacional ...................................................... 114
Ações atuais da Engenharia Militar .............................................. 118
Caracterização do engenheiro militar (da ativa ou reserva)
formado pelo IME ................................................................................... 118
Estratégias para a concretização da modernização .................... 119
Conclusão ...................................................................................................... 119

Capítulo 6 – Um projeto de visão humanística em escola de


engenharia ......................................................................................... 121
Introdução .................................................................................................... 121
O ambiente facilitador: o IME ............................................................... 122
Premissas e condições de implantação ............................................ 124
Atividades em andamento e primeiros resultados ...................... 126
Conclusão ...................................................................................................... 128
Agradecimentos .......................................................................................... 129

Capítulo 7– Metas do plano de modernização do IME para o


ano letivo de 2000 ............................................................................ 131
Fundamentação .......................................................................................... 132
xvi Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Metas estabelecidas para o ano 2000 ............................................... 133


Projeto Pedagógico ............................................................................. 133
Modernização das instalações ....................................................... 133
Reestruturação organizacional ...................................................... 134
Recursos humanos .............................................................................. 134
Plano geral de ensino e pesquisa .................................................. 134
Plano geral de pesquisas .................................................................. 136
Programa de gestão pela excelência ............................................ 137
Plano Diretor de Informática (PDI) .............................................. 137
Mensagem aos alunos do IME .............................................................. 137
Conclusão ...................................................................................................... 139

Capítulo 8 – O IME no alvorecer do século XXI .......................... 141


Introdução .................................................................................................... 141
O cenário inicial .......................................................................................... 141
Influência do conhecimento na defesa ............................................. 142
Influência do conhecimento na economia ...................................... 144
O conhecimento científico-tecnológico ............................................ 146
A universidade e o poder do conhecimento ................................... 148
O programa institucional de apoio à defesa e ao
desenvolvimento sustentável da Amazônia ................................ 152
Mensagem do comandante .................................................................... 154

Capítulo 9 – Engenharia de Defesa: o mais novo programa


de pós-graduação do Instituto Militar de Engenharia ........ 157
Comentário do autor do livro ............................................................... 157
Introdução .................................................................................................... 158
Pós-Graduação em Defesa Nacional .................................................. 161
O processo de criação do PGED ........................................................... 165
As características do PGED .................................................................... 169
Considerações finais ................................................................................. 173
Agradecimentos .......................................................................................... 174

Capítulo 10 – A Engenharia de Defesa: Curso de


Especialização .................................................................................. 175
Contextualização ........................................................................................ 175
Sumário xvii

Curso de especialização em Engenharia de Defesa ..................... 176


Ementa sintética do curso de especialização em Engenharia
de Defesa .................................................................................................... 178

Capítulo 11 – Formação de engenheiros na época do


conhecimento ................................................................................... 181

Capítulo 12 – O IME no século XXI ................................................. 187


Introdução .................................................................................................... 187
Tecnologias militares para o combate contemporâneo e
futuro ................................................................................................. 188
Robótica ................................................................................................... 188
Automação .............................................................................................. 189
Guerras contemporâneas e do futuro ......................................... 190
Guerra eletromagnética .................................................................... 190
Guerra sistêmica .................................................................................. 190
Guerra cibernética ............................................................................... 192
A futura ambiência científico-tecnológica e a inovação dual ... 194
Teratecnologia ............................................................................................. 195
A tecnologia da computação ........................................................... 195
Os super-rápidos .................................................................................. 195
Nanotecnologia ..................................................................................... 196
Complexidade .............................................................................................. 197
Aplicação aos fenômenos complexos naturais ........................ 197
Aplicação aos fenômenos complexos militares ...................... 198
Cognição .................................................................................................. 199
Holismo .................................................................................................... 199
A ciência do amanhã ........................................................................... 200
Neurociência ................................................................................................ 202
O que é o cérebro? ............................................................................... 202
Funcionamento do cérebro .............................................................. 203
A inteligência e a personalidade humanas ............................... 204
Inteligência artificial e redes neurais .......................................... 205
A preparação de recursos humanos, desenvolvimento de
pesquisas aplicadas e elaboração de projetos ........................... 206
Os recursos humanos na era do conhecimento ...................... 206
xviii Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Guerreiros técnicos são necessários? ......................................... 208


Instituto Militar de Engenharia: o desafio de adaptação para
exercer o poder do conhecimento ................................................... 211
Conclusão ...................................................................................................... 214

Considerações finais .......................................................................... 215

Notas ....................................................................................................... 217

Referências ........................................................................................... 229


Introdução

E
ste livro reporta, em grande parte, a trajetória da escola de
Engenharia Militar Brasileira desde o Brasil Colônia até
o Brasil Futuro. Narra a epopeia das sequentes gerações de militares
engenheiros desde Portugal, que resultou em uma escola exemplar
estruturada por duas colunas basais: excelência e pioneirismo.
O livro é relacionado com o ensino e a pesquisa e situa o ponto focal
no IME do passado, do presente e do futuro, escola considerada uma das
melhores do Brasil. A nossa visão da escola de Engenharia pioneira e
referencial de qualidade no País é composta ao longo de 12 capítulos.
Destacamos na narrativa os períodos relacionados com a prestação
de nossos serviços ao Instituto Militar de Engenharia (IME): como
aluno, como professor de graduação, como professor de pós-graduação
e também como comandante e reitor. Acrescentamos nossa atividade de
coordenador das pesquisas do IME quando trabalhamos na Secretaria
de Ciência e Tecnologia do Exército.
Os assuntos que compõem o livro foram publicados como artigos
ao longo dos últimos 20 anos e espelham o nosso modo de pensar sobre
a ciência, a tecnologia e a inovação aplicadas ao ensino, à pesquisa, ao
desenvolvimento, à produção e à logística. São 12 textos autocontidos,
como se fossem integrantes de uma coletânea de 12 livretos.
O primeiro capítulo1 faz a descrição do nascimento formal da
Engenharia Militar no mundo, com base no confronto fortificação-
artilharia, e sua repercussão no Brasil Colônia. Esse capítulo salienta
o papel da educação no País, particularmente no Rio de Janeiro, e
enfatiza que “a educação técnica no Brasil deu os primeiros passos há
cerca de 300 anos”. Buscando as origens, encontraremos a primeira
intenção comprovada de se fazer uma escola de Engenharia, no intuito
2 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

de promover a defesa da Colônia de ataques de outras nações, no texto


da Carta Régia do Rei de Portugal, de 15 de janeiro de 1699. Nessa carta,
o rei manifestava o desejo de criar, no Brasil, um curso de graduação
para soldados técnicos na arte de construção de fortificação. Assim,
esse capítulo estabelece a evolução da escola de Engenharia Militar
brasileira mediante transformações desde a Real Academia (1792)
até chegar ao Instituto Militar de Engenharia, na sua forma atual.
Assinala o início da pesquisa sobre o histórico do IME e constantes do
opúsculo Um Breve Histórico do IME, de Luiz C. de Lucena, e de capítulo
do livro comemorativo do cinquentenário da Escola Superior de
Guerra, organizado por Eduardo M. Krieger, general C.P.Freitas Pereira
e Fernando Peregrino, “Agenda Pública – As Forças Armadas e o Rio
de Janeiro”. O trabalho varre a Colônia, o Império e a República. Fato
marcante ocorreu em 1792, no Rio de Janeiro: a inauguração da Real
Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho. O capítulo mostra como
a Real Academia é considerada: a Raiz Histórica do Instituto Militar
de Engenharia, com seu propósito de graduar engenheiros militares e
formar oficiais das armas. Ela foi a terceira escola de Engenharia Militar
no mundo e também a primeira das Américas.
O segundo capítulo salienta a atribuição do Engenheiro Militar
para a educação e o desenvolvimento nacional, mesclando atividades
técnicas e de gestão. Reproduzimos a seguir o comentário do professor
Manuel Domingos Neto,2 na Introdução do livro que contém parte desse
capítulo:

[...] o mergulho do general e professor doutor José Carlos


Albano do Amarante no papel social da engenharia militar
luso-brasileira durante o período colonial, que constitui
o primeiro capítulo deste livro, mostra a impossibilidade
de distinguir a atuação do profissional militar da atuação
não apenas do difusor e produtor do conhecimento
técnico, mas do construtor civil, do planejador urbano e do
próprio administrador público. Sem o engenheiro militar,
as fronteiras geográficas, o levantamento topográfico, o
planejamento e a construção de estradas, pontes e até
mesmo de muitas igrejas que se tornaram importantes
referências para a sociedade não teria sido possível.
Introdução 3

Na segunda parte desse capítulo, apresentamos a criação da


Casa do Trem e como evoluem as atividades científico-tecnológicas
relacionadas com a indústria. A evolução do setor pode ser visualizada
em três ciclos: 1ª Fase (1762 a 1889) – Ciclo dos Arsenais; 2ª Fase (1889
a 1940) – Ciclo das Fábricas; e 3ª Fase (1940 a ...) – Ciclo da Pesquisa e
Desenvolvimento.
O terceiro capítulo descreve a evolução da Engenharia Militar no
seio do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. O sucesso da empreitada
deveu-se à estratégia adotada. A opção foi centralizar o acesso ao
conhecimento, fundamentado na formação de recursos humanos. O texto
consta de uma palestra ocorrida na solenidade oficial da Associação
Brasileira de Engenharia Militar (ABEM)3 do ano de 1999, no IME, berço
do ensino da Engenharia Militar em cerca de três séculos.
O quarto capítulo visa divulgar a descoberta do embrião dos
Colégios Militares e aguçar a curiosidade histórica daqueles que
se proponham a esclarecer a criação, em 1840, do Colégio Militar
do Imperador. Dele pouco se sabe, e raros militares do Exército o
conhecem. O general Francisco de Paula e Azevedo Pondé a ele se refere
em dois capítulos, “Aprendizado Industrial” e “A Indústria Militar antes
da Implantação da IMBEL”. O capítulo relata alguns pontos sobre esse
Colégio, recordando sua história.
O quinto capítulo constitui a reprodução do texto apresentado na
nossa participação no Simpósio Comemorativo dos 300 Anos da Criação
da Aula de Fortificação no Rio de Janeiro, promovido pelo Instituto de
Geografia e História Militar do Brasil, Instituto Militar de Engenharia e
Biblioteca do Exército, realizado no período de 9 a 11 de agosto de 1999.
Essa parte, ao explorar o tema da modernização do IME, apresenta as
estratégias para concretizar a modernização do ensino no Instituto, no
contexto da acelerada evolução científica e tecnológica e de um mundo
globalizado. Nesse sentido, o tópico analisa a evolução tecnológica global
e, em particular, a evolução relacionada à atividade militar, aprecia o
ambiente atual e como o IME se insere nesse cenário. Contemplando
o ambiente atual, o capítulo trata da Revolução Tecnológica (1940-...),
do papel da educação, de aspectos psicossociais, econômicos, políticos
e militares, e do fenômeno da globalização. Ressaltando que um dos
pontos principais da identidade do Instituto é o seu pioneirismo, o texto
mostra que isso delineia sua grande responsabilidade com o futuro. As
4 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

estratégias que definimos vêm sendo discutidas pelos componentes dos


corpos docente e administrativo da instituição. É proposto um modelo
vinculado com o presente, desligando o ensino de seu acoplamento
com os métodos e processos empregados desde a Revolução Industrial
(1750-1940), e visa, portanto, à adaptação da escola ao momento da
informação, sintetizado pelo crescimento exponencial da capacidade de
realização do homem.
O sexto capítulo explora a convicção de que a modernização do
ensino no IME requer a modernização do comportamento do seu aluno.
No ambiente moderno, ressalta-se a importância da visão humanística
como atributo do engenheiro da Idade do Conhecimento. Estabelece as
características e as condições de implantação de um projeto que visa
propiciar aos alunos o acesso permanente a assuntos relacionados aos
anseios da sociedade, tendo contato, em complemento, às disciplinas
curriculares de Engenharia, às ciências ligadas ao comportamento
humano. Tal projeto se propõe a desenvolver condições para o
autoaprendizado e a perfeita interação do profissional com o meio
social. Prevê o desenvolvimento de atributos, a somar-se à competência
científica e tecnológica, que facilitem a liderança de equipes de trabalho,
no campo ou em escritórios, a seleção e obtenção de recursos e a
adequada gerência de projetos. Enriquece-o a disponibilização, ao jovem
universitário, de atividades culturais, tais como programas flexíveis de
leitura, encontros de reflexão, teatrais, musicais e de esporte e lazer.
Ponto de grande importância é fazer com que o estudante de Engenharia
frequente aulas de disciplinas, não incluídas na grade curricular, em
escolas conveniadas, voltadas para o ensino de ciências humanas,
biológicas e sociais. Pretende-se, assim, aprofundar relacionamentos de
grupos que possuam perspectivas diferentes diante do mundo.
No sétimo capítulo, apresentamos estratégias para a concretização
da modernização do ensino no IME, voltando a sua atuação no contexto da
acelerada evolução científica e tecnológica e de um mundo globalizado.
Analisamos a evolução global e, em particular, a de caráter militar, o
ambiente atual da instituição nesse cenário. Contemplando o ambiente
atual, tratamos da revolução tecnológica, do papel da educação, de
aspectos psicossociais, econômicos, políticos e militares, e a do fenômeno
da globalização. Ressaltamos também a enorme responsabilidade do
Instituto com o futuro ao destacar sua característica de pioneirismo.
Introdução 5

O oitavo capítulo apresenta estratégias para a preparação de uma


escola de Engenharia Militar, no caso o Instituto Militar de Engenharia, e
reforça os desafios do próximo século, no contexto da acelerada evolução
científica e tecnológica e de um mundo globalizado. O capítulo destaca
a grande interação hoje existente entre Ciência e Tecnologia (C&T)
e as demais expressões do poder nacional, comenta a influência do
conhecimento na defesa e na economia e, depois de apreciar a evolução
do conhecimento científico e tecnológico, analisa o poder em relação
à universidade. Finaliza discorrendo sobre o desafio de adaptação,
pressentido pelo IME, para exercer o poder do conhecimento e sua
posição em relação ao Programa Institucional de Apoio à Defesa e ao
Desenvolvimento Sustentável da Amazônia.
O nono capítulo apresenta o processo de criação e de
desenvolvimento do Programa de Pós-graduação em Engenharia de
Defesa (PGED) do Instituto Militar de Engenharia (IME). As bases
conceituais do mais novo programa de pós-graduação do IME também
são discutidas. O principal objetivo do PGED é formar recursos humanos
por meio de pesquisas em ciências e em Engenharia de alto nível, com
caráter multi e interdisciplinar e o foco em questões de defesa.
O décimo capítulo planeja um curso de especialização em
Engenharia de Defesa, fruto de uma iniciativa do Instituto de Estudos
Estratégicos da Universidade Federal Fluminense e da Associação
Brasileira de Indústrias de Material de Defesa e Segurança (Abimde). O
sucesso de três cursos realizados em dois anos – dois no Rio de Janeiro,
em instalações do próprio IME, e um em São José dos Campos, em
instalações da EMBRAER – confirmou claramente a elevada demanda
comprimida em relação a profissionais de Engenharia de Defesa. A
Abimde congrega cerca de 90 empresas de defesa, produzindo um
Produto Interno Bruto de R$ 5 bilhões anuais, com mão de obra de 20
mil operários.
O décimo primeiro capítulo apresenta uma reportagem do jornal
Folha Dirigida, que procura descrever uma trajetória de sucesso ao
longo dos anos. Além do pioneirismo, demonstra ser a excelência outra
característica da instituição, que mais uma vez obteve conceito “A” no
provão.
O décimo segundo capítulo trata de uma visão de futuro do IME.
Descreve que a evolução da tecnologia possibilitou ao homem dispor de
6 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

meios cada vez mais sofisticados para exercer o poder, explorando a força
física, o capital e, atualmente, o conhecimento. O engenheiro é o fazedor de
ferramentas modernas. Nesse contexto, a universidade durante a idade
do conhecimento e, em particular, a escola de Engenharia desempenham
função estratégica na formação do profissional responsável direto pela
produção tecnológica. A universidade deve estar preparada para formar
profissionais adequados a trabalhar nesse novo ambiente e, também,
deve realizar a pesquisa multidisciplinar característica da modernidade.
São discutidas estratégias para adaptação de uma escola de Engenharia
militar para enfrentar os desafios do binômio conhecimento-defesa.
Capítulo 1

Histórico do IME:
suas raízes e sua estrutura1
José Carlos Albano do Amarante2
Luiz Castelliano de Lucena3

Origens da Engenharia

A
defesa, caracterizada pelo escudo, existiu a partir da criação
da primeira arma, o porrete; sua construção, de fácil cópia,
constituiu provavelmente a primeira tecnologia de ataque gerada de
maneira absolutamente intuitiva, empírica. Desde a Idade da Pedra, o
conhecimento e a defesa sempre evoluíram paralelamente.
O primeiro engenheiro de que se tem notícia foi o egípcio Imhotep,
construtor da famosa pirâmide em Saqqärah, próximo a Menfis, em
2550 a.C. Os sucessores de Imhotep – egípcios, persas, gregos e romanos
– levaram a engenharia a grandes realizações na base de métodos
empíricos, ajudados pela aritmética, geometria e conhecimentos
superficiais da ciência física. Por sua vez, a engenharia militar é a mais
velha das capacitações técnicas, e os engenheiros militares foram os
primeiros soldados “científicos”.

O surgimento da Engenharia Militar e da Cartografia


No final da Idade Média, a construção de fortificações era a
atividade técnica militar mais importante, uma vez que nelas se baseava
a segurança dos núcleos sociais das cidades, vilas e sítios essenciais do
país. Com a invenção da pólvora, surgiram as armas de fogo. A fabricação
do mosquetão e do canhão passou a ser a nova atividade da engenharia
militar. O renascimento consagrou o emprego militar das armas de fogo,
8 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

ao testemunhar o rápido desenvolvimento de canhões e mosquetões,


repercutindo fortemente no projeto de edificações de defesa e na técnica
da guerra de sítio.
Além disso, o Renascimento produziu uma sucessão de
excepcionais engenheiros militares. O mais famoso foi o italiano
Leonardo da Vinci (1452-1519), que colocou seu privilegiado cérebro
a serviço da engenharia militar e introduziu avanços substantivos na
arte de fundir canhões, na técnica de escavação de fossos, no uso da
pólvora como propelente ou como explosivo, no projeto de guindastes
e de equipamentos de sítio, e outros.4 Da Vinci era tipicamente um
engenheiro “humanista”, capaz de empregar seu pragmatismo e sua
inteligência em defesa daqueles que com ele conviviam e utilizar a sua
sensibilidade humanística para expressar o belo, quando criou Mona
Lisa.
Ao longo dos séculos, os avanços tecnológicos provocaram
desequilíbrios entre forças combatentes. Nos tempos antigos, porém, a
vantagem resultante do uso de novo armamento podia ser desfeita com
relativa facilidade, considerando a simplicidade de sua construção e
operação. Desde que não houvesse grande diferença no estágio intelectual
dos contendores, a cópia do novo engenho não apresentava sérias
dificuldades. O equilíbrio tecnológico-militar era logo restabelecido, e a
sorte dos combates voltava a depender da capacidade do comando, da
combatividade da tropa e do apoio logístico.
Durante a Revolução Cultural, no século XIV, a descoberta da
pólvora e as armas de fogo foram avanços tecnológicos de difícil
absorção. Em consequência, provocaram desequilíbrio de forças e uma
redução drástica de polos de poder político-militar.5 A cópia era uma
tarefa praticamente impossível para muitos, dado que os conhecimentos
de metalurgia, química, mecânica e balística não estavam disponíveis a
todos.
Na época, a fortificação era a atividade técnico-militar mais
considerável, uma vez que nela se baseava a segurança dos núcleos
sociais das cidades, vilas e sítios. Como a artilharia anterior à pólvora era
centrada em catapultas, seus impactos eram pouco potentes. A melhor
concepção arquitetônica das fortalezas recomendava muros elevados,
sem preocupação com suas espessuras, para obstaculizar a trajetória
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 9

dos projéteis, sobretudo quando as tropas sitiantes aproximavam-se do


perímetro defendido.
Com a pólvora e as armas de fogo, o impacto dos projéteis
cresceu significativamente. Estes, além de atingir facilmente os muros
de silhuetas elevadas, tinham energia suficiente para abrir crateras e
facilitar a penetração dos atacantes. A concepção arquitetônica precisava
mudar, baixando a silhueta dos muros e aumentando suas espessuras
para agregar resistência aos impactos.
O Renascimento consagrou o emprego militar das armas de fogo
com o rápido desenvolvimento de canhões e mosquetões, repercutindo
nas operações militares, no projeto de edificações de defesa e na técnica
da guerra de sítio.
Depois da Revolução Cultural (1100-1450), o uso da pólvora
emprestou relevância a duas atividades de engenharia, imprimindo
mudanças na arte militar de combate: a artilharia e a fortificação.
Os combates podiam ocorrer para dominar uma praça, a guerra
de sítio ou vencer, em campo aberto, a guerra de campanha. Esses tipos
de embates, durante a Revolução Científica (1450-1750), propiciaram
à engenharia militar inestimável campo de provas para a evolução das
engenharias de armamento e de fortificação e, consequentemente, da
doutrina militar.
O cenário da Revolução Científica emprestou ambiência ao
surgimento da Engenharia Militar com base na trajetória de projéteis e na
construção de fortalezas, com o apoio da cartografia e da metalurgia. Os
fundamentos iniciais da Balística foram estabelecidos pelo matemático
italiano Niccolò Tartaglia, publicado em Nova Scientia (1537) e em
Quesitos e Invenções Diversas (1554). Na França, entre os séculos XVII
e XVIII, a fortificação experimentou enormes progressos. Sébastien le
Prestre de Vauban (1633-1707) revolucionou o projeto de fortalezas
refazendo, durante 40 anos (1667-1707), o sistema defensivo de 300
cidades.6
A Revolução Científica, em sentido amplo, e as contribuições
específicas de Galileu, Newton e Descartes foram decisivas para o
progresso dos conhecimentos aplicáveis na fortificação e artilharia. As
atividades da fortificação e da artilharia revestiam-se cada vez mais de
caráter científico. Esse aspecto, aliado à necessidade de realizar obras
10 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

públicas e de defesa sólidas e econômicas, levou ao estabelecimento de


corpos especializados de engenharia nos exércitos e à diplomação de
engenheiros militares, formalizando a Engenharia Militar.
A França deu o primeiro passo em 1716 e instituiu o Corpo de
Engenheiros do Exército; em 1747, inaugurou a École Nationale des
Ponts et Chaussées, primeira escola de engenharia do mundo; em 1749,
a Escola de Engenharia Militar, de Mezières, também a primeira do
mundo nesse gênero.7
Portugal instituiu o Real Corpo de Engenheiros em 1763, quando,
por orientação do Marquês de Pombal, o Conde de Lippe promoveu
a reorganização do exército português. Outra medida estrutural foi
a fundação, em 1790, da Academia Real de Fortificação, Artilharia
e Desenho, para graduar engenheiros militares e formar oficiais
combatentes.
No Rio de Janeiro, a Real Academia de Artilharia, Fortificação
e Desenho foi criada em 1792. Era a época do despertar da guerra
moderna, onde o binômio fortificação-artilharia passou a governar, no
campo científico, a evolução da arte da guerra. Para isso, foi decisivo o
rei prussiano Frederico, o Grande (1740-86), o qual, do ponto de vista
operacional, introduziu inovações que revolucionaram as organizações
militares e a doutrina de guerra no mundo ocidental.8
A evolução do binômio fortificação-artilharia foi apoiada na
cartografia. O homem começou a expressar seus conhecimentos
geográficos, mediante mapas, muito antes do aparecimento da escrita.
Segundo uma definição geral, a cartografia constitui-se na ciência, na
técnica e na arte de representar, graficamente, o conhecimento humano
sobre a superfície da Terra por meio de mapas, cartas geográficas e
plantas.
No final do século XIII, ou no início do século XIV, surgiram as
“cartas-portulanos”, desenhadas em pele de carneiro, em apoio às
navegações no Mediterrâneo e ao longo da costa ocidental da Europa.
Reservadas aos navegantes e armadores, essas cartas não obedeciam a
nenhum critério de projeção, mas já definiam rumos e delineavam as
costas marítimas com extraordinária precisão.
Acompanhando o movimento intelectual do final da Revolução
Cultural (1100-1450) e a Revolução Científica (1450-1750), a cartografia
experimentou forte desenvolvimento, estimulada pela redescoberta da
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 11

“Geografia” de Ptolomeu, pela reinvenção da imprensa, por Gutenberg,


em 1455, e pelos descobrimentos marítimos.
Os descobrimentos portugueses foram, de início, registrados em
mapas estrangeiros, especialmente italianos e alemães. Pouco a pouco,
os lusos passaram a produzir as próprias cartas. A extensa obra da
Cartografia Renascentista Portuguesa foi registrada na extraordinária
publicação Portugalie Monumenta Cartograpica, de Armando Cortesão
e Avelino Teixeira da Mota. O livro de 1960 foi elaborado a pedido do
governo português para comemorar os 500 anos do falecimento do
Infante D. Henrique, reunindo cartas náuticas portuguesas existentes
no Mundo.9
O cartógrafo náutico, matemático, astrônomo português Pedro
Nunes (1492-1577) escreveu Tratado sobre a Esfera (1537) e deu início
à moderna cartografia. O cartógrafo flamengo Gerardus Mercator (1512-
94) contribuiu para a cartografia ao criar um mapa que, posteriormente,
ficou conhecido como “Projeção Mercator”, na qual os meridianos eram
desenhados em linhas paralelas, diretas e espaçadas, para produzir, a
qualquer ponto, uma relação precisa de latitude para longitude.
No século XVII, foi expressiva a produção cartográfica portuguesa,
na qual se destacaram dois geógrafos homônimos, João Teixeira
Albernaz, avô e neto. Não há notícia sobre a vinda deles ao Brasil, mas
eles conheceram mais e melhor a geografia brasileira do que qualquer
outro engenheiro militar português.
A base moderna da ciência cartográfica deu-se com Jean-Dominique
Cassini, francês que, em 1682, elaborou novo mapa do mundo ao
introduzir os conceitos de latitudes e longitudes. Cartógrafos, geógrafos,
cosmógrafos, navegadores, engenheiros militares e agrimensores
europeus produziram, entre os séculos XVI e XVIII, milhares de plantas,
mapas e cartas hidrográficas referentes ao continente americano. Neles
são salientados os tipos de organização administrativa das diversas
colônias estrangeiras, a disseminação do povoamento e o surgimento
de cidades, vilas, povoados e missões religiosas, a abertura de estradas
e caminhos, o desenvolvimento das atividades econômicas, sociais e
políticas e a construção e melhoramento do sistema defensivo.10
A engenharia militar, calcada no binômio fortificação-artilharia,
apoiada na cartografia e na técnica metalúrgica, despertou durante a
12 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Revolução Científica (1450-1750). Tanto a engenharia militar quanto o


ensino superior regular em engenharia brotou no meio militar, como
resposta às necessidades de defesa.

O ensino de Engenharia Militar em Portugal


Com as conquistas ultramarinas, a demanda de engenheiros
cresceu. Urgia uma política para formação de mão de obra técnica no
interior de Portugal.11 O primeiro passo foi dado em 1594, quando o
rei Felipe II (1580-98) criou a Aula do Risco (risco é projeto de uma
construção, especialmente o desenho de sua forma característica e
visível) dos Paços da Ribeira, em Lisboa, dirigida pelo italiano Felippo
Terzi, a primeira do gênero em Portugal, tomando a si o encargo
de formar engenheiros militares. Nessa nova escola, ainda foram
empregados lentes (como eram chamados os professores) estrangeiros
e livros-texto traduzidos.
Mesmo assim, no fim do século XVI, em 1598, Luiz Mendes de
Vasconcelos publicou o primeiro tomo – tratando de Organização e
Tática – de uma trilogia que varreria o conhecimento militar vigente,
nas seguintes partes: Organização e Tática; Castrametação e Engenharia
(Arquitetura Militar). A castrametação era a preparação do campo
militar para exercícios de adestramento ou para acampamento de
guerra. Note-se que, naquela época, a Arte Militar, título do livro, utilizava
um terço de conhecimento sobre como fazer o combate e dois terços de
conhecimentos técnicos, relacionados com a preparação para este.
O segundo passo era empregar lentes portugueses – lecionando
com livros portugueses – em escolas governamentais. No decorrer do
século XVII, D. João IV (1640-56), com visão estratégica, criou duas
escolas quase simultaneamente. Em 1641, logo depois da Restauração,
também nos Paços da Ribeira, foi criada a Aula de Artilharia e Esquadria,
em substituição à Aula do Risco, surgindo, pela primeira vez, o ensino
militar superior em Portugal. Essa escola, seis anos mais tarde, em
1647, deu vez à Aula de Fortificação e Arquitetura Militar, regida pelo
engenheiro militar tenente-general Luís Serrão Pimentel, que também
foi o lente fundador da anterior. Suas instalações foram transferidas
para o Paço da Ribeira das Naus, e mais tarde designada por Academia
Militar da Corte.
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 13

Seguindo o pensamento de Vauban, Serrão Pimentel, em 1680,


publicou o Método Lusitânico de Desenhar Fortificações de Praças
Regulares ou Irregulares, que se tornou em livro-texto do ensino de
engenharia em Portugal e no Brasil.
A partir da segunda metade do século XVII, foi identificada a grande
afinidade entre a arte de fortificar e a arte de artilhar (dotar de meios
de artilharia). A consequência foi que as Aulas passaram a ser Aulas de
Fortificação e Artilharia e formava engenheiros com conhecimentos nos
dois campos.
O início do século XVIII presenciou forte evolução no ensino da
engenharia em Portugal, ponteada por Manoel de Azevedo Fortes,
autor de uma das primeiras obras para a formação de engenheiros
portugueses, o clássico O Engenheiro Português, em 1729, que prestou
grandes serviços a Portugal, sobretudo em projetos e construções de
fortificações e colaborou também nos trabalhos de defesa do Brasil
Colônia. Regeu a Cadeira de Filosofia na Universidade de Siena durante
seis anos e retornou a Portugal, onde serviu de 1695 a 1701 como lente
de matemática na Aula Militar de Fortificação. Em 1720, foi nomeado
engenheiro-mor do Reino.
Azevedo Fortes, secundado pelos chamados “padres matemáticos”,
deu prestígio e padrão elevado à engenharia quando a profissão absorvia
os preceitos filosóficos da Revolução Científica (1662) e aproximava-se
da Revolução Industrial (1750). Como engenheiro-mor do Reino, ele
imprimiu caráter nitidamente científico à engenharia e à cartografia.
Um decreto de 1732 criou academias militares nas praças de Elvas e
Almeida, além das existentes em Lisboa e Viana, nas quais se ensinava
fortificação, castrametação, topografia, cartografia, artilharia, estratégia
e tática.
A guerra, no século XVIII, tornara-se mais técnica e complexa. Os
oficiais de infantaria e cavalaria precisavam de melhor preparação: além
da usual bravura, careceriam de conhecimento. Em 1761, foi criado o
Real Colégio dos Nobres, com esse encargo. Por toda a Europa, emergiam
nessa época academias militares. Em Portugal, D. Maria I criou, em
1790, a Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho, que até
1837 formaria oficiais destinados à artilharia, engenharia, infantaria e
cavalaria. Na sua formação superior, o engenheiro era um politécnico,
14 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

uma vez que auferia conhecimentos de ciências exatas, aliados a


conhecimentos de fortificação, castrametação, topografia, cartografia,
artilharia, arquitetura, estratégia e tática.

O ensino de Engenharia Militar no Brasil Colônia


O imenso Brasil foi um peso nas costas do pequeno Portugal. Havia
uma demanda enorme para a construção de uma nação que o reino
precisava suprir. Uma solução seria dar meios aos brasileiros nativos
que desejassem aprender engenharia na Colônia. E nasceu a ideia de
formar engenheiros no Brasil...

Primórdios
A história do Instituto Militar de Engenharia coincide, de certo
modo, com a história do ensino militar e a história do ensino da
engenharia no Brasil.
As primeiras notícias sobre ensino de engenharia militar
remontam ao holandês Miguel Timermans, “engenheiro do fogo”, que
teria estado no Brasil “encarregado de formar discípulos aptos para os
trabalhos de fortificações”. Na realidade, D. João IV (1640-56), inspirado
pelo sucesso das Aulas recém-criadas em Portugal, atribuiu a missão
a Miguel Timermans, que aqui permaneceu três anos (1648-50).12 Os
resultados de seu trabalho não são conhecidos, e é provável que tenha
ocorrido um insucesso nessa ambiciosa missão.
Foi necessário meio século para a ocorrência de nova tentativa
para o início do ensino de artilharia e de engenharia em solo brasileiro.
A educação técnica no Brasil deu os primeiros passos comprovados há
cerca de 300 anos. Buscando as mais antigas origens, encontraremos a
primeira intenção de se fazer uma escola de Engenharia no texto da Carta
Régia de 15 de janeiro de 1699, do rei de Portugal, na qual manifestava o
seu desejo de criar, no Brasil Colônia, um Curso de Formação de soldados
técnicos na arte de construção de fortificação.
O intuito era promover a defesa da Colônia dos ataques de outras
nações e prover recursos humanos para o desenvolvimento colonial.
Foi instituída, então, em 1699, a Aula de Fortificação, a cargo do capitão
engenheiro Gregório Gomes Henriques, enviado ao Brasil em janeiro de
1694 para dar aulas aos condestáveis (comandante de força ou chefe de
artilheiros) e aos artilheiros do Rio de Janeiro.
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 15

Em seguida, outras iniciativas semelhantes geraram Aulas em


Salvador, em Recife e no Maranhão, nas primeiras décadas do século
XVIII. Pela Carta Régia de 1699,13 D. Pedro II decidiu descentralizar a
formação de engenheiros que, até então, tinha lugar apenas na Aula de
Fortificação da Corte e começou por seus domínios não europeus. Para
o efeito ser atingido, dirigiu uma carta a cada um dos governadores dos
estados ou capitanias, em que havia um engenheiro, e determinou o
estabelecimento de uma aula em que ele pudesse ensinar a fortificar,
formando novos engenheiros, o que evitaria demoras e despesas na
substituição dos que morriam.
A medida não teria sido aplicada ao Pará, porque o engenheiro ali
existente, João Velho de Azevedo, tinha sido mandado seguir para o Rio
de Janeiro, a fim de desempenhar as funções confiadas ao prisioneiro,
e isso não teria cumprido por ter passado a substituir o governador na
sua ausência.14
Artilheiros e engenheiros tinham em comum o interesse
pela fortificação, pela defesa e ataque e, de forma especial, pelos
conhecimentos matemáticos. A sua formação era muito semelhante,
dado que existiam engenheiros lecionando conhecimentos de artilharia
e lentes artilheiros ensinando engenharia.
Em 1738, foi criada a Aula de Artilharia, mediante a ampliação
daquela de 1699, no Rio de Janeiro, cuja responsabilidade foi atribuída
ao sargento-mor José Fernandes Pinto Alpoim. Esse oficial construiu,
entre outras obras, os palácios dos governadores do Rio de Janeiro, na
Praça XV, e de Minas Gerais, em Ouro Preto.
Como material didático de suporte às aulas foi utilizado o livro
Método Lusitânico de Desenhar as Fortificações das Praças Regulares e
Irregulares, de autoria de tenente-general Luís Serrão Pimentel, editado
em 1680. Um exemplar dessa obra encontra-se na biblioteca do IME.
Ele evidencia o excelente nível de conhecimento da engenharia militar
portuguesa no final do século XVII e foi a base documental para o ensino
formal de engenharia em Portugal e no Brasil.
Em Carta de 18 de setembro de 1774, enviada de Portugal ao
Marquês de Lavradio – vice-rei em exercício –, são dados informes
sobre o acréscimo da cadeira de Arquitetura Militar à Aula de Artilharia,
passando à denominação de Aula Militar do Regimento de Artilharia.
Esta é considerada por Pirassununga (O Ensino Militar no Brasil Colônia)
16 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

como “o marco inicial da formação de Engenheiros Militares no Brasil”.


Essa Aula Militar tinha a finalidade dupla de “preparar artilheiros e de
formar oficiais técnicos na Engenharia Militar, que constituirão o futuro
Corpo de Engenheiros, de gloriosa tradição por relevantes serviços,
como o provam as magníficas obras ainda hoje de pé existentes no
interior do país”.

A Aula do Rio de Janeiro


O insucesso inicial na Aula do Rio de Janeiro inibiu por longo
tempo novas iniciativas nessa capitania.15
A chegada do engenheiro Gomes Freire de Andrade, o Conde
de Bobadela, para governar a capitania, em 1733, trouxe ares de
modernidade e cuidados com as obras defensivas da urbe carioca.
Em 1738, o rei determinou a instituição, no recém-criado Terço de
Artilharia, de uma aula em que “oficiais e soldados aprendessem a teoria
da Artilharia e do uso de fogos artificiais”.16 A Carta Régia estipulava
que todos os oficiais fossem obrigados a assistir às aulas, “ao menos
por tempo de cinco anos, e faltando a elas serão castigados”. O curso
constituiu-se em requisito obrigatório para a promoção dos oficiais.
Para ressaltar a seriedade do curso, foi nomeado para a Aula do Rio de
Janeiro o sargento-mor (como era chamado naquela época o major) José
Fernandes Pinto Alpoim,17 cujas obras, no domínio da arquitetura civil,
já eram bem conhecidas.
Em 1774, o tenente-coronel engenheiro Antônio Joaquim de
Oliveira foi nomeado lente da Aula de Artilharia do Rio de Janeiro, com
a obrigação de ensinar igualmente arquitetura militar. A ampliação
implicou nova mudança de denominação – Aula Militar de Regimento
de Artilharia – e no atendimento de duas finalidades: formar artilheiros
e preparar oficiais técnicos de engenharia.

A Aula da Bahia
Por outro lado, na Bahia, sede do Governo Geral, o ensino de
Engenharia logo se firmou. Tudo começou em 1696, antes mesmo da
Carta Régia de 1699, quando o governador ordenou ao capitão José
Pais Estevens “... venha todos os dias ... a ensinar aos oficiais e soldados
e mais pessoas que quiserem aprender e dar lição de castrametação
e de fortificação...”!18 Os resultados desse esforço apareceram com a
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 17

nomeação dos primeiros engenheiros formados no Brasil, na Aula da


Bahia: João Batista Barreto (1715), Gonçalo Cunha Lima (1715), Antônio
Brito Gramacho (1720) e João Teixeira de Araújo (1725).19
Em 1761, José Antônio Caldas formou-se engenheiro e, promovido
a capitão, foi incumbido de lecionar na Aula Militar da Bahia. Caldas
formou, nos 10 primeiros anos de ensino, 48 discípulos, destes um
capitão engenheiro, dois ajudantes engenheiros, 22 artilheiros, oito
oficiais de infantaria, 11 auxiliares promovidos a vários postos, até
sargento-mor, e quatro oficiais que trabalhavam em “tribunais”20 – no
Erário, em Armazéns e na Alfândega.

As Aulas de Pernambuco e Maranhão


João de Macedo Corte Real, promovido em 1707 a sargento-mor
engenheiro, da Capitania de Pernambuco, foi designado como lente da Aula
de Fortificação; executou numerosos trabalhos, ganhando notoriedade,
e já contava com 12 anos de serviços, quando foi promovido a tenente-
general de Artilharia, recompensa conferida por suas realizações. Seu
substituto na Aula de Pernambuco foi Diogo Silveira Veloso, que, de
1730 a 1749, publicou várias obras sobre Matemática e um Tratado
de Arquitetura Militar ou Fortificação, escritos como tenente mestre
de campo general, com exercício de engenheiro. Projetou e construiu
fortificações na Ilha de Fernando de Noronha, além de preparar plantas
para a vila de Recife.21
No Maranhão, Custódio Pereira foi nomeado capitão engenheiro,
por possuir “grande conhecimento e prática no manejo dos esquadrões”.
Projetou fortificações no Pará, mas parou de lecionar antes de 1719,
contraindo doença que o vitimou.

A Casa do Trem (1762)


Por outro lado, os primeiros trabalhos sobre ciência e tecnologia
no Exército ocorrem com a instalação da Casa do Trem de Artilharia, em
1762.
A Casa do Trem pode ser vista como a coluna vertebral da
estruturação administrativa do Exército Brasileiro. Dela nasceu o
cérebro, representado pela estrutura do ensino militar. Dela cresceu,
por um lado, forte e vigorosa, a perna da engenharia militar e, por outro
lado, deu origem à competente e atuante intendência militar. As duas
18 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

pernas estão dando suporte e movimento à atual logística militar. De


outro modo, parcela do braço armado do Exército também teve por
incubadora a Casa do Trem. Todos esses aspectos vão ser sinalizados ao
longo deste capítulo.

A Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho foi a primeira


escola militar a ser criada nas Américas e terceira no mundo

A carência de quartéis prolongava-se até o século XVIII, no Rio de


Janeiro. Os choques com os espanhóis ocorridos nas províncias do sul e
as tentativas de invasão pelos franceses ressaltaram a necessidade de
uma defesa mais forte na área do Rio de Janeiro. As pressões e contendas
militares mais ao sul da Colônia sinalizavam que era preciso criar uma
oficina para a fabricação, o reparo e a manutenção de meios militares.
A situação requeria a instalação de uma instituição forte e em posição
adequada. Ao fazer construir a Casa do Trem, no Rio de Janeiro, o vice-
rei Gomes Freire de Andrade, o Conde de Bobadela, demonstrou possuir
larga visão estratégica.
Dois anos depois, em 1764, o Conde da Cunha transformou a Casa
do Trem em Arsenal do Trem com a construção do prédio, na antiga
Ponta do Calabouço, que abrigou no século passado o Arsenal de Guerra
da Corte e que, desde 1922, é a sede do Museu Histórico Nacional.
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 19

A Academia Real de Artilharia, Fortificação e Desenho (1792)


Em 1792, foi criada a Real Academia de Artilharia, Fortificação e
Desenho, conforme estatutos aprovados pelo vice-rei José Luiz de Castro.
De acordo com o Conde de Rezende, “querendo melhorar a instrução
ministrada à mocidade que tenha a honra de servir à Sua Majestade”.22
Destinada aos oficiais e soldados das organizações militares do Rio, a Real
Academia constituiu-se em uma ampliação da Aula Militar, recebendo
maior quantidade de alunos, além de uma ampliação curricular. Por essa
razão, provavelmente, a Real Academia passou a funcionar na Casa do
Trem, próxima ao Regimento de Artilharia e mais adequada às práticas
pedagógicas. Os filhos do Conde de Rezende frequentariam essa aula:
não havia no Rio de Janeiro daquela época escola melhor.23
O modelo de aula transferido do século XVIII para o Brasil foi o da
Aula de Fortificação e Arquitetura Militar, depois denominada Academia
Militar da Corte, na qual um engenheiro ou um artilheiro qualificado
ensinava todas as matérias.24 Em Lisboa, o lente era politécnico e tinha
um substituto, o que nem sempre sucedia nas capitanias.25
A evolução da já citada Aula Militar do Regimento de Artilharia,
aliada ao progresso do ensino de engenharia militar em Portugal,
possibilitou a criação, em 17 de dezembro de 1792, da Real Academia
de Artilharia, Fortificação e Desenho – considerada a Raiz Histórica do
Instituto Militar de Engenharia (IME), com o propósito de formar oficiais
de todas as Armas e engenheiros para o Brasil Colônia.
A Academia Real só contava com seis professores, dois lentes e
quatro substitutos. Nela, os oficiais destinados à Infantaria e à Cavalaria
cursavam três anos; os artilheiros, cinco anos. E os destinados à
Engenharia, seis anos, no último dos quais eram lecionadas cadeiras
de Arquitetura Civil, Materiais de Construção, Caminhos e Calçadas,
Hidráulica, Pontes, Canais, Diques e Comportas.
Foi a primeira escola de Engenharia das Américas e a terceira do
mundo. Observe-se que a Academia Real, fundada por D. Maria I, estava
capacitada tanto a graduar engenheiros militares quanto a formar
oficiais combatentes.
Cabe aqui importante observação. Desde o século XVIII até o
início do século XX, nos cursos de formação de oficial, o artilheiro era
na realidade o engenheiro-artilheiro, formado para projetar, fabricar e
20 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

operar o armamento. Ele era, pois, com os engenheiros, um misto de


oficial técnico-operacional.

As publicações e o ensino
No final do século XVII, a obra Método Lusitânico de Desenhar
Fortificações e as lições não editadas sobre ataque e defesa das
praças do engenheiro-mor e lente da Academia Militar da Corte, Luís
Serrão Pimentel, constituíam o essencial do programa de formação
do engenheiro. Para além das regras práticas sobre o desenho das
fortificações e dos seus diversos elementos, incluía noções de geometria,
aritmética decimal e trigonometria. A partir de 1713, os engenheiros
passaram a contar com a tradução portuguesa do livro de Pfeffinger
Fortificação Moderna, resumindo o que havia sido escrito nos países
europeus mais avançados no assunto.
Em 1728 e 1729, Manuel de Azevedo Fortes, também engenheiro-
mor e lente, publicou dois tomos do seu O Engenheiro Português,
passados em apostila na Academia Militar da Corte. O primeiro
compreendia a Geometria Prática sobre o papel e sobre o terreno, o uso
dos instrumentos necessários aos engenheiros, o modo de desenhar e
dar aguadas às plantas militares e à Trigonometria Retilínea. O segundo
tratava da Fortificação Regular e Irregular, do Ataque e Defesa das
Praças e do uso das armas de guerra, incluindo as noções essenciais da
Artilharia. Azevedo Fortes tinha já publicado, anteriormente, um livro
sobre elaboração de cartas geográficas.
O sargento-mor José Fernandes Pinto Alpoim produziu as
primeiras obras didáticas de ensino superior no Brasil. Como lente da
Aula Militar do Rio de Janeiro, publicou O Exame de Artilheiros (1744)
e O Exame de Bombeiros (1748), obras que incluíam os conhecimentos
matemáticos necessários à Artilharia.26
O ensino na Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho
evoluíra para o modelo moderno de um lente por matéria. Para um curso
acadêmico com duração de seis anos, ela contava com o comandante do
quartel do Regimento de Artilharia – que ao mesmo tempo era o lente
– para os cinco primeiros anos do curso e com outro para o último ano,
correspondente à engenharia civil. Além desses professores, a Real
Academia oferecia diversas cadeiras com lentes específicos para cada
uma.
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 21

Manuel Cardoso Saldanha, professor da Aula de Fortificação da


Bahia de 1750 a 1761, referindo a seu sucessor atestaria:

José Antônio Caldas assistiu, ouviu e escreveu os tratados de


Geometria Especulativa, Trigonometria, Geometria Prática,
Fortificação, Artilharia, Arte de Bombas, Fogos Artificiais e
Festivos, Castralogia, Expurgação e Propugnação de Praças,
Tática, Arquitetura Civil, Mecânica de Abóbadas, Hidráulica
e Álgebra, tratados de que se compõe o meu Curso de
Matemática, que ditei nesta praça da Bahia.27

Alargava-se o leque de matérias necessárias, como a Arquitetura


Civil, a Mecânica das Abóbadas e a Hidráulica e outras de natureza
militar.
Funcionando na Casa do Trem, a Real Academia tinha o “caráter
de um verdadeiro instituto de ensino superior, com organização
comparável aos congêneres da sua época”.28 Na realidade, desenvolvendo
prática de um instituto de ensino superior moderno, com um lente
para cada matéria, oferecia um curso de ciências exatas em seis anos,
com exercícios práticos de campo a partir do segundo ano destinado
à formação de oficiais de todas as Armas.29 Oficiais de Infantaria e de
Cavalaria realizavam apenas os três primeiros anos; os de Artilharia,
os cinco primeiros, e os de Engenharia o curso completo. O sexto ano
era dedicado à engenharia civil e incluído o estudo do corte de pedras e
madeiras, do orçamento de edifícios, dos materiais de sua composição,
dos melhores métodos para a construção de caminhos e calçadas
e também de hidráulica e de matérias como a arquitetura de pontes,
aquedutos, canais, diques e comportas.
A criação de um curso superior, em moldes modernos e sem
nenhuma experiência prévia, foi realizada por José de Oliveira Barbosa,
de início capitão de bombeiros, mais tarde governador e capitão-general
do Reino de Angola e notável personalidade do Brasil independente.
Em 1810, o Príncipe Regente assinou a Carta de Lei, que criou
a Academia Real Militar, de invulgar nível científico para a época,
destinado a formar oficiais de Engenharia e mesmo oficiais da classe de
engenheiros geógrafos e topógrafos para emprego na administração de
caminhos, portos, canais, pontes, fontes e calçadas.30
22 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Com o ensino naval assegurado pela Academia Real de Guardas-


Marinhas (1808) e com a criação da Academia Real Militar, preparava-
se o Brasil para a Independência, dotando-se de um ensino, atualizado,
sem paralelo nos restantes territórios americanos, que esteve na origem
de uma elite de grande projeção nacional.
A Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, criada
em 1792, foi pioneira no ensino superior no Brasil, constituindo-se
simultaneamente na raiz longínqua do Instituto Militar de Engenharia.
Antecedeu a Escola Politécnica, primogênita das escolas de engenharia
dirigida por civis e para civis, e a Academia Militar das Agulhas Negras.31
A Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, criada em 1792,
foi a terceira escola do gênero no mundo e a primeira das Américas. A
congênere norte-americana, a Academia Militar dos Estados Unidos,
localizada em West Point, data de 1802.32

Ensino superior militar de Engenharia e formação


A Real Academia foi acolhida precariamente nas instalações da
Casa do Trem. Mesmo assim, tudo começou bem na Casa do Trem, o
berço da engenharia no Brasil. A partir dali, a evolução foi positiva e
ocorreu tanto no campo do ensino quanto no campo executivo da ciência
e tecnologia.

Evolução do ensino superior militar


O modelo da Real Academia de 1792 inspirou, com sua estrutura
de ensino e suas instalações físicas, a instauração da Academia Real
Militar, em 23 de abril de 1811, criada por D. João VI, em Carta Régia de
4 de dezembro de 1810. A Real Academia funcionou, inicialmente, na
Casa do Trem até que ficassem prontas as novas instalações no Largo de
São Francisco, para onde se transferiu durante o mês de março de 1812.
Nesse período (1792 a 1812), a Real Academia proporcionou tanto o
curso de formação de oficiais das armas, quanto o curso de graduação
de engenheiros militares.

A Escola Central (1858)


Condicionada pela ambiência política, a Academia Real Militar
mudou de nome quatro vezes: Imperial Academia Militar, em 1822;
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 23

Academia Militar da Corte, em 1832; Escola Militar, em 1840; e Escola


Central, a partir de 1858. Ali se formavam não apenas oficiais do Exército,
mas, sobretudo, graduavam-se engenheiros – militares e civis –, pois
a Escola Central era a única escola de engenharia no Brasil. E assim
nasceu a engenharia no País. Foi no Rio de Janeiro. O civil e o militar
estudando na mesma sala, no mesmo curso. Daí vem a grande coesão
existente entre engenheiros civis e militares manifestada ao longo dos
séculos XIX e XX.

O prédio central do Largo de São Francisco acolheu, durante o Império,


inúmeras escolas de engenharia
Em 1855, a formação militar foi dividida em duas escolas
(10-Jehovah Motta). “Numa as matemáticas, as ciências físicas, o
estudo da Engenharia; na outra o regime militar rigoroso, a ordem
unida, o acampamento, o manejo das armas, a prática do tiro. Os alunos
frequentariam uma e outra escola, segundo modalidades que variavam
com as suas Armas.” A primeira era a Escola Central, implementada a
partir de 1858, e a segunda a Escola de Aplicação da Praia Vermelha. O
regime escolar foi o seguinte:
24 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

1) os alunos de Infantaria e de Cavalaria cursariam o primeiro


ano do Largo de São Francisco, para o estudo básico científico, e depois
cursariam o primeiro ano da Praia Vermelha.
2) os alunos de Artilharia e de Engenharia frequentariam ambas
as escolas na totalidade dos seus cursos.
No Regulamento de 1863, ocorreu outra reforma do ensino militar
que apontou para:
1) a concentração, na Escola Militar da Praia Vermelha, dos cursos
de Infantaria, Cavalaria e Artilharia.
2) a destinação da Escola Central para o estudo das matemáticas,
ciências físicas e naturais e “a completar a instrução teórica e prática dos alunos
que, após o curso da Escola Militar, obtiveram permissão para frequentar os
estudos complementares dos cursos de Estado-Maior e de engenheiros”.

A Escola Militar da Praia Vermelha  se notabilizou pela famigerada Revolta


da Vacina Obrigatória, ocorrida em 1904

Essa reforma marcou a criação de duas linhas de profissionalização


no seio do Exército (estado-maior e engenharia militar) e foi um primeiro
passo no processo que levaria a Escola Central a separar-se do Exército.
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 25

A Escola Politécnica (1874), a separação e as reformas do ensino


A reforma de 1874 (Decreto 5.529, de 17 de janeiro de 1874), que
veio depois da Guerra do Paraguai, resultou de duas decisões básicas:
1) liberar o Exército da formação de engenheiros para as atividades
civis;
2) centralizar em uma só escola os estudos militares, inclusive os
de engenharia militar e de estado-maior.
Assim, a Escola Central desligou-se das finalidades militares e
foi para a jurisdição da antiga Secretaria do Império, além de passar a
formar exclusivamente engenheiros civis. Naquele ano, a Escola Central
assumiu o nome de Escola Politécnica e tornou-se um estabelecimento
de ensino inteiramente civil, desvinculando-se assim, em definitivo, de
sua antiga origem militar.
Em consequência, enquanto a Escola Central era entregue à
Secretaria do Império, “a Escola Militar da Praia Vermelha passava a
acolher, além dos cursos de Infantaria, de Cavalaria e de Artilharia, os de
oficiais para os Corpos de Estado-Maior e de Engenheiros”.
Em março de 1889, pelo Decreto 10.203, de 9 de março de 1889, o
Governo baixa novas disposições sobre o ensino militar:

1) dispor de forma mais adequada o ‘ensino teórico’;


2) assegurar melhor sorte ao ‘ensino prático’.
Para serem alcançados esses objetivos, imaginou-se que
se deveria desdobrar os estudos, distribuindo-os em duas
escolas, ficando na Escola Militar da Praia Vermelha somente
o Curso de Infantaria e Cavalaria, e transferindo-se para um
novo estabelecimento, a Escola Superior de Guerra, os Cursos
de Artilharia, de Estado-Maior e de Engenharia Militar.

Essa escola, completamente diferente da homônima criada depois


da Segunda Guerra Mundial, duraria até 1898.
O artigo 251 do Decreto 330, de 12 de abril de 1890, declara
que a aprovação no Curso de Engenheiro-Militar dará direito à carta
de Engenheiro Civil e Militar, ratificada pelo Decreto 5.313, de 16 de
fevereiro de 1940. Essa característica é importante, e, até os dias de hoje,
os engenheiros militares podem exercer engenharia no meio militar e
no meio civil.
26 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

A Lei 463, de 25 de agosto de 1897, e o Decreto 2.881, de 18 de


abril de 1898, são os documentos básicos de nova reforma do ensino
militar calcada em:
1) retorno à regulamentação de 1874;
2) organização do ensino da Escola Militar da Praia Vermelha em
dois cursos – um curso geral, em três anos, para a formação de oficiais das
três Armas combatentes; e um curso especial, em dois anos, destinado
aos oficiais de Estado-Maior e aos engenheiros;
3) extinção da Escola Superior de Guerra.
As atividades na Escola Militar da Praia Vermelha desenrolaram-se
até a publicação do Decreto 5.525, de 14 de novembro de 1904, quando
a Escola foi fechada em razão da Revolta da Vacina Obrigatória.
O Decreto 5.698, de 2 de outubro de 1905, “aprovou os
regulamentos para os Institutos Militares de Ensino”.
Em 1906, iniciou-se a aplicação do Regulamento de 1905 com a
instalação da Escola de Guerra, em Porto Alegre, para a formação de
oficiais de Infantaria e Cavalaria, com um período de aplicação em Rio
Pardo.
Por outro lado, a Escola de Artilharia e Engenharia, no Realengo,
destinou-se aos estudos teóricos e práticos especiais para os artilheiros
e engenheiros, na qual seriam matriculados os aspirantes a oficial de
Artilharia e candidatos a engenheiro, formados pela Escola de Guerra.
Em seguida, os egressos da Escola do Realengo terminavam os estudos,
com aulas práticas e de laboratório, na Escola de Aplicação de Artilharia
e de Engenharia, no Curado de Santa Cruz.

Criação da Arma de Engenharia de Combate (1908)


Com a criação da Arma de Engenharia de Combate, em 4 de
janeiro de 1908, acelerou-se o processo de formar apenas o oficial da
arma combatente na Escola Militar, o que preparou o terreno para a
unificação da formação dos oficiais das Armas.
Assim, em 1913, a Escola Militar do Realengo unificou a formação
de oficiais das Armas. O Regulamento desse ano teve como diretrizes
especiais:
1) a redução do número de escolas de quatro para duas – uma
militar e outra prática, nas mesmas instalações em Realengo;
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 27

2) a redução do tempo de estudos para os artilheiros e os


engenheiros (estes já agora pertencentes à Arma de Engenharia de
Combate);
3) o ensino de assuntos “suficientes” à profissão militar.
Por ser mais complexa, a formação de artilheiros e engenheiros de
combate durava quatro anos, um ano a mais do que requeria a formação
de infantes e cavalarianos; a de oficiais do Serviço de Intendência em
escola à parte, até 1945, quando integrou os cursos na Escola Militar de
Resende.
Finalmente, em 1944, a formação de oficiais combatentes passou
a ser feita na Escola Militar de Resende, denominada, em 23 de abril
de 1951, Academia Militar das Agulhas Negras, hoje considerada como
uma das melhores escolas militares do mundo.

Evolução do ensino superior em Engenharia


Ramo civil
É chegada a hora de verificar como evoluiu o ensino superior civil
de engenharia, depois da separação com o ramo militar, ocorrida em
1874.
Na realidade, a preocupação com o ensino de engenharia a civis
remontava à implantação da Academia Real Militar. Segundo Jehovah
Motta:

D. Rodrigo Coutinho, o Conde de Linhares(?), concebeu


a Real Academia Militar como um instituto formador de
oficiais para o Exército e de engenheiros para a Colônia.
Era ele sensível às necessidades militares e, também, aos
reclamos dos serviços públicos civis. À sua visão surgiram
as imensas distâncias brasileiras pedindo estradas, os
largos rios exigindo pontes, o litoral reclamando portos.

Como consequência da concepção de D. Rodrigo Coutinho, o


Estatuto da Academia, de 1810, firmava como finalidades dessa escola:
1) Formar oficiais de Artilharia, oficiais engenheiros, inclusive
oficiais engenheiros geógrafos e topógrafos, aptos não só para os
misteres militares, como para a direção de trabalhos civis de minas,
estradas, portos e canais.;
28 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

2) Formar oficiais de Infantaria e Cavalaria.


Assim, a Academia e todas suas sucessoras até 1874 fizeram
conviver, nos mesmos bancos escolares, militares e civis compartilhando
as mesmas dificuldades e os mesmos ideais.
Segundo Silva Telles, o nome de engenheiro civil teria sido usado,
pela primeira vez, pelo engenheiro inglês John Smeaton – um dos
descobridores do cimento Portland – que assim se autodenominou em
fins do século XVIII para distinguir dos engenheiros militares.
Como foi dito no item anterior, até 1874 a única escola de engenharia
do País era a Escola Central, situada no Largo de São Francisco. Naquele
ano, a Escola Central assumiu o nome de Escola Politécnica e passou a
ser um estabelecimento de ensino inteiramente civil, desvinculando-se
assim, em definitivo, de sua antiga origem militar.
A Escola Politécnica, sucessora da Escola Central, atingiu o apogeu
de fama e prestígio pela competência e valor das realizações de seus
egressos. Em 1937, ela passou a denominar-se Escola Nacional de
Engenharia, posteriormente absorvida pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Em 1999, ocasião em que redigimos este artigo, como
uma consequência natural do processo evolutivo de crescimento da
engenharia, existiam 142 escolas dessa área no País.

Ramo militar
Por outro lado, a formação de engenheiros militares passou a ser
feita na Escola Militar da Praia Vermelha (1874 a 1904) e na Escola de
Artilharia e Engenharia do Realengo (1905 a 1912).
No período considerado de influência alemã e com a criação da
Arma de Engenharia, em 4 de janeiro de 1908, o Decreto 2.712, de
31 de dezembro de 1912, estabeleceu a concessão do certificado de
engenheiro militar aos alunos que concluíssem o curso da Escola de
Artilharia e Engenharia. Esse dispositivo permaneceu até 1918, quando
o novo regulamento da Escola Militar do Realengo deixou de prever tal
procedimento.

Escola de Engenharia Militar (1928)


Por outro, a Missão Militar Francesa, iniciada na década de
1920, inspirou a criação da Escola de Engenharia Militar, por meio do
Decreto nº 5.632, de 31 de dezembro de 1928, com o intuito de formar
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 29

engenheiros-artilheiros, engenheiros-eletrotécnicos, engenheiros-quí-


micos e engenheiros de construção. A Escola de Engenharia Militar
começou a funcionar em 1930, na rua Pinto de Figueiredo (à época,
no bairro do Andaraí), em uma das dependências da então Escola de
Estado-Maior do Exército, no quartel atualmente ocupado pelo 1º
Batalhão de Polícia do Exército, com a frente voltada para a rua Barão
de Mesquita. O primeiro comandante da Escola de Engenharia Militar,
general de brigada José Vitoriano Aranha da Silva, assumiu o Comando
em 11 de agosto do mesmo ano.
Em 21 de agosto do mesmo ano, houve a apresentação da primeira
turma de alunos matriculados na Escola, nos Cursos de Construção,
de Eletricidade, de Técnico de Artilharia e de Química. As aulas, em
consequência da falta de instalações adequadas em sua sede, passaram
a ser dadas na Escola Politécnica, no Largo de São Francisco.
Por ordem do Governo Provisório, em 14 de abril de 1932, foi
suspenso o funcionamento dos Cursos da Escola de Engenharia Militar
e com aproveitamento de todos os oficiais alunos na tropa e em serviços
técnicos. Foram reiniciados, em 1º de junho de 1933, somente os Cursos
de Construção e de Eletricidade, ministrados ainda na Escola Politécnica.

Escola Técnica do Exército (1934)


Em 21 de dezembro de 1933, pelo Decreto nº 23.625, a Escola de
Engenharia Militar passou a ter a denominação de Escola Técnica do
Exército, o que entrou em vigor a partir de 1º de janeiro de 1934.
Pelo Aviso 88, de 31 de janeiro desse ano, foi autorizada a
frequência de alunos, dos seguintes cursos: de Construção (12);
de Armamento (12); de Química (3) e de Eletricidade (3). É de se
salientar que até essa época os egressos do ramo de armamento eram
chamados de engenheiros-artilheiros. A partir de então, passaram a ser
cognominados de engenheiros de armamento.
Normas de funcionamento da Escola Técnica do Exército, em 13
de março de 1934, preconizavam que as aulas teóricas seriam na Escola
Politécnica; as práticas, nas Fábricas, nos Arsenais e nas Fortificações.
Em 7 de maio de 1934, foram contratados professores da Escola
Politécnica –em número de 14 – para lecionarem na Escola Técnica do
Exército, que permanecia na rua Pinto de Figueiredo. No decorrer do
ano de 1935, algumas aulas do 3º ano dos Cursos de Armamento e de
30 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Fortificações passaram a ser ministradas na Escola Técnica do Exército.


No ano seguinte, foram contratados oficialmente em 10 de julho, para
que lecionassem na Escola Técnica do Exército, durante aquele ano
letivo – e a contar de 2 de maio –, 16 professores, dos quais 14 eram
civis e 2 oficiais da Marinha.
A Lei nº 189, de 16 de janeiro de 1936, e o Decreto nº 641, de
14 de fevereiro de 1936, denominam de Engenheiro Industrial e de
Armamento o Curso de Armamento da Escola Técnica do Exército.
Em 8 de maio de 1937, a Escola Técnica do Exército foi transferida
para a rua Moncorvo Filho, nº 38, no Centro, junto à Policlínica Central
do Exército.
Em 21 de junho de 1938, foi lançada a pedra fundamental do
novo edifício da Escola Técnica do Exército, na Praia Vermelha, nos
terrenos do antigo 3º Regimento de Infantaria, cujo prédio foi destruído
por ocasião da Intentona Comunista, em novembro de 1935. Em 2 de
março de 1942, a Escola Técnica do Exército foi transferida para a Praia
Vermelha, à praça General Tibúrcio, nº 80, com o término da construção
do edifício, coincidindo com a inauguração oficial e início das atividades
escolares.
O Curso de Engenheiro Aeronáutico, autorizado pelo Aviso
Ministerial de14 de janeiro de 1939, para começar em março do mesmo
ano, pertencia à Escola Técnica do Exército e iniciou com o Curso de
Preparação até a criação da Escola Técnica de Aviação. O Curso de
Engenheiro Aeronáutico funcionou na EsTE até 23 janeiro de 1950,
com a colação de grau de três engenheiros aeronáuticos. Em 14 de
março desse ano, o exame para o Curso de Preparação para Engenheiro
Aeronáutico foi transferido da Escola Técnica do Exército – berço
histórico do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) –, para se
realizar em São José dos Campos-SP, por já se encontrarem as obras em
adiantado estágio de construção. O ITA é filho da EsTE.
O Decreto nº 3.771, de 28 de fevereiro de 1939, criou o
Curso de Engenheiro de Transmissões (atualmente, Engenheiro de
Comunicações). O Aviso 313, de 10 de abril de 1939, equiparou o Curso
de Engenheiro Metalurgista do Conservatoire des Arts et Métiers de Paris
ao curso correspondente na Escola Técnica do Exército, criado em 9 de
março de 1938.
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 31

A Escola de Geógrafos do Exército, que atuava desde 1934 na Escola


Politécnica, no Largo de São Francisco, passou a funcionar, por meio do
Decreto-lei nº 3.055, de 14 de fevereiro de 1941, na Escola Técnica do
Exército com o nome de Curso de Geodésia e Topografia. Atualmente é o
Curso de Engenharia Cartográfica.
Pelo Aviso 226, de 3 de março de 1947, foi criado, na Escola Técnica
do Exército, o Curso de Engenharia Industrial e de Automóvel.

Instituto Militar de Tecnologia (1949)


Depois da Segunda Guerra Mundial e já sob a influência norte-
americana, foi criado o Instituto Militar de Tecnologia (IMT), em 8 de
abril de 1949, pela Portaria Ministerial nº 64, com funcionamento em
dependência contígua à da Escola Técnica do Exército. Iniciavam-se,
então, programas de estudo, de pesquisa e de controle de materiais
para a indústria. Essa foi a primeira atividade organizada de pesquisa e
desenvolvimento ocorrida no Exército.
Pela Portaria 414, de 28 de dezembro de 1952, foi criado o Curso
de Engenharia Eletrônica.
Antevendo as futuras necessidades do País, no setor nuclear, a
Escola Técnica do Exército iniciou, em 1958, um curso de pós-graduação
lato sensu em Engenharia Nuclear – o primeiro no Brasil.

Instituto Militar de Engenharia (1959)


Da fusão da Escola Técnica do Exército com o Instituto Militar de
Tecnologia, em 4 de novembro de 1959, pela Lei nº 3.654, em seu Art. 6º,
nasceu o atual Instituto Militar de Engenharia (IME).
Em 1964, o IME passou a admitir, também, a entrada de jovens de
procedência civil, sem que deles fosse exigido qualquer compromisso para
com o serviço do Exército, senão o de receber, durante a aprendizagem,
a formação básica indispensável à orientação da qualificação de oficial
da reserva, mediante instrução militar, ministrada no próprio Instituto.

Programa de pós-graduação ‘stricto sensu’ (1969)


Em 1969, o IME iniciou o programa de pós-graduação stricto
sensu em Química e em Engenharia Nuclear, em nível de mestrado,
acompanhando a tendência do ensino superior no País.
32 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Em 1959, o IME nasce da fusão da Escola Técnica do Exército com o


Instituto Militar de Tecnologia. Até 1971, quando foi criado o Instituto de
Pesquisa e Desenvolvimento, o IME liderou as pesquisas

Em 1975, a instrução militar comum passou a ser ministrada


durante os cinco anos de duração do Curso de Graduação, de acordo
com as normas do Departamento de Ensino e Pesquisa.

Quadro de Engenheiros Militares-QEM (1988)


Em 1988, iniciou-se a nova sistemática de formação de oficiais
da ativa do Quadro de Engenheiros Militares (QEM). Os alunos
matriculados no Curso de Formação e Graduação do IME eram também
matriculados no Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR),
com a duração de quatro anos. A seguir, eram declarados aspirantes
a oficial R/2 do Quadro de Material Bélico, promovidos a primeiro-
tenente e matriculados no Centro de Formação de Engenheiros Militares
(CFOEM) e no 5º ano de Engenharia.
Em outubro de 1995, o ministro do Exército baixou diretriz com a
finalidade de reestruturar a carreira de oficial do QEM, o que trouxe, em
seu bojo, relevantes modificações.
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 33

O ano de 1997 marcou o início da participação feminina, para


concludentes do segundo grau e para engenheiras formadas. O acesso
aos cursos oferecidos pelo IME é realizado em absoluta igualdade de
condições com as dos homens. Não havendo, em ambos os casos,
limitações de vagas para cada sexo.
O IME passa a formar oficiais engenheiros militares – da Ativa
e da Reserva – em que o curso tem a duração de cinco anos. Além
disso, o Instituto também admite engenheiros(as) formados(as) em
instituições civis. Depois de um ano, esses profissionais ingressam no
QEM.
A opção pelo serviço ativo permite que o formado siga a carreira
militar até o posto de general de divisão engenheiro militar. Os
formandos que optam pela reserva podem vir a cumprir, no final do
curso, um estágio de dois anos como oficiais da reserva convocados.
Depois desse período, eles retornam ao mercado de trabalho e buscam,
com isso, maior entrosamento entre o Exército e a sociedade, no campo
da engenharia, com notável bagagem profissional.
Dessa forma, o Exército, ao encontro de um anseio da sociedade,
oferece essa oportunidade de abertura de seus cursos e proporciona, ao
mesmo tempo, reais chances de trabalho para um mercado – em crise na
década de 1990 – e cada vez mais exigente.
Além do Curso de Formação de Engenheiro Militar (cinco anos
– Ativa e Reserva –, origem civil, ensino médio), Curso de Graduação
(quatro anos para os oficiais oriundos da Academia Militar das Agulhas
Negras-AMAN) – nas especialidades de: Engenharia de Fortificação e
Construção (Civil), de Engenharia Elétrica, de Engenharia Eletrônica, de
Engenharia de Comunicações, de Engenharia Metalúrgica/Materiais, de
Engenharia Mecânica e de Automóvel (ex-Industrial e de Automóvel), de
Engenharia Mecânica e de Armamento (ex-Industrial e de Armamento),
de Engenharia Química, de Engenharia Cartográfica e de Engenharia
de Computação (criada em 15 de outubro de 1986) – também estão
funcionando, atualmente (1999), os de pós-graduação: de Mestrado (dois
anos), em Engenharia de Transportes, Engenharia Elétrica, Engenharia
Mecânica, Ciências dos Materiais, Química, Engenharia Cartográfica,
Engenharia Nuclear e Sistemas/Computação e os de Doutorado (três
anos), em Química e em Ciências dos Materiais.
34 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Influência do ramo militar no ramo civil


O ensino da engenharia militar não somente deu origem ao ensino
da engenharia civil no Rio e no País, mas também deu origem ao ensino
da engenharia em diversas universidades que ainda não dominavam
esse ramo de conhecimento.
Assim, o IME, na sua trajetória sempre pioneira de auxílio e de
apoio ao crescimento da engenharia nacional, exerceu fundamental
atribuição nos primeiros tempos da Escola Politécnica da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, criada em 1948. Nos anos 1950,
os alunos da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) frequentavam
os laboratórios do IME, e ocorreu intensa cooperação da então Escola
Técnica do Exército com essa universidade.
À semelhança do apoio institucional prestado à PUC-Rio, outras
escolas foram também beneficiadas. Na década de 1960, foi a vez da
Universidade Católica de Petrópolis. Na década de 1970, houve o mesmo
tipo de apoio à Faculdade de Engenharia da Universidade Gama Filho
(UGF) e, nos anos 1980, à Faculdade de Engenharia Nuno Lisboa.

Educação de nível secundário/primário


O Decreto nº 42, de 11 de março de 1840, assinado pelo Conde
Lages – ministro da Guerra –, estabeleceu no Arsenal da Corte um colégio
pioneiro no ensino primário e secundário. O decreto preceitua que,
“como parte do Estabelecimento dos aprendizes menores do Arsenal
de Guerra da Corte, será formado um colégio com a denominação de
Colégio Militar do Imperador, onde serão recebidos os filhos legítimos
dos capitães e oficiais subalternos do Exército, preferindo os órfãos e
os mais pobres”. Não deveriam ser admitidos os que tivessem idade
menor de seis anos. Os jovens que chegassem aos 15 anos deveriam ser
“despedidos”, mas poderiam ser matriculados na Escola Militar.
Não se tem notícia do funcionamento do Colégio Militar do
Imperador. O que se sabe é que Tomaz Coelho, em 1889, lutou e
conseguiu criar o Colégio Militar do Rio de Janeiro (CMRJ), com o mesmo
ideário de favorecimento aos filhos órfãos dos militares, para o ensino
do ginasial e do científico. O CMRJ é hoje um colégio símbolo para os
ensinos fundamental e médio.
Em 1921, foi criada a Fundação Osório para atender, com
prioridade, às órfãs dos militares. Essa fundação, semelhantemente ao
Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura 35

CMRJ, oferece ensino dos dois últimos segmentos da Educação Básica,


correspondentes aos antigos ginasial e científico, atuais 6º a 9º anos do
Fundamental e os três anos do Ensino médio.
Sob a inspiração do precursor CMRJ, existem atualmente outros
11 Colégios Militares espalhados no território nacional.

Educação de nível técnico


A influência do Exército não ocorreu, porém, apenas no ensino de
primeiro, segundo e terceiro graus. Houve também forte influência no
ensino técnico.
Por Decreto de 5 de janeiro de 1818, foram mandados agregar à
Companhia de Artífices do Arsenal Real do Exército alguns operários de
menoridade vencendo meio soldo e etapa igual aos artífices engenheiros
do Exército de Portugal, na Divisão de Voluntários Reais de El-Rei,
destacados no Brasil.
Por Aviso de 11 de setembro de 1820, foram mandadas admitir, na
aula de desenho do Arsenal, todas as pessoas que quisessem frequentá-
la, não obstante não serem aprendizes do Arsenal.
Essas duas providências sinalizam uma atividade de ensino
técnico ministrado aos aprendizes do Arsenal Real do Exército.
A comprovação definitiva da realização do ensino técnico, no
Arsenal de Guerra da Corte, dá-se com a publicação do “Regulamento
para Administração Geral do Arsenal de Guerra na Corte do Rio de
Janeiro”, em 21 de fevereiro de 1832. O Art 48, do Cap IV, do Título 11,
afirma: “Os menores, que formavam a extinta Companhia de Artífices,
adida ao Arsenal do Exército, continuarão a ser educados no Arsenal de
Guerra: e seu número não excederá, por ora, de cem.”
Os aprendizes menores eram instruídos nas primeiras letras e
desenho; e, além disso, eram aplicados àquela arte ou ofício, para que
demonstrassem decidida vocação. Somente tinham direito a serem
recebidos para se educar na qualidade de aprendizes: os expostos da
Santa Casa de Misericórdia, os órfãos indigentes e os filhos de pais
minimamente pobres.
O Arsenal, hoje conhecido como o Arsenal de Guerra do Rio,
sustentou uma escola técnica por mais de 150 anos. No século XX, no
final da década de 1970, o ensino técnico foi desativado no Arsenal.
36 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Mesmo assim, a ação pioneira do Exército frutificou e, hoje,


existem várias escolas técnicas no Rio e no País. No Rio são de salientar:
no setor militar, para a formação de sargentos especialistas, a Escola de
Material Bélico (EsMB), a Escola de Comunicações (EsCom) e a Escola
de Instrução Especializada (EsIE), e no setor civil, o Senai.
De tudo o que foi mostrado, pode-se perceber o impacto das ações
do Exército na educação no Rio de Janeiro, com repercussão em todo o
território nacional.
Capítulo 2

A Engenharia Militar
e o desenvolvimento nacional
José Carlos Albano do Amarante1
Luiz Castelliano de Lucena2

M
esclando atividades militares nos combates de defesa
do território com atividades técnicas relacionadas com
a infraestrutura militar, econômica e administrativa da Colônia, a
engenharia militar exerceu primordial função na construção do Brasil,
durante o período colonial. Para isso, participou da saga brasileira em
outras quatro vertentes: 1) atividades e obras de defesa do território
brasileiro; 2) A história do Instituto Militar de Engenharia coincide,
de certo modo, com a história do ensino militar e a história do ensino
da engenharia no Brasil, demarcação de fronteiras, levantamentos
geográficos e topográficos, mapeamento e levantamento de itinerários;
3) atividades administrativas e construção de obras públicas e civis
diversas (construções civis e religiosas, estradas; serviços públicos,
entre outras);3 e 4) atividades industriais e logísticas.4

Atividades e obras de defesa do território brasileiro


Do descobrimento ao final do século XVII, os portugueses
organizaram-se militarmente para assegurar a posse do Brasil e,
posteriormente (séculos XVIII e XIX), para garantir os ganhos de
terra obtidos pelo rompimento do dique estabelecido pelo Tratado
de Tordesilhas e pelos conflitos resultantes da expansão territorial
brasileira. Os tratados com a Espanha legalizaram o aumento continental
da colônia portuguesa.
38 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Algumas das principais atividades dos engenheiros militares do


Brasil Colônia foram as edificações de defesa da costa marítima, de
fixação de nossas fronteiras e de consolidação do território ocupado. O
acervo de fortes, fortalezas e fortins edificados naquela fase ultrapassa
450 edificações.5 Alguns foram construídos por mestres de risco, outros
por padres, mas a maioria esmagadora por engenheiros, em especial, ao
longo dos séculos XVII e XVIII. A localização das edificações foi escolhida
de forma estratégica. Gustavo Barroso assinala que, em toda a extensão
da costa do Brasil, não há nenhum ponto estratégico importante que não
tenha sido fortificado.6
Os limites interiores, resultantes das expansões territoriais,
e definidos por fortalezas construídas em pontos escolhidos,
estabeleceram o atual contorno territorial. A superfície do Brasil
hodierno é delimitada por obras essenciais de defesa: Forte do Macapá
(1761), no Amapá; Forte de São Joaquim (1775-76), em Roraima; fortes
de São José de Marabitanas (1763) e de São Gabriel da Cachoeira (1763),
na “Cabeça do Cachorro”, no Amazonas; Forte de Tabatinga (1776), no
Amazonas; Forte Príncipe da Beira (1776), em Rondônia; Forte Coimbra
(1797) e Forte Iguatemi (1765-70), no Mato Grosso do Sul; e Forte Jesus
Maria José (1737), no Rio Grande do Sul. Dessa maneira, fica patenteada
a extraordinária visão estratégica portuguesa, visto que as expansões
territoriais do Brasil para o norte, oeste e sul ocorreram de forma
planejada.
O plano das fortificações coloniais seguiu a evolução da arte da
guerra.7 As mais antigas tinham, em geral, planta em quadrilátero e altas
muralhas; depois apareceram plantas em polígono, com baluartes nos
ângulos e muralhas mais baixas. Por último, surgiram os fortes erigidos
com a técnica Vauban, de construção mais trabalhosa e resistente.
As primeiras obras de defesa foram rústicas paliçadas de troncos, à
moda dos índios e, em seguida, muros e fortins de taipa, providos de
artilharia. No final do século XVI, quase todas as construções, exceto
algumas obras provisórias ou de emergência, eram de alvenaria ou de
cantaria de pedra. Para o rejuntamento dos grandes blocos, utilizou-se
bastante argamassa com óleo de baleia ou de peixe, que proporcionava
extraordinária consistência, dureza e resistência.
A construção em pedra era verdadeira epopeia, pois foi projetada
e transportada “a braço”, de Portugal para o Brasil.8 O botânico francês,
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 39

Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), assim se expressou a respeito


da expansão territorial brasileira: “Somos tomados de uma espécie de
estupefação; seríamos tentados a crer que estes homens pertenciam a
uma raça de gigantes.”
Os primeiros exemplares dessas construções destinavam-se à
defesa da costa marítima, abrangendo Santos, Rio de Janeiro e Salvador.9
O Forte de São Tiago, em Santos, construído em 1547, é tido como uma
das primeiras fortificações de construção mais sólida no Brasil. Ainda
em Santos, foi erigido o Forte de Bertioga em 1553. Para a defesa do
Rio de Janeiro, foram edificadas a Fortaleza de São João, ao sul da
entrada da Baía de Guanabara, entre 1567 e 1572, e a Fortaleza de Santa
Cruz (antiga Nossa Senhora da Guia), ao norte da entrada da Baía da
Guanabara, em Niterói, no ano de 1567. Para a defesa de Salvador, os
portugueses levantaram os fortes do Mont Serrat, em 1586, e de Santo
Antônio da Barra, em 1598.
O capitão-mor engenheiro militar Martim Soares Moreno recebeu
a incumbência do governador-geral, Diogo de Menezes, para criar nova
capitania na região ocupada hoje pelo estado de Ceará.10 Em 1612,
Moreno edificou um forte, como sinal do domínio português. Depois de
lutas contra piratas franceses (1614) e contra naus flamengas (1624 a
1625), os portugueses asseguraram a posse definitiva do Forte de Nossa
Senhora da Assunção. Sua presença inibiu o processo de ocupação do
território por estrangeiros.
O precursor dos engenheiros militares, Francisco de Frias da
Mesquita, chegou ao Brasil em 1603 e retornou a Portugal em 1635.
Construiu uma quantidade incontável de fortes, ao longo desse período,
e destacou-se na defesa de Salvador contra os holandeses e na expulsão
dos franceses do Maranhão. Para a defesa de Salvador, Frias da Mesquita
contribuiu com a construção dos fortes de São Diogo (1614) e de São
Marcelo (ou do Mar) em 1623, ano anterior ao da primeira invasão
holandesa.11
Atraídos pelo sucesso português com a atividade açucareira, os
franceses tentaram criar a “França Equinocial”, em terras brasileiras. A
defesa portuguesa foi calcada em fortes cuja construção foi atribuída a
Mesquita. Outros fortes desse período foram os de Santa Maria ou de
Guaxenduba (1614), o de São Francisco (em pau a pique, 1615), o de São
40 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Felipe (obras de melhoria das instalações do Forte São Luís, edificado


pelos franceses em 1612), em São Luiz, e o Forte do Presépio, em Belém
(1616).
Em fins de 1615, Alexandre de Moura determinou ao capitão-mor
engenheiro Francisco Caldeira de Castello Branco a conquista do Grão-
Pará.12 A missão era tomar conta do imenso estuário do Rio Amazonas
até o Rio Oiapoque, até então explorado por holandeses, ingleses e
franceses, que percorriam o baixo Amazonas, criando estabelecimentos
comerciais e construindo fortins. Castello Branco, além de fundar Belém,
ocupou os fortes holandeses na entrada da respectiva barra.
O domínio do Grão-Pará baseou-se na indisciplina e na violência
contra os índios, até que Pedro Teixeira sedimentou a posse do litoral,
ao extremo norte (1636-38). Precursor da Engenharia de Construção na
realização de obras de infraestrutura, esse engenheiro abriu o primeiro
caminho terrestre ligando o Pará ao Maranhão.
Em 1663, o capitão engenheiro Pedro da Costa Favela, em viagem
para conter uma sublevação indígena dos caboquenas, construiu o
fortim de São José do Rio Negro, em torno do qual cresceu Manaus.13
Essa ação estratégica delineava a posse da Amazônia: Belém, no estuário
do Rio Amazonas, e Manaus, na embocadura do Rio Negro, eram pontos
vitais de apoio e comando de iniciativas. Em 1770, o engenheiro Manoel
da Gama Lobo d’Almada garantiu a soberania portuguesa em terras da
Capitania do Cabo Norte, cobiçada pelos franceses, que mais tarde daria
origem ao atual Amapá.14
Na invasão de Pernambuco pelos holandeses, o engenheiro
Soares Moreno teve participação destacada, realizando, em 1634, uma
bem-sucedida operação de “comandos”, conduzindo 500 homens para
provocar incêndios em Recife e destruir suprimentos e víveres. Em
1646, como mestre de campo (como coronel era chamado), Moreno
comandou uma tropa na Batalha da Casa Forte, sendo dado mais um
vigoroso passo para a libertação do jugo holandês, ocorrida em 1654.
A primeira obra de defesa de Recife foi o Forte do Picão15 (1608),
construído por Francisco da Mesquita. Em 1629, Madri recomendou ao
governador-geral do Brasil, Diogo L. de Oliveira, a construção de obras
de defesa nas cidades mais expostas a ataques holandeses.
Em 1629, “o sargento-mor Pedro Correia Gama, por ordem do
governador-geral, temendo as ameaças holandesas, inicia em Olinda e
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 41

Recife as primeiras obras de defesa fixa: trincheiras em Olinda, paliçada


de pau a pique, redutos e um forte denominado Diogo Paes, em Recife.”
A defesa de Pernambuco passaria a contar com 11 fortificações.16 Em
Natal, o Forte dos Reis Magos17 (1614) destacou-se como uma obra-
prima, considerado como a melhor contribuição para a defesa de nossa
costa marítima na época.
A fundação da Colônia do Sacramento, em 1680, no Estuário
do Prata, foi uma consequência natural da percepção portuguesa da
extensão de sua soberania, no limite meridional, para controlar a ligação
do Atlântico ao interior do continente. Na tentativa de firmar o domínio
na margem do rio, nossos colonizadores não pouparam argumentos
diplomáticos, esforços, sangue e economias.18
O governo de Buenos Aires iniciou, em outubro de 1735, o sítio da
Colônia do Sacramento. O governador da Repartição do Sul, com sede no
Rio de Janeiro, mandou o brigadeiro José Silva Pais para o Rio da Prata,
no comando de uma expedição de socorro em junho de 1736. Com a
situação de Sacramento praticamente perdida, esse engenheiro militar
escolheu a barra do Rio Grande como o ponto de resistência e lá edificou
a primeira fortificação portuguesa, no Rio Grande do Sul: a praça d’armas
Jesus Maria José, onde hoje se assenta a cidade gaúcha de Rio Grande.
Silva Pais reforçou o pequeno contingente português, já existente na
área, e evitou a perda do Rio Grande e, portanto, o desmoronamento de
toda a obra de expansão portuguesa.
Naquela época, as vilas do Rio Grande, Viamão, Porto do Viamão
(atual Porto Alegre) e Rio Pardo, com seu forte, eram praticamente as
únicas povoações localizadas nas regiões do atual Rio Grande do Sul.
Procurando aumentar o efetivo em Rio Pardo, Gomes Freire criou uma
Companhia de Aventureiros e ordenou a construção da Fortaleza de
Santa Teresa, ao sul da Lagoa Mirim. Os espanhóis tomaram a Colônia
do Sacramento (1762) e invadiram o Rio Grande, em 1763, fazendo cair
a Fortaleza de Santa Teresa.
O Tratado de Paris (1763) impunha a ambos os países a devolução
de tudo o que houvessem conquistado pela força. Os espanhóis
cumpriram essa cláusula, no que se referia à Colônia do Sacramento,
mas conservaram o território rio-grandense conquistado. Em 1763, a
Coroa portuguesa criou o vice-reinado, no Brasil, e o engenheiro José
Custódio de Sá e Faria foi nomeado para dirigir a capitania.19 Sá e Faria
42 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

adotou uma postura de força, construiu o Forte São Caetano e o Forte no


Rio Taquari, procurou expulsar os espanhóis do território rio-grandense
e abriu a barra do Rio Grande aos navios de bandeira portuguesa.
Depois de seis anos, a situação na Colônia do Sacramento foi
bruscamente rompida, com a incursão do governador de Buenos Aires,
que fundeou no Rio Camacuã, próximo a Bagé, o Forte de Santa Tecla, em
1773. O Marquês de Pombal decidiu reforçar a Capitania do Rio Grande,
nomeando para chefe das tropas o tenente-general João Henrique
Böhm, alemão a serviço de Portugal.20 O Forte de São Martinho foi o
ponto escolhido para o início do revide português. Böhm determinou ao
sargento-mor Rafael Pinto Bandeira que eliminasse o entrincheiramento
de São Martinho. Em março de 1776, os luso-brasileiros ocuparam o
Forte de Santa Tecla e prosseguiram surpreendendo os espanhóis e
ocupando a Vila do Rio Grande.
O Tratado de Santo Ildefonso (1777) representara perdas
substanciais no sul. A Espanha devolveria a Ilha de Santa Catarina,
modificaria a linha estabelecida pelo Tratado de Madri (1750) e ficaria
com a Colônia do Sacramento e os Sete Povos das Missões Orientais,
passando a dominar a navegação nos rios da Prata e Uruguai.
Ao receber a notícia do estado de guerra entre Portugal e Espanha,
em 1801, resultante das ações expansionistas de Napoleão Bonaparte,
o governador da província, o engenheiro Veiga Cabral da Câmara,
entendeu que era o momento de retomar os Sete Povos das Missões
Orientais. No final de novembro, estava consumada a conquista dos Sete
Povos, o que proporcionou a incorporação do território missioneiro, da
mesopotâmia Ibicuí-Quarai, a incorporação dos campos entre os rios
Piratini e Jaguarão e o estabelecimento do Rio Uruguai como divisa de
grande valor político-militar.21
A fronteira norte, materializada pelo Rio Guaporé, encontrava-
se tranquila desde as últimas décadas do século XVIII, quando foram
definidas as linhas divisórias das colônias dos dois reinos;22 entretanto,
a fronteira sul, balizada pelo Rio Paraguai, representava um risco
crescente à medida que aumentavam as tensões entre Portugal e
Espanha. A única fortificação existente, o Forte Coimbra, não passava
de uma pobre paliçada, aparentemente incapaz de resistir a um ataque
adversário.23
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 43

Em 1797, com o recrudescimento do contencioso entre Portugal e


Espanha e dos atritos entre os índios guaicurus, aliados dos portugueses,
e os castelhanos, o governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro
(1796-1802) nomeia para a praça d’armas de Coimbra o tenente-coronel
de engenheiros Ricardo Franco de Almeida Serra, que decidiu construir
no local um forte permanente, de alvenaria, e ordenou a construção de
outro forte às margens do Rio Miranda.24
Em 1801, D. Lázaro de Ribera, governador do Paraguai, recebeu
ordens para atacar os lusitanos e anexar os territórios da margem direita
do Rio Paraguai, Coimbra e Corumbá. Faltando ainda à praça d’armas o
fechamento do perímetro murado e a construção de alojamentos para
abrigar sua guarnição, o engenheiro Ricardo Franco enfrentou uma
flotilha espanhola que subia em direção a Coimbra. Tão grande era a
disparidade de forças que o comandante espanhol pediu a capitulação
do chefe português. Os portugueses a negaram, e os espanhóis, por
diversas vezes, tentaram o desembarque, amargando o fracasso ante um
pequeno e inacabado forte, tornado inexpugnável pelo espírito de luta
de seus defensores.
A engenharia militar atuou, com sucesso, em duas frentes de
combate – a armada e a construtora – na defesa do território brasileiro.

Demarcação de fronteiras, levantamentos geográficos e topográficos


Segundo Isa Adonias, no final do século XVI, surgiu o primeiro
Atlas do Brasil, de autoria de Luís Teixeira, fundador da Dinastia dos
Albernaz.25 Tratava-se do “Roteiro de todos os sinais, conhecimentos,
fundos, baixos, alturas e derrotas que há na costa do Brasil, desde o
Cabo de Santo Agostinho até o Estreito de Fernão de Magalhães”,
elaborado em 1586. O Atlas era composto pelo mapa geral do Brasil,
dividido em capitanias, e a costa que ia até o Estreito de Magalhães.
Neles aparecem os núcleos de povoamento, feitorias, engenhos e
fortificações.
A partir de século XVII, a cartografia brasileira passou a registrar a
expansão para o interior, o emprego das vias fluviais e o crescimento no
litoral, ao sul, atingindo a Colônia do Sacramento. A ampliação territorial
realizou-se pelas entradas, bandeiras, ações missionárias e campanhas
demarcatórias, relacionadas aos tratados de regulamentação das terras
44 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

portuguesas e espanholas. As características geográficas da Colônia


descritas nos Atlas do Brasil, de autoria de João Teixeira Albernaz, avô e
neto, datados de 1631, 1640, 1642 e 1666, retratam, com rara fidelidade,
a hidrografia, a orografia e o povoamento, os marcos referenciais na
cartografia do século XVII.26
Entre os milhares de mapas, cartas e plantas que abrangem o
Brasil no século XVIII, merecem especial referência:

– o Mapa das Cortes27, de 1749, elaborado sob a orientação de


Alexandre de Gusmão. Mostra o território brasileiro um pouco antes
da revogação definitiva do Tratado de Tordesilhas28 (1494) e da
consequente assinatura do Tratado de Madri29 (1750).
– e o Mapa da Nova Lusitânia30 ou América Portuguesa, de 1789,
de Antônio Pires da Silva Pontes Leme, que sintetiza os conhecimentos
geográficos adquiridos em três séculos de expansão e consolidação das
respectivas fronteiras.31

A contribuição definitiva para esse extenso e fecundo trabalho


foi dada por engenheiros militares, fossem aqueles que estabeleceram
desde Lisboa a forma da ruptura do cordão de Tordesilhas ou aqueles
que compuseram as “Comissões de Demarcação de Limites”, varrendo
as fronteiras do extremo norte ao extremo sul, para as demarcações
consequentes dos Tratados de Madri e de Santo Ildefonso32 (1777). O
próprio Silva Pontes, brasileiro de Minas Gerais e doutor em matemática
e astronomia, integrou a Terceira Partida Demarcatória, chefiada por
Ricardo Franco, de 1780 a 1788, quando retornou a Portugal para ser
lente da Academia de Marinha de Lisboa.
No Brasil, os engenheiros realizaram imenso trabalho no campo
da cartografia, com levantamentos geográficos e topográficos para
mapeamento interno e demarcação de fronteiras. A oficialização da
expansão territorial deve-lhes significativa contribuição. O Tratado
de Tordesilhas (1494) atuou inicialmente como um dique represando
a capacidade luso-brasileira de expandir territórios. As entradas e
bandeiras e os religiosos, militares e sertanistas romperam o dique, e
o Brasil espraiou-se para oeste, o que ampliou em quase três vezes o
território originalmente delimitado.33
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 45

Em 1750, o Tratado de Madri reconheceu a expansão, mas


estabeleceu que fosse feita a demarcação dos novos limites. Daí surgiu um
trabalho imenso realizado por engenheiros militares, que não somente
garantiu a integridade de nossa ocupação, mas também ampliou nosso
território. O Tratado definiu praticamente o contorno atual do Brasil,
incluindo os Sete Povos das Missões, do Uruguai. Em compensação, a
Espanha assegurava a posse da maior parte da Bacia Platina, a Colônia
do Sacramento e as Filipinas.
As duas cortes nomearam comissários para a demarcação das
linhas de fronteira. Foram constituídas duas comissões mistas, que
trabalhariam, uma a partir do norte e outra ao sul, com junção em Mato
Grosso. Para a Comissão Norte, foram indicados por Portugal Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, engenheiro, governador do Grão-Pará
e irmão do futuro Marquês de Pombal, e, pela Coroa espanhola, D.
José Iturriaga. Para a Comissão Sul, nomeou Lisboa o capitão-general
engenheiro Gomes Freire de Andrade, que havia 20 anos governava a
Repartição do Sul (Rio, Minas e São Paulo), e a Corte de Madri o Marquês
de Valdelírios.34
As comissões nunca se reuniram nem realizaram trabalho em
comum, mas os esforços de Mendonça Furtado resultaram em importante
levantamento cartográfico e geográfico de grande trecho da Amazônia.
Furtado foi substituído por Antônio Rolim de Moura Tavares, Conde
de Azambuja, governador do Mato Grosso. De acordo com o Tratado,
em razão da passagem dos limites pelo Rio Guaporé, Moura Tavares
estabeleceu em 1760 uma guarda nessa região, depois transformada no
Forte de Nossa Senhora da Conceição, que firmou a posse luso-brasileira
de áreas hoje pertencentes a Mato Grosso e Rondônia, forçando missões
jesuíticas a abandonar a margem direita do Guaporé.
O capitão-general da Capitania do Rio de Janeiro, Gomes Freire
de Andrade,35 ficou na chefia da Comissão da Divisão Sul, que também
contou com três partidas para realizar os trabalhos. As duas últimas
cumpriram razoavelmente a missão, considerando-se as dificuldades do
meio e da época. Sob a responsabilidade de Gomes Freire, a primeira
foi impedida de fazê-lo por causa dos 30 mil indígenas dos Sete Povos
das Missões rebelados contra a ordem dos jesuítas de transferir para
outros locais dos domínios da Espanha suas povoações, considerando
que aquela região deveria passar à posse dos portugueses, em troca
46 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

da Colônia do Sacramento. Essa intransigência foi a causa principal da


Guerra Guaranítica (1753-56).
O Tratado de Madri foi anulado em 1761, pelo Tratado
Revogatório de El Pardo, em razão das turbulências no relacionamento
luso-espanhol e das divergências relativas ao domínio sobre a
Colônia do Sacramento e sobre os Sete Povos das Missões. As tensões
espraiaram-se para a América do Sul, com ênfase na disputa de terras
que o Tratado de Madri não solucionara. Pelo Tratado de El Pardo,
Sacramento retornou para Portugal, e as Missões, palco da cruenta
Guerra Guaranítica, para Espanha.36
Quando D. Maria I assumiu o governo português, por ser sobrinha
dos reis de Espanha, as tensões dissiparam-se, o que deu ensejo ao
Tratado de Santo Ildefonso (1777): a Espanha devolveria a Ilha de
Santa Catarina, e a linha demarcatória do Tratado de Madri (1750)
seria modificada na parte meridional, de modo a ficar para Espanha a
Colônia do Sacramento e a região dos Sete Povos das Missões. A Espanha
passou a ter domínio sobre a navegação nos rios da Prata e Uruguai. Em
consequência, as duas nações acordaram em enviar novas comissões
para solucionar de maneira amistosa e técnica as questões limítrofes
pendentes. As fronteiras foram divididas em quatro trechos, chamados
de Partidas Demarcatórias. Na avaliação de Nunes Leal, as dificuldades e
embaraços interpostos propositadamente por portugueses e espanhóis
levaram a sérias dificuldades operacionais para os trabalhos.37
Na terceira partida, os trabalhos avançaram, mas nada se
concretizou. Segundo esse autor, D. Luiz de Albuquerque de Melo
Pereira e Cáceres, capitão-general da Capitania de Mato Grosso, evitou
ardilosamente o trabalho com os espanhóis.38 Ele precisava de tempo
para assegurar a expansão final para oeste e considerava essa área de
vital importância para a segurança de Vila Bela, capital da capitania,
e de Cuiabá, que começava a explorar ouro. A estratégia era construir
o Forte Coimbra, ocupar a povoação de Albuquerque e, só depois,
demarcar a fronteira. Mesmo assim, tornou-se notória a contribuição do
então capitão engenheiro português, Ricardo Franco de Almeida Serra,
nos trabalhos sobre as fronteiras de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e
Rondônia. A presença de Ricardo Franco, à testa da Terceira Partida de
Demarcação, sugeriu que as disputas fronteiriças estavam por terminar
e que Portugal não seria o menos favorecido.39 O resultado foi a fixação
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 47

dos limites abrangendo todo o território ocupado pelos luso-brasileiros,


ao longo da expansão resultante das entradas e bandeiras.
A quarta partida foi chefiada pelo engenheiro João Pereira Caldas,40
governador da Capitania do Grão-Pará e de São José do Rio Negro. Os
portugueses estavam em preparação, mas a comissão espanhola, que
viria realizar as demarcações no Mato Grosso, tardava, e a comitiva de
Ricardo Franco, que se destinava a realizar os trabalhos no Mato Grosso,
foi recebida em Belém por Pereira Caldas. Ricardo Franco ofereceu-se
para elaborar os mapas das capitanias do Maranhão, Piauí, São José do Rio
Negro, o que foi prontamente aceito. Caldas levantou, de 1780 a 1787, as
cabeceiras do Rio Negro e do Rio Branco, contribuindo para a fixação dos
limites com as Guianas, a Colômbia e a Venezuela. O exaustivo trabalho
cooperou para aguçar a consciência de uma unidade geográfica nacional.
Em abril de 1781, reuniram-se em São Francisco Xavier da
Tabatinga as comissões portuguesa e espanhola da quarta partida
demarcatória para discutir questões relativas à fronteira setentrional do
Brasil. Decorridos quatro meses de calorosas discussões, os portugueses
não chegaram a acordo quanto à devolução desse ponto estratégico aos
espanhóis. Vitório da Costa elaborou, em julho de 1781, uma explicação
da planta desta fronteira.41
Simões de Carvalho e Vitório da Costa trabalharam na determinação
das coordenadas da Foz do Amazonas e na demarcação do Rio Negro.
Além desses trabalhos, Simões de Carvalho, em colaboração com
engenheiros portugueses, operou no norte do Brasil. O mais importante
desses trabalhos foi o mapa geográfico da parte do Império confinante
com as repúblicas do Peru, Nova Granada, Venezuela e com as colônias
da Inglaterra, Holanda e França.
No século XVIII, a cartografia do Nordeste registrou numerosos
mapas de capitanias, comarcas e distritos, muitos elaborados por
engenheiros, a mando dos governadores e vice-reis.42 Além de explorar
detalhes relacionados com plantas de cidades e de fortificações, há
levantamentos de litorais, portos, rios, barras e matas.
A região Sudeste foi descrita em quatro cartas no códice intitulado
Livro que dá Razão do Estado do Brasil, 1612, cujo apógrafo existe no
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. O texto é atribuído ao
engenheiro Diogo de Campos Moreno, e os 22 mapas que o complementam
foram de autoria de Albernaz, o velho.43 As quatro cartas são: “Descrição
48 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

da costa que vai do Rio de Janeiro até o Porto de São Vicente”; “Rio de
Janeiro”; “Das ilhas de Maricá ao Cabo de São Tomé” e “Demonstração da
Capitania do Espírito Santo até a Ponta da barra do Rio Doce”.
O desenvolvimento da colônia ocorreu mais intensamente na
região Sudeste. Esse fato, associado às disputas no sul com os espanhóis,
provocou a mudança da sede do governo da Bahia para o Rio de Janeiro
e motivou a criação do Vice-Reino em 1763. Quando se encerrou o
reinado de D. Maria I, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo eram
capitanias gerais, e o Espírito Santo, capitania subalterna.
Com relação à cartografia da região Sudeste do século XVIII e do
início do XIX, Isa Adonias assevera ter sido:

particularmente abundante a produção de cartas, fruto


dos levantamentos feitos pelos ‘padres matemáticos’
(Domingos Capacci e Diogo Soares) e, especialmente,
pelos engenheiros militares, a serviço dos governadores e
vice-reis, que levantaram centenas de mapas individuais
de cada capitania, além das plantas de cidades e vilas,
de ancoradouros e portos, de baías e barras, de trechos
costeiros e de rios, de regiões de mineração e de fazendas, e
de plantas de defesa e fortificações.44

Nesse acervo, destacam-se as plantas da Cidade do Rio de Janeiro, as


quais mostram sua evolução urbana desde o último quartel do século XVI.
O capitão André Vaz Figueira cursou a Aula Militar do Rio de
Janeiro e elaborou a “Carta topográfica da Cidade do Rio de Janeiro”
(1750). Nesse trabalho estão assinaladas as obras realizadas por Gomes
Freire de Andrade (1733-63), que contou com os serviços do engenheiro
José Fernandes Pinto Alpoim.
O ajudante engenheiro Antônio Rodrigues Montezinho, que
se destacou na Aula do Regimento de Artilharia do Rio de Janeiro e
trabalhou em serviços de levantamento e cartografia, levantou o Mapa
Corográfico (mapa com descrição geográfica) da Capitania de São Paulo,
com base em dados colhidos em 1791 e 1792.45
Foi de João de Abreu Pereira o trabalho Perspectiva da Ilha da
Trindade (1782), que possibilitou aos portugueses retomar aquela ilha
aos ingleses em 1783.46
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 49

Compreendendo os atuais estados do Paraná, Santa Catarina e


Rio Grande do Sul, a região Sul possui imensa área que só começou a
ser ocupada pelos luso-brasileiros a partir de meados do século XVII. A
margem atlântica, abaixo de Cananeia, ostentou minguada presença na
cartografia portuguesa quinhentista e da primeira metade seiscentista;47
entretanto, o Tratado de Tordesilhas não impediu a expansão para o
sul a partir de meados do século XVII. A ocupação de Paranaguá e sua
elevação à vila em 1648 foram consequências da descoberta do chamado
“ouro de lavagem”, nos rios e riachos. Essa ocupação foi registrada no
mapa da Baía de Paranaguá, em 1653.48
Esgotando-se o ouro, a atividade econômica mudou para a pecuária,
aparecendo povoamentos na direção do sul: em 1669, a Vila de Nossa
Senhora da Graça do Rio de São Francisco; em 1675, Nossa Senhora do
Desterro, na Ilha de Santa Catarina e, anos depois, Santo Antônio dos
Anjos da Laguna. Albernaz, o velho, preparou, no século XVII, a carta da
costa que se estende do Rio Grande até o Rio Guaratuba, onde começava
a Capitania de São Vicente, abrangendo o litoral dos atuais estados do
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.49
O engenheiro Sá e Faria, em 1763, produziu o Mapa do terreno
que se estende da Vila do Rio Grande de São Pedro até o Distrito de
Viamão.50 Assinalou as estâncias do Tesouro – onde se achava postada
a guarda espanhola, do Tratado – onde estava a portuguesa, e a de Sua
Majestade.51
Em 1778, o sargento-mor engenheiro Francisco João Roscio52
elaborou a planta topográfica do Rio Grande de São Pedro, parte dela
levantada em 1774, e o restante por informações dos melhores planos.
A planta assinalou caminhos, fortes e estâncias com o nome dos
respectivos proprietários, a linha divisória entre as posições portuguesas
e espanholas em 1763.
As terras correspondentes à Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul não eram portuguesas pelo cordão de Tordesilhas. Em meio século
de vida autônoma, a capitania consolidou sua estabilidade territorial.53
De forma semelhante ao Mato Grosso, Goiás tem suas origens ligadas
aos bandeirantes interessados no ouro e no apresamento de índios. Sua
emancipação foi estabelecida em 1744, e mais tarde, em 1749 criou-
se a Capitania de Goiás. Ao ser empossado seu primeiro governador, D.
Marcos de Noronha mandou levantar o mapa da capitania pelo genovês
50 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

engenheiro Francisco Tosi Colombina, abrangendo a Capitania do Mato


Grosso e parte da de São Paulo.54 Tosi Colombina foi o primeiro a sugerir
a mudança da capital do país para essa região.
Tanto o Mato Grosso como Goiás estão bem representados
na cartografia do século XVIII. Há vários mapas dessas capitanias,
preparados por ordem dos governadores, que mostraram os avanços
das explorações e as ações para preservação e defesa dos territórios
conquistados.55
O engenheiro Francisco José de Lacerda e Almeida, considerado por
Lyra Tavares como o mais importante engenheiro brasileiro do período
colonial, participou da equipe de Ricardo Franco para a demarcação
das fronteiras no Mato Grosso. Tornou-se conhecido especialmente
pelos trabalhos de geodésia e de exploração geográfica do Rio Negro e
seus afluentes, até as fronteiras do Brasil, a exploração de São Paulo até
Cuiabá, e de grande parte do oeste paulista.56
O engenheiro militar foi o principal ator do processo de crescimento
territorial brasileiro, sacramentado pelas terras já conquistadas,
pelo eficaz sistema de defesa baseado em fortes, pelas demarcações
fronteiriças e pelo mapeamento do Brasil.

Atividades administrativas e obras civis


Os engenheiros militares tiveram um papel de relevo na condução
de instituições e de negócios, em variados níveis, de governador de
capitania ao comando de fortalezas militares. Alguns estão arrolados
abaixo; outros foram mencionados nas seções precedentes. As
edificações civis normalmente estavam sob a responsabilidade dos
mestres de risco; entretanto, os oficiais-engenheiros construíram não só
fortificações mas também igrejas, palácios, conventos, aquedutos, entre
outras obras.
O brigadeiro José da Silva Pais, engenheiro, foi o primeiro
governador militar do continente do Rio Grande de São Pedro, no período
1737-39(?).57 No curto espaço de sua administração construiu a praça
de guerra Jesus Maria José, também chamada de presídio, o que marcou
o início da presença militar no futuro Rio Grande do Sul. A partir desse
núcleo, o Brasil Colonial colocou o pé em terras gaúchas. Em 1739, Silva
Pais foi nomeado governador militar de Santa Catarina, imprimindo-
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 51

lhe nova feição. A ocupação do Rio Grande exigia que se fortificasse a


Ilha de Santa Catarina para assegurar as comunicações com o Rio de
Janeiro e Santos. Silva Pais iniciou a construção de quatro fortificações,
valorizou a ilha, mudou para lá a sede do governo e criou repartições
civis. Deu início à construção da igreja matriz e da casa do governador,
além de fomentar a agricultura. André Ribeiro Coutinho, que servira nas
Índias chegando ao posto de sargento-mor, era engenheiro e possuía
ótima formação técnica. Em 1739 (?), substituiu o brigadeiro Silva Pais
no governo do continente do Rio Grande de São Pedro.
Em abril de 1780, o brigadeiro engenheiro militar Sebastião
Xavier da Veiga Cabral da Câmara foi nomeado governador interino do
continente do Rio Grande de São Pedro, cumulativamente com a chefia da
Comissão de Limites naquela capitania, como substituto do brigadeiro
José Marcelino de Figueiredo. Em 1780, Veiga Cabral propôs a mudança
da capital, então na Vila do Rio Grande, para o povoado de Porto Alegre.
Em 1784, foi efetivado nas funções de governador do continente do Rio
Grande de São Pedro e de primeiro-comissário das Demarcações.
Os incontáveis e inestimáveis serviços prestados ao Brasil pelo
engenheiro militar Gomes Freire de Andrade,58 o Conde de Bobadela,
colocaram-no em posição de destaque entre os portugueses no período
colonial. Por cerca de 30 anos, dedicou ao Brasil seus esforços e
competência como administrador e soldado, especialmente por ocasião
da Guerra Guaranítica (1753-56).
Em 1765, o engenheiro D. Luís Antônio de Souza Botelho e
Mourão, morgado de Mateus, assumiu o governo da Capitania de São
Paulo e realizou uma gestão assinalada por providências de defesa e
expansão territorial. O morgado de Mateus teve participação decisiva
na construção da Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, na barra de
Paranaguá, nomeando o tenente-coronel Afonso Botelho de Sampaio e
Souza a fim de conduzir o levantamento de fundos, para a empreitada, e
dirigir os trabalhos do forte. A visão estratégica de Botelho e Mourão foi
recompensada, e a fortaleza desempenhou relevante atribuição na defesa
do litoral sul do Brasil. Ele foi também responsável pela fundação do
Forte de Iguatemi, pelo descobrimento de Guarapuava, pela exploração
do Vale do Tibaji e pela fundação de vários estabelecimentos na linha de
comunicações do Rio Grande do Sul com as feiras de Sorocaba.
52 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Bento Maciel Parente sucedeu Francisco Caldeira como capitão-


mor do Pará, em 1618. Em 1623, Parente fez surgir o Forte de Gurupá,
construído sobre as ruínas de um fortim holandês. A nova praça de guerra,
situada além da Linha das Tordesilhas, passou a ser a base avançada das
incursões lusitanas. Em 1690, no mesmo local, foi construída a Fortaleza
de Santo Antônio, pelo engenheiro português Manoel da Mota Siqueira.59
O capitão Pedro Teixeira, engenheiro, tornou-se destacado
sertanista. Fez-se aliado dos índios e acompanhou o capitão Castello
Branco quando este fundou Belém. Precursor da engenharia de
construção na realização de obras de infraestrutura, Teixeira abriu
o primeiro caminho terrestre ligando o Pará ao Maranhão. Combateu
contra ingleses e holandeses e demoliu os fortes que levantavam ao
longo do Amazonas. Assumiu ainda a Capitania do Grão-Pará em 1640,
mas faleceu em 1641.
João Pereira Caldas, engenheiro militar, governador do Grão-
Pará e da Capitania de São José do Piauí, de 1759 a 1769, elaborou
pioneiramente um Resumo de todas as pessoas livres e cativas, fogos
e fazendas da cidade, vilas e sertões da capitania de São José do Piauí.
1760-1767. 60 À época, a capitania, criada em 29 de julho de 1758, estava
anexada ao estado do Grão-Pará e Maranhão.
O primeiro engenheiro-oficial português a notabilizar-se por
suas obras no Brasil foi Francisco de Frias da Mesquita, no período
de 1603 a 1635.61 Projetou e construiu o Mosteiro de São Bento, no
Rio de Janeiro, preparou o plano urbanístico de São Luiz, em 1615, e
construiu as igrejas matrizes de Olinda e de Natal; projetou e iniciou a
construção do Seminário de Salvador, que não foi concluído por causa
de desentendimentos com o governador e o bispo.
Além dos trabalhos associados com a defesa da Cidade do Rio de
Janeiro, José Custódio de Sá e Faria projetou e construiu a Igreja da Santa
Cruz dos Militares (1770), na rua Primeiro de Março no Rio de Janeiro;
o Mosteiro de São Bento, em São Paulo, e as igrejas de Viamão, Taquari
e Triunfo, no Rio Grande do Sul.62 Foi prisioneiro dos espanhóis. Sá e
Faria projetou e construiu a Catedral de Montevidéu e o Convento de São
Francisco, em Buenos Aires.63
Ganhou imensa notoriedade a obra do brigadeiro José Fernandes
Pinto Alpoim, o qual chegou ao Brasil, em 1738, e morreu em 1770.64 No
Rio de Janeiro, transformou-se em homem de confiança do governador da
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 53

capitania, Gomes Freire de Andrade, para administrar e realizar as obras de


engenharia; construiu o conjunto arquitetônico do Terreiro do Carmo (atual
Praça 15 de Novembro), incluindo o Palácio do Governador e a edificação
defronte, que encampava o Arco do Telles. Realizou ainda importantes
obras no Mosteiro de São Bento e fez os conventos da Ajuda e do Carmo;
projetou ainda o Palácio do Governador em Vila Rica (atual Ouro Preto).
Ao brigadeiro Alpoim tem sido creditado, ainda sem comprovação,
a realização de várias outras obras no Rio de Janeiro, como a Casa
do Bispo, o Convento de Santa Tereza, a Igreja de Nossa Senhora da
Conceição, a Igreja da Boa Morte e os Arcos da Carioca. No que concerne
a estes, eles foram a primeira obra de infraestrutura hidráulica do tipo
romano realizada em todas as Américas, construídos em cantaria de
pedra e alvenaria, com rejuntamento de argamassa de óleo de baleia.
Os arcos integravam as obras para a adução e distribuição das águas do
Rio Carioca.
Credita-se também a Alpoim, embora sem comprovação, a
construção da Casa do Trem, primeira instalação industrial-militar do
Exército Brasileiro, inaugurada em 1762. É da convicção do professor
Winz que a edificação ou reedificação da antiga Casa do Trem foi
ordenada pelo então Conde de Bobadela. 65
O brigadeiro Diogo Jacques Funck,66 engenheiro-militar sueco,
realizou a obra portuária mais importante feita no período colonial. Em
1770, projetou e construiu o cais acostável do Rio de Janeiro, como parte
das obras de ampliação da Casa do Trem (Arsenal do Trem), na ponta do
Calabouço.67
Outro engenheiro-militar que se projetou foi o brigadeiro João da
Costa Ferreira.68 Ele embarcou para o Brasil em 1788, em companhia
do coronel Bernardo José Maria de Lorena, nomeado governador da
Capitania de São Paulo. De 1790 a 1792, ao utilizar pavimentação em
lajes de pedra, chamada de Calçada do Lorena,69 construiu a relevante
estrada de rodagem na Serra do Mar, que ligava a Vila de Santos à
capital da Capitania de São Paulo. Foi a primeira estrada projetada
para construção com o objetivo de vencer o íngreme paredão da serra e
permitir o tráfego livre, a salvo de atoleiros e desabamentos em qualquer
estação do ano. A iniciativa da obra foi do governador Bernardo Lorena,
daí o nome da calçada, e o brigadeiro Costa Ferreira contou, como
auxiliar, com o engenheiro Antônio Rodrigues Montezinhos.
54 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

O trabalho de Paulo Nunes Leal, que serviu para embasar a escolha


para patrono da Engenharia Militar brasileira, descreve com riqueza de
detalhes a vida de Ricardo Franco de Almeida Serra, que se notabilizou
pela construção e defesa do Forte Coimbra.70
Os engenheiros também contribuíram na construção de igrejas,
conhecidas por suas abóbadas e cúpulas em grandes dimensões: o
Mosteiro de Mont Serrat, em Salvador, do final do século XVI, cujo projeto
é atribuído ao engenheiro-mor Baccio de Filicaya.71
A Igreja da Glória do Outeiro, no Rio de Janeiro, foi construída,
no início do século XVIII, com projeto do tenente-coronel engenheiro
José Cardoso Ramalho. Em Minas Gerais, o sargento-mor Pedro Gomes
Chaves construiu a matriz de Nossa Senhora do Pilar (1731), em Ouro
Preto. Manuel Cardoso de Saldanha, engenheiro, projetou a Igreja da
Conceição da Praia, em Salvador, construída integralmente em cantaria
de pedra de lioz.72

Atividades industriais e logísticas


Entre as primeiras atividades industriais realizadas no Brasil,
pode-se citar a fabricação de pólvora para mineração. O conhecimento
da pólvora foi proporcionado pelo já citado sargento-mor Alpoim,
em seu livro Exame de Bombeiros (1748), no capítulo sob o título de
“Tratado sobre a Pirobolia Militar ou Fogos Artificiais de Guerra”.
Alpoim apresentou os fogos de uso militar, sua composição e fabricação.
A pólvora era de fundamental importância na atividade militar, mas
também foi de valia na mineração do século XVIII, especialmente depois
da exaustão do ouro de aluvião. Documentos referentes a importações
de salitre e enxofre, ocorridas na segunda metade daquele século,
evidenciam a fabricação de pólvora na Capitania de Minas Gerais, grande
produtora de ouro.73
Os choques com os espanhóis, ocorridos nas províncias do sul, e
as tentativas de invasão pelos franceses ressaltaram a necessidade de
defesa do Rio de Janeiro. A demanda imperiosa de uma casa de armas,
onde estas ficassem protegidas contra os furtos, estragos e corrosão,
produzidos no decurso do tempo e que fossem, nesse mesmo local,
reparadas e fabricadas, constituiu um problema para os governos da
Colônia. Por essa razão, Gomes Freire de Andrade fez construir a Casa do
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 55

Trem de Artilharia, em 1762, com a finalidade de suprir as necessidades


em fundição e em material bélico. A Casa do Trem foi erguida no local do
Forte Santiago, junto à muralha da ponta do Calabouço, naquela época
um ponto estratégico para a defesa da cidade.74
Dois anos depois, em 1764, o Conde da Cunha transformou a Casa
do Trem em Arsenal do Trem, com a construção do prédio na antiga
ponta do Calabouço, que abrigou no século passado o Arsenal de Guerra
da Corte e, desde 1922, é a sede do Museu Histórico Nacional.
Em 1779, o Arsenal do Trem fundou nas suas instalações a
primeira fundição oficial da Colônia.75 Os jacarés que ornamentam até
hoje o chafariz da Praça da República, no Rio de Janeiro, foram fundidos
na Casa do Trem, assim como a estátua de bronze da deusa Náiade, que
se encontra no Jardim Botânico.
A colonização do Brasil atendeu exclusivamente aos interesses
lusitanos, e, portanto, a produção de manufaturados no Brasil provia
somente o mercado interno. A função da manufatura colonial era a
de complementação às atividades agrícolas, consideradas as mais
importantes, e supria a metrópole, nunca rivalizando com ela. O
conceito de atividade complementar da manufatura perpassa o século
XIX e vai desaguar no século XXI, uma das causas da demora brasileira
em se industrializar. Com a chegada de D. João VI ao Brasil, as atividades
industriais e logísticas, relacionadas com a defesa, ganharam maior
incremento.76
Em 1808, foi inaugurada a Real Fábrica de Pólvoras da Lagoa
Rodrigo de Freitas, na altura, hoje, do Jardim Botânico (ainda existe o
portal da fábrica nos fundos do Jardim Botânico, no atual parque infantil),
uma das primeiras fábricas da Colônia, posteriormente transferida para
o Distrito de Estrela, em Raiz da Serra de Petrópolis, onde passou a
funcionar com o nome de Imperial Fábrica de Pólvoras da Estrela.
Em 1811, por decreto de D. João VI, a Casa do Trem foi transformada
em Arsenal Real do Exército, hoje Arsenal de Guerra do Rio, com a
finalidade de fabricar armas, munições e outros capítulos bélicos. Em
1819, foi fundido o primeiro canhão no Brasil, que se encontra no
museu do Arsenal de Guerra do Rio. Já havia uma capacidade instalada
de fundição desde 1779, mas os portugueses não deixavam a Colônia
construir engenhos bélicos.
56 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Considerações parciais
Durante o período de Brasil Colônia, as principais contribuições da
engenharia militar de Portugal consistiram em preciosos trabalhos de
topografia e cartografia e definiram as fronteiras e os detalhes geográficos
de nosso território, de construção de obras civis e prédios públicos e
de construção de fortes, não só para a defesa da costa marítima como
também para a estratégica definição dos limites territoriais interiores.
Nesse último mister, pode-se afirmar que os nossos colonizadores foram
brilhantes e competentes.
O Brasil é hoje imenso e não sofreu perda territorial significativa por
causa de duas características fundamentais dos portugueses. Primeiro,
a sua atitude integrativa no campo social gerou um povo pacífico e
ordeiro. Essa índole proporcionou às gerações atuais um território não
dividido por querelas internas. Segundo, sua larga visão estratégica,
implantando fortes nos limites territoriais pretendidos, facilitou
sobremaneira o trabalho da diplomacia acerca das lides fronteiriças. O
contorno externo do Brasil atual foi estabelecido magistralmente por
nossos colonizadores.
Nesse contexto, a engenharia militar escreveu sua história com
letras de ouro. Mesclando atividades militares nos combates de defesa
do território com atividades técnicas relacionadas com a infraestrutura
militar, econômica e administrativa da Colônia, a engenharia militar
participou profundamente da construção do Brasil.
Por sua alta competência, o engenheiro militar ocupou posições
estratégicas, chegando inclusive a governador de capitania, além de ser
o responsável pela construção da infraestrutura colonial brasileira.
O engenheiro militar, por sua vez, criou as condições para a
preservação e fabricação do armamento de defesa e manufaturou
os primeiros produtos industriais; foi, a um só tempo, o guerreiro, o
construtor, o demarcador, o cartógrafo, o administrador, o governador
e o homem público.

Ciência e tecnologia
As atividades científico-tecnológicas no Exército, relacionadas
com a indústria, podem ser identificadas desde o longínquo ano de
1762. A evolução do setor pode ser visualizada em três ciclos:
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 57

1ª Fase – de 1762 a 1889 – Ciclo dos Arsenais


2ª Fase – de 1889 aos anos 1940 – Ciclo das Fábricas
3ª Fase – dos anos 1940 ao presente – Ciclo da Pesquisa e
Desenvolvimento

1ª Fase – Ciclo dos Arsenais


O ano de 1762 marca o início das atividades científicas e
tecnológicas no âmbito das Forças Armadas, em território brasileiro.
Naquele ano, o vice-rei Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela,
fundou a Casa do Trem de Artilharia, com a finalidade de suprir as
necessidades do Vice-Reinado em fundição e material bélico. Dois anos
depois, o Conde da Cunha, ao perceber a importância daquele órgão,
alçou-o à condição de Arsenal do Trem.
Em 1763, organizou-se o Arsenal de Marinha.
Em 1765, foi criada a Casa de Armas da Fortaleza da Conceição,
no Centro do Rio de Janeiro, que se transformou posteriormente em
fábrica.
Em 1779, o Arsenal do Trem fundou nas suas instalações a
primeira fundição oficial da Colônia. Como já mencionados, temos até
hoje na Praça da República os jacarés que ornamentam o chafariz da
Praça da República e que foram fundidos na Casa do Trem; em 1783, foi
fundida a primeira estátua de bronze do País, a deusa Náiade, que está
até hoje no Jardim Botânico.
É um engatinhar de ciência e tecnologia (C&T); porém, com
a chegada de D. João VI ao Brasil, as atividades de C&T no âmbito do
Exército ganharam maior incremento.
Assim, em 1808, foi inaugurada a Fábrica de Pólvora da Lagoa
Rodrigo de Freitas. Foi uma das primeiras fábricas do País. Em 1811, por
decreto de D. João VI, a Casa do Trem foi transformada em Arsenal Real
do Exército, hoje Arsenal de Guerra do Rio, com a finalidade de fabricar
armas, munições e outros capítulos bélicos para as Forças Armadas.
Então, ele deu o comando do Arsenal ao general Napion, hoje patrono do
Material Bélico do Exército. Além disso, criou a Real Junta dos Arsenais
do Exército, Fábricas e Fundições, na mesma época. Aliás, D. João VI tinha
grande visão estratégica e foi responsável pelo forte desenvolvimento
ocorrido na Colônia no início do século XIX.
58 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Ocorreu um fato pitoresco que passo a relatar. D. João VI


determinou, nessa época, que se criasse na fazenda da Fábrica de Pólvora
um jardim botânico, que deu origem ao Jardim Botânico de hoje. Assim,
por ordem de D. João VI, o Exército criou o Jardim Botânico. Essa fábrica
foi transferida, posteriormente, em 1827, para o Distrito de Estrela, em
Raiz da Serra de Petrópolis, onde passou a funcionar como Fábrica de
Pólvora da Estrela e, atualmente, como Fábrica da Estrela da Indústria
de Material Bélico (Imbel).
Em 1819, foi fundido o primeiro canhão no País. Note-se que já
havia uma capacidade de fundição desde 1779; contudo, evidentemente
por razões óbvias, os portugueses não nos deixavam construir um
engenho bélico. Entretanto, com a chegada de D. João VI, tornou-se
possível esse avanço. A primeira peça fabricada no Brasil encontra-se
no Museu do Arsenal de Guerra do Rio. É uma peça extremamente rara.
Em 1832, o Arsenal mudou de nome para Arsenal de Guerra
da Corte, a seguir, em 1889, com a Proclamação da República foi
transformado em Arsenal de Guerra da Capital, e, em 1902, ele assumiu
a atual designação de Arsenal de Guerra do Rio (AGR).
É interessante agora assinalar um aspecto. Desde a Casa do Trem
até 1902, o Arsenal localizava-se no mesmo lugar, no prédio hoje ocupado
pelo Museu Histórico Nacional, no Largo do Moura. Ali está a Casa do
Trem, patrimônio de valor imenso para a nossa tradição técnica. Em
1902, por razões de segurança, o Arsenal precisou deixar aquele sítio e
deslocou-se para o Caju, onde ocupa até hoje as mesmas instalações. Era
uma fábrica de fazenda chamada São Lázaro, que necessitou entregar
suas instalações como pagamento de dívidas ao governo federal.
Em 1828, foi criado o Arsenal de Guerra de Porto Alegre, hoje
Arsenal de Guerra de General Câmara, no Rio Grande do Sul, que
desempenhou primordial função nos conflitos sulinos.
Em 1º de abril de 1855, foi organizado o Batalhão de Engenheiros,
criado pelo decreto de 23 de janeiro, e passou a existir como primeira
tropa de Engenharia do Exército Nacional. Ele está em Santa Cruz e
hoje é o 1º Batalhão de Engenharia de Combate – Batalhão Escola de
Engenharia (BEsE). Na época foi dada a ele a incumbência de construir
estradas de ferro e linhas telegráficas.
Em 1857, temos notícia da primeira atividade de pesquisa e
desenvolvimento no Arsenal de Guerra da Corte. Foi fabricado um
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 59

canhão de bronze de boca elíptica, antecarga e de alma lisa, idealizado


por José Francisco Barriga. O protótipo dessa arma encontra-se exposto
ao público no Pátio Epitácio Pessoa, no Museu Histórico Nacional.
Continuando, então, a nossa peregrinação histórica, gostaria
de relatar que, em 1856, foi criado no arsenal um serviço de extinção
de incêndio, que veio a dar origem ao Corpo de Bombeiros do Rio de
Janeiro, em 1860.
O Arsenal de Guerra da Corte notabilizou-se com a Guerra do
Paraguai, constituindo-se no principal órgão fabril de apoio ao esforço
de guerra. Para tanto, o Arsenal fabricou o canhão La Hitte, renomado
por sua velocidade de fogo e pela precisão, formando a famosa “Artilharia
Revólver” de Mallet, uma das principais causas da nossa vitória nos
campos de batalha. O Arsenal, no entanto, não só fabricou esse canhão,
pois produziu também munição, armamento, equipamento, lança e todo
o fardamento da nossa tropa. Existe no Museu do Arsenal a relação,
redigida à mão, do que foi produzido na época da Guerra do Paraguai.
Naquela relação consta a fabricação de 93 peças La Hitte, no período de
1865 a 1870.
Depois da Guerra do Paraguai, ocorreu um declínio natural das
atividades relacionadas com as Forças Armadas, inclusive das científicas
e tecnológicas. Em 1868, a Fábrica de Armas da Conceição foi absorvida
pelo Arsenal. Segundo o documento Collectanea e Ligeiro Historico do
Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro de 1733 a 1922, produzido pela 2ª
Secção do AGR, a Casa de Armas da Fortaleza da Conceição, de acordo
com instruções de 5 de fevereiro de 1868, passou a ser uma dependência
do Arsenal.
Essa afirmação contradiz o depoimento de Castro (O Arsenal de
Guerra do Rio de Janeiro), o qual sustenta o fato de ter sido o Arsenal
muito reduzido em 1831, com a diminuição drástica dos efetivos do
Exército, na política da Regência, e a Fábrica da Conceição extinta, com a
consequente incorporação de seus operários no Arsenal.
De qualquer maneira, a Fábrica de Armas foi absorvida pelo
Arsenal, que incorporou a tecnologia de fabricação de armas leves.

2ª Fase – Ciclo das Fábricas


A 2ª fase tem início com a Proclamação da República. Com o fim
do regime imperial, surgiu inusitado interesse no reequipamento do
60 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Exército e da Marinha, que depois da Guerra do Paraguai haviam sofrido


grande desgaste.
Coincidia o início dessa fase com o pleno desenvolvimento
industrial que se processava no mundo, fruto da Revolução Industrial
iniciada na Inglaterra. Reequipar o Exército, naquela época, significava
importar equipamento bélico, já que a incipiente indústria nacional não
dispunha de capacitação tecnológica adequada.
A diretriz básica era importar os equipamentos necessários e
estabelecer, no Brasil, oficinas para a montagem e manutenção desses
equipamentos, fábricas de pólvora e de munição de pequeno calibre.
Datam dessa época as fundações da Fábrica de Realengo, em 1898,
e da Fábrica de Piquete, em 1906. A Fábrica de Realengo destinava-se a
produzir munição para armas portáteis, espoletas para granadas de mão e
petardos, além de complementar o carregamento de granadas de artilharia
e de morteiros. A Fábrica de Piquete constituía-se na primeira indústria de
explosivos, propelentes e pólvoras de base simples e de base dupla.
De 1916 a 1920, o Arsenal de Guerra do Rio experimentou uma
fase de ampliação de suas capacidades. Assim, em 1916, foi instalada
uma oficina de montagem do moderno Fuzil Mauser 1908 e um estande
de tiro, além de laboratórios de Química, de Ensaios Mecânicos, Físicos
e Metalúrgicos.
Em 1918, o capitão Flavio Queiroz Nascimento, em atividade
precursora de pesquisa e desenvolvimento, conduziu o avanço de
aparelho telefônico nas oficinas do Arsenal de Guerra do Rio. A Coletânea
e Ligeiro Histórico do Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, de 1733 a
1922, registra que

depois de muitas experiencias feitas no Arsenal e fóra


delle, sempre com resultados apreciaveis, teve logar um
confronto entre os apparelhos telephonicos aqui fabricados
e os procedentes da America do Norte, sendo que os nossos,
não obstante a distancia de 32 kilometros em que ella se
realisou e a respectiva linha não ser de instalação perfeita,
se conduziram muito melhor.

Finalizando a ampliação, em 1920, o Arsenal instalou um forno


elétrico e um conversor para a fabricação de aço. Com tal fabricação,
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 61

o Arsenal passou a realizar a produção seriada de granadas para a


artilharia de campanha e de costa, pontões metálicos para a engenharia
e vários modelos de viaturas blindadas com chapas de aço. Essas
atividades no AGR vão inspirar, na década de 1930, a criação de várias
fábricas no Exército: Fábrica do Andaraí, de Juiz de Fora, de Curitiba e de
Material de Comunicações e Eletrônica.
Os primeiros anos da República foram marcados por grande
instabilidade política. Os diversos governos estiveram mais preocupados
com a segurança interna do que com a externa, razão pela qual o Exército
teve seu reequipamento estacionado a partir da Primeira Guerra
Mundial, quando cessaram as importações.
Com a Revolução de 1930, novos ventos de modernização
começaram a soprar por todo o Brasil. O Exército pensou, então, em
montar um parque fabril que o tornasse cada vez mais independente da
importação. Assim, foram implantadas novas fábricas:

Em 1932:
– Fábrica do Andaraí, destinada à fabricação de granadas de
artilharia e de morteiros;

Em 1933:
– Fábrica de Curitiba, destinada à produção de viaturas coloniais
hipomóveis, cozinhas de campanha hipomóveis, equipamentos de
transposição de cursos de água e reboques para viaturas;
– Fábrica de Itajubá, como consequência da montagem do fuzil
mauser 1908 no AGR e destinada à produção de armamento leve;
– Fábrica de Juiz de Fora, destinada à fabricação de elementos para
as granadas de artilharia e de morteiro;
– Fábrica de Bonsucesso, destinada à fabricação de máscaras
contra gases, produtos químicos fumígenos e de gases de guerra;

Em 1939:
– Fábrica de Material de Comunicações, hoje Fábrica de Material
de Comunicações e Eletrônica (FMCE), destinada à produção de
telefones de campanha, centrais telefônicas, rádios de campanha e
cabos telefônicos.
62 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Essas instalações fabris foram acrescentadas às já existentes:

– Fábrica da Estrela;
– Fábrica de Realengo;
– Fábrica de Piquete;
– Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro;
– Arsenal de Guerra de General Câmara, fruto da transferência do
Arsenal de Guerra de Porto Alegre para General Câmara no Rio Grande
do Sul, ocorrida na década de 1930.

Todo esse parque industrial utilizava tecnologias estrangeiras, sob


licença ou adquiridas. Seus engenheiros sabiam COMO FAZER, mas não
POR QUE FAZER.
Esse parque foi de grande utilidade para o Exército. Não só porque
o supriu com grande parte dos materiais de emprego militar (MEM)
que necessitava, como serviu de escola de aplicação dos conhecimentos
adquiridos pelos engenheiros militares na Escola de Engenharia Militar,
criada em 1928, na rua Barão de Mesquita, depois transformada em
Escola Técnica do Exército (1934).
O manuseio do aço no Arsenal despertou a consciência da
engenharia militar sobre a importância desse ingrediente para o
processo de industrialização do País. O engenheiro militar Edmundo de
Macedo Soares soube liderar esse processo de conscientização e, como
assessor de Getúlio Vargas, foi o inspirador da construção da CSN, em
1945, no final da Segunda Guerra Mundial.
Até então não se fabricavam, no Brasil, materiais pesados de emprego
militar, como canhões, metralhadoras e viaturas blindadas, só possíveis
com a implantação no País da indústria siderúrgica pesada, iniciada com
a criação da Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda.
Em 1943, também resultado das atividades do Arsenal de Guerra
do Rio, no que concerne a acompanhamento de ensaios de provas
técnicas, de realização de provas com armamento e munição, o Exército
achou por bem deslocar do Arsenal e criar na Restinga da Marambaia
um centro dedicado à avaliação de seu material, o Campo de Provas da
Marambaia.
É interessante assinalar que, nessas duas fases da evolução científica
e tecnológica no Exército Brasileiro, a atividade predominante foi a de
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 63

fabricação. Nesse período, a atividade de pesquisa e desenvolvimento


era praticamente inexistente.

3ª Fase – Ciclo da Pesquisa e Desenvolvimento


A 3ª fase tem início no final da década de 1940, como decorrência
natural da Segunda Guerra Mundial.
O nosso desenvolvimento tecnológico foi amortecido pela invasão
de equipamentos militares norte-americanos, postos à disposição
do Exército a baixo custo e com todas as facilidades de suprimentos e
manutenção, em face de um acordo de cooperação militar, firmado com
os EUA (Acordo Militar Brasil-Estados Unidos).
Com a influência americana, foi criado o Instituto Militar
de Tecnologia, em 1949, na Praia Vermelha, local para onde fora
transferida a Escola Técnica do Exército, em 1942. Iniciavam-se, no
Instituto, programas de estudo, pesquisa e controle de materiais para
a indústria. Foram as primeiras atividades organizadas de pesquisa e
desenvolvimento no Exército.
Os preâmbulos da Guerra Fria sinalizaram as futuras necessidades
do País no setor nuclear e levaram a Escola Técnica do Exército a iniciar,
em 1958, um curso de pós-graduação lato sensu em Engenharia Nuclear.
Aquelas atividades ensejaram a fusão da Escola Técnica do
Exército com o Instituto Militar de Tecnologia, em 1959, dando origem
ao atual Instituto Militar de Engenharia. O IME participou assim dos
primeiros esforços organizados do Exército, na área da Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D).
No ano de 1957, foi criado o Arsenal de Guerra de São Paulo, em
Barueri, com o objetivo inicial de fabricação dos canhões 106 SR e 57 SR
e dos obuseiros até 155mm, com as respectivas munições.
No final dos anos 1960 e nos anos 1970, em particular, eventos
importantes trouxeram grandes modificações no pensamento militar,
alterando sensivelmente o rumo das atividades no Exército Brasileiro:

– em 1967, foi elaborado e distribuído o Plano Trienal 68/70


para o Exército. Nesse documento, a Instituição reconhece como grave
o problema de nossa dependência tecnológica externa, adverte para a
necessidade de incentivar a atividade de P&D de Material de Emprego
Militar (MEM) e levanta nossas principais deficiências no setor;
64 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

O protótipo do Veículo Blindado Brasileiro foi criado, em 1967, por


engenheiros formados pelo IME e integrantes do Parque Regional de
Motomecanização/2, em São Paulo. O VBB deu origem ao renomado carro
sobre rodas Cascavel (foto debaixo)
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 65

O IME contribuiu ao esforço nacional de desenvolvimento com inúmeros


projetos de fim de curso de graduação. Dentre eles, é oportuno relacionar
o Foguete X-40 e a Mula Mecânica

– em 1969, foram criados os primeiros cursos de pós-graduação


stricto sensu no IME e, daí em diante, os mesmos foram incrementados
no exterior, com a finalidade de formar a massa crítica, com experiência
capaz de levar avante o empreendimento científico e tecnológico
preconizado no Plano Trienal;

– em 1970, foi extinto o Arsenal de Guerra da Urca e transformado


em Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento;
66 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

– em 1971, foram contratados pelo IME vários professores e


pesquisadores estrangeiros, visando levar avante os cursos de pós-
graduação criados em 1969;

– em 1975, depois de aprofundados estudos a cargo do Estado-


Maior do Exército na área da indústria de MEM, foram identificados os
seguintes fatos:
a) a obsolescência e a deterioração do parque industrial militar
estava a exigir uma modernização imediata;
b) as crescentes dificuldades em recursos orçamentários não
indicavam a possibilidade de carrear investimentos para a modernização
daquele parque;
c) a pujança crescente do parque industrial privado nacional
possibilitava razoável grau de segurança na fabricação dos MEM de
interesse do Exército;
d) em consequência, por ato do governo, foi criada a Indústria
de Material Bélico do Brasil (Imbel), que absorveu algumas fábricas e
desativou a maioria;

– em 1977, deu-se a denúncia do Acordo Militar Brasil-EUA.

Esses últimos eventos foram de alta importância para o Exército


Brasileiro. Puseram a descoberto dois problemas cruciais:

– a triste dependência do mercado externo;


– o grande gap tecnológico que nos separava dos países mais
adiantados.

Urgia, pois, que fossem adotadas, pela Alta Administração do


Exército, decisões que propiciassem ao País desenvolver uma indústria
de MEM, com tecnologia autônoma, que nos fizesse depender o menos
possível da importação de material e de tecnologias correspondentes.
Assim, sucederam os seguintes eventos:

– em 1979: criação do Centro Tecnológico do Exército (CTEx),


com a finalidade de realizar a P&D de MEM e de fomentá-lo na indústria
privada;
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 67

– em 1981: início da construção das novas, grandiosas e modernas


instalações de Guaratiba, para abrigar o CTEx e suas organizações
subordinadas;

– em 1984:
a) criação da Secretaria de Ciência e Tecnologia (SCT), com a
finalidade de gerenciar o empreendimento científico-tecnológico do
Exército;
b) criação do Centro de Avaliações do Exército (CAEx), com a
finalidade de avaliar operacionalmente os materiais.

– em 1986: criação do Instituto de Projetos Especiais (IPE), com


a finalidade de realizar P&D de projetos especiais nas áreas da física,
química e nuclear.
Por outro lado, no Arsenal continuaram as atividades de
fabricação e, nos anos 1960, produziu o canhão 40mmL60. Em
1984, a CBV, empresa de defesa situada no Rio, iniciou a fabricação
do Canhão Antiaéreo 40mmL70, para integrar o Sistema de Defesa
Antiaérea EDT-FILA, que equipara alguns Grupos de Artilharia
Antiaérea do Exército.
Em 1996, como resultado de um acordo de transferência de
tecnologia com o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, o Arsenal
iniciou a fabricação do lote piloto do Morteiro Pesado 120mm.
Então, do que foi apresentado, podemos constatar que da Casa do
Trem, na Cidade do Rio de Janeiro, originaram-se os principais esforços
em educação e em ciência e tecnologia do Exército Brasileiro. Desses
esforços, um tronco acompanhou a trajetória da educação, e outro seguiu
a trajetória da ciência e tecnologia. É lógico que ciência e tecnologia
nasce e brota sempre da educação, pois a fonte da ciência é a educação.

Contribuições da Engenharia Militar


A engenharia militar, berço da engenharia brasileira, foi pioneira
na formação de engenheiros e muito produziu para o Brasil e o Rio de
Janeiro, ao longo dos seus 200 anos de tradição. Algumas contribuições
de engenheiros militares e da Engenharia Militar passam a ser
apresentadas.
68 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Construção civil e urbanismo


1) Igreja da Candelária
Embora a construção tenha sido iniciada em 1775, em planta do
sargento-mor engenheiro Francisco João Roscio, a maior parte da obra
foi efetuada no século seguinte, e a inauguração oficial ocorreu em 1898.

2) Cidade de Petrópolis
O major engenheiro Júlio Frederico Koeler arrendou a fazenda do
Córrego Seco, do Imperador D. Pedro II, e ali estabeleceu uma colônia
de imigrantes alemães, que foi o núcleo inicial da cidade de Petrópolis,
fundada em 1845. Além do plano urbanístico, o major Koeler também
projetou e construiu o Palácio Imperial, atual Museu.

3) Hospital da Santa Casa


Esse hospital, o maior do Brasil até há bem pouco tempo, foi
construído entre 1840 e 1852, em projeto inicial do coronel engenheiro
José Domingos Monteiro.

4) Antigo Hospício D. Pedro II


Ocupado atualmente pela UFRJ, na avenida Pasteur, é um vasto
prédio neoclássico com fachada de grande extensão, construído entre
1842 e 1852, com projeto do coronel engenheiro José Domingos
Monteiro e outros.

5) Plano Geral de Remodelação da Cidade do Rio de Janeiro


O marechal engenheiro Jerônymo de Moraes Jardim, em 1875, foi
encarregado pelo ministro João Alfredo de elaborar um plano geral de
remodelação da Cidade do Rio de Janeiro, com os ilustres engenheiros
Francisco Pereira Passos e Marcellino Ramos da Silva. Com base nesse
estudo, no início do século XX, o então prefeito Pereira Passos realizou
brilhante gestão e efetuou uma real remodelação da cidade.

6) Biblioteca Nacional
É imponente construção na avenida Rio Branco. A direção da obra
de ereção foi do general engenheiro Francisco Marcellino de Souza
Aguiar. O prédio começou a ser construído em agosto de 1905 e foi
inaugurado em outubro de 1910.
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 69

7) Palácio Monroe
Esse prédio, sede do Senado Federal até a sua mudança para
Brasília, foi construído primitivamente em Saint Louis (Estados Unidos),
para servir como o pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de
1904 naquela cidade americana. Seu projeto, de autoria do general
engenheiro Francisco Marcellino de Souza Aguiar, mereceu elogios da
imprensa americana e o grande prêmio do júri da Exposição. O detalhe
interessante é que a estrutura era desmontável para possibilitar a
sua reconstrução no final da avenida Rio Branco, onde ficou até ser
inutilmente demolido na ocasião da construção do metrô do Rio de
Janeiro.

Primeiras estradas de rodagem


1) “Nova” Estrada Rio de Janeiro-Minas Gerais
O padre Perereca, conhecido cronista do reinado de D. João VI,
refere-se à construção, em 1817, pelo major engenheiro Felippe Ferreira
Goulart, de uma nova estrada do Rio de Janeiro para Minas Gerais,
passando pelas freguesias de Sacra Família e N. S. da Glória do Sertão de
Valença. Pela descrição não dá para entender se era a própria Estrada do
Comércio ou uma variante ou ramal dessa estrada.

2) Estrada União e Indústria


Essa estrada, com 144km, de Petrópolis a Juiz de Fora, foi nomeada
“a rainha das estradas brasileiras” em virtude do emprego da tecnologia
mais avançada da época, aceitáveis ainda hoje suas condições técnicas.
O major engenheiro José Koeler e o engenheiro Antônio Maria de
Oliveira Bulhões completaram o projeto e dirigiram toda a construção
da estrada, entre 1856 e 1861.

Abastecimento de água para o Rio de Janeiro


Em 1873, o marechal engenheiro Jerônymo de Moraes Jardim
assumiu a chefia da Inspetoria Geral de Obras Públicas. Sua atuação à
frente desse serviço foi marcante, destacando-se a elaboração e execução
do vasto plano de abastecimento de água para o Rio de Janeiro, que
compreendeu construção de duas longas adutoras, São Pedro e Rio do
Ouro, a construção do belo reservatório de Pedregulho e vários outros, e
70 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

de extensa rede de distribuição por toda a cidade. Segundo Silva Telles,


esse foi o primeiro plano moderno de abastecimento de água, em grande
escala e com captação a longa distância, feito no Brasil.

Cartografia
No Império, as iniciativas mais importantes de levantamento da
carta do Brasil foram a Comissão da Carta Geral do Império, a da Carta
Itinerária e a Comissão Astronômica.
A Comissão Geral da Carta do Império, embora bem planejada
pelo marechal Henrique Beaurepaire Rohan, não logrou realizar seu
objetivo, pela complexidade da tarefa e falta de recursos técnicos. Dela
resultou, apenas, a Carta Geográfica do Brasil, apresentada na Exposição
Internacional de Filadélfia (EUA, em 1877). Essa carta, porém, não
passou de uma compilação das anteriores que vinham do Brasil Colonial,
retificadas em uma ou noutra parte.
Nos primeiros anos da República, por iniciativa do Estado-Maior
do Exército, foi elaborado pelo tenente-coronel Feliciano Mendes de
Morais um novo plano de levantamento da Carta Geral do Brasil (1901).
Surgiu, daí, a Comissão da Carta Geral da República (1903). Participaram
da Comissão alguns dos mais ilustres engenheiros militares do Brasil,
entre os quais os generais Augusto Tasso Fragoso, (Francisco Marcellino
de ?) Souza Aguiar, Feliciano Mendes de Morais, Alípio di Primio, Alfredo
Malan, José Antonio Coelho Neto, coronel Armando Assis e muitos outros.
Os engenheiros geógrafos militares integrantes da Comissão da Carta
Geral foram diplomados pela Academia Real Militar, Escola Superior de
Guerra, Escola Militar do Brasil e Escola de Estado-Maior.

Astronomia
Em 1845, o ministro da Guerra, Jerônymo Francisco Coelho,
mandou instalar o observatório astronômico na Escola Militar e
designou o professor Eugênio Fernandes Soulier de Sauve para cuidar
de sua organização e instalação no Morro do Castelo. O decreto de julho
de 1846 dava o nome de Imperial Observatório do Rio de Janeiro e o
destinava a formar e adestrar os alunos da Escola Militar e da Academia
Naval. Ele é o precursor do atual Museu de Astronomia e Ciências Afins,
localizado no bairro de São Cristóvão.
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 71

Telégrafo
Em 1851, o coronel engenheiro Polydoro Quintanilha Jordão e o
professor Guilherme Schuch de Capanema realizaram, entre duas salas
afastadas da Escola Militar, a primeira transmissão telegráfica no País.
No dia 11 de maio de 1852, foi inaugurada a primeira linha telegráfica
brasileira, que era subterrânea e tinha 4.300m de extensão, entre o
Palácio da Quinta da Boa Vista e o Quartel-General do Exército, no
Campo de Santana.

Iluminação elétrica
Em 1857, aconteceu no Brasil a primeira experiência pública de
iluminação elétrica, no prédio da Escola Central, por ocasião do baile
dado a 7 de setembro, em homenagem aos imperadores.
Somente em 1883, Campos, na Província do Rio de Janeiro, passou
a ser a primeira cidade da América do Sul a ter um sistema permanente
de iluminação pública à eletricidade.

Engenharia aeronáutica
Em 1936, foram construídos nas oficinas do Parque Central
de Aviação, no Campo dos Afonsos (Rio de Janeiro), naquela época
pertencente ao Exército, os primeiros aviões M-7. O Parque dos Afonsos
era do Exército, pois ainda não existia a Aeronáutica. O avião M-7 foi o
primeiro projetado e construído no Brasil e chegou a ser produzido em
série. Ele era um biplano, com estrutura de madeira e tela, muito estável
e fácil de pilotar. O seu projetista e construtor foi o engenheiro militar e
futuro brigadeiro Antônio Guedes Muniz.

Outras contribuições
Algumas outras contribuições passam a ser enumeradas:

– Engenharia de Fortificações e de Construção é a mãe da


Engenharia Civil no País;
– Engenharia Metalúrgica, de onde nasceu com Edmundo Macedo
Soares, professor da EsTE, a ideia geradora da Companhia Siderúrgica
Nacional, precursora da industrialização brasileira;
– Engenharia Cartográfica, pioneira dos cursos superiores no
Brasil, em cartografia;
72 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

– Engenharia Mecânica e de Armamento, inspiradora de nossa


indústria de defesa;
– Engenharia Mecânica e de Automóvel, precursora de nossa
indústria automobilística;
– Engenharia Química, de atuação pioneira na implantação de nossa
indústria petroquímica, a partir da década de 1950, contribuiu para a
implantação dos programas de pesquisa da Central de Medicamentos
(CEME), na década de 1970;
– Engenharia Aeronáutica, iniciada no final da década de 1930 na
EsTE e responsável pela criação em 1950 do Instituto Tecnológico da
Aeronáutica (ITA), descendente direto do nosso IME;
– Engenharia de Comunicações, propulsora, na década de 1970,
do marcante progresso brasileiro em Telecomunicações e criadora do
Sistema PAL-M para a televisão brasileira;
– na década de 1970, o IME realizou o controle tecnológico da
construção da ponte Rio-Niterói;
– mais recentemente, a ação pioneira do IME pela criação do
primeiro curso de Engenharia de Computação do País em 1988;
– com sofisticados materiais de emprego militar modernos já
desenvolvidos ou em desenvolvimento:
Sistema Multicalibre de Foguetes Astros, produzido pela Avibras,
inspirado em trabalhos realizados no IME e no Instituto de Pesquisa
e Desenvolvimento do Exército. Foi considerado na década de 1980 o
melhor sistema de foguetes multicalibre do mundo.
Carro de Combate Principal Osório, desenvolvido pela falida
Engenheiros Especializados S/A (Engesa) e também considerado na década
de 1980 o melhor carro de combate do mundo. A Engesa politicamente não
dispôs de respaldo para a sua venda e consequente produção.
Sistema de Mísseis Anticarro, MSS1.2, guiado a laser, em
desenvolvimento pelo IPD e pela Mectron, empresa sediada em São José
dos Campos.

Na década de 1990, ou seja, mais recentemente, o IME apoiou


algumas demandas da sociedade civil e contribuiu com técnicas
estereoscópicas de aerofotogrametria para a restauração do Cristo
Redentor e no levantamento preciso, com a técnica Global Positioning
System (GPS), do sistema viário do Estado do Rio de Janeiro.
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 73

O Exército, o IME e o futuro


Na atual conjuntura, o Exército recebe influências diretas da
ciência e tecnologia e indiretas pelos processos desencadeados pela
globalização. Assim, cabe o questionamento de como a C&T impactará o
desempenho operacional do Exército no futuro.
As características operacionais e tecnológicas de guerras da Idade
Tecnológica não estão bem analisadas e definidas. Mesmo assim, pode-
se constatar:

– a busca da supremacia eletromagnética;


– a evolução do poder aéreo para o poder aeroespacial;
– a possibilidade de envolvimento quadridimensional;
– a rapidez de manobra;
– o sincronismo e a flexibilidade das ações militares;
– a precisão “cirúrgica” dos atuadores com elevado agregado
tecnológico;
– os contornos de nova logística militar;
– a busca da automação nas funções tecnológicas do combate
(Sensoriamento – Processamento – Atuação), e
– os meios modernos postos à disposição do Estado-Maior e da
tropa, impondo a necessidade de crescente profissionalização militar.

Em síntese, o grande ensinamento operacional extraído da análise


de uma guerra da Idade Tecnológica é que a gestão efetiva do complexo
militar-industrial das forças aliadas foi o fator determinante da vitória.
Em consequência, no cenário militar nacional, pode-se inferir que para
a atualização tecnológica do Exército é fundamental o trabalho conjunto
e harmônico do binômio combatente-engenheiro.
O Exército Brasileiro percebeu a premência da modernização e
já tomou medidas para funcionar em níveis crescentes de efetividade.
Para isso, criou recentemente um órgão departamental – a Secretaria
da Tecnologia da Informação – com a responsabilidade de modernizar
os meios de processamento e de comunicações, indispensáveis para a
tomada e implementação da decisão de forma ágil, confiável e efetiva.
Com o mesmo objetivo, criou na Secretaria de Ciência e Tecnologia, que
passou a Departamento em 2005, alguns programas de modernização
(como a dos carros de combate Urutu e Cascavel) e de desenvolvimento
74 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

(como a nova família de blindados para 2010, cujo primeiro modelo foi
denominado Guarani e entrou em linha de produção em 2013).
O IME simultaneamente necessita capacitar-se a formar o
engenheiro militar moderno, adequado aos desafios atuais. Para tanto,
está implementando um programa de modernização do ensino de
engenharia e visa ao seguinte perfil profissiográfico:

– ser dotado de forte embasamento científico-tecnológico, calcado


na física, química, matemática e computação;
– ser engenheiro da Idade Tecnológica, com base politécnica e
visão holística;
– possuir capacidade de trabalho no campo tridimensional;
– estar capacitado a trabalhar em atividades interdisciplinares;
– estar apto ao trabalho em equipe;
– considerar o impacto do produto do seu trabalho ao meio
ambiente;
– dar mais valor ao uso da obra do que à obra propriamente dita;
– possuir forte visão humanística;
– possuir capacidade para o exercício do estudo e aperfeiçoamento
continuado, depois da formatura; e,
– possuir capacidade de exercer liderança e chefia.

Assim, por ter sido o IME um dos pioneiros da especialização


profissional universitária no País e por ser uma escola de excelência,
enfrenta agora o desafio de se autoquestionar e se reestruturar, a fim de
continuar a participar da vanguarda na formação de recursos humanos
altamente qualificados. Em uma visão futura, o IME 2005, como tem sido ao
longo de sua secular vida, deve se comportar como uma escola de excelência.
O seu papel é influenciar muito mais o ensino e pesquisa relacionados
com o desenvolvimento estratégico do Exército e da sociedade do que
simplesmente atender às demandas instantâneas de mercado.

Conclusão
Do exposto, pode-se citar como principais conclusões:

1) É imensa a contribuição do EB para a Educação no Rio de


Janeiro e do Pais. A educação técnica superior nasceu na Casa do Trem.
A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional 75

Os ensinos fundamental e médio tiveram enorme influência do Colégio


Militar do Imperador e o ensino técnico da escola de aprendizes do
Arsenal de Guerra da Corte.

2) No campo do ensino militar, a consequência é que tanto o


ensino militar científico-tecnológico (SCT e IME) encontra-se radicado
no Rio de Janeiro quanto o ensino militar operacional (DECEx, diretorias
e escolas) possui a maior parte de sua estrutura também no Rio.

3) No campo científico-tecnológico, o EB constituiu-se no


principal braço do governo, seja imperial seja republicano, para
ativar o processo de desenvolvimento nacional. É marcante a atuação
da engenharia militar e dos engenheiros militares nas atividades
relacionadas, ao longo dos dois últimos séculos, com a indústria,
construção civil e urbanismo, estradas de rodagem, abastecimento
de água, astronomia, telégrafo, iluminação elétrica, engenharia
aeronáutica, telecomunicações, siderurgia, petroquímica, cartografia
e outros.

4) No século passado, tudo era grandioso: única escola de


engenharia do País, maior fábrica do País com mais de 1.000 empregados
etc. – assinalando elevado grau de pioneirismo na atuação do Exército
Brasileiro em prol do desenvolvimento nacional. Os campos de atividade
que caracterizaram esse pioneirismo são: ensino, P&D, engenharia,
fabricação e logística.

5) A grande participação de militares no funcionamento político-


administrativo do governo imperial e mesmo do republicano pode ser
compreendida se levarmos em consideração o número de matrículas
nas escolas superiores do País em 1864.

Faculdades de Direito (São Paulo e Recife) ........................... 826 alunos


Faculdades de Medicina (Rio de Janeiro e Salvador) ........ 294 alunos
Escola Central Ramo civil) .......................................................... 154 alunos
(Ramo Militar) ..................................................... 109 alunos
203 alunos
Escola Naval ............................................................. 94 alunos
76 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

6) Como curiosidade e resultado de nossa pesquisa, foi constatado


que os oficiais artilheiros (como Mallet e Vilagran Cabrita) e engenheiros
(como André Rebouças) integrantes das unidades de Artilharia e de
Engenharia por ocasião da Guerra do Paraguai eram, na realidade,
engenheiros militares.

7) Por oportuno, gostaria de ressaltar que, no papel de pioneirismo


caracterizador do Exército, o IME está promovendo a modernização,
com vistas às características da Idade do Conhecimento. O Instituto é
uma escola de valor estratégico para o Exército e a nação.

8) De tudo o que foi mostrado, percebe-se que o Estado do Rio


de Janeiro se constituiu no palco principal da evolução da educação de
engenharia, de 1º e 2º graus, técnica, e da ciência e tecnologia relacionada
com o Exército Brasileiro. Acreditamos que essa posição privilegiada
possa ser mantida no cenário prospectivo das próximas décadas.

9) Pode-se afirmar, finalmente, sem dúvidas: a Casa do Trem é o


berço da engenharia brasileira.
Capítulo 3

O ensino da Engenharia
Militar no Brasil1
José Carlos Albano do Amarante2

Abertura

A
Associação Brasileira de Engenharia Militar(ABEM), por
ocasião da reunião de gala, anual, do Conselho da Medalha,
vem tradicionalmente prestando homenagem a personalidades de
nossa história, passada e recente, que se destacaram por meio de atos,
ações e participações que vieram a contribuir para o desenvolvimento
das Forças Armadas brasileiras, por meio das atividades relacionadas à
Engenharia Militar.
No início dos tempos da Engenharia Militar no Brasil, entretanto,
para que tais atos, ações e participações pudessem ter a necessária
relevância e, sobretudo, serem conduzidos a bom termo e com resultados
de sucesso, tornava-se de vital importância a existência de pessoal
capacitado e treinado na então arte de construir e fazer engenharia.
Logo foi percebido que essa capacitação deveria, obrigatoriamente,
por questões de independência, ser gerada e multiplicada em território
nacional.
Muito foi feito até os dias de hoje, em nosso país, para o
desenvolvimento da arte de fazer engenharia, mas podemos ter o
orgulho de afirmar que a origem foi a Engenharia Militar e seus centros
de formação, cujas atividades remontam a cerca de 300 anos.
No ano de 1999, o Conselho da Medalha prestará honras e
homenagens às instituições de grande significado para as Forças
Armadas e que formam seus engenheiros militares.
78 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Nos dias de hoje, sociedade e governo despertaram e clamam com


ênfase por educação. A solução dos problemas do mundo globalizado
e da nova economia está intimamente ligada aos níveis culturais e
educacionais da população e na sua capacidade de desenvolver e aplicar
tecnologia, de tornar seus produtos e serviços competitivos nesse
mercado e de ter condições de acompanhar a evolução dos concorrentes.

Primórdios
Como foi visto no capítulo 1, o primeiro esforço português,
consequente no sentido de graduar engenheiros militares no Brasil
Colônia, remonta à Carta Régia, de 15 de janeiro de 1699, do rei D. Pedro
II. Com essa providência, o rei tinha como objetivo capacitar os nativos a
realizar a defesa contra ataques de outras nações à Colônia e contribuir
para o desenvolvimento colonial.
O modelo educacional adotado privilegiava o emprego de aulas
distribuídas pelas cidades mais importantes da Colônia. O objetivo foi
atingido no campo do ensino.
Cumpre ressaltar que, a partir da segunda metade do século
XVIII, foi identificada uma enorme afinidade entre a arte de fortificar e
a arte de artilhar. A consequência é que as Aulas evoluíram para Aulas
de Fortificação e Artilharia, formando engenheiros com conhecimentos
nos dois campos.

A Casa do Trem e o Arsenal de Marinha


Duas causas levaram Portugal a criar a Casa do Trem de Artilharia,
em 1762: prestar suporte logístico às forças que fossem garantir os
avanços territoriais para oeste da Linha de Tordesilhas; e a cobiça
despertada pela descoberta do ouro em Minas Gerais.
Os portugueses sempre tiveram visão e atuação estratégicas. E
não seria no final do período colonial que iriam perder a sensibilidade
de perceber que o centro de gravidade político havia sido deslocado de
Salvador para o Rio de Janeiro.
Como já tivemos a oportunidade de mencionar no capítulo 2, a
concretização da visão estratégica portuguesa ocorreu, em 1762, com
a criação da Casa do Trem de Artilharia, marco inicial da ciência e
tecnologia no Exército. Com essa iniciativa, Gomes Freire de Andrade,
o Conde de Bobadela, fez construir a Casa do Trem da Artilharia, em
O ensino da Engenharia Militar no Brasil 79

1762. O Conde usufruiu por pouco tempo o apogeu da liderança política


carioca, pois faleceu a seguir, em 1763.
Ainda nesse ano, assumia o governo da Capitania Geral do Rio de
Janeiro, com título e honras de vice-rei, D. Antônio Alvarez da Cunha,
o Conde da Cunha, com ordens expressas para fortalecer militarmente
a Colônia e, notadamente, o Rio de Janeiro. Entre outras medidas ele
instalou um estaleiro na praia ao sopé do Mosteiro de São Bento, em 29
de dezembro de 1763, cujo nome era Arsenal Real da Marinha.
Para iniciar as atividades do Arsenal, o Conde da Cunha resolveu
pela construção de uma nau, que recebeu o nome de São Sebastião –
também conhecida pelo apelido de Nau da Serpente, por ter em sua proa
a figura de um dragão. Depois de pronta, veio a prestar serviços por
longos anos à Armada Portuguesa.
Em 1764, o mesmo Conde da Cunha transformou a Casa do Trem
em Arsenal do Trem com a construção do prédio localizado na antiga
Ponta do Calabouço, que abrigou, no século passado, o Arsenal de Guerra
da Corte e que, desde 1922, é a sede do Museu Histórico Nacional.
A evolução da já citada Aula Militar do Regimento de Artilharia
possibilitou a criação, em 17 de dezembro de 1792, da Real Academia
de Artilharia, Fortificação e Desenho, considerada a Raiz Histórica do
Instituto Militar de Engenharia (IME) – com o propósito de formar
oficiais de todas as Armas e engenheiros para o Brasil Colônia. Nela,
os oficiais destinados à Infantaria e à Cavalaria cursavam três anos; os
artilheiros, cinco anos, e os destinados à Engenharia, seis anos, no último
dos quais eram lecionadas as cadeiras de Arquitetura Civil, Materiais de
Construção, Caminhos e Calçadas, Hidráulica, Pontes, Canais, Diques e
Comportas.
Cabe aqui relevante observação. Desde o século XVIII até o início
do século XX, nos cursos de formação de oficiais, o artilheiro era, na
realidade, o engenheiro-artilheiro, formado para projetar, fabricar
e operar o armamento. Ele era, pois, um misto de oficial técnico e
operacional.

Real Academia
Chega-se ao final do século XVIII, encerrado com a pródiga década
de 1790, já que, a partir dela, o ensino evoluiu, aperfeiçoando-se os
alicerces da estrutura que chegou à Independência.
80 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Entretanto, o fato relevante do período foi a transformação, em


1792, da Aula Militar do Regimento de Artilharia na Real Academia
de Artilharia, Fortificação e Desenho da Cidade do Rio de Janeiro. A
Real Academia foi fundada pela D. Maria I com o objetivo de graduar
engenheiros militares e de formar oficiais combatentes.
Os lentes nessa transição foram o tenente-coronel de Artilharia
Antônio Joaquim Oliveira, até 1794, e José de Oliveira Barbosa, de 1793 em
diante. Na verdade, promovido, o coronel Joaquim Oliveira permaneceu
como lente até 1794, quando então o capitão José de Oliveira Barbosa
assumiu a responsabilidade de conduzir os destinos da Real Academia.
Essas aulas continuaram até a chegada de D. João VI, em 1808, que pouco
tempo depois organizou e fundou a Academia Real Militar.
José Antônio Caldas foi lente na Aula da Bahia, de 1761 a 1782. A
Carta Régia de nomeação impôs-lhe a obrigação de “ditar na Aula Militar
defesas de praças, expugnação delas e geometria especulativa”. Caldas
deu uma interpretação mais ampla a esse programa, ainda além do que
fizera o seu mestre, e incluiu no seu ensino, por exemplo, geodésia, cartas
topográficas e iconográficas, cálculo das despesas dos edifícios militares
e civis, medição de obras de cantaria, alvenaria e carpintaria. Agregou
ainda “uma Arte da Guerra com vários princípios de tática dos corpos
de Infantaria e Cavalaria e um apêndice de fortificação passageira ou de
campanha...”. Em síntese e como ele escreveu: “Não só dita as matérias
concernentes aos que se destinam para engenheiros, senão ainda a
Artilharia e as mais instruções que formam um homem de guerra.”
A Real Academia consistia de um projeto arrojado do Conde
de Resende, pois pretendeu ministrar o ensino matemático dos dois
primeiros anos da Academia da Marinha de Lisboa. Em Lisboa, além
dos lentes da Academia da Marinha, havia seis lentes e seis substitutos,
enquanto no Rio de Janeiro só se contava com o lente da Aula Militar do
Regimento de Artilharia para os cinco primeiros anos, e com outro lente
para o último ano, correspondente à engenharia civil. Ainda que fossem
previstos dois substitutos para cada um dos dois lentes, advinha-se a
dificuldade da tarefa destes que, ainda por cima, acumulavam com
outras funções como a de comandante do Regimento.
No Almanaque da Cidade do Rio de Janeiro para o ano de 17923 e
sob o número 15, a Aula Militar se achava assim referida. A autoria da
publicação no Almanaque foi atribuída por Rodolfo Garcia ao tenente de
O ensino da Engenharia Militar no Brasil 81

bombeiros do Regimento de Artilharia Antônio Duarte Nunes. Naquele


ano, além do lente já referido, tenente-coronel Oliveira, contribuíam
para as atividades pedagógicas o seu substituto, o sargento-mor Joaquim
Correia da Serra, e os ajudantes de ensino Antônio de Souza, Joaquim
Correia Rangel e Antônio Roiz Monteirinhos. Os alunos partidistas
(bolsistas) arrolados eram seis: Aureliano José de Souza, Francisco
Antônio Bitancourt, José Aniceto, Antônio de Barros Coelho, Ignacio
Cardoso Prestelo Quitanilla e Luiz Antônio de Oliveira Bulhões.
No final do ano de 1792, foi criada a Real Academia de Artilharia,
Fortificação e Desenho, conforme estatutos aprovados em 17 de
dezembro pelo vice-rei D. José Luiz de Castro, segundo Conde de Rezende,
“querendo melhorar a instrução ministrada à mocidade que tenha a
honra de servir à Sua Majestade nos Regimentos de linha e milícias.”4
Destinada aos oficiais e soldados dessas organizações militares, a Real
Academia constituiu-se em uma ampliação da Aula Militar, abrangendo
maior quantidade de alunos e uma ampliação curricular.
Provavelmente por essa razão, a Real Academia passou a funcionar
na Casa do Trem, instalação próxima ao Regimento de Artilharia e mais
adequada às práticas pedagógicas. Entretanto, para um curso acadêmico
com duração de seis anos, ela contava com o lente do Regimento de
Artilharia – que ao mesmo tempo era o comandante do quartel – para
os cinco primeiros anos de curso e com outro lente para o último ano,
correspondente à engenharia civil. Além desses professores, a Real
Academia oferecia diversas cadeiras com um lente específico para cada
uma:5

– Inspetor de aula – Joaquim Xavier Curado.


– Lente de Fortificação Militar de Bitoud – capitão Antônio Lopes
de Barros.
– Lente de Geometria Prática Militar de Belidor – capitão Albino
dos Santos Pereira.
– Lente de Aritmética de Bezout – tenente Francisco Antônio da
Silva.
– Lente de Desenho de Bouchitt – tenente Aureliano de Souza, que
havia sido partidista em 1792.
– Lente de Idioma Francês – tenente-coronel José Caetano de Araujo.
– Lente das Primeiras Letras – tenente João Alves Marques.
82 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

– Secretário – sargento-mor de milícias Domingos Francisco


Ramos Filho.

É interessante ressaltar que “os filhos do Conde de Rezende


frequentariam essa aula.”6 Note-se que não havia no Rio de Janeiro daquela
época escola melhor para se educar um jovem e o Conde bem o sabia...
Dessa maneira, passando a funcionar em 1793 na Casa do Trem,
a Real Academia tinha o “caráter de um verdadeiro instituto de ensino
superior, com organização comparável aos congêneres da sua época.”5 Na
realidade, a Real Academia oferecia um curso de ciências exatas, em seis
anos, com exercícios práticos de campo a partir do segundo ano. Esse curso
destinava-se à formação de oficiais do Exército de todas as Armas. Oficiais
de Infantaria e de Cavalaria realizavam apenas os três primeiros anos, os
de Artilharia, os cinco primeiros, e os de Engenharia, o curso completo
de seis anos. O sexto ano era dedicado exclusivamente à engenharia civil
e incluía o estudo do corte de pedras e madeiras, orçamento de edifícios,
conhecimento dos materiais que entram na sua composição, os melhores
métodos para a construção de caminhos e calçadas; e também hidráulica
e as demais partes que lhe são análogas, como a arquitetura de pontes,
aquedutos, canais, diques e comportas.
O Almanaque6 de 1794 referencia, erradamente, a Real Academia
como Academia Militar de Geometria, Fortificação e Desenho. Devemos
atribuir essa diferença a uma imprecisão não intencional, pois não havia
motivo para mudança. De qualquer maneira, a equipe de professores se
alterou um pouco:

– Lente da Real Academia – coronel (promovido) de artilharia


Antônio Joaquim de Oliveira.
– Substituto do Lente – capitão José de Oliveira Barbosa.
– Secretário – capitão Domingos Francisco Ramos Filho.
– Substituto do Desenho – partidista Antônio Lopes de Barros.
– Porteiro e Guarda-Livros – sargento José Caetano Quartelamento.

O milagre de criar um curso superior, sem nenhuma experiência


prévia, foi operado por José de Oliveira Barbosa, de início capitão de
bombeiros, mais tarde governador e capitão-general do Reino de Angola
e personalidade notável do Brasil independente.
O ensino da Engenharia Militar no Brasil 83

Finalmente, em 4 de dezembro de 1810, o Príncipe Regente assinou


a Carta de Lei, que criou a Academia Real Militar, estabelecimento de
invulgar nível científico para a época, destinado não só a fazer face às
necessidades militares, mas também, nos termos do diploma, a formar
“hábeis oficiais de Engenharia, e ainda mesmo oficiais da classe de
engenheiros geógrafos e topógrafos, que possam também ter o útil
emprego de dirigir objetos administrativos de minas, de caminhos,
portos, canais, pontes, fontes e calçadas”.
Com o ensino naval já assegurado pela Companhia e a Academia
Real de Guardas-Marinhas e com a criação da Academia Real Militar,
preparava-se o Brasil para Independência, dotado de um ensino
militar excelente e atualizado, sem paralelo nos restantes territórios
americanos, o qual esteve na origem de uma elite de grande projeção
nacional.
Finalmente, por dever de justiça, deve-se enfatizar que a Real
Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho desempenhou com brilho
o papel de escola pioneira do ensino superior no Brasil. A Academia
Real constituiu-se, simultaneamente, na raiz histórica do Instituto
Militar de Engenharia, no antecedente primeiro da Escola Politécnica, a
primogênita das escolas de engenharia dirigida por civis e para civis, e
ainda na origem da Academia Militar das Agulhas Negras.

Ensino militar no século XIX


O ensino militar na Bahia prosseguiu no Regimento de Artilharia,
até os acontecimentos de 1821, quando tinha acabado de ser nomeado
lente José Elói Pessoa da Silva. Ele era um oficial baiano que tinha tido
licença com vencimento durante seis anos e quatro meses para se formar
em Coimbra. De lá regressara bacharel em matemática e filosofia e viria,
mais tarde, a ser figura de relevo na vida pública brasileira.
Assim, Latino Coelho, referindo-se às Academias do Reino,
considerava que o seu ensino “permaneceu em enfezado rudimento”,
e, recentemente, um autor português, uma reconhecida autoridade em
matéria de fortificações, classificava-o de aprendizagem prática, sendo
os conhecimentos transmitidos nos estaleiros das obras.
No Brasil, Jehovah Motta escreveu: “Seriam essas academias (as
do Reino) como as que, segundo certos documentos, funcionaram no
Brasil, nos séculos XVII e XVIII, precários cursos intermitentes e sem
84 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

maior significação... Consideramo-las fatos irrelevantes...”. Por sua vez,


o coronel João Batista Magalhães, referindo-se à criação de Aulas no
Rio, Bahia e Maranhão, escreveu: “Não encontramos, porém, nenhum
vestígio do resultado prático de tais criações...”
Ora, do anteriormente exposto, concluímos que o ensino não era
apenas prático. Empenhavam-se os lentes em dar a formação teórica em
vigor na época, sendo certo de que as matérias transmitidas não eram
inferiores àquelas dadas no Reino. O fato de os engenheiros terem de
atuar isolados, no Brasil, em uma gama de trabalhos tão variada, que ia
da arquitetura militar à civil, da urbanização à cartografia ou das minas
à hidráulica, sem esquecer a atuação específica no combate, terá levado
alguns lentes a ministrar uma formação muito ampla e cuidada.

Evolução no Exército a partir da Casa do Trem


A Real Academia, com sua estrutura de ensino e suas instalações
físicas, serviu como fonte de inspiração para instaurar a Academia
Real Militar, em 23 de abril de 1811. Considerando a viagem da corte
portuguesa da Europa para o Brasil, D. João VI criou em Carta Régia, de
4 de dezembro de 1810, a Academia Real Militar.
A Academia funcionou inicialmente na Casa do Trem até que
ficassem prontas as novas instalações, no Largo de São Francisco. Em
1812, a edificação ficou pronta, acolhendo sem maiores delongas a
Academia.
A Academia Real Militar mudou de nome quatro vezes,
acompanhando as evoluções políticas acontecidas no Brasil no século
XIX.
A primeira foi a Imperial Academia Militar, em 1822, quando o
Brasil conquistou a independência e instaurou o Império.
A seguinte foi a Academia Militar da Corte, em 1832, por ocasião da
implantação da Regência. A terceira assumiu o nome de Escola Militar,
em 1840, e sinaliza o andamento das aulas no final do período regencial
(1830-40).
A quarta foi a Escola Central, em 1858, que viveu o prelúdio da
Guerra do Paraguai. Com o afastamento, em 1874, das finalidades
militares, a Escola Central passou para a jurisdição da Secretaria do
Império, mudou o nome para Escola Politécnica e começou a formar
exclusivamente engenheiros civis (não militares).
O ensino da Engenharia Militar no Brasil 85

São dignos de nota alguns fatos associados com o funcionamento


da Escola Militar e da Escola Central:

– relacionado com a Astronomia


Em 1845, o ministro da Guerra, Jerônymo Francisco Coelho,
mandou instalar o observatório astronômico na Escola Militar,
designando o professor Eugênio Fernandes Soulier de Sauve para cuidar
de sua organização e instalação no Morro do Castelo. O Decreto de julho
de 1846 dava o nome de Imperial Observatório do Rio de Janeiro e o
destinava a formar e adestrar os alunos da Escola Militar e da Academia
Naval. Foi o precursor do atual Museu de Astronomia e Ciências Afins,
localizado no bairro de São Cristóvão.

– relacionado com o Telégrafo


Em 1851, o coronel engenheiro Polydoro Quintanilha Jordão e o
professor Guilherme Schuch de Capanema realizaram entre duas salas
afastadas da Escola Militar a primeira transmissão telegráfica no País.
No dia 11 de maio de 1852, foi inaugurada a primeira linha telegráfica
brasileira, que era subterrânea e tinha 4.300m de extensão, entre o
Palácio da Quinta da Boa Vista e o Quartel-General do Exército, no
Campo de Santana.

– relacionado com a Iluminação Elétrica


Em 1857, aconteceu no Brasil a primeira experiência pública de
iluminação elétrica no prédio da Escola Central, por ocasião do baile
dado a 7 de setembro, em homenagem aos imperadores.
A formação de engenheiros militares, bem como a de oficiais do
Exército, iria ser feita na Escola Militar da Praia Vermelha de 1874 a
14 de novembro de 1904, quando foi fechada em razão da Revolta da
Vacina Obrigatória, transferida a seguir para Realengo.
Depois de 1874, a Escola Central, do Largo de São Francisco, a
única escola de engenharia do País, adotou o nome de Escola Politécnica.
Em 1937, passou a denominar-se Escola Nacional de Engenharia, mais
tarde absorvida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Outras escolas de engenharia que apareceram no século XIX:


86 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Em 1876, a Escola de Minas de Ouro Preto;


Em 1893, a Escola Politécnica de São Paulo;
Em 1895, a Escola de Engenharia de Pernambuco;
Em 1896, a Escola de Engenharia Mackenzie; e,
Em 1897, a Escola Politécnica da Bahia.

Hoje, como uma consequência natural do processo evolutivo de


crescimento da engenharia, existem 142 escolas de engenharia no País.
Assim, no século XX, foram estabelecidas independentes as linhas
de formação de oficiais combatentes e de graduação de engenheiros
militares. Dessa forma, em 1913, a Escola Militar de Realengo unificou
a formação de oficiais das Armas. Nessa linha, em 1944, finalmente a
formação de oficiais passou a ser feita na Escola Militar de Resende,
denominada, a partir de 23 de abril de 1951, Academia Militar das
Agulhas Negras (AMAN), considerada hoje como uma das melhores
escolas militares do mundo.
No que concerne à linha de graduação de engenheiros, por
orientação da Missão Militar Francesa – vimos no capítulo 1 –, em
1930 começou a funcionar a Escola Militar de Engenharia, criada em
1928, com o objetivo de formar engenheiros-artilheiros, engenheiros-
eletrotécnicos, engenheiros-químicos e engenheiros de construção, nas
instalações hoje ocupadas pelo 1º Batalhão de Polícia do Exército, na
rua Barão de Mesquita, no bairro da Tijuca. A partir de 1934, passou a
ter a denominação de Escola Técnica do Exército.
A EsTE prestou importantes serviços à Engenharia Militar e
ocupou as modernas instalações na Praia Vermelha. Nesse ambiente
atualizado, a Escola cresceu e abrigou vários cursos, entre os quais o de
engenheiro aeronáutico. No ano de 1950, a Escola Técnica de Aviação
foi criada a partir do curso de aeronáutica e se instalou em São José dos
Campos-SP. Essa escola deu origem ao atual Instituto Tecnológico de
Aeronáutica (ITA). O IME é pai do ITA.
Com a influência norte-americana, o Exército criou o Instituto
Militar de Tecnologia (1949). Depois de 10 anos de operação gerando
tecnologia, a EsTE (1934) e o IMT (1949) foram fundidos em uma única
organização militar, a nossa desejada e esperada instituição: o Instituto
Militar de Engenharia, em 1959.
O ensino da Engenharia Militar no Brasil 87

Evolução na Marinha
Em 1831, pouco antes da reforma da Academia Imperial Militar
para a Academia Militar da Corte, foi proposta a criação de um curso de
“Engenheiros Construtores Navais”. Esse curso seria ministrado em três
anos, depois da conclusão dos dois anos de curso básico da Academia,
então denominado de “curso matemático”. Teria sido o primeiro curso de
engenharia especializada do Brasil, mas nunca chegou a ser implantado.
Em razão da inexistência de cursos de engenharia naval, os
profissionais que dirigiam a construção naval no Arsenal de Marinha
– impropriamente chamados de construtores – eram simplesmente
antigos operários que passavam a mestres e depois a construtores. O
único aprendizado profissional dessas pessoas era o feito nas aulas de
geometria e desenho do próprio Arsenal, pelo estudo como autodidatas
e, especialmente, pela experiência. A necessidade de melhor formação
para esses profissionais já era sentida e, mais de uma vez, foi reclamada.
O relatório anual do ministro da Marinha, de 1834, dizia
taxativamente que:

alheios à teoria dessa ciência e às que dela dependem,


os nossos construtores estão longe de poderem ser
considerados hábeis engenheiros. Daqui pode resultar, e
desgraçadamente tem resultado, grave detrimento para
o material de nossa Marinha de Guerra. A criação de uma
Escola de Construção Naval parece-me aconselhada pelos
interesses da Marinha e da Fazenda Pública.

Em 1851, outro ministro dizia que “não é menos indispensável


cuidar da instituição de uma Escola de Construção Naval, que até hoje
tem andado nas mãos de práticos, apenas aptos para executar planos
levantados por engenheiros que possuam todos os conhecimentos de
tão difícil ciência”.
Em 1840, o coronel engenheiro Ricardo José Gomes Jardim,
professor de astronomia e geodésia na Escola de Engenharia e
especialista em obras hidráulicas, foi mandado dar aulas de Arquitetura
Naval, no regresso de sua viagem à Europa, onde fora estudar. Na
mesma época, o Marquês de Paranaguá, insistindo na necessidade de
que tivéssemos verdadeiros engenheiros navais – e não somente antigos
88 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

operários de formação empírica –, recomendava que fossem enviados à


Europa “jovens brasileiros, à custa da Fazenda Pública, para adquirirem
os necessários conhecimentos”, providência que foi de fato adotada
pelo Governo. Assim, durante mais de um século civis e militares foram
mandados à Europa e, em passado mais recente, aos Estados Unidos,
para se diplomarem em Engenharia Naval.
A Engenharia Naval brasileira, tão necessária à Marinha,
percorreu um caminho distinto. Como já foi comentado, a falta de
pessoal qualificado e em quantidade suficiente para atender às
demandas por conhecimento de cálculo das estruturas de um navio,
o funcionamento de suas máquinas, sua estabilidade e de todos os
assuntos atinentes à sua manutenção era crítica e lamentável. Não
havia sequer um curso especializado em engenharia naval, em todo o
território nacional.
A Marinha, por intermédio de seu ministro, o almirante de esquadra
Renato de Almeida Guilhobel, designou uma comissão de engenheiros
presidida pelo vice-almirante engenheiro naval Otacílio Cunha, para
estudar e planejar o estabelecimento, no País, de curso para a formação
de engenheiros navais. A nacionalização da formação de engenheiros
dessa especialidade era o primeiro passo efetivo para o estabelecimento
da indústria de construção naval brasileira, com técnicos de formação
adaptada à realidade nacional.
Dois anos de estudos e pesquisas levaram a comissão designada a
manter entendimentos com a Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo, única entre as consultadas que, possuindo as condições técnicas
exigidas, entusiasticamente aceitou a ideia e se prontificou a assumir a
responsabilidade de, com a Marinha, tornar realidade o sonho antigo
de um grupo de brasileiros conscientes: formar engenheiros para o
estabelecimento da indústria de construção naval no Brasil.
O primeiro curso de Engenharia Naval de nível universitário no
País foi resultado de um convênio assinado, em 18 de maio de 1956,
entre a Universidade de São Paulo e a Marinha do Brasil. Esse convênio
estabelecia que a Escola Politécnica manteria em sua organização
didática o Curso de Engenharia Naval, a ser frequentado por estudantes
civis matriculados de acordo com as normas da Escola, por
estudantes civis bolsistas da Marinha e por oficiais da Marinha
selecionados no Concurso para o Corpo de Engenheiros e Técnicos
O ensino da Engenharia Militar no Brasil 89

Navais, realizado anualmente pela Marinha, em consonância com


regulamentação própria.
Para o funcionamento do curso, a Marinha comprometia-se
a fornecer professores para o ensino das disciplinas específicas da
construção e da arquitetura naval, fossem eles oficiais da MB ou
professores especialmente contratados no exterior, durante o tempo que
fosse necessário à formação de professores nacionais. Comprometia-se,
também, a garantir bolsas de estudo no exterior a assistentes designados
pela Escola Politécnica, para a obtenção de mestrados e doutorados,
de modo a poder assegurar a continuidade e a competência do Corpo
Docente ligado ao curso de Engenharia Naval.
A coordenação e o gerenciamento dos compromissos assumidos
por meio do convênio não poderiam ser feitos a distância. Para
exercer esse papel, a MB criou, em 27 de agosto de 1956, com a Escola
Politécnica e em instalações por ela cedidas, o Escritório Técnico de
Construção Naval. Seu diretor seria um oficial superior – capitão de mar
e guerra – do Corpo de Engenheiros e Técnicos Navais especializado em
construção naval, que também exerceria as funções de coordenador de
Engenharia Naval na parte referente às obrigações da Marinha para com
a Escola, com os alunos oficiais, com os alunos bolsistas da MB, com o
pessoal docente contratado ou estudando por conta da MB e à aplicação
ou interpretação das demais cláusulas do convênio.
Com o passar do tempo, as atividades exercidas pelo Escritório
Técnico de Construção Naval foram sendo ampliadas, até que, em 11 de
novembro de 1996, foi feita uma reestruturação organizacional e seu
nome passou a ser Centro de Coordenação de Estudos da Marinha em
São Paulo (CCEMSP).
Tal organização continua instalada em área cedida pela
Universidade de São Paulo, no Departamento de Engenharia Naval, e
possui um centro de computação utilizado por alunos civis e militares
em diversos trabalhos acadêmicos. Sua missão é coordenar o esforço de
integração da MB com as instituições de ensino superior do Estado de
São Paulo, em áreas acadêmicas e de ciência e tecnologia.
A localização do CCEMSP facilita o constante rastreamento das
atividades de pesquisa nas universidades, permitindo a identificação
daquelas que podem vir a ser de interesse da MB, auxiliando nos
90 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

trabalhos da Secretaria do Conselho de Ciência e Tecnologia da


Marinha.

Evolução na Força Aérea


A partir do Curso de Formação de Engenheiros de Aeronáutica,
criado em 1939, na Escola Técnica do Exército, com matrícula facultada
exclusivamente a candidatos com curso superior na área de ciências
exatas e a oficiais da Arma de Aviação do Exército, aconteceu a evolução
da engenharia militar da então futura Força Aérea Brasileira.
Em 1941, com a criação do Ministério da Aeronáutica, como
contingência da Segunda Guerra, todas as atividades relacionadas com
as aviações civil e militar foram transferidas para esse novo órgão.
O Curso de Formação de Engenheiros de Aeronáutica incorporou-
se, automaticamente, à jurisdição do novo Ministério. Entretanto,
continuou a ser ministrado na Escola Técnica do Exército até ser
transferido, em 1950, para o Instituto Tecnológico de Aeronáutica e
transformar-se no Curso de Engenharia Aeronáutica do ITA.
Em 1941, o primeiro-ministro da Aeronáutica, Dr. Joaquim Pedro
Salgado Filho, e o contra-almirante Armando Figueira Trompowsky de
Almeida – diretor de Aeronáutica da Marinha – tinham plena convicção
de que o novo Ministério, para desempenhar suas atribuições civis e
militares, dependeria essencialmente de absorver e desenvolver, no
País, modernas tecnologias aeronáuticas. Com o envolvimento do Brasil
na Segunda Guerra Mundial, o Ministério da Aeronáutica provou não
ser mais possível operar e coordenar grandes atividades aéreas sem a
existência, no País, de local de formação de pessoal especializado em
técnicas de aviação e de aeronaves.
O programa de desenvolvimento científico e tecnológico ficou
a cargo da Diretoria de Tecnologia Aeronáutica, por intermédio da
Subdiretoria de Material. Foi indicado para assumir o comando da
Subdiretoria o tenente-coronel-aviador Casimiro Montenegro Filho.
A criação de uma escola de engenharia aeronáutica importava
na necessidade de construção de laboratórios e oficinas de elevado
custo, imprescindíveis ao ensino superior universitário, à pesquisa, aos
exames, testes, vistorias e demais atividades técnicas de interesse da
Força Aérea Brasileira (FAB).
O ensino da Engenharia Militar no Brasil 91

Em 1945, uma comitiva integrada por autoridades da Aeronáutica


visitou diversas bases aéreas americanas e, por sugestão de um oficial
que estava nos Estados Unidos cursando Engenharia Aeronáutica, foi ao
Massachussets Institute of Technology (MIT) para conhecer a estrutura
de ensino do Departamento de Aeronáutica e a seu chefe, o professor
Richard H. Smith. Com base no intercâmbio de conhecimentos, chegou-
se à conclusão de que se fazia necessário, no Brasil, a criação de uma
escola de alto nível para a formação de engenheiros aeronáuticos voltada
para a aviação civil e militar e não apenas para cuidar dos assuntos de
interesse da FAB.
A Instituição, além de criar condições de elevar o nível de
conhecimento e de permitir o estabelecimento de uma indústria capaz
de competir com os adiantados países estrangeiros, traria também
os benefícios indiretos de implementar nas indústrias correlatas um
elevado padrão de controle de qualidade de produtos e da aplicação dos
modernos materiais usados no campo aeronáutico, bem como permitir
a capacitação para homologar projetos e protótipos, otimizar a operação
de empresas comerciais de transporte aéreo e implantar exigências de
segurança técnica sobre a aviação civil em geral.
O desejo guardado há muitos anos pelo prof. Smith de participar da
criação de uma instituição desses moldes e a real necessidade, por parte
da Aeronáutica, de implantá-la no Brasil, fez nascer desse encontro uma
grande possibilidade da concretização desses ideais.
Fruto da perseverança e trabalho dessas pessoas, foi criado pelo
Decreto nº 27.695, de 16 de janeiro de 1950, o Instituto Tecnológico de
Aeronáutica, o ITA, definido pela Lei nº 2.165, de 5 de janeiro de 1954,
como Órgão de Ensino Superior do Ministério da Aeronáutica, cuja
finalidade é formar profissionais de alto nível de concepção, realizar
pesquisas e realizar atividades de extensão universitária, no campo
da tecnologia avançada, prioritariamente de interesse aeroespacial.
O ITA faz parte e é vinculado administrativamente ao Centro Técnico
Aeroespacial (CTA), uma instituição de pesquisa e desenvolvimento e de
fomento da ciência e tecnologia do Ministério da Aeronáutica.
O ITA atualmente é responsável pela formação de engenheiros
nas especialidades de Engenharia Aeronáutica, Engenharia Eletrônica,
Engenharia Mecânica-Aeronáutica, Engenharia de Infraestrutura
Aeronáutica e Engenharia de Computação.
92 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Conclusão
A síntese do pensamento moderno indica que as instituições que
não se preocuparem com o domínio da tecnologia e da comunicação
social estarão condenadas ao fracasso no século XXI. Nesse sentido, os
Órgãos de Formação de Engenheiros Militares têm buscado capacitar
recursos humanos para atender às crescentes demandas nacionais no
campo da ciência e tecnologia, visando romper o hiato tecnológico que
separa o Brasil das grandes potências.
As atuais gerações de engenheiros militares buscam inspiração
nos seus antecessores para dar continuidade ao passado de realizações
e manter a admirável posição de importante polo produtor e irradiador
de cultura técnica, em parceria com as comunidades acadêmicas de
cunho nacional e internacional.
Pode ser notado que as origens do Ensino da Engenharia Militar
em cada uma das Forças são distintas e que ocorreram em épocas
também distintas. As soluções adotadas por cada Força diferem entre
si, com semelhanças no Exército e na Aeronáutica, os quais possuem
instituições próprias de altíssimo nível técnico e de reconhecida
qualidade na formação de jovens civis e militares – o IME e o ITA.
De modo distinto, a Marinha optou por um convênio com a Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, de onde se deu partida a
elevado grau de desenvolvimento técnico para as duas instituições nas
áreas de Hidrodinâmica, Teoria do Navio, Arquitetura Naval e Sistemas
Integrados de Propulsão.
Apesar das diferentes soluções, idades e características próprias, o
ensino da Engenharia Militar Brasileira teve em comum a sensibilidade,
a determinação e a vontade de vencer de seus pioneiros, bem como a
convicção e o apoio dos seus chefes militares.
De tudo apresentado, pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas,
que a Casa do Trem foi o berço da Engenharia Militar e da Engenharia
Brasileira, que o Estado do Rio de Janeiro se constituiu no palco principal
da evolução da educação de Engenharia do Brasil e que o pioneirismo
se mantém até os dias de hoje, no âmago das Forças Armadas, com
a preocupação em formar o engenheiro característico da Idade do
Conhecimento.
Para encerrar, deixaremos nossos agradecimentos aos Órgãos de
Formação do Engenheiro Militar e aos que construíram o passado em
O ensino da Engenharia Militar no Brasil 93

alicerces firmes e duradouros, citando alguns de nossos engenheiros


militares das três Forças: Mallet, Vilagran Cabrita, André Rebouças,
general Mascarenhas de Moraes, general Mendes de Moraes, engenheiros
Napoleão Level, Carlos Bracannot, Trajano Augusto de Carvalho,
João Candido Brasil, almirante Júlio Regis Bittencourt, Joaquim Rego
Monteiro, brigadeiro-aviador Casimiro Montenegro Filho, brigadeiro-
aviador Faria Lima, coronel-aviador engenheiro Telles Ribeiro, major-
aviador engenheiro Oswaldo Nascimento Leal, e muitos outros que
poderíamos citar por longas horas. A todos o nosso muito obrigado.

Bibliografia
PIRASSUNUNGA, O Ensino Militar no Brasil Colônia
D. PEDRO II, Carta Régia, de 15 de janeiro de 1699.
Capítulo 4

Do Colégio Militar do Imperador


ao Sistema Colégio Militar
do Brasil ou de 1840 a 19981, 2
José Carlos Albano de Amarante3
Paulo Cesar de Castro4

C
aminhavam5 em direção à Praça Quinze, que iriam rever
depois de reinaugurada pela Prefeitura, em 1997. A
restauração havia sido primorosa. Gostaram muito. Aproveitaram para
visitar o Museu Histórico Nacional. Lembraram os fatos que o velho
prédio testemunhara. Bem à entrada, uma placa no chão assinalava o
exato local em que tombara, mortalmente ferido, o marechal Bittencourt,
patrono do Serviço de Intendência. Velhos amigos, José Cesar e Paulo
Carlos retornaram à Praça Quinze.
Sentaram-se e pediram bebidas e tira-gostos. O bar permitia-
lhes ver o velho Paço, à rua Primeiro de Março e, ao longe, os muros do
Museu Histórico. Bem ao centro da praça, a estátua do marechal Osorio.
Sem entenderem bem como, repentinamente se sentem retroceder no
tempo...
À sua frente, salta de um tílburi sisudo senhor, enfatiotado,
bengala à mão. Aproxima-se célere e entrega-lhes um documento,
letras artisticamente desenhadas à pena, tinta nanquim, por esmerado
calígrafo. A tinta ainda fresca, o papel apergaminhado e o anúncio do
barbudo portador emprestavam especial valor ao texto: “Saibam todos,
Sua Majestade dignou-se criar novo liceu!”
De fato, era importante. Um decreto!
96 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Afastou-se quase que marchando, sem mais explicações. Deixara o


pergaminho enrolado nas mãos do José Cesar. O tílburi, célere, sumiu em
direção ao Morro de São Bento.
O que lhes fora entregue era, de fato, um decreto, verdadeira
certidão de nascimento, como descobririam a seguir. Assinava-o Pedro
de Araújo Lima, o Conde de Lages, senador do Império, ministro e
secretário de Estado dos Negócios da Guerra. Datava de 11 de março
de 1840. Muitos e muitos anos mais tarde, precisamente em 1997, seria
reencontrada, nos arquivos do Arsenal de Guerra do Rio, parte de um
volume de extenso título: Collectanea e Ligeiro Histórico do Arsenal de
Guerra do Rio de 1773 a 1922, editada em 31 de julho desse ano, pelo
Escriptório da 2ª Secção do citado Arsenal.
Sua leitura abriu as cortinas do passado...
Teriam viajado pelo tempo? José e Paulo passaram a “ver” grupos
de jovens, filhos legítimos de capitães e de oficiais subalternos do
Exército, dirigindo-se à missa.
Lá iam eles, ostentando suas insígnias de cadetes sobrepostas ao
“uniforme dos domingos e dias santos”, uma fardeta6 de pano azul com
cabos amarelo-ouro avivados de verde, barrete azul com orla amarela,
sapatos de couro preto e gravata militar da mesma cor.
Eram, quase todos, órfãos ou pobres, maiores de 6 e menores de 15
anos. Mostravam-se saudáveis, vez que, quando da seleção, não haviam
sido admitidos os portadores de moléstias crônicas ou de defeitos,
físicos ou mentais.
Seguia junto aos alunos um monitor, aquele mesmo que os
acompanhava nos refeitórios, nas salas de aula e na educação física, a que
chamavam “exercícios ginásticos”. À tarde, desfrutariam de momentos
de descontração. Ouvida a missa, poderiam sair a passeio, ainda que
acompanhados do assíduo monitor.
A rotina semanal daqueles jovens havia sido exaustiva: alvorada,
ao romper do dia; meia hora para se aprontarem e formatura, na qual se
dizia a oração da manhã; daí ao lavatório, à revista e à sala de estudos;
ao toque da sineta, almoço. A labuta diária recomeçava meia hora depois
do almoço; mais aulas e lições até o meio-dia. De meio-dia e meia à uma,
jantar; às duas, novos estudos, que se prolongavam até o pôr do sol; ceia
e, às 8h, lavatório, oração e dormitório. Ah, e que não esquecessem de
dar graças a Deus depois de cada refeição!
Do Colégio Militar do Imperador ao Sistema Colégio Militar do Brasil... 97

Justificava-se, pois, a ansiedade dos jovens pelos passeios das


tardes de domingo e dias santos. Valia a pena trocar a jaqueta e a calça
de brim ou ganga azul, do uniforme de instrução, pela atraente farda
social, e pôr-se a vagar pelas imediações do colégio, instalado no Arsenal
de Guerra da Corte, a velha Casa do Trem. O Largo do Paço, o chafariz
do Mestre Valentim, o Arco do Teles, as praias de Santa Luiza e de D.
Manuel, as igrejas da Ordem e da Santa Cruz dos Militares, as ladeiras
do Morro do Castelo, talvez o Convento do Santo Antônio ou o de Santa
Teresa, as ruas próximas à Santa Casa da Misericórdia, a casa da mãe
do Bispo, o hospício dos Barbonos, Botafogo, um pouco mais distante...
Aonde teriam ido passear os jovens alunos, na tarde ensolarada daquele
domingo em que os saudaram Paulo Carlos e José Cesar?
Um deles, mais extrovertido, chegou mesmo a conversar com
pessoas próximas. Comentou seus estudos, que incluíam doutrina e
prática religiosa, católica, apostólica, romana, naturalmente; leitura,
escrita e gramática da língua portuguesa; francês, aritmética, álgebra,
geometria, geografia e desenho. Para implantar o novo Colégio, foram
aproveitadas as aulas que já eram ministradas naquele mesmo velho e
histórico casarão, para os ditos “aprendizes menores”.
Revelou ainda que, quando completasse 15 anos, concluísse
os estudos, iria para a Escola Militar, cujo acesso era facultado aos
concludentes do Colégio.
Disse mais: que o capelão do Corpo de Artífices do Arsenal era
o preceptor do Colégio. Uma espécie de comandante nos dias atuais.
Auxiliavam-no um monitor e cinco serventes, um dos quais cozinheiro, e
50 alunos, todos revezando-se nos afazeres de educação moral, arranjos
domésticos – faxina inclusa –, preparo das refeições, lavagem de roupa,
manutenção dos equipamentos e utensílios do novel educandário.
O capelão preceptor subordinava-se ao diretor e vice-diretor do
Arsenal, comparecia aos atos solenes do Colégio, assistia às refeições e
despachava os documentos pertinentes a seu funcionamento.
A proposta educacional incluía educação militar. Os jovens
deslocavam-se em forma, dentro e fora do Arsenal, bem como realizavam
marchas e contramarchas. Seus divertimentos, além dos passeios
dominicais, compreendiam natação, passatempos e o que o estatuto do
Colégio chamava de “brincos” lícitos.
98 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Obedeciam a normas disciplinares próprias daquele início do


Segundo Império.
Para os transgressores, reservavam-se rigorosas punições:
diminuição da comida, reclusão, postura física – segundo idade e
robustez – à disposição do preceptor e, até mesmo, expulsão do Colégio.
Tais castigos cabiam quando, eventualmente, o transgressor praticasse
ação ofensiva a seus colegas; usasse palavras, gestos ou atos indecentes;
praticasse jogos proibidos pelo preceptor; fumasse; mentisse;
desobedecesse a superiores; fugisse do Colégio ou mesmo bebesse os
então chamados “licores espirituosos”.
Ah! Mas havia também as férias! Férias! Que bom! Iam de 21
de dezembro a 6 de janeiro, e do Domingo de Ramos ao Dia dos
Prazeres.7 Em casos de urgência, concedia-se licença de até oito dias
aos que dela necessitassem, e então saíam em companhia dos pais ou
responsáveis.
Tudo estava registrado detalhadamente no decreto que José Cesar
e Paulo Carlos comentavam, à medida que liam, e, pelo Largo do Paço,
naquele radiante domingo de verão, passavam garbosos os alunos do
recém-criado Colégio Militar do Imperador. Dirigiam-se à rua Direita.
Ou seria à rua Primeiro de Março? Paulo Carlos e José Cesar não sabiam
ao certo, mas reconheceram neles os antecessores dos alunos dos atuais
12 Colégios Militares, que, da Casa do Trem, disseminaram-se pelo
território nacional.
Tudo ficou claro. O Colégio Militar do Imperador, criado no
longínquo ano de 1840, é o embrião do Sistema Colégio Militar do
Brasil, a origem do ensino preparatório e assistencial, da educação de
qualidade que o Exército Brasileiro, desde aqueles primórdios, vem
proporcionando aos jovens da família militar.
E lá foram os alunos em direção ao Morro do Castelo. Não os viram
mais. Tantas perguntas ainda por fazer: teria Pedro II se inspirado no
Colégio Militar da Luz, em Lisboa, para criar a escola de 1840? E como
terminou o Colégio Militar do Imperador? Foi extinto? Quantos alunos
tivera? Ficaram, por enquanto, sem saber. Estão certos, entretanto, que
Tomás Coelho o recriou, em 6 de maio de 1889, denominando-o Imperial
Colégio Militar, o CM do Rio de Janeiro, célula-mãe do Sistema Colégio
Militar do Brasil.
Do Colégio Militar do Imperador ao Sistema Colégio Militar do Brasil... 99

São hoje 13.600 jovens, em seus uniformes cáqui e garança...


E lá vão eles! Não sobem mais as ladeiras do Morro do Castelo, mas
continuam a vencer na vida, como seus lembrados precursores.
Capítulo 5

A modernização do ensino no IME1


José Carlos Albano do Amarante2

Evolução global

O
período histórico contemporâneo experimenta uma mudança
de ritmo denunciadora do início de nova era. A humanidade
ensaia os primeiros passos na Idade Tecnológica, caracterizada pelos
sintomas iniciais de um crescimento exponencial da capacidade de
realização técnica do homem.
Nesse cenário, a ciência e tecnologia passa a constituir-se na 5ª
Expansão do Poder Nacional. Ela permeia a outros quatro campos do
Poder – o Político, o Econômico, o Psicossocial e o Militar, de tal modo
que será difícil para um país que sonha com o primeiro mundo descartá-
la de suas prioridades, sob pena de ficar eternamente dependente e ser
um mero consumidor de produtos sofisticados, fabricados no exterior e
disponibilizáveis no próximo século.
Em uma avaliação histórica, passando por toda a evolução do
homem, desde o momento em que ele deixou o seu caráter nômade
e começou a ser sedentário, fixando-se à terra em razão da revolução
agrícola, observa-se que o ciclo evolutivo foi marcado por revoluções:3

– revolução agrícola;
– revolução urbana, a fase de aparecimento das primeiras
civilizações;
– revolução filosófica, que marcou o nascimento do pensamento
filosófico;
– contrarrevolução religiosa, no obscurantismo, quando o
conhecimento erudito ficou hibernando nos monastérios;
102 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

– revolução cultural, no Renascimento, quando os homens de


cultura se rebelaram contra o engessamento cultural;
– revolução científica, que estabeleceu a experimentação como
a base fundamental da aquisição do conhecimento em substituição ao
dogma;
– revolução industrial, momento mágico de substituição da força
natural pela força artificial; e
– revolução tecnológica, caracterizada pelo crescimento
exponencial da capacidade de realização técnica do homem.

A partir da revolução industrial, o engenheiro passou a ser o


principal fator humano para a obtenção dos produtos desenvolvidos
para servir bem à sociedade.

Evolução no ambiente militar


Mencionou-se que a humanidade ensaia os primeiros passos na
Idade Tecnológica, caracterizada pelo crescimento exponencial dos
meios postos ao dispor do homem. A Tecnologia Militar não poderia
deixar de acompanhar essa notável evolução, ora como agente motriz,
ora como beneficiária. Como consequência material desse processo, a
tecnologia molda e condiciona a arte da guerra, além de interferir nas
técnicas de combate de forma cada vez mais intensa e dominante.
A Tecnologia Militar progrediu muito lentamente ao longo dos
tempos. Do mesmo modo dos primórdios, a audição e a visão foram
utilizadas como “sensores de combate”, recursos ainda usados nas
Guerras Napoleônicas. A visão teve sua capacidade óptica ampliada pelo
uso de lunetas. Naquela época, os atuadores também eram rudimentares.
O maior poder de fogo era conferido à artilharia de alma lisa, que atirava
em precisão até a distância de 1km.
Por outro lado, mais recentemente, durante a Idade Tecnológica, o
progresso foi espetacular. Assim, menos de 200 anos depois das Guerras
Napoleônicas, na Guerra do Golfo, em presença da avalanche tecnológica
aliada, o Iraque quedou-se imobilizado a uma distância inofensiva em
relação às forças aliadas. Sensores e atuadores operando no espectro
eletromagnético interferiram nas comunicações e neutralizaram
sistemas de defesa, além de garantir uma supremacia eletromagnética,
com vistas à anulação de pontos vitais de defesa e do sistema logístico.
A modernização do ensino no IME 103

O resultado foi o envolvimento quadridimensional estabelecido pelos


aliados, que inibiu o poder militar de Saddam Hussein e reduziu o Iraque
a um contendor cego, surdo, mudo, imobilizado e desprovido de vontade
de lutar... A consequência natural foi a rendição incondicional iraquiana.

O ambiente atual
A Revolução Tecnológica
O ambiente atual é de um mundo “entrópico, competitivo e
assimétrico na distribuição do poder, da riqueza e das benesses do
progresso”. A Revolução Tecnológica proporcionou um cenário indutivo
de crescimento da ciência e da tecnologia, onde ora a ciência é o
agente promotor do desenvolvimento da tecnologia, ora a tecnologia
proporciona meios para o crescimento científico. É um processo até
dialético.

O papel da educação
Sabe-se que tanto a ciência quanto a tecnologia resultam de
processos cumulativos do conhecimento, em que cada geração herda
um estoque de conhecimento e de técnicas, o qual pode ser acumulado
se a geração assim o desejar, e se o condicionamento social permitir.
A educação é o principal veículo de transmissão e de fixação do
conhecimento; o homem, o ser responsável pela expansão das fronteiras
do saber.
Dado que a geração do conhecimento é função direta do número
de pesquisadores, o processo de desenvolvimento do binômio ciência-
tecnologia é exponencial. Essa característica é tão significativa que estão
vivos 90% de todos os cientistas produzidos no planeta Terra. Então, não
é nada assustador o progresso científico-tecnológico experimentado pela
humanidade. Ele é perfeitamente justificável, perceptível e explicável e
continuará nessa taxa por algum tempo, até o surgimento de algum fator
restritivo desse processo.
Na perspectiva da evolução, pode-se observar que as dificuldades
morais, políticas e ambientais antepostas à C&T não são totalmente
novas. Nos tempos atuais, o relacionamento estreito da ciência
com a indústria, a defesa, a política e o próprio meio ambiente está
tornando obsoleta a ciência particularizada pela visão reducionista
e cartesiana. Agora, a ciência deve compreender o mundo natural
104 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

utilizando uma visão global e holística. A sociedade precisa de uma


concepção de trabalho científico sobre o mundo natural, diferente do
modelo reducionista da Revolução Industrial. No modelo reducionista,
o problema é reduzido à escala de laboratório, e na sua solução não
são levados em consideração o impacto ao meio ambiente e outras
repercussões multidisciplinares.
Além disso, é evidente que as ferramentas determinísticas ainda
vão perdurar. Com base na mecânica newtoniana, é possível a exata
predição de tudo o que aconteceria no futuro, a partir do conhecimento
das condições de qualquer dado restante. Esse determinismo levou
o grande Laplace a declarar que, se fossem conhecidos a posição e
movimentos de todas as partículas do Universo, ele teria como escrever
a história futura...
Hoje sabemos que isso nem sempre é verdadeiro.
Amanhã irá ou não chover no Rio de Janeiro? O futuro é
probabilístico. Amanhã pode ou não chover no Rio de Janeiro. Surge
a necessidade de ferramentas estocásticas para lidar com problemas
probabilísticos ou caóticos. A compreensão científica torna-se mais
complexa, quando se trata de sistemas não lineares adaptativos. Uma
pequena anomalia em um DNA saudável pode ser a causa de uma
trajetória genética não previamente definível, característica de um ser
humano defeituoso.
A universidade começa a sofrer o efeito da necessidade de visão
sintética e, como reação a essa demanda, passa a oferecer formação em
multiengenharia. Na universidade americana de Stanford, o aluno hoje
pode sair engenheiro, sem especialidade específica, com uma visão mais
ampla e, consequentemente, mais sintética. É uma tendência atual.
No mundo atual, como se dá a transferência do conhecimento? Ela
se processa de maneira generalizada, em que a escola continua a ser o
meio principal. Hoje em dia, cada profissional de uma carreira técnica
sente a mandatória necessidade do aperfeiçoamento permanente. Quem,
mesmo fora dos bancos escolares, para de estudar tende a enfrentar a
morte profissional. Daí a necessidade de, nos bancos universitários, os
alunos aprenderem a aprender, e a condição para que essa característica
seja atendida é a universidade oferecer uma sólida base de conhecimento
científico-tecnológico.
A modernização do ensino no IME 105

Aspectos psicossociais
No campo social, algumas características são fundamentalmente
impactantes. A mulher começa a demonstrar o seu valor e passa a
ocupar importante lugar na sociedade.4 Por quê?
A atividade econômica era, inicialmente, baseada no poder do
músculo. Hoje dá lugar a outra que se radica no poder da mente, e
isso elimina desvantagens fundamentais no caso das mulheres. Além
disso, é agora possível às mulheres exercerem maior controle sobre os
nascimentos – a oportunidade e o número de gestações – do que em
qualquer outro momento da história.
Em consequência, a mulher passa a assumir uma função igualitária
ao homem, pelo menos em oportunidades de trabalho. Abrindo um
parêntese, o IME está de mãos dadas com a evolução histórica e já conta
em seus bancos escolares com a inteligência, a determinação e a argúcia
da mulher brasileira.
Por outro lado, essa maior abertura ao mercado de trabalho
provocou algumas repercussões. A individualidade passa a ter
importante atribuição na estrutura social. Começa a haver o conflito na
base da família tradicional, o que promove a cisão na família celular – a
família do pai, da mãe e dos filhos.

Aspectos econômicos
A atualidade nos apresenta outras características. A economia,
que até pouco tempo era apoiada fundamentalmente na produção,
começa a ter primordial caráter na exploração dos produtos. Os serviços
começam a ter significativo papel na economia.
A fabricação, que na Idade Industrial era massificada, torna-
se flexível, especializada e voltada para o cliente. O automóvel,
antes produzido em grandes quantidades, mas em poucos tipos,
agora é oferecido com múltiplas características. Inicia-se a prática
da diferenciação. É o efeito da individualidade na economia. Até no
consumo, o homem moderno quer preservar a individualidade.

Aspectos políticos5
Hoje o conhecimento transformou-se em poderoso instrumento do
poder. Sabemos que o poder é um dos principais instrumentos políticos
postos à disposição do homem. Na primeira instância de sua evolução,
106 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

a fonte primária de poder era a força física. Com o refinamento do


relacionamento humano, um segundo tipo de poder – o capital – juntou-
se à força física para a imposição da vontade de sociedades e indivíduos
sobre sociedades e indivíduos mais fracos. A adição dessa terceira forma
de poder, o conhecimento, ao cartel de sociedades mais desenvolvidas
irá certamente possibilitar formas sutis e sofisticadas de imposição de
vontades e de estratificação do poder político mundial.

Aspectos militares
Nessa conjuntura, o Exército recebe influências diretas da ciência
e tecnologia e indiretas pelos processos acima descritos. Assim, cabe o
questionamento de como a C&T impactará o desempenho operacional
do Exército no futuro.
Se tomarmos a Guerra do Golfo6 como marco inicial dos conflitos
militares na Idade Tecnológica, podemos visualizar os “maravilhosos”
sistemas de armas que desfilaram na vitrine tecnológica do Golfo, como
produtos de primeira geração da nova era. Daqui a algumas décadas,
eles serão vistos como relíquias ultrapassadas, da mesma maneira como
os carros primitivos são hoje vistos.
Por essa razão, as características operacionais e tecnológicas de
guerras dessa nova era ainda não estão bem analisadas e definidas.
Mesmo assim, pode-se constatar:

– a busca da supremacia eletromagnética;


– a evolução do poder aéreo para o poder aeroespacial;
– a possibilidade de envolvimento quadridimensional, à rapidez
de manobra;
– sincronismo e a flexibilidade das ações militares;
– a precisão “cirúrgica” dos atuadores com elevado agregado
tecnológico;
– os contornos de nova logística militar;
– a busca da automação nas funções tecnológicas do combate
(Sensoriamento – Processamento – Atuação), e
– os meios modernos postos à disposição do estado-maior e
da tropa, o que impõe a necessidade de crescente profissionalização
militar.
A modernização do ensino no IME 107

Em síntese, o grande ensinamento operacional, extraído da


análise de uma guerra da Idade Tecnológica, é o fato de a gestão efetiva
do complexo militar-industrial das forças aliadas ter sido determinante
da vitória. Em consequência, no cenário militar nacional pode-se inferir
que, para a atualização tecnológica do Exército, é fundamental o trabalho
conjunto e harmônico do binômio combatente-engenheiro.

A globalização7
Na década de 1990, finalmente as inovações tecnológicas
associadas com a automação de fábricas e escritórios, a telemática, a
engenharia genética, a biotecnologia, o laser e as fibras ópticas estão
confirmando novo ciclo econômico mundial. Este é tão forte que está
promovendo profundas modificações políticas, psicossociais e militares
nas sociedades terrestres do final do século XX. O novo ciclo de inovações
é a base tecnológica da tão falada globalização.
Empurrada inicialmente por razões econômicas e com base na
altíssima velocidade com que flui a informação, a globalização instalou-
se de forma quase definitiva no planeta.
Além disso, gostaria de explorar um pouco a faceta cultural do
fenômeno de globalização. “Assim procedo porque ele atua decisivamente
nas consciências, nas posturas mentais, nas expectativas das pessoas e
nas pautas comportamentais. Para quem cogita de capacitar recursos
humanos, é imperioso diagnosticar a “cabeça” da geração que vive a
efervescência globalizante, sobretudo no plano cultural”. A atual geração
é mais interativa, mais aberta à inovação, exigente em suas expectativas
e ávida de conhecimento, e assim deve ser considerada no modelo
pedagógico de sua educação.

O papel do IME nesse cenário


Na Revolução Tecnológica (1940-...), o IME, berço da engenharia
brasileira e tradicional instituição de ensino, lançou-se no setor de
pesquisa e se tornou importante vetor no processo de industrialização
brasileira, ocorrida entre 1960 e 1990. O Instituto, pela qualidade
e intensidade de seus trabalhos, contribuiu para reduzir o gap de
separação do conhecimento científico-tecnológico entre os países em
desenvolvimento e os já desenvolvidos.
108 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Pioneiro no ensino das engenharias


O IME destacou-se no cenário nacional pela qualidade de seu
ensino em uma grande diversidade de graduação em engenharias.
Manteve-se fiel às tradições de liderança entre as escolas brasileiras e
ramificou-se, ao longo dos seus 220 anos de tradição, em novas áreas de
especialização, como:

– em 1792, a Engenharia de Fortificações e de Construção, mãe da


Engenharia Civil no País;
– em 1792, a Engenharia de Artilharia, inspiradora de nossa
indústria de defesa;
– em 1934, a Engenharia de Armamento;
– em 1934, a Engenharia Química;
– em 1939, a Engenharia de Telecomunicações;
– em 1939, a Engenharia Aeronáutica;
– em 1939, a Engenharia Metalúrgica;
– em 1941, a Engenharia Cartográfica;
– em 1947, a Engenharia de Automóvel;
– em 1984, a Engenharia Computacional.

Dessa forma, o IME é, até hoje, empreendedor na criação de cursos


de formação de especialistas em áreas inexploradas e contribui com
uma visão futura para a evolução do ensino da engenharia no Brasil.

Pioneiro na pesquisa das engenharias


Pós-graduação ‘lato sensu’
O IME tem se caracterizado como propagador de iniciativas
inovadoras. Em 1958, fundou a pós-graduação lato sensu, além de
introduzir no País o estudo da engenharia nuclear.
Nesse item, procura-se apresentar, sobretudo, os antecedentes
que condicionaram a participação do IME, de forma pioneira, nas
atividades de pós-graduação lato sensu em nosso País. Na década de
1950, os EUA se preocupavam em manter o monopólio da arma atômica
e impediam sua reprodução em outros países. Com o objetivo de não
perder tempo, realizando atividades pacíficas, mas que não permitisse
o distanciamento do conhecimento, criou-se uma Comissão de Energia
Atômica na Organização das Nações Unidas, a qual passou a receber
A modernização do ensino no IME 109

propostas, especialmente dos EUA e da URSS, que levassem à não


proliferação das armas.
O representante brasileiro, almirante Álvaro Alberto da Mota e
Silva, químico e professor da Escola Técnica do Exército (EsTE), achava
que o Brasil não deveria ficar alheio a esses desenvolvimentos. Assim,
defendeu acaloradamente a posição mais favorável aos países detentores
de reservas físseis. Estes deveriam ingressar no clube atômico, de forma
pacífica, mas soberana.
O ministro da Guerra, em Portaria Ministerial nº 1.601, de 6 de
agosto de 1957, criou o curso de especialização em engenharia nuclear.
O IME, ao atuar de forma pioneira no âmbito do ensino em nível de
pós-graduação, alterou mais uma vez os padrões tradicionais e criou na
área do conhecimento da engenharia nuclear o curso de especialização
lato sensu. Em cerimônia realizada em 7 de janeiro de 1959, nove
concludentes da primeira turma eram, na maioria, engenheiros militares
das Forças Armadas.
Esse Curso formou 78 alunos até 1969. Os engenheiros militares
continuaram ligados nessa demanda e vários deles deslocaram-se para
o exterior, por iniciativa própria, sob licença, sem ônus para o Exército e
com bolsa de estudos do Conselho Nacional de Pesquisas, para cursarem
o mestrado e o doutorado em universidades de renome.

Pós-graduação ‘stricto sensu’


Tal iniciativa permitiu que, quando foi posteriormente criada a
pós-graduação stricto sensu no IME, já existissem vários oficiais mestres
e doutores no Instituto.
Em cumprimento às diretivas claramente expressas no Programa
Estratégico para o Desenvolvimento elaborado pelo Governo Federal,
passou o Exército a dar maior atenção, a partir de 1968, à pesquisa
e ao desenvolvimento tecnológico. Como consequência imediata da
interdependência entre pesquisa e pós-graduação, foi o Instituto Militar
de Engenharia levado a dar início a essa atividade, sob o caráter de alta
prioridade, para o preparo amplo de pesquisadores e professores.
Em 1969, o IME possuía cursos de graduação em nove especialidades
de engenharia. Alguns oficiais professores já eram mestres ou doutores,
concluídos no exterior, e certo número de capitães e majores almejava a
formação na pós-graduação stricto sensu. Assim, o espírito interno estava
110 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

propício para maiores aspirações, quando nesse ano, graças ao espírito


pioneiro e à visão de futuro do general Aristóbulo Codevilha Rocha, chefe
da Diretoria de Pesquisa e Ensino Técnico (DPET), e do general Arthur
Mascarenhas Façanha, comandante do IME e ex-presidente do CNPq, a
pós-graduação stricto sensu foi iniciada no Instituto, com a criação dos
cursos de mestrado em química e em engenharia nuclear, este a partir da
transformação do antigo curso de especialização.
A opção por química não foi por acaso, já que havia carência nesse
setor fundamental para o desenvolvimento do País. Logo, recomendou-
se ênfase na formação desses profissionais. O IME, como sempre,
desbravou nessa área do conhecimento ao criar, em abril de 1969,
a Comissão de Pós-Graduação e nomear como coordenador o major
Carlos Antonio Lopes Pereira.
O início da pós-graduação stricto sensu ocorreu de fato quando os
cinco oficiais – então professores de química no IME, o tenente-coronel
Paulo Lucio Pereira de Aquino; os majores Euler Figueiredo Reis; Mário
Palazzo; Waldemar Pereira de Aquino e o capitão Álvaro Augusto Alves
Pinto – reuniram-se no horário noturno, das 18 às 20h, com início em 15
de agosto de 1969, para assistirem às aulas do curso.
De acordo com a atribuição delegada pelo ministro do Exército,
o diretor do IME autorizou a matrícula, em regime de tempo parcial,
sem prejuízo de suas atividades, nos programas de pós-graduação do
Instituto, os primeiros oficiais alunos:

Pós-graduação em engenharia nuclear


– tenente-coronel Alcyr Maurício; tenente-coronel João Soares
Rodrigues Filho; tenente-coronel Silvério Carlos Belo Lisboa; major
Edmundo Emmanuel Teixeira; major Sebastião Carlos Valadão; major
Teófilo Portela Chagas e capitão Otto Oscar Bellas Galvão.
A estes se somaram um aluno da Aeronáutica e três civis: capitão-
aviador Erler Schall Amorim; Arnaldo Aloísio Telles Ribeiro; Lygia
Angelina Donadio Batista e Maria Helena Martins Coelho.
Total de 11 os alunos inscritos.

Pós-graduação em química
Total de cinco os alunos inscritos, relacionados no item Pós-
graduação stricto sensu, que deram início ao curso.
A modernização do ensino no IME 111

Primeiros cursos de pós-graduação ‘stricto sensu’


Durante o ano de 1970, foi tomada uma série de providências no
sentido de consolidar os programas já implantados, bem como criar os
novos programas de Ciência dos Materiais, de Engenharia Elétrica e de
Matemática Aplicada, iniciando, em 1971, esses cursos com as primeiras
turmas.
Em 1977, surgiu o programa de pós-graduação em Transportes.
Os professores do curso foram contratados pela Empresa Brasileira
de Planejamento de Transportes (GEIPOT) de acordo com o convênio
firmado com o Ministério de Transportes. Pioneiro na área de ensino em
Transportes, o curso de mestrado obteve o seu credenciamento junto ao
CFE, em 1980.

A excelência no ensino e pesquisa


Além de seu caráter pioneiro, o IME é uma escola de excelência.
Cabe dizer que, no ano 2000, o MEC avaliou 142 estabelecimentos de
ensino superior de Engenharia. Somente duas instituições alcançaram a
menção “A” no “provão”, na qualidade do corpo docente e na infraestrutura
de ensino, nas três especialidades de Engenharia avaliadas: o nosso
IME e a Universidade de São Paulo-USP. Cabe ainda ressaltar que o
tenente Botelho, do IME, obteve a nota 9,9 no “provão”, o maior grau
entre os 13.071 estudantes avaliados. Tais fatos comprovam, de forma
indubitável, a invulgar qualidade do ensino ministrado nessa secular e
tradicional escola de Engenharia Militar.
Assim, por ter sido o IME um dos pioneiros da especialização
profissional universitária no País e por ser uma escola de excelência,
enfrenta agora o desafio de questionar-se e reestruturar-se, a fim de
continuar a participar da vanguarda na formação de recursos humanos
altamente qualificados. Em uma visão futura, o IME 2005, como tem
sido ao longo de sua secular vida, deve comportar-se como uma escola
de excelência. Sua função é influenciar muito mais o ensino e a pesquisa
relacionados com o desenvolvimento estratégico do Exército e da
sociedade do que atender às demandas instantâneas de mercado.
O engenheiro militar é, a um só tempo, engenheiro e soldado.
Formar tal engenheiro é a missão do IME. Para isso possui a incumbência
de, no prazo de cinco anos, graduar academicamente o engenheiro e
formar militarmente o oficial do Exército Brasileiro, seja da ativa seja
112 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

da reserva, seja homem seja mulher. Cabe ressaltar que isso tudo é
realizado no mesmo prazo em que as universidades civis graduam seus
engenheiros.
Essa é uma situação adversa. E nas situações adversas, devemos
procurar extrair meios para obter vantagens alternativas. O IME
encontrou a chave do sucesso. Ele ministra, no País, o único curso de
engenharia para formação de líderes da área de ciência e tecnologia, em
condições de atuar no meio militar ou no âmbito da sociedade civil.
Nesse período de arrancada para apresentar bom desempenho,
o IME ostentou um corpo docente de peso. Para caracterizar os
professores diferenciados, selecionou professores que faziam a diferença
e mereciam ser tomados como exemplo, além de serem reconhecidos
como “professores eméritos” do Instituto:

SE/2 – Seção de Ensino 2: Professor Emérito Doutor Eduardo C. S.
Thomaz.
SE/3 – Seção de Ensino 3: Professor Emérito Cel R/1 Ney Bruno.
SE/4 – Seção de Ensino 4: Professor Emérito Doutor Ronaldo
Sérgio de Biasi.
SE/7 – Seção de Ensino 7: Professor Emérito Doutor Rex Nazaré
Alves.

A construção do presente
O ser humano é quem faz as realizações acontecerem. Uma
combinação de seleção, que resulta no vestibular mais exigente do País,
e uma política de valorização profissional do corpo docente asseguram
uma escola que funciona com qualidade. Evidentemente, os egressos do
Instituto constituem um grupo de ex-alunos de valor.
Na participação em grandes projetos nacionais existiram os
engenheiros formados no IME, que se tornaram responsáveis pelo
sucesso dos empreendimentos. O presente e a notoriedade do IME
foram construídos por dois importantes grupos de ex-alunos:

– O grupo de luminares, que trouxeram ao Instituto o seu prestígio


pessoal e portaram valor à escola;
– O grupo de engenheiros, que se destacaram na participação em
grandes projetos nacionais e em atividades de relevo nacional.
A modernização do ensino no IME 113

Os luminares da Engenharia Militar


O presente da Engenharia Militar e do IME depende grandemente
do trabalho que os luminares realizaram no passado:

Major Alfredo d’Escragnolle Taunay (1843-99) – Lutou na Guerra


do Paraguai como engenheiro militar. Escreveu o livro A Retirada
da Laguna. Deputado, senador e governador da Província de Santa
Catarina. Recebeu, de D. Pedro II, o título nobiliárquico de Visconde
de Taunay.
Marechal Roberto Trompowsky Leitão de Almeida (1853-1926)
– Professor da Escola Militar da Praia Vermelha e Adido Militar na Grã-
Bretanha, Suíça e Itália (1905-07). Autor de estudo sobre história militar
e organização do Exército e de livros sobre matemática. É o patrono do
Magistério Militar do Exército.
Marechal Mariano da Silva Rondon (1865-1958) – Articulador da
Proclamação da República, responsável pela integração do território
nacional por meio das linhas telegráficas. Defensor dos índios.
Diretor de Engenharia do Exército (1919-24). É o patrono da Arma de
Comunicações.
Primeiro-tenente Euclides Rodrigues da Cunha (1866-1909)
– Professor da Escola Militar da Praia Vermelha. Autor da obra Os
Sertões: campanha de Canudos (1902), relato do conflito envolvendo
os seguidores de Antonio Conselheiro e verdadeiro estudo sobre a
“terra, o homem e a luta”. Esse feito favoreceu seu ingresso na Academia
Brasileira de Letras (ABL).
Marechal João Batista Mascarenhas de Moraes (1883-1968) –
Comandante da Força Expedicionária Brasileira (FEB), liderou as tropas
brasileiras no teatro de operações da Itália, por ocasião da Segunda
Guerra Mundial, e demonstrou extrema disciplina e determinação na
defesa dos mais nobres ideais da civilização.
Marechal Casimiro Montenegro Filho (1904-2000) – Foi pioneiro
no Correio Aéreo Nacional (CAM) e criador do Instituto Tecnológico de
Aeronáutica (ITA) e do Centro Técnico de Aeronáutica (CTA), embriões
da Embraer. É patrono da Engenharia da Força Aérea Brasileira (FAB) e
da Academia Nacional de Engenharia.
114 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Participação em grandes projetos nacionais ou em atividades de


relevo nacional
Além do que foi mencionado e diferentemente de outras instituições
de ensino superior, o IME possui o caráter nacional. Seu vestibular é de
abrangência nacional, o que lhe assegura alunos provenientes de todos os
recantos do País. Ao final do curso, os graduados do IME são espalhados
por todo o território nacional. Isso tudo empresta ao Instituto uma visão
muito nítida dos problemas tecnológicos característicos das diferentes
regiões do Brasil. Por ser uma escola de caráter nacional, o IME tem tido
ativa participação em grandes projetos nacionais e em atividades de
relevo nacional:

1) Núcleo inicial do ensino sistemático de Engenharia no Brasil,


para civis e militares. A criação da Real Academia de Artilharia,
Fortificação e Desenho (1792) é o marco histórico dessa importante
contribuição para a formação da cultura tecnológica brasileira.
2) Projeto e construção de fortificações e prédios funcionais, desde
a Fábrica de Pólvoras da Lagoa Rodrigo de Freitas até hoje (1808-...).
O general Carlos Antonio Napion construiu a Fábrica de Pólvoras e
a Academia Real Militar do Largo de São Francisco (1812);
Nesse período, a Engenharia Militar realizou incontáveis
empreendimentos. Na atualidade:
O general de brigada Antônio Real Martins construiu o Centro
Tecnológico do Exército em Guaratiba, no Rio de Janeiro (década
de1980), e foi professor homenageado do IME;
O general de divisão Luiz Augusto C. Moniz de Aragão realizou a
modernização e a duplicação da Academia Militar das Agulhas Negras,
em Resende (década de 1980);
O coronel Horta Barbosa (Denominação Histórica da CRO/11) foi
responsável pela construção das instalações do Exército (SMU/QGEx)
em Brasília/DF (década de 1960).
3) Projeto e construção de rodovias e ferrovias, integrando os mais
distantes rincões do País, a começar pela Estrada de Rodagem União e
Indústria (1861), ligando Petrópolis a Juiz de Fora:
O coronel Paulo Mendes Antas, estradeiro, foi destaque na área de
projeto e execução de rodovias e ferrovias.
A modernização do ensino no IME 115

O coronel Hermann Cavalcante Suruagy, destaque nacional na


área de projeto e execução de obras de arte rodoviárias e ferroviárias,
grande professor do IME.
4) Ensino da Engenharia Aeronáutica (1939) e presença na
implantação da indústria do setor, na qual se destacam o Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e a Empresa Brasileira de Aeronáutica
(Embraer). Nessa atividade destacaram-se o marechal Casimiro
Montenegro Filho, formado na ETEx e o coronel Osíris Silva, formado
no ITA.
5) Único engenheiro militar em função na Força Expedicionária
Brasileira, na Itália (década de 1940), foi o general Aristóbulo Codevila
Rocha.
6) Construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),
localizada em Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro (década de
1940). Nesse projeto, destacou-se o professor major Edmundo de
Macedo Soares pela capacidade de perseguir a ideia geradora da CSN,
precursora da industrialização brasileira.
7) Implantação de órgãos de fomento de C&T (1950-90).
Os acadêmicos militares, que implantaram e fizeram funcionar os
órgãos de fomento, tiveram visão e tirocínio. Eles foram competentes e
uma das razões do sucesso do desempenho do setor de C&T no Brasil. O
grupo foi composto pelo:
– coronel Armando Dubois Ferreira (vice-presidente do CNPq);
– general Arthur Mascarenhas Façanha (presidente do CNPq e
comandante do IME);
– general Argus Fagundes Ourique Moreira (criador do CTEx);
– professor Waldimir Pirró y Longo (vice-presidene da FINEP);
– doutor Rex Nazaré Alves (diretor da Comissão Nacional de
Energia Nuclear e diretor de tecnologia da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
8) Primeiros testes com foguetes no Brasil (dezembro de 1957),
realizados pela equipe da Comissão Central de Mísseis do Exército,
destacando-se os tenentes-coronéis Alnyr Maurício e Antonio Maria
Meira Chaves.
9) Ministros e empresas responsáveis pela implantação das
telecomunicações no Brasil (1970), realizada na década de 1970
até o final do século XX, com suporte técnico às estatais dedicadas à
116 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

implantação e manutenção da infraestrutura nacional, nas áreas com


elétrica (Eletrobrás), de telefonia (Embratel e Telebrás) etc. Destacaram-
se os ministros coronel Hygino Caetano Corsetti, coronel Haroldo Corrêa
de Mattos, coronel Djalma Bastos de Morais e general José Antonio de
Alencastro.
10) Empresas responsáveis pela operação de rodovias e ferrovias,
em escala nacional (década de 1970), destacou-se o coronel Stanley
Fortes Batista como diretor geral do Departamento Nacional de Estradas
de Rodagem (Dner), no governo Geisel, e presidente da Rede Ferroviária
Federal.
11) Ministros da Aeronáutica e comandante da Força Aérea, que
são engenheiros militares formados pelo (IME) e ocupam elevadas
posições:
– O tenente-brigadeiro Lélio Viana Lobo, engenheiro militar em
Fortificação e Construção, formado em 1963, atuou, de outubro de 1992
a dezembro de 1994, e de novembro de 1995 a janeiro de 1999, como
ministro.
– O tenente-brigadeiro Walter Werner Bräuer, engenheiro militar
em Fortificação e Construção, formado em 1965, atuou de janeiro a
junho de 1999 como ministro, e de junho a dezembro de 1999 como
comandante da Força.
12) Comandante do Exército, que é engenheiro militar formado
pelo IME, ocupando elevada posição:
– O general de exército Enzo Martins Peri, engenheiro militar em
Fortificação e Construção, formado em 1970, na função de comandante
do Exército desde março de 2007.
13) Projeto da Ponte Rio-Niterói (início da década de 1970), o
laboratório de construções do IME foi encarregado de realizar o controle
tecnológico da construção.
14) Sistema de TV analógica em cores adotado pelo Brasil nos
anos 1970 (PAL-M), com destaque para o coronel professor Alcyone
Fernandes de Almeida Jr. e sua equipe.
15) Operação da Usina Hidrelétrica de Itaipu (2008), considerada
uma das maiores do mundo, cuidando da estabilidade da energia
fornecida. Trabalho realizado pelo coronel Paulo César Pellanda e sua
equipe da Seção de Ensino de Engenharia Elétrica.
A modernização do ensino no IME 117

16) Recuperação do Monumento ao Cristo Redentor (1980), no


Rio de Janeiro, pela Seção de Ensino de Engenharia Cartográfica.
17) A competência técnica do Arsenal de Guerra do Rio (AGR-
1995) foi aprimorada e recapacitada a fabricar meios militares, pela
consultoria competente de engenheiros militares, coronéis José Pires
Domingues e Sylvio Cardoso Ururahy.
18) Diretoria Técnica do CTEx (década de 1980 até hoje), com
destaque para o general de brigada Antonio Jorge da Cruz Schendel.
19) Projeto do Biodiesel (2000), que utiliza plantas nativas do
Brasil para a produção de combustível ecologicamente correto. A
pesquisa é conduzida pela professora Wilma de Araujo Gonzalez, da
Seção de Ensino de Química do IME.
20) Projeto de Domínio do Ciclo de Combustível Nuclear (décadas
de 1970 e 1980), em parceria com a Comissão Nacional de Energia
Nuclear (Cnen), a Seção de Química do IME realizou a construção de
uma base de projetos de Engenharia Química. Essa cooperação fez
ressaltar a qualidade do pessoal participante. Pelo IME, o engenheiro
químico coronel Rui Fortes e o professor coronel João Soares Rodrigues
Filho e, pela Cnen, o doutor Rex Nazaré Alves, que mais tarde foi elevado
a professor emérito do IME.
21) Ensino de pólvoras e explosivos (1744-2014), o Exército
domina esse ensino por mais de dois séculos e meio, desde o sargento-
mor José Fernandes Pinto Alpoim, autor dos livros O Exame de Artilheiros
(1744) e O Exame de Bombeiros (1748), até os dias de hoje com a obra
A Engenharia de Explosivos: um Enfoque Dual (2014), cujos autores são
general de brigada Ubirajara da Silva Valença, coronel Mário Palazzo,
coronel Alcio Augusto Carpes Athayde e coronel Sérgio Stanisck Reis,
além do tenente-coronel Roberto de Andrade Roux.
22) O Observatório Nacional (ON) foi fundado em 15 de outubro
de 1827, com o objetivo de realizar observações de astronomia,
meteorologia e magnetismo terrestre. O primeiro dirigente, denominado
de diretor, foi o professor Soulier de Sauve, da Escola Militar. Com ele,
a tradição de o dirigente ser professor da Escola Militar se instalou.
Atualmente a função do Observatório Nacional é realizar pesquisas
astrofísicas, geofísicas e astronômicas e fazer a geração e disseminação
da hora legal brasileira. O professor Waldimir Pirró e Longo, último
diretor oriundo do IME, conduziu o ON na virada do século XX.
118 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Ações atuais da Engenharia Militar


Entre as diversas ações em andamento no Exército que envolvem
engenheiros militares, destacam-se:

– Recuperação da Infraestrutura do Porto de São Francisco do Sul/SC;


– Transposição do Rio São Francisco;
– Ampliação do Aeroporto de Natal;
– Duplicação da BR-101;
– Recuperação da Infraestrutura do Haiti;
– Veículo aéreo não tripulado;
– Óculos de visão noturna;
– Radar de baixa altitude;
– Radiografia da Amazônia;
– Nova família de blindados;
– Simulador de helicóptero; e
– Biodiesel para a Amazônia.

Caracterização do engenheiro militar (da ativa ou reserva) formado


pelo IME
Assim, estamos definindo o perfil profissiográfico do engenheiro
a ser formado em nosso Instituto em 2005, com ênfase às seguintes
características:

– ser dotado de forte embasamento científico-tecnológico, calcado


na física, química, matemática e computação;
– ser engenheiro da Idade Tecnológica, com base politécnica e
visão holística;
– possuir capacidade de trabalho no campo tridimensional;
– estar capacitado a trabalhar em atividades interdisciplinares;
– estar apto ao trabalho em equipe;
– considerar o impacto do produto do seu trabalho ao meio
ambiente;
– dar mais valor ao uso da obra do que à obra propriamente dita;
– possuir forte visão humanística;
– possuir capacidade para o exercício do estudo e aperfeiçoamento
continuado, depois da formatura;
– possuir capacidade de exercer liderança e chefia.
A modernização do ensino no IME 119

Estratégias para a concretização da modernização


Para que a modernização caracterizada pela visão futura IME 2005
seja evidenciada, devem ser adotadas as seguintes estratégias, além de
respeitar sempre as características e valores do IME e, sobretudo, sua
identidade:

– implantar um modelo pedagógico de ensino que enfatize a


formação intelectual e desenvolva a capacidade crítica, a autonomia, a
criatividade, o raciocínio lógico, a ética e a liderança;
– realizar a modernização curricular;
– propiciar ao corpo docente meios de realizar a modernização do
ensino e assegurar o acesso a novas práticas pedagógicas;
– estimular a capacidade de autodesenvolvimento do educando,
tornando-o apto para se adaptar com facilidade à introdução de novos
cenários tecnológicos;
– fomentar a formação humanística, com sensibilidade para as
inter-relações de sua atividade profissional com a sociedade e o meio
ambiente;
– criar centros de pesquisa interdisciplinares (estão em cogitação
os núcleos de pesquisa em Tecnologia da Informação, em Automação e
Robótica, em Sistemas Integrados e em Tecnologias Amazônicas);
– promover, sempre que possível, a integração de atividades
interdepartamentais;
– incentivar o trabalho em equipe no ensino e na pesquisa;
– transformar a biblioteca em multiteca, para garantir o conceito
de acesso à informação e substituir o antigo conceito de disponibilidade
da informação;
– criar laboratórios multidisciplinares sobre campos de pesquisa
modernos;
– tornar funcionais os laboratórios existentes no IME pela
modernização, atualização ou recuperação de equipamentos;
– criar salas de aula modernas dotadas de multimídia;
– incentivar atividades culturais e de lazer, envolvendo os alunos.

Conclusão
Vivemos a chamada Revolução Tecnológica que alimenta os
fenômenos globalizantes e atua em um mundo incerto e ambíguo,
120 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

dominado por sociedades que privilegiam o conhecimento. É inevitável


encontrarmos nosso aluno com o pensamento trabalhado por essas
tendências, as quais devem ser consideradas se perseguirmos o sucesso
na capacitação dos recursos humanos. Reconhecemos a perenidade
da missão do Exército, mas devemos reconhecer novos papéis que o
engenheiro militar tem a desempenhar no futuro. A modernização
do ensino não é uma tarefa fácil. Exige uma reformulação do modelo
pedagógico e das práticas didáticas.
Precisamos proporcionar ao nosso aluno um ambiente
acadêmico-militar que possibilite a formação do engenheiro militar com
características modernas.
Considero oportuno, finalmente, lembrar palavras proferidas
em 1996, pelo nosso atual ministro general Gleuber,8 cuja expressão
profissional aconselha a examiná-las com reflexão:

Afinal, é bom lembrar que nós pertencemos à única profissão


que, no seu compromisso profissional, hipoteca a própria
vida. O militar de hoje e do futuro precisa de um corpo
rígido e mente flexível. Deve ser rústico, alerta e aberto para
as inovações. Pronto para o inédito e o inesperado, com
inteligência ágil para a inovação. Uma alma calorosa para
saber compreender, integrar e confiar.
Precisamos prepará-lo para o hoje e para o amanhã.

É com essa consciência que o IME se tem destacado no cenário


nacional pelo elevado padrão de qualidade no ensino e na pesquisa.
Com a implantação do plano de modernização, o IME prepara-se para
manter uma posição de liderança como escola de excelência da Idade
Tecnológica.
Capítulo 6

Um projeto de visão humanística


em escola de engenharia1
José Carlos Albano do Amarante2*
Cicero Vianna de Abreu**

Introdução

A
revolução do conhecimento já se instalou na grande maioria
dos países, mesmo naqueles ditos subdesenvolvidos.
As classes dominantes cada vez mais contam com a nova moeda:
a informação pronta em mínimo espaço de tempo. A humanidade
ensaia os primeiros passos na Idade Tecnológica,3 convivendo com
crescimento exponencial das inovações e utilidades. O trabalho braçal
vem sendo substituído por máquinas, o que resulta em redução dos
efetivos de operários nas fábricas. É o setor terciário ou de serviços
que tem mais empregos, e isso está exigindo requalificação do pessoal
dispensado das indústrias. Apenas o trabalho criativo e empreendedor
terá vez, realizado em pequenas empresas ou mesmo nas residências.
Na indústria e na agroindústria permanecerão técnicos cuja formação
não será a que a maioria das escolas de hoje está prestando.
Os formandos do amanhã, nas diversas engenharias, deverão
estar preparados para a rápida adaptação às inovações tecnológicas
e científicas, ocorrentes em célere ritmo. Desse modo, estarão aptos a
atingir, com a máxima eficiência, os resultados esperados na solução de
problemas. Precisarão de uma visão integrativa associada aos produtos
que idealizarem e, sobretudo, estarem preocupados com os efeitos que
suas obras possam causar ao derredor. Deverão aprender a trabalhar
em equipes multidisciplinares, com toda certeza.
122 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Na avalanche de conhecimentos disponibilizados por diversas


mídias, sobreviverão os que souberem selecionar rapidamente
o essencial, em função, sobretudo, de uma base consistente de
conhecimentos fundamentais, relacionados com a área científico-
tecnológica de atuação do engenheiro.
O sucesso profissional terá como alicerce uma visão humanística,
capaz de assegurar sensibilidades, estética e ética, aprimoradas e de
possibilitar elevado convívio com pares, subordinados e resultado
positivo durante as negociações comerciais. O engenheiro do
futuro deverá, enfim, estar apto a visualizar alternativas e decidir
oportunamente. Precisará saber admirar a aplicação de sua obra e não
a obra em si mesma.
Leonardo da Vinci, autor de Mona Lisa, era conceituado
engenheiro militar.4 Esse projeto de visão humanística deveria ter sido
chamado “Projeto Leonardo da Vinci”, para caracterizar a importância
da sensibilidade ao belo por parte dos integrantes da Engenharia Militar.

O ambiente facilitador: o IME5


Uma escola de engenharia, isolada do convívio universitário,
orienta o maior esforço de seus mestres a assuntos ligados ao campo
técnico, tendendo a descartar ações educativas que envolvam o
comportamento humano, sobretudo o seu lado afetivo. O Instituto Militar
de Engenharia bem que poderia manter-se, desde os seus primórdios,
como uma dessas escolas...
O Instituto é considerado o Berço da Engenharia no Brasil,6 fruto
de ser sucessor da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho
que, por ordem de D. Maria I, rainha de Portugal, foi instalada no ano
de 1792, na Cidade do Rio de Janeiro. Essa foi a primeira escola de
engenharia das Américas, a terceira do mundo e ocupou a Casa do Trem
de Artilharia, na Ponta do Calabouço, onde atualmente funciona o Museu
Histórico Nacional.
A Real Academia tornou-se a base para a implantação da Academia
Real Militar, criada em 23 de abril de 1811, por ordem de D. João VI.
Essa nova academia mudou de nome quatro vezes: Imperial Academia
Militar, em 1822; Academia Militar da Corte, em 1832; Escola Militar,
em 1840; e Escola Central, a partir de 1858. Ali se formavam não apenas
oficiais do Exército, mas especialmente engenheiros, militares ou civis,
Um projeto de visão humanística em escola de engenharia 123

pois a Escola Central era a nossa única escola de engenharia existente


no Brasil.
Em 1874, a Escola Central desligou-se das finalidades militares,
indo para a jurisdição da antiga Secretaria do Império e passando a
formar exclusivamente engenheiros civis. A formação de engenheiros
militares, bem como a de oficiais em geral, passou a ser realizada na
Escola Militar da Praia Vermelha (1874 a 1904). Nesse último ano, a
Escola foi transferida para o Realengo, onde eram formados os oficiais
de Engenharia e de Artilharia. Os oficiais de Infantaria e de Cavalaria
eram preparados em Porto Alegre.
A Missão Militar Francesa, iniciada na década de 1920, inspirou a
criação, em 1928, da Escola de Engenharia Militar, que, a partir de 1934,
passou a ter a denominação de Escola Técnica do Exército.
Em um grande esforço para melhorar o desempenho dos órgãos
de pesquisa e desenvolvimento, o Exército fundiu, em 1959, a Escola
Técnica do Exército com o Instituto Militar de Tecnologia, o que deu
origem ao atual Instituto Militar de Engenharia.
O IME, em decorrência do passado histórico, manteve-se pioneiro
em gerar recursos humanos no início das indústrias siderúrgica,
automobilística, de telecomunicações, de aeronáutica e espaço e de
armamento. Muitos de seus cursos de engenharia são precursores no
País. Já na década de 1960, possuía o primeiro curso nacional de pós-
graduação lato sensu, na área da Engenharia Nuclear.
É justamente o Pioneirismo, destaque na sua identidade, que tem
impelido a instituição a acrescer às disciplinas recomendadas pelas
diretrizes do ensino nacional atividades humanísticas.
A localização no seio da capital cultural do País, sobretudo nos
aspectos ligados às letras e às artes, ajuda nessa tomada de posição,
contrária ao que era de se esperar. Outro fator que colabora é o recém-
criado “Polo Científico e Tecnológico da Urca e Adjacências”, cuja
denominação condiz com o aglomerado de instituições voltadas ao
ensino e à pesquisa em diversas áreas do conhecimento. Dele fazem
parte, além do IME, o Campus da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) na Praia Vermelha, a Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (Unirio), o Instituto Benjamim Constant, o Núcleo do
Laboratório Nacional de Computação Científica, o Centro Brasileiro de
124 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Pesquisas Físicas, a Comissão Nacional de Energia Nuclear, a Companhia


de Pesquisas de Recursos Minerais, a Escola Superior de Guerra, a
Escola de Guerra Naval, a Escola de Comando e Estado-Maior, o Centro
de Capacitação Física do Exército e, por opção de seu presidente, mesmo
afastada geograficamente, a Academia Brasileira de Letras (ABL).
Aspectos facilitadores adicionais são o reduzido espaço físico e
os modestos efetivos, que pouco ultrapassam os dos departamentos
das grandes universidades. Congregam-se cerca de 400 alunos de
graduação, em 10 áreas da Engenharia, e outros 300 alunos de pós-
graduação, distribuídos em cursos de mestrado e doutorado. O corpo
docente tem um núcleo de 110 professores civis e militares em regime
de dedicação integral.

Premissas e condições de implantação


A Lei de Diretrizes de Base,7 no item III de seu capítulo 43, estabelece
que a educação superior tem por finalidade incentivar o trabalho de
pesquisa e investigação científica, além de visar ao desenvolvimento da
ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo,
desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive.
Assim, por força legal, em uma escola de ensino superior a expressão
“visão humanística” deve estar presente nos projetos pedagógicos. No
caso do IME, em particular, “visão” significa entender o presente e estar
pronto para o futuro, e “humanística” não se encerra no seu sentido
restrito,8 que abrange o culto das línguas e literaturas greco-latinas,
mas se manifesta amplamente entre o lógico e o ético, entre a eficácia
de um conhecimento em relação à ação humana e exigências concretas,
psicológicas, históricas, econômicas e sociais, que condicionam a vida
do homem.
O projeto visa propiciar aos alunos matriculados em cursos
regulares de engenharia contato permanente com assuntos relacionados
com os anseios da sociedade e com as ciências ligadas ao Comportamento
Humano, em complemento às disciplinas curriculares. Tal projeto
se propõe a mostrar condições para o autoconhecimento e a perfeita
interação do profissional com o meio social. Prevê o desenvolvimento de
atributos, a somar-se à competência científica e tecnológica, que facilitem
a liderança de equipes de trabalho, no campo ou em escritórios, a seleção
e obtenção de recursos e a adequada gerência de projetos. Enriquece-o
Um projeto de visão humanística em escola de engenharia 125

a disponibilização, ao jovem universitário, de atividades culturais, tais


como programas flexíveis de leitura, encontros de reflexão, religiosos,
teatrais, musicais e de esporte e lazer.
Ponto de grande importância é fazer com que o engenheirando
frequente disciplinas, estranhas à sua grade acadêmica, em escolas
conveniadas voltadas para o ensino de ciências humanas, biológicas e
sociais. Pretende-se, assim, aprofundar relacionamentos de grupos que
possuam perspectivas diferentes diante do mundo.

Quadro 01: Disciplinas curriculares da área de humanas, no IME

A oportunidade, posta à disposição dos alunos, de um Projeto de


“Visão Humanística” consubstancia-se em paralelo aos cursos regulares
do IME9 nas áreas de humanas, mostrados no quadro 01, mediante os
seguintes subprojetos:

– Leitura Selecionada;
– Inglês;
– Presença em cursos na UFRJ e na Unirio;
– Liderança;
– Ciclo de Palestras;
– Atividades musicais e sociais.

A Leitura Selecionada é um programa aplicado no 2° período


letivo do 2º Ano do Curso Básico, em que os alunos são obrigados a ler
um livro, escolhido de uma lista de cerca de 100 títulos, e a realizar uma
dissertação criticando a obra e fornecendo opiniões concernentes. Os
trabalhos são analisados por uma comissão de professores e gera uma
premiação aos melhores resultados quando do encerramento do ano
escolar.
126 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

O projeto Inglês visa à proficiência (ler, escrever, entender e falar)


de todos os alunos na língua, na qual são escritos a maioria dos capítulos
científicos atuais, ao término do último ano. A meta foi escalonada
em fases. A primeira delas consiste em adquirir a capacidade de ler e
compreender textos em inglês antes de ingressar no ciclo profissional do
curso (3º, 4º e 5º anos). A segunda está na obtenção do credenciamento
linguístico (ler e entender) exigido no âmbito do Ministério do Exército,
o que deve ser feito mediante prova escrita até o final do 4º ano. Por fim,
a busca do domínio completo do idioma da era da globalização. Os que
não alcançarem sucesso serão penalizados com redução na média final
do curso. É incentivado, também, que outros idiomas sejam estudados
pelos alunos, mas sem a obrigatoriedade.
Outra ação é a que obriga os alunos do 5º ano a assistir e serem
aprovados em uma cadeira isolada, estranha às engenharias, na UFRJ
e na Unirio. A atividade objetiva permitir ao aluno do IME, também
em processo de formação militar, ampliar o seu campo de visão pela
interação com pessoas que estão sendo preparadas, segundo outros
pensamentos e habilidades, a fim de contribuir com o desenvolvimento
da sociedade brasileira.
Ações espontâneas vinham sendo realizadas em benefício da
formação específica do engenheiro militar. No projeto Visão Humanística,
o subprojeto Liderança ampliou e formalizou aquelas ações, buscando
o desenvolvimento, nos alunos do IME, dos atributos necessários para
que um engenheiro e militar desempenhe seu papel de maneira eficaz,
em uma sociedade globalizada.
Um ciclo de palestras ao longo do ano letivo quebra a rotina do
pesado estudo de assuntos ligados às ciências exatas. Pela escolha de
palestrantes com exemplares culturas geral e profissional, pretende-se
expor à reflexão temas atuais, motivando a preocupação com problemas
brasileiros.
São também estimuladas atividades musicais e sociais, propiciando
os meios que viabilizem eventos agradáveis e sadios.

Atividades em andamento e primeiros resultados


Todos os subprojetos estão em execução, alguns na segunda versão,
como o programa de leitura selecionada. Decorrente deste, em 1998,
os alunos que elaboraram os melhores manuscritos foram agraciados
Um projeto de visão humanística em escola de engenharia 127

com singelas lembranças por ocasião do encerramento do ano letivo.


Este ano, a comissão de avaliação dos textos dos alunos contará com o
apoio da ABL, pretendendo-se conferir o prêmio Visconde de Taunay
aos melhores trabalhos.
O subprojeto engenheirando vem sendo implementado desde
o início do corrente ano. Palestras de alto nível já foram realizadas,
alunos têm desempenhado funções de chefia, e foi iniciada a avaliação
individual, na busca pelo desenvolvimento de atributos. A presença de
alunos do 5º ano, de diversas especialidades, em cursos na UFRJ e na
Unirio, foi plenamente alcançada, como mostra o quadro 02.

Quadro 02: Disciplinas adicionais do Projeto de Visão Humanística

No corpo do subprojeto Inglês, diversos alunos já foram aprovados


em testes de credenciamento linguístico.
As atividades musicais e sociais estão a pleno vapor, tendo sido
criado um conjunto musical e um conjunto de danças, por iniciativa dos
alunos. Essas ações suprem carências detectadas em relatos feitos pelos
próprios alunos, diretamente às psicólogas da escola ou nas respostas
a questionários para medição de satisfação.10 A figura 01 mostra alguns
128 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

(a)

(b) (c)

Atividades musicais realizadas por iniciativa dos alunos: (a) participação do


conjunto do IME em um dos happy hour promovidos pelos próprios alunos; (b)
apresentação mensal do conjunto do IME, em horário denominado Acorda
IME, depois da educação física e antes do início das aulas; (c) momentos
durante a apresentação de alunos do IME e do coral da Universidade Gama
Filho, no auditório do Instituto, em 28 de maio de 1999
eventos musicais, realizados com pleno êxito. Afinal, o estudante de
engenharia tem direito ao tempo de lazer e ao belo.

Conclusão
É inevitável que encontremos o aluno do IME, uma escola de
engenharia com pensamento voltado para os fenômenos globalizantes,
em um mundo incerto e ambíguo, dominado por sociedades que
privilegiam o conhecimento. Diante de uma evolução tecnológica sem
precedentes, é viável trazê-lo, não só ele como outros engenheirandos,
para o confronto com outras áreas, pela oportunidade de uma Visão
Humanística. Afinal, é importante saber fixar em si mesmo e nos seus
Um projeto de visão humanística em escola de engenharia 129

conceitos como proteção ao meio ambiente e melhoria da sociedade


que o acolhe. As metodologias para suporte de tal projeto podem ser
as descritas neste texto, melhoradas em função das características
e facilidades que a escola venha a ter. Fato é que o ambiente se torna
mais leve e o tempo passa mais suavemente. Cumprem seus deveres o
educador e o próprio educando.

Agradecimentos
Agradecemos ao professor Rodrigo Balloussier Ratton, chefe
da subdivisão de ensino de graduação, pela prestação de informações
relativas ao controle acadêmico e aos diversos subprojetos, que estão
sob sua coordenação. Registramos, também, a participação do professor
Rubenildo Pithon de Barros, experiente em assuntos ligados ao ensino
de engenharia, na revisão deste trabalho.
Capítulo 7

Metas do plano de modernização


do IME para o ano letivo de 20001
José Carlos Albano do Amarante2

S
ob a proteção de Deus e o sentimento de júbilo da plateia
aqui presente, o Instituto Militar de Engenharia, nesta manhã
gloriosa de 18 de fevereiro, formaliza o início do ano letivo do ano 2000.
No cumprimento do honroso ofício de apresentar-lhes a Aula Inaugural,
o comandante ocupa a tribuna para mostrar-lhes os rumos a seguir
durante a evolução do Calendário Escolar.
Nesse ponto, queremos destacar a presença do excelentíssimo
senhor general de exército Horácio Raposo Borges Neto, secretário de
Ciência e Tecnologia. Assinalamos as presenças dos excelentíssimos
senhores.
Agradecemos as presenças dos senhores pais, com os quais
compartilhamos o orgulho dos seus filhos na conquista do difícil
ingresso no IME e asseguramo-lhes que, nesta escola, uma das portas de
entrada do Exército Brasileiro, todos os esforços serão colimados para
transmitir-lhes o saber que esta casa concentra.
Aos alunos, queremos afirmar a satisfação que experimentamos
neste encontro e que vocês são a motivação principal e a razão de ser
dos nossos trabalhos.
Aos professores, reitero a confiança depositada e a certeza de que
saberão conduzir, com equilíbrio, retidão nos julgamentos, disciplina e
entusiasmo, as aulas sob suas responsabilidades.
Na aula inaugural de 1999, apresentamos o tema A Modernização
do Ensino no IME. Hoje, com tal projeto já iniciado, enfatizaremos as
Metas de Trabalho para o Ano 2000.
132 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Fundamentação
As mais significativas mudanças, nos tempos atuais, não se dão
na estrutura do corpo humano, mas sim na estrutura das ideias e do
conhecimento e propicia os mais variados desdobramentos: sociais,
econômicos, políticos e, de modo acentuado, científico-tecnológicos.
A ciência e a tecnologia passaram a ser tratadas como uma única
área, em virtude da forte interdependência entre elas, da crescente
utilização de conhecimentos científicos para a geração de tecnologias
e da necessidade de avanço tecnológico para a produção de novos
instrumentos para o trabalho de cientistas.
O Poder, só para recordarmos, é estudado em seus cinco campos: o
psicossocial, o militar, o econômico, o político e o científico-tecnológico;
esse último, o irmão mais novo da família, segundo a Doutrina da Escola
Superior de Guerra.
A segunda metade do século XX, logo depois da Segunda Guerra
Mundial, caracterizou-se pela forte interferência dos governos na
área científico-tecnológica e, consequentemente, na educacional. As
nações beligerantes, empenhadas nesse conflito, desencadearam uma
mobilização da comunidade científica e tecnológica jamais pensada.
Essa comunidade foi direcionada para a busca de soluções de conflitos
táticos e estratégicos, dependentes de novos conhecimentos, que
pudessem conduzir a novos produtos e métodos de gerência, ligados à
logística, aos simuladores, à tecnologia da informação, ao processo de
tomada da decisão e a outras áreas bélicas.
Todo o esforço empenhado, a partir de então, foi intensificado
durante o período da Guerra Fria, e os avanços científicos de portes
extraordinários motivaram inovadoras e importantes aplicações
civis. Tornou-se mais que evidente a constatação de que a capacidade
tecnológica de um país é a principal força motriz para o desenvolvimento
político, econômico e social.
Uma característica peculiar do conhecimento científico-
tecnológico é a velocidade com que suas fronteiras se deslocam. O
contínuo monitoramento de tal evolução requer, antes de mais nada,
uma ininterrupta e redobrada atenção no ensino e na pesquisa.
Tal motivação constitui-se em um dos pilares do projeto de
“Modernização do Ensino no IME”, cujo texto básico encontra-se à
Metas do plano de modernização do IME para o ano letivo de 2000 133

disposição de todos na IntraIme, para leitura e meditação. Na sua


essência, o Projeto de Modernização consiste em transformar a escola
que logrou grande prestígio como um dos expoentes do ensino e da
pesquisa de engenharia, calcado no modelo da Revolução Industrial, na
escola que alcance o mesmo sucesso na Era da Informação, resultante
da Revolução Tecnológica. Ostenta uma concepção ternária ao englobar
Projeto Pedagógico, Modernização das Instalações e Reestruturação
Organizacional. Tais planos específicos são acompanhados por um
Programa de Gestão pela Excelência iniciado em 1998.

Metas estabelecidas para o ano 2000


As metas estabelecidas para o corrente ano letivo têm bastante
densidade. Preveem grande participação de todos os integrantes do
IME para o seu alcance e forte aporte de recursos orçamentários e
extraorçamentários, sobretudo do BNDES.

Projeto Pedagógico
É o pilar central do edifício da Modernização. Envolve um
conjunto de atividades que conformarão o Projeto Pedagógico e visa à
revisão curricular, à modernização dos métodos de ensino, do sistema
de avaliação, da atualização dos professores com novas práticas
pedagógicas e das normas gerais relativas à condução do ensino.
O Projeto Pedagógico será elaborado por integrantes do corpo
docente que, espontaneamente, desejarem participar desse trabalho,
apoiados por profissionais da pedagogia a serem contratados pelo IME.

Modernização das instalações


É um projeto em si mesmo e destina-se a abrir novos espaços,
reorganizando outros, para melhorar a infraestrutura e as condições
de conforto dos alunos de graduação e de pós-graduação e também dos
professores.
Envolve basicamente as seguintes atividades:

– melhoria e ampliação do alojamento dos alunos;


– atualização dos laboratórios;
– aquisição de mobiliário e de equipamentos multimídia para as
salas de aula; e,
134 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

– construção de novo prédio no local da nossa quadra de futsal,


de sete andares, com 5.000m2, que comportará salas de aula, a nova
biblioteca (midiateca) e novos laboratórios multidisciplinares.

Reestruturação organizacional
A partir do Projeto Pedagógico e da Modernização das Instalações,
o IME necessitará de um suporte administrativo mais eficiente,
moderno, dinâmico e ágil. Para isso, deverá adequar o seu organograma
aos requisitos de eficiência e modernidade.

Recursos humanos
Os recursos humanos de uma instituição é o seu bem mais
precioso. É o homem que faz as coisas acontecerem e implementa ações
para melhoria das atividades fim e meio. A ênfase de nosso esforço será:

1) Ampliação do efetivo de professores civis para:


– montagem de grupos de pesquisa sólidos;
– execução das atividades de ensino com pessoal estável e afinado
com os interesses do EB.
2) Recompletamento do efetivo de tecnólogos e pessoal de apoio
ao ensino.
3) Treinamento de pessoal para:
– melhoria no desempenho acadêmico e funcional;
– atender aos nossos parâmetros tanto pedagógicos quanto de
gestão pública pela excelência.
4) Desenvolvimento de atividades culturais e de lazer para
docentes, discentes e funcionários, o que propiciará um salutar ambiente
de trabalho.

Plano geral de ensino e pesquisa


É o instrumento para planejar, coordenar, orientar e controlar
todas as atividades de ensino e pesquisa, buscando maximizar o
processo Ensino-Aprendizagem.
Uma ênfase especial será dada ao prosseguimento ao esforço
iniciado em 1999 com os projetos Visão Humanística e Software.
1) O Projeto Visão Humanística, que deveria ter sido chamado
de “Projeto Da Vinci”, procura desenvolver a sensibilidade social no
Metas do plano de modernização do IME para o ano letivo de 2000 135

futuro engenheiro. Não esqueçamos que Leonardo Da Vinci se destacou,


ao mesmo tempo, como engenheiro militar e artista. O mecanismo
pedagógico adotado explora assuntos relacionados com anseios da
sociedade e com ciências humanas. Como foi assinalado no capítulo
anterior, o projeto disponibiliza ao jovem universitário atividades
culturais e humanas. Por fim, o futuro engenheiro deve ser educado
para empregar na sua vida profissional e pessoal um comportamento
“vinciano”.
2) Por outro lado, o Projeto Software objetiva incentivar o uso
das linguagens de programação e o desenvolvimento de aplicativos nos
trabalhos acadêmicos do Instituto Militar de Engenharia, nos níveis de
graduação e pós-graduação; visa capacitar profissionais para geração de
novos produtos de software nas diversas áreas da Engenharia. Busca,
ainda, desenvolver a capacidade criativa dos alunos desse Instituto,
reduzindo o uso de soluções por meio de produtos prontos.
3) Além disso, é nosso intento dar prosseguimento aos programas
de graduação e pós-graduação, procurando constantemente a melhoria
nos conceitos emitidos pelo Sesu e Capes, órgãos do MEC, até atingir o
patamar condizente com o padrão IME. É de se notar que, no Provão
de 1999, o IME com a Universidade de São Paulo-USP foram as únicas
instituições a ostentar um quádruplo “A” em um universo de 142
escolas de engenharia. O MEC, paralelamente, divulgou, nesta semana, o
resultado da avaliação de cursos de ensino superior no Brasil e analisou
as seguintes características: corpo docente, organização didática e
instalações. No campo da Engenharia foram avaliadas duas seções: a
elétrica e a mecânica. No âmbito do Estado do Rio de Janeiro, o IME foi
a única faculdade destacada entre as melhores nas duas engenharias. É,
pois, enorme a nossa responsabilidade.
4) Outra meta é introduzir, na Instrução Militar, o Acampamento
Tecnológico, no qual o aluno buscará tecnologias disponíveis no mercado
para testá-las em um ambiente operacional. O objetivo pedagógico do
Acampamento Tecnológico é contribuir para desenvolver, no futuro
engenheiro militar, a sensibilidade para resolver problemas operacionais
do Exército utilizando ferramentas científico-tecnológicas.
5) Também temos como objetivo a ampliação do oferecimento
de cursos de extensão universitária e estágios, para a capacitação de
pessoal em assuntos específicos, em curto espaço de tempo.
136 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

6) Está entrando na pauta de nosso trabalho o planejamento


da criação dos cursos de doutorado nos Programas de Engenharia
Elétrica e Mecânica, com vistas a iniciarem em 2003. O oferecimento
de cursos de doutoramento é a maneira mais eficiente de melhorar
o nível do ensino de pós-graduação e de graduação, por via de
consequência.

Plano geral de pesquisas


É o instrumento para planejar, orientar e controlar as atividades
ligadas às pesquisas fundamental e aplicada, além de contribuir para
a sua eficácia e efetividade, focalizando a interdisciplinaridade das
pesquisas e dos projetos de engenharia a serem desenvolvidos.

O foco da nossa preocupação volta-se para os seguintes aspectos:

1) Direcionamento das pesquisas realizadas no IME em prol do


atendimento da Relação de Assuntos de Interesse do EB, observando a
dualidade da aplicação tecnológica civil-militar;
2) Continuidade da implantação dos recentemente criados
Núcleos de Pesquisa e Projetos: Tecnologias Amazônicas e Meio
Ambiente, Construções e Cartografia, Materiais e Química, Tecnologia
da Informação e Sistemas Integrados (Tama, CC, MQ, TI e SI), tornando-
os atuantes e eficientes em benefício do EB.

No mundo atual, os projetos não se desenvolvem com um


único tipo de especialista e exigem a contribuição de várias áreas do
conhecimento. Faz-se necessário aprender a trabalhar em equipe,
cada qual contribuindo com seus conhecimentos específicos.
Propõe-se, então, a utilização de uma estrutura matricial-funcional
para os Núcleos de Pesquisa e Projetos e os Departamentos de
Ensino do IME.
Com essa estrutura pretende-se melhor atendimento às
necessidades de pesquisa do Exército, que pode se dar com a
intensificação do relacionamento técnico do IME com os órgãos que tem
a capacidade de perceber e apresentar as necessidades da Força, por
área técnica, e no mais alto nível, os órgãos de direção setorial.
Metas do plano de modernização do IME para o ano letivo de 2000 137

Programa de gestão pela excelência


A implementação de uma estratégia de gestão pela excelência
é uma forma de auxiliar os profissionais do Instituto a aprimorar os
serviços e os processos gerenciais, o que facilita o cumprimento das suas
missões e o desempenho adequado das suas funções. Nesse programa, o
foco é o cliente EB e a ênfase está sendo:

1) o credenciamento na ISO 9002 do sistema de normas da Divisão


de Ensino e Pesquisa;
2) o credenciamento do Laboratório de Ensaios Mecânicos na ISO
Guide 25, como ilha de modernidade para os demais laboratórios;
3) a elaboração de catálogos institucionais, que contenham o
projeto pedagógico e informações acadêmicas úteis aos docentes e
discentes;
4) a participação nos Prêmios de Qualidade do Governo Federal e
do Governo do Estado do Rio.

Plano Diretor de Informática (PDI)


O PDI tem por objetivos padronizar as ações ligadas ao uso da
ciência da computação e de meios de informática, propor os sistemas
a serem desenvolvidos e o treinamento de pessoal necessário, além de
quantificar os recursos necessários para a sua execução.
É previsto o desenvolvimento dos seguintes sistemas:

– Controle Acadêmico;
– Fluxo Eletrônico de Documentos.

E a adesão às seguintes redes:

– interligação com a Internet II (Rede Rio II) (de 2 para 155 Mbps);
– projeto e instalação de nova rede interna de maior velocidade
(de 10 para 100 Mbps);
– montagem do Laboratório de Computação Científica.

Mensagem aos alunos do IME


No cenário mundial em que estamos inseridos e perante os
consequentes desafios enfrentados pelo sistema educacional em nosso
138 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

País, um poder mais alto se levanta: cresce em importância a contínua


evolução do ensino e da pesquisa, particularmente no campo científico-
tecnológico, no qual as fronteiras do conhecimento, como já vimos,
avançam célere e implacavelmente em direção ao desconhecido, com
velocidades jamais imaginadas.
O sólido embasamento científico, apoiado na física, na química,
na matemática e na computação, é o grande diferencial do aluno que
se forma nesta casa. Tal preparo intelectual permitir-lhes-á trabalhar
em um ambiente de grande complexidade e mutável com intensa
rapidez. Aqui se aprende a aprender. Esse é o enfoque pedagógico
mais importante para enfrentar a ameaça de obsolescência prematura
oriunda da acentuada dinâmica da evolução científico-tecnológica.
O domínio de, pelo menos, uma língua – nesse caso, a língua
inglesa – é essencial para que o aluno tenha acesso às diversas fontes de
conhecimento não curriculares, tais como revistas, monografias, teses e
capítulos, e aos autores mais atualizados em cada área da ciência.
A gestão pela excelência é um processo que permeia todos os
pilares componentes do Projeto de Modernização. Deve ser perseguida
diuturnamente em todas as atividades escolares e ser cultivada em
toda a vida profissional do engenheiro. No mundo globalizado em que
vivemos, a competição é acirrada. Não basta ser bom, é mandatório ser
ótimo.
Hoje, iniciamos o novo ano letivo de 2000. Aos novos alunos,
rapazes, moças e oficiais oriundos da AMAN que aqui adentraram
depois de difícil e disputado exame vestibular, dou-lhes as boas-vindas
e desejo-lhes sucesso.
Aos engenheiros e engenheiras que vieram cursar o mestrado e
o doutorado nas diversas especialidades, parabenizo-os pela rigorosa
seleção por que passaram e auguro-lhes o melhor dos resultados no
aproveitamento acadêmico.
Aos que já conhecem a nossa escola, os alunos antigos de graduação
e de pós-graduação, que depois de merecido descanso de férias retornam
ao nosso convívio, desejo-lhes a continuação dos êxitos obtidos até
agora e concito-os a colaborar com os novos alunos no aprendizado dos
nossos valores e na rápida adaptação ao novo regime escolar.
Não poderia deixar, na oportunidade, de me dirigir, em especial,
ao corpo docente que vêm conduzindo, de forma segura e com rara
Metas do plano de modernização do IME para o ano letivo de 2000 139

sabedoria, os destinos de nossos jovens alunos rumo ao aprendizado


nos afazeres escolares. As respostas dos senhores aos desafios que
lhes tenho lançado, no caminho da modernização do ensino, têm sido
pronta, e os óbices superados com galhardia. Eu reafirmo a confiança
que deposito nos mestres desta casa.

Conclusão
No quadro de mudanças e de novos desafios presentes na vida
do estudante moderno, em um ambiente no qual o conhecimento é
adquirido, além dos bancos escolares, em uma miríade de fontes de
informações disponibilizadas pelos meios de comunicação, em tempo
real, e pela Internet em áreas que evoluem a cada instante, há que se
dedicar breve momento à reflexão.
Guardem em suas mentes que o homem, a grande fonte de poder
pela sua natureza gregária, detém a capacidade de discernir os valores
eternos dos mutáveis. Mudam os métodos e os processos, mudam as
estratégias para se alcançar os objetivos, mudam as estruturas, os modelos
e as tecnologias para o estudo de um sistema, mas permanentes são os
princípios morais e a excelência do caráter. Imutáveis são a disciplina,
a obediência, a ordem, a hierarquia e a ética. Sejam, a todo o momento,
exemplos de conduta irrepreensível, de competência profissional, de
desambição, de modéstia, de simplicidade e de probidade.
Cultivem com reverência as tradições desta casa e sejam gratos ao
nosso País pela oportunidade dos conhecimentos que aqui receberão.
Sejam reconhecidos ao Exército Brasileiro, instituição que hoje
lhes acolhe e certamente lhes propiciará esmerada formação moral e
primorosa preparação intelectual.

Muito obrigado.

Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 2000.


Capítulo 8

O IME no alvorecer do século XXI1


José Carlos Albano do Amarante*

Introdução

O
Instituto Militar de Engenharia, nesta manhã de 2 de março,
honrosamente os recebe e lança o marco inicial do ano letivo
do ano 2001, sob a proteção de Deus e a distinção da plateia aqui presente.
No cumprimento do honroso ofício de apresentar a Aula Inaugural,
o comandante ocupa esta tribuna para apontar, aos corpos docente e
discente, o rumo a seguir durante a evolução do Calendário Escolar.
Agradeço a presença dos senhores pais, com os quais compartilho
o orgulho de seus filhos na conquista do difícil ingresso no IME e
asseguro-lhes que, nesta escola, uma das portas de entrada do Exército
Brasileiro, todos os esforços são colimados para transmitir aos nossos
alunos o saber que esta casa concentra, as tradições de liderança e
pioneirismo e, sobretudo, a visão humanística que deve inspirar toda a
obra de engenharia.
Aos alunos, razão de ser e centro de gravidade desta casa, quero
dizer da imensa satisfação que experimento, neste encontro solene, para
o início de mais um ano letivo.
Aos professores, uma vez mais, reafirmo a confiança depositada
e a certeza de que conduzirão as atividades acadêmicas com equilíbrio,
retidão no julgamento, disciplina e, além do mais, com muito entusiasmo.
Na Aula Inaugural do ano passado, falei sobre as “Metas de Trabalho
para o Ano 2000”. Hoje, abordarei o tema “O IME no alvorecer do século XXI”.

O cenário inicial
A Teoria Restrita da Relatividade, como ficou conhecido o trabalho
“Sobre a eletrodinâmica dos corpos em movimento“, publicado por Albert
142 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Einstein em 1905, aos 26 anos de idade, aponta algumas observações


sobre como, em certas circunstâncias, distâncias parecem contrair-se e
relógios atrasar-se.
Em 29 de maio de 1919, 14 anos mais tarde, por ocasião de um
eclipse solar, as fotografias obtidas a partir da Ilha de Príncipe, na África,
e de Sobral, no Brasil, permitiram comprovar a veracidade de nova teoria
do Universo, modificando a teoria da cosmologia newtoniana. Naquela
data começava o mundo moderno.
Nas seis décadas que se seguiram à Primeira Guerra Mundial, o
conhecimento expandiu-se mais rapidamente do que nunca. Sob vários
aspectos, no entanto, o homem moderno e instruído do século XIX era
provido de menos certezas do que um antigo egípcio de 2.500 a.C. Pelo
menos, o egípcio tinha uma cosmologia bem definida. Em 1915, Einstein
redefiniu o universo newtoniano. A partir da nova verdade, então, o
mundo experimentou exponencial desenvolvimento na ciência e na
tecnologia, que permitiu promover grandes transformações políticas,
econômicas, militares e psicossociais em todos os recantos do planeta.
No final do século XX, ficou mais evidente que os maiores
desafios enfrentados por todos os países estavam fortemente conexos
com as profundas transformações sociais, decorrentes da vertiginosa
velocidade alcançada pelo desenvolvimento científico e tecnológico na
última metade do século passado. O maior impacto resultante do domínio
de novas tecnologias fez-se sentir, mais fortemente, nas instituições
sociais, alterando hábitos, mudando valores e, até mesmo, modificando
tradições antes imutáveis. Os cenários desenhados, no alvorecer do
século XXI, por pensadores e cientistas, destacam a grande interação
entre a C&T e os poderes político, econômico, militar e psicossocial, e o
fato de estarmos imersos na Era do Conhecimento.2

Influência do conhecimento na defesa


Em uma avaliação histórica, passando por toda a evolução do
homem, desde que ele deixou o seu caráter nômade e começou a ter
um sentido sedentário, fixando-se à terra, em virtude da Revolução
Agrícola, observa-se que o ciclo evolutivo da sociedade foi marcado por
revoluções, as quais destaco: a Revolução Agrícola (8000 a.C-3000 a.C.);
a Revolução Filosófica (600 a.C.-530 d.C.), o que marcou o nascimento
O IME no alvorecer do século XXI 143

do pensamento filosófico; a Revolução Cultural (1100-1450), no


Renascimento, quando os homens de cultura rebelaram-se contra o
engessamento cultural; a Revolução Científica (1450-1750), a qual
estabeleceu a experimentação como a base fundamental da aquisição
do conhecimento em substituição ao dogma; a Revolução Industrial
(1750-1940), momento mágico de substituição da força natural pela
força artificial; e a Revolução Tecnológica (1940-...), caracterizada pelo
crescimento exponencial da capacidade de realização técnica do homem.
Quero lembrar que o escudo existiu a partir do instante em que
foi criada a primeira arma, o tacape. Note-se que a sua construção, de
fácil cópia, constituiu-se provavelmente na primeira tecnologia de
ataque gerada de maneira absolutamente empírica, intuitiva. Assim,
desde a Idade da Pedra, o conhecimento e a defesa sempre evoluíram
paralelamente.
Ao longo dos séculos, os avanços tecnológicos provocaram nítidos
desequilíbrios entre forças combatentes adversárias. Nos tempos
antigos, porém, a vantagem redundante do uso de novo armamento podia
ser desfeita com relativa facilidade, considerando a sua simplicidade de
construção e operação. Desde que não houvesse grande diferença no
estágio intelectual dos contendores, a simples cópia do novo engenho
não apresentava grandes dificuldades. O equilíbrio tecnológico-militar
era logo restabelecido, e a sorte dos combates voltava a depender de
outros fatores, como a capacidade dos generais, a combatividade da
tropa e o apoio logístico.
Na Revolução Cultural (1100-1450), a descoberta da pólvora e
a consequente criação das armas de fogo foram alguns dos primeiros
avanços tecnológico-militares de difícil absorção. Em consequência,
provocou enorme desequilíbrio de forças entre nações e redução drástica
de polos de poder político-militar. A cópia era uma tarefa praticamente
impossível para muitos, dado que conhecimentos da metalurgia, da
química, da mecânica e da balística envolvidos não estavam disponíveis
para todos.
Armas de maior sofisticação tecnológica, como mísseis, aviões
multifuncionais (caça e bombardeiro), carros de combate, navios de
guerra e submarinos, recentemente promoveram uma ainda maior
concentração de poder político-militar.3
144 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Nos dias atuais, menos de duas dezenas de nações possuem


competência para projetar, construir e equipar, autonomamente, os
modernos materiais de defesa. Nesse cenário, cresceu o número de
forças armadas dotadas de equipamento militar importado, ou fabricado
localmente por empresas estrangeiras ou por firmas nacionais, sob
extrema dependência tecnológica externa.
Por essa razão, é necessário que sejam bem avaliadas e definidas as
características operacionais e tecnológicas de guerras atuais e futuras, e
utilizar para isso a visão do combate (operacional) e a visão do poder do
combate (tecnológico). Como ferramenta para realizar essa avaliação,
propomos a adoção do “sistema de funções tecnológicas do combate”,4
o que visa facilitar o estudo do impacto da Tecnologia Militar na guerra
do futuro e o entendimento de como os avanços tecnológicos podem
proporcionar melhores condições para o combate.
Nas duas Guerras do Golfo (1991 e 2003), travadas entre aliados e
o Iraque, sensores e atuadores, operando no espectro eletromagnético,
interferiram nas comunicações, neutralizaram sistemas de defesa e
garantiram supremacia eletromagnética, com vistas à anulação de pontos
vitais de defesa e do sistema logístico, além de assegurar a hegemonia
aérea. Em ambos conflitos, a constatação foi a de uma preponderância
militar esmagadora, que anulou o poder militar de Saddam Hussein. Em
1991, a consequência natural foi a rendição incondicional iraquiana e,
em 2003, o esmagamento da capacidade de defesa iraquiana.
Na atual conjuntura, a defesa recebe influências diretas da ciência
e tecnologia e indiretas das ações políticas, econômicas e psicossociais.
Assim, cabe o questionamento de como a C&T impactará o desempenho
operacional das forças armadas no futuro.

Influência do conhecimento na economia


Na atualidade, as complexas demandas da sociedade são
atendidas por tecnologias alicerçadas por conhecimentos científicos,
preponderantemente transmitidos e ampliados na universidade. Em
decorrência da busca e apropriação sistemática, e bem-sucedida de
conhecimentos científicos para a produção de tecnologias – inclusive as
de aplicação militar, que passou a ocorrer em larga escala a partir da
segunda metade do século XIX –, o conhecimento científico deixou de
O IME no alvorecer do século XXI 145

ser um bem puramente cultural para tornar-se o principal insumo ao


sucesso econômico (LONGO, 2000).5
Segundo Schumpeter, a economia do mundo industrializado evolui
em ciclos de longa duração, com períodos médios de aproximadamente
meio século. Cada ciclo percorre fases de decolagem, expansão, recessão
e depressão. O spin-off de cada ciclo é o surgimento de novas tecnologias,
ditas primárias, resultantes de desenvolvimentos inovadores e
revolucionários.
No início da década de 1990, o mundo viveu o final de um ciclo que
começou depois da Segunda Guerra Mundial e assistiu, no final daquela
década, ao começo de novo ciclo, motivado por importantes inovações
tecnológicas.
O quarto ciclo econômico industrial, vivido de maneira mais intensa
pelos países desenvolvidos, teve sua origem depois da Segunda Guerra
Mundial e está fortemente assentado sobre importantes inovações
tecnológicas associadas com a indústria petroquímica, exploração
espacial, energia nuclear e desenvolvimento das comunicações. Os
anos 1980 assistiram ao final da recessão e ao início da depressão
desse ciclo. As taxas médias de crescimento mundial vêm se reduzindo
substancialmente dos 5,3% ao ano na década de 1960, para 3,5% nos
anos 1970 e 2% na década de 1980, apontando, essa última, para um
crescimento quase vegetativo.
Na década de 1990, as inovações tecnológicas, associadas
com a Engenharia Genética, a automação de fábricas e escritórios, a
biotecnologia, a telemática, o laser e as fibras ópticas estão consolidando
novo ciclo econômico mundial. Este é tão forte que vem promovendo
profundas modificações políticas, psicossociais e militares nas
sociedades terrestres do final do século XX e início do século XXI. O novo
ciclo de inovações é a base tecnológica da Globalização da Economia.
O início de novo ciclo é um período de grandes oportunidades e a
hora de novos parceiros. Quem enriqueceu com a produção do automóvel
não foram os fabricantes de carruagem. Identificadas as tecnologias do
novo paradigma industrial, deve-se investir nelas e buscar parceiros
para intercâmbio tecnológico e para aplicação no setor produtivo.
Assim, pode-se observar que a ciência e a tecnologia modificaram
as vantagens comparativas das nações. Tome-se como exemplo o Japão.
146 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Uma nação com território modesto, importadora de matérias-primas,


de energia, de alimentos, e com mão de obra cara, é credora no comércio
mundial. O seu segredo é agregar tecnologia ao que importa e gerar bens
e serviços para posterior exportação.
O processo gerador de tecnologia, bens e serviços tem sido
acelerado a tal ponto que o mundo atual está em constante mutação.
Caso não acompanhem esse processo, os indivíduos tornam-se
profissionalmente obsoletos, as empresas perdem a competitividade
e vão à falência. Os países amargam o subdesenvolvimento e uma
insuportável dependência externa do insumo mais estratégico do
mundo moderno: o conhecimento (LONGO, 2000).

O conhecimento científico-tecnológico
O homem procurou adaptar-se ao habitat muito antes de possuir
um pensamento erudito. Por exemplo, para proteger-se das intempéries,
ele percebeu que, se friccionasse pedaços de madeira seca, ia gerar o
fogo. Isso já era tecnologia. Ele não tinha o conhecimento do que era
madeira e fogo.
A história da tecnologia, antes mesmo do que a da ciência,
está imbricada com a história do homem. Não se pode ignorar uma
característica fundamental do homem, sintetizada de maneira genial
por Benjamin Franklin: “O homem é um animal fazedor de ferramentas.”
Entretanto, com mais ênfase, nós diríamos que o homem é o animal
fazedor de ferramentas. Assim, a tecnologia nasceu com o homem,
enquanto a ciência deu seus primeiros passos durante o período de
fulgor da civilização grega.
Tanto a ciência quanto a tecnologia resultam de processos
cumulativos do conhecimento, no qual cada geração herda um estoque
de conhecimento e de técnicas, que pode ser acumulado, se a geração
assim o desejar e se o condicionamento social permitir. A educação é
o principal veículo de transmissão do conhecimento, e o homem o ser
responsável pela expansão das fronteiras do saber.
A ciência e a tecnologia evoluíram paralelamente. A primeira,
originada na Grécia, possuía características dogmáticas; já a tecnologia
se desenvolveu em bases empíricas.
No século XVII, entretanto, ocorreu radical mudança no enfoque
do conhecimento da natureza – o que envolveu objetos, métodos e
O IME no alvorecer do século XXI 147

funções –, que passou a ser chamada de Revolução Científica. Até então,


a ciência assumia que o mundo era vivo, criado e guiado por Deus
tão simplesmente para o benefício do homem. O novo paradigma, o
Paradigma Baconiano, propunha o divórcio ciência-religião.
A Revolução Científica, no entanto, foi tão somente uma mudança
de enfoque da ciência. Tal revolução, dita científica, foi muito mais uma
revolução sob o enfoque da ciência do que uma revolução dentro dela.
Passou-se a admitir a existência de corpos inanimados e de leis físicas
que regiam as suas interações. A natureza passou a ser vista como
destituída de propriedades espirituais e humanas.
Essa revolução propiciou um solo fértil para a Revolução
Industrial, ocorrida no século seguinte (século XVIII). A ciência e a
tecnologia passaram a utilizar uma base comum de desenvolvimento: a
experimentação.
Os esforços foram coroados de êxito. Em 1880, o homem criou
a primeira tecnologia de base científica de grande ressonância, e que
não poderia ter sido gerada intuitivamente: a utilização comercial da
eletricidade. Essa tecnologia não seria accessível, se não houvesse os
avanços científicos realizados por Faraday, Maxwell, Ohm, Volta, Tesla
e outros.
Era o início de nova era. O homem passou a moldar o mundo e
garantir a sobrevivência da espécie e o próprio conforto. O avanço
tecnológico é inexorável, não havendo retorno.6 Ninguém admite viver
com a tecnologia de ontem. Quem abriria mão da televisão, do telefone,
do automóvel, da geladeira, do avião?
Nas duas guerras mundiais, a comunidade científico-tecnológica
foi chamada a participar para a obtenção de meios militares. Nas duas
ocasiões, a contribuição foi significativa. Depois da Primeira, toda
a comunidade foi desmobilizada. Isso, entretanto, não ocorreu na
Segunda. Os cientistas e os tecnólogos permaneceram trabalhando para
os governos, especialmente o americano e o soviético.
A nova guerra passou então a ser travada não mais nos campos
de batalha, mas nos laboratórios. Os dois polos de poder emergentes
mergulharam na corrida científico-tecnológica procurando a posição de
liderança. O processo culminou nos anos 1980 com o projeto americano
de “Guerra nas Estrelas”. Sem a necessidade do disparo de um único tiro
real, a União Soviética desmoronou. A “Terceira Guerra Mundial” virtual
148 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

foi disputada nas dimensões da economia e do conhecimento. Ela foi


ganha pelos EUA e seus aliados.
Chegamos ao final do século XX e início do XXI, à fase caracterizada
por uma verdadeira explosão tecnológica. Agora, o casamento entre a
ciência e a tecnologia transforma-se em um processo indutivo, de um
para outro. A ciência promove a tecnologia, e a tecnologia promove e
capacita a ciência. É um processo até dialético.
Na perspectiva da evolução, pode-se observar que as dificuldades
morais, políticas e ambientais antepostas à C&T não são totalmente
novas. Nos tempos atuais, o relacionamento estreito da ciência com a
indústria, a defesa, a política e o próprio meio ambiente tornou obsoleta
a ciência particularizada pela visão reducionista e cartesiana. Agora, a
ciência deve compreender o mundo natural, ao utilizar uma visão global
e holística. A sociedade precisa de uma concepção de trabalho científico
do mundo natural, diferente do modelo reducionista da Revolução
Industrial.

A universidade e o poder do conhecimento
A primeira notícia de uma “escola” precursora da universidade
data da Grécia Antiga. Ela foi criada por Platão para ensinar filosofia,
matemática e ginástica. Por se localizar em um bosque, cujo nome era
de um legendário herói grego – Academos –, a “escola” recebeu o nome
de Academia.
Os primeiros 500 anos depois do colapso do Império Romano
Ocidental, em 500 d.C., marcaram uma fase de estagnação intelectual
no mundo ocidental. Essa fase ficou conhecida como a Idade Negra.
A cultura erudita ficou hibernando em monastérios. Foi a época da
Contrarrevolução Religiosa.
O Renascimento ocorreu durante o século XII, catalisado pelo
contato com a civilização islâmica, mantida florescente, na Espanha e na
Palestina, pelo desenvolvimento de cidades com classes altas eruditas.
Na civilização islâmica, os livros foram mantidos. Como exemplo, a
biblioteca de Córdoba, na Espanha, possuía 500.000 livros, em uma
época quando, acima dos Pirineus, só havia cerca de 500 livros.
O Renascimento então – muito importante e ocorrido notadamente
na Itália, tendo como referência especial o contato com a civilização
islâmica – promoveu, já no século XIII, o aparecimento das primeiras
O IME no alvorecer do século XXI 149

universidades. Essa foi uma fase posterior à da “Idade Negra”(500-1000),


na qual ninguém mais resistiu ao avanço científico.
O Renascimento constituiu-se, na realidade, em uma Revolução
Cultural, que se contrapôs ao dogmatismo e à superstição imposta pela
religião. Os homens de cultura – pintores, escultores, músicos, escritores,
poetas – rebelaram-se contra o engessamento cultural e passaram a
produzir, livremente, arrastando a sociedade na direção da liberdade
cultural e científica. A universidade foi o polo de reunião dos homens
de cultura.
No início do século XV, o palco cultural europeu parecia
desanimador: as universidades em decadência, a Igreja em desintegração
e a economia sofrendo ainda os efeitos da Morte Negra, ocasionada pela
epidemia de peste bubônica. A realidade, entretanto, era que a Europa,
depois da Revolução Cultural, preparava-se para ingressar na Revolução
Científica. Longe de desanimador, o palco europeu era alvissareiro.
A criação da ciência europeia deu-se em duas fases:

– o desenvolvimento técnico, no século XVI;


– a revolução científica, no século XVII.

O desenvolvimento técnico e a revolução científica muito devem


ao inglês Roger Bacon (1210-93), que iniciou a luta para definir a base
fundamental da aquisição do conhecimento – o dogma ou a experimentação.
As ideias revolucionárias sobre a ciência, no final da Idade Média,
apareceram criticando, porque todas as perguntas sobre os fenômenos
da natureza ainda eram respondidas sob os princípios religiosos. Assim,
Roger Bacon defendia que todo o fenômeno natural precisava ter
uma explicação natural e que deveríamos fazer experimentações para
constatar aquela ocorrência natural. Não era nada divino.
Leonardo Da Vinci (1458-1519), posteriormente, continuou essa
luta. Começou a desabrochar o conhecimento científico. Iniciou-se
lentamente com Copérnico (1473-1543) e estabeleceu o movimento
da Terra em torno do Sol. Essa tese foi, posteriormente, defendida pelo
grande Galileu, que quase morreu por defender essas ideias. Ele quase
foi morto pela Igreja, exatamente como consequência da luta entre a
experimentação e o dogma. As raízes do renascer da ciência podem ser
localizadas em três principais regiões:
150 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

1) a descoberta do homem e da natureza: um produto da renascença


artística na Itália do século XV. Os grandes artistas se tornaram homens
de largos interesses e cultura, normalmente sustentados pela nobreza.
Leonardo Da Vinci (1458-1519) é um exemplo.
2) a região montanhosa do sul da Alemanha experimentou um
crescimento rápido na mineração, metalurgia e comércio. Essa foi a base
tecnológica para a invenção da imprensa por Gutenberg, em 1440. É um
exemplo típico de Pesquisa e Desenvolvimento. Foram elaboradas ligas
metálicas de propriedades adequadas para as formas que moldavam os
tipos para a imprensa.
3) durante o século XV, os portugueses e espanhóis começaram
suas explorações. A navegação transoceânica criou novas demandas em
astronomia, em técnicas matemáticas e instrumentos. A Escola de Sagres,
a precursora das escolas de engenharia, caracterizou a competência em
técnicas hidrográficas.

O marco inicial da Revolução Científica ocorreu em 1662, com


a fundação da Royal Society of London, ao proclamar a aderência
ao ideário de Francis Bacon, que havia proposto o método científico
para o estudo dos fenômenos da natureza e estabeleceu a filosofia
experimental. O método baconiano, de conteúdo científico-analítico, é
ainda hoje utilizado nas universidades.
Descartes (1596-1650), com o Discours de la Méthode, estabeleceu
a visão analítica, fundamental para o processo evolutivo: o homem
precisava aprender o pequenino (cada parte de um todo) de forma
consistente. O método analítico é até os dias de hoje importante para uma
primeira fase do estudo de um problema. Além disso, Descartes criou
nova metafísica, umas radicalmente melhoradas álgebra e geometria e
alguns resultados na física, como a explicação do arco-íris.
A Reforma Protestante provocou, ainda no século XVI, uma série
de conflitos que desencadearam avanços em matemática, fortificação e
armamento (canhões). Nessa época, os portugueses deram significativa
contribuição para a tecnologia de construção de fortificações. O livro7
Método Lusitânico de Desenhar as Fortificações das Praças Regulares
e Irregulares, publicado em 1680 pelo tenente-general Luís Serrão
Pimentel, constituiu-se em um marco na consolidação dos conhecimentos
O IME no alvorecer do século XXI 151

tecnológicos de então e foi a base documental para o ensino formal de


Engenharia em Portugal e no Brasil.
O marco inicial da Revolução Industrial foi a invenção da máquina
a vapor por James Watt, em 1769. Nesse mágico momento dá-se a
substituição da força natural pela força artificial. É a primeira vez que o
homem gera a sua força – a força motriz –, da qual ele vai muito se valer.
Realmente consiste em excepcional referência.
Vejamos agora a ciência no século XIX, a Idade de Ouro. A expansão
científica aconteceu de forma esplendorosa, em todos os campos. Até
então humanística, a universidade ampliou sua esfera de atuação e
passou a ensinar a Engenharia, carro-chefe das ciências exatas.
De onde veio o ensino da Engenharia? Seus primórdios remontam
às escolas militares, voltadas para o ensino de ciências exatas aplicadas
à arte da guerra. A primeira engenharia para estudantes paisanos,
ensinada em bancos escolares militares, foi a de construções, por essa
razão chamada até hoje de Engenharia Civil. Somente em meados do
século XIX, as universidades absorveram das escolas militares o ensino
da Engenharia. O engenheiro passou a ser o principal fator humano para
a obtenção dos produtos desenvolvidos para servir bem à sociedade
humana.
Foi dado estímulo ao ensino e à pesquisa organizada. A sociedade
passou a incentivar essas coisas. Começara a haver conferências
internacionais, a publicação de revistas técnicas, e o crescimento do
conhecimento passou a ser exponencial.
No começo do século XX, a universidade era palco de uma
ciência profissional na sua organização social, reducionista no estilo e
positivista no espírito. Desse modo, o estilo dominante de trabalho, nesse
período, era reducionista, pois as investigações eram concentradas nos
processos artificialmente puros, estáveis e controláveis, realizados em
laboratórios. A limitação que possivelmente pode desaparecer no século
XXI estava centrada em perigosa ignorância dos fatos e princípios do
comportamento do ambiente natural e na incapacidade de enxergar o
conjunto. Não se levava em consideração a ecologia e nem se possuía
uma visão sintética.
As realizações científicas do início do século XX são imensas, até
para serem catalogadas. Embora ainda fortemente ligado à análise das
152 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

partes, o homem começou a realizar pequenas sínteses, caracterizadas


pela criação de ciências híbridas, tais como a bioquímica e a biofísica.
A ciência continua atualmente a ampliar-se, e, nesse processo, o
conhecimento científico foi sendo subdividido para aprofundamento
especializado. Em consequência, os cientistas progrediram no sentido
de entender, cada vez mais, de áreas mais restritas. Por sua vez, a
natureza não é compartimentada; ao contrário, é complexa e exige
integrado espectro de conhecimentos para sua compreensão. Como
resultado, o avanço científico atualmente depende muito mais de
equipes multidisciplinares e envolve ampla gama de competências do
que de gênios isolados. Além disso, equipamentos sofisticados e custosos
e recursos financeiros substanciais passaram a exigir organização
específica e capacidade gerencial.
Assim, a pesquisa de fronteira tornou-se cara e complexa, o que
reduziu drasticamente o número de participantes. A conclusão é o fato
de o avanço científico-tecnológico levar à concentração de poder. Quanto
mais a ciência e a tecnologia avançam em dado setor, menor o número de
empresas no mercado. Sobrevivem as que têm melhor tecnologia. Estas
dominam o mercado, acumulam capital e, consequentemente, podem
custear o novo avanço do conhecimento, que exige, a cada passo, mais
competência e recursos. Esse processo contínuo e altamente seletivo
ocorre tanto no nível micro, envolvendo empresas, como no macro, as
nações. A história do crescimento do conhecimento é também a história
da concentração de poder econômico, militar e, por extensão, político,
nos níveis regional e mundial.

O programa institucional de apoio à defesa e ao desenvolvimento


sustentável da Amazônia
O Instituto Militar de Engenharia tem envidado esforços no
sentido de trabalhar direcionando sua produção para o atendimento
às necessidades da sociedade e, em particular, da Força Terrestre. Para
atingir tal objetivo, desenvolvem-se trabalhos de pesquisa e projetos
com resultados práticos, sobretudo em áreas de interesse estratégico
para a Defesa Nacional. Entre essas, destaca-se a da Amazônia.
Estruturou-se internamente para trabalhar de forma matricial.
Foram criados Núcleos de Pesquisa e Projetos (NPPs) – em um total de
cinco –, os quais interagem com os Departamentos de Ensino. Estes, por
O IME no alvorecer do século XXI 153

sua vez, detêm o conhecimento para o aprimoramento na formação de


novos recursos humanos em engenharia.
O IME tem a possibilidade, externamente, de contar com o apoio e a
participação de Organizações Militares, mediante programas conjuntos
(SCT/ G Cmdo Área ou Departamento) em todo o território nacional,
para implantação, monitoramento e desenvolvimento dos projetos e
pesquisas concebidas no IME.
Contando com esse potencial interno e externo, o IME elaborou
o Projeto Institucional, Científico-Tecnológico, de Apoio à Defesa e ao
Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Pict-Addsa). Tal projeto
viabilizou a reversão do quadro de produção científica espontânea,
culturalmente adotada e apoiada pelo CNPq, em uma produção
institucional cujos resultados pudessem ser realmente usufruídos pela
sociedade. Esse projeto institucional sintoniza-se com a intenção atual
do CNPq em apoiar projetos cujos resultados visem ao tridimensional,
aproveitando o potencial dos pesquisadores brasileiros para transformar
seus conhecimentos em tecnologias aplicadas no próprio País.
A escolha da Região Amazônica para o tema do Projeto Institucional
do IME deve-se ao fato de ser uma área estratégica e extremamente
sensível para o País e, ainda, porque qualquer tipo de atividade na
área científico-tecnológica é de mais fácil tratamento pela presença da
Força Terrestre na área. Outra universidade teria grandes dificuldades
de implantar e manter um sistema de pesquisa pela peculiaridade e
característica da região, cuja impedância maior é a dificuldade logística
que a selva propicia.
O programa Institucional do IME caracteriza-se por ter uma
perspectiva de médio prazo, cinco anos, e envolve recursos financeiros
da ordem de R$ 14 milhões. Deve apoiar a realização de pesquisas e a
formação de recursos humanos em áreas estratégicas para a Segurança e
a Defesa do País. Ele se apoia no Plano Plurianual (PPA) do atual governo,
que contempla um conjunto de diretrizes estratégicas norteadoras
das ações governamentais no período de 2000-2003. Seus principais
objetivos são:

1. Promover a capacitação de recursos humanos e fomentar a


pesquisa de alto nível em áreas de interesse estratégico para a Defesa
Nacional, especialmente as referentes à Amazônia; e
154 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

2. Contribuir para a integração nacional, por meio da intensificação


do monitoramento das regiões de fronteira, da garantia da segurança
e da melhoria das condições de vida da população local, em harmonia
com a biodiversidade da região em que se situa.

O Programa Institucional proposto pelo IME será desenvolvido


por intermédio do Núcleo de Pesquisa e Projetos em Tecnologias
Amazônicas e Meio Ambiente (Tama), em parceria com outras
instituições e universidades do País e do exterior e envolve grande parte
dos pesquisadores do IME, constituído dos seguintes projetos:

1. Engenharia de construção civil;


2. Metodologia para avaliação do passivo ambiental em empreen-
dimentos de infraestrutura viária da Amazônia;
3. Navegabilidade dos rios da Amazônia Ocidental;
4. Propagação de sinais radioelétricos;
5. Supervisão e controle em operações fluviais na Amazônia;
6. Utilização de fibras de piaçava como reforço, com compósitos de
matriz polimérica reciclada para aplicações estruturais;
7. Óleos vegetais nativos da Amazônia como fonte alternativa de
energia;
8. Obtenção de água potável na Amazônia;
9. Novos catalisadores para valorização econômica do gás natural
da Região Amazônica;
10. Alternativas para o mapeamento do território amazônico com
emprego de imagens de radar;
11. Atualização de cartas topográficas, utilizando imagens orbitais
para a Região Amazônica;
12. Pesquisa e apoio ao desenvolvimento de Sistemas de Comando
e Controle e Suporte à Decisão; e
13. Materiais geopoliméricos para pavimentação.

Mensagem do comandante
Hoje iniciamos o novo ano letivo de 2001. Aos novos alunos,
rapazes, moças e oficiais oriundos da AMAN, que aqui adentraram
depois de difícil e disputado exame vestibular, dou-lhes as boas-vindas
e lhes desejo sucesso.
O IME no alvorecer do século XXI 155

Aos engenheiros e engenheiras que se matricularam nos curso de


mestrado e de doutorado, nas diversas especialidades, parabenizo-os
pelo êxito obtido depois de rigorosa seleção por que passaram e desejo-
lhes o melhor dos resultados no aproveitamento acadêmico.
Aos que já conhecem a nossa escola, os alunos antigos de
graduação e de pós-graduação, que retornam ao nosso convívio depois
de merecido descanso de férias, desejo-lhes a continuação dos êxitos
obtidos até agora e concito-os a colaborar com os novos alunos, pela
conduta e pelo exemplo, na absorção dos nossos valores e tradições.
Quero me congratular, especialmente, com o corpo docente
que indica os melhores caminhos aos nossos jovens alunos rumo ao
aprendizado e nos afazeres escolares. O trabalho pródigo dos mestres
desta casa tem permitido que o projeto de modernização do ensino seja
uma feliz realidade.
Capítulo 9

Engenharia de Defesa: o mais


novo programa de pós-graduação
do Instituto Militar de Engenharia
Tenente-coronel Roberto Ades
Tenente-coronel Paulo César Pellanda
Professor Itamar Borges Junior

Comentário do autor do livro

N
este capítulo é apresentado o processo de criação e de
desenvolvimento do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Defesa (PGED) do Instituto Militar de Engenharia. As bases
conceituais do mais novo programa de pós-graduação do IME também
são discutidas. O principal objetivo do PGED é formar recursos humanos
por meio de pesquisas de alto nível em ciências e em engenharia com
caráter multi e interdisciplinar e o foco em questões de defesa.
Essa realização tornou-se o primeiro passo na direção da
modernização do ensino e pesquisa no IME. Do processo de criação e por
estarem concordando com o passo no futuro, os seguintes professores
contribuíram com o apoio irrestrito rumo à modernidade. Eis a lista
dos professores que trabalharam no processo de criação da PG em
Engenharia de Defesa, pela ordem de aparecimento no capítulo:

– Professor Fernando Peixoto


– Professora Wilma de Araújo Gonzalez
– Professor Itamar Borges Junior
– General Ernesto Ribeiro Ronzani
– Professor José Edimar Barbosa de Oliveira
158 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

– Major Armando Morado Ferreira


– Major Luis Alfredo Ventorine
– Tenente-coronel Pedro Paulo Levi Mateus Canazio
– Professor Jorge de Almeida Guimarães
– Professor Renato Janine Rbeiro
– Major Paulo César Pellanda
– General Emilio Carlos Acocella
– Major Roberto Ades
– General Amir Elias Abdalla Kurban

De acordo com Ades, Pellanda e Itamar, “um dos principais objetivos


da criação do Programa seria a integração das várias áreas de pós-
graduação já existentes no IME, de maneira que as questões científico-
tecnológicas voltadas para temas de interesse da Defesa Nacional, ou de
caráter dual, pudessem ser tratadas de forma sistêmica, constituindo o
cerne da formação dos mestres e doutores em Engenharia de Defesa.”

Introdução
O mais novo programa de pós-graduação do Instituto Militar de
Engenharia, nos níveis de doutorado e mestrado, foi aprovado pelo
Conselho Técnico-Científico da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes), em dezembro de 2008. A história do
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Defesa (PGED) começou
formalmente em 2005 – com a determinação do Departamento de
Ciência e Tecnologia (DCT) do Exército (Brasil, 2005a),1 órgão de direção
setorial ao qual o IME está subordinado – para o Instituto realizar
um estudo com a finalidade de reorientar o foco das suas pesquisas e
fortalecer a pós-graduação.
A ideia de um programa de pós-graduação em ciências e
engenharia, que aglutina professores de distintos programas e voltado
para assuntos de defesa, já circulava no IME havia algum tempo, depois
de ter sido lançada pelo professor Fernando Peixoto, então na Seção de
Engenharia Química. A proposta do programa de Engenharia de Defesa
estava ganhando corpo. O IME mais uma vez tomava a iniciativa e se
preparava para dar mais um passo na longa estrada do pioneirismo.
Algumas discussões internas genéricas em torno dessas ideias
avançaram no Instituto, fomentadas especialmente pela então chefe
Engenharia de Defesa: o mais novo programa de pós-graduação do Instituto... 159

da Subdivisão de Pós-Graduação (SD/1), professora Wilma de Araújo


Gonzalez, cargo que corresponde ao de pró-reitor de pós-graduação das
universidades civis. Em 2005, uma das motivações para um programa
de defesa foi a criação do Comitê Temático de Defesa no CNPq, no qual
os professores do IME, no final de 2004, foram contemplados com três
projetos do Edital Universal, de um total de sete aprovados.
O professor Itamar Borges Jr., recém-nomeado para chefiar a
SD/1 em junho de 2005 e sucessor da professora Wilma, recebeu a
incumbência do então comandante do IME, general Ernesto Ribeiro
Ronzani, de realizar um estudo sobre o estado da pós-graduação do
Instituto e propor alternativas para mudar especialmente o cenário de
baixas avaliações e dispersão de esforços. Nesse estudo foi mostrada a
necessidade de aglutinar esforços em torno de novo programa de pós-
graduação que, em consonância com as abordagens mais atuais das
pesquisas científico-tecnológicas, tivesse caráter multi e interdisciplinar
e pudesse alinhar melhor as pesquisas do IME com sua atividade-fim.
Esse novo programa se enquadraria no Comitê de Área Multidisciplinar
da Capes (atual Comitê Interdisciplinar) e poderia ter a participação
de todos os professores do IME, uma vez que essa Coordenação apenas
autoriza a participação de docentes em até dois programas de pós-
graduação na mesma instituição.
Cabe destacar a importância das discussões iniciais sobre as bases
conceituais do PGED com o professor José Edimar Barbosa de Oliveira,
primeiro coordenador e criador do Programa de Pós-Graduação
em Pesquisas Operacionais (PPGAO) do Instituto Tecnológico de
Aeronáutica (ITA), e com o então adjunto da Divisão de Ensino e Pesquisa
(DEPq-IME), major Armando Morado Ferreira. O professor Edimar, em
especial, esteve presente no Ministério da Defesa, em dezembro de
2005, na primeira apresentação pública do PGED; também no IME, em
2006, na primeira visita da Capes.
A proposta do PGED foi levada a todos os programas de pós-
graduação do IME, com reuniões entre o chefe da SD/1, seu adjunto,
major Luis Alfredo Ventorini, e os professores. O novo programa foi muito
bem recebido pelo corpo docente, especialmente pelos integrantes dos
programas de pós-graduação que só possuíam o nível de mestrado e
vislumbraram a possibilidade de criar um programa com doutorado.
160 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Em dezembro de 2005, o trabalho da SD/1 resultou na aprovação


do novo programa, internamente no IME e no DCT. No mesmo mês, o
comandante do IME e o chefe da SD/1 foram autorizados a comparecer
ao Ministério da Defesa, em Brasília, para apresentar tal programa
em uma reunião com representantes das três Forças, organizada pelo
tenente-coronel Pedro Paulo, que se entusiasmaram com a proposta do
IME.
Um dos principais objetivos da criação do Programa seria a
integração das várias áreas de pós-graduação já existentes no Instituto,
de maneira que as questões científico-tecnológicas voltadas para
temas de interesse da Defesa Nacional, ou de caráter dual, pudessem
ser tratadas de forma sistêmica, constituindo o cerne da formação dos
mestres e doutores em Engenharia de Defesa.
A Portaria 030 do DCT, de 2 de maio de 2006, formaliza aprovação
do novo curso de pós-graduação no âmbito do Departamento. No
Exército, a criação do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Defesa no IME foi autorizada pelas portarias números 124 e 126 do
Estado-Maior do Exército, de 29 de agosto de 2006 (Brasil, 2006b).2 O
funcionamento efetivo dos cursos de mestrado e de doutorado desse
Programa teve início em fevereiro de 2007, apenas na lei de Ensino do
Exército.
No dia 3 de maio de 2006, ocorreu um marco crucial em Brasília,
na construção do PGED: o comandante do IME e o chefe da SD/1
foram recebidos pelo presidente da Capes, professor Jorge de Almeida
Guimarães, acompanhados de representante do Ministério da Defesa,
quando foi apresentada uma minuta escrita do PGED, na forma aprovada
pelo DCT.
Essa reunião, que contou com a presença do então diretor de
avaliação da Capes, professor Renato Janine Ribeiro, despertou o
entusiasmo do professor Jorge com o novo programa proposto pelo
IME. O professor Jorge, então, determinou a análise dessa minuta
internamente na Capes, no âmbito da Diretoria de Avaliação, o que levou
à visita de uma comissão especialmente designada por aquele órgão
para orientar o IME na consolidação de uma proposta do PGED a ser
submetida à Capes, o que será detalhado mais adiante.
A partir da criação do novo programa no âmbito do Exército, em
junho de 2006, foi designado no IME o primeiro coordenador do PGED,
Engenharia de Defesa: o mais novo programa de pós-graduação do Instituto... 161

major Paulo César Pellanda. Começava naquele momento uma etapa


decisiva do PGED, ou seja, o novo programa deveria evoluir do formato
aprovado pelo Exército para um programa com todas as características
de excelência de um programa de pós-graduação acadêmico.
Tal objetivo só poderia ser atingido com forte participação dos
docentes do IME nos debates e na consolidação da proposta a ser
submetida à Capes. Os debates, iniciados de fato em 2006, contaram
com grande participação docente. Foram dirigidos pelo coordenador do
PGED e pelo chefe da SD/1 e levaram à formulação de proposta mais
avançada do programa (Borges, 2006), no formato do formulário do
Aplicativo de Proposta de Cursos Novos (APCN) da Capes. A nova versão
do projeto do PGED foi entregue pessoalmente ao professor Jorge, em
novembro de 2006, em Brasília. Os detalhes da evolução posterior do
PGED serão discutidos mais adiante neste capítulo, mas antes cabe
contextualizar as ideias que fundamentaram o novo projeto.

Pós-Graduação em Defesa Nacional


Em contexto mais amplo, sabe-se que as atividades de pesquisa
científico-tecnológica e de inovação são hoje componentes fundamentais
da presença atuante e autônoma de uma nação, como também da
agregação de valor a produtos e processos, com reflexos diretos nas
possibilidades de inserção competitiva de um país no mercado mundial.
O desenvolvimento científico e tecnológico tornou-se fator determinante
na geração de renda e na promoção de bem-estar social.
Não por acaso, muitas nações referem-se à C&T como uma
questão de poder, capaz de dividir o mundo entre os países produtores
de conhecimentos e tecnologias e aqueles que, no máximo, conseguem
copiá-las. Mais especificamente, no âmbito da Defesa Nacional, a
postura estratégica predominantemente dissuasória, adotada pelo
Estado brasileiro (Brasil, 2005b; Brasil, 2008),3’4 apoia-se fortemente na
componente tecnológica, na medida em que esta se torna, cada vez mais,
o fator determinante na comparação da capacidade militar de defesa
das nações. Nesse sentido, fomentar pesquisa científico-tecnológica e
inovação na área de defesa constitui fundamental eixo da soberania do
País e da preservação de seus legítimos interesses.
O aumento da demanda por qualificação de alto nível, na área
de defesa, torna-se evidente também pela sofisticação dos sistemas
162 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

de combate, que se apresentam nos cenários de conflitos atuais,


especialmente no Oriente Médio e na Península Balcânica, bem como
nos cenários para o futuro (Ferreira, 2004).5 Acrescente-se a isso
intrínseco aspecto aos sistemas de defesa, a saber, os cada vez maiores
caracteres inter e multidisciplinar do conhecimento associado a tais
sistemas (Acocella, 2004).6
Em vista do exposto, faz-se necessário que o avanço científico-
tecnológico brasileiro também dê suporte à consolidação do Brasil
como emergente potência no cenário global. Assim, o Programa de
Pós-Graduação em Engenharia de Defesa do IME visa, a partir de uma
formação fortemente assentada na pesquisa básica de qualidade, com
inserção internacional e caráter inter e multidisciplinar, preencher essa
demanda nacional de pessoal altamente qualificado e especializado
nas áreas de ciências e engenharias, o que contribui a esse novo papel
reservado ao Brasil o cenário geopolítico mundial.
No entanto, em contraste com a realidade internacional descrita,
na esfera nacional a indústria de defesa diminuiu consideravelmente
o seu tamanho e importância ao longo dos anos 1980 e 1990. A
necessidade, adicionalmente, de vigilância e defesa do nosso território,
de dimensões continentais, em especial da cobiçada Região Amazônica,
leva à crescente conscientização da importância da área científico-
tecnológica para a soberania e segurança nacionais. Do mesmo modo,
pode-se citar a necessidade de defesa e soberania na área denominada
Amazônia Azul, que engloba a zona economicamente exclusiva, onde
estão localizadas as reservas de petróleo da camada do pré-sal.
Deve-se ressaltar que, historicamente, nos países do primeiro
mundo o desenvolvimento industrial e as novas descobertas tecnológicas
estão intimamente associados com a existência de forte indústria de
defesa – não existe exceção conhecida. Esse contexto tem levado as
instituições federais de fomento à pesquisa e à inovação tecnológica
brasileiras a uma série de iniciativas fundamentais no sentido de mudar
o quadro atual de estagnação da indústria de defesa no Brasil.
Um exemplo dessas iniciativas é a Política de Defesa Nacional
(Brasil, 2005b),7 lançada em junho de 2005 pelo Ministério da Defesa.
Nesse documento é estabelecido o caráter preventivo e dissuasório da
política de defesa nacional, conforme o seguinte trecho, que menciona
a “(...) valorização da ação diplomática como instrumento primeiro de
Engenharia de Defesa: o mais novo programa de pós-graduação do Instituto... 163

solução de conflitos e em postura estratégica baseada na existência de


capacidade militar com credibilidade, apta a gerar efeito dissuasório e
estende, naturalmente, à área de defesa e segurança regionais.”
No que concerne à capacitação científica e tecnológica das Forças
Armadas, o núcleo da Política de Defesa define que:

O fortalecimento da capacitação do País no campo da defesa


(...) deve ser obtido com o envolvimento permanente dos
setores governamental, industrial e acadêmico, voltados
à produção científica e tecnológica e para a inovação.
O desenvolvimento da indústria de defesa, incluindo o
domínio de tecnologias de uso dual, é fundamental para
alcançar o abastecimento seguro e previsível de materiais
e serviços de defesa.

O documento sobre a Política de Defesa Nacional apresenta ainda


diretrizes das quais se destacam aquelas que afetam mais diretamente a
Pós-Graduação do IME, quais sejam:

– estimular a pesquisa científica, o desenvolvimento


tecnológico e a capacidade de produção de materiais e
serviços de interesse para a defesa;
− intensificar o intercâmbio das Forças Armadas entre si e
com as universidades, instituições de pesquisa e indústrias,
nas áreas de interesse de defesa;
− criar novas parcerias com países que possam contribuir
para o desenvolvimento de tecnologias de interesse da
defesa.

A Estratégia Nacional de Defesa, lançada pelo Governo Federal em


2008 (Brasil, 2008),8 reforça ainda mais as mesmas ideias:

− (...) A primeira prioridade do Estado na política dos três


setores estratégicos será a formação de recursos humanos
nas ciências relevantes. Para tanto, ajudará a financiar os
programas de pesquisa e de formação nas universidades
brasileiras e nos centros nacionais de pesquisa e aumentará
164 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

a oferta de bolsas de doutoramento e de pós-doutoramento


nas instituições internacionais pertinentes. Essa política
de apoio não se limitará à ciência aplicada, de emprego
tecnológico imediato. Beneficiará, também, a ciência
fundamental e especulativa;
− (...) O futuro das capacitações tecnológicas nacionais de
defesa depende mais da formação de recursos humanos
do que do desenvolvimento de aparato industrial. Daí a
primazia da política de formação de cientistas, em ciência
aplicada e básica, já abordada no tratamento dos setores
espacial, cibernético e nuclear.

A proposta do PGED é uma iniciativa inovadora, plenamente


capacitada para responder e liderar a superação das supracitadas
dificuldades para a Defesa Nacional. Além disso, como no Brasil, em
2003 a taxa de formação de doutores (formados por ano por 100 mil
habitantes) era sete vezes menor do que na Alemanha e três vezes
menor do que na Coreia do Sul (Brasil, 2004).9 Apenas 13% dos doutores
formados de 2001 a 2003 são oriundos das áreas de engenharias e de
computação, enquanto na Coreia esse número chega a 70%. A iniciativa
desse programa de pós-graduação em nível de doutorado e mestrado
certamente contribuirá para a superação de tamanha desvantagem, pelo
“desenvolvimento da capacidade de neutralização da superioridade
tecnológica de forças armadas de possíveis oponentes” (Acocella,
2006).10
A atenção dada atualmente à área de defesa no meio nacional
também se reflete em outras iniciativas. Entre elas, destacam-se a criação
do próprio Ministério da Defesa, da Comissão Militar da Indústria de
Defesa (CMID) – Portaria nº 611 do Ministério da Defesa, de 12 de maio
de 2005 –, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa
da FINEP com o seu Fundo Setorial de Defesa e Segurança. Em particular,
em 2005, os ministros da Educação e da Defesa assinaram portaria
interministerial para a criação do Programa de Apoio ao Ensino e à
Pesquisa Científica e Tecnológica em Defesa Nacional (Pró-Defesa). No
âmbito desse Programa, a Capes lançou edital para custeio de projetos
a fim de promover a formação de mestres e doutores na área. O Pró-
Defesa visa fomentar a criação de cursos de mestrado e doutorado na
Engenharia de Defesa: o mais novo programa de pós-graduação do Instituto... 165

área e interação entre duas ou mais instituições. O pré-requisito para


participação é a existência de cursos de pós-graduação credenciados pela
Capes. Naquele edital, pesquisadores do IME submeteram 16 projetos
(de um total de 42), uma amostra da variedade e alcance das pesquisas
na área de defesa realizadas no Instituto. Todos os projetos submetidos
pelo Instituto foram julgados meritórios, conforme informação do
Ministério da Defesa. Dos 12 projetos aprovados no Edital (seis de
ciências e engenharia e os demais de ciências sociais), o IME teve três
projetos contemplados.
Na segunda edição do Pró-Defesa, em 2008, o IME teve todos os
cinco projetos submetidos contemplados, o que confirma o acerto da
criação do PGED e a vocação do Instituto para o ensino e pesquisa em
defesa.
Já no primeiro Edital Universal/CNPq, que incluiu o novo Comitê
Temático de Defesa (CT-Defesa), em 2004, de um total de sete projetos
aprovados da área, três foram do IME, como mencionado na Introdução.
No Edital Universal/CNPq, em 2006, dois dos quatro projetos
selecionados pelo CT-Defesa foram do IME, os únicos na área de ciências
e engenharia.

O processo de criação do PGED


Dada a importância do Exército Brasileiro no cenário de Defesa
Nacional e a relevância dos programas de pós-graduação do IME nas
ações relativas à C&T no âmbito da Força Terrestre, observou-se a
necessidade de orientação dos cursos e pesquisas de forma mais efetiva,
sistêmica e integrada para a área de defesa, embora esse tema já fosse
tratado de forma isolada nos outros programas de pós-graduação do
Instituto. A pesquisa científico-tecnológica em questões de defesa é uma
vocação natural do IME e, por isso, torna-se evidente alternativa nesse
contexto. Ademais, o Exército encontra-se em situação vantajosa para
contribuir nessa área, por possuir expressiva massa de pesquisadores
militares e civis capacitados, bem como por contar com contínuo fluxo
de renovação desses quadros.
A iniciativa de propor a criação do PGED no IME, para posterior
aprovação da Capes, foi uma ação concreta no sentido de fomentar a
formação de recursos humanos especializados nessa estratégica área
de interesse nacional. A integração do novo programa ao Sistema de
166 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Pós-Graduação Nacional, sujeitando-o à avaliação de um comitê de área


da Capes, que contemple as especificidades dessas propostas inter e
multidisciplinar, é também de fundamental importância para a obtenção
da excelência requerida nas atividades de ensino e de pesquisa do IME.
A consolidação da proposta mencionada deu-se ao longo de 2006
(Borges, 2006)11, depois de calorosos debates coordenados pela SD/1 e
pelo primeiro coordenador do PGED.
Em 13 de julho de 2006, em consequência da visita ocorrida em
maio ao presidente da Capes em Brasília, o IME recebeu uma comissão
de consultores dessa coordenação, formada pelos professores Vahan
Agopyan da USP (Engenharias I), Maurício Leonardo Torem, da PUC-RJ
(Engenharias II), Nei Yoshihiro Soma, do ITA (Engenharias III), Angelo
da Cunha Peixoto, da UFRJ (Química) e Weiler Finamore, CETUC da PUC-
RJ (Engenharias IV), com a finalidade de dar suporte à Instituição na
construção da proposta do PGED. A visita dos consultores foi importante
para o esclarecimento de dúvidas, consolidação da proposta e para
mostrar ao público interno o apoio da presidência da Capes à construção
do programa.
Assim, por orientação dessa Coordenação, a proposta do PGED foi
enviada pelos canais normais, em março de 2007, por meio do formulário
eletrônico Aplicativo de Proposta de Curso Novo (APCN). Embora fosse
uma proposta ambiciosa, foi indicado no texto daquela submissão que o
IME somente iniciaria apenas três das nove linhas de pesquisa propostas
até a aprovação oficial dos níveis de mestrado e doutorado pela Capes.
Em agosto de 2007, a Capes divulgou a lista dos novos cursos
credenciados. A proposta do PGED infelizmente havia sido recusada,
pois recebeu o conceito 1. O conceito mínimo para o funcionamento de
um curso de mestrado credenciado é 3; já para o doutorado, 4. Por outro
lado, o conceito máximo para um curso de mestrado é 5; doutorado,
7. Nesse último caso, o curso deve apresentar, entre outros critérios,
inserção internacional.
O IME submeteu um recurso à Capes, em 30 de agosto de 2007,
que foi recusado, mas indicou nova visita didática. Essa visita ocorreu
nos dias 30 e 31 de outubro de 2007, cuja comissão era formada pelos
professores Augusto César Noronha Rodrigues Galeão (LNCC) e Antonio
José da Silva Neto (Uerj), consultores do Comitê Interdisciplinar, com a
finalidade de dirimir dúvidas sobre a proposta recusada.
Engenharia de Defesa: o mais novo programa de pós-graduação do Instituto... 167

A referida comissão, ao longo de dois dias, realizou reuniões


com os docentes, com a coordenação do curso, com o chefe da SD/1 e
com o comandante do IME, além de visitar os principais laboratórios
relacionados com o curso. Muitas orientações esclarecedoras foram
fornecidas. Ao final da visita, os consultores novamente expressaram
preocupações com o foco do curso proposto e com o fato de o IME manter
uma quantidade de cursos de pós-graduação relativamente grande,
em relação ao número total de docentes. Como os docentes previstos
para atuar no PGED também participavam de outros cursos de pós-
graduação do IME, tal situação poderia comprometer a consolidação
do próprio PGED e até mesmo dos demais cursos de pós-graduação em
funcionamento no Instituto.
Em 18 de dezembro de 2007, o IME recebeu por escrito o relatório
sobre o recurso submetido. Esse relatório mantinha a avaliação divulgada
em agosto de 2007. Na ocasião, o público interno começou a ter dúvidas
com relação ao futuro do PGED, tendo em vista que a proposta não
havia sido aprovada pela Capes. A manutenção do curso apenas com a
autorização do Exército Brasileiro seria improvável, pois a captação de
alunos estaria restrita a oficiais da ativa.
No período de 12 a 14 de novembro de 2007, ocorreu no IME
o I Workshop de Integração para o PGED (WI-PGED’07). O encontro
foi coordenado pelo chefe da SD/1 e pelo coordenador do PGED e
organizado por uma comissão composta por professores das diversas
seções de ensino do Instituto. O WI-PGED’07 foi realizado por
iniciativa dos docentes e pesquisadores do IME e teve como objetivo a
divulgação interna das atividades de pesquisa para iniciar um processo
de integração, além de promover o desenvolvimento de pesquisas
multi e interdisciplinares. Durante o encontro, foram apresentados 48
resumos de pesquisas e projetos desenvolvidos. A efetiva participação
de um grande número de docentes e a decisão tomada de continuar
o processo de discussão e integração no ano de 2008 confirmaram
o sucesso do evento. A integração buscada, quando possível e viável,
certamente contribuiria para o fortalecimento do PGED e da pós-
graduação no IME.
No início de fevereiro de 2008, o general Emílio Carlos Acocella,
então comandante do Instituto, reuniu os docentes da pós-graduação,
168 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

comentou as críticas recebidas da Capes e fez uma apresentação sobre


nova perspectiva de reorganização dos cursos, cuja elaboração inclui
consultas ao chefe da SD/1.
Um dos aspectos analisados referia-se ao escopo do PGED, o qual
deveria ser mais bem focalizado em determinadas áreas, conforme
recomendação da Coordenação. Essa apresentação sinalizou o aval
do Comando do IME para a submissão de nova proposta para o PGED.
Para isso, foi formada uma comissão de sete docentes, incluindo o novo
coordenador do PGED, major Roberto Ades.
A comissão rediscutiu a proposta do PGED e buscou acentuar o
caráter interdisciplinar da proposta original, o que sugeriu apenas uma
nova área de concentração com três linhas de pesquisa. Novo conjunto
de disciplinas projetos temáticos foi sugerido, sempre levando em conta
a multidisciplinaridade.
Por fim, realizou-se um estudo para determinar o número e os
nomes dos docentes convidados a participar do PGED. Como o foco
do curso foi modificado em relação à proposta anterior, parte dos
docentes inicialmente envolvidos não integrou o corpo docente da
nova proposta.
Esse projeto do PGED foi submetido à Capes no final de março de
2008. Em agosto do mesmo ano, o IME recebeu a resposta: aprovado
somente o curso de mestrado do PGED com conceito 3. Embora
comemorada, tal aprovação trouxe preocupações em relação ao futuro
do Programa. Alguns questionamentos internos começaram a surgir
acerca das vantagens de se ter mais um curso de mestrado no IME. Essas
dúvidas poderiam comprometer o futuro do PGED, pois alguns docentes
já não viam vantagens em atuar no novo curso.
Com base na análise do relatório fornecido pela Capes sobre a
avaliação do PGED, foi possível submeter um recurso em setembro de
2008, redigido pelo chefe SD/1 com sugestões de membros da comissão
que preparou a proposta, esclarecendo todas as questões levantadas.
Finalmente, em 15 de dezembro de 2008, o CTC da Capes aprovou o
credenciamento do PGED em nível de doutorado com conceito 4. O
PGED é o primeiro programa de pós-graduação do IME com grande foco
em engenharia em nível de doutorado.
Engenharia de Defesa: o mais novo programa de pós-graduação do Instituto... 169

As características do PGED
Nas últimas décadas, o mundo presenciou uma série de conflitos,
nos quais ficou demonstrado o crescente aumento do nível de
complexidade dos aparatos tecnológicos utilizados. O desenvolvimento
desses equipamentos envolve a integração de conhecimentos científicos
e tecnológicos de várias áreas das engenharias e ciências, aparentemente
bastante afastadas. Além disso, as fronteiras disciplinares limitam o
entendimento e a proposição de soluções abrangentes.
Em face dessa complexidade, exige-se nova concepção para
formar recursos humanos em nível de pós-graduação, fundamentada
em princípios, como a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade.
O primeiro está relacionado com a possibilidade de pesquisadores com
formações disciplinares distintas trabalharem conjuntamente em torno
de um único tema, cada qual utilizando sua cultura. Já o segundo, está
relacionado com a perspectiva da geração de nova cultura em certa área
do conhecimento, em função da transferência de métodos e ferramentas
de várias áreas. O desenvolvimento dessa nova cultura acarretará o
avanço das fronteiras da ciência e da tecnologia voltadas, no caso, para a
área técnico-científica de defesa, bem como para a formação de recursos
humanos especializados.
A conceituação discutida foi baseada no documento de Área do
Comitê Multidisciplinar da Capes. Nesse contexto, pode-se definir a
Engenharia de Defesa como

A área da engenharia que trata de todos os ramos


relacionados à indústria de defesa e aos sistemas de
defesa. É um empreendimento multi e interdisciplinar que
se desenvolve em um ambiente transdisciplinar, integra
conhecimentos originários de engenharias, física, química,
biologia e ciência dos materiais e se configura como
uma área complexa que engloba aspectos de análise e
síntese relativos ao desenvolvimento, projeto, otimização,
integração, certificação, avaliação, operação e logística de
sistemas aplicados à defesa. Assim, a Engenharia de Defesa
integra conhecimentos de vários ramos da Engenharia
e das Ciências, com foco na pesquisa básica e aplicada
voltadas para o desenvolvimento de sistemas de defesa.
(Pellanda, 2008)12
170 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Os sistemas de defesa são, em seus variados aspectos, objetos da


Engenharia de Defesa e compreendem todos os aparatos tecnológicos
capazes de defender uma região ou a soberania de um país frente a uma
ameaça externa. Ficou estabelecido que, no âmbito da Engenharia de
Defesa do IME, seriam estudados os sistemas de defesa segundo três
prismas básicos: o terreno, o fluxo de informações e os sistemas de
armas. Um sistema de armas é um instrumento de combate capaz de
desempenhar uma missão militar operando como singular entidade e
engloba o pessoal e todos os elementos necessários, como equipamentos,
técnicas operativas, instalações e serviços de apoio.
Assim, as escolhas da AC e das LP da proposta de 2008 foram
baseadas nos seguintes critérios:

− áreas de interesse do Exército Brasileiro, estabelecidas no Plano


Básico de C&T (PBCT) 2007-2010 (BRASIL, 2006);13
− competências estabelecidas no IME, nos cursos de pós-graduação
existentes, especialmente aqueles somente com mestrado;
− recursos humanos docentes disponíveis e interessados.

Dessas formas, a Área de Concentração e as Linhas de Pesquisa


foram estabelecidas do seguinte modo:

AC –Engenharia de Defesa
– LP1: Comunicações e Inteligência em Sistemas de Defesa
– LP2: Mecatrônica e Sistemas de Armas
– LP3: Modelagem e Simulações em Sistemas de Defesa

A LP1 engloba os projetos ligados a comunicações militares,


bem como os aspectos científicos e tecnológicos na obtenção, análise,
processamento e emprego de dados para geração de subsídios em ações
de inteligência dos órgãos ou agentes de defesa. No escopo dessa LP,
enquadram-se os aspectos de integração das soluções que envolvem
eletrônica, em especial voltada para comunicações e tratamento da
informação nos sistemas de armas e outros sistemas de defesa.
Entre os assuntos de interesse, destacam-se os temas de pesquisa
relacionados com a modernização de rádios HF para comunicações
militares, tecnologias ópticas confinadas e de espaço livre para redes
Engenharia de Defesa: o mais novo programa de pós-graduação do Instituto... 171

estratégicas, ferramentas computacionais e infraestrutura de redes


de telecomunicações para apoio a ações de C3I (Comando, Controle,
Comunicações e Inteligência), dispositivos e técnicas para Guerra
Eletrônica e processamento de sinais de voz com foco em segurança da
informação.
A LP2 está relacionada com as diversas etapas da concepção de
um sistema de armas, seja nos aspectos mais abrangentes, seja naqueles
mais específicos, como o controle de um veículo aéreo não tripulado
(Vant) ou como o planejamento de sua missão. Essa LP engloba os
projetos e pesquisa nas áreas de armamento, mecânica estrutural,
sistemas de controle automático, navegação geodésica global e inercial,
guiamento, dinâmica de sistemas, instrumentação, processamento de
sinais, filtragem, propulsão, balística e demais assuntos correlatos.
A LP3 lida com o emprego de métodos numéricos, modelos
matemáticos, algoritmos computacionais avançados e computação
de alto desempenho e investiga aspectos fundamentais de fenômenos
físicos, químicos, biológicos e geográficos relacionados aos Sistemas
de Defesa estudados nas demais LP. Destacam-se os seguintes assuntos
nessa LP: modelagem digital de superfícies, visualização de cenários
virtuais, processamento e interpretação de imagens, representação de
fenômenos de limites indeterminados, navegação e posicionamento,
simulação e análise de desempenho de sistemas de comunicações
estratégicos e táticos, simulações da físico-química de materiais
energéticos e desativadores de substâncias organofosforadas e
simulação de fenômenos que envolvem defesa e segurança pública.
Para dar suporte a essas LPs, foi inicialmente proposto um rol de
28 disciplinas. Destas, duas obrigatórias, de caráter formativo; cinco
básicas, de formação matemática e, ainda, sete disciplinas específicas
para cada LP. Uma das disciplinas obrigatórias, denominada Ciência e
Tecnologia em Sistemas de Defesa, consiste em um ciclo de palestras
que proporciona aos discentes do Programa uma formação cultural na
área de defesa e tem duração de um ano.
O caráter multidisciplinar das disciplinas propostas fica
evidenciado em três aspectos:

− pelo próprio conteúdo que foi proposto;


172 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

− pelo fato de docentes com áreas de formação diferentes ministrar


a mesma disciplina em oportunidades distintas. Por exemplo, a disciplina
Sinais e Sistemas foi oferecida por um docente oriundo da Elétrica em
2009/1 e por outro da Mecânica no período seguinte, em 2009/2.
− pelo fato de algumas disciplinas serem compartilhadas por
docentes com formações disciplinares distintas. Por exemplo, a disciplina
Matemática Aplicada foi ministrada em 2009/2 por dois docentes: um
da Química e outro da Mecânica.
Por meio dessas estratégias, os discentes do PGED têm a
possibilidade de vivenciar o mesmo conhecimento sob diversos prismas,
o que é bastante importante para a formação profissional e para a
proposta do curso.
Com relação ao corpo docente, a segunda proposta do PGED
contou com 22 docentes do IME e um colaborador externo, todos com
a titulação de doutor ou equivalente. Os critérios para escolha desses
profissionais estavam relacionados com a produtividade acadêmica,
com a experiência na profissão e com a possibilidade de atuar nas linhas
de pesquisa propostas. Levou-se também em conta a necessidade de
equilíbrio do número de docentes em cada linha de pesquisa. As áreas
de formação dos professores encontram-se na tabela 1.
A infraestrutura do PGED abrange laboratórios já existentes
em várias seções de ensino do IME, além de outros em fase final de
construção. Esses novos laboratórios estão sendo financiados por
verbas orçamentárias, da FINEP e de outros órgãos de fomento.
Pelas peculiaridades do Programa proposto, espera-se que os
candidatos ao curso tenham graduação na área de ciências exatas.
O corpo discente do Programa em 2011 conta com 31 alunos: 9 de
mestrado e 22 de doutorado. As duas primeiras teses de doutorado do
PGED foram defendidas com sucesso em fevereiro de 2011.
Os temas de pesquisa do PGED devem ser multidisciplinares,
pois é bastante desejável que o discente possua dois orientadores
com formações disciplinares distintas. É importante mencionar que
a comissão de oito docentes, que deu sustentação à elaboração dessa
última proposta, hoje compõe o Conselho do PGED.
Todas as importantes decisões relacionadas com o futuro do
Programa são discutidas no âmbito deste Conselho.
Engenharia de Defesa: o mais novo programa de pós-graduação do Instituto... 173

Os laboratórios multidisciplinares para uso exclusivo do Programa


já estão em construção e deverão funcionar em conjunto com os já
existentes. O Programa já tem uma sala de aula exclusiva, e outras serão
providenciadas. Cabe destacar que, funcionalmente, o PGED está ligado
diretamente à Subdivisão de Pós-Graduação. Dessa forma, preserva-se o
caráter multidisciplinar e transversal do Programa às seções de ensino
do Programa.

Tabela 1: Áreas de formação disciplinar dos docentes do PGED

Considerações finais
É importante observar que a proposta atual do PGED foi o fruto
do amadurecimento de um processo iniciado em 2005, moldada
pelas inúmeras sugestões e críticas recebidas, internas ou externas.
Apresentamos o caminho percorrido para implementar o Programa de
Pós-Graduação em Engenharia de Defesa (PGED) do Instituto Militar de
Engenharia.
Trata-se de um curso inédito no País e com enfoque multi e
interdisciplinar, voltado para aplicações e desenvolvimentos científico-
tecnológicos em técnicas em Sistemas de Defesa. O PGED integra também
o primeiro curso de doutorado do IME com grande foco em engenharia.
Uma discussão mais aprofundada sobre os principais aspectos da
fundamentação, do conceito e da estrutura do PGED, como também
do seu caráter inter e multidisciplinar e da sua contextualização, foi
apresentada neste capítulo.
O desempenho do IME nos últimos anos em editais que
contemplaram a área de Defesa foi também importante fator na
consolidação dessa proposta inovadora para a pós-graduação nacional,
combinando engenharia, ciências e defesa.
174 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Uma essencial consequência da existência do PGED foi a criação


de um curso de extensão em Engenharia de Defesa com o Núcleo de
Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF) e com
a Associação Brasileira das Indústrias de Defesa e Segurança (Abimde).
Esse curso de 2010 teve duas edições de cinco dias, ocorridas no IME, e há
previsão de outras edições. Vislumbra-se que tal curso no futuro venha
a se tornar uma especialização ou mesmo um mestrado profissional,
complementando assim a atribuição do PGED.
A visão de futuro do PGED se baseia na consolidação do Programa,
com o recredenciamento do corpo docente de acordo com parâmetros
do Comitê Interdisciplinar da Capes, com vistas ao aumento do conceito
da avaliação e o estabelecimento de inserção internacional. Entre
as possíveis perspectivas, destaca-se a criação de novos projetos de
pesquisa, envolvendo professores de áreas disciplinares distintas,
processo já em andamento em virtude do ambiente de interação
multidisciplinar proporcionado pelo Programa.
Conforme relatado neste capítulo, algumas conquistas já foram
alcançadas, mas ainda resta longo processo de consolidação do curso,
o que se espera ter lugar nos próximos anos. E mais uma vez, o IME
confirma o pioneirismo de suas ações ao criar o PGED, programa
de pós-graduação inédito no Brasil e sem outro similar no mundo,
contribuindo assim para o aumento do poder dissuasório do País pelo
avanço científico-tecnológico e pela formação de recursos humanos do
mais alto nível.

Agradecimentos
Os autores agradecem aos ex-comandantes do IME, general Ernesto
Ribeiro Ronzani e general Emilio Carlos Acocella, e ao atual comandante,
general Amir Elias Abdalla Kurban, pelo grande e indispensável apoio
prestado à criação e consolidação do PGED.
Capítulo 10

A Engenharia de Defesa:
Curso de Especialização
General José Carlos Albano do Amarante
Almirante Marcílio Boavista da Cunha
General Emilio Carlos Acocella
Professor Eurico de Lima Figueiredo
Professor Itamar Borges Jr.

Contextualização

A
evolução da tecnologia possibilitou ao homem dispor de
meios de defesa cada vez mais sofisticados para exercer o
poder e empregou sucessivamente a força militar, o capital e, atualmente,
o conhecimento. A segurança de uma nação é fortemente influenciada
pelos instrumentos do poder, entre os quais se destacam os materiais e
serviços de defesa.
Por outro lado, o homem é o “animal fazedor de ferramentas” de
combate. O engenheiro de defesa é o fazedor moderno dos meios de
combate.
Chegamos, então, ao início do século XXI, à fase caracterizada por
verdadeira explosão tecnológica. Agora, o casamento entre a ciência e
a tecnologia transforma-se em indutivo processo, de um para outro. A
ciência promove a tecnologia e a tecnologia promove, capacita a ciência.
É um processo até dialético.
No começo do século XX, no entanto, a universidade era o palco de
uma ciência profissional na sua organização social, reducionista no estilo
e positivista no espírito. Assim, o estilo dominante de trabalho, naquele
período, era reducionista: as investigações eram concentradas nos
176 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

processos – artificialmente, puros, estáveis e controláveis – realizados


em laboratórios. A limitação, que possivelmente irá desaparecer no
século XXI, estava centrada em perigosa ignorância dos fatos e princípios
do comportamento do ambiente natural e na incapacidade de enxergar
o conjunto. Não se levava em consideração a ecologia e nem se possuía
uma visão sintética.
Nos tempos atuais, o relacionamento estreito da ciência com a
indústria, a defesa, a política e o próprio meio ambiente tornou obsoleta
a ciência particularizada pela visão reducionista e cartesiana. Agora, a
ciência deve compreender o mundo natural ao utilizar uma visão global
e holística. A sociedade precisa de uma concepção de trabalho científico
do mundo natural diferente do modelo reducionista da Revolução
Industrial.
A universidade do século XXI, e em particular a escola de
engenharia, passa a desempenhar estratégico papel na especialização
e na formação do profissional responsável direto pela produção
tecnológica. A universidade deve estar preparada para especializar e
formar profissionais adequados a trabalhar no novo ambiente de defesa
e segurança. E também pelo caráter multidisciplinar, sintético e holístico
da contemporânea Engenharia de Defesa, deve o engenheiro dessa
especialidade estar preparado para realizar um conjunto e cooperativo
trabalho, executado de forma coletiva, reunir engenheiros e técnicos
de variado conhecimento, podendo inclusive envolver instituições de
pesquisa e empresas.
O desafio de hoje é especializar o engenheiro de defesa. Pela
sua complexidade e variedade técnica, o setor de defesa demanda
profissionais politécnicos, e a universidade precisa oferecer cursos
de especialização e de formação em Engenharia de Defesa com essas
características.

Curso de especialização em Engenharia de Defesa


Em iniciativa pioneira, o Instituto Militar de Engenharia (IME), o
Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense
(Nest-UFF) e a Associação Brasileira de Indústrias de Defesa e Segurança
(Abimde) firmaram, em outubro de 2009, um convênio em que as escolas
IME e Nest-UFF oferecerão Curso de Especialização em Engenharia
de Defesa para os engenheiros das empresas integrantes da Abimde.
A Engenharia de Defesa: Curso de Especialização 177

Os parceiros estão envidando esforços para que os cursos venham


efetivamente contribuir com o desenvolvimento da Base Industrial de
Defesa brasileira.
A Associação Brasileira de Indústrias de Material de Defesa e
Segurança (Abimde) congrega cerca de 90 empresas de defesa, que
operam no Brasil e envolve um PIB de R$ 5 bilhões anuais e uma mão de
obra de 20 mil operários. Por razões óbvias, os integrantes da Abimde
necessitam, urgentemente, de engenheiros de defesa em seus quadros.
No Brasil, existe uma escola de engenharia de excelente qualidade
e elevado renome mundial, que pode adaptar-se, com poucos ajustes, à
especialização e à formação em Engenharia de Defesa. Essa escola é o
Instituto Militar de Engenharia (IME), que já forma o engenheiro militar.
A visão politécnica, sintética e multidisciplinar do engenheiro de defesa
será responsabilidade do IME e cultivada pelos módulos II, III e parte
do V.
Ademais, os engenheiros de defesa necessitam especialização e/
ou formação ajustadas ao cenário atual do conhecimento científico-
tecnológico: eles trabalham em um ambiente que demanda engenheiros
com visão sintética e multidisciplinar, além de possuírem um
comportamento humanístico.
Esse comportamento incrementado por um conhecimento
estratégico amplo do setor de defesa de uma nação, particularmente do
Brasil, do estágio de desenvolvimento da C&T global e militar e do Poder
Nacional, será proporcionado pelo Núcleo de Estudos Estratégicos
(Nest) da Universidade Federal Fluminense (UFF), que possuiu elevada
competência no tratamento dos assuntos acima. A visão estratégica será
desenvolvida pelos blocos I, IV e parte do V. Os blocos são conjuntos de
unidades didáticas (UD) que integralizam a ementa do curso.
No capítulo 8, asseveramos1 que “as realizações científicas do
início do século XX são imensas até para serem catalogadas e que,
embora ainda fortemente ligado à análise das partes, o homem começou
a realizar pequenas sínteses caracterizadas pela criação de ciências
híbridas, tais como a físico-química, a bioquímica e a biofísica.”
Prosseguimos2 ao sustentar que “a ciência continua a se ampliar
e, nesse processo, o conhecimento científico foi sendo subdividido
para aprofundamento especializado. Em consequência, os cientistas
progrediram no sentido de entender, cada vez mais, de áreas mais
178 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

restritas. Por sua vez, a natureza não é compartimentada; ao contrário,


é complexa e exige integrado espectro de conhecimentos para sua
compreensão. Como resultado, o avanço científico depende, atualmente,
muito mais de equipes multidisciplinares e envolve ampla gama de
competências, do que de gênios isolados. Além disso, equipamentos
sofisticados e custosos e recursos financeiros substanciais passam
a exigir organização específica e capacidade gerencial de ambientes
politécnicos.”
Em atitude pioneira e inédita, as três instituições (IME, Nest/UFF
e Abimde) promoveram uma parceria para a realização de cursos de
especialização em Engenharia de Defesa, empregando visão politécnica,
multidisciplinar, sintética e holística.

Ementa sintética do curso de especialização em Engenharia de


Defesa
A ementa do curso está apresentada abaixo em forma sintética. Ela
compreende cinco blocos, compostos cada um por Unidades Didáticas
(UD).

Bloco I – Estudos Estratégicos: Defesa e Segurança


UD 1: Fundamentação conceitual.
UD 2: Defesa Nacional.
UD 3: Programas e Projetos Especiais no Âmbito da Defesa.
UD 4: Trabalho em Grupo.

Bloco II – Sistemas de Defesa


UD 1: Conceitos Básicos.
UD 2: Sistemas Navais.
UD 3: Sistemas Terrestres.
UD 4: Sistemas Aeronáuticos.
UD 5: Sistemas Combinados ou Integradores.
UD 6: Trabalho em Grupo.

Bloco III – Tecnologias de Defesa
UD 1: Materiais.
UD 2: Energia.
UD 3: Aeronáutica.
A Engenharia de Defesa: Curso de Especialização 179

UD 4: Eletrônica e Comunicações.
UD 5: Optoeletrônica.
UD 6: Tecnologia da Informação.
UD 7: Biotecnologia.
UD 8: Processamento de Sinais.
UD 9: Mecatrônica.
UD 10: Explosivos, Propelentes e Pirotécnicos
UD 11: Trabalho em Grupo.

Bloco IV – Base Industrial de Defesa


UD 1: Evolução Histórica.
UD 2: Caracterização da Indústria de Defesa.
UD 3: Base Industrial de Defesa (BID).
UD 4: Controles de Tecnologias Duais e Bens Sensíveis.
UD 5: Inovação Tecnológica.
UD 6: Trabalho em Grupo.

Bloco V – Ferramentas Básicas da Engenharia de Defesa


UD 1: Introdução à Pesquisa e à Metodologia Técnico-Científica.
UD 2: Ciências Básicas Aplicadas à Engenharia.
UD 3: Introdução ao Trabalho Industrial Politécnico.
UD 4: Ferramentas Computacionais Empregadas em Atividades e
Projetos de Engenharia.
UD 5: Modelos e Ferramentas de Gestão Aplicados à Indústria de
Defesa.
UD 6: Tecnologia Industrial Básica (TIB).
UD 7: Trabalho em Grupo.
Capítulo 11

Formação de engenheiros
na época do conhecimento
Reportagem de Andréa Antunes, publicada em 2 de janeiro
de 2001 no semanário Folha Dirigida, sobre a Educação
ministrada no Instituto Militar de Engenharia (IME)

A
primeira escola de Engenharia das Américas e a terceira do
mundo, o Instituto Militar de Engenharia, na Praia Vermelha,
Urca, vem escrevendo uma trajetória de sucesso ao longo dos anos. Além
do pioneirismo, a excelência é outra característica da instituição, que
mais uma vez obteve conceito “A” no provão.
Há três anos no comando do Instituto, o doutor e mestre em
Engenharia e ex-aluno da instituição, o general de brigada José Carlos
Albano do Amarante revela a fórmula do sucesso do IME, que já angariou,
entre outros, os Prêmios de Qualidade Rio 1999 e 2000 e de Qualidade
do Governo Federal 2000.
Na opinião do general de brigada, a Educação precisa passar
por uma reforma pedagógica de modo a desenvolver a criatividade e a
capacidade reflexiva dos jovens.

Folha Dirigida – O IME é uma das melhores instituições de ensino


superior do país. Qual é o segredo do sucesso?
General Amarante – O sucesso do IME é atribuído a um conjunto
de coisas, mas podemos enfatizar a qualidade de nossos alunos.
Conseguimos atrair a elite da juventude que deseja seguir Engenharia
neste País e isso já é, praticamente, uma garantia de sucesso. Além
182 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

disso, temos e executamos o planejamento de ensino e dispomos de


professores competentes, cuidadosamente selecionados.

Folha Dirigida – Qual a titulação e a carga horária dos professores do


IME?
General Amarante – Nosso corpo docente tem cerca de 40% doutores,
outros 40%, 45% mestres e de 15% a 20% professores graduados em
Engenharia. Mas esses profissionais não titulados são usados porque
estão trabalhando com as tecnologias do dia a dia. Então, eles vêm nos
últimos anos do curso de graduação para passar para nossos alunos a
experiência real da Engenharia. Aqui, a carga horária é de 25 a 30 horas
semanais.

Folha Dirigida – Qual é a média salarial dos professores do IME?


General Amarante – Está na faixa de R$ 3 mil a R$ 3.500.

Folha Dirigida – O IME é uma instituição militar voltada para a Educação.


Ele recebe algum apoio do Governo? Qual a verba orçamentária do
instituto?
General Amarante – Recebemos poucos recursos provenientes do
Exército, cerca de R$ 1,2 milhão por ano. Temos também apoio do MEC
por conta dos nossos cursos de pós-graduação, de onde recebemos
cerca de R$ 300 a 400 mil por ano.

Folha Dirigida – Já que a verba é pouca, como vocês fazem para manter
a qualidade do ensino?
General Amarante – Para podermos funcionar, prestamos serviços.
Nesse ponto temos convênios e projetos que realizamos ao longo do ano.
Hoje, por exemplo, somos responsáveis pela duplicação das estradas
que vão de São Paulo a Buenos Aires.

Folha Dirigida – Quais os projetos da instituição para o próximo ano?


General Amarante – A ideia é continuar implementando o processo de
gestão pela excelência. O objetivo é atingir os melhores níveis de gestão.
Éramos uma grande instituição de Engenharia da área industrial e hoje,
com todas as mudanças do mundo, queremos fornecer à sociedade
Formação de engenheiros na época do conhecimento 183

engenheiros aptos a viver na época do conhecimento, da Revolução


Tecnológica.

Folha Dirigida – Quais mudanças já foram feitas nesse sentido?


General Amarante – Nesse processo, do engenheiro da idade
tecnológica, devemos fazer com que o profissional mude seu foco de
atenção. Ele deve sair da obra e passar para o uso social dessa obra. Para
isso, introduzimos outras características de ensino. Temos hoje o Projeto
Visão Humanística, introduzido em 1998 e que está sendo ampliado
anualmente. Nesse projeto os alunos do quinto ano são obrigados a
cursar disciplinas fora do Instituto. Eles podem fazer música, arte,
filosofia, psicologia, o que quiserem em uma das universidades com as
quais mantemos convênios, como a Unirio e a UFRJ.

Folha Dirigida – Qual o desafio da Educação nesta virada de século?


General Amarante – O desafio da Educação é exatamente este:
proporcionar ao profissional a capacidade de se manter sempre
atualizado. Ela deve dar um ensino que habilite a pessoa a manter-se
atualizada depois da escola, porque quem não se mantiver estudando,
se reciclando constantemente, vai morrer profissionalmente.

Folha Dirigida – Qual sua opinião sobre o projeto de reserva de vagas


nas universidades públicas estaduais?
General Amarante – Reservar vagas indiscriminadamente prejudica
a qualidade do ensino, mas reservar vagas para alunos que tenham
desempenho adequado é outra coisa. A reserva de vagas deve ter um
critério de seleção para que não prejudique a qualidade do ensino
da instituição. O que não pode é reservar as vagas e preenchê-las de
maneira indiscriminadas.

Folha Dirigida – A maior parte dos alunos do IME é oriunda da rede


privada?
General Amarante – Posso dizer que, apesar da maioria ser da rede
particular, existe um equilíbrio. Uma prova disso é o resultado do
vestibular deste ano. Ele mostra ter a escola pública bons alunos. Dos
100% aprovados no concurso, 69% são oriundos de escola particular e
184 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

31% de escola pública, o que está de acordo com o número de inscrições


realizadas este ano, em que 59% eram de escola particular e 41% de
escola pública.

Folha Dirigida – O IME é uma instituição que exige muito dos alunos,
tanto no aspecto disciplinar quanto no conteúdo didático. Há evasão?
General Amarante – Quando o aluno sente que não conseguirá passar,
até porque aqui o estudante não pode ser reprovado em nenhuma
matéria, ele tranca matrícula. De cada 100 alunos que ingressam no
Instituto, saem apenas 80 com o diploma. Os outros 20 são perdidos
durante o curso, mas isso ocorre pelos mais diversos motivos.

Folha Dirigida – Como o Sr. avalia o Provão?


General Amarante – Ele não incomoda. Para o IME, ele foi até bom
porque permitiu maior exposição da instituição. Aqui os cursos são
ministrados com seriedade, os alunos são exigidos e precisam estudar,
então não temos com o que nos preocupar. Quando os estudantes
chegam ao quinto ano, podem fazer tranquilamente o Provão.

Folha Dirigida – O Sr. acha que ele está provocando mudanças nas
instituições de ensino superior?
General Amarante – Sem dúvida. Existem exemplos de escolas que
começaram mal no Provão e hoje estão bem, ajustaram-se. Isso porque
o Provão é uma forma de visibilidade, e os alunos procuram as escolas
que têm um bom conceito. De alguma forma, a sobrevivência dos cursos
está associada ao Provão.

Folha Dirigida – O vestibular continua sendo muito criticado, como


forma de acesso às universidades. Muitas instituições, atualmente, estão
adotando novos modelos e algumas estão utilizando o Exame Nacional
do Ensino Médio (Enem). No IME também estão sendo estudadas
mudanças na forma do concurso?
General Amarante – Estudamos a adoção do Enem, mas o Conselho
de Ensino achou que a utilização do exame não seria adequada aos
nossos objetivos. O Enem não visualiza a profissão Engenharia, e sim o
indivíduo como um todo, e nós estamos mais preocupados com aqueles
Formação de engenheiros na época do conhecimento 185

que possuem uma queda maior pela Engenharia. Por isso não vamos
utilizar o Enem e continuaremos com nosso vestibular.

Folha Dirigida – Muitos estudantes reclamam que a formação superior


deveria ser mais voltada para o mercado de trabalho. Como o Sr. avalia
isso?
General Amarante – Acredito que ela deve conciliar a formação
humanística com a preocupação com o mercado de trabalho. No período
em que o aluno permanece na escola, o importante é desenvolver o seu
potencial. A melhor formação, a mais completa, vai possibilitar um
potencial melhor; então, é preciso ter a visão humanística. É necessário
ter a noção de que o ser humano é a coisa mais importante na face da
Terra. Se não tivermos essa visão, teremos uma deturpação profissional.
Agora, não adianta ter essa consciência e ser um incompetente na
prática. Por isso, o ideal é conjugar a formação humanística com a
formação profissional.

Folha Dirigida – Como o Sr. avalia a juventude de hoje?


General Amarante – Ela, como sempre foi, é excelente. É uma juventude
ávida pelo conhecimento. O que a diferencia das gerações anteriores é
a infância. A infância de hoje é muito exposta às coisas acabadas. Por
ficarem demais na frente da TV, os jovens não exercitam a criatividade,
o processo reflexivo. Isso é algo com o qual devemos nos preocupar. É
importante criar nas escolas de ensino fundamental e médio maneiras
de se desenvolverem essa criatividade e essa reflexão. Essa é a principal
mudança pedagógica que deveria ocorrer nesses segmentos de ensino
no Brasil.

Prêmio de qualidade será entregue pelo presidente


O ano de 2001 começa com festa para o Instituto Militar de
Engenharia. Neste mês de janeiro, o Instituto receberá, em Brasília, das
mãos do presidente Fernando Henrique Cardoso, o Prêmio Qualidade
do Governo Federal, que tem como meta reconhecer e premiar as
organizações públicas que comprovem desempenho de qualidade.
Única instituição a ser premiada com a categoria prata na área
de Educação, o IME comemora ainda o Prêmio Qualidade Rio, recebido
186 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

no ano passado, e o conceito A no Provão alcançado em todas as


especialidades em que foi avaliado em 1999.
Os prêmios de qualidade, tanto do Governo Federal quanto o do
Estadual, são concedidos às instituições que comprovam, mediante
avaliação de uma banca examinadora, um desempenho institucional
compatível com as exigências feitas. Na análise das instituições são
avaliados sete itens: liderança, planejamento, foco no cliente, informações
e análise, gestão de pessoas, gestão de processos e resultados.
De acordo com o comandante do IME, general de brigada José
Carlos Albano do Amarante, o objetivo agora é seguir em busca do ouro.
“Quem sabe este ano conseguiremos melhorar nosso desempenho.
O objetivo é sempre esse: melhorar”, avisa o general.
Capítulo 12

O IME no século XXI1


José Carlos Albano do Amarante

Introdução

O
presente trabalho apresenta estratégias para a adequação de
uma escola de Engenharia Militar, no caso o Instituto Militar
de Engenharia (IME) do Brasil, para enfrentar os desafios deste século,
no contexto da acelerada evolução científica e tecnológica e de um
mundo globalizado.
Contemplando o ambiente atual, analisamos o papel da educação
em face da Revolução Tecnológica em seus aspectos psicossociais,
econômicos, políticos e militares, e o fenômeno da globalização.
As estratégias foram e vêm sendo discutidas pelos componentes
dos corpos docente e administrativo do IME e apontam para um modelo
que esteja vinculado ao presente, evitando que o ensino continue
ligado aos paradigmas da Revolução Industrial, caracterizada pelo
reducionismo e pela ótica monodisciplinar.
Visa, pois, a adaptação da escola ao momento da informação,
sintetizado pelo crescimento exponencial da capacidade de realização
do homem, mediante a criação de núcleos de pesquisa e projetos para
coordenar a execução de atividades interdisciplinares. Nesse ambiente,
ressalta-se a importância da visão humanística como um atributo
do engenheiro da atual Idade do Conhecimento. Estabelecem-se as
características e as condições de implantação de um projeto que visa
propiciar aos alunos contato permanente com assuntos relacionados
com anseios da sociedade e com ciências ligadas ao Comportamento
Humano, em complemento às disciplinas curriculares de engenharia.
188 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Tal projeto propõe-se a desenvolver condições para o


autoaprendizado e a perfeita interação do profissional com o meio
social. Prevê o desenvolvimento de atributos a somar-se à competência
científica e tecnológica, que facilitem a liderança de equipes de trabalho,
no campo ou em escritórios, a seleção e obtenção de recursos e a
adequada gerência de projetos. Enriquece-o a disponibilização, ao jovem
universitário, de atividades culturais, tais como programas flexíveis de
leitura, encontros de reflexão, espetáculos teatrais, musicais e atividades
de esporte e lazer.
Ponto de grande importância é fazer que o engenheirando
frequente disciplinas, estranhas à sua grade acadêmica, em escolas
conveniadas, voltadas para o ensino de ciências humanas, biológicas e
sociais. Pretende-se, assim, aprofundar relacionamentos de grupos que
possuam perspectivas diferentes, diante do mundo.
É importante enfatizar que permanecem inalteradas as colunas
mestras do ensino no IME: o pioneirismo e a excelência.
Duas características são evidenciadas nessa tradicional escola:
o conhecimento, que conduz ao domínio da tecnologia militar, e a
ambiência científico-tecnológica dual (militar e civil), que proporciona
relacionamento facilitador do emprego do conhecimento. Por essa
razão, discorreremos sobre as áreas do conhecimento, que são do nosso
interesse.

Tecnologias militares para o combate contemporâneo e futuro


A tecnologia de base eletrônica vem dominando o cenário da arte
da guerra e influenciando a operacionalidade dos exércitos, por adotar,
cada vez mais, duas tecnologias para preparar meios de combate.
Embora incipientes, essas duas formas estão sendo empregadas em
guerras contemporâneas, também promissoras para o futuro nos meios
militares: robótica e automação.

Robótica
Essa tecnologia tem a finalidade de substituir funções
originalmente realizadas pelo homem, pelas mesmas funções realizadas
pela máquina, como é o caso do veículo aéreo não tripulado (Vant).
Assiste-se hoje a uma tendência disseminada entre as potências
militares do mundo de emprego crescente da robotização na guerra.
O IME no século XXI 189

Há, contudo, forte inconveniente operacional, no campo psicológico,


relacionado à introdução dessa tecnologia. A perda de instintos de
comiseração para com o inimigo é um problema psicológico a ser
enfrentado no futuro em guerras robóticas que tenham efetivos
humanos.
Com os Vants, o homem está realizando a avant-première da
robótica bélica. A primeira fase desse processo tem ocorrido pela
utilização cada vez mais frequente de veículos aéreos não tripulados
(Vants) como vetores de atuação para realizar incursões perigosas ao
território dominado pelo adversário. A tecnologia do Vant é robótica
e de primeira geração, podendo o veículo ostentar a capacidade de
ser pilotado a distância ou mesmo possuir trajetórias predefinidas. A
ausência da figura humana na plataforma voadora estabelece importante
marco inicial, no qual se inter-relacionam a robótica, a automação e
a sistêmica. A criatividade do homem colocará no campo de batalha
diferentes robôs, cujo limite superior parece apontar para o androide,
ou seja, o autômato com figura humana.

Automação
Essa tecnologia tem por objetivo realizar a automação das funções
tecnológicas do combate – sensoriamento, processamento e atuação
(SPA) – em sistemas, valorizando a guerra cibernética.
Existe uma tendência mundial para a automação (SPA), tanto em
sistemas militares quanto em sistemas civis. O espectro de repercussões
tecnológicas da atualidade sinaliza para a automação das funções
tecnológicas do combate.
É o caso do funcionamento automático de um sistema de armas,
integrando as funções SPA. Tomemos como exemplo o Sistema Patriot,
que fez sua estreia na Primeira Guerra do Golfo (1991) e, por isso, foi o
primeiro sistema bélico automatizado. Ele ostentava o funcionamento
automático, resultante da integração das funções tecnológicas, no ciclo
do combate SPA. Empregou componentes que cumpriam o papel de
sensor, processador e atuador, para abater o míssil iraquiano Skud, sem
a interveniência humana.
Na medida em que substitui o componente humano nos processos
envolvendo a tomada de decisão para resposta a determinadas ameaças,
190 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

a automação constitui, de fato, o grau mais elevado da sofisticação


tecnológica já atingido para fins militares.

Guerras contemporâneas e do futuro


As guerras, contemporâneas e futuras, estão convergindo para o
emprego operacional cada vez mais frequente de três formas de combate
que, embora já empregadas no presente, são também previstas para o futuro.

Guerra eletromagnética
A quarta dimensão do combate tem o propósito de estabelecer um
confronto entre meios militares de sensoriamento (S), processamento
(P) e atuação (A), que operam usando equipamento eletromagnético.
Na Segunda Guerra Mundial, o radar eletromagnético descerrou
as cortinas de exploração de outras faixas do espectro eletromagnético,
ampliando o conceito de visão ótica, para visão eletromagnética. A
engatinhante tecnologia de sensoriamento abriu o campo visual para
varrer a faixa das micro-ondas.
A ciência e a tecnologia responderam rapidamente com notável
expansão da exploração do campo eletromagnético (AMARANTE,
1992).2 Nas Guerras do Golfo (1991 e 2003), os aliados fizeram desfilar
extensa gama de equipamento de sensoriamento, processamento
e atuação. Agora, os meios militares atuam em variadas bandas do
espectro eletromagnético, varrendo o ultravioleta, o infravermelho, as
ondas milimétricas, as micro-ondas e a radiofrequência.
A exploração da quarta dimensão do combate, a dimensão
eletromagnética, poderá ser decisiva na guerra do futuro. Em relação
às guerras recentes, a dimensão eletromagnética deverá ser ampliada,
passando a contribuir, por exemplo, para o emprego de atuadores de
pulsos de energia concentrada (Laser). Como ampliação da capacidade
de sensoriamento, todos os sintomas de presença e atividades de tropa
poderão ser detectados. Por outro lado, a quarta dimensão deverá varrer
as funções tecnológicas de combate (SPA).

Guerra sistêmica
A guerra sistêmica tem o propósito de empregar as funções
tecnológicas do combate (SPA) nos meios de guerra, de forma integrada
e automatizada, entre sistemas de defesa.
O IME no século XXI 191

Uma arma pode ser interpretada como uma ferramenta usada


para aplicar força ou energia com o objetivo de causar dano ou
ferimento em pessoas, animais ou estruturas. Por sua vez, um sistema
de armas é composto por uma arma acompanhada dos componentes
necessários ao próprio funcionamento, no ciclo SPA, como dispositivos
de sensoriamento de alvos, dispositivos de C2 (Comando e Controle), que
servem para seleção e apontamento de alvos e dispositivos de guiamento,
que permitem a perseguição e danificação do alvo selecionado.
A guerra do futuro poderá proporcionar ao mundo o mais
avançado sistema de defesa já concebido. O atual nível de conhecimento
tecnológico militar conduz ao desenvolvimento de um sistema que
englobe vários sistemas, usualmente chamado de Sistemão. Esse
dispositivo consiste na reunião das tecnologias e operações de todos os
sistemas de combate presentes no teatro de operações.
A atual revolução em assuntos militares, cujo epicentro localiza-
se nos Estados Unidos, está fundamentada no “sistema de todos os
sistemas” ou “sistema centrado em rede”.3 Sua proposta central, no
campo da sistêmica, é dotar a estrutura de defesa norte-americana de
extensa e robusta rede de processamento, impossível de ser colocada
inoperante. Se um elo da rede for atingido e colocado fora de operação,
a rede é capaz de reestruturar-se, eliminando a necessidade da
contribuição do elo destruído, destarte, voltando a atuar com a mesma
eficácia do sistema anterior (ver United States of America, 2005).4
Em outras palavras, o imenso desafio tecnológico do momento é
“automatizar” o combate de todos os sistemas de armas, os equipamentos
nas funções tecnológicas de combate (SPA) e os elementos operacionais
de combate. Tudo isso controlado e comandado por grande rede
apoiada em enorme banco de dados e integrada por enorme quantidade
de computadores, realizando o tratamento de dados para orientar a
atuação dos homens e máquinas em todos os escalões.
O resultado será um “Sistema” automatizado, organizado
conceitualmente no ciclo SPA, envolvendo todo o poder de combate, seja
com sistemas tecnológicos de combate, seja com sistemas operacionais
de combate.
Nesse contexto, pode-se definir a Engenharia de Defesa como
(PELLANDA, 2008):5
192 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

A área da engenharia que trata de todos os ramos


relacionados à indústria de defesa e aos sistemas de
defesa. É um empreendimento multi e interdisciplinar
que se desenvolve em um ambiente transdisciplinar,
integra conhecimentos originários de engenharias, física,
química, biologia e ciência dos materiais e configura-se
como uma área complexa que engloba aspectos de análise
e síntese relativos ao desenvolvimento, projeto, otimização,
integração, certificação, avaliação, operação e logística de
sistemas aplicados à defesa. Assim, a Engenharia de Defesa
integra conhecimentos de vários ramos da Engenharia e das
Ciências, com foco na pesquisa básica e aplicada voltadas
para o desenvolvimento de sistemas de defesa.

Os sistemas de defesa são, em seus variados aspectos, objetos da


Engenharia de Defesa e compreendem todos os aparatos tecnológicos
capazes de defender uma região ou a soberania de um país frente a uma
ameaça externa. Ficou estabelecido que, no âmbito da Engenharia de
Defesa do IME, seriam estudados os sistemas de defesa segundo três
prismas básicos: o terreno, o fluxo de informações e os sistemas de armas.
Um sistema de armas, em particular, é um instrumento de combate
capaz de desempenhar uma missão militar operando como singular
entidade, englobando o pessoal e todos os elementos necessários, como
equipamentos, técnicas operativas, instalações e serviços de apoio.

Guerra cibernética
A guerra cibernética tem por finalidade atingir a capacidade de
processamento dos sistemas adversários na guerra convencional, na
guerra assimétrica ou em atos terroristas. A cibernética, ou seja, a guerra
de softwares, constitui-se no terceiro tipo de guerra entre sistemas.
Nesse tipo de guerra, o hacker politicamente motivado, ou seja,
o combatente hacker, atua com softwares maliciosos, para danificar
a capacidade operativa de sistemas de combate e/ou de sistemas da
infraestrutura pública ou privada do estado-nação adversário. Dessa
maneira, o hacker pode realizar ações de sabotagem e/ou espionagem.
Esse tipo de confronto tem um formato semelhante à guerra de
informação, algumas vezes vista como análoga à guerra convencional.
O IME no século XXI 193

No século XXI, surge uma pluralidade de meios militares para


serem empregados na avizinhante guerra cibernética, conceituada, de
acordo com Clarke,6 como “ações adotadas por um estado-nação para
penetrar nos computadores ou redes de outra nação com o propósito
de causar estragos ou interrupções nos seus sistemas bélicos”. Dessa
maneira, o conhecimento passou a ser avidamente procurado pelos
países, não somente para o próprio crescimento econômico, mas sim
com vistas ao alargamento militar.
No que concerne à cibernética, segundo Bertalanffy,7 essa é uma
teoria dos sistemas de controle baseada na transferência da informação
(comunicação) entre o sistema e o meio ambiente, e no próprio
sistema, e do controle (retroação) da função dos sistemas com respeito
ao ambiente. O campo de emprego da cibernética são os sistemas e
engenharias de softwares. Ela é, portanto, a ciência da comunicação e
do controle.
Os ataques cibernéticos podem ser desferidos em operações
militares e em atos terroristas, como afetando sistemas de fornecimento
de energia, sistemas aéreos e sistemas hidrelétricos, entre outros.
Em consonância com Gallaghher,8 especialistas avaliam que
guerras futuras venham a começar na internet. A guerra cibernética
é desencadeada quando um grupo de especialistas em tecnologia da
informação ataca os sistemas do adversário. São criados, tipicamente,
vírus ao estilo “Cavalo de Troia” e são realizados outros tipos de
ataque pela internet que tentam sequestrar, extrair ou danificar dados
de processamento do inimigo, imobilizando seus sistemas. Nesse
tipo de operação, o sensoriamento assume papel de relevo. O vírus
precisa ser detectado e identificado, antes de ser destruído. A função
sensoriamento precisa localizar o ponto emissor dos vírus, antes ou
depois do processamento, a fim de poder empregar a sua arma de defesa
cibernética contra o emissor de vírus inimigo.
A guerra cibernética consiste em diferentes ameaças. A espionagem,
cuja ação visa obter segredos de indivíduos ou grupos rivais, de
computadores, de governos inimigos para alcançar vantagens militares,
políticas ou econômicas, utilizando métodos ilegais em internet, rede,
softwares e/ou computadores. A sabotagem, que consiste de atividades
militares, emprega computadores e satélites para coordenação, que
estão na situação de risco de interrupção de funcionamento. Além
194 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

disso, ordens e comunicações podem ser interceptadas e substituídas.


As infraestruturas de energia, água, combustível, comunicações e
transporte são vulneráveis a interrupções na guerra cibernética, como
ocorreu recentemente. Na Primeira Guerra da Web (2007), sites do
governo, da imprensa e do sistema bancário da Estônia foram atacados
com os chamados Distributed Denial of Service (DDos) – sigla em inglês
para distribuição de negação de serviço –, durante um período de sete
semanas. Hackers ativistas, simpatizantes da Rússia, teriam efetuado
esses ataques em desagravo pela remoção de uma estátua da época da
União Soviética, que estava no centro da capital do país, Tallinn.
Essas cinco formas de fazer o combate estão intimamente ligadas
com as funções básicas tecnológicas do combate (SPA) (ver AMARANTE,
2012).9

A futura ambiência científico-tecnológica e a inovação dual


O século XXI, pela consolidação do conhecimento científico, pode vir
a ser considerado o “século do conhecimento”. O atual século continuará
a abrigar o palco das explorações do Universo, das profundezas abissais
dos oceanos e do mundo interior dos seres vivos, a partir dos mapas
genômicos e das células-tronco. A nanotecnologia deverá continuar seu
importante progresso e trazer avanços na medicina e na biologia, como
um todo.
A ciência continuará a experimentar o processo holístico de síntese,
e a tecnologia ampliará a sua capacidade dual, podendo ser explorada
tanto no campo militar quanto no civil. A Tecnologia Militar do futuro,
descrita no item anterior, faria parte das pesquisas dos meios militares
do Exército Brasileiro. O Instituto Militar de Engenharia, depois de
criteriosa seleção, estabeleceria um rol de conhecimentos com elevada
probabilidade de compor a ambiência científico-tecnológica brasileira,
nos próximos trinta anos.
O trabalho de P&D relacionado com os conhecimentos selecionados
iria proporcionar rico ambiente para o crescimento do debate científico.
Esse debate, certamente, manteria o IME na tradicional posição de
pioneirismo e excelência.
Vejamos os novos conhecimentos que poderiam conformar
os desenvolvimentos tecnológicos ao longo do século XXI.10 Eles
vêm dominando tanto o cenário da arte da guerra quanto o cenário
O IME no século XXI 195

das aplicações civis (BORDOGNA, 2001):11 a Teratecnologia, a


Nanotecnologia, a Complexidade, a Cognição, o Holismo, a Ciência do
Amanhã e a Neurociência.

Teratecnologia
A tecnologia da computação
Supercomputador, em uma definição simples e acessível, é
um computador que está à frente dos demais, em capacidade de
processamento, particularmente, considerando a velocidade de cálculo
e a capacidade de solução de problemas complexos. Com o passar do
tempo, como a evolução tecnológica é cada vez mais rápida, surgem
supercomputadores mais potentes, deixando os antigos líderes
simplesmente como desktops.
Costumamos fazer a seguinte pergunta (SIQUEIRA, 2012):12
“o que significa para você, leitor, um quatrilionésimo de segundo?
Nenhum ser humano talvez tenha uma ideia aproximada do que seja
um intervalo de tempo tão fugaz quanto esse.” Agora, imagine um
supercomputador que faça 1 quatrilhão de cálculos por segundo. Com
esse desempenho, cada cálculo dessas máquinas não demora mais do
que um quatrilionésimo de segundo. Muitos leitores perguntariam: “Mas
existem supercomputadores capazes de fazer 1 quatrilhão de cálculos
por segundo?” Sim! Existem vários que alcançam essa velocidade de
processamento. Não é ficção.

Os super-rápidos
Uma pesquisa publicada no site www.top500.org nos apresenta,
anualmente, a classificação dos supercomputadores mais rápidos
do mundo. Este ano o site divulga pela 35ª vez o ranking dessas
supermáquinas. Vale a pena conhecer a lista atual dos 10 mais velozes
do planeta. A primeira grande surpresa nessa lista é a estreia da China
que possui o segundo mais veloz do mundo:

1) Jaguar, fabricado pela Cray Supercomputer Company, é o grande


campeão deste ano. Instalado no Departamento de Energia dos Estados
Unidos (Oak Ridge Leadership Computing Facility), o Jaguar alcançou a
velocidade de 1,75 petaflops por segundo.
196 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

2) Nebulae, supercomputador chinês instalado no Centro de


Supercomputação de Shenzen, na China, é um sistema Dawning TC3600
Blade construído com processadores Intel X5650 e NVidia Tesla C2050
GPUs. Teoricamente seria o supercomputador mais rápido do mundo,
com 2,98 petaflops por segundo (pflop/s), mas nos testes pelo sistema
Linpack só alcançou a velocidade de 1,271 pflop/s.

Nanotecnologia
É a tecnologia geradora de matérias-primas e produtos com
tamanhos nanométricos, ou seja, com a dimensão maior, da ordem
de um bilionésimo de metro. O livro Máquinas da Criação, de Eric
Drexler, descreve a nascente tecnologia em que máquinas de tamanho
nanométrico manipulariam átomos, moléculas e matéria. Levando o
conceito de miniaturização ao extremo, a nanotecnologia tem o objetivo
de construir estruturas complexas, átomo a átomo, molécula a molécula.
Por vezes, ela é designada de “fabricação molecular”, englobando
vários tipos de pesquisa que trabalham com dimensões inferiores a
mil nanômetros (um nanômetro é igual a 0,000.001 milímetros). Para
realizar a fabricação molecular, a nanotecnologia utiliza os processos de
montagem posicional e autorreplicação.
O primeiro pressupõe que cada átomo seja colocado no seu devido
lugar, implicando a existência de robôs mínimos, cujas dimensões
permitam a manipulação individual de átomos e moléculas. O segundo
envolve a construção de sistemas capazes de copiarem a si próprios e
de, com esse conhecimento, construírem outros produtos.
Em consequência, podemos entender a fabricação molecular como
uma tecnologia futura que irá nos permitir a construção de grandes
objetos, com a precisão atômica, de forma rápida, barata e virtualmente
sem defeitos. Mecanismos robóticos irão posicionar e provocar reação
em moléculas para construir sistemas com complexas especificações
atômicas. Quando a fabricação molecular estiver disponível, ela irá
oferecer computadores imensamente potentes, capítulos de consumo
de alta qualidade e dispositivos capazes de curar doenças, mediante a
reparação do organismo em nível molecular.
São imensas as aplicações da nanotecnologia.13 Em abril de 2005,
em um painel coordenado pelo Canadian Joint Centre for Bioethics
(JCB), e realizado com 63 especialistas mundiais, para identificação
O IME no século XXI 197

dos usos mais promissores dessa novel tecnologia, foram apontados


armazenamento, produção e conversão de energia, incremento na
produtividade da agricultura, tratamento de água e recuperação
ambiental, diagnóstico e screeening (blindagem) de doenças, sistemas
de entregas de drogas, processamento e armazenamento de alimentos,
poluição do ar, construção, monitoramento de saúde, além de vetores,
detecção e controle de pragas.

Complexidade
Aplicação aos fenômenos complexos naturais
A Complexidade corresponde à multiplicidade, ao acoplamento
e à interação contínua da infinidade de sistemas e de fenômenos que
compõem o mundo, as sociedades humanas, o homem e todos os seres
vivos.14
Em seu livro intitulado Complexidade: a ciência emergente no
limiar da ordem do caos, Mitch Woldrop15 escreve “sobre um ponto, que
permanece na fronteira do caos, onde os componentes de um sistema
nunca se fixam o bastante, e ainda nunca propriamente se dissolvem na
turbulência...”
Gell-Mann, que propôs a existência do quark como peça
fundamental da estruturação atômica, recebeu por essa contribuição
significativa o prêmio Nobel de Física, em 1969. No seu livro, O quark e o
jaguar, argumentou que uma mesma teoria, a Teoria da Complexidade,
poderia explicar o simples, na física do quark em um átomo, e o
complexo, na física de sistemas complexos adaptativos, caracterizada
pela complexidade da caça noturna realizada por um jaguar. Como até
hoje os progressos na Teoria da Complexidade foram pequenos, Horgan
aproveitou a oportunidade para criticá-la.
Devemos estar conscientes, no entanto, de que existem sistemas
adaptativos complexos que, segundo Gell-Mann, são sistemas que
aprendem e evoluem lançando mão de informações adquiridas a partir
de sua interação com o meio ambiente. Esses sistemas proliferam no
mundo real, podendo envolver uma criança aprendendo a língua ou a
evolução biológica resultante da interação com o ambiente, como ocorre
com as bactérias que desenvolvem resistência aos antibióticos. A ciência
relacionada a esses fenômenos ainda está longe de ser compreendida,
mas acreditamos que a chave para a adaptação ao meio ambiente
198 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

e o correspondente aprendizado residem na neurociência, e mais


especificamente na rede neural.
Somente com a intenção de proporcionar meios para uma avaliação
da complexidade, associada a essa área do conhecimento científico,
apontamos alguns temas de estudo que integram o conhecimento
referente à Teoria da Complexidade: vida artificial, replicação genética,
fractais, sistemas caóticos, sistemas dinâmicos complexos, sistemas
adaptativos, criticalidade auto-organizada, autômatos celulares, redes
neurais e o cérebro, redes neurais e sistemas complexos, evolução de
sistemas complexos (visão física, visão biológica, visão computacional
e, finalmente, visão humana). Esses assuntos científicos ainda estão em
fase evolutiva e não são totalmente dominados pelo homem.
Se examinarmos cuidadosamente a ciência e suas aplicações à
Engenharia, constataremos essa zona de fronteira em muitas escalas,
disciplinas e lugares os mais inesperados. Um exemplo notável consiste
na bem-comportada camada limite, inserida entre o caótico escoamento
turbulento do ar e a superfície sólida do objeto em voo aerodinâmico.

Aplicação aos fenômenos complexos militares


A complexidade militar corresponde à multiplicidade, ao
acoplamento e à interação contínua da infinidade de sistemas e
fenômenos que participam de combate entre adversários humanos.
A guerra é, na realidade, “um fenômeno extremamente complexo,
resultando de diferentes influências: filosóficas, políticas, econômicas,
tecnológicas, legais, sociológicas e psicológicas. Em todas essas esferas,
o homem é o principal ator porque a guerra é relacionada a expectativas
humanas e determinada por comportamento humano” (AMARANTE,
1994).16
O almirante Cebrowski (comandante do Departamento de
Transformação da Força do US DoD) classificou a Guerra Centrada
em Redes17 como uma teoria emergente baseada em conceitos de
complexidade, linearidade e caos. Ela é mais emergente e menos
determinística. Possui maior foco no plano comportamental do que no
plano físico e maior foco no relacionamento humano do que em coisas
materiais.
O combate é, por sua natureza, uma atividade complexa.
Mofat assevera que, em algumas tentativas de representar a função
18
O IME no século XXI 199

processamento, das funções tecnológicas do combate, constataram que


inevitavelmente levaram a modelos extremamente complexos.
Avanços realizados na Teoria da Complexidade19 indicam outra
maneira de realizar tais estudos. A essência é encontrar uma forma de
manter baixo o número de unidades em interação. Na realidade acontece
que, se escolhermos um número suficientemente baixo, a representação
do processamento (C2) será suficiente para controlar, de forma aceitável,
o modelo de combate proposto, no domínio da Teoria da Complexidade.
As Funções Tecnológicas do Combate (AMARANTE, 2012) oferecem
uma ferramenta apta a estabelecer um mecanismo de acoplamento da
estrutura tecnológica da unidade militar com a operacional, e vice-versa.

Cognição
É o ato ou processo de conhecer, incluindo a atenção, a percepção,
a memória, o raciocínio, o juízo, a imaginação, o pensamento e o
discurso. A partir da década de 1950, estabeleceu-se uma convergência
entre os conceitos computacionais e as funcionalidades do cérebro
humano, tais como: armazenamento, reparação, memorização e
codificação de informação. Outra convergência é observada entre a
cognição e a inteligência artificial: as tarefas cognitivas, quais sejam, o
conhecimento, a aprendizagem, a explicação, a resolução de problemas
e o planejamento. As funções ativadas pelo campo da inteligência
artificial20 provocam a elucidação, a representação, o processamento e a
organização do conhecimento.
Bordogna acredita que a humanidade se encontra no limiar de
uma revolução cognitiva, responsável pela minimização da revolução
da informação. Essas conquistas irão deitar as fundações para a
ereção de áreas de real importância, desde a alfabetização de crianças
até a compreensão de processos de aprendizados; da produção de
computadores assemelhados ao ser humano e robôs capazes de projetar
redes e sistemas capazes de cognição.

Holismo
De acordo com Humberto Mariotti, reducionismo é o ponto de
vista clássico, consolidado por Descartes, que divide o todo em partes
e as estuda em separado. Em consonância com Edgar Morin, é a visão
200 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

analítica e compartimentada, mecânica e reducionista, que fraciona os


problemas e unidimensionalisa o multidimensional.
Por “holismo”, Humberto Mariotti21 compreende o ponto de vista
oposto, que se opõe à abordagem cartesiana e estuda o todo sem dividi-
lo, ou seja, examina-o de modo sistêmico. O pensamento sistêmico é uma
concepção basicamente “holística”, apresentada em 1940 por Ludwig
von Bertalanffy.
Por pensamento complexo, entendemos aquele resultante da
visão sintética e integral, destituída da inteligência compartimentada, e
dando lugar a uma inteligência integrativa e de longo prazo. Tratando-
se de pensamento complexo, concordamos com o posicionamento de
Morin, ou seja, o que ele nomeia de “complexo”, Humberto Maturama
chama de “sistêmico”.
Morin sustenta que estamos seduzidos pela visão reducionista
de partes isoladas e separadas do todo. Ainda, segundo Morin, quando
entramos em contato com a visão sistêmica, o ofuscamento reducionista
cede espaço para o deslumbramento “holístico”, que só enxerga o todo.
Saltamos de um extremo para outro.
Com efeito, a mente da nossa cultura está profundamente
condicionada a pensar de forma reducionista. É o que chamamos de
formatação pelo pensamento linear. O ponto de vista moriniano, o
pensamento complexo, constitui outra forma de abordar a totalidade.
De um modo geral, sua proposta é a complementaridade e a
transacionalidade entre as concepções linear (reducionista) e “holística”
(sistêmica). Nas palavras de Morin, seu propósito “não é dissolver o ser,
a existência e a vida no sistema, mas compreender o ser, a existência e a
vida com a ajuda também do sistema”.

A ciência do amanhã
Proceder a uma avaliação prospectiva tanto da ciência quanto da
tecnologia é uma tentativa complicada. Entretanto, o momento especial
que estamos vivenciando nos leva a focalizar alguns pontos que poderão
ser úteis para a nossa compreensão, quando chegar à próxima revolução
civilizatória que será a nona.
Com a Revolução Científica ocorrida no século XVII, o homem
dedicou-se no século seguinte, o XVIII, a sistematizar o conhecimento
O IME no século XXI 201

científico, mediante a aplicação do método aos fenômenos naturais de


interesse naquela época.
O século XIX marcou a estruturação do conhecimento científico.
O homem criou três grupos da ciência moderna: as Ciências Exatas, as
Ciências Biológicas e as Ciências Humanas. Cada grupo é subdividido
em ramos: as Ciências Exatas subdividem-se em física, química,
matemática, ciências da terra, entre outras; as Ciências Biológicas
subdividem-se em medicina, fisiologia, botânica, entre outras, e as
Ciências Humanas, em antropologia, economia, educação, história, entre
outras. Essa estruturação resulta de um processo analítico. Os avanços
no conhecimento foram tão significativos que, no final do século, os
cientistas regozijavam-se pela resolução ou compreensão científica dos
fenômenos perceptíveis da natureza.
Porém, as primeiras décadas do século XX demonstraram que
a ampliação do conhecimento científico ocorre ininterruptamente.
O principal exemplo foi a Teoria da Relatividade, de Einstein, a qual
demonstrou que o genial Newton havia percebido tão somente um
caso particular da mecânica, envolvendo fenômenos relacionados
a pequenos campos gravitacionais. Nesse século, os avanços do
conhecimento científico relacionaram-se com os seguintes fatores: a
engenharia genética, as sondas espaciais, a nanotecnologia, a teoria
do Big-Bang, os computadores avançados, a microeletrônica, as
energias nucleares de fissão e de fusão, a robótica, a realidade virtual
e a supercondutividade. Essa imensa quantidade de conhecimento
demonstrou que o século XX constituiu-se na fase da ampliação
científica. Além disso, a ciência foi submetida a um processo inicial de
síntese. Os ramos das ciências começaram a se acoplar, gerando ramos
mais encorpados com conhecimentos em cada grupo ou entre ramos de
grupos diferentes, como, por exemplo, a geografia econômica, a físico-
química, a bioengenharia...
Tudo indica que o século XXI continuará a ser o palco das
explorações do Universo, das profundezas abissais dos oceanos e do
mundo interior dos seres vivos a partir dos mapas genômicos e das
células-tronco. A nanotecnologia deverá continuar seu importante
progresso, trazendo avanços na medicina e na biologia, como um todo.
O século XXI, pela consolidação do conhecimento científico, pode ser
considerado o “século do conhecimento”. Como tal, a ciência poderá
202 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

vir a explicar bens intangíveis da humanidade, como a arte, a religião


e a cultura. O pensamento humano também poderá ser explorado
de forma científica, já que no século XX ele ensaiou seus primeiros
passos. Além disso, a ciência continuará a experimentar o processo
de síntese. Poderemos assistir à unificação da física e ao tratamento
científico de fenômenos multidisciplinares biológicos com a físico-
química, fenômenos cardiovasculares com a bioengenharia, fenômenos
psicológicos com redes neurais e outros.

Neurociência
O que é o cérebro?
Apoiando a concepção de Galileu, Descartes estabeleceu que
o cérebro era composto por duas partes: mente e matéria. A matéria
era relacionada à substância física e dotada de extensão. A mente era
responsável pelo pensamento; portanto, não tinha extensão. Em suma,
Galileu e Descartes faziam distinção entre a operação física do cérebro e
o processo cognitivo.
Em 1791, Galvani demonstrou que nas células do cérebro transitava
a eletricidade. Essa constatação provocou investigativa corrida ao estudo
do cérebro, sem conseguir, entretanto, grandes avanços. Em 1870, Golgi
descobriu que o sistema nervoso central era integrado por milhões de
neurônios. Além disso, estabeleceu que a informação, colhida pelos
nervos sensoriais, era remetida ao cérebro para processamento e que os
neurônios, depois do processamento, comandavam os nervos motores.
Essa descoberta foi a base científica da automação.
No início do século XX, Adrian, Gasser e Enrianger descobriram
que a descarga de impulsos elétricos nos neurônios causava a liberação
de substâncias químicas, cujas funções eram o envio de mensagens a
outros neurônios, estabelecendo um processo contínuo de pensamento
ou de ação reativa irrefletida. Eles conseguiram estimar que, depois
de uma descarga, os neurônios levavam em torno de um milésimo do
segundo para serem recarregados.
Recentemente, a separação entre a matéria e a mente passou a
ser contestada ao se verificar que muitos comportamentos associados
à mente eram, ao menos em parte, determinados pela bioquímica.
Atualmente, os pesquisadores começam a desprezar a separação
O IME no século XXI 203

mente-matéria, acreditando que a própria consciência pode emergir


como um subproduto dos complexos processos realizados pelo cérebro
humano.

Funcionamento do cérebro
Tais contribuições científicas estabeleceram o caminho para
a moderna neurociência, responsável pela enorme quantidade de
informação sobre as funções cerebrais. O cérebro humano é, muito
provavelmente, o órgão mais complexo do corpo. Ele é responsável
tanto pela condução das mãos de um exímio cirurgião ou de um pintor
magnífico quanto pelo controle de funções básicas do organismo,
reflexivas ou espontâneas. É o produto mais elaborado do processo
evolutivo do homem na superfície terrestre. Há cerca de 300 mil anos, o
Homo erectus, nosso ancestral, tinha um cérebro que pesava 500g, que
corresponde a cerca de um terço do peso atual de 1,5kg.
A peça fundamental do cérebro é o neurônio. O sistema neural
central é composto por bilhões de neurônios, que são células diferenciadas
capazes de receber ou enviar sinais, iniciando comunicação com a célula
vizinha mediante descargas elétricas, em um processo chamado de
sinapse. Cada neurônio estabelece conexão com dezenas de milhares
de outros neurônios. Essas conexões não são do tipo liga-desliga, elas
variam de intensidade e determinam uma qualidade na transmissão.
Assim, os neurônios são conectados em complexas redes neurais, as
quais compõem o cérebro. Essas redes funcionam processando sinais
elétricos responsáveis pela atividade cerebral.
É nesse desempenho cooperativo simultâneo de milhões de
neurônios que reside a enorme sofisticação e a incrível capacidade
computacional do cérebro, em comparação com os computadores
atuais. A diferença de desempenho entre o cérebro e o computador
não reside na escala temporal, uma vez que o tempo de recarga do
neurônio é de um milésimo do segundo, muito maior do que o tempo de
processamento do computador que é da ordem de 100 milionésimos do
segundo. A diferença está no número de processadores e na qualidade
da descarga neural. No cérebro, milhões de neurônios são ativados,
transmitindo e recebendo informações mediante descargas elétricas de
intensidade variável, o que estabelece uma qualidade na condução. No
computador, o número de processadores é muito menor, e as conexões
204 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

são meramente do tipo liga-desliga. Nesse aspecto reside a superioridade


computacional do cérebro
O grande desafio tecnológico do século XXI não é apenas criar um
sistema de redes neurais que emule o sistema central neural. De fato,
a dificuldade maior estará na construção de um neurônio “artificial”,
capaz de ser sensível, assim como o neurônio natural, aos inputs de
maneira a responder com descargas elétricas variáveis criando infinitas
possibilidades.

A inteligência e a personalidade humanas


O homem nasce com um estoque de neurônios estabelecido
geneticamente por seus pais. A parte hereditária da inteligência e da
personalidade está fixada no nascimento. Esse estoque de neurônios é
uma condição inicial do funcionamento da máquina cerebral.
As conexões entre os neurônios da criança recém-nascida serão
estabelecidas somente no “processo de aprendizagem”, realizado
por estímulos externos vindos sob a forma de correntes elétricas,
originadas nas células de sensoriamento, que estimulam os neurônios
a funcionar para responder aos impulsos nervosos. A resposta cerebral,
resultante do processamento dos sinais sensoriados, poderá ser a mais
variada possível, envolvendo, por exemplo, a recordação por memória, o
reconhecimento de padrão, a simples tomada de decisão ou uma atitude
raivosa ou ainda a combinação desses procedimentos.
A própria complexidade das redes neurais oferece formidável
barreira ao entendimento da forma pela qual a aprendizagem gera a
inteligência e a personalidade. Até hoje, não se conhece em detalhes como
os disparos individuais dos neurônios contribuem para a inteligência e a
personalidade, ou seja, para a qualidade das características conscientes
e inconscientes do indivíduo: memória, reconhecimento de padrões,
raciocínio lógico, retidão de caráter, emoção e consciência.
Até uma determinada extensão, as sinapses estão continuamente
se restabelecendo em função das experiências vividas pelo cérebro. A
propósito, diferentemente do computador, a máquina cerebral não se
desliga, estando pronta a funcionar durante o sono, com os sonhos. Além
do aspecto da continuidade de funcionamento, com alguns períodos de
dormência, o funcionamento global do cérebro é fortemente influenciado
por reações bioquímicas.
O IME no século XXI 205

Algumas substâncias e suas características são conhecidas.


A serotonina é reguladora da agressividade. A dopamina reduz a
atividade do lóbulo central e está associada ao Mal de Parkinson.
A endorfina produz sensações de dor e prazer. Cresce a convicção
dos cientistas de que a bioquímica determina certos traços da
personalidade, abrindo a possibilidade de a humanidade vir a ser
uma sociedade “quimicamente evoluída”, com todas as profundas
implicações resultantes.
A inteligência e a personalidade, caracterizadas pela forma
de como responder aos estímulos neurológicos, são determinadas
parcialmente pela genética e por nossas experiências. Dessa forma,
uma infância com variados e intensos estímulos irá, necessariamente,
moldar os neurônios de forma positiva, criando as condições favoráveis
para o funcionamento do cérebro e as condições de expressão da
personalidade.
Por outro lado, certas características de inteligência e de
personalidade situam-se em setores cerebrais bem definidos e em
neurônios geograficamente localizados. Como exemplos, podemos
assinalar que o cérebro esquerdo é ligado ao pensamento e à solução de
problemas, enquanto o cérebro direito é mais ativado no reconhecimento
facial e para a coordenação motora.

Inteligência artificial e redes neurais


O cérebro é, pois, um sistema incrivelmente complicado com
habilidades muito sofisticadas. Compreendê-lo pode conduzir-nos à
construção de máquinas inteligentes.
A rede neural é a mais avançada tentativa do homem em criar a
inteligência artificial. É integrada por computadores modelados de
acordo com a descrição biológica do cérebro, que possui dezenas a
centenas de nós com dezenas de milhares de conexões entre os nós. Esses
são modelos simplificados dos neurônios. Além de serem rudimentares,
as redes neurais atuais apresentam o inconveniente de demandarem
longo tempo de aprendizado.
A realidade é que estamos longe da correta emulação de uma
rede neural natural. A topografia da rede é desconhecida e o modelo de
funcionamento do neurônio está muito longe da realidade...
206 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

A preparação de recursos humanos, desenvolvimento de pesquisas


aplicadas e elaboração de projetos
Os recursos humanos na era do conhecimento
Resumindo, a guerra do futuro deve ser o palco do embate entre
sistemas de defesa, a tendência moderna dos meios de combate. Note-
se que sistema tem caráter multidisciplinar e que a guerra cibernética é
uma guerra entre sistemas.
Nessas condições, a guerra do futuro requer dois tipos de
profissionais, o convencional especialista e o que propomos que deverá
ser generalista. Mais exatamente:

– o engenheiro militar que, como acontece atualmente no IME,


será formado com conhecimento disciplinar, analítico e cartesiano. É a
formação realizada pelo IME nos dias de hoje.
– o engenheiro de defesa, que será formado com conhecimento
politécnico, multidisciplinar, holístico e sistêmico.

A maneira de trabalhar deverá ser da seguinte forma: com o


engenheiro de defesa, dado que é generalista e possui a visão integrativa,
coordenando o trabalho de diferentes especialistas, ou seja, de diversos
engenheiros militares.
De princípio, o engenheiro militar fará os cursos convencionais de
graduação e pós-graduação, ao passo que o engenheiro de defesa fará
cursos de especialização e de pós-graduação.
A guerra e a defesa se desenrolam em alta velocidade e
demandam modificações tanto na preparação de recursos humanos
como na sistemática de funcionamento da Base Industrial de Defesa.
Nesse cenário, os professores e pesquisadores do IME devem atuar
na pesquisa aplicada no setor militar e não na pesquisa básica
generalizada. O trabalho de investigação básica generalizada deve,
pois, ficar restrito à universidade, já a investigação aplicada ao setor
militar deve ser ampliada e acelerada, congregando os esforços tanto
do IME quanto do órgão de P&D do Exército, o Centro Tecnológico do
Exército (CTEx).
A modernização do IME passa pela nova atitude relacionada à
pesquisa. O IME deverá passar a realizar o ensino e a pesquisa aplicada.
O IME no século XXI 207

A pesquisa básica deve ser realizada pelas universidades; a pesquisa


aplicada, se atribuída ao IME – instituição de ensino superior e setorial –,
torna mais imediata a resposta técnica e mais eficiente o funcionamento
da Base Industrial de Defesa brasileira. O mundo contemporâneo
demanda velocidade de desenvolvimento e produção.
Com essa nova disposição de trabalho tornam-se necessárias
algumas expansões para colocar o IME ao “pé da obra”. Senão vejamos.
Os meios militares modernos adotam características automa-
tizadas e sistêmicas. A demanda por inovação recomenda que os
fenômenos físicos sejam tratados como multi e interdisciplinares e
vistos de maneira holística.
A melhor e mais direta forma de atender a essa nova demanda
é tornar o IME em instituição “multifacetada”, dispondo de diversos
campi. Cada campus deveria ter um funcional específico. Vejamos as
especificidades que conduzem ao caráter multifacetado:

– Campus 1: na Praia Vermelha, Instituto de Graduação e Pós-


Graduação de Engenheiros Militares e de Defesa. A edificação da
Praia Vermelha é única. Durante cerca de 70 anos, ela foi se ajustando
com laboratórios específicos às demandas das graduações e das pós-
graduações, contando com cerca de 40 laboratórios. A transferência
desses laboratórios seria onerosa e poderia ensejar em perda de
desempenho técnico, dado que os seus funcionamentos ideais são para
trabalhos interiores.
– Campus 2: em Guaratiba, Academia Militar de Guaratiba,
para formação de oficiais engenheiros militares e de defesa. Por sua
vez, o polo de Guaratiba é pródigo em terrenos baldios, ideais para
instruções exteriores, constituindo-se em local ideal para instrução
militar e avaliações operacionais e técnicas. Atualmente, os laboratórios
existentes em Guaratiba são do CTEx. A desativação da infraestrutura
laboratorial da Praia Vermelha e a construção de 100 novos laboratórios
provavelmente deverão ser dispendiosas.
– Campus 3: em Manaus, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de
Tecnologias Amazônicas. A seleção da Região Amazônica para o tema do
Projeto Institucional do IME deve-se ao fato de ser uma área estratégica
e extremamente sensível para o País. Ainda mais porque qualquer tipo
de atividade na área científico-tecnológica da Região Amazônica é de
208 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

mais fácil tratamento pela presença da Força Terrestre na área. Outra


universidade teria grandes dificuldades de implantar e manter um
sistema de pesquisa pela peculiaridade e característica da região, cuja
impedância maior é a dificuldade logística que a selva propicia.

Aliás, é no mínimo intrigante, mas a antiga Real Academia de


Artilharia, Fortificação e Desenho foi antecedida por Aulas de Engenharia
e por Aulas de Artilharia, distribuídas no território brasileiro, nas
seguintes cidades: Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Belém. O curioso
é que essas aulas funcionavam como verdadeiros campi de uma escola
de engenharia. Hoje, vivemos uma situação semelhante. Na verdade,
adotando essa estratégia de multifacetamento, a resposta tecnológica
do IME crescerá e passará a ser significativa.
Consideremos um aspecto psicológico relevante. Um meio de
analisar a efetividade do funcionamento de uma unidade militar é
empregar a análise da cooperação técnico-operacional. Uma avaliação
preliminar sinaliza que uma unidade com ambiente cooperativo
obtém melhores resultados em confrontos. Por essa razão, é altamente
recomendável a adoção de políticas de pessoal que conduzam ao
saudável relacionamento entre os segmentos técnico e operacional da
força armada. Tal atitude redundaria em ambiente cooperativo e, por
via de consequência, em desempenho profissional mais eficaz e efetivo.

Guerreiros técnicos são necessários?22


Na atual conjuntura da Idade da Tecnologia, a defesa recebe
influências diretas da ciência e tecnologia e indiretas das ações políticas,
econômicas e psicossociais. Assim, cabe o questionamento de como a
C&T causará impacto no desempenho operacional das Forças Armadas
no decorrer do século que acabamos de adentrar. Com o apoio da
inovação, a C&T produz a melhor tecnologia militar que lhe é dada
realizar, colocando o país no ranking desenvolvido, emergente ou em
desenvolvimento. A C&T proporciona os meios para modificar a posição.
De tudo o que foi exposto, pode-se considerar que o progresso
vertiginoso da Tecnologia Militar aportará importantes repercussões
na forma de desenrolar as guerras convencionais no futuro. Entretanto,
podem-se enfatizar alguns impactos tecnológicos que irão produzir
modificações no ambiente operacional:
O IME no século XXI 209

– o sensoriamento mais eficiente irá proporcionar informações


com níveis crescentes de qualidade;
– o aumento do alcance irá favorecer o aprofundamento do
combate;
– o guiamento e controle digital irão assegurar maior acurácia dos
novos sistemas de armas;
– a evolução nas cabeças de guerra irá fornecer maior efetividade
no efeito terminal; e
– a evolução da telemática irá conceder dados para uma tomada
de decisão mais bem amparada e a comunicação mais efetiva.

Além das modificações assinaladas, é de se enfatizar a quarta


dimensão, ou seja, o espaço eletromagnético, varrendo o ciclo
Sensoriamento-Processamento-Atuação; a ocorrência do campo de
batalha não linear, fragmentado, menos estruturado e com crescentes
espaços vazios; e, evidentemente, uma doutrina adequada para o
combate convencional do futuro.
No mundo moderno, a comunidade científico-tecnológica atua
na trincheira da luta pelo conhecimento, principal fonte de poder das
sociedades modernas. Essa comunidade participa da preparação dos meios
para o combate moderno e necessita de interlocutores no meio militar.
Nesse cenário de tecnologia avançada, ressalta o valor do soldado
profissional, dado que a complexidade crescente dos novos materiais
de emprego militar irá demandar operadores com consideráveis
habilidades técnicas. Em consequência, o treinamento militar tende
a ser cada vez mais caro, envolvendo profissionais com elevado nível
educacional.
Entretanto, além de combatentes com consideráveis habilidades
técnicas, o combate moderno demanda guerreiros técnicos –
competentes oficiais engenheiros militares, que tenham credibilidade
tanto com combatentes quanto na comunidade científico-tecnológica
integrante da Base Industrial de Defesa brasileira.
São várias as razões que sustentam a necessidade moderna de
guerreiros técnicos:

1) As Forças Armadas precisam de guerreiros técnicos para atuar


na Logística e na C&T com conhecimento técnico-operacional.
210 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

O guerreiro técnico tem conhecimento que facilita o trânsito


junto à indústria, aos institutos de pesquisa e desenvolvimento
e ao meio acadêmico. O técnico civil e o oficial combatente não
cumprem adequadamente essa atribuição, pois a presença da farda
e o conhecimento técnico simultâneos fazem a diferença. O guerreiro
técnico se torna facilitador técnico que pode se mover facilmente entre
dois mundos – o operacional e o da comunidade científico-tecnológica.
2) As Forças Armadas precisam de guerreiros técnicos para
melhorar a visão tático-estratégica da guerra moderna.
O combatente precisa reagir às ameaças de curto prazo que
podem requerer soluções técnicas rápidas. Guerreiros técnicos com
conhecimento operacional podem ajudar, seja por causa de seu
conhecimento direto, seja por terem acesso à tecnologia apropriada.
3) Os combatentes precisam dos guerreiros técnicos para que
estes sejam a extensão deles próprios.
Os guerreiros técnicos são necessários para promover a integração
por meio das etapas dos estágios de desenvolvimento de armas, da
bancada laboratorial à planta industrial e ao campo operacional. Tendo
um guerreiro técnico nesse papel, o combatente trabalha com um colega
de confiança, “alguém que tenha acesso ao clima rápido e perigoso do
campo de combate, bem como ao esotérico laboratório de pesquisa”. A
questão principal é que os guerreiros técnicos terão em mente o melhor
interesse dos combatentes, porque eles próprios serão combatentes.

O grande ensinamento operacional extraído da análise da primeira


guerra da Idade Tecnológica (a primeira guerra do Golfo, em 1991) é
que a gestão efetiva do complexo militar-industrial das forças aliadas foi
o fator determinante da vitória. Em consequência, pode-se inferir que,
para a atualização tecnológica de um exército, é fundamental o trabalho
conjunto e harmônico do binômio combatente-engenheiro.
Essa evolução talvez esteja criando condições para a aproximação
definitiva entre duas escolas localizadas na praça General Tibúrcio.
A construção de uma ponte virtual sobre a Praia Vermelha levantada
na Praça General Tibúrcio, entre a Escola de Comando e Estado-Maior
do Exército, matriz do pensamento operacional do Exército Brasleiro
(EB), e o Instituto Militar de Engenharia, matriz do pensamento técnico-
O IME no século XXI 211

militar do EB, irá sem sombra de dúvidas integrar os conhecimentos de


ciências militares com os de ciências exatas. O mundo contemporâneo
demanda a existência de integrado pensamento técnico-operacional,
fortalecido por esse intercâmbio induzido pela ponte sobre a Praia
Vermelha.
Em síntese, o combatente seria atraído a frequentar o IME, e o
engenheiro militar visitaria constantemente a ECEME. A “ponte sobre a
Praia Vermelha” seria uma facilitadora para as trocas intelectuais entre
as duas catedrais do pensamento militar.
Finalmente, no mundo de hoje em que a Tecnologia Militar
experimenta exponencial evolução, o emprego do guerreiro técnico
em atividades bélicas se constitui em nova demanda operacional para
dar às Forças Armadas a capacidade de desempenhar qualquer missão,
enfrentar qualquer contingência, atuar em qualquer campo de combate
e vencer qualquer guerra. Apenas assim, estará sendo alcançada a
principal meta da C&T de defesa: ganhar a guerra.

Instituto Militar de Engenharia: o desafio de adaptação para


exercer o poder do conhecimento
O Instituto Militar de Engenharia assume especial atribuição no
início do século XXI. Ele se transforma na principal trincheira da luta
pelo conhecimento, principal fonte de poder das sociedades modernas.
Para cumprir tal função, ele precisa conhecer o cenário das mudanças
aceleradas e precisa modificar o seu projeto pedagógico.
Vejamos algumas razões que fundamentam as mudanças que
ocorrerão na escola:

1) Dado que a informação trafega em tempo real, tornam-


se cada vez mais elevadas as qualificações exigidas para os postos
de trabalho em quaisquer dos setores de produção, fato que coloca
grande e contínua pressão sobre as necessidades educacionais das
populações. Com as constantes mudanças tecnológicas, os indivíduos
que não as acompanharem ficarão prematuramente inabilitados para o
trabalho. Isso gera a seguinte dicotomia: ou a universidade proporciona
capacidade para o exercício do aperfeiçoamento continuado ou ocorre
o nefasto “analfabetismo tecnológico”. Os analfabetos tecnológicos não
212 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

retornarão ou ingressarão adequadamente no mercado de trabalho nem


que a economia cresça e expanda os empregos (LONGO, 2000).
2) É preciso ter presente que, no mundo em que vivemos hoje,
todos os cidadãos necessitam conhecimentos básicos de ciência, das
tecnologias mais usadas, de matemática e informática, continuamente
atualizados. Essa é uma exigência não só para o mercado de trabalho,
mas, antes de tudo, para que o cidadão não seja um alienado, um
ignorante diante dos bens e serviços utilizados no seu dia a dia.
3) Atualmente a inteligência acadêmica começa a ser mobilizada
pelos governos para atuar em assuntos estratégicos, muitos dos quais
ligados à defesa.
4) As Forças Armadas do futuro irão necessitar crescentemente
de ciência e tecnologia. Por isso, a universidade deve contribuir
efetivamente para a formação de quadros militares. Note-se que cerca
de 80% dos oficiais norte-americanos têm o nível de mestrado.
5) A universidade atua fortemente no campo psicossocial, como
entidade formadora de opinião. Em consequência, sua responsabilidade
social cresce mais ainda.
6) Deve existir um relacionamento salutar entre a comunidade
científica, econômica e a militar, pois as três desempenham estratégicas
funções na estruturação do poder na sociedade moderna.

Vejamos agora algumas estratégias recomendáveis para a


concretização da modernização universitária, e em particular da escola
de engenharia, respeitando-se sempre as características e valores de
cada universidade e, sobretudo, sua identidade:

– implantar um modelo pedagógico de ensino que enfatize a


formação intelectual, desenvolvendo a capacidade crítica, a autonomia,
a criatividade, o raciocínio lógico, a ética e a liderança;
– realizar a modernização curricular;
– propiciar ao corpo docente meios de realizar a modernização do
ensino, assegurando o acesso a novas práticas pedagógicas;
– estimular a capacidade de autodesenvolvimento do educando,
tornando-o apto para se adaptar com facilidade à introdução de novos
cenários tecnológicos;
O IME no século XXI 213

– fomentar a formação humanística, com sensibilidade para as


interrelações de sua atividade profissional com a sociedade e o meio
ambiente;
– criar centros de pesquisa interdisciplinares;
– promover, sempre que possível, a integração de atividades
interdepartamentais;
– incentivar o trabalho em equipe no ensino e na pesquisa;
– criar laboratórios multidisciplinares sobre campos de pesquisa
modernos;
– criar condições para a realização do ensino a distância,
importante arma para exercer o poder do conhecimento;
– criar condições para evoluir no lidar com a ciência, passando de
uma visão reducionista e cartesiana para uma visão global e holística;
– mudar o paradigma do ensino fundamental, nas formações
profissionais relacionadas com as áreas de ciências exatas e biomédicas,
de estudo de ciências para estudo de ciências e tecnologia;
– participar em programas “sanduíche” em cursos de graduação
e de pós-graduação, outra importante arma para exercer o poder do
conhecimento;
– atuar ativamente no processo universidade-empresa, para
catalisar o desenvolvimento tecnológico e exercer influência em
importante ator econômico;
– realizar a pesquisa cooperativa, que se caracteriza pela definição
de uma área temática a ser explorada ou de um projeto específico visando
produzir uma inovação ou resolver um problema tecnológico, executado
de forma coletiva, reunindo instituições de pesquisa e empresas.

Com essas medidas, a tendência é a escola de engenharia


funcionar com a integração do conhecimento em produtos e processos
multi e interdisciplinares. Como sinalizo no livro O Voo da Humanidade,
percebe-se que as revoluções socioculturais, causadas pelas tecnologias
de impacto, são estruturais, ao passo que as revoluções ainda por vir
deverão ser integrativas e conformantes.
É imperativa a transformação da universidade, no caso particular
da escola de engenharia. O conhecimento passa a acumular informações
nos bancos de dados guardados em computadores. A universidade
214 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

está perdendo o controle sobre o ensino superior porque a Internet


vem, inexoravelmente, tornando-se a infraestrutura dominante do
conhecimento. Precisamos descartar o ultrapassado e imprestável
modelo pedagógico industrial e adotar um modelo pedagógico reflexivo,
que valorize a aprendizagem colaborativa. Precisamos descartar a
sala de aula massificada conduzida por um professor pretensamente
onisciente, substituindo-a por uma sala de aula seletiva e participativa,
orquestrada por um competente professor orientador.

Conclusão
Os estudos sobre o futuro apontam para características
operacionais que estarão presentes nos combates do porvir: velocidades
de computação elevadíssimas (teravelocidades), meios ocupando
espaços mínimos (nanodimensão), os equipamentos serão complexos,
cognitivos e holísticos. Essas características sinalizam a direção do
desenvolvimento tecnológico e operacional. Joseph Bordogna, da US
National Science Foundation, defende que “ a Ciência e a Tecnologia são
forças transformadoras. Por essa razão, por esses campos emergentes,
territórios imprevisíveis, irão mudar e expandir as nossas capacidades
como engenheiros e inovadores”.
É bem provável que os engenheiros tenham que desenvolver
alguns predicados, tais como ser fabricante astuto, inovador confiável,
agente de mudança, mestre da integração, viabilizador de empresas, um
gerente de projetos tecnológicos e um domador do conhecimento. Eles
irão precisar bem mais do que habilidades científicas e técnicas. Além
dessas, os engenheiros irão necessitar lidar com sistemas complexos,
coordenando o emprego de imensas quantidades de tempo, dinheiro,
pessoal, conhecimento e tecnologia para um destino comum.
Todos os progressos nessas áreas – tera, nano, complexidade,
cognição, holismo, ciência do futuro e neurociência – irão estabelecer
a capacidade para um campo de projeto integrado muito além do que é
imaginável com a tecnologia atual.
As teravelocidades são tão elevadas que não temos a mínima ideia
do seu valor. Basta tentar imaginar a velocidade de um quatrilhão de
cálculos por segundo. Na verdade, ninguém talvez tenha a mínima ideia
do que seja um instante tão fugaz quanto esse.
Considerações finais

O
IME ostenta singular papel em minha vida. No campo
profissional, o laço é muito apertado. Durante uma
demonstração do sistema de foguetes 108 rotativos, conduzida
por professores e pesquisadores, alimentei a decisão de me tornar
engenheiro militar. Para entronar essa posição, escolhi o material bélico,
que assegurava o ingresso no Instituto sem concurso. Fui aluno, professor,
comandante e reitor dessa casa sagrada. Ainda hoje presto, com todo o
entusiasmo, apoio à sua divulgação em programa de entrevistas: O Voo
da Humanidade – Estação Futuro.
A grande história, no entanto, é a do IME, berço da Engenharia
Militar brasileira e herdeiro direto da Real Academia de Artilharia,
Fortificação e Desenho, terceira escola de engenharia do mundo e primeira
das Américas, criada em 1792 e suportada em seu funcionamento por
duas colunas básicas: a excelência e o pioneirismo. Durante 82 anos, nos
tempos da Colônia e do Império, constituiu-se na única escola brasileira
de engenharia. Em 1874, chamada de Escola Central, assumiu o nome
de Escola Politécnica e passou a ser um estabelecimento de ensino
inteiramente civil, desvinculando-se assim, em definitivo, de sua antiga
origem militar. A Escola Politécnica atingiu o apogeu de fama e prestígio
pela competência e valor das realizações de seus egressos. Em 1937,
ela passou a se denominar Escola Nacional de Engenharia. A partir da
mesma data, 1874, a versão militar da escola de engenharia seguiu sua
trajetória até o IME de hoje.
Hoje vivemos a chamada Revolução Tecnológica que alimenta os
fenômenos globalizantes, atuando em um mundo incerto e ambíguo,
dominado por sociedades que privilegiam a terceira esfera do poder – o
conhecimento.
216 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Esse passa a ser avidamente procurado, não somente para o


próprio crescimento ou a pura satisfação intelectual, mas sim com vistas
ao alargamento econômico e militar. Na atualidade, o conhecimento
tecnológico proporciona o acesso a bens e serviços, que fornecem a
fortaleza econômica e o poderio militar. Hoje, a vontade das nações,
instituições ou indivíduos é imposta a outras nações, instituições ou
indivíduos preferencialmente pelo poder do conhecimento. Se não for
suficiente, emprega-se o poder econômico. A força militar se constitui
como sempre na “ultima ratio”. Em suma, o conhecimento é hoje o
passaporte para a soberania.
A procura do conhecimento tem sido voraz. A ciência tem alargado
os horizontes da tecnologia, e o avanço tecnológico tem proporcionado
novos meios e equipamentos para a expansão do conhecimento
científico. Como consequência desse processo, a ciência tem se
subdividido em ramos especializados tornando cada vez mais difícil a
visão do conjunto. Estamos na fase analítica do acesso ao conhecimento.
Existe a necessidade urgente de se entrar na fase sintética, para que a
sociedade possa dar novos saltos evolutivos.
Neste início de século, a universidade assume uma posição de
liderança na sociedade moderna, garantindo a sobrevivência da raça
humana na superfície da Terra e atuando como agente conformador das
relações entre grupos de indivíduos.
Atualmente, a universidade lida com conhecimento científico
mais do que com o conhecimento tecnológico e realiza a transferência
do conhecimento científico e do conhecimento tecnológico de uso
irrestrito (o de uso restrito é manipulado por institutos de pesquisa e
por empresas).
Depois de tudo exposto, pode-se concluir que o século XXI verá a
universidade e, consequentemente, a escola de engenharia ampliarem
sua social função de:

– agente de transferência do conhecimento; e


– agente gerador e ampliador do conhecimento.

Ela passa a desempenhar também o papel de agente aplicador do


poder do conhecimento.
Notas
Introdução
1
AMARANTE, J. C. A. O Engenheiro Militar na Colônia. In: DOMINGOS
NETO, M. (Org.). O Militar e a Ciência no Brasil. Rio de Janeiro: Gramma,
2010.
2
DOMINGOS NETO, Manuel (Org.). O Militar e a Ciência no Brasil. Rio de
Janeiro: Gramma, 2010.
3
General de brigada José Carlos Albano do Amarante, comandante do
IME, O Ensino de Engenharia Militar no Brasil, palestra no Encontro
Anual da Associação Brasileira da Engenharia Militar

Capítulo 1 – Histórico do IME: suas raízes e sua estrutura


1
HISTÓRICO DO IME: SUAS RAÍZES E SUA ESTRUTURA. In: DOMINGOS
NETO, M. (Org.). O Militar e a Ciência no Brasil. Rio de Janeiro: Gramma,
2010
2
General de divisão; professor do Programa de Pós-Graduação em
Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense; pesquisador
do Núcleo de Estudos Estratégicos (Nest).
3
LUCENA, Luiz Castelliano. Um breve histórico do IME. Rio de Janeiro:
IME, 2005.
4
ENCICLOPÉDIA Britannica, vol. 6, 1978. p. 861.
5
LONGO, W.P. Ciência e Tecnologia e a Concentração do Poder. A Defesa
Nacional, Rio de Janeiro, n. 733, 25, 1987.
6
ENCICLOPÉDIA Britannica, op. cit., p. 864.
7
TELLES, P. C. S. História da Engenharia no Brasil – séculos XVI a XIX.
2 ed. Rio de Janeiro: Clavero, 1994, p 1-3; ENCYCLOPEDIA Britannica,
1978, v 3, p 177.
8
ALVES, J.V. Seis séculos de Artilharia. Brasil, [S.n], 1957, p 122.
218 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

9
SILVA, E. A. A História da Cartografia Brasileira – 500 Anos do
Descobrimento do Brasil pelos Portugueses. In: Congresso Brasileiro de
Pesquisadores Negros. Recife: Universidade de Pernambuco, 2000, p 8.
10
ADONIAS, I.; FURRER, B. Mapa: Imagens da Formação Territorial
Brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Emílio Odebrecht, 1993, p. 27.
11
TAVARES, A. L. A engenharia militar portuguesa na construção do
Brasil. Lisboa: Edições Speme, 1956, p. 46.
12
Ibidem, p. 199.
13
CURADO, S.C. O Ensino da Engenharia Militar no Brasil até a
Independência. In: Simpósio Comemorativo dos 300 anos da Criação
da Aula de Fortificação no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército, 1999.
14
“...ordeno ao sargento-mor desta praça José Velho de Azevedo proceda
em tudo o que se oferecer nela, nesta minha ausência e carecer de
remédio pronto...”, documento de 13 de ? de 1699, do Governador do
Maranhão, caixas do Pará do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU).
Em 1700, pediu folha corrida e, em 10 de Junho de 1701, o governador
certificou que estava servindo na Capitania.
15
CURADO, S.C. op. cit, p 1-20.
16
Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/Catarinense/
Efemerides/agosto.html >
17
MAROCCI, V.P. As Aulas de Engenharia Militar. A construção da
profissão docente no Brasil. Bahia: Cefet. Disponível em < http://www.
sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe4/individuais-coautorais/eixo02/
Gina%20Veiga%20Pinheiro%20Marocci%20-%20Texto.pdf.>.
18
CURADO, S. C., op. cit, loc. cit.
19
TAVARES, A. L., op. cit, p 118-174.
20
CURADO, S.C., op. cit., loc. cit.
21
Idem.
22
Colectanea de dados e factos chronologicos que se prendem à existência
do Arsenal desde o anno de 1733 até 1909 (Abril), Escriptorio da 2ª
Seção, Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, 1909.
23
WINZ, A.P. História da Casa do Trem. Parte I, Rio de Janeiro: Museu
Histórico Nacional, 1962, p 148.
24
TELLES, P.C. S., op. cit., p 87-89.
25
WINZ, A. P., op. cit., p. 148-150.
Notas 219

26
TAVARES, A. L., op. cit, p 183.
27
CURADO, S.C., op. cit., loc. cit.
28
COLLECTANEA.DE DADOS, Boletins de 1792-93.
29
LUCENA, L.C., op. cit, p. 21.
30
MOTTA, Jeovah. Formação do Oficial do Exército. Rio de Janeiro:
Biblioteca do Exército, 1998, p 21.
31
LUCENA, L.C., op. cit, loc. cit.
32
Military Academy of United States history. Disponível em: <http://
www.usma.edu/about.asp.>

Capítulo 2 – A Engenharia Militar e o desenvolvimento nacional


1
AMARANTE, J. C. A. A engenharia militar e o desenvolvimento nacional.
[Capítulo de livro comemorativo do cinquentenário da Escola Superior
de Guerra]. In: KRIEGER, E. M.; PEREIRA, C. P. F.; PEREGRINO, F. Agenda
Pública: As Forças Armadas e o Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Escola
Superior de Guerra, 1999.
2
LUCENA, L. C. Um breve histórico do IME. Rio de Janeiro: IME, 2005.
3
TAVARES, A. L., op. cit, p 1-40.
4
WINZ, A. P., op. cit., p. 177-208.
5
FORTALEZAS NO BRASIL. Disponível em: <http://www.universia.com.
br/especiais/fortalezas/brasil.htm.>
6
BARRETO, A. Fortificações do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército, 1958, p 14.
7
TELLES, P.C. S., op. cit., p 41.
8
Ibidem, p. 41-46
9
Idem.
10
BARRETO, A., op. cit., p. 88.
11
CAMPOS, J. S. Fortificações na Bahia. Rio de Janeiro: Sphan, v. 7, 1940.
p. 24.
12
TELLES, P.C. S., op. cit., p. 1-70.
13
CAPÍTULOS DE HISTÓRIA COLONIAL/IX. Disponível em <http://
pt.wikisource.org/wiki/Capítulos_de_História_Colonial/IX.> .
14
MANUEL DA GAMA LOBO D’ALMADA. Disponível em: <http://
pt.wikisource.org/wiki/Manuel_da_Gama_Lobo_d’Almada.>
15
TELLES, P.C. S., op. cit., p. 1-82.
16
BARRETO, A., op. cit., p. 131. A maioria dessas fortificações aparece
no mapa chamado de “Aparência de Pernambuco”, elaborado por João
220 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Teixeira Albernaz, o moço. In: ADONIAS, I.; FURRER, B. Mapa: Imagens


da Formação Territorial Brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Emílio
Odebrecht, 1993, pp. 180 e 394.
17
GRANDE ENCICLOPÉDIA Delta-Larrousse. Forte dos Reis Magos. Rio
de Janeiro: Delta SA, 1972.
18
O EXÉRCITO NA HISTÓRIA DO BRASIL. Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército; Fundação Emílio Odebrecht, 1998, p. 165-168.
19
TELLES, P.C. S., op. cit., p. 73.
20
O EXÉRCITO NA HISTÓRIA DO BRASIL, op. cit., p 269.
21
Ibidem, p 353.
22
ONAY, H. Resumo da História do Forte Coimbra. 3 ed mimeograf., [s.l.],
1979; HISTÓRIA DO EXÉRCITO BRASILEIRO, v. 1, p. 360; Leal, P. N. Cel
Ricardo Franco de Almeida Serra. Rio de Janeiro: Secretaria de Ciência e
Tecnologia do Exército, 1986.
23
MELLO, R. S. Para além dos bandeirantes. Biblioteca do Exército, 1968,
p. 99.
24
Ibidem, p 163.
25
SILVA, E. A, op. cit., p. 27-50.
26
ADONIAS, I.; FURRER, B. op. cit., p. 57-61.
27
O Mapa das Cortes e o Tratado de Madri: a cartografia a serviço
da diplomacia. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?pid=S0104-87752007000100004&script=sci_arttext.>
28
TRATADO DE TORDESILHAS (1494). Disponível em: <http://
pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Tordesilhas_(1494).>
29
TRATADO DE MADRID (1750). Disponível em: <http://pt.wikipedia.
org/wiki/Tratado_de_Madrid_(1750).>
30
SANJAD, N. As fronteiras do Ultramar: engenheiros, matemáticos,
naturalistas e artistas no Amazonas. Disponível em: < http://ler.letras.
up.pt/uploads/ficheiros/6166.pdf.>
31
LEME, A. P. S. Viagens e expedições. Disponível em <http://www.
cedope.ufpr.br/antonio_pontes.htm.>
32
TRATADO DE SANTO ILDEFONSO (1777). Disponível em: <http://
pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Santo_Ildefonso_(1777).>
33
MELLO, R. S., op. cit.
34
FRANCISCO XAVIER DE MENDONÇA FURTADO. Disponível em: <http://
pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Xavier_de_Mendonça_Furtado>;
Notas 221

Gomes Freire de Andrade. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/


wiki/Gomes_Freire_de_Andrade>
35
TELLES, P.C. S., op. cit., p. 64.
36
TRATADO DE EL PARDO (1761). Disponível em: <http://pt.wikipedia.
org/wiki/Tratado_de_el_Pardo_(1761).>
37
LEAL, P. N. O outro braço da cruz. Rio de Janeiro: CBAG, 1984.
38
Idem.
39
Idem.
40
JOÃO PEREIRA CALDAS. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/João_Pereira_Caldas.>
41
ADONIAS, I.; FURRER, B. op. cit., p 99.
42
Ibidem, p 117.
43
MORENO, D. C. Livro que dá razão do Estado do Brasil, 1612.
Disponível em <http://www.estantevirtual.com.br/mod_perl/info.
cgi?livro=21400478.> .
44
ADONIAS, I.; FURRER, B. op. cit., p. 214.
45
CINTRA, J. P. A primeira planta topográfica da cidade de São Paulo.
Escola Politécnica-USP. Disponível em: < http://www.cartografia.org.
br/xxi_cbc/178-C36.pdf.>
46
ADONIAS, I.; FURRER, B. op. cit., p. 233.
47
Ibidem, p. 270-309.
48
NAVEGAR É PRECISO, CONTA A HISTÓRIA DE PARANAGUÁ. Redação
de O Estado do Paraná. Disponível em: < http://www.parana-online.
com.br/editoria/almanaque/news/110067/.>
49
ADONIAS, I.; FURRER, B. op. cit., p. 276.
50
Ibidem, p. 374.
51
JOSÉ CUSTÓDIO DE SÁ E FARIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.
org/wiki/José_Custódio_de_Sá_e_Faria.>
52
ADONIAS, I.; FURRER, B. op. cit., p. 316.
53
Ibidem, p. 333-68.
54
FRANCISCO TOSI COLOMBINA. Disponível em: <http://www6.univali.
br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=236.>
55
ADONIAS, I.; FURRER, B. op. cit., p. 335.
56
TAVARES, A. L., op. cit, p 4-95.
57
JOSÉ DA SILVA PAIS. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/
José_da_Silva_Pais.>
222 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

58
Gomes Freire de Andrade. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/Gomes_Freire_de_Andrade.>
59
TELLES, P.C. S., op. cit., p. 43.
60
ADONIAS, I.; FURRER, B. op. cit., p. 140.
61
TELLES, P.C. S., op. cit., p. 71.
62
Ibdem, p 73.
63
Ibidem, p. 182.
64
Ibidem, p. 70-71.
65
WINZ, A. P., op. cit., p. 93.
66
TELLES, P.C. S., op. cit., p. 74.
67
FERREZ, Gilberto. O Rio de Janeiro e a defesa do seu porto. Rio de
Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1972.
68
TELLES, P.C. S., op. cit., p. 73.
69
Ibidem,p. 52-55.
70
Leal, Paulo Nunes, pp 1-16.
71
VIANNA JÚNIOR, W. S. O Governo Geral no tempo dos Felipes. XII
Encontro Regional de História. Rio de Janeiro: ANPUH, 2006. Disponível
em: <http://www.rj.anpuh.org/Anais/2006/conferencias/Wilmar%20
da%20Silva%20Vianna%20Junior.pdf.>
72
TOLEDO, B. L. A Ação dos Engenheiros Militares na Ordenação do
Espaço Urbano no Brasil. Colóquio “A Construção do Brasil Urbano”.
Lisboa: Convento das Arrábidas, 2000. Disponível em<http://revistas.
ceurban.com/numero4/capítulos/capítulo_08.htm.>
73
SOUSA, J.P.; REI, J.C.M. A formação em química de explosivos na
Academia Militar. Revista da Academia Militar. Disponível em: www.
academiamilitar.pt/proelium-n.o-9/formacao-em-química-de-
explosivos-na-academia-militar.html .
74
WINZ, A. P., op. cit., p. 75-153.
75
COLLECTANEA DE DADOS, Boletins de 1779/93
76
WINZ, A. P., op. cit., p. 213-254

Capítulo 3 – O ensino da Engenharia Militar no Brasil


1
Publicação: Saudação proferida pelo comandante do IME aos
participantes do congraçamento anual da Associação Brasileira de
Engenharia Militar, realizada no IME, em 08 de dezembro de 1999.
2
General de brigada engenheiro militar, comandante do IME.
Notas 223

3
ANAIS DA BIBLIOTECA NACIONAL, v. LIX, 1937, p. 237.
4
Da Coletânea de dados e fatos cronológicos que se prendem à existência
do Arsenal desde o ano de 1733 até 1909 (Abril), Arsenal de Guerra do
Rio de Janeiro, 1909, p. 4.
5
Idem nota 14.
6
WINZ, A. P., op. cit., p. 148.
7
TELLES, P.C. S., op. cit., p. 87.
8
ANAIS DA BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO, op. cit., p. 302.

Capítulo 4 – Do Colégio Militar do Imperador ao Sistema Colégio


Militar do Brasil ou de 1840 a 1998
1
REVISTA DO EXÉRCITO BRASILEIRO, v. 135, 4º Trimestre de 1998, p.
33-35.
2
General de brigada engenheiro militar, comandante do Instituto Militar
de Engenharia.
3
General de brigada, diretor do Ensino Preparatório e Assistencial.
4
O presente capítulo visa divulgar o embrião dos colégios militares
e a aguçar a curiosidade histórica de quantos se proponham a
esclarecer a vida do Colégio Militar do Imperador, criado em 1840.
Dele, pouco se sabe e raros militares do Exército o conhecem. O
general Francisco de Paula e Azevedo Pondé a ele se refere em dois
capítulos: “Aprendizado Industrial” e “A Indústria Militar antes da
Implantação da Imbel”. Os autores nos mostram um pouco desse
colégio, recordando sua história.
5
Várias palavras e expressões da época foram propositadamente
mantidas conforme constam da fonte bibliográfica: Decreto de 11 de
março de 1840, que cria o Colégio Militar do Imperador, encontrado na
Collectanea e Ligeiro Histórico do Arsenal de Guerra do Rio de 1773 a
1992, Escriptório da 2ª Secção. AGR, 31 Jul. 1922.
6
Farda que os soldados vestem quando estão na faxina; jaleco (segundo
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua
Portuguesa. 9ª impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira). Acreditam
os autores do capítulo que, nos dias de 1840, designava uniforme ou
simplesmente farda.
7
Desconhecido dos autores. Seria o domingo gordo, que antecede a
Quarta-Feira de Cinzas? Ou, quem sabe, o Domingo de Páscoa?
224 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

Capítulo 5 – A modernização do ensino no IME


1
Aula Inaugural do Instituto Militar de Engenharia, fevereiro de 1999.
PUBLICAÇÃO:
REVISTA DO EXÉRCITO BRASILEIRO, v. 137, pp. 28-34, 3º quadrim.,
2000.
REVISTA MILITAR DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA, v. XVI, n. 3, pp. 5-13¸ 3º
quadrim., 1999.
Reprodução de texto apresentado na participação do autor no Simpósio
Comemorativo dos 300 Anos da Aula de Fortificação no Rio de Janeiro,
promovido pelo Instituto de Geografia e História Militar do Brasil,
Instituto Militar de Engenharia e Biblioteca do Exército, realizado no
período de 9 a 11 de agosto de 1999. Apresenta as estratégias para
concretizar a modernização do ensino no IME, no contexto da acelerada
evolução científica e tecnológica e de um mundo globalizado.
2
General de brigada, reitor do IME.
3
AMARANTE, J.C.A. C&T e Sociedade. Notas de Aula da Escola de Estado-
Maior do Exército, 27 de Abr 1998.
4
TOFLER, A. A Terceira Onda. [s.l]: Bantam Books, 1980.
5
TOFLER, A., Previsões e Premissas. [s.l.], 1983.
6
AMARANTE, J.C.A. A Batalha de Robôs: um sonho exequivel? Military
Review, 2 trim., 1995.
7
ROTSTEIN, J. Brasil século XXI, 1996.
8
General de exército Gleuber Vieira, ministro do Exército, Aula Inaugural
no IME, Fev 1996.

Capítulo 6 – Um projeto de visão humanística em escola de


engenharia
1
REVISTA MILITAR DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA, v. XVI, n. 2, pp. 4-11, 2º
quadrim., 1999.
2
General de brigada engenheiro militar, PhD, reitor do IME. Coronel
QEM/QEMA, D.C., chefe da Divisão de Ensino e Pesquisa do IME
3
AMARANTE, J. C. A. C&T e Sociedade. Notas de Aula ministrada no
Instituto Militar de Engenharia, em 1998.
4
ENCYCLOPEDIA Britannica, op.cit., p. 809-816.
5
AMARANTE, J. C. A. A Modernização do Ensino no IME. Aula inaugural
proferida em 26 de fevereiro de 1999.
6
Página na Internet do IME (www.ime.eb.br).
Notas 225

7
LEI nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional.
8
FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
9
PLANO GERAL DE ENSINO E PESQUISA DO IME, de 1999.
10
RELATÓRIOS diversos da Seção.

Capítulo 7 – Metas do plano de modernização do IME para o ano


letivo de 2000
1
Aula Inaugural do ano letivo de 2000.
2
General de brigada reitor e comandante do IME.

Capítulo 8 – O IME no alvorecer do século XXI


1
Publicação: A Defesa Nacional, nº791, pp. 10-23, Rio de Janeiro, ADN:
3º Quadrimestre de 2001 Aula Inaugural do Ano Letivo de 2001 (xx/
yy/2001); e foi selecionado pelo PADECEME.
* General de brigada, comandante do IME
2
AMARANTE, J. C. A. C&T e Sociedade, Notas de aula. Rio de Janeiro:
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, 2001
3
LONGO, W.P. Ciência e Tecnologia e a Concentração do Poder. Rio de
Janeiro: A Defesa Nacional, 733, 25 (1987)
4
AMARANTE, J.C.A. As Funções Tecnológicas de Combate em guerras
do passado, do presente e do futuro. In: SILVA FILHO, E.B; MORAES,
R. F. (Org.). Defesa Nacional para o século XXI, Política Internacional,
Estratégia e Tecnologia Militar. Rio de Janeiro: Ipea, 2012.
5
LONGO, W.P. “A visão internacional e o papel dos institutos de pesquisa”,
Congresso ABIPTI (2000; Fortaleza (CE)).
6
LONGO, W.P. A visão internacional e o papel dos institutos de pesquisa.
In: Congresso ABIPTI, 2000, Fortaleza.
7
PIMENTEL, S. L. Método Lusitânico de Desenhar as Fortificações das
Praças Regulares e Irregulares. Lisboa: [s.n.], 1680.

Capítulo 9 – Engenharia de Defesa: o mais novo programa de pós-


graduação do Instituto Militar de Engenharia
1
BRASIL. Exército Brasileiro. Diretrizes para a Reestruturação do Ensino
Militar Científico-Tecnológico Departamento de Ciência e Tecnologia.
Brasília, 2005a.
226 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

2
BRASIL. Portarias números 124 e 126 do Estado-Maior do Exército,
de 29 de agosto de 2006. Criação do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Defesa no IME. EME: Brasília, 2006b.
3
BRASIL. Decreto nº 5.484, de 30 de junho de 2005. Política de Defesa
Nacional. Ministério da Defesa: Brasília, 2005b.
4
BRASIL. Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Estratégia
Nacional de Defesa. 2 ed. Ministério da Defesa: Brasília, 2008.
5
FERREIRA, A. M. Sistemas de Combate do Futuro: Elementos para a
Formulação Conceitual. 2004. Curso de Direção para Engenheiros
Militares, Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro,
2004.
6
ACOCELLA, E. C.; Áreas de conhecimento tecnológico de interesse do
Exército Brasileiro; Monografia (Especialização) - Curso de Política
Estratégia e Altos Estudos Militares, Escola de Comando e Estado-Maior
do Exército: Rio de Janeiro, 2004.
7
BRASIL. Decreto nº 5.484, de 30 de junho de 2005. Política de Defesa
Nacional. Ministério da Defesa: Brasília, 2005b.
8
BRASIL. Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Estratégia
Nacional de Defesa. 2 ed. Ministério da Defesa: Brasília, 2008. Disponível
em: <https://www.defesa.gov.br/eventos_temporarios/2009/
estrategia/arquivos/estrategia_defesa_nacional_portugues.pdf>.
Acesso em: 21 de setembro de 2009.
9
BRASIL. Capes/MEC: Plano Nacional de Pós-Graduação, PNPG 2005-
2010. Brasília, 2004.
10
ACOCELLA, E. C. A Postura Estratégica Dissuasória e os Objetivos
para a Ciência, Tecnologia e Inovação de Interesse da Defesa Nacional.
PADECEME, 2006, 11, 76.
11
Borges Jr, I., Pellanda, P. C. e Ronzani, E. R.; Proposta do Programa de
Pós-Graduação em Engenharia de Defesa - PGED. Instituto Militar de
Engenharia, Rio de Janeiro, 2006.
12
PELLANDA, P. C. A Pós-Graduação em Engenharia de Defesa no
Contexto do Sistema de Ciência e Tecnologia do Exército Brasileiro. 2008.
Dissertação de Mestrado em Ciências Militares, Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2008.
13
BRASIL. EME: Plano Básico de Ciência e Tecnologia do Exército 2007-
2010, Brasília, 2006.
Notas 227

Capítulo 10 – A Engenharia de Defesa: Curso de Especialização


1
Trecho do item “A Universidade e o Poder do Conhecimento”, contido
no capítulo 8, “O IME no alvorecer do século XXI”, desta publicação.
2
Idem.

Capítulo 12 – O IME no século XXI


1
AMARANTE, J. C. A. O IME no século XXI. Submetido à publicação na
Revista Meira Mattos.
2
AMARANTE, J. C. A. A Tecnologia Militar – Repercussões da Guerra do
Golfo. Rio de Janeiro: A Defesa Nacional, nº755, jan-mar, 1992.
3
Admiral Owens, William, “System of systems”, Institute National
Security Studies, 1996. Disponível em <techdigest.jhuapl.edu/td/
td1703/manthorp.pdf>
4
UNITED STATES OF AMERICA. Department of Defense. “The
implementation of network-centric warfare”. Washington, D.C.,
2005. Disponível em: <http://www.oft.osd.mil/library/library_files/
document_387_NCW_Book_LowRes.pdf>. Acesso em: 10 abr 2012.
5
PELLANDA, P.C., op. cit.
6
CLARKE, Richards A.Cyber War, Harper Collins, 2010.
7
BERTALANFFY, L. Von. A Teoria Geral dos Sistemas. Rio de Janeiro:
Vozes,1968.
8
GALLAGHER, M. Especialistas temem guerra cibernética no futuro.
BBC, London, 30 abr. 2012. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/
portuguese/noticias/2012/04/120430_cyberguerra_futuro_fn.shtml>.
9
AMARANTE, J.C.A. As Funções Tecnológicas de Combate em Guerras
do passado, do presente e do futuro. In: SILVA FILHO, E.B; MORAES,
R. F. (Org.). Defesa Nacional para o século XXI, Política Internacional,
Estratégia e Tecnologia Militar. Rio de Janeiro: Ipea, 2012.
10
AMARANTE, J.C.A. O voo da humanidade e as 101 tecnologias que
mudaram a face da Terra. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2009.
11
BORDOGNA, J. The 21st Century Engineer, US National Science
Foundation, IEEE Search Spectrum, 01/03/2001
12
http://blogs.estadao.com.br/ethevaldo-siqueira/2010/07/08/um-
quatrilhao-de-calculos-por-segundo/
13
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do Estado Sólido. São Paulo: Unicamp, 2005, Disponível em: < <http://
228 Instituto Militar de Engenharia - Uma ponte para o futuro

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14
MARIOTTIH. Complexidade e Pensamento Complexo: Breve
Introdução e Desafios Atuais. Disponível em: < http://www.geocities.
com/pluriversu/portugal.html
15
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16
AMARANTE, J.C.A. The Automated Battle: A Feasible Dream? USA.
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17
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Royal United Services Institute (RUSI) conference “C4ISTAR Achieving
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18
MOFAT,J. Complexity Theory and Network Centric Warfare, The
Stationery Office, London, UK, 2002.
19
FORDER, R. The Future of Defence Science, 5, nº2, pp. 215-226, 2000.
20
http://www.citi.pt/educacao_final/trab_final_inteligencia_artificial/
cognicao.html
21
http://www.uesc.br/cpa/capítulos/reducionismo_holismo.pdf
22
Extraído de capítulo de mesmo título publicado na Revista do Clube
Militar.
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WINZ, A. P. História da Casa do Trem. Rio de Janeiro: Museu Histórico


Nacional, 1962.
Composição e diagramação Byte Systems - Soluções Digitais
Quantidade de páginas 252 páginas
Formato 16 x 23 cm
Mancha 29 x 45 paicas
Tipologia Cambria
Corpo/entrelinha 11,5/14,5
Papel do miolo Pólen Sóft 80g
Papel de capa Cartão Supremo 240g (plastificada)
Impressão e acabamento Ediouro Gráfica

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