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A história dos cuidados paliativos e seus

fundamentos

Apresentação
Os Cuidados Paliativos (CP) podem ser compreendidos como um conjunto de medidas e ações que
tem por objetivo promover a qualidade de vida de pacientes e seus familiares que enfrentam
doenças sem possibilidade de cura ou que ameacem a vida. A Organização Mundial de Saúde
(OMS), em 2002, definiu os CP como uma forma de assistência que objetiva a avaliação cuidadosa
de sinais/sintomas que afetam a saúde física, social, mental, emocional e espiritual de pacientes e
seus familiares.

A adequada gestão e execução dos Cuidados Paliativos deve ser realizada por meio de uma equipe
multidisciplinar para garantir ao paciente e seus familiares qualidade de vida e cuidados
humanizados até o final de vida. A equipe mínima é formada por médico, enfermeiro, psicólogo,
assistente social e profissional de reabilitação.

É essencial entender que os Cuidados Paliativos iniciam no momento do diagnóstico do paciente


até seu momento de terminalidade de vida. E esta condição de terminalidade deve ser respeitada e
acolhida de maneira humanizada por profissionais da saúde e familiares envolvidos no cuidado.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá o início dos cuidados paliativos, como tudo
começou até os dias atuais, e a morte e o morrer longe de muitos paradigmas. Além disso, para
realizar os cuidados paliativos em sua totalidade, você entenderá que não é possível fazer esse
trabalho sozinho, é necessária uma equipe multidisciplinar dada a complexidade desse cuidado.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Descrever a história dos Cuidados Paliativos.


• Reconhecer a importância de aceitar a morte como processo natural e respeitar a autonomia
do paciente.
• Explicar quais são as atribuições desenvolvidas pela equipe multidisciplinar nos Cuidados
Paliativos.
Desafio
O trabalho da equipe multidisciplinar é essencial para a melhor condução da assistência em
Cuidados Paliativos. Paciente e familiar são integralmente beneficiados pelos conhecimentos
específicos de cada um dos profissionais e pela interação de todos em prol da qualidade de vida
dessas pessoas.

Diante dessa situação, responda:

a) O que você, como enfermeiro, poderá fazer por esse paciente e seu familiar, focando no conceito
de Cuidados Paliativos?

b) Como os demais profissionais da equipe multidisciplinar poderão ajudar esse paciente e seu
familiar atuando na melhora da qualidade de vida?
Infográfico
A complexidade dos cuidados paliativos exige que o ser humano seja visto de forma integral, por
isso é imprescindível que cada profissional da saúde, componente dessa equipe, tenha seu papel
bem definido. Além disso, a contribuição coletiva para garantir a qualidade de vida de paciente e
familiar inicia nas atribuições e contribuições que esses profissionais fazem ao longo do cuidado
paliativo.

Veja, a seguir, no Infográfico, quais são esses profissionais pertencentes à equipe de cuidados
paliativos, bem como suas respectivas atribuições. Assim, você será capaz de refletir sobre a
importância desses profissionais para garantir um cuidado adequado para paciente e familiar.
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Conteúdo do livro
Conhecer sobre a história dos Cuidados Paliativos (CP) é compreender como esse cuidado se
torna essencial para pacientes que estão diante da terminalidade ou de problemas de saúde que
ameaçam a vida. Além disso, deve-se levar em conta a importância de aceitar a morte como um
processo natural e respeitar a autonomia do paciente.

No capítulo A história dos cuidados paliativos e os fundamentos, da obra Princípios dos cuidados
paliativos, você irá estudar sobre a história dos cuidados paliativos e conhecer quais são as
atribuições desenvolvidas pela equipe multidisciplinar nos Cuidados Paliativos.

Boa leitura.
PRINCÍPIOS
DOS CUIDADOS
PALIATIVOS

Karine Mendonça
Rodrigues
A história dos cuidados
paliativos e os seus
fundamentos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever a história dos cuidados paliativos.


„„ Reconhecer a importância de aceitar a morte como processo natural
e respeitar a autonomia do cliente.
„„ Explicar quais são as atribuições desenvolvidas pela equipe multidis-
ciplinar nos cuidados paliativos.

Introdução
Nos cuidados paliativos (CP), é necessário que se trabalhe com uma
equipe multidisciplinar, devido à complexidade do cuidado no final da
vida. Cada profissional da saúde tem um papel essencial para a melhoria
da qualidade de vida do paciente e dos seus familiares, portanto, deve-
-se explicar quais as atribuições desenvolvidas por essa equipe nos CP.
Neste capítulo, você estudará a história dos CP, compreendendo
como eles são essenciais para pacientes diante da terminalidade ou de
problemas de saúde que ameacem a vida. Além disso, você conhecerá
a importância de aceitar a morte como um processo natural e respeitar
a autonomia do cliente.

História dos cuidados paliativos


O primeiro marco da história dos CP, de forma estruturada, aliando cuidados
clínicos, pesquisa e formação, foi por meio de Cicely Saunders com um paciente
acometido por um câncer terminal, no final dos anos de 1950, em Londres.
Ela teve o desafio de tentar conduzir adequadamente o controle da dor e dos
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demais sintomas que o afetavam e, desse encontro, criou-se o primeiro hospice


na cidade, em 1967, o Christopher’s Hospice. No entanto, deve-se revisitar
também os cuidados com pessoas em processo de terminalidade antes dessa
constituição estruturada e investigativa da história moderna.
Por muito tempo, nos séculos a.C., considerava-se perigoso tratar ou cuidar
de um paciente em leito de morte, pois havia a crença de que poderia se receber
um castigo por desafiar as leis da natureza. A morte não poderia ser desafiada
e, por isso, não era ético que os médicos atendessem esse tipo de doente.
Após a difusão do cristianismo, passou-se a acolher e ajudar pessoas doen-
tes e desfavorecidas como um compromisso cristão. Portanto, foram criados
lugares que abrigavam peregrinos e, ao longo do tempo, aceitavam moribundos
nos hospititium, termo em latim do qual derivou a palavra hospice dando o
sentido de hospitalidade e atendimento aos pacientes em terminalidade, como
se entende na atualidade.
Já no século XI, os cruzados pensavam ter criado as primeiras casas para
pacientes incuráveis por meio da Ordem dos Cavaleiros Hospitaleiros. No
período da Idade Média, surgiram diversas instituições para abrigar doentes
terminais, sendo sua maioria de carisma religioso. Essa expansão teve seu
ápice por quase quatro séculos até a diminuição da influência das ordens
religiosas devido à Reforma Protestante.
Apenas no século XIX surgiram locais próprios para o cuidado de pacientes
em terminalidade, os quais seguiram associados às ordens religiosas, tendo duas
grandes referências: Mary Aikenhead e Jeane Garnier. Garnier fundou a ordem
Association des Dames du Calvaire, que, em 1843, instituiu o primeiro local
especializado para doentes moribundos localizado em Lyon. Já Aikenhead,
da ordem Irish Sisters of Charity, fundou a Our Ladys´s Hospice for the Dying
em Dublin, em 1879. Posteriormente, em 1893 e 1905, fundou-se o St. Kuke’s
Home e o St. Joseph’s Hospice em Londres. Em todas essas instituições, o
foco era o alívio sintomático das doenças do ponto de vista clínico.
Foi no século XX que Cicely Saunders, focando o cuidado e tratamento
direto para o doente, observou e concluiu que a terminalidade da vida estava
sendo ocultada do prognóstico, bem como a forma de lidar com a morte,
negada pela sociedade. Assim, Saunders engajou-se no movimento moderno
dos hospices e, em 1969, criou o programa de CP domiciliários, que teve como
diferencial o foco em novas competências além do controle da dor, compre-
endendo outros problemas associados à terminalidade, incluiu a família nos
cuidados do paciente e forneceu meios de formação e investigação do CP.
Na década de 1980, a Organização Mundial da Saúde (OMS) promoveu
um programa de CP para pacientes oncológicos, iniciando o Cancer Pain and
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Palliative Care e o Palliative Cancer Care, sendo estes as primeiras recomenda-


ções sobre cuidados terminais para pessoas com câncer. Ainda nesse período,
surgiram iniciativas em diversos países, como Austrália, Nova Zelândia,
Bélgica, China, Polônia, Reino Unido e Romênia. No Zimbábue e África do
Sul, foram criadas as primeiras unidades de CP.
Em 1999, criou-se a International Association for Hospice and Palliative
Care, a Hospice Association of South Africa e a European Association for
Palliative Care. Já neste século, são fundadas a Foundation for Hospices in
Sub-Saharan Africa, a Latin American Association for Palliative Care e o
United Kingdom Forum for Palliative Care Worldwide, pela organização
Help the Hospices.
A OMS, em 2002, lançou a mais recente definição de CP, consensual até
hoje, afirmando que visam à qualidade de vida dos pacientes, e seus familiares,
com doenças sem possibilidade de cura e que ameacem a vida, respeitando
e priorizando os aspectos físicos, sociais, emocionais, mentais e espirituais.
Em razão desse conceito, foram elaborados os documentos Better Palliative
Care for Older People e Palliative Care: The Solid Facts, incluindo doenças
crônicas progressivas nas políticas de saúde para o envelhecimento.
Já em 2014, após a 67ª assembleia da OMS, foi elaborado o documento sobre
CP com um componente que compreende o cuidado ao longo da vida, o qual se
tornou muito relevante para os princípios dos CP, pois amplia sua compreensão
e passa a dar igual atenção às necessidades do paciente desde o diagnóstico até
o pós-morte. Há um movimento amplo em direção à integralidade do cuidado
voltado para a pessoa e não apenas para a patologia e as consequências esperadas.
Nesse ano, surge ainda a Declaração Europeia de Cuidados Paliativos.
Ao longo da história, o cuidado com o doente em terminalidade se desen-
volveu de forma local até ser disseminado por todos os continentes, contando,
atualmente, com mais de 115 países que têm serviços de CP. Em todas as
antigas e atuais iniciativas de cuidado voltadas ao paliativismo, nota-se que
o paciente sempre necessitou de mais de um profissional e seus cuidados para
que pudesse ter um tratamento melhor qualificado.

Conheça mais sobre o sentido dos CP por meio da história apresentada no link a seguir.

https://goo.gl/uFkpzs
4 A história dos cuidados paliativos e os seus fundamentos

Morte como um processo natural — respeitando


a autonomia do paciente
Um dos paradigmas em CP, no contexto atual, é afirmar que a morte faz parte
da vida e se trata de um fenômeno fisiológico, no qual, quando iniciada, não
há como revertê-la. O desafio dos profissionais da saúde está em lidar com o
processo de terminalidade e a morte como eles realmente são, abordando-os
de forma humanizada e clara.

Morte como um processo natural


A boa comunicação com o paciente e a sua família ajuda a compreender e
conduzir melhor o tratamento durante este período repleto de dúvidas, medos
e adaptações. Deve-se ter conhecimento técnico associado à percepção do ser
humano como agente de sua história de vida e determinante do seu curso de
adoecer e morrer.
Cada ser humano deve ser acolhido e respeitado por suas escolhas, crenças,
história do curso da doença e história de vida, bem como as reações fisio-
lógicas relacionadas à doença e ao tratamento, por exemplo, as emocionais,
culturais e espirituais diante do adoecer e morrer. Já os familiares precisam
ser orientados e educados para entenderem a evolução da doença, como esse
processo se instala e afeta o paciente e seus entes próximos. A abordagem
direta e clara, tratando a morte com naturalidade, permeia o gerenciamento
dos CP do diagnóstico à morte.
A equipe multidisciplinar tem o desafio de avaliar o paciente e seu familiar
de forma integral, manter o foco nas suas queixas principais e ocultas, tentando
aliviar seu sofrimento, e buscar sua qualidade de vida. Diante do desafio de
abordar os vários aspectos do sofrimento humano, focando em objetivos claros
que possam aliviar e preparar o paciente e sua família durante o processo de
morte, surgiu uma ferramenta para sistematizar o raciocínio dessa equipe.
Assim, em 2008, foi construído por profissionais do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo um instrumento
chamado diagrama de abordagem multidimensional (DAM).
O ser humano deve ser entendido como um ser indivisível, que se afeta
pelo ambiente e por suas relações, contudo, para sistematizar a assistência de
saúde, pode-se avaliá-lo por dimensões, como física, familiar/social, psíquica e
espiritual. O diagrama está dividido em quatro quadrantes, e o centro contém
as características do paciente nas respectivas dimensões.
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O centro da análise do DAM é o paciente, e a esfera a ser percebida a


seguir se trata do seu sofrimento, percebendo se este pode ser atual, para ser
aliviado, ou futuro, para ser prevenido. Você deve considerar ainda que nem
sempre o sofrimento é do paciente, mas, sim, uma projeção deste da família e
da equipe. A esfera seguinte compreende as atitudes a serem tomadas diante
dos sofrimentos identificados. Já na parte externa do diagrama, encontram-se
objetivos a serem atingidos, os quais nem sempre serão realizados por muitos
fatores externos.
O DAM não é um protocolo a ser preenchido, mas, sim, uma forma de
raciocínio para guiar a equipe de CP. Durante uma discussão multiprofissional
de caso, pede-se que o paciente preencha a esfera central com seus dados, a
segunda esfera com seus respectivos sofrimentos e, por fim, as atitudes dessa
equipe. Assim, pode-se perceber facilmente o quanto determinados sofrimen-
tos se refletem em outras dimensões e diferenciar aspectos que possam ser
confundidos levando a equipe a atitudes não produtivas.

Autonomia do paciente
Mesmo que se realize os CP voltados para a qualidade de vida do paciente
terminal, há direitos, vontades e desejos que devem ser respeitados dada a
sua vontade. Não é pouco comum que alguns, após um tempo em CP, tenham
planos e desejos relacionados à organização do futuro dos familiares que fica-
rão vivos, bem como optem por cumprir ou não, aceitar ou não determinados
tratamentos de saúde.
Por mais que alguns pacientes passem muitos anos em boas condições físicas
e emocionais, apesar da evolução da doença, outros veem, em tratamentos
sem mais resultados, medicações com efeitos colaterais fortes e dores de mais
difícil controle, sinais para não continuarem investindo nessas e em outras
opções. Portanto, é necessário pensar em questões éticas que possam permitir
sua autonomia para gerenciar sua terminalidade.
Um ponto importante sobre a autonomia do paciente no seu processo de
doença e terminalidade é organizar as decisões das mais simples as mais com-
plexas, envolvendo a equipe multidisciplinar. As questões como alimentação,
mantendo, reduzindo ou cessando a administração de dieta para reduzir a dor
e os sintomas; interrupção de terapias como quimioterapia e radioterapia para
minimizar os efeitos colaterais em casos já sem resultados terapêuticos ou
escolha de analgesias mais potentes com intervalos menores; e autorização
para não executar medidas invasivas são situações em que a pessoa deve ser
consultada sempre que tiver condições para isso.
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Para que se possa priorizar uma “boa morte”, é preciso explicar claramente
conceitos como distanásia, eutanásia e ortotanásia. No primeiro, tem-se o
processo de morte em si; no segundo, há a antecipação da morte, a partir de
uma ação que conduz a ela com o intuito de causar a morte tranquila, porém,
trata-se de um crime de homicídio, de acordo com Código Penal Brasileiro,
art. 121; já no terceiro, nenhuma ação é praticada, deixa-se o paciente morrer,
com uma ação omissa ao contrário da eutanásia, que dispõe sempre de uma
ação (BRASIL, 1940).
Em casos nos quais o médico não tem mais opções de tratamento que
possam reverter a evolução e o prognóstico da doença, optando-se por cessar
tratamentos e procedimentos, não se pode enquadrar como crime, ou euta-
násia. Para a prática da ortotanásia, o paciente, quando lúcido e orientado, e
os familiares devem ser orientados pelo médico quanto ao seu prognóstico,
à sua limitação e a essa opção. Havendo a aceitação e o consenso de ambos,
pode-se atender à ortotanásia.
Sempre que tiver condições, o paciente é responsável por decidir seu trata-
mento e acompanhamento da doença. Além dessa autonomia, ele tem direito a
conduzir seu processo de terminalidade em todos os aspectos que considerar
relevantes, como:

„„ ver ou rever entes queridos e familiares;


„„ não ter contato com conhecidos e/ou familiares;
„„ manter seu diagnóstico, prognóstico e suas decisões em confidencia-
lidade com as pessoas que escolher;
„„ buscar momentos de religiosidade, auxílio religioso por meio de lide-
ranças religiosas ou, ainda, recusar-se a receber intervenções religiosas;
„„ ter diretivas antecipatórias, como desejos expressos em relação ao pós-
-morte que pode envolver testamentos, decisões sobre cuidados com
corpo, enterro e cremação, bem como à sua morte;
„„ sentir necessidade de rever questões de sua vida, reavaliar decisões e
afetos;
„„ escolher onde gostaria de passar seu tempo, se em casa e com quem
gostaria de estar.

Portanto, o respeito pelas decisões pessoais inclui crenças religiosas,


filosóficas, escolha de tratamento, interrupção de procedimentos, acom-
panhamento dos familiares ou não e gestão de como quer ser tratado pelo
problema nos CP.
A história dos cuidados paliativos e os seus fundamentos 7

Você pode estudar mais sobre a eutanásia e seus principais conceitos no link a seguir.

https://goo.gl/DcjANZ

Atribuições desenvolvidas pela equipe de


cuidados paliativos
Devido à complexidade dos CP, é preciso que diversos profissionais de saúde
se envolvam no cuidado do paciente para garantir sua qualidade de vida
durante a terminalidade. A seguir, você pode ver os membros dessa equipe e
os respectivos papeis desempenhados, de acordo com a Academia Nacional
de Cuidados Paliativos (CARVALHO; PARSONS, 2012).

„„ Médico: deve realizar os diagnósticos clínicos, conhecer a doença, sua


história natural, os tratamentos já realizados e qual a evolução esperada
para aquele paciente naquele momento. Quando necessário, precisa fazer
contato com médicos de outras especialidades, que já trataram ou ainda
estejam tratando o indivíduo, para discutir uma conduta específica.
Além de propor tratamentos que sejam adequados para seu momento
de vida e garantir não apenas o alívio de sintomas desconfortáveis,
como também a dignidade de vida até a morte.
„„ Enfermeiro: é responsável pela avaliação sistemática dos sinais e sintomas
do paciente, atua com a equipe multiprofissional no estabelecimento de
prioridades para cada doente/familiar, mediador da dinâmica familiar e,
sobretudo, do reforço das orientações clínicas, a fim de que os objetivos
da equipe multidisciplinar sejam atingidos. Aborda também cuidados
sensíveis e de educação, que demandam ações de proximidade física
e de acolhimento para que muitas orientações se efetivem na prática.
„„ Psicólogo: garante que as necessidades do paciente, do familiar e da
equipe possam ser reconhecidas e atendidas pela articulação de ações
de diferentes naturezas. Pode oferecer escuta clínica qualificada
aos que desejam falar, buscando por esse meio contribuir para a
elaboração das vivências associadas ao adoecimento. Para tanto,
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o ideal é que esse acompanhamento psicológico se inicie o mais


precocemente possível.
„„ Assistente social: deve conhecer o paciente, a família e os cuidadores
considerando os aspectos socioeconômicos, buscando informações e
orientações legais, burocráticas e de direitos, indispensáveis para a
condução do cuidado ao paciente e a garantia de morte digna. Cabe
a ele também avaliar as condições da rede de suporte social dos
envolvidos, para que possam ser acionados em situações necessárias;
conhecer e estabelecer uma rede intrainstitucional, no intuito de garantir
atendimento preciso ao doente, além de atuar como interlocutor entre
este/a família e a equipe nas questões relacionadas aos aspectos culturais
e sociais que envolvem o cuidado de forma geral.
„„ Nutricionista: avalia o cuidado nutricional necessário em todos os
estágios da doença em consonância com a estratégia terapêutica. Em
CP, a nutrição tem um importante papel preventivo, possibilitando meios
e vias de alimentação, reduzindo os efeitos adversos provocados pelos
tratamentos, retardando a síndrome anorexia-caquexia e rememorando
o alimento. Quanto aos manejos físicos, ela auxilia no controle de
sintomas, procura manter a hidratação satisfatória, bem como preserva
o peso e a composição corporal.
„„ Fisioterapeuta: oferece suporte para que os pacientes vivam de maneira
ativa, com qualidade de vida, dignidade e conforto, além de auxiliar
os familiares na assistência a eles, no enfrentamento da doença e no
luto. Institui o plano de assistência para ajudá-los a se desenvolver,
facilitando a adaptação ao progressivo desgaste físico.
„„ Fonoaudiólogo: auxilia o paciente a atingir e manter o seu máximo
potencial físico, psicológico, social e espiritual. Medicações,
quimioterapia, radioterapia e quadros de imunodepressão podem causar
alterações de deglutição (disfagia), náuseas e vômitos, odinofagia,
anorexia, desidratação, alteração do nível de consciência e alterações
de comunicação, os quais são de domínio da fonoaudiologia.
„„ Terapeuta ocupacional: companha o paciente, tendo na organização
da rotina e na diminuição dos estímulos uma maneira de propiciar
conforto. Ajuda-o a manter suas atividades significativas a partir
de recursos como música e leitura, trazendo maior acolhimento e
conforto a ele. Em relação ao familiar, pode ajudar em despedidas,
expressão de sentimentos e emoções, bem como abertura de novos
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canais de comunicação, por meio de atividades. O acompanhamento


de luto, pós-morte, é parte integrante da assistência terapêutica
ocupacional.
„„ Assistente espiritual: oferece o atendimento espiritual como parte
do atendimento de saúde, permitindo ao beneficiado expressar seus
sentimentos e suas emoções, bem como conversando abertamente sobre
a morte. Ajuda o paciente a participar de todas as decisões referentes
ao seu tratamento e aos desejos finais.
„„ Dentista: controla as infecções buco-dentais por meio de prevenção
ou tratamento curativo, pois são fontes potenciais de complicações
locais e sistêmicas devido à bacteremia. Contribui, ainda, fornecendo
intervenções que assegurem uma boca mais saudável, livre de infecção
e dor.

Assista a um vídeo que mostra a importância da equipe multidisciplinar no link a seguir.

https://goo.gl/umcHja

BRASIL. Ministério da Justiça. Decreto-Lei Nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código


Penal. Casa Civil - Presidência da República. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 7 nov. 2018.
CARVALHO, R. T.; PARSONS, H. A. (Orgs.). Manual de cuidados paliativos ANCP: ampliado
e atualizado. 2. ed. 2012. Rio de Janeiro: ANCP, 2012. Disponível em: <http://biblioteca.
cofen.gov.br/wp-content/uploads/2017/05/Manual-de-cuidados-paliativos-ANCP.pdf>.
Acesso em: 24 out. 2018.
MAJCZAK, J. A. Dor total em cuidados paliativos: percepções do enfermeiro na perspectiva
da ética do cuidado. 2018. 81 f. Dissertação (Mestrado em Bioética)– Escola de Ciências da
Vida da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2018. Disponível em: <http://
www.biblioteca.pucpr.br/pergamum/biblioteca/img.php?arquivo=/000069/000069db.
pdf>. Acesso em: 24 out. 2018.
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Leituras recomendadas
CAMPBELL, M. L. Cuidados paliativos em enfermagem: nurse to nurse. Porto Alegre:
AMGH; Artmed, 2011. 296 p.
CARVALHO, R. T. et al. (Ed.). Manual da residência de cuidados paliativos: abordagem
multidisciplinar. Barueri: Manole, 2018. 1056 p.
DEL RÍO, M. I.; PALMA, A. Cuidados Paliativos: historia y desarrollo. Boletín de la Escuela
de Medicina de la Universidad Católica de Chile, Santiago, v. 32, n. 1, p. 82-88, 2007. Dis-
ponível em: <http://publicacionesmedicina.uc.cl/Boletin/20071/CuidadosPaliativos.
html>. Acesso em: 24 out. 2018.
STERNSWARD, J.; CLARK, D. Palliative medicine: a global perspective. In: DOYLE, D. et
al. (Eds.). Oxford textbook of palliative medicine. 3. ed. Oxford: Oxford University Press,
2004. p. 1199-1224.
Conteúdo:
Dica do professor
Fica evidente na abordagem em Cuidados Paliativos a necessidade de se ter uma equipe
multidisciplinar que possa atuar de forma integrada. Avaliar as necessidades do paciente e
do familiar é o ponto crucial para que se possa garantir um tratamento e um cuidado de
qualidade que foquem na vida do paciente. A contribuição individual de cada profissional da saúde
se soma ao cuidado e à visão integral do paciente. Além disso, em cuidados paliativos é preciso
primar pela comunicação clara, quebra de paradigmas sobre a morte e o morrer e educar o paciente
e seus familiares para lidarem com a terminalidade de forma natural.

A Dica do Professor, a seguir, traz uma reflexão a respeito de como a equipe pode prestar
assistência adequada para paciente e familiar, de acordo com os princípios dos cuidados paliativos.

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Exercícios

1) Ao longo da história, os cuidados com moribundos foram evoluindo e sofrendo mudanças


até que se criaram estabelecimentos específicos para esse tipo de paciente. Assinale a
alternativa que traz quem foi/foram pioneiro(s) nesse tipo de instituição:

A) As religiosas Mary Aikenhead e Jeane Garnier, pois era muito comum o envolvimento de
religiosos em questões de saúde.

B) Cicely Saunders, médica paliativista.

C) Ordem dos Cavaleiros Hospitaleiros, formada por religiosos envolvidos em cuidados de


saúde.

D) St. Kuke, fundador de uma ordem de missionários que atendiam apenas moribundos.

E) Religiosas e padres, no início da Era Cristã, que já trabalhavam com pessoas adoentadas.

2) Para a realização dos cuidados paliativos, pressupõe-se a necessidade de uma equipe


multidisciplinar para o tratamento do paciente. Esta afirmativa se baseia no:

A) Princípio cristão datado no início do século D.C., como uma forma de caridade aos menos
favorecidos e essa ideia se perpetuou na modernidade.

B) Princípio ético de que o paciente tem direito a ser atendido por quem ele acredite e confie
para melhor guiar seu tratamento do início ao fim da vida.

C) Conceito de cuidados paliativos em que para prezar pela qualidade de vida do paciente é
necessário considerar diversos aspectos para realizar o cuidado.

D) Conceito de Hospice, no qual, para atender o paciente, ele precisa estar em uma instituição
que garanta cuidados específicos para final de vida.

E) Objetivo de aliviar a dor e outros sintomas clínicos que o paciente poderá apresentar.

3) O Diagrama de Abordagem Multidimensional tem como principal função:

A) Orientar a equipe multidisciplinar na identificação dos sofrimentos do paciente.


B) Dividir sistematicamente o paciente para que cada membro da equipe de cuidados paliativos
possa fazer suas funções individuais.

C) Esclarecer quais são as principais dimensões que devem ser tratadas pela equipe de cuidados
paliativos.

D) Entender o ser humano como indivisível e unir todas as suas dimensões e dividi-las entre os
profissionais da saúde.

E) Abordar as dimensões espiritual e emocional do paciente, que, normalmente, são pouco


consideradas.

4) O paciente precisa ter autonomia quanto aos seus cuidados e sobre a sua terminalidade, no
entanto, existem questões ético-legais que podem ser polêmicas, mas que são consideradas
uma opção diante da terminalidade, como a:

A) A distanásia, que pode ser autorizada mesmo que seja apenas da vontade do paciente.

B) A ortotanásia só é adequada, pois é considerada uma forma de “boa morte”.

C) A eutanásia só é considerada crime se for realizada por uma terceira pessoa que não o
paciente.

D) A eutanásia, quando realizada por familiar próximo, como desligar aparelhos, pode ser aceita
como morte assistida.

E) A eutanásia, quando for decidida pelo próprio paciente, respeitando sua autonomia para
decidir sua finitude.

5) Os cuidados paliativos são destinados para qual tipo de paciente?

A) Pacientes que estejam com doenças que ameacem a vida ou sem possibilidade de cura.

B) Pacientes e familiares com doenças crônicas degenerativas e que ameacem a vida ou que não
tenha possibilidade de cura.

C) Pacientes com câncer sem possibilidade de cura.

D) Pacientes com doenças graves que optam por não receber mais nenhum tipo de tratamento.

E) Pacientes que não podem mais responder por sua autonomia, então, seus familiares decidem
pelos seus cuidados.
Na prática
É preciso que diversos profissionais de saúde se envolvam no cuidado do paciente para garantir sua
qualidade de vida durante a terminalidade. Para compreender os objetivos dos cuidados paliativos e
a melhor forma de aplicá-los, o melhor é estar o mais próximo possível da prática clínica.

Acompanhe neste Na Prática um caso clínico de uma paciente em cuidados paliativos.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!


Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

O que são Cuidados Paliativos?


Antes de qualquer coisa, você deve partir do princípio, entendendo de forma mais prática e simples
o que é cuidado paliativo. O vídeo do link a seguir vai lhe ajudar muito, sendo apresentado por uma
das profissionais brasileiras de referência em cuidados paliativos: Dra. Ana Claudia Arantes.

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A mulher que decidiu enfrentar um câncer terminal sem


tratamento
Mais do que medicações, tratamento e tecnologias, o que deve ser considerado em cuidados
paliativos é o desejo e a autonomia do paciente e como ele entende que seu final de vida será
realmente de qualidade, dentro de suas necessidades. Pensando nisso, você está mesmo preparado
para lidar com as decisões do seu paciente? Assista ao vídeo e diga se você está pronto para os
cuidados paliativos.

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O reconhecimento da vontade do outro por via da proximidade:


subsídios para uma análise de quotidianos profissionais em
cuidados paliativos
Leia o artigo sobre os processos de construção, pelas equipes de saúde de hospitais de Portugal, do
reconhecimento do doente de cuidados paliativos na sua singularidade enquanto sujeito, através de
um regime de familiarização entre equipe de saúde, doente e suas famílias.
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