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A histéri de um conceito ndo &, de forma alquma, ode seu refinamento progressivo, de sua reco olidade continuamente erescente, de seu gradiente de abstragéo, mas @ de seus diversos compos de Cconstituigdo ede validade, ade suas regras sucessivas de uso, a das meios tedricos maltiplos em que foi realizado € concluida a sua elaboracdo. Georges Canguilhern, 1990, O artigo ora apresentado fi elaborado com o objetivo de indicar alguns caminhos que tém sido percarridos em 8 definicgo conceitual sobre curadaria e que aproximam diferentes tempos histéricos,distintos campos de conhecimento e miltiplos atalhos para seus usos. Trata-se, em especial, de um ensaio que busca desvelar 2 teia de influgncias que ampara a utilizagao e os multiplos impacts contempordneos do referido conceito. Definir ur conceito com larga e difusa aplicaglo, como é o caso de curodora,pressupbe enunciar as qual dades essenciais de algo que o singulrize, mas também, limitar, demarcar, procurarrazdes ¢ razes, buscar ceaplicagées € referendar constatagdes. E uma operagdo intelectual demo dupla, pois, por um lado, ha © impulso para buscar razes precisas e marcas histiricas contundentes, thas, por outro, emergem as forgas que valorizam a pereepeéo em relagdo A multiplcidade de perspectivas, os usos como refleso de expessiva mas- sificacdo¢ 05 reiterados confrontosintelectuais em funcSo das diversas aplicages conceituas. A partir dessasconsiderages nici €compreendendo que a conceit de curadoria tem uma tetra de Gif mapeamento, est ensao procuraentelgar rs perspectives alguns aspects do percusohstrco do conceit de cuadoria que geraram herangas relvantes para a atual proposta de defvisio; -aplicagdo contemporanea «." permitem observar os reflexos difusos desta heranca e as respectivas reciproci- dades entre 0 delineamento do perfil profissional do curador ¢ a essencial do processo curatorial desenvolvid pelos museus. Cabe registrar que as reflexdes aqui apresentadas prvilegiam o contexto dos museus e a5 rela- 8s curatoriais que se estabelecein com os seus acervos € colegdes. Definiré, sobretudo, expressar um ponto de vista registrar uma analise resultante de uma experién um caminho de percepcio a partir de um olhar subjetivo € contaminado pelas artimanhas da prOpria formacio ia e propor profissional € € € € € © € € € é € € € e e e € € € & © € e e e € € € e e e e& & & © € e e € e e & e/ e © ee g E ies Museoligicas 2. Mediagho erm museus: curadorias, exposgbes, agBo educative 8 / claboragao deste ensaio levou em consideragaa que curadoria é um conceito em constante transformagao com origem € longo caminho permeados por ages € reflexdes relevantes para o cenério museolégico, mas, pela forte capacidade de migragao € de pouso em diferentes contextos, levou para outros censrios 0s atributos \ que caracterizam e valorizam as agbes curatorais inerentes aos acervos e colegées. Nese sentido, este texto estd ancorado em uma perspectiva museolégica ¢ privilegia um olhar em relacdo 8 aplicagdo do conceito de curadoria no contexto contemporaneo dos processos muscol6gices, a partir da valorizagao de idéias priticas pretéritas e da constatagdo de que se trata de um conceito que tem sido apro- priado, ressignificado ¢ utilizado pelos mais diferentes campos profissionais ANTECEDENTES: OS PERCURSOS QUE CONTRIBUIRAM PARA 0 DESENHO CONTEMPORANEO DO CONCEITO DE CURADORIA A bisa dos museuststemunha, plo menos EID o srainento és CSTE em “vo age sn esd head connie as coe ds aces, Desde o inicio desse percurso, as agdes curatoriais denotaram certa cumplicidade com o pensar 0 fazer em tomo de acervos de espécimes da natureza e artefatos, evidenciando o seu envolvimento simuitneo com as sas raizes desvelam.facetas.do.colecionismo, das expedicdes, dos saques ¢ dos processos de espoliagao de toma origem do sugimentade slivers campos de conhecimento aque eestruturaram a partidos estudos das evdéncias materia da cultura da natureza.Cabesublnhar que 2 origem das ages curatriaiscorega em sua esséncia as atitudes de 0 mesmo tempo, implicam em procedimentos (SSS cas seins Essa teia de influéncias que chegou até nossos dias esté impregnada, sobretudo, do exercicio da capacidade referencias patrimonials, como tambéi de olhar, entendendo que: O olhar tem que ter os atributos principais: lucid e a reflexidade. Para ser lcido, 0 olhar tem que se libertar dos obsticulos que cerceiam a vista; para ser reflexo, ele tem que (CEERI ro. que 0 oar que vEpossa por sua ve ser visto" "UAE Sergi Fol Oa init. hs NOVAS, dnt Oa So Falters Shs, 196, 9.13. ‘A extensa bibliagrafia sabre a historia dos muscus? procura explicar as razdes, as estruturas de longa durago «05 momentos de ruptura que tém envolvido o colecionismo ¢ as entranhas dos processos institucionais que so responsivels pelo estudo, preservagdo e divulgag3o das colegdes no Ambito dos museus. Essa mesma bibliografia informa que, em sua origem, a5 agdes curatorais. bifurcaram-se_em duas rotas que tém sido percorridas ao longo das séculos, em alguns momentos cruzando-se, em outros distanciando-se ¢, ainda, potencializando a gerago de novos camintos Por um lado, os acervos de espécimes da naturezanecesstavam de agdesinerentes a“proceder Bcura" desuas 2 | eran porate eee an ferseanen erence neeeion eee aces eee imipondo agées diferenciadas, permitindo a diversidade de modelos institucionais, potenciaizando a especia- & licagdo de museus ea sugimento de diferente categriasprofssionais: curadore ocanservador. Essa per- pectiva consolidou, por exemplo, as diferengas inicais entre os perfis dos Museus de Histéria Natural em rela- & ‘¢30 a0s Museus de Arte, e até o século XIX essa diversdade tipolégica caracterizou o universo dos museus. ; A grande diéspora museolgica, corde nese periodo, que & responsive plo surgimento de institigaes © congeners em todos os continents, exportou 2 forma de trabalho curatorial como essecial para a atuagdo E dos museus.A partic desse momento, verfica-se que os elementos eutopeus referents 8 origem do concsita de COCHKLHKTATARDTTIT OS 9 curadori ampliam-se e mesclam-se com distntastrajetdias locals permitindo a percepeSo de outros matizes para 2 elaboracéo da definigdo de curadora. Edessa forma que a potencalidade patrimonial do Brasil surge. & ee tere eet area tel eee eee eae eee i Entretanto, 5a diversidade ndo minimizou a importncia do “estudo® para definicio das agdes curatorais. = permitindo cunhar no 4mago do conceito.de.curadoria a perspectiva de. producao de conhecimento novo a. 3 | colesBes © acervos museoliaicos, reverberando os reflexos da importincia dos museus nos melos das = instituigées cientificas e culturais, & Assim, & possivel constatar que 0 conceito de curadoria surgiy influenciado pela importancia da andlise das cvidéncias materials da natureza e da cultura, mas também pela necessidade de traté-las no que correspande 2 mmanutengao de sua materiaidade, a sua potencialidade enquanto suportes de informagio € & exigéncia de estabelecer critérios de organizacio ¢ salvaguarda. Em suas raizes mais profundas articulam-se as intengdes € 05 procedimentos de coleta, estudo, organizacao € preservagdo, e tém origem as necessidades de especia- lizagGes, de abordagens pormenorizadas € do tratamento curatorial direcionado a partir da perspectiva de um 17 L Definigbo de Curador prrmeaneereerereessatts campo de conhecimento, A bifureagdo acima referida influenciou, ainds, o sursimento-de-dlferentes.nichos profissionais,no inte- rior das instituigdes que tém sob sua responsabilidade colegGes ¢ acervos. Desta forma, 0s cuidados com 2 Tr Aires, 10) Bry 109; Bers, 197; Btencout, 1996; Boss 202 Fane, 1989; Ferman, 199%; Foran 207; Kaanagh, 960, oes 1997; Fears, 194; Scher, 1992 Fara 3 tere omelet ver ‘Balog ap fim deste ata ‘s osipes,apd0 educatva fe Diretrizes Museoligices 2. Mediag3o em m 14 | Cader tmanutencdo permitiram 0 delineamento de uma rota independent, ainda hoje com singular importincia, que acolhe as atividades de conservacao e restauro dos bens patrimoniais, amparando a profissio de conservador- restaurador e determinando a necessidade de formagio especifica, Este ensaio est pautado, portanto, pela trajetéria das ages curatoriais que subsidi de seus respectivosreflexos nos processos museais. partir desse ponto de vista é possivel econhecer que as ‘alee conceituas do concito de cuadora, em especial ramificaram-se nas estratigafas dos solos das in uigBes rm licadas 3s ciéncias ¢ s6 tardiamente, na segunda metade do século vinte, migraram paras nstiuiges dos eapor oar n a fungao do curador es. Da mesma forma, a agtes curatoriaisaté-a.peindoacima cafrido, ‘estringram-se ans arocedimentos de estudos(pesquiss de diferentes campos de conhecimento)esalvaquar- 4a (atividades de conservagio e documentacao} das coleges e acervose, na contemporanidade.subsidiam os processos de extoversio dos bens patrimonials, consolidando agBes de comunicagdo e educagdo Nao foram somente 25 colegdes € os acervos relatives aos ramos da Histéria Natural, mas também aqueles refe-rente aos estudos antropoldgicos, arqueolégics,histrics, entre outros, que se beneficiaram das nogbes € dos procedimentos curatorais, ue consolidaram a importancia dos museus, contibuiram para a elaboragdo de metodologias cientiticas, definiram a hierarquia de campos profssionais epermitram a preservagio pati- ‘monial, uma vez que “proceder 8 cura” passou a s etado.como um conjunto de procedimentos inerentes A selesdo,coleta, registro, andlise, organizacdo, quarda.e difusia do conhecimento praduzido, ata se de uma ‘uticulacdo de procedimentos técnicos ¢ cientificas que tém contribuido sobremaneira para o nosso conhect= mento relative 4s questBes ambientais eculturais de interesse para @ humanidade. Nesse sentido, 2s nogbes herdadas de “organizagdo ¢ quarda" amplaram e particularizaram os aspectos consttutivos da definigéo de ‘uradoria €, 20 mesmo tempo, consolidaram diversos campos de conhecimento, Essa definigdo, gradativa- mente, passou a ser difundida a partir de publicagées de periédicos especializados das mais variadas éreas cientiieas,impregnou os textos dos trabalhos académicos no ambiente univesitro esinalizou em relagéo a sua expansdo, nomeando os certames cientificos. De certa forma, as agdescuratorais que contribuiram para delineamento do perf das intitigBes mu Seolaias¢ permiram a emergénia de dreas de conhecimento, evidenciam a inprtncia da artiulagso sotidiana de diferentes trabalhos, mas uma observacSo_pormsnovizada,dessasinstitugties nos faz-perceber ue essa hetanea chepou.an século XX permesds pr as isoldas, com pou inspiracio democrétcaevo- ‘acionada 20 protagonsmo. Nao si raros os casos que emergem da bibliografiaespecilizada que apontam 0

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