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PROTOCOLO DE

ATENDIMENTO
E ABORDAGEM
DE AGENTES
PÚBLICOS JUNTO
À POPULAÇÃO
LGBTI+
PROTOCOLO DE ATENDIMENTO E
ABORDAGEM DE AGENTES PÚBLICOS
JUNTO À POPULAÇÃO LGBTI+
O presente protocolo tem como objetivo dar suporte no aspecto do
atendimento e abordagem, por agentes públicos municipais junto à
população LGBTI+, com base na legalidade e no respeito aos Direitos
Humanos, bem como, apresentar orientações acerca dessa população.
I COMPREENDENDO DIVERSIDADE SEXUAL
Com o intuito de nortear a aplicação das diretrizes trazidas pela
Resolução CNJ nº 348/2020, facilitando a compreensão acerca do
direito à autodeterminação e das garantias possíveis a cada pessoa,
o referido ato normativo se baseia em alguns conceitos, listados no
artigo 3º.

Tais conceitos norteadores foram desenvolvidos a partir do glossário


da campanha “Livres & Iguais”, criada pela Organização das Nações
Unidas (ONU), e não se propõem a serem exaustivos, devendo
ser aceitas as nomeações pelas quais as pessoas venham a se
autodeterminar.

a) ORIENTAÇÃO SEXUAL - Corresponde à atração física, romântica


e/ou emocional de uma pessoa em relação à outra, sem relação com
a identidade de gênero ou às características sexuais. A Resolução
nº 348/2020 utiliza as categorias listadas a seguir, sem prejuízo de
outras pelas quais as pessoas venham a se autodeterminar:

• Homens gays e mulheres lésbicas: atraem-se por pessoas


que possuam o mesmo gênero, ou seja, homens e mulheres,
respectivamente;
• Pessoas heterossexuais: atraem-se por pessoas de um gênero
diferente do seu;
• Pessoas bissexuais: têm atração afetivo-sexual por pessoas de
mais de um gênero.
b) IDENTIDADE DE GÊNERO - A forma como as pessoas se identifi-
cam enquanto do gênero feminino, masculino ou outra expressão por
ela utilizada. Todas as pessoas têm uma identidade de gênero, que faz
parte de sua identidade como um todo. Tipicamente, a identidade de
gênero de uma pessoa é alinhada com o sexo que lhe foi designado
no momento do seu nascimento. Assim como se diz “transgênero” a
pessoa que não se identifica com o gênero atribuído no ato do nasci-
mento, “cisgênero” é o termo empregado para descrever as pessoas
cuja identificação de seu próprio gênero está alinhada com o sexo
biológico que lhe foi designado ao nascer. Importante retomar que a
identidade de gênero é distinta da orientação sexual e das característi-
cas sexuais de cada pessoa. Ademais, diante da ampla variedade de
palavras empregadas na autodeterminação, é fundamental que se re-
speite os termos, nomes e pronomes utilizados por cada pessoa para
se referir a si mesma.

c) PESSOAS LGBTI - A despeito da variedade de siglas empregadas


para representar a pluralidade de identidades de gênero e de orien-
tações sexuais (LGBT, LGBT*, LGBTQ, LGBTQI, LGBTI+, dentre out-
ras), a Resolução CNJ nº 348/2020 adotou “LGBTI” para se referir à
população abarcada pelas diretrizes previstas. A sigla LGBTI se refere
a pessoas “lésbicas, gays, bissexuais, transgênero e intersexo”; sendo
utilizada, mundialmente, pelas mais renomadas instituições, como a
Organização das Nações Unidas e a Anistia Internacional.

d) PESSOAS TRANSGÊNERO - Ainda denominadas “trans” em abre-


viação comum, são pessoas que se reconhecem com um gênero dif-
erente daquele que lhe foi atribuído no nascimento, compreendendo
diversas identidades que variam de uma cultura para outra. No Brasil,
podem ser incluídas entre a população transgênero as pessoas tran-
sexuais, travestis, crossdressers e binárias ou de gênero fluído. De
forma específica, é possível sistematizar do seguinte modo:

• Mulheres trans: identificam-se como mulheres, mas foram designa-


das homens quando nasceram;

• Homens trans: identificam-se como homens, mas foram designados


mulheres quando nasceram;
• Pessoas não-binárias ou de gênero fluído: pessoas trans que não
se identificam de modo algum com o espectro binário de gênero.

IMPORTANTE: Enquanto algumas pessoas transgênero dese-


jam se submeter a cirurgias ou à terapia hormonal para alinhar
o corpo com a identidade de gênero, outras não querem. O di-
reito à autodeterminação é pessoal, não permitindo a agentes
públicos condicionarem a identificação da pessoa à realização
de intervenções corporais ou a qualquer requisito exógeno.
e) PESSOAS INTERSEXO - Nascem com características sexuais
que não se encaixam nas definições típicas de masculino e feminino,
como a anatomia sexual, os órgãos reprodutivos e/ou os padrões
hormonais e/ou cromossômicos. Existem uma série de condições
que podem resultar em características intersexuais visíveis ou não.
Tais características podem ser aparentes no nascimento ou desen-
volvidas no decorrer da vida, como durante a puberdade, de modo
que muitas pessoas intersexo nem mesmo sabem que o são. Podem,
ainda, ter variadas orientações sexuais e identidades de gênero.

NOME SOCIAL

Conforme reconhecido no Parecer Consultivo OC-24/7, elaborado


pela Corte IDH à República da Costa Rica, a Convenção Americana
de Direitos Humanos, ao dispor sobre o livre desenvolvimento da
personalidade (artigos 7° e 11.2), o direito à privacidade (artigo 11.2),
o reconhecimento da personalidade jurídica (artigo 3°) e o direito ao
nome (artigo 18), assegura o direito de que cada pessoa defina, au-
tonomamente, a própria identidade sexual e de gênero, bem como os
dados que aparecem nos registros e nos documentos de identidade
(item 155).

Seguindo tal entendimento, outro importante avanço da Resolução


CNJ nº 348/2020 foi a consignação, no artigo 6º, de que as pessoas
autodeclaradas parte da população LGBTI submetidas à persecução
penal têm o direito de ser tratadas pelo nome social e prenome es-
colhido, de acordo com a identidade de gênero enunciada e a des-
peito de eventual divergência do nome constante no registro civil.
Recomenda-se que o nome social conste expressamente dos autos,
como forma de identificação correta da pessoa, bem como dos siste-
mas informatizados em que tramite o processo (art. 5° da Resolução
CNJ n° 348/2020).
Segundo a Resolução CNJ nº 270/2018, nome social é “aquele ad-
otado pela pessoa, por meio do qual se identifica e é reconhecida na
sociedade, e por ela declarado”. Assim, o agente deve questionar
à pessoa autodeclarada transgênero acerca do nome pelo qual se
identifica, bem como sobre por qual pronome gostaria de ser refer-
enciada.

II ATENDIMENTO E ABORDAGEM

Todos são iguais perante a lei.


A isonomia consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente
os desiguais, na medida de sua desigualdade. Uma abordagem que
envolva a população LGBTI+ é importante levar em consideração
suas particularidades e vulnerabilidades.

DEMONSTRAÇÃO PÚBLICA DE AFETO


POR PESSOAS LGBTI+

A manifestação de afeto, em público, por qualquer pessoa, não con-


stitui crime, desde que não seja um ato obsceno de cunho sexual.
Pessoas LGBTI+ têm os mesmos direitos a andar de mãos dadas, tro-
car carícias e qualquer demonstração pública de afeto, assim como
o restante da população, sem serem submetidos a constrangimentos
por agentes do estado ou mesmo pelo restante da população. Agen-
tes de segurança Pública devem garantir a integridade moral e física
destes/as cidadãos e cidadãs.
VOCÊ SABIA?
É muito importante que seja providenciado um intérprete de libras para
permitir a clareza de diálogo com a população surda LGBTI+

USO DO BANHEIRO PÚBLICO POR


PESSOAS TRANSEXUAIS
As pessoas transexuais possuem o direito à igualdade (ART. 5º, Con-
stituição Federal), e isso significa que todos os indivíduos têm igual
valor e, por isso, merecem o mesmo respeito e consideração.
O debate sobre o uso do banheiro originou Recurso Extraordinário n.º
845.779, no STF, sendo a proibição do uso do banheiro de acordo com
gênero por parte das pessoas trans uma conduta ofensiva à dignidade
da pessoa humana e aos direitos da personalidade, indenizável a títu-
lo de dano moral.

LEMBRE-SE:
As pessoas transexuais devem utilizar o banheiro público no qual se
sentem mais confortáveis
A VEDAÇÃO DA TORTURA NA CONSTITUIÇÃO (ART. 5º)

III – ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou


degradante;
XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura [...], por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.

TORTURA É CRIME!

Ao reforçar a proibição da tortura e dos maus-tratos, as corporações


reforçam que não aceitam mais comportamentos violentos dos agentes
públicos com alguns seguimentos da sociedade. | A Lei 9.455/97 define
a tortura como o crime de constranger alguém com emprego de violên-
cia ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental (art. 1º,
I e II). | Essa conduta ilícita está vinculada a finalidades estabelecidas
na lei:

• Tortura para obter informação, declaração ou confissão da vítima ou


de terceira pessoa.

• Tortura para provocação ação ou omissão de natureza criminosa.

• Tortura em razão de discriminação racial ou religiosa.

• Submissão de alguém sob sua guarda, poder ou autoridade, com


emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou
mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter
preventivo.

• Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a


medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da
prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.

• Também é penalizado quem se omite em face dessas condutas, quan-


do tinha o dever de evitá-las ou apurá-las.
LEMBRE-SE:
O porte de documento (RG) não é obrigatório, embora toda pessoa
tenha o dever de se identificar, ainda que verbalmente, quando solic-
itada a fazê-lo (art. 68 da Lei de Contravenções Penais).

III REDE DE ATENDIMENTO E ACOLHIMENTO

A Prefeitura do Recife possui uma rede extensa de atendimento e


acolhimento à população LGBTI+ em situação de vulnerabilidade e
risco, esses serviços vão do Centro especializado de atendimento a vi-
timas de violência, aos ambulatórios de cuidado à saúde integral, bem
como, a Casa de Acolhimento Municipal LGBTI+ Roberta Nascimento.

Caso você encontre um LGBTI+ em tais situações, saiba para onde


encaminhar:

Centro Municipal de Referência em Cidadania LGBTI+


Rua dos Médicis nº 86 – Boa Vista – Recife.
Segunda a Sexta-Feira das 8h às 17h
(81) 3231 1553

LEMBRE-SE:
No Recife as Leis Municipais nº 16.780/2002 e nº 17.025/2004 punem
e proíbem qualquer forma de discriminação ao cidadão com base em
sua orientação sexual e/ou identidade de gênero.

No dia 13 de junho de 2019 o STF, por meio da Ação Direta de Incon-


stitucionalidade por Omissão (ADO) nº 26 e no Mandado de Injunção
nº 4.733, decidiu criminalizar a LGBTFOBIA como forma de Racis-
mo, ou seja, agressões contra a população LGBTI+ são enquadrados
como crime de Racismo no Brasil.
REFERÊNCIAS:

CAVICHIOLI, Anderson. BENEVIDES, Bruna G. Manual de atendi-


mento e abordagem da população LGBTI por agentes de segu-
rança pública. 1ª Edição. Rede Nacional de Operadores de Segu-
rança Pública Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e
Intersexos – RENOSP-LGBTI. Brasil. Dezembro/2018. Disponível
em: https://antrabrasil.files.wordpress.com/2020/03/manual-de-se-
guranc387a-pc39ablica-atendimento-e-abordagem-lgbti.pdf

Recife. Prefeitura do Recife. Secretaria Executiva de Direitos Hu-


manos/Gerência da Livre Orientação Sexual. GUIA DE CIDADANIA
LGBTI+. IV Edição. 2023. Disponível em: https://www2.recife.pe.gov.
br/16/05/2016/gerencia-de-livre-orientacao-sexual-glos-0

Brasil. Conselho Nacional de Justiça. MANUAL RESOLUÇÃO Nº


348/2020 : PROCEDIMENTOS RELATIVOS A PESSOAS LGBTI
ACUSADAS, RÉS, CONDENADAS OU PRIVADAS DE LIBERDADE:
orientações a tribunais, magistrados e magistradas voltadas à im-
plementação da Resolução nº 348/2020, do Conselho Nacional de
Justiça / Conselho Nacional de Justiça ; coordenação de Luís Ger-
aldo Sant’Ana Lanfredi ... [et al.]. Brasília : Conselho Nacional de
Justiça, 2021.

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