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Gramaticalizacao de ‘ai’ no portugués falado do interior paulista (Grammaticalization of ‘ai’ in spoken Portuguese of northwest of Sao Panlo state) Edson Rosa Francisco de Souza" "Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Trés Lagoas (UFMS) edsrosa@yahoo.com. br Abstract: This paper aimsat analyzing the multifunctional uses of ai (there) based on the perspectives ‘of Grammaticalization theory (TRAUGOTT, 1982, 1995) and Functional Discourse Grammar (HENGEVELD: MACKENZIE, 2008). The proposal is to show that the grammaticalization process of al in spoken Portuguese of northwest of Sao Paulo state may be analyzed according tothe levels, and layers of FDG organization, Keywords: Grammaticalization: Functional Discourse Grammar; Item ai, Resumo: O objetivo deste artigo & aualisar os usos multifuecionais de ai a partir do didlozo entre os postulados teéricos da Gramaticalizacto (TRAUGOTT, 1982, 1995) e da Gramatica Discursivo-Funcional (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008). proposta é mostrar que 0 processo de aramaticalizagao de ai no portugues falado do noroeste paulista (BORUNA) pode ser analisado conforme os niveis ¢ as camadas de organizacto da GDF. Palavras-chave: Gramaticalizagao; Gramitica Diseursivo-Funcional; Item ai Introdugio Nos estutdos linguisticos, a classe adverbial é em geral definida como heterogénea (ILART et al, 1990; CASTILHO, 1997; NEVES, 1992; LONGHIN-THOMAZI, 2006; LOPES-DAMASIO, 2008, dentre outros). Em um trabalho sobre os itens adverbiais, Hari et al (1990, p. 85) assinalam que alguns advérbios, em especial os deiticos, podem aplicar-se “a unidades cujas dimensdes ultrapassam nao s6 0s limites dos constituintes, como também os da sentenga”. Para os autores, essa passagem do plano refereneial para o plano discursive acontece porque “entre a déixis propriamente dita e a anafora, e entre a andfora e as operacées discursivas, ha um progressivo esvaziamento da dimensao espago-temporal, na medida em que o discurso se torna a dimensao de referéncia” (p. 86). Para Braga (2001), exatamente essa instabilidade fimeional que permite ao item adverbial exercer diferentes fungdes linguisticas. Com base nessas primeiras observacdes sobre os advérbios, o objetivo do trabalho € analisar 05 1s0s de ai no portugués falado do interior paulista, a partir dos postulados tedricos da Gramitica Discursivo-Funeional (GDF - HENGEVELD: MACKENZIE, 2008) e da Gramaticalizagao (GR — HOPPER; TRAUGOTT, 1993; TRAUGOTT, 1995; etc.), tendo em vista suas fungdes déiticas, textuais, interacionais. O intuito € mostrar que o item linguistico af pode ser perfeitamente analisado com relagao aos niveis (Representacional e Interpessoal)e as camaclas (semianticas e pragmaticas) de organizagao da GDF, no sentido de que a sua expansio fimcional nos niveis e nas camadas da GDF pode ser elencada como uma evidéncia linguistica de que o item esta se gramaticalizando no portugués, rumo a ESTUDOS LINGUISTICOS, Sto Paulo, 40 (I): p. 92-107, janabr 2011 92 dimensio pragmitica da lingua. O artigo esta organizado assim: a segao 1 € uma introdugao, e a segao 2 traz uma breve discussao sobre advérbios e gramaticalizagio. A segao 3 trata da GDF. A segao 4 taza andlise de a no portugues falado do noroeste paulista. Em seguida, em 5, listamos algumas generalizagdes dos usos de ai, Por fim, trazemos as consideragoes finals. O advérbio ‘ai’ ¢ o proceso de gramaticalizagio A multifimcionalidade do item ai é decorrente da propria natureza heterogénea da classe adverbial & qual pertence. A instabilidade categoria de ai e de outros itens adverbiais aponta para um proceso de mudanga linguistica desses elementos linguisticos. Por isso. a classificagao dos advérbios como uma categoria discreta é problematica. Desde a tradigao filosGfica de Barbosa (1881) até gramiticos mais modemos como Bechara (1999) e Cunha € Cintra (1985), a classe dos advérbios se diferenciou das demais devido principalmente a dois eritérios, um morfoldgico e outro seméntico. Pelo primeito critério, os advérbios consistem em palavras “invaridveis” ou “indeclinaveis” e, pelo segundo, indicam as cireunstancias da ocorréneia de um determinado estado-de-coisas, como hngar, tempo, quantidade, modo, qualidade, afirmagao, diwvida, intensidade, negagéo, entre outras. No entanto, essa classificagao s6 da conta dos usos que se restringem a predicagio (DIK, 1997), nada dizendo sobre os casos de advérbios que fogem desse contexto, ultrapassando os limites da oragio. ‘Um exemplo de af como adverbio de Igar é dado em (1): (2) exvtenho uma colega...e a casa dela fica ni (AC-0S6-NR: L.123) Em (1), ai é um advérbio de lugar (um elemento referencial), euja fimgao é indicar a localizagdo da casa do falante. Nesse caso, o item af atua como argumento do verbo ficar, Diferentemente de (1), em (2) 0 item ai é usado como advérbio auaforico (2) Vestibular chegando! Que medo! Unesp, Unicamp € USP, ai vamos nos, O que se vé em (2) é um uso muito frequente no portugués brasileiro, Nesse exemplo, 6 item ai funciona como um advérbio anaférico (déitico forico), fazendo referéneia a entidades que designam lugar: Unesp, Unicamp e USP. Observe, agora, a ocorréncia (3) de af como advérbio frico: (3) vai chegar... por exemplo... VINTE portugueses por exemplo trinta...e (vinha) vai chegar vinte ‘winta af em Rio Preto... -” ENTAO... (inint.) como que era a fungao do pai dele o pai dele tinha a funcao de distribuir esses portugueses que eles cheyavam nao tinha emprego nfo tinha Lugar. (AC-119; NR: L. 97) Tratados ora como “proformas adverbiais” (PAIVA, 2003; RONCARATI, 2003) ora como “unidades pré-fabricadas” (ERMAN; WARREN, 2000), a verdade é que itens como ai e agora, quando combinados com wn sintagma preposiciouado, podem tanto fazer remissoes anaforicas quanto remissoes cataforicas. Segundo Oliveira e Melo (2003). isos como (3) nao interferem totalmente no sentido de espago fisico de ai, tanto que, em “ai em Rio Preto”, o trago locativo ainda persiste no novo uso. ‘Um outro uso de ai que também é recorrente no portugues é dado em (4): ESTUDOS LINGUISTICOS, Sto Paulo, 40 (1): p. 92-107, janabr 2011 93 (@) Jodo chegou, ai a Maria foi embora. Eu (4), 0 item af indica o sequeuciamento temporal entre as duas oragdes, 0 que serve como inferéncia para o estabelecimento da relagao de cansa/efeito entre as duas unidades semanticas. A leitura de ai como conjungao coordenativa conchusiva ¢ possivel, mas em menor proporgio. © exemplo (4) ja é um uso mais gramaticalizado. ‘Além desses casos, Braga € Naro (2000) ¢ Braga e Paiva (2003) elencam outros uusos de a que também operam ua organizagao do texto e do discurso: }) Af bota meio copo de leo. Af voce bate no liquidificador ¢ depois tra e bota muma vasilha. (BRAGA: NARO, 2000. p. 128), Oso de af em (5) é classificado por Braga e Naro (2000) como um caso de juntivo, em que o objetivo do item é uni/juntar dois eventos. J4 em (6), 0 uso de ai ¢ classificado por Braga ¢ Paiva (2003) como umn caso de organiizador de tépico: (©) E:passando, assim, um sermao. Ai ld pelas tantas do sermao, eu pare, olhei para ela...e ela quietinha ‘me ouvindo. A Nique, ela, sabe? Um...uma coisa assim, que ea s6 escuta... Es Ham. Ex: Bla 96 assim, O, mie, ni tanto assim, mde. Miezinha, nfo assim. Mas isso, 0 Maximo que ela diz... Aili pelas tantas, eu parei,olhei para a carina dela. (PEUL, Amosta-80, 43) Segundo Braga e Paiva, em (6), extraido das auroras, o item av auilia na organizagao do topico discursivo. Isto é, para as autoras, em (6). ai encabega oragdes que sinalizam 0 fechamento e a reativagao do sub-tépico discursivo (2003, p. 11). Como se observa, o item af est se gramaticalizando e exercendo diferentes fungdes no portugués, razio pela qual propomos que af pode ser descrito de acordo com os niveis eas camadas de organizagao da lingnagem proposta pela GDF. Para tanto, a GR é definida aqui como um processo de mudanga linguistica de cariter unidirecional, no interior do qual itens ou “construgdes lexicais” (TRAUGOTT, 2003) passam a exercer finges gramaticais, podendo, ainda, assur outras fimgdes gramaticais com a continuagao do proceso. Nesse sentido, sempre que um item lexical adquire uma fungao gramatical (ou uma fimgao ainda anais gramnatical, se o item for grammatical), o que se tema é uma tipico caso de GR. As construgdes (7) e (8) com o verbo gi “dar”, da lingua Akan, da familia Niger-Congo (Gana, Arica) ilustram esse processo: (7) Akan (SEBBA, 1987, p. $0) Kofi gi Amba wan bukw Kofi dar Amba um livto “Kofi dew a Amba um livro.’ (8) Akan (SEBBA, 1987, p. 50) Kowmn seni wan boskopu gh Tigrt Rei enviar uma mensagem dar Tiger “O Rei enviou uma mensagem para Tiges” Ambas as construgdes apresentam trés argumentos (sujeito, objeto direto e objeto indireto/recipiente), no entanto, em (7), o argumento recipiente Amba ¢ introduzido na ESTUDOS LINGUISTICOS, Sto Paulo, 40 (I): p. 92-107, janabr 2011 4 sentenga sem o auxilio de preposigdo (forma nao marcada), ao passo que em (8) 0 argumento recipiente Tiger é introduzido por meio do verbo serial gi “dar”. O que se observa nesses exemplos é que, em (7), gi é usado como verbo pleno, enquanto em (8) 0 verbo gi é usado com 0 significado da preposigo para (to‘for, do Inglés). Isso acontece porque, em Akan, a altemancia de construgdes, que é uma caracteristica do Inglés (como em J gave the book 10 John = I gave John the book), $6 é possivel por meio do uso do verbo gi em série. De acordo com Schiller (1999), as linguas que nao dispdem de muitas preposigdes para inserir o terceiro argumento do verbo na sentenga tendem a empregar os verbos setiais como forma gramatical para exercer essa fngio, Nesse sentido, é por assumir uma nova fimgao na gramética da lingua, a de preposigao, que o verbo gi é elencado como um caso de GR. Isto é, de verbo pleno (predicado de trés lugares), gf passou a exercer a fimngdo de preposigao. Dos autores que discutem questdes sobre mudanga linguistica, chamamos a atengao para Heine et al. (1991), Hopper e Traugott (1993) e Bybee (2003), que compartilhamn de ‘uma nogao semelhante de GR, assentada basicamente no reconhecimento de que a passagem de um item lexical a um item gramatical ocorre de maneira gradual, num sentido unidirecional Em outras palavras, o que essas propostas tém em comum é que a distingio entre elementos lexicais ¢ elementos gramaticais nao ¢ entendida de forma dicordmica (ou é lexical ou é ‘gramatical), mas sim como continuun de GR, que aponta para existéncia de categorias nao-discretas (hibridas), que se distribuem entre os dois extremos desse continuum [+ Lex + + Gram} Heine et al, (1991) definem a GR utilizando os conceitos de palavra-fonte e palavra- -alvo, Para os autores, as palavras-fonte siio aquelas que atuam como foute do processo de mudanga linguistica, uma vez qne sio elementos que possuem significagao propria e tendem a codificar objetos coneretos pertencentes ao mundo séeio-fisico do falante/ ouvinte (SWEETSER, 1991), e, por isso, estio geralmente associados a processos, localizagdes € ao sistema déitico da lingua. J4 as palavras gramaticais (ou alvo), segundo Heine et al (1991), sto aquelas que esto mais estreitamente relacionadas a elementos abstratos da lingua, sendo, portanto, desprovidas de significado proprio, caracteristica esta que as coloca no rol de palavras que so dependentes de outras palavras ou entdo do coutexto de uso. Sao exemplos de palavras gramaticais os auxiliares, os cliticos e os afixos (prefixes. infixos e sufixos). ‘Na proposta de Heine et al. (1991), a GR € definida como proceso cognitive, em que conceitos concretos (espago fisico, tempo, etc.) sao utilizados para compreender, descrever ou explicar feuomenos mais abstratos (articulagao de oragdes) pertencentes lingua, Dessa forma, os autores explicam que o ‘surgimento” de novas formas linguisticas é motivado por questies pragmaticas ou interacionais, a partir de associagdes metaforieas e metonimicas realizadas pelo falante A definigdo de GR de Traugott (1982), Hopper e Traugott (1993) e Traugott (1995), compativel com a GDF, entende a mudanga linguistica como um processo de pragmatizacdo, em que usos mais gramaticais e abstratos passam a atuar no dominio comunicativo, exercendo fimedes mais expressivas, dentre as quais estio os usos de itens linguisticos como marcador discursivo, operador aproximativo, etc. Do ponte de vista diaerdnico, nao ha como negar, segundo Hengeveld e Mackenzie (2008), que os fenémenos gramaticais derivam unidirecionalmente de unidades lexicais. ESTUDOS LINGUISTICOS, Sto Paulo, 40 (1): p. 92-107, janabr 2011 95 E uma questao que tem sido, conforme os autores, atestada nos estudos de GR. Hengeveld e Mackenzie reconhecem ainda que, do estigio inicial ao estagio final de mudanga, um dado elemento pode comparilhar ou conservar propriedades dos estigios iniciais, aspecto que é captado palo principio da persisténcia de Hopper (1991). Ja do ponto de vista sinerénico. Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 7) postulam uma distingao “didatica” entre elementos lexicais e elementos gramaticais (KEIZER, 2007), na medida em que ela é “importante para 0 modo como esses elementos sero analisados na GDF”. Isso significa dizer que. apesar de udo ser discutido na GDF, os autores recouhecem que as categorias lexicais e gramaticais nao so categorias discretas, o qne referenda a nogao de consinuum de alguns autores. No entanto, entendem que a distingao entre um uso e outro é essencial para a andlise. A Gramatica Discursivo-Funcional De acordo com Hengeveld e Mackenzie (2008), a GDF é definida pelos seguintes aspectos: (i) busea modelar a competéncia gramatical de usurios das linguas; (ii) assmme © ato discursivo, nao a orago, como unidade basica de andlise: (iii) a GDF interage sistematicamente com os componentes conceitual, contextual e de expressdo, que antes nao tinham sido coutemplados ua Gramitica Funcional de Simon Dik; (iv) a onganizagaio hierérquica da GDF ¢ descendente (parte das intengdes comunicativas), enquanto a da Gramatica Funcioual (GF) é ascendente, e, por fim, (v) a GDF inclui as representagdes morfossintiticas e fonolégicas como parte da estrutnra subjacente Para Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 2), a GDF é uma teoria que busca entender como as unidades linguisticas sao estruturadas em termos do mundo que elas descrevem e das fiung6es comunicativas que elas expressamn na lingua, Para a GDF, 0 discurso constitu © suporte das unidades linguisticas de niveis mais baixos. Assim, a GDF inicia-se com a formulagao da intengao do falante, finalizando com a realizagao da expressao linguistica enquanto a GF inicia-se com a selegao de itens lexicais para, em seguida, expandir gradualmente a estrutura subjacente da oragdio para outras camadas, © modelo da GDF ¢ estruturado em quatro niveis de organizagao, em que cada vel & concebido como um médulo separado ¢ internamente organizado em camadas de complexidade linguistiea. Um diferencial da GDF é o reconhecimento de um componente contextual e um componente cognitivo, que contém elementos essenciais do contexto e da cognigao, considerados relevantes para os demais médulos da gramatica. O componente gramatical (que engloba os quatro niveis de organizagao da linguagem) ¢ couectado ao componente conceitual, ao contextual e de expressio. ‘Uma outta distingio é que, na GDF, a pragmitica governa a semantica, a pragmitica ea seméntica governam a morfossintaxe e, juntas, a pragmatica, a semntica e morfossintaxe governam a fonologia. Essa mudanga é, conforme Hengeveld e Mackenzie (2008), motivada pelo postulado de que a “eficiéneia de um modelo de gramética ¢ tanto maior quanto mais se aproximar do processamento cognitivo”, Isso porque, embora a GDF néo seja um modelo de processamento de linguagem, estudos psicolinguisticos demonstram que a produgao linguistica é um processo descendente, que parte do componente cognitivo em diregao ao componente de expressao. O Nivel Interpessoal ESTUDOS LINGUISTICOS, Sto Paulo, 40 (I): p. 92-107, janabr 2011 96 O nivel interpessoal lida com os aspectos foumais de uma unidade linguistica que reflete sen papel na interaeao entre falante e ouvinte * Segundo a GDF, as unidades discussivas relevantes nesse nivel sio hierarquicamente organizadas em camadas: Quadro 1: As camadas de organizagao do Nivel Interpessoal aiMsL ‘Movimento aay Ato FILE): EE), ocusto basica IPs... PEC), Falante GPs. PEED, ‘Ouvinte ac.t Conteido Conunicado MTL.) 7): 2), Subato de Adscrigio RL RTR), Subato de Referéncia 1CzECD, Contetido Commicado ADE ADs Ato 1M): 5M), Movimento © movimento & definido na GDF como a camada mais elevada da hierarquia e descreve o segmento inteiro de discurso que ¢ considerado relevante no processo de interagao. Um movimento, por sua vez, é constituido de um ou mais atos temporalmente ordenados, que, juntos, formam o niicleo (simples ou complexo). Cada ato discursivo (A) se organiza com base em um esquema ilocuciondrio (ILL), que contém dois participantes (P), 0 Falante € 0 Ouvinte (S, A), € 0 contetido communicado como seus argumentos. O contetico conunicado coutéun wn niunero varivel de subatos adscritivos (A) e referenciais (R), aos quais fungdes pragméticas sao atribuidas, Para Hengeveld e Mackenzie (2008), 0 movimento? é 0 veiculo utilizado na expresso de intengdes comnmicativas do falante e pode ser classificado em: iniciagdo (pergunta. reagao (resposta) ¢ avaliagao.’ Além dos casos de implicaturas (atos de fala indiretos), essas inteugdes podem ser: convite, infomnapao, questionamento, ameapa, adverténcia, 1ecomendagao etc. JA a ilocuséo indica o propdsito de nossos atos verbais e os participantes representam 0 falante e o onvinte, enquanto 0 conteido comunicado contém a totalidade do que o Falante deseja evocar durante a interagao. O contetico comunicado pode conter um ou mais subatos, que sio hierarquicamente subordinados a atos discursivos, e se diferencia do conteiide proposicional, que é uma categoria semantica do nivel representacional e tem como escopo os episddios e os eventos, 1 Na GDF, o sequenciamento de ages linguisticas presentes em todas as camadas da hicrarquia reflete, por ‘assim clizer, a orcem das atvidads estnteaieas colocndas em prtica pelo falate 2 Os exemplos (a) e (b) constituem casos de movimento com dois atos discursivos, em que um ¢ definido como subordinado (dependente) eo outro, como nuclear: 8) 0 Jot, ele esteve aqui. (TM: [TAL] Alou TAS E> HAZ) ou] MED by Ele esteve aqui, o Joao. (11M, (CIA, [.-] AD (IAS: [--- HA eg] Dg * Os exemplos (i) ¢ (ii) representam alguns tipos de movimento no portugues: (A: Onde voce estuca? OD ie B: Euestudo em Sao Paulo. OD page A: Qual é a capital do Brasil? (MAD siete B: Brasilia. (MB...) Por qué? (MB), ‘A: Eu estou facendo a minha ligdo de casa. (M2)... ESTUDOS LINGUISTICOS, Sto Paulo, 40 (1): p. 92-107, janabr 2011 7 Diferentemente da proposigio, o contetido comunicado possui seus proprios operadores (11) e modificadores (£) interpessoais e esta sempre associado ao falante Os subatas eontidos em um contetido communicado podem ser: adscritivo e referencial, O subato adscritivo (IIT,) representa a tentativa do falante de evocar uma propriedade. Ao proferir, por exemplo, Esté nevantdo, o falante evoca somente uma propriedade meteorologica sem fazer mengao a nenhum referente; nevar nao esti sendo atribuido a algo, mas simplesmente “deserito’. 0 subato referencial (TIR,), por outro lado, ocorre quando o falante evoca um referente: muther, casa, gato, ete O Nivel Representacional O nivel representacional lida com os aspectos formais de uma unidade linguistica que reflete seu papel no estabelecimento de uma relagao com o mundo real ou imaginario que ela descreve. Por isso, as categorias representacionais referem-se 4 designacio e nao a evocagao (que ocorre no nivel interpessoal). O nivel representacional ou semantico cuida apenas da seméntica de wma unidade linguistica, As unidades semanticas do nivel representacional so organizadas como Quadro 2: As camadas de organizacao do Nivel Representacional Mp; ‘Contetdo proposicional ep, Episodio Me; Estado de coisas [a1 [Propriedade Mf: 4(): fo ),) Propriedade lexical Mx: 4(K):[0%).D, ——_‘Individuo 14): fo(t),)) Propriedade (e gl: [6 (&),) Estado de coisas (ep): {fe (,),D Episodio (p): [5 @),)) ‘Conteudo proposicional No nivel representacional, as unidades linguisticas siio descritas em termos do tipo de entidade que elas designam. Para a GDF, 0 conteado proposicional (constructo mental, crenga, desejo) é a camada mais alta do Nivel Representacional. Segundo Heugeveld e Mackenzie (2008), os contetidos proposicionais podem ser faeruais, quando sao porgoes de conhecimento ou uma crenga acerea do mundo real, ou ndo-factuais, quando sio desejos ou expectativas com relagdo a um mundo imaginario. Além disso, para os autores, os contetidos proposicionais sao caracterizados pelo fato de serem qualificados em termos de suas atitudes proposicionais (certeza, diivida, descrenga) em relagdo ao evento ou em termos de sua fonte ou origem do conhecimento (conhecimento comum pattilhado, evidéncia sensorial, inferéneia) Organizados, assim, de forma hierérqnica, os contetidos proposicionais contém episodios (ep), que podem ser constituidos por um ou mais eventos dispostos numa sequéncia tematicamente coerente, apresentando, sempre, uma unidade temporal (t), locativa (1) € uma consequente manutengao dos individuos (x) envolvidos. No modelo da GDF, os eventos so caracterizados por una ou mais propriedades (f,), que, por sua vez, podem conter descrigdes de individuos (x) e outras propriedades (£,). Segundo Hengeveld e “Mackenzie (2008), a categoria episédio admite modificadores de tempo absoluto (ontem, ESTUDOS LINGUISTICOS, Sto Paulo, 40 (I): p. 92-107, janabr 2011 98 hgje, amanha, etc.), ¢ a categoria evento admite apenas modificadores de tempo relativo (como depois do almoco, em duas horas, na parte da manhii, ee.) Os Niveis Morfossintatico e Fonolégico Para Hengeveld e Mackenzie (2008), quanto mais se adentrar, em diregdo top-down, as demais niveis do modelo (niveis morfossintético e fonologico), mais (trans)linguisticamente especificos os niveis se tomardo, uma vez que éno Nivel Morfossintético que as representagdes interpessoais e representacionais so codificadas morfossintaticamente, Nesse nivel de anilise, sintagmas adposicionais fo relevantes somente para algumas linguas, mas nao para outras. Algumas linguas sao do tipo morfolégico isolante, e outras do tipo aglutinante, No nivel morfossintitico, a unidade linguistica é analisada em termos de sua composigao sintatica (de seus constituintes sintiticos), comegando da camada mais alta para a mais baixa: expressdes linguisticas (Le), oragdes (Cl), sintagmas de varios tipos (Xp), e palavras de varios tipos (Xw). Ainda, segundo Hengeveld e Mackenzie (2008), é possivel distinguir dentro de cada palavra, morfemas de varios tipos (Xs) ¢ afixos (Af). © modo como as categorias verbais so ordenadas em relagio a raiz do verbo ilustra, por exemplo, como as hierarquias implicativas de carter tipolbgico podem explicar a ordenagiio de informagdes linguisticas como aspecto, modalidade, tempo, modo, negactio. pessoa, evidencialidade ¢ ilocucdo nas linguas, em especial para mostrar como essas ‘mesmas categorias podem ser expressas entre linguas com estruturas morfossintéticas distintas Fé o nivel fonolégico contém tanto a representagdo segmental quanto a representagao supra-segmental de um enunciado, Para Hengeveld e Mackenzie (2008), nesse nivel de organizagao da GDF, a expresso linguistica é analisada em termos de suas unidades fonolégicas, tais como o emmciado (U), que & a camada mais alta do nivel fonologico, a frase intonacional (IP), a frase fonolégica (PP) e a palavra fonolégica (PW), além das camadas denominadas pé (F) e stlaba (S). Conforme Hengeveld e Mackenzie, a GDF esta mais preocupada cou a influéncia da prosédia nas expressdes linguisticas, isto é, com relagiio entre prosédia e fungao nas linguas. Os usos de ‘ai’ no portugués falado do interior paulista Nesta segiio, apresentamos a anélise qualitativa dos usos de ai no portugues falado do interior paulista. © corpus de andlise ¢ composto por 38 inquéritos do tipo Amosira Censo, provenientes do Banco de dados IBORUNA, que é resultado do projeto de pesquisa intitulado “O portugués falado na regido de Sao José do Rio Preto: constituigao de um baneo de dados anotado para seu estudo” (FAPESP, n° 03/080058-6). O referido projeto € coordenado pelo Prof. Dr. Sebastido Carlos Leite Gongalves (IBILCE/UNESP) e pelo Grupo de Pesquisa em Gramética Funeional, também da Unesp de Sao José do Rio Preto — SP, Analisamos 1298 ocorréncias de ai no total. ‘As ocorréncias, a seguir, ilustram os diferentes us0s de ai (9) Inf... 9s janelas de madeira ainda... as portas de dnas folhas tambem de madeira... bem::... simples... meu pai pagava aluguel... dePOr is... passado uns anos meu pai alugou essa casa da FRENte que eu morava ai... ai sé que quando eu mudei pra cf... aa ainda era terra... nao tinha asfalto... era terra ainda...(AC-098; DE: L. 165-170) ESTUDOS LINGUISTICOS, Sto Paulo, 40 (1): p. 92-107, janabr 2011 99 (ao) any 3) ayy Inf: no ¢um caso verdaDEiro que aconfece... um amigo da gente um akano dag dessa Faculdade die Medicina entto a gente fcom mito... chatead por im ciDENte. qe hove com tm Sins da da Cometa num sei se vocé ta lembrada... que morreu... um pessoa::| né e e:: infelizmente tinha um colegn um amigo da gene unto né nana. que Tva ness nus née e essa pessoa foi fl eh: ser reconhecida... éh: la no no local do acidente... SO conseguiram reconhecer ele dePOIS que ele estava ‘com uma caixa de LAmina... aqui da Faculdade de Medicina que ele levava pra Séo Paulo... final de setnana pra ele poder estiDAR... pa fazer as PROvas.. 1 na semana seginte aqui na facade i... €:: ele sO reconheceram esse aluno através dessa caixa de lamina... né... ques: tinha a:: a:: 0: o nome da da nossa faculdade né que isso foi uma co/ ¢ o RESto do pessoal... eles tiveram MAIS diffculdade pra recontecr...s vitimas né e: nesse caso AL foi enterrado gente...com nome de ‘outras pesso::as (AC-101; NR: L. 65-77) Inf: eu coloco meia lata de leite condensado... e meia de leite de vaca... [Doc.: hum]...e calaco no ogo pra... e vou mexendo pra dissolver e:: dar uma amomada Doc.: ndo vai aghear.. al? Inf: nfo porque o leite.. Leite Moga jf é hiper doce né [Doc.: alam] Inf: ai vod jo::ga que ele vai... ele vai... penetrar no bolo... ai c® joga basTAN::te coco ralado em cima né... tial o bolo de preguiCOsa... super gostoso... se no tiver 0 Ieite 0 condensado e nem. o.. num quiser fazer essa cobertura... pra comer com café também ele fica muito gostoso Doc.: [sem a] cobertura fica bom? (AC-110; RP: L. 357-385) Inf: bom... [..] eu vo(u) comegd) do comego... bom meu pai e minha mae sairam noite € me ... er uma FAME-LTA s6 ques: acontecen coisas iutitos FORTE... entio ai nés separamos... mas agora eu fico eu fico aqui na minha casa assim ‘tenho duas filha (AC-089; NE: L. 342-343) Em (18°), o item ai, em combinagdo com o entdo, é usado pela informante para finalizar o topico sobre o fim do casamento, Nesse caso, é importante ressaltar que o item ai € responsavel por finalizar um topico que, por natureza discursiva, pertence camada do Conteitdo Comunicado, do Nivel Interpessoal. Uma outra informagao relevante é que quase sempre o encerramento de t6pico é também demarcado por alguna informagao prosédica, como uma pausa que provoca uma ruptura na tessitura permanente do texto. E © qe se observa em (18), em que o item af é utilizado pelo falante para retomar, apos a inseredo de um comentirio, o topico em andamento: (18") Inf: nao pode demonstrar nojo ¢ tem que encarar tudo que vier porque o ser humano é:: meio ‘compplicado né e tinha @ ele [outro enfermeio] mas ele era muito noje:-nto e parece que as pessoas mais nojenta é que entao é meio € um fato meio nojento [euma] Doe. [nao] Inf: histéria meio nojenta ((alguém pigarreia)) ai (ent) ele com toda aquela delicadeza aquela frescura de NOjo e e/tinha uma senhora be::m idosa ¢ ela tinha problema de intestino [Doc.: hum ((concordando))] ¢ quando tem problema ds vezes no caso hoje eu ndo sei se usa ainda mais mas znaquela época usava colocava uma sonda no reto... (AC-108: NR: L. 171-178) No exemplo (18”), af cumpre o papel de retomar o assuunto em pauta, que é interrompido pela introdugao de um comentario (digressao) do proprio informante. Ao mesmo tempo em que retoma o tépico em questo, o item af (em combinago com entio) aponta para o desenvolvimento subsequente da interago. Por fim, a ocorréneia (19) exemplifica um caso de ai que atua como mareador discursivo. Trata-se de um uso discursivo que esti relacionado ao processamento cognitive do texto‘interagao, ou seja, é uma estratégia discursiva empregada pelo falante para ganhar tempo enquanto processa 0 seu discurso ou para organizar o que ele vai dizer logo em segutida, Esse uso é 0 que se assemelha aos casos de preenchedor de pausa analisados por Martelotta et al (1996). Em termos de GR. os usos de ai como marcador discursivo e introdutor de ato discursivo sao os mais abstratos, expressivos os mais gramaticalizados. O exemplo (20) traz um ai como introdutor de ato discursive: (20) Doc.: sabe o que eu quetia que cé me contasse também se puDESSE com foi! como voce conheceu seu. [atual] namorado.. Inf: fnamorado?] abn... eh: foi assim eu tava nmma casa de uma coleza MINHA... ai cla falou assim que tinha que apresentar uns menino queria apresentar uns menino ai no meu dos menino tava ELE af foi assim anor primeira vst... [Doc.; hum] af: ele pegou e pe/pe! perguntou se eu queria ficar com ele cu falei que eu queria a gente comegou ficar naquele dia ai passaram uns dois meses ‘a gente mum se viu mais... [Doc.: hum] ai do nada eu encontrei cle assim ai a gente comecou ficar de novo ele pedi eu em namor:ro (AC-034; NB: L. 15-24) ESTUDOS LINGUISTICOS, Sto Paulo, 0 (1): p, 92-107, jan-abr 2011 103 Eu (20), hi dois movimentos claramente definidos, um de iniciagiio (que é a pergunta do documentador) e outro de reagao (que &a resposta do informante). O movimento de reagao & composto por varios atos diseursivos que sio introduzidos pelo item linguistico ai. Assim como 0s episédios, os atos discursivos em (20) sao organizados de forma coesa € coerente, Ademais, pode-se dizer ainda que entre os atos discursivos existem relagdes de dependéncia e independéneia: (20°) Doc.: [sabe o que eu queria que cé me contasse também se puDESSE come foi/ como vocé conheceu seu... “[atual] mamorado),,.insats de inketeso Inf: f[namorado?] alm... ch:: foi assim [eu tava numa casa de uma cologa MINHA, rs mstar ai [ela falou assim que tinha que apresentar wns menino queria apresentar uns menino} smraine A [10 meu dos menino taV2 ELE]. gues atatinn M [foi assin amor a primeira Vista. See ainu- [Doc hum] a: [ele pegot e pe pe! perauntou se eu queria ficar com ele eu falet ‘que en queri::a a gente comecon ficar naquele dial, gcereny wsassee Mi [Dassaram uns dois meses a ‘eente num se viu mais... gyanmemastens [0C- hth a [Uo nada eu encontrei ele ASSN. gers ai [a gente comecot ficar de novo ele pedi eu em namo::r0 ea gente ta até ho titre menmrns derio Na representagao em (20°), notamos que entre os atos discursivos que compéem © movimento de reagao existem relagdes de dependéneia, tais como as que ocorrem entre 08 atos discursivos subsidirios e 0 ato discursivo nuclear. Nesse caso, os atos discursivos subsididrios introduzidos por af carregam informagdes secundarias que explicam o que aconteceu quando a informante estava na casa de sua colega. Algumas generalizagdes: o percurso de mudanga de ‘ai? Relacionando as ocorréncias de ai as diferentes categorias semanticas e pragmaticas dos niveis Representacional e Interpessoal, temos o seguinte: Quadro 3: Correlagio entre o item ‘ai’ ¢ os nivels da GDF Categorias da GDF Zz ‘Nivel Representacional Nivel Interpessoal tfox e oe |ep|ecflalo™ a | - - + + f+ b+ f+ - A andlise dos dados de ai sugere uma trajetdria de GR que parte das camadas do Nivel Representacional, em especial a camada do evento, em diregao as camadas do Nivel Interpessoal, como as camadas do contetido communicado e ato discursivo. Esse percurso de mudanga envolve alteragdes morfossintiticas, pelo fato de o item af assumir outras posigdes sintéticas e integrar outros paradigmas funcionais, e também alteragdes seminticas e pragmaticas (SOUZA, 2009). Quanto as mudangas semantico-pragmiticas, © que se observa em ai é a persisténcia de alguns tragos semanticos da forma-fonte nos ‘usos mais gramaticalizados (HOPPER, 1991), como as de lugar e proximidade. Nesse sentido, o pereurso de mudanga de af sugere a seguinte escala de GR: ESTUDOS LINGUISTICOS, Sto Paulo, 40 (1): p. 92-107, jan-abr 2011 104 Quadro 4. O percurso de GR de ‘ai’ na GDF Categorias representacionals Categorias interpessoals evento > episédio > proposigio | > contetido connmicado > ato discursivo Como se vé no quadro 4, 0 percurso de mudanga linguistica de af no portugués falado do noroeste paulista sugere que hii um proceso de GR que comega no Nivel Repre- sentacional (nas camadas do evento, episédio e contetido proposicional) e termina no Nivel Tnterpessoal (nas eamadas do Contetido comnicado e Ato discursivo, sendo o evento, em geral, a camada-fonte do processo de GR e o ato discursivo a camada-alvo Consideragdes finais Com base nas categorias semnticas e pragmticas da GDF, mostramos que 0 uso ais conereto de ai, o de advérbio déitico, esta situado na camada do evento (na predicagao), do Nivel Representacional, e, a medida que esse item vai assumindo outras fimgdes na lingua, tais como a de advérbio anaforico, advérbio cataférico, introdutor de episédios. advérbio relacional e conjungao coordenativa e subordinativa (fungdes textuais) e introdutor de Conteiido comunicado, operador aproximativo de subatos referencial e adscritivo, marcador discursivo e organizador de tépico (que so fangdes interacionais), ele passa também a operar em outras camadas de organizagao dos niveis Representacional e Interpessoal, percorrendo uma trajetéria unidirecional de mudanga, que vai do menos gramatical para © mais gramatical [Semantico —» Pragmético): Quadro §: Trajetéria de GR de ‘ai" no portugués contemporsineo Deitico > forico > introdutor de episodio > adverbio relacional > conjungio coordernativa/conjungao subordinativa/conjungao correlativa > operador de subato adscritivoy operador de subato referencial > organizador de tépico > introdutor de ato discursive > marcador discursivo, De certo modo, 0 item linguistico ai, mais especificamente o seu pereurso de GR, pode ser explicado com base no esquema de Hengeveld e Mackenzie (2008): 21) (a,: [(complexo) micleo} (a): 6 (,)), No esquema acima, o niicleo representa o primeizo restritor (obrigatério) ¢ © modificador (a) é definido como o segundo elemento restritor (pode designar lugar, espaco. ete_), O niicleo s6 6 considerado complexo quando um mimero de itens coordenados define hietarquicamente uma unidade superior. J4 os meios gramaticais sdo divididos em operadores (0) € fungies (9). Na GDF, os operadores captam as propriedades no-relacionais expressas ‘gramaticalmente, enquanto as fungdes captam as propriedades relacionais expressas também gramaticalmente. No nosso caso, o item ai é definido como micleo quando atua como termo argumental e como modificador quando atua como advérbio de lugar (1). A partir do momento em que ele passa a operar na camada do Contetido Comunicado, ai atua como operador aproximativo de subatos adscritivo referencial. Por fim, nos casos em que se encontra mais gramaticalizado, o item ai passa a exercer as fingdes de organizador de tépico, introdutor de ato discursive marcador discursivo, deserevendo 0 seguinte percurso de GR: niicleo (lexical) —> modificador (lexical) + operador (gramatical) > fimgao (gramatical). ESTUDOS LINGUISTICOS, Sto Paulo, 0 (1): p, 92-107, jan-abr 2011 10s REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BARBOSA. J. Gramdtica philosophica da lingua portuguesa. 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