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Cister
TOMO II

História

COORDENAÇÃO

José Albuquerque Carreiras


António Valério Maduro
Rui Rasquilho

ALCOBAÇA
2019

5
Título: Cister. Tomo II – História

Coordenação: José Albuquerque Carreiras, António Valério Maduro e Rui Rasquilho

Concepção e arranjo da capa: Gonçalo Fernandes

Colecção: História & Memória – 7

© AMA - Associação dos Amigos do Mosteiro de Alcobaça

Apoios:
Câmara Municipal de Alcobaça
Cooperativa Agrícola de Alcobaça

© para a produção
Hora de Ler, Unipessoal Lda.
Urbanização Vale da Cabrita
Rua Dr. Arnaldo Cardoso e Cunha, 37 - r/c Esq.
2410-270 LEIRIA - PORTUGAL
e-mail: horadelercf@gmail.com
Tlm: 966739440

Revisão e coordenação editorial: José Albuquerque Carreiras e António Valério Maduro


Montagem e concepção gráfica: Hora de ler
Impressão: Artipol

1.ª edição: Julho 2019

Edição N.º 1012/19


Depósito Legal: 458216/19
ISBN: 978-989-54473-9-8
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor.

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NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA
1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA
MONGE
LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA*

Introdução1

A diocese de Lamego com orgulho, apresenta-se como berço da presença da OC em


Portugal2. Contou no seu espaço territorial quatro mosteiros masculinos: São João de
Tarouca, Santa Maria de Salzedas, São Pedro das Águias e Santa Maria de Aguiar e dois
femininos, Santa Maria de Arouca e Nossa Senhora da Assunção da Tabosa3.
As últimas décadas têm sido férteis e produtivas na recuperação e manutenção des-
tes antigos edifícios, quase todos eles deixados à incúria dos homens depois da extinção
das ordens religiosas, em 18344.

* Doutorando em História na FLUC. Sacerdote da diocese de Lamego


1
Correspondência às abreviaturas usadas: ADB = Arquivo Distrital de Braga; ALC = Alcobaça; ANTT =
Arquivo Nacional Torre do Tombo; BN = Biblioteca Nacional de Lisboa; CDC = Código Direito Canónico;
Cf = confronte; CI = Cister; Cod. = Códice; DOC = Diffiniçoens da Ordem de Cistel e Congregaçam de
Nossa Senhora de Alcobaça, Lisboa, Antonio Aluatez, 1593; ex: exemplo; fl.(s) = folha(s); LCG (1): ADB
- CI, livro 187, Leis que se fizeram no Capítulo Geral (1672-1705); LCG (2): ADB - CI, livro 188, Leis que
se fizeram no Capítulo Geral (1711-1734); LGN = ANTT, Mosteiro de São João de Tarouca, livro 1 - Livro
dos graus da Noviciaria; LUACLO = ANTT - Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, livro 198 - Livros dos
usos antigos das cerimónias e louváveis costumes da Ordem...; LUOC = BN - ALC Cod. 208 - Livro dos
usos da Ordem de Cister; MSJT = Mosteiro de São João de Tarouca; ob. cit. = obra citada; RB = Regra de
São Bento ou Regra Beneditina; OC = Ordem de Cister; SECT = O Sacrossanto e ecumenico Concilio de
Trento... Tomo II. Lisboa, na off. de Francisco Luiz Ameno, 1781; v = verso.
2
Para as origens da Ordem de Cister em Portugal ver, por todos: MARQUES, Maria Alegria Fernandes -
Estudos sobre a Ordem de Cister em Portugal, Lisboa, Colibri, 1998.
3
Na atualidade Santa Maria de Arouca faz parte da diocese do Porto e Santa Maria de Aguiar da diocese da Guarda.
4
De realçar as recentes e longas campanhas arqueológicas nos mosteiros de Salzedas e São João de Tarouca,
Cister. José Albuquerque Carreiras, António Valério Maduro e Rui Rasquilho (coords.), Alcobaça, 2019, Tomo II, 195-226

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LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

Ou contrário de outros mosteiros, ainda não existe ainda para o MSJT, um estudo
histórico sistemático e abrangente, talvez porque a quase totalidade do seu cartório desa-
pareceu no incêndio de 1841 no Seminário de Viseu, onde estava guardado após a extinção
das ordens monásticas. Se para a época medieval, ainda dispomos de alguns trabalhos e
fontes escritas5, o mesmo não sucede para a época moderna. Mas não podemos dizer que
não existam fontes escritas, elas existem, não são é as primarias, pois estão dispersas em
vários fundos arquivísticos6, inseridas na documentação de outros mosteiros da OC7 ou
outras entidades (documentação régia, cúria romana, episcopal etc.)8. Faltará realizar um
trabalho de fundo na identificação dessa documentação e um estudo posterior da mesma.
Na falta desse trabalho, a Arqueologia tem-se revelado de extrema importância para
o conhecimento dos mosteiros de São João de Tarouca e Salzedas, sendo esta a discipli-
na que mais artigos científicos tem produzido, a que se junta a Arquitetura e a História
da Arte, que encontra um valioso espólio nas igrejas e sacristias que foram salvaguarda-
das pelas funções paroquiais que tais espaços passaram a ter após 18349.
O trabalho que aqui trazemos, tem por base um dos poucos documentos escritos que
guarda a memória dos homens que deram vida ao MSJT; ainda que o façamos por uma
abordagem sobretudo quantitativa, esperamos com que ele ajudar a humanizar, os estu-
dos que a Arqueologia, a Arquitetura e a História da Arte têm produzido.
Para uma próxima oportunidade, deixamos uma abordagem mais interpretativa e de
contextualização sobre o noviciado de Cister nos mosteiros de São João de Tarouca e de
Santa Maria de Salzedas10.

a compra e recuperação de terrenos e edifícios que estavam na posse de particulares e a musealização dos
dois espaços. A isto junta-se a recuperação e manutenção das antigas igrejas conventuais, que na atualidade
têm funções de paroquiais (Salzedas e São João de Tarouca). O mosteiro e igreja de São Pedro das Águias
está na posse de particulares e o mosteiro da Tabosa também, estando apenas capela unida à paróquia do
Carregal – Sernancelhe e usada para o culto pela comunidade da Tabosa do Carregal.
5
FERNANDES, A. de Almeida - Acção dos Cistercienses de Tarouca: as granjas nos sécs XII e XIII,
Guimarães, Companhia Editora do Minho - Barcelos, 1974 e Taraucae monumenta histórica, 3 Vols, Braga,
Câmara Municipal de Tarouca, 1991-1993.
6
Veja-se a título de exemplo: ANTT, BN, ADB, Arquivo Distrital e Biblioteca Municipal de Viseu e o
Arquivo Diocesano de Lamego.
7
Veja-se o caso das visitações quinhentistas já publicadas: BRONSEVAL, Claude de - Peregrinatio hispâ-
nica..., II vol., Paris, Presses Universitaires de France, 1970 e GOMES, Saúl António Gomes - Visitações a
Mosteiros Cistercienses..., Lisboa, IPPAR, 1998.
8
Exemplo: ANTT - Gavetas, nº 8, maço 5, nº 15: treslado do tombo do MSJT do ano de 1521.
9
Veja-se a imensa bibliografia apresentada nas últimas obras publicadas sobre estes mosteiros: CASTRO,
Ana Sampaio e - Mosteiro de Santa Maria de Salzedas. Da Fundação à Extinção, Lamego, Vale Varosa /
DRCN, 2014; Cister no Douro [cat. de exposição, [S.l.]: DRCN, Museu de Lamego, Vale do Varosa, D.L.
2015; Mosteiro de São João de Tarouca: História, Arquitetura e Quotidiano, Lamego, DRCN / Museu de
Lamego / Vale do Varosa, 2015.
10
O ANTT guarda também um livro de registo de termos de profissão dos noviços, com as datas de 1732 a
1769. Esperamos brevemente poder realizar um trabalho semelhante a este, tendo por base este livro e fazer
a devida contextualização. Ver: ANTT - Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, livro 2.

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NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA MONGE

1 – O noviciado na Ordem de Cister

“O noviciado, com o qual se começa a vida num instituto, destina-se a que os


noviços conheçam melhor a vocação divina, a vocação própria do instituto, façam ex-
periência do modo de viver do instituto, conformem com o espírito dele a mente e o
coração e comprovem sua intenção e idoneidade”. CDC n.º 646
O noviciado apresenta-se, ainda na atualidade, como um tempo de iniciação à vida
religiosa (um ou dois anos), durante o qual o noviço(a) faz o discernimento da sua voca-
ção, passa a conhecer melhor o carisma e o modo de viver do instituto a que se junta,
adquire a formação necessária, comprova o seu propósito e a sua idoneidade, permitindo,
aos responsáveis, julgar da sua admissão à profissão posterior que o irá unir ao instituto.

1.1 – O noviciado na Ordem de Cister – séculos XVII-XVIII

A entrada na OC, nos dois séculos para que nos remete o LGN (1692-1763), do
MSJT, em pouco ou nada havia de divergir dos séculos anteriores11.
O tempo de noviciado, tal como toda a sua espiritualidade e carisma, assenta na RB,
segundo o capítulo nº 5812. A esta, juntam-se as orientações retiradas dos textos dos
livros de usos e costumes13 e das definições e Leis da da OC14. A cronologia a estudar
fica também marcada pelas orientações emanadas da 25ª sessão do Concílio de Trento15
(1545-1563) que aprovou 22 capítulos com prescrições sobre a observância e vida das
Ordens Regulares e de algumas orientações e privilégios papais16.

1.2 – Da tomada de hábito à profissão

Em linhas muito gerais, o processo de entrada de um noviço num mosteiro de Cister,


era composto, numa primeira fase, de um pedido de admissão ao noviciado e, numa
segunda fase, da tomada do hábito da OC, depois dos exames prévios que inquiriam o
candidato sobre os seus conhecimentos na doutrina e no latim e os admoestavam sobre a
dureza da RB17.
11
DE LA TORRE RODRIGUEZ, José Ignacio - “A Comunidade cisterciense”, in Cister no Vale do Douro,
Porto, GEHVDVP / Edições Afrontamento, 1999, pp. 119-121;129-132.
12
Regra do glorioso Patriarcha Sam Bento... Lisboa, Antonio Ribeiro: á custa da Congregação de Sam Bento,
1586, fls. 39-40. Veja-se também: DIAS, Geraldo J. Amadeu Coelho - Quando os monges eram uma civili-
zação..., Porto CITCEM / Afrontamento, 2011.
13
Citamos apenas alguns dos códices presentes na BN: LUOC fls. 85-87 e 93-94v; BN - ALC Cod. 218,
fls.104v-106; BN - ALC Cod. 223 - Regra; LUACLO fls. 64-68
14
BN - ALC Cod. 75; DOC, fl. 30v
15
SECT; ADB - CI - livro 186; LCG (1); LCG (2); ADB - CI, livro 191.
16
BN - ALC Cod. 228.
17
Ver também, LUOC fl. 86. A leis que saíram do capítulo geral da OC do ano de 1736, determinavam que:
“para noviço monge destinado ao coro se não aceite sujeito, que tenha servido no seculo ã alguã pessoa de

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LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

Apresentando-se alguém para a vida monástica, não se lhe conceda fácil ingresso,
mas, como diz o Apóstolo: “Provai os espíritos, se são de Deus”. Portanto, se
aquele que vem, perseverar batendo à porta e se depois de quatro ou cinco dias,
sendo-lhe feitas injúrias e dificuldade para entrar, parece suportar pacientemente e
persistir no seu pedido conceda-se-lhe o ingresso, e permaneça alguns dias na cela
dos hóspedes. Fique, depois, na cela dos noviços, onde esses se exercitam, comem
e dormem... Sejam-lhe dadas a conhecer, previamente, todas as coisas duras e ás-
peras pelas quais se vai a Deus. Se prometer a perseverança na sua estabilidade,
depois de decorridos dois meses, leia-se-lhe por inteiro esta Regra, e diga-se-lhe:
Eis a lei sob a qual queres militar: se podes observá-la entra; mas se não podes, sai
livremente. Se ainda ficar, seja então conduzido à referida cela dos noviços e seja
de novo provado, em toda paciência. RB nº 58, 1-12
Ao longo do ano de noviciado, os noviços entravam em contacto com a liturgia,
aprendiam a rezar, a cantar o cantochão, os usos e costumes da OC e eram inseridos no
ambiente do mosteiro e nas suas normas, que deviam cumprir. Tudo isto com a supervi-
são do mestre de noviços. Durante este tempo, estavam proibidos de falar com os outros
monges e de entrar em contacto com a família ou amigos, salvo em caso de muita neces-
sidade e na presença do mestre dos noviços ou de um monge idoso18.
A tomada do hábito era feita perante o abade do mosteiro e diante de toda a comuni-
dade, reunida em capítulo regular, numa cerimonia com um ritual próprio19. O noviço,
de joelhos, era apresentado ao abade pelo mestre dos noviços, já com o hábito vestido
(excepto o escapulário20). O abade, após interrogar o noviço sobre a sua disposição em
seguir e cumprir a RB, despia-lhe a capa de secular e vestia-lhe o escapulário sem cruz,
para o distinguir dos outros monges e entregava-o ao mestre dos noviços para o preparar,
durante um ano, para a sua aprovação. Após este ato, o noviço, acompanhado do mestre,
devia dirigir-se ao cartório para fazer registo da tomada de hábito num livro próprio para
o efeito21 e confessar-se ao abade. Os termos da tomada de hábito seguiam mais ou
menos os moldes do documento D, apresentado na transcrição documental.
Durante o ano de aprovação, por 3 vezes (a cada 4 meses), decorriam votações
internas acerca do comportamento do noviço, das suas qualidades, da sua adaptação à
casa e o conhecimento da RB22. Externamente, o abade do mosteiro ordenava a 2 sacer-
dotes competentes que fizessem uma inquirição de genere vita et moribus ao noviço, nas

qualquer condição que seja, e cujos pays não venham vivido a ley da nobreza, ou tenham exercitado officio
algum mecânico”. Cf: LCG (2) fl. 70v
18
DOC fl. 32
19
Veja-se o ritual em: LUACLO fl. 66
20
O pano do hábito era igual ao dos outros monges já professos. Sobre os hábitos dos monges professos e
conversos ver: Mosteiro de São João de Tarouca, ob. cit., p. 16.
21
LCG (2) fl. 62v
22
DOC fl. 32v; LCG (2) fl. 70v

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NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA MONGE

suas terras de origem23. Por 3 vezes faziam os noviços votos temporários: os primeiros
ao fim de 4 meses, os segundos aos 8 meses e os terceiros aos 11 meses24.
Quando faltassem dez a doze dias para acabar o ano de noviciado, o noviço era
chamado ao capítulo, pelo abade, e, diante dele e dos outros monges, pedia que o quises-
sem receber em profissão25. Não existindo entraves, por parte do mestre de noviços, da
comunidade e da inquirição de genere, o noviço professaria os seus votos, num próximo
capítulo regular. A profissão religiosa tinha (tem) obrigatoriedade dos votos de pobreza,
obediência e castidade, unidos à estabilidade emocional e conversão.
No dia da profissão26, com toda a comunidade novamente reunida em capítulo, em
cerimónia com ritual próprio, ao noviço, “lhe fara o Abbde profissão privada diante de
todo o convento, onde com as mãos na regra, prometa obediencia, castidade, &, pobre-
za, segundo nosso Padre Sam Bento dispoem em soa regra”27.

“Aquel que quiser seer monge acabado o anno chamem no em cabidoo. ante
todos. e se ouver beens. Diga oque quer fazer deles. Depois se não he clerigo
beenza lhe o abbade a coroa na Egleia presente o Cantor. e o Sancristam. e faça
a beençom como see no colli tanho. O sancristam queyme os cabelos na piscina
que pera esto he posta des hi façam lhe a coroa.”28

23
Sobre a forma de fazer a inquirição de vida dos noviços, recolhemos as seguintes informações: 1º - Quem
foram e são os seus pais; 2º - Se tem raça de cristão-novo, mouro, turco, mulato ou se tem fama disso; 3º - Se
é legítimo; 4º se procede de geração infame; 5º - Que idade tem; 6º - Se é de bons costumes; 7º - Se cometeu
algum crime a saber, homicídio ou furto ou outro semelhante; 8º - Se corre a fama ou presunção de os ter
cometido; 9º - Se por eles foi condenado ou se presume que será; 10º - Se tem dívidas que não seja capaz de
pagar com os seus bens; 11º - Se tem obrigação de dar contas de algum direito ou fazenda que lhe fosse
entregue ou se por isso foi já molestado ou se se presume que o venha a ser; 12º - Se tem irmãos pobres; 13º -
Se tem irmãos pobres; 13º - Se tem alguma doença contagiosa ou incurável. Cf: LUACLO fl. 1v. 1º - Se
conhecem o pretendente a entrar na Ordem, seus pais e avós; 2º - Se sabem se são católicos, de sangue limpo,
sem raça de judeu, mouro, mulato, ou outra qualquer infecta nação, ou se foi o pretendente ou algum dos seus
antepassados penitenciado pelo Santo Ofício; 3º - Se sabem que o pretendente he de legítimo matrimonio e por
tal havido e reputado, se é pessoa livre e que livremente possa dispor de si, ou se já entrou noutra Religião; 4º
- Se sabem que o pretendente já deu palavra de casamento, se deve honra a alguma mulher ou se já foi culpado
em alguma visita; 5º - Se sabem que o pretendente tenha algum achaque habitual, contagioso ou falta de algum
sentido; 6º - Se sabem que o pretendente é notado de alguma infâmia, vício ou se é criminoso; 7º - Se sabem
que o pretendente tenha algumas dívidas que não possa pagar, se tem contas pendentes com o Rei ou com a
justiça; 8º - Se sabem se o pretendente é de bons procedimentos ou se vive escandalosamente. Cf: BN - ALC
Cod. 230. O custo desta inquirição, era paga pelos noviços. Cf: LCG (2) fls. 68-69
24
LCG (2) fl. 70
25
LUACLO, fls. 66-66v
26
“aos pretendentes que ouverem de vir receber o nosso Santo habito se lhe faça juntamente avizo de que
não poderão trazer na sua companhia mais de huã te duas pessoas, sendo pay, ou irmão, e na falha destes
algi tio, ou primo direito, e assim mesmo nas suas proficoens, para se evitarem as preturbacoens, e
incomodides que cauzão aos Mosteiros com aquelles repentes”. Cf: LCG (2) fl. 70v
27
DOC fl. 33
28
LUOC fl. 86v

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LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

Após a profissão, o noviço, acompanhado do abade do mosteiro, do mestre de novi-


ços e outras testemunhas (por norma, os monges mais velhos), escrevia o termo do ato
no livro do noviciado, que seguia mais ou menos os moldes dos termos B e C, apresen-
tados na transcrição documental.
Os noviços que se apresentassem para monges professos, passavam por uma sele-
ção prévia: “se examine da capacidade letra, e conta, e que este nunca seja moço que
tenha sido criado de pessoas seculares, nem ainda de religioso”29.
Os trâmites da sua entrada no noviciado e a da profissão eram em quase tudo idên-
ticos aos dos monges professos, só as vestes diferentes é que os identificavam e não
podiam receber ordens sacras30. No dia da tomada de hábito, “lhe será dada huã túnica
de Saragoça, e murça do mesmo”, no dia da profissão “diante do Prelado se porá de
juelhos, elle lhe lancara o bentinho cõ a Cruz, e Escapulario pardo debaixo da murça
benzendoo primeiro com a oração costumada e podosse cô os artículos das maõs no
chão, meio prostrado, e levantandosse a commonidade comessara o cantor Mor o Hyno
Veni Creator Spiritus”31.

2 – O mosteiro de São João de Tarouca nos finais do século XVII


e primeira metade do século XVIII

Sem dispormos de estudos que no elucidem acerca do seu funcionamento económico,


das suas relações com outras entidades (cúria romana, coroa, mitras episcopais e cabi-
dos, inquisição ou mosteiros) e da vivência em comunidade, atrevemo-nos a dizer que
nas primeiras décadas do século XVII, o MSJT teria já recuperado o esplendor dos
séculos passados, ultrapassando a crise quinhentista32. Fazemos esta afirmação, tendo
por base a tranquilidade que a comunidade monacal começa a ter com a eleição trienal
dos seus abades, a reforma levada a cabo no seio da OC, a conjuntura económica favorá-
vel33 e, sobretudo, os vestígios materiais que chegaram até aos tempos atuais. Estes ves-

29
LCG (2) fls. 55v; 71. “Item confirmando as leys modernas, que respeitão a aseitação de noviços para
irmãos converços, ordenarão, e mandarão que daqui para diante se não aseite jujeito algum para irmão
converço sem que passe por rigurozo exame, que sabe bem ler, escrever, e contar e que tem capacidade para
poder tratar dos negocios e fazenda da ordem, e que não posso ser admitido ao Santo habito sem primeiro
que esteja por tempo de hi anno para prova da sua capasidade: ou dentro de clausura em algia das quintas
dos mosteiros”. Cf: LCG (2) fls. 83v-84
30
LCG (2) fl. 67
31
LUACL fls. 66-67
32
COSTA, Manuel Gonçalves da - História do Bispado e Cidade de Lamego, Vol. IV, Lamego, (s. ed.),
1984, pp. 543-550; GOMES, Saúl António - “A Congregação Cisterciense de Santa Maria de Alcobaça nos
séculos XVI e XVII: elementos para o seu conhecimento”, in Lusitania Sacra, 18, 2006, pp. 390-393
33
Ver: FERNANDES, Rui - Descrição do terreno ao redor de Lamego duas léguas (1531-1532), Santa Maria
da Feira, Beira Douro, ADVD, 2001 e OLIVEIRA, João Nunes de “A realidade sócio-económica dos
arciprestados de Lamego e de Tarouca na transição do Antigo Regime para a Contemporaneidade” in, RESENDE,
Nuno (Coord.) - O compasso da terra..., Vol. I, Lamego, Diocese de Lamego, 2006, pp. 94-103.

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NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA MONGE

tígios resultam de uma série de obras de aumento das estruturas edificadas ao redor do
mosteiro (hoje em ruínas) e nos melhoramentos e adaptações às disposições de Trento,
levados a cabo na igreja monacal e que chegaram até aos nossos dias34.
Tendo por base as informações colhidas por Gonçalves da Costa, o século XVII, tal
como havia sido o anterior, foi fecundo em obras e melhoramentos levados a cabo sob a
tutela dos seus abades: na igreja, no espaço conventual, na cerca, em algumas igrejas e
capelas do seu padroado e nas granjas que o mosteiro trazia emprazadas35.
Para a temática aqui tratada, importa realçar, pela negativa, a obra levada a cabo no
segundo mandado do abade frei Frutuoso do Vale, que “promoveu a construção da
noviciaria, tão mal, que em menos de um século se arruinou”36. A construção da noviciaria
de três alas37, destinada à formação de noviços representava, sem dúvida, o papel de
relevo que o mosteiro detinha no seio da própria OC, uma vez que era um dos quatro
mosteiros que recebia noviços. Estes, após a sua profissão, seriam distribuídos pelos
outros mosteiros, ocupando alguns lugares de destaque na hierarquia da Ordem. Veja-se
o caso de alguns monges que professaram em São João e que singraram no campo das
letras38.

34
COSTA, Manuel Gonçalves da – Igreja do Convento de São João de Tarouca, Lisboa, Inst. Port. do
Património Cultural, 1988.
35
COSTA, Manuel Gonçalves da – IV vol., ob. cit., pp. 550-558.
36
COSTA, Manuel Gonçalves da – ob. cit., p. 552.
37
Ver mapa da sua localização em: Mosteiro de São João de Tarouca, ob. cit., p. 2.
38
RESENDE, Nuno – “Frei Bernardo de Brito e os escritores dos mosteiros cistercienses do Douro” in,
Cister no Douro ob. cit., pp. 83-93.

201
LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

2.1 – A comunidade monástica de São João de Tarouca em 1692

O rol dos religiosos da OC39, datado do ano de 1692, permite-nos perceber a popu-
lação monacal residente no MSJT, aquando do início do registo que serve este estudo,
introduzindo-nos contextualizando-nos na ocupação humana do espaço.
Segundo o dito rol, das 26 casas com monges cistercienses40, o MSJT era a terceira
casa da OC com mais população, 34 monges, sendo superado apenas por Alcobaça, com
110 monges e Salzedas com 42. Eram também estes os 3 únicos mosteiros que nesta data
tinham o noviciado a funcionar41.
Os 34 monges do mosteiro de Tarouca, orientados sob a tutela do abade Félix Aze-
vedo, agrupavam-se da seguinte forma: 24 monges com votos, dos quais, 17 tinham
recebido o sacramento da ordem e 9 noviços. Não havia nenhum monge converso com
profissão e, dos 9 noviços, apenas o irmão António de Macedo era converso42.
A vida na comunidade do MSJT devia seguir os trâmites normais dos mosteiros da
OC, orientada pela RB, cumprindo as orientações saídas dos capítulos gerais e recolhi-
das nos livros das definições e livros de usos.

3 – O Livro dos graus da Noviciaria de 1692-1763

O documento localizado na Torre do Tombo, no fundo do MSJT, com a cota de livro


1, apresenta-se com uma encadernação em pergaminho, com bastante desgaste. Na capa,
as letras quase gastas apenas permitem ler “1692” e “assentos dos noviços e dos professos”.
No seu interior, apresenta 162 folhas de papel com as medidas de 29,30 cm por 20, 50 cm.
A primeira folha dita o título do livro, a sua função, datação e quem foi o responsá-
vel que o mandou fazer: “Livro dos graus da Noviciaria, que pello antigo ser acabado,
mandou fazer o Muito Reverendo Padre Frey Felix de Asenção deste Real Mosteiro de
São João de Tarouca Dom Abade, o qual comessa no anno de 1692 43”,
Está numerado deste a primeira folha, com o número 1, até à última, com o número
167. Contudo, existem algumas falhas na numeração: da folha número 21 passa para a
folha 24; da folha 27 passa para a 29; a folha 28 foi rasgada, segundo a informação
contida na folha 27v., porque o noviço Caetano de São José se foi embora. Estão em
branco as folhas a partir da 57 e até à folha 74. A folha 90 não existe, com vestígios de ter
sido arrancada. A folha 100, também não existe. A folha 110 não existe, com vestígios de
ter sido arrancada. As folhas desde o número 149 até à folha 151 (rosto) estão em bran-
39
BN - ALC Cod. 75 fls. 217-222
40
Inserem-se nesta contagem os mosteiros da OC femininos, onde serviam os monges de Cister e o colégio
de Coimbra. O número total de monges as OC, espalhados pelas 26 casas na mesma data era de 385. Cf: BN
- ALC Cod. 75 fl. 222v
41
Salzedas tinha 6 noviços e Alcobaça 8. Cf: BN - ALC Cod. 75 fls. 219v e 221v
42
Ibidem, fl. 219
43
LGN fl. 1

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NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA MONGE

co. No verso da folha 151, está a seguinte menção: “Tem este livro cento e sincoenta e
hua folhas entrando esta deste asento numerado por mim em os dezanove dias do mes de
Outubro de mil seiscentos e noventa e dous annos neste Real Mosteiro de São João de
Tarouca, e por verdade me assinei Frei Manuel Pereira, Prior e Mestre dos Noviços”44.
Mas fazem parte deste livro mais 17 folhas, já numeradas com outra letra, tendo, a
primeira, o número 152 e a última o número 167. A seguir à folha 163v (data: 28 de
janeiro de 1759, existem vestígios de várias folhas cortadas, a folha seguinte não tem
numeração alguma (data: 20 de outubro de 1759), mas a folha posterior já esta marcada
com o número 165 (tinta azul recente), que se repete até à última folha (167).
O documento divide-se em duas partes:
- na primeira apresenta-se o
formulário dos termos do registo
da tomada de hábito da Ordem,
ou seja, o dia de entrada no mos-
teiro e o início do noviciado, es-
crito e assinado pelo próprio (da
folha 3 até à folha 56). Nesse re-
gisto consta a datação, o nome do
abade do mosteiro, o nome do
mestre dos noviços, o nome do
noviço, a sua filiação e naturali-
dade, o bispado a que pertence e
a sua idade. Assina sempre o no-
viço, o mestre dos noviços e, em
alguns casos, o prior do convento
ou o subprior;
- a segunda parte consta do
formulário dos termos de registo
do dia da profissão feita pelos
noviços, (além da filiação e natu-
ralidade) as declarações de com-
promisso para com a OC, a infor-
mação dos bens que detinham co-
mo seus e a quem os legavam (da
folha 75 até 167 v). Este registo é
também escrito e assinado pelo
próprio noviço, junto com o abade do mosteiro, mestre dos noviços e, em alguns casos,
o prior do convento, o subprior e outras testemunhas (frades mais velhos).

44
LGN fl. 151v

203
LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

Frei Manuel Pereira, mestre dos noviços no ano de 1692, que iniciou este documen-
to e o numerou, escreveu na folha de rosto a seguinte recomendação aos futuros mestres
dos noviços: “He necessario terem os Padres Mestres da Noviciaria <advertencia> que
ponhão os Noviços o dia, e era em que tomão o habito por letra, e não por algarismo
por evitar o inconveniente de se poder viciar este Livro45 “, isto, porque já no livro
velho, que tinha terminado, a havia encontrado e a achou digna de lembrança.
Gonçalves da Costa, no VI volume da sua História do Bispado e Cidade de Lamego,
utiliza as informações do LGN, para elencar os ritmos de entrada dos noviços do MSJT
e identificar os seus abades46.

3.1 – Entrada no noviciado – anos meses e dias

A catalogação dos 151 monges que receberam hábito, permitiu identificar os anos,
os meses de entrada e os dias:
- os anos em que mais noviços deram entrada na noviciaria do MSJT foram: 1711 (9
monges), 1744 (8 monges), 1705 e 1746 (7 monges) os anos de 1696, 1704, 1708, 1734,
1750, 1759 e 1762 (6 monges) e os anos de 1699, 1703, 1753 e 1756 (5 monges). O
gráfico nº 1 permite visualizar que os picos de maior entrada de noviços se dão nos anos
de 1696 a 1711 e de forma já mais irregular de 1734 a 1762;

45
LGN fl. 1
46
- História do Bispado e Cidade de Lamego, Vol. VI, Lamego, (s. ed.), 1982, pp. 707-715.

204
NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA MONGE

- em relação aos meses de entrada, os preferenciais foram: abril (47 noviços), março
com (33 noviços) e fevereiro (17 noviços). Podemos afirmar que o terminar do inverno e o
início da primavera era a época do ano escolhida para a entrada no noviciado no MSJT;
- quanto aos dias de entrada no noviciado e
profissão de votos, não encontramos um padrão
que possamos apresentar. Elencámos os dias com
o número de noviços que receberam hábito e pro-
fessaram de forma a perceber se se adequavam a
alguma festa do calendário litúrgico de Cister e
de que forma é que este dia podia, ou não, ter in-
fluenciado a escolha do nome de religião, mas não
nos foi possível estabelecer ligações. Podemos,
apenas, dizer que o dia da Anunciação de Nossa
Senhora, 25 de março, foi o dia mais escolhido
para dar entrada no noviciado, por 5 vezes, sendo
que no ano de 1741, entraram 2 noviços nesse dia.
Verificámos também que apenas o monge
Bernardo da Encarnação (1744/03/25), escolheu
o nome ligado à celebração litúrgica própria do
dia. Quanto aos dias de profissão, foram escolhi-
dos 5 vezes os seguintes: 29 de março, 15 de abril
e 1 de maio. Mas em todos estes dias e no mesmo ano, professaram mais do que um noviço.
Da leitura das leis saídas dos vários capítulos gerais da OC, depreendemos que a
entrada de noviços na Ordem, era condicionada pelas resoluções destes capítulos, como
forma de controlar a população dos mosteiros47.
As leis do capítulo geral do ano de 1728, por exemplo, “ordenarão, e mandarão que
a prohibição que poem a dita ley se estendesse e prorrogasse de sorte que se não possão
aceitar noviços alguns enquanto permanecerem os ditos empenhos, e dividas, e que o
numero dos Religiozos não estiver diminuído, e reduzido para a taxa de 350. Convem a
saber 315 monges, e 35 conversos; o que mais de novo detreminão, e taxão agora, e
para o futuro comformandosse com a ultima taxa que se fez na religião no Capitulo
geral celebrado no anno de 1678”48. Com monges a mais, alguns mosteiros não tinham
meios de os sustentar, o que fazia que muitos saíssem da clausura na busca de melhores
condições de sustentabilidade49.

47
LCG (1) e LCG (2). Exemplo: “Porque no Capitullo Geral se achou preciza aceitação de seis Noviços ...
e aceitados estes se não admitta outro algum antes de aver Capitullo Geral”. Cf: LCG (2) fl. 22. Anos sem
estradas de monges: 1697-98, 1701,1706-07, 1709-10, 1712-13, 1715-1717, 1722-1723, 1726-1729,
1731,1736-1737, 1739-40, 1743, 1746, 1748-49, 1751, 1757, 1760-61.
48
LCG (2) fl. 39
49
LCG (2) fl. 39

205
LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

Já no capítulo geral do ano de 1729, foi determinado que: “atendendo á urgente


necessidade que tem as cazas do coro de que nellas haja noviços, e professos para o seu
serviço, e respeitando ao excesso, que ainda há no nº dos monges, pareceo ao Capitulo
ordenar possa aceytar 18 monges ao nosso Revendendo neste seu trienio, e em tudo
mais confirma a ley da junta passada no tocante a esta matéria”50. Já as leis que que
saíram da junta realizada a 14 de janeiro de 1741, no Real Colégio de Coimbra, determina-
vam o seguinte na terceira seção: “attendendo ao Nosso Reverendo á falta que ha de
monges para assistir ao coro e se fazerem com perfeição os officios divinos, e tambem
para servirem os cargos e officios da ordem, e ponderando como desde o trienio do Nosso
Reverendo Padre Frei Manoel de Mello athe o prezente se acha a congregação diminuta
em 73 monges, conferindo com mais padre da junta, pareceo ao mesmo Reverendo preci-
so, e necessario aseitar ao menos 26, ou 27 noviços fora organistas e conversos”51.

3. 3 – Os nomes de religião

Não dispomos de informações sobre o tempo e a forma em que se introduziu como


costume, nas ordens religiosas, a adoção, por parte dos monges, do chamado nome de
religião. Ou seja, o abandono do seu nome secular e de batismo, para adotar um novo
nome chamado de religião. Não conhecemos estudos que abordem esta temática, mas
era prática usual, na Época Moderna, entre as várias congregações religiosas mendican-
tes e que os cistercienses também vão adotar. A mudança de nome insere-se no mecanis-
mo de mudança de vida que o próprio noviço vai realizar, ao abandonar a vida do século
e ao entrar na vida de religião (vida nova / nome novo). A escolha do nome de religião é,
possivelmente, condicionada pelos nomes dos santos, invocações ou devoções de cada
Ordem. Assim, os cistercienses iriam procuram os advogados mais queridos na OC, ao
passo que os franciscanos ou dominicanos fariam o mesmo entre os seus52.
Os monges apresentam-se sempre com um nome próprio seguido da invocação ou
santo, ex: Manuel do Coração de Jesus ou Francisco de São Bernardo. Fica a interroga-
ção se o primeiro nome seria o nome de batismo, ou se também é escolhido.
Pelo elenco dos 160 nomes de noviços que recolhemos no LGN, no termo da receção
do hábito e no da profissão, depois de agruparmos os segundos nomes pelas diversas
invocações, distinguindo as marianas das cristológicas e os santos das santas, obtivemos
os seguintes dados:
- a maior escolha para segundo nome recaiu em nome de santos, com 80 casos,
seguido das invocações marianas (45 ocorrências), do nome de santas (15 referências),
as invocações cristológicas (13 casos) e outras invocações (7);

50
LCG (2) fl. 54v
51
LCG (2) fl. 85v
52
Mas outras condicionantes devem pautar estas escolhas. Veja-se no LGN o caso do noviço Plácido de
Santo Estêvão, natural da quinta de Santo Estêvão, fl. 133.

206
NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA MONGE

- como seria de esperar, São Bernardo lidera a escolha do segundo nome dos novi-
ços (20 escolhas), seguido de São José (19); São Bento com 8 referências, fica atrás do
franciscano português Santo António (11);
- de entre as invocações marianas, Conceição lidera com 8 escolhas, seguido de
Nossa Senhora, ex: Fernando de Nossa Senhora, em 7 casos;
- entre as santas, Santa Ana e Santa Rosa, foram escolhidas por 4 vezes, seguidas de
Santa Teresa (3).

Tomamos também nota de que, por 7 vezes, se o deu o caso de alguns noviços
assinarem o termo da tomada de hábito com um nome e, ao assinarem o termo da profis-
são usarem outro nome (no caso, apenas a invicção): ex: Francisco de Santa Apolónia
muda o nome para Francisco das Chagas53; Luís de São Bernardo para Luís de São
Lourenço54 ou Alexandre de Santa Teresa para Alexandre do Desterro55.
Das fontes consultadas, entre as definições e livros de usos apenas encontramos a
referência à mudança de nome para os monges conversos “ate fazer profissão e emquanto
a não fizer sera chamado por seu nome proprio mudando o sobrenome pello de algum
Sancto por não ficar com o de secular”56. Para Espanha, dispomos da informação de que
a escolha do nome era da responsabilidade do abade57.

53
LGN fls. 10v; 87v
54
LGN fls. 10v; 88
55
LGN fls. 11; 88
56
LUACLO fl. 67
57
FERNÁNDEZ ORTIZ, Guillermo - “Escrituras para la profesión masculina en la Orden del Císter:
Ceremonial y tipologías documentales” in, Historia. Instituciones. Documentos, 44, 2017, p. 113.

207
LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

Sem sabermos de quem era a responsabilidade da escolha do nome de religião, certo é


que os noviços, em Tarouca, no hiato de tempo estudado, já no início do noviciado se apre-
sentavam com o nome de religião e que alguns mudaram esse nome durante o noviciado.
Deixamos também a pergunta, a merecer outro tipo de investigação e confronto
com as fontes de outras instituições monásticas; o nome de religião mantinha-se para
sempre ou, posteriormente, os monges voltavam a usar o seu nome de batismo? Isso
acontecia com todos os monges ou somente aos professos com ordens sacras?

3. 4 – Naturalidade dos noviços

Estando a OC implantada um pouco por todo o país e havendo uma quantidade


enorme de mosteiros das várias famílias religiosas, podemos afirmar que havia muita
escolha para aquele(a)s que se propunham a entrar na vida religiosa. A identificação da
naturalidade dos noviços ajuda-nos a perceber qual era a zona de influência do MJST.
Mandavam as definições que “que perã bem & quietação dos religiosos nenhum
noviço se receba em mosteiro algum, menos de quatro legoas, donde he natural”58, sen-
do menos de 4 léguas e merecedor de hábito “se lhe dará em hu mosteiro, mais aparta-
do.” Mas nem sempre esta premissa foi seguida, pois o maior número de noviços recebi-
dos foram os naturais do bispado de Lamego (48) e das redondezas do mosteiro: Lamego
(4), Castro Daire, Leomil e da Arguedeira (Tarouca) (3), Miomães Mondim (2), Britiande,
Moimenta da Beira, Salzedas, Sande, Samodães, Leomil, Penajoia e São João de Tarouca
(1). Os restantes eram oriundos de quase toda a diocese: Marialva, Trevões e Resende
(2), Almeida, Anreade, Arouca Barrô, Cedovim, Espinhosa, Ferreiros de Tendais, Fonte
Arcada, Muxagata, Riodades, São João da Pesqueira, São Pedro de Ferreiros de Tendais,
Sernancelhe, Távora, Tendais, Vidigal -Vilarouco e Vilar (1).
Ao bispado de Lamego, seguem-se, por ordem decres-
cente entrados na noviciaria do MSJT, indivíduos naturais,
do bispado do Porto (32), de Braga (30), Coimbra (20), Viseu
(17), Lisboa (12), Guarda (3) e Miranda (1).
Naturais das grandes cidades do reino, contámos 7 no-
viços do Porto e de Braga; 5 de Coimbra e 3 de Lisboa. Da
atual cidade da Régua, identificamos 5 noviços; 3 de Gui-
marães e de Santa Marta de Penaguião e 2 de Vila Real,
Ponte de Lima, Valença do Minho e Viana do Castelo59.
Pelos dados recolhidos podemos constatar que a área
de influência do MSJT era bastante diversificada, atraindo
noviços das grandes cidades, mas também dos meios rurais como fica demonstrado pe-
los números acima indicados e como iremos ver quando falarmos das famílias. Além do

58
COC fl. 33
59
Ver mapa 1.

208
NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA MONGE

bispado de Lamego, os territórios periféricos do Minho, do Porto, Viseu e Coimbra,


foram as zonas que mais noviços forneceram ao MSJT.

209
LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

3. 5 – Idade

A seção XXV do concílio de Trento, no capítulo XV, deixou como norma: “Em
nenhuma Religião, tanto de homens, como mulheres, se faça, Profissão, antes de com-
pletos dezaseis annos: nem seja admitido a Profissão o que tiver menos de hum anno de
aprovação, desde que recebeo o Habito. A profissão pois, que se fizer antes de passar
este tempo, seja nulla, e não induza obrigação alguma de alguma Regra, Religião ou
observância da Ordem, nem para outros quaesquer efeitos.60”. Já as definições de Cister,
do ano de 1593, estabeleciam: “Manda o capitulo, se nam recebam doje em diante pera
moges nenhúis noviços menos de dezasete annos perfeitos: salvo [se] tiver tais qualida-
des, que a religião tenha comodo em toma los de menos. E os que ouverem de ser conversos
teram vinte annos cumpridos, nenhum dos quais se receberá sendo aleijado, ou doente
de mal contagioso”61. Por aqui se conclui que nem sempre a idade mínima para professar
foi a mesma, variando segundo as orientações das diversas constituições da OC62.
Do levantamento que fizemos, tendo por base 144
monges professos (entre os que receberam hábito e
os que professaram), a idade média de entrada no
MSJT era de 18 anos, tendo, o mais novo, 14 anos, e,
o mais velho, 33. No caso do mais novo, frei Ascenso
da Purificação, apenas professou com a idade de 16
anos e dois anos e meio de noviciado 63.
Em relação aos 8 monges conversos, a média de
idade era de 24 anos, tendo o mais velho 35 anos e os
2 mais novos, 20 anos cada um.

3. 6 – Família, origem social e posses

Só com um estudo mais aprofundado, na área da


genealogia, poderíamos traçar o perfil familiar e so-
cial de cada um dos noviços. Mas os dados recolhi-
dos no registo de tomada de hábito e de profissão deixam antever que grande parte dos
noviços vinham de famílias da nobreza regional, com algum papel de revelo no panora-
ma social, militar e religioso da época64.

60
SECT pp. 357-408
61
DOC fl. 31
62
Por causa da sua idade, o monge Luís de São Bento retificou a sua profissão, “por achar em minha
conciencia ser nulla a que tinha feito ... por não ter completado o tempo que para a tal profissão ser valida
hera necessario conforme o Concilio e demais Leis e direito” Cf: LGN fl. fol. 114
63
LGN fl. 119
64
OLIVAL, Fernanda; MONTEIRO, Nuno Gonçalo – “Mobilidade social nas carreiras eclesiásticas em
Portugal (1500-1820)”, in Análise Social, 165, 2003, pp. 1213-1239.

210
NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA MONGE

Fazendo eco de alguns dos registos de tomada de hábito e de profissão, recolhemos


algumas das profissões e cargos que desempenhavam alguns dos pais dos noviços:
1 - como doutores: o pai de frei José de São Bernardo, natural de Amarante e a mãe
natural de Canavezes, habitavam em Lamego65; o pai de frei António de São Luís era
natural de Seia66; Duarte Róis, o pai de frei José de São Joaquim, era natural do Couto de
Alcobaça67; o pai de frei Francisco da Conceição, era natural de Carapito (Viseu)68;
2 - como desembargadores: o pai de frei Manuel de Santo António, morador em Vila
Real69; do termo de Vila Real o pai de frei José da Encarnação, António Pimenta Borgesl70;
3 - com funções no exército: frei Francisco de São Miguel, natural de Almada, era
filho de um sargento-mor do mesmo lugar71; frei Fernando de São José, de Maceira Dão,
era “filho legitimo do Capitam Manuel Barbosa”72; também capitão, era o pai do monge
converso Francisco de São Bernardo, natural de Pampilhosa da Serra73; frei Manuel de
São José, era natural de Viana do Castelo, onde o pai servia como tenente-coronel74; frei
Manuel do Coração de Jesus, era natural de Almeida, em cuja praça de armas o pai era
coronel75; frei António de Nossa Senhora do Rosário, de Estarreja, era filho de capitão76.
Já frei Jerónimo dos Prazeres, de São Pedro de Ferreiros de Tendais - Cinfães, de-
clara que seu pai era procurador no Estado de Bragança77.
Deixamos para o fim o caso de Ascenso da Purificação, natural de Coimbra, filho de
Pedro Álvares Garrido e sua mulher, Maria da Costa. Na informação da sua profissão,
indica que o pai era doutor e cavaleiro professo do hábito de Cristo78. Por outras infor-
mações, sabemos que seu pai cursou cânones em Coimbra (bacharel formado em 1702),
no ano de 1704, participou na guerra contra Castela, como soldado de cavalaria pago à
sua conta, o que lhe valeu a mercê régia de duas tenças anuais (28.000 e 12.000 réis) e o
hábito da Ordem de Cristo, concedido no ano de 1706, foi também capitão-mor e
almoxarife da Casa de Aveiro. O casal teve 13 filhos: 7 rapazes e 6 raparigas, dos quais
11 foram encaminhados para a vida religiosa, obtendo benefícios eclesiásticos que lhes
garantiam sustento, uma vez que todos abdicaram das suas legítimas em favor do morgadio
da família, que veio a ser administrado pelo filho segundo do casal, Lourenço Xavier

65
LGN fl. 129
66
LGN fl. 34
67
LGN fl. 35v
68
LGN fl. 164v
69
LGN fl. 152
70
LGN fl. 34v
71
LGN fl. 31v
72
LGN fl. 37
73
LGN fl. 31
74
LGN fl. 139v
75
LGN fl. 153v
76
LGN fl. 157
77
LGN, fl. 155
78
LGN fl. 119

211
LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

Garrido, dado que o filho mais velho preferiu prosseguir a carreira eclesiástica79. A pos-
sível mercê a que frei Ascenso da Purificação diz ter direito, no registo da sua profissão,
possivelmente terá sido um legado de seu pai, “de vinte mil reis de tença efectivos em
alguns dos Almoxarifados do Reyno e se lhe asentou no da portage de Lisboa aonde a
cobra há annos”80.
Se os pais destes monges ocupavam cargos públicos na administração e defesa do
reino, outros monges dão a entender que seus pais seriam proprietários de terras, possi-
velmente, membros de uma pequena nobreza rural:
- frei Bernardo da Assumpção, “filho legitimo de Martinho de Faria Andrade ja
defunto e de D. Madalena Luiza Mendes de Carvalho moradores na caza de Robalde81;
- frei António de Santa Ana, natural de Ovar e que voltou ao século sem completar
o tempo de noviciado, afirma que seu pai, Salvador da Rocha, era “morgado e padroeyro
insolidum de Pigeiros”82;
- frei Ambrósio da Conceição, filho de Francisco Gomes Colaço e sua esposa D.
Maria Manço, que eram naturais e moradores na quinta de Vera, na freguesia de
Almalaguês –Coimbra83;
- frei Manuel de São Pedro era natural da quinta de Negrosa (São Pedro do Sul),
onde moravam seus pais, Luís António de Almada e Caetana de Mesquita84; já perto da
cidade de Viseu, na quinta de Santo Estêvão, moravam os pais de frei Plácido de Santo
Estêvão, João de Almeida Melo e Vasconcelos e Inácia Maria Pinto de Vasconcelos85;
- Frei José de Nossa Senhora informa que seus pais, Jacinto Machado Melo e D.
Antónia Joséfa da Silva, eram “moradores em a quinta da quintam, freguesia de S.
Thiago de Sendim Arcebispado de Braga”86; do mesmo arcebispado, os pais de frei José
de São Bernardo, Hipólito Luís Lopes Picado e sua mulher D. Ana Maria, eram morado-
res na sua quinta em Arnoia, no concelho de Basto87; frei Tomás de São José, “filho
ligitimo de Joze de Sequeira Soares, e de sua mulher D. Luzia Maria Caetano, morado-
res na sua quinta da Veiga de Cenra freguesia de São Jorge da villa dos Arcos, Comarca
de Valença”88 e frei Torcato da Senhora da Piedade, “filho legitimo de Luis Antonio
Pimenta de Barboza da Gama Castro e de sua mulher D. Jozefa de Gusmão Machado
79
RIBEIRO, Ana Isabel – “A construção de uma identidade nobiliárquica – o percurso da família Garrido”,
in Penela. Um percurso no tempo (coord. Margarida Neto), Coimbra, Palimage, XLIV, 2015, pp. 125-154;
RIBEIRO, Ana Isabel – “O património da fidalguia provincial da região de Coimbra: o caso da família
Garrido (século XVIII)”, in Revista Portuguesa de História, 44, 2013, pp. 328-358.
80
LGN fl. 119
81
LGN fl. 47v
82
LGN fl. 38
83
LGN fl. 113v
84
LGN fl. 132v
85
LGN fl. 133
86
LGN fl. 154
87
LGN fl. 154v
88
LGN fl. 161v

212
NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA MONGE

Miranda natural pela parte paterna da Vila de Viana e pela parte materna de Guima-
rães, assistentes de prezente na sua quinta de Quintela freguesia de Santa Maria de
Iolda termo da Vila dos Arcos”89;
- frei António de São José, “filho ligitimo de Bento Soares da Motta, e de sua mu-
lher D. Catharina Jozefa Carneiro de Magalhães, moradores na sua quinta de Quintaã,
freguesia e concelho de Soalhaens, Bispado do Porto”90; foram também moradores na
quinta do Pinheiro em Godim - Régua, os falecidos pais de frei Manuel do Rosário91.
Ao professarem votos, os noviços, perante o abade do mosteiro, com as mãos sobre
a RB, prometiam obediência, castidade e pobreza. Pelo que, tinham que se desfazer dos
bens que tinham como seus92. Nos termos dos formulários de profissão, os monges dei-
xaram a anotação dos bens de que dispunham e a quem os legavam. Esta preciosa infor-
mação permite estabelecer o estatuto social do noviço, pelos bens que legava, e, em
alguns casos, de quem os recebera e, sobretudo, ajuda a compreender o núcleo familiar
de onde vinham.
Foram apenas 125 monges (dos 141 monges que fizeram registo de profissão), que
nos deixaram informação acerca da sua “legítima”, herança ou bens de que disponham93.
Destes 125 monges, 54 informaram que ainda tinham os pais vivos e, portanto,
ainda não dispunham de bens próprios. O monge converso Manuel de Nossa Senhora da
Guia, natural de Ponte de Lima, com a idade de 28 anos, declarava que era “filho de pays
incognitos”94, não dispondo, portanto, de bens. Frei Ascenso da Purificação, como já foi
referido, tinha uma tença régia95 e frei Manuel de Jesus Maria e José, informava que
tinha bens que herdara do seu tio padre e das suas tias freiras em Arouca, mas, já depois
de ter assinado o termo de profissão, informava que seu pai tinha falecido e que deixava,
a sua mãe, a herança que dele havia de receber96. Os restantes 6997 já eram órfãos, sendo
18 órfãos de pai e mãe, 41 só de pai e 10 só de mãe.
Apesar de serem parcas as informações, conseguimos perceber alguns elos entre os
noviços e outros membros da família já ingressados na vida religiosa:
- o já aqui citado, frei Manuel dos Santos, cujo tio, frei João de Cristo, era abade do
MSJT, tendo começado o noviciado em Alcobaça, veio com o dito tio para São João Tarouca98.

89
LGN, fl. 55
90
LGN fl. 161v
91
LGN fl. 97
92
DOC fl. 33
93
Existe uma falha nesta informação, durante o triénio do abade João Barreto e do mestre de noviços e lente
em Teologia Caetano Soares, nos anos de 1750 a 1752, cf: LGN fls. 152-156
94
LGN fl. 155v
95
LGN fl. 119
96
LGN fl. 138v
97
Juntámos mais um noviço, que apesar de não deixar testamento, informa no registo de profissão que sua
mãe já é “defunta”. Cf: LGN fl. 155
98
LGN fl. 51

213
LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

Deixou a herança de seus pais, ao seu irmão João dos Santos, da Companhia de Jesus,
sem condições algumas99;
- os também citados; Ascenso da Purificação, que teve 11 irmãos a seguir a vida
eclesiástica e Manuel de Jesus Maria e José, que dispunha de bens que herdara de seu tio
padre e de duas tias freiras em Arouca100;
- frei Nuno de São Bernardo deixou a herança de seu pai a seu irmão, o beneficiado
Manuel Garcia101; frei João de São José deixou os bens que herdara de seu pai, a sua
mãe, e, na morte desta, legava-os ao irmão, padre João Dias Pereira, para que fizesse
deles o que melhor entendesse102.
No quadro nº 5, podemos verificar aqueles a quem os monges destinavam as legíti-
mas a que tinham direito, por morte do pai, por morte da mãe e por morte do pai e da mãe.
Mas nem todas as legítimas eram legadas sem condições:
- apesar do voto de pobreza expresso no
dia da profissão, pela leitura dos seus termos,
identificámos 17 monges que salvaguardaram
bens para si, mediante algumas cláusulas da
herança a que tinham direito. Tratava-se de uma
tença, que os beneficiários da legítima, devi-
am pagar aos monges, anualmente, em dia ou
época definida103. Não sabemos se a gestão
desta tença seria pessoal ou se entrava nas fi-
nanças do mosteiro que, posteriormente, po-
deria investir na formação do monge104;
- identificámos também 3 monges que dei-
xaram as seguintes cláusulas nas suas legítimas: frei Jerónimo de São José deixava a
legítima que lhe pertencia de seu pai, ao irmão Francisco Xavier, com declaração de que,
se tivesse filhos, seria obrigado a vinculá-la ao seu morgado, com as condições e cláusu-
las que lhe parecessem, e, não os tendo, o irmão ficava na liberdade de poder dispor dela

99
LGN fl. 161
100
LGN fl. 138v
101
LGN fl. 76v
102
LGN fl. 131v
103
Veja-se o quadro nº 6.
104
Veja-se o caso de frei Francisco do Espírito Santo, que deixa a herança de seu pai, a sua irmã Guiomar,
com a condição de tirar da legítima uma tença com licença da Religião, para livros dos seus estudos. Cf:
LGN fl. 79. Já Ascenso da Purificação ou Ascenso Garrido, doutorou-se em Teologia, foi abade do mosteiro
de Odivelas, procurador-geral da Ordem no Porto e segundo a informação anexa ao seu registo de tomada de
hábito, foi examinador das 3 Ordens Militares e consultor da Bula da Cruzada. Tendo a tença régia, “e que
agora avendo de querer profesar lhe fes o dito Senhor nova merce de que a pudesse comer no estado de
Religião passando lhe apostilla do direito padrão da dita tença que ficava conservando em que a Relegião
lhe premetisse o uzo della”. Cf: LGN fl. 119

214
NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA MONGE

como bem entendesse105; frei João de São José, deixava a herança de sua mãe, a seu pai
e seus herdeiros, encapelada num morgado106 e Bernardo da Assunção legava a herança
de seu pai, ao irmão, sem condições, mas em tempo nenhum, a pode vender ou dar, mas
pode uni-la ao vínculo da capela de Pedro Afonso no Convento de São Domingos de
Guimarães, sendo sempre dela administrador o senhor da Casa de Robalde e fazendo o
meu irmão o contrario, passa a legítima para o seu primo Bartolomeu de Faria107.

105
LGN fl. 129v-130
106
LGN fl. 125v
107
LGN fl. 158v

215
LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

3. 7 – Abades e mestres de noviços

A escolha dos abades era feita por espaço trienal e ao longo dos 80 anos a que se
refere o documento, identificámos 24 abades, sendo que, pelo menos 3, estiveram mais
de um triénio: Francisco Breando108, Francisco do Espírito Santo109 e Leopoldo Botelho110.
Por possível morte do abade D. Vicente de Noronha, que, no dia 5 do mês de março
de 1747, ainda está presente no capitulo da tomada de hábito de frei José de São Bento,
assume o governo do convento o prior Bento da Gama, recebendo o hábito no capitulo
de 28 de março do mesmo ano, frei Luís da Conceição, natural de Miomães111. No capí-
tulo do dia 11 de abril, era abade escolhido, pela comunidade, frei Manuel Barbosa112.
Mas no dia 17 de junho de 1747, ao tomar habito frei Bernardo da Conceição, o abade da
comunidade era já Diogo de Jesus113, que se manteve no cargo durante o triénio.
Do abade Félix de Azevedo, que mandou elaborar o livro objeto deste estudo, sabe-
mos que também mandou realizar os tombos dos bens do mosteiro e dourar os retábulos
da igreja e outras obras de arte. Recolhemos a informação de que também foi abade em
Santa Maria de Alcobaça114.
Para o no ano de 1715, recolhemos a informação do abade Francisco Carneiro e do
mestre dos noviços frei Luís da Cunha, com os 6 monges que professaram, sem termos o
registo da sua tomada de hábito115. Do registo das profissões, recolhemos informação do
triénio do abade Bernardo da Silva, que se seguiu ao abade João de Cristo, no ano de
1760, acompanhado do mestre de noviços Alexandre de São Bernardo.
Tendo por base a RB as DOC e o LUACLO, o mestre dos noviços devia ser escolhi-
do pelo abade do mosteiro, entre os monges mais velhos, “cujos costumes & vida codigam,
com o nosso Padre Sam Bento manda no capitulo cincoenta & oito, de sua santa re-
gra”116, que diz: “Seja designado para eles um dos mais velhos, que seja apto a obter o
progresso das almas e que se dedique a eles com todo o interesse. Que haja solicitude
em ver se procura verdadeiramente a Deus, se é solícito para com o Ofício Divino, a
obediência e os opróbrios. Sejam-lhe dadas a conhecer, previamente, todas as coisas
duras e ásperas pelas quais se vai a Deus”, RB nº 58, 7-9.
Ao mestre, era pedido que acompanhasse sempre os noviços, ensinando-lhes “toda
a verdade, e religião, em especial os graos de humildade contheudos em nossa Sancya
Regra e as mais cerimoniais Sanctas da ordem e ter muito cuidado em que elles saibão,

108
1695/12/22 a 1696/04/28 e 1700/05/01 a 1703/04/27
109
1720/08/06 a 1721/08/29 e 1733/08/11 a 1735/04/17
110
1738/02/05 a 1738/03/26 e 1742/02/19 a 1744/04/12
111
LGN fl. 40v
112
LGN fl. 41v
113
LGN fl. 42
114
LGN fl. 24
115
LGN fls. 115-118v
116
DOC fl. 30v

216
NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA MONGE

e exortandoos em toda a parte, e lugar onde se descuidarem por sinal por palavra, ou
por castigo.”117.
No LGN, foi-nos possível identificar 24 mestres de noviços, os quais, por norma,
acompanharam os triénios dos abades, ainda que com algumas particularidades:
- os 3 abades que estiveram 2 triénios, fizeram-se acompanhar de mestre de noviços
diferentes;
- no triénio do abade António Magalhães houve 2 mestres de noviços (Feliciano de
Vasconcelos e Nuno Mascarenhas);
- Agostinho da Purificação ocupou o cargo no triénio de 2 abades: no triénio de D.
Francisco do Espírito Santo, apenas como mestre dos noviços, e, no de D. Leopoldo
Botelho, como prior e mestre dos noviços. Teotónio de Almeida, mestre de noviços do
triénio do abade D. Vicente de Noronha, manteve o cargo no período em que estiveram
à frente da comunidade o prior Bento da Gama e o abade D. Manuel Barbosa.
- Alexandre de São Bernardo acompanhou o triénio do abade João de Cristo (1756-
59) e do abade Bernardo da Silva (1760), como mestre de noviços. Pela possível morte
deste último, acompanhou também o abade D. Bento da Fonseca (1762), agora como
prior e mestre dos noviços;
Constatamos que os mestres de noviços ocupavam outras funções no convento;
como priores e mestres, identificámos 15: Agostinho da Purificação, Alexandre de São
Bernardo, Feliciano de Vasconcelos, Inácio da Purificação, Joaquim de São José, Jorge
Pimentel, José Ribeiro, Lopo da Madre Deus, Luís Faria, Manuel dos Prazeres, Manuel
Guedes, Manuel Pereira, Manuel Ramalho, Nuno Caiado e Ricardo Jesus e Maria. Como
subpriores e mestre de noviços, identificámos 3: António de Jesus Maria e José, José da
Virgem Senhora Nossa e Teotónio de Almeida. Apenas 8 ocuparam somente o cargo de
mestre de noviços: António de Jesus Maria e José, Agostinho da Purificação, Alexandre
de São Bernardo, Caetano Soares, José de Távora, Miguel Albuquerque, Miguel do Es-
pírito Santo e Nuno Mascarenhas. Agostinho da Purificação foi o mestre de noviços no
triénio do abade D. Francisco do Espírito Santo, tendo sido prior e mestre de noviços no
triénio do abade Leopoldo Botelho;
- os mestres de noviços Caetano Soares e José de Távora eram lentes em Teologia;
- o prior e mestre de noviços Lopo da Mãe de Deus, que acompanhou o triénio do
abade António do Amaral, devia ser o monge que recebeu hábito a 1711/04/07 e profes-
sou a 1712/04/14, com a idade de 19 anos, natural de Barrô - Resende.

117
LUOC fl. 64

217
LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

3. 8 – Suma dos dados recolhidos

As datas extremas no LGN do registo da entrada dos noviços e tomada de hábito


são: 21 outubro de 1692 a 30 de junho de 1762; para o registo da profissão: 25 de
outubro 1693 a 01 de maio 1763.
O número de monges registados a tomarem hábito, ao longos destes 70 anos é de
151, verificando-se que 4 abandonaram o mosteiro sem completar o noviciado:
- Caetano de São José, natural de Loures (1724/10/06);
- Manuel de Nossa Senhora, natural de Alvares – Góis (1734/08/10);
- António de Santa Ana e Manuel de Nossa Senhora, ambos de Ovar e que haviam
recebido hábito no mesmo dia (1744/04/12).
Registamos também 4 monges que iniciaram o noviciado noutros mosteiros e vie-
ram terminar o tempo necessário no MJST:
- Frei Manuel do Nascimento, natural da Régua, iniciou o noviciado a 18 de abril de
1702 em Salzedas, tendo-lhe a OC mandado acabar o tempo no MJST a 3 de junho do
mesmo ano;
- Frei Ascenso da Purificação iniciou o noviciado em Alcobaça a 2 de fevereiro de
1714, com a idade de 14 anos, depois do capítulo que escolheu no dito mosteiro para

218
NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA MONGE

abade D. António do Quental, com licença do dito abade, veio concluir o noviciado a 14
de maio de 1714, no MJST118. Este monge professou apenas a 15 de agosto de 1716,
completando 2 anos e meio de noviciado e a idade de 16 anos119;
- o monge Manuel dos Santos, de 20 anos de idade, iniciou o noviciado a 16 de
março de 1756, no mosteiro de Alcobaça. Tendo seu tio, frei João de Cristo, sido eleito
no capítulo seguinte, como abade do MSJT, trouxe-o consigo para este mosteiro, onde
continuou o noviciado, a 16 de maio de 1756120, vindo a professar no ano seguinte, a 19
de março;
- o último monge para quem dispomos de registo de tomada de hábito, havia inicia-
do o noviciado em Alcobaça, onde esteve 4 meses, mas, por motivos de saúde, retirou-se
para a sua terra (Santa Eulália – termo de Guimarães), tendo pedido a entrada no novici-
ado, de novo no MJST, onde lhe contaram os meses de noviciado passados em Alcobaça121.
- já frei João Batista (1708/04/29), natural de Vilar – Moimenta da Beira, morreu na
sua terra, sem fazer profissão.
Destes 151 noviços, apenas 8 se apresentaram como monges conversos a receber
hábito e a fazer profissão:
- João da Natividade (1703/09/07 - 1704/09/08) e Félix de Santo António (1708/04/
28 1709/05/01, ambos da Régua;
- Manuel de São Paulo (1720/08/06 1721/08/29), natural de Alcobaça122;
- Francisco de São Bernardo (1733/08/11 1734/08/24), natural de Pampilhosa da
Serra123;
- Domingos de São Bento (1744/03/21 1745/03/22), de Vila do Prado - Braga 124;
- Manuel de Nossa Senhora da Guia (1752/03/01 1753/03/03), natural de Ponte de
Lima125;
- António da Esperança (1752/05/06 1753/05/09, de Tondela126;
- Leonardo da Esperança (1755/09/01 1756/09/12), natural de Botão – Coimbra127.
Na segunda parte do documento, elencámos o registo de profissão de 141 monges.
Apesar de a cronologia ser idêntica, ao inventariarmos os dia de tomada de hábito e os
dias de profissão, além dos casos já citados, nem todos os que receberam hábito fizeram
profissão: José do Espírito Santo (Lisboa - 1692/10/01), João da Glória (Arquedeira /
Tarouca - 1703/04/27), António de São Luís (Coimbra - 1703/03/20), Mauro da Concei-

118
LGN fl. 24
119
LGN fl. 119
120
LGN fl. 51
121
LGN fl. 57
122
LGN fls. 27, 125
123
LGN fls. 32, 130v
124
LGN fls. 37, 142v
125
LGN fls. 44v, 155v
126
LGN fls. 45, 156
127
LGN fls. 49, 160

219
LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

ção (Tendais - 1708/04/18), Romualdo de São João (Braga - 1714/03/25), Manuel de


São José (Vila Verde - 1725/06/22), Francisco São Pedro (Távora - 1747/04/22) e os 5
monges que receberam hábito, depois de 26 de março de 1762: Marcelino de São Bernardo,
Francisco de Santa Rita, Torcato da Senhora da Piedade, Fernando de Nossa Senhora e
José de São Nicolau.
Também inventariámos, no ano de 1715, sendo abade Francisco Carneiro e mestre
dos noviços Frei Luís da Cunha, 6 monges que professaram, sem termos o registo da sua
tomada de hábito: João de São José (1715/03/20), José do Nascimento (1715/04/06),
João de Santo António (1715/04/09), Diogo de Santa Rosa (1715/04/09), Bento de São
José (1715/04/11) e Luís de São Bernardo (1715/04/17)128.
O já citado monge Luís de São Bento, natural da cidade por Porto, que recebera
hábito a 13 de março de 1711, com a idade de 15 anos, professou a 28 de março de 1712,
apresentando a idade de 17 anos. Mas nove meses depois, a 2 de fevereiro de 1713,
retificava a profissão, “por achar em minha conciencia ser nulla a que tinha feito”, “por
não ter completado o tempo que para a tal profissão ser valida hera necessario confor-
me o Concilio e demais Leis e direito”129.
Para o ano de 1759, o livro de registos de profissão, dá conta da reentrada do monge
professo António Mendonça, que andava fugido: sendo preso foi trazido à clausura do
MSJT, onde pertencia. No dia 20 de outubro, em capítulo, perante toda a comunidade,
apresentou um Breve do Papa Clemente XIII, do ano de 1759, em favor dos monges que
andavam fugidos ou eram apostatas das suas congregações e uma certidão do provisor
do Bispado do Porto, em que se atestava que fora absolvido da excomunhão e apostasia.
O abade João de Cristo, tendo consultado o letrado da casa, deliberou que prometendo,
ele, emenda, seria recebido novamente na comunidade, o que vai acontecer130.

Conclusões

O estudo aqui apresentado não esgota o LGN, pelo que deixamos para uma outra
oportunidade a devida contextualização sobre o funcionamento do noviciado, para o
correspondente período de tempo, dado que também ele era moldado pelas orientações
que saíam dos capítulos gerais e constituições da OC.
Faltará, também, fazer um estudo mais profundo no campo da genealogia dos novi-
ços e, dessa forma, perceber os seus laços familiares. Tal como falta perceber qual foi o
destino dos 144 monges que fizeram profissão. Que papel e cargos tiveram estes homens
dentro daO C, ou no funcionamento eclesial da época? Por que mosteiros passaram?
Onde morreram?

128
LGN fls. 115-118v
129
LGN fl. 114
130
LGN fl. 159v

220
NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA MONGE

Dado que existe, no ANTT, um livro de registo de termos de profissão dos noviços
do Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, com as datas de 1732 a 1769131, pelo seu estu-
do, temos intenção de apresentar, para breve, novos dados que possam humanizar os
dois mosteiros, neste período de tempo, tão carente de fontes escritas.
Posto isto, deixamos algumas questões pendentes: o que é que fazia estes jovens
sair de suas casas, saindo do século para ingressarem na religião de Cister? Será que era
apenas a procura de melhores condições de vida? A procura da honra humana dentro da
Ordem, ou a salvaguarda do património familiar? Ou será que era verdadeiramente a
vivência da RB, nesse encontro com Deus e o próximo, que a velha máxima ora et
labora proporcionou e continua a proporcionar a tantos homens e mulheres?

FONTES E BIBLIOGRAFIA

ADB - CI, livro 186


ADB - CI, livro 187
ADB - CI, livro 188
ADB - CI, livro 191
ANTT - Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, livro 198
ANTT - Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, livro 2.
ANTT - Mosteiro de São João de Tarouca, livro 1
ANTT - Gavetas, nº 8, maço 5, nº 15
BN - ALC Cod. 75
BN - ALC Cod. 208
BN - ALC Cod. 218
BN - ALC Cod. 223
BN - ALC Cod. 228
BN - ALC Cod. 230

BRONSEVAL, Claude de - Peregrinatio hispânica..., vol. II, Paris, Presses Universitaires de


France, 1970.
CASTRO, Ana Sampaio e - Mosteiro de Santa Maria de Salzedas. Da Fundação à Extinção,
Lamego, Vale Varosa / DRCN, 2014.
Cister no Douro [cat. de exposição, [S.l.]: DRCN, Museu de Lamego, Vale do Varosa, D.L. 2015.
Cister no Vale do Douro, Porto, GEHVDVP / Edições Afrontamento, 1999, pp. 119-121;129-
132.
COSTA, Manuel Gonçalves da - História do Bispado e Cidade de Lamego, Vol. IV – Renascimento
II, Lamego, (s. ed.), 1984.
– História do Bispado e Cidade de Lamego, Vol. VI – Barroco II, Lamego, (s. ed.), 1982.
– Igreja do Convento de São João de Tarouca, Lisboa, Inst. Port. do Património Cultural, 1988.

131
ANTT - Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, livro 2.

221
LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

DIAS, Geraldo J. Amadeu Coelho - Quando os monges eram uma civilização...: Beneditinos:
espírito, alma e corpo, Porto CITCEM / Afrontamento, 2011.
Diffiniçoens da Ordem de Cistel e Congregaçam de Nossa Senhora de Alcobaça, Lisboa, Antonio
Aluatez, 1593.
FERNANDES, A. de Almeida - Acção dos Cistercienses de Tarouca: as granjas nos sécs XII e
XIII, Guimarães, Companhia Editora do Minho - Barcelos, 1974
– Taraucae monumenta histórica: I Livro das doações de Tarouca, 3 Vols, Braga, Câmara Mu-
nicipal de Tarouca, 1991-1993.
FERNANDES, Rui - Descrição do terreno ao redor de Lamego duas léguas (1531-1532), Santa
Maria da Feira, Beira Douro, ADVD, 2001.
FERNÁNDEZ ORTIZ, Guillermo - “Escrituras para la profesión masculina en la Orden del Císter:
Ceremonial y tipologías documentales” in, Historia. Instituciones. Documentos, 44, 2017, pp.
103-130.
GOMES, Saúl António Gomes - Visitações a Mosteiros Cistercienses em Portugal. Séculos XV e
XVI, Lisboa, IPPAR, 1998.
– “A Congregação Cisterciense de Santa Maria de Alcobaça nos séculos XVI e XVII: elementos
para o seu conhecimento”, in Lusitania Sacra, 18, 2006, pp. 375-431.
MARQUES, Maria Alegria Fernandes - Estudos sobre a Ordem de Cister em Portugal, Lisboa,
Colibri, 1998.
Mosteiro de São João de Tarouca: História, Arquitetura e Quotidiano, Lamego, DRCN / Museu
de Lamego / Vale do Varosa, 2015.
O Sacrossanto e ecumenico Concilio de Trento em latim e portuguez... Tomo II. Lisboa, na off. de
Francisco Luiz Ameno, 1781.
OLIVAL, Fernanda; MONTEIRO, Nuno Gonçalo – “Mobilidade social nas carreiras eclesiásticas
em Portugal (1500-1820)” in Análise Social, 165, 2003, pp. 1213-1239.
Penela. Um percurso no tempo (coord. Margarida Neto), Coimbra, Palimage, XLIV, 2015.
Regra do glorioso Patriarcha Sam Bento... Lisboa, Antonio Ribeiro: á custa da Congregação
de Sam Bento, 1586.
RESENDE, Nuno (Coord.) - O compasso da terra: a arte enquanto caminho para Deus, Vol. I,
Lamego, Diocese de Lamego, 2006.
RIBEIRO, Ana Isabel – “O património da fidalguia provincial da região de Coimbra: o caso da
família Garrido (século XVIII)”, in Revista Portuguesa de História, 44, 2013, pp. 327-358.

222
NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA MONGE

TRANSCRIÇÃO DOCUMENTAL

A)
1714 Maio 22, Mosteiro de São João de Tarouca - Continuação do noviciado de frei
Acenso da Purificação no mosteiro de São João de Tarouca, que havia sido iniciado no
mosteiro de Alcobaça.
B)
1716 agosto 15, Mosteiro de São João de Tarouca - Termo de profissão do monge
Acenso da Purificação, natural de Coimbra.
C)
1742 março 25, Mosteiro de São João de Tarouca - Termo de profissão do monge
Manuel de Jesus Maria e José, natural de Mondim - Tarouca.
D)
1762 agosto 27, Mosteiro de São João de Tarouca - Termo de tomada de hábito do
monge Fernando de Nossa Senhora, natural do couto de São João de Tarouca.

ANTT, MSJT, Livro 1 - Livro dos graos da Noviciaria, que pello antigo ser acaba-
do, mandou fazer Pe Frey Felix de Azevedo deste Real Mosteiro de São João de Tarouca
o qual comessa no ano de 1692.

A)
[fl. 24] Aos catorze dias do mes de Mayo da hera de mil setesentos e catorze annos
neste Real Mosteiro de São Joam de Tarouca sendo nelle Dom Abbade o Reverendo
Padre Frei Francisco Carneiro tomei o habito para Monge eu frei Ancensso da Purifica-
ção. Filho legitimo do Doutor Pedro Alvares Garrido e de sua Mulher D. Maria da Costa
moradores na cidade de Coimbra para continuar o meu anno de Noviciado o qual tinha
principiado a dous de Fevereiro de mil settecentos e catorze em a noviciaria do Real
Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça sendo D. Abbade e Geral o nosso Reverendo
Padre Frei Felix de Azevedo e no capitollo geral futuro em que saio por D. Abbade Geral
o Reverendo Padre Mestre Frei Antonio do Quental com licença sua vim para este Real
Mosteiro acabar o meu anno de noviciado na companhia do Reverendo Dom Abbade
que comigo asignou este termo dia mes e anno ut supra.
[assinaturas]
Frei Francisco Carneiro - Dom Abbade
Frei Jozeph Ribeiro - Pior e mestre
Frei Ancensso da Purificação
[na margem esquerda com outra letra: Frei Acenso Garrido que foi Mestre Jubilado
Examinador das 3 Ordens Militares e Consultor da bula da Cruzada]

223
LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

B)
[fl. 119] Aos quinze dias do mês de Agosto de mil setecentos e dezaseis annos em
este Real Mosteiro de S. João de Tarouca da ordem de Nosso Padre São Bernardo sendo
nelle Dom Abade o Reverendo Padre Frei Francisco Carneiro fazendo cappitulo a comu-
nidade fes profição ao irmão Frei Ascenso da Purificação filho legitimo do Doutor Pedro
Alves Garrido cavaleiro professo do habito de Cristo natural da villa de Castelo de Vide
e de sua molher Dona Maria da Costa natural das Vendas da Figueiras e moradores na
cidade de Coimbra sendo de idade de desaseis para desasete annos ao qual irmão foi lida
hia difinição de nossa ordem em que manda não sejao admittidos della sojeitos cuja
geração fosse emfamada com raça de judeu, mouros ou mulato e outro sim lhe foi lida e
declarada hia ley da nossa Sagrada Religião que todo Religioso que cometer crime que
pertencer a Santa Inquisição e nelle se achar convicto ou cometer crime de leza Magestade
Divina e humana ex ipso seja expulso sem que a isso possa por embargos ou contradisão
algua as quaes clauzulas e condicoins todas sendo lhe declaradas pello Reverendo Padre
Dom Abbade dice elle ditto Frei as aceitava e perguntando lhe se tinha alguns bens de
que dispor dice os tinha e havia disposto em seu testamento e mais dice elle dito Irmão
que no secullo se chamava Ascensso Manuel da Costa Garrido e com este nome lhe fez
sua Magestade que Deus goarde merçe de vinte mil reis de tença efectivos em alguns dos
almoxarifados do Reyno e se lhe asentou no da portage de Lisboa aonde a cobra há
annos e que agora avendo de querer professar lhe fes o dito Senhor nova merce de que a
pudesse comer no estado de Religião passando lhe apostilla do direito padrão da dita
tença que ficava conservando em que a Relegião lhe premetisse o uso della e por assim
pasar na verdade eu [fl. 119v] Joao de Savedra Pior e Mestre dos noviços lhe mandei
fazer este termo que com o Reverendo Padre Dom Abbade e Irmão assignei e mais
Padres que asestirao em capittolo a dita Profisão dia mês e era ut supra.
[assinaturas]
D. Francisco Carneiro - Dom Abbade
Joao de Savedra - Pior e Mestre dos Noviços
Frei Manoel Ramalho - Prezidente
Frei Luis Aris - Sanchristão Mor
Frei Antonio da Silva - Cantor Mor

C)
[fl. 138] Aos vinte e sinco dias do mes de Março de mil e setesentos e quarenta e
dois annos e neste Real Mosteiro de São João de Tarouca sendo nelle D Abbade o muito
Reverendo Padre Frei Leopoldo Bottelho e fazendo cappitullo à communidade fis pro-
fissão eu [fl. 138V] o irmão Frei Manoel de Jesus Maria e Jozeph filho legitimo de
Heytor Pinto de Vasconcellos e de sua mulher D. Benta de Mesquita Pimentel e morado-
res em Vila de Mondim bispado de Lamego sendo de idade de dezasseis annos feitos em
Outubro proximo passado e logo pello Reverendo Padre D. Abbade me foi perguntado
se alguém me compelia, ou obrigava a profeçar ao que respondi que não, e que só o sim

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NOVIÇOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 1692-1763 – DA TOMADA DO HÁBITO À PROFISSÃO PARA MONGE

de servir a Deus e segurar milhor minha salvação muito livremente e de minha vontade
profeçava sem que a isso me obrigasse ou constrangesse pessoa algia, e pelo Reverendo
Padre Frei Jorge Pimentel Prior e Mestre da noviciaria me foi lida e declarada, hia defi-
nição de nossa Sagrada Religião que manda não sejam admittidos a ella sugeitos cuja
geração fosse emfamada com a raça de mouro, judeo ou mulato; e outrossim me foi
declarada hia lei que manda que o religioso que commetter crime de leza Magestade ou
divina ou humana ex ipso seia expulso fora e do mesmo modo o que commetter crime
contra a Santa inquisição, e nele se achar convicto e sem que a isso possa por embargos,
ou contradição algia, as quoais clauzulas e condiçoens sendo me declaradas disse eu que
tudo açeitava; e sendo me perguntado se tinha algus bens de que dispor disse sim tinha
os que me dotou meu tio o Reverendo Padre Francisco Guedes Botto, e como o dito
Padre me deixasse, nomeu alvedrio as desse a quem milhor me pareçeçe os deixo a
minha mai D. Berta de Mesquita Pimentel a qual emquanto viva me asistira com tudo
quanto me for necessario e por sua morte a qualquer de meos irmãos a quem os ditos
bens forem deixados me dara vinte mil reis de tensa os quoais principiarão em o dia que
minha Mai falecer e quando isto não faça poderei eu tomar posse dos ditos bens. Declaro
que também deixo a minha Mai tudo quanto minhas tias me dotaram D. Thereza Bernarda
Pimentel, religioza que foi em Arouca já defunta, e sua Irmã D. Anna Luiza Pimentel
Religioza que ha em o mesmo Mosteiro, os quoais bens meu Pai vendeu, e quando
minha Mai quizer [fl. 139] poderá anullar as ditas vendas por me serem os bens datados
e meu Pai os não poder vender como assim consta da escritura e por asim passar na
verdade fiz este termo que asigno com o Reverendo Frei Prior e Mestre da noviciaria e
mais testemunhas que assistiram no cappitulo a minha profiçam, dia mes, era, ut supra.
Declaro que, dipois deste termo asima feito, tive a nota que era falecido meu Pai e como
por sua morte me ficou ligitima e alguns prados os deixo a minha Mai D. Benta com os
mesmas obrigaçoins asima referidas.
[assinaturas]
O Irmão Frei Manoel de Jesus
P. Mestre Fr Leopoldo Bottelho - D Abbade
Fr Joze de Menezes - Cantor Mor
Fr Jorge Pimentel - Prior e Mestre da Noveciaria
Fr João de Cristo - Prezidente

D)
[fl. 55v] Aos vinte e sette dias do mês de agosto da era de mil settecentos e sesenta
e dois annos, neste Real Mosteiro de São João de Tarouca, sendo nelle D. Abbade o
Reverendo Padre Mestre Frei Manoel Pinto; Prior o Muito Reverendo Padre Frei Carlos
de Albuquerque, e Mestre da Noviciaria o Muito Reverendo Padre Mestre Frei Miguel
de Albuquerque, pellas seis para as sette horas da menham, tomei o santo habito para
monge de nosso padre São Bernardo, eu o Irmão Frei Fernando de Nossa Senhora, filho
legitimo de Manoel Pereira, e sua mulher Anna Maria, do lugar de São João de Tarouca,

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LUCIANO AUGUSTO DOS SANTOS MOREIRA

freguesia de São Bras, e territorio deste Real Mosteiro netto pela parte paterna de Manoel
Pereira, natural da villa de Tarouca, freguesia de São Pedro bispado de Lamego, e de sua
mulher, Maria de Moraes, do lugar do Couto, freguesia de São Bras, deste territorio;
pela parte materna, neto de João Dias, e sua mulher, Maria da Costa, ambos do lugar de
São João de Tarouca, freguesia de São Bras, territorio deste Real Mosteiro, tendo de
idade vinte para vinte hum annos: e por assim ser tudo verdade fis este termo que assignei
com o muito Reverendo Padre Mestre da Noviciaria, dia mes, e era ut supra.
[assinaturas]
O Irmão Fr Fernando de Nossa Senhora
Fr Miguel de Albuquerque - Mestre da Novessiaria

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