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Cultura Escolar: quadro conceitual e possibilidades de pesquisa School Culture: conceptual framework and research possibilities Fabiany de Cassia Tavares Silva” RESUMO, (0s trabalhos sobre cultura escolar surgitam nos anos de 1980, mas aii de uma cultura escolar se fortaleceu nos anos de 1990, apresentando atualmente diferenciadas tendéncias investigativas, Este texto, portanto, esboga uma leitua nial do quadro conceitual em estado e das possbilidades de pesqui= sanaipela cultura escolar, Palavras-chave: Escola cultura escolar; pesquisas em educago ABSTRACT “The works on school culture appeared in the eighties, but the idea ofa school culture strengthened in the nineties, presenting now differentiated investigative tendencies. Tis text, therefor, itsketches an inital reading of | the conceptual picture in study and ofthe possibilities of research infon the school culture, Key-words: Schook school culture; research in education A escola tem se tomado um objeto de estudo cada vez mais freqiiente ras pesquisas desenvolvidas no pais, contando com os mais diferentes * Professor e pesquisadora da Linha de Pesquisa Escola, Cultura Disciplinas Escola res do Programa de P6s-Graduacho em Educapdo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sal Educa, Curitiba, m 28, p. 201-216, 2006 Eltora UFPR 20 SILVA, F.C T Cuda escolar: quad concinale possiblidads de pesquisa enfoques de anélise. Da Histéria & Sociologia, da politica educacional & pritica pedagégica, cada uma dessas abordagens tem servido para colocé- la no centro das pesquisas educacionais, A despeito dessas diferentes abordagens, um elemento esta sempre presente quando 0 objeto de estudo € a escola, qual seja o reconhecimento da existéncia de uma cultura propria dessa instituigo. Cultura que a cons forma de uma maneira muito particular, com uma pritica social propria © ‘nica. Ainda que os primeiros trabalhos tenham surgido nos anos 1980, a déia de uma cultura escolar se fortaleceu nos anos 1990, apresentando atualmente diferenciadas tendéncias investigativas, Diante disso, esse texto procura, em dais momentas distintos porém interconectados, dar conta dos principios explicativos da relagdo escola ¢ cultura escolar, Na primeira parte, expde e analisa as articulagées entre a Histéria c a Sociologia no delincamento da cultura escolar, discernindo so- bre os desafios com que elas se confrontam. Posteriormente, tenta mapear, ainda que superficialmente, algumas pautas para a pesquisa na/da/em cul- tura escolar, a partir dos principios explicativos anteriormente delineadas, Escola e cultura escolar: principios explicativos Podemos dizer que existem iniimeras caracteristicas que aproximam os comportamentos das escolas, bem como as investigagées sobre ela, © ha uma infinidade de outras que os/as diferenciam, No entanto, parece no haver inconvenientes em considerar a escola como uma instituigio com cultura prépria, Os principais elementos que desenhariam essa cultura se riam os atores (familias, professores, gestores e alunos linguagens (modos de conversagdo ¢ comunicagdo), as instituig nizago escolar e 0 sistema educativo) ¢ as praticas (pautas de comporta- ‘mento que chegam a se consolidar durante um tempo) Para Chervel (1988), a escola fornece a sociedade uma cultura cons- tituida de duas partes: os programas oficiais, que explicitam sua finalidade educativa, ¢ os resultados efetives da ago da escola, os quais, no entanto, ido estdo inscritos nessa finalidade. Dito de outro modo, esse autor enten- de a cultura escolar como cultura adquirida na escola e encontra nela no somente seu modo de difusio, mas também sua origem. SILVA, FCT. Cala escolar: quo conceal epassibiidades de pesquisa Tendo em vista essa definigdo, a escola tem uma fungo social bisica, ‘que vai além de prestar servigas educativos. Logo, no pode ser entendida ‘como uma organizagao social, pois, essa figura burocritica esté calcada na necessidade de gerir seu espago ¢ tempos particulares, 0 que, obviamente, ccontradiz. as premissas que instituem a fungdo social da eseola, bem como © scu entendimento como um mundo social instituide de uma cultura pro= ria, (© modo como a escola vem se organizando tem reforgado mecanis- ‘mos geradores de adaptagdo ¢ dominagao. Sdo esses mecanismos que cer- tamente informam os processos pedagogicos, os organizativos, de gestio e de tomada de decisées no interior da escola, os quais vio além da legisla- ‘edo ou das recomendagdes feitas pela(s) entidade(s) mantenedora(s) c/ou pelo poder piblico. Assim, a escola, principal instituigo da sociedade, res- ponsivel pela educagio formal dos individuos, difere grandemente de ou- ‘ras organizagbes sociais. A estrutura organizacional da escola nio esta sustentada apenas por tum plano racional determinado pela burocracia. A escola é uma totalidade mais ampla, “compreendendo ndo apenas as relagdes ordenadas conscien- temente, mas, ainda, todas as que derivam de sua existéncia enquanto gru- po social” (caNpibo, 1964, p. 107), Sendo a escola, portanto, uma instituigdo da sociedade, ela é base para o conceito de sociedade moderna de que a humanidade dispéc atual- mente, ou mais, a escola & “elemento fundante” para o espirito de modernidade, “um dos principais motores de triunfo da modernidade” (eiveau, 1999, p. 39), (© que se esti buscando apontar é que “a vida interna da escola (..) reelabora, segundo a sua dindmica interna, as normas, valores, préticas ‘comunitirias, dando-Ihes uma colorago nova, mas nem por isso alheia ao encadeamento geral da sociedade” (canoioo, 1964, p. 111 © 128). ‘A organizagao ¢ a estrutura de funcionamento e, portanto, de tomada de decisdes no cotidiano escolar & peculiar, pois as escolas so instituigies especiais e diferentes das organizagies sociais, conforme afirma Névoa: As escolas sZoinsttuigdes de um tipo muito particular, que nfo podem ser pensadas como qualquer fibrica ou ficina: a educagio nfo tolera a simplificagao do humano(..) que a cultura da racionalidade empresarial sempre transporta(w6v0s, 1998, p. 16) duct Curb, m 2% p 201-216, 2006 ators UPPR 20 SILVA, F.C T Cuda escolar: quad concinale possiblidads de pesquisa A cultura perpassa todas as agdes do cotidiano escolar, seja na in- fluéneia sobre os seus ritos ou sobre a sua linguagem, seja na determinagdo das suas formas de organizagdo ¢ de gestio, soja na constituigdo dos siste- ‘mas curriculares, Viiao Frago lembra que a cultura escolar tem sido entendida como uma das “caixas pretas” da historiografia educacional e, no conccito de cultura escolar vé os ‘modes de pensar aluar que proporcionam a seus components estraégias «-pautas para desenvolver-se tanto nas aulas como fora delas— no resto do recinta escolar eno mundo académico—e integrar-se na vida cotidiana das ‘mesmas (vitxo r2x60, 2000, p. 100). A fungGo da cultura escolar no seria promover uma incorporagio de valores outros que nio os objetivos escolares, ou mesmo de servir de fer- ramentas para a inculeagio de valores, Pelo menos no sio apenas essas as resultantes promovidas pela cultura escolar. Viiao Frago concebe a cultura escolar como aquele conjunto de pré- tieas, normas, idéias e procedimentos que se expressam em modos de fazer e pensar 0 cotidiano da escola e, esses modos de fazer e de pensar—mentalidades,atitudes, itusis, mitos, discursos, ages — amplamente compartilhados, assumidos, no postos em questio ¢ interiorizados, servem a uns ¢ a outtos para desempenhat suas taefas diras, entender o mundo académico-educativo e fazer frente tanto ds mudangas ou reformas como as exigéncias de outros membros da instituigdo, de outros grupos e, em especial, dos reformadores,gestores¢ Inspetores (vINAD FRAGO, 2000a, p. 100) Os individuos e suas priticas sdo basilares para o entendimento da cultura escolar, particularmente no que se refere formagao desses indivi duos, a sua selego e ao desenvolvimento de sua carreira académica. Dessa forma, os discursos, as formas de comunicagao e as linguagens presentes no cotidiano escolar, constituem um aspecto fundamental de sua cultura SILVA, F.C.T. Cultura escolar: quai conceal e pssbilidades de pesquisa A escola tem sua cultura estabelecida, no sendo o sistema educacio- nal diferente, isto é, também tem uma cultura institucionalizada a qual se ‘expressa como aquele conjunto de ideias, pautas e pritias relativamente consolidadas, como modo de habitos, Os aspectos organizativos e insitucionsis contribuem (..) & ‘conformar uns ou outros modos de pensar e atuar e, por sus vez, estes ‘mods conformam as insituigdes num autro sentido (visa0 FRAGO, 1998, p. 169), Observamos, entdo, a escola como uma instituigdo impar, que se es- trutura sobre processos, normas, valores, significados, rituais, formas de pensamento, constituidores da propria cultura, que no & monolitica, nem estitica, nem repetivel E esse conjunto de caracteristicas do cotidiano escolar que Forquin denomina de “Cultura da Escola”. Para ele cultura é deserita enquanto um ‘mundo humanamente construido, mundo das instituigBes e dos signos no qual, desde aorigem, se banka o individuo humano, to somente por ser Jhumano, e que constitui como que sua segunda matriz (FoRQUIN, 1993, p, 168), Em contraposigdo ao coneeito de “Cultura da Escola”, Forguin apre- senta a “Cultura Escolar” como sendo aquele conjunto de saberes que, uma vee organizado, didatizado, compde a base de conhecimentos sobre @ qual trabalham professores ¢ alunos. E nessa idéia esté pressuposta uma selegao prévia de elementos da cultura humana, cientifica ou popular, erudita ou de massas. Seriam esses elementos estruturais determinantes nos processos pe~ dagdgicos, organizativos, de gestio ¢ de tomada de decisdes no interior da escola, responsiveis pela instituigdo daquilo que Forquin (1993) chama de “mundo social” éa escola, ou scja, © conjunto de “ proprias, seus ritmos ¢ ritos, sua linguagem, seu imaginirio, seus modos Bacar Carta, m2, p. 201216, 2006 tora UFPR 20s SILVA, F.C T Cuda escola: quad concinale possiblidades de pesquisa proprios de regulagio © de transgresso, scu regime proprio de produsdo © de gestio de simbolos” (FoRQUN, 1993, p. 167). Em Julia vamos encontrar a cultura escolar, dentro de uma aborda- ‘gem histérice, como sendo uma mescla de normas e priticas, aquelas “que definem conhecimentos a ensinar ¢ condutas a ineulear" © como um cor junto “que permite a transmissfo desses conhecimentos ¢ a incorporacio de comportamentos” (2001, p. 2) Em estudo sobre a cultura escolar como objeto da historiogratia esse autor estabelece que a escola tem uma historia que no é muito diferente da historia de outras instituigSes da sociedade, como as instituigdes judiciais ou as militares. A cultura escolar, para ele, evidencia que a escola nio 6 somente um lugar de transmissio de conhecimentos, mas é ao mesmo tempo e talvez principalmente, um lugar de “inculeagio de comportamen- tos e de habitus” (ut1s, 2001, p. 14), A logica de inculeagdo que tem lugar na escola encontra resistencia, lembra o autor, na cultura dos estudantes e da localidade ao redor da insti- tuigdo, pois atualmente, antigamente ¢ sempre “todos sabem que os profes- sores no conhecem tudo o que se passa nos pitios de recreio, que existe, hi séculos, um folelore obsceno das eriangas” (iu114, 2001, p. 30). ‘A necessidade de conformagio dos abjetivos educacionais aos limites apresentados pela sociedade, em cada periodo da histéria, também tem impacto decisive no estabelecimento da cultura escolar, pois ela é uma “cultura conforme, e seria necessério tragar, a cada periodo, os limites que tragam a fronteira do possfvel e do impossivel” (sua, 2001, p. 25) Seja cultura escolar ou cultura da escola, esses conceitos acabam evidenciando praticamente a mesma coisa, isto &, a escola & uma instituigio da sociedade, que possui suas proprias formas de ago e de razio, construidas no decorrer da sua historia, tomando por base 0s confrontos ¢ conflitos oriundos do choque entre as determinagSes extemas a ela ¢ as suas tradi- Bes, a8 quais se refletem na sua organizagdo © gestlo, nas suas priticas mais elementares e cotidianas, nas salas de aula e nos pétios e corredores, cm todo e qualquer tempo, segmentado, fracionado ou nio. ‘Em Bourdieu e Passeron (1992), por exemplo, encontramos a afirma- go de que o papel da escola é a produgio e reprodugao das condigées institucionais para a reprodugo cultural © para a reprodugio social. Em outras palavras, a escola tem desenvolvido um padrdo cultural, ndo apenas de repetigdo de comportamentos, mas de desenvolvimento mesmo de racio- cinios para a solugdo dos diferentes problemas ¢ para a convivéneia, SILVA, F.C.T. Cultura escolar: quai conceal e pssbilidades de pesquisa ‘Como “forga formadora de habites”, a escola prové aos que tém estado submetidosdireta ou indiretamente&suainfluénca, nfo tanto de esquemas| de pensamento particulares ou particularizados, sendo desta disposiga0 ‘gral, geradora de esquemas particulars susectiveis de serem aplicados ‘em campos diferentes de pensamento e de ago, que se pode chamar de habitus culo (novRovev, 1977, p. 25) Parece que a escola conforma os individuos dotando-os “de um siste- ma de esquemas inconscientes que constituem sua cultura” (aovRDiE, 1977, p. 26), isto 6, uma cultura fundada cm uma infinidade de préticas adaptadas a situagdes sempre renovadas, sem nunca se constituir em prinespios ex- plicitos. No entanto, essa mesma cultura ndo é simples reprodutora, tio pouco reffatdria a mudangas, pois ela tem sua propria identidade construida entre ‘© que escutam, o que Iéem, o que ja sabem e acreditam ideologicamente os individuos, Williams, em seu reconhecido estudo sobre a cultura, apresenta mais, lementos para a compreensio da cultura escolar, ou seja, conceitos mais relevantes sobre a reprodugdo cultural e a educagao. Devemos, pois, estar sempre preparadas para falar em produgdo ¢ reproducioe nile apenas em reproducdo. Mesmo tendo dado total valora tudo quanto se posa descreverrazoavelmente como spl em atividades ‘cultura esociais mais geras, tendo reconhecido areprodutdo sistemaitca de certas formas profundas, ainda assim devemosinsstrem que as ordens sociais ¢ as ordens culturais devem ser encaradas come se fazendo ativamente: ativa e confinuadamente, ou podem muito rapidamente ‘desmoronar (wittzaws, 1992, p. 198). Isso posto, mesmo reconhecendo a contribuigdo dos estudos que demonstram 0 carter reprodutor na educagdo, Williams vé a necessidade de associé-la 4s suas caracteristicas produtoras. Entende ainda a cultura como um sistema de significagdes, muito embora afirme que um sistema de signifieagdes, per se, ndo explica a organizagao social, mesmo porque ha ‘muitos outros sistemas para além dele: “(..) & sempre necessirio ser capaz e distinguir sistemas econdmicos, sistemas politicos e sistemas geracionais Bacar Carta, m2, p. 201216, 2006 tora UFPR 20 SILVA, F.C T Cuda escolar: quad concinale possiblidads de pesquisa (de parentesco e de familia), e ser capaz de discut-les em seus préprios termos” (WwiLtiaMs, 1992, p. 206). ‘Assim, nem toda produgio cultural 6 uma produgdo ideolégica, ou pelo menos, ndo deve ser vista assim, mesmo que a generalizagio dos conceitos de ideologia ¢ de cultura permita essa aproximagio: “Dizer que toda pritica cultural é necessidade “ideolégica’ nio quer dizer nada mais (x) seniio que toda pritica & significativa” (wntt1aMs, 1992, p. 28) ssa idéia aponta para o entendimento da cultura como um sistema de significagdes realizado, voltado a abrir “espayo para o estudo de institu _ges, prticas e obras manifestamente significativas”, mas ndo apenas isso: também para, “por meio dessa énfase, estimular o estudo das relagées en- tte essas € outras instituigbes, prticas e obras” (wiLtiaMs, 1992, p. 207- 208. Paroce ser a sociologia da cultura, proposta pelo autor, 0 veiculo para se estudar os processos sociais, inclusive os denominados de ideologia, advindas de toda a produgio cultural, pois € certo, como mostraram Bourdieu (1977) e outros, que hi relagdes fundamentais e nocessérias entre a versio seletiva (da educagao] © as telagdes sociais predominantes em vigor (..) Mash nto, dois problemas: {que pode haver(..) tipos significtivos de desigualdade e de assimettia, ‘ou (..) graus diversos de autonomia relativa; © que também é um fato ‘observivel dos sistemas educacionais (.) 0 de que eles mudam tanto internaments quanto em suas relagdes gerais com outros sistemas. A ‘metifora da “reprodugdo”, se forgada em demasia, pode dissimular os processosessenciais de autonomia elativa ede mudanca, mesmo enquanto. insistade maneira conveniente em um carter geral entrnseco (WILLIAMS, 1992, p. 184), Portanto, o significado do termo cultura tem se mostrado importante iante da necessidade de entendimento dos processos escolares histdricos atuais. A compreensio da cultura enguanto préxis, o significado de cultu- 1a como conjunto de praticas que conferem determinedos significados aos lugares, aos individuos © aos grupos, inscreve-se no propésito de construir possibilidades de investigagdes historico-educativas. Nesse sentido, a cultura escolar & tanto o conjunto de saberes presen- tes nas determinagdes dos mitos, dos comportamentos, das tradigdes, das 208 ducor Cura, n 2%, p 201216, 2008. Edtore UPPR SILVA, FCT. Cala escolar: quo conceal epassibiidades de pesquisa inovagdes ¢ das relagdes sociais. Por outro lado, pode ser interpretada como uma varidvel ideologica/cientifica dependente da cultura geral. Para essa interpretagdo, os terrenos de produgo da Sociologia, Histé- tia e Historia da Educagio tém sido reconhecidamente um bom lugar para se pensar e dar novo significado a algumas pautas tedrieo-metodolégicas, tais como: 0 tempo escolar, o espago escolar, o curriculo, os manuals, as autobiografias, as memérias, os difios, os aportes metodolégicos, ete. Cultura Escolar: pautas para a pesquisa Sendo historicamente tributiria de uma relagio privilegiada com as ‘reas ciemtificas da Hist6ria ¢ da Sociologia, a investigagdo da cultura esco- lar tem vindo progressivamente a constituir-se num espago complexo que procura articular, entre outros aspectos, a cultura ¢ a escola, 0 individual ‘com 0 social, além de gerir a complexidade das relagdes entre as exigeéncias da investigagio e as exigéncias da intervenéo. Tal formato faz da investigagao educacional um campo privilegiado para a renovagio tedrica e metodolégica dos contextos epistemolégicos, contextos organizacionais ¢ contextos disciplinares, 0 que acaba por con- tribuir para que as escolas se reapropriem do sentido de suas priticas. ‘Assim, vale a pena proceder a uma anilise, mesmo que preliminar, das instancias e das logicas de difusio da produgio de objetos de pesquisa da’ nalem cultura escolar, Viltao Frago (2000), ao analisar os tempos ¢ os espagos escolares como objetos histéricos, propde uma pergunta: por que esses temas estio presentes nas agendas dos pesquisadores da educagdo e por que meios? Para responder, destaca os percursos do Movimento Higienista do final do século XIX e inicio do XX, a histéria do curriculo e das disciplinas escola- res como elementos centrais para o estudo desses temas, bem como da configuragio da cultura escolar, relacionada ao funcionamento interne da escola, Tal destaque apresenta efeitos conccituais ¢ metodolégicos de pesqui- sa, uma vez que desnaturaliza a escola, a normalidade dos conceites, pro- duzindo novas perspectivas para as fontes disponiveis, recompondo signi- ficados. O tempo © 0 espago escolar tém sido, entdo, concebidos essen- duct Curb, m 2% p 201-216, 2006 ators UPPR 20 SILVA, F.C T Cuda escolar: quad concinale possiblidads de pesquisa cialmente como uma das praticas que auxiliaria na operagio desses efeitos. Para Vifiao Frago (1998), 0 tempo © o espago so, respectivamente, com- ceituados como: primeiramente, um fempo pessoa, institucional e organizativo. Por outra parte tem sido entendido, desde essa dupla perspectiva, um dos instrumentos mais poderosos para generalizare apresentat como natural c iica, em nossas sociedades, uma concepgao e viveneia do tempo como algo mensuravel, fragmentado, seqienciado, linear © objetivo que traz implicita uma visio de mets ¢ futuro (vi8A0 FRAGO, 1998, p, 19), ‘nem um ‘contenedor’, nem um ‘cena’, mas sim uma espécie de discurso que insttui em Sua materialidade um sistema de valores... Uns ‘marcos para 0 aprendizado sensorial e motor e toda uma semi6tica que ‘cobre diferentes simbolos estétcos, cultura, ainda, ideoldgicos. E,em suma, como a cultura escolar, da qual forma parte, ‘uroa forma silenciosa

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