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1 Comportamento respondente UB ATLa RTC SCIEN Co ASSUNTOS DO CAPITULO © comportamento respondente ou reflexo. O condicionamento respondente Extingdo respondente. Abuso de substancias. Vou Estimulos ¢ respostas incondicionais ¢ condicionais. Caracteristicas das relagoes respondentes: limiar, laténcie, duragao e magnitude. iste capfeulo apresenta o conceito de compor- tamento respondente — ow reflexo — ¢ seu pro- cesso de condicionamento. De inicio, é im- portante observar que o interesse de clinicos analitico-comportamentais pelo estudo das relagSes respondentes pode vir a ser restrito, na medida em que estas se referem apenas a nstancias comportamentais de cunho fisiolé- gico responsaveis pela adaptagdo do organis- mo a mudangas no ambiente (Skinner, 1953/ 1965). Todavia, o entendimento dos proces- sos respondentes é fundamental para a com- preensio do comportamento humano, Em- bora reconheca que tais processos represen: tam somente uma pequena parcela do repertétio da maioria dos organismos ¢ que 0 comportamento operante! que deve ser 0 objeto de estudo da psicologia, Skinner (1938/1991, 1953/1965) defende que igno- rar o principio do reflexo seria um equivoco. Além disso, ainda que 0 comportamento respondente ¢ 0 comportamento operante scjam facilmente discerniveis no Ambito teé- rico, o mesmo nao é verdadeiro na andlise de qualquer situagio concreta, seja ela experi mental ou aplicada, sobretudo porque pro- cessos respondentes e operantes ocorrem concomitantemente (Allan, 1998; Schwartz ¢ Robbins, 1995). Portanto, para produzir uma explicagio completa de qualquer com- portamento, ¢ essencial examinar como con- tingéncias respondentes interagem com con- tingéncias operantes, Nese sentido, © conhecimento so- 0 conhecimento so- bre respondente 6 imprescindivl para 2 compreensio tanto da origem quanto dotratamenta de diversos fendmenos elinicos. bre o respondente ¢ imprescindivel para a compreensio tanto da origem quanto do rratamento de diver- sos fendmenos clini- cos (Kehoe ¢ Macrae, 1998). Dentre eles, destacam-se a dependéncia quimica (Benve- nuti, 2007; Siegel, 1979, 1984, 2001), o en- fraquecimento do sistema imunolégico em situagées de estresse (Ader ¢ Cohen, 1993; Cohen, Moynihan e Ader, 1994) e os episé- dios emocionais, como a ansiedade (Black- man, 1977; Estes ¢ Skinner, 1941; Zamigna- ni ¢ Banaco, 2005) ‘Comportamento respondente ¢ uma relagio fidedigna na qual um determinado es- timulo produz uma resposta especifica em tum organismo fisicamente sadio, O.respon- dente nao se define nem pelo estimulo nem pela resposta, mas sim pela relagio entre ambos. Essa re- lago € representada pelo paradigma S-R, em que S denota termo estimulo © R, inner, 1938/1991, Comportamento respondente 8 um ‘ipo de relagéo organismo-ambiente. Nesta, um deter- minado estimulo produz/elicia uma resposta especifica, Oparadigma dessa relagdo 6S > R. resposta (Catania, 1999; 1953/1965) ‘Tendo em vista que a resposta é causada pelo evento ambiental antecedente, diz-se que o estimulo elicia a resposta ou que ele € uum eliciador, a0 pas- so que a resposta € Jo, O verbo “, utilizado para expli- citar que 0 estimulo “forga’ a resposta € Na relagdo res- Isso porque, nesta relagdo, a resposta ‘tom probabiidado de ocorrer préxima de 100%, quando da apresentagao do estimulo que organismo ape- nas responde a esti- mulos de seu meio (Catania, 1999; Fers- ter, Culbertson ¢ Boren, 1968/1977). Para caracterizar um comportamento como res- pondente, deve-se considerar a probabilidade timulo (Catania, 1999). terminadas caracterfs 19 Clinica analitico-comportamental ‘As relagées respondentes possuem de- a saber: Wniag magnitude, duragao ¢ laténcia (Catania, 1999; Skinner, 1938/1991, 1953/1965). aes ‘ede : de cliciada, ¢ matron resposta. No reflexo Ao se analisarr g0es respondentes, deve-se atentar para algumas de suas caracteristicas, tals ‘como: limiar, mag- nitude da resposta e intensidade do stimula, duracao da resposta elaténcia contro a aproson- minima do esti- necessiipara a resposta seja patelat, por exemplo, _tapde do estima a fora com que a ageer™ trerladantapicade é intensidade do estimulo, enquanto o t 4). Em qualquer comportamento respondente, quanto maior for a intensidade do estimulo, maior ser a magnicude da resposta ce-versa. No exemplo do refle- xo patelar citado anteriormente, a duragio da resposta é 0 tempo que a distensio da perna perdura, enquanto a laténcia é 0 tempo de- corrido entre a martelada ¢ 0 movimento da perna (Catania, 199). le um com| - dente io da fa, assim como pela laténcia da rela- um reflexo € fraco quando, diante de um estimulo de grande intensidade, a resposta tem laténcia longa, (Cata- nia, 1999) 20 borges, cassas & Cols. Os comportamentos respondentes que constituem o repertério do organismo a des- peito de sua ;, devido a sua origem na histe (Skinner, 1953/1965). Pierce e Epling (2004) explicam que todos os : organismos nascem As relagoes res fonieniespodem COL uM Conjunto inato de reflexos € que muitos deles sao particulares a cada espécic. P sor divididss om duas categorias: ccondicionadas. ‘As incondicio- nadas roferom-so cexperiéncia pessoal do sujito;trata-se daquelas relacio- nnadas & origem filogenética ‘As condicionai so aquolas quo se estabeleceram a Alguns exemplos de respondentes in portant, em sua his- _ “icionais Aria ontogendtica, peloestimulo alimen- 10 na boca; resposta de piscar cliciada pelo es- ximulo cisco no olho: resposta de suar eliciada pelo estimulo calor; resposta de lacrimejar cli- ciada pelo estimulo cebola sob os olhos, ete. (Catania, 1999; Ferster et al., 1968/1977; Moreira e Medeiros, 2007) Os comportamentos respondentes sele- cionados na histéria evolutiva podem ocorrer em novas situagSes, a depender da histéria individual do orga- nismo, por meio de um proceso chama- O processo pelo qual uma relagdo respon dente condicionada se ostabelace ‘chamado condicio- ‘namento respon- dente, cléssico ou do condicionamento pavioviano respondente, condicio- namento cldssico ow condicionamento pavloviano — expresso cunhada em homenagem as descobertas do fisidlogo russo Ivan Petrovich Pavlov (Cata- nia, 1999; Ferster et al., 1968/1977; Skinner, 1953/1965). Pavlov descobriu que a presenga de ali- mento na boca de um cachorro faminto eli- ciava salivacao. O fisidlogo observou que o animal também salivava antes de o alimento chegar a sua boca: a visio o cheiro da comi- da cliciavam a mesma resposta. Além disso, a mera viséo da pessoa que habitualmente ali- mentava o animal era suficiente para produ- zir salivagéo. De algum modo, eventos am- bientais anteriores 4 estimulagio alimentar adquiriram fungio cliciadora para a resposta de salivar, fenémeno que sé poderia ser en- tendido em rermos da experiéncia individual daquele animal (Keller e¢ Schoenfeld, 1950/1974). De posse dessas observagées, Pavlov desenvolveu um método experimental para estudar a construgio de novas relagdes estimulo-resposta, nas quais eventos ambien- tais neutros passam a eliciar respostas reflexas, Inicialmente, ele colocava pé de carne na boca do animal, um estimulo incondicional qiie Alicia salivagio. Posteriormente, Pavlov produzia um som durante meio segundo an- tes de introduzir o pé de carne, 0 que, depois de aproximadamente 60 associagées sucessi- vas, passou a cliciar a resposta de salivacio. Cabe ressaltar que, para o som adquirir fun- 0 de estimulo condicional para a resposta de salivar, é necessdria uma histéria de con- tingéncia ¢ sistematicidade entre os dois esti- mulos (som ¢ alimento). Isto porque o som pode no se tornar um estimulo condicional cfetivo se for apresentado ora antes ¢ ora de- pois do alimento e/ou se o alimento for apre~ sentado sem que o som o tenha precedido (Benvenuti, Gioia, Micheletto, Andery ¢ Sé- rio, 2009; Catania, 1999; Skinner, 1953/ 1965). © diagrama a seguir ilustra 0 processo deci ‘Antes do condicionamento US (COMIDA) > UR (salivagio) S (SOM) > auséncia de salivagio (pareamentos US-CS) CS (SOM) + US (COMIDA) > R (salivagao) Ap6s 0 condicionamento CS (SOM) > CR (salivaséo sem a presenga da comida) Esse processo comportamental, no qual pareamentos contingentes ¢ sisteméticos en- tre um evento neutro ¢ um estimulo incondi- ional tornam esse evento um estimulo elicia- dor, édenominado condicionamento respon- dente. E fundamental notar que o condicio- namento respondente nio promove o strgi- mento de novas respostas, mas apenas possi- bilita que respostas do organismo originadas filogenericamente passem a ficar sob controle de novos estimulos. Nesse paradightay 0 ter~ vatania, 1999). Cabe, aqui, so: embo- rao} jagdo jam am- plamente cmpregados na literatura, seu uso é inadequado para explicar 0 processo de condi- cionamento respondente por dias raz6es 1, essed Palecem ge ma asso 21 Clinica analitico-comportamental Para isso, & necessétio que exista uma relagdo sistemdtica e contingente entre os es- timulos (Benvenuti et al., 2009; Skinner, 1974/1976) Uma das maneiras de enfraquecer uma relagao respondente le conticional ou con- nal dicionada é através estimt ara a resposta de sa Guehranumeae Po" P diversas vezes do li stimulo condicional (CS) sem a presenga ou proximidade com o estimulo incondicional ‘A Fangio do estimulo condicional é a de preparar o organismo para receber o estimulo incondicional. Por exemplo, no experimento de Pavlov mencionado anteriormente, a saliva- io eliciada pelo som preparava 0 organismo para consumir o alimento, Nesse sentido, Skin- ner (1953/1965) afirm: fa vex que o ambiente pode mudar de uma geraglo para outra, respostas re- 22 Borges, Cassas & Cols. flexas apropriadas no podem se desenvolver sempre como mecanismos herdados. Assim, a importante observar que as respostas condicional ¢ incondicional podem ser, em al- guns casos, distintas. No experimento de Pav- ov, embora ambas as respostas fossem de saliva- cdo, hé algumas diferengas entre clas, como a composisio quimica ea quantidade de goras da saliva (Benvenuti et al,, 2009). Muitos proces- sos comportamentais com relevancia clinica en- volvem fendmenos nos quais as respostas con- dicionais e incondicionais sio diferentes. Um la perspectiva do comportamento respondente, t fungao| de eles, encontram-se respostas compensatérias, pois, diante do i lo cla dro; nnismo re: As condigées do ambiente, a0 precederem siste- rmaticamente a presena da substancia no orga- is estimt pois disso, se a droga for dem un ambiente barat drente do usual! iegel, 2001). Ademais, a mera pre- senga dos estimulos condicionais que antecede- venuti, 2007; Benvenuti et al., 2009; Macrae, Scoles e Siegel, 1987). © dominio dos conceitos relativos a0 comportamento ¢ condicionamento respon- dentes, bem como sua articulagio com con- ceitos da area operante, ¢ fundamental para garantir rigor & andlise de fenémenos com- plexos. Na pratica clinica, inimeras queixas envolvem interagées entre processos respon- dentes ¢ operantes, A nio identificagio de re- lagdes respondentes como constitutivas dos comportamentos clinicamente relevantes, as- sim como a incapacidade de descrever sua in- teragio com padrées operantes, certamente conduziré a um racioc{nio clinico insuficiente. dependéncia quimica (Siegel, 1979, 1984, 2001), imi sso x lie 1975, 1993; Foltz e Millett, 1964) ¢ episé. di i . _ are ndicio: . 2009; Blackman 1968a, 1968b, 1977, Estes ¢ Skinner, 1941), Na clinica ‘A compreensao das relacdes responden- tes é fundamental para o clinico analitico- -comportamental. Este tipo de rela ‘organismo-ambiente esta contida em di- versos comportamentos, inclusive naque- les tidos como alvos de intervencao, como ansiedade generalizada, panico, enfraque- cimento do sistema imunolégico em situa- g6es de estresse, dependéncias quimicas, entre muitos outros fenémenos. > NOTA 1, Para uma explicaséo detalhada sobre © comporta- mento operante, consulte o Capitulo 2 > REFERENCIAS ‘Ades, R., 8 Cohen, N. (1975). Behaviorally conditioned immunosuppression. Pychaiomatic Medicine, 3718), 333-40. Ader, R., & Cohen, N. (1993). Paychoneuroimmunology: Conditioning and stress. Annual Review of Prychology, 44, 53-85, Allan, RW. (1998), Operant-respondent interactions, In W.T ODonohue (Org), Learning and behavior therapy (pp. 146-168). Boston: Allyn & Bacon, Benvenuti, M. F. (2007). Uso de drogas, recalda e 0 papel do condicionamento rezpondente: Posibilidades do traba- lho do psicdlogo em ambiente natural. In D. R, Zamig sani, R. Kovac, & J. S. 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