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RESUMO
O mundo empresarial vê, na responsabilidade social, uma nova estratégia para aumentar seu
lucro e potencializar seu desenvolvimento. Essa tendência decorre da maior conscientização do
consumidor e conseqüente procura por produtos e práticas que gerem melhoria para o meio ambiente
ou comunidade, valorizando aspectos éticos ligados à cidadania. O que se verifica, atualmente, é que
não existe mais uma linha divisória entre problemas que estão fora e dentro das empresas: as
soluções devem ser compartilhadas com a sociedade de forma geral e as empresas devem contribuir
ativamente com as soluções, sob o risco de serem questionadas, processadas e cobradas pelos seus
atos.
No Balanço Social, a empresa mostra o que faz por seus profissionais, dependentes,
colaboradores e comunidade, dando transparência às atividades que buscam melhorar a qualidade de
vida para todos. Ou seja, sua função principal é tornar pública a responsabilidade social empresarial,
construindo maiores vínculos entre a empresa, a sociedade e o meio ambiente. No Brasil, o Balanço
Social só ganhou visibilidade nacional quando o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lançou, em
junho de 1997, uma campanha pela divulgação voluntária do Balanço Social.
ABSTRACT
The enterprise world sees, in the social responsibility, a new strategy to increase its profit and to
improve its development. This trend elapses of the biggest awareness of the consumer and
consequence looks for practical products and that they generate improvement for the environment or
community, valuing on ethical aspects to the citizenship. What it is verified, currently, is that it does
not exist a dividing line between problems that are in and out the companies: the solutions must be
shared with the society of general form and the companies must contribute actively with the solutions,
under the risk to be questioned, processed and charged for its acts.
In the Social Annual Report, the company shows what it makes for its professionals, dependents,
collaborators and community, giving transparency to the activities that they search to improve the
quality of life for all. Or either, its main function is to become public the enterprise social
responsibility, constructing bigger bonds between the company, the society and the environment. In
Brazil, the Social Annual Report gained national visibility when the sociologist Herbert de Souza, the
Betinho, launched, in June of 1997, a campaign for the voluntary spreading of the Social Annual
Report.
________________________
1. INTRODUÇÃO
Cada vez mais, a empresa tem de levar informações para todos os envolvidos (profissionais,
acionistas, fornecedores, clientes, cidadãos, governos, organizações do terceiro setor) nas operações,
direta ou indiretamente. Isso porque as partes interessadas estão levando em consideração a postura
social da companhia para tomar decisões.
O Balanço Social alia as três grandes realidades da empresa: a humana, a econômica e a social.
Por tratar de realidades diferentes de empresa para empresa, cada uma deve poder escolher os seus
indicadores, definindo as metas a serem atingidas no campo social.
Não se pode deixar que o Balanço Social deixe de ser um instrumento gerencial social, para um
fator de distanciamento entre empresa, sociedade, colaboradores e governo. Explicitar informações o
mais claro possível é primordial para a aceitação e correta utilização deste instrumento do
gerenciamento.
Definir um modelo para esta demonstração, ou escolher indicadores de controle e análise para
ela, deve ser uma tarefa definida de maneira participativa, com representantes de todos os níveis da
empresa, e não apenas pela alta diretoria. Indicadores que reflitam o desempenho da empresa no
campo humano e social, são essenciais para dar maior credibilidade ao Balanço Social, assim como a
indicação do grau de satisfação dos empregados.
O mais importante é fazer o uso correto do Balanço Social no sentido estratégico do planejamento
organizacional. Assim, deve-se tomar por base o resultado de um período e sua variação, para
objetivar metas para os próximos exercícios.
2. RESPONSABILIDADE SOCIAL
O mundo empresarial vê, na responsabilidade social, uma nova estratégia para aumentar seu
lucro e potencializar seu desenvolvimento. Essa tendência decorre da maior conscientização do
consumidor e conseqüente procura por produtos e práticas que gerem melhoria para o meio ambiente
ou comunidade, valorizando aspectos éticos ligados à cidadania.
De acordo com Borger (2001), “as empresas têm um papel social e político a desempenhar e os
propósitos dos negócios vão além da maximização dos lucros e do cumprimento da legislação. A
atuação das empresas também deve ser mais responsável, as questões sociais não podem ser
consideradas como problemas exclusivos dos governos”.
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Definições
Responsabilidade social pode ser definida, de acordo com Ashley (2002), como “o compromisso
que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a
afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico, agindo pró-
ativamente e coerentemente no que tange a seu papel específico na sociedade e a sua prestação de
contas para com ela”.
A organização, nesse sentido, assume obrigações de caráter moral, além das estabelecidas em lei,
mesmo que não diretamente vinculadas a suas atividades, mas que possam contribuir para o
desenvolvimento sustentável dos povos. Assim, numa visão expandida, responsabilidade social é toda
e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade.
Enfim, a Responsabilidade Social pode ser vista como uma forma de conduzir os negócios da
empresa de tal forma a torná-la parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa
socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes
partes e conseguir incorporá-los no planejamento de suas atividades, procurando atender às
demandas de todos e não apenas dos acionistas ou proprietários.
O que se verifica, atualmente, é que não existe mais uma linha divisória entre problemas que
estão fora e dentro das empresas: as soluções devem ser compartilhadas com a sociedade de forma
geral e as empresas devem contribuir ativamente com as soluções, sob o risco de serem
questionadas, processadas e cobradas pelos seus atos.
Fornecer informações à sociedade sobre a utilização dos recursos humanos, naturais, financeiros,
tecnológicos e outros que pertencem à própria sociedade (direta ou indiretamente) é o mínimo que as
empresas devem fazer para merecer o respeito e a credibilidade necessários à continuidade de suas
operações.
A empresa, entendida como “comunidade de pessoas a serviço de toda a sociedade”, terá como
propósito buscar satisfazer as necessidades de todos esses grupos e esferas. Aí está sua real função e
responsabilidade social. Portanto, um verdadeiro Balanço Social não considera apenas o universo
interno da empresa, mas leva em conta as ações desenvolvidas em benefício de todo esse público.
Com isso, várias empresas vêm publicando seu Balanço Social, juntamente com os demais
demonstrativos contábeis, com a finalidade de medir seu desempenho no âmbito das atividades
sociais e também demonstrar que estão preocupados e realizando sua parte de responsabilidade
social.
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Por sua vez, na orientação para o Estado ou governo, a responsabilidade social da empresa
está no estrito cumprimento de suas obrigações definidas e regulamentadas em lei.
No caso da orientação para o ambiente natural, a responsabilidade social tem como objetivo
o desenvolvimento sustentável, integrando fatores como tecnologia, recursos, processos, produtos,
pessoas e sistemas de gestão.
Abaixo estão detalhados cada passo, extraídos do Guia de Elaboração de Relatório e Balanço
Anual de Responsabilidade Social (Ethos, 2001):
- Passo 1 – identificação e abordagem das partes interessadas: nesta fase, a empresa identifica
quais são os públicos que têm interesse no negócio.
- Passo 2 – diálogo e construção das relações: a escolha da abordagem do diálogo dependerá
de cada público, no que se refere a sua formação, interesses e prioridades. O princípio,
contudo, é o de identificar interesses legítimos e fazer refleti-los no plano de negócio.
- Passo 3 – identificação e legitimação de interesses: é necessário que, além da identificação
dos interesses, estes sejam legitimados, ou seja, reconhecidos como verdadeiros pelos
respectivos públicos. Isso é essencial para que se atenda a um conjunto, não a alguns
interesses.
Por fim, os interesses identificados e priorizados devem ser confrontados com outros indicadores
de negócio e com os cenários do planejamento, de modo a serem incorporados às estratégias e
planos de negócio.
O Balanço Social favorece a todos os grupos que interagem com a empresa. Aos dirigentes
fornece informações úteis à tomada de decisões relativas aos programas sociais que a empresa
desenvolve. Aos fornecedores e investidores, informa como a empresa encara suas responsabilidades
em relação aos recursos humanos e à natureza, o que é um bom indicador da forma como a empresa
é administrada. Para os consumidores, dá uma idéia de qual é a postura dos dirigentes e a qualidade
do produto ou serviço oferecido, demonstrando o caminho que a empresa escolheu para construir sua
marca. E ao Estado, ajuda na identificação e na formulação de políticas públicas.
Enfim, como dizia Betinho: "o Balanço Social não tem donos, só beneficiários".
4. BALANÇO SOCIAL
De acordo com o IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, “O Balanço Social
é um demonstrativo publicado anualmente pela empresa reunindo um conjunto de informações sobre
os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas de mercado,
acionistas e à comunidade. É também um instrumento estratégico para avaliar e multiplicar o
exercício da responsabilidade social corporativa”.
No Balanço Social, a empresa mostra o que faz por seus profissionais, dependentes,
colaboradores e comunidade, dando transparência às atividades que buscam melhorar a qualidade de
vida para todos. Ou seja, sua função principal é tornar pública a responsabilidade social empresarial,
construindo maiores vínculos entre a empresa, a sociedade e o meio ambiente.
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Para Santos (1998), “O Balanço Social é um poderoso referencial de informações nas definições
de políticas de recursos humanos, nas decisões de incentivos fiscais, no auxílio sobre novos
investimentos e no desenvolvimento da consciência para a cidadania”.
Para Danziger (1983), “o Balanço Social é um documento importante, espelho da situação social
na empresa, testemunhando o clima que a rege”.
O Balanço Social, na sua definição mais ampla, inclui, ainda, informações sobre o meio-ambiente
e sobre a formação e distribuição da riqueza gerada pelas empresas (valor adicionado) e, quando
apresentado em conjunto com as demonstrações financeiras tradicionais, é efetivamente o
instrumento mais eficaz e completo de divulgação e avaliação das atividades empresariais.
Para Tinoco (2001), o Balanço Social é uma necessidade de gestão e resposta a uma demanda de
informações e tem um duplo objetivo:
1. No plano legal, fornece um quadro de indicadores a um grupo social, que após ter sido
apenas um simples fator de produção, encontra-se promovido como parceiro dos dirigentes
da empresa.
2. No plano de funcionamento da empresa, serve de instrumento de pilotagem no mesmo título
que os relatórios financeiros.
Segundo Tinoco (2001), o Balanço Social dirige-se a vários usuários, destacando-se os seguintes:
- Grupos cujos membros de uma forma pessoal e direta trabalham para a empresa – os
trabalhadores;
- Grupos que se relacionam com a empresa – os clientes, pois de sua confiança vive a
empresa;
- Acionistas que aportam recursos a empresas;
- Sindicatos dos trabalhadores;
- Instituições financeiras, fornecedores e credores;
- Autoridades fiscais, monetárias e trabalhistas, o Estado;
- Comunidade local;
- Pesquisadores, professores, todos os formadores de opinião.
Aos agentes externos às empresas, o Balanço Social visa dar conhecimento daquelas ações
empresariais que têm impactos não apenas no desempenho financeiro, mas também na relação
capital-trabalho e na geração ou não de riqueza e bem-estar para a sociedade.
Desta forma, o Balanço Social é um instrumento de demonstração das atividades das empresas,
que tem por finalidade conferir maior transparência e visibilidade às informações que interessam não
apenas aos sócios e acionistas das companhias (shareholders), mas também a um número maior de
atores: empregados, fornecedores, investidores, parceiros, consumidores e comunidade
(stakeholders).
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A partir da década de 80, a sociedade também passou a requerer uma maior abertura das
empresas, quanto à revelação de informações econômicas, financeiras, sociais e ambientais, que
justifiquem a razão de ser das entidades, como sujeitos públicos, inserindo-se, portanto, no contexto
dos usuários do Balanço Social.
Enquanto o Balanço Patrimonial é expresso em moeda, o formato do Balanço Social ora possui
dados numéricos, ora dados descritivos, uns refletindo o grau de satisfação dos funcionários, outros o
grau de satisfação dos empresários em ter realizado algum tipo de ação social.
O Balanço Social reúne um poderoso conjunto de informações que são importantes para a
definição das políticas de recursos humanos, nas decisões de incentivos fiscais, no auxílio sobre novos
investimentos e no desenvolvimento da consciência para a cidadania.
O Balanço Social, como instrumento de divulgação deste tipo de informação, pode contribuir para
reforçar a imagem institucional de corporações ou das marcas e produtos a elas associados, na
medida em que se apresente não apenas como mais um atributo de marketing, mas como um
demonstrativo da efetiva responsabilidade social assumida e praticada pela empresa e, como tal,
entendida e reconhecida pela sociedade.
Enfim, o Balanço Social deve ser encarado não apenas como um meio de divulgação de
informações relacionadas com o desempenho social, mas sim como um complemento do sistema de
informações da Contabilidade, informando também o desempenho econômico da empresa e seu
relacionamento com a sociedade.
Nos anos 60, nos EUA e na Europa, o repúdio da população à guerra do Vietnã deu início a um
movimento de boicote à aquisição de produtos e ações de algumas empresas ligadas ao conflito. A
sociedade exigia uma nova postura ética e diversas empresas passaram a prestar contas de suas
ações e objetivos sociais. A elaboração e divulgação anual de relatórios com informações de caráter
social resultaram no que hoje se chama de Balanço Social.
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A idéia de responsabilidade social das empresas popularizou-se, nos anos 70, na Europa. Porém, o
que pode ser classificado como um marco na história dos balanços sociais, propriamente dito,
aconteceu na França em 72: foi o ano em que a empresa SINGER fez o, assim chamado, primeiro
Balanço Social da história das empresas.
No Brasil a idéia começou a ser discutida na década de 70. Contudo, apenas nos anos 80
surgiram os primeiros Balanços Sociais de empresas. A partir da década de 90 corporações de
diferentes setores passaram a publicar Balanço Social anualmente.
As experiências internacionais (nos EUA, Bélgica, França e Portugal, entre outros) apontam com
clareza que a motivação que leva a elaborar o Balanço Social está ligada à necessidade das empresas
de um planejamento estratégico de amplo alcance. Hoje, mais do que nunca, para o desenho de
planos de desenvolvimento baseados na reorganização produtiva, tecnológica, administrativa e
organizacional é muito importante ter clara a estrutura das variáveis contábeis, propriamente
econômicas, mas também se torna decisivo avaliar o peso das variáveis mais propriamente sócio-
culturais.
Abaixo são apresentadas as primeiras experiências em vários países da Europa e nos Estados
Unidos, extraídos de Tinoco (2001).
Devido ao estágio mais avançado do capitalismo, foi nos Estados Unidos que se deu início o
debate a respeito da responsabilidade social das empresas. A Guerra no Vietnã foi seu estopim,
surgindo então uma contestação às políticas que vinham sendo adotadas. Foi a partir desse
movimento que surgiram os primeiros relatórios socioeconômicos, que procuravam descrever as
relações sociais na empresa.
Alemanha
Holanda
A Holanda foi o primeiro país do mundo a ter publicado os Social Jarverslag (Relatórios Sociais),
tanto sob a forma de jornal interno, quanto no corpo do relatório anual dos acionistas, ou também
sob a forma de um relatório separado, publicado ao mesmo tempo do relatório anual.
Bélgica
De acordo com Danziger (1983), em 27 de novembro de 1973 foi instituído um decreto real que
exigia a divulgação de diversas informações acerca do desempenho da empresa. Assim, o texto que
regulamenta o Balanço Social congrega desde informações econômicas às sociais.
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Grã-Bretanha
Segundo Danziger (1983, apud Tinoco (2001)), não existe um balanço para os acionistas e um
balanço para o pessoal. O mesmo documento reúne os indicadores úteis para julgar a situação
econômica e para apreciar os dados sociais. Vale ressaltar que não há obrigatoriedade legal de
elaborar e publicar o Balanço Social.
Espanha
Apesar de não ser obrigatória a publicação do Balanço Social, algumas empresas o fazem por
entenderem que as empresas devem ser o mais transparente possível.
França
A França foi o primeiro país do mundo a ter uma lei que obriga as empresas que tenham mais de
300 funcionários a elaborar e publicar o Balanço Social. Segundo Tinoco (2001), este balanço é
bastante paternalista, pois exclui os fatos econômicos dos fatos sociais, como se esses percorressem
caminhos diferentes e excludentes.
Portugal
A primeira experiência do Balanço Social de Portugal data de 1977, com o “estudo sobre as 100
maiores empresas” realizado pela Semap, filial portuguesa do Grupo Metra Internacional. Atualmente,
o Balanço Social é entregue anualmente por todas as empresas com pelo menos 100 pessoas ao
serviço no termo de cada ano civil, qualquer que seja seu regime contratual.
O quadro abaixo mostra o enfoque utilizado na elaboração do Balanço Social em diversos países:
De acordo com o IBASE, o primeiro indício da mudança de mentalidade empresarial pode ser
notado na “Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas” desde a sua publicação, em 1965,
pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas do Brasil (ADCE Brasil).
O Balanço Social da Nitrofértil, empresa estatal situada na Bahia, que foi realizado em 1984, é
considerado o primeiro documento brasileiro do gênero, que carrega o nome de Balanço Social.
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Situação Atual
Verifica-se que o universo das empresas que praticam o Balanço Social ainda é muito restrito.
Segundo a CVM apenas cerca de 70 empresas publicam seu Balanço Social, de acordo com os dados
disponíveis.
Por fim, a própria gravidade da situação social do Brasil exige que as empresas se dediquem à
questão. Há muitas ações de empresas no campo social que não são divulgadas: o público
desconhece essa faceta das empresas preocupadas. O propósito de cada ação e a maneira como é
realizada pelo empresário são vitais para o desencadeamento de outras dimensões na definição das
políticas públicas.
O Ministério do Trabalho e Emprego aponta que, com o transcorrer do tempo, essa fonte de
dados foi se consolidando como uma das mais abrangentes e confiáveis do País, um verdadeiro censo
anual do mercado formal de trabalho.
Instituída pelo Decreto no 76.900, de 23/12/75, a RAIS tem por objetivos: o suprimento às
necessidades de controle da atividade trabalhista no País; o provimento de dados para a elaboração
de estatísticas do trabalho e a disponibilização de informações do mercado de trabalho às entidades
governamentais.
Dentre os itens que compõem a RAIS, vale destacar aqueles que possuem um caráter social e que
poderiam ser aproveitados na elaboração do Balanço Social, de forma a retratar a composição do
quadro de funcionários da empresa:
- Horas semanais de trabalho dos empregados;
- Tipo de vínculo empregatício;
- Grau de instrução dos empregados;
- Remunerações mensais e benefícios.
Ao governo correspondem duas tarefas situadas nos extremos do processo: procedimentos bem
definidos, um rápido processamento dos dados e uma ágil disseminação dos mesmos. A contribuição
dos empregadores está circunscrita ao correto preenchimento das informações e a conseqüente
entrega da declaração dentro do prazo legal.
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Assim, cabe destacar que a confiabilidade da RAIS é uma responsabilidade compartilhada por
todos os setores que intervêm na sua elaboração. O Governo não foge de suas responsabilidades e
obrigações, mas solicita a colaboração dos demais parceiros.
De acordo com Santos (1998), cerca de 60% das informações da RAIS estão presentes em outros
documentos que as empresas preparam e enviam a organismos específicos do governo.
Também deve ser destacado que os indicadores sociais produzidos através da utilização das
informações advindas da RAIS são bastante limitados, abordando apenas a relação formal de vínculo
empregatício, e, pior, não são disponibilizados para os empregados das entidades ou suas associações
de classe. Todavia é um começo.
Assim, a RAIS passará a ser uma verdadeira fonte de informações sociais, para os trabalhadores e
a sociedade em geral, somente a partir do momento em que for elaborada de forma a permitir que
todos possam acessá-la.
De acordo com Candido Grzybowski em artigo divulgado no site do IBASE, “o Balanço Social é
uma forma de demonstração para a sociedade de que a questão social está sendo integrada como
questão estratégica e vital da empresa.
Desta forma, o Balanço Social é um instrumento de demonstração das atividades das empresas,
que tem por finalidade conferir maior transparência e visibilidade às informações que interessam não
apenas aos sócios e acionistas das companhias (shareholders), mas também a um número maior de
atores: empregados, fornecedores, investidores, parceiros, consumidores e comunidade
(stakeholders).
Reputação
O desempenho econômico está associado à competitividade das empresas, atingida quando uma
empresa formula e implementa com sucesso uma estratégia que cria valor, de forma que outras
empresas não possam replicar os seus resultados, e propicie um retorno para os investidores acima
da média.
Borger (2001), aponta que “A abordagem econômica forçou as corporações a melhorar seu
desempenho financeiro continuamente enquanto se ajustavam, obedecendo às regulamentações nos
vários mercados em que serviam. Ao mesmo tempo, os consumidores, na maior parte dos mercados
internacionais, estão demandando que as empresas produzam produtos e serviços com melhor
qualidade e que sejam consistentes com os valores ambientais e sociais, se desejam permanecer em
ambientes competitivos globais. Fornecedores, agências governamentais e outros parceiros
estratégicos têm-se preocupado com a reputação geral da corporação quando selecionam empresas
para criar alianças. Esses requisitos concorrem para simultaneamente melhorar o desempenho
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O Balanço Social visa dar conhecimento, aos agentes externos às empresas, das ações
empresariais que têm impactos não apenas no desempenho financeiro, mas também na relação
capital-trabalho e na geração ou não de riqueza e bem-estar para a sociedade.
O BNDES (2000) evidencia que o Balanço Social, como instrumento de divulgação deste tipo de
informação, pode contribuir para reforçar a imagem institucional de corporações ou das marcas e
produtos a elas associados, na medida em que se apresente não apenas como mais um atributo de
marketing, mas como um demonstrativo da efetiva responsabilidade social assumida e praticada pela
empresa e, como tal, entendida e reconhecida pela sociedade.
O Instituto Ethos também encara o Balanço Social como sendo uma ferramenta de grande
utilidade para um diagnóstico corporativo, uma vez que:
- Permite a compreensão mais abrangente de toda a situação econômica da empresa, por
incorporar fatores relevantes que refletem no desempenho presente e futuro da empresa;
- Auxilia no gerenciamento de impactos propiciando significativa economia de recursos, com a
adoção de novas tecnologias ou procedimentos;
- Permite a avaliação da coerência entre os valores e diretrizes assumidas e a efetivação dos
mesmos, através da análise do desempenho da empresa;
- Possibilita acompanhar a evolução do processo de responsabilidade social da empresa;
- Oferece parâmetros comuns de comparação de desempenho com o de outras empresas,
estabelecendo novos níveis de benchmarks.
13
Instrumento de Gestão
O Balanço Social atua como substrato e catalisador de mudanças promovidas por outras
ferramentas, pois permite a visualização integrada dos instrumentos já utilizados, agregando novas
perspectivas aos processos anteriores ou em curso.
Instrumento de Avaliação
O Balanço Social pode também ser um importante instrumento de esclarecimento para o público
em geral, mas em particular para os capitalistas e investidores, quanto à verdadeira natureza do lucro.
Hoje, as empresas buscam ter cada vez mais práticas de governança corporativa, que envolvem
fatores além da valorização aos acionistas minoritários. Empresa com boa governança tem de ter
também boas relações com as partes interessadas, os stakeholders. Essa boa convivência pode,
inclusive, alterar os preços das ações das empresas na Bolsa.
A própria competitividade entre as empresas que publicam os seus Balanços Sociais leva ao
aperfeiçoamento cada vez maior do instrumento.
O Balanço Social deve ser divulgado como um conceito referente à responsabilidade social das
empresas, para ajudá-las a serem mais efetivas no campo social, e não como um modelo de
"indicadores mínimos".
Pode-se resumir que os pontos principais para o processo de elaboração do Balanço Social são os
seguintes:
- Participação: O modelo foi criado para garantir a possibilidade de todos os envolvidos se
expressarem e, o Balanço em si, consiste em aferir o nível em que as expectativas do público
em relação à empresa foram atingidas.
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A DVA de uma empresa identifica a riqueza gerada exclusivamente por ela mesma, demonstra
também a riqueza recebida por transferência e em seguida apresenta a forma como tais riquezas são
distribuídas. (Santos (1998))
Derivada da DRE, a Demonstração do Valor Adicionado espelha a riqueza gerada pela empresa e
como foi sua distribuição entre os diversos elos que compõem a cadeia produtiva, tais como: sócios,
instituições financeiras, funcionários e governo.
Enquanto a demonstração de resultado procura determinar a parcela da riqueza (lucro) que cabe
à empresa e seus acionistas, a demonstração de valor adicionado procura mensurar o total de riqueza
criada e de que forma essa riqueza está distribuída.
Para De Luca (1998), “a evidenciação do valor adicionado conduz à adoção de um novo estilo
gerencial. O envolvimento dos empregados no processo torna-se natural quando eles identificam a
sua importância para os resultados finais da empresa. Isto acontece porque a DVA reflete uma larga
visão de responsabilidade da empresa em termos de remuneração dos fatores de produção. A
demonstração do resultado tem pouco valor motivacional para os empregados, enquanto que a
demonstração do valor adicionado representa a parcela da riqueza criada pela empresa da qual eles
participam e são responsáveis”.
Tinoco (2001) afirma que, do ponto de vista dos agentes sociais, importa saber como o valor
adicionado gerado pela empresa é repartido e quais são os segmentos beneficiários. Estes são:
- O pessoal, que aporta seu trabalho à empresa, recebendo em contrapartida salários e
benefícios sociais;
- Os acionistas, que ao integralizarem o capital da empresa recebem em troca uma
remuneração repartível, o dividendo, e outra de caráter não repartível, as reservas, que
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A DVA está, sem dúvidas, correlacionada ao Balanço Social. Basicamente, vários dados seriam
comuns, tanto a primeira como ao segundo, como, por exemplo, o total pago em salários aos
empregados, o total de impostos recolhidos pela empresa entre outros. Sendo a origem de dados a
mesma, caberia salientar da importância no sentido de credibilidade para os dados publicados no
Balanço Social, visto que estes teriam sido auditados na DVA.
A DVA é parte integrante do Balanço Social, com o objetivo de proporcionar uma visão sobre a
geração de riqueza pela empresa e a forma de sua distribuição, para os elementos que contribuíram
para sua geração.
Ter informações sobre a conduta operacional, econômica e financeira das empresas é um fator
primordial para a gestão governamental, seja municipal, estadual ou federal, principalmente no que
se refere à alocação dos recursos escassos.
9. BALANÇO AMBIENTAL
Cada vez mais a proteção ao meio ambiente vem tornando-se uma preocupação de muitas
empresas, de formadores de opinião e de parcela significativa da população, em várias partes do
mundo. Isso decorre do elevado nível de degradação do patrimônio natural da humanidade, à medida
que o processo de globalização avança, levando as organizações a se adaptarem para que haja uma
convivência equilibrada com o meio ambiente.
Diante desta alarmante situação, a produção de novas tecnologias foi impulsionada no sentido de
conter, se não eliminar, tais efeitos danosos, dado que a continuidade das atividades econômicas é
fator crucial para o desenvolvimento econômico e social.
Tratando-se de recursos escassos, tais tecnologias têm custos elevados, provocando a resistência
de muitos empresários à sua adoção, visto o desvio da aplicação de recursos nas atividades
operacionais correntes, para investimentos em tecnologias antipoluentes e, principalmente, em função
da redução da margem de lucros no curto prazo.
Segundo Ribeiro (1999), tal resistência começou a ser quebrada diante das pressões dos
movimentos ambientalistas locais e internacionais, quanto ao estágio e gravidade da degradação do
meio ambiente, as quais motivaram a implementação de ações governamentais mais rigorosas, e que
por fim culminaram com surgimento da consciência de responsabilidade social das empresas.
O Papel da Contabilidade
Para Christophe (1992, apud Tinoco (2001)), a Contabilidade Ambiental pode ser definida como
“um sistema destinado a dar informações sobre a rarefação dos elementos naturais, engendrado,
pelas atividades das empresas e sobre as medidas tomadas para evitar essa rarefação”. A
Contabilidade Ambiental envolve o Ecobilan, o valor adicionado negativo e o Balanço Ambiental.
Balanço Ambiental
Carvalho (1991, apud Tinoco (2001)) afirma que deveriam ser divulgados os ativos, as despesas e
os passivos relacionados com o meio ambiente, onde:
- Ativos e despesas: são os recursos financeiros aplicados em equipamentos de proteção a
danos ecológicos e as despesas de sua manutenção ou de correção dos efeitos dos tais
danos.
- Os passivos são de três categorias:
- Regulatória: referente à conduta mandatória vigente decorrente de atos legais;
- Corretiva: para fazer face às contaminações provocadas por danos ecológicos;
- Indenizatória: para atender a reclamações judiciais de danos à pessoa ou à propriedade
decorrentes de desastres ecológicos.
A grande discussão refere-se à avaliação e à divulgação dos passivos decorrentes dos danos
causados ao meio ambiente e dos recursos alocados para a medida de correção e proteção, bem
como do registro ou não da contabilidade financeira, uma vez que a grande maioria das legislações
tributárias e mesmo comercial de diferentes países só permite o correspondente registro quando
pagas as indenizações decorrentes de danos ao meio ambiente, ou quando existem fortes evidências
da existência de danos, que terão de ser ressarcidos ou indenizados.
O Passivo Ambiental das empresas pode ser identificado, entre outras formas, através dos EIA’s
(Estudo de Impacto Ambiental) e dos RIMA’s (Relatório de Impacto ao Meio Ambiente), exigidos pelos
órgãos técnicos de controle ambiental e responsáveis pela autorização de instalação e funcionamento
das empresas. Ribeiro (1999) aponta que, no Brasil, estes documentos passaram a ser exigidos,
também, para concessão de crédito por instituições governamentais ou repasses de créditos
concedidos por agências nacionais e internacionais.
forma como os resíduos poluentes foram tratados. E isto pode gerar significativos impactos no fluxo
financeiro e econômico da organização.
Tinoco (2001) enfatiza que as principais dificuldades que se apresentam quanto à elaboração de
um balanço ambiental são a mensuração e a correta identificação dos ativos e passivos envolvidos,
bem como o padrão de acumulação que possa facilitar a operacionalização do processo contábil.
Além disso, muitas barreiras e dificuldades terão de ser vencidas, para que possa ser difundida
uma cultura empresarial convergente para a adequada divulgação dos danos ambientais efetivados ou
potenciais, decorrentes das atividades econômicas.
A Questão da Divulgação
Qualquer que seja o usuário da informação ambiental, poderá estar interessado na identificação
dos riscos de eventual descontinuidade e das perspectivas de continuidade, tendo em vista as ações e
pressões governamentais, da comunidade financeira, de crédito, e da sociedade em geral. São eles os
investidores privados, os analistas financeiros, o Estado e um outro grupo de usuários potenciais da
Contabilidade ambiental, que são as associações de defesa do meio ambiente.
Não se pode deixar que o Balanço Social deixe de ser um instrumento gerencial social, para um
fator de distanciamento entre empresa, sociedade, colaboradores e governo. Explicitar informações o
mais claro possível é primordial para a aceitação e correta utilização deste instrumento revolucionário
do gerenciamento.
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Um Balanço Social não deve ser uma peça publicitária. Conseqüentemente, deve expressar
informações condizentes e claras. O gestor deve procurar distinguir investimentos econômicos da
empresa no social, daqueles obrigatórios por lei ou por contratos e acordos coletivos.
Definir um modelo para esta demonstração, ou escolher indicadores de controle e análise para
ela, deve ser uma tarefa definida de maneira participativa, com representantes de todos os níveis da
empresa, e não apenas pela alta diretoria. Indicadores que reflitam o desempenho da empresa no
campo humano e social são essenciais para dar maior credibilidade ao Balanço Social, assim como a
indicação do grau de satisfação dos empregados.
O mais importante é fazer o uso correto do Balanço Social no sentido estratégico do planejamento
organizacional. Deve-se tomar por base o resultado de um período e sua variação, para objetivar
metas para os próximos exercícios.
Embora ainda não seja uma obrigação legal a prática da elaboração, análise e divulgação do
Balanço Social, será cada vez mais adotada por um número maior de organizações interessadas em
demonstrar para os seus clientes, acionistas e a sociedade em geral que, além das suas metas de
lucratividade e rentabilidade, existe uma preocupação com a responsabilidade social da organização e
com os impactos da sua atuação no ambiente físico e social ao seu redor.
Assim, para além das poucas linhas que algumas empresas dedicam nos seus balanços
patrimoniais e dos luxuosos modelos próprios de Balanço Social que estão surgindo, é necessário um
modelo único - simples e objetivo. Este modelo vai servir para avaliar o próprio desempenho da
empresa na área social ao longo dos anos, e também para comparar uma empresa com outra.
O Balanço Social não deve ser entendido como uma réplica do balanço financeiro, adaptado ao
campo social. Por outro lado, se a forma de apresentação for muito livre e flexível, o documento pode
não cumprir com o seu propósito de expressar objetivamente os resultados do exercício da
responsabilidade social.
tem a vantagem de estimular todas as empresas a divulgar seu Balanço Social, independente do
tamanho e setor.
Se a forma de apresentação das informações não seguir um padrão mínimo, torna-se difícil uma
avaliação adequada da função social da empresa ao longo dos anos. A predominância de dados que
possam ser expressos em valores financeiros ou de forma quantitativa é fundamental para enriquecer
este tipo de demonstrativo. É claro que nem sempre correlacionar fatores financeiros com fatos
sociais é uma tarefa fácil, porém, os indicadores desenvolvidos no modelo IBASE ajudam nas análises
comparativas da própria empresa ao longo do tempo ou entre outras do mesmo setor. No modelo
sugerido pelo IBASE, a sociedade e o mercado são os grandes auditores do processo e dos resultados
alcançados.
Baseando-se nessa realidade e objetivando entender qual a estrutura básica das propostas
brasileiras, transcreve-se aqui, o modelo formulado pelo IBASE, o qual encontra-se exposto em seu
site na Internet:
Percebe-se que os tópicos sugeridos nesse Balanço Social deverão ser modificados (ampliados ou
reduzidos) de acordo com a realidade da entidade. Portanto, cabe ao grupo responsável pela sua
preparação estudar e escolher a melhor forma de apresentação, ou seja, poderão ser incluídos dados
em forma de indicadores, de gráficos representativos, de valores monetários, de descrições, entre
outras possibilidades.
Cabe ressaltar que a proposta do IBASE é extremamente oportuna e rastreia grande número de
informações sociais e ambientais, que são de imensa valia para análises do desempenho responsável
da entidade, e também servirão de parâmetro para previsões orçamentárias da própria organização e
das instituições governamentais.
Referenciais Utilizados
O Instituto Ethos optou tomar por base a estrutura e conteúdo de relatórios sociais propostos pela
Global Reporting Initiative (GRI), pelo Institute of Social and Ethical Accountability (ISEA), assim como
a associação entre Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial - Versão 2001 e Modelo
de Balanço Social do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE).
A seguir é apresentada a estrutura proposta pelo Instituto Ethos para o Relatório Anual de
Responsabilidade Social Empresarial (Balanço Social).
Na concepção dessa estrutura o Instituto Ethos buscou considerar itens que possam ser aplicados
a qualquer tipo de organização, independente do seu porte ou segmento de atuação. O Instituto
Ethos aponta que, caso algum desses itens não seja considerado relevante para determinada
empresa, deve-se justificar a sua não inclusão.
Recomenda, ainda, que seja utilizada a mesma seqüência em que os itens são aqui apresentados,
a qual garante integridade e encadeamento lógico ao relatório, o que facilita a comparação e
realização de benchmarking entre empresas.
Apresentação
01. Mensagem do Presidente
02. Perfil do Empreendimento
03. Setor da Economia
Parte I - A Empresa
04. Histórico
05. Princípios e Valores
06. Estrutura e Funcionamento
07. Governança Corporativa
Parte II - O Negócio
08. Visão
09. Diálogo com Partes Interessadas
10. Indicadores de Desempenho
10.1 Indicadores de Desempenho Econômico
10.2 Indicadores de Desempenho Social
10.3 Indicadores de Desempenho Ambiental
Anexos
11. Demonstrativo do Balanço Social (modelo IBASE)
12. Iniciativas do Interesse da Sociedade (Projetos Sociais)
13. Notas Gerais
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Considerações Gerais
Não há dúvida de que a elaboração e divulgação de relatórios sociais são um processo recente no
Brasil e no mundo, o que supõe um esforço adicional para a aprendizagem e o compartilhamento das
experiências vividas pelas organizações.
Tornar ou não obrigatório o Balanço Social? Esta é uma questão que merece destaque e a
atenção da sociedade e dos estudiosos.
Segundo o BNDES (2000), na origem do debate brasileiro sobre o Balanço Social as principais
polêmicas relacionaram-se à obrigatoriedade, aos custos adicionais decorrentes e ao tipo de
indicadores que deveriam ser apresentados.
A Questão da Legislação
A Posição da CVM
Inicialmente, a CVM elaborou e colocou em audiência pública uma minuta de instrução em que
estabelecia a obrigatoriedade da divulgação de um conjunto de informações de natureza social.
Muitas sugestões foram oferecidas, mas o aspecto mais importante é que não foi obtido consenso
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O Problema de um Modelo
No momento em que a empresa assume um papel passivo na execução do Balanço Social, sendo
uma mera prestadora de informações preestabelecidas, o governo corre o risco de estar contribuindo
para que a empresa venha a expressar a inverdade sobre os fatos, apenas para satisfazer uma norma
legal.
Elaborar o Balanço Social é um estímulo à reflexão sobre as ações das empresas no campo social.
Tornar o Balanço Social obrigatório seria uma forma, mesmo que inconsciente, de tirar sua
importância como forma de espontaneidade da empresa.
A Scania, uma grande empresa do setor automotivo, foi selecionada para constar da parte prática
deste trabalho pois possui relatório social publicado no período escolhido e apresenta um grande
engajamento em relação ao seu desempenho social.
Empresa
Há quase meio século, a Scania está presente no mercado latino-americano, sendo que o Brasil
foi escolhido para abrigar a primeira fábrica da empresa construída fora da Europa. A unidade de São
Bernardo do Campo, que ocupa uma área total de 350 mil m2, com 130 mil m2 de área construída, foi
inaugurada em 1957. A atuação da empresa sempre foi marcada pela inovação e pelo pioneirismo.
O Brasil, hoje, é um dos mais importantes mercados para os produtos Scania em todo o mundo.
Em 2001, com a venda de 5.266 caminhões, 853 ônibus e 2.042 motores, o país ocupou o primeiro
lugar absoluto entre todas as outras unidades da empresa.
Visão
A Scania será a empresa líder em seu setor, criando valor durável para seus clientes,
colaboradores, acionistas e outros participantes de seu capital.
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Missão
A missão da Scania é fornecer aos seus clientes veículos de alta qualidade, para o transporte de
bens e passageiros por rodovia. A Scania criará valor agregado para o cliente e crescerá com
lucratividade sustentada. Portanto, a Scania cria valor para seus acionistas.
Mercado e Produtos
QUESTIONÁRIO SCANIA
Responsabilidade Social
A Scania não possui uma política de Responsabilidade Social definida e formal, e sim um
compromisso moral. A alta administração se preocupa com o ser humano, com a qualidade, o meio
ambiente e a responsabilidade social. Esse compromisso da procura atingir os funcionários, familiares
e uma pequena parcela da comunidade.
Por enquanto a Scania não pretende formalizar uma política na área social. O relatório social
publicado em 2001 é apenas um embrião. A empresa é consciente de que, para se ter um Balanço
Social, é preciso ter requisitos mínimos e atualizar as informações anualmente, e a empresa ainda não
possui estrutura para estar acompanhando todos os requisitos.
A conduta da Scania em relação ao meio ambiente está definida na política ambiental da empresa
e está disponível na Internet. O relatório ambiental sintetiza todo o trabalho e filosofia da Scania em
relação ao meio ambiente.
Os impactos das operações no meio ambiente são definidos e avaliados seguindo o modelo
previsto na ISO 14001. O mapeamento dos aspectos e impactos é feito de uma maneira formal,
através de metodologia definida em procedimento e controles diversos são estabelecidos em relação
aos mesmos.
Com relação aos critérios utilizados para avaliar o desempenho total dos negócios operados pela
empresa, têm-se:
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- Aspectos de satisfação nas relações de trabalho: anualmente é feita uma pesquisa junto aos
clientes na qual ele é questionado sobre sua satisfação em relação a performance ambiental do
produto Scania (em termos de consumo, emissões, etc.). Quanto aos funcionários, a matriz
realiza uma pesquisa bianual com todos eles, sobre o grau de satisfação em relação a maneira
como são conduzidas as questões ambientais.
Balanço Social
A iniciativa para a publicação partiu da Scania Partner, uma área de serviços interna da Scania
Brasil. A Scania possui um grupo de trabalho que coordena a elaboração do Balanço Social, sendo que
cada pessoa pertence a uma área da empresa que tenha a ver com essas atividades.
A empresa não se utilizou de consultoria, no entanto revelou que entrou em contato com o
Instituto Ethos. A Scania procurou se inspirar em modelos de outras empresas, algumas baseadas no
modelo do Instituto Ethos, mas sem se preocupar com os indicadores. O relatório é feito de forma
que no futuro sirva de base para um Balanço Social, levando os itens para a realidade da empresa,
mostrando aquilo que a Scania mais se preocupa com relação ao ser humano.
O relatório foi dividido em cinco grandes grupos: produto, sistema de gestão integrada, pessoal,
ambiente de trabalho e assistência ao colaborador (serviços). Esses são os tópicos de maior
preocupação da Scania. A empresa considera que cumpre praticamente tudo o que apregoa um
Balanço Social. No que dita a responsabilidade social, com relação às leis e documentação está
praticamente tudo implantado.
A Scania acredita que até seria possível fazer um Balanço Social, mas a empresa considera que
ainda não é o momento, pois são necessários muitos controles. Seria preciso uma área exclusiva que
se dedicasse somente a esses assuntos.
Histórico
O primeiro relatório social da empresa foi publicado há aproximadamente 10 anos, sendo que ele
abordava mais os tópicos de assistência ao colaborador. Já o relatório de 2001 é bem mais rico em
detalhes se comparado ao anterior.
A Scania Suécia possui um relatório de atividades ambientais que envolve todo o grupo Scania.
Como é um relatório muito abrangente, ele era um pouco superficial e não atendia às necessidades
do Brasil. Assim, apesar da matriz possuir o seu próprio relatório, ele não foi utilizado como base para
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a publicação do relatório da Scania Brasil. A iniciativa foi nacional. Como não há uma regra geral para
a publicação que venha da matriz, o Brasil optou por desenvolver seu próprio modelo.
Por não se tratar especificamente de um Balanço Social, a Scania não possui o compromisso de
publicá-lo anualmente. Há a intenção de que o relatório seja bianual, no entanto, vai depender das
disponibilidade de tempo e recursos.
A Scania não “amarra” o conteúdo do relatório com as outras áreas porque não é publicado o
balanço patrimonial. Não é uma sociedade anônima.
É importante salientar que há casos e casos e que vai depender do grau de envolvimento,
honestidade e transparência. A publicação do Balanço Social deve ser uma consciência e não mais
uma burocracia.
Balanço Ambiental
A questão ambiental faz parte da gestão global da empresa e todas as unidades do grupo
possuem a certificação ISO 14001. O produto Scania, inclusive, é quase todo reciclável e há
programas internos de conscientização ambiental.
Todos os processos possuem procedimentos visam o controle dos aspectos e impactos gerados
além de objetivos e metas voltados a redução do consumo de recursos, de emissões no ar, água e
solo. A preocupação com o meio ambiente sempre fez parte da filosofia da empresa, mas é
acompanhado de maneira formal desde 1995, sendo que os resultados têm sido bastante satisfatórios
para a Companhia.
A empresa afirma que não tem passivo ambiental e não realiza uma “provisão ambiental” em
função de possíveis degradações ambientais, visto que ela não identifica essa necessidade.
No entanto, a Scania está estudando atualmente a possibilidade de ter um seguro para passivo
ambiental. Por exemplo, tal seguro aplicar-se-ia a quaisquer despesas pela descontaminação de solo
em locais industriais ou recuperação do meio ambiente dos arredores.
Sua forma de demonstrar os resultados é através do relatório ambiental, juntamente com sua
política de responsabilidade ambiental, que estão disponíveis na internet.
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No que diz respeito à responsabilidade social, a empresa está começando a dar os “primeiros
passos”, uma vez que ainda não possui uma política definida e ela está mais voltada a cumprir as
obrigatoriedades previstas em lei, não possuindo uma postura pró-ativa de atuação junto aos
stakeholders.
Na verdade, seu Relatório funciona como um material de “Boas Vindas” a novos funcionários e
clientes, de forma que os mesmos possam conhecer um pouco da empresa e seus benefícios.
Por fim, a Scania apresenta um trabalho que pode ser considerado um embrião para um futuro
Balanço Social. É um bom começo para a empresa mapear e organizar todos os seus processos, de
forma a envolver a participação de diversas áreas da Cia., para que assim sejam tomadas medidas
conciliatórias aos interesses de todos e seja feito um retrato mais fiel e transparente da realidade da
empresa.
A divulgação dos conceitos assim como dos resultados da aplicação do processo de Balanço Social
é de suma importância, pela iniciativa de despertar o interesse público, de registrar os fatos e de dar
seqüência às ações sociais das empresas.
O Balanço Social não é um fim, ele é o meio pela qual uma empresa presta contas à sociedade de
sua conduta social. O conteúdo do Balanço Social deve ser verdadeiro, reconhecido pelas partes
interessadas, mesmo que não seja completo. A elaboração do Balanço Social pode e deve tornar-se
um instrumento vivo para as definições estratégicas.
Segundo Peter Nades (Ashley, 2002), há várias formas de visualizar a importância do Balanço
Social. Essas visões podem ser sintetizadas da seguinte forma:
Há uma visão legalista que pretende definir, por meio de leis específicas, o papel social da
empresa, obrigando-a a publicar seu Balanço Social. Em segundo lugar, vem a perspectiva contábil
do Balanço Social que consiste na somatória dos valores gastos nas ações consideradas sociais pela
empresa. Uma terceira perspectiva provém de uma visão de interesse próprio e alimenta um processo
de marketing, utilizando a existência de um Balanço Social como argumento de demonstração da
preocupação da empresa com os aspectos sociais de sua atuação. Um quarto grupo de conceitos,
finalmente, é o das empresas que, genuinamente preocupadas com a sua responsabilidade perante os
diversos públicos com os quais se relacionam, agem de forma participativa e o seu Balanço Social
consiste em medir o grau em que a sua estratégia de ação no campo social atende as expectativas
desses públicos, de ano em ano.
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Enfim, apesar de existirem empresas que se enquadrem em cada um dos conceitos citados por
Peter Nades, espera-se que, com o passar do tempo e a experiência adquirida na elaboração e
publicação do Balanço Social, todas as empresas consigam chegar e atuar no último estágio citado por
Nades.
BIBLIOGRAFIA
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BNDES. Balanço Social e outros aspectos da responsabilidade corporativa. Rio de Janeiro. Relato
Setorial nº 2 BNDES – Área Social da Gerência de Estudos Setoriais (AS-GESET), Março 2000.
LAURETTI, Lélio. Relatório Anual: o que uma sociedade por ações deve informar aos investidores.
São Paulo: Saraiva, 1998.
LUCA, Márcia Martins de. Demonstração do Valor Adicionado. Ed. Atlas, 1998.
MARTINS, Eliseu. A importância do balanço social. [Depoimento]. São Paulo, 1999. p. 12-13.
Revista Mercado de Capitais, São Paulo, n. 76, p. 12-13, jan./fev. 1999.
RIBEIRO, Maisa de Souza. Balanço social: uma antiga idéia atual. [Depoimento] São Paulo,
1999. FIPECAFI/IPECAFI/EAC em Revista, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 1-2, mar./abr. 1999.
SANTOS, Ariovaldo dos. O balanço social no Brasil: gênese, finalidade e implementação como
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e implementação como complemento às demonstrações contábeis. UFCE, s/d. Mimeo
SUCUPIRA, João A. "Ética nas empresas e balanço social". Revista Democracia Viva, nº6,
agosto/99. Ed. Segmento/Ibase, 1999.
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www. ethos. org. br
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