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# 40
A DIFÍCIL MISSÃO DE
TER UM LUGAR PARA
622281
MORAR NO BRASIL
Arquivo pessoal
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09
SEM LIMITES
A QUESTÃO
HABITACIONAL
Apesar dos recentes programas de
casa própria para os setores populares,
o Brasil tem um deficit habitacional
que atinge 7,7 milhões de pessoas,
10
91% delas de baixa renda. Esse deficit
é o responsável pelo aumento
do número de favelas e pelas
frequentes ocupações de
18 edifícios públicos.
PEDOFILIA
A pedofilia é um grave drama
social no Brasil. O número de
notificações de estupro de crianças
e adolescentes dobrou em cinco
anos, saltando de 12 087 casos
informados em 2011 para 22 918
em 2016. Pelo levantamento,
50,9% das vítimas têm até
13 anos.
INTELIGÊNCIA
ENTENDA A LÍNGUA
PORTUGUESA BIOLOGIA
ARTIFICIAL
Atividades humanas estão sendo
22
REVISTA INGLÊS FÍSICA cada vez mais realizadas por robôs,
Os ícones temáticos softwares e algoritmos. Para alguns, esse
relacionam as ESPANHOL QUÍMICA
fenômeno é bom, pois tende a tirar de nós
matérias às áreas do o fardo de tarefas difíceis e extremamente
ARTE GEOGRAFIA
conhecimento. A seção complexas. Para outros, no entanto,
“Em foco” contempla EDUCAÇÃO
FÍSICA SOCIOLOGIA o avanço da Inteligência Artificial
as competências e as ameaça a própria civilização, na
MATEMÁTICA FILOSOFIA
habilidades do Enem. medida em que torna o ser
HISTÓRIA humano supérfluo.
CARROS DO
FUTURO 38
Além de utilizarem novas fontes
de energia, como a eletricidade,
dispensando os combustíveis
DISSOCIAÇÃO
fósseis, os veículos do futuro também ELETROLÍTICA
poderão se tornar autônomos, ou Em 1884, o químico Svante
seja, serão capazes de se locomover August Arrhenius defendeu
sozinhos. Esses veículos já circulam em sua tese de Doutorado que
experimentalmente em cidades uma substância, ao ser dissolvida
estadunidenses. na água, divide-se em partículas
menores. Quando essa divisão
O SEGREDO DAS
BACTÉRIAS
Elas podem ser úteis ou nocivas,
ótimas para remediar o solo ou, ao
contrário, altamente letais. Proliferam-se
em ambientes inóspitos. As bactérias
são os seres mais antigos na Terra –
surgiram há cerca de 3,8 bilhões de
anos – e são os seres vivos mais
34
abundantes do planeta. 42
O PAI DA
46 ÁLGEBRA
Nascido no século VIII,
o persa Abu Jafar Muhamed
Ibn Musa Al-Khwarizmi é um dos
matemáticos mais importantes da
História. Ele criou as bases teóricas
para a Álgebra moderna. Al-Khwarizmi
escreveu tratados sobre Aritmética,
Álgebra, Astronomia, Geografia e
TEATRO
50
sobre o calendário. Suas teorias
OFICINA influenciaram o italiano
Há 60 anos era fundado Leonardo Fibonacci. DIÁLOGO
em São Paulo o Teatro Oficina,
dirigido por José Celso Martinez COM A ARTE
Corrêa. Nesse período, o grupo
montou peças como O rei da vela
(1967), de Oswald de Andrade;
Roda viva (1968), de Chico Buarque
de Hollanda; e a monumental
49
Os sertões, de Euclides ENCARE
da Cunha. ESSA!
Q
uando iniciou o cursinho para prestar Denise fez especialização em Unidade de Ali-
vestibular, Denise Noronha Hernan- mentação de Nutrição (UAN) na São Camilo; foi
dez pensava em estudar Medicina. Aos auditora em Segurança Alimentar e Análise de Pe-
poucos, no entanto, tomou contato com rigos e Pontos Críticos de Controle pela Organiza-
o curso de Nutrição, pelo qual se encan- ção Pan-Americana de Saúde; gestora de UAN na
tou. Foi uma paixão duradoura, que se Mellita do Brasil (Guarulhos); nutricionista-chefe
transformou em grande amor. Em 1986, ela graduou- do Setor de Nutrição no Departamento de Geria-
-se em Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo tria D. Pedro II, da Santa Casa. Trabalhou também
e hoje ela é a presidente do Conselho Regional de Nu- no Parque de Material Aeronáutico de São Paulo,
tricionistas, 3a Região (CRN-3), que abrange os estados na Academia da Força Aérea Brasileira e foi asses-
de São Paulo e Mato Grosso do Sul. “O primeiro desa- sora técnica do Ministério da Defesa na Comissão
fio que enfrentei foi o preconceito no meio familiar, de Estudos de Alimentação das Forças Armadas.
pois nutrição não dava status”, conta ela. Mas seu pai Também foi Conselheira Suplente, secretária da
a incentivou, dizendo que era a “profissão do futuro”. Diretoria e vice-presidente do CRN-3.
Para Denise, o maior desafio dos profissionais de Nutri- Confira a seguir os principais trechos da en-
ção hoje é convencer os gestores públicos da importân- trevista.
cia do nutricionista, que é o profissional que promove a
saúde. “Investir em concursos públicos para contratar Atualiza: Fale um pouco sobre sua experiência
nutricionistas para hospitais, postos de saúde e escolas pessoal: como você se tornou nutricionista;
é um investimento que no longo prazo trará economia quais foram os principais desafios que enfren-
para os cofres públicos, além de incluir o nutricionista tou e que lições você tirou disso tudo.
em todos os programas de segurança alimentar e nu- Denise Augustinis Noronha Hernandez: Em 1981,
tricional nas esferas municipais, estaduais e federais.” iniciei o cursinho para vestibular pensando em
ATUALIZA | OUTUBRO 2018
Africa Studio/Shutterstock
08 | TROCANDO IDEIAS
ATUALIZA | OUTUBRO 2018
Banco de imagens/Ex Libris
09
Cidades com cérebros
O projeto europeu RemoUrban (remodelagem urbana) está
sendo testado em algumas cidades: Nottingham (Inglaterra),
Valladolid (Espanha), Tepebasi/Eskisehir e Miskolc (Turquia) e
Seraign (Bélgica). O objetivo é tornar a vida urbana mais fácil.
Passagens de ônibus podem ser compradas diretamente de um
aplicativo no celular e carros particulares são paulatinamente
substituídos por carros e bicicletas compartilhados. Ônibus e
carros não funcionam com gasolina ou outros combustíveis
O tempo
convencionais; são alimentados por eletricidade graças a infra- passa mais
estruturas de recarregamento disseminadas por toda a cidade.
As consequências são redução do consumo de energia e das
rápido?
emissões de CO2, além da redução do tempo de viagem. O tempo parece passar mais rápido
Nessas cidades os edifícios são isolados termicamente para con- a cada ano. Isso será verdade? Ernst
sumir menos energia e ainda se conectam uns aos outros por Heinrich Weber (1795-1878) foi um reno-
meio de redes de compartilhamento de água e ar. Além disso, es- mado médico alemão que, no século XIX, de-
ses edifícios compartilham informações dos moradores, senvolveu um importante trabalho nos campos
permitindo que eles próprios estabeleçam a tempe- da Fisiologia e da Psicologia.
ratura e o consumo de energia de suas centrais Ele foi o primeiro a se dar conta desse fenômeno
de resfriamento e aquecimento. e a traduzi-lo em uma equação. A fórmula foi
Site: Inovação Tecnológica
SEM
melhorada por um psicólogo, o também ale-
<www.inovacaotecnologica.com.br>.
Acesso em: 20 jun. 2018.
mão Gustav Theodor Fechner (1801-1887).
Lar,
dif’cil lar
Deficit habitacional, que
no Brasil atinge 7,7 milhões
de pessoas – 91% delas de
baixa renda –, é o grande
responsável pelo aumento
do número de favelas e pelas
frequentes ocupações de
edifícios públicos
As favelas surgiram Outro problema trazido Programas de habitação O Morro da Providência,
nas grandes cidades pelo deficit habitacional do governo federal, como no Rio de Janeiro, foi
brasileiras no final do no Brasil são as o antigo Banco Nacional a primeira favela do
século XIX e, desde então, ocupações de prédios da Habitação (BNH) e o Brasil. Explique qual é a
nunca mais pararam de públicos abandonados ou Minha Casa, Minha Vida, relação entre a Guerra
crescer: mais de 600 em de terrenos nas periferias. construíram milhares de Canudos (1896-1897),
São Paulo e 500 no Rio Quais são os principais de moradias, mas não a reforma urbana do
de Janeiro. Quais são os problemas que essas diminuíram o deficit prefeito Pereira Passos e
principais motivos desse ocupações provocam? habitacional. Por quê? o surgimento dessa favela.
crescimento?
Costa Fernandes/Shutterstock
12 | CIÊNCIAS HUMANAS
Alf Ribeiro/Shutterstock
Desabrigados no centro de São Paulo, depois do incêndio que destruiu um edifício ocupado.
que ficaram fechados (e sem ma- um imóvel, essa parcela da po- Outra contradição é que, com
nutenção) por anos a fio. As ocu- pulação constrói moradias pre- o passar do tempo, o Morro do
pações também se espalham por cárias, muitas vezes em lugares Bumba foi urbanizado, receben-
terrenos da periferia de grandes de risco, como morros e encos- do abastecimento de água, energia
cidades por todo o país. tas, que, durante a temporada de elétrica, escolas e creches. Hoje,
A faceta mais antiga do deficit chuva, podem sofrer deslizamen- oito anos depois do desmorona-
habitacional brasileiro são as fave- tos. Mesmo sabendo dos riscos, os mento, os desabrigados conti-
las, cuja origem remonta ao ano de moradores resistem a deixar suas nuam sem moradia. Em abril pas-
1897, com a construção de casebres casas, por não terem outra opção sado, sob a liderança do MTST, eles
em uma encosta do Rio de Janeiro, de moradia. ocuparam um terreno em Niterói,
agora conhecida como Morro da Uma das maiores tragédias de- como forma de pressão sobre o po-
Providência. Segundo o IBGE, os correntes de deslizamento acon- der público. Em 2015, iniciativa si-
oito municípios brasileiros com teceu no Morro do Bumba, em milar foi tomada, em vão.
maior número de favelas são: São Niterói (RJ). Cerca de 60 casas Lançado em 2009, o programa
Paulo, com mais de 600; Rio de Ja- construídas em um vale que ser- Minha Casa, Minha Vida, envolve
neiro, com mais de 500; Fortaleza, via como lixão na década de 1960 financiamento com subsídio do go-
mais de 150; Guarulhos, mais de foram soterradas em abril de verno federal, que varia de acordo
130; Curitiba, mais de 120; Campi- 2010, quando o morro desmoro- com a faixa de renda da família be-
nas, mais de 110; Belo Horizonte e nou, provocando a morte de 47 neficiada pelo programa. Levanta-
Osasco, com mais de 100. moradores. A comunidade, onde mento feito em abril de 2016 pelo
Na raiz do problema estão a bai- famílias haviam se instalado de Ministério das Cidades indica que,
xa renda de parte da população e forma clandestina a partir da dé- desde o lançamento, o programa
o alto valor dos terrenos e imóveis cada de 1980, nem constava da re- já havia contratado 4,2 milhões de
nas aglomerações urbanas. Sem lação de lugares de risco monito- unidades habitacionais e entregue
condições de comprar ou alugar rados pela prefeitura. 2,7 milhões de moradias.
A.PAES/Shutterstock
Homem em situação de rua. Número de desabrigados vem crescendo com a crise econômica.
A amostra revela que o Minha Um dos públicos do Minha Casa, Minha escolas e postos de saúde. Fi-
Casa, Minha Vida já deve ter principais Vida”, afirmou o líder do MTST, cam também mais vulneráveis ao
superado a produção do antigo Guilherme Boulos, no livro De crime organizado. Problema si-
BNH, criado pela ditadura mi-
problemas que lado você está?. milar ocorreu nos anos 1960,
litar, que financiou 4,5 milhões para famílias Um dos problemas cruciais para quando o governador Carlos La-
de moradias nos seus 22 anos beneficiadas as famílias beneficiadas pelo pro- cerda, do então Estado da Guana-
de existência. Ainda assim, o por grama é a construção das mora- bara, atual Rio de Janeiro, trans-
programa está longe de suprir dias em locais ermos, longe dos feriu moradores de favelas da
o deficit de moradias no país. E
programas centros das cidades, com infra- capital para uma região distante,
também é alvo de críticas. “Os de moradias estrutura precária. Apartados hoje o bairro Cidade de Deus.
setores imobiliário e da cons- populares é do núcleo urbano, onde vivem A marcante separação entre as
trução civil continuam dando a construção aqueles com melhores condi- moradias de diferentes classes so-
o tom e definindo as regras da ções financeiras, esses morado- ciais é uma característica obser-
política habitacional brasileira.
das casas res enfrentam dificuldades com vada no país desde o século XIX.
Detêm os terrenos e controlam em lugares o transporte público para ter O botânico francês Auguste de
a maioria dos financiamentos distantes acesso a seus locais de trabalho, Saint-Hilaire, um dos primeiros
cientistas a percorrer o Brasil Quatorze anos antes, tinha fal- no interior da Bahia, entre no-
Colônia, registrou a divisão no tado moradia devido a uma sur- vembro de 1896 e outubro de
dia 17 de abril de 1822, no diário preendente e excessiva deman- 1897. O governo mandou milha-
publicado com o título de Segun- da. Ocorreu devido à chegada da res de soldados para o combate,
da viagem a São Paulo. Ao descre- família real portuguesa, em 1808. mas não pagou o soldo. O conflito
ver o caminho que percorreu en- A então capital, Rio de Janeiro, terminou com a destruição total
tre a cidade de Lorena e a de São que tinha 60 mil moradores, pas- do arraial de Canudos, a degola
Paulo, falou da distância entre as sou a abrigar 120 mil da noite para de prisioneiros de guerra e os ho-
choupanas dos agregados e a casa o dia. Dez mil casas da cidade fo- mens enviados pelo Exército com
dos proprietários da terra. ram marcadas com as letras P.R., os bolsos vazios.
No dia seguinte, 18 de abril de em referência ao príncipe regen- Em novembro de 1897, esses
1822, ele voltou ao tema: “Confir- te D. João VI. Significava que os soldados desembarcaram no Rio
mou-se o que escrevi ontem sobre moradores deveriam desocupar de Janeiro, então capital da Re-
os habitantes da beira da estra- a residência e cedê-la para a rea- pública. Sem lugar para morar e
da. São quase todos agregados que leza. A determinação foi obedeci- recomeçar a vida, centenas deles
nada absolutamente possuem e da, mas a população não perdoou. passaram a improvisar moradias
cujos casebres, e ranchos, perten- Passou a traduzir a sigla P.R. como na encosta de um morro no cen-
cem a proprietários vivendo a cer- “Ponha-se na rua”. tro do Rio. O lugar começou a ser
ta distância do caminho, para não chamado de Morro da Favela,
serem incomodados pelos viajan- Morro da Providência, a por causa de um morro existen-
tes. Fazem construir ranchos e ta- primeira favela do Brasil te em Canudos e de um arbusto
bernas à margem da estrada e os Há uma conexão direta entre fa- com flores brancas e espinhos,
alugam a pessoas pobres a quem vela e Guerra de Canudos, aquela comum na região, o Cnidoscolus
dão milho e aguardente para que que dizimou os seguidores do lí- quercifolius, conhecido como fa-
os vendam aos transeuntes”. der religioso Antônio Conselheiro vela ou faveleira.
O tamanho do problema
Deficit habitacional mostra tendência de crescimento nos últimos anos
7 100
6 881 343
6 747 193
6 400
5 700
317 806 942 631
Adensamento Habitação
5 000
excessivo precária
2011 2012 2013 2014 2015
Fonte: Fundação Getulio Vargas
C2 Compreender as
transformações
dos espaços
A.PAES/Shutterstock
geográficos como
produto das relações
socioeconômicas e
culturais de poder.
Inf‰ncia violada
Os casos de estupro de crianças e adolescentes no Brasil
subiram de 12 mil para quase 23 mil em cinco anos, mas o
número de vítimas pode ser bem maior
O
aplicativo SimSimi, que si- partir de um banco de dados alimentado pelos pró-
mula um bate-papo entre um prios usuários. Em outras palavras: o personagem
personagem virtual e o usuá- virtual “aprendeu” os temas impróprios – quando
rio, não pode ser mais baixado não criminosos – com seus interlocutores.
no Brasil. Lançado no país em Iniciativas como a da SaferNet Brasil trazem à
2014, foi suspenso pela pró- tona dramas com frequência encobertos na socie-
pria empresa que o criou, a dade: a pedofilia e a violência sexual contra crian-
sul-coreana Ismaker. “Parece que alguns usuários ças. Não há meio-termo. De acordo com a Organi-
brasileiros têm recentemente ensinado palavras zação Mundial da Saúde (OMS), a pedofilia é uma
maliciosas ao SimSimi”, justificou a empresa ao doença classificada como transtorno de preferência
anunciar a medida. sexual. Pedófilos são adultos que têm preferência
O problema foi muito além de “palavras malicio- sexual por crianças ou por meninas e meninos no
sas”. Por trás da suspensão estava a ONG SaferNet começo da puberdade.
Brasil, que, depois de 5 minutos de interação com Pedofilia é crime. O Código Penal prevê como cri-
o personagem virtual, percebeu que “o algoritmo minosa qualquer relação sexual ou ato libidinoso (ato
de inteligência artificial SimSimi espontaneamen- de satisfação do desejo) praticado por adulto com
te violou as próprias políticas de conteúdo que de- criança ou adolescente menor de 14 anos. Também é
veria implementar, e explicitamente veiculou men- considerado crime “adquirir, possuir ou armazenar,
sagens com incentivo ao abuso sexual de crianças”. por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de
A partir do alerta da SaferNet Brasil, uma avalan- registro que contenha cena de sexo explícito ou por-
che de denúncias provocou a retirada do aplicativo nográfico envolvendo criança ou adolescente”.
do mercado nacional. O mais impressionante é que Não existe um índice nacional que mostre como
o conteúdo do bate-papo do SimSimi se estabelece a o problema impacta as crianças brasileiras, até
OUTUBRO 2018 | aTualiza
20 | CIÊNCIAS HUMANAS
snob/Shutterstock
porque os ataques muitas vezes Em maio de estão muito abaixo da realidade. pornografia desencadeada em
são encobertos pelas próprias fa- Eles não alcançam nem a metade 24 estados e no Distrito Federal
mílias. Há, sem dúvida, um tabu 2018 a polícia dos 49 497 casos de estupro infor- e que culminou na prisão de 251
em torno do tema. E muita difi- lançou em mados à polícia, de acordo com o pessoas e na análise de mais de
culdade em identificar pedófilos. 24 estados 11o Anuário Brasileiro de Seguran- um milhão de arquivos relacio-
Costumam ser “pessoas acima de e no Distrito ça Pública, publicado em 2017. nados a crimes de abuso sexual
qualquer suspeita”, que atuam de Entretanto, acredita-se que o au- de crianças e adolescentes. Reali-
forma sedutora para conquistar a Federal a mento de notificações ao SUS se zada em maio de 2018, a operação
confiança das crianças. operação Luz deve ao maior número de campa- envolveu 2,6 mil policiais e tinha
Sabe-se que o número de noti- na Infância, nhas de combate à pedofilia. como alvo pessoas que tinham
ficações de estupro ao SUS (Sis- que culminou Prevenção é o melhor caminho grande quantidade de arquivos
tema Único de Saúde) dobrou para enfrentar o problema. Nem criminosos.
em cinco anos, saltando de 12 087 na prisão todo pedófilo é abusador, mas, “O mínimo foram 150 arqui-
casos informados em 2011 para de mais de da mesma forma, pratica crime vos baixados. Ninguém baixa 150
22 918 em 2016. Pelo levantamen- 250 pessoas ao consumir fotografias e vídeos, arquivos sem querer”, afirmou à
to, 50,9% das vítimas têm até seja no mundo real, seja pela in- época Alexandro Barreto, coor-
13 anos. A informação consta do ternet. Afinal, em cada imagem do denador do Laboratório de Inteli-
Atlas da Violência 2018, divulga- gênero há uma criança sendo abu- gência Cibernética do Ministério
da pelo IPEA (Instituto de Pes- sada. A pena para quem armazena da Segurança Pública. Entre os
quisa Econômica Aplicada) e pelo material pornográfico envolven- presos durante a operação, havia
Fórum Brasileiro de Segurança do crianças e adolescentes é de pessoas com cerca de 200 mil ar-
Pública. até quatro anos de prisão. quivos armazenados. Os estados
Os especialistas, no entanto, es- Luz na Infância é o nome de do Rio Grande do Norte e do Pa-
timam que esses índices ainda uma operação de combate à raná não foram incluídos na Luz
C3 C
ompreender a
produção e o papel
na Infância por problemas logís- em particular quando tinham com- histórico das instituições
ticos da operação. ponentes de abuso sexual. Com as sociais, políticas e
Como ocorre em outras par- campanhas deflagradas nos últimos econômicas, associando-as
aos diferentes grupos,
tes do mundo, esse material era anos, as denúncias vêm aumentan- conflitos e movimentos
publicado e compartilhado por do em todo o país. sociais.
meio de sites e fóruns de discus- Um dos escândalos mais recen-
são acessados por pedófilos. Cir- tes está ligado à seleção brasileira H12 Analisar o papel da
justiça como instituição
culavam pela deep web, zona ne- de ginástica artística. Há dois anos, na organização das
bulosa da internet, parte da rede o Ministério Público Federal rece- sociedades.
conhecida por divulgar arquivos beu a primeira denúncia contra o
ilegais. A deep web não é inde- ex-técnico da seleção, Fernando de
xada por mecanismos de busca Carvalho Lopes. Ele nega as acusa- Uma campanha lançada por um
como o Google e o Yahoo!. Fica, ções. Este ano, reportagem do pro- município brasileiro foi simboliza-
portanto, oculta para o grande grama Fantástico ouviu 40 atletas da pelo selo a seguir.
público. e ex-atletas que se declararam ví-
A operação Luz na Infância timas de abusos sexuais praticados
veio a público às vésperas de 18 por Fernando entre 1999 e 2016.
de maio, data instituída como Dia O processo contra o ex-técnico
Nacional de Combate ao Abuso e ainda está em andamento. Por en-
à Exploração Sexual de Crianças quanto, ele está proibido de traba-
e Adolescentes. Trata-se de re- lhar com crianças e adolescentes.
ferência a um crime de grande Escândalo similar abalou os Es-
repercussão, ocorrido no dia 18 tados Unidos. Começou em 2015,
de maio de 1973 em Vitória, no quando duas atletas denunciaram o
Espírito Santo. Nessa data, Ara- médico Larry Nassar, da seleção es-
celi Crespo, uma menina de oito tadunidense de ginástica, por abu- Disponível em: <https://ctpocoes.
anos, foi sequestrada, violentada so sexual. Em seguida, mais de 300 blogspot.com/p/campanhas.html>.
e morta. Seus agressores jamais meninas e mulheres fizeram o mes- Acesso em: 16 jun. 2018.
foram punidos. mo tipo de denúncia. Hoje, Nassar
É provável que o crime, co- cumpre pena de 175 anos de prisão. A mensagem da campanha alerta
nhecido como “Caso Araceli”, só No Brasil, o Disque 100, criado para
tenha ficado conhecido por en- em 2003 pela Secretaria Nacional a) a preservação do silêncio das
volver morte. O corpo da meni- de Direitos Humanos, recebe e en- crianças.
na foi encontrado, carbonizado, caminha denúncias de violência b) a culpabilidade do realizador
seis dias depois do desapareci- contra meninas e meninos. O usuá- do ato.
mento. Naquela época, o tabu rio não precisa se identificar. O ser- c) o uso ilegal da tecnologia.
em relação aos crimes cometidos viço funciona todos os dias, das d) a criminalização da conivência
contra crianças era maior ainda, 8 às 22 horas. com o ato.
e) a necessidade de isenção da
sociedade.
Resposta: d
Victor Brave/Shutterstock
A Inteligência
Artificial e o
último homem
N
o filme 2001, uma odisseia no es-
Debate opõe paço, de Stanley Kubrick, a nave
defensores Discovery viaja em uma mis-
são espacial a Júpiter coman-
da inovação
dada pelo supercomputador
tecnológica Hal-9000, um predecessor da
como forma de Inteligência Artificial que com-
bina razão com emoção. No meio da viagem, Hal co-
progresso aos
mete um erro de avaliação – algo impensável para
que temem que a uma máquina quase perfeita como ele – e os astro-
civilização esteja nautas decidem desligá-lo, reduzindo-o a funções
mínimas. O computador, contudo, percebe a mano-
ameaçada por
bra e tenta convencer a tripulação a não desativá-lo,
computadores pois ele seria essencial para que a missão chegasse a
capazes de pensar bom termo. Não tendo êxito em seu intento, Hal co-
meça a eliminar a tripulação. Aqui, Kubrick atualiza
melhor que os
o velho tema da criatura se voltando contra o cria-
seres humanos dor, mas num patamar superior, em que a ferramen-
ta se revolta contra o homem. Mas em 2001 o ho-
mem ainda vence a máquina: o único sobrevivente,
o astronauta David Bowman, consegue desligar os
inteligente indistinguível do
do ser humano – o que ele deno-
minava “jogo da imitação”. Uma
das mais famosas demonstrações
práticas desse teste ocorre todo
ano, desde 1991, no Cambridge
Center of Behavioral Studies em
Massachusetts, nos Estados Uni-
dos, organizado por Hugh Loebner.
Uma comissão julgadora faz per-
Banco de imagens/Ex Libris
“ameaça à existência da nossa End of Human Era (Nossa inven- século XVIII, a maioria das pes-
civilização”. Falando em 2017 a ção final: a inteligência artificial soas trabalhava na agricultura;
governadores estadunidenses em e o fim da era da humanidade, em depois, passou a ocupar empregos
Rhode Island (EUA), Musk bei- tradução livre). Ele afirma que os na indústria. De algumas décadas
rou o catastrofismo: “Até que as seres humanos dominam o pla- para cá, a maioria dos trabalhado-
pessoas não vejam robôs matan- neta não porque sejam os mais res está empregada nos serviços –
do gente na rua não entenderão os fortes ou os mais rápidos, mas hoje, o setor ocupa 70% e 80% da
perigos da Inteligência Artificial. porque são os mais inteligentes. força de trabalho. E é nesse setor
Estamos convocando o demônio”, “Então, quando houver uma coisa que os algoritmos mais avançam,
disse a uma plateia atônita. mais inteligente do que nós por destaca Harari.
“Há dois problemas principais aqui, ela vai mandar no planeta”, O historiador israelense lembra
na Inteligência Artificial que conclui Barrat sombriamente. que a questão não é nova. Desde a
levam pessoas como Musk e O historiador israelense Yuri Revolução Industrial já se temia
Hawking a se preocupar”, escre- Noah Harari, autor dos best-sellers que a mecanização resultasse no
veu James C. Best Jr. no The New Sapiens e Homo Deus, levanta, desemprego em massa. Mas isso
York Times. O primeiro é um te- neste último livro, a ameaça do nunca aconteceu, diz ele, porque,
mor de que, num futuro próximo, fim dos empregos trazida pela quando as velhas ocupações se
criemos máquinas que possam introdução da Inteligência Ar- tornaram obsoletas, novas profis-
tomar decisões pelos seres huma- tificial na economia. “A questão sões se desenvolveram e sempre
nos – lembram-se do computador mais importante na economia havia coisas que os humanos po-
Hal-9000, de 2001? E essas má- do século XXI pode bem ser o diam fazer melhor do que as má-
quinas não têm nenhuma noção que fazer com todas as pessoas quinas. Enquanto as máquinas
de ética nem de moral, e provavel- supérfluas. O que seres humanos competiam conosco nas aptidões
mente nunca as terão. O segundo conscientes farão quando tiver-
problema, diz Best, que ocorrerá mos algoritmos não conscientes
mais no futuro, “é que, uma vez e sumamente inteligentes para
que construímos sistemas que fazer tudo quase melhor?” Ele
pensem como os humanos, essas explica que, no decorrer da His-
máquinas inteligentes serão ca- tória, o mercado de trabalho foi
pazes de produzir máquinas ain- dividido em três setores: agricul-
da mais inteligentes, que terão o tura, indústria e serviços. Antes
que muitos se referem como su- da Revolução Industrial, no
perinteligência”.
A conclusão semelhante che-
gou o cineasta e escritor James
Barrat, autor de Our Final Inven-
tion: Artificial Intelligence and the
k
toc
ers
utt
ry/Sh
er
db
m Bra
lya
Wil
comportamento/pessoas-furiosas-estao-atacando-
carros-autonomos-nos-eua/>.
Acesso em: 13 jun. 2018.
A longa noite
Em dezembro de 1968, o governo escancara a ditadura militar instalada
quatro anos antes com a edição do Ato Institucional no 5, abrindo
caminho para prisões arbitrárias, torturas e assassinatos políticos
Imagens: Banco de imagens/Ex Libris
S
e cassar mandatos; suspendeu
"
ei que a Vossa Excelência Deputados ter recusado um pe- direitos civis, como o habeas
repugna, como a mim e a to- dido do governo para processar corpus; e estabeleceu a censura
dos os membros desse Con- o deputado oposicionista Márcio aos meios de comunicação. Sob o
selho, enveredar pelo ca- Moreira Alves por ele ter proferi- AI-5, a ditadura institucionalizou
minho da ditadura pura e do um discurso considerado ofen- as prisões arbitrárias, a tortura e
simples, mas me parece que sivo aos militares. os assassinatos políticos. A longa
claramente é esta que está O único membro do Conselho noite durou até 1o de janeiro de
diante de nós [...] às favas, senhor presidente, neste a se opor à medida foi o vice-pre- 1979, quando o AI-5 foi revogado
momento, todos os escrúpulos de consciência”. Es- sidente Pedro Aleixo, um tradi- no contexto da abertura política
sas palavras foram pronunciadas em 13 de dezem- cional político liberal mineiro. do general Ernesto Geisel.
bro de 1968 pelo coronel Jarbas Gonçalves Passari-
nho, então ministro do Trabalho, em uma reunião
do Conselho de Segurança Nacional no Palácio das
Laranjeiras, no Rio de Janeiro. A reunião era presi-
dida pelo marechal Arthur da Costa e Silva, presi-
dente da República desde 1967. O Conselho discutia
a edição de mais um instrumento de exceção, o Ato
Institucional número 5, como forma de enfrentar a
crescente onda de oposição ao regime militar ins-
talado em 1964. O pretexto imediato para o endu-
recimento do regime era o fato de a Câmara dos Reunião do Conselho de Segurança Nacional em 13/12/1968. O deputado Márcio Moreira Alves.
Carros do
futuro
Motores elétricos, células
de combustível, veículos
autônomos: a mobilidade
do amanhã pode superar
até a ficção científica!
metamorworks/Shutterstock
L
ançado em 1989, o mudanças importantes na estru-
filme De volta para tura dos veículos, visando sobre-
o futuro 2, estrelado tudo à segurança do motorista
por Michael J. Fox e e dos passageiros; e a adição de
Christopher Lloyd, mais e mais equipamentos ele-
mostra a chegada do trônicos (freios ABS, controle de
protagonista Marty tração, sensor e câmera de ré...).
McFly e sua namorada, Jennifer, A extrema dependência dos
ao “distante” ano de 2015. Carros e combustíveis fósseis também
skates voadores são “comuns” na pai- está na raiz de pesquisas e ino-
sagem futurista imaginada pelo dire- vações veiculares. No Brasil, o
tor Robert Zemeckis. principal substituto da gasoli-
Estamos em 2018, e a realidade das na é o etanol de cana-de-açú-
metrópoles é bem diferente: em vez de car. Mas a fonte de energia que
congestionamentos pelo céu, nós ainda alimentará os carros do futu-
os temos em terra firme... e, não raro, ro é um dos temas mais debati-
em ruas mal pavimentadas e com sina- dos mundo afora: a eletrifica-
lização precária. ção está chegando com força, e
Isso não significa, porém, que a in- é possível imaginar o impacto
dústria automobilística tenha passa- que essa transformação exer-
do por poucas transformações desde cerá sobre toda a cadeia ligada
que o DeLorean do Dr. Emmet Brown ao motor de combustão – uma
cruzou o espaço-tempo para visitar a cadeia que incorpora fabrican-
década de 1950 e o século XXI: daque- tes de cabos, velas, carburado-
la época até os dias de hoje, tivemos res e outros componentes que
a redução do tamanho dos motores e se tornarão dispensáveis num
a adição de turbos, com o objetivo de mundo de carros alimentados a
diminuir a emissão de poluentes; energia elétrica.
Smile Fight/Shutterstock
C2 Identificar a presença e
aplicar as tecnologias
associadas às ciências
naturais em diferentes
contextos.
H6 R
elacionar informações
para compreender manuais
de instalação ou utilização
de aparelhos, ou sistemas
tecnológicos de uso comum.
BactŽrias:
elas estão em todo lugar!
Q
uem nunca viu, nos rótulos unicelulares, autótrofos ou hete-
Elas podem ser úteis de sabonetes e desinfetantes, rótrofos, e podem apresentar di-
ou nocivas, ótimas a promessa de “eliminar 99% ferentes formas: esférica (cocos),
das bactérias”? O poder bac- de bastões (bacilos), espiraladas
para remediar o solo tericida é alardeado porque o (espirilo), de vírgula (vibrião), en-
ou altamente letais. senso comum associa as bac- tre outras. E são “procariontes”,
Proliferam-se em térias a algo necessariamente ou seja: organismos unicelulares
ruim: doenças, feridas infec- simples, que não possuem com-
ambientes inóspitos cionadas, mau cheiro, epide- partimentalização membranosa
e estão na Terra há mia, dor... dos seus produtos intracelulares.
aproximadamente Mas, afinal, o que exatamente são as bactérias? Em outras palavras: elas não apre-
As bactérias são os seres mais antigos da Terra sentam compartimentos dentro
3,8 bilhões de anos (com evidências encontradas em rochas de 3,8 bi- da célula (metabólitos dispersos
lhões de anos) e, também, os seres vivos mais abun- no citoplasma), nem núcleo ver-
dantes do planeta. Podem viver no ar, na água, no dadeiro (cromossomo disperso no
solo, submetidas a altas pressões e temperaturas, citoplasma).
e dentro do corpo de outros seres vivos. Por exem- A célula bacteriana é revestida
plo: a microbiota intestinal (antigamente chamada por membrana plasmática, que
de flora intestinal) do ser humano e de outros ani- delimita o citoplasma. Externa-
mais dispõe de incontáveis microrganismos – entre mente, existe um envoltório rígi-
eles, as bactérias intestinais, que desempenham pa- do, conhecido como parede bac-
pel fundamental para a síntese das vitaminas B e K, teriana ou membrana esquelética.
bem como dos ácidos biliares, que metabolizam es- Sua função é proteger a célula da
teróis e xenobióticos. entrada de água por osmose, pois
Sabia que temos aproximadamente 10 vezes mais isso poderia fazer a bactéria es-
bactérias em nosso corpo do que células humanas? tourar.
As bactérias pertencem ao Reino Monera, do qual Algumas podem ter uma cama-
fazem parte os organismos vivos de procariontes, da mais externa chamada cápsula,
metamorworks/Shutterstock
exemplo, é causado pela bactéria
Clostridium botulinum transmiti-
da por meio da ingestão de alimen-
tos contaminados. Seus sintomas
são prisão de ventre, tontura, baixa
tolerância à luz e visão distorcida.
Latas estufadas de alimentos em
conserva costumam ser repositó-
rios desse tipo de bactérias.
Outro exemplo de doença acar-
retada por bactéria é a bruce-
lose, infecção causada por bacté-
rias do gênero Brucella. Pode ser
contraída pela ingestão de ali-
mentos de origem animal que es-
tejam contaminados, e acarreta
fadiga profunda, febre e dor de ca-
beça. O tratamento requer descan-
so, hidratação e antibióticos – mes-
mos cuidados, aliás, requeridos no
combate à cistite, doença crônica
caracterizada por uma irritação ou
inflamação na parede da bexiga.
Na maioria dos casos, a cistite é
que protege da desidratação, dos organismos vivos para fazer a des- causada pela bactéria Escherichia
ataques de bacteriófagos e da fagoci- contaminação do ambiente. Na coli, naturalmente presente no
tose, além de favorecer a fixação da biorremediação, certas bactérias
bactéria às células dos hospedeiros. são colocadas no ambiente para
Sua reprodução é assexuada, ge- que promovam a degradação de
ralmente por divisão binária (ou compostos tóxicos, como pestici- Ciclo do Nitrogênio
fissão binária), em que ocorre a du- das, ou para fazerem a acumulação
plicação do cromossomo. Depois, a de metal pesado presente no solo O Ciclo do Nitrogênio pode ser dividido
célula se divide ao meio, originan- ou na água. em algumas etapas:
do duas bactérias idênticas. Essa Na produção de alimentos, as • Fixação: as bactérias retiram o
divisão ocorre com grande veloci- bactérias são fundamentais para a nitrogênio do ar fazendo com que
dade, o que explica a rápida proli- transformação do leite em iogurte, este reaja com o hidrogênio para
feração bacteriana em infecções, coalhada ou queijo; para que sucos formar amônia.
por exemplo. de frutas ou destilados de cereais • Amonificação: bactérias e fungos
Outra forma de reprodução bac- se transformem em vinho; e para promovem a decomposição das
teriana é por meio de esporulação, a obtenção do fermento de pão. No proteínas e de outros resíduos
quando ocorre um espessamento campo da Medicina, as bactérias nitrogenados, transformando-os
do envoltório e o metabolismo é permitem desenvolver vacinas e em amônia.
interrompido, formando assim um medicamentos diversos; além dis- • Nitrificação: é o nome dado ao
esporo chamado endósporo. so, a engenharia genética já se vale processo de conversão da amônia
de bactérias geneticamente modi- em nitratos.
Úteis ou nocivas? ficadas para obter hormônios de • Desnitrificação: as bactérias
Existem bactérias com gran- crescimento e insulina. desnitrificantes (como, por exemplo,
de importância ecológica, como Mas, do mesmo modo que exis- a Pseudomonas denitrificans)
aquelas que participam do Ciclo tem bactérias úteis, também há transformam os nitratos em
do Nitrog•nio (veja o boxe) e as uma ampla varidade de bactérias nitrogênio, que retorna à atmosfera.
utilizadas em “biorremediação do nocivas, responsáveis por infecções Desse modo, completa-se o ciclo.
ambiente” – processo que utiliza e doenças letais. O botulismo, por
C3 A
ssociar intervenções
que resultam
intestino, mas que pode se tor- Os exemplos de bacterioses, isto é, en- em degradação
nar patógena (isto é, prejudicial fermidades causadas por bactérias, são ou conservação
à saúde) quando a imunidade da muitos: a cólera, causada pela bactéria ambiental a processos
produtivos e sociais e a
pessoa está baixa. Vibrio cholerae, que pode ser adquirida instrumentos ou ações
No campo das enfermida- pela ingestão de água ou alimentos con- científico-tecnológicos.
des sexualmente transmissíveis taminados, acarreta desidratação in-
(DSTs), é bastante comum a ocor- tensa e pode levar à morte; a leptospi- H11 R
econhecer benefícios,
limitações e aspectos
rência de clamídia, causada pela rose, que pode afetar seres humanos e éticos da biotecnologia,
bactéria Chlamydia trachomatis. animais e é transmitida por bactérias considerando
Seus principais sintomas são a do gênero Leptospira; a febre tifoide, estruturas e processos
vontade frequente de urinar e a mais comum em ambientes muito po- biológicos envolvidos
em produtos
presença de dor no baixo ventre, bres e precários, causada pela bactéria biotecnológicos.
no caso das mulheres, e de testí- Salmonella enterica sorotipo Typhi e
culos doloridos e inchados, em também transmissível pela ingestão de
pacientes homens. No tratamen- água ou alimentos contaminados. O diabetes melito e a hemo-
to, é necessário que tanto o ho- Mas nenhuma bacteriose assusta tan- filia A resultam da incapaci-
mem quanto a mulher tomem o to quanto as doenças causadas pelas dade de certas pessoas pro-
antibiótico recomendado, para “superbactérias”. duzirem proteínas essenciais
que não ocorra reinfecção. para o metabolismo (respecti-
Menos difundida que a clamí- Quase invencíveis vamente, o hormônio insulina e
dia, mas não menos perigosa, a São chamadas de “super” aquelas bac- determinados fatores de coagu-
gonorreia é causada pela bacté- térias que acumularam genes capazes de lação sanguínea). O tratamento
ria Neisseria gonorrheae, que pro- resistir à ação da maior parte dos antibió- dessas doenças foi aperfeiçoa-
voca sangramentos, dor e ardor ticos. Entre as espécies com maior re- do com o uso da biotecnologia,
ao urinar e um corrimento ama- sistência a antimicrobianos, sobressaem mais precisamente com a in-
relado, de odor muito forte. Seu a Staphylococcus aureus, a Acinetobacter trodução dos genes humanos
tratamento exige antibióticos e baumannii, a Enterococcus faecium, a que contêm as informações
a melhor forma de evitá-la é usar Pseudomonas aeruginosa, a Clostridium necessárias para a produção
preservativos. difficile, a Escherichia coli e a Klebsiella dessas proteínas em células
pneumoniae carbapenemases, conhecida bacterianas.
pela sigla KPC. As bactérias são úteis nesse
A KPC, também apelidada procedimento porque
de “bactéria da UTI”, repre- a) sua organização celular é
senta um grave problema semelhante à das células
nos hospitais do mundo humanas.
todo. Extremamente re- b) não há diferenças signi-
sistente, ela se reproduz ficativas entre proteínas
muito depressa (estima-se bacterianas e humanas.
que duplique de número a cada c) os ribossomos humanos
20 minutos) e atinge preferen- são derivados dos bacte-
cialmente pessoas com doen- rianos.
ças debilitantes, como câncer, ou d) interpretam as instruções
transplantadas. genéticas da mesma forma
O principal meio de prevenção que as células humanas.
contra as superbactérias é o uso e) suas moléculas de RNA
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O g•nio
Desacreditada
pela banca de
doutorado em
riu por œltimo
1884, a Teoria
da Dissociação
Eletrolítica, de
Svante Arrhenius,
foi posteriormente
consagrada,
valendo ao autor
o Prêmio Nobel de
Química de 1903
haryigit/Shutterstock
O
Banco de imagens/Ex Libris
ano era 1884. No Ins-
tituto de Física de Es-
tocolmo, capital da
Suécia, o jovem quí-
mico Svante August
Arrhenius, então com
25 anos, fazia a defesa
de sua tese de Doutorado sobre descargas
elétricas através dos gases, orientado pelo
eminente professor Erik Edlund. Obser-
vando as anomalias nas propriedades das
soluções de eletrólitos, substâncias solúveis
pela ação da eletricidade, Arrhenius desen-
volveu sua Teoria da Dissociação Eletrolíti-
ca. Segundo essa teoria, uma substância, ao
ser dissolvida em água, divide-se em partí-
culas menores. Quando essa divisão forma
apenas moléculas, a solução não conduz
energia. Quando forma íons, a solução se
torna condutora. Na época não se conhe-
ciam os prótons, elétrons e nêutrons e
então Arrhenius denominou as partí-
culas negativas ânions e as positivas
cátions. Em igual quantidade, elas
resultam em uma solução eletrica-
mente neutra. Svante August Arrhenius.
Essa teoria contrariava a teo-
ria então aceita, o Modelo Atômi-
co de Dalton, na qual o átomo é uma
minúscula esfera maciça, impenetrá-
vel, indivisível, indestrutível e sem carga.
A banca se indispôs contra Arrhenius e,
por essa razão, ele foi aprovado com a nota
mínima e muitas críticas.
Representação de duas soluções: à esquerda, solução com presença de íons, capaz de conduzir corrente elétrica, e
à direita, solução não iônica, impossibilitando o funcionamento da lâmpada.
C7 Apropriar-se de
conhecimentos da Química
Arrhenius Aos poucos, Arrhenius foi sendo reconheci- para, em situações-
do em seu país. Em 1891 começou a dar aulas de -problema, interpretar,
cunhou a avaliar ou planejar
Física na Escola Técnica Superior da Universi-
expressão dade de Estocolmo. Cinco anos depois, em 1896,
intervenções científico-
-tecnológicas.
“efeito foi nomeado reitor do Real Instituto de Tecno-
logia de Estocolmo, passando depois a integrar H25 Caracterizar materiais ou
estufa”, substâncias, identificando
a Academia Sueca de Ciências. A consagração
afirmando veio em 1903, quando Arrhenius recebeu da
etapas, rendimentos ou
implicações biológicas,
que a Academia Real de Ciências da Suécia o Prêmio sociais, econômicas
queima de Nobel de Química “em reconhecimento dos ex- ou ambientais de sua
traordinários serviços prestados ao avanço da obtenção ou produção.
combustíveis Química através de sua Teoria da Dissociação
fósseis, Eletrolítica”.
como o O processo de refino eletrolítico,
Álgebra:
da Pérsia à Itália
As teorias da Álgebra moderna foram criadas
no século VIII pelo persa Al-Khwarizmi e depois
transmitidas ao Ocidente por Leonardo de Pisa
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N
numerais arábicos. Explique
ascido no século VIII, o per- como o italiano recuperou e
sa Abu Jafar Muhammed Ibn enriqueceu a obra do persa.
Musa Al-Khwarizmi é um dos
matemáticos mais importan- O livro mais importante de
tes da História. Ele criou as Al-Khwarizmi foi Al-jabr
bases teóricas para a Álgebra wa’l muqabalah, de onde se
moderna. Al-Khwarizmi es- originou o nome “álgebra”. O
creveu tratados sobre Aritmética, Álgebra, Astro- livro chegou ao Ocidente nas
nomia, Geografia e sobre o calendário. Tanto o tra- versões árabe e latina. Quem
tado sobre a Aritmética como o sobre a Álgebra incentivou o persa a escrevê-
constituíram o ponto de partida para trabalhos -lo e por quê?
posteriores e exerceram uma forte influência no
desenvolvimento da Matemática, principalmente A sequência de Fibonacci é
da Aritmética e da Álgebra. uma sequência na qual cada
Em seus trabalhos, descreve métodos para re- termo é a soma dos dois
solver equações lineares e quadráticas. Podemos termos que o precedem.
dizer que foi o responsável pelos fundamentos da Foi nomeada assim porque
Matemática ocidental. Cinco séculos depois, o ita- Fibonacci a descobriu. Qual é
liano Leonardo Fibonacci levou os ensinamentos a sucessão Fibonacci que tem
de Khwarizmi para a Europa, propagando o uso de 1 como primeiro termo?
numerais arábicos e dos algarismos de 0 a 9 para
representá-los.
Ao longo da Baixa Idade Média, no Islã, os árabes
tornaram-se patronos da cultura, traduzindo para O livro De numero hindorum
o árabe manuscritos hindus e gregos como Os ele- (Sobre a arte hindu de calcu-
mentos, de Euclides, o Almagesto, de Ptolomeu, além lar) foi, provavelmente, base-
de inúmeros trabalhos de Astronomia, Medicina ado numa tradução árabe de
e Filosofia grega, que posteriormente foram tra- Brahmagupta, e trata de uma
duzidos para o latim e outras línguas por inte- exposição completa dos nume-
lectuais europeus. rais hindus. A tradução para o
Em Bagdá, atual Iraque, foi criada a Casa de Sa- latim dessa obra contribuiu, na
bedoria, comparável ao antigo Museu de Alexan- Europa, para a divulgação des-
dria, onde se encontravam mestres como o mate- ses numerais que posteriormen-
mático e astrônomo Al-Khwarizmi (Maomé, filho te vieram a ser chamados de
de Moisés de Khwarizmi), que escreveu algumas algarismos, palavra que origi-
obras de Astronomia, tabelas sobre o astrolábio, nalmente deriva do nome de
relógio de sol, Aritmética e Álgebra. Al-Khwarizmi.
Seu livro mais importante foi No tratado representar o zero. Depois, expli-
Al-jabr wa’l muqabalah, de onde ca como escrever um núme-
se originou o termo “álgebra”.
de Aritmética, ro no sistema decimal de
Nesse livro, Al-Khwarizmi se ex- Al-Khwarizmi posição utilizando os 10
pressa inteiramente com palavras, introduz símbolos. Descreve as
mesmo os números são escritos operações de cálcu-
os nove
em palavras em vez de símbolos. lo (adição, subtração,
O texto contém uma exposição di- símbolos divisão e a multiplica-
reta e elementar da resolução de indianos para ção) segundo o méto-
equações, especialmente de se- representar do indiano e explica a
gundo grau. extração da raiz quadra-
Não se sabe ao certo os significa-
os algarismos da. Depois do cálculo com
C1 Construir significados
para os números naturais,
No Ocidente, Leonardo Fibonacci, Para a obtermos, é necessário considerar inteiros, racionais e reais.
conhecido por Leonardo de Pisa, que o seu primeiro termo é igual a 1, e temos:
foi o primeiro matemático da Eu- • a1 = 1 H2 Identificar padrões
numéricos ou princípios de
ropa cristã medieval. Ele represen- • a2 = a1+ anterior = 1* contagem.
tou um papel importante reviven- * Neste caso, não possui antecessor, então
do matemáticas antigas e fazendo ele também ocupará a segunda posição. Con-
contribuições significantes. Liber tinuando: Descrita no final do século XII pelo
Abacci (Livro do Ábaco, 1202), seu • a3 = a2+a1= 1+1 = 2 italiano Leonardo Fibonacci, a se-
tratado em Aritmética e Álgebra • a4 = a3+a2 = 2+1 = 3 quência de Fibonacci é infinita e
elementar, introduziu o sistema • a5 = a4+a3= 3+2 = 5 começa com 1 e 1. Os números
hindu-árabe moderno de números Se continuarmos essa operação infinita- seguintes são sempre a soma dos
usando dez símbolos. Seu traba- mente, obteremos a seguinte sequência: 1, 1, dois números anteriores. Portanto,
lho original mais importante está 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, ... depois de 1 e 1, vêm 2, 3, 5, 8, 13,
em análise indeterminada e teoria Muitos trabalhos em Álgebra nasceram 21,… Ao transformar esses núme-
do número. Em A sequência de graças à curiosidade dos matemáticos em ros em quadrados e dispô-los de
Fibonacci, ele descreveu uma com- determinar essas proporções que possuem maneira geométrica, é possível tra-
pilação da Geometria do tempo e relação com a sequência de Fibonacci. Algu- çar uma espiral perfeita, que tam-
também introduziu alguma Trigo- mas dessas descobertas, tais como a propor- bém aparece em diversos organis-
nometria. ção áurea (ou o “número de ouro”), marca- mos vivos. Outra curiosidade é que
Na sequência de Fibonacci, cada ram a história da arte e também das ciências os termos da sequência também
termo é a soma dos dois termos exatas e da Terra. estabelecem a chamada “propor-
que o precedem. Foi nomeada as- Um exemplo de aplicação atual da sequên- ção áurea”, muito usada na arte,
sim porque Fibonacci foi o des- cia de Fibonacci está na análise do mercado na arquitetura e no design por ser
cobridor. A sucessão de Fibonacci, de ações. Alguns matemáticos defendem que considerada agradável aos olhos.
que tem 1 como seu primeiro ter- as flutuações do mercado financeiro obede- Seu valor é de 1,618 e, quanto mais
mo, é: 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, ... cem a um padrão de crescimento e decres- você avança na sequência de Fibo-
Os números também podem ser cimento que acompanha a sequência de nacci, mais a divisão entre um ter-
chamados números de Fibonacci. Fibonacci. Nem todas as suas propriedades mo e seu antecessor se aproxima
Essa equação é uma relação de re- e aplicações foram descobertas. O que pode desse número.
cursão, ou relação de recorrência, garantir um ótimo tema para pesquisas futu- Adaptado de:
que associa termos diferentes de ras para aqueles que desejam enveredar pela <https://mundoestranho.abril.com.
uma sequência ou de uma série. carreira de cientista. br/ciencia/o-que-e-a-sequencia-
A sequência de Fibonacci se de- de-fibonacci/>.
monstrou útil na teoria do núme- Acesso em: 18 jun. 2018.
ro, na Geometria, na teoria de fra-
ções contínuas e na Genética. Nos seis primeiros termos da se-
Essa sequência também é quência aparecem cinco dos dez
muito importante devido às algarismos – 1, 2, 3, 5 e 8. Confor-
suas propriedades e rela- me são definidos outros termos,
ções com a natureza. todos os demais algarismos apa-
recem. O último algarismo a surgir
como unidade de um termo da se-
quência de Fibonacci é
a) 0
b) 4
c) 6
d) 7
Banco de imagens/Ex Libris
e) 9 Resposta: c
Leonardo de Pisa.
OUTUBRO 2018 | ATUALIZA
46 | LINGUAGENS
por LUIZ chAgAs
Banco de imagens/Ex Libris
O
símbolo da dramaturgia vanguardista brasileira
Teatro Oficina de José Celso
Martinez ou, como é chamado
atualmente, o Teat(r)o Ofici-
na Uzyna Uzona, há 60 anos en- a paisagem um elemento impor- Artístico Nacional) autorizou, no
cravado no bairro do Bixiga, em tante para a “atmosfera” do te- fim de maio último, o empresário
São Paulo, vive há algumas dé- atro. Zé Celso, inclusive, gosta- a erguer os prédios residenciais.
cadas uma situação desespera- ria de ocupar essa área, que ele Desde então, José Celso e seus co-
dora. Apesar de o prédio ter sido tombado em 1982 ironicamente batizou de “Sam- laboradores têm se mantido em
pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimô- Pã Anhangabaú da Feliz Cidade”, estado de alerta, promovendo reu-
nio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) e em um trocadilho com o principal niões, debates, eventos, tentando
transformado em teatro público, “sob gestão do Gru- produto do Grupo SS. Seriam ten- demover empresário e autorida-
po Oficina”, dois anos mais tarde, antes mesmo de ser das, um teatro-estádio – espécie des. Apesar do parecer do Iphan, a
remodelado de acordo com projeto da lendária arqui- de oca grega para 5 mil pessoas – a preservação do entorno do Ofici-
teta Lina Bo Bardi e de Edson Elito, seu entorno não é Universidade Antropófaga, a Ofi- na conta com o apoio de entidades
assegurado. O terreno em volta do teatro pertence ao cina de Florestas, tudo a cargo de como o Instituto de Arquitetos do
empresário e apresentador Silvio Santos, que há 30 arquitetos renomados como Pau- Brasil, o Comitê Brasileiro do Con-
anos tenta construir três torres residenciais de 28 an- lo Mendes da Rocha, João Batista selho Internacional de Monumen-
dares naquele espaço. Corrêa e Beatriz Pimenta Corrêa. tos e Sítios, a Associação Nacional
Tal iniciativa prejudicaria a criação dos arquitetos, É claro que Silvio Santos ri dis- de Pesquisa e Pós-Graduação em
reconhecida internacionalmente, e que é caracteri- so e, para piorar, o Iphan (Insti- Arquitetura e Urbanismo, a Seção
zada por uma parede de vidro de 150 m2, o que torna tuto do Patrimônio Histórico e Brasileira do Comitê Internacional
C4 Compreender a arte
Arquivo Teatro Oficina
Jennifer Glass
como saber cultural
e estético gerador de
significação e integrador
da organização do mundo
e da própria identidade.
Macrovector/Shutterstock
atividade humana será emulada. Tome como referência a
sofisticação envolvida em cada atividade – quanto mais
complexa, mais distante.
Atividade Ano
Matem‡tica ‡urea
A sequência numérica 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, ... – conhecida como
sequência de Fibonacci – tem seu n-ésimo termo definido por
F(n) = 1, se n = 1 ou n = 2 e F(n) = F(n – 1) + F(n – 2), se n > 2.
1. Determine a soma dos dois menores números primos
componentes dessa sequência localizados após o é obtida dividindo-se 987 por 610 = 1,618.
décimo termo. 2. 15o termo: 610; 16o termo: 987. A proporção áurea
1. 89 (11o termo) + 233 (13o termo) = 322
Matemática áurea
2. Demonstre a proporção áurea a partir do 15o e
do 16o termos da sequência. artificial-superar-os-humanos/>. Acesso em: 17 jun. 2018.
tecnologia/quanto-tempo-falta-para-a-inteligencia-
Com informações de: <https://super.abril.com.br/
matemáticos inéditos
2060 Criar e comprovar teoremas
corrida de 5 km
2029 Vencer atleta profissional em
paradas dos Estados Unidos
2028 Criar música campeã das
Ensino Médio
2027 Escrever textos em nível de
voz alta
2026 Ler fluentemente textos em
telefônico de banco
2025 Trabalhar como operador
2021 Vencer a Série Mundial de Pôquer
Ano Atividade
Favela I, In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018.
LINGUAGENS
O DESDOBRAR DA LINGUAGEM
MATEMÁTICA
COMBINAÇÕES COMPLETAS
CIÊNCIAS HUMANAS
A INDÚSTRIA CULTURAL
REDAÇÃO
QUESTÕES SOCIAIS NA REDAÇÃO DO ENEM
#atualize-se
52
Linguagens
L
L inguag
Reprodução/Ateliê Editorial
gimento. Nesse caso, o emissor constrói lacunas que serão – ou não – preenchidas pelos
leitores. Mas o que se flexiona também pode ser desdobrável e expandir-se, alongar-se,
multiplicar-se em camadas.
Eis a enorme potência das figuras de linguagem: elas permitem que algumas palavras
acolham um mundo de significados. Assim como o eu lírico de Drummond “tinha duas
mãos e o sentimento do mundo”, a linguagem figurada faz caber um universo em duas pa-
lavras. Não é difícil entender como isso acontece. Na linguagem denotativa, aquela em que
as palavras são usadas com o sentido que apresentam nas páginas dos dicionários, aquilo
que se diz é do tamanho do que foi dito: “A casa tem 78 m2 de área útil” – e aí está o todo
daquilo que se diz.
Já na linguagem conotativa, aquela que extrapola as acepções das páginas dos dicioná-
rios, há uma mágica: os sentidos se multiplicam, refletem-se e refratam-se, espalham-se
para todos os lados – crescem, inflam, incham, tornam-se espécies de células de sentidos, TATIT, Luiz. Análise
túrgidas, grávidas de hipóteses e potencialidades a serem exploradas pelos leitores. As- semiótica através das letras.
sim, “A casa tem cheiro de infância” é muito mais do que o todo registrado por escrito, são Cotia: Ateliê, 2008.
muitas mais as palavras, além das seis que aparecem diante dos olhos. Com base na análise de letras
como as de “Asa branca”
e “Saudosa maloca”, por
Andre Luiz Moreira/Shutterstock
Estátua de Carlos Drummond de Andrade na praia de Copacabana, Rio de Janeiro. Drummond foi
um dos mais influentes poetas brasileiros do século XX.
Por isso – e não à toa – a linguagem conotativa aparece recorrentemente em provas. E não
é diferente no Enem. A linguagem conotativa, que inquieta percepções, é parte constituti-
va de praticamente todo texto literário. E o texto literário é parte constitutiva de toda pro-
va. Naquelas, especialmente, em que se pretende explorar, no candidato, sua capacidade
de descortinar a linguagem escrita, compreendendo que os textos devem ser descobertos
em camadas – escavados como se faz nas descobertas de um fóssil em sítio arqueológico –,
esse trabalho é ainda mais frequente. Mais uma vez, aparece-nos como norte a prova
do Enem.
53
A partir da certeza de que será necessário reconhecer e interpretar a linguagem conotativa, além de analisar textos com base
nessa compreensão, então partimos para outro movimento: o de saber quais habilidades (especialmente leitoras) são necessá-
rias para que se faça esse reconhecimento, para que se acerte nessas interpretações, para que se analisem esses textos escritos
com base na conotação.
O primeiro passo sempre será a percepção – todo leitor precisa ter, diante de um texto, uma daquelas pulgas-atrás-da-orelha
(nada mais conotativo que isso), daquelas desconfianças-do-bem de se questionar: se estou diante de um texto literário, é muito,
muito provável mesmo que ele seja criado com preocupações estéticas ou de construção de sentidos. Trocando – conotativamente
– em miúdos, isso significa que, em uma notícia, em regras de jogo, numa receita ou em um texto de divulgação científica, muito
provavelmente o que se pretendia era o sentido literal, o mais claro possível, o mais direto e objetivo. Em movimento diametral-
mente oposto, os textos literários se estruturam para serem múltiplos. Neles – um conto, um romance, uma crônica, um poema! –,
é bem provável que haja conotação (metáforas, metonímias, hipérboles e hipérbatos, sinestesias ou paradoxos)... e é imprescindí-
vel que, ao lê-los, abramos os olhos para isso. Desconfiemos mesmo: por que isso está aqui, assim, em determinada ordem?
Um bom caminho é saber bem os conceitos de sinonímia, antonímia, paronímia e homonímia, além de reconhecer bem pelo
menos boa parte da longa lista de figuras de linguagem estudadas por aí. Sinônimos (palavras aproximáveis em sentido) e an-
tônimos (palavras oponíveis em sentido) são mais naturais para quem estuda a Língua Portuguesa. Mas parônimos (palavras
que se podem confundir por alguma razão) e
Daxiao Productions/Shutterstock
homônimos (palavras coincidentes na escrita,
no som ou em ambos) não costumam estar en-
tre os termos que mais usamos – e, por isso, é
preciso revisitar esses conceitos.
Da mesma maneira, no caso das figuras de
linguagem, antítese (uso de termos de sentidos
oponíveis entre si) ou eufemismo (ideias des-
confortáveis atenuadas) são comuns, enquanto
lítotes (ideia sugerida pela negação de seu con-
trário) e hipálage (transposição da relação entre
elementos) precisam ser revistas, de tempos em
tempos. Por isso, retomar capítulos, seções ou
baterias de exercícios de figuras de linguagem é
outro passo no caminho do acerto.
Assim são dados, então, dois passos até o alvo:
a desconfiança necessária diante do texto lite-
rário, de que ele foi produzido para se expandir
em sentidos e a segurança de reconhecer as re-
lações de sentido entre as palavras e as figuras
de linguagem. Tudo isso feito, resta o que talvez
seja o passo mais importante: abrir-se para o
texto, sensibilizar-se para sua leitura, acolhê-lo.
É claro que, quase sempre, em uma prova, a ten-
são pode prejudicar um pouco essa abertura – é
preciso ter o cuidado de não ler os textos de uma
prova buscando neles apenas seus significados,
é preciso compreender sentidos: afinal, é neles
que o texto se mostra inteiro.
Por fim, é o momento de realmente desven-
dar a questão, quando ela estiver diante dos
olhos. No enunciado, verbos como “deduzir”,
“inferir” e “compreender” podem apontar um
pedido de análise da linguagem conotativa ou
o reconhecimento de figuras de linguagem. Se-
guindo essas pistas e abrindo os braços para
receber o texto, com seus sentidos e reentrân-
cias, com suas explosões de significados e suas
veredas, a chance de acertar no alvo nas ques-
tões que exigem a compreensão da conotação “Chorar pelo leite derramado”: expressão de sentido conotativo que significa que
aumenta consideravelmente. não vale a pena lamentar por algo que já aconteceu.
54
Linguagens
Em foco C4 Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do
mundo e da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
(Enem)
Reprodução/Enem, 2015.
Atividades
Leia a tira a seguir, de Calvin, para responder às questões 1 e 2.
1 C6/H18 Às vezes, em textos escritos, especialmente literários, d) fazer a lição seria uma atividade simples, rápida, ágil como a
é preciso desvendar aquilo que não está dito ou que se diz de outra passagem de um cometa.
forma. Os jogos de sentidos são os responsáveis por fazer do texto e) o tigre Haroldo não compreendeu suas reais intenções ao
literário uma espécie de prisma de onde partem raios diversos e em mencionar a passagem do cometa.
múltiplas direções. Nos quadrinhos, por exemplo, quando Calvin
afirma que fará a lição, ele ao mesmo tempo deixa transparecer que 2 C1/H1 Um “arauto do juízo final” é uma espécie de responsável
a) a ideia de o cometa acabar com o mundo não era tão ruim quanto por anunciar o fim – nesse caso, o fim dos tempos. Para dizer a
ele fez parecer. Haroldo que o cometa é um antecipador do fim do mundo, Calvin
b) se sente aliviado pela notícia de que não acontecerá a passagem usa uma
do cometa. a) metonímia. d) metáfora.
c) o tigre – e seu parceiro, Haroldo – não tem certeza do que diz ao b) paronomásia. e) antonomásia.
negar o fim do mundo pela passagem do cometa. c) hipérbole.
Gabarito 1. a 2. d
Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.
55
m
M atemátic
Matemática
Em profundidade
Combinações completas
Uma sorveteria faz semanalmente uma promoção em seus produtos.
Leia A desta semana é a de que o cliente, ao comprar uma taça com três bolas de sorvetes, in-
Reprodução/Editora Bookman dependentemente dos sabores escolhidos, terá um desconto no preço de cada bola.
Quatro amigas (1, 2, 3 e 4) interessadas nessa promoção foram até a sorveteria dispostas
a adquirir cada uma delas uma das taças.
Chegando lá, verificaram que o estabelecimento possuía apenas 7 sabores disponíveis.
Assim, fizeram seus pedidos da seguinte maneira:
Amiga 1: Três bolas de sabores iguais.
Amiga 2: Três bolas de sabores distintos.
Amiga 3: Três bolas escolhidas aleatoriamente, podendo ou não repetir sabores.
Amiga 4: Pelo menos uma das três bolas ser de chocolate.
LIPSCHUTZ, Seymour; Observe que, para qualquer um dos pedidos, a ordem dos sabores nas taças é irrelevante.
LIPSON, Marc. Matemática A partir daí foi levantado o seguinte problema: de quantas maneiras distintas cada uma
discreta. 3. ed. Porto Alegre: delas poderia fazer os pedidos, levando-se em consideração que o sabor chocolate é um
Bookman, 2013. (Schaum). dos que compõem as opções da sorveteria?
Este livro tem o objetivo de Para os pedidos das amigas 1 e 2, a solução do problema é simples.
ajudar estudantes a entender Veja por quê.
e a usar sistemas finitos, que
têm se tornado cada vez mais
Como a escolha da amiga 1 é por três bolas de sabores iguais, e a sorveteria oferece sete
importantes à medida que a opções de sabores, é imediato que o número de escolhas dessa pessoa seja 7.
era do computador avança. Já a amiga 2 deve combinar os 7 sabores oferecidos pela sorveteria de 3 em 3, já que a
O capítulo 6 é destinado ordem das bolas na taça é irrelevante. 7! 7⋅6⋅5
às “Técnicas avançadas Assim, o número de escolhas para a amiga 2 é dado por C 7,3 = = = 35
de contagem”, contendo as 3! ⋅ 4! 3⋅ 2
maneiras.
Combinações completas.
Vamos analisar agora o número de escolhas das amigas 3 e 4.
Acesse Ambas farão combinações de sabores, porém poderá haver elementos repetidos nessas
O site <https://portaldosaber. composições.
obmep.org.br/uploads/ Nos estudos de Análise combinatória, quando queremos permutar n elementos de
material_teorico/c7ulccajve8sc.
um conjunto (ou seja, levando-se em consideração a posição do elemento na sequên-
pdf> apresenta um material
teórico intitulado “Métodos cia), onde um deles comparece α vezes, outro comparece β vezes, outro comparece γ ve-
sofisticados de contagem”, no zes, e assim por diante, temos que essa permutação Pnα , β, γ , ... é dada por:
qual há uma aula que abrange n!
Pnα , β, γ , ... =
as combinações, com diversos α ! ⋅β! ⋅ γ ! ⋅ ...
exercícios resolvidos de
maneira simples e clara.
Lembre-se de que, no caso das amigas 3 e 4, a ordem dos elementos é irrelevante e
a quantidade de sabores a serem escolhidos é menor que os oferecidos pela sorvete-
Assista ria, ou seja, não é o caso, então, de permutações dos sabores.
Quebrando a banca. Para descobrirmos o número de escolhas possíveis
Direção: Robert Luketic.
dessas duas amigas, precisamos aplicar os conceitos
Classificação: 14 anos.
EUA, 2008. de Combinações completas ou Combinações com
Ben Campbell, um aluno elementos repetidos.
brilhante do Instituto
Leolintang/Shutterstock
Tecnológico de Massachusetts,
usa seu conhecimento em
Matemática para ganhar nos
terstock
56
Combinações completas ou combinações com elementos 5! 5 4 + 2 − 1
Observe também que = = = CR4, 2 .
repetidos 2! ⋅ 3! 2 2
Seja um conjunto com n elementos distintos (n ∈ ℕ) de Situação 2:
modo que se queira escolher r elementos entre eles (r ∈ ℕ), Suponha que, para o mesmo restaurante do item anterior, a
sendo a ordem de escolha irrelevante e um mesmo elemento sobremesa agora é composta de 5 fatias de frutas e elas podem
poder ser escolhido uma ou mais vezes (ou não ser escolhido). ser escolhidas de um conjunto com 7 frutas.
O número de maneiras de se escolher esses r elementos num Considere agora o conjunto S’ = {A, B, C, D, E, F, G}, que repre-
universo de n elementos disponíveis, de acordo com a descrição senta o número de fatias de cada uma das sete frutas, A, B, C, D,
acima, é chamado de número de combinações completas num E, F e G.
total de n escolher r e denotado por CRn, r. Temos agora de resolver a equação:
Vamos mostrar por meio de algumas situações que
A + B + C + D + E + F + G = 5 no conjunto dos inteiros não
n + r − 1 negativos.
CRn, r = .
r Vamos pegar três soluções para a equação.
Situação 1: a) Uma fatia de A, duas de B e duas de F.
A sobremesa de um restaurante é composta de dois pedaços b) Uma fatia de B, uma de C, uma de E e duas de F.
de frutas (mesmo tipo de fruta ou não), que podem ser escolhi- c) Quatro fatias de B e uma de G.
das entre abacate, banana, caqui e damasco. Da mesma forma que no exemplo anterior, vamos organizar
De quantas maneiras é possível montar uma sobremesa nesse essas situações montando o quadro:
restaurante?
Observe que diferentemente do que fazemos em combinação A+B+C+D+E+F+G=5
simples, em que as frutas deveriam ser distintas, aqui, podemos, . | .. | | | | .. | ⇒ . | .. | | | | .. | → (solução do item a)
por exemplo, pedir duas fatias de abacate. | . | . | | . | .. | ⇒ | . | . | | . | .. | → (solução do item b)
Acompanhe o raciocínio. | …. | | | | | . ⇒ | …. | | | | | . → (solução do item c)
Considere o conjunto S = {A, B, C, D}, cujos elementos repre-
sentam, respectivamente, o número de fatias de abacate, bana- Para encontrarmos todas as soluções da equação, basta en-
na, caqui e damasco. contrarmos o número de permutações dos cinco pontos e das
Na verdade, o que estamos querendo aqui é resolver a equação seis barras verticais.
11!
A + B + C + D = 2 no conjunto dos inteiros não negativos. Assim, o total de soluções é: P115, 6 = = 462.
Observe quatro soluções para a equação: 5! ⋅ 6!
Ou seja, existem agora 462 maneiras de montar a sobremesa
a) Pegamos duas fatias de abacate (consequentemente nenhu-
nesse restaurante.
ma das outras). 11! 11 7 + 5 − 1
b) Pegamos duas fatias de damasco (consequentemente ne- Observe também que = = = CR7, 5 .
5! ⋅ 6! 5 5
nhuma das outras).
Levando em consideração esses dois exemplos, podemos en-
c) Pegamos uma fatia de banana e uma de caqui (consequente-
mente nenhuma das outras duas). tão generalizar:
d) Pegamos uma fatia de abacate e uma de damasco (conse- n + r − 1
quentemente nenhuma das outras duas frutas). CRn, r =
r
Vamos organizar essas situações montando o seguinte quadro:
em que n é o número de elementos que queremos combinar de
A+B+C+D=2
r em r quantidades.
.. | | | ⇒ .. | | | (Solução da 1a equação → duas fatias
Voltando ao nosso problema inicial, vamos descobrir o nú-
de abacate.)
mero de opções para as amigas 3 e 4 montarem suas taças de
| | | .. ⇒ | | | .. (Solução da 2a equação → duas fatias
de damasco.) sorvete. Lembremos que a sorveteria oferece 7 sabores, dos
| . | . | ⇒ | . | . | (Solução da 3a equação → uma fatia quais serão escolhidas 3 bolas.
de banana e uma de caqui.) A amiga 3 vai escolher três bolas indistintamente.
. | | | . ⇒ . | | | . (Solução da 4a equação → uma fatia Então: n = 7 e r = 3.
de abacate e uma de damasco.) 7 + 3 − 1 9 9! 9⋅8⋅7
CR7, 3 =
3 = 3 = 3! ⋅ 6! = 3 ⋅ 2 = 84 maneiras
Embaixo de cada letra foi colocada, em forma de pontos, a
quantidade de frutas correspondente a essa letra e, embaixo dos A amiga 4 já fez uma das escolhas, que é de chocolate. As ou-
sinais de “+”, foram colocadas barras verticais. tras duas serão aleatórias.
Observe que o número total de soluções é dado pelas permu- Assim, teremos n = 7 e r = 2
tações de pontos e barras verticais. 7 + 2 − 1 8 8! 8⋅7
No caso, temos 2 pontos (quantidade de sabores) e 3 barras CR7, 2 =
2 = 2 = 2! ⋅ 6! = 2 = 28 maneiras
(quantidade de sinais de + na equação).
5! Se em situações como essas a posição dos elementos é deter-
Assim, o total de soluções é: P52, 3 = = 10.
2! ⋅ 3! minante, teremos um arranjo com repetição de n elementos,
Ou seja, existem 10 maneiras de montar a sobremesa nesse tomados de r em r, que é dado por:
restaurante. ARn, r = nr.
57
Matemática
Em foco C1 Construir significados para os números naturais, inteiros, racionais e reais.
H2 Identificar padrões numéricos ou princípios de contagem.
(Enem)
Um brinquedo infantil caminhão-cegonha é formado por uma carreta e dez carrinhos nela transportados, conforme figura.
Reprodução/Enem, 2017.
No setor de produção da empresa que fabrica esse brinquedo, é feita a pintura de todos os carrinhos para que o aspecto do brinquedo
fique mais atraente. São utilizadas as cores amarelo, branco, laranja e verde, e cada carrinho é pintado apenas com uma cor. O caminhão-
-cegonha tem uma cor fixa. A empresa determinou que em todo caminhão-cegonha deve haver pelo menos um carrinho de cada uma das
quatro cores disponíveis. Mudança de posição dos carrinhos no caminhão-cegonha não gera um novo modelo do brinquedo.
Com base nessas informações, quantos são os modelos distintos do brinquedo caminhão-cegonha que essa empresa poderá produzir?
a) C6, 4 b) C9, 3 c) C10, 4 d) 64 e) 46
Resposta: b
Inicialmente, vamos assumir que a primeira fileira, a de quatro carrinhos, já está pintada com as quatro cores disponíveis: amarelo, branco,
laranja e verde.
Resta ainda pintar os seis carrinhos restantes com as quatro cores disponíveis, sem nenhum critério de uso (desde que seja uma única cor
por carrinho).
Assim, teremos a combinação completa CR6, 4 (temos 6 carrinhos e 4 cores disponíveis para a pintura).
61 4 2 1 9
CR6, 4 5 5 5C9, 6
6 6
n n
Dos binomiais complementares, sabemos que 5 .
p n 2p
Assim: C9, 6 = C9, 3 .
Atividades
1 C1/H2 O conselho de uma escola é composto por 7 professores, 7 pais de alunos e 8 alunos.
O diretor precisa fazer uma reunião conjunta com 7 pessoas desse grupo, de modo que haja pelo menos 1 professor, 1 pai de aluno e 2 alunos.
O número de maneiras distintas que o diretor poderá compor o grupo para a reunião
a) é menor que 5 500.
b) está entre 5 500 e 9 500.
c) está entre 9 500 e 13 500.
d) está entre 13 500 e 19 500.
e) é maior que 19 500.
2 C1/H2
Após receber alta do hospital onde estava internada, Mariana, a pedido de seu médico, deverá realizar três exames distintos e voltar ao
consultório para a verificação do seu quadro de saúde.
O médico deu um prazo de seis dias, a partir de hoje, para que os três exames fossem realizados e, por causa da característica de cada um
deles, estabeleceu que:
• Cada exame deve iniciar e terminar no mesmo dia.
• Não poderá ser feito mais de um exame num único dia.
Com essas condições impostas, o número de maneiras de Mariana planejar seus exames é
a) 10 b) 24 c) 60 d) 120 e) 720
Gabarito 1. d 2. d
Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.
58
Ciências daNatur
Natureza
Reprodução/Editora Gaia
Na história evolutiva dos seres humanos, sua grande capacidade adaptativa, aliada à sua
versatilidade na utilização dos diversos recursos provenientes do meio ambiente, favoreceu
seu desenvolvimento cognitivo e levou à criação das mais variadas ferramentas, produzidas a
partir de diferentes tipos de matérias-primas: madeiras, ossos, dentes de animais, pedras las-
cadas, cobre, bronze, ferro, entre outros. Assim, desde o Paleolítico, os humanos têm acumu-
lado conhecimentos sobre os materiais e suas possibilidades de utilização.
Já em sua história mais recente, a experimentação de novas combinações de matérias-pri-
mas e o aprimoramento do seu manuseio colocaram os humanos diante do ápice de seu desen-
volvimento científico-tecnológico, permitindo a produção de ferramentas, equipamentos e
técnicas tão sofisticadas, que possibilitaram a criação de seres artificiais – robôs e nanorrobôs
– para a exploração de universos macroscópicos e microscópicos. Aliando tudo isso à explora- CARSON, Rachel.
ção de novos recursos, abriu-se um novo horizonte – a produção de novos materiais. Primavera silenciosa.
São Paulo: Gaia, 2010.
Apesar das atuais descobertas e produções de grandes variedades de materiais pela En-
O livro Primavera silenciosa
genharia, a exploração do petróleo pela moderna indústria petrolífera em meados do sé-
(Silent Spring), de Rachel
culo XIX foi a responsável pelo desenvolvimento das matérias-primas mais utilizadas pe- Carson, foi publicado pela
los humanos desde então: os plásticos. primeira vez em 1962. Em 1992,
foi eleito um dos livros mais
Denys Yelmanov/Shutterstock
59
Ethan Daniels/Shutterstock
A cultura dos descartáveis trouxe problemas que vão desde a pro-
dução exagerada de lixo até a poluição do meio ambiente pela presen-
ça de resíduos em locais inapropriados. Os plásticos estão entre os
principais poluentes do planeta e podem ser encontrados em diversos
ambientes, tanto em ecossistemas terrestres como em ecossistemas
aquáticos, causando enormes problemas para os seres vivos que habi-
tam esses locais. Pasmem, pode-se encontrar plásticos em ambientes
onde os humanos sequer colocaram as mãos.
O que os olhos não veem o coração não sente, dizia um provérbio
popular. Quando imagens de animais aquáticos presos em materiais
plásticos viralizam nas redes sociais, gera-se grande comoção e a iden-
tificação de uma realidade que é o sério problema relacionado ao uso
dos plásticos. No entanto, e se os olhos não verem esse plástico?
Isso mesmo, alguns plásticos ficaram invisíveis!
Um novo problema surgiu com a identificação de plásticos que se tor-
naram microscópicos, causando problemas em níveis que são invisíveis
para os olhos humanos. Estudos recentes indicam que até a água que es-
corre pela sua torneira está contaminada com resíduos plásticos.
Mas como isso é possível? Sacola plástica presa em um recife de corais no Parque
Você já ouviu falar dos microplásticos? Nacional de Komodo, Indonésia.
Os microplásticos são partículas de plásticos com tamanhos infe-
riores a 5 mm, produzidas a partir da abrasão ou degradação fotoquímica das fibras plásticas que são fragmentadas. As partícu-
las formadas podem ser encontradas em diferentes ecossistemas aquáticos (continentais e oceânicos), localizados inicialmen-
te na superfície da coluna de água, ficando em contato com os organismos planctônicos e nectônicos. Com o envelhecimento do
material, as partículas são depositadas no fundo, ficando disponíveis também para os seres bentônicos.
Quando são ingeridos pelos animais, os microplásticos são direcionados para seu sistema digestivo, acumulando-se nele até se-
rem, parcial ou totalmente, eliminados na evacuação das fezes.
Você já ouviu falar que, na natureza, aquilo que é resíduo para alguns pode ser recurso para outros? Então, isso traz à tona
mais três problemas.
O primeiro problema está relacionado à translocação dos microplásticos para dentro do corpo dos animais, que podem alo-
jar-se nos seus tecidos – em alguns casos, as partículas plásticas são tão minúsculas que atravessam os tecidos intestinais, po-
dendo atingir o sistema circulatório e causar lesões nos pulmões, no fígado e no coração. E esses microplásticos podem ser obti-
dos diretamente da água, através de sua ingestão ou, então, por meio das cadeias alimentares.
O segundo relaciona-se diretamente à bioacumulação. Esse processo consiste no acúmulo, pelos organismos, de di-
ferentes substâncias tóxicas, entre elas os poluentes orgânicos persistentes (POPs), que podem bioacumular de forma
direta, através de substâncias presentes na água, ou de forma indireta, pela ingestão de alimentos contaminados por
essas substâncias.
Nesse caso, os microplásticos atuam como uma esponja de substâncias hidrofóbicas, adsorvendo POPs de diferentes tipos:
pesticidas (DDT), policlorobifenilos (PCBs) e hidrocarbonetos aromáticos. Quando os microplásticos são ingeridos pelos ani-
mais, concentrações elevadas desses poluentes podem ser incorpo-
KYTan/Shutterstock
60
Ciências da Natureza
Em foco C3 Associar intervenções que resultam em degradação ou conservação ambiental a processos produtivos e
sociais e a instrumentos ou ações científico-tecnológicos.
H10 Analisar perturbações ambientais, identificando fontes, transporte e(ou) destino dos poluentes ou prevendo
efeitos em sistemas naturais, produtivos ou sociais.
(Enem)
Suponha que um pesticida lipossolúvel que se acumula no organismo após ser ingerido tenha sido utilizado durante anos na região do
Pantanal, ambiente que tem uma de suas cadeias alimentares representadas no esquema:
PLÂNCTON → PULGA-D’ÁGUA → LAMBARI → PIRANHA → TUIUIÚ
Um pesquisador avaliou a concentração do pesticida nos tecidos de lambaris da região e obteve um resultado de 6,1 partes por milhão (ppm).
Qual será o resultado compatível com a concentração do pesticida (em ppm) nos tecidos dos outros componentes da cadeia alimentar?
Resposta: c
Ao analisar a cadeia alimentar, temos:
PLÂNCTON → PULGA-D’ÁGUA → LAMBARI (6,1 ppm) → PIRANHA → TUIUIÚ
Após anos de utilização do pesticida, seu acúmulo na cadeia alimentar acontece de maneira crescente. O nível trófico dos produtores
(PLÂNCTON) apresenta a menor concentração do pesticida em seus tecidos, enquanto os níveis tróficos seguintes apresentam
concentrações maiores, aumentado de maneira gradual nos níveis tróficos sucessivos.
Ao analisar as alternativas, deve-se utilizar a coluna PULGA-D’ÁGUA e PIRANHA como referência. O LAMBARI estará posicionado entre as
duas. Dessa forma, com a concentração de 6,1 ppm de pesticidas nos tecidos, o lambari deve possuir uma concentração mais elevada do
que a pulga-d’água (4,3 ppm) e menor que a piranha (10,4 ppm), como consta na alternativa correta.
a) A alternativa está incorreta. A concentração de pesticidas aumenta em níveis tróficos sucessivos. Essa alternativa mostra a diminuição
da concentração dos pesticidas ao longo da cadeia alimentar.
b) A alternativa está incorreta, pois os dados apresentados na alternativa indicam que não houve magnificação trófica.
d) A alternativa está incorreta. A concentração de pesticidas no lambari seria maior que na piranha. Além disso, o topo da cadeia
alimentar apresenta uma concentração de pesticidas próxima à do produtor.
e) A alternativa está incorreta. A concentração de pesticidas no lambari seria maior que na piranha.
Atividades
1 C3/H10 O acúmulo de microplásticos nos ecossistemas aquáticos pode causar problemas em escalas globais. Os poluentes orgânicos
persistentes (POPs) adsorvidos na superfície dos microplásticos podem ser assimilados pelos seres vivos e transferidos para os níveis tróficos
superiores nas cadeias alimentares. O fato é preocupante, uma vez que o acúmulo de POPs no topo das cadeias alimentares pode promover a
contaminação dos seres humanos.
Um conceito presente no texto que relaciona as consequências do acúmulo de microplásticos nos ecossistemas é a
a) bioacumulação. b) cascata trófica. c) bioconcentração. d) sucessão ecológica. e) biomagnificação.
2 C5/H19 (Enem) Bioindicador ou indicador biológico é uma espécie ou grupo de espécies que reflete o estado biótico de um meio ambiente, o
impacto produzido sobre um hábitat, comunidade ou ecossistema, entre outras funções. A posição trófica do organismo bioindicador é uma das
características mais relevantes quanto ao seu grau de importância para essa função: quanto mais baixo o nível trófico do organismo, maior é a
sua utilidade, pois se pressupõe que toda a cadeia trófica é contaminada a partir dele.
ANDRÉA, M. M. Bioindicadores ecotoxicológicos de agrotóxicos.
Disponível em: www.biologico.sp.gov.br. Acesso em: 11 mar. 2013 (adaptado).
O grupo de organismos mais adequado para essa condição, do ponto de vista da sua posição na cadeia trófica, é constituído por
a) algas. b) peixes. c) baleias. d) camarões. e) anêmonas.
Gabarito 1. e 2. a
Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.
61
cCiências
Ciências
HHumanas
Humanas
Em profundidade
A indústria cultural
A indústria cultural teve seu início com os primeiros jornais, no século XIX. Esse meio
Assista
de comunicação possibilitou o surgimento da cultura de massa, com a publicação de ro-
Divulgação/Paramount
mances em folhetins, destinados a um público amplo, com narrativas simples que tra-
çavam a vida da época. Os leitores desses romances não produziam esses romances, e se
tornaram consumidores de uma cultura que não foi produzida por eles.
O surgimento da indústria cultural está relacionado ao processo de industrialização, à
urbanização, à solidificação da economia de mercado e à organização da sociedade de con-
sumo. A cultura de massa é produzida seguindo a lógica industrial: padronizada e simplifi-
cada, com o objetivo de atender o gosto médio de um público que a consome. As novas tec-
nologias possibilitam que a arte seja produzida e reproduzida a partir das preocupações
mercadológicas, criada sob medida para o gosto do consumidor.
A cultura de massa tende a ser identificada quando se diferencia da cultura classificada
como erudita (referências eurocêntricas como o Renascimento artístico, óperas, literatu-
O Show de Truman. ra e música clássicas) e, também, da cultura popular (expressões artísticas, danças, obje-
Direção: Peter Weir, tos, crendices, costumes gerais de uma cultura produzida por quem a consome). A cultura
EUA, 1998. de massa é produzida por aqueles que não a consomem e não possui um caráter de contes-
O filme conta a história de
tação ou criticidade.
Truman, um homem que viveu
por 30 anos em um programa Em algumas interpretações sociológicas, uma das funções da cultura de massa seria a
televisivo, do tipo reality alienação, impedindo que o indivíduo construa uma imagem de si mesmo diante da socie-
show, sem ter conhecimento. dade e tendo como fim único o divertimento (mascarar realidades intoleráveis e fornecer
Leia fuga da realidade). Um produto simplista, que reforça as normas sociais, com valor de tro-
COELHO, Teixeira. O que é ca, produzindo um espectador passivo/consumidor, em uma atitude paternalista, na qual
indústria cultural? São Paulo: o produto cultural o conduz.
Brasiliense, 1980. Disponível Os principais sociólogos que defendem a ideia de uma indústria cultural alienante são
em: <www.ceap.br/material/
MAT05032013224040.pdf>.
Adorno e Horkheimer. Para os autores, a arte passou a ser sujeito da lei de oferta e pro-
Acesso em: 10 jun. 2018. cura, da necessidade de consumo, do fetiche e da reificação. O conteúdo veiculado pela
Esse livro apresenta, de indústria cultural está ligado à ideia de prazer, que pode ser utilizada para alienar, refor-
maneira objetiva e com çando as regras e as estruturas sociais sem questionamento, transformando o prazer em
linguagem acessível, os
produto sobre o qual se gera mais lucro.
principais debates em
Sociologia sobre a temática Outras interpretações sociológicas reconhecem aspectos positivos na cultura indus-
da indústria cultural. trial, como o fato de beneficiar o desenvolvimento humano (por exemplo, o aprendizado
Acesse e o domínio de uma língua com maior rapidez), possibilitar que o acúmulo de informação
USP Ensino Sociologia. se transforme em formação contínua e unificar as nacionalidades e classes sociais, vitali-
Disponível em: <http:// zando os processos das culturas tradicionais. A indústria cultural pode ser vista como o
ensinosociologia.fflch.usp. primeiro passo democratizador do acesso à cultura, gerando como resultado o combate à
br/>. Acesso em: 10 jun. 2018. alienação.
O site traz diversas sugestões
de livros, artigos, filmes e O debate sobre a indústria cultural continua intenso, principalmente para compreen-
outros tipos de material para der o papel das novas tecnologias contemporâneas. Com a internet, parte da indústria cul-
diversas temáticas abordadas tural tem sofrido transformações. Há uma possibilidade de veicular conteúdos de forma
em Sociologia, incluindo a gratuita, resultando na perda de valor mercadológico de determinada manifestação artís-
indústria cultural.
tica e transformando-a em propriedade universal.
Quando não há a comercialização, a arte perde o valor de troca e passa a ter apenas o
valor de uso, retomando o sentido de que a arte manifesta o espírito humano. Há outras
análises que identificam na internet um fortalecimento da indústria cultural, uma vez que
diversos serviços prestados on-line são monopolizados e constroem marcas que valem bi-
lhões de dólares no mercado. A circulação da arte na internet não estaria livre da relação
mercadológica e o livre acesso a informações não produziria um comportamento que en-
fraquece a indústria cultural.
62
Ciências Humanas
Em foco C5 Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da
democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
(Enem)
Hoje, a indústria cultural assumiu a herança civilizatória da democracia de pioneiros e empresários, que tampouco desenvolvera uma fineza
de sentido para os desvios espirituais. Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo que, desde a neutralização histórica
da religião, são livres para entrar em qualquer uma das inúmeras seitas. Mas a liberdade de escolha da ideologia, que reflete sempre a
coerção econômica, revela-se em todos os setores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa.
ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
A liberdade de escolha na civilização ocidental, de acordo com a análise do texto, é um(a)
a) legado social.
b) patrimônio político.
c) produto da moralidade.
d) conquista da humanidade.
e) ilusão da contemporaneidade.
Resposta: e
a) Distrator. O texto não caracteriza a liberdade de escolha como um legado social, uma vez que o texto defende que essa liberdade não
existe.
b) Distrator. O texto não associa liberdade de escolha a questões políticas. A palavra democracia faz referência a governos que são
controlados pelos interesses do mercado.
c) Distrator. O texto não associa liberdade de escolha à moralidade. A citação sobre a religiosidade exemplifica o processo de
homogeneização do comportamento e pensamento humanos, sob falsa liberdade de escolha.
d) Distrator. O texto não associa liberdade de escolha com conquista, ao contrário, a denuncia como mecanismo para garantir o
funcionamento da economia capitalista.
e) Gabarito. O texto denuncia que a falsa liberdade de escolha que se apresenta na sociedade contemporânea é resultante de um
mecanismo de dominação econômica, que criou a indústria cultural, por exemplo. Nesse mecanismo, toda escolha leva o ser humano a
ser reduzido a um mero consumidor, espectador passivo, alienado dos próprios mecanismos que o oprimem.
Atividades
1 C1/H3
1. [...] O artista, por seu turno, modifica também o seu status em relação ao que fora e representara no passado. De trabalhador manual,
do qual o artesão era o exemplo máximo, passa a ser um indivíduo valorizado, obtendo dividendos financeiros e fama, sucesso irrestrito e
gerando fetiches em relação à sua personalidade: seus hábitos pessoais, sua maneira de pensar e de se vestir, tudo é motivo de interesse para
o grande público. [...]
LIMA, Matheus Silveira. Leitura sociológica da relação entre internet e indústria cultural. Cadernos de campo: Revista de Ciências Sociais, n. 22, 2017.
Disponível em:<https://periodicos.fclar.unesp.br/cadernos/article/view/5257/4266>. Acesso em: 10 jun. 2018.
A mudança retratada no texto em relação à figura do artista está relacionada
a) ao crescimento do êxodo rural no século XIX.
b) às transformações sociais e culturais nas sociedades industrializadas.
c) ao papel centralizador desempenhado pelos governos fascistas no século XX.
d) à mecanização do campo, ampliando a capacidade de produção de alimentos.
e) ao destaque dos artistas renascentistas nos séculos XIV, XV e XVI na Europa ocidental.
2 C3/H11
Apenas a partir de então é que se toma possível a coexistência de seus dois requisitos fundamentais, quais sejam, um grau de evolução da
técnica que possibilite o surgimento de meios de produção de bens culturais em série e de maneira padronizada – a exemplo da invenção da
imprensa, do telégrafo sem fio e do estenógrafo como meios de comunicação e do desenvolvimento de outros meios de reprodução de arte,
tais como o cinema e a fotografia – e o surgimento de públicos consumidores, criadores de uma demanda social consistente e adequada para
realizar nas relações de troca o caráter de mercadoria dos gêneros culturais – como se deu na popularização dos folhetins, que a última fase do
século XIX e o princípio do século XX viram acontecer na Europa Ocidental.
FRENCH, John D. “Proclamando leis, metendo o pau e lutando por direitos”. In: LARA, Silvia Hunold; MENDONÇA,
Joseli Maria Nunes (Org.). Revista Mediações. Londrina, v. 2, n. 2, p. 17-19, jul./dez. 1997. Disponível em:
<www.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/9349>. Acesso em: 10 jun. 2018.
Qual(is) é (são) a(s) manifestação(ões) associada(s) aos dois requisitos apresentados no texto presente(s) nas sociedades do século XX?
a) A produção de uma arte vinculada, exclusivamente, a críticas ao capitalismo.
b) A ampliação dos movimentos sociais de esquerda.
c) O surgimento da indústria cultural.
d) O controle sobre manifestações grevistas do movimento operário.
e) A ampliação e a diversificação das manifestações artísticas autônomas.
Gabarito 1. b 2. c
Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.
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RRRedação
Diferença, igualdade e equidade: o desafio de
Em profundidade
Leia escrever sobre questões sociais no Enem
Reprodução/Editora Papirus
Segundo o dicionário, “diferente” é um adjetivo que caracteriza aquilo que é desigual,
modificado, anormal ou contrário ao habitual. Em qualquer uma dessas significações,
para atribuir o adjetivo “diferente”, parte-se de uma comparação, afinal, para que algo
seja diferente, é necessário que se distinga de alguma outra coisa.
“Como você está diferente!”, “Fulano é muito diferente de mim”, “Eu não gosto do que
é diferente”, “As coisas são diferentes”. Colocações como essas nos fazem questionar: o
que é diferente de mim, de você, do que somos e de quem éramos. Obviamente, novas dú-
vidas surgem, afinal, o que o mundo espera de nós? É diferente do que você espera? De
que forma? Tudo isso nos leva a perguntar: qual é a diferença do que é diferente?
Falamos até agora em diferença, mas o importante é discutir justamente os seus opos-
tos – no caso, a igualdade e a equidade. Tendo em vista que vivemos em uma sociedade
bastante desigual, a equidade parte do pressuposto de que é importante tratar de manei-
KARNAL, Leandro; COEN, ra diferente os desiguais e, assim, diminuir ou eliminar as diferenças, tornando-os iguais
Monja. O inferno somos (se é que isso é possível).
n—s: do ódio à cultura de paz. Vamos usar um exemplo simples que deve ajudar a clarear essas noções. Eu e você va-
Campinas: Papirus, 2018. mos disputar uma corrida. Suponha que eu pratico corrida há muitos anos e estou com
Conviver parece ser um um par de tênis específico para isso. Você está descalço e só tem o costume de correr
desafio que a cada dia ganha
quando se atrasa. Nós dois até podemos partir da mesma linha, mas você concorda que eu
novos capítulos. Por isso, é
fundamental dar atenção às já começaria na sua frente, pelo treinamento físico e pelo calçado adequado? Então, para
vozes dissonantes e refletir tentar competir “de igual para igual”, eu sugiro que o seu ponto de partida seja alguns
sobre si e os outros para não metros à frente do meu, o que pode compensar de alguma forma essa diferença entre nós.
fazer julgamentos e atacar
Martin Novak/Shutterstock
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Repare que você e eu, nesse exemplo, temos diferentes estruturas e experiências – e, naturalmente, vários outros aspectos que
nos distinguem. Isso nos coloca em um patamar de desigualdade em uma relação de competição. Eu, ao assumir uma posição de
alteridade, me ponho no seu lugar e problematizo o meu, sugerindo que você seja tratado de forma diferente devido às condições
menos favoráveis. Assim, nortearíamos a relação pelo princípio da equidade, buscando competir com igualdade.
Vale lembrar que a forma como observamos o mundo e a maneira por meio da qual interagimos com ele determina como o com-
preendemos. Temos a tendência de observar o que acontece ao nosso redor a partir de situações que vivemos e de conflitos que vi-
mos serem solucionados. As experiências acabam sendo importantes e ajudam a dar sentido à complexidade das interações sociais.
Para se ter uma ideia, essa questão é tão séria que se tornou método em um campo da ciência – a antropologia –, porque empatia e
alteridade são ferramentas essenciais para compreender a diversidade de pontos de vista e culturas.
O fato é que, quanto mais exercitamos nossa habilidade taxonômica de classificar objetos, situações, relações, ideias e pessoas,
maior é a chance de contribuirmos para manter ou modificar como tudo se organiza. Isso significa que os tipos de relação que temos
com o mundo e com o que acontece nele estão intimamente associados àquilo que identificamos como igual ou diferente de nós, ora
gerando afinidade e consenso, ora distanciamento e dissenso.
Mas como todas essas questões se relacionam com as temáticas das redações do Enem? É simples: neste ano acontece a 20a edi-
ção do Exame e, de lá para cá, a prova pautou diversas temáticas que abrangem situações sensíveis com as quais convivemos e ou-
tras que, por algum motivo, não fazem parte diretamente do nosso dia a dia. Analisar e dissertar sobre questões sociais exige do
aluno reflexão e capacidade de se colocar no lugar do outro.
Assim, é fundamental um olhar ampliado para o mundo, a partir de perspectivas plurais que permitam usar lentes diversas para
analisar os múltiplos fenômenos que a complexidade das relações sociais apresenta. Isso quer dizer que generalizar o mundo islâ-
mico como terrorista e o nordestino como pobre não ajuda a entender os conflitos religiosos e a especificidade de povos tão ricos
do ponto de vista histórico, econômico e cultural.
Shutterstock/Rawpixel.com
Já que somos tão espertos na hora de criar caixinhas, também temos que ser coerentes e fazer o exercício inverso. Isso significa que
relativizar é preciso – e não precisamos ir muito longe. Afinal, não deveríamos nos perguntar por que a violência contra a mulher ain-
da é tão forte em nosso país? Por que há mais negros que brancos nas prisões? Por que índios estão sendo expulsos de suas terras? Por
que tantos gays e travestis são assassinados diariamente?
São justamente temas sociais complexos como esses que as redações do Enem propõem. Isso sugere reflexões a respeito de ques-
tões espinhosas, considerando aquilo que somos e que compartilhamos com as pessoas ao nosso redor, sem nos esquecer de que há
um universo inteiro que precisa ser conhecido e reconhecido. Por isso, a melhor forma de preparação para as temáticas da prova é
se dispor ao debate e permitir que a dúvida e o diferente entrem pela porta sem bater.
Igualdade, equidade, diferença – que essas palavras carregadas de sentido sempre nos deixem com uma pulguinha atrás da
orelha.
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Redação
Redação Enem comentada (2007) Proposta de
O desafio de se conviver com a diferença redação – Inédita
Textos motivadores Textos motivadores
Texto I Texto I
Há tantos quadros na parede há tantas formas de se ver o mesmo quadro Adoção de crianças mais velhas cresce
há tantas formas de se ver o mesmo quadro há palavras que nunca são ditas no País, mas bebês ainda são preferidos
há tanta gente pelas ruas há tantas ruas e há muitas vozes repetindo a mesma frase As estatísticas do CNA […] mostram que
nenhuma é igual a outra (ninguém = ninguém) mais de 57% dos pretendentes exigem que
(ninguém = ninguém) me espanta que tanta gente minta seus filhos tenham até 3 anos. A partir daí,
me espanta que tanta gente sinta (descaradamente) a mesma mentira o porcentual diminui à medida que a idade
(se é que sente) a mesma indiferença todos iguais, todos iguais aumenta, a ponto de só 5% se interessarem
mas uns mais iguais que os outros por crianças acima de 8 anos. […]
há tantos quadros na parede
Ninguém = Ninguém – Engenheiros do Hawaii Estadão, 9/4/2016.
Texto II Texto II
Os homens são todos iguais O sertão é do tamanho do mundo Ilustrações levam pais de adoção tardia a
[…] Dessa vida nada se leva ‘ter’ infância com os filhos
Brancos, pretos e orientais Nesse mundo se ajoelha e se reza Três casais de São Paulo que não tiveram
Todos são filhos de Deus Não importa que língua se fala a chance de ter e registrar momentos
[…] Aquilo que une é o que separa simbólicos da infância de seus filhos
Kaiowas contra xavantes Não julgue pra não ser julgado […] receberam álbuns com ilustrações
Árabes, turcos e iraquianos […] detalhadamente pensadas representando o
São iguais os seres humanos Tanto faz a cor que se herda tempo que não passaram juntos. […]
São uns iguais aos outros, são uns iguais […] Para a mãe, o impacto da iniciativa nas
aos outros Todos os homens são iguais meninas foi ainda maior. “Para elas foi como
Americanos contra latinos São uns iguais aos outros, são uns iguais um resgate, um alívio na lembrança de
Já nascem mortos os nordestinos aos outros. sentimento que elas tiveram no passado,
Os retirantes e os jagunços antes de chegar para a gente. […] É como se
elas tivessem colocando peças que faltavam
Uns iguais aos outros – Titãs
em um quebra-cabeça”.
Texto III Folha de S.Paulo, 27/5/2018.
A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa diversidade se
manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos Texto III
e as sociedades que compõem a humanidade. Fonte de intercâmbios, de inovação e Minha herança – uma flor
de criatividade, a diversidade cultural é, para o gênero humano, tão necessária como a Achei você no meu jardim
diversidade biológica para a natureza. Nesse sentido, constitui o patrimônio comum da Entristecido
humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em benefício das gerações presentes Coração partido
e futuras. Bichinho arredio
UNESCO. Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural. […]
Reguei com tanta paciência
Todos reconhecem a riqueza da diversidade no planeta. Mil aromas, cores, sabores, texturas, sons […]
encantam as pessoas no mundo todo; nem todas, entretanto, conseguem conviver com as diferenças Fiz tudo, todo meu destino
individuais e culturais. Nesse sentido, ser diferente já não parece tão encantador. Considerando a Eu dividi, ensinei de pouquinho
figura e os textos acima como motivadores, redija um texto dissertativo-argumentativo a respeito do Gostar de si, ter esperança e persistência
seguinte tema: O desafio de se conviver com a diferença.
Sempre
Comentário: […]
Na edição de 2007, o Enem apresentou como proposta de redação o tema do convívio E hoje nos lembramos
com as diferenças e seus desafios, estimulando a reflexão sobre a diversidade cultural e Sem nenhuma tristeza
os seus principais aspectos no mundo contemporâneo. Dos foras que a vida nos deu
No primeiro texto, a música coloca em discussão a questão da igualdade e do Ela com certeza estava juntando
silenciamento coletivo sobre a diferença. No trecho destacado, questiona-se o Você e eu
comportamento acrítico diante da falácia da igualdade e reforça a impossibilidade de a Achei você no meu jardim
naturalizarmos em um contexto predatório para os não iguais. Composição de Vanessa da Matta dedicada aos
O segundo fragmento ironiza a igualdade e enquadra conflitos políticos como as guerras três irmãos, Bianca, Filipe e Micael, que ela adotou
étnicas e religiosas. Além disso, evidencia que a violência e a morte colocam os homens como filhos.
em pé de igualdade na mesma medida em que os separam e subjugam. É necessário
A partir da leitura dos textos motivadores e com
perguntar que tipo de igualdade cruel é essa que ironicamente inspira o que há de pior na base nos conhecimentos construídos ao longo de
condição humana, na qual a diferença aparenta ser algo inconciliável. sua formação, redija um texto dissertativo-
O terceiro trecho reforça a importância da diversidade cultural e a sua riqueza pelo fato -argumentativo em modalidade escrita formal da
de que as sociedades se distinguem naturalmente umas das outras. De acordo com o língua portuguesa sobre o tema Reflexos sociais
documento, é justamente pelo fato de haver diferença entre os povos que a pluralidade e da adoção tardia no Brasil, apresentando
a originalidade se manifestam, possibilitando intercâmbios e inovação. proposta de intervenção que respeite os direitos
Com base nos trechos apresentados, demanda-se a produção de um texto dissertativo- humanos. Selecione, organize e relacione, de forma
-argumentativo que reflita sobre os desafios que a diferença impõe, considerando a coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa
multiplicidade de pontos de vista, a dificuldade de aceitação e os conflitos que surgem de seu ponto de vista.
da intolerância e da desigualdade. É possível refletir que, ao mesmo tempo que a
diferença gera conflitos, também representa a polifonia política e a diversidade religiosa
e cultural.
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