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ANO 15

# 40

A DIFÍCIL MISSÃO DE
TER UM LUGAR PARA
622281

MORAR NO BRASIL

Inteligência A vida discreta


artificial das bactérias
Parceira ou inimiga Equilíbrio ecológico
da humanidade? e bem-estar humano
dependem dela
Entre nós
Sem ter onde morar Diretora editorial
Renata Mascarenhas
Surgidas no início do século passado como resultado da urbanização do
Rio de Janeiro – com a política higienista do então prefeito Pereira Passos –, Coordenação editorial
as favelas se tornaram uma ferida aberta no coração das grandes metró- Renato Luiz Tresolavy
poles brasileiras. De acordo com o Censo do IBGE de 2010, quase 6% da
população brasileira – cerca de 12 milhões de pessoas – habitava favelas Jornalista responsável
Jayme Brener
ou moradias similares. Muitos sem-teto acabam ocupando edifícios pú- (Mtb 19.289-78-61-SP)
blicos em condições precárias, como aconteceu em São Paulo, onde um
incêndio em um desses prédios deixou dezenas de desabrigados. Mesmo Produção editorial
com os programas sociais das últimas décadas, o deficit habitacional bra- Ex Libris Comunicação Integrada
Tel. (11) 3266-6088
sileiro ainda é de 7,7 milhões de moradias. Este é o tema da capa.
contato@libris.com.br
Robôs capazes de imitar e superar seres humanos em tarefas cada vez
mais complexas: essa realidade não é mais coisa de ficção científica. Edição
Softwares, algoritmos e nanotecnologia já substituem humanos em várias Cláudio Camargo
atividades fundamentais. Ninguém pode negar os benefícios da Inteligên-
Revisão
cia Artificial, principalmente na área da saúde. Mas será que não estamos Hélia de Jesus Gonsaga (ger.),
delegando poderes demais a essas máquinas, a ponto de nos tornarmos Kátia Scaff Marques (coord.),
supérfluos? E se elas, em vez de nos obedecerem, começarem a se revol- Rosângela Muricy (coord.),
Cesar Sacramento, Diego
tar contra nós, como no filme 2001, uma odisseia no espaço?
Carbone, Gabriela Macedo
Você também poderá conferir os números de um crime que não para de de Andrade, Larissa Vazquez,
crescer no Brasil: a pedofilia. O número de notificações ao SUS de estupros Patricia Cordeiro, Ricardo Miyake
de crianças e adolescentes subiu de 12 mil para 23 mil em cinco anos. Como e Vanessa de Paula Santos
o Estado e a sociedade estão enfrentando esse problema?
Projeto gráfico
Muitos temas interessantes na área de Ciências da Natureza: os carros do Buono Disegno
futuro – não tão distante – serão não apenas elétricos, mas autônomos, www.buonodisegno.com.br
ou seja, qualquer um, mesmo sem saber dirigir, poderá conduzi-los.
Você sabia que as bactérias não são apenas vilãs do nosso corpo, mas que Diagramação e infográficos
Regina Beer
algumas são fundamentais para a manutenção do equilíbrio ecológico e o
bem-estar do ser humano? Capa
Confira também a entrevista da nutricionista Denise Noronha Hernandez. Daniel Elias
Boa leitura!
Fotos de capa
Sunny studio/Shutterstock
Gente que fez
Divisão de Sistemas de Ensino
Av. das Nações Unidas, 7221
Pinheiros – CEP 05425-902
São Paulo – SP
Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Reprodução proibida.
Todos os direitos reservados.

CLÁUDIO CAMARGO LUIZA VILLAMÉA SILVIA LAKATOS LUIZ CHAGAS


Jornalista e sociólogo, Jornalista graduada Jornalista e historiadora Jornalista, músico e
formado pela Escola pela Universidade formada pela USP. Foi tradutor. Autor, com
de Sociologia e Cásper Líbero e repórter, redatora e editora Mônica Tarantino,
Política de São Paulo. mestre em História nas editoras Globo e do songbook PretoBrás,
Trabalhou como pela USP. Trabalhou Símbolo. Foi assessora de sobre a obra de Itamar
redator e subeditor no jornal O Globo comunicação da Federação Assumpção, com quem
no jornal Folha de e nas revistas das Indústrias do Estado de tocou durante décadas. Central de
S.Paulo e como IstoÉ e Veja. São Paulo (Fiesp) e de Criou trilhas sonoras Atendimento às Escolas
editor da seção Atua como repórter outras organizações do para cinema. Atualmente, 0800 772 0028
“Internacional” especial na revista mercado financeiro, de escreve para a
na revista IstoÉ. Brasileiros. medicina e ecologia. revista Brasileiros.

OUTUBRO 2018 | ATUALIZA


Índice
06
TROCANDO IDEIAS
A nutricionista Denise Noronha
Hernandez, presidente do Conselho
Regional de Nutricionistas – 3a Região
(CRN-3), dá dicas a quem pretende
se formar nessa profissão e diz que
considera estratégica a presença
desses profissionais nas escolas
públicas e particulares.

09
SEM LIMITES

A QUESTÃO
HABITACIONAL
Apesar dos recentes programas de
casa própria para os setores populares,
o Brasil tem um deficit habitacional
que atinge 7,7 milhões de pessoas,
10
91% delas de baixa renda. Esse deficit
é o responsável pelo aumento
do número de favelas e pelas
frequentes ocupações de
18 edifícios públicos.

PEDOFILIA
A pedofilia é um grave drama
social no Brasil. O número de
notificações de estupro de crianças
e adolescentes dobrou em cinco
anos, saltando de 12 087 casos
informados em 2011 para 22 918
em 2016. Pelo levantamento,
50,9% das vítimas têm até
13 anos.

INTELIGÊNCIA
ENTENDA A LÍNGUA
PORTUGUESA BIOLOGIA
ARTIFICIAL
Atividades humanas estão sendo
22
REVISTA INGLÊS FÍSICA cada vez mais realizadas por robôs,
Os ícones temáticos softwares e algoritmos. Para alguns, esse
relacionam as ESPANHOL QUÍMICA
fenômeno é bom, pois tende a tirar de nós
matérias às áreas do o fardo de tarefas difíceis e extremamente
ARTE GEOGRAFIA
conhecimento. A seção complexas. Para outros, no entanto,
“Em foco” contempla EDUCAÇÃO
FÍSICA SOCIOLOGIA o avanço da Inteligência Artificial
as competências e as ameaça a própria civilização, na
MATEMÁTICA FILOSOFIA
habilidades do Enem. medida em que torna o ser
HISTÓRIA humano supérfluo.

LINGUAGENS MATEMÁTICA CIÊNCIAS CIÊNCIAS


DA NATUREZA HUMANAS
A LONGA NOITE
Em 13 de dezembro de 1968,
a ditadura militar endureceu
com a assinatura do AI-5,
instrumento que aboliu o habeas
29
corpus, autorizou o Executivo a
cassar mandatos parlamentares e
a fechar o Congresso. Com isso,
o regime institucionalizou a
tortura e o assassinato de
oposicionistas.

CARROS DO
FUTURO 38
Além de utilizarem novas fontes
de energia, como a eletricidade,
dispensando os combustíveis
DISSOCIAÇÃO
fósseis, os veículos do futuro também ELETROLÍTICA
poderão se tornar autônomos, ou Em 1884, o químico Svante
seja, serão capazes de se locomover August Arrhenius defendeu
sozinhos. Esses veículos já circulam em sua tese de Doutorado que
experimentalmente em cidades uma substância, ao ser dissolvida
estadunidenses. na água, divide-se em partículas
menores. Quando essa divisão

30 forma só moléculas, a solução não


conduz energia. Quando forma
íons, a solução se torna
condutora.

O SEGREDO DAS
BACTÉRIAS
Elas podem ser úteis ou nocivas,
ótimas para remediar o solo ou, ao
contrário, altamente letais. Proliferam-se
em ambientes inóspitos. As bactérias
são os seres mais antigos na Terra –
surgiram há cerca de 3,8 bilhões de
anos – e são os seres vivos mais
34
abundantes do planeta. 42
O PAI DA
46 ÁLGEBRA
Nascido no século VIII,
o persa Abu Jafar Muhamed
Ibn Musa Al-Khwarizmi é um dos
matemáticos mais importantes da
História. Ele criou as bases teóricas
para a Álgebra moderna. Al-Khwarizmi
escreveu tratados sobre Aritmética,
Álgebra, Astronomia, Geografia e
TEATRO
50
sobre o calendário. Suas teorias
OFICINA influenciaram o italiano
Há 60 anos era fundado Leonardo Fibonacci. DIÁLOGO
em São Paulo o Teatro Oficina,
dirigido por José Celso Martinez COM A ARTE
Corrêa. Nesse período, o grupo
montou peças como O rei da vela
(1967), de Oswald de Andrade;
Roda viva (1968), de Chico Buarque
de Hollanda; e a monumental
49
Os sertões, de Euclides ENCARE
da Cunha. ESSA!

OUTUBRO 2018  |  ATUALIZA


06 | TROCANDO IDEIAS
por cícero de ALmeIdA
Arquivo pessoal

Denise Noronha Hernandez


O papel do nutricionista na segurança alimentar
Há 70 anos no país, a profissão foi reconhecida oficialmente em 1967 e vem
crescendo desde então, ganhando cada vez mais espaço no cotidiano das
pessoas, empresas e instituições

Q
uando iniciou o cursinho para prestar Denise fez especialização em Unidade de Ali-
vestibular, Denise Noronha Hernan- mentação de Nutrição (UAN) na São Camilo; foi
dez pensava em estudar Medicina. Aos auditora em Segurança Alimentar e Análise de Pe-
poucos, no entanto, tomou contato com rigos e Pontos Críticos de Controle pela Organiza-
o curso de Nutrição, pelo qual se encan- ção Pan-Americana de Saúde; gestora de UAN na
tou. Foi uma paixão duradoura, que se Mellita do Brasil (Guarulhos); nutricionista-chefe
transformou em grande amor. Em 1986, ela graduou- do Setor de Nutrição no Departamento de Geria-
-se em Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo tria D. Pedro II, da Santa Casa. Trabalhou também
e hoje ela é a presidente do Conselho Regional de Nu- no Parque de Material Aeronáutico de São Paulo,
tricionistas, 3a Região (CRN-3), que abrange os estados na Academia da Força Aérea Brasileira e foi asses-
de São Paulo e Mato Grosso do Sul. “O primeiro desa- sora técnica do Ministério da Defesa na Comissão
fio que enfrentei foi o preconceito no meio familiar, de Estudos de Alimentação das Forças Armadas.
pois nutrição não dava status”, conta ela. Mas seu pai Também foi Conselheira Suplente, secretária da
a incentivou, dizendo que era a “profissão do futuro”. Diretoria e vice-presidente do CRN-3.
Para Denise, o maior desafio dos profissionais de Nutri- Confira a seguir os principais trechos da en-
ção hoje é convencer os gestores públicos da importân- trevista.
cia do nutricionista, que é o profissional que promove a
saúde. “Investir em concursos públicos para contratar Atualiza: Fale um pouco sobre sua experiência
nutricionistas para hospitais, postos de saúde e escolas pessoal: como você se tornou nutricionista;
é um investimento que no longo prazo trará economia quais foram os principais desafios que enfren-
para os cofres públicos, além de incluir o nutricionista tou e que lições você tirou disso tudo.
em todos os programas de segurança alimentar e nu- Denise Augustinis Noronha Hernandez: Em 1981,
tricional nas esferas municipais, estaduais e federais.” iniciei o cursinho para vestibular pensando em

ATUALIZA  |  OUTUBRO 2018
Africa Studio/Shutterstock
08 | TROCANDO IDEIAS

Quais são os principais desafios do PNAE (Programa Nacional de


dos nutricionistas em um país Alimentação Escolar). Também é
como o Brasil, um dos maio- preciso assinalar as Conferências
res produtores de alimentos do Nacionais de Alimentação e Nu-
mundo e que tem parte da po- trição, que uniram a sociedade ci-
pulação subnutrida e parte com vil, o poder público e nutricionis-
problemas de obesidade? tas das entidades em prol de uma
O maior desafio é fazer com que alimentação adequada para com-
os gestores públicos enxerguem bater a desnutrição e a fome. Em
Fabio Balbi/Shutterstock

que o nutricionista é o profissio- 1993 houve a criação do Consea


nal que promove a saúde e que in- (Conselho de Segurança Alimen-
vestir em concursos públicos para tar e Nutricional) e em 2004 da
contratar nutricionistas para hos- Losan (Lei Orgânica de Segurança
pitais, postos de saúde e escolas é Alimentar e Nutricional). Esta-
um investimento que a longo pra- mos atualmente lutando pelas 30
zo trará economia para os cofres horas semanais; pela regulamen-
prestar Medicina, mas quando li públicos, além de incluir o nutri- tação do nosso piso salarial; pela
no manual do estudante as disci- cionista em todos os programas ocupação dos nossos espaços nes-
plinas para o curso de Nutrição e A profissão de segurança alimentar e nutri- tes programas de segurança ali-
as áreas de atuação do nutricio- de cional nas esferas municipais, es- mentar e nutricional. Temos mui-
nista, me encantei com o curso e taduais e federais. to trabalho pela frente; por isso
decidi que esta seria minha pro- nutricionista não falo em derrotas, porque não
fissão. O primeiro desafio a ser cresceu em Quais são as perspectivas que a desistimos de lutar!
enfrentado foi o preconceito no áreas como profissão de nutricionista hoje
meio familiar, pois nutrição não no Brasil oferece aos interessa- Quais são os setores que mais
era um curso tradicional, não esportes, dos em abraçá-la? demandam serviços dos nutri-
dava status! Lembro que a única estética, A nutrição é uma profissão da cionistas: hospitais, clínicas,
pessoa que me deu apoio foi meu fitoterapia e saúde, cujo instrumento de traba- indústrias de alimentos, aca-
pai, que me disse: “minha filha, lho é o alimento, em que todos os demias, restaurantes, escolas,
esta é a profissão do futuro!”. Du- marketing dias surgem novas descobertas, saúde coletiva ou indivíduos em
rante os quatro anos de faculdade, como, por exemplo, a nutrigenô- busca de uma vida saudável?
nunca tive dúvidas sobre minha mica e nutrigenética, novos com- Todos os setores necessitam da
escolha. Ao final do quarto ano, eu postos bioativos nos alimentos, presença do nutricionista; po-
já estava contratada pela conces- portanto em constante crescimen- rém, considero a presença des-
sionária onde fiz estágio. to. Se há interesse, abrace-a com ses profissionais nas escolas pú-
Primeira lição: nunca se deixe in- paixão, dedicação e muito estudo! blicas e particulares estratégica
fluenciar pelas opiniões externas! para que, no futuro, a população
Quais foram as principais cam- tenha consciência de bons hábi-
O que mudou na profissão des- panhas que a categoria abraçou tos alimentares e, consequen-
de que você se formou? no país e quais foram as vitó- temente, seja saudável. O futuro
A Nutrição é relativamente jo- rias e derrotas? de uma nação sadia está nas nos-
vem, completou 50 anos de regu- Devemos honrar os profissionais sas crianças.
lamentação no ano passado. Nes- que lutaram pela regulamentação
ses 50 anos houve um aumento da profissão, que tem 70 anos mas Que conselhos você daria aos
considerável de cursos pelo país, só foi regulamentada em 1967; os estudantes que estão pensando
a profissão ganhou visibilidade que lutaram pela criação dos con- em cursar Nutrição?
e hoje o nutricionista é bem co- selhos federal e regionais (1978). Procurem conhecer a grade curri-
nhecido. A profissão cresceu em Devemos ressaltar, também, a cular do curso e certifiquem-se da
outras áreas, como esportes, es- criação, na década de 1970, do afinidade com as matérias e con-
tética, fitoterapia e marketing. O Pronan (Programa Nacional de versem com um profissional apai-
assunto nutrição e alimentação é Alimentação e Nutrição); a cria- xonado pela sua profissão, pois,
pauta nos meios de comunicação ção do PAT (Programa de Alimen- se você ama o que faz, o sucesso é
quase diariamente. tação do Trabalhador); a criação consequência!

ATUALIZA  | OUTUBRO 2018
Banco de imagens/Ex Libris
09
Cidades com cérebros
O projeto europeu RemoUrban (remodelagem urbana) está
sendo testado em algumas cidades: Nottingham (Inglaterra),
Valladolid (Espanha), Tepebasi/Eskisehir e Miskolc (Turquia) e
Seraign (Bélgica). O objetivo é tornar a vida urbana mais fácil.
Passagens de ônibus podem ser compradas diretamente de um
aplicativo no celular e carros particulares são paulatinamente
substituídos por carros e bicicletas compartilhados. Ônibus e
carros não funcionam com gasolina ou outros combustíveis
O tempo
convencionais; são alimentados por eletricidade graças a infra- passa mais
estruturas de recarregamento disseminadas por toda a cidade.
As consequências são redução do consumo de energia e das
rápido?
emissões de CO2, além da redução do tempo de viagem. O tempo parece passar mais rápido
Nessas cidades os edifícios são isolados termicamente para con- a cada ano. Isso será verdade? Ernst
sumir menos energia e ainda se conectam uns aos outros por Heinrich Weber (1795-1878) foi um reno-
meio de redes de compartilhamento de água e ar. Além disso, es- mado médico alemão que, no século XIX, de-
ses edifícios compartilham informações dos moradores, senvolveu um importante trabalho nos campos
permitindo que eles próprios estabeleçam a tempe- da Fisiologia e da Psicologia.
ratura e o consumo de energia de suas centrais Ele foi o primeiro a se dar conta desse fenômeno
de resfriamento e aquecimento. e a traduzi-lo em uma equação. A fórmula foi
Site: Inovação Tecnológica
SEM
melhorada por um psicólogo, o também ale-
<www.inovacaotecnologica.com.br>.
Acesso em: 20 jun. 2018.
mão Gustav Theodor Fechner (1801-1887).

LIMITES A lei diz que, quando são comparados dois


estímulos pequenos, basta uma diferença
SVshot/Shutterstock

INTERFACE mínima para distingui-los perfeitamente.


ENTRE CIÊNCIA Mas, se sua dimensão é maior, os dois ele-
E SOCIEDADE
mentos devem ser muito diferentes entre si
para nos darmos conta.
É mais fácil perceber a diferença entre dois ob-
jetos que pesam 100 e 120 gramas, por exem-
plo, do que entre os que pesam 500 e 520
gramas. Da mesma forma, quando se en-
Genética e tra em um quarto escuro, logo se nota a
chama de uma vela acesa; no entanto,
privacidade se o quarto estiver iluminado, é mais
A detenção, este ano, de Joseph James difícil perceber a vela.
DeAngelo, codinome Golden State Killer, suspeito Essa lei também se aplicaria à
de mais de uma dezena de assassinatos e 50 violações passagem do tempo e explica
na Califórnia, levantou sérias questões sociais relacionadas à por que isso parece se ace-
privacidade pessoal. lerar à medida que fica-
A descoberta do caso ocorreu quando os investigadores com- mos mais velhos.
pararam DNA recuperado de vítimas e cenas de crime com ou- Fonte: British Broadcasting
tros perfis de DNA pesquisáveis em um banco de dados genea- Corporation - BBC.
<www.bbc.com>.
lógico gratuito chamado GEDmatch.
Acesso em:
Isso apresenta uma situação diferente da análise de DNA de in- 20 jun. 2018.
divíduos presos ou condenados por certos crimes, que foram
coletados no Sistema Nacional de Indexação de DNA dos Esta-
dos Unidos (NDIS) para fins forenses desde 1989.
Min C. Chiu/Shutterstock

Muitos se perguntam agora se tais buscas são legais e o que


a sociedade pode fazer para proteger a si e suas famílias dos
olhos muitas vezes indiscretos da polícia.
Fonte: Science Magazine
<http://science.sciencemag.org/content/360/6393/1078>.
Acesso em: 20 jun. 2018.

OUTUBRO 2018 | ATUALIZA


10 | CIÊNCIAS HUMANAS
por luiza villaméa

Lar,
dif’cil lar
Deficit habitacional, que
no Brasil atinge 7,7 milhões
de pessoas – 91% delas de
baixa renda –, é o grande
responsável pelo aumento
do número de favelas e pelas
frequentes ocupações de
edifícios públicos
As favelas surgiram Outro problema trazido Programas de habitação O Morro da Providência,
nas grandes cidades pelo deficit habitacional do governo federal, como no Rio de Janeiro, foi
brasileiras no final do no Brasil são as o antigo Banco Nacional a primeira favela do
século XIX e, desde então, ocupações de prédios da Habitação (BNH) e o Brasil. Explique qual é a
nunca mais pararam de públicos abandonados ou Minha Casa, Minha Vida, relação entre a Guerra
crescer: mais de 600 em de terrenos nas periferias. construíram milhares de Canudos (1896-1897),
São Paulo e 500 no Rio Quais são os principais de moradias, mas não a reforma urbana do
de Janeiro. Quais são os problemas que essas diminuíram o deficit prefeito Pereira Passos e
principais motivos desse ocupações provocam? habitacional. Por quê? o surgimento dessa favela.
crescimento?

Costa Fernandes/Shutterstock
12 | CIÊNCIAS HUMANAS

Banco de imagens/Ex Libris


O
homem estava pres-
tes a ser resgatado
quando o prédio de
24 andares desabou.
Posicionado no edi-
fício vizinho, o bom-
beiro chegou a jogar
uma corda, mas não deu tempo de o ho-
mem ser resgatado. Era madrugada do
feriado de 1o de maio, Dia do Trabalha-
dor. Um incêndio consumia o Edifício
Wilton Paes de Almeida, no centro de
São Paulo, havia cerca de uma hora e 30
minutos. Um vídeo com a tentativa de
resgate e o impressionante desabamen-
to correu mundo.
Seis dias depois, o homem foi identifi-
cado oficialmente como Ricardo Galvão
Pinheiro, mais conhecido como Tatua-
gem, por causa das imagens que tinha
gravadas a tinta pelo corpo. Aos 39 anos,
ele trabalhava descarregando merca-
dorias de caminhões e foi uma das sete
vítimas fatais da tragédia. Mais de 400
pessoas viviam no prédio inaugurado
em 1968, que logo se tornou um marco
da arquitetura modernista da cidade.
A tragédia no centro paulistano re-
fletiu um problema crônico do país: Edifício Wilton Paes de Almeida, no centro de São Paulo, que abrigava mais de
o deficit de moradia. De acordo com a 400 sem-teto até maio de 2018, quando foi destruído por um incêndio.
Fundação Getúlio Vargas, em 2015 falta-
vam 7,757 milhões de moradias no Bra- recebia a cada mês. Antigo mora- perto de mim”, avisou Ricardo,
sil. O estudo, o mais recente nesse campo, dor da zona Leste da cidade, onde segundo a gravação da PM. “Por
tem como base a Pesquisa Nacional por chegou a ser sócio de um bar, ele favor, manda o resgate para mim.”
Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE. havia se mudado para o centro O prédio que soterrou Ricardo
O fator que reflete a desigualdade social: em busca de melhores oportuni- abrigava uma ocupação. Perten-
91% dos atingidos pela falta de moradia dades de trabalho. Na madrugada cia à União. Durante mais de 20
são famílias de baixa renda. Sobrevivem da tragédia, ele chegou a telefo- anos funcionou como sede da Po-
com até três salários mínimos por mês. nar para o número de emergên- lícia Federal em São Paulo, trans-
Ninguém sabe ao certo quanto Ricar- cia da Polícia Militar, pedindo so- ferida em 2003 para a zona Oeste
do, o homem que quase foi resgatado, corro: “O fogo já tá aqui em cima, da cidade. Desde então, o edifício

aTualiza | OUTUBRO 2018


estava abandonado. Em 2017, de- dos debates sobre a política ha- A negociação foi demorada e As ocupações
pois de uma tentativa frustrada bitacional da cidade. Não é o que contou com apoio de diversas são a faceta
de venda, havia sido cedido de ocorre com os maiores e mais tra- personalidades públicas, entre
forma provisória à prefeitura, dicionais movimentos do setor, elas o cantor Caetano Veloso. Um
mais recente
sem que a transferência se con- como o MTST (Movimento dos mês após o início da ocupação, do deficit
cretizasse. Trabalhadores Sem Teto), a FLM um show do cantor estava progra- habitacional
Naquela altura, todos os anda- (Frente de Luta por Moradia) e a mado no terreno, mas a apresen- no Brasil.
res estavam ocupados por mais UMM (União dos Movimentos de tação foi proibida pela Justiça,
de 400 sem-teto, sob a lideran- Moradia). como explicou o artista silencia-
Só em São
ça de uma entidade chamada Eles usam a ocupação de terre- do: “Nós viemos aqui com vonta- Paulo existem
Movimento de Luta Social por nos e prédios como forma de pres- de de cantar, para mostrar solida- mais de 200
Moradia (MLSM). Atualmente, sionar o poder público a construir riedade ao movimento que vocês ocupações
mais de 150 movimentos sociais moradias para a população de levam à frente. Mas, como vocês
atuam no setor apenas em São baixa renda. Foi o que aconteceu já sabem, manobras legais foram
de edifícios
Paulo. Entre eles estão organiza- com a ocupação Povo Sem Medo, feitas para que o show não pudes- e terrenos
ções com 30 anos de existência, liderada pelo MTST, que duran- se acontecer”. particulares
que participam dos programas te seis meses ocupou um terreno Ocupações como a de São Ber- abandonados
habitacionais, e grupos criados particular de 78 mil metros qua- nardo do Campo são a faceta mais
há pouco tempo, que cobram ta- drados na cidade de São Bernardo recente do problema da falta de
xas dos associados. do Campo. Em março passado, os moradia no país. Apenas em São
De acordo com relato de so- cerca de oito mil sem-teto aban- Paulo existem 206 ocupações, de
breviventes, o MLSM cobrava donaram a área, depois de um acordo com levantamento da pre-
R$ 400 mensais de cada famí- acordo com o governo do Estado, feitura. Pelo menos 70 delas lo-
lia. Já a prefeitura divulgou que que prevê a construção de 2,4 mil calizam-se no centro da capital,
a organização não participava moradias populares. em geral em prédios antigos,

Alf Ribeiro/Shutterstock

Desabrigados no centro de São Paulo, depois do incêndio que destruiu um edifício ocupado.

OUTUBRO 2018 | aTualiza


14 | CIÊNCIAS HUMANAS

que ficaram fechados (e sem ma- um imóvel, essa parcela da po- Outra contradição é que, com
nutenção) por anos a fio. As ocu- pulação constrói moradias pre- o passar do tempo, o Morro do
pações também se espalham por cárias, muitas vezes em lugares Bumba foi urbanizado, receben-
terrenos da periferia de grandes de risco, como morros e encos- do abastecimento de água, energia
cidades por todo o país. tas, que, durante a temporada de elétrica, escolas e creches. Hoje,
A faceta mais antiga do deficit chuva, podem sofrer deslizamen- oito anos depois do desmorona-
habitacional brasileiro são as fave- tos. Mesmo sabendo dos riscos, os mento, os desabrigados conti-
las, cuja origem remonta ao ano de moradores resistem a deixar suas nuam sem moradia. Em abril pas-
1897, com a construção de casebres casas, por não terem outra opção sado, sob a liderança do MTST, eles
em uma encosta do Rio de Janeiro, de moradia. ocuparam um terreno em Niterói,
agora conhecida como Morro da Uma das maiores tragédias de- como forma de pressão sobre o po-
Providência. Segundo o IBGE, os correntes de deslizamento acon- der público. Em 2015, iniciativa si-
oito municípios brasileiros com teceu no Morro do Bumba, em milar foi tomada, em vão.
maior número de favelas são: São Niterói (RJ). Cerca de 60 casas Lançado em 2009, o programa
Paulo, com mais de 600; Rio de Ja- construídas em um vale que ser- Minha Casa, Minha Vida, envolve
neiro, com mais de 500; Fortaleza, via como lixão na década de 1960 financiamento com subsídio do go-
mais de 150; Guarulhos, mais de foram soterradas em abril de verno federal, que varia de acordo
130; Curitiba, mais de 120; Campi- 2010, quando o morro desmoro- com a faixa de renda da família be-
nas, mais de 110; Belo Horizonte e nou, provocando a morte de 47 neficiada pelo programa. Levanta-
Osasco, com mais de 100. moradores. A comunidade, onde mento feito em abril de 2016 pelo
Na raiz do problema estão a bai- famílias haviam se instalado de Ministério das Cidades indica que,
xa renda de parte da população e forma clandestina a partir da dé- desde o lançamento, o programa
o alto valor dos terrenos e imóveis cada de 1980, nem constava da re- já havia contratado 4,2 milhões de
nas aglomerações urbanas. Sem lação de lugares de risco monito- unidades habitacionais e entregue
condições de comprar ou alugar rados pela prefeitura. 2,7 milhões de moradias.
A.PAES/Shutterstock

Homem em situação de rua. Número de desabrigados vem crescendo com a crise econômica.

aTualiza | OUTUBRO 2018


gustavomellossa/Shutterstock
Contraste comum nas cidades brasileiras: favelas e arranha-céus dividem o mesmo cenário.

A amostra revela que o Minha Um dos públicos do Minha Casa, Minha escolas e postos de saúde. Fi-
Casa, Minha Vida já deve ter principais Vida”, afirmou o líder do MTST, cam também mais vulneráveis ao
superado a produção do antigo Guilherme Boulos, no livro De crime organizado. Problema si-
BNH, criado pela ditadura mi-
problemas que lado você está?. milar ocorreu nos anos 1960,
litar, que financiou 4,5 milhões para famílias Um dos problemas cruciais para quando o governador Carlos La-
de moradias nos seus 22 anos beneficiadas as famílias beneficiadas pelo pro- cerda, do então Estado da Guana-
de existência. Ainda assim, o por grama é a construção das mora- bara, atual Rio de Janeiro, trans-
programa está longe de suprir dias em locais ermos, longe dos feriu moradores de favelas da
o deficit de moradias no país. E
programas centros das cidades, com infra- capital para uma região distante,
também é alvo de críticas. “Os de moradias estrutura precária. Apartados hoje o bairro Cidade de Deus.
setores imobiliário e da cons- populares é do núcleo urbano, onde vivem A marcante separação entre as
trução civil continuam dando a construção aqueles com melhores condi- moradias de diferentes classes so-
o tom e definindo as regras da ções financeiras, esses morado- ciais é uma característica obser-
política habitacional brasileira.
das casas res enfrentam dificuldades com vada no país desde o século XIX.
Detêm os terrenos e controlam em lugares o transporte público para ter O botânico francês Auguste de
a maioria dos financiamentos distantes acesso a seus locais de trabalho, Saint-Hilaire, um dos primeiros

OUTUBRO 2018 | aTualiza


16 | CIÊNCIAS HUMANAS

cientistas a percorrer o Brasil Quatorze anos antes, tinha fal- no interior da Bahia, entre no-
Colônia, registrou a divisão no tado moradia devido a uma sur- vembro de 1896 e outubro de
dia 17 de abril de 1822, no diário preendente e excessiva deman- 1897. O governo mandou milha-
publicado com o título de Segun- da. Ocorreu devido à chegada da res de soldados para o combate,
da viagem a São Paulo. Ao descre- família real portuguesa, em 1808. mas não pagou o soldo. O conflito
ver o caminho que percorreu en- A então capital, Rio de Janeiro, terminou com a destruição total
tre a cidade de Lorena e a de São que tinha 60 mil moradores, pas- do arraial de Canudos, a degola
Paulo, falou da distância entre as sou a abrigar 120 mil da noite para de prisioneiros de guerra e os ho-
choupanas dos agregados e a casa o dia. Dez mil casas da cidade fo- mens enviados pelo Exército com
dos proprietários da terra. ram marcadas com as letras P.R., os bolsos vazios.
No dia seguinte, 18 de abril de em referência ao príncipe regen- Em novembro de 1897, esses
1822, ele voltou ao tema: “Confir- te D. João VI. Significava que os soldados desembarcaram no Rio
mou-se o que escrevi ontem sobre moradores deveriam desocupar de Janeiro, então capital da Re-
os habitantes da beira da estra- a residência e cedê-la para a rea- pública. Sem lugar para morar e
da. São quase todos agregados que leza. A determinação foi obedeci- recomeçar a vida, centenas deles
nada absolutamente possuem e da, mas a população não perdoou. passaram a improvisar moradias
cujos casebres, e ranchos, perten- Passou a traduzir a sigla P.R. como na encosta de um morro no cen-
cem a proprietários vivendo a cer- “Ponha-se na rua”. tro do Rio. O lugar começou a ser
ta distância do caminho, para não chamado de Morro da Favela,
serem incomodados pelos viajan- Morro da Providência, a por causa de um morro existen-
tes. Fazem construir ranchos e ta- primeira favela do Brasil te em Canudos e de um arbusto
bernas à margem da estrada e os Há uma conexão direta entre fa- com flores brancas e espinhos,
alugam a pessoas pobres a quem vela e Guerra de Canudos, aquela comum na região, o Cnidoscolus
dão milho e aguardente para que que dizimou os seguidores do lí- quercifolius, conhecido como fa-
os vendam aos transeuntes”. der religioso Antônio Conselheiro vela ou faveleira.

O tamanho do problema
Deficit habitacional mostra tendência de crescimento nos últimos anos

Brasil – em unidades Perfil do deficit habitacional nacional


8 500 em 2015 – em unidades
3 269 514
7 800 Ônus com 3 227 232
7 362 543 aluguel Coabitação

7 100
6 881 343
6 747 193

6 400

5 700
317 806 942 631
Adensamento Habitação
5 000
excessivo precária
2011 2012 2013 2014 2015
Fonte: Fundação Getulio Vargas

aTualiza | OUTUBRO 2018


EM FOCO

C2     Compreender as
transformações
dos espaços

A.PAES/Shutterstock
geográficos como
produto das relações
socioeconômicas e
culturais de poder.

H8     Analisar a ação dos


estados nacionais no
que se refere à dinâmica
dos fluxos populacionais
e no enfrentamento de
problemas de ordem
econômico-social.

Foi no morro da Providência, na


zona portuária, que se localizou a
primeira favela do Rio de Janeiro,
povoada pelos ex-combatentes
de Canudos. Contam os cronis-
tas que, junto com suas mulheres
[...], eles organizaram acampa-
mentos perto do Ministério da
Guerra, demandando novas mo-
radias. Contudo, o que era abrigo
transitório se transformou em
moradia definitiva, assim como
os morros nas laterais da cidade
foram sendo ocupados.
SCHWARCZ, Lilia M.;
Pessoa em situação de rua divide espaço com carros. STARLING, Heloísa M.
Brasil: uma biografia.
Pouco depois, ex-escravos que dados que voltaram da Guerra de São Paulo: Companhia
perambulavam pelas ruas do Canudos. À medida que as ocu- das Letras, 2015.
Rio seguiram a trilha aberta pações se espalharam pelo Rio, o
pelos soldados. A ocupação se termo favela se generalizou. Hoje, O tipo de aglomerado urbano a
intensificou no começo do sécu- a favela original se chama Morro que se refere o texto generalizou-
lo XX, durante a administração da Providência e tem cerca de oito -se pelos grandes centros urba-
do prefeito Francisco Pereira mil moradores. nos brasileiros, concentrando
Barros (1902-1906). Empenha- população
do em transformar a capital em Questão de cidadania a) carente em condições de sa-
uma cidade parecida com Paris, O geógrafo Milton Santos (1926- neamento e segurança.
o prefeito empreendeu uma re- -2001) escreveu em seu livro O es- b) de reduzido peso eleitoral.
forma urbanística que demoliu paço do cidadão que “mais do que c) imune à influência de grupos
cerca de duas mil residências do um direito à cidade, o que está em que exercem atividades ilegais.
centro do Rio. Não por acaso, a jogo é o direito a obter da socieda- d) completamente desprovida de
reforma foi apelidada pela popu- de aqueles bens e serviços míni- recursos educacionais.
lação de “Bota-Abaixo”. mos, sem os quais a existência não e) incapaz de se integrar à malha
Ocorre que boa parte das resi- é digna”. Um desses bens é a mora- de emprego de suas cidades.
dências demolidas eram cortiços, dia. “Sem isso, não se dirá que exis- Resposta: a
que abrigavam famílias de baixa te cidadão”, conclui Milton Santos.
renda. Assim como os ex-escra- Como vimos nesta breve história
vos, essas famílias também se- da moradia, o Brasil tem mais ha-
guiram a trilha aberta pelos sol- bitantes do que cidadãos.

OUTUBRO 2018 | aTualiza


18 | CIÊNCIAS HUMANAS
por luiza villaméa
Photographee.eu/Shutterstock

aTualiza | OUTUBRO 2018


A pedofilia é definida Apesar de não haver Se nem todo pedófilo As quadrilhas de
como crime pelo Código um índice nacional, o é necessariamente pedófilos conseguem
Penal brasileiro e vem número de notificações um abusador, quais os compartilhar fotos e
sendo combatida pelas de estupro ao SUS quase argumentos esgrimidos vídeos pela internet sem
autoridades. No entanto, dobrou em cinco anos, pelas autoridades para serem identificadas por
não existe um índice passando de 12 mil para considerar também mecanismos de busca
nacional que mostre quase 23 mil em 2016. como crime a posse e o como o Google e o Yahoo!
como o problema Mas esses números estão consumo de fotografias Explique como isso é
impacta as crianças. abaixo da realidade. e vídeos de menores possível.
Por quê? Por quê? por adultos?

Inf‰ncia violada
Os casos de estupro de crianças e adolescentes no Brasil
subiram de 12 mil para quase 23 mil em cinco anos, mas o
número de vítimas pode ser bem maior

O
aplicativo SimSimi, que si- partir de um banco de dados alimentado pelos pró-
mula um bate-papo entre um prios usuários. Em outras palavras: o personagem
personagem virtual e o usuá- virtual “aprendeu” os temas impróprios – quando
rio, não pode ser mais baixado não criminosos – com seus interlocutores.
no Brasil. Lançado no país em Iniciativas como a da SaferNet Brasil trazem à
2014, foi suspenso pela pró- tona dramas com frequência encobertos na socie-
pria empresa que o criou, a dade: a pedofilia e a violência sexual contra crian-
sul-coreana Ismaker. “Parece que alguns usuários ças. Não há meio-termo. De acordo com a Organi-
brasileiros têm recentemente ensinado palavras zação Mundial da Saúde (OMS), a pedofilia é uma
maliciosas ao SimSimi”, justificou a empresa ao doença classificada como transtorno de preferência
anunciar a medida. sexual. Pedófilos são adultos que têm preferência
O problema foi muito além de “palavras malicio- sexual por crianças ou por meninas e meninos no
sas”. Por trás da suspensão estava a ONG SaferNet começo da puberdade.
Brasil, que, depois de 5 minutos de interação com Pedofilia é crime. O Código Penal prevê como cri-
o personagem virtual, percebeu que “o algoritmo minosa qualquer relação sexual ou ato libidinoso (ato
de inteligência artificial SimSimi espontaneamen- de satisfação do desejo) praticado por adulto com
te violou as próprias políticas de conteúdo que de- criança ou adolescente menor de 14 anos. Também é
veria implementar, e explicitamente veiculou men- considerado crime “adquirir, possuir ou armazenar,
sagens com incentivo ao abuso sexual de crianças”. por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de
A partir do alerta da SaferNet Brasil, uma avalan- registro que contenha cena de sexo explícito ou por-
che de denúncias provocou a retirada do aplicativo nográfico envolvendo criança ou adolescente”.
do mercado nacional. O mais impressionante é que Não existe um índice nacional que mostre como
o conteúdo do bate-papo do SimSimi se estabelece a o problema impacta as crianças brasileiras, até
OUTUBRO 2018 | aTualiza
20 | CIÊNCIAS HUMANAS
snob/Shutterstock

porque os ataques muitas vezes Em maio de estão muito abaixo da realidade. pornografia desencadeada em
são encobertos pelas próprias fa- Eles não alcançam nem a metade 24 estados e no Distrito Federal
mílias. Há, sem dúvida, um tabu 2018 a polícia dos 49 497 casos de estupro infor- e que culminou na prisão de 251
em torno do tema. E muita difi- lançou em mados à polícia, de acordo com o pessoas e na análise de mais de
culdade em identificar pedófilos. 24 estados 11o Anuário Brasileiro de Seguran- um milhão de arquivos relacio-
Costumam ser “pessoas acima de e no Distrito ça Pública, publicado em 2017. nados a crimes de abuso sexual
qualquer suspeita”, que atuam de Entretanto, acredita-se que o au- de crianças e adolescentes. Reali-
forma sedutora para conquistar a Federal a mento de notificações ao SUS se zada em maio de 2018, a operação
confiança das crianças. operação Luz deve ao maior número de campa- envolveu 2,6 mil policiais e tinha
Sabe-se que o número de noti- na Infância, nhas de combate à pedofilia. como alvo pessoas que tinham
ficações de estupro ao SUS (Sis- que culminou Prevenção é o melhor caminho grande quantidade de arquivos
tema Único de Saúde) dobrou para enfrentar o problema. Nem criminosos.
em cinco anos, saltando de 12 087 na prisão todo pedófilo é abusador, mas, “O mínimo foram 150 arqui-
casos informados em 2011 para de mais de da mesma forma, pratica crime vos baixados. Ninguém baixa 150
22 918 em 2016. Pelo levantamen- 250 pessoas ao consumir fotografias e vídeos, arquivos sem querer”, afirmou à
to, 50,9% das vítimas têm até seja no mundo real, seja pela in- época Alexandro Barreto, coor-
13 anos. A informação consta do ternet. Afinal, em cada imagem do denador do Laboratório de Inteli-
Atlas da Violência 2018, divulga- gênero há uma criança sendo abu- gência Cibernética do Ministério
da pelo IPEA (Instituto de Pes- sada. A pena para quem armazena da Segurança Pública. Entre os
quisa Econômica Aplicada) e pelo material pornográfico envolven- presos durante a operação, havia
Fórum Brasileiro de Segurança do crianças e adolescentes é de pessoas com cerca de 200 mil ar-
Pública. até quatro anos de prisão. quivos armazenados. Os estados
Os especialistas, no entanto, es- Luz na Infância é o nome de do Rio Grande do Norte e do Pa-
timam que esses índices ainda uma operação de combate à raná não foram incluídos na Luz

aTualiza | OUTUBRO 2018


EM FOCO

C3    C
  ompreender a
produção e o papel
na Infância por problemas logís- em particular quando tinham com- histórico das instituições
ticos da operação. ponentes de abuso sexual. Com as sociais, políticas e
Como ocorre em outras par- campanhas deflagradas nos últimos econômicas, associando-as
aos diferentes grupos,
tes do mundo, esse material era anos, as denúncias vêm aumentan- conflitos e movimentos
publicado e compartilhado por do em todo o país. sociais.
meio de sites e fóruns de discus- Um dos escândalos mais recen-
são acessados por pedófilos. Cir- tes está ligado à seleção brasileira H12     Analisar o papel da
justiça como instituição
culavam pela deep web, zona ne- de ginástica artística. Há dois anos, na organização das
bulosa da internet, parte da rede o Ministério Público Federal rece- sociedades.
conhecida por divulgar arquivos beu a primeira denúncia contra o
ilegais. A deep web não é inde- ex-técnico da seleção, Fernando de
xada por mecanismos de busca Carvalho Lopes. Ele nega as acusa- Uma campanha lançada por um
como o Google e o Yahoo!. Fica, ções. Este ano, reportagem do pro- município brasileiro foi simboliza-
portanto, oculta para o grande grama Fantástico ouviu 40 atletas da pelo selo a seguir.
público. e ex-atletas que se declararam ví-
A operação Luz na Infância timas de abusos sexuais praticados
veio a público às vésperas de 18 por Fernando entre 1999 e 2016.
de maio, data instituída como Dia O processo contra o ex-técnico
Nacional de Combate ao Abuso e ainda está em andamento. Por en-
à Exploração Sexual de Crianças quanto, ele está proibido de traba-
e Adolescentes. Trata-se de re- lhar com crianças e adolescentes.
ferência a um crime de grande Escândalo similar abalou os Es-
repercussão, ocorrido no dia 18 tados Unidos. Começou em 2015,
de maio de 1973 em Vitória, no quando duas atletas denunciaram o
Espírito Santo. Nessa data, Ara- médico Larry Nassar, da seleção es-
celi Crespo, uma menina de oito tadunidense de ginástica, por abu- Disponível em: <https://ctpocoes.
anos, foi sequestrada, violentada so sexual. Em seguida, mais de 300 blogspot.com/p/campanhas.html>.
e morta. Seus agressores jamais meninas e mulheres fizeram o mes- Acesso em: 16 jun. 2018.
foram punidos. mo tipo de denúncia. Hoje, Nassar
É provável que o crime, co- cumpre pena de 175 anos de prisão. A mensagem da campanha alerta
nhecido como “Caso Araceli”, só No Brasil, o Disque 100, criado para
tenha ficado conhecido por en- em 2003 pela Secretaria Nacional a) a preservação do silêncio das
volver morte. O corpo da meni- de Direitos Humanos, recebe e en- crianças.
na foi encontrado, carbonizado, caminha denúncias de violência b) a culpabilidade do realizador
seis dias depois do desapareci- contra meninas e meninos. O usuá- do ato.
mento. Naquela época, o tabu rio não precisa se identificar. O ser- c) o uso ilegal da tecnologia.
em relação aos crimes cometidos viço funciona todos os dias, das d) a criminalização da conivência
contra crianças era maior ainda, 8 às 22 horas. com o ato.
e) a necessidade de isenção da
sociedade.
Resposta: d
Victor Brave/Shutterstock

OUTUBRO 2018 | aTualiza


22 | CIÊNCIAS HUMANAS
por cláudio camargo
Tatiana Shepeleva/Shutterstock

aTualiza | OUTUBRO 2018


Há tempos os cientistas Defensores da Um dos mais renomados Os otimistas em relação
se perguntam se o ser Inteligência Artificial cientistas da atualidade, à Inteligência Artificial
humano conseguirá dizem que o medo de ser Stephen Hawking, disse dizem que inovações
construir máquinas dominado por máquinas que o desenvolvimento tecnológicas no passado
mais inteligentes do é natural, pois nós, da Inteligência Artificial destruíram empregos
que ele próprio. Qual humanos, tendemos poderá significar o fim e criaram outros. Qual
foi o experimento de a temer as inovações da raça humana. Quais a objeção que críticos
Alan Turing nos anos tecnológicas. Quais os foram os motivos que da Inteligência Artificial
1940 para saber se isso exemplos citados em ele apontou para tal fazem a esse argumento?
aconteceria? defesa dessa tese? desfecho?

A Inteligência
Artificial e o
último homem

N
o filme 2001, uma odisseia no es-
Debate opõe paço, de Stanley Kubrick, a nave
defensores Discovery viaja em uma mis-
são espacial a Júpiter coman-
da inovação
dada pelo supercomputador
tecnológica Hal-9000, um predecessor da
como forma de Inteligência Artificial que com-
bina razão com emoção. No meio da viagem, Hal co-
progresso aos
mete um erro de avaliação – algo impensável para
que temem que a uma máquina quase perfeita como ele – e os astro-
civilização esteja nautas decidem desligá-lo, reduzindo-o a funções
mínimas. O computador, contudo, percebe a mano-
ameaçada por
bra e tenta convencer a tripulação a não desativá-lo,
computadores pois ele seria essencial para que a missão chegasse a
capazes de pensar bom termo. Não tendo êxito em seu intento, Hal co-
meça a eliminar a tripulação. Aqui, Kubrick atualiza
melhor que os
o velho tema da criatura se voltando contra o cria-
seres humanos dor, mas num patamar superior, em que a ferramen-
ta se revolta contra o homem. Mas em 2001 o ho-
mem ainda vence a máquina: o único sobrevivente,
o astronauta David Bowman, consegue desligar os

OUTUBRO 2018 | aTualiza


24 | CIÊNCIAS HUMANAS

inteligente indistinguível do
do ser humano – o que ele deno-
minava “jogo da imitação”. Uma
das mais famosas demonstrações
práticas desse teste ocorre todo
ano, desde 1991, no Cambridge
Center of Behavioral Studies em
Massachusetts, nos Estados Uni-
dos, organizado por Hugh Loebner.
Uma comissão julgadora faz per-
Banco de imagens/Ex Libris

guntas por meio de um terminal


de computador a um par de cor-
respondentes que não ficam à
vista dela; um é humano e outro
é um programa de computador e
O astronauta David Bowman desliga o computador Hal-9000 no filme 2001, uma odisseia no espaço.
a comissão tenta descobrir quem
é quem. Turning acreditava que
circuitos de Hal, “matando-o”. A Há tempos a questão sobre se no ano 2000 os computadores
lenta agonia de Hal ao ser desli- os homens poderiam construir conseguiriam enganar 30% dos
gado, como se “sentisse” a morte máquinas que pudessem pensar juízes humanos em cinco minu-
se aproximando, é uma das ce- preocupa a comunidade cien- tos de conversa e, assim, dizia ele,
nas mais impactantes desse fil- tífica. O britânico Alan Turing “poderemos falar em máquinas
me que ainda provoca polêmica (1912-1954), um dos pioneiros da pensantes sem recear que nos
50 anos depois de seu lançamen- ciência da computação, propôs nos contestem”. Em 2014, um software
to, em 1968, ano marcado por re- anos 1940 um experimento para chamado Eugene Goostman, que
beliões da juventude em todo o saber até que ponto uma máquina simulava ser um garoto ucrania-
mundo contra o status quo. pode exibir um comportamento no de 13 anos, enganou 33% dos
Em 1997, quase 30 anos depois
de Odisseia, um supercomputa-
dor da IBM de nome Deep Blue

Banco de imagens/Ex Libris


derrotou Garry Kasparov, consi-
derado o maior enxadrista de to-
dos os tempos, em um confronto
de 6 partidas, com 2 vitórias, 3
empates e 1 derrota. Era a pri-
meira vez que uma máquina ba-
seada em Inteligência Artificial
vencia um ser humano – e não um
ser humano qualquer – em uma
atividade complexa. Foi apenas
o começo. Em 2011 um software
nada elementar da IBM chamado
Watson venceu os humanos no
programa de TV estadunidense
Jeopardy, de perguntas e res-
postas sobre história, ciências e
atualidades. A grande evolução
em relação ao Deep Blue é que o
Watson é capaz de entender a lin-
guagem humana e produzir resul-
tados corretos pela primeira vez
na história. O enxadrista russo Garry Kasparov perde para o computador Deep Blue em 1997.

aTualiza | OUTUBRO 2018


jurados da Universidade de Rea- A questão da posteriormente, ao conceito de a IA. Devemos dar boas-vindas a
ding, Inglaterra. Turning estava Inteligência biossegurança. O resultado, in- ela”, diz o escritor, fotógrafo, con-
certo? sistem os otimistas, foi o surgi- servacionista e editor.
Como em quase toda inovação Artificial tem mento de novos medicamentos e No campo dos pessimistas so-
científica, a questão da Inteligên- provocado grande aumento na produção de bre a IA também militam pesos
cia Artificial (IA) tem provocado muita alimentos. Portanto, não haveria pesados, sendo o físico Stephen
muita polêmica na comunidade nada a temer. Hawking, morto em março deste
polêmica na
acadêmica. Seus defensores afir- Um dos maiores otimistas em ano, o mais célebre deles. Para
mam que não há nada a temer, comunidade relação à IA é Ray Kurzweil, di- Hawking, “o desenvolvimento da
pois o desenvolvimento dessa acadêmica; retor de engenharia do Google Inteligência Artificial total pode-
tecnologia permitirá, num fu- uns dizem e autor de A era das máquinas ria significar o fim da raça huma-
turo não muito distante, demo- espirituais. Ele afirma que a na”. Ele considerava que a união
cratizar o acesso das pessoas a que não há principal razão para ele acredi- entre a IA e a robótica criaria
uma série de serviços que vão o que temer; tar que a IA será benéfica para uma situação em que as máqui-
desde cuidados de saúde, aplica- outros, que a humanidade é que “ela será nas “avançariam por conta pró-
ções financeiras, vestuário, até descentralizada e amplamente pria e se reprojetariam em ritmo
questões de natureza existencial.
o futuro da distribuída. Ela não estará nas sempre crescente; enquanto os
Hoje, por exemplo, a IA já auxi- humanidade mãos de poucas pessoas, mas se humanos, limitados pela evolução
lia a Medicina no tratamento de está tornará onipresente à medida biológica lenta, não conseguiriam
doenças graves com o processa- que avançamos para o futuro”. competir e seriam desbancados”.
ameaçado
mento de inúmeras quantidades Kevin Kelley, fundador e editor Os pessimistas também con-
de dados clínicos e cruzando mi- executivo da Wired magazi- tam com um aliado improvável, o
lhares de casos e resultados, fa- ne, não fica atrás na visão da IA bilionário Elon Musk, o megaem-
cilitando diagnósticos e a cura. O como oportunidade, não como prendedor dono da fábrica Tesla,
futuro seria promissor. ameaça: “Tornar a IA mais hu- de carros elétricos e autônomos,
Esses otimistas afirmam que o mana vai nos desafiar a sermos e da empresa de sistemas aero-
medo de alguns cientistas do de- mais humanos. Da mesma forma espaciais SpaceX, entre outras.
senvolvimento da IA é natural, como os filhos podem melhorar Pois esse ícone da inovação e das
pois nós, humanos, tendemos, os pais, a humanidade acabará novas tecnologias disse com todas
historicamente, a temer a ino- por colaborar e coevoluir com as letras que considera a IA uma
vação e as tecnologias que ainda
não dominamos completamen-
te. Eles citam a reação de alguns

Banco de imagens/Ex Libris


cientistas à descoberta, nos anos
1970/1980, das enzimas de restri-
ção de DNA, o que depois tornou
possível a Engenharia genética.
Esses pessimistas alertavam para
o perigo de surgirem formas de
vida mutantes e devastação por ví-
rus mortais. Mas a própria pressão
da sociedade obrigou os governos
a criar leis regulatórias para ga-
rantir a segurança dos cidadãos.
Assim, em 1975, a Conferência de
Asilomar – reunião de diversos
especialistas ocorrida em 1975
nos EUA – formulou maneiras
de lidar com os potenciais riscos
envolvendo principalmente pes-
quisas do DNA, dando origem, O supercomputador Hal-9000, do filme 2001, uma odisseia no espaço.

OUTUBRO 2018 | aTualiza


26 | CIÊNCIAS HUMANAS

“ameaça à existência da nossa End of Human Era (Nossa inven- século XVIII, a maioria das pes-
civilização”. Falando em 2017 a ção final: a inteligência artificial soas trabalhava na agricultura;
governadores estadunidenses em e o fim da era da humanidade, em depois, passou a ocupar empregos
Rhode Island (EUA), Musk bei- tradução livre). Ele afirma que os na indústria. De algumas décadas
rou o catastrofismo: “Até que as seres humanos dominam o pla- para cá, a maioria dos trabalhado-
pessoas não vejam robôs matan- neta não porque sejam os mais res está empregada nos serviços –
do gente na rua não entenderão os fortes ou os mais rápidos, mas hoje, o setor ocupa 70% e 80% da
perigos da Inteligência Artificial. porque são os mais inteligentes. força de trabalho. E é nesse setor
Estamos convocando o demônio”, “Então, quando houver uma coisa que os algoritmos mais avançam,
disse a uma plateia atônita. mais inteligente do que nós por destaca Harari.
“Há dois problemas principais aqui, ela vai mandar no planeta”, O historiador israelense lembra
na Inteligência Artificial que conclui Barrat sombriamente. que a questão não é nova. Desde a
levam pessoas como Musk e O historiador israelense Yuri Revolução Industrial já se temia
Hawking a se preocupar”, escre- Noah Harari, autor dos best-sellers que a mecanização resultasse no
veu James C. Best Jr. no The New Sapiens e Homo Deus, levanta, desemprego em massa. Mas isso
York Times. O primeiro é um te- neste último livro, a ameaça do nunca aconteceu, diz ele, porque,
mor de que, num futuro próximo, fim dos empregos trazida pela quando as velhas ocupações se
criemos máquinas que possam introdução da Inteligência Ar- tornaram obsoletas, novas profis-
tomar decisões pelos seres huma- tificial na economia. “A questão sões se desenvolveram e sempre
nos – lembram-se do computador mais importante na economia havia coisas que os humanos po-
Hal-9000, de 2001? E essas má- do século XXI pode bem ser o diam fazer melhor do que as má-
quinas não têm nenhuma noção que fazer com todas as pessoas quinas. Enquanto as máquinas
de ética nem de moral, e provavel- supérfluas. O que seres humanos competiam conosco nas aptidões
mente nunca as terão. O segundo conscientes farão quando tiver-
problema, diz Best, que ocorrerá mos algoritmos não conscientes
mais no futuro, “é que, uma vez e sumamente inteligentes para
que construímos sistemas que fazer tudo quase melhor?” Ele
pensem como os humanos, essas explica que, no decorrer da His-
máquinas inteligentes serão ca- tória, o mercado de trabalho foi
pazes de produzir máquinas ain- dividido em três setores: agricul-
da mais inteligentes, que terão o tura, indústria e serviços. Antes
que muitos se referem como su- da Revolução Industrial, no
perinteligência”.
A conclusão semelhante che-
gou o cineasta e escritor James
Barrat, autor de Our Final Inven-
tion: Artificial Intelligence and the

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aTualiza | OUTUBRO 2018


Por fim, como bem lembrou o O que vai
sociólogo José Eustáquio Diniz
Alves, a fé cega na perfectibilida-
acontecer
de humana e no poder irrestrito quando os
da razão já foi devidamente de- algoritmos
nunciada no livro Frankenstein,
nos
ou o Prometeu moderno, de Mary
Shelley (1797-1851), que mostrou suplantarem
que a ciência pode aliviar o so- nas ações
frimento humano, mas também de lembrar,
gerar monstros. Lembremo-nos,
também, de que “O sonho da ra- analisar e
zão produz monstros”, frase que reconhecer
Goya escreveu em um de seus padrões?
Além do problema da destrui- desenhos.
ção de empregos trazida pela In- Seria, então, o verdadeiro “fim
teligência Artificial, outros ana- da história e o último homem”,
listas apontam riscos mais graves mas num sentido bem diverso
físicas, sempre haveria trabalhos ainda, como a corrida para cons- daquele que pensou o filósofo
cognitivos para os humanos de- truir armas atômicas com auxílio Francis Fukuyama – que acredi-
sempenharem. Hoje, contudo, é da IA, algo que já está em curso tava que o colapso do comunis-
diferente. “Assim, as máquinas em alguns países. “Se esse tipo de mo traria o triunfo definitivo da
assumiram trabalhos puramente tecnologia não for parado agora, democracia e do livre mercado
manuais, ao passo que os huma- ele levará a uma corrida arma- em todo o mundo.
nos se concentravam naqueles mentista. Se um país desenvolver Os pessimistas, então, estão
que requeriam algumas aptidões um desses, logo outro também vai certos?
cognitivas. O que vai acontecer fazê-lo. E máquinas sem noção de O debate entre pessimistas e
quando os algoritmos nos su- moral e de morte não podem ter otimistas sobre a Inteligência
plantarem nas ações de lembrar, poder para matar”, pontua Bon- Artificial nos remete ao embate
analisar e reconhecer padrões?”, nie Docherty, professora de Di- entre os “apocalípticos” e os “in-
indaga Harari. reito da Universidade de Harvard. tegrados” em relação à cultura de

OUTUBRO 2018 | aTualiza


28 | CIÊNCIAS HUMANAS
EM FOCO

C7       Confrontar opiniões e pontos de vista


sobre as diferentes linguagens e suas
manifestações específicas.

H22     Relacionar, em diferentes textos,


opiniões, temas, assuntos e recursos
linguísticos.

Os carros autônomos têm irritado os motoristas


das cidades onde estão sendo testados. É que eles
dirigem com extrema cautela, param completa-
mente em frente a uma placa de “Pare”, são lentos
e não reagem a buzinadas. Em suma, não dirigem
como humanos – o que incomoda os humanos.
Disponível em: <https://super.abril.com.br/
Zapp2Photo/Shutterstock

comportamento/pessoas-furiosas-estao-atacando-
carros-autonomos-nos-eua/>.
Acesso em: 13 jun. 2018.

O acidente fatal envolvendo um carro com dire-


Agricultura vertical auxiliada por automação robótica e Inteligência Artificial.
ção autônoma do Uber aumenta a pressão para
que a indústria de veículos autônomos prove, na
massa a que se referia o semiólogo e escritor ita- ausência de fortes padrões governamentais, que
liano Umberto Eco em seu livro homônimo. Ele seus softwares e sensores são seguros, disseram
criticava os primeiros por estes não serem capa- especialistas do setor. [...] o acidente com o carro
zes de ver nada de positivo na chamada “indús- do Uber em Tempe, no Arizona – que resultou na
tria cultural”, agindo como os reacionários em primeira morte atribuída a um carro operado em
relação ao novo. Reconhecia que suas críticas modo autônomo –, deu munição a críticos da in-
eram pertinentes, mas dizia que tal postura os dústria, receosos de que a falta de padrões claros
paralisava: “Se forem menos histéricos, podere- permita que os produtores incorram em falhas
mos conquistar um pouco mais de espaço e reco- nos testes ou que coloquem nas ruas tecnologia
nhecer, no meio da monstruosidade, elementos desenvolvida parcialmente.
não monstruosos”. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/
Em relação aos “integrados”, Eco afirmava que tecnologia/industria-de-carros-autonomos-enfrenta-
eles estavam certos em aceitar a cultura de mas- problemas-apos-acidente-com-uber/>.
sa como dado inevitável da realidade, mas eram Acesso em: 16 jun. 2018.
ingênuos por esquecerem que esta é produzida
por grupos de poder econômico com objetivos Em relação ao desenvolvimento da tecnologia de
de lucro. Enfim, o escritor italiano rejeitava tan- carros autônomos, que, desprovidos de conduto-
to o catastrofismo niilista da Escola de Frankfurt res humanos, são operados por computadores,
quanto os teóricos panglossianos da comunicação os textos
de massa como Marshall McLuhan, que nos anos a) são discordantes, pois o primeiro apoia seu
1960 cunhara a máxima “o meio é a mensagem”. uso e o segundo o critica.
Seria possível que no debate sobre a IA ocor- b) são concordantes, pois ambos criticam seu
resse uma síntese semelhante à que Eco produziu uso pela mesma razão.
na questão da indústria cultural? É uma pergunta c) são concordantes, pois ambos criticam seu
que ainda está sem resposta. Recorramos, por- uso, embora por razões diferentes.
tanto, ao poeta inglês John Milton (1608-1674): d) são concordantes, pois ambos apoiam seu uso.
“Onde há uma grande vontade de aprender, have- e) são discordantes, pois o primeiro critica seu
rá necessariamente muita discussão” (O paraíso uso e o segundo o apoia.
perdido, 1667).
Resposta: c

aTualiza | OUTUBRO 2018


29 | CIÊNCIAS HUMANAS
por cláudio camargo

A longa noite
Em dezembro de 1968, o governo escancara a ditadura militar instalada
quatro anos antes com a edição do Ato Institucional no 5, abrindo
caminho para prisões arbitrárias, torturas e assassinatos políticos
Imagens: Banco de imagens/Ex Libris

Mas a decisão de radicalizar a di-


tadura já estava tomada por Costa
e Silva. De acordo com o jornalis-
ta Elio Gaspari, Antônio Delfim
Netto, então ministro da Fazen-
da, afirmou quase 20 anos depois
que aquela reunião do Conselho
foi “puro teatro”. “Aquela reunião
foi pura encenação. Era um teatro
para levar ao Ato [...]. O que se pre-
parava era uma ditadura mesmo.”
Ao contrário dos Atos Insti-
tucionais anteriores, o AI-5 não
tinha prazo para acabar. Suspen-
dendo a Constituição outorgada
pelos militares em 1967, o AI-5
restabeleceu a possibilidade de
O então ministro da Justiça Gama e Silva (à esquerda) anuncia o AI-5 no Palácio Laranjeiras ao lado de Alberto Curi. o Executivo fechar o Congresso

S
e cassar mandatos; suspendeu

"
ei que a Vossa Excelência Deputados ter recusado um pe- direitos civis, como o habeas
repugna, como a mim e a to- dido do governo para processar corpus; e estabeleceu a censura
dos os membros desse Con- o deputado oposicionista Márcio aos meios de comunicação. Sob o
selho, enveredar pelo ca- Moreira Alves por ele ter proferi- AI-5, a ditadura institucionalizou
minho da ditadura pura e do um discurso considerado ofen- as prisões arbitrárias, a tortura e
simples, mas me parece que sivo aos militares. os assassinatos políticos. A longa
claramente é esta que está O único membro do Conselho noite durou até 1o de janeiro de
diante de nós [...] às favas, senhor presidente, neste a se opor à medida foi o vice-pre- 1979, quando o AI-5 foi revogado
momento, todos os escrúpulos de consciência”. Es- sidente Pedro Aleixo, um tradi- no contexto da abertura política
sas palavras foram pronunciadas em 13 de dezem- cional político liberal mineiro. do general Ernesto Geisel.
bro de 1968 pelo coronel Jarbas Gonçalves Passari-
nho, então ministro do Trabalho, em uma reunião
do Conselho de Segurança Nacional no Palácio das
Laranjeiras, no Rio de Janeiro. A reunião era presi-
dida pelo marechal Arthur da Costa e Silva, presi-
dente da República desde 1967. O Conselho discutia
a edição de mais um instrumento de exceção, o Ato
Institucional número 5, como forma de enfrentar a
crescente onda de oposição ao regime militar ins-
talado em 1964. O pretexto imediato para o endu-
recimento do regime era o fato de a Câmara dos Reunião do Conselho de Segurança Nacional em 13/12/1968. O deputado Márcio Moreira Alves.

OUTUBRO 2018 | aTualiza


30 |CIÊNCIAS DA NATUREZA
por silvia lakaTos

Carros do
futuro
Motores elétricos, células
de combustível, veículos
autônomos: a mobilidade
do amanhã pode superar
até a ficção científica!
metamorworks/Shutterstock

aTualiza | OUTUBRO 2018


Até pouco tempo atrás, os carros usavam combustíveis
fósseis, como derivados de petróleo (gasolina, diesel)
e gás. No Brasil, o substituto desses combustíveis é o
etanol. Como será no futuro?

Há dois tipos de veículo elétrico: os híbridos e os


totalmente elétricos, conhecidos como plug-in electric.
Os híbridos têm motor à combustão para gerar
eletricidade. Como funcionam os totalmente elétricos?

Paralelamente aos carros elétricos e aos motores


híbridos, a indústria automotiva de vanguarda
também está atenta ao uso das chamadas “células de
combustível”. Explique como funcionam essas células.

Além de utilizar novas fontes de energia, os veículos do


futuro também poderão se tornar autônomos, ou seja,
serão capazes de se locomover sozinhos. Explique o
“estado da arte” dessa modalidade de veículos.

L
ançado em 1989, o mudanças importantes na estru-
filme De volta para tura dos veículos, visando sobre-
o futuro 2, estrelado tudo à segurança do motorista
por Michael J. Fox e e dos passageiros; e a adição de
Christopher Lloyd, mais e mais equipamentos ele-
mostra a chegada do trônicos (freios ABS, controle de
protagonista Marty tração, sensor e câmera de ré...).
McFly e sua namorada, Jennifer, A extrema dependência dos
ao “distante” ano de 2015. Carros e combustíveis fósseis também
skates voadores são “comuns” na pai- está na raiz de pesquisas e ino-
sagem futurista imaginada pelo dire- vações veiculares. No Brasil, o
tor Robert Zemeckis. principal substituto da gasoli-
Estamos em 2018, e a realidade das na é o etanol de cana-de-açú-
metrópoles é bem diferente: em vez de car. Mas a fonte de energia que
congestionamentos pelo céu, nós ainda alimentará os carros do futu-
os temos em terra firme... e, não raro, ro é um dos temas mais debati-
em ruas mal pavimentadas e com sina- dos mundo afora: a eletrifica-
lização precária. ção está chegando com força, e
Isso não significa, porém, que a in- é possível imaginar o impacto
dústria automobilística tenha passa- que essa transformação exer-
do por poucas transformações desde cerá sobre toda a cadeia ligada
que o DeLorean do Dr. Emmet Brown ao motor de combustão – uma
cruzou o espaço-tempo para visitar a cadeia que incorpora fabrican-
década de 1950 e o século XXI: daque- tes de cabos, velas, carburado-
la época até os dias de hoje, tivemos res e outros componentes que
a redução do tamanho dos motores e se tornarão dispensáveis num
a adição de turbos, com o objetivo de mundo de carros alimentados a
diminuir a emissão de poluentes; energia elétrica.

OUTUBRO 2018 | aTualiza


32 | CIÊNCIAS DA NATUREZA

O artífice dos As refrigerante, “administrando” o a inovação agregam mais valor à


carros elétricos evento. O dinheiro obtido com es- empresa que o lucro imediato.
Nascido em Pretória (atual
vantagens sas baladas domésticas financiou Mas, justiça seja feita: embora
Tshwane), África do Sul, em 28 de dos carros sua estada na faculdade, onde se Musk esteja tornando o carro elé-
junho de 1971, Elon Reeve Musk é elétricos graduou em Física. trico cada vez mais acessível para o
o que se pode chamar de um “em- para o meio O empresário-estudante-ba- público, o pioneiro dessa invenção
preendedor visionário”, e até ser- ladeiro é hoje um dos executivos foi o alemão Ferdinand Porsche
viu de inspiração para a versão ambiente mais admirados do mundo: fun- (1875-1951), que lançou, em 1899, o
cinematográfica do gênio bilioná- são que eles dador, Chief Executive Officer Lohner-Porsche. Entretanto, o veí-
rio Tony Stark, o Homem de Ferro são movidos (CEO) e Chief Technology Officer culo não tinha bom desempenho, e
dos Estúdios Marvel. Sua fortuna (CTO) da SpaceX (Space Explo- o projeto não se desenvolveu além
está estimada em US$ 20 bilhões,
a motores ration Technologies Corp), em- daquele primeiro modelo.
que, em parte, ele aplica na Musk silenciosos, presa de sistemas aeroespaciais As vantagens dos carros elé-
Foundation, uma fundação que com e de serviços de transporte espa- tricos para o meio ambiente são:
lida com energia limpa, educação, cial, pioneira na venda de voos co- motores silenciosos, que reduzem
redução
ciência e saúde pediátrica. merciais à Lua; fundador e CEO a poluição sonora; e o fato de não
O gênio empreendedor se re- drástica da da Neuralink, que busca desen- emitirem gases de efeito estufa.
velou desde cedo. Quando tinha poluição volver interfaces cérebro-com- No entanto, é preciso ponderar
10 anos, ganhou um computador sonora, e putador implantáveis – e que po- que, nos países onde a energia elé-
e pôs-se a aprender programa- deriam auxiliar pacientes com trica deriva principalmente das
ção – sozinho. Aos 12, vendeu por
ausência sequelas de acidentes e outros usinas termelétricas, este último
US$ 500 seu primeiro software de emissão problemas; cofundador e presi- benefício praticamente se anula,
comercial, um jogo espacial cha- de gases de dente da SolarCity, que fabrica, pois essas usinas são altas emisso-
mado Blaster. vende e instala painéis solares; e, ras de dióxido de carbono (CO2 ).
efeito estufa
Anos mais tarde, quando ini- principalmente, é CEO da Tesla Também é preciso reconhecer
ciou seus estudos na Universida- Motors, empresa automotiva e de que, mundialmente, ainda faltam
de da Pensilvânia (EUA), Musk armazenamento de energia, que pontos para a recarga das baterias
transformou a casa onde morava desenvolve, produz e vende auto- de carros elétricos: sua populari-
em uma balada. Junto com um móveis elétricos de alto desempe- zação demandaria a readequação
amigo, alugou um imóvel com nho, componentes para motores e de toda uma infraestrutura urba-
10 quartos e, nos fins de semana, transmissões para veículos elétri- na e até residencial, com a instala-
cobrava US$ 5 de entrada para cos e produtos à base de baterias ção de tomadas adequadas para a
quem quisesse participar das residenciais e comerciais. recarga em estacionamentos, pos-
“festas” regadas a bebida barata. O primeiro veículo Tesla – que tos de combustíveis e até nas ga-
Ele, claro, ficava só na água e no recebeu esse nome em homena- ragens dos prédios.
gem ao inventor sérvio Nikola
Tesla (1856-1963), nascido na atual Motores híbridos
Banco de imagens/Ex Libris

Croácia – foi o Tesla Roadster, de Existem dois tipos de veícu-


2012. Foi o primeiro modelo cria- lo elétrico: os híbridos e os com-
do por Elon Musk e custava cer- pletamente elétricos, também
ca de US$ 92 mil. Atualmente, chamados de plug-in electric. Os
a Tesla já lançou mais três mode- primeiros têm um motor a com-
los: S, X e o modelo 3, este último bustão que gera a eletricidade
com custo inicial de US$ 35 mil. necessária para alimentar a bate-
A Tesla fabrica somente 80 mil ria, e podem se movimentar tan-
veículos por ano, contra dez mi- to com a energia propiciada pelo
lhões de automóveis produzidos motor elétrico quanto pela com-
no mesmo período pelas monta- binação de eletricidade e combus-
doras tradicionais. Mesmo assim, tão interna.
já vale mais do que companhias Atualmente, os carros híbri-
como a Ford e a General Motors: dos são mais eficientes do que os
Elon Reeve Musk. isso ocorre porque a vanguarda e carros que utilizam o tradicional

aTualiza | OUTUBRO 2018


EM FOCO

Smile Fight/Shutterstock
C2       Identificar a presença e
aplicar as tecnologias
associadas às ciências
naturais em diferentes
contextos.

H6     R
  elacionar informações
para compreender manuais
de instalação ou utilização
de aparelhos, ou sistemas
tecnológicos de uso comum.

O funcionamento dos carros autôno-


mos, que circulam sem motorista e
representam uma aposta tecnológi-
ca para um futuro próximo, depende
de certos componentes que já fazem
parte dos automóveis atuais, como in-
dica o texto a seguir.

[...] basta pensar no funcionamento


do corpo humano: o carro também
possui um cérebro que comanda as
ações – no veículo, ele é chamado de
Os carros do futuro já estão chegando; o primeiro deles é o carro elétrico, que não polui. Unidade de Controle Eletrônico (ECU,
na sigla em inglês). Os sensores fazem
motor a combustão, sendo capa- autônomos, ou seja: serão capazes de a função dos olhos, ouvidos, tato... E,
zes de passar da imobilidade para se locomover sozinhos. por último, os atuadores, que transfor-
o movimento com grande rapidez. Esses veículos já circulam experi- mam informações em movimentos.
O primeiro modelo a se enquadrar mentalmente em cidades norte-ameri- Em uma pessoa, seriam os braços e
nessa modalidade foi o Prios, da canas. Além disso, tratores, colheitadei- as pernas.
montadora japonesa Toyota, lan- ras e caminhões autônomos já são uma Disponível em:
çado em 1997. realidade no mundo do agronegócio e <https://revistaautoesporte.globo.com/
Paralelamente aos carros elétri- em siderúrgicas de grande porte. En- revista/noticia/2017/03/como-funciona-
cos e aos motores híbridos, a in- tre as vantagens que, futuramente, os um-carro-autonomo.html>.
dústria automotiva também está carros autônomos poderão proporcio- Acesso em: 16 jun. 2018.
atenta ao uso das chamadas “cé- nar incluem-se a redução de acidentes,
lulas de combustível”: trata-se de uma vez que a chamada “falha humana” Diante disso, é correto afirmar que as
uma célula eletroquímica na qual deixará de existir; o aumento da produ- câmeras (que captam imagens de es-
atuam um agente redutor (com- tividade, visto que o tempo gasto hoje truturas, objetos e pessoas existentes
bustível) e um agente oxidante no trânsito poderá ser dedicado a tare- no entorno do automóvel), o controle
(comburente), com o objetivo de fas mais úteis; e uma maior inclusão das eletrônico de estabilidade (que per-
gerar energia elétrica. O modelo pessoas com deficiência. mite a frenagem do veículo) e o radar
que se encontra mais desenvolvi- O fato é que a indústria automotiva (que mede distâncias em relação aos
do tecnologicamente utiliza como vem sendo desafiada a se reposicionar objetos ao redor) estão relacionados,
reagentes o hidrogênio e o oxigê- e a pensar em novos modelos de negó- respectivamente, com
nio. Mas, por ora, o alto custo des- cios. Atualmente, as 50 maiores empre- a) atuadores, sensores e atuadores.
sa tecnologia inviabiliza seu uso sas automotivas do mundo têm, juntas, b) atuadores, sensores e sensores.
em larga escala. apenas 20% do valor de mercado totali- c) sensores, sensores e atuadores.
zado pelas 15 maiores empresas digitais. d) sensores, sensores e sensores.
Os carros andarão Ou seja: a tecnologia vale cada vez mais! e) sensores, atuadores e sensores.
sozinhos? E os carros do futuro, mesmo que não Resposta: e
Além de utilizarem novas fon- voem, poderão ser silenciosos e andar
tes de energia, os veículos do fu- sem necessidade de um piloto.
turo também poderão se tornar Por essa, nem McFly esperava!

OUTUBRO 2018 | aTualiza


34 | CIÊNCIAS DA NATUREZA
por silvia lakaTos
Kateryna Kon/Shutterstock

aTualiza | OUTUBRO 2018


O senso comum A reprodução das Existem bactérias de Há muitas enfermidades
associa bactérias a bactérias é assexuada, grande importância causadas por bactérias,
algo necessariamente geralmente por divisão ecológica, como as que as bacterioses, como
ruim: doenças, binária, em que ocorre participam do Ciclo do a cólera, também
feridas infeccionadas, a duplicação do Nitrogênio e as utilizadas conhecida como Vibrio
epidemias, dores, etc. cromossomo. Depois, a em “biorremediação cholerae, que pode ser
Mas as bactérias são célula se divide ao meio. do ambiente”. Explique adquirida pela ingestão
os seres mais antigos Mas existe também resumidamente como de água ou alimentos
e abundantes da Terra. outro tipo de reprodução funciona esse processo. contaminados. Cite
Como defini-las, então? bacteriana. Qual é? outros exemplos.

BactŽrias:
elas estão em todo lugar!

Q
uem nunca viu, nos rótulos unicelulares, autótrofos ou hete-
Elas podem ser úteis de sabonetes e desinfetantes, rótrofos, e podem apresentar di-
ou nocivas, ótimas a promessa de “eliminar 99% ferentes formas: esférica (cocos),
das bactérias”? O poder bac- de bastões (bacilos), espiraladas
para remediar o solo tericida é alardeado porque o (espirilo), de vírgula (vibrião), en-
ou altamente letais. senso comum associa as bac- tre outras. E são “procariontes”,
Proliferam-se em térias a algo necessariamente ou seja: organismos unicelulares
ruim: doenças, feridas infec- simples, que não possuem com-
ambientes inóspitos cionadas, mau cheiro, epide- partimentalização membranosa
e estão na Terra há mia, dor... dos seus produtos intracelulares.
aproximadamente Mas, afinal, o que exatamente são as bactérias? Em outras palavras: elas não apre-
As bactérias são os seres mais antigos da Terra sentam compartimentos dentro
3,8 bilhões de anos (com evidências encontradas em rochas de 3,8 bi- da célula (metabólitos dispersos
lhões de anos) e, também, os seres vivos mais abun- no citoplasma), nem núcleo ver-
dantes do planeta. Podem viver no ar, na água, no dadeiro (cromossomo disperso no
solo, submetidas a altas pressões e temperaturas, citoplasma).
e dentro do corpo de outros seres vivos. Por exem- A célula bacteriana é revestida
plo: a microbiota intestinal (antigamente chamada por membrana plasmática, que
de flora intestinal) do ser humano e de outros ani- delimita o citoplasma. Externa-
mais dispõe de incontáveis microrganismos – entre mente, existe um envoltório rígi-
eles, as bactérias intestinais, que desempenham pa- do, conhecido como parede bac-
pel fundamental para a síntese das vitaminas B e K, teriana ou membrana esquelética.
bem como dos ácidos biliares, que metabolizam es- Sua função é proteger a célula da
teróis e xenobióticos. entrada de água por osmose, pois
Sabia que temos aproximadamente 10 vezes mais isso poderia fazer a bactéria es-
bactérias em nosso corpo do que células humanas? tourar.
As bactérias pertencem ao Reino Monera, do qual Algumas podem ter uma cama-
fazem parte os organismos vivos de procariontes, da mais externa chamada cápsula,

OUTUBRO 2018 | aTualiza


36 | CIÊNCIAS DA NATUREZA

metamorworks/Shutterstock
exemplo, é causado pela bactéria
Clostridium botulinum transmiti-
da por meio da ingestão de alimen-
tos contaminados. Seus sintomas
são prisão de ventre, tontura, baixa
tolerância à luz e visão distorcida.
Latas estufadas de alimentos em
conserva costumam ser repositó-
rios desse tipo de bactérias.
Outro exemplo de doença acar-
retada por bactéria é a bruce-
lose, infecção causada por bacté-
rias do gênero Brucella. Pode ser
contraída pela ingestão de ali-
mentos de origem animal que es-
tejam contaminados, e acarreta
fadiga profunda, febre e dor de ca-
beça. O tratamento requer descan-
so, hidratação e antibióticos – mes-
mos cuidados, aliás, requeridos no
combate à cistite, doença crônica
caracterizada por uma irritação ou
inflamação na parede da bexiga.
Na maioria dos casos, a cistite é
que protege da desidratação, dos organismos vivos para fazer a des- causada pela bactéria Escherichia
ataques de bacteriófagos e da fagoci- contaminação do ambiente. Na coli, naturalmente presente no
tose, além de favorecer a fixação da biorremediação, certas bactérias
bactéria às células dos hospedeiros. são colocadas no ambiente para
Sua reprodução é assexuada, ge- que promovam a degradação de
ralmente por divisão binária (ou compostos tóxicos, como pestici- Ciclo do Nitrogênio
fissão binária), em que ocorre a du- das, ou para fazerem a acumulação
plicação do cromossomo. Depois, a de metal pesado presente no solo O Ciclo do Nitrogênio pode ser dividido
célula se divide ao meio, originan- ou na água. em algumas etapas:
do duas bactérias idênticas. Essa Na produção de alimentos, as • Fixação: as bactérias retiram o
divisão ocorre com grande veloci- bactérias são fundamentais para a nitrogênio do ar fazendo com que
dade, o que explica a rápida proli- transformação do leite em iogurte, este reaja com o hidrogênio para
feração bacteriana em infecções, coalhada ou queijo; para que sucos formar amônia.
por exemplo. de frutas ou destilados de cereais • Amonificação: bactérias e fungos
Outra forma de reprodução bac- se transformem em vinho; e para promovem a decomposição das
teriana é por meio de esporulação, a obtenção do fermento de pão. No proteínas e de outros resíduos
quando ocorre um espessamento campo da Medicina, as bactérias nitrogenados, transformando-os
do envoltório e o metabolismo é permitem desenvolver vacinas e em amônia.
interrompido, formando assim um medicamentos diversos; além dis- • Nitrificação: é o nome dado ao
esporo chamado endósporo. so, a engenharia genética já se vale processo de conversão da amônia
de bactérias geneticamente modi- em nitratos.
Úteis ou nocivas? ficadas para obter hormônios de • Desnitrificação: as bactérias
Existem bactérias com gran- crescimento e insulina. desnitrificantes (como, por exemplo,
de importância ecológica, como Mas, do mesmo modo que exis- a Pseudomonas denitrificans)
aquelas que participam do Ciclo tem bactérias úteis, também há transformam os nitratos em
do Nitrog•nio (veja o boxe) e as uma ampla varidade de bactérias nitrogênio, que retorna à atmosfera.
utilizadas em “biorremediação do nocivas, responsáveis por infecções Desse modo, completa-se o ciclo.
ambiente” – processo que utiliza e doenças letais. O botulismo, por

aTualiza | OUTUBRO 2018


EM FOCO

C3     A
  ssociar intervenções
que resultam
intestino, mas que pode se tor- Os exemplos de bacterioses, isto é, en- em degradação
nar patógena (isto é, prejudicial fermidades causadas por bactérias, são ou conservação
à saúde) quando a imunidade da muitos: a cólera, causada pela bactéria ambiental a processos
produtivos e sociais e a
pessoa está baixa. Vibrio cholerae, que pode ser adquirida instrumentos ou ações
No campo das enfermida- pela ingestão de água ou alimentos con- científico-tecnológicos.
des sexualmente transmissíveis taminados, acarreta desidratação in-
(DSTs), é bastante comum a ocor- tensa e pode levar à morte; a leptospi- H11     R
  econhecer benefícios,
limitações e aspectos
rência de clamídia, causada pela rose, que pode afetar seres humanos e éticos da biotecnologia,
bactéria Chlamydia trachomatis. animais e é transmitida por bactérias considerando
Seus principais sintomas são a do gênero Leptospira; a febre tifoide, estruturas e processos
vontade frequente de urinar e a mais comum em ambientes muito po- biológicos envolvidos
em produtos
presença de dor no baixo ventre, bres e precários, causada pela bactéria biotecnológicos.
no caso das mulheres, e de testí- Salmonella enterica sorotipo Typhi e
culos doloridos e inchados, em também transmissível pela ingestão de
pacientes homens. No tratamen- água ou alimentos contaminados. O diabetes melito e a hemo-
to, é necessário que tanto o ho- Mas nenhuma bacteriose assusta tan- filia A resultam da incapaci-
mem quanto a mulher tomem o to quanto as doenças causadas pelas dade de certas pessoas pro-
antibiótico recomendado, para “superbactérias”. duzirem proteínas essenciais
que não ocorra reinfecção. para o metabolismo (respecti-
Menos difundida que a clamí- Quase invencíveis vamente, o hormônio insulina e
dia, mas não menos perigosa, a São chamadas de “super” aquelas bac- determinados fatores de coagu-
gonorreia é causada pela bacté- térias que acumularam genes capazes de lação sanguínea). O tratamento
ria Neisseria gonorrheae, que pro- resistir à ação da maior parte dos antibió- dessas doenças foi aperfeiçoa-
voca sangramentos, dor e ardor ticos. Entre as espécies com maior re- do com o uso da biotecnologia,
ao urinar e um corrimento ama- sistência a antimicrobianos, sobressaem mais precisamente com a in-
relado, de odor muito forte. Seu a Staphylococcus aureus, a Acinetobacter trodução dos genes humanos
tratamento exige antibióticos e baumannii, a Enterococcus faecium, a que contêm as informações
a melhor forma de evitá-la é usar Pseudomonas aeruginosa, a Clostridium necessárias para a produção
preservativos. difficile, a Escherichia coli e a Klebsiella dessas proteínas em células
pneumoniae carbapenemases, conhecida bacterianas.
pela sigla KPC. As bactérias são úteis nesse
A KPC, também apelidada procedimento porque
de “bactéria da UTI”, repre- a) sua organização celular é
senta um grave problema semelhante à das células
nos hospitais do mundo humanas.
todo. Extremamente re- b) não há diferenças signi-
sistente, ela se reproduz ficativas entre proteínas
muito depressa (estima-se bacterianas e humanas.
que duplique de número a cada c) os ribossomos humanos
20 minutos) e atinge preferen- são derivados dos bacte-
cialmente pessoas com doen- rianos.
ças debilitantes, como câncer, ou d) interpretam as instruções
transplantadas. genéticas da mesma forma
O principal meio de prevenção que as células humanas.
contra as superbactérias é o uso e) suas moléculas de RNA
Luciano Cosmo/Shutterstock

correto dos antibióticos e a obe- mensageiro são as mes-


diência a um protocolo exemplar de mas existentes nas células
higiene, a fim de evitar a transmis- humanas.
são de bactérias para pacientes imu-
nodeprimidos. Resposta: d

OUTUBRO 2018 | aTualiza


38 | CIÊNCIAS DA NATUREZA
por cícero de ALmeIdA

O g•nio
Desacreditada
pela banca de
doutorado em
riu por œltimo
1884, a Teoria
da Dissociação
Eletrolítica, de
Svante Arrhenius,
foi posteriormente
consagrada,
valendo ao autor
o Prêmio Nobel de
Química de 1903
haryigit/Shutterstock

ATUALIZA  |  OUTUBRO 2018


Em 1884, o químico A teoria desenvolvida O fato de algumas Além da Teoria
Svante August por Arrhenius soluções conduzirem da Dissociação
Arrhenius defendeu, contrariava o Modelo corrente elétrica Eletrolítica ou Iônica,
no Instituto de Física Atômico de Dalton, e outras não intrigava Svante Arrhenius deu
de Estocolmo, sua segundo o qual os cientistas durante outras importantes
tese de Doutorado o átomo é uma o século XIX. contribuições
sobre descargas minúscula esfera Arrhenius encontrou científicas, como uma
elétricas através dos maciça, impenetrável, a solução para esse teoria sobre a cauda
gases. Explique por indivisível e dilema. Explique qual dos cometas. Mas
que a tese foi mal indestrutível. Explique foi essa solução. qual é a contribuição
recebida pela banca. a divergência. mais conhecida?

O
Banco de imagens/Ex Libris
ano era 1884. No Ins-
tituto de Física de Es-
tocolmo, capital da
Suécia, o jovem quí-
mico Svante August
Arrhenius, então com
25 anos, fazia a defesa
de sua tese de Doutorado sobre descargas
elétricas através dos gases, orientado pelo
eminente professor Erik Edlund. Obser-
vando as anomalias nas propriedades das
soluções de eletrólitos, substâncias solúveis
pela ação da eletricidade, Arrhenius desen-
volveu sua Teoria da Dissociação Eletrolíti-
ca. Segundo essa teoria, uma substância, ao
ser dissolvida em água, divide-se em partí-
culas menores. Quando essa divisão forma
apenas moléculas, a solução não conduz
energia. Quando forma íons, a solução se
torna condutora. Na época não se conhe-
ciam os prótons, elétrons e nêutrons e
então Arrhenius denominou as partí-
culas negativas ânions e as positivas
cátions. Em igual quantidade, elas
resultam em uma solução eletrica-
mente neutra. Svante August Arrhenius.
Essa teoria contrariava a teo-
ria então aceita, o Modelo Atômi-
co de Dalton, na qual o átomo é uma
minúscula esfera maciça, impenetrá-
vel, indivisível, indestrutível e sem carga.
A banca se indispôs contra Arrhenius e,
por essa razão, ele foi aprovado com a nota
mínima e muitas críticas.

OUTUBRO 2018  |  ATUALIZA


40 | CIÊNCIAS DA NATUREZA
Banco de Imagens/Ex Libris

O jovem doutor não se abalou substância, ao ser dissolvida em


com a reprovação e continuou com água, se divide em partículas me-
suas pesquisas. Enviou cópias nores. Em alguns casos, essa divi-
de sua tese a vários cientistas es- são se detém nas moléculas e a so-
trangeiros, tendo recebido apoio lução não conduz eletricidade. Mas
de muitos deles, entre os quais em outros casos as moléculas se di-
William Ostwald, Ludwig Boltz- videm em íons, permitindo a con-
mann e Jacobus van’t Hoff. Ar- dução da corrente elétrica.
rhenius foi estudar na Alemanha A mestre em Química, Bruna
e na Holanda e, em 1889, publi- Teixeira da Fonseca, explica que
cou seu trabalho, “Sobre a dis- Arrhenius descobriu que quanto
solução das substâncias no meio maior a concentração de íons em
aquoso”. Sua teoria acabou sendo solução maior é a velocidade com
aceita por toda a comunidade aca- que se deslocam, sendo maior a
dêmica, tornando-se um dos fun- condutividade elétrica da solução.
damentos da Eletroquímica e um Posteriormente, verificou-se que a
dos pilares da Físico-química. dissociação é um processo reversí-
vel e dependente da diluição, sen-
Arrhenius realiza experimento em laboratório. Uma longa jornada do praticamente completa em solu-
O fato de algumas soluções con- ções muito diluídas. “Este fato está
duzirem corrente elétrica e outras de acordo com a Lei da Diluição de
não intrigava os cientistas duran- Ostwald, proposta no final do sécu-
te o século XIX. Arrhenius encon- lo XIX”, explica Bruna.
trou a solução ao afirmar que uma
Designua/Shutterstock

Solução de água e sal Solução de água e açúcar

Representação de duas soluções: à esquerda, solução com presença de íons, capaz de conduzir corrente elétrica, e
à direita, solução não iônica, impossibilitando o funcionamento da lâmpada.

ATUALIZA  |  OUTUBRO 2018


EM FOCO

C7 Apropriar-se de
conhecimentos da Química
Arrhenius Aos poucos, Arrhenius foi sendo reconheci- para, em situações-
do em seu país. Em 1891 começou a dar aulas de -problema, interpretar,
cunhou a avaliar ou planejar
Física na Escola Técnica Superior da Universi-
expressão dade de Estocolmo. Cinco anos depois, em 1896,
intervenções científico-
-tecnológicas.
“efeito foi nomeado reitor do Real Instituto de Tecno-
logia de Estocolmo, passando depois a integrar H25 Caracterizar materiais ou
estufa”, substâncias, identificando
a Academia Sueca de Ciências. A consagração
afirmando veio em 1903, quando Arrhenius recebeu da
etapas, rendimentos ou
implicações biológicas,
que a Academia Real de Ciências da Suécia o Prêmio sociais, econômicas
queima de Nobel de Química “em reconhecimento dos ex- ou ambientais de sua
traordinários serviços prestados ao avanço da obtenção ou produção.
combustíveis Química através de sua Teoria da Dissociação
fósseis, Eletrolítica”.
como o O processo de refino eletrolítico,

petróleo, Ácidos, bases e sais usado industrialmente na purifi-


Arrhenius concluiu que algumas caracterís- cação de metais, consiste em dis-
aumentaria ticas se repetiam em alguns compostos e elabo- solver sucatas metálicas em um
a quantidade rou as seguintes definições para os ácidos, bases eletrólito, por meio de reações ele-
de dióxido de e sais: troquímicas, com a consequente
• Ácidos são compostos que em solução aquo- redução eletrolítica do íon do me-
carbono na sa se ionizam, produzindo como íon positivo tal que se quer refinar. A dissolução
atmosfera apenas o cátion hidrogênio (H+). do ânodo, constituído pelo metal
Exemplo: HNO3 → H+ + NO3– impuro, fornece íons à solução e
• Bases são compostos que em solução aquo- mantém sua concentração em ní-
sa sofrem dissociação iônica, liberando como vel adequado, enquanto no cátodo
único íon negativo o ânion hidróxido (OH–), ou é depositado o metal purificado.
oxidrila ou hidroxila. Um dos metais com maior rendi-
Exemplo: NaOH → Na+ + OH– mento nesse processo é o cobre,
• Sais são compostos iônicos que têm, pelo me- de elevado valor comercial, que
nos, um cátion diferente de H+ e um ânion di- tem índice de recuperação próxi-
ferente de OH–. mo de 100%. Em um processo de
Exemplo: NaCƖ (sal de cozinha) → Na+ + CƖ– recuperação de cobre puro foi ele-
trolisada uma solução de sulfato
Carreira profícua de cobre II (CuSO4) ao longo de três
Além da Teoria da Dissociação Eletrolítica ou horas, usando-se corrente elétrica
Iônica, Arrhenius deu outras importantes con- de 10 A de intensidade.
tribuições científicas: descobriu que a velocidade Considerando que a constante de
das reações químicas aumenta com a temperatu- Faraday (F) equivale a 96 500 C/mol
ra numa relação proporcional à concentração de e que a massa molar do cobre é de
moléculas existentes; cunhou a expressão “efeito 63,5 g/mol, a massa de cobre puro
estufa”, afirmando que a queima de combustíveis recuperada é, aproximadamente
fósseis, como o petróleo, aumentaria a quantidade a) 71,0 g
de dióxido de carbono na atmosfera e provocaria o b) 35,5 g
aumento da temperatura da Terra; formulou uma c) 2,40 g
teoria sobre as caudas dos cometas com base na d) 0,04 g
pressão de radiação. e) 0,02 g
Para o escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-
-1881), é uma observação trivial dizer que a socie- Resposta: b
dade considera os gênios, no início da sua carreira
e muitas vezes até no fim, parvos e loucos. Svante
Arrhenius foi um dos poucos a terem reconheci-
dos em vida seu talento e sua genialidade.

OUTUBRO 2018  |  ATUALIZA


42 | MATEMÁTICA
 por fernAndo porfIrIo de LImA

Álgebra:
da Pérsia à Itália
As teorias da Álgebra moderna foram criadas
no século VIII pelo persa Al-Khwarizmi e depois
transmitidas ao Ocidente por Leonardo de Pisa
frankie’s/Shutterstock

ATUALIZA  |  OUTUBRO 2018


Abu Jafar Muhammed
Ibn Musa Al-Khwarizmi
criou as bases da Álgebra
e é considerado um
dos matemáticos mais
importantes da História. Quais
foram as outras contribuições
desse estudioso para a
Matemática?

Cinco séculos depois de


Al-Khwarizmi, o italiano
Leonardo Fibonacci levou
seus trabalhos para a
Europa, propagando o uso de

N
numerais arábicos. Explique
ascido no século VIII, o per- como o italiano recuperou e
sa Abu Jafar Muhammed Ibn enriqueceu a obra do persa.
Musa Al-Khwarizmi é um dos
matemáticos mais importan- O livro mais importante de
tes da História. Ele criou as Al-Khwarizmi foi Al-jabr
bases teóricas para a Álgebra wa’l muqabalah, de onde se
moderna. Al-Khwarizmi es- originou o nome “álgebra”. O
creveu tratados sobre Aritmética, Álgebra, Astro- livro chegou ao Ocidente nas
nomia, Geografia e sobre o calendário. Tanto o tra- versões árabe e latina. Quem
tado sobre a Aritmética como o sobre a Álgebra incentivou o persa a escrevê-
constituíram o ponto de partida para trabalhos -lo e por quê?
posteriores e exerceram uma forte influência no
desenvolvimento da Matemática, principalmente A sequência de Fibonacci é
da Aritmética e da Álgebra. uma sequência na qual cada
Em seus trabalhos, descreve métodos para re- termo é a soma dos dois
solver equações lineares e quadráticas. Podemos termos que o precedem.
dizer que foi o responsável pelos fundamentos da Foi nomeada assim porque
Matemática ocidental. Cinco séculos depois, o ita- Fibonacci a descobriu. Qual é
liano Leonardo Fibonacci levou os ensinamentos a sucessão Fibonacci que tem
de Khwarizmi para a Europa, propagando o uso de 1 como primeiro termo?
numerais arábicos e dos algarismos de 0 a 9 para
representá-los.
Ao longo da Baixa Idade Média, no Islã, os árabes
tornaram-se patronos da cultura, traduzindo para O livro De numero hindorum
o árabe manuscritos hindus e gregos como Os ele- (Sobre a arte hindu de calcu-
mentos, de Euclides, o Almagesto, de Ptolomeu, além lar) foi, provavelmente, base-
de inúmeros trabalhos de Astronomia, Medicina ado numa tradução árabe de
e Filosofia grega, que posteriormente foram tra- Brahmagupta, e trata de uma
duzidos para o latim e outras línguas por inte- exposição completa dos nume-
lectuais europeus. rais hindus. A tradução para o
Em Bagdá, atual Iraque, foi criada a Casa de Sa- latim dessa obra contribuiu, na
bedoria, comparável ao antigo Museu de Alexan- Europa, para a divulgação des-
dria, onde se encontravam mestres como o mate- ses numerais que posteriormen-
mático e astrônomo Al-Khwarizmi (Maomé, filho te vieram a ser chamados de
de Moisés de Khwarizmi), que escreveu algumas algarismos, palavra que origi-
obras de Astronomia, tabelas sobre o astrolábio, nalmente deriva do nome de
relógio de sol, Aritmética e Álgebra. Al-Khwarizmi.

OUTUBRO 2018  |  ATUALIZA


44 | MATEMÁTICA

Seu livro mais importante foi No tratado representar o zero. Depois, expli-
Al-jabr wa’l muqabalah, de onde ca como escrever um núme-
se originou o termo “álgebra”.
de Aritmética, ro no sistema decimal de
Nesse livro, Al-Khwarizmi se ex- Al-Khwarizmi posição utilizando os 10
pressa inteiramente com palavras, introduz símbolos. Descreve as
mesmo os números são escritos operações de cálcu-
os nove
em palavras em vez de símbolos. lo (adição, subtração,
O texto contém uma exposição di- símbolos divisão e a multiplica-
reta e elementar da resolução de indianos para ção) segundo o méto-
equações, especialmente de se- representar do indiano e explica a
gundo grau. extração da raiz quadra-
Não se sabe ao certo os significa-
os algarismos da. Depois do cálculo com

Banco de imagens/Ex Libris


dos dos termos al-jabr e muqabalah; e um números inteiros, aborda o
mas supõe-se que al-jabr signifi- círculo para cálculo com frações (expres-
que restauração ou completação sando-as como a soma de fra-
representar
e refira-se à transposição de ter- ções unitárias).
mos subtraídos para o outro lado o zero O tratado de Álgebra es-
da equação e a palavra muqabalah crito por Al-Khwarizmi
signifique redução ou equilíbrio e data de cerca de 830 e
refira-se ao cancelamento de ter- tem o título Hisab
mos semelhantes em lados opos- al-jabr wa’l muqabalah,
tos da equação. cuja possível tradução seria
O livro Al-jabr wa’l muqabalah “o cálculo por completação (ou
Abu Jafar Muhammed Ibn
chegou ao Ocidente em duas ver- restauração) e redução”. Al-jabr Musa Al-Khwarizmi.
sões, a latina e a árabe. A tradu- é a operação que consiste em adi-
ção latina inicia-se com uma ex- cionar termos iguais a ambos os
posição do princípio posicional membros da equação para elimi-
para números e passa à resolução, nar os termos com coeficiente ne- Al-Khwarizmi afirma, na intro-
em seis capítulos, dos seis tipos de gativo e al-muqabalah a operação dução da sua Álgebra, com o título,
equações formadas com três espé- que se faz em seguida e que con- que o califa al-Mamum o encora-
cies de quantidades: raízes, qua- siste em adicionar os termos se- jou a escrever um pequeno traba-
drados e números (isto é, x, x ao melhantes. lho sobre o cálculo pelas regras de
quadrado e números). completação e redução, confinan-
No tratado de Aritmética, do-o ao que é mais simples e mais
Al-Khwarizmi introduz os nove útil na Aritmética, tais como as
símbolos indianos para represen- que os homens constantemente
tar os algarismos e um círculo para necessitam no caso das heranças,
partilhas, processos judiciais, e
comércio, e em todos os seus ne-
gócios com outros, ou na medição
de terras, na escavação de canais,
nos cálculos geométricos.
O livro é composto de três par-
tes. A primeira, sobre a Álgebra,
precede um breve capítulo sobre
as transações comerciais; a se-
Venomous Vector/Shutterstock

gunda é sobre a Geometria e a ter-


ceira parte, sobre as questões de
heranças. Al-Khwarizmi não usa
nenhum símbolo, nem sequer os
símbolos que descreverá poste-
riormente na sua Aritmética.

ATUALIZA  |  OUTUBRO 2018


EM FOCO

C1 Construir significados
para os números naturais,
No Ocidente, Leonardo Fibonacci, Para a obtermos, é necessário considerar inteiros, racionais e reais.
conhecido por Leonardo de Pisa, que o seu primeiro termo é igual a 1, e temos:
foi o primeiro matemático da Eu- • a1 = 1 H2 Identificar padrões
numéricos ou princípios de
ropa cristã medieval. Ele represen- • a2 = a1+ anterior = 1* contagem.
tou um papel importante reviven- * Neste caso, não possui antecessor, então
do matemáticas antigas e fazendo ele também ocupará a segunda posição. Con-
contribuições significantes. Liber tinuando: Descrita no final do século XII pelo
Abacci (Livro do Ábaco, 1202), seu • a3 = a2+a1= 1+1 = 2 italiano Leonardo Fibonacci, a se-
tratado em Aritmética e Álgebra • a4 = a3+a2 = 2+1 = 3 quência de Fibonacci é infinita e
elementar, introduziu o sistema • a5 = a4+a3= 3+2 = 5 começa com 1 e 1. Os números
hindu-árabe moderno de números Se continuarmos essa operação infinita- seguintes são sempre a soma dos
usando dez símbolos. Seu traba- mente, obteremos a seguinte sequência: 1, 1, dois números anteriores. Portanto,
lho original mais importante está 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, ... depois de 1 e 1, vêm 2, 3, 5, 8, 13,
em análise indeterminada e teoria Muitos trabalhos em Álgebra nasceram 21,… Ao transformar esses núme-
do número. Em A sequência de graças à curiosidade dos matemáticos em ros em quadrados e dispô-los de
Fibonacci, ele descreveu uma com- determinar essas proporções que possuem maneira geométrica, é possível tra-
pilação da Geometria do tempo e relação com a sequência de Fibonacci. Algu- çar uma espiral perfeita, que tam-
também introduziu alguma Trigo- mas dessas descobertas, tais como a propor- bém aparece em diversos organis-
nometria. ção áurea (ou o “número de ouro”), marca- mos vivos. Outra curiosidade é que
Na sequência de Fibonacci, cada ram a história da arte e também das ciências os termos da sequência também
termo é a soma dos dois termos exatas e da Terra. estabelecem a chamada “propor-
que o precedem. Foi nomeada as- Um exemplo de aplicação atual da sequên- ção áurea”, muito usada na arte,
sim porque Fibonacci foi o des- cia de Fibonacci está na análise do mercado na arquitetura e no design por ser
cobridor. A sucessão de Fibonacci, de ações. Alguns matemáticos defendem que considerada agradável aos olhos.
que tem 1 como seu primeiro ter- as flutuações do mercado financeiro obede- Seu valor é de 1,618 e, quanto mais
mo, é: 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, ... cem a um padrão de crescimento e decres- você avança na sequência de Fibo-
Os números também podem ser cimento que acompanha a sequência de nacci, mais a divisão entre um ter-
chamados números de Fibonacci. Fibonacci. Nem todas as suas propriedades mo e seu antecessor se aproxima
Essa equação é uma relação de re- e aplicações foram descobertas. O que pode desse número.
cursão, ou relação de recorrência, garantir um ótimo tema para pesquisas futu- Adaptado de:
que associa termos diferentes de ras para aqueles que desejam enveredar pela <https://mundoestranho.abril.com.
uma sequência ou de uma série. carreira de cientista. br/ciencia/o-que-e-a-sequencia-
A sequência de Fibonacci se de- de-fibonacci/>.
monstrou útil na teoria do núme- Acesso em: 18 jun. 2018.
ro, na Geometria, na teoria de fra-
ções contínuas e na Genética. Nos seis primeiros termos da se-
Essa sequência também é quência aparecem cinco dos dez
muito importante devido às algarismos – 1, 2, 3, 5 e 8. Confor-
suas propriedades e rela- me são definidos outros termos,
ções com a natureza. todos os demais algarismos apa-
recem. O último algarismo a surgir
como unidade de um termo da se-
quência de Fibonacci é
a) 0
b) 4
c) 6
d) 7
Banco de imagens/Ex Libris

e) 9 Resposta: c

Leonardo de Pisa.
OUTUBRO 2018  |  ATUALIZA
46 | LINGUAGENS
por LUIZ chAgAs
Banco de imagens/Ex Libris

Fachada do Teatro Oficina em São Paulo.

E agora, JosŽ? Há 60 anos era fundado o Teatro Oficina, que, sob a


batuta do diretor José Celso Martinez Corrêa, virou

O
símbolo da dramaturgia vanguardista brasileira
Teatro Oficina de José Celso
Martinez ou, como é chamado
atualmente, o Teat(r)o Ofici-
na Uzyna Uzona, há 60 anos en- a paisagem um elemento impor- Artístico Nacional) autorizou, no
cravado no bairro do Bixiga, em tante para a “atmosfera” do te- fim de maio último, o empresário
São Paulo, vive há algumas dé- atro. Zé Celso, inclusive, gosta- a erguer os prédios residenciais.
cadas uma situação desespera- ria de ocupar essa área, que ele Desde então, José Celso e seus co-
dora. Apesar de o prédio ter sido tombado em 1982 ironicamente batizou de “Sam- laboradores têm se mantido em
pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimô- Pã Anhangabaú da Feliz Cidade”, estado de alerta, promovendo reu-
nio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) e em um trocadilho com o principal niões, debates, eventos, tentando
transformado em teatro público, “sob gestão do Gru- produto do Grupo SS. Seriam ten- demover empresário e autorida-
po Oficina”, dois anos mais tarde, antes mesmo de ser das, um teatro-estádio – espécie des. Apesar do parecer do Iphan, a
remodelado de acordo com projeto da lendária arqui- de oca grega para 5 mil pessoas – a preservação do entorno do Ofici-
teta Lina Bo Bardi e de Edson Elito, seu entorno não é Universidade Antropófaga, a Ofi- na conta com o apoio de entidades
assegurado. O terreno em volta do teatro pertence ao cina de Florestas, tudo a cargo de como o Instituto de Arquitetos do
empresário e apresentador Silvio Santos, que há 30 arquitetos renomados como Pau- Brasil, o Comitê Brasileiro do Con-
anos tenta construir três torres residenciais de 28 an- lo Mendes da Rocha, João Batista selho Internacional de Monumen-
dares naquele espaço. Corrêa e Beatriz Pimenta Corrêa. tos e Sítios, a Associação Nacional
Tal iniciativa prejudicaria a criação dos arquitetos, É claro que Silvio Santos ri dis- de Pesquisa e Pós-Graduação em
reconhecida internacionalmente, e que é caracteri- so e, para piorar, o Iphan (Insti- Arquitetura e Urbanismo, a Seção
zada por uma parede de vidro de 150 m2, o que torna tuto do Patrimônio Histórico e Brasileira do Comitê Internacional

ATUALIZA  |  OUTUBRO 2018


Apesar de ter sido O Teatro Oficina Em 1967 o Teatro Nos anos 1990
tombado pelo surgiu em 1958 Oficina ganhou o Teatro Oficina
para Documentação e Conserva- Conselho de Defesa na Faculdade de notoriedade com a montou várias
ção de Edifícios, Sítios e Bairros e do Patrimônio Direito da USP, montagem da peça peças memoráveis,
do Instituto Lina Bo Bardi, é claro. Histórico, situada no Largo O rei da vela, de como Hamlet, As
Arqueológico, São Francisco, Oswald de Andrade. Bacantes e Cacilda!,
Esse espírito de luta está no Artístico e Turístico onde a maioria dos No ano seguinte, foi todas dirigidas
DNA do Teatro Oficina, grupo for- (Condephaat), o seus componentes a vez de Roda viva, por José Celso
mado em 1958 na Faculdade de Teatro Oficina está estudava. Qual foi de Chico Buarque. Martinez Corrêa.
ameaçado. Explique a primeira peça O que aconteceu na Qual foi a principal
Direito da USP, situada no Largo por que o grupo dirigida por José montagem desta “montagem-
São Francisco, onde a maioria de está lutando. Celso Martinez última? -maratona” do
seus componentes estudava. O ca- Corrêa? grupo?
sarão no Bixiga, ocupado pelo Te-
atro dos Comediantes, só entraria
na história três anos mais tarde. O
tal Bixiga, apelido carinhoso usa- Em 1968, la da Globo. Caberia ao Oficina o e hoje empresta seu nome para a
do até hoje para o bairro Bela Vis- posto de contestador. sala ocupada pelo Teatro de Arena
Roda viva,
ta, reunia os principais teatros, Além de José Celso Martinez original. Os pequenos burgueses,
restaurantes e casas noturnas – de Chico Corrêa, os criadores do grupo fo- de Maximo Gorki, montada em
além da escola de samba Vai-Vai – Buarque de ram Amir Haddad, que deixaria a 1963, às vésperas do golpe militar,
e por isso mesmo era chamado de Hollanda, turma em 1960 indo trabalhar no consolidou a fama de encenador
“Broadway paulista”. Rio, Carlos Queiroz Telles, faleci- de Zé Celso. Três anos mais tarde,
Os antecessores do Oficina são foi proibida do em 1993, autor de A ponte, a pri- depois de dirigir Os inimigos, do
dali também. O prédio original do em alguns meira peça encenada pelo Oficina mesmo autor, com visual de Flávio
TBC (Teatro Brasileiro de Comé- lugares, e, principalmente, Renato Borghi, Império e músicas de Chico Buar-
dia), fundado em 1949 por Fran- um ator carioca que entraria para que de Hollanda inspiradas em te-
o Teatro
co Zampari, dentro do espírito companhia em 1960, um ano antes mas russos, viu seu teatro ser con-
empreendedor italiano que nos Oficina foi da primeira montagem profissio- sumido pelo fogo. O prédio, cujo
deu a Companhia Cinematográfi- invadido e nal e consequente mudança para o palco era semelhante ao dos dias
ca Vera Cruz e o Masp, fica a um os atores casarão da rua Jaceguay, hoje asse- de hoje – um corredor ladeado pe-
quarteirão, por exemplo. Zampari diado por Silvio Santos. las plateias em arquibancada –, foi
importou técnicos e diretores de espancados A vida impressa em dólar, do nor- substituído pela concepção italia-
seu país – entre eles Adolfo Celi, – tudo isso te-americano Clifford Odets, mar- na palco versus plateia.
que faria fama mais tarde como vi- às vésperas cou a estreia de Zé Celso como di- E foi nesse palco que estreou
lão dos filmes de 007 – e estreou retor, e a presença de nomes como O rei da vela, o texto de Oswald de
com La Voix Humaine, de Jean
do Ato Fauzi Arap, Célia Helena e Eugênio Andrade cuja montagem anárqui-
Cocteau, estrelada por Henriette Institucional Kusnet no elenco. Kusnet foi um ca, com Borghi à frente do elenco,
Morineau, que a interpretou em número 5, grande conhecedor do dramatur- aproximou o Oficina da efervescên-
francês. Dele saíram grandes ato- go russo Constantin Stanislavski cia mundial, juntando a nascente
que
res como Cacilda Becker, Paulo
Autran, Nydia Licia, Sergio Car- radicalizou
doso e Cleyde Yáconis. a ditadura
Naturalmente o Teatro de Are-
na, fundado em 1953 perto do que
é hoje a Praça Roosevelt, por José
Renato, Sérgio Brito e Flávio Mi-
gliaccio – aos quais mais tarde se
juntaria Gianfrancesco Guarnie-
ri – seguiria na direção oposta,
buscando a temática brasileira e
Banco de imagens/Ex Libris

a popularização do teatro. Não é


à toa que seus integrantes forma-
riam a nata da televisão brasilei-
ra – Brito criaria o Grande Teatro
Tupi e dirigiria a primeira nove-
Interior do Teatro Oficina.

OUTUBRO 2018  |  ATUALIZA


48 | LINGUAGENS
EM FOCO

C4 Compreender a arte
Arquivo Teatro Oficina

Jennifer Glass
como saber cultural
e estético gerador de
significação e integrador
da organização do mundo
e da própria identidade.

H12 Reconhecer diferentes


funções da arte, do
trabalho, da produção dos
artistas em seus meios
culturais.
O rei da vela, 1967.

Nascido sob influência direta do


Arena, o Teatro Oficina [...] fazia
um teatro “nitidamente compro-
Tropicália, Helio Oiticica, Glau- metido na luta contra o imperia-
ber Rocha, Paris em chamas e a lismo estrangeiro”. [...] Em 1963,
ditadura no Brasil. Roda viva, de porém, ao montar Um bonde
Camila Mota e Zé Celso Martinez Corrêa em Cacilda!, 2017.
Chico Buarque, cristalizou o cho- chamado desejo, de Tennessee
que, foi proibida em alguns luga- Williams, o Oficina começaria a se
res, o teatro invadido, atores es- afastar do Arena, buscando seus
pancados – tudo às vésperas do próprios caminhos. Em breve, o
AI-5. Em seguida, Zé montou dois Zé foi preso em 1974, depois de montar o Oficina se aproximaria do teatro
textos de Brecht, Galileu Galilei, filme O rei da vela, lançar o Oficina-Samba de vanguarda europeu, antiaca-
tolerado por todos, e Na selva das e um documento intitulado S.O.S. O diretor dêmico, “sujo” e agressivo, dis-
cidades, novamente com Borghi passou 20 dias na cadeia e deixou o país para posto a seguir uma linha de “pro-
à frente, que foi recebido como o só voltar quatro anos depois. Passou os anos vocação cruel e total”. O Oficina já
símbolo do teatro da violência. 1980 sendo classificado de “agitador cultu- estava nessa fase quando, em ja-
E foi aí, em 1970, o auge da ex- ral” – ou “decano do ócio”, segundo o jorna- neiro de 1968, montou Roda viva,
perimentação cênica, dias de “ex- lista Telmo Martino. Finalmente estreou As de Chico Buarque. A reação da
pressão corporal”, que Renato boas, de Jean Genet, em 1991, na qual atuou direita foi, no mínimo, previsível.
Borghi tratou de aproximar o gru- ao lado de Raul Cortez. Mas o teatro mes- Adaptado de: BUENO, Eduardo.
po estadunidense underground mo, que permaneceu fechado durante todo Brasil: uma história. São Paulo:
Living Theater, de Julian Beck e o tempo em que se ausentou, só foi reaber- Ática, 2007.
Judith Malina, do rebelde Ofici- to com Hamlet, três anos mais tarde. E, aos
na. Depois de workshops e uma poucos, ao lado de gente nova como Marcelo A “reação da direita” a que se
tentativa de excursão conjunta, Drummond e Denise Assunção, entre outros, refere o texto está inserida no
enquanto Zé Celso concebia o Te- Zé-Oficina-Uzyna-Uzona foi reavendo seu contexto
-Ato, o Living era expulso do país. papel de catalisador da juventude. O teatro a) da redemocratização brasilei-
Mesmo assim, as experiências de Lina há quase três décadas tornou-se um ra, ocorrida alguns anos antes.
foram cristalizadas no espetáculo point. Bandas são formadas ali, carreiras são b) do apoio à renovação cultu-
Gracias, señor, maratona de mais desenhadas, as pessoas vão e vêm. ral brasileira que ocorria no
de oito horas distribuídas em dois As peças-maratonas, como a montagem período.
dias, em que a divisão público e de Os sertões, de Euclides da Cunha, dividida c) do endurecimento do regime
elenco era literalmente aboli- em cinco partes (e que viajou o mundo com militar por meio da edição do
da. A subsequente montagem de uma versão de 26 horas e 70 pessoas), cum- AI-5.
As três irmãs, de Anton Tchekhov, priram temporadas com a lotação esgotada, d) da aproximação com o teatro
marcou a saída de Borghi do e assim gerações de atores e público vêm se praticado nos Estados Uni-
grupo, anunciada em cena, e o formando à sombra do Oficina. Até Renato dos e na Europa.
encerramento das atividades do Borghi se reaproximou de Zé Celso para uma e) da renovação da linguagem
Oficina, cujo nome agora con- remontagem comemorativa de O rei da vela. promovida pelos jovens dra-
fundia-se com Zé Celso, acossa- Zé virou um sucesso. maturgos.
do pela censura. Pelo menos enquanto seu Sílvio não vem.
Resposta: c

ATUALIZA  |  OUTUBRO 2018


ENCARE ESSA! 49
DESAFIOS PARA O SEU RACIOCÍNIO

Cientistas das universidades de Oxford (na Inglaterra) e de Yale (nos


Estados Unidos) estimaram quantos anos serão necessários para que a
Inteligência Artificial supere os seres humanos em diferentes campos de
atividades. Assinale, no quadro, o ano que os cientistas estimam que cada

Macrovector/Shutterstock
atividade humana será emulada. Tome como referência a
sofisticação envolvida em cada atividade – quanto mais
complexa, mais distante.

Atividade Ano

Vencer a Série Mundial de Pôquer


Trabalhar como operador telefônico de banco
Ler fluentemente textos em voz alta
Escrever textos em nível de Ensino Médio
Criar música campeã das paradas dos Estados Unidos
Vencer atleta profissional em corrida de 5 km
Criar e comprovar teoremas matemáticos inéditos

Matem‡tica ‡urea
A sequência numérica 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, ... – conhecida como
sequência de Fibonacci – tem seu n-ésimo termo definido por
F(n) = 1, se n = 1 ou n = 2 e F(n) = F(n – 1) + F(n – 2), se n > 2.
1. Determine a soma dos dois menores números primos
componentes dessa sequência localizados após o é obtida dividindo-se 987 por 610 = 1,618.
décimo termo. 2. 15o termo: 610; 16o termo: 987. A proporção áurea
1. 89 (11o termo) + 233 (13o termo) = 322
Matemática áurea
2. Demonstre a proporção áurea a partir do 15o e
do 16o termos da sequência. artificial-superar-os-humanos/>. Acesso em: 17 jun. 2018.
tecnologia/quanto-tempo-falta-para-a-inteligencia-
Com informações de: <https://super.abril.com.br/
matemáticos inéditos
2060 Criar e comprovar teoremas
corrida de 5 km
2029 Vencer atleta profissional em
paradas dos Estados Unidos
2028 Criar música campeã das
Ensino Médio
2027 Escrever textos em nível de
voz alta
2026 Ler fluentemente textos em
telefônico de banco
2025 Trabalhar como operador
2021 Vencer a Série Mundial de Pôquer

Ano Atividade

Domínio da inteligência artificial


Respostas:

OUTUBRO 2018  |  ATUALIZA


50 DIÁLOGO COM A ARTE
EXPRESSÕES DA SENSIBILIDADE HUMANA

Favela I, In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018.

Ao chegar ao Brasil em 1923, Lasar Segall ficou impressionado com


as favelas do Rio de Janeiro. Essas habitações improvisadas para
pessoas de baixa renda estão presentes em outras obras do pintor.
Favela I foi pintada entre 1954 e 1955 em óleo com areia sobre tela e
está exposta no Museu Lasar Segall, em São Paulo.

ATUALIZA  |  OUTUBRO 2018 Técnica: óleo sobre tela • Dimensões: 65 cm × 50 cm


CIÊNCIAS DA NATUREZA
OS PLÁSTICOS

LINGUAGENS
O DESDOBRAR DA LINGUAGEM

MATEMÁTICA
COMBINAÇÕES COMPLETAS

CIÊNCIAS HUMANAS
A INDÚSTRIA CULTURAL

REDAÇÃO
QUESTÕES SOCIAIS NA REDAÇÃO DO ENEM
#atualize-se

O Enem está chegando!


Nos dias 4 e 11 de novembro de 2018, você enfrentará o desafio da
prova do Enem. No dia 4, esperam por você as provas de Linguagens
e Ciências Humanas, além da Redação (lembre-se de uma das novida-
des da prova para este ano: a redação que desrespeitar os Direitos Hu-
manos perderá 200 pontos!). No dia 11, será a vez de encarar as áreas
de Ciências da Natureza e Matemática (outra novidade: ampliação de
30 minutos na duração do segundo dia de provas). Você que acompa-
Atualiza Enem é um suplemento da revista
Atualiza.
nha trimestralmente as edições de nossa revista Atualiza sabe de nosso
empenho em levar os melhores conteúdos do exame para sua escola,
Diretoria editorial seja pelas reportagens, entrevistas e dicas de leitura, seja pelo suple-
Renata Mascarenhas
mento dedicado a ampliar os conteúdos escolares das mais variadas
Coordenação editorial disciplinas. Nesta última edição do ano, preparamos mais uma seleção
Renato Tresolavy especial de conteúdos para o caderno Atualiza Enem, com temas que
Autores
julgamos relevantes para sua preparação para a prova.
Linguagens e Redação: Na área de Linguagens, a autora do artigo “O desdobrar da lingua-
Texto e Forma gem” chama a atenção para a importância de compreender a lingua-
Matemática:
gem conotativa bastante presente no texto literário. O artigo defende
Rafael Zattoni
Ciências da Natureza (Química): que a compreensão da conotação é fundamental para desenvolver uma
Viver Matemática das habilidades previstas na matriz do Enem: “Estabelecer relações
Ciências Humanas (História): entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos
Paula Nomelini
do contexto histórico, social e político”. Em Redação, abordamos o de-
Edição safio de se discutirem questões sociais na prova. É interessante obser-
Renato Tresolavy var que o artigo nos faz refletir sobre uma das competências da matriz
Revisão do Enem exigidas na área de Ciências Humanas: “Utilizar os conheci-
Hélia de Jesus Gonsaga (ger.), Kátia Scaff mentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da ci-
Marques (coord.), Rosângela Muricy (coord.), dadania e da democracia, favorecendo uma atuação consciente do indi-
Ana Curci, Ana Paula C. Malfa, Arali
Gomes, Claudia Virgilio, Daniela Lima,
víduo na sociedade”.
Gabriela M. Andrade, Luís M. Boa Nova, Em Matemática, o tema é Combinação. No exame do ano passado,
Luiz Gustavo Bazana e Patricia Cordeiro algumas questões envolveram a habilidade de identificar padrões nu-
Arte
méricos a partir da análise combinatória. No artigo, trabalhamos na
Daniela Amaral (ger.), Catherine Saori seção “Em Foco” uma questão do Enem 2017 sobre esse tema. Em
Ishihara (coord.), Daniel de Paula Elias (ed. de Arte) Ciências Humanas, o assunto é indústria cultural e cultura de mas-
sa. A abordagem desse assunto traz reflexões sobre os papéis dos
Capa
Daniel de Paula Elias meios de comunicação na construção da vida social. A indústria cul-
tural mais aliena do que informa? Nas Ciências da Natureza, o artigo
Foto da capa
aborda o advento dos plásticos e a revolução que esse material causou
Vikentiy Elizarov/Shutterstock
na vida cotidiana. Os plásticos são geralmente econômicos, práticos,
Impressão e acabamento
adaptáveis, mas também se tornaram um problema ambiental cada
vez mais sério por causa das montanhas de lixo que produzem. No es-
SER, GEO, MAXI e ÉTICO tado do Rio de Janeiro, por exemplo, canudinhos de plástico serão ba-
DIVISÃO DE SISTEMAS DE ENSINO
Av. das Nações Unidas, 7221 nidos de bares, restaurantes e quiosques, e substituídos por canudos
Pinheiros – CEP 05425-902 de papel biodegradável.
São Paulo – SP Nossa equipe editorial torce para que todas as edições da revista pu-
Reprodução proibida.
blicadas em 2018 tenham atendido suas expectativas e ajudado você a
Todos os direitos reservados. se preparar para o Enem. Neste finalzinho de ano, vale fazer aquele úl-
timo esforço nos estudos, talvez focando suas energias para minimizar
seus pontos mais fracos, afinal já não é mais possível perder tempo com
Uma publica•‹o assuntos que já estão dominados. Desejamos a você sucesso na prova e
Central de atendimento às escolas que você conquiste a vaga de seus sonhos em uma excelente universi-
0800 772 0028 dade. Um grande abraço!
Renato Tresolavy, editor

52
Linguagens
L
L inguag

O desdobrar da linguagem Em profundidade


A língua é de uma flexibilidade invejável. Às vezes, ao não querer dizer o todo, o emissor
a reduz, ele a concentra, resume e esconde parte do que diz, obscurecendo nas entrelinhas Leia
o que pretende ocultar, omitindo o que a ele pode causar um problema ou um constran-

Reprodução/Ateliê Editorial
gimento. Nesse caso, o emissor constrói lacunas que serão – ou não – preenchidas pelos
leitores. Mas o que se flexiona também pode ser desdobrável e expandir-se, alongar-se,
multiplicar-se em camadas.
Eis a enorme potência das figuras de linguagem: elas permitem que algumas palavras
acolham um mundo de significados. Assim como o eu lírico de Drummond “tinha duas
mãos e o sentimento do mundo”, a linguagem figurada faz caber um universo em duas pa-
lavras. Não é difícil entender como isso acontece. Na linguagem denotativa, aquela em que
as palavras são usadas com o sentido que apresentam nas páginas dos dicionários, aquilo
que se diz é do tamanho do que foi dito: “A casa tem 78 m2 de área útil” – e aí está o todo
daquilo que se diz.
Já na linguagem conotativa, aquela que extrapola as acepções das páginas dos dicioná-
rios, há uma mágica: os sentidos se multiplicam, refletem-se e refratam-se, espalham-se
para todos os lados – crescem, inflam, incham, tornam-se espécies de células de sentidos, TATIT, Luiz. Análise
túrgidas, grávidas de hipóteses e potencialidades a serem exploradas pelos leitores. As- semiótica através das letras.
sim, “A casa tem cheiro de infância” é muito mais do que o todo registrado por escrito, são Cotia: Ateliê, 2008.
muitas mais as palavras, além das seis que aparecem diante dos olhos. Com base na análise de letras
como as de “Asa branca”
e “Saudosa maloca”, por
Andre Luiz Moreira/Shutterstock

exemplo, Luiz Tatit demonstra


o método semiótico de
abordagem do texto. São
ao todo 15 letras de canções
brasileiras analisadas por
meio dessa prática. O livro é
uma boa ferramenta para a
ampliação de procedimentos
de análise e interpretação do
texto e contribui, ainda, para
a sistematização de conceitos
que ajudam a melhorar a
própria composição escrita.

Estátua de Carlos Drummond de Andrade na praia de Copacabana, Rio de Janeiro. Drummond foi
um dos mais influentes poetas brasileiros do século XX.

Por isso – e não à toa – a linguagem conotativa aparece recorrentemente em provas. E não
é diferente no Enem. A linguagem conotativa, que inquieta percepções, é parte constituti-
va de praticamente todo texto literário. E o texto literário é parte constitutiva de toda pro-
va. Naquelas, especialmente, em que se pretende explorar, no candidato, sua capacidade
de descortinar a linguagem escrita, compreendendo que os textos devem ser descobertos
em camadas – escavados como se faz nas descobertas de um fóssil em sítio arqueológico –,
esse trabalho é ainda mais frequente. Mais uma vez, aparece-nos como norte a prova
do Enem.

53
A partir da certeza de que será necessário reconhecer e interpretar a linguagem conotativa, além de analisar textos com base
nessa compreensão, então partimos para outro movimento: o de saber quais habilidades (especialmente leitoras) são necessá-
rias para que se faça esse reconhecimento, para que se acerte nessas interpretações, para que se analisem esses textos escritos
com base na conotação.
O primeiro passo sempre será a percepção – todo leitor precisa ter, diante de um texto, uma daquelas pulgas-atrás-da-orelha
(nada mais conotativo que isso), daquelas desconfianças-do-bem de se questionar: se estou diante de um texto literário, é muito,
muito provável mesmo que ele seja criado com preocupações estéticas ou de construção de sentidos. Trocando – conotativamente
– em miúdos, isso significa que, em uma notícia, em regras de jogo, numa receita ou em um texto de divulgação científica, muito
provavelmente o que se pretendia era o sentido literal, o mais claro possível, o mais direto e objetivo. Em movimento diametral-
mente oposto, os textos literários se estruturam para serem múltiplos. Neles – um conto, um romance, uma crônica, um poema! –,
é bem provável que haja conotação (metáforas, metonímias, hipérboles e hipérbatos, sinestesias ou paradoxos)... e é imprescindí-
vel que, ao lê-los, abramos os olhos para isso. Desconfiemos mesmo: por que isso está aqui, assim, em determinada ordem?
Um bom caminho é saber bem os conceitos de sinonímia, antonímia, paronímia e homonímia, além de reconhecer bem pelo
menos boa parte da longa lista de figuras de linguagem estudadas por aí. Sinônimos (palavras aproximáveis em sentido) e an-
tônimos (palavras oponíveis em sentido) são mais naturais para quem estuda a Língua Portuguesa. Mas parônimos (palavras
que se podem confundir por alguma razão) e

Daxiao Productions/Shutterstock
homônimos (palavras coincidentes na escrita,
no som ou em ambos) não costumam estar en-
tre os termos que mais usamos – e, por isso, é
preciso revisitar esses conceitos.
Da mesma maneira, no caso das figuras de
linguagem, antítese (uso de termos de sentidos
oponíveis entre si) ou eufemismo (ideias des-
confortáveis atenuadas) são comuns, enquanto
lítotes (ideia sugerida pela negação de seu con-
trário) e hipálage (transposição da relação entre
elementos) precisam ser revistas, de tempos em
tempos. Por isso, retomar capítulos, seções ou
baterias de exercícios de figuras de linguagem é
outro passo no caminho do acerto.
Assim são dados, então, dois passos até o alvo:
a desconfiança necessária diante do texto lite-
rário, de que ele foi produzido para se expandir
em sentidos e a segurança de reconhecer as re-
lações de sentido entre as palavras e as figuras
de linguagem. Tudo isso feito, resta o que talvez
seja o passo mais importante: abrir-se para o
texto, sensibilizar-se para sua leitura, acolhê-lo.
É claro que, quase sempre, em uma prova, a ten-
são pode prejudicar um pouco essa abertura – é
preciso ter o cuidado de não ler os textos de uma
prova buscando neles apenas seus significados,
é preciso compreender sentidos: afinal, é neles
que o texto se mostra inteiro.
Por fim, é o momento de realmente desven-
dar a questão, quando ela estiver diante dos
olhos. No enunciado, verbos como “deduzir”,
“inferir” e “compreender” podem apontar um
pedido de análise da linguagem conotativa ou
o reconhecimento de figuras de linguagem. Se-
guindo essas pistas e abrindo os braços para
receber o texto, com seus sentidos e reentrân-
cias, com suas explosões de significados e suas
veredas, a chance de acertar no alvo nas ques-
tões que exigem a compreensão da conotação “Chorar pelo leite derramado”: expressão de sentido conotativo que significa que
aumenta consideravelmente. não vale a pena lamentar por algo que já aconteceu.

54
Linguagens
Em foco C4 Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do
mundo e da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.

(Enem)
Reprodução/Enem, 2015.

O Surrealismo configurou-se como uma das vanguardas artísticas europeias do início do


século XX. René Magritte, pintor belga, apresenta elementos dessa vanguarda em suas
produções. Um traço do Surrealismo presente nessa pintura é o(a)
a) justaposição de elementos díspares, observada na imagem do homem no espelho.
b) crítica ao passadismo, exposta na dupla imagem do homem olhando sempre para frente.
c) construção de perspectiva, apresentada na sobreposição de planos visuais.
d) processo de automatismo, indicado na repetição da imagem do homem.
e) procedimento de colagem, identificado no reflexo do livro no espelho.
Resposta: a
É preciso observar o contraste que se revela entre a posição em que se encontra o
homem retratado e sua imagem refletida no espelho. Embora ele apareça de costas para
o observador do quadro, o que se reflete à sua frente não é seu rosto, mas a parte de trás
de sua cabeça. Como que em um paradoxo, a pintura de Magritte revela algo que não
se poderia configurar na realidade: aparece refletida a parte do corpo do homem que
não está voltada para o espelho. Não parece haver crítica ao passadismo, já que, apesar
de o homem olhar para a frente, o que se reflete são suas costas. Embora se perceba a
construção de perspectiva, a técnica não pode ser considerada um traço do Surrealismo.
A repetição da imagem do homem tem relação com a criação de uma situação irreal, e não
com o automatismo, típico de outras vanguardas europeias do início do século XX. Por fim,
no reflexo do livro no espelho, não se observa a técnica da colagem, já que, assim como
todo o resto do quadro, o objeto parece pintado na posição em que aparece.
MAGRITTE, R. A reprodução proibida.
Óleo sobre tela, 81,3 cm 3 65 cm. Museum
Boijmans van Buningen, Holanda, 1937.

Atividades
Leia a tira a seguir, de Calvin, para responder às questões 1 e 2.

© 1986 Bill Watterson/Dist. By Atlantic Syndication/


Dist. by Andrews McMeel Syndication

Disponível em: <http://centraldastiras.blogspot.com>.

1 C6/H18 Às vezes, em textos escritos, especialmente literários, d) fazer a lição seria uma atividade simples, rápida, ágil como a
é preciso desvendar aquilo que não está dito ou que se diz de outra passagem de um cometa.
forma. Os jogos de sentidos são os responsáveis por fazer do texto e) o tigre Haroldo não compreendeu suas reais intenções ao
literário uma espécie de prisma de onde partem raios diversos e em mencionar a passagem do cometa.
múltiplas direções. Nos quadrinhos, por exemplo, quando Calvin
afirma que fará a lição, ele ao mesmo tempo deixa transparecer que 2 C1/H1 Um “arauto do juízo final” é uma espécie de responsável
a) a ideia de o cometa acabar com o mundo não era tão ruim quanto por anunciar o fim – nesse caso, o fim dos tempos. Para dizer a
ele fez parecer. Haroldo que o cometa é um antecipador do fim do mundo, Calvin
b) se sente aliviado pela notícia de que não acontecerá a passagem usa uma
do cometa. a) metonímia. d) metáfora.
c) o tigre – e seu parceiro, Haroldo – não tem certeza do que diz ao b) paronomásia. e) antonomásia.
negar o fim do mundo pela passagem do cometa. c) hipérbole.

Gabarito 1. a 2. d
Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.

55
m
M atemátic
Matemática

Em profundidade
Combinações completas
Uma sorveteria faz semanalmente uma promoção em seus produtos.
Leia A desta semana é a de que o cliente, ao comprar uma taça com três bolas de sorvetes, in-
Reprodução/Editora Bookman dependentemente dos sabores escolhidos, terá um desconto no preço de cada bola.
Quatro amigas (1, 2, 3 e 4) interessadas nessa promoção foram até a sorveteria dispostas
a adquirir cada uma delas uma das taças.
Chegando lá, verificaram que o estabelecimento possuía apenas 7 sabores disponíveis.
Assim, fizeram seus pedidos da seguinte maneira:
Amiga 1: Três bolas de sabores iguais.
Amiga 2: Três bolas de sabores distintos.
Amiga 3: Três bolas escolhidas aleatoriamente, podendo ou não repetir sabores.
Amiga 4: Pelo menos uma das três bolas ser de chocolate.
LIPSCHUTZ, Seymour; Observe que, para qualquer um dos pedidos, a ordem dos sabores nas taças é irrelevante.
LIPSON, Marc. Matemática A partir daí foi levantado o seguinte problema: de quantas maneiras distintas cada uma
discreta. 3. ed. Porto Alegre: delas poderia fazer os pedidos, levando-se em consideração que o sabor chocolate é um
Bookman, 2013. (Schaum). dos que compõem as opções da sorveteria?
Este livro tem o objetivo de Para os pedidos das amigas 1 e 2, a solução do problema é simples.
ajudar estudantes a entender Veja por quê.
e a usar sistemas finitos, que
têm se tornado cada vez mais
Como a escolha da amiga 1 é por três bolas de sabores iguais, e a sorveteria oferece sete
importantes à medida que a opções de sabores, é imediato que o número de escolhas dessa pessoa seja 7.
era do computador avança. Já a amiga 2 deve combinar os 7 sabores oferecidos pela sorveteria de 3 em 3, já que a
O capítulo 6 é destinado ordem das bolas na taça é irrelevante. 7! 7⋅6⋅5
às “Técnicas avançadas Assim, o número de escolhas para a amiga 2 é dado por C 7,3 = = = 35
de contagem”, contendo as 3! ⋅ 4! 3⋅ 2
maneiras.
Combinações completas.
Vamos analisar agora o número de escolhas das amigas 3 e 4.
Acesse Ambas farão combinações de sabores, porém poderá haver elementos repetidos nessas
O site <https://portaldosaber. composições.
obmep.org.br/uploads/ Nos estudos de Análise combinatória, quando queremos permutar n elementos de
material_teorico/c7ulccajve8sc.
um conjunto (ou seja, levando-se em consideração a posição do elemento na sequên-
pdf> apresenta um material
teórico intitulado “Métodos cia), onde um deles comparece α vezes, outro comparece β vezes, outro comparece γ ve-
sofisticados de contagem”, no zes, e assim por diante, temos que essa permutação Pnα , β, γ , ... é dada por:
qual há uma aula que abrange n!
Pnα , β, γ , ... =
as combinações, com diversos α ! ⋅β! ⋅ γ ! ⋅ ...
exercícios resolvidos de
maneira simples e clara.
Lembre-se de que, no caso das amigas 3 e 4, a ordem dos elementos é irrelevante e
a quantidade de sabores a serem escolhidos é menor que os oferecidos pela sorvete-
Assista ria, ou seja, não é o caso, então, de permutações dos sabores.
Quebrando a banca. Para descobrirmos o número de escolhas possíveis
Direção: Robert Luketic.
dessas duas amigas, precisamos aplicar os conceitos
Classificação: 14 anos.
EUA, 2008. de Combinações completas ou Combinações com
Ben Campbell, um aluno elementos repetidos.
brilhante do Instituto
Leolintang/Shutterstock

Tecnológico de Massachusetts,
usa seu conhecimento em
Matemática para ganhar nos
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cassinos em Las Vegas.


MaraZe/Shut

56
Combinações completas ou combinações com elementos 5!  5   4 + 2 − 1
Observe também que =  =  = CR4, 2 .
repetidos 2! ⋅ 3!  2   2
Seja um conjunto com n elementos distintos (n ∈ ℕ) de Situação 2:
modo que se queira escolher r elementos entre eles (r ∈ ℕ), Suponha que, para o mesmo restaurante do item anterior, a
sendo a ordem de escolha irrelevante e um mesmo elemento sobremesa agora é composta de 5 fatias de frutas e elas podem
poder ser escolhido uma ou mais vezes (ou não ser escolhido). ser escolhidas de um conjunto com 7 frutas.
O número de maneiras de se escolher esses r elementos num Considere agora o conjunto S’ = {A, B, C, D, E, F, G}, que repre-
universo de n elementos disponíveis, de acordo com a descrição senta o número de fatias de cada uma das sete frutas, A, B, C, D,
acima, é chamado de número de combinações completas num E, F e G.
total de n escolher r e denotado por CRn, r. Temos agora de resolver a equação:
Vamos mostrar por meio de algumas situações que
A + B + C + D + E + F + G = 5 no conjunto dos inteiros não
 n + r − 1 negativos.
CRn, r =  .
 r  Vamos pegar três soluções para a equação.
Situação 1: a) Uma fatia de A, duas de B e duas de F.
A sobremesa de um restaurante é composta de dois pedaços b) Uma fatia de B, uma de C, uma de E e duas de F.
de frutas (mesmo tipo de fruta ou não), que podem ser escolhi- c) Quatro fatias de B e uma de G.
das entre abacate, banana, caqui e damasco. Da mesma forma que no exemplo anterior, vamos organizar
De quantas maneiras é possível montar uma sobremesa nesse essas situações montando o quadro:
restaurante?
Observe que diferentemente do que fazemos em combinação A+B+C+D+E+F+G=5
simples, em que as frutas deveriam ser distintas, aqui, podemos, . | .. | | | | .. | ⇒ . | .. | | | | .. | → (solução do item a)
por exemplo, pedir duas fatias de abacate. | . | . | | . | .. | ⇒ | . | . | | . | .. | → (solução do item b)
Acompanhe o raciocínio. | …. | | | | | . ⇒ | …. | | | | | . → (solução do item c)
Considere o conjunto S = {A, B, C, D}, cujos elementos repre-
sentam, respectivamente, o número de fatias de abacate, bana- Para encontrarmos todas as soluções da equação, basta en-
na, caqui e damasco. contrarmos o número de permutações dos cinco pontos e das
Na verdade, o que estamos querendo aqui é resolver a equação seis barras verticais.
11!
A + B + C + D = 2 no conjunto dos inteiros não negativos. Assim, o total de soluções é: P115, 6 = = 462.
Observe quatro soluções para a equação: 5! ⋅ 6!
Ou seja, existem agora 462 maneiras de montar a sobremesa
a) Pegamos duas fatias de abacate (consequentemente nenhu-
nesse restaurante.
ma das outras). 11!  11  7 + 5 − 1
b) Pegamos duas fatias de damasco (consequentemente ne- Observe também que =  =  = CR7, 5 .
5! ⋅ 6!  5   5
nhuma das outras).
Levando em consideração esses dois exemplos, podemos en-
c) Pegamos uma fatia de banana e uma de caqui (consequente-
mente nenhuma das outras duas). tão generalizar:
d) Pegamos uma fatia de abacate e uma de damasco (conse-  n + r − 1
quentemente nenhuma das outras duas frutas). CRn, r =  
 r
Vamos organizar essas situações montando o seguinte quadro:
em que n é o número de elementos que queremos combinar de
A+B+C+D=2
r em r quantidades.
.. | | | ⇒ .. | | | (Solução da 1a equação → duas fatias
Voltando ao nosso problema inicial, vamos descobrir o nú-
de abacate.)
mero de opções para as amigas 3 e 4 montarem suas taças de
| | | .. ⇒ | | | .. (Solução da 2a equação → duas fatias
de damasco.) sorvete. Lembremos que a sorveteria oferece 7 sabores, dos
| . | . | ⇒ | . | . | (Solução da 3a equação → uma fatia quais serão escolhidas 3 bolas.
de banana e uma de caqui.) A amiga 3 vai escolher três bolas indistintamente.
. | | | . ⇒ . | | | . (Solução da 4a equação → uma fatia Então: n = 7 e r = 3.
de abacate e uma de damasco.)  7 + 3 − 1  9  9! 9⋅8⋅7
CR7, 3 = 
 3  =  3 = 3! ⋅ 6! = 3 ⋅ 2 = 84 maneiras
Embaixo de cada letra foi colocada, em forma de pontos, a
quantidade de frutas correspondente a essa letra e, embaixo dos A amiga 4 já fez uma das escolhas, que é de chocolate. As ou-
sinais de “+”, foram colocadas barras verticais. tras duas serão aleatórias.
Observe que o número total de soluções é dado pelas permu- Assim, teremos n = 7 e r = 2
tações de pontos e barras verticais.  7 + 2 − 1  8  8! 8⋅7
No caso, temos 2 pontos (quantidade de sabores) e 3 barras CR7, 2 = 
 2  =  2  = 2! ⋅ 6! = 2 = 28 maneiras
(quantidade de sinais de + na equação).
5! Se em situações como essas a posição dos elementos é deter-
Assim, o total de soluções é: P52, 3 = = 10.
2! ⋅ 3! minante, teremos um arranjo com repetição de n elementos,
Ou seja, existem 10 maneiras de montar a sobremesa nesse tomados de r em r, que é dado por:
restaurante. ARn, r = nr.

57
Matemática
Em foco C1 Construir significados para os números naturais, inteiros, racionais e reais.
H2 Identificar padrões numéricos ou princípios de contagem.

(Enem)
Um brinquedo infantil caminhão-cegonha é formado por uma carreta e dez carrinhos nela transportados, conforme figura.

Reprodução/Enem, 2017.
No setor de produção da empresa que fabrica esse brinquedo, é feita a pintura de todos os carrinhos para que o aspecto do brinquedo
fique mais atraente. São utilizadas as cores amarelo, branco, laranja e verde, e cada carrinho é pintado apenas com uma cor. O caminhão-
-cegonha tem uma cor fixa. A empresa determinou que em todo caminhão-cegonha deve haver pelo menos um carrinho de cada uma das
quatro cores disponíveis. Mudança de posição dos carrinhos no caminhão-cegonha não gera um novo modelo do brinquedo.
Com base nessas informações, quantos são os modelos distintos do brinquedo caminhão-cegonha que essa empresa poderá produzir?
a) C6, 4 b) C9, 3 c) C10, 4 d) 64 e) 46
Resposta: b
Inicialmente, vamos assumir que a primeira fileira, a de quatro carrinhos, já está pintada com as quatro cores disponíveis: amarelo, branco,
laranja e verde.
Resta ainda pintar os seis carrinhos restantes com as quatro cores disponíveis, sem nenhum critério de uso (desde que seja uma única cor
por carrinho).
Assim, teremos a combinação completa CR6, 4 (temos 6 carrinhos e 4 cores disponíveis para a pintura).
 61 4 2 1   9 
CR6, 4 5  5  5C9, 6
 6   6
 n  n 
Dos binomiais complementares, sabemos que   5 .
 p   n 2p 
Assim: C9, 6 = C9, 3 .

Atividades
1 C1/H2 O conselho de uma escola é composto por 7 professores, 7 pais de alunos e 8 alunos.
O diretor precisa fazer uma reunião conjunta com 7 pessoas desse grupo, de modo que haja pelo menos 1 professor, 1 pai de aluno e 2 alunos.
O número de maneiras distintas que o diretor poderá compor o grupo para a reunião
a) é menor que 5 500.
b) está entre 5 500 e 9 500.
c) está entre 9 500 e 13 500.
d) está entre 13 500 e 19 500.
e) é maior que 19 500.

2 C1/H2
Após receber alta do hospital onde estava internada, Mariana, a pedido de seu médico, deverá realizar três exames distintos e voltar ao
consultório para a verificação do seu quadro de saúde.
O médico deu um prazo de seis dias, a partir de hoje, para que os três exames fossem realizados e, por causa da característica de cada um
deles, estabeleceu que:
• Cada exame deve iniciar e terminar no mesmo dia.
• Não poderá ser feito mais de um exame num único dia.
Com essas condições impostas, o número de maneiras de Mariana planejar seus exames é
a) 10 b) 24 c) 60 d) 120 e) 720

Gabarito 1. d 2. d
Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.

58
Ciências daNatur
Natureza

O que os olhos não veem o coração Em profundidade


não sente Leia

Reprodução/Editora Gaia
Na história evolutiva dos seres humanos, sua grande capacidade adaptativa, aliada à sua
versatilidade na utilização dos diversos recursos provenientes do meio ambiente, favoreceu
seu desenvolvimento cognitivo e levou à criação das mais variadas ferramentas, produzidas a
partir de diferentes tipos de matérias-primas: madeiras, ossos, dentes de animais, pedras las-
cadas, cobre, bronze, ferro, entre outros. Assim, desde o Paleolítico, os humanos têm acumu-
lado conhecimentos sobre os materiais e suas possibilidades de utilização.
Já em sua história mais recente, a experimentação de novas combinações de matérias-pri-
mas e o aprimoramento do seu manuseio colocaram os humanos diante do ápice de seu desen-
volvimento científico-tecnológico, permitindo a produção de ferramentas, equipamentos e
técnicas tão sofisticadas, que possibilitaram a criação de seres artificiais – robôs e nanorrobôs
– para a exploração de universos macroscópicos e microscópicos. Aliando tudo isso à explora- CARSON, Rachel.
ção de novos recursos, abriu-se um novo horizonte – a produção de novos materiais. Primavera silenciosa.
São Paulo: Gaia, 2010.
Apesar das atuais descobertas e produções de grandes variedades de materiais pela En-
O livro Primavera silenciosa
genharia, a exploração do petróleo pela moderna indústria petrolífera em meados do sé-
(Silent Spring), de Rachel
culo XIX foi a responsável pelo desenvolvimento das matérias-primas mais utilizadas pe- Carson, foi publicado pela
los humanos desde então: os plásticos. primeira vez em 1962. Em 1992,
foi eleito um dos livros mais
Denys Yelmanov/Shutterstock

influentes dos últimos 50 anos.


Já em 2000, foi consagrado
como uma das maiores
reportagens investigativas
do século XX. Em sua obra, a
autora faz uma dura crítica
à utilização imprudente de
inseticidas, principalmente
o DDT. Utilizando uma
linguagem simples, ela fez
comparações com a radiação
para explicar os possíveis
efeitos dos inseticidas nos
processos celulares de animais,
plantas e seres humanos.
Assista
Os plásticos são compostos de diferentes tipos de polímero orgânico sintético, entre eles Oceanos de plástico. Direção:
o polietileno, o polipropileno e o poliestireno, e podem apresentar tamanhos, dimensões e Craig Leeson. Produção: Adam
Leipzig e Jo Ruxton. Reino
densidades variadas. Chamaram a atenção por suas características maleáveis, resistência e
Unido: Plastic Oceans Ltd.,
baixo custo, oferecendo inúmeras aplicações. Assim, foram disseminados no planeta e am- 2016. Disponível em: <www.
plamente utilizados em diferentes indústrias, seja na composição de equipamentos que mo- netflix.com/title/80164032>.
vem a indústria, seja na composição dos produtos a serem comercializados. Acesso em: 10 jun. 2018.
O advento dos plásticos gerou uma revolução na vida cotidiana. A substituição da maio- O documentário explora o
ria das matérias-primas pelo material barato e descartável colocou os plásticos em pra- tema da poluição plástica dos
ticamente tudo o que é utilizado ou consumido no dia a dia. Em uma festa, por exemplo, oceanos. Várias regiões do
planeta são visitadas pelos
é muito mais prático utilizar copos descartáveis do que copos de vidro ou alumínio, que exploradores a fim de mostrar
precisarão ser lavados após a utilização, sem falar no custo para substituição caso alguns o impacto que o acúmulo de
sejam quebrados. Desde o momento em que acorda até o momento em que se deita para plástico tem causado na fauna
dormir, você interage com materiais plásticos em suas diversas formas. e na flora. A equipe percorre
Neste exato momento, enquanto lê este artigo, você utiliza algum equipamento que pos- o globo para descobrir a
verdade chocante: o oceano é
sui plástico na sua composição: smartphone, tablet ou computador; está sentado em algo uma sopa de plástico.
que é parcialmente composto de plástico: cadeira, banco ou sofá; está vestindo e calçando
plásticos. E logo esses equipamentos, móveis e vestimentas serão substituídos por mode-
los novos, também repletos de plástico.

59
Ethan Daniels/Shutterstock
A cultura dos descartáveis trouxe problemas que vão desde a pro-
dução exagerada de lixo até a poluição do meio ambiente pela presen-
ça de resíduos em locais inapropriados. Os plásticos estão entre os
principais poluentes do planeta e podem ser encontrados em diversos
ambientes, tanto em ecossistemas terrestres como em ecossistemas
aquáticos, causando enormes problemas para os seres vivos que habi-
tam esses locais. Pasmem, pode-se encontrar plásticos em ambientes
onde os humanos sequer colocaram as mãos.
O que os olhos não veem o coração não sente, dizia um provérbio
popular. Quando imagens de animais aquáticos presos em materiais
plásticos viralizam nas redes sociais, gera-se grande comoção e a iden-
tificação de uma realidade que é o sério problema relacionado ao uso
dos plásticos. No entanto, e se os olhos não verem esse plástico?
Isso mesmo, alguns plásticos ficaram invisíveis!
Um novo problema surgiu com a identificação de plásticos que se tor-
naram microscópicos, causando problemas em níveis que são invisíveis
para os olhos humanos. Estudos recentes indicam que até a água que es-
corre pela sua torneira está contaminada com resíduos plásticos.
Mas como isso é possível? Sacola plástica presa em um recife de corais no Parque
Você já ouviu falar dos microplásticos? Nacional de Komodo, Indonésia.
Os microplásticos são partículas de plásticos com tamanhos infe-
riores a 5 mm, produzidas a partir da abrasão ou degradação fotoquímica das fibras plásticas que são fragmentadas. As partícu-
las formadas podem ser encontradas em diferentes ecossistemas aquáticos (continentais e oceânicos), localizados inicialmen-
te na superfície da coluna de água, ficando em contato com os organismos planctônicos e nectônicos. Com o envelhecimento do
material, as partículas são depositadas no fundo, ficando disponíveis também para os seres bentônicos.
Quando são ingeridos pelos animais, os microplásticos são direcionados para seu sistema digestivo, acumulando-se nele até se-
rem, parcial ou totalmente, eliminados na evacuação das fezes.
Você já ouviu falar que, na natureza, aquilo que é resíduo para alguns pode ser recurso para outros? Então, isso traz à tona
mais três problemas.
O primeiro problema está relacionado à translocação dos microplásticos para dentro do corpo dos animais, que podem alo-
jar-se nos seus tecidos – em alguns casos, as partículas plásticas são tão minúsculas que atravessam os tecidos intestinais, po-
dendo atingir o sistema circulatório e causar lesões nos pulmões, no fígado e no coração. E esses microplásticos podem ser obti-
dos diretamente da água, através de sua ingestão ou, então, por meio das cadeias alimentares.
O segundo relaciona-se diretamente à bioacumulação. Esse processo consiste no acúmulo, pelos organismos, de di-
ferentes substâncias tóxicas, entre elas os poluentes orgânicos persistentes (POPs), que podem bioacumular de forma
direta, através de substâncias presentes na água, ou de forma indireta, pela ingestão de alimentos contaminados por
essas substâncias.
Nesse caso, os microplásticos atuam como uma esponja de substâncias hidrofóbicas, adsorvendo POPs de diferentes tipos:
pesticidas (DDT), policlorobifenilos (PCBs) e hidrocarbonetos aromáticos. Quando os microplásticos são ingeridos pelos ani-
mais, concentrações elevadas desses poluentes podem ser incorpo-
KYTan/Shutterstock

radas nos tecidos, causando problemas nos sistemas reprodutores,


endócrino e imunitários.
Entretanto, os problemas não acabam aí. Além de poderem pro-
mover a bioacumulação de substâncias nocivas, os microplásticos
também podem contribuir com a biomagnificação (magnificação
trófica). Esse processo consiste no acúmulo de substâncias tóxicas
em níveis tróficos sucessivos nas cadeias alimentares. Para que haja
construção da biomassa presente nos níveis tróficos dos consumi-
dores, são necessários o consumo e a assimilação da biomassa de ní-
veis tróficos mais baixos. Portanto, os carnívoros tendem a acumu-
lar grandes quantidades de poluentes e serem gravemente afetados
pela bioacumulação dos POPs.
Agora, você deve estar lembrando das aulas de Ecologia e pensando
em espécies de animais que compõem os topos de algumas cadeias ali-
mentares. Mas lembre-se dos humanos, que ocupam os topos das ca-
deias alimentares de quase todos os ecossistemas do planeta. E isso
aconteceu por causa de sua grande adaptabilidade e versatilidade na
utilização dos recursos, que favoreceram o seu desenvolvimento cogni- Sabonete líquido com microesferas plásticas para auxiliar
tivo e o domínio do meio ambiente, e levaram à criação das mais varia- na esfoliação da pele. Após o uso, as microesferas plásticas
das ferramentas, produzidas a partir de diferentes tipos de plástico. podem driblar o sistema de tratamento de esgoto e serem
Você já bebeu água hoje? direcionadas aos ecossistemas aquáticos.

60
Ciências da Natureza
Em foco C3 Associar intervenções que resultam em degradação ou conservação ambiental a processos produtivos e
sociais e a instrumentos ou ações científico-tecnológicos.
H10 Analisar perturbações ambientais, identificando fontes, transporte e(ou) destino dos poluentes ou prevendo
efeitos em sistemas naturais, produtivos ou sociais.

(Enem)
Suponha que um pesticida lipossolúvel que se acumula no organismo após ser ingerido tenha sido utilizado durante anos na região do
Pantanal, ambiente que tem uma de suas cadeias alimentares representadas no esquema:
PLÂNCTON → PULGA-D’ÁGUA → LAMBARI → PIRANHA → TUIUIÚ
Um pesquisador avaliou a concentração do pesticida nos tecidos de lambaris da região e obteve um resultado de 6,1 partes por milhão (ppm).
Qual será o resultado compatível com a concentração do pesticida (em ppm) nos tecidos dos outros componentes da cadeia alimentar?

Plâncton Pulga-d’água Piranha Tuiuiú


a) 15,1 10,3 4,3 1,2
b) 6,1 6,1 6,1 6,1
c) 3,1 4,3 10,4 14,3
d) 2,1 3,9 4,1 2,3
e) 8,8 5,8 5,3 9,6

Resposta: c
Ao analisar a cadeia alimentar, temos:
PLÂNCTON → PULGA-D’ÁGUA → LAMBARI (6,1 ppm) → PIRANHA → TUIUIÚ
Após anos de utilização do pesticida, seu acúmulo na cadeia alimentar acontece de maneira crescente. O nível trófico dos produtores
(PLÂNCTON) apresenta a menor concentração do pesticida em seus tecidos, enquanto os níveis tróficos seguintes apresentam
concentrações maiores, aumentado de maneira gradual nos níveis tróficos sucessivos.
Ao analisar as alternativas, deve-se utilizar a coluna PULGA-D’ÁGUA e PIRANHA como referência. O LAMBARI estará posicionado entre as
duas. Dessa forma, com a concentração de 6,1 ppm de pesticidas nos tecidos, o lambari deve possuir uma concentração mais elevada do
que a pulga-d’água (4,3 ppm) e menor que a piranha (10,4 ppm), como consta na alternativa correta.
a) A alternativa está incorreta. A concentração de pesticidas aumenta em níveis tróficos sucessivos. Essa alternativa mostra a diminuição
da concentração dos pesticidas ao longo da cadeia alimentar.
b) A alternativa está incorreta, pois os dados apresentados na alternativa indicam que não houve magnificação trófica.
d) A alternativa está incorreta. A concentração de pesticidas no lambari seria maior que na piranha. Além disso, o topo da cadeia
alimentar apresenta uma concentração de pesticidas próxima à do produtor.
e) A alternativa está incorreta. A concentração de pesticidas no lambari seria maior que na piranha.

Atividades
1 C3/H10 O acúmulo de microplásticos nos ecossistemas aquáticos pode causar problemas em escalas globais. Os poluentes orgânicos
persistentes (POPs) adsorvidos na superfície dos microplásticos podem ser assimilados pelos seres vivos e transferidos para os níveis tróficos
superiores nas cadeias alimentares. O fato é preocupante, uma vez que o acúmulo de POPs no topo das cadeias alimentares pode promover a
contaminação dos seres humanos.
Um conceito presente no texto que relaciona as consequências do acúmulo de microplásticos nos ecossistemas é a
a) bioacumulação. b) cascata trófica. c) bioconcentração. d) sucessão ecológica. e) biomagnificação.

2 C5/H19 (Enem) Bioindicador ou indicador biológico é uma espécie ou grupo de espécies que reflete o estado biótico de um meio ambiente, o
impacto produzido sobre um hábitat, comunidade ou ecossistema, entre outras funções. A posição trófica do organismo bioindicador é uma das
características mais relevantes quanto ao seu grau de importância para essa função: quanto mais baixo o nível trófico do organismo, maior é a
sua utilidade, pois se pressupõe que toda a cadeia trófica é contaminada a partir dele.
ANDRÉA, M. M. Bioindicadores ecotoxicológicos de agrotóxicos.
Disponível em: www.biologico.sp.gov.br. Acesso em: 11 mar. 2013 (adaptado).

O grupo de organismos mais adequado para essa condição, do ponto de vista da sua posição na cadeia trófica, é constituído por
a) algas. b) peixes. c) baleias. d) camarões. e) anêmonas.

Gabarito 1. e 2. a
Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.

61
cCiências
Ciências
HHumanas
Humanas

Em profundidade
A indústria cultural
A indústria cultural teve seu início com os primeiros jornais, no século XIX. Esse meio
Assista
de comunicação possibilitou o surgimento da cultura de massa, com a publicação de ro-

Divulgação/Paramount
mances em folhetins, destinados a um público amplo, com narrativas simples que tra-
çavam a vida da época. Os leitores desses romances não produziam esses romances, e se
tornaram consumidores de uma cultura que não foi produzida por eles.
O surgimento da indústria cultural está relacionado ao processo de industrialização, à
urbanização, à solidificação da economia de mercado e à organização da sociedade de con-
sumo. A cultura de massa é produzida seguindo a lógica industrial: padronizada e simplifi-
cada, com o objetivo de atender o gosto médio de um público que a consome. As novas tec-
nologias possibilitam que a arte seja produzida e reproduzida a partir das preocupações
mercadológicas, criada sob medida para o gosto do consumidor.
A cultura de massa tende a ser identificada quando se diferencia da cultura classificada
como erudita (referências eurocêntricas como o Renascimento artístico, óperas, literatu-
O Show de Truman. ra e música clássicas) e, também, da cultura popular (expressões artísticas, danças, obje-
Direção: Peter Weir, tos, crendices, costumes gerais de uma cultura produzida por quem a consome). A cultura
EUA, 1998. de massa é produzida por aqueles que não a consomem e não possui um caráter de contes-
O filme conta a história de
tação ou criticidade.
Truman, um homem que viveu
por 30 anos em um programa Em algumas interpretações sociológicas, uma das funções da cultura de massa seria a
televisivo, do tipo reality alienação, impedindo que o indivíduo construa uma imagem de si mesmo diante da socie-
show, sem ter conhecimento. dade e tendo como fim único o divertimento (mascarar realidades intoleráveis e fornecer
Leia fuga da realidade). Um produto simplista, que reforça as normas sociais, com valor de tro-
COELHO, Teixeira. O que é ca, produzindo um espectador passivo/consumidor, em uma atitude paternalista, na qual
indústria cultural? São Paulo: o produto cultural o conduz.
Brasiliense, 1980. Disponível Os principais sociólogos que defendem a ideia de uma indústria cultural alienante são
em: <www.ceap.br/material/
MAT05032013224040.pdf>.
Adorno e Horkheimer. Para os autores, a arte passou a ser sujeito da lei de oferta e pro-
Acesso em: 10 jun. 2018. cura, da necessidade de consumo, do fetiche e da reificação. O conteúdo veiculado pela
Esse livro apresenta, de indústria cultural está ligado à ideia de prazer, que pode ser utilizada para alienar, refor-
maneira objetiva e com çando as regras e as estruturas sociais sem questionamento, transformando o prazer em
linguagem acessível, os
produto sobre o qual se gera mais lucro.
principais debates em
Sociologia sobre a temática Outras interpretações sociológicas reconhecem aspectos positivos na cultura indus-
da indústria cultural. trial, como o fato de beneficiar o desenvolvimento humano (por exemplo, o aprendizado
Acesse e o domínio de uma língua com maior rapidez), possibilitar que o acúmulo de informação
USP Ensino Sociologia. se transforme em formação contínua e unificar as nacionalidades e classes sociais, vitali-
Disponível em: <http:// zando os processos das culturas tradicionais. A indústria cultural pode ser vista como o
ensinosociologia.fflch.usp. primeiro passo democratizador do acesso à cultura, gerando como resultado o combate à
br/>. Acesso em: 10 jun. 2018. alienação.
O site traz diversas sugestões
de livros, artigos, filmes e O debate sobre a indústria cultural continua intenso, principalmente para compreen-
outros tipos de material para der o papel das novas tecnologias contemporâneas. Com a internet, parte da indústria cul-
diversas temáticas abordadas tural tem sofrido transformações. Há uma possibilidade de veicular conteúdos de forma
em Sociologia, incluindo a gratuita, resultando na perda de valor mercadológico de determinada manifestação artís-
indústria cultural.
tica e transformando-a em propriedade universal.
Quando não há a comercialização, a arte perde o valor de troca e passa a ter apenas o
valor de uso, retomando o sentido de que a arte manifesta o espírito humano. Há outras
análises que identificam na internet um fortalecimento da indústria cultural, uma vez que
diversos serviços prestados on-line são monopolizados e constroem marcas que valem bi-
lhões de dólares no mercado. A circulação da arte na internet não estaria livre da relação
mercadológica e o livre acesso a informações não produziria um comportamento que en-
fraquece a indústria cultural.

62
Ciências Humanas
Em foco C5 Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da
democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
(Enem)
Hoje, a indústria cultural assumiu a herança civilizatória da democracia de pioneiros e empresários, que tampouco desenvolvera uma fineza
de sentido para os desvios espirituais. Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo que, desde a neutralização histórica
da religião, são livres para entrar em qualquer uma das inúmeras seitas. Mas a liberdade de escolha da ideologia, que reflete sempre a
coerção econômica, revela-se em todos os setores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa.
ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
A liberdade de escolha na civilização ocidental, de acordo com a análise do texto, é um(a)
a) legado social.
b) patrimônio político.
c) produto da moralidade.
d) conquista da humanidade.
e) ilusão da contemporaneidade.
Resposta: e
a) Distrator. O texto não caracteriza a liberdade de escolha como um legado social, uma vez que o texto defende que essa liberdade não
existe.
b) Distrator. O texto não associa liberdade de escolha a questões políticas. A palavra democracia faz referência a governos que são
controlados pelos interesses do mercado.
c) Distrator. O texto não associa liberdade de escolha à moralidade. A citação sobre a religiosidade exemplifica o processo de
homogeneização do comportamento e pensamento humanos, sob falsa liberdade de escolha.
d) Distrator. O texto não associa liberdade de escolha com conquista, ao contrário, a denuncia como mecanismo para garantir o
funcionamento da economia capitalista.
e) Gabarito. O texto denuncia que a falsa liberdade de escolha que se apresenta na sociedade contemporânea é resultante de um
mecanismo de dominação econômica, que criou a indústria cultural, por exemplo. Nesse mecanismo, toda escolha leva o ser humano a
ser reduzido a um mero consumidor, espectador passivo, alienado dos próprios mecanismos que o oprimem.

Atividades
1 C1/H3
1. [...] O artista, por seu turno, modifica também o seu status em relação ao que fora e representara no passado. De trabalhador manual,
do qual o artesão era o exemplo máximo, passa a ser um indivíduo valorizado, obtendo dividendos financeiros e fama, sucesso irrestrito e
gerando fetiches em relação à sua personalidade: seus hábitos pessoais, sua maneira de pensar e de se vestir, tudo é motivo de interesse para
o grande público. [...]
LIMA, Matheus Silveira. Leitura sociológica da relação entre internet e indústria cultural. Cadernos de campo: Revista de Ciências Sociais, n. 22, 2017.
Disponível em:<https://periodicos.fclar.unesp.br/cadernos/article/view/5257/4266>. Acesso em: 10 jun. 2018.
A mudança retratada no texto em relação à figura do artista está relacionada
a) ao crescimento do êxodo rural no século XIX.
b) às transformações sociais e culturais nas sociedades industrializadas.
c) ao papel centralizador desempenhado pelos governos fascistas no século XX.
d) à mecanização do campo, ampliando a capacidade de produção de alimentos.
e) ao destaque dos artistas renascentistas nos séculos XIV, XV e XVI na Europa ocidental.

2 C3/H11
Apenas a partir de então é que se toma possível a coexistência de seus dois requisitos fundamentais, quais sejam, um grau de evolução da
técnica que possibilite o surgimento de meios de produção de bens culturais em série e de maneira padronizada – a exemplo da invenção da
imprensa, do telégrafo sem fio e do estenógrafo como meios de comunicação e do desenvolvimento de outros meios de reprodução de arte,
tais como o cinema e a fotografia – e o surgimento de públicos consumidores, criadores de uma demanda social consistente e adequada para
realizar nas relações de troca o caráter de mercadoria dos gêneros culturais – como se deu na popularização dos folhetins, que a última fase do
século XIX e o princípio do século XX viram acontecer na Europa Ocidental.
FRENCH, John D. “Proclamando leis, metendo o pau e lutando por direitos”. In: LARA, Silvia Hunold; MENDONÇA,
Joseli Maria Nunes (Org.). Revista Mediações. Londrina, v. 2, n. 2, p. 17-19, jul./dez. 1997. Disponível em:
<www.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/9349>. Acesso em: 10 jun. 2018.

Qual(is) é (são) a(s) manifestação(ões) associada(s) aos dois requisitos apresentados no texto presente(s) nas sociedades do século XX?
a) A produção de uma arte vinculada, exclusivamente, a críticas ao capitalismo.
b) A ampliação dos movimentos sociais de esquerda.
c) O surgimento da indústria cultural.
d) O controle sobre manifestações grevistas do movimento operário.
e) A ampliação e a diversificação das manifestações artísticas autônomas.

Gabarito 1. b 2. c
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63
RRRedação
Diferença, igualdade e equidade: o desafio de
Em profundidade
Leia escrever sobre questões sociais no Enem
Reprodução/Editora Papirus
Segundo o dicionário, “diferente” é um adjetivo que caracteriza aquilo que é desigual,
modificado, anormal ou contrário ao habitual. Em qualquer uma dessas significações,
para atribuir o adjetivo “diferente”, parte-se de uma comparação, afinal, para que algo
seja diferente, é necessário que se distinga de alguma outra coisa.
“Como você está diferente!”, “Fulano é muito diferente de mim”, “Eu não gosto do que
é diferente”, “As coisas são diferentes”. Colocações como essas nos fazem questionar: o
que é diferente de mim, de você, do que somos e de quem éramos. Obviamente, novas dú-
vidas surgem, afinal, o que o mundo espera de nós? É diferente do que você espera? De
que forma? Tudo isso nos leva a perguntar: qual é a diferença do que é diferente?
Falamos até agora em diferença, mas o importante é discutir justamente os seus opos-
tos – no caso, a igualdade e a equidade. Tendo em vista que vivemos em uma sociedade
bastante desigual, a equidade parte do pressuposto de que é importante tratar de manei-
KARNAL, Leandro; COEN, ra diferente os desiguais e, assim, diminuir ou eliminar as diferenças, tornando-os iguais
Monja. O inferno somos (se é que isso é possível).
n—s: do ódio à cultura de paz. Vamos usar um exemplo simples que deve ajudar a clarear essas noções. Eu e você va-
Campinas: Papirus, 2018. mos disputar uma corrida. Suponha que eu pratico corrida há muitos anos e estou com
Conviver parece ser um um par de tênis específico para isso. Você está descalço e só tem o costume de correr
desafio que a cada dia ganha
quando se atrasa. Nós dois até podemos partir da mesma linha, mas você concorda que eu
novos capítulos. Por isso, é
fundamental dar atenção às já começaria na sua frente, pelo treinamento físico e pelo calçado adequado? Então, para
vozes dissonantes e refletir tentar competir “de igual para igual”, eu sugiro que o seu ponto de partida seja alguns
sobre si e os outros para não metros à frente do meu, o que pode compensar de alguma forma essa diferença entre nós.
fazer julgamentos e atacar
Martin Novak/Shutterstock

quem precisa de cuidado.


Sob tal perspectiva, ódio à
diferença parece aumentar a
intensidade dos preconceitos,
das violências e dos conflitos
de maneira geral. É possível
transformar o ódio em
compreensão e sintonia? O
diálogo entre o historiador
Leandro Karnal e a fundadora
da Comunidade Zen-Budista
do Brasil, Monja Coen,
elucida as temáticas desse e de
outros questionamentos. Para
os autores, medo e violência
podem ser combatidos com
autoconhecimento, empatia
e alteridade. Afinal, o
inferno são os outros ou está
guardado nas profundezas
de nossa intimidade? Ambos
procuram respostas em um
texto que nos humaniza e
nos ensina a pensar de forma
plural a complexidade de
nosso mundo.

64
Repare que você e eu, nesse exemplo, temos diferentes estruturas e experiências – e, naturalmente, vários outros aspectos que
nos distinguem. Isso nos coloca em um patamar de desigualdade em uma relação de competição. Eu, ao assumir uma posição de
alteridade, me ponho no seu lugar e problematizo o meu, sugerindo que você seja tratado de forma diferente devido às condições
menos favoráveis. Assim, nortearíamos a relação pelo princípio da equidade, buscando competir com igualdade.
Vale lembrar que a forma como observamos o mundo e a maneira por meio da qual interagimos com ele determina como o com-
preendemos. Temos a tendência de observar o que acontece ao nosso redor a partir de situações que vivemos e de conflitos que vi-
mos serem solucionados. As experiências acabam sendo importantes e ajudam a dar sentido à complexidade das interações sociais.
Para se ter uma ideia, essa questão é tão séria que se tornou método em um campo da ciência – a antropologia –, porque empatia e
alteridade são ferramentas essenciais para compreender a diversidade de pontos de vista e culturas.
O fato é que, quanto mais exercitamos nossa habilidade taxonômica de classificar objetos, situações, relações, ideias e pessoas,
maior é a chance de contribuirmos para manter ou modificar como tudo se organiza. Isso significa que os tipos de relação que temos
com o mundo e com o que acontece nele estão intimamente associados àquilo que identificamos como igual ou diferente de nós, ora
gerando afinidade e consenso, ora distanciamento e dissenso.
Mas como todas essas questões se relacionam com as temáticas das redações do Enem? É simples: neste ano acontece a 20a edi-
ção do Exame e, de lá para cá, a prova pautou diversas temáticas que abrangem situações sensíveis com as quais convivemos e ou-
tras que, por algum motivo, não fazem parte diretamente do nosso dia a dia. Analisar e dissertar sobre questões sociais exige do
aluno reflexão e capacidade de se colocar no lugar do outro.
Assim, é fundamental um olhar ampliado para o mundo, a partir de perspectivas plurais que permitam usar lentes diversas para
analisar os múltiplos fenômenos que a complexidade das relações sociais apresenta. Isso quer dizer que generalizar o mundo islâ-
mico como terrorista e o nordestino como pobre não ajuda a entender os conflitos religiosos e a especificidade de povos tão ricos
do ponto de vista histórico, econômico e cultural.
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Já que somos tão espertos na hora de criar caixinhas, também temos que ser coerentes e fazer o exercício inverso. Isso significa que
relativizar é preciso – e não precisamos ir muito longe. Afinal, não deveríamos nos perguntar por que a violência contra a mulher ain-
da é tão forte em nosso país? Por que há mais negros que brancos nas prisões? Por que índios estão sendo expulsos de suas terras? Por
que tantos gays e travestis são assassinados diariamente?
São justamente temas sociais complexos como esses que as redações do Enem propõem. Isso sugere reflexões a respeito de ques-
tões espinhosas, considerando aquilo que somos e que compartilhamos com as pessoas ao nosso redor, sem nos esquecer de que há
um universo inteiro que precisa ser conhecido e reconhecido. Por isso, a melhor forma de preparação para as temáticas da prova é
se dispor ao debate e permitir que a dúvida e o diferente entrem pela porta sem bater.
Igualdade, equidade, diferença – que essas palavras carregadas de sentido sempre nos deixem com uma pulguinha atrás da
orelha.

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Redação
Redação Enem comentada (2007) Proposta de
O desafio de se conviver com a diferença redação – Inédita
Textos motivadores Textos motivadores
Texto I Texto I
Há tantos quadros na parede há tantas formas de se ver o mesmo quadro Adoção de crianças mais velhas cresce
há tantas formas de se ver o mesmo quadro há palavras que nunca são ditas no País, mas bebês ainda são preferidos
há tanta gente pelas ruas há tantas ruas e há muitas vozes repetindo a mesma frase As estatísticas do CNA […] mostram que
nenhuma é igual a outra (ninguém = ninguém) mais de 57% dos pretendentes exigem que
(ninguém = ninguém) me espanta que tanta gente minta seus filhos tenham até 3 anos. A partir daí,
me espanta que tanta gente sinta (descaradamente) a mesma mentira o porcentual diminui à medida que a idade
(se é que sente) a mesma indiferença todos iguais, todos iguais aumenta, a ponto de só 5% se interessarem
mas uns mais iguais que os outros por crianças acima de 8 anos. […]
há tantos quadros na parede
Ninguém = Ninguém – Engenheiros do Hawaii Estadão, 9/4/2016.

Texto II Texto II
Os homens são todos iguais O sertão é do tamanho do mundo Ilustrações levam pais de adoção tardia a
[…] Dessa vida nada se leva ‘ter’ infância com os filhos
Brancos, pretos e orientais Nesse mundo se ajoelha e se reza Três casais de São Paulo que não tiveram
Todos são filhos de Deus Não importa que língua se fala a chance de ter e registrar momentos
[…] Aquilo que une é o que separa simbólicos da infância de seus filhos
Kaiowas contra xavantes Não julgue pra não ser julgado […] receberam álbuns com ilustrações
Árabes, turcos e iraquianos […] detalhadamente pensadas representando o
São iguais os seres humanos Tanto faz a cor que se herda tempo que não passaram juntos. […]
São uns iguais aos outros, são uns iguais […] Para a mãe, o impacto da iniciativa nas
aos outros Todos os homens são iguais meninas foi ainda maior. “Para elas foi como
Americanos contra latinos São uns iguais aos outros, são uns iguais um resgate, um alívio na lembrança de
Já nascem mortos os nordestinos aos outros. sentimento que elas tiveram no passado,
Os retirantes e os jagunços antes de chegar para a gente. […] É como se
elas tivessem colocando peças que faltavam
Uns iguais aos outros – Titãs
em um quebra-cabeça”.
Texto III Folha de S.Paulo, 27/5/2018.
A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa diversidade se
manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos Texto III
e as sociedades que compõem a humanidade. Fonte de intercâmbios, de inovação e Minha herança – uma flor
de criatividade, a diversidade cultural é, para o gênero humano, tão necessária como a Achei você no meu jardim
diversidade biológica para a natureza. Nesse sentido, constitui o patrimônio comum da Entristecido
humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em benefício das gerações presentes Coração partido
e futuras. Bichinho arredio
UNESCO. Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural. […]
Reguei com tanta paciência
Todos reconhecem a riqueza da diversidade no planeta. Mil aromas, cores, sabores, texturas, sons […]
encantam as pessoas no mundo todo; nem todas, entretanto, conseguem conviver com as diferenças Fiz tudo, todo meu destino
individuais e culturais. Nesse sentido, ser diferente já não parece tão encantador. Considerando a Eu dividi, ensinei de pouquinho
figura e os textos acima como motivadores, redija um texto dissertativo-argumentativo a respeito do Gostar de si, ter esperança e persistência
seguinte tema: O desafio de se conviver com a diferença.
Sempre
Comentário: […]
Na edição de 2007, o Enem apresentou como proposta de redação o tema do convívio E hoje nos lembramos
com as diferenças e seus desafios, estimulando a reflexão sobre a diversidade cultural e Sem nenhuma tristeza
os seus principais aspectos no mundo contemporâneo. Dos foras que a vida nos deu
No primeiro texto, a música coloca em discussão a questão da igualdade e do Ela com certeza estava juntando
silenciamento coletivo sobre a diferença. No trecho destacado, questiona-se o Você e eu
comportamento acrítico diante da falácia da igualdade e reforça a impossibilidade de a Achei você no meu jardim
naturalizarmos em um contexto predatório para os não iguais. Composição de Vanessa da Matta dedicada aos
O segundo fragmento ironiza a igualdade e enquadra conflitos políticos como as guerras três irmãos, Bianca, Filipe e Micael, que ela adotou
étnicas e religiosas. Além disso, evidencia que a violência e a morte colocam os homens como filhos.
em pé de igualdade na mesma medida em que os separam e subjugam. É necessário
A partir da leitura dos textos motivadores e com
perguntar que tipo de igualdade cruel é essa que ironicamente inspira o que há de pior na base nos conhecimentos construídos ao longo de
condição humana, na qual a diferença aparenta ser algo inconciliável. sua formação, redija um texto dissertativo-
O terceiro trecho reforça a importância da diversidade cultural e a sua riqueza pelo fato -argumentativo em modalidade escrita formal da
de que as sociedades se distinguem naturalmente umas das outras. De acordo com o língua portuguesa sobre o tema Reflexos sociais
documento, é justamente pelo fato de haver diferença entre os povos que a pluralidade e da adoção tardia no Brasil, apresentando
a originalidade se manifestam, possibilitando intercâmbios e inovação. proposta de intervenção que respeite os direitos
Com base nos trechos apresentados, demanda-se a produção de um texto dissertativo- humanos. Selecione, organize e relacione, de forma
-argumentativo que reflita sobre os desafios que a diferença impõe, considerando a coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa
multiplicidade de pontos de vista, a dificuldade de aceitação e os conflitos que surgem de seu ponto de vista.
da intolerância e da desigualdade. É possível refletir que, ao mesmo tempo que a
diferença gera conflitos, também representa a polifonia política e a diversidade religiosa
e cultural.

Confira Redação do Enem comentada e as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.

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