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Mediunidade – Jornada de Estudos – 1º Etapa

MÓDULO 01 - FUNDAMENTOS DA MEDIUNIDADE


AULA 03 - O MÉTODO KARDEQUIANO DE COMPROVAÇÃO MEDIÚNICA
Ao longo dos tempos, a Ciência vem legando ao homem uma série de conhecimentos que têm
contribuído fundamentalmente para o progresso da humanidade, pela correta utilização da
razão e do raciocínio formal-lógico.

Com o Espiritismo, aprendemos com Allan Kardec que a investigação, análise e conclusões dos
fenômenos mediúnicos devem seguir dois fundamentos: a razão, tal como ensina a Ciência, e o
bom senso, segundo as diretrizes da intuição ou da inspiração.

Com essas duas ferramentas Allan Kardec construiu o edifício doutrinário do Espiritismo, a partir
das manifestações mediúnicas, algumas das quais muito singelas ou banais, mas que não
escaparam à sua arguta percepção, desenvolvida ao longo das reencarnações sucessivas e na
excelente formação intelectual e humanista que recebeu quando renasceu na França, no século
XIX.

1 - ALLAN KARDEC E O USO DO MÉTODO EXPERIMENTAL NA INVESTIGAÇÃO DOS FATOS


ESPÍRITAS

Hippolyte Léon Denizard Rivail, o nome do codificador da Doutrina Espírita, mais conhecido pelo
pseudônimo de ALLAN KARDEC, nasceu na cidade de Lyon, na França, às 19 horas do dia 3 de
outubro de 1804. “Descendentes de antiga família lionesa, católica, de nobres e dignas
tradições, foram seus pais Jean-Baptiste Antoine Rivail, homem de leis, juiz, e Jeanne Louise
Duhamel.” Desencarnou na cidade de Paris em 31 de março de 1869.

Rivail realizou seus primeiros estudos em Lião, sendo educado dentro de severos princípios de
honradez e retidão moral [...]. Com a idade de dez anos seus pais o enviam a Yverdon (ou
Yverdun), cidade Suíça do Cantão de Vaud [...], a fi m de completar e enriquecer sua bagagem
escolar no célebre Instituto de Educação ali instalado em 1805, pelo professor-filantropo João
Henrique Pestalozzi [...].

Concluídos seus estudos na Suíça, Rivail retorna à França, fixando residência em Paris, onde
trabalhou como professor em escolas francesas e escreveu várias obras de apoio à educação e
ao ensino.

Convidado a assistir aos fenômenos das “mesas que giravam, corriam e saltavam”, percebeu, de
início, que em meio à frivolidade e à irreverência que, em geral, cercavam a manifestação dos
fenômenos mediúnicos, havia ali alguma coisa de diferente, inteligente e transcendental, que
poderia ser a causa dos movimentos das mesas. Posteriormente, passou a ser assíduo às
reuniões, sobretudo na casa da família Boudin, tendo a oportunidade de endereçar, às supostas
mesas, perguntas, algumas proferidas mentalmente, inclusive, mas todas eram respondidas de
forma inteligente e, não raro, demonstrando profundo conhecimento.

À medida que se inteirava do assunto, muitas indagações surgiram, naturalmente, e, aplicando


o método experimental, ou racional, Kardec procurava conhecer, a fundo, o significado desses
fenômenos, como esclarece em Obras póstumas:

[...] Apliquei, a essa nova ciência, como o fizera até então, o método experimental; nunca
elaborei teorias preconcebidas; observava cuidadosamente, comparava, deduzia

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consequências; dos efeitos procurava remontar às causas, por dedução e pelo encadeamento
lógico dos fatos, não admitindo por válida uma explicação, senão quando podia resolver todas
as dificuldades da questão. [...] Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração que ia
empreender; percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão
controvertido do passado e do futuro da humanidade, a solução que eu procurara em toda
minha vida. Era, em suma, toda uma revolução nas ideias e nas crenças: era preciso, portanto,
andar com a maior circunspeção e não levianamente; ser positivista e não idealista, para não
me deixar iludir.

Ao aplicar a ferramenta do método científico em suas análises, Kardec chega a duas conclusões,
de imediato:

O simples fato da comunicação com os Espíritos, dissessem eles o que dissessem, provava a
existência do mundo invisível ambiente. [...] O segundo ponto, não menos importante, era que
aquela comunicação nos permitia conhecer o estado desse mundo, seus costumes [...].

No livro A gênese, ele reafirma como realizou o trabalho de investigação dos fenômenos
mediúnicos e as conclusões obtidas, em seguida publicadas nas obras básicas da Codificação
Espírita:

Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma maneira que as ciências
positivas, isto é, aplicando o método experimental. Quando fatos novos se apresentam, que não
podem ser explicados pelas leis conhecidas, ele os observa, compara, analisa e, remontando dos
efeitos às causas, chega à lei que os preside; depois, lhes deduz as consequências e busca as
aplicações úteis. Não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não estabeleceu como
hipótese a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem
qualquer dos princípios da Doutrina. Concluiu pela existência dos Espíritos quando essa
existência ressaltou evidente da observação dos fatos, procedendo de igual maneira quanto aos
outros princípios (grifo no original).

Em suma: “Não foram os fatos que vieram depois confirmar a teoria: a teoria é que veio
subsequentemente explicar e resumir os fatos. [...]”

2 - ALLAN KARDEC E O USO DA INTUIÇÃO NA INVESTIGAÇÃO DOS FATOS ESPÍRITAS

Perplexo, ante a grandiosidade do conhecimento que os fenômenos mediúnicos apresentavam,


o Codificador percebe, contudo, que nem sempre era possível obter respostas satisfatórias,
claras e objetivas, utilizando, apenas, o método racional. Teve, então, a feliz ideia de associar à
metodologia científica instrumentos da percepção extrassensorial, como diríamos nos dias
atuais. Guiando-se pela intuição, faculdade que lhe era bem desenvolvida, definiu inovador
método racional-intuitivo de investigação do fenômeno mediúnico.

A intuição, diga-se de passagem, é uma modalidade ou aptidão psíquica muito comum no ser
humano em geral, nos médiuns em particular, e, em especial, nos psicógrafos e psicofônicos.
Surge na mente como uma lembrança de ideias ou acontecimentos, anteriormente conhecidos
do encarnado quando este se encontrava no estado de sono e sonho. A intuição manifesta-se,
também, quando o médium consegue captar mentalmente, e de forma sutil, ideias e
sentimentos transmitidos pelos Espíritos. Assim, “[...] o médium intuitivo escreve o pensamento
que lhe é sugerido instantaneamente, sobre um assunto determinado e provocado.”

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3 - O MÉTODO RACIONAL-INTUITIVO DE COMPROVAÇÃO MEDIÚNICA

Proposto por Allan Kardec para interpretação dos fenômenos mediúnicos, o método racional-
intuitivo é a hábil associação de instrumentos científicos de observação, registro e
processamento de dados com os recursos da intuição, a fim de elaborar uma ou mais conclusões
a respeito de um fato ou acontecimento.

No início de suas pesquisas, o Codificador utilizou o método racional-intuitivo para melhor


compreender a origem e razão de ser das manifestações mediúnicas que ocorriam,
abundantemente, na sociedade da época. Mais tarde, esse método foi aplicado, dentre outros,
para: a) classificar e qualificar a faculdade mediúnica; b) entender o papel dos médiuns na
comunicação mediúnica, sua influência moral e a do meio onde vivia, as contradições
mediúnicas, falsas e verdadeiras, e as mistificações; c) explicar a relação Espírito-médium, a ação
anímica do médium, necessária e desnecessária; d) definir tipos e graus da influência dos
Espíritos no mundo físico e de como neutralizar/evitar a ação dos Espíritos inferiores; e)
identificar a natureza, intenções e identidade do Espírito comunicante; f) organizar uma reunião
mediúnica séria e instrutiva.

Todas essas informações serviram de referência para a edificação da Doutrina Espírita que,
partindo de O livro dos espíritos, escrito na forma de um código, foi posteriormente desdobrado
(ou decodificado) nas demais obras básicas, de acordo com uma temática específica: O livro dos
médiuns, O evangelho segundo o espiritismo, O Céu e o Inferno e A gênese.

Um ponto relevante, que não deve passar despercebido, é aquele que a nova ordem de
conhecimentos trouxe no seu bojo: a questão moral. Esta é revelada como a verdadeira fortaleza
da Doutrina Espírita que, a rigor, deve transformar o indivíduo para melhor. Daí Allan Kardec
afirmar: “[...] O mais belo lado do Espiritismo é o lado moral. É por suas consequências morais
que triunfará, pois aí está a sua força, pois aí é invulnerável [...].”

Outro ponto de capital importância, que jamais deve ser esquecido pelos espíritas, é que a
referência moral do Espiritismo está contida no Evangelho de Jesus: “A moral que os Espíritos
ensinam é a do Cristo, em virtude de não haver outra melhor [...].” Significa dizer, em outras
palavras:

[...] Não, o Espiritismo não traz moral diferente da de Jesus. [...] Os Espíritos vêm não só
confirmá-la, mas também nos mostrar a sua utilidade prática. Tornam inteligíveis e patentes
verdades que só haviam sido ensinadas sob a forma alegórica. E, juntamente com a moral,
trazem-nos a definição dos mais abstratos problemas da Psicologia. [Pois] Jesus veio mostrar
aos homens o caminho do verdadeiro bem. [...]

REFERÊNCIAS

1 - KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013.

2 - KARDEC, Allan O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1.
imp. Brasília: FEB, 2013.

3 - KARDEC, Allan O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 1. imp. Brasília: FEB,
2013.

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4 - O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013.

5 - KARDEC, Allan Obras póstumas. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

6 - KARDEC, Allan. Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos, Ano IV, novembro de 1861,
p. 359. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006.

7 - WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec: meticulosa pesquisa biobibliográfi ca. 5.
ed. v. 1. Rio de Janeiro: FEB, 1999.

8 - XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da luz. Pelo Espírito André Luiz. 45.

ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013.

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