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TESTE DE AVALIAÇÃO FORMATIVA Teste B

2 › SEQUÊNCIA 2

Nome Turma Data

Grupo I
A
Lê, com atenção, o texto que se segue.

Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra, que se
não deixa salgar, que se lhe há de fazer? Este ponto não resolveu
Cristo Senhor nosso no Evangelho; mas temos sobre ele a resolução
do nosso grande português Santo António, que hoje celebramos, e
5 a mais galharda e gloriosa resolução que nenhum santo tomou.
Pregava Santo António em Itália na cidade de Arimino, contra os
hereges, que nela eram muitos; e como erros de entendimento são
dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o santo, mas chegou
o povo a se levantar contra ele, e faltou pouco para que lhe não ti-
10 rassem a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande
António? Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo aconselha em
outro lugar? Mas António com os pés descalços não podia fazer esta
protestação; e uns pés, a que se não pegou nada da terra, não ti-
nham que sacudir. Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dis-
15 simularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria porventura a
prudência, ou a covardia humana; mas o zelo da glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a
semelhantes partidos. Pois que fez? Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina.
Deixa as praças, vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: Já que me
não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes. Oh, maravilhas do Altíssimo! Oh, poderes do que
20 criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores,
os pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e eles ou-
viam.
Se a Igreja quer que preguemos de Santo António sobre o Evangelho, dê-nos outro. Vós estis sal terrae.
É muito bom o texto para os outros santos doutores; mas para Santo António vem-lhe muito curto. Os
25 outros santos doutores da Igreja foram sal da terra. Santo António foi sal da terra e foi sal do mar. Este é
o assunto que eu tinha para tomar hoje. Mas há muitos dias que tenho metido no pensamento que nas
festas dos santos é melhor pregar como eles, que pregar deles. Quanto mais que o são da minha doutrina,
qualquer que ele seja, tem tido nesta terra uma fortuna tão parecida à de Santo António em Arimino, que
é força segui-la em tudo. Muitas vezes vos tenho pregado nesta igreja, e noutras, de manhã e de tarde,
30 de dia e de noite, sempre com doutrina muito clara, muito sólida, muito verdadeira, e a que mais neces-
sária e importante é a esta terra, para emenda e reforma dos vícios que a corrompem. O fruto que tenho
colhido desta doutrina, e se a terra tem tomado o sal, ou se tem tomado dele, vós o sabeis e eu por vós o
sinto.
Isto suposto, quero hoje, à imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar e, já que os homens
35 se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar
o sermão, pois não é para eles. Maria, quer dizer. Domina maris: “Senhora do mar”; e posto que o assunto
seja tão desusado, espero que me não falte com a costumada graça. Ave Maria.

“Sermão de Santo António”, Padre António Vieira,


in Sermão de Santo António e outros textos, Oficina do Livro, agosto de 2008

Outros Percursos 11 15
› SEQUÊNCIA 2

Responde com clareza e correção às seguintes perguntas.


1. Insere o excerto na obra a que pertence, atendendo à sua estrutura interna.

2. Expõe as razões da referência a Santo António neste passo do Sermão.


2.1. Apresenta três traços caracterizadores da figura referenciada, recorrendo à fundamentação
textual.

3. Identifica, justificando, no segmento textual apresentado, as razões da pregação deste sermão do


Padre António Vieira.

4. Procede ao levantamento de dois recursos expressivos, comentando a sua expressividade.

B
Num texto, entre oitenta e cento e trinta palavras, refere-te ao modo como as duas obrigações do sal se
concretizam no Sermão de Santo António, de Padre António Vieira.

Grupo II
Lê, com atenção, o texto que se segue.

No espetáculo Payassu, fazemos uso das tecnologias de manipulação de imagem, promovendo a in-
teração de figuras projetadas com o discurso de Vieira, o espaço cénico e as ações do ator, de uma forma
absolutamente orgânica. Na gestão dos recursos narrativos, quer plásticos quer cénicos, evitámos a mera
ilustração do sermão e a coincidência de signos, especialmente os concorrentes com as imagens sugeridas
5 pelo texto, já de si muito rico e profuso. A relação entre a multimédia, o teatro e as artes plásticas desen-
volveu-se pelo processo de identificação, incorporação e fusão de elementos expressivos, e não pela sua
simples combinação sequencial.
Existe, ainda, na abordagem interpretativa do Sermão, uma questão importante: a oratória funciona
como discurso direto, objetivo e frontal, procurando convencer o público, argumentando, provando,
10 lançando reptos e propondo respostas. É um instrumento moralizador e edificante, no intuito de corri-
gir/melhorar a humanidade. Esta característica, que em Vieira ultrapassa os recursos do contador de es-
tórias, é comum a todos os que têm o ofício de sal — políticos, professores, legisladores, religiosos — e
concentra a ação dramática do ator (construindo alguma dessas personagens) no exercício da pregação,
na sua profunda e intensa oralidade. Em Payassu, o parateatral sobrepõe-se ao teatro, na perspetiva do
15 público, que vê um pregador religioso. Mas o teatro esconde-se na oratória, pois não temos orador, temos
ator; não temos sermão; temos teatro. Para mais, no Sermão de Santo António aos Peixes, existe outro
jogo de metalinguagem, que confunde e complica este juízo de frontalidade: Vieira não prega aos homens,
prega aos peixes para pregar aos homens. Um jogo de ilusão, um malabarismo dialético, tanto barroco
como contemporâneo, um caminho tão válido hoje como ontem. Evidente é que tudo isso dificulta o
20 trabalho do ator, que tem de percorrer um labirinto de olhares, insinuações, alternâncias e subtilezas,
oscilando entre um público real e um mundo aquático virtual.

Payassu, o Verbo do Pai Grande (caderno de criação do espetáculo), Teatro de Formas Animadas de Vila do Conde
(texto adaptado e com supressões)

16 Outros Percursos 11
› Outros Percursos... pelos Textos Argumentativos

1. Seleciona a opção correta.

1.1. De acordo com a informação do texto, o espetáculo Payassu...


a) oferece uma diversidade de recursos complementares ao discurso vieiriano.
b) é uma representação teatral em que o ator joga apenas com o discurso de P.e António Vieira.
c) apresenta-se como a atualização da mensagem de P.e António Vieira.
d) reveste-se de uma plasticidade surpreendente, de forma a superar a ausência do texto vieiriano.

1.2. Tanto no Sermão de Santo António aos Peixes, de P.e António Vieira, como em Payassu, ...
a) a reação do público é imprescindível à atuação.
b) há pregação religiosa, pelo facto de ambos se assumirem como sermões.
c) verifica-se o recurso ao discurso indireto.
d) assiste-se a um jogo de linguagens.

1.3. O sujeito da oração “fazemos uso das tecnologias de manipulação de imagem” (linha 1) é...
a) nulo subentendido.
b) nulo indeterminado.
c) nulo expletivo.
d) simples.

1.4. O segmento “a interação de figuras projetadas com o discurso de Vieira, o espaço cénico e as ações
do ator” (linhas 1-2) corresponde...
a) ao sujeito.
b) ao modificador.
c) ao complemento direto.
d) ao predicativo do sujeito.

1.5. Na expressão “quer plásticos quer cénicos” (linha 3), verifica-se uma relação de...
a) oposição.
b) alternância.
c) condição.
d) adição.

1.6. No segmento “todos os que têm o ofício de sal – políticos, professores, legisladores, religiosos”
(linha 12), entre o primeiro sublinhado e o segundo destaca-se uma relação de...
a) meronímia-holonímia.
b) hiperonímia-hiponímia.
c) hiponímia-hiperonímia.
d) holonímia-meronímia.

1.7. A oração “que vê um pregador religioso” (linha 15) é uma...


a) oração subordinada adjetiva relativa explicativa.
b) oração subordinada substantiva completiva.
c) oração subordinada adjetiva relativa restritiva.
d) oração subordinada adverbial causal.

Outros Percursos 11 17
› SEQUÊNCIA 2

2. Considera as seguintes frases.

a) “No espetáculo Payassu, fazemos uso das tecnologias de manipulação de imagem, promovendo a
interação de figuras projetadas com o discurso de Vieira (…)” (linhas 1-2).
b) “Na gestão dos recursos narrativos, quer plásticos quer cénicos, evitámos a mera ilustração do
sermão e a coincidência de signos, especialmente os concorrentes com as imagens sugeridas pelo
texto, já de si muito rico e profuso.” (linhas 3-5).
c) “(…) concentra a ação dramática do ator (construindo alguma dessas personagens) no exercício da
pregação (…)” (linha 13).

2.1. Reescreve a frase a), de forma a incluir-lhe uma oração subordinada adverbial final, fazendo
as alterações necessárias.

2.2. Expande a frase b), incluindo-lhe uma oração subordinada adverbial causal.

2.3. Reescreve a frase c), substituindo o segmento sublinhado por uma oração subordinada adjetiva
relativa explicativa.

Grupo III

O significado de Herói tem sofrido algumas transformações ao longo dos tempos, nomeadamente
com a massificação dos meios de comunicação social, misturando-se com a conceção de Ídolo.

Partindo da perspetiva exposta no excerto acima transcrito, apresenta uma reflexão, entre duzentas
e trezentas e cinquenta palavras.
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um deles
com, pelo menos, um exemplo significativo.

18 Outros Percursos 11

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