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Universidade Federal do Pará - Instituto de Geociências

Faculdade de Geologia
DISCIPLINA: Geologia dos Depósitos Minerais
PROFESSOR: Joel Macambira

TEXTO PARA AULA PRÁTICA

Assunto: Mineralizações associadas às rochas alcalinas e carbonatitos. Exemplos de Maicuru


(PA) e Poços de Caldas (MG).

Complexo alcalino-ultramáfico-carbonatítico de Maicuru (PA)


Situado 170 km a norte de Monte Alegre, o Complexo, de idade neoproterozóica (586 +-
18 Ma), é intrusivo nos gnaisses granodioríticos a tonalíticos do embasamento antigo do Craton
Amazônico e nos corpos graníticos associados. Faz parte de um conjunto de complexos alcalinos
fortemente diferenciados que se estende a norte da Bacia do Amazonas na direção geral EW
(Maraconai, Seis Lagos, etc.).
Dimensões, forma e relevo: Trata-se de um corpo de seção grosseiramente oval com eixo maior
na direção NS, medindo cerca de 6 km de comprimento por 4,5 km de largura. Constitui uma
serra fortemente destacada numa vasta região arrasada dissecada por vales encaixados que
culmina a mais de 600m de altitude, apresentando com as áreas circunvizinhas desníveis da
ordem de 250m.
Estrutura e composição: O Complexo de Maicuru, resultado de intensa diferenciação
magmática, exibe um zoneamento nítido embora, devido à espessa cobertura laterítica e à
conseqüente escassez de afloramentos, a distribuição precisa dos principais tipos litológicos não
tenha sido, por ora, claramente estabelecida. A maior parte das investigações desenvolvidas na
área teve como base sondagens da DOCEGEO. Um esboço esquemático do Complexo, com
localização das amostras estudadas, é apresentado em anexo.
A estrutura do Complexo é grosseiramente concêntrica sendo que as rochas mais félsicas
(sienitos) constituem uma zona periférica, bem desenvolvida na parte oriental. Piroxenitos
compõem a parte mais interna onde ocorrências de dunito foram igualmente evidenciadas.
Carbonatitos (possivelmente várias gerações) foram encontrados em áreas restritas na parte
central do conjunto.
Mineralizacões: Associadas principalmente aos piroxenitos ocorrem mineralizações titaníferas
representadas sobretudo por titanita, perovskita e ilmenita. Embora presente nos piroxenitos
mais internos, a apatita mostra teores particularmente elevados nos carbonatitos.
Localmente, e em associações com esses últimos, foi encontrado apatitito de alta qualidade. A
espessa formação laterítica que capeia o Complexo é fortemente titanífera sendo o anatásio o
mineral principal. Em Maicuru há perspectivas econômicas para os fosfatos primários e
lateríticos, titânio e terras raras e mais estritamente para o nióbio.
Os corpos de apatitito constituem a principal fonte de fosfatos primários, trabalhos realizados
pela DOCEGEO na área mineralizada em fosfatos estimaram suas reservas de minério fosfático
primário laterítico em 200 milhões de toneladas com 15% de P2O5.
O titânio nos lateritos encontra-se predominantemente sob a forma de anatásio, associado com
maghemita, goethita e relictos de ilmenita. O minério de Ti foi avaliado por Santos (1981) em 5
bi. de toneladas com 20% de TiO2. Segundo DNPM (1973) seriam 952,8 Mt a 23,6% TiO 2.
Os ETR estão nos lateritos e estão sobretudo, nos fosfatos do grupo da crandalita e possuem teor
de mais de 17% (Costa et al 1991).
O Nb substitui o Ti na estrutura do anatásio e possui teores mais elevados quando provenientes
do intemperismo dos piroxenitos (15.000 ppm) e solos concrecionários-ferruginosos (cerca de
3.000 ppm).

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Maciço Alcalino de Poços de Caldas (MG)
O maciço alcalino de Poços de Caldas, apresenta uma forma grosseiramente circular,
com diâmetro em torno de 30 km. É composto essencialmente de rochas da família dos nefelina-
sienitos, com seus respectivos constituintes plutônicos (Foiaíto), subvulcânicos (Tinguaítos) e
vulcânicos (Fonólitos). Subordinadamente ocorrem tufos e rochas piroclásticas.
O complexo formou-se no Neocretáceo-Eoceno (87 Ma), sendo que as últimas
manifestações vulcânicas datam de 51 Ma. Devido à atividade vulcânica, aos processos
hidrotermais e ao intemperismo mais recente foram geradas diferentes ocorrências minerais na
área deste complexo. As principais mineralizações resultantes do hidrotermalismo são:
1 - Mineralização de tipo "Agostinho" em zonas falhadas e brechadas em tinguaítos alterados
sob a forma de veios, filmes, acumulações e impregnações irregulares. A paragênese é pirita,
fluorita, molibdenita uranífera.
2 - Mineralização em pequenos veios e acumulações de pirita, fluorita, molibdenita (galena e
cassiterita ocasionais) pouco ou não radioativa.
3 - Mineralização em rocha feldspática de textura cataclástica, microbrechada com veios e
massas de diferentes minerais: a) Fe-rodocrosita, fluorita, pirita e siderita; b) Soluções
sólidas de Mn e Fe; c) Pirita, pirrotita, fluorita, hematita, magnetita, sericita, clorita, traços
de U e Th.
4 - Mineralização de caldasito em veios de zircão (ZrSiO 4) e baddeleyta (ZrO2).
As mineralizações de urânio, molibdênio e zircônio concentram-se nas áreas de Cercado
e Santo Agostinho, perto do limite das estruturas circulares secundarias.
Na Jazida de Cercado a mineralização ocorre na forma de uraninita com aspecto nodular,
maciço ou pulverulento, associada à pirita, zirconita e jordisita/ilsemannita (minerais
secundários de molibdênio). A reserva estimada é de 218.000 t de U 3O8, 25.000 t de MoO2, e
172.000 t de ZrO3.
Na Jazida de Santo Agostinho, que é associada a tinguaítos e foiaítos encontram-se na
forma de filões de brechas subverticais, orientadas N70W a N10W. A reserva estimada é de
50.000 t de U3O8, composta de uraninita, jordisita, ilsemannita, flourita, pirita e zirconita.
Os 3 principais tipos de rochas - Foiaíto, tinguaito, fonólito - possuem composição
mineralógica e química semelhantes. O Foiaíto é cinza claro, fanerítico e seus principais
minerais são: FK - sanidina e anortoclásio e feldspatoídes-nefelina alguma leucita. Como
mineral máfico ocorre piroxênio do tipo aegirina-augita. Como acessórios: biotita, apatita,
magnetita, zircão, titanita e fluorita. O Fonólito é cinza escuro, compacto, com granulação muito
fina, constituído de FK (sanidina, ortoclasio e microclina) e piroxênio (aegirina). O tinguaíto
brechado é de cor cinza, granulação fina e composição mineralógica semelhante à do foiaíto,
com exceção da biotita.
Os principais tipos litológicos desta associação alcalina seriam derivadas de um mesmo
magma, variando apenas em função do resfriamento diferencial. São classificadas como
complexos alcalinos Agpaítico-intermediário (Biodi, 1986).
O complexo de Poços de Caldas possuia a única mina de urânio no Brasil, Usamu Utsumi,
explorada a céu aberto até 1998.

Bibliografia
BIONDI, J.C. 1986. Depósitos minerais metálicos de filiação magmática. T.A. Queiroz, São
Paulo, 602p.
CRUZ, W.D. & PEIXOTO, C.A.M.1989. As águas termais de Poços de Caldas, MG - Estudo
experimental das interações água-rocha. Rev. Bras. Geoc. 19(1): 76-86.
DARDENNE, M.A. & SCHOBBENHAUS, C. 2001. Metalogênese do Brasil. Brasília, CPRM -
UNB, 392p.
LEMOS, V.P. 1990. Evolução mineralógica e geoquímica de lateritos sobre rochas do
Complexo Maicuru-Pará. Tese de doutorado. CPGG-IG/UFPA.

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Mapa litológico de Maicuru

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Mapa litológico do maciço de Poços de Caldas. FONTE: Nuclebrás (1975a).

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