Anderson Gabrelon
Graduado em Geografia pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA)
Pós-graduado em Ensino de Geografia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP)
Integrante do Grupo de Pesquisas Saber-Ver
Pesquisa apresentada a banca examinadora da PUC - SP em: 27/09/2013
Email: andygabrelon@hotmail.com
Este texto é baseado na pesquisa que foi realizada como exigência parcial para a
conclusão do curso de Especialização em Ensino de Geografia, ministrado na Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.
A reflexão que estimulou a mencionada investigação se originou ao verificar-se que
alguns discursos direcionados ao ensino de geografia se aproximam de abordagens
históricas e sociológicas em detrimento da discussão geográfica; procedimentos que se
evidenciam ao abrir o livro de geografia e ao invés de se deparar com a identificação do
fenômeno e do onde este se localiza, observam-se abordagens pautadas a denunciar
problemáticas sociais e a elencar uma série de acontecimentos históricos.
Esta pratica é enfatizada quando o professor de geografia é colocado em xeque, sobre o
questionamento de que o conteúdo em discussão está sendo abordado pelo professor de
história que precedeu a sua aula, gerando uma “confusão que acentuou-se,
principalmente, com o movimento de crítica à geografia tradicional de raízes
positivistas.”(PEREIRA, 1996, p.55). A afirmação de Pereira pode ser constatada no
primeiro material didático que apresenta sinais de rompimento com os princípios
positivistas e adota este hábito de contar a história e abandonar o geográfico, o livro
intitula-se “Estudos de geografia” de Melhem Adas.
Este primeiro trabalho de Adas dedicado ao ensino é reconhecido por ser precursor em
tentar romper com a tradicional geografia praticada sobre fundamentos positivistas
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estratégias adotadas por Melhem Adas, que propiciaram o seu reconhecimento como
precursor de tentativas de romper com o modelo natureza-homem-economia.
No último capítulo foram comparados os discursos geográficos de alguns materiais
didáticos contemporâneos entre si e com a análise dos fundamentos dos trabalhos de
autores que se tornaram referência ao ensino de geografia do Brasil, conforme
mencionados anteriormente.
Neste momento, a proposta é apresentar as provisórias considerações e os
questionamentos que resultaram desta investigação realizada concomitante a pratica do
seu autor na docência em geografia.
RESULTADOS PRELIMINARES
Após esta seminal análise, constata-se que apesar dos novos temas e critérios, a
geografia moderna que foi introduzida no Brasil sobre o discurso de superar as praticas
de ensino que enfatizam a memorização e a descrição dos fenômenos, continua a se
reproduzir e persistir em alguns livros didáticos.
Sobre este contexto verifica-se nos trabalhos investigados que o estudo do arranjo
territorial resultante da relação sociedade-natureza não é contemplado. Mesmo os
autores que sinalizaram a ruptura com a estrutura tricotômica, apresentaram propostas
de ensino fragmentadas, com a Geografia Física sendo esquecida no início do livro ou
isolada em seus últimos capítulos.
Alguns discursos que demonstraram o esforço em direcionar o ensino no âmbito da
apropriação na natureza de acordo com as diferentes maneiras do homem organizar-se
para produzir a sua existência, acabaram reproduzindo tradições que junto com as
clássicas abordagens se perpetuam nos livros didáticos analisados.
Entre estas práticas que invariavelmente se apresentam nos manuais propostos ao ensino
de geografia, verifica-se o homem sendo concebido através do conceito abstrato de
população que é abordada apenas por estatísticas e a enumeração de uma série de
acontecimentos históricos e de problemas sociais, ignorando a discussão sobre o
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XXI que foram investigados, como dos trabalhos dos professores-pesquisadores que se
tornaram referência ao ensino da geografia brasileira e fundamentaram o olhar sobre os
livros didáticos recentes, que foram investigados na pesquisa em referência.
A iniciar pelos livros de autoria dos professores José William Vesentini e de Melhem
Adas que apresentam semelhantes abordagens e seguem a mesma seqüência com a
Geografia Física sendo analisada no final do livro sem relacioná-la com a Geografia
Humana, enfatizando abordagens históricas e problemáticas sociais e deixando a
discussão sobre o geográfico no esquecimento.
O último trabalho analisado de autoria de Sonia Castellar e Valter Maestro é
diferenciado dos outros materiais consultados, a iniciar pelo compromisso que
demonstra com a geografia, propondo estudos que partem da localização e da descrição
dos cenários. No transcorrer deste trabalho, seus autores demonstram a preocupação em
aprofundar a discussão em busca do entendimento da ordem que se estabelece
territorialmente como produto da relação sociedade-natureza, direcionando tal discussão
no âmbito da apropriação da Geografia Física, discutida na unidade inicial.
No entanto, existe uma ressalva a se considerar, relacionada a analise que os professores
Castellar; Maestro fazem sobre a sociedade, pois se verifica neste momento a sua
convergência as abordagens tradicionais, onde o livro se concentra a discutir o homem
com base apenas nos índices das problemáticas sociais, desconsiderando a análise de
como as sociedades se organizam para apropriarem-se da natureza e qual a posição do
indivíduo na divisão social do trabalho. No exemplo abaixo, ao discutir a concentração
da população de menor poder aquisitivo, os autores citam que,
“Esses últimos acabam, de modo geral, ocupando as áreas públicas da periferia,
as margens de córregos ou de mangues, as áreas constantemente atingidas por
alagamentos, os terrenos íngremes, sujeitos a desmoronamentos em épocas de
chuva...” (CASTELLAR; MAESTRO, 2009, p.112).
Apesar dos autores considerarem que tanto a natureza como as relações econômicas-
políticas e sociais influem nas condições da sociedade, na sua distribuição, localização e
densidade, conforme a passagem a seguir:
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REFERÊNCIAS
AB´SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades
paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
ADAS, Melhem. Estudos de geografia. 2ed. São Paulo: editora Moderna, 1979.
_____________. Construção do espaço geográfico brasileiro. 5 ed. São Paulo:
Moderna, 2006.
AZEVEDO, Aroldo de. Brasil: A terra e o homem, Vol. 1. São Paulo: Companhia da
Editora Nacional, 1964.
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