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Ensino de Geografia e Turismo: Um Estudo de Caso do Curso de Guia

de Turismo do IFPA, Campus Belém

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Jamili do Socorro Cardoso Lobato

Jamile_lobato@hotmail.com – NAEA/UFPA

INTRODUÇÃO

Na prática do ensino de turismo, o conhecimento geográfico é considerado


relevante no processo de aprendizagem, sendo a geografia, disciplina considerada
fundamental no currículo dessa formação. Sendo assim, e levando-se em consideração o
crescimento exponencial de cursos voltados para a formação do turismo, torna-se
importante analisar de que forma o processo de ensino- aprendizagem da geografia
escolar vem sendo discutido no contexto do turismo de ensino do Instituto federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA).

É nesses termos que se coloca o objetivo de nosso trabalho que se traduz em


analisar de que forma vem sendo produzida essa discussão a respeito do ensino de
geografia no curso de guia de turismo, de ensino subsequente do IFPA, buscando
analisar de que forma a geografia escolar está sendo trabalhada no contexto do ensino
do turismo e quais as reflexões apontadas pelos alunos e professores a respeito da
prática do turismo a partir das analises e das dinâmicas trabalhadas em sala de aula da
ciência geográfica. Para compreender tal processo, julgamos necessário, fazer um breve

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Graduada em licenciatura Plena em Geografia pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
do Pará - IFPA. Estudante de especialização do curso Geografia da Amazônia pela Faculdade Integrada
Brasil Amazônia (FIBRA) e do curso de Planejamento e Gestão do Turismo e do Lazer pelo Núcleo de
Altos Estudos Amazônicos (NAEA/UFPA).
resumo a respeito do ensino de geografia, apresentando sua trajetória enquanto ciência
e posteriormente enquanto disciplina escolar, bem como compreender a evolução dos
conceitos de turismo e de que forma ele influencia na organização do espaço.O que se
espera da analise do turismo a partir da ciência geográfica no processo de ensino-
aprendizagem é o desenvolvimento da consciência critica dos alunos sobre as políticas
publicas de turismo e suas implicações sócioespaciais nas localidades, levando-os a
identificar os impactos positivos e negativos envolvidas nas contradições dessa
atividade.

N a realização da investigação empírica, com procedimentos metodológicos de


caráter qualitativo, foi montado um roteiro de perguntas com o propósito de descobrir
de que forma a geografia está sendo discutida no contexto do turismo de ensino
subseqüente da referida instituição, na qual foram entrevistados 1 (um) professor que já
havia ministrado a disciplina geografia e uma amostra aleatória de 12 (doze) alunos para
a aplicação do roteiro de perguntas. A amostra abrangeu a turma M1331MS do total de
28 alunos matriculados. Seu caráter metodológico se caracteriza pela pesquisa
bibliográfica como aporte teórico sobre a geografia enquanto ciência e disciplina escolar
e sua relação com o turismo além de pesquisa documental referente a legislação que
ampara a criação dos cursos de guia de turismo, bem como, ao plano do curso no IFPA.
Quanto às entrevistas e ao roteiro de perguntas estes foram pensados a partir dos
objetivos a que este trabalho esta se propondo, ou seja, identificar quais as formas de
abordagem escolar que está sendo apresentada a geografia no curso de Guia de Turismo
a partir dos conceitos e teorias trabalhados em sala de aula e uma melhor visualização
dessa discussão.

1.1 O ENSINO DE GEOGRAFIA E SUAS RELAÇÕES COM O


TURISMO
O ensino geografia no Brasil por muito tempo serviu para difundir a idéia de
nacionalismo e de nacionalidade, onde como disciplina autônoma aparece a partir de
1837 no colégio Pedro II. O objetivo era único : capacitar às elites brasileiras e,
sobretudo construir junto aos alunos a ideia de nacionalismo e nacionalidade. Para
Vesentini (2003), o desígnio fundamental da geografia escolar, nesse momento, era
difundir uma ideologia patriótica e nacionalista, inculcando a ideia de que a forma
estado-nação é natural e eterna, enaltecer o “nosso” estado-nação destacando sua
potencialidade, sua originalidade, o “futuro” glorioso que o espera, enfim, seu destino
manifesto.

Com sua efetivação em âmbitos acadêmicos na Universidade de São Paulo


(USP) e com a criação da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), as discussões
em torno dessa ciência começam a tomar, de fato, novos rumos, apesar de ainda estar
carregada do tradicionalismo positivista. De acordo com Cassab (2009) “a revolução de
30, apesar de frustrada, trouxe uma notável renovação, provocando o crescimento da
leitura e da reflexão sobre o país, iniciando com ela a institucionalização da geografia
em âmbitos acadêmicos” Da década de 30 a 60 apesar dos estudos que permeiam a
geografia e sua orientação renovada de ensino na legislação vigente da época não se
consegue ainda se consolidar, na medida, que grande parte dos professores sem
formação acadêmica não conseguia dar conta satisfatoriamente das discussões
incorporadas pela geografia moderna em sala de aula e, portanto, ainda seguindo a
orientação clássica desta disciplina.

O movimento de renovação da geografia com inicio na década de 50 e com sua


efetivação na década de 70 traz para a sala de aula um espaço indissociável da
sociedade, no qual o homem está no centro das discussões, porém é preciso ressaltar
que essa geografia critica não chegou de forma homogênea nas escolas brasileiras, pelo
contrario, aumentou o descompasso entre a geografia acadêmica e a geografia escolar,
uma vez que, os professores estavam acostumados a trabalhar com conteúdos “prontos e
acabados” do ensino clássico de geografia. Hoje é possível perceber, apesar dos
esforços de alguns geógrafos em fazer uma discussão mais abrangente e multidisciplinar
a respeito do ensino de geografia, que as metodologias dos professores ainda tentam
reproduzir verdades cristalizadas, negando assim, o próprio dinamismo que a geografia
enquanto ciência social tanto reivindica.
1.2 Mais de que forma essa discussão influencia na pratica do ensino de
turismo?

Em primeiro lugar por se caracterizar hoje como umas das práticas econômicas
e sociais que mais consome e reorganiza os espaços onde se instala, e, também por
entender que o geógrafo não pode ignorar a teia que une o turismo e a questão
ambiental, o turismo e a sociedade, espaço, cultura, políticas setoriais e impactos vindos
de toda a ordem. Barros (1998) chama a atenção que “ o centro de interesse da geografia
pelo turismo, de forma geral, está nas formas, nas dinâmicas e nas representações das
paisagens derivadas do exercício das atividades turísticas” É preciso lembrar que, assim
como a geografia, o turismo também passou por mudanças significativas em seu
percurso epistemológico.

Na verdade, a produção do conhecimento sobre a abordagem


geográfica do turismo tem suas raízes e seu desenvolvimento nas
influencias epistemológicas que permeiam historicamente a produção
do conhecimento geográfico. Em seus primórdios, passou da simples
apreciação morfológica ao enfoque genético-funcional, na perspectiva
mesmo de entender o fenômeno turístico em sua origem e processo,
como fator da transformação da paisagem cultural. O método
ideográfico da via indutiva, baseado na observação,
comparação,classificação, generalizações e daí a via explicativa,
característico da tradição clássica, é que fundamenta estudos e
pesquisas na abordagem geográfica do turismo até a primeira metade
do século XX. (CALLIZO, 1991 apud CASTRO, 2006, p. 18).

A partir da década de 1970 e 1980, as abordagens geográficas, como também, as


relacionadas à geografia do turismo começam a tomar novos rumos, pois, assim como a
ciência geográfica, os estudos acerca do enfoque geográfico do turismo, além da
abordagem pragmática, também começam a incorporar as analises criticas, humanista e
cultural, isso mostra que a abordagem geográfica do turismo, assim como a geografia,
também incorpora a tendência pluriparadigmática na construção desse conhecimento. É
preciso lembrar que por muito tempo os geógrafos negligenciaram os estudos sobre o
turismo até este apresentar expressivo crescimento na década de 1980.
Segundo Souza e Assis (2007), isto é resultado do longo período de tempo que a
agricultura e a indústria foram consideradas as principais atividades econômicas
responsáveis pela organização dos espaços. Com a globalização assumindo um papel
cada vez mais marcante a partir da década de 1980, novos desafios foram lançados ao
ensino de geografia. As transformações sócioespaciais ocorridas em virtude da atividade
turística foi uma delas. Entendemos que, ao mesmo tempo em que é importante tratar o
turismo como parte de uma economia globalizada, é necessário entender que ele se
estabelece de forma distinta nos lugares nos quais se instala, uma vez que, cada lugar
tem suas especificidades sociais e territoriais. É nesse aspecto que reiteramos a
importância de compreender como o turismo é trabalhado no processo de ensino-
aprendizagem e alimentar o debate entre turismo e o ensino de geografia.

Esses novos elementos que o turismo gera no espaço precisam estar inseridos no
processo de ensino- aprendizagem, no sentido de acabar com o discurso que mostra o
turismo como uma prática redentora. O interessante é que o professor utilize o turismo
contextualizando-o a realidade vivida do aluno levando a refletir sobre os impactos e
contradições espaciais dessa atividade, ou seja, faze-lo analisar quais impactos
econômicos o turismo traz a seus municípios e como ele se configura no espaço.

No plano de curso de guia turismo cujo principal objetivo é capacitar


profissionais qualificados para o atendimento dos serviços de guiamento profissional,
tem na ementa que compõe a grade curricular de geografia o título “a geografia do
Brasil aplicada ao turismo”, e destaca temas que possibilitem ao aluno ter entendimento
sobre os estudos básicos do conteúdo de geografia que trabalha os aspectos físicos do
território brasileiro. O objetivo é proporcionar ao aluno a visão geral dessas principais
características e como elas estão distribuídas pelo território. Abaixo segue o conteúdo
que deve ser trabalhado nas aulas de guia de turismo.

TABELA 1: GRADE CURRICULAR DE GEOGRAFIA DO CURSO DE GUIA DE TURISMO


DO IFPA
COMPONENTE CURRICULAR – GEOGRAFIA DO BRASIL APLICADA AO TURISMO

A divisão territorial do Brasil. Divisão regional em Domínios


complexos regionais/ regiões morfoclimáticos e
geoeconômicas; divisão fitogeográficos
regional oficial (IBGE, 1969). (interação relevo-c1ima-
vegetação) na paisagem.

Rede e sistemas de transporte: Interpretação de avisos Aspectos geográficos


malha e nomenclatura das meteorol6gicos para avaliação dos atrativos turísticos
rodovias federais (radias, das condições de tempo para o do Estado: Localização,
longitudinais, transversais, guiamento. acesso, características e
diagonais, de ligação), rede roteiros dos principais
aeroportuária, portuária e atrativos turísticos do
ferroviária. Estado.

Fonte: (Plano de Curso de Guia de Turismo do IFPA, 2010).

Como é possível visualizar essa geografia que é destacada na ementa do curso,


em alguns momentos, deixa de lado o fato de que o espaço ao ser produzido, consumido
e reorganizado pela atividade turística traz mudanças sociais, econômicas, culturais e
ambientais marcantes para o lugar. Pensamos que as habilidades que se espera ter com
os estudos geográficos podem, além de fazer uma análise pouco aprofundada desses
conceitos, investigar os aspectos sociais dos lugares a que o turismo os submete. Pois
como já exposto, o aspecto social do turismo não é destacado no componente curricular
do curso, já que, esses elementos são analisados apenas com o objetivo de facilitar o
exercício da atividade turística nas regiões.

1.3 Escutando o que os Alunos têm a dizer acerca do Ensino de


Geografia
Inicialmente nossa preocupação foi estabelecer contato com os alunos no sentido
de questionar acerca de quais os conceitos e de que forma são trabalhados em sala de
aula, com o objetivo de entender como, a partir da visão dos alunos, a geografia escolar
está sendo trabalhada no contexto do ensino do turismo e quais as reflexões apontadas
por eles a respeito da prática do turismo, a partir das analises e das dinâmicas
trabalhadas em sala de aula da geografia.

A partir das entrevistas, foi possível perceber que os alunos estudaram apenas de
forma vaga tais conceitos mostrando saberem da importância dos estudos geográficos
no curso, porém enfatizando os elementos físicos, como as principais riquezas naturais
dos lugares estudados e visitados não analisando, portanto seus aspectos sócioespaciais.

No que se refere às aulas de campo foi percebido que essas além de ser pouco
frequentes, quando se tem é de forma bem pouco orientada, pois segundo os alunos.

“Em certos momentos chegamos com o olhar de turistas, como é que


vamos poder fazer o guiamento se temos essa visão do turismo?” “não
somos bem orientados durante as aulas de campo, é como se fosse um
passeio qualquer”. (Maria, nome fictício, janeiro de 2012).

As aulas de campo por se tratar de um momento importante para que o aluno


tenha o encontro da teoria com a prática, seria de grande importância para eles poderem
visualizar os principais conceitos vistos em sala de aula incluindo também o conceito de
paisagem, a partir do dialogo entre turismo e ensino de geografia, uma vez que este
abriria grandes possibilidades de despertar a consciência critica do espaço vivido e
construído. Procurando verificar, se os alunos entendem a geografia como um estudo
que apenas descreve os lugares ou como um estudo geográfico que faz analise do
turismo em suas múltiplas dimensões, incluímos no roteiro a pergunta “De que forma,
geografia e turismo se relacionam ?”.

Durante essa indagação percebeu-se que os alunos sabem da importância desse


diálogo, porém limitando-se apenas em discuti-lo, partindo do pressuposto que a
geografia ainda é uma ciência que apenas descreve os lugares, a grande maioria não
sabia dizer que implicações sociais e espaciais a atividade turística leva aos lugares em
que atua, e, em suas falas destacaram bastante as riquezas naturais do estado, resumindo
a relação do homem com a natureza ao desmatamento. Em relação às políticas públicas
voltadas ao turismo e como são discutidos no curso, os alunos destacaram bastante o
déficit dessas políticas em nossa região. Nesse caso, a percepção comum é a de que
essas políticas estão voltadas principalmente para valorização do potencial natural e
cultural desses lugares, porém eles não souberam dizer que essas políticas voltadas ao
desenvolvimento dos lugares estão associadas as transformações nos territórios de
atuação do turismo, pensamos que a geografia, nesse sentido, pode dar grandes
contribuições a essa discussão destacando que o planejamento dessa atividade é capaz
de realizar significativas mudanças espaciais nos lugares com implicações diretas em
suas paisagens,a análise das políticas publicas voltadas ao turismo precisa ficar mais
clara para o aluno poder entender a realidade de seus município no que se refere a
produção do espaço turístico.
Para poder incrementar ou fomentar o setor turístico, o Estado, através
dos governos municipais e estaduais, lança uma estratégia à sociedade
que se torna bandeira, slogan ou propaganda de governo, a de que o
turismo é capaz de gerar desenvolvimento e bem-estar social. Nesse
sentido, o planejamento do espaço voltado para a atividade turística
entra em cena com o intuito de validar tal perspectiva, e acima de
tudo, fazer dessa situação um ponto positivo para ganhar adesão
social. (Serra, 2007, p. 22).

A percepção dos alunos sobre a importância do turismo no mundo de hoje,


também pode nos ajudar a compreender que visão eles tem a respeito desse fenômeno e
suas diversas facetas. Na maioria das respostas eles mostraram ainda olhar o turismo
como uma atividade de consumo dos lugares e de fomentação das economias locais. Já
em relação às perguntas voltadas aos professores, algumas delas também feitas aos
alunos, foram pensadas com objetivo de perceber se existe alguma dificuldade em se
trabalhar o ensino de geografia por conta da falta de recurso didático ou de fonte de
pesquisa, como também, se existe a consciência da importância da geografia para a
prática do turismo como um meio de compreender seu processo de espacialização, ou
seja, como modifica as paisagens, quem se beneficia com a atividade, de que forma as
comunidades locais podem ser inseridas nesse processo.
Nesse sentido, na entrevista realizada com uma das professoras de geografia que
havia ministrado aula na turma foi relatado que as principais questões encontradas pelos
alunos se refere a dificuldade em relacionar os aspectos da paisagem aos conteúdos de
turismo. Perguntamos quais foram os conceitos de geografia trabalhados em sala de
aula, a professora respondeu da seguinte forma:
“─Para eles a geografia é para decorar e não interpretar”.
Perguntamos quais foram os conceitos de geografia trabalhados em sala de aula,
a professora respondeu da seguinte forma:
“─De forma indireta todos os conceitos da geografia, porém pelo pouco tempo a disciplina foi
corrida, dava para ser trabalhada melhor, os alunos sentiram dificuldades, apesar dos conteúdos serem

trabalhados partindo de sua realidade”.

Em relação às aulas de campo, esta ocorreu em conjunto com outra disciplina,


ela também confirmou aquilo que os alunos já haviam dito:
“─A frequência das aulas de campo são bem poucas, apesar do curso de turismo ter prioridade
para viagem”.

Quando perguntada de que forma durante a disciplina é percebida a relação da


geografia com o turismo a professora respondeu:
“─Quase indissociável á questão da produção do espaço e as questões histórico-geográficos”.
Demonstrando, com essa resposta, saber da importância dos estudos geográficos
para o turismo. Outro ponto que ela destacou se relaciona à disciplina que se refere ao
território, questionando o porquê de na ementa do curso a disciplina não ser ministrada
por um professor de Geografia:
“─A disciplina relacionada ao o território, não tem geógrafos”.
Mostrando em sua resposta que a geografia poderia ser discutida melhor no
curso de Guia de Turismo se houvesse um melhor espaço para ela na ementa do curso,
no sentido de uma melhor utilização de seus principais conceitos.

Em resumo foi possível perceber durante a entrevista que os alunos ainda não
conseguem fazer uma análise crítica a respeito da produção do espaço turístico, as
discussões feitas em sala de aula não conseguem dar conta de toda a complexidade
relacionada à atividade turística. A geografia ainda é concebida como a ciência da
descrição que valoriza apenas os aspectos naturais dos lugares. No que se refere a
entrevista com a professora percebemos que existe a preocupação em analisar o turismo
a partir de uma analise mais social e que portanto produz espaço, foi notável em sua fala
que por conta do pouco tempo ela não conseguiu discutir com os alunos a questão da
paisagem e do lugar associado a prática turística de maneira que os alunos
conseguissem compreender seus impactos nos espaços de atuação do turismo.

CONSIDERAÇOES FINAIS
A partir desse estudo de caso, foi possível diagnosticar como os estudos
geográficos vêm sendo trabalhados na turma de ensino subseqüente de guia de turismo
onde através da análise da ementa do curso aliado ao diálogo com alunos e professores
verificamos que a geografia precisa ser melhor discutida no sentido de utilizá-la como
um aparato para identificar os principais aspectos sociais e espaciais que a atividade
turística vem trazendo em seus lugares de atuação. Foi possível verificar também que
os estudos relacionados a produção do espaço turístico produzido na universidade
precisa chegar com maior rapidez na sala de aula em todos os níveis de ensino pois
ainda se nota que a atividade turística muitas das vezes é encarada como algo sem
vida social . Essa reorganização nos espaços de atuação do turismo precisa ser mais
priorizada na grade curricular do curso, pois a geografia não pode se resumir apenas em
descrever as características físicas, ressaltando as riquezas naturais desses espaços, na
medida em que a atividade turística ao criá-lo e recriá-lo de acordo com os interesses de
seus principais agentes dota-o de maior complexidade e, portanto também de conflitos.

Verificamos também que a questão dos trabalhos de campo precisa ser melhor
discutido no curso, no sentido, de uma maior frequência e melhor orientação durante
sua prática pois acreditamos que o profissional que será formado como guia turístico
além de mostrar as potencialidades turísticas dos lugares ou seu “capital natural”
precisam também estar atentos aos discursos de seus principais agentes questionado se
realmente a atividade vem trazendo desenvolvimento a esses lugares e a suas
comunidades locais. Sabemos a grande amplitude que essa atividade vem tomando no
mundo contemporâneo e sua reivindicação interdisciplinar, por isso, pensamos que não
cabe mais entendê-lo somente a partir de um viés mercadológico, mas, sobretudo sócio-
espacial e o curso de guia de turismo não pode negligenciar esse aspecto,
principalmente no que tange a grade curricular proposta para a geografia.

BIBLIOGRAFIA

BARROS, Nilson C. Crócia de. Manual de geografia do turismo. Recife: UFPE,


1998.

CASSAB, Clarisse. Reflexões sobre o ensino de geografia (Geografia: Ensino e


Pesquisa, Santa Maria, v 13 n. 1, p. 43-50, 2009).

CASTRO, Nair Apparecida Ribeiro de. O Lugar do Turismo na ciência geográfica:


contribuições teórico-metodológicas a ação educativa. (Tese apresentada ao programa
de Pós- graduação em geografia física, do departamento de geografia da faculdade de
filosofia, letras e ciências humanas da USP). São Paulo, 2006.

OLIVEIRA, A. U. de (Org.) Para onde vai o ensino de Geografia? São Paulo:


Contexto, 2003.

SERRA, Hugo Rogério Hage. A concepção de turismo e de sua espacialidade no


plano de desenvolvimento de turismo do Pará (PDT-PA). Dissertação de Mestrado.
Belém: PPGEO/UFPA, 2007.

SOUZA, Arilson Xavier de. ASSIS, Lenilton Francisco de. A Inserção Transversal do
Turismo nas Aulas de Geografia do Ensino Médio. (Caminhos de Geografia
Uberlândia v. 8, n. 21 Jun/2007 p. 9 – 17).

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