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Ainda sobre tais condições de habitação, Santos (2009, p.37) destaca quea
“periferização da população é gerada graças à pobreza e seu componente geográfico,
assim formam-se os modelos específicos de centro-periferia.”
Nesse sentido, verifica-se que grande parte das problemáticas concernentes às
cidades são resultados de alguns processos pretéritos, as cidades apenas vem se
reproduzindo segundo a logica capitalista, guiado pelas desigualdades que são
produzidas pela valorização capitalista no/do espaço, esses processos por sua vez
induzem ao agravamento da problemática urbana, uma vez que, tais desigualdades se
expressam mais claramente nas periferias, visto que o valor no/do espaço juntamente
com a renda diferencial conduz a população mais pobre para as periferias, nesses
espaços a territorialidade/territorialização da criminalidade violenta encontram maiores
oportunidades de se materializarem à medida que os déficits de planejamento,
saneamento, policiamento entre outros são escassos ou mesmo inexistentes.
Podemos apontar ainda a ausência do poder do estado nesses espaços periféricos
como um fator que contribui para o agravamento da criminalidade violenta nesses, nas
periferias,visto que tal ausência dá margem para atuação de outras relações de poder ou
micro-poderes, como concebe Foucault (1992), que por sua vez reluz o medo
generalizado/a insegurança pública da população, dando margem aos processos de
territorialidades perversas guiadas por sujeitos que passam a coabitar esses espaços e a
disputá-los entre si, como consequência, além da disposição de sofrer violência física a
população também fica sujeita a outro estagio de violência1, uma vez que a impotência
da gestão pública possibilita que se estabeleça a violência em outros estágios, que é
anterior ao direito.
1
No texto “por que a guerra” Freud (2005) faz uma discussão sobre os estágios da violência, onde
mostra que esta e o direito são opostos, porém o direito se desenvolve a partir dessa, sendo assim, a
privação daquilo que é legitimado, possibilita a violência para além da agressão física. (UM DIALOGO
entre Einestein e Freud: por que a guerra? Santa Maria: FADISMA, 2005)
Verifica-se também que os espaços que apresentam carência ou mesmo a
ausência do poder do estado, são aqueles que também são marginalizados da economia
formal, apresentam como características a formação de um mercado informal, Castells
(1999, p. 99) descreve que a formação desse mercado aparece como uma alternativa
para aqueles que estão excluídos, uma válvula de escape, uma oportunidade de inserção
no mercado de trabalho, ainda que seja o mercado ilegal, o mesmoressalta que:
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O sentido do termo privação foi empregado segundo a perspectiva de Castells (1999)para explicar a
acepção da palavra miséria ou pobreza extrema, assim privação seria uma ampla gama de desvantagens
sócio/econômicas. No primeiro momento que empregamos esse termo explicamos a relação deste com
a violência, mostrando que tal desvantagem regride ao estado de violência, visto que, esta é anterior ao
direito.
De acordo com Silveira (2008) quanto ao homicídio, classificado segundo o
Artigo 121 do código penal como crime contra a vida é considerado a mais grave
violação reprimida pela sociedade e pela lei, ainda sobre o crime,Durkheim (1999, p.
13) faz sua consideração, “o crime nada mais é que um ato ou conduta praticada pelos
indivíduos, fruto da maldade e liberdade humanas”, para esse autor o crime não é
entendido como uma conduta anormal, sendo, portanto, considerado normal, visto que,
são considerados normais os fatos que apresentam formas gerais em toda a extensão de
uma espécie. Mais importante que classificar o crime como normal ou anormal, é
compreender no âmbito da geografia as relações entre a criminalidade e o uso do
território em suas diversas escalas, visto que conforme Souza (2008,p.11) “as práticas
de violência não estão dissociadas do espaço. Aqui também o espaço comparece em sua
dupla qualidade de produto social e condicionante das relações sociais”.
Assim, ao tratar das diferentes espacialidades dos bairros estudados tem-se como
analisar, Figura 2 e 3, as diferentes estruturas dos bairros, apesar de ter sido constatado
em lócus pelos pesquisadores uma espacialidade heterogênea, no interior de cada bairro
onde é perceptível áreas mais bem estruturadas em certos pontos em relação a outros,
percebe-se, tratando-se de uma comparação entre os bairros, o descaso do poder público
maior no bairro do Jurunas em relação ao Umarizal.
Figura 1 – Análise multitemporal do comportamento da mancha criminal
Fonte: Dados da Pesquisa (2014)
4CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos estudos e medidas socioeducativas foram tomadas no sentido de
combater a violência entendendo suas ações de causa e efeito, sobretudo, nas grandes
cidades. Sabe-se que a violência não é um fenômeno da sociedade moderna, visto que
sempre esteve presente em toda a história da humanidade. Contudo, o que se constata é
que a violência tem se mostrado muito mais presente na vida cotidiana das sociedades
urbanizadas.
Entende-se de forma mais especifica que as formas de ocupação e atuação do
estado não são suficientes para conferir condições salubres de vida garantindo a
dignidade, direitos e deveres imutáveis, senão inalienáveis previstos em lei,capazes de
diminuir a criminalidade violenta, como observado a partir da análise multitemporal das
manchas de crime nos bairros estudados. Portanto, destaca-se o importante papel da
geografia, a fim de trazer para o debate tais questões presentes no âmbito social.
REFERENCIAS
CARLOS, Ana Fani Alessandri. A (Re) produção do espaço urbano. São Paulo:
Edusp, 2008.
SILVA, Mauro Emílio da Costa. Lugar e Paisagem em bairros centrais de Belém. In:
Oliveira, Janete Marilia Gentil Coimbra de (org.) Espaço, Natureza e Sociedade:
Olhares e perspectivas. Belém: GAPTA/UFPA, 2013.
VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. 2. ed. São Paulo: FAPESP, 2001.