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AS CONTRIBUIÇÕES DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO

TERRITORIAL PARA A ORGANIZAÇÃO SOCIAL NO ASSENTAMENTO


MAGNÍFICAT.

Samuel de Jesus Oliveira Maciel/CECEN/UEMA.

samuel.maciel2012@yahoo.com.br

Pesquisa concluída

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem por finalidade analisar as contribuições dos referenciais


discutidos no colegiado territorial do Vale do Itapecuru Mapa 1, para organização social
no assentamento Magníficat, principalmente no que se refere às políticas territoriais
voltadas para os assentamentos disposto pelo governo federal.
Mapa 01. Território Vale do Itapecuru
Para subsidiar as discussões sobre os referenciais teóricos foi importante
aprofundar o estudo dos conceitos de território, questão agrária e política de
desenvolvimento territorial usados nas Políticas Públicas do Governo Federal com o
objetivo de relacionar o marcos teórico e compreender a utilização dos mesmos nas
discussões sobre desenvolvimento rural.
Para a nossa fundamentação buscamos autores que ao longo dos anos promovem
discussões sobre o rural e utiliza o conceito de território. Saquet (2003), por exemplo,
entende que o território é a expressão concreto-abstrata do espaço produzido a partir das
relações de poder, sejam elas econômicas, culturais, políticas ou sociais. Para ele as
relações são múltiplas e por isso os territórios também o são, o que nos sugere a crer
que o território é resultado do processo de produção do e no espaço geográfico.

O território é produzido espaço-temporalmente pelas relações de


poder engendradas por um determinado grupo social. Dessa forma,
pode ser temporário ou permanente e se efetiva em diferentes escalas,
portanto não apenas naquela convencionalmente conhecida como o
“território nacional” sob gestão do Estado-Nação. (SAQUET, 2003,
p.10)

Dallabrida 2007, apud Leite, 2010 em trabalho que almeja contribuir com
reflexões teóricas sobre a gestão social dos territórios nos processos de desenvolvimento
territorial, conceitua território como
Uma fração do espaço historicamente construída através das inter-
relações dos atores sociais, econômicos e institucionais que atuam
neste âmbito espacial, apropriada a partir de relações de poder
sustentadas em motivações políticas, sociais, ambientais, econômicas,
culturais ou religiosas, emanadas do Estado, de grupos sociais ou
corporativos, instituições ou indivíduos. (p.16)
O autor ainda aborda o conceito de desenvolvimento territorial considerando a
dimensão material, que tem nos aspectos econômicos sua expressão maior, e a
dimensão imaterial, que aborda os aspectos culturais e o capital social, afirmando sua
conceituação de que o desenvolvimento territorial pode ser entendido como
Um processo de mudança estrutural empreendido por uma sociedade
organizada territorialmente, sustentado na potencialização dos capitais
e recursos existentes no local, com vistas à dinamização econômica e
à melhoria da qualidade de vida de sua população. (p.16)
Dallabrida (2007) também pondera que para que os direitos de participação
possam ser exercidos com equidade entre os diferentes atores territoriais é fundamental
que sua articulação ocorra através de procedimentos voluntários de conciliação e
mediação através de processos de concertação social (pactos territoriais), instituindo-os
como norma no processo de gestão do desenvolvimento.
No tocante à discussão sobre a questão agrária Martins, (1981) discorre:
A questão agrária nasceu da contradição estrutural do capitalismo que
produz simultaneamente a concentração da riqueza e a expansão da
pobreza e da miséria. Essa desigualdade é resultado de um conjunto de
fatores políticos e econômicos. Ela é produzida pela diferenciação
econômica dos agricultores, predominantemente do campesinato, por
meio da sujeição da renda da terra ao capital (p. 175).
A partir dessa concepção FERNANDES (2010) diz,
Nessa diferenciação prevalece à sujeição e a resistência do
campesinato à lógica do capital. Na destruição do campesinato por
meio da expropriação, ocorre simultaneamente a recriação do trabalho
familiar através do arredamento ou da compra de terra e, também;
uma pequena parte é transformada em capitalista pela acumulação de
capital, compra de mais terra e assalariamento. (p.508)
Por meio desses acontecimentos a questão agrária, Segundo (Oliveira, 1991)
gera continuamente conflitualidade. Porque é movimento de destruição e recriação de
relações sociais: de territorialização, desterritorialização e reterritorialização do capital e
do campesinato; de monopólio do território camponês pelo capital. (p.24-5).
Para alcançar os objetivos deste trabalho, foi feita uma análise dentro do
colegiado para identificar os referenciais teóricos discutidos e as discussões sobre a
política de desenvolvimento territorial e a aplicabilidade dos referenciais teóricos
utilizados para organização do assentamento Magnificat. Para uma maior compreensão
do Objeto de estudo, fez-se um levantamento bibliográfico sobre o Programa Territórios
da Cidadania, em particular sobre o Território Vale do Itapecuru realizando-se
posteriormente uma análise da documentação utilizada nas oficinas promovidas para
articulação do colegiado. Visitou-se Instituições Governamentais e Entidades não
governamentais que desenvolvem atividades ligadas aos programas e planos
desenvolvidos nos assentamentos. Além do acompanhamento das atividades desenvolvidas
pelo colegiado territorial, foi realizada uma visita técnica aos municípios de Itapecuru-Mirim e
ao assentamento Magnifica. Foram feitas visitas à secretaria de agricultura, sindicados dos
trabalhadores e trabalhadoras rurais, AGERP (Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária) e
entre outras. Posteriormente foram feitas entrevistas com algumas pessoas que fizeram e
fazem parte do colegiado território do Vale do Itapecuru e com alguns produtores rurais
do assentamento.

TERRITÓRIO DA CIDADANIA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

As referências bibliográficas estudadas consistiram num maior embasamento no


que se refere às noções de território, Reforma Agrária, Políticas Territoriais e
Desenvolvimento Territorial. Mediante a análise faz-se necessário uma análise sobre os
resultados obtidos.
E para compreender melhor este processo de contribuição dos referenciais, é
importante destacar como se deu o surgimento do programa Território da cidadania e
destacar o colegiado territorial que vai ser o alvo desta pesquisa.
Criado em 2003 pelo Governo Federal, os Territórios Rurais tornaram-se
estratégia de desenvolvimento regional sustentável e garantia de direitos sociais
voltados às regiões do país que mais precisam (necessitam), com objetivo de levar o
desenvolvimento econômico e universalizar os programas básicos de cidadania. O
principal objetivo do projeto era a superação da pobreza e a geração de trabalho e renda
no meio rural por meio de uma estratégia de desenvolvimento territorial sustentável,
assim como, a inclusão produtiva das populações pobres dos territórios, busca da
universalização de programas básicos de cidadania, planejamento e integração de
políticas públicas e ampliação da participação social.
No Maranhão foram criados 4 territórios rurais em 2003 Baixo Parnaíba,
Cocais, Lençóis/Munim e Vale do Itapecuru em 2008 foram criados mais 4 territórios
Alto Turi e Gurupi, Baixada Ocidental, Campos e Lagos e Médio Mearim perfazendo
atualmente um total de oito territórios da cidadania.
Cada território tem o colegiado territorial e suas principais atribuições são de
elaborar ou aperfeiçoar o plano de desenvolvimento do território; promover a interação
entre gestores públicos e conselhos setoriais; contribuir para qualificação e integração
de ações; Ajudar na execução das ações e identificar ações para serem priorizadas no
atendimento; Exercer o controle social do Programa; dar ampla divulgação sobre as
ações do Programa.

A ORGANIZAÇÂO SOCIAL EM MAGNIFICAT

A Comunidade de Magnificat Mapa 01, está localizada a 9 km da cidade de


Itapecuru-Mirim, município que dista 120 km de São Luís, capital do Estado do
Maranhão. MACIEL, 2011. A constituição dessa iniciativa em 1979 está diretamente
vinculada a um acontecimento: Barriguda, uma gleba de 2.420 hectares de terra
pertencia a uma viúva, que imbuída do espírito evangélico, ao decidir vende-la,
preocupou-se com a situação das 130 famílias de lavradores que haviam ocupado a área.
A proprietária recusou a oferta e para evitar conflitos agrários, já frequentes na região,
então, ela decidiu doar 420 hectares e as 2.000 hectares pelo quarto de seu valor real
para um grupo de integrantes do Movimento dos Focolares, que formaram o Serviço
Comunitário (SERCOM). Que era um grupo de voluntários que foram morar na
comunidade e iniciaram um trabalho de organização social.

Nos anos de 1979 e 1980.


Quando chegamos lá encontramos uma situação de muita pobreza, com uma
elevada taxa de mortalidade infantil (38,4%). As crianças morriam de
pneumonia, diarreia e parasitas. O percentual de analfabetismo, evasão
escolar eram bastantes serviços básicos como escola, saúde, saneamento e
estradas eram inexistentes. Além disso, a população costumava viver em
completa insegurança, com medo pela possibilidade de expulsão da terra
onde viviam. (MACIEL, 2011, p.2)

Mapa 02. Município de Itapecuru e Comunidade Magnificat

Segundo Maria Domingas Marques Pinto (Presidente da Associação das


Quebradeiras de Coco) A experiência de Magnificat influenciou muito na formação e
organização das comunidades rurais do nosso município, pois na década de 70 não
existiam associações de produtores rurais constituídas e nem grupo de mulheres. O
Sercom foi muito importante nesse processo. Nas décadas de 80 e 90 houveram muitos
conflitos de terra, ocasionando derramamento de sangue de muitos trabalhadores e
trabalhadoras rurais. A esperança de mudança veio com o fortalecimento das
organizações dos trabalhadores e trabalhadoras rurais. A intenção da luta até nos dias
atuais é que as famílias permaneçam no campo com uma vida digna. Apesar dos tímidos
avanços os assentamentos da Reforma Agraria são precários e faltam estruturas
adequadas para a permanência do homem no campo.

UMA ANÁLISE DO COLEGIADO

O colegiado territorial é composto pela sociedade civil e pelo poder público para
promover discussões sobre os projetos pensados também pelos representantes da
sociedade civil que são as principais lideranças da comunidade representadas em
colônia de pescadores, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Movimento das
quebradeiras de coco e entre outros. O diálogo com representantes do poder público
para construção de um ambiente favorável à integração e ao estabelecimento de
consensos, de acordos e compromissos coletivos para a transformação almejada da
realidade.

PODER SOCIEDADE
ARTICULAÇÃO
PÚBLICO CIVIL

Foram realizadas 2 entrevista com representantes do Colegiado do vale do


Itapecuru, em 2 munícipios do território que foram Itapecuru Mirim e Vargem Grande.
Em entrevista com Eliane Quilombola que foi representante da sociedade civil, e
atual representante do poder Público do município de Itapecuru Mirim- MA, o principal
referencial para essa politica é o Plano Territorial de Desenvolvimento Rural
Sustentável (PTDRS).
Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS) - principal
instrumento construído no ano 2004, de forma participativa pelo colegiado, em apoio à
gestão social do desenvolvimento territorial foi o primeiro produto elaborado pela
sociedade civil, dando início às ações de desenvolvimento territorial. A
responsabilidade técnica na elaboração do Plano foi da Planeja, de forma participativa,
contando, especialmente, com a estrutura do Colegiado do território. (Documento
Elaborado pela Equipe Técnica da SDT com Consultores).
A consultora da equipe execultora do território diz ainda que a partir das oficinas
que sugiram a necessidade de criação das câmaras temáticas, porque se ampliou às
discussões sobre os projetos e programas sociais a serem implantados.
Segundo, KAHWAGE e HURTIENNE, 2007 Apud SILVA e CASTRO, 2012.
As instituições podem tanto facilitar novas posturas em relação aos processos
econômicos e tecnológicos como podem manter uma ordem já existente. O
acompanhamento das normas instituídas, bem como a criação de novas regras e
mudanças nas relações entre instituição e sociedade está vinculado à capacidade de
pressão da organização social por novas normatividades. Nesse quadro se inscreve o
acesso a participação social em espaços formais de discussão criados a partir da
redemocratização do país.
Paulo Henrique Silva Coelho (Poder Público Cantanhede, entrevistado em
março de 2013). Ele diz como os representantes tiveram acesso a esses referencias que
foram disponibilizados pelo Mistério do Desenvolvimento Agrário (MDA) aconteceu
através de varias capacitações foram disponibilizados especializações, cartilhas nós
mesmos chegamos a produzir vídeos, cartilhas acho que foi um processo de construção.
E enfatiza ainda sobre a politica de desenvolvimento territorial em curso que em
sua opinião está no caminho certo e que o desenvolvimento não acontece da noite para o
dia precisa- se de tempo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mesmo não sendo juridicamente Projeto de Assentamento (PA) da reforma


agrária, a comunidade rural Magnificat apresenta as mesmas características de
assentamentos da região, as contribuições dos referencias discutidos no colegiado não
serviram para a organização social na comunidade, pois, antes mesmo da existência do
território da cidadania o assentamento já contava com uma estrutura de organização
muito forte 20 anos antes a comunidade contou com um programa de desenvolvimento
multi-setorial promovido pela AMU, Sercom (serviços comunitários) em parceria com a
Associação dos lavradores da comunidade de Magnificat e financiando pelo Ministério
dos negócios estrangeiros Italianos onde foi conseguindo inúmeros benefícios entre os
quais de maiores destaques foram à fábrica de polpa de frutas e uma fábrica de
produção de mel, além de acesso as várias políticas públicas como Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA), Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (PRONAF), Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma
Agrária, (ATES).

Portanto, o principal entrave para que as políticas pensadas cheguem realmente


nas áreas alvos das ações territoriais é a desarticulação institucional entre as esferas
públicas e a descontinuidade dos programas sociais.

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