Você está na página 1de 20
AUTORIA E AUTORIZACAO: QUESTOES ETICAS NA PESQUISA COM CRIANGAS. SONIA KRAMER Departamento de Educacio da PUC-Rio solvarer@edu pucria br RESUMO (texto aalsa questies dices enfentads na pesquisa com crangas de cforontes ides, _rupes« contents. Tata da concep de ifs subjacente ds pesquisas em debate & nals és questdes.A primeira focalea os nomes (verdadeios ou hts) de crangas ‘bsenadss cu enieustacas e aalsa se devem ou nio ser expctades na apresertagio a pesquisa. A segunda dst aublzagio de magens de crangas~ seus restos em especial 1 aufonzagio do uso de imagens (em fotografia, vileas ou fies) A tercra trata cas ‘nplicages ou do mpacto socal de resutades de tababhoscentcos &pergunta se pos “ive! contrbuir © devolver os achades, evtando que as clang ou jovens sofa com as repercussdes dese retomo, no ntenor ds isttuSeseducaconas que Feauntamy € Que ‘foram estudads na pesquisa. Tas questex emergiam na arent de monoaras, ss tagdese tse (CRUANGAS ~ INFANCIA— PESQUISA DE CAMPO ~ ETICA ABSTRACT TO BE AN AUTHOR AND TO AUTHORIZE: ETHICAL QUESTIONS CONCERNING RESEARCH ON CHILDREN, This paper analyses etal questions faced in research dieveloped wih cian of various ages, groups and contexts. discuss the cihood conception tat underines research presented in monographs, dseratars and thes that are presented or commented alang the text. Theat refers to tres sues The rst sue ‘Gaases on nares (rue oF ftona of cieron observed ar intenewed. The second sue sass the use made ofcitrens images (in photographs, videos and fins). The thd ‘sue dea th he impatons or the Soca impacto scent tents and tasks Fits possble to conmnbuze with dita or rests preventing ciren and young people hom sufi the consequences of the nsttstona tuations which ae reveaied bythe research (CHILDREN ~ CHILDHOOD ~ RESEARCH ~ ETHICS Cader de Pesquisa 116, p 41-59, juno 2002 al eu deseo ser asronatta porque med cemogio de vas exrae( Darel 208) ‘Agena, 996, p13! Este texto visa a dscutr questées de cardter étco que tenho enfrentado na pesquisa com crancas de diferentes idades, grupos e contextos, So questbes co- rmuns, presentes em procedimentos usvals, que pareceriam de inicio exgir apenas uma decisfo arbitrria do pesquisador e uma explictaglo dessa decsdo no corpo de seu relatério ou texto, Vejamos algumas: os nomes verdadeiros das criangas ~ ‘observadas ou entrevistadas — deve ou nfo ser explctados na apresentagio da pesquisa? No caso de serem usadas e produzidas imagens das criangas (otografas, videos ou flmes) a autorizaglo dada pelos aduitos, em geral seus pais, &sufcient, do ponto de vst ético, para a sua civulgacio? Que implicagées ou impacto socal tém 05 resultados de trabalhos cientiicos? Ou, dizendo de outra forma, & possvel contribuir€ devolver os achados, evitando que as criangas ou jovens soFram com as repercussées desse retorna no interior das instuigSes educacionals que freqlen- tam e que foram estudadas na pesquisa? Essas questées me preocuparn hi anos e tém estado presentes na orienta «fo de monografis,cissertagbes e teses. Ao orientar, acommpanhamos o deservol Vimento de investigacdes com uma interessante combinacio de proximidade eafas- tamento, necessirios para a pesquisa nas dreas das cncias humans e sociis, que nunca ¢ objetiva, consstindo sempre num movimento de objetivagéo e subjetivac. Ao rele sobre tals quest&es, trago 0 diélogo que vento travando com autores de pesquisas que orientei ou examine. ‘Aparentemente, pareceria simples responder a cada uma das indagacdes. No entanto,aspectos poléricos emergem, Quando trabahamos com um referencia te6rico que concebe a infinca como categoria social e entende as crangas corno idados, sujeitos da hist5ria, pessoas que produzem cultura, a idéia central a de que as criangas so autoras, mas sabemos que precsam de cuidado e atenco. Elas, gostam de aparecer, de ser reconhecidas, mas & correto expé-las? Queremos que 2 pesquisa dé retorno para a intervengio, porém isso pode ter conseqiiéncias € colocaras criangas em rsco. Outras vezes, elas jf esto em rsco e ndo denunciar as, insttugBes ou os profssiona’s pelo sofrimento imposto as criancas nos toma iim: pices! Nesse sentido, as reposts ou decisbes do pesquisador podem néo ser tio ‘ices como pareceria & primeira vista (O texto comeca apresentando a concepgio de infinca subjacente is pesqui- sas em debate. Analsa, a partir dal rs questBes: os nomes (verdadeiros ou fic a adores de Pesquis,n. 16, juho/ 2002 ios), relacionando este tema & autoria das acbes e produgées: os rostos, discutindo a autorizagio do uso de imagens de criangas em teses, ros, internet; a devolugio de achados, falando de pesquisa, compromisso e cunpicidade. Ao longo de todo 0 texto, minha intenso & compartihar perguntas mais do que oferecer respostas ‘CRIANGA, SUJEITO DA HISTORIA E DA CULTURA: UMA CONCEPCAO EM PROCESO Temes feto no Brasil, nos Uimos vinte anes, um sério esforgo para consoldar uma visio da cana como cidad, sujeto cratvo,individuo social, produtora da cultura «eda istria, 0 mesmo tempo em que & produzia na ristriae na cura que he so ccontemporéineas. As pesqusas diseutidas neste texto so também fro deste esforco. ‘A construcio desse referencial ocorre desde 0 aparecimento do trabaho de ‘Arts (1978), no fral dos anos 70, quando comesa a pesquisa sobre a histéra dainfinda brasileira, considerando aspectos socal, cutuns e polticas que interferam na nossa ‘formagio: 2 presenca da populagio indigena e seus costumes; o longo periodo de cescravidlo e a opressio a que foi submetida expressiva parte da populacao brasileira: as, migragGes; 0 coloniaismo e oimperalsmo, ricalmente europe e mais tarde america no, forjaram condigBes que dearam marcas no processo de socialzagio de adultos e ccrangas, Com Aris ficou evdenciada a natureza histérica e socal da ctanca. (Outrainfuéncia fo a de Charlot (1977). Discutindo a idéia de infincia, ques- tionando a significagio ideol6gica da idéia de infancia, Charlot permitiu a compreen- fo de que ‘a visio de crianga baseada numa suposta natureza infant, ¢ no na.

Você também pode gostar