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Poesia romântica, parnesianismo, simbolismo

Literatura modernista (os vanguardas)

Poemas a serem trabalhados nas próximas aulas:


poema poética e o ultimo poema (Sara para
próxima aula)

Libertinagem – Manuel Bandeira

I. O Movimento
 Fase Heróica da Literatura Brasileira
 Influência das Vanguardas Européias
 Contra o Academicismo: no aspecto formal e temático
 Poema-piada, bom humor, ironia
 Mistura entre prosa e poesia
 Uso de assuntos tradicionalmente não considerados literários
 Associação mais analógica que lógica entre as palavras
“Nós não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos.”
II. O Autor
 Liberdade formal e temática
 revolta contra o convencionalismo
 valorização do cotidiano
 coloquialidade, através do verso-livre
 contraponto entre as situações da realidade exterior e interior
 expressões antipoéticas
 traços indicadores de sensibilidade romântica: melancolia, desencanto,
desesperança, ligadas à idéia de morte.

“Em literatura a poesia está nas palavras, se faz com palavras e não
com idéias e sentimentos, muito embora, bem entendido, seja pela força do
sentimento ou pela tensão do espírito que acodem ao poeta as combinações
de palavras onde há carga de poesia”.

III. A Obra (1930) – Aspecto Formal


 Obra que marca a adesão de Bandeira ao Modernismo
 Obra possui 38 poemas
 Aspecto formal: variedade de formas utilizadas
 Poemas em prosa: “Madrigal tão engraçadinho”, “Noturno da Rua
Lapa”.
Lenda brasileira
“A moita buliu. Bentinho Jararaca levou a arma à cara : o que saiu do mato
foi o veado Branco! Bentinho ficou pregado no chão. Quis puxar o gatilho
e não pôde.
- Deus me perdoe!
Mas o Cussarim veio vindo, veio vindo, parou junto do caçador e
começou a comer devagarinho o cano da espingarda.”

 Versos redondilhos Maiores – “Vou-me embora pra Pasárgada.”

 Versos octossílabos – “Poema de Finados”


“Amanhã quem é dia dos mortos
Vai ao cemitério. Vai
E procura entre as sepulturas
A sepultura de meu pai.
Leva três rosas bem bonitas.
Ajoelha e reza uma oração.
Não pelo pai, mais pelo filho:
O filho tem mais precisão.
O que resta de mim na vida
É a amargura do que sofri.
Pois nada quero, nada espero.
E em verdade estou morto ali.”
 Versos eneassílabos – “Oração no saco de Mangaritiba”
“Nossa Senhora me dê paciência
Para estes mares para essa vida!
Me dê paciência pra que eu não caia
Pra que eu não pare nesta existência
Tão mal cumprida tão mais comprida
Do que a restinga de Marambaia!...”
 Mistura duas variedades lingüísticas: escrita culta e uma modalidade da
língua oral-popular.
Macumba do Pai Zusé
“Na macumba do Encantado
Nego véio pai de santo fez mandinga
No palacete de Botafogo
Sangue de branca virou água
Foram vê estava morta!”
IV. A obra – Aspecto Temático
1) Rejeição aos padrões literários vigentes
 O poema equivale a um programa estético.
 Recusa da poesia comedida, bem comportada.
 “Clowns”- personagens simples , mas capazes de expressar, com humor
espontâneo, verdades essenciais, além de desmascarar a hipocrisia geral.
 Poética – tratado de poesia; disciplina que estuda teoricamente o
fenômeno poético, investigando suas leis, sua natureza e suas formas.

Poética
“Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público (aquele que segue regras no seu trabalho,
tem toda uma burocracia) com livro de ponto
expediente protocolo e manifestações de apreço
ao Sr. diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si
mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar
às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.”
2) A poesia do Cotidiano
 abordagem temática das coisas simples e banais que compõem o dia-a-
dia: “Camelôs”, “O cacto”, “Comentário musical”.
Pensão familiar
“Jardim da pensãozinha burguesa.
Gatos espapaçados ao sol.
A tiririca sitia os canteiros chatos.
O sol acaba de crestar as boninas que murcharam.
Os girassóis
amarelo!
resistem.
E as dálias, rechonchudas, plebéias, dominicais.
Um gatinho faz pipi.
Com gestos de garçom de restaurant-Palace
Encobre cuidadosamente a mijadinha.
Sai vibrando com elegância a patinha direita:
- É a única criatura fina na pensãozinha burguesa.”
 Paródia da linguagem jornalística:
 denúncia da insensibilidade da imprensa
 fatos são narrados de forma impessoal
 linguagem seca, sintética e referencial.
“Poema tirado de uma notícia de jornal”.
“João Gostoso era carregador de feira livre e morava no
morro da Babilônia num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.”
3) Poesia Confessional
 na obra, encontramos farto material autobiográfico: “Profundamente”.
 apresentação de vultos familiares, brincadeiras e festas de ruas, cenas
que ficaram na memória do poeta como momentos mágicos:
Não sei dançar
“Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Mas o cálculo das probalidades é uma pilhéria...
Abaixo Amiel!
E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.
Sim, já perdi pai, mãe, irmãos.
Perdi a saúde também.
É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band.

Uns tomam éter, outros cocaína.


Eu tomo alegria!
Eis aí por que vim assistir a este baile de Terça-feira gorda.(...) “

“Evocação do Recife”
“Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritssatd dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois –
Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância.(...)
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô ,morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro como a casa de meu avô.”
4) A morte
 O poeta padeceu de tuberculose na juventude e a prática literária tornou-
se necessária, como se fosse uma forma de preparação para a morte.
 No poema, a morte é tratada com ironia e humor negro (Poema - Piada)
 Uso de linha pontilhada, que representa a dificuldade respiratória.
 Tango – grande dramaticidade que, geralmente, expressa tragédias
pessoais.

Pneumotórax
“Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três.... trinta e três....
- Respire.
..........................................................................
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o
{pulmão direito infiltrado.
- Então doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.”
Andorinha
“Andorinha lá fora está dizendo:
“- Passei o dia à toa, à toa!”
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa...”
5) Erotismo.
 A lírica amorosa alcança, no livro, momentos de grande poesia.
 Palinódia – é uma retratação poética. Algo que foi dito no passado é
retificado no presente.
“Quem te chamara prima
Arruinaria em mim o conceito
De teogonias velhíssimas
Todavia viscerais.
Naquele inverno
Tomaste banhos de mar
Visitaste as igrejas
(Como se temesses morrer sem conhecê-las todas)
Tiraste retratos enormes
Telefonavas telefonavas...
Hoje em verdade te digo
Que não és prima só
Senão prima de prima
Prima-dona de prima
- Primeva.”
 Teogonia – gênese dos deuses (universo mitológico grego)
 Primeva – retorno a tempos primordiais.

6) A Evasão
 Cria um mundo paralelo à realidade, onde os desejos e as fantasias são
realizados.
 É um mundo sem preconceitos nem proibições
Vou-me embora pra Pasárgada

“Vou me embora pra Parságada Em Parságada tem tudo


Lá sou amigo do rei É outra civilização
Lá tenho a mulher que eu quero Tem um processo seguro
Na cama que eu escolherei De impedir a concepção
Vou me embora pra Parságada Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Vou me embora pra Parságada Tem prostitutas bonitas
Aqui eu não sou feliz Para a gente namorar
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente E quando eu estiver mais triste
Que Joana a Louca de Espanha Mas triste de não ter jeito
Rainha e falsa demente Quando de noite me der
Vem a ser contraparente Vontade de me matar
Da nora que nunca tive -Lá sou amigo do rei-
Terei a mulher que eu quero
E como farei ginástica Na cama que escolherei
Andarei de bicicleta Vou me embora para Parságada.”
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Prá me contar histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou me embora para Parságada

7) A Solidariedade
 O componente social deve ser visto no contexto histórico de um país de passado escravocrata.
Irene no céu
“Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir
licença.”

8) A relação com o Catolicismo


 A relação não é religiosa, mas cultural e, sobretudo poética.
 Como elemento da cultura brasileira, o catolicismo se apresenta fazendo
menção:
 à festas e cerimônias do calendário religioso: “Profundamente”; “Poema
de finados” ;
 na referência a figuras do imaginário católico: O Anjo da guarda”;
 na paródia de preces : “Oração do saco de Mangaratiba”; “Oração a
“Teresinha do menino Jesus”
 citações bíblicas: “ Teresa”
 traços da piedade Cristã mesclados à religião afro-brasileiras “Mangue”.
 Há sempre uma certa ironia na reações entre o poeta e a fé católica.
A Virgem Maria
“O oficial de registro civil, o coletor de impostos, o mordomo
da Santa Casa e o administrador do cemitério de São João Batista
Cavaram com enxadas
Com pás
Com as unhas
Com os dentes
Cavaram uma cova mais funda que o meu suspiro de renúncia
Depois me botaram lá dentro
E puseram por cima
As Tábuas da Lei
Mas de lá de dentro do fundo da treva do chão da cova
Eu ouvia a vozinha da Virgem Maria
Dizer que fazia sol lá fora
Dizer i n s i s t e n t e m e n t e
que fazia sol lá fora.”
9) O Lirismo romântico
 grande subjetividade onde o poeta demonstra um neo-romantismo
O impossível carinho
“Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor –
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!”

Mulheres
“Como as mulheres são lindas!
Inútil pensar que é do vestido...
E depois não há só as bonitas:
Há também as simpáticas.
E as feias, certas feias em cujos olhos vejo isto:
Uma menininha que é batida e pisada e nunca sai da cozinha.

Como deve ser bom gostar de uma feia!


O meu amor porém não tem bondade alguma,
É fraco! É fraco!
Meu Deus, eu amo como as criancinhas...

És linda como uma história da carochinha...


E eu preciso de ti como precisava de mamãe e papai
( No tempo em que pensava que os ladrões moravam no
(morro atrás de casa e tinham cara de pau).”

10) A Metalinguagem
O último poema
“Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos in-
(tencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais
(límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.”

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