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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

CAMPUS FLORESTA – CRUZEIRO DO SUL


CENTRO DE EDUCAÇÃO E LETRAS – CEL
COORDENAÇÃO DO CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA

JOICEANE BORGES FERREIRA

A POLÍTICA DO PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR


(PNAE) E SUA AMPLIAÇÃO NAS ESCOLAS DA REDE ESTADUAL DO
MUNICÍPIO DE CRUZEIRO DO SUL-ACRE.

CRUZEIRO DO SUL-AC.
2022
JOICEANE BORGES FERREIRA

A POLÍTICA DO PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR


(PNAE) E SUA AMPLIAÇÃO NAS ESCOLAS DA REDE ESTADUAL DO
MUNICÍPIO DE CRUZEIRO DO SUL-ACRE.

Projeto de pesquisa apresentado ao curso


de Pedagogia da Universidade Federal do
Acre – Campus Floresta, como requisito
obrigatório para aprovação na disciplina de
Investigação e Prática Pedagógica III

Orientador (a): Prof. Dra. Maria das Graças


da Silva Reis

CRUZEIRO DO SUL-AC.
2022
JOICEANE BORGES FERREIRA

Projeto apresentado a Universidade Federal do Acre – Campus Floresta.

Aprovando em: ____ / ____/ ____

Banca Examinadora:

______________________________________________
Profa. Dra. Maria das Graças da Silva Reis (Orientadora)
Universidade Federal do Acre – UFAC

_______________________________________________
Prof. Dra. Adriana Martins de Oliveira (Examinador)
Universidade Federal do Acre – UFAC

________________________________________________
Prof. Me. José Ivo Peres Galvão (Examinador)
Universidade Federal do Acre – UFAC

_________________________________________________
Prof. Me. Marcos Cândido da Silva (Suplente)
Universidade Federal do Acre – UFAC
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 4

2. JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 6

3. OBJETIVOS .................................................................................................... 8

3.1 GERAL ............................................................................................................ 8

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................... 8

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................................... 9

4.1 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A ALIMENTAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL 9

4.2 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR NUTRICIONAL (EAN) E OS PROPÓSITOS DA


ESCOLA .............................................................................................................. 17

4.3. AS DIRETRIZES DO PNAE NA REDE ESTADUAL DE ENSINO DO


MUNICÍPIO DE CRUZEIRO DO SUL -
ACRE.................................................................................................................... 21

5. METODOLOGIA ............................................................................................ 27

6. CRONOGRAMA ............................................................................................ 30

7. REFERÊNCIAS ............................................................................................. 31
4

1. INTRODUÇÃO

A presente proposta de pesquisa tem como objeto de estudo a política de


alimentação escolar, inserindo-se no campo das políticas públicas e de modo
preciso, tem como tema A política do Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE) e sua ampliação nas escolas da rede estadual do município de Cruzeiro
do Sul-Acre.
Discutir sobre as políticas públicas voltadas para a alimentação escolar,
torna-se fator necessário, pelo fato do expressivo significado que esta possui para
cada ser humano, favorecendo principalmente as necessidades das crianças que
frequentam a escola e sendo de grande importância, pois como bem se sabe vai
além das necessidades biológicas, uma vez que ela não é apenas um
complemento, se manifesta no interior das escolas como um instrumento capaz
de amenizar a fome, já que para muitos estudantes é a única refeição recebida
durante o dia. Tais aspectos serão melhor discutidos posteriormente nos capítulos
teóricos desta pesquisa.
A merenda escolar está instituída nas escolas públicas do Brasil pelo
PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), criado em meados da
década de 1950 com a finalidade de garantir aos alunos a oferta no mínimo de
uma refeição diária, durante o seu período de permanência na escola. (BRASIL,
2013). Para uma boa aprendizagem os alunos necessitam de uma boa
alimentação. De acordo com Almeida (2014) uma boa alimentação proporciona o
desenvolvimento psicofísico do aluno, auxiliando em todos os aspectos: físico
motor, intelectual, afetivo emocional, econômico e social. Esses aspectos de bem-
estar contribuem para que o aluno tenha condições satisfatórias para aprender,
pois existe um número considerável de estudantes que precisam dessa merenda
escolar para complementar sua refeição principal.
A escola tem um papel significativo na vida das crianças, faz parte do seu
processo de aprendizagem, é o lugar que elas passam a maior parte do tempo, e
para ter uma boa aprendizagem, a alimentação é essencial, muitas crianças vem
de uma estrema pobreza, e encontra um refúgio na escola, a merenda escolar
torna-se a sua principal refeição, por isso, políticas públicas como o (PNAE)
5

assume um importante papel, tendo como objetivo contribuir para o crescimento,


o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos, pode contribuir também com a
permanência dessas crianças na escola, reduzindo a evasão escolar.
Nesse contexto, a alimentação escolar é um tema importante no âmbito
das Instituições Educacionais. Um estudante que tem uma alimentação
equilibrada e com gêneros alimentícios de qualidade tende a ter um melhor
aproveitamento do conteúdo que é ensinado em sala de aula, proporcionando um
maior aprendizado. (SILVA e RIBEIRO, 2016, p.13).
Partindo desse processo, é possível dizer que muitas famílias dependem
exclusivamente do âmbito escolar quando se trata da questão da alimentação dos
seus filhos, muitas famílias não tem uma alimentação saudável, e às vezes nem
uma alimentação básica que possa suprir a necessidade familiar. É na escola que
essas crianças se refugiam da fome, e da extrema pobreza.
Portanto, para uma maior compreensão de tal temática, faz-se necessário
o aprofundamento em torno do seguinte questionamento, eleito aqui como
problemática desta pesquisa: Como o PNAE é aplicado nas escolas da Rede
pública Estadual do município de Cruzeiro do Sul – Acre e qual a importância
atribuída a esta política por diretores, professores, nutricionista e alunos?
Mediante a problemática apresentada se faz necessário apresentar as
seguintes questões norteadoras como complemento à pesquisa: A) O que diz a
política pública do PNAE do ponto de vista legal e como está caracterizada
historicamente? B). Os cardápios elaborados para as escolas correspondem às
necessidades alimentares das crianças e estão de acordo com o que propõe as
diretrizes do PNAE C) A logística de trabalho desenvolvida pela SEE contempla
as escolas estaduais da rede pública do município de Cruzeiro do Sul-Acre de
forma satisfatória? D). Quais as percepções dos gestores (SEE e escolas),
professores, nutricionista e alunos sobre a merenda escolar nas escolas
estaduais de Cruzeiro do Sul-Acre?
Em busca de respostas para tais questões esse estudo será realizado em
uma escola da Rede Estadual do município de Cruzeiro do Sul-Acre, sendo
sujeitos desta investigação diretor, professor, nutricionista e alunos. Almeja-se
através desta pesquisa contribuir com base em argumentos e informações sobre
6

a aplicação da política do PNAE, identificando-se o sentido atribuído a este


programa.
7

2 JUSTIFICATIVA

A escolha desse tema para esta pesquisa se deu pela curiosidade e a


necessidade de saber sobre a merenda escolar, de onde surgiu esse contexto de
alimentação gratuita nas escolas. Toda essa curiosidade se inicia na minha
infância, pois ao frequentar a escola pela primeira vez me deparei com um
cotidiano diferenciado, onde uma rotina era ali estabelecida, tendo horário e
tempo determinado para tudo, inclusive para servir a merenda escolar aos alunos.
Minha curiosidade se acentuava cada vez que era servido a nós alunos
um cardápio diferente, mas algo que me intrigava e o que se tornou instigante
saber, era de onde vinha esse alimento para a escola. As aulas de ciências
também se associaram à escolha desse tema, pois ao trabalhar sobre
alimentação saudável pude ali contemplar as inúmeras informações repassadas
pelas professoras, aprendendo um pouco sobre tal conteúdo.
Soma-se também as feiras de ciências desenvolvidas no ambiente
escolar, onde a exposição, o debate sobre alimentação saudável se fazia
presente, chamando-me bastante atenção. Também pude ter acesso desde à
minha infância ao cultivo de alimentos orgânicos, pois meus pais cultivavam
hortas, e meu papel de auxiliar se fez presente nessa trajetória. Lembro-me das
vezes que éramos convidados a levar verduras para a escola para o tempero das
sopas, as hortas escolares também foram muitas vezes objeto de observação nas
aulas de ciências.
Assim, outros questionamentos foram surgindo: Como essa alimentação
chega às escolas? De onde vem? Inquietações essas que ganharam mais força
com o passar do tempo, pois, ao ingressar na Universidade pude retornar às
escolas para as atividades práticas e de estágio, e nesse ambiente as motivações
ressurgiram, pois, ao observar os alunos lanchando percebi que é muito
importante a alimentação escolar, os alunos ficam mais entusiasmados, os olhos
das crianças chegam a brilhar ao serem contemplados com a merenda ofertada
pela escola, percebendo-se evolução até mesmo na aprendizagem das crianças.
Nesse sentido essas situações vivenciadas no cotidiano despertou ainda mais a
curiosidade pela temática, e através desse projeto pretendo responder minhas
perguntas de infância e expor para a comunidade em geral a importância dessa
8

política, pois muitas pessoas não sabem da importância de uma boa alimentação
no processo de aprendizagem, sendo que esta é vista muitas vezes como uma
simples refeição dada pela escola, como se fosse apenas uma obrigação da
instituição oferecer um lanche para os alunos.
Desse modo, essa proposta de pesquisa visa obter um nível de
compreensão mais elevado sobre essa temática e também entender a
importância de uma boa alimentação no âmbito escolar visando um bom
desempenho nas atividades desenvolvidas pelos alunos.
O material produzido com esta pesquisa será de suma importância para
nós pesquisadores, e para a comunidade em geral, pois permitirá a verificação de
como o PNAE é aplicado nas escolas da Rede Estadual do município de Cruzeiro
do Sul-Acre. E certamente através das entrevistas com os gestores, professor,
nutricionista e alunos dessas escolas se evidenciará relatos importantes em torno
da referida política.
9

3. OBJETIVOS
3.1 GERAL
 Analisar como vem se efetivando a Política Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE) tomando como base seus aspectos
legais e destacando de modo específico como se processa tal
política em uma escola da Rede Estadual de Ensino do município
de Cruzeiro do Sul- Acre.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


 Apontar uma contextualização histórica acerca da política que diz
respeito à merenda escolar (PNAE) enfatizando principalmente as
legislações e decretos que gerenciam tal processo para suprir as
necessidades nutricionais dos alunos.
 Destacar a importância da alimentação escolar para as crianças,
verificando se os cardápios nutritivos elaborados para as escolas
contemplam as necessidades alimentares das crianças;
 Identificar as diretrizes do PNAE associando-o à sua execução nas
escolas estaduais, destacando sobretudo a logística de trabalho
desenvolvida pela SEE para atender o público alvo das escolas de
ensino fundamental do município de Cruzeiro do Sul-Acre;
 Destacar narrativas/percepções de gestores da Secretaria Estadual
de Educação, professores e alunos sobre a merenda escolar das
escolas estaduais de Cruzeiro do Sul.
10

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

4.1 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A ALIMENTAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL


A distribuição da merenda nas escolas no Brasil passou por um longo
percurso histórico, tendo a intervenção de vários atores no processo, desde os
pais de alunos que tinham posses, diretoras e normalistas, comerciantes e até o
próprio Governo, para se tornar o que é hoje (BRASIL, 2006). O principal desses
programas é o Programa Nacional de Alimentação Escolar -PNAE, que tem a
função de abastecer as escolas públicas do Brasil, com a merenda escolar, este
considerado um dos mais antigos programas que está inserido nas políticas
públicas voltadas para os processos de alimentação e nutrição, sendo que sua
gestão nacional abrange os estados e municípios da federação. Observa-se que o
propósito principal do referido programa é dar suporte nutricional aos estudantes
através da alimentação que é ofertada no âmbito escolar (BRASIL,2009).
Faz-se necessário apontar que o percurso histórico da merenda escolar
no país começou a ser discutido na década de 1930 e 1940, como política
educacional para as instituições de ensino. O objetivo desta política era reduzir o
fracasso escolar, ora representado pela evasão e repetência e,
consequentemente, melhorar o rendimento dos alunos matriculados em escolas
públicas. Não se pode descartar que houveram mobilizações de cunho social,
para captarem fundos que seriam necessários para abastecer as escolas com
alimentação adequada e suficiente, se inserindo nesse contexto propostas que
tinham como base fornecer regularmente alimentação escolar, porém, não se
efetivou, pois, o governo não dispunha de recursos financeiros suficientes para
realizar tal investimento. (BRASIL, 2006). Nota-se assim que há uma observação
de grande relevância por parte do governo em torno da alimentação escolar,
enxergando nesta política a possibilidade de reter os alunos nas escolas, seguido
também da diminuição de desnutrição infantil no país.
Partindo para a década de 50, foi elaborado um abrangente Plano
Nacional de Alimentação e Nutrição, denominado Conjuntura Alimentar e o
Problema da Nutrição no Brasil. É nele que, pela primeira vez, se estrutura um
programa de merenda escolar em âmbito nacional, sob a responsabilidade
pública. Desse plano original, apenas o Programa de Alimentação Escolar
sobreviveu, contando com o financiamento do Fundo Internacional de Socorro à
11

Infância (FISI), atualmente Unicef, que permitiu a distribuição do excedente de


leite em pó destinado, inicialmente, à campanha de nutrição materno-infantil.
Percebe-se que nesse cenário, ainda que de forma tímida, se projeta uma
reflexão ou melhor dizendo, compreensão sobre a fome, estendendo –se assim
uma forma de incentivo para que mobilizações sociais acontecesse e se
importassem com esse problema, tentando combatê-la. (ANDRADE,1997).
Dando sequência a esse processo de contextualização histórica, se tem
que em 31 de março de 1955 foi assinado o primeiro Decreto n° 37.106, que
instituiu a Campanha de Merenda Escolar (CME), subordinada ao Ministério da
Educação. Na ocasião, foram celebrados convênios diretamente com o FISI e
outros organismos internacionais. Em 1956, com a edição do Decreto n° 39.007,
de 11 de abril de 1956, (Promover medidas para aquisição desses produtos nas
fontes produtoras ou mediante convênios com entidades internacionais, inclusive
obter facilidades cambiais e de transporte para sua cessão a preços mais
acessíveis) ela passou a se denominar Campanha Nacional de Merenda Escolar
(CNME), com a intenção de promover o atendimento em âmbito nacional, tal
campanha fora instituída pelo governo Juscelino Kubitscheck a partir do Decreto
já mencionado.
No entanto, no início desta campanha os alimentos foram concedidos
pelos organismos internacionais, cuja doações eram em torno de alimentos
industrializados, sendo ofertado o leite em pó, farinha de trigo e soja. É oportuno
destacar que como o governo federal não realizava a compra de alimentos, nem
todas as escolas eram contempladas, este por sua vez, priorizava a distribuição
para as crianças, levando em conta alguns critérios: como por exemplo maior
índice de desnutrição, destacando-se nesse cenário a região nordeste, onde os
problemas de escassez alimentar eram mais nítidos. (IPEA, 2016).
Durante a década de 1960, o Brasil influenciado pela cultura
americanizada, criou vários programas de distribuição de gêneros alimentícios,
mantidos por recursos financeiros de organismos internacionais, que serviriam
para melhorar as condições de vida dos municípios pobres e carentes,
desprovidos de condições mínimas de alimentação. O Programa Mundial de
Alimentos, gerenciada e coordenada pela FAO/ONU e o programa “Alimentos
para a Paz” acordo firmado entre o Ministério da Educação e Cultura e o States
12

Agency for Internacional Development1, considerado uma “ajuda externa” para a


educação e seu objetivo era fornecer as diretrizes políticas e técnicas para uma
reorientação do sistema educacional brasileiro, à luz das necessidades do
desenvolvimento capitalista internacional.
Seguindo o ano de 1973 foi criado o Programa Nacional de Alimentação e
Nutrição (PRONAN) e executado sua primeira fase. A segunda fase do programa,
executada entre 1976 e 1979, além da alimentação escolar, também continha
outros 10 programas. Segundo Carvalho da Silva (1995), o PRONAN ofereceu o
primeiro modelo de alimentação que de alguma forma articulava o produtor e
consumidor. A partir de 1976, a alimentação escolar passou a ser financiada com
recursos públicos alocados no Ministério da Educação (MEC). Em 1979, o nome
do programa foi novamente modificado. A partir de então passou a se chamar
Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e ainda prevalece até os dias
de hoje. Dessa evolução histórica até os dias atuais percebe-se que a distribuição
da merenda ocorreu gradativamente.
O programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é considerado o
mais antigo programa de alimentação escolar criado pelo governo federal,
reconhecido em todo o mundo. Por ser um programa com características macro
edifica-se como de grande relevância para o desenvolvimento do País, e versa no
Art. 2º sobre as diretrizes o seguinte:

I - O emprego da alimentação saudável e adequada, compreendendo o


uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura, as
tradições e os hábitos alimentares saudáveis, contribuindo para o
crescimento e o desenvolvimento dos alunos e para a melhoria do
rendimento escolar, em conformidade com a sua faixa etária e seu
estado de saúde, inclusive dos que necessitam de atenção específica.
VI - O direito à alimentação escolar, visando a garantir segurança
alimentar e nutricional dos alunos, com acesso de forma igualitária,
respeitando as diferenças biológicas entre idades e condições de saúde
dos alunos que necessitem de atenção específica e aqueles que se
encontra em vulnerabilidade social.

O objetivo do Programa é atender as necessidades nutricionais dos


alunos durante sua permanência em sala de aula, contribuindo para o
crescimento, desenvolvimento, aprendizagem e rendimento escolar, bem como a
formação de hábitos alimentares saudáveis e oferecer durante o ano letivo, a

1
Agência dos Estados para o Desenvolvimento Internacional.
13

distribuição da merenda as escolas públicas do País, ratificado no Art. 3º, “a


alimentação escolar é direito dos alunos da educação básica pública e dever do
Estado e será promovida e incentivada com vistas no atendimento das diretrizes
estabelecidas nesta Lei” (BRASIL, 2009).
Essas diretrizes mostram a importância do programa e o respeito à
dignidade humana, onde todos devem ter o direito a uma alimentação saudável.
Independentemente de sua classe social, na escola a alimentação tem que ser
inserida a todos promovendo o crescimento, o desenvolvimento e rendimento nas
atividades escolares desenvolvidas por esses alunos.
Podemos destacar também que são atendidos pelo PNAE os alunos de
toda a educação básica (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e
educação de jovens e adultos) matriculados em escolas públicas, filantrópicas e
em entidades comunitárias (conveniadas com o poder público). Vale destacar que
o orçamento do PNAE beneficia milhões de estudantes brasileiros, como prevê o
artigo 208, incisos IV e VII, da Constituição Federal.

IV-educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco)


anos de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional n° 53, de
2006)
VII- atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica,
por meio de programas suplementares de material didático-escolar,
transporte, alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela
Emenda Constitucional n° 59, de 2009).

Destaca-se também que sendo a década de 1980, demarcada pela


Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, sobre esta não se
ausenta os princípios que estão interligados ao direito à educação, assegurando –
se as condições necessárias para a permanência do aluno na escola, fixando-se
nesse cenário o atendimento destinado à alimentação escolar, conforme pode se
observar em seu art. 205, onde é destaque que:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será
ministrado com base nos seguintes princípios: Igualdade de condições
para o acesso e permanência na escola. (BRASIL, 1988).
14

Observa-se assim que a referida Constituição, reconhecida como lei maior


do Brasil, se instituiu fortalecendo alguns princípios, sem se ausentar desse
processo as condições para acesso e permanência na escola, sendo óbvio que
dentre essas condições insere-se o PNAE como um direito inegável ao aluno,
pois através desse plano pode-se garantir alimentação adequada e nutricional às
crianças; amplia-se a questão da universalidade do atendimento da alimentação
escolar gratuita, associada à equidade – que diz respeito ao direito constitucional,
nele se inclui a alimentação escolar – esta que por sua vez, deve ser garantida de
forma igualitária, com acesso a todos os sujeitos de forma saudável, respeitando
também bons hábitos alimentares, dando espaço para que as práticas tradicionais
voltadas para a cultura sejam valorizadas, incluindo-se nesse cenário alimentação
local saudável.
É importante também apontar que em meio a esse processo histórico
concentra-se na década de 1990, uma evolução no PNAE, trata-se do processo
de descentralização da gestão de recursos, que antes a nível nacional se
apresentava centralizado. Pode-se dizer que até o ano de 1993 o Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação – FNDE, era o órgão responsável pelo
planejamento da alimentação, inserindo-se os cardápios, a própria aquisição de
alimentos, fazendo uso dos processos de licitação, sendo responsável também
pela distribuição dos alimentos (BRASIL, 2003).
Transitando do processo de centralização para descentralização, verifica-
se que esta foi instituída em 1994 através da Lei nº 8.913/1994. Seu processo de
consolidação se deu a partir da Medida Provisória nº 1.784, de 14 de dezembro
de 1998, aparecendo um novo formato: transferência automática de recursos,
fator esse de grande relevância, pois verifica-se maior autonomia e execução
mais ágil do PNAE (BRASIL, 2008).
Pode-se perceber que há uma constante movimentação para garantir que
de fato esses recursos cheguem às escolas e garantam uma boa alimentação aos
estudantes, mas o mais importante é que a política aos poucos foi tendo seus
desdobramentos e alcançando os direitos dos alunos das escolas públicas de
nosso país. Desse modo não se pode deixar de apontar na década de 2000 que:

Foi recriado o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional


(CONSEA) que promoveu a valorização da Política de Segurança
15

Alimentar e Nutricional (PNSAN) para promoção do direito humano a


alimentação adequada, e depois foi lançada a Criação da Lei Orgânica
de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN) com a implantação do
direito humano a alimentação adequada e saudável perante a
constituição (CONSEA). (SANTOS, 2017, p.14).

Observa-se que, atualmente o PNAE é reconhecido como referência


principal quando se volta para a alimentação da educação pública. Uma nova
configuração aparece nas escolas públicas a partir de 2006 para garantir melhoria
no serviço que esse programa oferece às escolas, trata-se da obrigatoriedade de
nutricionistas e profissionais capacitados para organizarem a alimentação
ofertada nas escolas, fator esse considerando de grande relevância.
Segundo Morgan e Sonnino (2010) acordos foram se firmando, se
fortalecendo por exemplo, parceria entre o FNDE e as instituições de Ensino
Superior através de projetos de extensão, mantendo-se a ideia de colaboração
para a distribuição e controle da alimentação nas escolas, fixando-se assim um
envolvimento entre alunos de ensino superior e das escolas públicas, como
também as filantrópicas.
Outro aspecto considerado importante nessa política do PNAE, diz respeito
à Lei 11.947, de 16 de julho de 2009 – dispõe sobre atendimento da alimentação
escolar e do PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola, destinado aos alunos
da educação básica. Nesse mesmo ano verifica-se também a criação da
Resolução nº 38, de 16 de julho de 2009 – que dispõe sobre o atendimento da
alimentação escolar, percebendo-se que avanços positivos aconteceram diante
do PNAE, a saber: indicação de compra de alimentos variados – dando margem
para que se valorize a variação de alimentos no ambiente escolar, dando
preferência aos alimentos da localidade, enaltecendo dessa forma a agricultura
familiar, aspecto esse que nos chama atenção pois entra em cena o
empreendimento das famílias de zona rural, podendo se alcançar melhor
economia local, favorecendo crianças e adolescentes, firmando-se assim o
oferecimento de refeições, concentrando-se também a educação alimentar
nutricional EAN (BRASIL,2009).
Após 04 anos, essa resolução foi revogada e instituída a resolução Nº 26,
de 17 de junho de 2013. Tal resolução vem consolidar melhor a implementação
da EAN, inserindo-se nesse contexto a agricultura familiar (BRASIL,2013)
16

trazendo algumas alterações, sendo destaque por exemplo: a compra de


alimentos vinculada a agricultura familiar adquirindo-se os produtos dos
fornecedores locais, priorizando-se também comunidades indígenas, quilombolas,
dentre outros (BRASIL, 2015).
Atualizando melhor o contexto histórico sobre o PNAE, não se ausenta
dessa discussão a forma como se procedeu a alimentação escolar durante a
pandemia da COVID 19 que afetou vários países acarretando várias mortes
principalmente no nosso país. Em relação a merenda escolar segundo o site da
câmara dos deputados, uma pesquisa feita no dia 25-10-2021 aponta que 30%
dos alunos da rede pública não receberam merenda escolar durante a pandemia,
os alimentos que seriam servidos nas escolas seriam distribuídos para consumo
em casa, porém, municípios admitem dificuldades na distribuição. Ainda segundo
o site durante uma audiência pública da Comissão de Fiscalização Financeira e
Controle da Câmara dos Deputados, a representante no Brasil da Plataforma de
Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (Dhesca),
Mariana Santarelli, afirmou que a distribuição de cestas básicas para alunos da
rede pública de ensino não foi feita de forma regular.
O Monitoramento feito pela entidade revelou que mais de 30% dos alunos
não receberam nenhum tipo de ajuda para se alimentarem e 21% afirmaram que
só receberam a cesta uma vez em 15 meses de pandemia.
Desde o ano que se procedeu a pandemia no Brasil que foi em 2020, a Lei
13987/20 (regulamentada pela Resolução CD/FNDE nº 2/2020, autoriza, em
caráter excepcional, a distribuição de gêneros alimentícios adquiridos com
recursos do PNAE aos pais ou responsáveis dos alunos, com o
objetivo de garantir o direito à alimentação dos estudantes e auxiliar para que não
entrem em situação de insegurança alimentar e nutricional) permite que alimentos
que seriam servidos nas escolas públicas de todo País fossem distribuídos para
os alunos consumirem em suas casas, já que as escolas estavam fechadas por
causa da pandemia de Covid-19. (BRASIL/2020).
Mas, para Mariana Santarelli (2021, s./d), pesquisadora da Plataforma
Dhesca e coordenadora do relatório ‘Violações ao direito à alimentação escolar na
pandemia de Covid-19’, a legislação disponível deixou brechas para que a
17

alimentação escolar não chegasse a todos os estudantes, relembra a


pesquisadora, que:

Na nossa visão, isso é algo que viola um direito universal. Ainda mais
porque a gente sabe que nesse contexto de pandemia, muitas famílias
que antes não estavam entraram em situação de pobreza. Na verdade,
isso já era, inclusive, um problema anterior [que se refletia na falta de
acesso] ao Bolsa Família: já existia uma fila enorme do CadÚnico de
famílias com perfil para serem usuárias do programa e que não estavam
sendo atendidas. (SANTARELLI, 2021 s./d).

Como podemos perceber a alimentação escolar se tornou exclusiva para


um determinado público definidos pelos municípios e pelos estados, sendo que o
FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) não havia passado
nenhuma orientação para que fosse definido dessa forma. Até porque a Lei
13987/20 defende que a merenda escolar seria distribuída para todas as famílias
com crianças matriculadas na instituição escolar, sem exceção.
Ela destaca ainda que o sistema nacional de assistência social e,
especificamente, os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), estão
sendo literalmente desmontados, como podemos ver na sua fala:

Ou seja, não tem ampliação do número de pessoas que estão sendo


cadastradas por eles. Isso é algo bastante grave e foi objeto de
questionamento por parte da defensoria pública e do ministério público
em alguns estados. (SANTARELI, 2021, s./d)

Diante das informações acima podemos perceber que a alimentação


escolar durante a pandemia não atendeu a todo público como aderia a Lei
13987/20, o direito das famílias receberem alimentação escolar foram violadas
por vários fatores fora da lei implantada pelos municípios, tirando o direito de
muitas famílias carentes serem comtempladas.
18

4.2 A EDUCAÇÃO ALIMENTAR NUTRICIONAL (EAN) E OS PROPÓSITOS DA


ESCOLA.

Como sabemos a alimentação é essencial na vida de qualquer ser vivo,


uma alimentação saudável é de suma importância no âmbito escolar. Esse
espaço favorece a aquisição de saberes, modos de convivência e apropriação de
hábitos, e podem ser adquirido através da distribuição da merenda escolar que é
disponibilizada pelo Governo. (BRASIL, 2006).
O governo Federal no intuito de oferecer uma merenda escolar de
qualidade aos alunos das escolas públicas indica aos órgãos competentes
repensarem o cardápio adotado, a fim de contribuir para a obtenção de um
rendimento escolar mais significativo e ainda manter a saúde. (BRASIL,2006).
Para discutirmos sobre a importância da alimentação escolar, é
importante destacar, que a nossa saúde está interligada à nossa alimentação,
sendo importante incentivar as crianças desde pequenas como ter bons hábitos
alimentares. Alinhando-se a esse pensamento, é que o FNDE, lançou em 2017, a
jornada de Educação Alimentar Nutricional, destinada na época às escolas
públicas e Educação Infantil, já em 2019, atingindo sua terceira edição, alcançou
as escolas públicas de todo o ensino fundamental (BRASIL, 2019).
Essa prática torna-se relevante, pois o fato de se discutir sobre a
educação alimentar nutricional, pode desenvolver nas crianças desde cedo a
consciência de que uma boa alimentação faz bem à saúde, proporcionando assim
um debate que certamente surtirá efeitos positivos, pois irá dar visibilidade que
uma alimentação nutricional adequada pode se traduzir em vida saudável,
evitando possíveis consequências como a obesidade. Nesse sentido é possível
se destacar que a ingestão de uma alimentação equilibrada como frutas,
verduras, proteínas saudáveis, fará com que as crianças obtenham mais saúde –
sendo importante esse processo para a fase adulta.
Assim, estabelecer educação alimentar nutricional (EAN) torna-se
indispensável, pois como bem se sabe as práticas alimentares inadequadas tem
ocasionado inúmeros problemas de saúde conforme já fora mencionado. Uma
19

concepção que pode ser emitida sobre EAN a partir do marco de Referência de
Educação Alimentar e Nutricional para as políticas públicas é de que é “uma
estratégia fundamental para a prevenção e controle dos problemas alimentares e
nutricionais contemporâneos” (BRASIL, 2012, p.13).
Pensando, portanto, nessa estratégia, verifica-se que além de
proporcionar melhoria para a saúde permite garantir o direito dos cidadãos. Nota-
se assim que Portaria Ministerial a partir de 2006 – instituiu as “Diretrizes para a
promoção da alimentação saudável na Educação Básica, redes públicas e
privada”. (BRASIL, 2006), podendo se verificar que o movimento gerado em torno
da política de alimentação escolar dar espaço para se refletir sobre ações que
podem também ser de cunho pedagógico, uma vez que propõe diretores,
professores articularem projetos educativos, incluindo a educação alimentar
nutricional como tema/conteúdos de aula, sendo tal aspecto apoiado pela portaria
ministerial recente – Lei 13.666 de 2018 que alterou a LDB procurando incluir
esse processo como tema transversal no currículo, podendo fluir um debate mais
aprofundado e estimulante sobre dietas balanceadas (redução de alto teor de
sódio, açúcar e gorduras) , alimentação saudável, prevenção da obesidade,
seguido da cultura alimentar.
Encontra-se exposto no Guia Alimentar da população brasileira, quais os
procedimentos que podem ser adotados pelas escolas e que podem ser
considerados um instrumento essencial para se promover e recuperar bons
hábitos alimentares, destacando-se o seguinte:

As ações de Educação Alimentar e Nutricional: respeito à alimentação


regional; estímulo à produção de hortas escolares, a partir da realização
de atividades com os alunos e o uso dos alimentos produzidos na
alimentação escolar; estímulo à 19 implantação das boas práticas de
manipulação nos serviços que ofertam alimentação escolar; a restrição
ao comércio de alimentos e preparações com altos teores de gordura
saturada, gorduras trans, açúcar livre e sal e incentivo ao consumo de
frutas, verduras e legumes; e o monitoramento da situação nutricional
dos escolares (BRASIL, 2014, p. 11):

Pela informação exposta, é perceptível que a escola pode em muito


contribuir com a educação alimentar nutricional dos alunos, tendo em vista, que
as recomendações apontadas podem ser incorporadas nos próprios cardápios
nutritivos elaborados para as escolas, aproveitando a safra de alimentos da
20

região, buscando-se variar e suprir as necessidades nutricionais dos alunos,


apresentando-se dessa maneira escolhas mais saudáveis.
Zancul (2007) é assertivo quando aponta que o espaço escolar se
configura como relevante para influenciar positivamente a inserção de hábitos
alimentares saudáveis e que garantam melhor saúde aos estudantes. Nesse
sentido, o PNAE não pode mover suas ações pensando apenas no abastecimento
de merenda escolar, mas criando condições que possam promover a saúde dos
alunos, para que estes construam hábitos alimentares saudáveis.
Assim, torna-se importante mencionar, que conforme a resolução nº 26, de
17 de junho de 2013 do PNAE, as ações em EAN devem assegurar a oferta de
alimentos variados e saudáveis, oficina direcionada às merendeiras, palestras
destinada a professores, nutricionistas, alcançando assim boa parte dos sujeitos
que estão engajados com a alimentação escolar presente nas escolas, inserindo-
se os projetos voltados para as hortas pedagógicas, oficinas associadas a
culinárias, entre outras atividades que possam desenvolver na consciência dos
alunos aquisição de hábitos saudáveis de alimentação.
Dessa forma, torna-se importante planejar melhor o cardápio dos
alimentos oferecido aos alunos, procurando-se adequar melhor os aspectos
técnicos como a seleção dos alimentos, a própria composição química, a
combinação entre os ingredientes, quais as recomendações nutricionais dadas
pelo PNAE e o custo médio per capta das refeições oferecidas. (ANZOLIM,2010).
Na cartilha alimentar de 2016 no 3 passo vem nos mostrando o papel do
nutricionista nas escolas, como sabemos a alimentação escolar precisa ter um
acompanhamento por um especialista na área, antes de chegar nos pratos das
crianças, daí a importância dos nutricionistas eles são os responsáveis em
planejar um cardápio nutritivo, com produtos de qualidade para a alimentação
escolar.
Como sabemos nem todas as famílias tem uma boa condição
econômica, o que torna a merenda escolar a refeição principal do dia. Muitas
crianças dependem dessa alimentação para se manter na escola, e até mesmo
para sua própria sobrevivência.
A condição econômica é um dos fatores importantes na definição e
escolhas de uma boa alimentação, pois essa condição impede àqueles que estão
21

em condições financeiras desfavoráveis, na maioria das vezes, que se alimentem


de forma correta, colocando na escola uma responsabilidade ainda maior em
questão de uma boa alimentação.
Vale ressaltar que uma boa alimentação também influencia no auto
estima de toda criança, muitas passam por problemas psicológicos e físicos como
é o caso da obesidade infantil que não deixa se ser um problema ocasionado pela
má alimentação. A cartilha de alimentação de 2019 vem discutir esse ponto no 3
capitulo intitulado “Imagem Corporal e Bullying”, destacando a seguinte
discussão:
De acordo com o Grupo Especializado em Nutrição, Transtornos
Alimentares e Obesidade (GENTA), imagem corporal é uma combinação
entre a forma como vemos, pensamos e sentimos o nosso corpo e
também como acreditamos que os outros nos veem. Há pessoas que
desenvolvem uma distorção da imagem corporal – em que a percepção
do corpo é diferente de como ele realmente é, por exemplo, quando o
indivíduo se enxerga com um peso muito maior do que vê na balança ou
quando se enxerga muito menor ou mais fraco do que realmente é.
(BRASIL, 2019, p 82.)

Dessa forma a busca de se adequar ao padrão de beleza acaba


influenciado o modo de vida dessas crianças, causando muitos transtornos
psicológicos, um dos maiores problemas é o grau de insatisfação em relação à
imagem (seja ela distorcida ou não), que pode gerar baixa autoestima, diminuição
do autocuidado, desenvolvimento de transtornos alimentares, ganho de peso,
exclusão social, depressão e aumento do risco de suicídio.
Como ressalta o art. 4° do caderno de legislação 2021 voltado para o
PNAE:

O Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE tem por objetivo


contribuir para o crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a
aprendizagem, o rendimento escolar e a formação de hábitos
alimentares saudáveis dos alunos, por meio de ações de educação
alimentar e nutricional e da oferta de refeições que cubram as suas
necessidades nutricionais durante o período letivo.

Além de trazer um retorno positivo nas dimensões biológicas, psicológicas


e sociais desses alunos, uma boa alimentação gera um bom desempenho nas
atividades escolares e a escola por sua vez deve se apoiar nesta política (PNAE)
para promover conscientização nos alunos sobre a importância da nutrição,
fazendo com que estes sintam prazer em alimentar –se com os gêneros
alimentícios ofertados às escolas.
22

4.3. AS DIRETRIZES DO PNAE NA REDE ESTADUAL DE ENSINO DO


MUNICÍPIO DE CRUZEIRO DO SUL –ACRE

Neste tópico teceremos uma discussão sobre as diretrizes do PNAE,


apontando serem estas de fundamental importância para garantir eficiência e
eficácia desta política pública, considerada importante para a proteção social dos
sujeitos, seguida de maior promoção educacional, interligada também à saúde,
segurança alimentar e nutricional dos alunos, atingindo o desenvolvimento local.
No artigo 1° do caderno de legislação 2021 é destaque que, para os efeitos desta
Lei, entende-se por alimentação escolar todo alimento oferecido no ambiente
escolar, independentemente de sua origem, durante o período letivo.
(BRASIL,2021). Ressalta-se que, a alimentação escolar passa por nutricionistas,
conforme já fora mencionado, e precisa nutrir as necessidades alimentares das
crianças. Para uma melhor análise iremos destacar as diretrizes da alimentação
escolar vendo que no artigo 2° inciso I encontra-se o seguinte:

I - O emprego da alimentação saudável e adequada, compreendendo o


uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura, as
tradições e os hábitos alimentares saudáveis, contribuindo para o
crescimento e o desenvolvimento dos alunos e para a melhoria do
rendimento escolar, em conformidade com a sua faixa etária e seu
estado de saúde, inclusive dos que necessitam de atenção específica.

Há distintos aspectos apontados no art. 2º inciso I, que permitem –nos


compreender o quão é importante o emprego da alimentação escolar, verifica-se
uma gama de proposições que são adequadas para que de fato essa política
pública seja exitosa. O fato por exemplo, de considerar “alimentos variados,
seguros e que se respeite as tradições e os hábitos alimentares”, permite-nos
compreender que estes se associam à inclusão de alimentos nutritivos, que
podem transitar pelo processo ensino e aprendizagem, incluindo-se como pauta
no currículo escolar o tema alimentação, sendo que nas aulas de ciências pode-
se explorar a referida temática de distintas formas: segurança alimentar, hortas
pedagógicas, feiras de ciências, conteúdos interdisciplinares, podendo assim se
ampliar uma discussão sobre a variedade de alimentos, levando em conta a
23

tradição alimentar dos alunos, sem deixar de valorizar a cultura alimentar de cada
um que ali se encontra, recebendo, portanto, atenção específica.
Os autores Pereira e Lang (2014) afirmam que as crianças começam a se
tornar independentes e a formar os seus hábitos alimentares durante a fase pré-
escolar. Ou seja, os padrões alimentares das crianças estão em desenvolvimento
durante os anos pré-escolares, e assim precisam de incentivo para se alimentar
de comidas e lanches saudáveis, sendo essa a melhor fase para se educar as
crianças sobre os princípios de uma boa alimentação, pois apresentam uma maior
facilidade em assimilar conceitos e aprender as normas sociais de
comportamento, inclusive o alimentar.
Seguindo com as diretrizes o artigo 2º em seus incisos III e IV destaca:

III - A universalidade do atendimento aos alunos matriculados na rede


pública de educação básica.
IV - A participação da comunidade no controle social, no
acompanhamento das ações realizadas pelos Estados, pelo Distrito
Federal e pelos Municípios para garantir a oferta da alimentação escolar
saudável e adequada;

Todos os alunos têm direito ao atendimento escolar e a merenda escolar, a


participação da comunidade também é de suma importância no âmbito escolar, os
pais devem acompanhar como é organizada essa alimentação na escola, se de
fato essa alimentação é saudável, se realmente chega na escola de forma
adequada como é passado nas diretrizes, pois pode ocorrer de a comunidade
ficar de fora do âmbito escolar sem saber o que de fato ocorre dentro da escola,
necessitando assim que haja parceria entre escola e comunidade, traduzindo-se
como uma participação social.
É válido acrescentar que não é de hoje que existe muitas famílias carentes
que encontram refúgio para alimentação de seus filhos na escola, tem famílias
que não tem o hábito de uma boa alimentação, se encontram em uma extrema
vulnerabilidade como vem destacar o inciso VI que expõe o seguinte:
24

VI - O direito à alimentação escolar, visa a garantir segurança alimentar


e nutricional dos alunos, com acesso de forma igualitária, respeitando as
diferenças biológicas entre idades e condições de saúde dos alunos que
necessitem de atenção específica e aqueles que se encontram em
vulnerabilidade social .

O direito à alimentação escolar é para todos os alunos matriculados na


escola, sem exceção, e visa ajudar as crianças a terem uma alimentação
saudável. No entanto, sabe-se que nem todas as famílias encontram-se
amparadas socialmente, boa parte delas ainda estão à margem da sociedade e
não usufruem de todos os seus direitos, inserindo-se nesse cenário uma
alimentação saudável, dentre outras necessidades básicas.
Enfatizando melhor essa discussão, destaca Carneiro (2015) em seu
estudo, alguns conceitos sobre pobreza e vulnerabilidade social e alimentar. A
autora descreve que famílias pobres vivem à margem da sociedade, levando-as à
falta de acesso às necessidades básicas e tornando-as socialmente vulneráveis
no que tange a vida financeira, saúde e nutrição. Entende-se por necessidades
básicas acesso e consumo de itens como: alimentação, habitação, transporte,
saúde, lazer e educação, algo inacessível para alguns cidadãos.
De fato, essas necessidades básicas nas últimas décadas parecem ter se
consolidado nos lares de nosso país, pois como bem se sabe, com o alto preço
dos alimentos, muitas famílias optam por comprarem o mais barato, e em meio a
vulnerabilidade que elas se encontram, não se atentam para a qualidade
nutricional dos alimentos adquiridos e com a transferência de renda mínima,
priorizam otimizar os recursos financeiros consumindo alimentos mais baratos
(CARNEIRO, 2015). Hoje em dia as condições econômicas das famílias
encontram-se um tanto afetada, e para elas fica difícil terem uma alimentação
balanceada e saudável, há alimentos com preços acessíveis que são
extremamente saudáveis, mas por falta de conhecimento e até mesmo a cultura
familiar passam despercebidos aos olhos dessas famílias.
Além disso, a autora menciona que é muito comum o consumo de lanches,
pouco ou sem nenhum nutriente pelas crianças, logo após retornarem da escola.
Segundo a autora:
25

Para a maior parte das famílias estudadas o dia se iniciava com o café
preto adoçado acrescido de leite, sendo que entre as crianças o café
com leite podia ser substituído por achocolatado ou chá. Para
acompanhar o café, o alimento mais consumido pelas famílias era o pão
branco, que era feito em casa ou comprado no mercado (nesse caso
podia ser o pão fatiado ou francês). A margarina era o principal
acompanhamento do pão, seguido pelo doce de frutas ou de leite, que
com poucas exceções, eram industrializados. Apenas duas famílias
relataram consumir regularmente queijo e algum embutido (mortadela ou
presunto) nesta refeição, e ambas se percebiam em segurança
alimentar. [...] o hambúrguer ou empanado apareceram como itens
bastante consumidos por crianças mais velhas e por adolescentes.
Várias titulares citaram o hábito dos filhos chegarem da escola e
prepararem sozinhos estes alimentos, fritando ou assando-os no micro-
ondas. O macarrão instantâneo também estava presente na alimentação
de muitas famílias, sendo consumidos pelas crianças e adolescentes em
horários variados, como almoço, jantar e até mesmo no café da manhã.
(CARNEIRO, 2015, p. 74)

A falta de apropriação de conhecimento dessas famílias sobre


hábitos alimentares, também atrapalha quando se foca na alimentação saudável
dos filhos, pois muitos desconhecem ou não sabem os nutrientes que compõem
cada alimento, colocando à disposição dos filhos alimentos com valor excessivos
de calorias no hábito alimentar, trazendo assim para essas crianças uma má
alimentação. A questão da vulnerabilidade social também afeta na compra de
alimentos saudáveis, muitas famílias não têm dinheiro para comprar nem o básico
para casa, o que os torna mais difícil essas crianças terem acesso a uma boa
alimentação.
Esse processo, só reforça a necessidade de se enfatizar o que destaca o
Art.12, como forma de subsidiar melhor a alimentação, onde dá destaque à
necessidade dos cardápios serem elaborados por nutricionistas qualificados,
utilizando-se de gêneros alimentícios básicos, obedecendo o que prescreve as
referências nutricionais, os hábitos alimentares, a cultura e tradição alimentar
local – permitindo-se assim, fazer uso dos alimentos tradicionais presentes na
comunidade, podendo se experimentar uma diversidade de alimentos agrícolas
de uso comum na região. Considera-se ser esse aspecto importante, pois um
cardápio planejado, poderá em muito contribuir com a saúde dos alunos,
conforme já se apontou em discussões anteriores.
Além dos fatores relacionados à educação alimentar nutricional, é
possível se constatar que outros propósitos se ancoram nessa política pública
(PNAE), o que se expõe por exemplo no Art. 14 onde contempla as questões
26

econômicas, gerando lucro aos agricultores e empreendedores da agricultura


familiar. A título de informações destaca-se que:

Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no âmbito do


PNAE, no mínimo 30% (trinta por cento) deverão ser utilizados na
aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e
do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se
os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais
indígenas e comunidades quilombolas.

Considera-se ser esse fator importante, pois é uma forma de investimento


na economia, além disso, se tem à frente desse planejamento uma valorização da
cultura alimentar implantada pelos distintos povos, oportunizando a estes
colocarem em prática seus costumes e hábitos alimentares, podendo esse
processo migrar para os cardápios nutritivos elaborados pelos nutricionistas das
escolas, fazendo-se também um estudo sobre os alunos que carecem de
atendimento específico relacionados à alimentação escolar.
Assim, é importante também apontar como aspecto complementar, os
valores gastos por dia letivo para cada aluno, que são repassados pela União aos
Estados e municípios, destacando-se o seguinte:

QUADRO 1 – VALORES GASTOS POR ALUNO NAS DISTINTAS ETAPAS E


MODALIDADES DE ENSINO

ETAPAS/MODALIDADE DE ENSINO VALOR GASTO/ DIA LETIVO


Creches R$ 1,07
Pré-Escola R$ 0,53
Escolas Indígenas e quilombolas R$ 0,64
Ensino Fundamental e Médio R$ 0,36
Educação de Jovens e Adultos R$ 0,32
Ensino Integral R$ 1,07
Programa de Fomento às Escolas de Ensino R$ 2,00
Médio em Tempo Integral
Alunos que frequentam o Atendimento R$ 0,53
Educacional Especializado no contra turno
Fonte: FNDE/MEC

Considera-se ser esse aspecto uma fonte importante, pois pelas


informações contidas no quadro, é possível se verificar que os alunos da
educação básica são atendidos pelo programa, contemplando assim o público –
alvo (da educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e educação de
jovens e adultos) que se encontram matriculados nas escolas públicas,
estendendo também para as entidades comunitárias que firmam convênio com o

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