Você está na página 1de 4

Letras em dia, Português, 11.

º ano

Leitura

Discurso político
Lê o texto que se segue.

Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de


Sousa Mendes | Panteão Nacional de Santa Engrácia, Lisboa | 19.10.2021

Em julho de 2020 a Assembleia da República deliberou conceder Honras de Panteão


Nacional a Aristides de Sousa Mendes, prestando, desta forma, a derradeira homenagem a
este Ilustre Português, perpetuando a sua memória – conforme se refere na Resolução n.º
47/2020 – «[…] enquanto homem que desafiou a ideologia fascista, evocando o seu exemplo
5 na defesa dos valores da liberdade e dignidade da pessoa humana». [...]
Aristides Sousa Mendes enviou inúmeros pedidos de autorização ao Ministério dos
Negócios Estrangeiros, que demorava a responder, ou nem sequer o fazia, o que comprometia
as possibilidades de salvar muitos dos refugiados.
Desafiar as ordens de Lisboa comportava riscos evidentes para o Cônsul-Geral em
10 Bordéus. Para a sua própria vida, para a sua liberdade, para o seu sustento e o da sua família.
Aristides de Sousa Mendes optou, no entanto, por obedecer à sua consciência e,
independentemente da religião, raça ou convicções políticas, emitiu vistos a todos os que o
solicitaram, e que procuravam noutras geografias [mas, sobretudo, no continente americano]
apenas um refúgio que salvaguardasse a sua vida, a sua liberdade e a sua dignidade. O
15 diplomata português chegou mesmo a acolher na sua residência de Bordéus um significativo
número de refugiados, a quem deu abrigo e alimento. […]
Graças a este gesto heroico, estima-se que, em junho de 1940, mais de 30.000 vidas
tenham sido salvas do horror nazi. Para melhor se ter a noção da dimensão do gesto, lembro
aqui as palavras de Yehuda Bauer, reconhecido historiador deste período, que o considerou
20 como «[…] provavelmente, a maior ação de resgate por um único indivíduo durante o
Holocausto».
Todos concordarão que o exemplo de generosidade e de coragem de Aristides de Sousa
Mendes engrandece Portugal e prestigia o Povo Português. [...]
Como é sabido, este seu gesto heroico, contrariando ordens expressas do Governo de
25 Salazar, teve consequências para a sua vida pessoal e profissional, bem como para a sua
família. [...] Votado ao esquecimento, na miséria, e ignorado até pelos seus amigos, Aristides
de Sousa Mendes viria a falecer [...], aos 69 anos, já bastante debilitado e doente [...]. Estas
circunstâncias remeteram, durante anos, o seu exemplo a um injusto e cruel esquecimento.
A grandeza do gesto de Aristides de Sousa Mendes só viria a ser reconhecida por Portugal
30 após o 25 de Abril de 1974, quando a sua história foi dada a conhecer [...]. No estrangeiro,
esse reconhecimento chegou mais cedo, muito em especial em 1966, quando a Aristides de
Sousa Mendes foi atribuído o título de «Justo entre as Nações», título honorífico atribuído pelo
Estado de Israel às pessoas não judias que usaram «a sua vida, liberdade, ou estatuto» para
salvar uma ou mais vidas judias durante o Holocausto.
35 Mesmo hoje, o exemplo de Aristides de Sousa Mendes continua a ecoar e a ser evocado
por esse mundo fora. [...]
Oito décadas passadas sobre os acontecimentos de Bordéus, é, porém, com sobressalto
que, pela Europa e pelo mundo fora, se verifica que o registo histórico do sucedido pode não
ter ficado suficientemente enraizado na memória coletiva das democracias que desde então
40 foram emergindo.
Lembro, a este propósito, o aumento evidente de fenómenos de antissemitismo, de ódio
racial, de homofobia, de recusa do outro, por ser estrangeiro ou diferente. Assim como o
recrudescimento de discursos negacionistas do Holocausto e das vidas das suas vítimas, cujo
testemunho na primeira pessoa vai, por força da lei do tempo, começando a desaparecer.

1 | LDIA11 © Porto Editora


Letras em dia, Português, 11.º ano

Leitura

Aristides de Sousa Mendes foi figura maior do século XX português.

2 | LDIA11 © Porto Editora


Letras em dia, Português, 11.º ano

Leitura

45 Que o exemplo da sua conduta, a que hoje aqui prestamos homenagem, sirva de farol em
tempos de novas dificuldades e desafios para a memória coletiva, demonstrando o valor da
resistência ao injusto e desumano.
Que a sua entrada no Panteão Nacional contribua para perpetuar a sua memória.

RODRIGUES, Eduardo Ferro, 2021. Parlamento.


https://www.parlamento.pt/sites/PARXIIIL/Intervencoes/Paginas/discursos/19-10-2021-CerimOnia-ConcessAo-Honras-
PanteAo-Nacional-a-Aristides-de-Sousa-Mendes-Panteao-Nacional.aspx [Consult. 2021-12-11]

Seleciona a única opção que, em cada um dos itens, permite obter uma afirmação adequada ao
sentido do texto.

1. A partir da leitura do texto, podemos atribuir as seguintes características a Aristides:

(A) heroico, desobediente, agitador, curioso.


(B) digno, inesquecível, resistente, antissemita.
(C) determinado, humano, corajoso, generoso.
(D) solidário, corajoso, paciente, orgulhoso.

2. O seguinte argumento não é usado para justificar as honras de Panteão Nacional a Aristides:

(A) Faleceu aos 69 anos, debilitado, doente e injustamente esquecido.


(B) Arriscou a sua vida, a sua liberdade e a segurança da sua família.
(C) Foi responsável pela maior ação de resgate por um único indivíduo, no
Holocausto.
(D) O seu exemplo prestigia Portugal e os Portugueses.

3. A repetição da palavra «gesto», entre o quinto e o sétimo parágrafos, assegura a coesão

(A) gramatical.
(B) temporal.
(C) lexical.
(D) frásica.

4. Nos últimos três parágrafos, o autor do discurso

(A) sublinha a importância do exemplo de Aristides como «lembrete» de


humanidade e tolerância que impede a repetição de erros passados.
(B) apela a um conhecimento mais profundo da história deste português.
(C) critica as novas gerações pela sua falta de empatia por figuras exemplares do
nosso passado recente.
(D) refere que já não há relatos na primeira pessoa de vítimas do Holocausto.

5. A única expressão que não se refere a Aristides de Sousa Mendes é

(A) «o Cônsul-Geral em Bordéus» (l. 9)


(B) «O diplomata português» (l. 14-15)
(C) «reconhecido historiador» (l. 19)
(D) «figura maior do século XX português» (l. 44)
3 | LDIA11 © Porto Editora
Letras em dia, Português, 11.º ano

Sugestões de resolução

4 | LDIA11 © Porto Editora

Você também pode gostar