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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA CRIMINAL FEDERAL DA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DE ESTADO

URGENTE – HABEAS CORPUS PREVENTIVO – PEDIDO DE LIMINAR

NOME DO ADVOGADO, nacionalidade, advogado, inscrito


na OAB/Estado sob nº ___________, com escritório na endereço , CEP __________,
vem, respeitosamente, à presença de V. Exa., com fundamento nos artigos 5º, inciso
LXVIII, da Constituição Federal, 647 e seguintes do Código de Processo Penal, impetrar

HABEAS CORPUS PREVENTIVO

(com pedido liminar)

em favor de FAVORECIDO, nacionalidade, estado civil, profissão, inscrito no CPF sob nº


____________, com domicílio na endereço, ameaçado de potencial constrangimento
ilegal emanado de ato perpetrado pelo _________________, pelas razões adiante
expostas:
1. DOS FATOS

O Paciente é cadastrado no Exército Brasileiro como


“Colecionador Atirador e Caçador” (“CAC”), conforme o Certificado de Registro (CR) nº
xxxxx (doc. 01).

Nessa condição, o Paciente possui autorização de possuir


armas para a prática do tiro esportivo, mediante o cumprimento de rigorosos critérios
e respectivo registro no chamado sistema “SIGMA”, controlado pelo Exército Brasileiro,
conforme disciplina a Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento):

“*...+ Art. 3o É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão competente.


Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão registradas no
Comando do Exército, na forma do regulamento desta Lei.

Art. 9o Compete ao Ministério da Justiça a autorização do porte de arma para


os responsáveis pela segurança de cidadãos estrangeiros em visita ou
sediados no Brasil e, ao Comando do Exército, nos termos do regulamento
desta Lei, o registro e a concessão de porte de trânsito de arma de fogo
para colecionadores, atiradores e caçadores e de representantes
estrangeiros em competição internacional oficial de tiro realizada no
território nacional.

Art. 24. Excetuadas as atribuições a que se refere o art. 2º desta Lei, compete
ao Comando do Exército autorizar e fiscalizar a produção, exportação,
importação, desembaraço alfandegário e o comércio de armas de fogo e
demais produtos controlados, inclusive o registro e o porte de trânsito de
arma de fogo de colecionadores, atiradores e caçadores *...+” – destacamos.

Ocorre que, no dia 1º de janeiro p.p. foi publicado o


Decreto nº 11.366/2023, estabelecendo, dentre outras disposições, a obrigatoriedade
no recadastramento de armas de fogo e munições, adquiridas a partir da edição do
Decreto nº 9.785/2019 no Sistema Nacional de Armas (“SINARM”) da Polícia Federal, no
prazo de sessenta dias, ainda que cadastradas em outros sistemas (doc. 02):
“[...] Art. 2º As armas de fogo de uso permitido e de uso restrito adquiridas a
partir da edição do Decreto nº 9.785, de 7 de maio de 2019, serão
cadastradas no Sistema Nacional de Armas - Sinarm, no prazo de sessenta
dias, ainda que cadastradas em outros sistemas, ressalvado o disposto no
parágrafo único do art. 2º da Lei nº 10.826, de 2003. *...+”

Em complemento, no dia 30 de janeiro p.p. foi publicada a


Portaria nº 299/2023 do Ministério da Justiça e Segurança Pública dispondo sobre a
obrigatoriedade do recadastramento supracitado, o qual deverá ocorrer dentro do
prazo de 60 (sessenta) dias, contados a partir de 1º de fevereiro p.p. (doc. 03):

“*...+ Art. 1º A partir de 1º de fevereiro de 2023, todas as armas de uso


permitido e de uso restrito após a edição do Decreto nº 9.785, de 7 de maio
de 2019, serão cadastradas no Sistema Nacional de Armas - Sinarm, em
meio eletrônico disponibilizado pela Polícia Federal, ainda que já registradas
em outros sistemas, nos termos do art. 2º do Decreto nº 11.366, de 1º de
janeiro de 2023.
Parágrafo único. A obrigatoriedade constante do caput não se aplica às
armas já cadastradas no Sinarm.

Art. 2º O cadastro de que trata esta Portaria deverá conter ao menos:


I - a identificação da arma; e
II - a identificação do proprietário, com nome, inscrição no CPF ou CNPJ,
endereço de residência e do acervo.
Parágrafo único. O cadastro a que se refere esta Portaria não se confunde
com a comprovação de requisitos para obtenção de posse ou porte de arma,
nem com o cumprimento de outras medidas previstas na Lei nº 10.826, de 22
de dezembro de 2003.

Para armas de uso permitido, a Portaria disciplina que o


recadastramento será apenas via sistema informativo. Já em relação às armas de uso
restrito, a Portaria também traz a exigência de que sejam apresentadas para inspeção,
mediante prévio agendamento, em alguma delegacia da Polícia Federal:
“*...+ Art. 3º O cadastramento das armas deverá ocorrer, em até 60 (sessenta)
dias, contados de 1º de fevereiro de 2023, da seguinte maneira:
I - as armas de uso permitido: serão cadastradas em sistema informatizado
disponibilizado pela Polícia Federal; e
II - as armas de uso restrito: serão cadastradas em sistema informatizado
disponibilizado pela Polícia Federal, devendo também ser apresentadas pelo
proprietário mediante prévio agendamento junto às delegacias da Polícia
Federal, acompanhada de comprovação do respectivo registro no SIGMA
*...+” – destacamos.

A Portaria prevê, ainda, sanções de natureza


administrativa e de natureza penal, em caso de desatendimento ao recadastramento
exigido:

“*...+ Art. 4º O não cadastramento das armas na forma desta Portaria


sujeitará o proprietário à apreensão do respectivo armamento por infração
administrativa, sem prejuízo de apuração de responsabilidade pelo
cometimento dos ilícitos previstos nos arts. 12, 14 e 16 da Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003, conforme o caso *...+” – destacamos.

Pois bem.

Considerando que a Portaria supracitada traz uma


previsão de sanção de “natureza penal”, isto é, de que o infrator poderá ser investigado
por crime de posse/porte irregular/ilegal de arma de fogo, o presente habeas corpus
objetiva garantir ao Paciente a expedição de salvo conduto, a fim de coarctar a ameaça
de coação ilegal ao seu direito de ir e vir, pelos motivos a seguir expostos.
2. QUANTO À NECESSIDADE DE CONCESSÃO DO PRESENTE WRIT PREVENTIVO

Conforme acima demonstrado, existe fundado receio de


que o Paciente possa vir a ser investigado por eventual crime de posse/porte
irregular/ilegal de arma de fogo, ainda que devidamente registrada perante o órgão
competente, em caso de desatendimento ao prazo estipulado pela Portaria nº 299/2023
para o recadastramento perante o SINARM.

Com efeito, na condição de “CAC”, o Paciente já se


encontra devidamente cadastrado perante o órgão competente, disciplinado pelo
Estatuto do Desarmamento, qual seja, o SIGMA, controlado pelo Exército Brasileiro.

Além disso, todas as armas de seu acervo já estão


devidamente registradas, seguindo os rigorosos critérios do SIGMA que foram
estabelecidos pelo Estatuto do Desarmamento e legislações posteriores editadas.

Não obstante, o novo Decreto Presidencial e a posterior


Portaria do Ministério da Justiça pretenderam equivocadamente estabelecer a exigência
de um novo e descabido “registro” para armas de fogo, sob a falsa roupagem de
“recadastramento”.

Isso porque, muito embora a Portaria discipline em seu


artigo 2º o “cadastro” junto ao SINARM e estabeleça que suas exigências não se
confundem “*...+ com a comprovação de requisitos para obtenção de posse ou porte de
arma *...+”, por outro lado, estabelece que o “cadastro” deverá conter “*...+ a
identificação do proprietário, com nome, inscrição no CPF ou CNPJ, endereço de
residência e do acervo *...+”.

Ocorre que, o ato pelo qual se vincula a arma de fogo ao


seu proprietário é um registro – e não meramente um “cadastro”, como quer fazer crer
a Portaria – sendo que, no caso do Paciente, as armas de seu acervo já se encontram
devidamente registradas, em atenção ao que prevê a Lei nº 10.826/2003.

Ou seja, parece-nos, em verdade, que a Portaria está


indevidamente criando a obrigatoriedade de um novo e descabido “registro” em outro
sistema (o SINARM) para armas de fogo, ainda que já devidamente registradas (perante
o SIGMA) e, portanto, passíveis de serem armazenadas licitamente pelo seu possuidor
na sua residência ou local de trabalho, à luz do que dispõe o artigo 5º da Lei nº
10.826/20031.

Aliás, o próprio Decreto nº 11.366/2023 traz uma ressalva


à obrigatoriedade de tal recadastramento na parte final do artigo 2º:

“[...] Art. 2º As armas de fogo de uso permitido e de uso restrito adquiridas a


partir da edição do Decreto nº 9.785, de 7 de maio de 2019, serão
cadastradas no Sistema Nacional de Armas - Sinarm, no prazo de sessenta
dias, ainda que cadastradas em outros sistemas, ressalvado o disposto no
parágrafo único do art. 2º da Lei nº 10.826, de 2003. *...+” – destacamos.

Referido dispositivo, por sua vez, já excluía da


competência do SINARM a necessidade de cadastro das armas de fogo das Forças
Armadas e aquelas que constem dos seus registros próprios, como é justamente o caso
das armas de fogo dos CACs, que são registradas perante o SIGMA:

“Art. 2o Ao Sinarm compete: [...] Parágrafo único. As disposições deste artigo


não alcançam as armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem como
as demais que constem dos seus registros próprios *...+” – destacamos.

1
Art. 5o O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território nacional, autoriza
o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio,
ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável
legal pelo estabelecimento ou empresa.
Tal entendimento, inclusive, motivou o Subcomando
Logístico do Exército a emitir parecer à consultoria jurídica do Exército para que fosse
fixada interpretação de dispositivos do Decreto nº 11.366/2023, notadamente se a
obrigatoriedade deste recadastramento efetivamente alcançaria os CACs, uma vez que
já devidamente registrados perante o SIGMA (doc. 04).

Neste ponto, é conveniente o destaque do parecer:

De fato, ao menos desde 2021 já há um


compartilhamento de dados entre o SIGMA do Exército e o SINARM da Polícia Federal,
a partir da edição da Portaria Conjunta nº 01/2021 do Comando do Exército e do Diretor-
Geral da Polícia Federal (doc. 05).

Portanto, qual a razão lógica de se exigir um


“recadastramento” no SINARM das armas de fogo que já foram registradas em outro
sistema, sendo que todos os dados estão disponíveis para livre acesso ao órgão?
Como se não bastasse, cenário mais grave se refere às
armas de fogo de uso restrito, uma vez que a Portaria 299/2023 exigiu que, para além
do cadastro no sistema informativo da Polícia Federal também fossem apresentadas
para inspeção, mediante prévio agendamento, em uma das delegacias da Polícia
Federal.

Tal exigência, contudo, é descabida e inviável por, no


mínimo, dois motivos de ordem prática.

Primeiramente, porque somente na cidade de São Paulo


existem mais de 350 mil CACs devidamente registrados, número esse absolutamente
superior à quantidade de horários disponíveis para agendamento na sede da Polícia
Federal desta Capital dentro do exíguo prazo de 60 (sessenta) dias, fixado pelo Decreto
e pela Portaria.

Segundo, porque tal exigência fixará um verdadeiro


“alvo” nas costas do CAC que comparecer à inspeção, sujeito à ação da criminalidade,
uma vez que deverá circular com uma arma impossível de ser disfarçada ou ocultada
e com armamento desmuniciado, portanto, sem possibilidade de defesa – uma vez que
o Decreto em questão revogou o porte de trânsito de arma municiada2.

Até por estas razões que a Lei nº 10.826/2003 estabelece


em seu artigo 3º, parágrafo único, que as armas de uso restrito são registradas perante
o Exército.

2
O artigo 36, §3º do antigo Decreto nº 9.785/2019 permitia aos CACs o porte de uma arma de fogo curta
municiada, alimentada e carregada, pertencente ao seu acervo devidamente cadastrada, sempre que em
deslocamento para treinamento ou participação em competição. Já o artigo 14 do Decreto nº
11.366/2023 revogou o referido porte de trânsito de arma de fogo por CACs, apenas mantendo o direito
de transporte de “armas desmuniciadas”.
Ora, todas estas circunstâncias fáticas são absolutamente
relevantes para demonstrar a impossibilidade de cumprimento das exigências para o
dito “recadastramento”, dentro do exíguo prazo fixado.

Ocorre que, como dito, a Portaria estabelece duas


“sanções” para quem “descumprir” o prazo estabelecido, a saber, a apreensão do
armamento, por infração administrativa, além da responsabilidade penal por crime de
posse/porte irregular/ilícito de arma de fogo.

Nada mais absurdo!

Como dito, a Portaria está exigindo um novo “registro”,


mascarado sob a forma de “cadastro” que, contudo, afetará o registro que já foi feito
no SIGMA, sendo que o mero “recadastramento” não deveria afetar o registro, a ponto
de gerar a apreensão da arma.

Sobretudo porque a apreensão de um objeto parte do


pressuposto de que ele foi ilícito, o que não ocorre com uma arma de fogo que já se
encontra devidamente registrada no SIGMA.

Além disso, a previsão de que o agente poderá responder


por crime, em caso de desatendimento ao recadastramento, é ainda mais absurda por
instituir uma sanção penal (que, a rigor, só poderia ser criada por lei) por mera portaria,
em completa subversão da hierarquia das normas.

Inclusive, a própria Portaria, por si só, afronta disposição


expressa de lei federal – a Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) – que regula
o registro de arma de fogo de propriedade de CAC, padecendo, assim, de vício de
constitucionalidade.
Até porque, não é demais lembrar, que a Corte Especial do
C. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA já assentou entendimento de que “*...+ uma vez
realizado o registro da arma, o vencimento da autorização não caracteriza ilícito penal,
mas mera irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e
aplicação de multa *...+”3 – destacamos.

Em outras palavras, se a arma de fogo já foi devidamente


registrada – como é o caso do Paciente – não há crime de posse irregular de arma de
fogo, no máximo mera irregularidade administrativa.

Parece-nos, em verdade, que a Portaria apenas foi editada


para criar uma dificuldade, em um prazo exíguo e impraticável nas grandes cidades,
expondo o indivíduo a um risco desnecessário de ter que circular com uma arma de uso
restrito em vias públicas, sem a possibilidade de defesa do acervo – já que referido
decreto também proibiu o chamado “porte de trânsito” – estando, assim, sujeito à ação
dos criminosos.

Até porque, como dito, as armas já foram objeto de


registro perante o órgão competente (o SIGMA), cujos dados podem ser livremente
consultados pelo SINARM, estando, assim, formalmente regulares.

Em contrapartida, o que se vê é que a Portaria pretende


criar um procedimento sem respaldo legal, atingindo espécies de armas que não estão
sob competência da Polícia Federal e, ainda, estabelecendo uma espécie de novo
“registro”, ao pretender a identificação e a vinculação da arma ao seu possuidor.

3
APn n. 686/AP, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJe de 29/10/2015.
Não fosse o suficiente, denota-se, ainda por cima, que
tanto o Decreto nº 11.366/2023, quanto a Portaria nº 299/2023 possuem nítido viés
ideológico, em flagrante afronta ao princípio da isonomia, uma vez que são expressos
em exigir a obrigatoriedade do recadastramento somente para armas de fogo
adquiridas após 07 de maio de 2019.

Não há qualquer justificativa idônea para tamanha ofensa


à isonomia que rege os atos normativos. A não ser que se cogite de efetivo
direcionamento ideológico, suspeitando-se, ainda, de clara alusão a identificar
potenciais apoiadores do antigo governo federal, responsável pela edição do Decreto
nº 9.785/2019, mencionado nos referidos atos.

Inclusive, o website4 que foi disponibilizado para o


recadastramento tem como primeiros filtros os seguintes questionamentos: (i) “Você é
proprietário de arma de fogo registrada no SIGMA?” e (ii) “A aquisição da arma de fogo
ocorreu a partir de 7 de maio de 2019?”, exigindo, para tanto, resposta positiva para o
prosseguimento da operação. Já qualquer resposta negativa a um destes dois quesitos
gera a seguinte mensagem “Não é o caso de recadastramento”:

4
Disponível em <https://www.gov.br/pf/pt-br/assuntos/armas/recadastramento/recadastramento-1>
acesso em 14 fev. 2023.
Daí porque não é demais que se cogite de claro
direcionamento ideológico, em evidente violação à isonomia dos atos normativos, já
que se o CAC possui arma registrada no SIGMA, porém adquirida anteriormente ao
decreto de 7 de maio de 2019, não precisará se recadastrar junto ao SINARM.

Ainda a título ilustrativo, o direcionamento ideológico é


tão evidente que parece haver uma orientação na Polícia Federal de partir do
pressuposto de que todo CAC está em situação irregular. Nesse sentido, em matéria
jornalística divulgada pelo Jornal Nacional, o Dr. RODRIGO TEIXEIRA, diretor de Polícia
Administrativa da Polícia Federal, afirma que aquele que fizer o recadastramento dentro
do prazo a situação dele “*...+ não é tão ruim *...+” 5(vide 02min42s da reportagem).

Ou seja, se está dentro da lei, porque a situação do


Paciente seria ruim, ainda que lograsse êxito no recadastramento, dentro do prazo
fixado?

Por todos os ângulos que se analisa, denotam ser absoluta


descabidas as “punições” previstas na referida Portaria, sendo o presente writ
preventivo cabido para evitar a ameaça de violência ou de coação ilegal que se
verificará acaso o Paciente venha a ser investigado – e, até mesmo, preso em flagrante
– por eventual crime de posse irregular de arma de fogo, se não lograr êxito em realizar
o aludido “recadastramento”, dentro do prazo fixado.

Ainda, objetiva-se, de igual modo, que ao Paciente não


seja exigido que, para efetuar o recadastramento das suas armas de uso restrito,
também tenha que levá-las para conferência em uma unidade da Polícia Federal, dada
a falta de segurança para tanto e risco pessoal para o próprio Paciente com a ação de
criminosos.

3. DO PEDIDO LIMINAR

A concessão de medida liminar em sede de habeas corpus


pressupõe a presença dos requisitos do fumus boni juris e do periculum in mora.

5
Disponível em <https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2023/02/01/proprietarios-de-armas-de-
fogo-tem-60-dias-para-fazer-cadastro-no-sistema-da-policia-federal.ghtml> acesso em 14 fev. 2023.
No caso concreto, ambos os requisitos estão
demonstrados com clareza para o fim de que seja de imediato expedido salvo-conduto
ao Paciente.

Com efeito, o requisito do fumus boni iuris decorre da


própria argumentação despendida ao longo da presente impetração, que demonstra a
relevância do direito ora discutido de que o Paciente, enquanto CAC, já se encontra
devidamente registrado e com as armas de seu acervo igualmente registradas perante
o órgão competente, o SIGMA, controlado pelo Exército.

Não obstante, com as publicações do Decreto nº


11.366/2023 e a Portaria nº 299/2023 do Ministério da Justiça, criou-se uma
obrigatoriedade de “recadastramento” das armas de fogo perante o SINARM, ainda que
já registradas no SIGMA e, sobretudo, desconsiderando que já existe um
compartilhamento de dados entre tais órgãos.

Contudo, o prazo exíguo fixado para tanto é


absolutamente impraticável, além de ter sido imposta a exigência de conferência física
das armas de uso restrito, o que coloca a própria segurança do indivíduo em risco,
potencialmente sujeita à ação de criminosos.

Já o requisito do periculum in mora é igualmente latente,


uma vez que, de acordo com a Portaria 299/2023, do Ministério da Justiça, o indivíduo
que não realizar o recadastramento das suas armas de fogo dentro do prazo de 60
(sessenta) dias, contado a partir de 1º de fevereiro p.p., estará sujeito à apreensão da
arma, por infração administrativa, sem prejuízo de responsabilidade criminal pela
prática dos crimes previstos nos artigos 12, 14 e 16 da Lei nº 10826/2003.

Considerando que o prazo fixado é absolutamente


inexequível, significa dizer que o Paciente corre o risco de ter seu armamento
indevidamente apreendido, não obstante possui-lo devidamente registrado, o que
legitima a sua posse, nos termos do art. 5º da Lei nº 10.826/2003.

Além disso, é flagrante, ainda, o risco do Paciente ser


investigado pela prática de crime e, consequentemente, do risco de uma prisão em
flagrante.

No caso, de acordo com a própria Portaria, poderá incorrer


nos crimes de posse irregular de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da Lei nº
10826/2003), cuja pena vai de 1 a 3 anos de reclusão e/ou, ainda, de posse/porte de
arma de fogo de uso restrito (art. 16 da Lei nº 10826/2003), apenado com reclusão de 3
a 6 anos.

Assim, é flagrante, portanto, a ameaça de lesão ao livre


direito de ir e vir do Paciente, em vias de ser potencialmente coarctado acaso não logre
êxito em realizar o recadastramento de suas armas de fogo dentro do prazo de 60 dias.

Isso sem relembrar, mais uma vez, do risco pessoal ao


Paciente de ter que levar sua arma de uso restrito até uma unidade da Polícia Federal,
desmuniciada e sem a possibilidade de ser disfarçada ou ocultada, colocando em xeque
sua segurança, sujeito à ação de criminosos.

Portanto, a concessão da liminar ressurge imperiosa no


caso concreto para a expedição de salvo-conduto com as seguintes garantias:

a) Que o Paciente não seja preso em flagrante e


investigado pelos crimes previstos nos artigos 12 a 16
da Lei nº 10.826/2003, muito menos tenha suas armas
apreendidas por suposta infração administrativa, em
relação às armas de fogo já devidamente registradas
no SIGMA, acaso não logre êxito no recadastramento
no SINARM, dentro do prazo de 60 dias;

b) Que o Paciente seja dispensado da obrigatoriedade


do recadastramento de suas armas de fogo de uso
restrito junto ao SINARM, uma vez que já
devidamente registradas junto ao SIGMA ou, ao menos
que seja dispensado da obrigatoriedade de levá-las na
inspeção perante alguma unidade da Polícia Federal,
por falta de segurança e de agenda, em tempo hábil.

São os termos em que se aguarda a concessão da liminar,


a fim de serem coarctados os riscos que o Paciente sofre de ameaça de violência ou de
coação ilegal.

4. DOS PEDIDOS

Por todos os argumentos apresentados, considerando


estarem presentes os necessários requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora,
requer-se a concessão da medida liminar para a imediata expedição de salvo-conduto
ao Paciente com as seguintes garantias até o julgamento definitivo desta ordem:

a) Que o Paciente não seja preso em flagrante e


investigado pelos crimes previstos nos artigos 12 a 16
da Lei nº 10.826/2003, , muito menos tenha suas
armas apreendidas por suposta infração
administrativa, em relação às armas de fogo já
devidamente registradas no SIGMA, acaso não logre
êxito no recadastramento no SINARM, dentro do prazo
de 60 dias, estabelecido pela Portaria 299/2023 do
Ministério da Justiça;

b) Que (i) o Paciente seja dispensado da obrigatoriedade


do recadastramento de suas armas de fogo de uso
restrito junto ao SINARM, uma vez que já
devidamente registradas junto ao SIGMA ou, ao menos
que (ii) seja dispensado da obrigatoriedade de levá-
las na inspeção perante alguma unidade da Polícia
Federal, por falta de segurança e de agenda, em tempo
hábil.

Após o regular processamento do presente writ, requer-se


a concessão definitiva da presente ordem, com a confirmação da liminar e a imposição
das garantias supracitadas.

São os termos em que pede e espera a integral concessão


da ordem do presente remédio heroico preventivo.

Pede deferimento.

ESTADO, XX de__________ de 2023.

NOME DO ADVOGADO
OAB/ESTADO XXXXX

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