Você está na página 1de 8

fls.

125

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA de Santos
FORO DE SANTOS
1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA
PRAÇA JOSÉ BONIFÁCIO, S/Nº, SANTOS - SP - CEP 11013-910
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002038-96.2021.8.26.0562 e código 676F7A4.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1002038-96.2021.8.26.0562


Classe - Assunto Mandado de Segurança Cível - Suspensão da Exigibilidade
Impetrante: Jorge Firmino de Oliveira Filho
Impetrado: Delegado Tributário do Posto Fiscal Drt-02 e outro

Justiça Gratuita

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FERNANDA MENNA PINTO PERES, liberado nos autos em 10/03/2021 às 17:48 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). Fernanda Menna Pinto Peres

Vistos.
Trata-se de Mandado de Segurança impetrado por Jorge Firmino de Oliveira Filho
contra ato do Delegado Regional Tributário de Santos, agente vinculado à Fazenda Pública do
Estado de São Paulo.
Aduz o impetrante que é proprietário do veículo Toyota Yaris, ano 2018/2019, cor
preta, placa FOJ1J52. Que em razão de ser portador de deficiência física nos membros superiores,
com limitação na forma de monoparesia (CID – 10 S.62), adquiriu o veículo acima descrito na
modalidade PCD. O fez com direito a isenção do IPVA nos termos do art.13 da Lei 13.296/08.
Que o benefício fiscal foi revogado pela Lei Estadual n° 17.293/2020. Salienta que a impetração
do presente mandado de segurança independe de prévio requerimento administrativo. Não
concorda com a revogação da referida lei, pois não obedeceu aos princípios constitucionais. Que a
referida nova Lei Estadual isenta o imposto taxativamente somente às pessoas com deficiência
graves e severas, com veículos customizados ou adaptados, automaticamente excluindo as pessoas
com deficiências leves e moderadas. Tal modificação culminou no lançamento do IPVA relativo
ao seu veículo PCD no exercício financeiro de 2021 no valor de R$ 2.220,20 (dois mil, duzentos e
vinte reais e vinte centavos). Que é pessoa com deficiência física moderada e é totalmente
dependente de câmbio automático e direção hidráulica/elétrica para a sua locomoção. Sustenta que
há ofensa à Convenção de Nova York, bem como ao artigo 227 da Constituição Federal, por
vedação a todas as formas de discriminação, sobretudo entre deficientes físicos. Que a mudança
operada para que se conceda isenção tão somente às pessoas com deficiências graves e severas,
representa verdadeira anomalia jurídica, além de afrontar os princípios da isonomia, da
razoabilidade e da dignidade da pessoa humana. Que é direito líquido e certo do impetrante fazer

1002038-96.2021.8.26.0562 - lauda 1
fls. 126

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA de Santos
FORO DE SANTOS
1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA
PRAÇA JOSÉ BONIFÁCIO, S/Nº, SANTOS - SP - CEP 11013-910
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002038-96.2021.8.26.0562 e código 676F7A4.
jus à isenção de IPVA durante o exercício de 2021. Já foi reconhecido como deficiente físico pela
Administração Pública quando da concessão da isenção do IPI, concedido com base no art. 1º, IV
da Lei n°8.989/95. Pede Justiça Gratuita. Pede a concessão de liminar e ao final a concessão da
ordem para suspender a obrigatoriedade do recolhimento do IPVA referente ao ano de 2021 e
seguintes, bem como seja autorizado o licenciamento regular do veículo, sob pena de multa e
condenado o impetrado à restituição dos valores pagos pelo impetrante à título de IPVA no

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FERNANDA MENNA PINTO PERES, liberado nos autos em 10/03/2021 às 17:48 .
exercício do ano de 2021 (e eventualmente em exercícios seguintes), com juros e correção
monetária, a serem devidamente liquidados na fase de cumprimento de sentença.
Documentos às fls. 19/70.
Decisão que concedeu Justiça Gratuita e a liminar às fls. 71/73.
A Fazenda do Estado de São Paulo requereu o seu ingresso no feito como
assistente litisconsorcial (fls. 79/80), ocasião na qual juntou a nota técnica de fls. 81/107,
sustentando, em suma, que a Lei nº 17.293/20 e o Decreto nº 65.337/2020 são constitucionais e
que o impetrante não preenche os requisitos para gozo do benefício almejado. Que o o número de
veículos com isenção PCD cresceu de 138 mil para 351 mil nos últimos anos, caracterizando um
aumento de mais de 150% (cento e cinquenta por cento em prejuízo de todos os contribuintes
paulistas, sobretudo, considerando que tal recurso seria aplicado em educação, segurança e saúde.
Que é impossível a interpretação extensiva sob pena de contrariar os art. 97,VI, art. 111, II, art.155
e art.179 do CTN. Que inexiste direito adquirido a regime tributário e é pretensão que contraria o
art.5º XXXVI e art.150, III, a e § 6º da CF. Que inexiste afronta ao princípio da Anterioridade
Nonagesimal. Que a pretensão da impetrante impediria a revogação de isenção não onerosa a
qualquer tempo, especialmente quando o contribuinte deixar de atender as condições impostas
para sua fruição. Que a razoabilidade da norma de isenção adotou critério de distinção
absolutamente pertinente e que não pode ser afastado pelo Poder Judiciário. Pede a improcedência
da ação.
A autorida coatora foi notificada às fls. 112.
Parecer do MP às fls. 119/124 pela concessão da ordem.
É o relatório. Fundamento e decido.
Prima facie, afasto o pleito de restituição dos valores pagos pelo impetrante à
título de IPVA no exercício do ano de 2021 e demais exercícios frente à inadequação da via eleita
para a formulação do referido pedido, uma vez que o mandado de segurança não é via idônea para
cobrança, nos termos das Súmulas nº 269 e 271 do E. Superior Tribunal Federal, in verbis:

1002038-96.2021.8.26.0562 - lauda 2
fls. 127

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA de Santos
FORO DE SANTOS
1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA
PRAÇA JOSÉ BONIFÁCIO, S/Nº, SANTOS - SP - CEP 11013-910
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002038-96.2021.8.26.0562 e código 676F7A4.
"O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança". (Súmula
269 do STF).
"Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em
relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados
administrativamente ou pela via judicial própria." (Súmula 271 do STF).
Isto posto, passo à análise de mérito.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FERNANDA MENNA PINTO PERES, liberado nos autos em 10/03/2021 às 17:48 .
É o caso de concessão da ordem.
O feito deve ser julgado na fase em que se encontra, uma vez que na via estreita do
mandado de segurança, não cabe a produção de provas. Pois bem.
O IPVA tem fato gerador que se renova anualmente, em se tratando de veículo
usado, ocorre no dia 1° de Janeiro de cada ano, conforme dispõe o art. 3° da Lei Estadual n°
13.296/2008:
Considera-se ocorrido o fato gerador do imposto:
I - no dia 1º de janeiro de cada ano, em se tratando de veículo usado;
O art.150, II, c da Constituição Federal, por sua vez, dispõe que é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios cobrar tributos “antes de decorridos noventa
dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto
na alínea b;”
Em relação ao termo aumentou, é pacífico nos tribunais superiores que a
revogação de benefício fiscal se equipara a majoração indireta do tributo e, portanto, deverá
respeitar o Princípio da anterioridade nonagesimal:
DIREITO TRIBUTÁRIO. SEGUNDO AGRAVO INTERNO EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. REINTEGRA. MAJORAÇÃO INDIRETA DO TRIBUTO.
OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE GERAL E
NONAGESIMAL. PRECEDENTES. ACÓRDÃO RECORRIDO EM
CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA DO STF. 1. Conforme
consignado na decisão agravada, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
fixou entendimento no sentido de que não só a majoração direta de tributos atrai
a aplicação do princípio da anterioridade, mas também a majoração indireta
decorrente de revogação de benefícios fiscais. Precedentes. 2. Inaplicável o art.
85, § 11, do CPC/2015, uma vez que não é cabível, na hipótese, condenação em
honorários advocatícios (art. 25 da Lei nº 12.016/2009 e Súmula 512/STF). 3.
Agravo interno a que se nega provimento, com aplicação da multa prevista no art.

1002038-96.2021.8.26.0562 - lauda 3
fls. 128

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA de Santos
FORO DE SANTOS
1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA
PRAÇA JOSÉ BONIFÁCIO, S/Nº, SANTOS - SP - CEP 11013-910
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002038-96.2021.8.26.0562 e código 676F7A4.
1.021, § 4º, do CPC/2015. (RE 1214919 AgR-segundo, Relator(a): Min.
ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 27/09/2019, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-221 DIVULG 10-10-2019 PUBLIC 11-10-2019)

O art.13 da Lei nº 13.296/08 foi revogado pela Lei Estadual nº 17.293/2020,


publicada em 11/12/2020, majorando de forma indireta o IPVA (com a sua revogação) e, portanto,

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FERNANDA MENNA PINTO PERES, liberado nos autos em 10/03/2021 às 17:48 .
a ela se aplica a anterioridade nonagesimal. Seus efeitos só atingem fatos geradores ocorridos 90
dias após a sua publicação.
A revogação não atinge ao impetrante, uma vez que se tratando de carro usado, o
fato gerador ocorreu em 1° de Janeiro, ou seja, antes dos 90 dias que devem ser obedecidos pela
legislação para aplicabilidade.
Ademais, a matéria aqui discutida já se encontra pacificada no Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo, o qual revela que a isenção tributária sobre veículo automotor em razão
de deficiência física tem natureza declaratória, com eficácia a partir da constituição dos seus
pressupostos legais, com efeitos retroativos à data em que reunidos os pressupostos jurídicos,
sendo ilícito ao Estado restringir a isenção ao prazo estabelecido no CAT 27/2015. Neste sentido:
TRIBUTÁRIO IPVA Declaratória de inexigibilidade de tributo cumulada com
repetição do indébito Art. 13, VI da Lei Estadual n. 11.296/08-Admissibilidade: A
isenção tributária tem eficácia a partir da constituição dos seus pressupostos
legais, sem limitação temporal ou circunstancial ao seu requerimento
administrativo.(TJSP; Apelação / Remessa
Necessária1013999-22.2018.8.26.0309; Relator (a): Teresa Ramos Marques;
Órgão Julgador: 10ª Câmara de Direito Público; Foro de Jundiaí - Vara da Fazenda
Pública; Data do Julgamento: 25/05/2020; Data de Registro: 25/05/2020)

Não bastasse isso, o impetrante não só havia adquirido um veículo com isenção de
IPVA como PCD, como comprovou através dos documentos de fls. 23/27 que também tinha
isenção de IPI.
A revogação do art. 13 propôs novas exigências para a concessão de isenção do
IPVA. O veículo tem de ser adaptado e customizado para a situação individual do condutor.
Vejamos:
Art. 13. É isenta de IPVA a propriedade: (...) III - de um único veículo, de
propriedade de pessoa com deficiência física severa ou profunda que permita a condução de

1002038-96.2021.8.26.0562 - lauda 4
fls. 129

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA de Santos
FORO DE SANTOS
1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA
PRAÇA JOSÉ BONIFÁCIO, S/Nº, SANTOS - SP - CEP 11013-910
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002038-96.2021.8.26.0562 e código 676F7A4.
veículo automotor especificamente adaptado e customizado para sua situação individual.
Assim, os deficientes severos e graves que possam conduzir seu veículo somente
terão isenção de IPVA se o carro for personalizado, adaptado de forma individual. Já os
deficientes não condutores não podem ter veículo sem adaptação.
Nitidamente configura uma distinção entre os deficientes não condutores e os
deficientes graves/severos que são condutores. Tal fato fere o princípio da isonomia tributária. O

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FERNANDA MENNA PINTO PERES, liberado nos autos em 10/03/2021 às 17:48 .
princípio da isonomia proíbe tratamento diferenciado para prescrever a inclusão ou exclusão de
determinado benefício ou imposição de certo gravame.
A diferenciação fere o princípio da isonomia tributária, a medida que trata o fato
gerador para isenção não a condição de vulnerabilidade do contribuinte, mas o tipo de adaptação a
ser implementada em um veículo.
A isonomia é o princípio básico do regime democrático e a nossa Constituição
veda que seja instituído tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação
equivalente, proibida qualquer distinção (art.150, II da CF). Trata-se, portanto, de norma de
inclusão social, ligada ao princípio da dignidade da pessoa humana e que limita o poder de
tributar.
Revogar a isenção de forma imediata também viola o princípio da segurança
jurídica e da irretroatividade tributária, que proíbe a revogação de isenção condicional por prazo
certo para situações já consolidadas antes da nova lei (art.178 do CTN).

Assim, qualquer dispositivo que viole a finalidade constitucional dos referidos


princípios é inconstitucional.
Basta analisar que, recaindo a exigência sobre o veículo, tal situação contraria
qualquer lógica que decorria da referida isenção, como por exemplo, aos deficientes não
habilitados e que dependem de terceiros.
A finalidade do benefício é garantir o direito de locomoção aos portadores de
deficiência a fim de que tenham uma vida social mais próxima da normalidade possível, uma
melhor qualidade devida, não sendo plausível que pessoas que não precisem de adaptações
específicas em seus veículos sejam tratadas de forma diferente das demais que necessitam da
adaptação. Neste sentido já decidiam os nossos tribunais:
CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO - MANDADO DE SEGURANÇA IPVA
ISENÇÃO TRIBUTÁRIA VEÍCULO AUTOMOTOR- DEFICIENTE FÍSICO
RESTRIÇÃO AOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS QUE

1002038-96.2021.8.26.0562 - lauda 5
fls. 130

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA de Santos
FORO DE SANTOS
1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA
PRAÇA JOSÉ BONIFÁCIO, S/Nº, SANTOS - SP - CEP 11013-910
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002038-96.2021.8.26.0562 e código 676F7A4.
POSSAM DIRIGIR O PRÓPRIO VEÍCULO INADMISSIBILIDADE ISONOMIA
IGUALDADE TRIBUTÁRIA PROTEÇÃO ESPECIAL ÀS PESSOAS
PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA. 1. O princípio da igualdade paira sobre as
isenções tributárias, que só podem ser concedidas quando favorecem pessoas
tendo em conta objetivos constitucionalmente consagrados. 2. A norma legal que
trata da isenção do IPVA para veículos especialmente adaptados, de propriedade

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FERNANDA MENNA PINTO PERES, liberado nos autos em 10/03/2021 às 17:48 .
de deficiente físico, (art. 9º, VIII, da Lei Estadual nº 6.606/89, atualmente lei
13.296/2008) há de ser interpretada em harmonia com a Constituição Federal, em
especial o princípio de igualdade (art. 5º, caput, CF), com as normas que
asseguram proteção especial às pessoas portadoras de deficiência (art. 23, II, e
203, IV, CF)e a própria Constituição Bandeirante que veda ao Estado instituir
tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente
(art. 163, II). 3. Tendo em vista os princípios de isonomia, de igualdade tributária
e das normas que asseguram proteção especial às pessoas portadoras de
deficiência (art. 23, II, e 203, IV, CF), não é lícito ao Estado-membro restringir a
isenção de IPVA aos portadores de necessidades especiais que estejam aptos a
dirigirsem que necessitem de terceiro como condutor. 4. O descumprimento da
ordem judicial caracteriza crime de desobediência (art. 26 da Lei n° 12.016/09), o
que exclui a fixação de astreintes à falta de expressa previsão na Lei do Mandado
de Segurança. Segurança concedida.Sentença mantida. Reexame necessário
desacolhido. Recurso de apelação desprovido. Agravo retido provido em parte
para excluir a multa diária fixada na decisão agravada." (Apelação nº
3014925-04.2013.8.26.0451, Piracicaba, 9ª Câmara de Direito Público, j. Em
20/08/2014 Rel.Décio Notarangeli)

Não se trata, portanto, de interpretação extensiva, como alega a autoridade. O


dispositivo não estabelece o rol das deficiências severas e graves, simplesmente expôs de forma
genérica que aquele que possui um veículo adaptado particularmente para sua deficiência terá
isenção. Quem não o fizer, algumas vezes por não ser habilitado, não o terá. Os princípios da
dignidade da pessoa humana e da isonomia se sobrepõem às leis que com eles sejam
incompatíveis. Assim, a lei deve ser sempre interpretada em harmonia com a Constituição Federal.
Ademais, o art. 5º define que todos são iguais perante a lei e em seu inciso XXXVI
estabelece que a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

1002038-96.2021.8.26.0562 - lauda 6
fls. 131

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA de Santos
FORO DE SANTOS
1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA
PRAÇA JOSÉ BONIFÁCIO, S/Nº, SANTOS - SP - CEP 11013-910
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002038-96.2021.8.26.0562 e código 676F7A4.
Aquele que já tinha incorporado em seu patrimônio a isenção, não poderá perdê-la.
A Sumula n° 544 do STF, outrossim, dispõe que isenções tributária concedidas
sob condição não onerosa não podem ser suprimidas.

Ainda que a isenção concedida ao deficiente seja por prazo certo, não é possível
precisar qual evento extintivo vai definir o prazo final.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FERNANDA MENNA PINTO PERES, liberado nos autos em 10/03/2021 às 17:48 .
Tendo em vista os princípios supramencionados, bem como das normas que
asseguram proteção especial às pessoas portadoras de deficiência (art.23, II e art.203, IV da CF),
da mobilidade pessoal, da acessibilidade e da inclusão social, não é lícito ao Estado-membro
restringir a isenção de IPVA nas condições impostas.
Em que pese o atual cenário de Pandemia, bem como a alegada situação de
benefícios concedidos a quem não deveria tê-los, tal fator não deve ser dirimido à custa das
pessoas com deficiência.
Há que se levar em consideração ainda a gama considerável de doenças que
causam incapacidade, sendo impossível resumir a existência a termos genéricos como “severas e
graves” e a lei determinar que apenas um modelo de veículo próprio seja capaz de determinar as
necessidades do PCD.
Diante do exposto, JULGO EXTINTO O FEITO, sem resolução do mérito, com
base no art. 485, inciso VI, do Código de Processo Civil, no tocante ao pedido de restituição dos
valores de IPVA. Do remanescente, CONCEDO A ORDEM, confirmando a liminar, para
reconhecer o direito à isenção do IPVA em relação ao veículo descrito na inicial, bem como
autorizar o licenciamento, com a ressalva de que a circunstância do veículo não ser
especificamente adaptado e customizado para a situação individual do impetrante não pode ser
considerada como óbice ao reconhecimento do direito de isenção.
Julgo o feito extinto, com resolução de mérito, nos termos do art. 487, I do CPC.
Custas na forma da lei. Sem condenação ao pagamento de honorários advocatícios
por expressa disposição legal (art. 25, da Lei 12.016/09).
Decorrido o prazo para a interposição de recursos voluntários, remetam-se os
autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo por força de reexame necessário (art.
14, §1º da Lei nº 12.016/09).
P.I.C.

Santos, 25 de fevereiro de 2021.

1002038-96.2021.8.26.0562 - lauda 7
fls. 132

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA de Santos
FORO DE SANTOS
1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA
PRAÇA JOSÉ BONIFÁCIO, S/Nº, SANTOS - SP - CEP 11013-910
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002038-96.2021.8.26.0562 e código 676F7A4.
Fernanda Menna Pinto Peres
Juíza de Direito

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FERNANDA MENNA PINTO PERES, liberado nos autos em 10/03/2021 às 17:48 .

1002038-96.2021.8.26.0562 - lauda 8

Você também pode gostar