Você está na página 1de 19
NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL SP, 06 a 15 de abril de 2016 14/54" AG (Sub) ORIENTACOES PARA A PASTORAL DO DiZIMO Introdugao 1. Acompreensio do dizimo SUMARIO 1.1 Os fundamentos do dizimo 12 O que 60 diziMO?nmununnninnnsnnennsnnsnnsnsninsnnnin smmmsnsnnsnin 7 13 Asdimensdes do dizimo.. 8 14 As finalidades do dizimo 10 2. Orientagées para a Pastoral do Dizimo.. 10 2.1 Implantagao do Dizim0 wrssnsnsnsnnnsnsonnsnsninannnsnn smn LO 2.2 A organizacao e o funcionamento da Pastoral do Dizimo 2.3 Osagentes da pastoral do dizimo. 2.4 Odizimo na pastoral de conjunti 2.5 Motivacao permanente vrssnsnnsnnsnsnmnsnsnaiaennnn 2.6 Reflexdes sobre aspectos juridicos... Conclusai Introdugao As presentes orientagdes dao continuidade as indicagdes que tém sido feitas pela Conferéncia Nacional dos Bispos do Brasil — CNBB a respeito da opgao pelo dizimo, desde a década de 50 do século pasado. Elas propdem o dizimo como um dos elementos da “conversao pastoral”, pedida pela Conferéncia de Aparecida (2007) A conversdo missionaria que o Papa Francisco tem convidado a Igreja a assumir, sobretudo em sua Exortagao apostélica Evangelti Gandium, pede que se faa uma revisio nas formas de contribuicao dos figis. A 52° Assembleia Geral da CNBB, em 2014, retomon o tema do dizimo no contexto da reflexio sobre a renovacio da vida comunitéria das pardquias, que resultou no Documento “Comunidade de comunidades: uma nova pardquia”, no qual se reafirma a importancia de garantir 0 “sentido comunitario” do dizimo” Para dar continuidade a0 que foi solicitado pelos bispos, a Presidéncia da CNBB constituiu um Grupo de Trabalho. Tendo por objetivo motivar a realizagao de uma ampla reflexdio sobre o tema e promover a partilha da riqueza de experiéncias da Pastoral do Dizimo, implantada e organizada na maioria das Igrejas pasticulares*, 0 Grupo de Trabalho realizou trés atividades: 1) Organizou a edicao de um livro — “Dizimo: uma proposta biblica”, com a contribuigao de diversas pessoas que tém trabalhado essa questiio e escrito sobre esse tema, com a finalidade de incentivar a reflexdo sobre esse assunto; 2) Fez uma consulta ao episcopado do Brasil, durante a 53° Assembleia Geral, da qual resultou uma série de sugestdes para atuagio da Pastoral do Dizimo; 3) Realizou um seminrio, entre os dias 31 de outubro e 02 de novembro de 2015, no Santuario Nacional de Aparecida, para o qual todas as Igrejas particulares do Brasil foram convidadas a enviar representantes e do qual participaram também pessoas e associagdes que prestam assessoria e publicam estudos com subsidios sobre o dizimo. Esse evento proporcionou momentos de reflexao, de partilha de experiéncias e de apresentago de propostas, visando dar continuidade aos estudos sobre a forma mais adequada de atuagao da Pastoral do Dizimo. Consultando-se 0 texto “Pastoral do Dizimo™, publicado pela CNBB ha mais de 40 anos, verifica-se que ele tem prestado um grande servigo e continua substancialmente atual, As presentes orientagdes pretendem avangar ainda mais. A diversidade cultural do Brasil e as caracteristicas proprias do caminho pastoral percorrido pelas Igrejas particular desaconselham, porém, a elaboracao de um plano nacional de implantagao ou organizagio da Pastoral do Dizimo, conforme ja havia sido constatado pela 14* Assembleia Geral da CNBB (Itaici, 1974). Cabe a cada Igreja particular fazer, no Ambito de seu territ6rio, as escolhas concretas, As presentes orientagdes recolhem frutos da experiéncia acumulada ao longo dessas décadas e oferecem perspectivas para a continuidade e 0 aprofundamento da mesma. Para tanto, em sua redacdo foram assumidos os seguintes principios orientadores: a, Indicar elementos biblicos e teolégicos fundamentais para a compreensio do dizimo; b, Esclarecer conceitos e termos para favorecer a compreensio e superar eventuais equivocos; + CNBB. Comunidade de comunidades: uma nova pardquia (Doc. 100), 2014. Pessoal hid. a. 288. A expressiio “Igreja particular” designa: Diocese, Prelazia territorial, Ordinariato e Administragio Apostélica * CNBB. Pastoral do Dizimo (Fstudo da CNBB, n. 8), 1975, 4 ©. Oferecer orientagdes gerais a respeito da Pastoral do Dizimo, em vista das escolhas a serem feitas localmente, d, Empregar uma linguagem propositiva, respeitando a diversidade cultural ¢ identidade das Igrejas pacticulares 6. Estas orientagdes se estruturam em duas partes. A primeira trata da compreensio do significado do dizimo. Para isso, traz algumas conclusdes sobre seus fundamentos, seu conceito, suas dimensdes e suas finalidades. A segunda parte oferece orientagdes para a Pastoral do Dizimo, tratando de sua implantacao, de sua organizagao, dos agentes da Pastoral do Dizimo, do dizimo na pastoral de conjunto e da motivacao permanente dos dizimistas. Inclui também elementos para a reflexo sobre os aspectos juridicos que envolvem essa contribuicao dos fidis A Igreja. 1. A compreensio do dizimo 7. A pritica da contribuigao com o dizimo e a Pastoral do Dizimo precisam estar baseadas nos fundamentos biblicos e eclesiais do dizimo, do que ele é realmente e de quais sio suas dimensées e finalidades. Isso garante que 0 dizimo se mantenha no Ambito da f cristd e que a Pastoral do Dizimo se situe adequadamente na ago evangelizadora 8, O dizimo tem seu fundamento nas Sagradas Escrituras — Antigo e Novo Testamentos — e assume formas diversificadas ao longo da histéria. Mas é preciso atencao, pois se encontram algumas formas de interpretar 0 ensino da Biblia sobre o dizimo que distorcem seu significado ou que o reduzem a algum de seus aspectos. Antes de tudo, 6 preciso ter em conta que a Revelacdo divina é progressiva e orientada para Crist 11 Os fundamentos do dizimo A decisao de contribuir com 0 dizimo nasce de um coracao agradecido por ter encontrado 0 Deus da vida e experimentado a beleza de sua presenca amorosa no dia a dia 9. © fundamento do dizimo encontra-se na Sagrada Escritura. Sua fundamentacao primeira ¢ a compreensao de que Deus ¢ 0 Senor de tudo, o proprietirio da terra de onde provém o alimento e a fonte de toda béneao (Lv 25.23: SI 24,1). Ao se entregar 0 dizimo a Deus, segundo a concepsao biblica, reconhece-se que tudo vem dele (1Cr 29.11.14) e, por reconhecimento e gratidao, 0 melhor devemos dar a Ele (1Sm 2,29; M1 1.6-14). Quando o dizimo nao é entregue, conforme as palavras do profeta Malaquias, o fiel “engana a Deus” (MI 3.8). 10. No ciclo dos patriarcas, a primeira referéncia ao dizimo aparece em Gn 14,17-20, quando Abrio retorna do combate contra Codorlaomor e os reis que com ele lutavam. Apis receber a béngao de Melquisedec, sacerdote e rei de Salém, Abrio decide dar-lhe © dizimo de todos os despojos oriundos de sua vitéria, O texto nos indica que 0 ato parte totalmente do reconhecimento de Abrio a Deus por ter-lhe proporcionado vencer seus inimigos (Gn 14,20), Desse episddio se recordara, no Novo Testamento, a epistola aos Hebreus, ao falar sobre 0 sacerdécio de Cristo (Hb 7,1-9). Uma segunda mencio ocorre em Gn 28,18-22, quando Jacé se dispde a oferecer o dizimo como resultado de sua experiéncia com Deus em Betel. Em ambos os casos, 0 dizimo + Concilio Ecuéaico Vaticano I, Constitulgto Dogmética “Dei Verbum™, n.3-4 AL 12, 14, 5 oferecido pelos patriarcas como reconhecimento e gratidao pela didiva de Deus que abencoa e acompanha aquele que a Ele se confia. Em textos relacionados a Moisés ¢ a seu fundante papel no caminho do povo de Deus, © dizimo passa a ser entregue nfo somente como reconhecimento, conforme se viu nos patriarcas, mas por tomar-se um preceito: “todo dizimo do pais tirado das sementes da terra e dos fiutos das drvores pertence ao Senhor como coisa consagrada” (Lv 27,30). Desse preceito decomem alguns elementos significativos. Em primeiro lugar, o dizimo passa a servir de ajuda no sustento dos levitas pelos servigos litirgicos prestados e por nao terem parte ou outra heranca entre os filhos de Israel (Nm 18,21-32; Dt 12.12: 14.27). No entanto, também os levitas davam o dizimo do que recebiam ao sacerdote, o assim chamado “dizimo dos dizimos” (Nm 18.26). Em segundo, o dizimo passa a servir de auxilio aos necessitados: o estrangeiro, o drfio e a vitiva, para que nao ficassem desamparados na terra de Israel (Dt 14,28-29; 26,12-13). Em terceiro, o dizimo passa a servir de meio pedagégico, como caminho para se aprender e exercitar 0 temor do Senhor (Dr 14,22-23), Para esses fins, o dizimo era entregue anualmente ow trienalmente. Anualmente era levado ao lugar do culto (Dt 12,5.11; 14,22-23) e trienalmente, ao invés de ser levado ao lugar do culto, era entregue aos levitas nas diversas cidades, para 0 sustento dos mais pobres e necessitados (Dt 14,28-29; 26.12-15).. No periodo da reforma de Ezequias, apés 0 retorno do exilio, enquanto se reorganizava o culto de Israel, 0 povo torou-se tio fiel em cumprir 0 preceito do dizimo que o rei se admirou da abundancia de tudo o que havia sido trazido (2Cr 31, 5-7). Diante do espanto do rei, Azarias, chef dos sacerdotes e da familia de Sadoc, informa que a enorme quantidade de primicias que o rei avistava jé era o que sobrava das doagdes (2Cr 31,10), tio grande era a contribuicao do povo abencoado pelo Senhor. Ainda em contexto de pés-exilio, nota-se a fidelidade do povo na entrega do dizimo e a preocupacdo em organizar o recolhimento do dizimo por parte dos levitas (Ne 10, 36-39; 12,44), mas também o desleixo com relagio a Casa de Deus que é censurado por Neemias (Ne 13,10-11). Diante de sua repreensio, todos em Juda passaram a levar aos depésitos os dizimos dos cereais, do vinho e do azeite (Ne 13,12). Nos profetas, 0 dizimo passa a ser visto sob outro prisma. Amés condena o culto sem © arrependimento. ea conversio, @ a oferta de sacrificios @ dizimos descompromissados. Opde-se as peregrinagSes ao santuario por estarem desprovidas de um comprometimento integral com a vida ¢ com a justica (Am 4,4-5). O profeta Malaquias, por sua vez, recorda 20 povo o tema da fidelidade & Alianca com Deus € 0 convoca & conversaio. O povo comeca a desonrar o Senhor (MI 1,6; 2,2) em seus pensamentos (MI 1,7; 2,17), nos sacrificios ¢ oferendas (MI 1,7.8); nas palavras (MI 1,2.13; 2,17; 3,3-15) e, em consequéncia, oferecem ao altar do Senhor animais impuros (MI 1,7). cegos, coxos, enfermos (MI 1.8.13) se tornam infigis aos dizimos e as ofertas (MI 3,8-10). Em sintese, os profetas releem o preceito do dizimo sob um. prisma mais profundo: o da fidelidade 4 Alianca. Por isso mesmo, o dizimo nao pode ser esquecido, mas sobretudo nao pode cair no formalismo cultual sem a interioridade de que necesita estar revestido. As mengdes ao dizmo que se encontram nos evangelhos se referem A pritica da religido judaica no tempo de Jesus. A semelhanga dos profetas, Jesus opde-se ao comportamento dos fariseus @ escribas por se preocuparem em dar © dizimo da hortela, do endro e do cominho mas, por outro lado, negligenciarem a justiga, a misericérdia e a £ (Mt 23,23; Le 11,42). Em outra ocasidio, o fariseu da paribola sente-se superior a0 publicano por cumprir os preceitos da lei, dentre os quais os referentes 20 dizimo, mas nao compreendeu 0 verdadeiro valor dos preceitos que 15, 16. 17. 18, 19, 6 observava e, a0 se exaltar diante de Deus, no retornou para casa justificado (Le 18,9- 14), A partilha dos bens, praticada pelos discipulos de Jesus, mesmo niio sendo formalmente chamada de dizimo, oferece um referencial muito importante para a sua compreensio, Os evangelhos narram a experigncia de pessoas que tiveram a graca de encontrar Jesus e decidiram entregar parte de seus bens para o Senhor. Destacam-se as discipulas que o “ajudavam com seus bens” (Le 8,1-3). Entre os discipulos de Jesus havia uma “bolsa comum’” (Jo 13,29). ‘Nas primeiras comunidades, o que cada um possuia era posto a servico dos outros; desse modo, os bens pessoais se tornavam comunitarios por livre decisto: “a partilha nao era imposta pelos apdstolos, mas expressao natural do amor a Cristo e aos irmaos”* & se encontra entre os elementos que caracterizam a f8 apostélica: Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos Apostolos, na comunhao fratema, na fracdo do pao e nas oracdes. Apossava-se de todos 0 temor, e pelos Apéstolos realizavan-se numerosos prodigios & sinais. Todos os que abracavam a fé viviam unidos e possuiam tudo em comum: vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todas, conforme a necessidade de cada um. Perseverantes e bem unidos, frequentavam diariamente o Templo, partiam o pio pelas casas © tomavam a sefeicio com alegria e simplicidade de coragho. Louvavam a Deus e eram estimades por todo 0 povo e, cada dia, 0 Senhor acrescentava ao seu mimero mais pessoas que eram salvas (At 244-47), A coleta que foi feita para ajudar os que, ua Judeia, softiam durante a “grande fome”, & 0 modelo de uma prética que se tomou recorrente entre as conmunidades eristas (At 11,29; Rm 15,26-27; 1Cor 16,14; 2Cor 8-9; Gl 2,10). Essas coletas, praticadas pelas primeiras comunidades, sao uma das formas que a partilha de bens assumiu e inspiram a dimensio caritativa do dizimo, Nos escritos paulinos encontra-se um ensinamento que pode, pelo seu teor, iluminar a compreensto da pritica do dizimo. O apéstolo ensina que cada fiel deve dar “como dispos em seu coragio” pois “Deus ama a quem da com alegria” (2Cor 9.7). A. partir desse principio, o cristo é chamado a contribuir pela consciéncia que tem de ser servo de Cristo (1Cor 7,22) e por saber que ele nao pertence a si mesmo (1Cor 6,19) Este percurso biblico leva a perceber que a consciéncia do dizimo parte do reconhecimento a Deus e da gratidao a Ele. Quando, na historia do povo de Israel, 0 dizimo passa a ser um preceito, ele assim se toma, baseado no principio da fidelidade & Alianga que o Senor fez com seu povo e & qual o povo é constantemente exortado a corresponder. No entanto, o desafio que perpassa a pregacio profética e continua na admoestacio de Jesus aos fariseus e escribas é de que a entrega do dizimo nio pode estar isenta de seu mais precioso significado que é interior: “conforme cada um dispés em set coragio” (2Cor 9.7). Esse significado se baseia em um principio mais profundo ainda: a alegria de sentir-se amado por Deus e por, na entrega do dizimo, agradecé-lo, reconhecendo que eterno & seu amor por seu povo (Jr 31,3). Esse principio interior baseado no amor de Deus, universal e incondicional, relaciona o dizimo com a misericérdia e a justiga A luz desse rico ensinamento, é preciso avaliar uma forma atualmente muito difundida de propor o dizimo baseada na assim chamada “teologia da prosperidade”. Essa interpretagao indica como fundamento alguns textos do Antigo Testamento que © CNBB. Comunidade de comunidades: uma nova paroquia (Doe. 100), ». $4 21. 7 relacionam a obedigncia a Deus e o dizimo com a multiplicagtio dos bens materiais e com a prosperidade pessoal. Essa interpretagdo isola os textos biblicos de seu contexto e do conjunto da Sagrada Escritura, Em consequéncia, quando 0 dizimo ¢ proposto com essa fimdamentagio, se falsifica o rosto paterno ¢ amoroso de Deus revelado por Jesus Cristo, se distorce a relagio com Ele, e se priva do dizimo seu auténtico significado, Ao apresentar os cinco preceitos “mais gerais” da Igreja, 0 Catecismo da Iareja Catélica afirma que eles se inserem na “linha duma vida moral ligada a vida litirgica” que se nutrem dela’. O quinto desses preceitos é: “ajudar a Igreja em suas necessidades”, com o esclarecimento que cada fiel o faca “conforme suas préprias possibilidades”®. Com isso, recolhe em sintese a riqueza do ensinamento biblico e sugere perspectivas para a Pastoral do Dizimo. 1.2 0 que é0 dizimo? O dizimo & uma contribuicao sistemética e periddica dos fiéis, por meio da qual cada commidade assume conjuntamente a propria sustentacao e a da Igreja. A cometa compreensito do dizimo evita também que ele seja proposto ¢ assumido apenas como forma de captacio dos recursos necessatios para as outras pastorais, para a sustentagdo de pessoas e para a manutencdo das estruturas paroquiais e diocesanas Essa compreensio nao esgota a riqueza de significado do dizimo, nto podendo, portanto, ser apresentada como tinica motivacdo sem grave risco de reducionismo. Os bispos do Brasil, fundamentados na rica tradigao biblica e eclesial, definem o dizimo como contribuicdo sistemética e periédica dos fiéis, por meio da qual cada comunidade assume corresponsavelmente sua sustentacdo e a da Igreja? Como sistema de contribuig’o, o dizimo tem as seguintes caracteristicas:° a. E sistemitico e periddico; b. Eum compromisso moral dos figis com sua comunidade e com a Igreja: c. E fixado de acordo com a consciéncia retamente formada; 4. Seus fundamentos estio relacionados & experigncia de Deus e com o amor fatemo. A contribuigdo representada pelo dizimo ¢ sistemdtica, Isso significa que ela & estivel @ assume a caracteristica de um compromisso permanente dos figis — ministros ordenados e leigos, que exprime a pertenca efetiva a Igreja vivida em uma comunidade concreta. E também periédica, pois a contribuicdo é feita na ocasiao em que se recebe o salario ou outros tipos de ganho, podendo ser mensal ou estar ligada a colheitas ou a venda de produtos. Como compromisso moral, o dizimo se diferencia do cumprimento de uma lei, por provir de uma decisdo pessoal. A contribuigdo que os cristios fazem por meio dele & ‘uma manifestagao auténtica e espontinea de sua f8 em Deus e de sua comunhao e participaco na vida da Igreja e em sua missao. 7 Catecismo da Igreja Catélica, 2, 2041 ® Catecismo da Igreja Catéliea, a. 2043. ° CNBB. Diretrizes gerais da ago pastoral da Igreja uo Brasil, 1975-1978. ID., Comunicado Mensal, n. 269 (1975), p. 89. 2° CNBB. Pastoral do dizimo (Fstudo 08), p. 51 29, 30. 31. 8 Assim como a decisto de contribuir com o dizimo, também a escolha da quantia destinada pata isso € decisto de consciéncia, sensivel as necessidades da Tgereja e do préximo. O ‘Apéstolo Paulo ensina: “Cada um dé conforme tiver decidido em seu coragao, sem pesar, nem constrangimento, Deus ama a quem da com alegria” (2Cor 9.7). O termo “dizimo” significa a décima parte (ou 10%). Essa quantia foi o contetido do voto dos Patriarcas Abrio e Jacé e assim assumida na legislacdo do Antigo Testamento. A Igreja, porém, nao estabelece como lei nenbum percentual predefinido. Santo Toms de Aquino auxilia a compreender isso fazendo uma importante distingZo: em sua substincia, o dizimo ¢ a contribuigao dos figis que, agradecidos, entregam parte de seus bens; em sua forma, é um modo de contribuir, que deve respeitar o tempo e os costumes de cada lugar! Os fundamentos do dizimo mostram como ele esta relacionado com a experiéncia de Deus “que nao poupou seu proprio Filho, mas o entregou por tados nés” (Rm 8.32), Filho que, por amor, sendo rico se fez pobre para nos enriquecer (2Cor 9,9). Esta também relacionado com 0 amor fraterno, pois manifesta a amizade que circula entre 0s membros da comunidade"®. Ele traz 4 vida crista os elementos de uma caridade ativa na pratica mensal dessa experigneia. Alguém se toma dizimista porque tem fé em Deus e confia nas suas promessas (Rm 4,18-25 e 2Cor 1,19-20). Enfim, com essas caracteristicas, a contribuigde com o dizimo — sistematica, como compromiisso moral determinado com liberdade de consciéncia, expresso da experiéacia espiritual — situa os dizimistas na comunhio de bens, caracteristica da comunidade que surgiu da Pascoa’®, 1.3 As dimensoes do dizimo Sao estas as dimensoes do dizimo: religiosa, eclesial, missiondria e caritativa, Ele tem por finalidade, portanto, colaborar para a realizaciio do culto divino e da evangelizagdo, prover 0 sustento do clero e de outros ministros, participar da manutencao das obras de caridade e da concretizaciio da missao da Iereja. Como foi visto, o dizimo esta profundamente relacionado a vivéncia da fé e a pertenca a uma comunidade eclesial. Quando a 1 bem compreendida ela leva o fiel a tomar parte nos varios aspectos da vida da comunidade, pois cada um experimenta a profunda comunhao que se exprime na imagem do corpo: “Vés todos sois 0 corpo de Cristo e, individualmente, sois membros desse corpo” (Cor 12,27); “Ele & a cabeca do compo, que é 2 Tgreja” (CI 1,18). A primeiza dimensio do dizimo é, portanto, a religiosa: tema ver coma relagao do cristo com Deus. Contribuindo com parte de seus bens, o fiel cultiva e aprofunda a sua relagio com Aquele de quem provém tudo o que ele é e tudo o que ele tem, expressando, na gratidao, sua f8 e sua conversio, Essa dimensio, tratando da relagio com Deus, insere 0 dizimo no ambito da espititualidade crista. A partir da relagdo com Deus, ganha novo significado também a relacio com os bens materiais e com seu correto uso, a luz da £8 (Le 12,15-21; 1Tm 6,17-19). A consciéncia do valor desses bens e, ao mesmo tempo, de sua transitoriedade, leva os figis, a0 contribuirem com o dizimo, a experigncia de usar os bens * SANTO TOMAS DE AQUINO. Suma Teolégiea, IPI, q. 87 art. 1 © CNBB. Comunidade de comunidades: uma nova pardquia (Doe. 100), 0. 86 ® CNBB. Comunidade de comunidades: uma nova paréquia (Doc. 100). 0. 86 34. 9 materiais com liberdade e sem apego, convidados que sao pelo Senhor a buscar primeiro 0 Reino de Deus e a sua justiga (Mt 6,33). Decorrente da dimensdo anterior, o dizimo apresenta também wma dimensio eclesial. Contribuindo com o dizimo, o fiel vivencia sua consciéncia de ser membro da Igreja, € de que é corresponsivel, para que a comunidade disponha do necessirio para a realizago do culto divino e para o desenvolvimento de sua missdo. A consciéncia de ser Igreja leva os figis a assumirem a vida comuniticia, participando ativamente de suas atividades e colaborando para que a comunidade viva cada vez mais plenamente a #8 e mais fielmente a testemunhe. Contribuindo com o dizimo, cada fiel toma parte no empenho de todos e se abre para as necessidades de toda a Igreja. O dizimo também oferece condicdes as paréquias e comunidades de contribuirem de modo sistematico com a Igreja particular, mantendo vivo o sentido de pertenca a ela. O dizimo tem uma dimensio missiondria. O fiel, corresponsavel por sua comunidade, toma consciéneia de que hi muitas comunidades que no conseguem prover suas necessidades com os préprios recursos e que precisam da colaboragaio de outras. O dizimo permite a partilha de recursos entre as pardquias de uma mesma Igreja particular e entre as Igrejas particulares, manifestando a comunhao que ha entre elas. De fato, em cada Igreja particular, na comunhiio com as demais, esta presente e atua a una e tinica Igreja de Cristo", O dizimo contribui para o aprofundamento da partilla e da comunhio de recursos em projetos como o das paréquias-irmiis e 0 do fundo eclesial de comunhio e partilha, no ambito da Igreja particular'’; e nos projetos “Iarejas-irmiis” e “Comunhao e Partilha”, em ambito nacional'®, O dizimo tem ainda uma dimensao caritativa, que se manifesta no cuidado com os pobres, por parte da comunidade. Uma das caracteristicas das primeiras comunidades cristas era de que “nao havia necessitados entre eles”, pois tudo “era distribuido conforme a necessidade de cada um (At 4,34 e 35). Ao reconhecerem a autenticidade do ministério de Sao Paulo, os Apéstolos pediram que nfo se esquecesse dos pobres (G12,10). Ainda nesta dimensto, é preciso recordar que “a op¢%o preferencial pelos pobres est implicada na 8 cristolégica””” e que a caridade pata com os pobres “ uma dimensao coustitutiva da missio da Igreja e expresso irrenunciavel da sua propria esséncia”"*, “A Igreja & chamada 4 pritica da diakonia da caridade também em nivel comunitério, desde as pequenas comunidades locais, passando pelas Igrejas particulares até a Tgreja universal; por isso, ha necessidade de [...] uma organizacio articulada, mesmo através de expressées institucionais””’. Por isso, os cristios, animados por seus Pastores “sao chamados, em todo lugar e circunsténcia, a ouvir o clamor dos pobres™®. Quando a comunidade contribui sistematicamente para os projetos de promocao humana ou de socorro a necessidades especificas, contribui também para a humanizacio das estruturas sociais e para seu progresso. O dizimo fornece condicdes para essa “organizacao articulada” 1G, n. 2326: CD.n. IL » CNBB. Diretrizes Gerais da Agio Evangelizadora da Igreja no Brasil (Doc. 102), n. 108. "fbi, n. 82. # BENTO XVI. Discurso inaugural da Conferéncia de Aparecida, n. 3 (13 de maio de 2007). © BENTO XVI. enciclica Deus Caritas est, 25; FRANCISCO, exortacio apostélica Evangelii Gaudium, 0 48 8 BENTO XVI, motu proprio Intima Ecclesiae natura, promio. * FRANCISCO, exortacio apostéliea Evangelti Gaudiuam, n. 191 36. 37. 40, AL. 10 1.4 As finalidades do dizimo Organizar 0 culto divino, prover 0 sustento do clero e dos demais ministros, praticar obras de apostolado e de caridade, principalmente em favor dos pobres As finalidades do dizimo decorrem de sua natureza e de suas dimensbes; sio configuradas pela vida da Igreja e determinadas pela legislacio canénica. Essas finalidades precisam ser levadas em conta na motivagio para que os figis assumam 0 dizimo, e devem ser respeitadas na administragdo dos recursos que ele prove. © Direito Candnico estabelece que a aquisigao, a posse ¢ a administragao dos bens temporais” — e, portanto, o direito de receber o dizimo dos fiéis — se relacionam com 605 fins proprios da Igreja: “organizar o culto divino, cuidar do conveniente sustento do clero e dos demais ministros, praticar obras de sagrado apostolado e de caridade, principalmente em favor dos pobres””, Ao tratar dos direitos e deveres dos fiéis, 0 mesmo Direito Candnico recorda que estes devem contribuir para que a Igreja possa cumprir suas finalidades e promover a justiga social, e que eles precisam, “lembrados dos preceitos do Senhor, socomer os pobres com as proprias rendas”. A dimensio missionaria do dizimo se relaciona com a finalidade das obras de apostolado, concretizando a solidariedade © a partilha entre as comunidades de uma paroquia, entre as pardquias de uma mesma Igreja particular e entre as Igrejas particulares. jentagdes para a Pastoral do Dizimo Em seis segdes, estas orientagdes procuram abranger 0s varios aspectos da Pastoral do Dizimo. Tratam com especial atengio a relacdo entre o dizimo e a experiéncia de fe entre a Pastoral do Dizimo e a pastoral de conjunto A Pastoral do Dizimo é a acao eclesial que tem por finalidade motivar, planejar, organizar ¢ executar iniciativas para a implantagio e o funcionamento do dizimo e acompanhar os membros da comunidade no que diz respeito a sua colaboracio, 2.1 Implantagao do Dizimo O proceso da implantagao do dizimo aprofunda a consciéncia da pertenga a wna Igreja particular. A implantagio do dizimo oferece aos figis a singular oportunidade de compreendé-lo bem e de assumi-lo com as motivagdes corretas. As experiéncias destacam a necessidade de que, desde o inicio, se conheca com clareza o que ele é e quais sio seus fundamentos suas finalidades, pois esse conhecimento autéatico € o principal fundamento da motivacao correta para que dele se participe. Adverte-se que é preciso cuidar quanto ao modo de se apresentar o dizimo a comunidade, evitando-se exageros e confusdes, tendo-se especial cuidado com os catélicos ditos nio praticantes Para uma bem sucedida implantacdo do dizimo, é util que ela seja precedida por um adequado periodo de conscientizacao, sensibilizacio e formagao de agentes de Codigo de Direito Candnico. Cin. 1254 § 1 ‘Codigo de. 2 CNBR. Comunidade de comunidades: sto Canénico. Canon 1254 § 2 ma nova pardquia (Doe. 100), n. 288. 45, 46. 47. 48, it pastoral do dizimo, Pode-se, por exemplo, organizar esse periodo na forma de uma campanha para que sejam trabalhados os varios aspectos abrangidos. Uma campanha inclui um lema, pegas de divulgacio (hino, cartazes, folders, livretos para reunides, etc.), prazos (datas de inicio e couclusio) e planejamento de atividades, envolvendo todos os corresponsiveis (ministros ordenados, membros dos Conselhos de Pastoral e de Assuntos Econémicos, agentes de pastoral, membros das comunidades e capelas). Nesse periodo € preciso haver amplo didlogo entre os diversos niveis e organismos da Igreja particular, tendo em vista aprofundar as convicgdes dos ministros ordenados e de todas agentes de pastoral ¢ demais responsaveis ¢ colaboradores nas diversas pastorais, movimentos e organismos eclesiais, a respeito do dizimo. As decisdes concretas a respeito da implantacao do dizimo e a escolha das modalidades de sua organizaco pastoral e de seu funcionamento precisam resultar de um amplo processo participativo. A realizagao de Assembleias Pastorais (diocesanas e paroquiais) para estudar e escolher os elementos concretos da organizagao da Pastoral do Dizimo tem sido 0 meio considerado mais eficaz para promover 0 didlogo, a participagao e a corresponsabilidade necessirios A importaneia do antigo prineipio segundo © qual “o que diz respeito a todos deve ser por todos tratado” foi reafirmada pelo Papa Francisco”. Ele recordou que a sinodalidade ¢ uma “dimensio coustitutiva da Igreja”, que o caminhar sinodal da Igreja “comesa por escutar 0 povo”. O proceso pastoral necessizio & implantago do dizimo precisa estar atento a isso, Na vivéncia da sinodalidade no ambito da Igreja particular, as paréquias tém um papel muito significativo, No que se refere ao dizimo, observa-se que & determinante a conscientizacio da conmnidade paroquial, das pastorais e dos movimentos eclesiais. Quando uma Igreja particular opta pelo dizimo, é preciso que ele nao apareca apenas como uma das formas de captagdo de recursos, mas como a forma habitual de colaboracdo. Por isso, durante esse periodo, é necessdrio fazer uma reflexao sobre taxas, festas, campanhas, promogdes e coletas especiais. O dialogo a respeito das taxas relacionadas com a celebracao de sacramentos costuma ser um dos pontos delicados desse processo, pelo receio de que, com sua aboligao, a receita das paréquias venha a softer diminuigio. ‘As festas no precisam ser abolidas, mas devem estar inseridas no conjunto da agio evangelizadora e claramente relacionadas com a dimensio de convivéncia fraterna de comemoracio. Podem também ser promovidas tendo em vista a arrecadacio de recursos para cobrirem despesas extraordinérias, ou com finalidades especificas, de contribuicao missionaria ou de solidariedade Campanhas com finalidades especificas, quando realmente necessarias, precisam ser motivadas de modo a nao afetar a consciéncia da contribuigao com o dizimo e a nio pesar sobre as familias mais pobres. As coletas especiais se distinguem do dizimo por sua aatureza e por sua finalidade, uma vez que normalmente sio feitas durante as celebragdes litargicas e tm motivagao especifica. Considerando que tais coletas sio estabelecidas pela Sé Apostdlica ou pela CNBB, preciso cuidar para que as coletas diocesanas nfo sejam em niimero excessive, para que nio venham a prejudicar 0 dizimo. Destacam-se como elementos findamentais para uma bem sucedida implantacao do dizimo: 2 FRANCISCO. Discurso na comemoragio do cinquentensirio do Sinodo dos Bispos (17/10/2015). 49, Si. 12 conhecimento, por parte dos membros da Igreja particular, do significado, das dimensées e dos objetivos do dizimo; b. A adogio de um processo paiticipative no planejamento da implantagdo e da organizacao da Pastoral do Dizinx A adesio convicta e responsivel dos ministros ordenados e dos demais agentes de pastoral; A imprescindivel adestio de todas as pardquias da Igreja particular; A escolha criteriosa do material a ser usado; £ A cuidadosa distingao entre o dizimo e outras formas de contribuigao dos figis. 2.24 organizagao ¢ 0 funcionamento da Pastoral do Dizimo © funcionamento da Pastoral do Dizimo tem como referéncia fundamental a paréquia com as comunidades que a compoem. A Pastoral do Dizimo necesita de equipes pastorais que assumam a responsabilidade da coordenagao dos varios aspectos de seu funcionamento e de sua relagio com a pastoral de conjunto. E importante, por isso, que cada paréquia de uma Igreja particular que fez a opgao pelo dizimo tenha uma equipe de coordenagao dessa pastoral. Nessa equipe é preciso haver pessoas suficientes e preparadas para que os varios aspectos do dizimo sejam devidamente motivados e funcionem adequadamente Nela, o bispo e o paroco tém papel muito importante, seja como pastores, seja também como gestores, Para que o trabalho nas pardquias seja integrado, é recomendavel a existéncia de uma equipe de coordenacao em nivel diocesano. Essa equipe se responsabiliza, por exemplo, pela coordenacaio de campanhas de conscientizacao, pela realizagao de encontros de formagao e de estudo, pela promocio da troca de experiéncias e pela producao ou escolha e distribuigao de material para a motivacao permanente dos figis. Quando possivel, & importante que também nos Regionais da CNBB haja uma pequena equipe que promova periodicamente encontros de troca de experiéncia entre as equipes diocesanas e, onde for o caso, se encarregue da preparagao e distribuigao de material de divulgacao sobre o tema. Nesse caso, é importante que essa equipe esteja bem integrada no Regional. 0 dizimo € paroquial, portanto, sua contribuigio ¢ feita na paréquia, na comunidade ou setor da pardquia em que o fiel participa — conforme as determinacdes da Igreja particular. E, com isso, o dizimo se distingue de doacdes feitas a outros tipos de comunidade, associagées, meios de comunicacéio, ou a outras, As modalidades concretas de funcionamento da Pastoral do Dizimo sio diversas, principalmente quanto ao lugar ¢ ao momento da entrega da contribuicao por parte dos figis, € também quanto ao registro das contribuigées. Considera-se importante unificar entre as paréquias de uma mesma Igreja particular o sistema de recebimento e de gerenciamento do dizimo. Os momentos mais communs de entrega do dizimo sio durante o expediente da secretaria paroquial e por ocasido do acolhimento aos dizimistas (em alguns lugares chamados de Plantao do dizimo) ou nas celebragdes. Os camés e os envelopes com identificagao sio as formas mais utilizadas para documentar as contribuigdes. O sistema de débito automitico mensal em conta é questionado, especialmente pelo isco de enfraquecer_ a consciéncia da corresponsabilidade eclesial. 56. 56. 37. 38. 13 Chama-se a atengio para dois aspectos que precisam de especial cnidado, Nas comunidades em que se opta por entregar 0 dizimo durante a celebragao da Santa Missa ou da Palavra de Deus, ¢ necessario evitar confundir o dizimo com as ofertas. No que se refere ao registro do dizimo recebido, ¢ necessirio estar atento aos aspectos legais. No final destas orientagdes, so apresentados alguns elementos de reflextio sobre esse aspecto. Mais complexo ¢ 0 caso em que se opta por recofher 0 dizimo nas casas. Precisam ser considerados os riscos a que essa modalidade esta sujeita, inclusive assaltos, bem como eventuais consequéncias legais, tornando essa pritica desaconselhavel. A divulgacéo periédica dos resultados e da sua aplicagio é necessaria nfo apenas para motivar os dizimistas & perseveranga, mas principalmente para aprofundar a experiéncia comunitaria e a corresponsabilidade missionaria. E preciso atengao, porém, para eventuais riscos que possam advir, por causa de algumas formas de divulgagao dos resultados financeiros nas paréquias. Em geral, pode-se apresentar aos figis 0 relatério da aplicagio dos recursos do dizimo seguindo as finalidades deste, indicando em que os recursos foram aplicados (por exemplo: divulgando o percentual aplicado em cada uma das finalidades), Aos agentes de pastoral e aos membros dos Conselhos Paroquias € necessério oferecer uma divulgacio mais pormenorizada a respeito. A divulgagao dos resultados da contribuigio das paréquias, por parte da Igreja particular, além de promover a unidade na Igreja particular, gera um ambiente de confianca A linguagem utilizada sobre o dizimo precisa estar em sintonia com seu significado e suas corretas motivacdes. Nota-se que nas diversas regides do Brasil emprega-se uma linguagem bastante diversificada. Fala-se em contribuir, colaborar, pagar, ofertar, doar, devolver, consagrar. entregar, recolher, arrecadar ete. E necessirio haver consciéncia dos significados associados ds palavras wilizadas para expressar a colaboragao com o dizimo. “Pagar” pode ser entendido como liquidagao de uma divida, “Ofertar” pode levar as pessoas @ confundirem 0 dizimo com a coleta que se faz durante a celebracio litirgica. “Doar” se utiliza mais para uma contribuiigo espontinea ou solicitada para uma finalidade especifica (doagao). “Devolver” se relaciona facilmente com a devolugio de um valor tomado por empréstimo. “Consagrar” faz parte do vocabuléio litirgico relativamente aos dous eucaristicos, a0 altar, a votos religiosos, etc. “Entregar” descreve o ato exterior de transmissio do valor ou do bem do fiel para a communidade. “Recolher” descreve o ato de quem, em nome da comunidade, recolhe o dizimo, a oferta ou a doagio. “Arrecadar” est muito associado com o resultado (valor arrecadado). “Contribnir”, por sua vez (a opgio mais adequada), inclui o significado de concorrer para a realizacio de um fim, tomar parte em algo comum assumindo solidariamente a responsabilidade. Contribuindo com o dizimo, os figis dao de si mesmos e de seu trabalho, por meio de parte de seus rendimentos ou bens, postos a disposicéo do objetivo contum que é a evangelizacio, A relacao entre a Pastoral do Dizimo e 0 Consetho Econémico precisa receber atencio especial. O Conselho Econdmico tem atribuigdes candnicas, estabelecidas pelo Cédigo de Direito Candnico® e pelo Regimento proprio de cada Igreja particular. E indispensavel que ele seja constituido e que funcione efetivamente em todas as pessoas juridicas que © Direito determina. Distinguindo-se das atribuigdes dos Conselhos. a Pastoral do Dizimo tem a missio de promover a implementagio © 0 crescimento da conscigneia sobre 0 dizimo e acompanhar pastoralmente os dizimistas 2Cédigo de Direito Candnieo, cin. 537 59. 60. 61 14 Ambos (Conselo Econémico e Pastoral do Dizimo), porém, precisam trabalhar de modo integrado, cada qual com suas competéncias especificas. E recomendavel, porém, que aja integracio entre Conselho Econémico ¢ Pastoral do Dizimo. Tal integragio pode ser promovida pela participagao de algum membro da Pastoral do Dizimo nas reunides do Conselho Econémico. Como elementos fundamentais para uma bem sucedida organizaco e funcionamento da Pastoral do Dizimo, destacam-se: a. A organizagao de equipes de Pastoral do Dizimo; b. A participacdo ativa eo envolvimento pessoal do bispo e dos parocos; c. A unificagio do sistema de recebimento e de gerenciamento do dizimo na Tgreja particular; A divulgagao dos resultados; e. A atengio aos aspectos legais envolvidos no recebimento do dizimo e em seu correto registro; £0 cuidado com a linguagem utilizada para se fazer referéncia ao dizimo, pois os termos empregadas influem na compreensio e nas motivagdes; g. A convivéncia harménica entre a Pastoral do Dizimo, 0 Conselho Econdmico e o Conselho Paroquial de Pastoral, respeitando-se as atribuicdes e a representatividade de cada um. 2.3 Os agentes da pastoral do dizimo A formagao e a organizacao da atuacéo dos agentes da Pastoral do Dizimo sao decisivas para que essa pastoral seja bem sucedida. Uma vez que se espera que todos os agentes de pastoral contribuam com o dizimo, o testenunio de dizimista talvez seja a colaboracdo mais importante que a comunidade eclesial pode receber deles. E importante que os agentes de Pastoral do Dizimo sejam bem formados, estejam bem entrosados ¢ atuem em equipe. A experiéneia recomenda que as equipes estejam organizadas nas pardquias, nas Igrejas particulares e, sendo possivel, nos Regionais. Em seus respectivos mbitos de atuacdo, os agentes precisam estar inseridos na pastoral de conjunto e participar ou estar representados nos Conselhos ~ Econémico & Pastoral —e nas Assembleias. A formacao permanente dessas equipes & vista como indispensavel. Recomenda-se que se invista com ousadia nessa area. E preciso que essa formacio seja integral, contemplando os aspectos espiritual (biblico-teolégico), humano (incluindo elementos de relagdes humanas e de comunicacao) e técnico-organizativo. A formacao na area das relacdes humanas ¢ de comunicacio € indispensavel para que os agentes estejam preparados para 0 cometo contato com as pessoas e para oferecer aos figis as explicacdes e os esclarecimentos que sejam necessirios. E preciso que haja material de boa qualidade disponivel para os agentes de pastoral. Sugere-se, em vista disso, que sejam produzidos em nivel nacional ou regional videos, livros, folders e cartazes ou outros materiais de formagao e de divulgagio ou que cada Igreja particular realize uma cuidadosa escolha entre os recursos jé disponiveis, 64. 65, 66. 67. 68. 69. 70. 15 Sugere-se que se realize periodicamente encontros da Pastoral do Dizimo em nivel nacional ou regional para favorecer a troca de experigncias e 0 aprofundamento de questdes especificas, de interesse de seus agentes. Destacam-se como elementos fundamentais, em relagiio aos agentes da Pastoral do Dizimo a. Investir na formagao de agentes de pastoral; b. A formagio precisa ser progressiva e integral; Dar o testemunho de dizimistas, 0 que tem grande impacto no processo de conscientizacao sobre o dizimo e sobre a motivagao permanente da comunidade; d. Inserir os agentes na pastoral de conjunto e ter seus representantes nos Conselhos Pastorais e Administrativos e nas Assembleias Pastorais; e. Dispor de meios adequados para facilitar a execucao de sua missfio e de seu trabalho, 24 0 dizimo na pastoral de conjunto O dizimo contribui para concretizar a comunbao eclesial e a organicidade de sua acto evangelizadora. A solidariedade que o dizimo promove entre as comunidades de uma pardquia, entre as pardquias de uma Igreja particular e entre as Tgrejas particulares & vivénicia concreta da catolicidade da Tgreja e de sua missionaredade. A consolidagio do dizimo como meio ordinario de manutengio eclesial reforca 0 sentido de pertenca a uma Igreja particular concreta e aprofinda a compreensao da pastoral de conjunto, consequéncia significativa, decorrente da experiéncia do dizimo. O conhecimento da situacdo concreta das comumidades que compoem uma pardquia, ea interacdo entre as varias pardquias de uma Igreja particular sto decisivos para que as comunidades cultivem um profundo sentido missionério e nao se fechem em si mesmas. A partir disso, a solidariedade entre as pardquias e entre as Igrejas particulares se desenvolve, aprofundando a catolicidade de cada communidade. Para tanto, 0 dizimo pode dar importante contribuicao. Quando uma Igreja particular assume o dizimo como meio ordinario de sua manutengao, significa que ndo apenas cada pardquia ou comunidade ser atendida em suas necessidades por meio dele, mas que também a Tgreja particular, e as estruturas Supra paroquiais, como os semindtios, a ctria e as pessoas que nela trabalham, 0 bispo e as varias pessoas que atuam em nivel supra paroquial serio atendidas pela contribuigio feita pelas pardquias, a partir do dizimo. As formas concretas segundo as quais se organiza essa conttribuigao é bastante diversificada (percentual, taxas fixas, ou outras).. Recomenda-se que a catequese sobre o dizimo seja realizada desde © periodo da iniciagdo na vida crista dos figis, para que a todos seja dada a oportunidade de compreendé-lo bem e de contribuir generosamente. Também é conveniente que, na formagio dos futuros ministros ordenados, sejam reforgados o conhecimento e a pratica do dizimo, tendo em vista a futura atuacio dos diaconos, padres e bispos nessa pastoral, uma vez que eles, além de serem dizimistas, terdo responsabilidades de grande importincia, na conscientizacao e na motivacao das comunidades e no funcionamento da Pastoral do Dizimo. 1 72. 73, 74, 16 A participagao de represenrame da Pastoral do Dizimo no Conselho Diocesano de Pastoral e nos Conselhos Paroquiais de Pastoral” e nas Assembleias ajuda a promover a integragao da Pastoral do Dizimo com a pastoral organica de conjuato. Destacam-se como elementos fundamentais para a insergdio da Pastoral do Dizimo na pastoral de conjunto: a. A Pastoral do Dizimo é chamada a promover a colaboragao entre as comunidades eclesiais; b. O senso de abertura de cada commnidade as demais comunidades que compdem a Igreja promove a missionatiedade; c. O dizimo com o qual os figis contribuem em suas comunidades e pardquias destina-se também as necessidades da Igreja particular; 4d. A catequese, a formaco dos ministros ordenados e dos demais agentes de pastoral tém importante papel com relago & consciéncia do dizimo; e. A importancia de haver representantes da Pastoral do Dizimo nos Conselhos ¢ Assembleias 2.5 Motivagao permanente A correta motivagiio para o dizimo é a que parte da experi @ que educa para a missdo e para a corresponsabilidade. éncia de fé 0 cuidado com a motivacdo permanente em vista do dizimo esta relacionado com a vivéncia integral da fé, que implica também a insercao na comunidade de eclesial. Promove-se o dizimo cultivando-se a fé A experiéncia do dizimo cresce conjuntamente com a qualidade da vida crista, principalmente de seu aspecto comunitirio. Tudo o que promove o crescimento de £8, promove 0 aprofundamento do dizimo. Em diversas comunidades, essa motivacio € realizada, de diversos modos, pelos agentes de pastoral do dizimo (em alguns lugares, chamados de missiondrios do dizimo). Decisiva, porém, ¢ a relagio personalizada, que cria oportunidade para a evangelizagio, para o bom acolhimento, para o fornecimento de informagées, para 0 fortalecimento dos vinculos comunitirios ¢ para que as pessoas compreendam 0 quanto so importantes para a vida da comunidade, Entre os diversos modos de motivagio, estio: a, As visitas que sto feitas as pessoas para dialogar a respeito do sizimo, de suas dimensées ¢ finalidades; b. © cadastro dos dizimistas da pardquia ou da comunidade ¢ um recurso importante para a comunicago com os dizimistas, em vista do envio de correspondéncias e comunicagdes com saudagdes, convites, festas; c. A escolha de um domingo fixo a cada més, durante o qual se divulgam nas celebragdes os resultados financeiros do més anterior, 0 que com ele foi realizado, ocasiio em que se costuma fazer a “Oragio do dizimista” manifestar gratidao pela fidelidade e pela generosidade da colaboracao: 2Cédigo de Diveito Candnieo, cin. 536 & 536 § 15. 16. 77. 78. 79. 80. 81. 83. 17 E importante também para a motivagio da comunidade o testemunho dos ministros ordenados e dos agentes de pastoral que contribuem fielmente com o dizimo. E igualmente muito importante o testemunho de coordenadores ¢ de outras pessoas ligadas a movimentos presentes nas comunidades paroquiais, que sabem ajudar as pessoas a compreenderem a diferenca entre 0 dizimo e outras formas de colaboracio. Quando todas as paréquias de uma mesma Igreja particular aderem & implanta 10 do dizimo e as modalidades de funcionamento da Pastoral do Dizimo escolhidas, reforca~ se mais facilmente entre os figis a consciéncia sobre o dizimo e a motivacao para a contribuicao. A correta administragao do dizimo esta condicionada por sua natureza religiosa Contribuigao motivada pela £8 como corresponsabilidade assumida pela comunidade, para suptir 0s meios de sustendo da Igreja, 0 dizimo precisa ser administrado com a mais completa retidio e transparéncia. A administragdo, por sua vez, influencia na motivagao dos figis para continuarem contribuindo. A participagao efetiva do Conselho Econdmico na administragio dos resultados financeiros do dizimo cria possibilidade para que se realize a necessiria corresponsabilidade. A administragio do dizimo requer sensibilidade evangelizadora e abertura missiondria. E escandaloso que algumas comunidades nao tenham recursos para atender as suas necessidades minimas e outras tenham recursos para realizar vultosos investimentos. A partilha com comunidades mais carentes ajuda os fidis a compreenderem mais plenamente o significado do dizimo e os motiva a colaborarem. E consideravel a contribuicdo que pode ser dada pelas TVs e radios de orientagio catdlica em vista da conscientizagio e da motivaglo permanente. As modalidades concretas e o estilo como se realizam algumas campanhas, porém, podem incidir de modo negativo sobre o dizimo, nao apenas materialmente, mas também sobre a consciéncia de seu significado. Campanhas paralelas ou estranhas & vida das Igrejas particulares, realizadas sem o cousentimento dos bispos ou sem o necessério amparo juridico-canénico, podem dificultar © crescimento da consciéncia sobre o dizimo sendo, também por isso, reprovaveis Assim como no periodo de conscientizagao, & necessirio que na motivacao permanente cuide-se de transmitir uma visto integral do dizimo. Ele poderia despertar 0 interesse dos figis, tendo em vista os dividendos que poderia trazer 4 Pardquia ou a Igreja particular, mas nfo se sustenta nesse nivel; decorre da experiéncia de Deus na vida erista. Entre os elementos importantes de motivagao permanente para os figis contribuirem com 0 dizimo, destacam-se: a. A atuacio dos ministros ordenados ¢ seu envolvimento com a vida das pessoas da comunidade: b ‘A atuago coerente e o testemunho dos agentes de pastoral, em especial dos membros da equipe da Pastoral do Dizimo; c. A gestio participativa e transparente dos recursos recebidos ¢ dos bens eclesiais; d Experiéacias de colaboragio fraterna com comunidades ou paréquias da mesma Igreja particular, mais carentes de recursos; e. Experiéacias de colaboragio missioniria com outras Igrejas particulares ou além-fronteiras. 84. 18 2.6 Reflexes sobre aspectos juridicos A contribuicéio, 0 recothimento e a administracéo do dizimo precisam estar em conformidade com a legislagéo brasileira. Do ponto de vista da legislagio, ha possiveis incidéncias legais sobre o dizimo, que precisam ser levadas em conta. Desse ponto de vista, o dizimo se caracteriza como doacio. E a legislacao exige o registro e a contabilizago de doacdes, feitas recebidas. O direito dos dizimistas a privacidade referente a quantia com que cada um contribui, e a0 anonimato — quando formalmente requerido, precisam ser cuidadosamente respeitados no registro do dizimo. A. legislagio que disciplina a contabilizagao dos valores recebidos exige a documentagio comprobatéria das receitas e das despesas e de seu gerenciamento. Tal exigéncia implica o registro legalmente valido do dizimo entregue pelo fiel e recebido pela pardquia, Para tanto, recomenda-se: a Que seja registrado 0 valor da contribuicao do fiel, de modo que se possa comprovar a origem da contribuicdo recebida; b Que seja dado, a cada dizimista, 0 recibo de sua contribuicio, para que ele possa comprovar a contribuicdo feita; c Que os resultados de recebimento do dizimo dos figis sejam conservados e gerenciados a partir de contas correntes/poupanga; jamais sejam depositados em contas cujos titulares sefam pessoas fisicas; a. Que se conhega a eventual responsabilidade civil que recai sobre aqueles que recebem o dizimo nas casas e a responsabilidade que recai sobre a Igreja com relagio a atos praticados por essas pessoas. 86. 87. 88. 19 Conclusao Estas orientagées sio oferecidas as nossas comunidades como uma referéucia em seu empenho de conversio pastoral e de renovagio comunitaria. Nesta hora missionaria, a Igreja no Brasil renova vigorosamente sua opcao pelo dizimo como forma habitual de manutengo das comunidades e da aio evangelizadora. ‘Uma vez que a partitha dos bens é um elemento da f8 apostélica e que a misao exige a solidariedade fraterna entre as comunidades, espera-se, com estas orientacdes, contribuir para a consolidaco da Pastoral do Dizimo onde ela ja esta implantada, ¢ estimular todas as Comunidades a fazerem, com coragem, a opedo pelo Dizimo. Confiamos a opeao pelo dizimo a Santa Virgem Maria, invocada em todo o Brasil com © titulo de Nossa Senhora Aparecida, ela que, nas Bodas de Cana, com fina sensibilidade, notou a falta do vinho e ensinou a fazer o que seu Filho disser (Jo 2.3.5).

Você também pode gostar