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DIFICULDADES E DISTÚRBIOS

DE APRENDIZAGEM
AULA 3

Profª Eliza Ribas Gracino


CONVERSA INICIAL

Nesta aula abordaremos as dificuldades, distúrbios ou transtornos de


aprendizagem, identificando os principais fatores externos e internos ao sujeito
que interferem nesse processo. Dessa forma, é possível elencar como externos
os fatores familiares, econômicos, socioculturais e de organização escolar. Já os
fatores internos dizem respeito às questões biológicas e de desenvolvimento do
indivíduo, nas quais estão presentes os distúrbios de aprendizagem, que se
manifestam na área da língua portuguesa e matemática.
Perceberemos que a aprendizagem é um processo complexo que se
articula ao processo de desenvolvimento humano, caracterizando-se por
múltiplos condicionantes. A teoria psicanalítica é chamada para elucidar os
processos inconscientes e conscientes do indivíduo, bem como a teoria
sociocultural de Vygotsky, na busca da compreensão de como o sujeito aprende.
‘Ressalte-se também que as dificuldades e distúrbios na aprendizagem,
contribuem com a exclusão social, na medida em que o indivíduo não se sente
pertencente à sociedade letrada.
Nossos objetivos para esta aula são os seguintes: discutir os fatores
internos e externos que interferem no processo de aprendizagem do indivíduo;
estudar a teoria psicanalítica, na busca da compreensão de sua relação com a
educação; relacionar as contribuições da teoria de Vigotsky para a
aprendizagem; identificar os distúrbios específicos da aprendizagem;
compreender a relação existente entre a não aprendizagem e a exclusão social.
Para alcançarmos esses objetivos, estruturamos esta aula em 5 partes:

1. Cuidado na nomenclatura;
2. A corrente psicanalítica e as dificuldades de aprendizagem no Brasil;
3. Os distúrbios específicos da aprendizagem e a leitura;
4. Os transtornos específicos da aprendizagem: matemática;
5. As dificuldades de aprendizagem e sua interface social.

TEMA 1 – CUIDADO NA NOMENCLATURA

Durante toda a história da humanidade, as questões que envolvem o


ensino e a aprendizagem foram vistas por diferentes prismas. Ao longo dos anos,
de acordo com a sociedade, sua função também foi distinta, variando desde
transmissão da tradição, da religião e das descobertas científicas e tecnológicas.

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Ora se priorizou a carga genética, por acreditar que seu desempenho e
comportamento já estavam determinados desde o seu nascimento, ora se
privilegiou a influência do meio, por se acreditar que as experiências vividas no
meio em que a criança está inserida seriam determinantes para seu processo de
desenvolvimento e aprendizagem.
Nascemos, sim, com um aparato orgânico, biológico para a
aprendizagem. O meio, certamente, tem grande influência na constituição de
nossa personalidade, entretanto é importante clarificar que não existe fator
determinante para nosso comportamento e aprendizagem. De acordo com o
Dicionário Aurélio, o vocábulo determinar, entre outros significados, indica
“delimitar, fixar, definir, precisar” (Ferreira, 2008, p. 314). Com base nessas
definições, não há dúvidas de que não existe nenhum fator que determine a
aprendizagem, porém a articulação de todos os fatores que envolvem o indivíduo
(internos e externos) e a intervenção pedagógica que contemple a
sistematização dos conteúdos historicamente acumulados pela humanidade
auxiliarão nos processos de ensino, levando o indivíduo à aprendizagem.
Muitas vezes ouvimos referência às dificuldades, distúrbios e transtornos
de aprendizagem como sendo a mesma incidência. Embora os autores não
tenham consenso a respeito dessas terminologias, há autores que buscam a
separação entre o que seria denominado problema, dificuldade ou distúrbio de
aprendizagem. As condições intrínsecas, indicadoras dos distúrbios de
aprendizagem, ou as condições extrínsecas, via de regra as dificuldades de
aprendizagem, diferenciam os problemas de aprendizagem (Ciasca, 2003).

1.1 Dificuldades de aprendizagem

As dificuldades de aprendizagem se constituem como uma das áreas


mais complexas de se conceituar em decorrência da variedade de teorias,
modelos e definições que visam esclarecer esse problema. Logo, a
heterogeneidade referida confere, por si só, grande complexidade ao estudo de
tais dificuldades que, somada à realidade educacional brasileira, torna-se um
grande desafio não só para aqueles que fazem parte do sistema educacional,
mas para a sociedade como um todo (Curi, 2002; Ide, 2002).

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1.2 Distúrbios de aprendizagem

Pode-se observar na Classificação Internacional de Doenças e Problemas


Relacionados à Saúde (CID-10) e no Manual de Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM-V) a falta de exatidão na definição de distúrbios de
aprendizagem. Distúrbios de aprendizagem são comprometimentos e
disfunções nos quais a causa é neurológica e a manifestação é comportamental,
sugerindo a existência de um comprometimento neurológico e das funções
corticais específicas. Podem apresentar-se como:

a. Hiperatividade: instabilidade psicomotora provocada por frustração,


ansiedade ou protesto;
b. Instabilidade: fraco controle sobre si mesmo (Caraciki, 1994; Cinel, 2003).

1.3 Transtornos de aprendizagem

Os transtornos de aprendizagem definem-se como aqueles manifestados


por comprometimentos específicos e significativos no aprendizado de
habilidades escolares (Organização Mundial da Saúde, S.d.)
De acordo com a CID-10 de 2008, as dificuldades de aprendizagem estão
dentro da categoria de transtornos específicos do desenvolvimento das
habilidades escolares e, nessa categoria, enquadram-se a dislexia, a disgrafia,
a discalculia e a dificuldade de soletração. Já o transtorno da aprendizagem – às
vezes usado como sinônimo de dificuldades de aprendizagem – embora não
tenha sido esclarecido totalmente, conta com algumas hipóteses sobre suas
causas, consideradas multifatoriais. Esses fatores, que são de origem biológica,
o que e inclui fatores genéticos, epigenéticos e ambientais, influenciam na
capacidade do cérebro de processar informações e transformá-las em
conhecimento. A CID-10 supõe que os fatores psicológicos se sobrepõem aos
fatores não biológicos. Já o DSM-V indica que o transtorno específico da
aprendizagem está ligado ao neurodesenvolvimento, cuja origem é biológica.
Segundo esse manual, as anormalidades no nível cognitivo se manifestam no
aspecto comportamental.

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TEMA 2 – A RELAÇÃO DA CORRENTE PSICANALÍTICA COM AS
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

A teoria psicanalítica tem como precursor o médico Sigmund Freud (1856-


1939), que, em suas pesquisas, percebeu que a raiz dos problemas de seus
pacientes encontrava-se na infância e, para acessar o inconsciente, a princípio,
utilizou-se de hipnose, logo substituindo esse método pela livre associação de
ideias, fazendo com que o paciente se remetesse à infância para recordar seus
traumas e também à repressão sofrida para poder perceber se a repressão gerou
o distanciamento entre consciente e inconsciente (Freud, 1976).
A principal preocupação freudiana foi a de analisar o funcionamento
mental por meio do inconsciente dinâmico (Simon, 2010) e a construção da
personalidade, que, segundo ele, se delineia com base nas experiências vividas.
Outro importante conceito abordado por Freud foi o princípio do prazer, por meio
do qual explicita que o indivíduo se exime de atividades que gerem desprazer,
regulando sua satisfação (Freud, 1996).

2.1 O desenvolvimento da personalidade

A personalidade constrói-se com base no meio em que o indivíduo está


inserido e procura adaptar-se. Seu desenvolvimento está interligado a
características pessoais, motivação, metas e valores, sendo também
influenciado por questões biológicas e pela interação dos indivíduos uns com os
outros, com o meio e com a cultura.
Para explicar as questões pertinentes ao desenvolvimento humano, Freud
elabora sua teoria a partir da dinâmica do organismo para satisfazer suas
necessidades, conceituando esse processo como pulsão, intimamente
relacionada à sexualidade, demonstrando que a função sexual está presente no
indivíduo desde o seu nascimento, postulando que esta possui três destinos: a
inibição neurótica, limitando a atividade intelectual; a compulsão pelo saber, que
funciona como escape do recalque e a sublimação, cujo escape da pulsão sexual
se dá pelo desejo do saber, destinando a energia para o trabalho e outras
atividades socialmente aceitas (Freud, 1996).
Com relação a suas estruturas, a personalidade é composta pelo Id, ego
e superego. O Id responsável pelo processo primário de manifestação dos
desejos, no plano imaginário, buscando a satisfação imediata de suas

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necessidades; o ego, instância diferenciada do Id, servindo como intermediário
entre desejo e realidade; e o superego é responsável pelos valores morais e
intenalização das normas (Freud, 2011).

2.2 Os problemas de aprendizagem

Apesar de a teoria psicanalítica ser amplamente difundida na formação


de educadores, Freud não se preocupou em elaborar uma teoria pedagógica, ou
sobre aprendizagem ou suas dificuldades, entretanto, ao se estudar sua teoria,
é possível presumir que a inibição intelectual é consequência do fracasso da
inibição sexual (Freud, 1996).
A pressão social exercida pela escola sobre o indivíduo desde a infância
molda a realidade, disfarçando seu interesse pela sexualidade e trocando a
satisfação das pulsões e do princípio do prazer pelo universo simbólico,
castrando o indivíduo (Freud, 1996b).
As relações familiares também influenciam na aprendizagem escolar.
Tanto a superproteção quanto a negligência e negação de afeto influem no
comportamento da criança. A criança excessivamente protegida pode tornar-se
passiva, dependente e medrosa, e a carência pode levar a criança a investir sua
energia, desfocando-se das atividades escolares.
Outro ponto importante a se considerar é que a criança projeta em seu
professor a relação que tem com seus pais. Essa transferência, de acordo com
a psicanálise, é natural e pode permitir a reorganização das estruturas psíquicas,
transformando a personalidade.

TEMA 3 – OS DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM RELACIONADOS ÀS


LINGUAGENS ORAL E ESCRITA

A compreensão a respeito da função da linguagem e da comunicação


ocorre antes mesmo que a criança seja capaz de falar. Por esse motivo, ela
busca a interação, comunicando-se com gemidos, gestos e até mesmo o choro
(Santos; Navas, 2002, p. 216).
É preciso que o adulto estimule as situações de comunicação infantil, bem
como o uso da fala e das primeiras palavras pronunciadas pela criança, que
começam a aparecer “no fim do período do balbucio”, uma vez que, se
negligenciadas, podem gerar um possível distúrbio (Scarpa, 2001, p. 226).

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Apesar de a interação com o grupo social auxiliar no processo de
aquisição da linguagem, a intervenção pedagógica por meio de atividades
direcionadas auxiliarão no desenvolvimento e aperfeiçoamento da leitura e da
escrita (Santos; Navas, 2002, p. 220).

3.1 Distúrbios fonológicos: dislalia

Apesar de a fala infantil se manifestar nas primeiras semanas de vida, e


de a criança ser capaz de expressar-se verbalmente aos cinco anos de idade,
muitas vezes, as dificuldades na fala só são percebidas com base na
escolarização da criança (Préneron, 2006).
O transtorno de comunicação de maior incidência é a denominada na
DSM-V como dislalia. Esse transtorno do neurodesenvolvimento consiste em
uma dificuldade de articular palavras, podendo tanto ser má pronúncia quanto
omissão ou acréscimo de fonemas, podendo origem orgânica ou funcional.

a. Dislalias orgânicas: alteração da língua ou de outro órgão que esteja


envolvido na fala. Ex.: lábio leporino;
b. Dislalias funcionais: imitação inadequada da linguagem adulta.

Costumeiramente, o tratamento da dislalia é feito por meio de exercícios


que treinam os movimentos do órgão afetado (lábios, mandíbulas e língua). Seu
diagnóstico deve realizar-se o mais cedo possível, por uma equipe
multidisciplinar.

3.2 Distúrbios de leitura e escrita: dislexia, disgrafia e disortografia

Os distúrbios de leitura tanto podem ser de origem visual quanto auditiva.


A dificuldade mais recorrente quanto à leitura é a dislexia. Há também distúrbios
relacionados às habilidades de escrita, conhecidos por disgrafia e disortografia.

3.2.1 Dislexia

A dificuldade está no processo cerebral responsável pela escrita e leitura,


ou auditiva. O disléxico apresenta troca de letras e sons por outros, invertendo
palavras (Kato, 1986). De acordo com o DSM 5, a dislexia integra os transtornos
específicos de aprendizagem (TEA). Acontece na habilidade de leitura, no que
diz respeito aos aspectos de fluência, velocidade e compreensão, tornando as

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habilidades acadêmicas comprometidas, devido à importância da leitura para as
demais aprendizagens.
A Associação Brasileira de Dislexia (ABD) caracteriza a dislexia pela
dificuldade apresentada no reconhecimento de letras, números e no processo
de alfabetização de forma geral, sendo a maior dificuldade do disléxico a
aquisição da fala e o reconhecimento dos números, letras, símbolos, ordenação
de palavras, bem como no reconhecimento e leitura de palavras longas. O
quadro da dislexia também traz alguns embaraços cognitivos, como dificuldades
na memorização de sequências e na organização espaço-temporal, incluindo a
distinção entre direita e esquerda.
A dislexia é um distúrbio com o qual o indivíduo precisará trabalhar ao
longo de sua vida e cujos sintomas são amenizados por meio de um tratamento
com uma equipe multidisciplinar: fonoaudiólogo, psicopedagogo, pedagogo,
psicólogo, entre outros.

3.2.2 Disgrafia

Alteração na qualidade da escrita, relacionada à grafia das letras. O


disgráfico não consegue trazer para o plano motor o que visualizou,
apresentando alteração no ritmo de escrita. A lentidão torna as palavras ilegíveis,
o traçado das letras disforme e o espaçamento entre linhas e palavras irregular
(Torres; Fernandez, 2001).
A intervenção nesses casos perpassa o estudo das percepções auditiva
e visual, não se limitando à correção, mas à orientação quanto ao uso de uma
variedade de técnicas que podem facilitar a aprendizagem, considerando as
habilidades e conhecimentos que o indivíduo carrega e suas características
individuais e partindo para os conhecimentos que ainda não adquiriu.

3.2.3 Disortografia

Dificuldade de transcrição da linguagem oral. Consiste na omissão e


inversão de letras e ordem de palavras. Em sua intervenção, é importante
trabalhar estimulando o desenvolvimento da memória visual, a percepção
gramatical e da função dos aspectos que constituem as frases e sentenças
(Kaufman, 1996).

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TEMA 4 – OS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM RELACIONADOS ÀS
OPERAÇÕES MATEMÁTICAS

Os distúrbios de aprendizagem, assim como as dificuldades de


aprendizagem, não têm explicação definitiva. De acordo com Sousa (2011, p.
25), os distúrbios de aprendizagem são definidos como “uma desordem
neurobiológica na qual o cérebro da pessoa trabalha ou é estruturado de uma
maneira diferente”. Embora de origem orgânica, inclui-se nas disfunções
funcionais (Campos-Casteló, 2000).
Os distúrbios de aprendizagem matemática atingem as habilidades de
cálculo básico, de raciocínio matemático e nas combinações entre elas, sendo
classificados em acalculia e discalculia (Bastos, 2016).

4.1 Acalculia

Trata-se de um distúrbio de contagem, a (não) + calculare (cálculo) = não


contar (Bastos, 2008). De origem posterior a uma lesão cerebral, podendo ser
diagnosticada em crianças com desenvolvimento normal (Garcia, 1998;
Campos, 2014).
A acalculia caracteriza-se por desorientação na lateralidade, falta de
percepção e reconhecimentos de objetos e dificuldade para o cálculo mental e
de problemas matemáticos (Benton, 1987, citado por Bernardi, 2006).
De acordo com Bastos (2016), quanto à tipologia, a acalculia pode dividir-
se em três: dificuldade para ler e escrever quantidades (alexia e grafia de
números); dificuldade de orientação espacial, arranjo de números em posições
corretas e cálculos (acalculia espacial); e dificuldade nas operações aritméticas
(anaritmetia).

4.2 Discalculia

Refere-se à dificuldade de aquisição de habilidades para cálculo: dis


(dificuldade) + calculare (cálculo) = dificuldade de calcular (Campos, 2014).
Essas habilidades matemáticas são necessárias à realização de cálculos
simples e à resolução de problemas matemáticos, como nomear, ler e escrever
símbolos matemáticos (Werner, 1999).
A discalculia caracteriza-se pela

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Dificuldade em lidar com cálculos, numerais e quantidade,
prejudicando as atividades da vida diária, que envolvem estas
habilidades e conceitos. De acordo com o DSM-IV, em indivíduos com
transtorno da Matemática, a capacidade para a realização de
operações aritméticas cálculo e raciocínio matemático encontra-se
substancialmente inferior à média esperada para a idade cronológica,
capacidade intelectual e nível de escolaridade do indivíduo. (Glat;
Fernandes, 2005, p. 70)

O discalcúlico não apresenta dano na inteligência, tendo singularidades


no que diz respeito a dificuldades específicas (Campos, 2014). Os motivos que
levam à discalculia são diversos, sendo foco de pesquisas inconclusas em
diversas áreas como a pedagogia, a neurologia, a psicologia, a linguística e a
genética (Silva, 2008, citado por Coelho, 2013).
A intervenção de uma equipe multidisciplinar, com propostas pedagógicas
adequadas, e específicas orientando o discalcúlico, a família e a escola
promovendo ações que estimulem com base em situações lúdicas é
extremamente importante para o desenvolvimento do discalcúlico (Silva, 2011).

TEMA 5 – AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E SUA INTERFACE


SOCIAL

É de extrema importância reconhecer as dificuldades e os distúrbios de


aprendizagem, mas também é imprescindível refletir a respeito do impacto dessa
realidade na escola. Anualmente um grande número de indivíduos não obtém
sucesso na trajetória escolar, sendo marginalizados pelo sistema educacional,
ou seja, tornam-se excluídos, ainda que fisicamente permaneçam no espaço
escolar.
O desenvolvimento da inteligência está ligado à contextualização e à
globalização. A estruturação do pensamento se dá inconscientemente
(hipóteses), sendo que a linguagem e a ação refletem parcialmente o movimento
do pensamento. Para a construção de novos conhecimentos, é preciso analisar,
pensar, escolher novas situações-problema não só para desafiá-las, mas para
interferir cada vez mais sobre seu processo de construção de conhecimento
(Grossi, 1993).

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5.1 Dificuldades e distúrbios de aprendizagem: a importância do
diagnóstico

A dificuldade no diagnóstico tem contribuído para que as ações no


enfrentamento nas situações em que a aprendizagem não ocorre não logrem
êxito. Isso porque, na falta de um diagnóstico preciso, muitas vezes se
confundem dificuldades e distúrbios de aprendizagem com deficiência. Nessa
direção, alunos que não possuem deficiência são encaminhados para serviços
de apoio complementar e suplementar, como as salas de recursos
multifuncionais. Por esse motivo, é preciso conhecer a criança e o motivo da não
aprendizagem antes de ensiná-la (Fonseca, 2008).
O professor desempenha um papel muito importante, tanto no processo
de diagnóstico quanto no processo reeducativo. É importante que os problemas
de aprendizagem que a criança apresenta sejam vistos como decorrentes das
dificuldades de aprendizagem e não como preguiça.

5.2 A Escola inclusiva

A escola, como não se sente responsável por condições que são alheias
a ela, permite-se transferir a responsabilidade da não aprendizagem para causas
externas. Considerando que ela tem apresentado apertos para dar conta de
alunos ditos “normais”, é ainda mais um desafio incluir os alunos que apresentam
dificuldades específicas de aprendizagem.
A escola inclusiva sugere uma educação de qualidade para todos,
reconhecendo a diversidade presente na sociedade e buscando adaptar-se às
singularidades de seus alunos. Portanto, essa escola proporciona condições de
dar suporte aos alunos que apresentam dificuldades no processo de
aprendizagem.
Sendo assim, a escola precisa organizar-se para ter as condições
propícias à aprendizagem de todos. Isso só será possível se a escola fizer uma
revisão de sua gestão e do que é estabelecido em seu projeto político-
pedagógico, além de condições de trabalho e salários dos educadores. Assim, é
preciso ressignificar todo o conceito de aprendizagem, como também o papel de
educadores e demais envolvidos no processo em uma sociedade inclusiva.

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NA PRÁTICA

Nesta aula aprendemos sobre as dificuldades e distúrbios de


aprendizagem. Escolha um jogo e proponha a uma criança das séries iniciais do
ensino fundamental, com dificuldades ou distúrbios de aprendizagem, uma
intervenção baseada no jogo escolhido. Elabore um relatório explicando qual é
a dificuldade, qual é o jogo escolhido e como ele motivou a criança escolhida à
aprendizagem.

FINALIZANDO

Tivemos aqui a oportunidade de abordar questões pertinentes às


dificuldades e distúrbios de aprendizagem, identificando os fatores que
interferem sobre eles, conhecendo melhor a teoria psicanalítica e seus
conceitos, bem como os desafios da utilização de ferramentas pedagógicas para
o diagnóstico e intervenção no enfrentamento das dificuldades e distúrbios de
aprendizagem.
Os principais conceitos abordados foram os distúrbios ligados à língua
portuguesa, à matemática, bem como à combinação de ambos e `\a questão
social presente na ausência da aprendizagem, ocasionando baixa autoestima e
exclusão social, compreendendo o papel da escola e de toda a sociedade no
combate ao fracasso escolar.

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REFERÊNCIAS

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