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EXCELENTÍSSIMA SENHORA PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL, DIGNÍSSIMA MINISTRA ROSA WEBER

“Ou havemos de admitir que a Constituição anula


qualquer medida legislativa, que a contrarie, ou
anuir em que a legislatura possa alterar por medidas
ordinárias a Constituição. Não há como contestar o
dilema. Ou a Constituição é uma lei superior,
soberana, irreformável por meios comuns; ou se
nivela com os atos de legislação usual, e, como estes,
é reformável ao sabor da legislatura. Se a primeira
proposição é verdadeira, então o ato legislativo,
contrário à Constituição, não será lei; se é
verdadeira a segunda, então as Constituições escritas
são absurdos esforços do povo, por limitar um poder
de sua natureza ilimitável”. (BARBOSA, Ruy.
Comentários à Constituição Federal Brasileira. São
Paulo: Saraiva e Cia., 1932, vol. I, p. 9).

PARTIDO LIBERAL – PL, agremiação partidária devidamente


registrada perante o Tribunal Superior Eleitoral e com representação perante o Congresso
Nacional, inscrita no CNPJ sob nº 08.517.423/0001-95, com sede no SHS, Quadra 6, Conjunto
A, Bloco A, Sala 903, Centro Empresarial Brasil 21, Brasília-DF, neste ato representada por
seu Presidente Nacional, Valdemar Costa Neto, comparece, com elevado acatamento, perante
Vossa Excelência, por intermédio de seus procuradores signatários 1, com fundamento no art.
102, inciso I, alíneas “a” e “p” c/c art. 103, inciso VIII, da Constituição da República, e no art.
2º, inciso VIII, da Lei nº 9.868, de 10 de novembro de 1999, para propor

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE


COM PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR

em face do art. 7ª da Medida Provisória n° 1.163, de 28 de fevereiro de 2023, editada pelo


Excelentíssimo Senhor Presidente da República, que, de forma absolutamente inconstitucional,
instituiu, até 30/06/2023, alíquota de 9,2% de Imposto sobre a Exportação de petróleo bruto ou
de minerais betuminosos (código 2709 da NCM): “fica estabelecido, até 30 de junho de 2023,

1
Instrumento de mandato anexo.
1
em nove inteiros e dois décimos por cento a alíquota do imposto de exportação incidente sobre
as exportações de óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos, classificados no código
2709 da NCM”. É o que se passa a justificar a partir das razões fáticas e jurídicas a seguir
delineadas.

I. LEGITIMIDADE ATIVA E PERTINÊNCIA TEMÁTICA

1. Inicialmente, convém mencionar que o controle direto da


constitucionalidade das leis e atos normativos, exercido perante o Supremo Tribunal Federal,
por intermédio da Ação Direta de Inconstitucionalidade, está embasado no art. 102, inciso I,
alínea a, da Constituição Federal, in verbis:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda


da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou
ato normativo federal;

2. Com efeito, o próprio texto constitucional atribuiu legitimação ativa para


propositura da Ação Direta de Inconstitucionalidade, conforme arrimo ao art. 103 da Magna
Lei. Vejamos:

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação


declaratória de constitucionalidade:
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do
Distrito Federal;
V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal
VI - o Procurador-Geral da República;
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
§ 1º O Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas
ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do
Supremo Tribunal Federal.
§ 2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar
efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para
a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão
administrativo, para fazê-lo em trinta dias.

2
§ 3º Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade,
em tese, de norma legal ou ato normativo, citará, previamente, o
Advogado-Geral da União, que defenderá o ato ou texto impugnado.
(grifou-se)

3. Assim, cabe registrar que o Partido Liberal preenche todos os requisitos


expostos na Constituição da República, vez que representado, atualmente, por 99 (noventa e
nove) Deputados Federais e 12 (doze) Senadores da República perante o Congresso Nacional.
Desta forma, notória a legitimidade da agremiação partidária para propor a presente Ação
Direta de Inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar.

4. Destarte, em consonância com o entendimento perfilhado pelo


Supremo Tribunal Federal, os partidos políticos são legitimados universais, não lhes sendo
imposta a exigência de demonstração de pertinência temática para ajuizamento de ação direta
de inconstitucionalidade. Nesse sentido:

Partido político. Ação direta. Legitimidade ativa. Inexigibilidade do


vínculo de pertinência temática. Os partidos políticos, desde que
possuam representação no Congresso Nacional, podem, em sede de
controle abstrato, arguir, perante o STF, a inconstitucionalidade de
atos normativos federais, estaduais ou distritais, independentemente
de seu conteúdo material, eis que não incide sobre as agremiações
partidárias a restrição jurisprudencial derivada do vínculo de
pertinência temática 2.

5. Assentada, portanto, a legitimidade ativa do Partido Liberal para a


propositura desta ação direta de inconstitucionalidade, porquanto cabe às agremiações
partidárias a defesa inerente aos cidadãos, bem como a concessão de voz e altivez ao povo
brasileiro.

II. CABIMENTO DA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE.

6. Comprovada a legitimidade ativa do Requerente, atesta-se, por igual, a


possibilidade de o objeto indicado passar pelo crivo dessa Corte no exame de sua
constitucionalidade.

2
STF. ADI 1.407 – MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 24.11.2000
3
7. Em primeiro lugar, deve-se, de imediato – para evitar a pecha de inépcia
– apresentar, na sua inteireza, o teor da Medida Provisória n° 1.163, de 28 de fevereiro de 2023,
e em especial seu artigo 7º ora impugnado, para então discorrer sobre os pressupostos para
exame de mérito e, ao final, a questão meritória em si, que consiste na incompatibilidade dos
comandos genéricos e abstratos encartados no ato normativo com a ordem Constitucional
vigente.

8. Eis o texto 3, na sua inteireza, do ato normativo em que consta a norma


(i.e., art. 7º) que se impugna nesta ação direta de inconstitucionalidade:

MEDIDA PROVISÓRIA Nº 1.163, DE 28 DE FEVEREIRO DE 2023

Reduz alíquotas de contribuições incidentes


sobre operações realizadas com gasolina,
álcool, gás natural veicular e querosene de
aviação.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe


confere o art. 62 da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com
força de lei:
Art. 1º Esta Medida Provisória dispõe sobre a redução das alíquotas
das seguintes contribuições, incidentes sobre operações realizadas com
gasolina, álcool, gás natural veicular e querosene de aviação:
I - Contribuição para o Programa de Integração Social e o Programa
de Formação do Patrimônio do Servidor Público - PIS/Pasep;
II - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins;
III - Contribuição para os Programas de Integração Social e de
Formação do Patrimônio do Servidor Público Incidente na Importação -
PIS/Pasep-Importação;
IV - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
Incidente na Importação - Cofins-Importação; e
V - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente
sobre a importação e a comercialização de petróleo e seus derivados, gás
natural e seus derivados, e álcool etílico combustível - Cide.
Art. 2º Ficam reduzidas a zero, até 30 de junho de 2023, as alíquotas
da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins incidentes sobre as operações
realizadas com:
I - querosene de aviação, de que tratam o art. 2º da Lei nº 10.560, de
13 de novembro de 2002, e o inciso IV do caput do art. 23 da Lei nº 10.865,
de 30 de abril de 2004; e

3
Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/medida-provisoria-n-1.163-de-28-de-fevereiro-de-2023-
466789113
4
II - gás natural veicular classificado nos códigos 2711.11.00 ou
2711.21.00 da Nomenclatura Comum do Mercosul - NCM.
§ 1º As reduções de que trata o caput abrangem também as alíquotas
da Contribuição para o PIS/Pasep-Importação e da Cofins-Importação
incidentes sobre a importação de:
I - querosene de aviação, de que trata o § 8º do art. 8º da Lei nº 10.865,
de 2004; e
II - gás natural veicular classificado nos códigos 2711.11.00 ou
2711.21.00 da NCM.
§ 2º Aplicam-se às pessoas jurídicas atuantes na cadeia econômica dos
produtos de que trata o caput:
I - em relação à aquisição dos referidos produtos, as vedações
estabelecidas nos seguintes dispositivos:
a) do art. 3º da Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002:
1. na alínea "b" do inciso I do caput; e
2. no inciso II do § 2º; e
b) do art. 3º da Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003:
1. na alínea "b" do inciso I do caput; e
2. no inciso II do § 2º; e
II - em relação aos créditos de que tratam o art. 3º da Lei nº 10.637, de
2002, e o art. 3º da Lei nº 10.833, de 2003, distintos dos créditos a que se
refere o inciso I deste parágrafo, a autorização de que trata o art. 17 da Lei
nº 11.033, de 21 de dezembro de 2004.
Art. 3º Até 30 de junho de 2023, as alíquotas da Contribuição para o
PIS/Pasep e da Cofins incidentes sobre as operações realizadas com gasolina
e suas correntes, exceto gasolina de aviação, de que trata o inciso I do caput
do art. 23 da Lei nº 10.865, de 2004, ficam reduzidas, respectivamente, para:
I - R$ 83,8380 (oitenta e três reais e oitenta e três centavos e oito
décimos de centavo) por metro cúbico; e
II - R$ 386,160 (trezentos e oitenta e seis reais e dezesseis centavos)
por metro cúbico.
§ 1º Aplicam-se as alíquotas de que trata o caput à Contribuição para
o PIS/Pasep-Importação e à Cofins-Importação incidentes sobre a
importação de gasolina e suas correntes, exceto gasolina de aviação, de que
trata o § 8º do art. 8º da Lei nº 10.865, de 2004.
§ 2º Aplicam-se às pessoas jurídicas atuantes na cadeia econômica dos
produtos de que trata o caput:
I - em relação à aquisição dos referidos produtos, as vedações
estabelecidas nos seguintes dispositivos:
a) do art. 3º da Lei nº 10.637, de 2002:
1. na alínea "b" do inciso I do caput; e
2. no inciso II do § 2º; e
b) do art. 3º da Lei nº 10.833, de 2003:

5
1. na alínea "b" do inciso I do caput; e
2. no inciso II do § 2º; e
II - em relação aos créditos de que tratam o art. 3º da Lei nº 10.637, de
2002, e o art. 3º da Lei nº 10.833, de 2003, distintos dos créditos a que se
refere o inciso I deste parágrafo, a autorização de que trata o art. 17 da Lei
nº 11.033, de 2004.
Art. 4º Até 30 de junho de 2023, as alíquotas da Contribuição para o
PIS/Pasep e da Cofins incidentes sobre as operações realizadas com álcool,
inclusive para fins carburantes:
I - de que trata o inciso I do § 4º do art. 5º da Lei nº 9.718, de 1998, no
caso do produtor ou do importador, ficam reduzidas, respectivamente, para:
a) R$ 3,60 (três reais e sessenta centavos) por metro cúbico; e
b) R$ 16,40 (dezesseis reais e quarenta centavos) por metro cúbico;
II - de que trata a alínea "b" do inciso I do § 4º-D do art. 5º da Lei nº
9.718, de 1998, ficam reduzidas, respectivamente, para:
a) R$ 1,64 (um real e sessenta e quatro centavos) por metro cúbico; e
b) R$ 7,53 (sete reais e cinquenta e três centavos) por metro cúbico; e
III - no caso das vendas efetuadas por distribuidor, ficam reduzidas a
zero.
Parágrafo único. Aplicam-se às pessoas jurídicas atuantes na cadeia
econômica dos produtos de que trata o caput:
I - em relação à aquisição dos referidos produtos, as vedações
estabelecidas nos seguintes dispositivos:
a) do art. 3º da Lei nº 10.637, de 2002:
1. na alínea "b" do inciso I do caput; e
2. no inciso II do § 2º; e
b) do art. 3º da Lei nº 10.833, de 2003:
1. na alínea "b" do inciso I do caput; e
2. no inciso II do § 2º; e
II - em relação aos créditos de que tratam o art. 3º da Lei nº 10.637, de
2002, e o art. 3º da Lei nº 10.833, de 2003, distintos dos créditos a que se
refere o inciso I deste parágrafo, a autorização de que trata o art. 17 da Lei
nº 11.033, de 2004.
Art. 5º Fica reduzida a zero, até 30 de junho de 2023, a alíquota da
Cide incidente sobre as operações realizadas com gasolina e suas correntes,
exceto gasolina de aviação, de que tratam o inciso I do caput do art. 5º e o
art. 9º da Lei nº 10.336, de 19 de dezembro de 2001.
Art. 6º Fica suspenso, até 31 de dezembro de 2023, o pagamento da
Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins incidentes sobre as aquisições no
mercado interno e sobre as importações de petróleo efetuadas por refinarias
para a produção de combustíveis.
§ 1º O disposto no caput aplica-se aos insumos naftas, com
Nomenclatura Comum do Mercosul/Sistema Harmonizado - NCM/SH

6
2710.12.49, outras misturas (aromáticos), NCM/SH 2707.99.90, óleo de
petróleo parcialmente refinado, NCM 2710.19.99, outros óleos brutos de
petróleo ou minerais (condensados), NCM 2709.00.10, e N-Metilanilina,
NCM/SH 2921.42.90.
§ 2º A suspensão do pagamento de que tratam o caput e o § 1º converte-
se em alíquota zero após a utilização na produção de combustíveis, hipótese
em que se aplica o disposto no art. 22 da Lei nº 11.945, de 4 de junho de 2009,
à pessoa jurídica que adquire o produto com suspensão.
§ 3º A Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério
da Fazenda poderá disciplinar o disposto neste artigo, inclusive para exigir
que o adquirente informe a parcela da aquisição a ser utilizada na produção
de combustíveis, mediante declaração a ser entregue ao fornecedor de
petróleo.
Art. 7º Fica estabelecida, até 30 de junho de 2023, em nove
inteiros e dois décimos por cento a alíquota do imposto de exportação
incidente sobre as exportações de óleos brutos de petróleo ou de
minerais betuminosos, classificados no código 2709 da NCM.
Art. 8º Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua
publicação.
Brasília, 28 de fevereiro de 2023; 202º da Independência e 135º da
República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Fernando Haddad
Presidente da República Federativa do Brasil

9. Não há dúvida de que os preceitos contidos na MP 1.163/2023 – em


especial seu art. 7º -, são aptos a figurar como objeto de controle concentrado de
constitucionalidade.

10. Com efeito, o artigo 102, inciso I, alínea “a”, da CRFB/88 é claro ao
dispor que este Supremo Tribunal Federal é competente para processar e julgar,
originariamente, as ações diretas de inconstitucionalidade de atos normativos federais.

11. In casu, estamos diante da análise de Medida Provisória, espécie de ato


normativo primário e abstrato, editada pelo Presidente da República nos termos do art. 62 da
Constituição da República, que prevê o seguinte: “Em caso de relevância e urgência, o
Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo
submetê-las de imediato ao Congresso Nacional”.

7
12. Portanto, o ato questionado se qualifica como “ato normativo federal”,
apto, portanto, a ser impugnado por Ação Direta de Inconstitucionalidade.

13. Consectariamente, é plenamente cabível a presente ação direta de


inconstitucionalidade.

14. Demonstrado o cabimento, passa-se a expor as razões pelas quais deve


o ato normativo impugnado – i.e., art. 7º da MP 1.163/2023 – ser considerado inconstitucional
por essa Corte e, por consequência, extirpado do ordenamento jurídico.

III. SÚMULA DA DEMANDA E CONTEXTO FÁTICO DA


INSTITUIÇÃO DO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO SOBRE
PETRÓLEO (ART. 7º) COMO FONTE DE RECEITA PARA
RECOMPOR A DESONERAÇÃO DOS COMBUSTÍVEIS.
NATUREZA ARRECADATÓRIA.

15. Como cediço, no dia 1º de janeiro de 2023, o Presidente da República,


Luiz Inácio Lula da Silva, editou a Medida Provisória nº 1.157/2023, que, em síntese,
prorrogou, até 31 de dezembro de 2023, a redução a zero das alíquotas da Contribuição para o
PIS/Pasep e da Cofins incidentes sobre operações realizadas com óleo diesel, biodiesel e gás
liquefeito de petróleo, derivado de petróleo e de gás natural. Prorrogou, ainda, até 28 de
fevereiro de 2023, a redução a zero das alíquotas da Contribuição para o PIS/Pasep, da
Cofins e da Cide quando incidentes sobre operações com álcool, gasolina (exceto gasolina
de aviação), querosene de aviação e gás natural veicular.

16. Os benefícios fiscais prorrogados vigoraram até 31 de dezembro de


2022 por força dos arts. 9º, 9º-A e 9º-B da Lei Complementar nº 192/2022. Originalmente, as
benesses fiscais foram concedidas no intuito de aumentar a estabilidade e a previsibilidade dos
preços dos combustíveis, em um contexto de sucessivos aumentos, em razão, principalmente,
de um cenário de elevação dos preços internacionais do petróleo associado à desvalorização do
real frente às moedas estrangeiras.

17. Pois bem. No dia 28 de fevereiro de 2023, data em que venceria o prazo
fixado para a MP 1.157/2023 para a desoneração dos combustíveis, o Presidente da República
8
editou nova Medida Provisória – MP 1.163, de 28/02/2023 –, que, com o objetivo de evitar a
elevação abrupta da carga tributária incidente sobre as operações com combustíveis,
recompõe parcialmente a cobrança dos referidos tributos, isentos desde o ano passado,
até 30 de junho de 2023.

18. Na justificação apresentada de forma incidental à Medida


Provisória, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fundamentou que “medida em tela
ocasiona redução de receitas tributárias estimada em R$ 6,61 bilhões (seis bilhões, seiscentos
e dez milhões de reais)”, de sorte que impôs a criação de uma nova fonte de receita para
custeá-las: o Imposto sobre a Exportação de petróleo bruto, com base na alíquota de 9,2%
(art. 7º), com finalidade nitidamente arrecadatória.

19. Aqui, consta da exposição de motivos da MP o seguinte: “a medida


ora proposta eleva a alíquota do imposto de exportação incidente sobre as exportações de
óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos, classificado no código 2709 da
Nomenclatura Comum do Mercosul – NCM, cujo impacto financeiro positivo, nos termos da
Nota Cetad/Coest nº 025, de 28 de fevereiro de 2023, é da ordem de R$ 6,65 bilhões (seis
bilhões, seiscentos e cinquenta milhões de reais)”.

20. Daí que surgiu o art. 7º da MP 1.163/2023, ora impugnado, que cria o
Imposto de Exportação sobre o petróleo: “Art. 7º Fica estabelecida, até 30 de junho de 2023,
em nove inteiros e dois décimos por cento a alíquota do imposto de exportação incidente sobre
as exportações de óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos, classificados no código
2709 da NCM”.

21. Portanto com o objetivo de esquivar-se, ainda que


inconstitucionalmente, dos princípios da anterioridade (cláusula pétrea), da
previsibilidade e da segurança jurídica, o Presidente da República impõe, com
aplicabilidade imediata, um tributo de natureza extrafiscal, regulatório, com expressa e
exclusiva finalidade arrecadatória, de modo a criar uma fonte de custeio e compensar a
desoneração parcial dos combustíveis, a revelar a flagrante inconstitucionalidade
material da manobra legal adotada.

9
22. De fato, a mens legis do art. 7º da MP 1.163/2023 é desvirtuar a essência
do Imposto de Exportação, para, utilizando-se de sua natureza extrafiscal e de sua aplicabilidade
imediata, atingir expressa finalidade arrecadatória e, ainda, com destinação de recursos
vinculada. Em palavras mais simples: a justificativa do governo para instituição do imposto
sobre exportação é exclusivamente fiscal, arrecadatória, de modo que há claríssima e
inconstitucional utilização de um expediente predominantemente extrafiscal para fins
exclusivamente fiscais.

23. É o que se passa a fundamentar.

IV. INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL. INSTITUIÇÃO DO


IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO SOBRE PETRÓLEO BRUTO POR
INTERMÉDIO DE MEDIDA PROVISÓRIA. FINALIDADE
EXCLUSIVAMENTE FISCAL E ARRECADATÓRIA. CRIAÇÃO DE
FONTE DE CUSTEIO E DESTINAÇÃO DE RECURSOS
VINCULADA.

24. Conforme já destacado, o art. 7º da Medida Provisória nº 1.163/2023,


ao instituir Imposto sobre a Exportação (IE) de óleos brutos de petróleo ou de minerais
betuminosos (código 2709 da NCM), à alíquota de 9,2%, padece de vícios materiais que o
tornam claramente incompatível com o texto Constitucional e o Estado Democrático de Direito.

25. Ab initio, antes de ingressar na análise específica da


inconstitucionalidade do art. 7º da MP 1.163/2023, algumas premissas teóricas se revelam
essenciais ao correto deslinde da controvérsia.

26. Com efeito, a instituição de tributos é atividade típica do Estado,


indelegável e exercida mediante lei (art. 150, I, CRFB/88). Ademais, a finalidade da tributação
“não é apenas a de proporcionar receita ao Estado, mas a de proporcionar receita para que o
Estado possa fazer frente às necessidades públicas” 4.

4
VANONI, Ezio. Natureza e interpretação das leis tributárias. Trad. Rubens Gomes de Souza. Rio de Janeiro:
Financeiras, 1932, p. 126.
10
27. Destarte, para que as práticas e os objetivos previstos na Carta Magna
sejam implementados, a atividade financeira do Estado passa a ter funções diversas daquelas
tradicionalmente exercidas pela tributação. A Ministra Regina Helena Costa, em âmbito
doutrinário, ao analisar a tradicional função fiscal ou arrecadatória, ensina que “significa olhar
para o tributo, simplesmente, como ferramenta de arrecadação, meio de geração de receita. É
a noção mais corrente quando se pensa em tributação” 5.

28. Por outro lado, a função extrafiscal consiste em finalidade da tributação


consistente no emprego de instrumentos tributários para “o atingimento de finalidades não
arrecadatórias, mas sim, incentivadoras ou inibidoras de comportamentos, com vista à
realização de outros valores, constitucionalmente contemplados” 6 . Daí é que o interesse
manifestado com a extrafiscalidade é o de correção de situações sociais ou econômicas
anômalas. Segundo Hugo de Brito Machado, “o tributo é
extrafiscal quando seu objetivo principal é a interferência no domínio econômico, para
buscar um efeito diverso da simples arrecadação de recursos financeiros” 7.

29. A extrafiscalidade, portanto, deve ser analisada ante a premissa de ser


a atuação legítima do legislador na criação ou gradação do ônus de um determinado tributo a
partir de sua finalidade imediata regulatória (extrafiscal), que se sobressai em relação ao
objetivo tópico e primordial da tributação que é a arrecadação de recursos para o Erário (função
fiscal). Nessa linha são os seguintes entendimentos doutrinários: “a extrafiscalidade traduz-se
no conjunto de normas que, embora formalmente integrem o direito fiscal, tem por finalidade
principal ou dominante a consecução de determinados resultados econômicos ou sociais
através da utilização do instrumento fiscal e não a obtenção de receitas para fazer frente às
despesas públicas” 8 , e “há extrafiscalidade quando o legislador, em nome do interesse
coletivo, aumenta ou diminui as alíquotas e/ou as bases de cálculo dos tributos, com o objetivo
principal de induzir os contribuintes a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa” 9

5
COSTA, Regina Helena. Curso de Direito Tributário: Constituição e Código Tributário Nacional, 3ª ed. rev.,
atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 68
6
ATALIBA, Geraldo. IPTU: Progressividade. Revista de Direito Público. São Paulo, n. 93, jan/mar, 1990, p. 233.
7
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 33 ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2012, p. 129.
8
NABAIS, José Casalta. O dever fundamental de pagar impostos: contributo para a compreensão constitucional
do estado fiscal contemporâneo. Coimbra: Almedina, 1998, p. 629.
9
CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de direito constitucional tributário. 29. ed. São Paulo: Malheiros, 2013, p.
93.
11
30. Portanto, somente pode se dizer de extrafiscalidade tributária quando
se presta para a intervenção estatal na economia através da disciplina de condutas, possuindo
caráter regulatório. Ou seja: quando a função fiscal não é prioritária. Trata-se da análise do
caráter finalístico do tributo, ou seja, à luz de suas consequências, dos efeitos que procura
produzir. Nas palavras do Ministro Eros Roberto Grau, citando von Jhering, “a finalidade é o
criador de todo o direito e não existem norma ou instituto jurídico que não deva sua origem a
uma finalidade” 10.

31. Pois bem. Fixadas as premissas teóricas, no caso do Imposto de


Exportação – IE (artigo 153, inciso II e § 1º, da Constituição da República, e Artigo 23 a 28
do Código Tributário Nacional - CTN), trata-se de tributo de função precipuamente
extrafiscal, que serve como instrumento da atuação da União no controle do comércio
exterior e ajuste da política cambial. Confira-se os dispositivos de regência:

CRFB/88
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
(...)
II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou
nacionalizados;
(...)
§ 1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os
limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos
enumerados nos incisos I, II, IV e V.

Código Tributário Nacional - CTN


Art. 26. O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites
estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do
imposto, a fim de ajustá-los aos objetivos da política cambial e do
comércio exterior.
(...)
Art. 28. A receita líquida do imposto destina-se à formação de reservas
monetárias, na forma da lei.

32. Deve ser destacado, ainda, que art. 150, § 1º, da Constituição da
República expressamente prevê outra importantíssima característica relacionada ao Imposto
sobre Exportação: a inaplicabilidade das cláusulas pétreas da anterioridade (clássica ou
nonagesimal) previstas pelo art. 150, III, “b” e “c” da CRFB/88, de forma que, dentro dos

10
GRAU, Eros Roberto. Por que tenho medo dos juízes: a interpretação/aplicação do direito e os princípios. 6. ed.
São Paulo: Malheiros Editores, 2013, p.
12
limites inerentes à sua função e finalidade, a sua instituição ou majoração, bem como a eventual
cassação de benefícios pode ocorrer a qualquer tempo por ato facultativo do Poder Executivo.
Confira-se:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
III - cobrar tributos:
(...)
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que
os instituiu ou aumentou;
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada
a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b;
(...)
§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos
arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não
se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154,
II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155,
III, e 156, I.
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
(...)
II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou
nacionalizados;
(...)
§ 1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites
estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos
incisos I, II, IV e V.

33. Consectariamente, o Imposto sobre a Exportação – IE pode ser


utilizado, na conformação de instrumento da extrafiscalidade, visando a regulação de política
de preços, controle do comércio exterior e ajuste da política cambial, de sorte que, justamente
por não ostentar finalidade arrecadatória, a Constituição expressamente permitiu sua
mitigação ao princípio da legalidade tributária estrita e a sua desvinculação ao princípio
da anterioridade tributária do exercício e nonagesimal.

34. E, aqui, a mens legis vinculada ao Imposto de Exportação – e a


desvinculação ao princípio da anterioridade tributária do exercício e nonagesimal – é simples:
por se tratar de instrumento essencial para a União regular o comércio exterior brasileiro –
função regulatória –, permitiu-se a alteração de alíquotas por ato do Executivo e a exceção ao
princípio da anterioridade, já que premente a necessidade de proteção à economia brasileira.
Por outro lado, partindo da máxima que não se pode exportar imposto, a tributação da
exportação torna o produto mais caro, com a consequente diminuição da capacidade de
13
competição no mercado globalizado internacional, de sorte que a instituição do referido imposto
para fins arrecadatórios confira inconstitucional desvio de finalidade, em manifesta ofensa ao
princípio da segurança jurídica, da previsibilidade e da anterioridade vinculada aos tributos de
natureza arrecadatória.

35. Incorpora-se, assim, de forma flagrante, o caráter extrafiscal que


permeia o Imposto sobre a Exportação, que tem por finalidade principal ou, no mínimo,
dominante, a consecução de determinados resultados econômicos – ou mesmo sociais -
através da utilização do instrumento fiscal e não a característica de se revelar como fonte
de receita para fazer frente às despesas públicas.

36. Deveras, não obstante a extrafiscalidade do Imposto de Exportação


possa motivar restrição à legalidade tributária estrita e ao princípio constitucional da
anterioridade tributária, as hipóteses de atenuação desses princípios, por constituírem garantias
fundamentais do contribuinte contra os interesses fiscais do Estado, são unicamente aquelas
previstas no texto da Constituição e estritamente para fins extrafiscais regulatórios, não
podendo, de forma alguma, servir de fonte de receita para custear despesas estatais (i.e.,
objetivo principal arrecadatório).

37. É que, caso se admitisse ao Poder Executivo, através de Medida


Provisória, a instituição de impostos com objetivo diretamente arrecadatório, mas travestidos
de impostos extrafiscais, permitir-se-ia manobra flagrantemente inconstitucional, utilizada
unicamente para desviar a obrigatoriedade do respeito ao princípio da anterioridade tributária,
restringindo direitos estabelecidos na Carta Magna sem qualquer respaldo.

38. Fossem admissíveis tais atenuações àquela garantia dos cidadãos, em


vez de conceder-se maior eficácia à cláusula pétrea da anterioridade tributária estabelecida no
art. 150, III, “b” e “c”, estar-se-ia, por mitigação infraconstitucional do princípio, a defender
unicamente interesses fiscais, sem fundamento constitucional.

39. In casu, conforme narrado, no dia 28 de fevereiro de 2023, data em que


venceria o prazo fixado para a MP 1.157/2023 para a desoneração dos combustíveis, o
Presidente da República editou nova Medida Provisória – MP 1.163, de 28/02/2023.
14
40. Referida norma recompõe parcialmente a cobrança da
Contribuição para o PIS/Pasep, da Cofins e da Cide quando incidentes sobre operações
com álcool, gasolina (exceto gasolina de aviação), querosene de aviação e gás natural
veicular, isentos desde o ano passado, até 30 de junho de 2023.

41. Destarte, ao manter parcialmente a desoneração dos combustíveis,


a Exposição de Motivos elaborada pelo Ministro da Fazenda - Ofício EM nº 00026/2023
MF –, expressamente reconhece que a “medida em tela ocasiona redução de receitas
tributárias estimada em R$ 6,61 bilhões (seis bilhões, seiscentos e dez milhões de reais)”.

42. Dito isso, e aqui está a flagrante inconstitucionalidade ora


questionada, o Poder Executivo, visando compensar a redução das receitas referidas,
impôs a criação de uma nova FONTE DE RECEITA para custeá-las: o Imposto sobre a
Exportação – IE de petróleo bruto, com base na alíquota de 9,2% (art. 7º da MP
1.163/2023).

43. Eis o teor do art. 7º da MP 1.163/2023, ora impugnado, que cria o


Imposto de Exportação sobre o petróleo: “Art. 7º Fica estabelecida, até 30 de junho de 2023,
em nove inteiros e dois décimos por cento a alíquota do imposto de exportação incidente sobre
as exportações de óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos, classificados no código
2709 da NCM”.

44. Ocorre que a criação do Imposto sobre a Exportação – IE sobre o


petróleo através da MP 1.163/2023 ostenta FINALIDADE EXCLUSIVAMENTE
ARRECADATÓRIA, desvirtuando a finalidade constitucional do imposto extrafiscal e
em manobra para esquivar, de forma vedada pela CRFB/88, a incidência do princípio
constitucional da anterioridade tributária.

45. E isso está muito claro na Exposição de Motivos da Medida


Provisória. É que, ao mesmo tempo em que explicita a perda de arrecadação oriunda da
desoneração de combustíveis – “a medida em tela ocasiona redução de receitas tributárias
estimada em R$ 6,61 bilhões (seis bilhões, seiscentos e dez milhões de reais” –, descreve
nova fonte de receita, com valor equivalente, a partir do advento do imposto de
15
exportação em questão – “a medida ora proposta eleva a alíquota do imposto de exportação
incidente sobre as exportações de óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos,
classificado no código 2709 da Nomenclatura Comum do Mercosul – NCM, cujo impacto
financeiro positivo, nos termos da Nota Cetad/Coest nº 025, de 28 de fevereiro de 2023, é da
ordem de R$ 6,65 bilhões (seis bilhões, seiscentos e cinquenta milhões de reais)”. Confira-se:

EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS DA MP 1.163/2023


OFÍCIO EM Nº 00026/2023 MF
(...)

46. Deveras, ainda que a Exposição de Motivos busque justificar que o


valor de renúncia fiscal já estaria previsto na Lei Orçamentária Anual de 2023, a interconexão
entre a redução de receitas em R$ 6,61 bilhões e a criação de uma fonte de custeio de R$ 6,65
bilhões é inquestionável. Portanto, a medida concretiza nítido conflito com o caráter extrafiscal
do Imposto de Exportação – IE, que não se presta como instrumento para cobrir o déficit público
(exclusiva natureza arrecadatória), incidindo em flagrante ultraje à natureza constitucional do
imposto em referência e aos seus consectários de exceção ao mandamento da anterioridade
tributária.
16
47. Aliás, além do texto expresso da Medida Provisória e de sua Exposição
de Motivos, a nítida intenção de utilizar inconstitucionalmente o Imposto de Exportação de
óleos brutos de petróleo exclusivamente como fonte de custeio para recompor o déficit
arrecadatório com a desoneração parcial dos combustíveis foi confessada pelo Ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista coletiva concedida no próprio dia 28/02/2023, data
da edição da MP 1.163/2023. Na ocasião, afirmou o Ministro que o Governo Federal “resolveu
recompor essa diferença pelos próximos quatro meses aplicando o imposto de exportação
sobre o óleo cru, para a recomposição daquilo que havia sido previsto 28 de janeiro”. Confira-
se:
“(...) para compensar essa diferença entre os R$ 0,69 de maio ano
passado, mais os R$ 0,47 desse ano, pelos próximos 4 meses, mais os
R$ 0,24 mais os R$ 0,02 do etanol, o Ministério das Minas e Energia,
fez uma na análise por recomendação da Casa Civil e RESOLVEU
RECOMPOR ESSA DIFERENÇA PELOS PRÓXIMOS QUATRO
MESES APLICANDO O IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO SOBRE O
ÓLEO CRU, PARA A RECOMPOSIÇÃO daquilo que havia sido
previsto 28 de janeiro. Ao final de 4 meses, o Congresso Nacional vai
deliberar, quando da aprovação ou da caducidade da Medida
Provisória, o retorno de R$ 0,47 para R$ 0,69 e de R$ 0,02 para R$
0,24 ou a manutenção do imposto de exportação. É isso que está sendo
endereçado para o Congresso Nacional. Mas a MP só prevê 4 meses
de imposto sobre a exportação de óleo cru, para cumprimento dos
compromissos assumidos por mim e pelo Presidente da República, no
dia 12 de janeiro de 2023, com vistas a concluir o ano com um déficit
inferior a 1%”. 11

48. Da mesma forma, o secretário extraordinário da Reforma Tributária do


Ministério da Fazenda, Bernard Appy, afirmou, em evento do Consórcio de Integração Sul e
Sudeste (Cosud) 12, que a criação do Imposto sobre a Exportação do petróleo, realizada pela MP
1.163/2023 como forma de compensar a reoneração parcial de PIS/Cofins sobre os
combustíveis, foi feita para “fechar a conta”.

49. Portanto, como expressamente consignado na Exposição de Motivos da


MP 1.163/2023, e confessado pelo próprio Ministro da Fazenda e pelo secretário extraordinário
da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, o objetivo do Governo Federal no caso
concreto foi exclusivamente arrecadatório, desvirtuando a finalidade constitucional de

11
https://www.youtube.com/watch?v=qtjdgj4aHw4
12
https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2023/03/appy-admite-que-imposto-sobre-exportacao-de-petroleo-
e-para-fechar-conta.ghtml
17
extrafiscalidade do tributo e de sua consequente mitigação da cláusula pétrea da
anterioridade tributária.

50. Conforme já evidenciado nas premissas teóricas anteriormente


delineadas, o Imposto sobre Exportações previsto constitucionalmente é considerado tributo
regulatório, sem finalidades propriamente fiscais. E justamente por se tratar de tributo dotado
de extrafiscalidade é que a Constituição da República o excepcionou do cumprimento dos
princípios da anterioridade anual e nonagesimal.

51. De fato, com o objetivo de esquivar-se, ainda que


inconstitucionalmente, dos princípios da anterioridade (cláusula pétrea), da
previsibilidade e da segurança jurídica, o Presidente da República, através do art. 7º da
MP 1.163/2023, impõe, com aplicabilidade imediata, um tributo de natureza extrafiscal,
regulatório, com expressa e exclusiva finalidade arrecadatória, de modo a criar uma fonte
de custeio e compensar a desoneração parcial dos combustíveis, a revelar a flagrante
inconstitucionalidade material da manobra legal adotada.

52. Consectariamente, a mens legis da norma ora impugnada é desvirtuar a


essência do Imposto de Exportação – IE, para, utilizando-se de sua natureza extrafiscal e de sua
aplicabilidade imediata, atingir expressa e exclusiva finalidade arrecadatória e, ainda, com
destinação de recursos vinculada.

53. Em palavras mais simples: a justificativa do governo para


instituição do imposto sobre exportação é exclusivamente fiscal, arrecadatória, de modo
que há claríssima e inconstitucional utilização de um expediente predominantemente
extrafiscal – com mitigação da cláusula pétrea da anterioridade tributária – para fins
exclusivamente fiscais. É disso que se cuida.

54. Com efeito, ao desvirtuar a essência do Imposto de Exportação,


estabelecendo uma finalidade arrecadatória, tem-se na realidade a estipulação de uma
Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico – CIDE travestida de Imposto de
Exportação, malabarismo jurídico feito justamente por se saber que a Cide não pode ser
instituída sobre receitas de exportação de acordo com a Constituição Federal.
18
55. Isso porque a EC 33/2001 elevou ao status de imunidade constitucional
a isenção já prevista em normas infralegais, através do art. 149, § 2°, I, da Constituição da
República, in verbis:

CRFB/88
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua
atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III,
e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente
às contribuições a que alude o dispositivo.
(...)
§ 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico
de que trata o caput deste artigo:
I - não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação;

56. Dessume-se da norma constitucional que a desoneração ampla das


exportações tem o escopo de conferir efetividade ao objetivo fundamental da República
Federativa do Brasil de garantia do desenvolvimento nacional (art. 3º, II, da CRFB/88), de onde
se extrai a premissa de que a tributação sobre exportação deve ser sempre excepcional,
justamente para garantir a maior competitividade no mercado internacional,
desonerando e estimulando as exportações!

57. Destaque-se, por oportuno, a exposição de motivos da Emenda


Constitucional EC 33/2001, em que resta evidenciado o propósito desonerativo amplo das
exportações, com destaque específico para o petróleo, in verbis: “Com a proximidade da
total liberalização do mercado nacional relativo ao petróleo e ao gás natural, tomam-se
necessárias as alterações propostas, como única forma de se evitar distorções de natureza
tributária entre o produto interno e o importado, em detrimento daquele, que fatalmente
ocorrerão se mantido o ordenamento jurídico atual. Assim, adotada a presente proposta,
poder-se-á se implementar, sem nenhum obstáculo de natureza constitucional, uma forma
de tributação dos referidos produtos que garanta a plena neutralidade tributária”. (Diário
da Câmara dos Deputados, 16.08.2008).

58. Essa a razão pela qual esse e. Supremo Tribunal Federal entende que a
desoneração constitucional do Imposto de Exportação deve ser interpretada de forma ampla,
19
como se vê do julgamento do RE 627.815/PR, de relatoria da Min. Rosa Weber, leading case
julgado sob a afetação da Repercussão Geral da matéria, o “legislador constituinte - ao
contemplar na redação do art. 149, § 2º, I, da Lei Maior as “receitas decorrentes de
exportação” – conferiu maior amplitude à desoneração constitucional, suprimindo do
alcance da competência impositiva federal todas as receitas que resultem da exportação, que
nela encontrem a sua causa, representando consequências financeiras do negócio jurídico
de compra e venda internacional”. Em sequência, assim concluiu essa e. Corte: “A intenção
plasmada na Car ta Política é a de desoner ar as expor tações por completo, a fim de que as
empr esas br asileir as não sejam coagidas a expor tar em os tr ibutos que, de outr a for ma,
oner ar iam as oper ações de expor tação, quer de modo dir eto, quer indir eto” . O acórdão
restou assim ementado:

EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL.


TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE. HERMENÊUTICA. CONTRIBUIÇÃO
AO PIS E COFINS. NÃO INCIDÊNCIA. TELEOLOGIA DA NORMA.
VARIAÇÃO CAMBIAL POSITIVA. OPERAÇÃO DE EXPORTAÇÃO. I
- Esta Suprema Corte, nas inúmeras oportunidades em que debatida a
questão da hermenêutica constitucional aplicada ao tema das
imunidades, adotou a interpretação teleológica do instituto, a
emprestar-lhe abrangência maior, com escopo de assegurar à norma
supralegal máxima efetividade. II - O contrato de câmbio constitui
negócio inerente à exportação, diretamente associado aos negócios
realizados em moeda estrangeira. Consubstancia etapa inafastável do
processo de exportação de bens e serviços, pois todas as transações
com residentes no exterior pressupõem a efetivação de uma operação
cambial, consistente na troca de moedas. III – O legislador
constituinte - ao contemplar na redação do art. 149, § 2º, I, da Lei
Maior as “receitas decorrentes de exportação” - conferiu maior
amplitude à desoneração constitucional, suprimindo do alcance da
competência impositiva federal todas as receitas que resultem da
exportação, que nela encontrem a sua causa, representando
consequências financeiras do negócio jurídico de compra e venda
internacional. A intenção plasmada na Carta Política é a de
desonerar as exportações por completo, a fim de que as empresas
brasileiras não sejam coagidas a exportarem os tributos que, de outra
forma, onerariam as operações de exportação, quer de modo direto,
quer indireto. IV - Consideram-se receitas decorrentes de exportação
as receitas das variações cambiais ativas, a atrair a aplicação da regra
de imunidade e afastar a incidência da contribuição ao PIS e da
COFINS. V - Assenta esta Suprema Corte, ao exame do leading case, a
tese da inconstitucionalidade da incidência da contribuição ao PIS e
da COFINS sobre a receita decorrente da variação cambial positiva
obtida nas operações de exportação de produtos. VI - Ausência de
20
afronta aos arts. 149, § 2º, I, e 150, § 6º, da Constituição Federal.
Recurso extraordinário conhecido e não provido, aplicando-se aos
recursos sobrestados, que versem sobre o tema decidido, o art. 543-B,
§ 3º, do CPC.
(RE 627815, Relator(a): ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado em
23/05/2013, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe 01-10-2013).

59. A análise da tributação no comércio exterior também traz como


premissa básica o princípio do país de destino, para que os bens e serviços sejam tributados
exclusivamente no país onde ocorre a importação, com as exportações desoneradas, sendo
esse o esse princípio que garante que o país não exporte tributos, perdendo sua capacidade
de competir em condição de igualdade no mercado internacional. Nessa linha são as
clássicas advertências de Misabel Derzi no clássico trabalho atualizado de Aliomar Baleeiro,
“Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar”, em que se ressalta o objetivo do constituinte
de manter “uma política destinada a impedir ou atenuar a exportação de impostos”.

60. Com isso, além de agredir o princípio do país de destino e onerar


excessivamente a competitividade nacional forçando as empresas a exportar tributos –
considerando que o Brasil é um país dependente da importação de derivados de óleo cru –, na
realidade o que a MP faz é justamente aumentar indiretamente os preços e carga tributária no
País, pois futuramente o Brasil também vai importar os derivados pagando um valor aumentado
justamente pela tributação na origem. É evidente que o importador do óleo cru futuramente
exportará para o Brasil os derivados acrescidos do tributo e do efeito cascata que isso gerará.

61. De toda forma, só haveria que se falar do caráter extrafiscal na criação


do Imposto de Exportação se, ao desestimular a exportação de óleo cru, fosse criado extenso
programa para que todo o refino desse produto ocorresse internamente e fosse transformado em
combustível, o que não é a intenção do Governo Federal, especialmente quando se verifica que
o imposto foi criado pelo curto prazo de 4 meses, o que é absolutamente insuficiente para
qualquer mudança na estrutura interna de produção do País.

62. Portanto, é inequívoco que o desvirtuamento inconstitucional da


função extrafiscal do Imposto de Exportação – IE, que teve como único objetivo escapar
das cláusulas pétreas da anterioridade anual e nonagesimal para alcançar de forma
imediata a anunciada arrecadação de R$ 6,65 bilhões, como fonte de custeio para a
21
desoneração interna dos combustíveis, o que representa uma forte e indevida intervenção
na economia de mercado, com consequências deletérias nos investimentos estrangeiros e
sobre o funcionamento do setor de petróleo e derivados no Brasil.

63. Destaque-se, por essencial, as sempre brilhantes lições do Ministro


Celso de Mello ao proferir seu voto na ADI 4661 MC, plenamente aplicáveis ao caso sub
examine: “os desvios inconstitucionais do Estado, no exercício do seu poder de tributar,
geram, na ilegitimidade desse comportamento do aparelho governamental, efeitos perversos,
que, projetando-se nas relações jurídico-fiscais mantidas com os contribuintes, deformam os
princípios que estruturam a ordem jurídica, subvertem as finalidades do sistema normativo
e comprometem a integridade e a supremacia da própria Constituição da República”.

64. De fato, como bem destacado pelo Ministro Celso de Mello, a prática
das competências impositivas por parte das entidades políticas investidas da prerrogativa de
tributar não pode caracterizar-se como instrumento, que, arbitrariamente manipulado pelas
pessoas estatais, venha a conduzir à destruição ou ao comprometimento da própria ordem
constitucional.

65. Verdadeiramente, a criação do Imposto de Exportação – IE com


exclusivo intuito arrecadatório/fiscal, por intermédio de Medida Provisória com
aplicabilidade imediata, subverte o sistema consagrado pela Constituição da República
de mitigar a aplicação dos princípios da anterioridade quando em foco medidas
exclusivamente regulatórias por intermédio do referido imposto. Daí não se revelar
compatível com pretensões fiscais arrecadatórias criadas com a utilização subversiva do
referido imposto pelo Governo Federal, que, divorciando-se dos parâmetros estabelecidos
pela Lei Magna, busca impor ao contribuinte exportador, de forma absolutamente
açodada, imprevisível e insegura, um estado de submissão tributária absolutamente
inconvivente com os princípios e normas que informam e condicionam a ação das
instâncias governamentais no ambiente tributário.

66. Ademais, além da inconstitucionalidade flagrante, cumpre


esclarecer os efeitos consequenciais da norma ora impugnada, que afeta em maior escala
os Estados produtores de petróleo – com destaque para Rio de Janeiro, Espírito Santo,
22
Rio Grande do Norte e São Paulo –, porquanto ostenta a gravíssima consequência de
afastar investimentos, inclusive internacionais, em exploração e produção de petróleo,
com efeito negativo na arrecadação de tributos estaduais, receitas de royalties,
participação especial de petróleo e dividendos estatais. Isso sem contar a inequívoca
redução de empregos, ante a queda dos incentivos de produção, o consequente
empobrecimento da economia e a crise de confiança e de credibilidade gerada, tanto
nacional quanto internacionalmente.

67. Por todo o exposto, há de ser declarada a inconstitucionalidade material


do art. 7º da Medida Provisória nº 1.163, de 28 de fevereiro de 2023, editada pelo i. Presidente
da República Federativa do Brasil.

V. MEDIDA CAUTELAR.

68. Amplamente demonstrados os fundamentos relevantes da impugnação


(fumus boni iuris), não há maior dificuldade na constatação do inequívoco periculum in mora,
apto a justificar a concessão de medida cautelar (artigo 10, caput e § 3º da Lei nº 9.868/1999),
concernente à imediata suspensão da eficácia do art. 7º da Medida Provisória nº 1.163/2023,
que criou o Imposto sobre a Exportação de petróleo bruto, com base na alíquota de 9,2%, com
finalidade exclusivamente arrecadatória e como fonte de custeio à desoneração dos
combustíveis internos.

69. A plausibilidade jurídica (fumus boni iuris) é revelada por todos os


argumentos declinados nos tópicos anteriores: primeiro, a inconstitucional tentativa de driblar
os postulados da anterioridade (cláusula pétrea), da previsibilidade e da segurança jurídica;
segundo, a inconstitucional utilização do Imposto de Exportação, tributo de natureza
essencialmente extrafiscal/regulatória, para fins exclusivamente arrecadatórios, como se fonte
de custeio fosse; e terceiro, a inconstitucional interferência no livre mercado brasileiro em
nítida violação ao objetivo constitucional de “desonerar as exportações por completo, a fim de
que as empresas brasileiras não sejam coagidas a exportarem os tributos que, de outra forma,

23
onerariam as operações de exportação, quer de modo direto, quer indireto 13 ”, sobretudo
quando se verifica que, no caso sub examine, a norma em comento, na realidade, estipula de
uma Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico – CIDE travestida de Imposto de
Exportação, em nítida violação constitucional.

70. O periculum in mora, por sua vez, também se revela evidente e repousa
em dois pontos bastante específicos. O primeiro deles se refere à atual vigência do dispositivo
inconstitucional, porquanto, tratando-se de norma inserida no ordenamento jurídico por meio
de Medida Provisória, seus efeitos jurídicos se iniciam de imediato, com a publicação do texto
no Diário Oficial da União, o que ocorreu em 1º de março de 2023.

71. O segundo ponto que demonstra a necessidade de imediata intervenção


dessa Suprema Corte é a natureza transitória da norma ora impugnada. Conforme já destacado,
a alíquota do Imposto de Exportação incidente sobre as exportações de óleos brutos de petróleo
ou de minerais betuminosos foi inconstitucionalmente majorada até o dia 30 de junho de 2023,
de modo que não há tempo hábil para que se aguarde a naturalmente morosa marcha processual.

72. A utilidade e a necessidade da medida liminar é, portanto, cristalina.

73. Por outro lado, importante anotar que eventual concessão da tutela
provisória ora requerida não terá o condão de trazer qualquer prejuízo não previsto e/ou
irreparável ao Governo Federal – periculum in mora inverso.

74. Como já restou claramente demonstrado nas razões acima


desenvolvidas, é amplamente reconhecido pelo próprio Governo Federal a tentativa de
utilização da elevação temporária da alíquota do IE – cujo impacto financeiro positivo, nos
termos da Nota Cetad/Coest nº 025, de 28 de fevereiro de 2023, é da ordem de R$ 6,65 bilhões
(seis bilhões, seiscentos e cinquenta milhões de reais) –, para fazer frente à renúncia fiscal
instituída pela Medida Provisória nº 1.157, de 1º de janeiro de 2023, estimada em R$ 6,61
bilhões (seis bilhões, seiscentos e dez milhões de reais).

RE 627815, Relator(a): ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado em 23/05/2013, REPERCUSSÃO GERAL -
13

MÉRITO DJe 01-10-2013.


24
75. Ocorre que, conforme reconhecido pelo próprio Ministro da Fazenda
Fernando Haddad, na Exposição de Motivos nº 26/2023 encaminhada à Presidência da
República, essa renúncia fiscal decorrente das benesses tributárias concedidas pela MP nº
1.157/2023 já estava pr evista na Lei Or çamentár ia Anual de 2023.

76. Portanto, essa expressa previsão lei orçamentária demonstra que


eventual concessão da tutela provisória e imediata suspensão dos efeitos do dispositivo não
trará qualquer prejuízo não previsto e/ou irreparável à economia brasileira.

77. Ora, se a renúncia fiscal de R$ 6,61 bilhões (seis bilhões, seiscentos e


dez milhões de reais) já estava prevista desde a aprovação da LOA/2023, não há dúvidas de que
o Governo Federal jamais contou com essa receita tributária para o corrente ano e, logicamente,
a equipe econômica levou essa circunstância em consideração para a projeção e a consecução
do projeto de recuperação da economia.

78. Não há, portanto, qualquer perigo de a medida acarretar a


desestabilização da economia brasileira.

79. Por fim, a concessão de medida cautelar não teria, em princípio, o


condão de criar lacunas constitucional ou legal ameaçadora, na medida em que, repita-se, a
renúncia da receita tributária decorrente das benesses conferidas pela MP nº 1.163/2023 já
estava prevista na Lei Orçamentária Anual de 2023.

80. Por tais razões, demonstrada, cabalmente, a presença dos requisitos


autorizadores (periculum in mora e fumus boni iuris), a agremiação política requerente requer
a imediata suspensão da vigência do art. 7º da Medida Provisória 1.163/2023, inaudita
altera pars, ao menos até o julgamento final do mérito desta ação.

VI. DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer o Partido Liberal:

(a) seja a presente Ação Direta de Inconstitucionalidade recebida e


processada, com os documentos que a instruem, nos termos das alíneas
25
a e p inciso I do art. 102 e do inciso VIII do art. 103 da Constituição
Federal, bem como do inciso VIII do art. 2º e art. 3º da Lei n.
9.868/1999;
(b) seja imediatamente concedida medida liminar acautelatória,
inaudita altera pars, para suspender os efeitos do art. 7º da Medida
Provisória 1.163/2023 até o julgamento final da presente Ação
Direta de Inconstitucionalidade, na forma dos artigos 10 e 11 da Lei
nº 9.868/1999;
(c) subsidiariamente, seja impresso ao feito o trâmite sumarizado previsto
no art. 12 da Lei n. 9.868/1999;
(d) sejam solicitadas informações à Presidência da República, e sejam
ouvidos, ainda, o Advogado-Geral da União e o Procurador-Geral da
República, em consonância com os artigos 6º e 8º da Lei nº 9.868/1999;
(e) seja, ao final, julgado procedente o pedido e declarada, em
definitivo, a inconstitucionalidade do art. 7º da Medida Provisória
nº 1.163, de 28 de fevereiro de 2023.

Requer, outrossim, que as publicações sejam feitas, exclusivamente, no


nome do advogado MARCELO LUIZ ÁVILA DE BESSA (OAB/DF 12.330), sob pena de
nulidade.

Atribui-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais).

Termos em que, pede e espera deferimento.

Brasília/DF, 08 de março de 2023.

26

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