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INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA

DEPARTAMENTO DE CIENCIAS SOCIAIS


CURSO: DIREITO

DISCIPLINA: ÉTICA DEONTOLÓGICA JURÍDICA

A ÉTICA DO JUIZ DE DIREITO

CAXITO- BENGO
2022-2023
INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA

ÉTICA DO JUIZ DE DIREITO

Trabalho científico apresentado a professora:


Arminda Gaspar, na cadeira de Ética
Deontológica Jurídica, como requisito necessário
para avaliação, no Curso de Direito.

ESTUDANTE: ÓSCAR DA CONCEIÇÃO DOMINGOS


4º ANO

PERÍODO: PÓS LABORAL

CAXITO - BENGO
2022-2023
ÍNDICE

RESUMO...............................................................................................................................1

1- INTRODUÇÃO.................................................................................................................2

2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.....................................................................................3

2.1- Ética.............................................................................................................................3

2.1.1- Dilema......................................................................................................................3

3- ÉTICA PROFISSIONAL..................................................................................................4

4- ÉTICA DO JUIZ DE DIREITO........................................................................................4

5- DEVERES DO JUIZ DE DIREITO..................................................................................6

5.1- Desvios Éticos.............................................................................................................7

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................8

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................9
RESUMO

Identifica e analisa a ética do juiz de direito, a partir da abordagem e definição de


ética, dilema e ética profissional. Apresenta deveres e desvios relacionados à carreira da
magistratura. Foi realizada pesquisa bibliográfica em livros e internet para a busca de
dados concernentes ao presente estudo.

Palavras-chave: Ética profissional. Juiz de direito. Deveres. Desvios éticos.

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1- INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende fazer algumas reflexões sobre os princípios éticos que
devem ser observados pelo juiz de direito, porquanto sujeito pacificador da sociedade.
Frequentemente nos chegam notícias da mídia a respeito de juízes, desembargadores e até
ministros envolvidos em falcatruas, a exemplo de venda de sentenças, desvio de dinheiro
público e fraudes no pagamento de precatórios.

Tais episódios fazem com que a sociedade nutra um preocupante sentimento de


descrédito pelo Poder Judiciário, de muito já abalado pela sua morosidade na resolução das
lides.

O magistrado - protagonista de elevada importância para a manutenção do Estado


Democrático de Direito, precisa ser respeitado pela coletividade, e, para tanto, haverá de
ser virtuoso pessoal e profissionalmente, devendo ter em si, internalizados, os valores e
princípios éticos imprescindíveis ao exercício do seu mister.

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2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1- Ética

Segundo Cortella (2010, p.106-110), a ética é o conjunto de princípios e valores da


nossa conduta na vida junta, na vida em condomínio. É aquilo que orienta os seres
humanos no que concerne à capacidade de decidir, julgar e avaliar, pressupondo, portanto,
liberdade.

Nessa perspectiva, diz que enquanto o exercício prático da conduta no dia-a-dia


chama-se conduta moral, a ética consiste nos princípios que orientam essa referida
conduta, residindo, assim, mais no campo teórico. Alerta ainda que:

Não existe “falta de ética”. Essa expressão é equivocada, talvez o que se queira
dizer é: “Isto é antiético”, algo contrário a uma ética que esse grupo compartilha e aceita.
Posso dizer que um bandido tem ética? Posso. Ele tem princípios e valores para decidir,
avaliar, julgar. O que eu posso dizer é que a ética que ele tem é contrária à minha e à sua.
Então, é antiético. Não confunda a ética isto é, aquele a quem não se aplica a questão da
ética – com antiético (CORTELLA, 2010, p. 109).

No mesmo sentido, Leonardo Boff (2003) assevera que há muita confusão acerca
das distinções entre o que é ética e o que é moral, esclarecendo que na linguagem comum e
mesmo culta, ética e moral são sinônimos, razão pela qual se diz: "aqui há um problema
ético" ou "um problema moral". Segundo o autor, com isso emitimos um juízo de valor
sobre alguma prática pessoal ou social, se boa, se má ou duvidosa.

2.1.1- Dilema

Nas lições de Cortella (2010, p. 107-111) ocorre o dilema quando é preciso que
alguém decida “sim ou não”, mas esse alguém que tem que decidir quer os dois, sendo
apenas uma das opções, contudo, eticamente correta. Chega a exemplificar o autor com a
hipótese de um empresário que para evitar a diminuição da produção em sua usina e a
redução da sua lucratividade precisa desembaraçar no porto uma determinada peça, sendo
que, se for seguido o trâmite normal do desembaraço, essa peça essencial não estará
liberada antes de seis meses. Contudo, existe a chamada “taxa de facilitação”.

Com a lucidez que lhe é peculiar, afirma o citado filósofo que a lógica que alguns
usam para responder o questionamento proposto é a necessidade de criar futuro, supondo

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eles que “esse sistema de apodrecimento das relações de negócio cada dia aumenta mais e,
num determinado momento, vai desabar”. Assevera que os dilemas que nós vivemos serão
mais facilmente superados quanto mais sólidos forem os princípios que tivermos e a
preservação da integridade que desejamos.

3- ÉTICA PROFISSIONAL
Conforme assinala João Baptista Herkenhoff (2010), a ética não brota espontânea.
É fruto de um esforço do espírito humano para estabelecer princípios que iluminem a
conduta das pessoas, grupos, comunidades, nações, segundo um critério de Bem e de
Justiça. Ressalta que toda profissão tem sua ética, a exemplo do motorista que deve ser
reservado quanto ao que ouve dentro do carro quando transporta seus clientes; o
comerciante que deve cobrar o justo preço pelas mercadorias que vende; o enfermeiro que
deve tratar com respeito o corpo do enfermo, e o advogado que deve ser fiel ao patrocínio
dos direitos do seu constituinte.

Afirma Cristiane Yuka (2008), que “muitos autores definem a ética profissional
como sendo um conjunto de normas de conduta que deverão ser postas em prática no
exercício de qualquer profissão”. Diz, ainda, que seria a ação "reguladora" da ética agindo
no desempenho das profissões, fazendo com que o profissional respeite seu semelhante
quando no exercício da sua profissão.

Para Yuka (2008), a ética profissional estuda e regula o relacionamento do


profissional com sua clientela, visando a dignidade humana e a construção do bem-estar no
contexto sócio-cultural onde exerce sua profissão, de sorte que atinge todas as profissões,
sendo que, quando falamos de ética profissional, segundo a autora, estamos nos referindo
ao caráter normativo e até jurídico que regulamenta determinada profissão, a partir de
estatutos e códigos específicos.

4- ÉTICA DO JUIZ DE DIREITO


Rosana Soibelmann Glock e José Roberto Goldim (2003) ensinam que a fase da
escolha profissional deve ser permeada pela reflexão sobre quais as ações serão necessárias
realizar quando do exercício da prática profissional. Sustentam ainda que:

A escolha por uma profissão é optativa, mas ao escolhê-la, o conjunto de deveres


profissionais passa a ser obrigatório. Geralmente, quando você é jovem, escolhe sua

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carreira sem conhecer o conjunto de deveres que está prestes a assumir tornando-se parte
daquela categoria que escolheu.

Toda a fase de formação profissional, o aprendizado das competências e


habilidades referentes à prática específica numa determinada área, deve incluir a reflexão,
desde antes do início dos estágios práticos. Ao completar a formação em nível superior, a
pessoa faz um juramento, que significa sua adesão e comprometimento com a categoria
profissional onde formalmente ingressa. Isto caracteriza o aspecto moral da chamada Ética
Profissional, esta adesão voluntária a um conjunto de regras estabelecidas como sendo as
mais adequadas para o seu exercício (GLOCK; GOLDIM, 2003).

Conforme assinala os autores, as leis de cada profissão são elaboradas com o


objetivo de proteger os profissionais, a categoria como um todo e as pessoas que dependem
daquele profissional, mas há muitos aspectos não previstos especificamente e que fazem
parte do comprometimento do profissional em ser eticamente correto.

No que toca a magistratura, ensina o ilustre professor Herkenhoff (2010) que a ética
do magistrado é mais que uma ética profissional, diz que a magistratura é mais que uma
profissão, a ponto de afirmar que: A sociedade exige dos magistrados uma conduta
exemplarmente ética. Atitudes que podem ser compreendidas, perdoadas ou minimizadas,
quando são assumidas pelo cidadão comum, essas mesmas atitudes são absolutamente
inaceitáveis quando partem de um magistrado (HERKENHOFF, 2010).

Nas lições de Nancy Andrighi (2001), ao ser investido nas funções jurisdicionais o
juiz agrega ao seu ser a responsabilidade da imagem da instituição que representa, de sorte
que a imagem do homem-juiz, no ser, no estar e no participar, sempre estará de forma
indissolúvel e permanente associada a do Poder Judiciário. E chega a afirmar que:

O juiz é um espelho social onde o jurisdicionado se mira e encontra justificativas


para agir de tal e qual forma, isto porque, no seu modo de ver crítico é permitido concluir
que “se o juiz assim age, mais do que nunca eu, que sou um simples cidadão, posso fazê-
lo”. (ANDRIGHI, 2001).

Com o brilhantismo que lhe é peculiar, aduz a ministra que a função precípua do
juiz é ser o pacificador social e, para tanto, precisa ser respeitado pela colectividade.
Destaca pontos que tocam a ética na magistratura, a exemplo da necessidade de uma nova
postura para apagar a notícia que transita nos meios forenses, de que é mais fácil ser

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recebido por um Ministro de Tribunal Superior, do que ser atendido por um juiz de direito,
bem assim, ressalta que o juiz ético é aquele adequado a seu tempo, rente aos fatos e
principalmente rente à vida, que nunca olvida que atrás de cada página do processo está um
cidadão aflito aguardando a sua decisão.

No mesmo sentido, José Soares Filho aduz que os juízes representam, para a
sociedade, modelos de cidadãos que devem encarnar o referencial maior da justiça pela
qual anseiam todos os homens, razão pela qual deles se espera e se cobra um
comportamento segundo os padrões éticos que enriquecem o espírito humano. Afirma
ainda que:

Cristalizou-se em nossa cultura a ideia do juiz como um super-homem, intangível,


dotado de poderes quase sobrenaturais, posicionado acima do bem e do mal. Isso porque
ele exerce uma profissão excelsa, que de certo modo encerra atributos do próprio Deus. A
propósito, disse Carnelutti: "No mais alto da escala está o juiz. Não existe um ofício mais
elevado que o seu, nem uma dignidade mais imponente. Os juízes são como os que
pertencem a uma ordem religiosa. Cada um deles tem que ser um exemplo de virtude, se
não quer que os crentes percam a fé". (SOARES FILHO).

5- DEVERES DO JUIZ DE DIREITO


Segundo Wilclem de Lázari Araujo (2011), os nortes principais dos deveres e
preceitos éticos da magistratura são encontrados no artigo 93 da CF, na LOMAN (Lei
Orgânica da Magistratura Nacional) e no Código de Ética da Magistratura Nacional, este
último editado pelo Conselho Nacional de Justiça.

Assevera o autor que o constituinte se preocupou com critérios éticos para a


magistratura ao estabelecer acerca do ingresso na carreira mediante concurso de provas e
títulos, após completados três anos de prática jurídica; a ascensão da carreira pelos critérios
de merecimento e antiguidade; a residência na comarca onde atua, salvo autorização do
Tribunal; a dedicação exclusiva à profissão; a imparcialidade e igualdade de atenção no
exame das causas; a abstenção política; a fundamentação das decisões; a vedação de
recebimento de contribuições pecuniárias de pessoas físicas ou jurídicas, em razão da
função e a vedação de advogar no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos
três anos.

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Nessa esteira, prossegue Araújo (2011) dizendo que o Código de Ética da
Magistratura Nacional elenca os grandes elementos a serem seguidos pelos magistrados no
exercício da profissão, quais sejam: a independência, a imparcialidade, a transparência, a
integridade pessoal e profissional, a diligência e dedicação, a cortesia, a prudência, o sigilo
profissional, o conhecimento e a capacitação, a dignidade, a honra e o decoro.

Percebe-se, assim, que o Conselho Nacional de Justiça ao aprovar e editar o Código


de Ética da Magistratura Nacional, o fez cônscio de que é fundamental para a magistratura
brasileira cultivar princípios éticos, pois cabe aos juízes também a função educativa e
exemplar de cidadania em face dos demais grupos sociais, entendendo a essencialidade de
os magistrados incrementarem a confiança da sociedade em sua autoridade moral,
fortalecendo a legitimidade do Poder Judiciário através da excelência da prestação dos
serviços públicos e da distribuição da justiça.

5.1- Desvios Éticos

Segundo Antônio Sebastião de Lima, os magistrados, assim como os demais seres


humanos, estão sujeitos a idiossincrasias. Aduz o ilustre professor que a diferença consiste
no fato de que, pela sua posição e relevante função no Estado e na Sociedade, os
magistrados esforçam-se por manter sua conduta dentro de um padrão ético, cujas regras
vêm positivadas na lei orgânica da magistratura, nos códigos de organização judiciária e
nos códigos de processo. Prossegue o autor dizendo que, de quando em vez, deparamo-nos
com algum magistrado, tanto em tribunal ordinário como em tribunal superior, que foge
daquele padrão ético esperado. E chega a afirmar que:

Os motivos que levam o magistrado ao desvio ético podem ser: 1) de ordem


econômica, nem sempre em proveito próprio ou de seus familiares, mas, por simpatia às
classes abastadas (banqueiros, usineiros, fazendeiros, industriais, empresários do ensino e
do setor de transportes); 2) de ordem social, para demonstrar prestígio, marcar presença na
mídia e inflar o próprio ego; 3) de ordem política, quando atua dentro do Judiciário, como
a longa manus do Poder Executivo ou de um partido com quem tenha afinidade ideológica.

Portanto, no meio forense são conhecidos os fazendários, apelido que se dá aos


juízes que sempre decidem e votam a favor da Fazenda Pública, ainda que a razão esteja
com a parte contrária. (LIMA)

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6- CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escolha por uma profissão inclui a reflexão prévia acerca dos compromissos
éticos que deverão ser honrados em face da categoria profissional eleita. Aquele que busca
apenas ter um bom emprego, estabilidade e alto salário, não deve optar pela magistratura –
carreira de elevada importância para o Estado Democrático de Direito.

O juiz de direito deve ser um vocacionado, pois, a sociedade sempre exigirá dele
uma conduta exemplarmente ética, pautada no referencial maior da justiça que todos
anseiam. Por essa razão, o “homem-juiz” deve ter princípios sólidos e integridade
preservada, além da consciência de que carregará consigo a responsabilidade de ter a sua
imagem de forma indissolúvel e permanente associada à instituição que representa.

A ambição, que faz a humanidade crescer, lícita é ao magistrado, porém, da


ganância - mecanismo de apodrecimento ético – deve ele se afastar, bem como não deve
ser seduzido pela ética capitalista vigente, esta que prega que bom é o que permite
acumular mais com menos investimento e em menos tempo possível.

Não obstante em nossa cultura tenha se cristalizado a ideia do juiz de direito como
um super-homem, intangível, dotado de poderes quase sobrenaturais, posicionado acima
do bem e do mal, o magistrado, na realidade, deve diariamente se lembrar da sua natureza
humana falível, limitada, frágil e que se expõe às mesmas vicissitudes de que padecem
seus concidadãos, pois, uma vez consciente de que a toga, por si só, não é capaz de torná-
lo imaculado, exercerá a sua profissão com a independência, a imparcialidade, a
transparência, a integridade pessoal e profissional, a diligência e dedicação, a cortesia, a
prudência, o sigilo profissional, o conhecimento e a capacitação, a dignidade, a honra e o
decoro, que a sociedade espera dele.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ARAUJO, Wilclem de Lázari. A ética presente nas profissões jurídicas. Jus


Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2930, 10 jul. 2011.
2. BOFF, Leonardo. Ética e Moral. jul. 2003.
3. CORTELLA, Mário Sérgio. Qual é a sua obra?:inquietações propositivas sobre
gestão, liderança e ética. 12 ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
4. COSTA, Elcias Ferreira da. Deontologia jurídica: ética das profissões jurídicas. 1ª
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
5. Ética profissional: repensando conceitos e práticas. Bauru, 2008.
6. GLOCK, Rosana Soibelmann, GOLDIM, José Roberto. Ética profissional é
compromisso social. 2003. Porto Alegre.
7. HERKENHOFF, João Baptista. Ética dos magistrados: A sociedade exige uma
conduta exemplar. Revista Consultor Jurídico. Março. 2010.
8. LIMA, Antônio Sebastião de. Ética e jurisprudência.
9. SEMINÁRIO ÉTICA E CIDADANIA. 2001. Fortaleza. A ética na magistratura.
Palestra proferida pela ministra Nancy Andrighi.
10. SOARES FILHO, José. Deontologia da Magistratura.
11. YUKA, Cristiane. Ética Profissional. Apud Spaceblog. 2008.
12. CERQUEIRA, Ivan dos Santos. A ética profissional: estudo sobre a ética do juiz de
direito. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n. 3856, 21 jan.
2014.

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