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Estruturada obra:

“O Encoberto” corresponde à terceira parte, onde se insinua que o


Rei Encoberto virá, “segundo as profecias de Bandarra e a visão do Padre
António Vieira, numa manhã de nevoeiro”. Assim, a terceira parte, é
toda ela um fim, uma desintegração; mas também toda ela cheia de
avisos, de forças ocultas prestes a virem à luz depois da “Noite” e
“Tormenta”, dando origem ao novo ciclo que se anuncia: o Quinto
Império.

Linguagem e estilo:
O lirismo revela emoção do poeta, perante a grandiosidade da
Pátria, representada na excelência dos seus heróis bélicos, na audácia
dos seus nautas, no idealismo dos seus profetas.

Terceira parte:
A Terceira Parte de Mensagem, O Encoberto, é quase inesperada e
totalmente extraordinária: Fernando Pessoa retoma o tema só indiciado
em "A Última Nau" e precisa o que entende pela "Distância" que
haveremos de conquistar. Trata-se do advento do Quinto Império do
Mundo, um império de cultura, paz e harmonia entre os povos que será
liderado por um português. O Encoberto, O Desejado, o Rei ou
D.Sebastião, como é indistintamente chamado. Nesta parte vai
entrecruzar profecias, mitos antigos, símbolos de vária origem, e factos
históricos sempre orientado por três vetores básicos: Portugal que dorme e
que tem de despertar; o Quinto Império que há de seguramente ser
estabelecido, mas que depende desse despertar; e O Desejado que realizará
a visão do poeta.

Os símbolos (5)
D.Sebastião:
Manifestação de crença no regresso de D. Sebastião
A preparação para a missão a cumprir.
O quinto império:
Sem o sonho, a vida é triste
Depois desses quatro impérios, virá o Quinto Império (a alcançar através
dos valores espirituais)
Fernando Pessoa considera que na figuração tradicional há cinco impérios
materiais: o da Babilónia, o Medo-Persa, o da Grécia e o de Roma,
“ficando O Quinto, como sempre duvidoso”, talvez o de Inglaterra. No
esquema português, os impérios são espirituais o Primeiro é o da Grécia,
símbolo da civilização ocidental e origem do que espiritualmente somos, o
Segundo é o de Roma, ligado à formação da língua, o Terceiro é o da
Cristandade, que se assume como referência religiosa e moral do Ocidente;
o Quarto é o da Europa laica depois da Renascença: o Quinto Império terá
de ser o de Portugal, da raça e da nova civilização universal.
O desejado:
O Desejado - "Galaaz com pátria” (o cavaleiro da Távola Redonda a quem
foi dado o privilégio de conhecer 0 Santo Graal)
O Desejado — “Excalibur do Fim" símbolo do fim do mundo, mas
mensageiro da Nova Era (da “Eucaristia Nova”)
Graal - Símbolo da verdade, da paz e felicidade de todos os povos.
As ilhas afortunadas:
As ilhas- a solidão e o mistério (o segredo à espera da revelação)
A presença só se capta no sono através de sinais auditivos e pelo som das
ondas.
Lugar do não tempo e do não espaço, "terras sem ter lugar” (onde se
encontra o Desejado que virá fundar o Quinto Império).
O encoberto:
Alusão à Ordem Rosa-Cruz (organizações ou fraternidades, de carácter
secreto, não sectário, que seguem ritos iniciáticos e práticas esotéricas, e
que ensinam a necessidade da busca do conhecimento e a cooperação entre
as pessoas)
A aurora — o despertar, a luz
O sol-- origem da vida e do calor, símbolo da vida.
A Rosa símbolo rosacruciano.
Os avisos (3)
O Bandarra:
Bandarra — Sapateiro [século XVI), autor de trovas proféticas acerca do
destino de Portugal.
As trovas do Bandarra anunciavam o regresso de D. Sebastião.
A crença nas forças ocultas e no Quinto Império parece que perseguiu
Fernando Pessoa, como se vê pela entrevista a Alves Martins (1897-1929)
em Revista Portuguesa, n.º 23-24, de 13 de outubro de 1823, onde afirma
que “há só um período de criação na nossa história literária: não chegou
ainda” e mais adiante, em resposta à questão sobre o que calcula que seja o
futuro da raça portuguesa, responde: “O Quinto Império. O futuro de
Portugal — que não calculo, mas sei - está escrito já, para quem saiba lê-0,
nas trovas do Bandarra, e também nas quadras de Nostradamus. Esse futuro
é sermos tudo..."
António Vieira:
Outro profeta do Quinto Império: António Vieira
Vieira despertou-lhe o sentimento patriótico
O escritor, o mestre, “Imperador da língua portuguesa
O pensador.
O profeta do Quinto Império
A madrugada irreal, porque construída a partir do sonho) já doira as
margens do Tejo.
Terceiro:
A tristeza perante a situação do Mundo,
A crença na existência de D. Sebastião atenua o sofrimento do poeta.
Do desespero à esperança.
O sonho poderá concretizar-se no futuro.
Quando chegará alguém que concretize o sonho?
Daí a interpelação a D. Sebastião (a esperança), para saber quando…
Os tempos (5)
Noite:
Perdeu-se o Poder, perdeu-se o Renome a fama, mas não se perdeu o Nome
[a essência do ser, aquilo que nos distingue dos outros, a nossa
individualidade...
O que ficou (o Nome) poderá partir e reencontrar os outros dois [o Poder e
o Renome), mas só com autorização de Deus.
Tormenta:
Na noite o mistério adquire grandeza.
Portugal jaz no abismo, mas há uma inquietação, um desejar que o “ergue”
A situação de Portugal — a tempestade que se aproxima
A tormenta a agitação de Portugal.
Calma:
Apesar da tempestade atual, a calma há de voltar e a viagem há de
prosseguir (não em busca de novas terras, mas em direção ao
autoconhecimento e à sua realização como ser humano).
Antemanhã:
Antemanhã — anúncio da manhã; princípio de qualquer coisa nova.
O que ainda é necessário fazer antes de despertar.
A oposição simbólica trevas/dia.
Nevoeiro:
Nevoeiro — símbolo da incerteza, da indefinição e da obscuridade; e
promessa de um novo dia
Afirma Pessoa que “Por nevoeiro entende-se que o Desejado virá
encoberto: que chegando, ou chegado, se não perceberá que chegou”.
A perturbação, a confusão, a tristeza, a melancolia.
A situação atual - crise política, crise de valores, crise de identidade.
Depois do nevoeiro, vem a luz que permitirá encontrar o caminho certo
Número três
O número três remete para a união entre Deus, O Universo e o Homem,
pelo que é um número que representa a Totalidade.
Aparece também ligado a Cristo, cuja figura concentra três vertentes: a de
rei, a de padre e a de profeta.
O outro conjunto de poemas, “O Bandarra”, “António Vieira” e “Terceiro”,
agrupados no título “Os Avisos”, cumprem a função profética do anúncio
do Quinto Império (sendo o “Terceiro” o próprio poeta). Estas personagens
históricas aliam, como Cristo, pelas suas características, as dimensões
humana e divina.
Por outro lado, O número três sugere ainda as fases da existência:
nascimento, crescimento e morte. Ora, sabemos que a Mensagem se liga,
simbolicamente, ao ciclo da vida: Brasão (a primeira parte) conota o
nascimento da Nação, Mar Português (a segunda parte) evidencia o seu
crescimento e o seu momento áureo histórico e o Encoberto (a terceira
parte) preconiza a morte, à qual se seguiria o Renascimento.

Número cinco
O número cinco é o número da Ordem, do Equilíbrio e da Harmonia.
Significa, igualmente, a Perfeição.
“Os Símbolos" incluem cinco poemas em que os valores simbólicos
unificantes, nesta obra, assumem maior relevo. Finalmente, em “Os
Tempos” anuncia-se já o “terminus” de um ciclo e incita-se ao início de
outro, que instaurará a Ordem, à partir do Caos, que é o momento presente.
Esse outro tempo será um tempo de harmonia, em que o Homem conhecerá
a sua dimensão divina, num reino Espiritual.

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