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REVISTA DE MORFOLOGIA URBANA Revista du Rede Laséfo.m de Morfologia Urbana 2022 Volume 10 N&émero 2 Equipe editorial Editores-chefes: Yenato Leto Rega, Universidade .'stadual de Maringi, Brasil Gislaine Elizete Beloto, Universidade Estadual de sfaringa, Brasil Karin Schwabe Meneguetti, Universidade Estadval de Maringé, Brasil Editor Associado: Vitor Oliveira, Universidade do Porto, ormgal Consnltores: Giancarlo Cataldi, Universita degli Stdi di Firenze, trilia Tan Morley, Chinese University of Hong Kong, China Kai Gu, University of Auckland, Nova Zelandia ‘Michael Conzen, University of Chicago, UA Peter Larkham, Birmingham City University, Reino Unido Conselho Editorial: Ana Cliudia Duarte Cardoso, Universidade Federal do Para, Brasil Bru o Zaitter, Pontificia Universidade Cat6lica do Parand, Brasil Clindia Monteiro, Universidade do Porto, Portugal David Viana, Nottingham Trent University, Reino Unido Frederico de Holanda, Universidade de Brasilia, Brasil Giusey pe Strappa, Sapienza Universit. di Roms, Itilia Isabel Martins, Universidade Agostino Neto, Angola Jorge Correla, Universidade do Minho, Portugal José Forjaz, Universidade Eduardo Mondlane, Mogambique José Jilio Ferreira Liraa, Universidade Federal do Par, Brasil Judite Nascimento, Universidade de Cabo Verde, Cabo Verde Luisa Batista, Universidade do Porto, Portugal Luiz, Amorim, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Manuel Teixeira, Universidade de Lisboa, Portugal Mario do Rosario, ISCTEM, Mogambique Paulo Pinho, Universidade do Porto, Portugal Romulo Krafta, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Stal de A. P. Costa, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil Teresa . ally, Universidade do Porto, Portugal Teresa Marat-Mendes, Instituto Universititio de Lisboa, Portugal Vicente C. Sendra, Universitat Politecnica de Valencia, Espanha Xosé Lois Suarez, Universidade da Conaia, Espanha ‘Os autores sdo os tinicos responsdveis pelas opinides e. pressas nos textos publicados na ‘Revisia de Morfologia Urbana’. Os Aitigos (que wav de ’.tdo “xzede: a 8,000 palavras, devendo ai ida sear win resumo com tn msi no de 200 palavras), as Perspectivas , ue nao deverio eaceder 5 1.000 palavras), 03 Relatérios e as Noticias referentes a eventos fururos deverdo ser subme-idos elo sistema da Revista, mediante adas 10 do autor ottes-ondente e Jon na plataforma As hormas para contrivtitos encontram-se nas divetrizes para au Desenho original da capa - Karl Kropf, Desenlio das figuras - Vitor Oliveira REDE LUSOFONA DE MORFOLOGIA URBANA. L.SN 2160: (214 REVISTA DE MORFOLOGIA URBANA Revista da Rede Luséfona de Morfologia Urbana Votume .0 Numero2 2022 2 01TC RIAL 00283 Karin Sch vabe ._ueguetti, Gi laine Elivete deloto e Reaato Leao Rego Ano 00:9 urbana ea lingua portuguesa SEGAO ABERTA 200230 Patri ia Silva Gomes, Camila Cerqueira de 2aula e Beatriz Helena Monteiro Teles de Souza aivagismo uo cerrado aplivado ao funcionamento via infraestrutura evoldgica: estratégias de adaptacdo do tecido urbano para o caso de So Sebastiie/DE 200235 Jeserson Ta ares ‘Compreendendo padrdes regionais da morfologia urbana no Brasil. As recentes politicas publicas e as tendéncias a reestruturagdo territorial 200241 Matheus Batista Simées e Mauro Normando Macsdo Barros Filho Da textura orbital & superficie social: investigando padres socioes, aciais através da lacunaridade e habitabilidade 200276 Karl Kropf e Gislaine Elizete Beloto (tractie20) Aspectos da forma urana SELEGAO DE ARTIGOS SINTAXEBRASIL 200273 Srederico de Holanda e Valério Medeiros Editorial 00256 Yan Chermonte Alves Santana, Claudia da Conceicao Garcia ¢ Ana Paula Campos Gurgel Nada serd como antes, mas tudo & 0 mesmo: duas residéncias pés-modernistas brasileiras sob o olhar da sintaxe espacial 200257 Tamires Oliveira Cabral ¢ Ana Paula Campos Gurgel Modificagdes espaciais nos apartamentos paulistanos: andlise sintatica de unidades dos edificios Modular Alfa e Flora 200258 Livia Nobrega, Luiz Amorim e Daniel Koch Complexidade, genericidade e especificidade em edificios: modelos descritivos e a nogo de mediagao espacial 00260 Arthur Dornellas Oliveira, Vanessa Beraldo Machado, Gustavo Soares Silva, Laura Duarte Pereira Lopes, Livia Maria Alvarenga Santos, Giovanna Domingues Mendes Goncalves e Maria Fernanda Souza Silva Difusto dos casos de COVID-19 no municipio de Coronel Fabriciano-MG: uma abordagem configuracional 200261 Ana Paula Campos Gurgel, Gabriela Pires Lucas, Isadora de Almeida Furtado ¢ illar Accioly Lima Nem sé em Superquadras viveris no Plano Piloto: auslise configuracional dos projetos originais das quadras 700 sul 200264 Ana Luisa Rolim e Luiz Amorim paradoxo da galeria progressiva: neurociéncia e morfologia aplicadas na anilise do comportamento espacial em uma tipologia de galeria de arte 200265 Julia da Cruz Gouveia de Barros Monteiro, Luiz Manuel do Eirado Amorim € Cristiano Felipe Borba do Nascimento Espacos-tipo e movimento: alteragdes configuracionais em edificios que sofreram, mudanca de uso 200266 Frederico Rosa Borges de Holanda verdadeito, o bom e 0 belo 200268 Rodrigo Costa do Nascimento, George Alexandre Ferreira Dantas ¢ Edja Bezerra Faria Trigueiro Acessibilidade metropolitana e producao territorial: um anel viério para o mercado imobilidrio na Regido Metropolitana de Natal/RN 200271 Glaucia Maria Cértes Bogniotti, Frederico Rosa Borges de Holanda e Valério Augusto Soares de Medeiros Padres configuracionais em cidades médias brasileiras: homogeneidade € diferengas, RELATORIOS: 200275 Lucy Jonegan 1° Simpésio Brasileiro de Sintaxe Espacial SintaxeBRASIL 2022, Brasilia, UnB, 2022 200281 Enelida Maria Souza Mendonca 10° Conferéncia da Rede Luséfona de Morfologia Urbana, Rio de Janeiro, Editorial A morfologit arb u.1 em lir.gua portuguesa sarin Scnwabe Meneguetti © Gislaine Elizete Belrtc © ssenate 2 Rege © Edizores da Kevis:a de Mo_to-ogia U_oa.a hutps:/driorg/AO47225/.n 1.910 2.23 ‘Com o término do ano de 2022, a Revista de ‘Morfologia Urbana (RMU) fechou sua mais recente edi¢do: o mimero 2 do volume 10. Este ‘iimero foi publicado com a alegria com que recebemos a nova classificactio deste periddico no Qualis Capes: a Revista de Morfologia Urbana figura agora no extrato A3, 0 que confirma sua qualidade ¢ 0 seu impacto no meio académico e cientifico. Sabemos que esta revista masceu para disseminar estudos da forma urbana entre as, ‘comunidades uséfonas. E notério que periddicos em lingua inglesa — ou bilingues — alcangam um piblico maior e, portanto, tem maior repercussio global. E, naturalmente, sto mais valorizados. Ainda assim, queremos reafirmar a caracteristica essencial da RMU, convictos de que o papel desta revista em lingua portuguesa é ainda relevante. © nimeto de manuscritos submetidos Revista tem sido considerdvel. Também tem sido considerivel a taxa de rejeicao. Muitos ‘manuscritos submetidos t8m sido recusados por nfo abordarem a forma fisica da cidade — tema vital para este periddico. Reiteramos que 2 Revista de Morfologia Urbana esté aberta a ccontribuigdes das varias areas afins. Mas seu ‘escopo e interesse & o estudo da forma urbana, ‘qualquer que seja a abordagem adotada Este novo miimero da RMU retine trés artigos originais, um texto de referéncia inédito na lingua portuguesa, dois relatérios de eventos e uma se¢o especial dedicada ao Simpésio SintaxeBrasil. No primeiro artigo, Patricia Silva Gomes, Beatriz Helena Monteiro Teles de Souza © Camila Cerqueira de Paula exploram a ecohidrologia ao aplicarem estratégias para a adaptacio de um tecido urbano ao bom funcionamento da sua infraestrutura ecolégica no artigo: “Paisagismo do cerrado aplicado ao i funcionamento da infraestratura ecolégica: estratégias de adaptacio do tecido urbano para © caso de Sao SebastiéolDF”. As solucdes propostas integram desenho urbano sensivel & ‘Agua ao emprego da vegetacko nativa No segundo artigo, “Compreendendo padrdes regionais da morfologia urbana no Brasil. As recentes polfticas piiblicas e as tendéncias A reestruturacdo territorial , Jeferson Tavares apresenta um estudo consistente e relevante sobre os padrdes regionais da forma urbana no Brasil, a partir das politicas pUblicas federais, implementadas nas wes ultimas décadas, Tavares reconhece manchas urbanas menos coesas e mais difusas e argumenta que os eixos rodovirios foram 0 elemento estrutural do planejamento nacional, resultando em wma urbanizagfo linear constituida ao longo das principais rotas produtiva. No terceiro, “Da textura orbital @ superficie social: investigando padrdes. socioespaciais através da lacunaridade e habitabilidade”, Matheus Batista SimBes e Mauro Normando Macédo Barros Filho investigam a composicao do tecido urbano e as condicdes de habitwalidade para reconhecer padrées socioespaciais @ processos de segregacdo fragmentacao urbana, O trabalho se mostra tuma ferramenta til para a leitura do territério edificado ea construgio de diretrizes urbanisticas, Esta edigao ainda traz uma discussio sobre distintas abordagens da morfologia urbana. O texto de Karl Kropf, “Aspectos da forma urbana”, originalmente publicado em inglés ha revista Urban Morphology em 2009 e aqui traduzido por Gislaine Beloto, apresenta, de modo didético, um panorama no qual diferentes abordagens se apoiam para fomecer ‘uma melhor compreensio dos assentamentos bumanos, ista de Morfo. g.a Urvaia (2022) 10(.); 0028 Rade de Morfoloyia U taxa ISSN ‘Com artigos provenientes das regides Sul, Sudeste, Nordeste e Distrito Federal, esta ediedio. da Revista parece completamente dedicada 4 produgdo brasileira, embora isto ‘no tenha sido intencional Esta edi¢@o publica ainda a secdo especial SintaxeBrasil, com dez dos melhores trabalhos apresentados no primeiro Simpésio Brasileiro de Sintaxe Espacial, realizado virtualmente em novembro de 2022, e um editorial firmado por seus organizadores. Os trabalhos aqui publicados foram selecionados pela comissio organizadora do evento dentre 0s manuscritos aprovados pelo comité cientifico e apresentados oralmente no Simpésio. Por fim, a RMU apresenta os relatérios de dois, dos eventos mais significativos para a morfologia urbana. No primeiro deles, Lucy Donegan registra suas impressdes sobre 0 jd referido Simpésio Brasileiro de Sintaxe Espacial. No segundo deles, Eneida Maria Souza Mendonca considera a décima Conferéncia da Rede Lus6fona de Morfologia Urbana (PNUM) realizada no Rio de Janeiro entre novembro e dezembro de 2022, com patticipagdes presenciais e virtuais. Adiantamos que a préxima edicdo da RMU trard os trabalhos selecionados pela comissao organizadora do PNUM 2022. Os trabalhos apresentados na Conferéncia, assim como as discusses que se seguiram, e 0 documento firmado a0 final do evento consolidam o estudo da forma fisica das cidades como objeto de interesse crescente, sobretudo entre Jovens pesquisadores. Esperamos que seus trabalhios aparecam aqui. Boa leitura! (2022) 10) e008 Rede usdfona de Morfologia Urbana ISSN 218. SECAO ABERTA Artigos cientificos em fluxo contiauo Paisagismo do cerrado aplicado ao funcionamento da infraes:rutura ecolégica: estratégias de adaptac¢ao do tecido urbano para 0 caso de Siio ‘ebastiao/DF Patricia Silva Gomes*®, Camila Cerqueira de Paula®® e Beatriz Helena Monteiro Teles de Souza® *Uni ers d= de Bra-ilia, Tacudade de Arquive:ra ~ Urcanis.:0, Bask E mais: patriciasgomes@u b br 2, Brasil "Universidade de Brasilia, Faculdade de \rquitetura ¢ Lrbanismo, Brasilia, DF, Brasil E-mail: camila cerqueiradepaula@gmail.com Universidade de Brasilia, Fa-uldade de Arquitetura e Urbanismo, Brasilia, DF, Brasil E-mail: beat! 13(@hotmail.com Submetids em 23 de jame."o de 2 https: (/doi.org/10.472 Aceit em 29 de jitho de 20.2. 3S/rmu.v 012.230 Resumo. O trabaihc analisa os principai- impacios. do tecido urivano a recarga Indvica de Sdo Sevastiae, Distrito Federal, para apontar ossibitidades de s.a adapracao ao methor j:ncionemento da iniraestratra ecologica ¢ paisagistica. Utilizousse a Anélise Hierdrquica de Pesos rocessada no programa de geaprocessamento OGISR, como suporte para 0 cruzemento ponderado ¢ combinado das varitneis que mais interferem na recarga — geomorfologia, pedalogia e uso do solo. O resultado mapeia as areas mais criticas para a recarga para as quais se espacializa solu-Ges de desenho urbano sensivel & dgua; erucadameme, um quadro iustrado categoria essas solucdes quanto a0 formato em manchas (pequenas ¢ grandes) e linhas (de vias € ¢ 750s d'agua) e destrincha o funciunamento ‘qociado ‘a0 asniecohidrolfetca'e palsagisticn ia vegstarto do cerrad Patavras-chave. recarga hidrica, cerrado, estrattgias de desenho urbano, aisagismo do cerrado, adaptagéo do tecico urbano Introdugao Brasilia, Distrito Federal (DF), nascida do projeto urbanistico de Licio Costa para 0 Plano Piloto, traz, em sua concepeao, uma série de principios paisagisticos visando a sua ‘constituigdio como uma “eidade-parque , a8 palavras do seu criador. Dentre esses, t&m-se a adaptacao do desenho 4 topografia, a liberagao visual da orla do Lago Paranod; a disposigao das quadras residenciais em sequéncia continua pelo Eixo Rodoviirio, emolduradas por uma cinta dupla arborizada com chio gramado; a presenca de dois parques simétricos funcionando como pulmdes-verdes; além de outros espacos livres envolventes do Plano Piloto, conformando 0 “verde bucélico”. No entanto, jé nas primeiras décadas, a cidade passa a atrair um intenso fluxo migratério, resultando no ripido, espraiado e desigual crescimento da mancha urbana. O que foi sustentado pela criacto de cidades-satélites (denominadas de Regides Administrativas — RAs) conectadas entre si por meio de estradas- parques, Em boa medida, essa ocupacio dispersa foi decorrente da excessiva protecao do conjunto paisagistico ¢ monumental do Plano Piloto e das politicas de erradicacdes de assentamentos precérios na area central, com a transferéncia da populacdo para as cidades- sta de MorfologiaUrbana (2022) 10) uséfona de Morfologia Urbana ISSN 10 do cerrado aplicado ao frcio1ame satélites periféricas Desse modo, 0 paradigma da “cidade-parque” vai sendo contrastado pela ripida ocupacao de bacias sensiveis; nascentes e margens de cursos d’égua; supressio e fragmentacio da vegetagio do cerrado; deficiéucia na arborizacdo urbana; impermeabilizagdo do solo; ocupacio de areas importantes para a recarga de aquiferos; mau funcionamento do sistema de drenagem. © DF perdeu 58% de sua cobertura nativa entre 1954 e 2001 (UNESCO, 2002) no & toa a regido tem passado por uma crise hidrica desde 2016, com a reducdo dos reservatérios do Descoberto e de Santa Maria aos niveis, minimos histéricos de 5.3% © 21,6%, respectivamente, em novembro de 2017 (ADASA, 2021), 0 que levou a adogao de medidas de racionamento pelo Decreto Distrital n° 37.976 de 2016. Dentre estas teve-se a reduigdo da pressio na rede; 0 rodizio do abastecimento a cada seis, dias; a aplicagao da tarifa de contingéncia, ‘com aumento real de 20% nas contas de égua (Resolucdo n° 17 de 2016); o investimento ‘emergencial em novos sistemas produtores. Contrariamente, o DF tem passado por varios episddios criticos de inundagao, alagamentos enxurradas apés eventos chuvosos mais, significativos. Assim, 0 objetivo deste trabalho ¢ identificar os principais impactos do tecido urbano a recarga hidrica de Sto Sebastido, uma das RAs do DF que passou por rapido crescimento, ocupando a bacia sensivel do Rio Sao Bartolomen, para apontar possibilidades de adaptacao deste ao melhor funcionamento da infraestrutura ecolégica © paisagistica da cidade. ‘Compreende-se que as solugdes de desenho devem ser adaptadas ao bioma em que a cidade se insere. Assim, as contribuigdes teéricas deste trabalho residem em uma ponte entre as pesquisas no campo da hidrologia e do desenho urbano sensivel & gua, nas quais, esses padrdes urbanisticos compativeis a conservacdo hidrica jf esto mais, problematizados, com aquelas no campo da ecohidrologia e de paisagismo do cerrado, buscando contribuir para a integractio da vegetagto nativa ao melhor funcionamento da infraestrutura ecolégica, _garantindo-the resiliéncia frente as duas sazonalidades tipicas do bioma - a estiagem e a chuva. As contribuicdes empiricas residem na busca de solugdes para atenuar os problemas do tecido ja existente. © método de trabalho conton com: i) elaboragdo de mapas tematicos sobre geomorfologia, pedologia, coberturas do uso do solo, a partir de shpfiles disponibilizados pelo Instituto Brasilia Ambiental (IBRAM) trabalhados no programa =e geoprocessamento QGIS® (verso 3.24.1); ii) visitas de campo para o reconhecimento in loco dos principais pontos criticos de funcionamento da recarga; iii) definigao dos pesos que cada uma dessas varidveis exerce sobre 0 funcionamento da recarga, conforme método da Anilise Hierdrquica de Pesos (AHP) (Moura, 2007); iv) processamento da AHP no QGIS®, ponderando e combinando as variiveis, para produzir o mapa sintese de freas criticas de recarga; v) sobteposigzo dos shpfiles de escolas, edificios _pulblicos, estacionamentos, pragas_e —_calgadas, disponibilizados pelo Govern, a0 mapa sintese, para melhor espacializagao das estratégias; vi) espacializagao — cruzada a.um quadro ilustrado — de cada uma das solucées de desenho urbano sensivel & agua e associadas a0 uso ecohidrolégicoe ppaisagistico da vegetacio do cerrado. As Técnicas foram categorizadas quanto a0 formato em manchas (pequenas ¢ grandes) & linhas (de vias e cursos ¢”igua). Para a definico da ponderacio, sistematizou- se 0s pesos encontrados em trabalhios anélogos fora e dentro da bacia de estudo ~ Reis et al. (2012) e Bias et al. (2012) — seguida da definigdo, a partir da literatura de hidrologia e da ttoca de opinides em reuniio realizada entre os autores e um engenheiro de recursos hidricos, dos pesos mais aprapriados 20 local A definicao dos pesos no plano da “cobertura do solo” baseou-se na literatura de fitofisionomias ¢ ecohidrologia do cerrado (Ribeiro; Walter, 2008; Oliveira et al., 2005), enquanto que no plano da “pedologia” nos dados de condutividade hidréulica dos solos para o DF (ADASA, 2015) e no da “geomorfologia” nos traballios anteriores no "Revista de Morfologiatvba Rade Lusifona de Morologia Urbana ISSN 2182-7214 Pi 1o do cerrad DF (Seraphim; Bezerra, 2019). Leitura do meio natural ¢ construido para tomada de decisoes de desenho urbano ‘Uma frente de trabalhos, notadamente no campo da hidrologia, busca compreender ‘como 0 cenirio de urbanizagao da bacia, em contraposigio & sua condicdo natural, afeta a dinamica hidrica (Tucci, 1993; Baptista et al, 2011) e como 0s fatores naturais e antrépicos se inter-relacionam no processo de infiltragdo das Aguas (ADASA, 2015). Assim, estima-se ‘que em uma bacia natural cerca de 40% da vazio incidente retome & atmosfera sob @ forma de evapotranspiracdo, 10% escoe superficialmente e 50% infiltre no solo; a0 asso que, em uma bacia urbanizada, em média, a infiltragéo reduz para 20%, 0 escoamento superficial aumenta para 55% ea evapotranspiragao diminui para 25% (Prince Georges County, 199), A precipitacao, a0 se transformar em vazio no solo, tera uma parcela infiltrada, uma escoada superficialmente e uma evapotranspirada a partir de um processo complexo, regulado pela interrelagio de fatores antrépicos © naturais. Dentre as principais caracteristicas antrépicas tém-se: i) as superficies _efetivamente impermedveis — ditas seladas — como calcadas, vias, estacionamentos, quintais, edificacdes, piscinas, quadras de esportes, etc., onde a infiltragao & proxima a zero; ii) as alteragdes na cobertura do solo, como no caso de culmuras agricolas, pastagens, pomares, Jardins, solo exposto, solo compactado, tedugao da cobertura nativa, sobretido arbérea, vias ndio_pavimentadas, etc. que, apesar de nao resultarem em uma infiltragao zero, alteram o padrao natural de recarga. O aumento do escoamento superficial (runoff), provocado por essas mudancas do uso do solo, ccontribui para incrementar a vazao de pico nos leitos dos cursos d’dgua, podendo resultar em. enchentes, inundagdes e pontos de alagamentos; além de erosdes_e assoreamentos. Para as freas seladas dentro dos lotes, algumas caracteristicas definidas pela _legislagto urbanistica, como a taxa de ocupagio e de impermeabilizacao, t&m maior influgneia no funcionamento da drenagem. Prince Georges County (1999, p. 2-9) mostra que baixos petcentuais de impermeabilizagdo, entre 10- 20%, j trazem impactos a drenagem:; ao passo que percentuais de impermeabilizacao entre 0% acarretam impactos moderados © acima de 30%, acentuados. A partir do cruzamento entre o mapa de éreas, preferenciais & recarga hidrica do DF, 0 iimero de lotes disponibilizados por RAs e 0 Coeficiente de aproveitamento nos lotes, a SEMA (2020) mostra _incongruéncias ambientais na legislacao de uso e ocupacao de solo da cidade, Os autores concluem, por exemplo, que 99,25% (66.123 lotes) da RA Ceilandia ocupam area preferencial de recarga e, mais gravemente, possuem taxa de impermeabilizacdo de 100%, Para as dreas seladas fora dos lotes, a maior contribuicdo, geralmente, esté associada ao sistema vidrio, que tende a cobrir cerca de 25% da rea impermeabilizada em uma bacia tipicamente urbana (Prince Georges County, 1999, p. 2-9). O estudo comparou diferentes malhas vidrias, constatando que 0 tipo de geometria pode resuliar em uma reducdo de até 26% da superficie impermeabilizada; para uuma mesma rea, por exemplo, a malha em grelha possti 6.400 metros (m) lineares, a reticulada semi-fechada 5.790 mea aberta em cul-de-sac 4.750 m. Os tipos de materiais também influenciam; 0 estudo mostra que, para a mesma se¢ao viitia, as vias rurais possuem 33% a menos de pavimentacao, portanto de impermeabilizacdo, em relacao as urbanas. No tocante &s coberturas do solo nfo seladas, Anache et al. (2019) calcularam o balanco hidrico, a partir de medicdes de campo, em quatro diferentes tipos de uso do solo — cana- de-acticar, pastagem, cerrado denso e solo exposto — em uma drea experimental de 1,7 km do bioma cerrado, no municipio de Tiirapina/SP. Os resultados mostraram que a atividade de cana possui runoff oito vezes maior e evapotranspiracao 1,5 vezes menor do que 0 cerrado denso. Pitt et al. (2009) mostram que a infiltracao em tetrenos argilosos, como € 0 caso do DF, & muito afetada pela compactacao do solo, o que pode reduzir em até 11 vezes a taxa de "Revista de Morfologiatvba Rade Lusifona de Morologia Urbana ISSN 2182-7214 Pi 1o do cerrad infiltragdo e mesmo aproximé-la de zero. Seraphim e Bezerra (2019) chamam atengdo para a grande compactago do solo nos ‘gramados de Brasilia. Dentre as principais caracteristicas naturais, que interferem na infiltracdo tém-se: i) as variagdes espaciais da geomorfologia, sobretudo em termos de altitude relativa e declividade (Seraphim; Bezerra, 2019); ii) a percolacdo vertical da égua entre as camadas superficiais, na relagao solo-vegetacao, e subterrineas, em direeao aos aquiferos subterrineos (ADASA, 2015). As principais consequéncias da diminuigo da infiltracio sii a reducdo nao apenas da alimentagao dos aquiferos subterrineos, mas também das nascentes no periodo da estiagem. Em termos geomorfolégicos, os altos regionais sto responsaveis pelas recargas de aquiferos mais profundas, importantes para a alimentacdo de nascentes de alto, enquanto, os baixos regionais pelas recargas locais, que so Jogo descarregadas nos corpos _hidricos superficiais (Silveira; Usunoff, 2009). Somado a isso, os declives acentuados, acima de 20%, favorecem 0 escoamento superficial direto, diminuindo a infiltracdo (Kaliraj et al, 2014). Na percolagto vertical, a influéncia inicial € da vegetagto. Os trabalhos no campo da ecohidrologia buscam compreender a werrelacao entre a vegetacdo e 0 ciclo da igua no balango hidrico. A vegetagao desfavorece as perdas evaporativas da superficie do solo; as arvores tém a fungao de interceptar e evaporar a agua, além de fazer a transferéncia hidréulica pela zona de raizes, por gotejamento (ADASA, 2015). Apés isso, no caso de solo exposto ou de afloramento da rocha (fraturada ou porosa), a acto da ‘gravidade e dos materiais constituintes do solo sto os fatores que ido definir a infiltracao. Interferem nesse proceso a porosidade, a permeabilidade e a espessura do solo, sendo que as duas primeiras caracteristicas atuam inicial e combinadamente e a hima secundariamente. A porosidade (intragranular ‘ou de fratura) é definida pela relacao entre 0 volume de poros ¢ 0 volume total de certo material, ja a permeabilidade (condutividade hidréulica) — fator que mais afeta a disponibilidade de gua _subterrnea (Lousada; Campos, 2005) — diz respeito A capacidade do solo em permitir 0 fluxo de gua através dos seus poros, dependendo nao apenas do tamanho destes, mas também da conexao entre eles. A espessura, por fim, influencia a capacidade do solo de reter temporariamente uma maior quantidade de gua, liberando-a post aquifero subjacente. A 4g mais superficial do solo é aproveitada pela vegetacio. Desse modo, em tazio da porosidade e da permeabilidade, ocorre o preenchimento do solo por égua; no entanto, nem todos os poros desta zona — denominada nfo saturada, vadosa ou de aeracdo — encontram-se preenchidos por gua, havendo também o seu preenchimento por ar. O limite inferior dessa retenc&o é dado quando as rochas nao admitem mais espacos abertos (poros) devido & pressio da pilha de rochas sobrejacentes, assim, essa percolacdo tende a atingir um limite inferior a0 longo da espessura do solo, que & representado pelo preenchimento de todos os poros abertos de uma zona denominada saturada ow fredtica. O limite entre essas das zonas define o nivel da gua subterrdnea, sendo que as alteragdes da cobertura do solo afetam as taxas de infiltragao, podendo levar a alteragdes na altura do lengol frestico (ADASA, 2015) Na superficie do lengol freatico existe também uum fluxo horizontal, conformando um escoamento subsuperficial que pode alimentar nascentes, como as de encosta, de fundo de vale, de contato e de rio subterrdneo (Linsley; Franzini, 1978). Abaixo desses aquiferos livres ou freéticos, podem existir também aquiferos confinados, cuja alimentacdo se dé justamente por meio da camada semipermedvel, permeével ou por freas especificas na superficie, onde a camada confinante termina (ADASA, 2013). E preciso, contudo, particularizar o cerrado, para compreender a interinfluéncia entre esses fatores ambientais na recarga hidriea do bioma Ribeiro e Walter (2008) apontam que fatores temporais (geoldgicos e ecoldgicos) e espaciais (variagdes locais climiticas e "Revista de Morfologiatvba Rade Lusifona de Morologia Urbana ISSN 2182-7214 Pi 1o do cerrad edificas) sio responsiveis por constituir a ‘grande variabilidade vegetacional do cerrado, que & composto por formagdes florestais, savanicas e campestres. As formagies florestais do bioma se ‘caracterizam pela predominancia das espécies arbéreas, formando dossel continwo ou descontinuo; dente elas, t8m-se a mata ciliar ea de galeria, que estdo associadas a cursos 'égua e ocorrem em terrenos bem ou mal drenados, ¢ a mata seca e 0 cerrado, que ocorrem em interfhivios de terrenos bem drenados e nfo esto associados & presenca de ‘cursos d’égua (Ribeiro; Walter, 2008), Ja as formacdes savinicas abrangem as paisagens tipicas do cerrado. Dentre elas, 0 cerrado sentido restrito (denso, tipico, ralo & mupestre) se caracteriza pela predomindncia dos estratos arbéreo e arbustivo-herbaceo, com a presenca de drvores distributdas aleatoriamente, em diferentes densidades, sem ‘que se forme um dossel continuo. O parque cerrado & marcado pela ocorréncia de arvores concentradas em locais especificos do terreno eo palmeiral pela presenca de determinada palmeira arborea — babacual, buritizal, guerobal e macaubal, A vereda também se caracteriza pela presenca de uma tinica espécie de palmeira — 0 buriti -, embora este ‘ocorra em menor densidade do que em um palmeiral, além de ser circundada por um estratoarbustivo-herbiceo — caracteristico (Ribeiro; Walter, 2008), Por fim, as formagdes campestres incluem 0 ‘campo sujo, impo e rupestre, O campo sujo se caracteriza pela presenca de arbustos © subarbustos entremeados no estrato arbustivo- herbiceo e 0 campo limpo pela presenca insignificante de arbustos e subarbustos; estes podem se subdividir ainda em campo sujo seco, campo sujo timido e campo sujo com murundus e campo limpo seco, campo impo imido e campo limpo com murundus (Ribeiro; Walter, 2008). O campo rupestre, por sett tumo, se assemelhia a0 campo sujo ou impo na estrutura, mas se diferencia deles tanto pelo substrato — composto por afloramentos de rocha -, quanto pela composi¢ao floristica, que inclui muitos, endemismos, Os fatores climaticos (com estresse hidrico sazonal) e edficos (com —_baixa disponibilidade de nutrientes basicos) ajudam a explicar a forma savanica predominante do bioma; estruturalmente intermedifria entre floresta e campo (Ribeiro; Walter, 2008). Desse modo, a grande extensto explica a vatiabilidade climstica do cerrado em directo as suas fronteiras, contudo, em linhas gerais, ele se caracteriza pela ocorréncia de duas sazonalidades bem marcadas — um inverno seco (de maio a setembro) eum vero chuvoso (de outubro a abril) Em termos geomorfolégicos, ocupa os altos regionis do Planalto Central, com altitudes que variam de 1.600 m na Chapada dos ‘Veadeitos/GO a 300 m na Baixada Cuiabana (Ribeiro; Walter, 2008); o que faz com que funcione como um guarda-chuva, distribuindo aguas para as diversas bacias. Em termos pedolégicos, as condigdes oligotréficas do solo, isto & rico em aluminio e pobre em nnutrientes bisicos, resultam em uma grande especializacdo da vegetacdo (Barbosa, 1995). ‘As plantas do cerrado possuem estruturas subterraneas (raizes, tubérculos, xilopédios) muito desenvolvidas, que possibilitam a rebrota ripida e vigorosa apés impactos como o corte, 0 fogo ou a geada, dependendo muito menos da dispersdio e germinaco de sementes do que as espécies de floresta (Durigan et al., 2011). Em linhas gerais, as arvores do cerrado possuem raizes pivotantes ¢ profundas, capazes de importar Aguas subterrdneas no petiodo de estiagem e alta demanda evaporativa, mantendo a fixagao de carbono a transpiracdo (Souza et al., 2005). J 08 arbustos © subarbustos possuem raizes, menos profundas, sendo frequente a presenca de xilopédios, tubérculos, soboles, coroa de raiz (Pilon et al., 2020). As herbéceas, igualmente, possuem estruturas radiculares dos tipos xilopédios, rizomas, pivotantes, bud-bearing, tubérculos, s6boles, coroa de raiz (Pilon et al., 2020). Entre os gramineas, por seu tumo, hé a ocomréncia de raiz fasciculada (ou cabeleira), contudo, em grande parte delas, ocorrem rizomas, que sto caules _subterrineos horizontais, ou estolhos, que so caules que crescem de forma alongada, horizontalmente, "Revista de Morfologiatvba Rade Lusifona de Morologia Urbana ISSN 2182-7214 Paisagismo do cerrado aplicado ao furcionamento da infrasstrutraecolégica 6 ‘mas nfo sio subterrineos (Oliveira et al., 2016). Este hibito cespitoso (moita) de algumas gramineas € muito efetivo para a recarga hidrica, Desse modo, a interrelagio entre essas caractetisticas do solo e da vegetacao vio interferir, consoante 0s estudos_ de ecohidrologia (Honda; Durigan, 2016; Oliveira et al., 2005; Scholz et al., 2007; Jeltsch et al., 2000), no balanco hidrieo do bioma (figura 1). Fm termos gerais, durante a seca, algumas Arvores do cerrado reduzem a rea foliar enquanto outras a mantém; entretanto, & justamente este estrato que consegue garantir alguma evapotranspiracao (ET) na seca, importando agua do subsolo mais profundo devido as caracteristicas do seu sistema radicular alongado e pivotante (Scholz et al., 2007). Alguns arbustos tendem a perder também a superficie foliar na época seca, no Fig tes 1. Bsyuena da evapotranspiragao no periodo se:0 squ Jnuvos0 (font:: el borado pelas autoras com bas: em Honda < Duriran, 2016) Ectrategias de desenh) urbe no sensi:eis a censervayao aa agua ¢ das paisagens AS esit-téias de -daptacao do desenho & 0 servau0 do ciclo hidrico so tratadas nultidisciplinarmente. Na hidrologia, destacam.se 0s tra.alhos de Baptista et al (2011) com as chamadas —_técnicas compensatérias em drenagem © de Tucci (1995) com as chamadas medidas de controle na fonte, No urbanismo, destacam-se os trabalhos do “desenho urbano sensive. a Agua” (Water sensitive Urban Design; Hoyer et al., 2071) e de desenvolvimento de baixo impacto contribuindo muito para a ET; isso ocorre devido & menor profundidade de suas raizes e ao fato de as camadas mais superficiais de solo encontrarem-se bastante secas nessa época do ano. J4 as gramineas e as herbaceas tendem a dessecar suas partes aéreas, como estratégia de economia hidrica no periodo seco, mas ‘mantém estruturas nas raizes, que favorecem a rebrota ripida e vigorosa apés as primeiras, chuvas (Jeltsch et al., 2000), e, por isso, contribuem menos na ET. Honda e Durigan (2016) estudaram 0 balango hidrico do cerrado stricto sensu e do cerradao para uma area da Estagio Ecolégica de Assis/SP. Os resultados mostram que a parcela evapotranspirada foi de 21,7% no cerrado e 2.5% no cerrado stricto sensu; a absorvida pela copa foi de 75,4% no cerradao @ 97.2% no cerrado stricto sensu @ a escoada pelo tronco foi de 2,9% no cerradao € 0,3% no cenado stricto sense. Interceptara a do balanco hudrivo no pesiodo (Low-Impact Development Design Strategies; Frince Georges County, 1999); além da infraestrutura verde (ou ecolégica), termo empregado para abranger as diversas fingGes exercidas pelos espacos livres de edificagdes na prestagio de uma série de servicos ecossistémicos (Pinheiro, 217). As estratégias compiladas dessas referéncias se baseiam na maxima conservacdo das caracteristicas naturais do ciclo hidrico, em contraponto as medidas convencionais de ‘drenagem, que visam o manejo mais ripido do escoamento superficial; na adociio de solucdes descentralizadas, com medidas “Revista de Morfologiativoana (2022) 10(2): €00230 Rade Lusijona de Morfologia Urbana ‘compensatérias na fonte; na integracto de iiltiplos ganhos, como biodiversidade, custo de construsio e gestto, amenidades (estéticas, lazer, educagao ambiental), Urbanisticamente, as medidas podem atuar no nivel das edificagdes privadas ou publicas (pequenas manchas), dos loteamentos (trechos lineares), de subbacias ou cidades inteiras (grandes manchas), Devem ainda integrar a0 planejamento urbano, contendo solugdes de adaptacao do tecido urbano jé existente — tais, ‘como as dreas densamente urbanizadas, como centros urbanos, baitros residenciais de alta densidade construida, grandes _conjuntos habitacionais; de grandes atividades, como indistrias © — equipamentos-; de direcionamento das novas urbanizacées e da expansdo urbana; de graduagto da densidade, com transcetos de usos entre 0 urbano e 0 mural; de preservacdo e conservagio dos espacos livres, garantido quali quantativamente 0 funcionamento dos sistemas produtores de égua e articulando direas de lazer a estes Ambientalmente, as medidas precisam estar relacionadas 4 geomorfologia (altitude regional e declividade); as caracteristieas de percolacto do solo e do nivel do lencol fredtico; 4 preservacio das nascentes e recursos hidricos. Devem ainda ter resilidncia para o enfrentamento das sazonalidades e dos eventos climaticos extremos A partir desses principios, as técnicas esto associadas as diferentes fungdes que exercem no ciclo hidrico: i) uso da agua, ii) tratamento, iii) detengao e infiltragao, iv) transporte, v) evapotranspiragao, As medidas de uso da agua podem ser realizadas por meio da_reservacio descentralizada da chuva, buscando reduzir a demanda sobre o servico de abastecimento, além da conservacdo de energia e da economia de recursos/custos; 0 que pode ser vidvel para grandes usuirios pontuais, devido as especificidades de implantacdo e gesttio do sistema (Hoyer et al., 2011). ‘As medidas de tratamento silo necessirias amtes do uso doméstico ou da infiltragto no solo, quando a qualidade da Agua nao for adequada; o que pode ser realizado por meio de sistemas de biorretencio, associando ‘vegetacdo fitorremediante com filtro de brita e areia (Hoyer et al., 2011). Pinheiro (2017) apresenta uma relacdo de espécies wtilizadas para fins de fitorremediacao. ‘As medidas de detencio e infiltracdo visam a acumulagio temporéria ¢ a criacio de condigdes para percolacdo gradual da chuva no solo ou 0 seu transporte para infiltracdo em um outro lugar. As técnicas podem ser pontuais — como a detencio em subsolos ou telhados (medida que pode servir ainda para 0 aumento da biodiversidade, methoria da satide fisica e mental da populacdo, por aproximar as areas verdes desta, © redugdo dos efeitos da ilha de calor, por aumentar—a evapotranspiracdo); ot! em pequenas bacias ou pplanos instalados dentro do lote ou na calcada (como os jardins de chuva), ‘As estruturas podem ser lineares, como os pavimentos permedveis, as trincheiras de infiltragdo, as biovaletas e as membranas geotéxteis. Os pavimentos permedveis criam condigdes para o estoque © percolacdo das Aguas ao longo do seu perfil, atuando junto 20 sistema Vidrio, caleadas e estacionamentos. As trincheiras de infiltraga0 sto superiicies de percolagao lineares com camada filtrante, aplicadas junto as pracas, jardins, canteiros & contornos de éreas impermeabilizadas. As biovaletas concentram fluxos secundarios & criam condigdes para a infiltragao ao longo do seu comprimento; ja as membranas geotexteis so médulos pré-fabricados instalados no solo, que criam condi¢des para o estoque e infiltragao gradativa das 4guas _pluviais (Hoyer et al., 2011; Baptista et al., 2011). ‘As estruturas podem ainda localizar-se na escala da cidade ou de sub-bacias, como as bacias de detencdo e retencdo. As bacias de detengao so volumes para estoque das aguas, visando atenuar e reter os excedentes do escoamento superficial; elas podem ser integradas as quadras esportivas, pracas, estacionamentos, mantendo-se secas ao longo do ano, viabilizando esses usos, mas passam a acumular agua e sedimentos nos periodos de chuvas intensas ou prolongadas, atenando 0 pico a jusante, Ja as bacias de retencio mantém lamina d’égua a0 longo do ano servindo para grandes estoques de vazbes, além de associarem ganhos estéticos e de lazer "Revista de Morfologiatvba Red Kraze. CGS 2) svi 14, Conectores ecolégicos a0 longo de vias © Espécies nativas de pequenoe © Vias maiores, :médio porte, perenes ou Gomeiza semidec'éu: (Vochnsiathvrsoidea): suewpira < banca (Prerodon emargivats): J Copaiba (Cop.ifera taneseorfit z Desf; Angelim-do-cerrado (Patairea macrocarpay: Congonina (Tex cerasifoliay, Mutamba (Luehea grandiflora) Oiti (Couepia zraniifioray, *au- terra (Cualea parvfora) 15. Atborizacao ao longo de vias maiores_@ Plantio de espécies médiasem _* Vias maiores, iguezague. Sucupira branca (Pterodon emarginatu J; Copaiba (Copaifera lang dorffi Desf) Angelim-do-cerrado (Vatairea ‘macrocarpa) 16, Pavimento permeavel ‘© Forracdo pisotedvel: .tama- © Estacionamentos batatais (Paspaziun Vins menores de altos notatum Flieggé) regionais 17. Transigao urbano-ambiental ‘© Sucessto ecolégica de primérias e © Espagos livres entre “wily sonniites. Peete Aigo: ‘oiecdoahunceas i mene branco (.cacia polyphtta ‘matas ciliares f DC); Favinha seea (dlbissia hassleriy; Lixeira (Allophylus tii), Sectndaris: Seqiba branco (Cariniana estreilensis): Aroeira brava (Lithvaea molleoides Engh) Continva ‘Revista de Morfologiatvoana 2022) 10, = es 2=0 Rede Lasifona de Morfologia Urbana SSN 2:82-7: Palcagismo do cerrado oplicado ao furcionamento da Infrassirutura ecolégica Grandes manchas 1S. Baia de retento na bacia_ © Es Giesnatva ve pesienoe © anes on médio pote, yerenes © Gutros espagos ives — senuizeiduae js ind.cadas 19. Trampoline nos Totes * Espéviesnaivas de pequenoe © Grandes conjuntos miédio porte perenes wi semideciduss j indicadas 30, Ebi de bora * Tncentivar oplantio de borda nas» ona rural rmonocultres, para atennar 0 cfeito de borda « Tocentivar a fomagao de contedaresagroecologicos nas ‘uonoculturas ZI, Compensaghes na bacia Tormando Pequenos bosques (rampolins) © Parques ‘manehas para ligagdo de conectores com espéciesuativas de peaueno, 6 Outros espacos livres miédio ¢ grande porte. Sucupira boranca Prerodon emargivat.s) Copa.ba (Copaifera !enssaorgtt Desf): Angelim-do-certado (“atairea macrocarpa) ‘Rexista de MorfologiaUvbana (2022) eon? Red: Lasdjonad. Worfoiogia Urbana Paisagismo do cerratte aplicado ao furcionamento fa infrasstutua ecolégica 19/22 etre ten een [Jonnie fe einer 2 ha © cnn © tm & ame © fn emcee twa © het se een Figura 8. Mapa sintese ¢ recomendades vonforme qua. ro 2 amp.iago) (fonte: elavorado pelas ‘aatoras) “Revista de Morfologialvoana (2022, 10) e002 “Kade Lusifona de Morfologia Urbana ISSN? 82-7214 isagismo do cerrad camonto Conelusaes © trabalho contribui teoricameate 0 se aplicar 0 método d AHe pura a detecgdo de fueas cvitivas pars recaigs hidricz busvando medidas de adapinglo au proviema jé constitad.. Coniribui ainda a0. integrar solugdes do desenbo urbano sensivel : égua a0 uso da -eyetago nativa do cerrado, dentro dos principios da ecohidrologia, permitindo uma ‘maior resiliéneia da inffaestrutura ecolégica frente as sazonalidades e eventos climéticos extremos do bioma, além de buscar 2 conectividade das solugoes entre si Embora os pesos das varidveis da AHP sejam_ validos apenas para a area de estudo, eles poderio auxiliar outras pes ,uisas no tema As. solugdes apresentadas poderiam ser utilizadas por varios atores -- de forma sugestiva, no caso das edificagies jé existentes; compulséria, no caso das reformas novas construcdes; ou implementadas pelo

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