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CAPITULO 3 O CARISMA DA PROFECIA EA INTERPRETACAO DAS LINGUAS Entre os dons listados por Paulo em 1Co- rintios, a profecia ¢ aquela que deve ser de: da com mais fervor (ef. 1Cor 14,1.5.24.25.39). ‘Sua importincia é demonstrada pelo fato de que ela é encontrada vinte vezes nos capitulos 12-14 de 1 Corintios. 3.1 0 QUE E PROFECIA? A palavra “profeta” & uma transliteragao do termo grego “profetes”, que ¢ derivado de duas palavras: “pro”, que significa “antes” ¢ “adiante” ou “para”, “em nome de;” e “phemi” que significa “declarar”, “falar”. O termo pro- feta pode significar “aquele que prediz” (fala de antemao), “aquele que fala” ou “aquele que fala por ou em nome de”. Assim, 0 dom de profecia ¢ definido como: “Mas 0 que profetiza fala aos homens para edificagao, exortagao e consolagiio” (1Cor 14,3). Desse modo, profecia ¢ uma mensagem de Deus transmitida por um intermeditiio. a.A profecia no Antigo Testamento Como o profetismo comega no Antigo Testamento, a definigdo e o entendimento bé- sico desse carisma e oficio devem iniciar ai. A palavra hebraica para “profeta” ¢ “navi” e ela deriva de uma raiz. verbal que significa “anun- ciar ou testemunhar”, O oficio de um profeta € claramente definido em Dt 18,18: “Eu Ihes suscitarei um PROFETA como tu dentre seus irmios: minhas palavras porei em sua boca ¢ ele Ihes faréi co- nhecer as minhas ordens”, Assim, 0 profeta é aquele que fala a0 ovo, em nome de Deus, as palavras que Deus poe na sua boca. Isso é confirmado pelas pala- vras do Senhor a Moisés, quando cle negou a capacidade de falar ao Farad: Senhor disse a Moisés: “Vé, eu vou fazer de ti um deus para o faraé, e teu irmiio Aario serd teu PROFETA. Dirds tudo o que eu te mandar, ¢ teu irmao Aardo falara ao rei para que ele deixe sair de sua terra os israelitas (Ex 7,1-2), Aardo é chamado de profeta de Moisés porque falou em nome de dele, transmitindo a sua mensagem. A mesma ideia de falar “por” Deus é confirmada pelo testemunho do profeta Jeremias: Eo Senhor, estendendo em seguida a sua mio, tocou-me na boca. E assim me falou: “Eis que coloco minhas palavras nos teus li- bios” (Ir 1,9). moouto nisicos As vezes, profeta falava em nome de Deus uma mensagem ao povo para o seu tem- po; em outros casos, ele previa eventos futu- ros; de qualquer modo, ele estava transmitindo a mensagem do Senhor. Nos textos da Tord que legislam a res- peito profetismo, Dt 13,1-18 e, principalmente, Dt 18,9-22, encontram-se varias prerrogativas que um profeta deve ter, bem como a maneira de fazer um discernimento da autenticidade do seu oficio e de sua profecia: + eleé um dos seus irmaos (cf. Dt 18,18); * ele deve falar a seus irmaos em nome do Senhor (cf. Dt 18,19); * com suas profecias, ele pode mostrar sinais e prodigios (cf. Dt 13,1); + se ele profetizar algo contririo a Lei de Deus ja revelada (Escritura), ele deve ser rejeitado, apesar de quaisquer sinais ou prodigios (cf. Dt 13,1-3). Diante desse texto, vale lembrar que Deus pode per- mitir que falsos profetas testem nossa obediéncia & Sua Palavra. + se ele predisser 0 futuro ¢ a predigdo no se concretizar conforme profetizou, ele sera rejeitado (cf. Dt 18,20-22). b.A profecia no Novo Testamento No Novo Testamento, ha dois tipos de profeta: *+ os que ocupam 0 cargo ou ministério de profecia (cf. Ef 4,11); + e 08 que tém o dom carismatico de pro- fecia. Os do primeiro tipo so os que possuiam um ministério profético, que vigorava na Igre- 4 Primitiva, Os demais so todos os cristios que recebiam o carisma de profecia, ou seja, qualquer membro do Corpo Mistico de Cristo, cheio do Espirito Santo. Desse modo, nem todos podiam exercer © ministério profético. No entanto, de acordo com | Corintios 14,31, “Todos vés podeis pro- fetizar um por um”. Portanto, ter 0 dom de pro- fecia nio faz de ninguém um “profeta” (dom ministerial), Um exemplo disso que Judas ¢ Silas exerciam © ministério profético, de acordo com At 15,32. ¢.O conceito do carisma de profecia Aqui, 0 foco nao é tratar do profetismo no Antigo Testamento nem do ministério pro- fético da Igreja Primitiva, mas, sim, do carisma de profecia. Ele pode ser entendido como uma opera- gio do Espirito Santo que unge fortemente um cristo para proclamar nao palavras premedita- das, mas palavras que Deus fornece espontane- amente; trata-se de uma mensagem divina que pode ocorrer também por meio de uma visua- lizagdo com a finalidade de elevar e encorajar 08 abatidos, incitar & obediéncia e a fidelidade, trazer conforto e consolo, dar uma diregao. .0s destinatarios da profecia Existem trés destinatirios possiveis quando 0 carisma de profecia se manifesta, 3.1.1 PRIMEIRO DESTINATARIO — PROFECIA PESSOAL A profecia pessoal consiste numa men- sagem de Deus transmitida a mim mesmo; tra- ta-se de um comunicado particular, que pode acontecer mediante uma visualizagdo ou uma fala do Senhor, no interior da alma, Por exemplo, um sujeito ora e recebe uma mensagem do Senhor. E possivel consta- tar um exemplo desse processo em At 16,9: De noite, Paulo teve uma visio: um macedé- nio, em pé, diante dele, Ihe rogava: “Passa & Macedénia, e vem em nosso auxilio!" Nesse breve trecho, Deus fala diretamen- te com Paulo, isto 6, sem intermediirio, por meio de uma visualizago, 3.1.2 SEGUNDO DESTINATARIO— PROFECIA PARTICULAR A profecia particular aquela na qual Deus transmite uma mensagem por meio de um profeta diretamente a uma tnica pessoa, ou seja, por um intermediario a alguma pessoa. Em At 21,8-11, hd um exemplo disso: 8, Partindo no dia seguinte, chegamos a Ce- sareia ¢, entrando na casa de Felipe, o Evan- gelista, que era um dos sete (diéconos),fica- ‘mos com ele, 9. Tinha quatro filhas virgens que profetizavam. 10. Jé estévamos ai fazia alguns dias, quando chegou da Judeia um profeta, chamado Agabo. 11. Veio ter conos- 0, tomou o cinto de Paulo e, amarrando-se com os pés ¢ maos, disse: ‘Isto diz o Espirito Santo: assim os judeus em Jerusalém ligardo ‘ohomem a quem pertence este cinto entrega- io is mos dos pagios. Na passagem acima, observa-se, Deus falando por meio de um profeta, Agabo, exclu- sivamente a Paulo. 3.1.3 TERCEIRO DESTINATARIO ~ PROFECIA COMUNITARIA A profecia comunitiria acontece quando Deus fala por meio de um intermediario (pro- feta) & comunidade. Esse tipo de profecia apa- rece muito exemplificada no Antigo Testamen- to, quando um intermediario se dirige a todo povo de Israel, em nome de Deus. 3.2 COMO SE MANIFESTA A PROFECIA? Essa questio é fundamental, visto que muitos nao vivenciam esse carisma porque ndo entendem o modo de operar de Deus na mani- festagao carismatica. Outro dado importante consiste em dizer que 0 contetido a seguir ndo pretende ser uma espécie de “manual do agir do Espirito”, pois Ele age livremente, quando e como quiser. O que se segue, porém, surge do relato das mais diversas experiéncias carismiticas vi- vidas, discemidas e confirmadas, a0 longo do tempo, por membros do movimento eclesial e da corrente de graga, Renovagio Carismatica Catélica. 3.2.1 PROFECIA PROCLAMADA NA LINGUA VERNACULA Em uma palavra, é a mensagem de Deus dada por meio de um profeta em seu idioma, O Senhor usa de nossa natureza humana para se comunicar conosco. Assim, o que quero dizer € que, se uma pessoa mora no Brasil, fala por- tugués (sua lingua verndcula), Deus vai usé-la para passar sua mensagem em lingua portugue- sa, Na manifestagio desse carisma, as pa- Javras nao precisam ser em portugués arcaico, nem em voz alta ¢ alterada, Trata-se de uma mensagem emitida por Deus mediante uma pessoa utilizando, geralmente, a primeira pes- soa do singular, “eu”, Exemplos desse processo so 0s ordcu- los (mensagens) proféticas presentes na Biblia. Observe que neste texto Deus fala, em primeira pessoa, mediante Amés (Am 1,6-8): 6. Oriculo do Senhor: Por causa do triplo e do quadruplo crime de Gaza, nio mudarei 24 Mooio.isicos ‘meu decreto. Porque deportaram uma multi- dio de exilados, para entregé-los a Edom, 7. porei fogo aos muros de Gaza, e esse fogo devorard os seus paldcios. 8, Exterminarei 6s habitantes de Azoto, e 0 que tem na mao © cetro em Ascalon, Voltarei minha mio contra Acaron para aniquilar 0 resto dos fi- listeus, diz 0 Senhor Javé Atente ao fato de que a primeira pessoa do singular ¢ utilizada pelo profeta que comu- nica a mensagem do Senhor nos verbos “mu- darei, “porei”, “exterminarei” e “voltarei”. 3.2.2 POR MEIO DE VISUALIZACOES No livro dos Atos dos Apéstolos, mais precisamente em At 16,9, Paulo, em oracdo, teve uma visualizago, ou seja, o Senhor Ihe deu uma mensagem mediante uma espécie de imagem mental, uma imaginagao. O Apéstolo estava em orago, quando, entdo, o Espirito Santo fez com que ele visualizasse um mace- donio Ihes indicando o que deviam fazer. Deus quer e pode usar nossa imaginago para falar conosco. Essa é a profecia em forma de visualizacao mental. E importante salien- tar que esse tipo de manifestagio carismética no é uma teofania, ou seja, ver coisas com os olhos camais elementos do mundo espiritual, como acontecia com Sao Padre Pio, que via seu anjo da guarda. ‘A profecia carismatica se parece com ‘uma imaginagdo, uma visio mental, uma visu- alizagdo que surge num momento de oragio. Ela geralmente é cheia de simbolos que devem ser interpretados e discemnidos pelas pessoas que compdem a assembleia orante. 3.2.3 PROFECIA FALADA EM LINGUAS Outra maneira pela qual a profecia pode ocorrer € mediante uma fala em linguas, ou seja, por meio dos gemidos inefiveis emitidos por alguém que profetiza na forga do Espirito Santo. Quando uma pessoa fala em Linguas, sem ser no processo da oragdo em linguas - como {jd foi tratado acima -, esta se dirigindo 4 co- munidade. Essa pessoa esta profetizando em linguas, transmitindo uma mensagem em lin- guas. Quando isso acontece, faz-se necessirio o carisma da interpretagdo das linguas, alguém que as interprete. A interpretagio de uma profecia em lin- guas pode acontecer da mesma maneira que ocorre com a profecia, ou seja, por uma visua- lizagdo, por uma frase que vem no coragaio em lingua verndcula. Um exemplo pode ajudar na compreen- sflo dessa manifestagiio carismatica, Suponha que, apds um momento de oragdo, um siléncio seja feito a fim de realizar-se a escuta de Deus. Nesse momento, uma pessoa comega a falar em linguas. Ao término, ¢ preciso dar alguns pasos: orar pedindo ao Senhor que alguém, en- tre os presentes, tenha em seu coracao.a interpretacao; silenciar 0 coragao, esvaziar a mente ees- perar que a interpretacao venha; 3° ter consciéncia de que a interpretacao pode acontecer por meio de uma frase que é “escutada” no cora¢do ou uma vi- sualizagao; 4° proclamar a interpretagao; 5° discernir eacolher a mensagem de Deus. © quinto passo, 0 discernimento de uma profecia, seré tratado a segui Por fim, ¢ importante salientar que uma frase, falada em linguas, mais a sua interpreta- ¢0, compdem uma profecia. 3.2.4 PROFECIA POR MEIO DE SONHO A Biblia testemunha que Deus transmite mensagens por meio de sonhos. Estes cons- tantemente sdo os meios pelos quais 0 Senhor emite mensagens sobre fatos do futuro ou do presente aos seres humanos. De modo especial, os sonhos proféticos sio relatados em textos narrativos. Génesis Daniel, por exemplo, os registram com frequ- éncia (cf. Gn 20,3; 31,10-13; Jz. 7,13-15; 1Sm 28,6; IRs 3,5-14), Todos os sonhos mencionados nas refe- réncias acima so exemplos de certo tipo de sonho profético, cheio de simbolismo, cuja interpretagdo é, muitas vezes, mais importante para o enredo da histéria (cf. Gn 37,18-20; Dn 2,48; 4,17-19). José do Egito recebeu revelagdes profé- ticas assim (cf. Gn 37,5.19) ¢, além disso, foi capaz de interpretar os sonhos do copeiro, do padeiro © do proprio faraé (cf. Gn 40,1-23; 41,1-36). Em sonho, Salomio é convidado por Deus a pedir 0 que deseja (cf. IRs 3,5-15); Abimelec é advertido, por meio de um sonho, de que nio poderia ter tomado a esposa de ou- tro para seu harém (cf. Gn 20); em sonho, La- bao ¢ advertido de que nao podia fazer nenhum mal a Jacé (ef. Gn 31,24), No Novo Testamento, José, por meio de um sonho. toma conhecimento de que o filho de Maria era filo de Deus (cf. Mt 1,20); em sonho, os magos silo advertidos de que deve- riam evitar Herodes (cf. Mt 2,10). Sim, com base em tudo o que ¢ testemu- nhado nas Eserituras, 0 Senhor fala por meio dos sonhos, porém, so necessérios muita ora- go e discernimento para saber se os sonhos provém de Deus ou sdo apenas uma manifes- tagdo psiquica. 3.3 COMO DISCERNIR UMA PROFECIA Adiante serdo expostos os passos para discernir uma profecia. Isso significa que, com cles, é possivel saber se uma mensagem real- mente vem de Deus ou néo, E importante lembrar que se deve dis- cernir uma profecia somente depois que ela foi proclamada. Muitos no a proclamam por medo ou diivida e ficam tentando discernir, an- tes, até terem certeza de que aquilo vem Deus. A regra é: sempre proclame; é a comuni- dade que deve discemni-la. 3.3.1 PRIMEIRO PASSO PARA O DISCERNIMENTO: A PALAVRA DE DEUS Quando uma profecia é proclamada, é preciso confronté-la com a Palavra de Deus para ver se ela é verdadeira ou nfo, ou seja, se cla fere alguma verdade revelada. Antes de tudo, é necessario saber em que consiste a Palavra de Deus para nés catélicos. De acordo com 0 documento pés-sinodal Ver- bum Domini, ela é transmitida na Biblia e na Sagrada Tradigdo. Assim € 0 ensino da Igreja, no niimero 7: L..] Por conseguinte, a Palavra divina ex- prime-se a0 longo de toda a historia da sal- vagdo ¢ tem a sua plenitude no mistério da encamagdo, morte ressurreigao do Filho de Deus. E Palavra de Deus é ainda aquela pregada pelos Apéstolos, em obedigncia ao mandato de Jesus Ressuscitado: «lde pelo ‘mundo inteiro ¢ anunciai a Boa Nova a toda a criatura» (Mc 16, 15). Assim a Palavra de Deus é transmitida na Tradigio viva da Igreja. Enfim, é Palavra de Deus, atestada e divinamente inspirada, a Sagrada Eseritu- rra, Antigo ¢ Novo Testamento. [...] mopuLoaisicos Mais a frente, no mesmo documento, no niimero 18, a Igreja ensina que: [...] De fato, a Palavra de Deus da-se a nos na Sagrada Escritura, enquanto testemunho inspirado da revelagio, que, juntamente com a Tradig@o viva da Igreja, constitui a regra suprema da fé. Algreja, de acordo com o documento su- pracitado, no mimero 51, afirma: [.--] (A Igreja =) Mestra de escuta, a Esposa de Cristo repete, com fé, também hoje: “Fa- lai, Senhor, que a vossa Igreja Vos escuta”. Por isso, a Constituigio dogmdtica Dei Ver bum comega com estes termos: “O sagrado Concilio, ouvindo religiosamente a Palavra de Deus ¢ proclamando-a com confianga...” Com efeito, trata-se de uma definigao dina- mica da vida da Igreja: “Sao palavras quais 0 Concilio indica um aspecto qualifi- cante da Igreja: esta é uma comunidade que escuta e anuncia a Palavra de Deus”. A Igreja no vive de si mesma, mas do Evangelho; ¢ do Evangelho tira, sem cessar, orientagao ‘om as para o seu camino. [..] Desse modo, 0 Magistério da Igreja nao € a Palavra de Deus, mas o que a transmite, proclamando-a e a interpretando-a de modo le- gitimo. Isso é afirmado nessa formula belissi- ‘ma, no nimero 19: [...] Em iiltima andlise, através da obra do Espirito Santo e sob a guia do Magistério, a Igreja transmite a todas as geragdes aqui- lo que foi revelado em Cristo. A Igreja vive na certeza de que o seu Senhor, tendo falado outrora, no cessa de comunicar hoje a sua Palavra na Tradicio viva da Igreja ¢ na Sagrada Escritura.[...] Ademais, ainda sobre 0 Magistério, é dito, no niimero 33: 33. O Magistério vivo da Igreja, a0 qual compete “o encargo de interpretar autentica- mente a Palavra de Deus escrita ou contida na Tradigao” [...]. Portanto, quando uma profecia ¢ procla- mada, deve-se submeté-ta ao crivo das Escri- turas, da Sagrada Tradigio e do Magistério da Igreja. Se ela nao estiver em consonancia com tudo isso, ela nao pode ser tida como verda- deira, Por iiltimo, neste t6pico, é de suma rele- vaneia compreender que a mensagem emitida no carisma de profecia nao aerescenta nada no processo ¢ no contetido da Revelagao Divina na Palavra de Deus, registrada nas Escrituras ¢ na Tradigao. Sobre isso, 0 Catecismo da Igreja Catélica ensina, no parigrafo 67: No decurso dos séculos tem havido revela- ges ditas “privadas”, algumas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igre~ ja, Todavia, no pertencem ao depésito da f6. O seu papel nao é“aperfeigoar” ou “com- pletar” a Revelagdo definitiva de Cristo, mas ajudar a vivé-la mais plenamente, numa determinada época da histéria. Guiado pelo Magistério da Igreja, 0 sentir dos figis sabe discemir e guardar o que nestas revelagSes cconstitui um apelo auténtico de Cristo ou dos seus santos a Igreja, A ff crista nao pode aceitar “revelagdes” que pretendam ultrapassar ou corrigir a Reve- lagao de que Cristo ¢ a plenitude. E 0 caso de certas religides ndo-cristas, e também de certas seitas recentes. fundadas sobre tais “revela- ges”. E preciso ter clareza a respeito da dife- renga entre uma revelagdo — com «p) minus- culo —, ou seja, uma revelagio particular, ¢ a Revelagdo ~ com «R» maitisculo ~, a Palavra de Deus. A mensagem profética do carisma de profecia esta situada no primeiro ambito. 3.3.2 SEGUNDO PASSO PARA O DISCERNIMENTO: PROFECIAS SIMILARES préximo passo para discernir uma pro fecia pode ser chamado de: “critério de pro- fecia similar”. Ele se dé quando uma pessoa profetiza, e outra pessoa recebe uma profecia similar, isto é, parecida com a que o primeiro J havia profetizado. Quando isso acontece, ¢ sinal de que Deus esté querendo, de fato, dizer isto ou aqui- lo, Essas profecias podem ser emitidas tanto por meio de mensagens faladas como por vi- sualizagoes. Na pritica, quando isso acontece, quem teve profecias similares & que foi proclamada pode dizer “eu confirmo!” ajudando, assim, no discemnimento. 3.3.3 TERCEIRO PASSO PARA. O DISCERNIMENTO: SINAIS CORPORAIS Este terceiro passo é muito simples. Al- gumas vezes, Deus di a graga de sentirmos alguns sinais corporais, por exemplo, arrepio, calor, formigamento em algum local do corpo, batimento forte do coragdo ¢ outras sensagdes parecidas para confirmar uma profecia. E preciso compreender que 0 Senhor atua em nossa alma, em nosso espirito e cor- po. Ele pode despertar no ser humano respostas emocionais-corporais. E relevante afirmar que se deve ter 0 maximo discernimento para nao enfatizar processos emocionais como 0 critério mais importante do discernimento. Por fim, é possivel que a profecia gere uma paz no coragao de quem a escuta, Ela no deve gerar confusdo, dissensdes nem brigas. 0 ‘anisuns bo¥s po tserro 3.4 A RELACAO PROFECIA E FUTURO Muitas pessoas associam a profecia ape- nas a previsio de acontecimentos futuros e, na verdade, nao é assim. E claro que Deus faz uso do carisma da profecia para essa finalida- de, porém ela esta ligada muito mais a algu- ‘ma mensagem que o Senhor quer transmitir no presente. De acordo com 0 Apéstolo Paulo, a pro- fecia serve para edificar, consolar e exortar (cf. 1Cor 14,3). Dessa maneira, sabe-se que a pro- fecia nao se limita apenas a prever aconteci- mentos futuros. Se uma profecia tratar de evento futu- ro apontando para algo negativo, deve-se ter ‘© maximo de discernimento, colocando-a em orago, tendo cuidado com alarmismos ¢ pani- co. A profecia verdadeira se cumpriré, Portan- 10, 0s cristdos devem guardé-la no coragao ¢ esperar em Deus. 3.5 A PRATICA DO CARISMA DE PROFECIA. ELEMENTOS PARA. EXPERIMENTAR 0 DOM Agora, serio expostos alguns elemen- tos que podem contribuir na experiéncia com 0 dom carismatico da profecia. E importante recordar que 0 que ser exposto nao é um ma- nual, mas um conjunto de sugestbes pautadas nas mais diversas vivéncias de carismaticos, a0 Iongo do tempo. 3.5.1 PRIMEIRO ~ TER CONSCIENCIA DO AMOR DE DEUS E DE QUE ELE QUER SE COMUNICAR CONOSCO Deus é amor (cf. LJo 4,8.16), portanto Ele se revela, se doa ¢ compartilha a si mesmo. Nese sentido, seu ato de amor precisa ser en- tendido como relacional ¢ pessoal O Antigo Testamento mostra com cla- reza essa disposigdo divina de se comunicar estabelecendo relacionamento com a humani- dade. No Novo Testamento, 0 amor de Deus € demonstrado de forma ainda mais profunda, na encamagao da propria Palavra do Pai, Jesus de Nazaré, Ademais, a Revelago Divina, ainda mos- tra que, na morte, Jesus entregou sua vida por causa de toda humanidade (cf. Jo 3,16). Exerci- tando esse amor, Deus, o Filho, se expds a gran- de softimento e violéncia (ef. Rm 5,6-10). As Escrituras afirmam que Jesus ressus- citou e quis ter com os seus diseipulos. Por quarenta dias, 0 Mestre se comunicou com cles, partilhando a comida e dando-Ihes instru- iio (cf. Le 24; At 1,4-8). Por fim, o Espirito Santo, 0 amor de Deus derramado em nosso coragio, é enviado (cf. Rm 5,5), continua agindo ao longo de toda a histéria, acompanhando os cristiios na obra (cf. At 1,8), comunicando-se conosco, ao reve- lar a vontade do Pai, em Cristo (cf. Jo 16,1-33). Quando uma pessoa toma conscigncia do amor de Deus, ento ela toma consciéncia de que Deus quer falar com ela, Ora, quem ama quer conversar; quem ama quer se comunicar! Deus quer falar com vocé! 3.5.2 SEGUNDO - ORAR Ter uma vida de oragdo é essencial para que 0 carisma da profecia se manifeste, pois le consiste num exercicio de escuta do Senhor. Existem duas definigdes clissicas de oragabo. Ambas so importantes e se complementam. Uma delas é “Falar a Deus” (ou Cristo) e tem sido uma descrigao espontinea da ora- 0 desde os Padres Apostélicos. Entretanto, a Teologia adotou outra definigio, geralmente atribuida a Sao Jodo Damasceno: a “elevagaio da alma a Deus”. As duas conceituagdes trabalham a no- do relacionamento, Portanto, quanto mais a pessoa vive o aprofundamento dos lagos com Deus, mais décil & Sua voz ela fica 3.5.3 TERCEIRO - CORAGEM Todo carismiitico precisa de coragem para proclamar a vontade de Deus. Imagine se © Senhor colocar em seu corago uma mensa- gem ¢ vocé a retiver dentro de si porque nao tem coragem de proclamé-la, A Sagrada Escritura fornece um vasto e rofundo conjunto de textos que tratam da co- ragem. A Biblia se ocupa desse tema de manei- ra surpreendente, visto que ela consiste, muitas vezes, numa narrativa de pessoas pequenas que executaram grandes coisas, com a ajuda do Se- nhor. O vocabulirio biblico, no Antigo Testa- mento, ligado ao tema “coragem” é fantistico. No hebraico, é utilizada uma série de expres- sdes idiomaiticas para a experiéncia de quem agiu corajosamente. Uma expresso comum era 0 termo “co- ragdo”. Em Amis 2,16, 0 que foi, muitas ve- es, traduzido por “guerreiro mais corajoso”, em hebraico, é “forte de coragdio”, No hebraico, perder 0 corago significa- va perder a coragem. Isso poderia ser expres- so de vérias maneiras: 0 coragdio “sai” (cf. Gn 42,28), “cai” (ef. 1Sm 17,32), “desmaia” (ef. 16 23,16), “pode ser perdido” (cf. Jr 4,9) ou “se derrete” (cf. Ez 21,7) A ideia de associar coragio com “ser co- rajoso” esta presente na lingua latina e suas de- rivagées. Alids, 0 termo “coragem” ¢ formado pela palavra “cor” ou “cordis”, cujo significado € “coragdo”; ¢ “agem™ que, em portugués, é 0 sufixo que denota “agao”. Desse modo, o senti- do seria “ago do corago”. Coragio na Biblia nao corresponde aos sentimentos (emocional), como em nossa cul- tura atual. Ao contrario, ele é a sede dos pensa- mentos (racional). Coragem significa ter pen- samentos firmes, fortes. 3.6 EXERCICIOS PARA O CARISMA DA PROFECIA. 3.6.1 PARA PROFECIA PESSOAL 1° Passo, Ore em linguas. 2° Passo. Feche os olhos. Faga siléncio, esva- ziando seu coracao e sua mente de qual- quer pensamento para o momento de escuta. Lembre-se das formas pelas quais a profe- ia se manifesta (mensagem na lingua vernacula, frase em linguas e interpre- ta¢ao, visualizacao). 3° Passo. Acolha a mensagem. 4° Passo. Faca o discernimento e anote para que vocé o guarde. 5° Passo. Louve ao Senhor e aja conforme a vontade de Deus. 3.6.2 PARA PROFECIA PARTICULAR Para este exercicio, é necessério ter outra pessoa que ore com vocé. 1° Passo. Imponha as maos sobre o irmao a sua frente. 2° Passo. Ore em linguas. 3° Passo. Feche os olhos. Faca siléncio, esva- Ziando seu coracao de qualquer pensa- mento para o momento de escuta. ‘amiss, DONS po tseerro Lembre-se das formas pelas quais a profe- cia se manifesta. 4° Passo. Sempre proclame. 5° Passo. Faca o discernimento. 6° Passo, Louve e agradeca a Senhor. 3.6.3 PARA PROFECIA COMUNITARIA 1 Passo. Junte os irmaos para oragao. 2° Passo. Orem em linguas por algum tem- po. 3° Passo. Fechem os olhos, facam siléncio, esvaziando 0 coragao de qualquer pen- samento para o momento de escuta. Lembrem-se das formas pelas quais a pro- fecia se manifesta. 4° Passo. Sempre proclamem. Neste caso, um por vez. Se acontecer uma mensa- gem em linguas, esperem pela interpre- tacao. 5° Passo. Compreendam com os passos para o discernimento. 6° Passo, Louvem e agradecam ao Senhor. 3.7 CONSIDERACOES FINAIS Os exercicios expostos silo de grande importancia, porém, vale lembrar que existem outras formas pelas quais Deus manifesta 0 ca- risma da profecia. O objetivo com esses exerci- cios é fazer com que vocé e seu grupo possam, de fato, experimentar esse carisma e ensinar a outros como fazé-lo,

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