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Resumo
Este trabalho tem como objetivo conhecer em posto de vista teórico as narrativas que
envolvem as ações do (a) pedagogo (a), enquanto gestor sobre o processo de inclusão
educacional. Tendo como suporte os princípios norteadores da pesquisa bibliográfica (GIL,
1996) e a revisão de literatura nacional dos últimos anos, realizando a investigação através de
autores que tratam da Inclusão como Carvalho (2004), Mantoan (1997, 2004), Sassaki (2002),
entre outros. Incluindo as pesquisas realizadas com consulta a artigos em revistas,
dissertações, teses, projetos e legislações que abordam a questão da inclusão social. Para o
desenvolvimento do trabalho foi necessário, inicialmente, fazer um estudo sobre o histórico
da inclusão social e as influências exercidas por algumas mudanças nos dias atuais . Em
seguida, discutimos a inclusão social e o direito do indivíduo que apresenta alguma
deficiência ter acesso à educação, à saúde, ao lazer e ao trabalho, apontando também algumas
mudanças necessárias no âmbito das poliíticas a fim de possibilitar a inclusão social.
Consideramos por fim, uma análise literária do papel necessário e excepcionalmente do
pedagogo no encaminhamento de ações que facilitam o processo inclusivo e a promoção da
aprendizagem . Dessa forma, a questão que norteou o presente trabalho buscou verificar o
papel do (a) pedagogo (a), unicamente, atuante na equipe gestora de escolas em encaminhar
ações pedagógicas para o desenvolvimento de uma prática que propicie a inclusão. Com a
pesquisa, apontamos que as pedagogas, que exercem o papel de orientadoras das ações
pedagógicas, são capazes de mobilizar os agentes escolares nas ações conjuntas com a escola.
A pesquisa ainda destaca a necessidade de uma formação inicial com qualidade que permita
ao pedagogo compreender quais são as ações que o compete no desenvolvimento de uma
prática pedagógica que propicie a inclusão.
Introdução
As discussões sobre o processo de inclusão social têm se tornado cada vez mais
constantes em nossa sociedade, principalmente no âmbito da educação escolar. Entretanto,
1
Graduada em Licenciatura de Pedagogia na Universidade Estadual de Ponta Grossa, atua como pedagoga na
Educação Infantil no município.
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apesar do avanço dessas discussões, ainda há aspectos que podem ser repensados em relação a
como esse processo está se efetivando, tanto na sociedade, em termos gerais, quanto nas
diferentes instituições de ensino.
Vale ressaltar que o termo inclusão refere-se à inserção social de indivíduos que estão
excluídos de algum modo, da participação da vida em sociedade. Por esse motivo, falar em
inclusão implica considerar grupos ou indivíduos de origem negra, indígena, ou ainda, grupos
economicamente desfavorecidos e marcados pela desigualdade social. Implica considerar,
também, grupos ou indivíduos que apresentam algum tipo de deficiência e que por esse
motivo são segregados dos demais.
O processo da inclusão escolar de pessoas com deficiência acompanha o processo
histórico de constituição da própria sociedade, a qual, a passos lentos, vem se modificando
para incluir todos os alunos com essa condição nas escolas de ensino regular, de modo que
possa haver também maior inserção social desses alunos, e, portanto, a negação da sua
exclusão.
Por esse motivo é possível constatar atualmente uma quantidade significativa de
instituições escolares preocupadas em adequar e repensar tanto sua estrutura física – com a
construção de salas, rampas, banheiros adaptados – como também seus regimentos internos e
as formas de organização do trabalho pedagógico.
Foi, então, a partir da percepção desse contexto que surgiu o interesse de pesquisar
essa temática, mais especificamente a abordagem de inclusão de alunos com deficiência nas
escolas de ensino regular a partir do papel desempenhado pelo pedagogo. Assim, pela
especificidade da nossa graduação, sentimos a necessidade de saber como as (os) pedagogas
(os) das escolas estão encaminhando e envolvendo-se com esse processo.
construção de salas, rampas, banheiros adaptados – como também seus regimentos internos e
as formas de organização do trabalho pedagógico.
Ao tomarmos como ponto de partida o período da Antiguidade, verificamos que se
destaca uma supervalorização da mitologia e da religiosidade como norteadoras de princípios
que estabeleciam um ideal físico e mental para os indivíduos, o que fazia com que a sociedade
fosse conduzida pelo entendimento então existente. Pessotti (1984, p. 17) esclarece sobre a
visão de perfeição humana que:
Tendo a educação ainda voltada para poucos, a Idade Média caracterizou-se pela forte
influência cristã e pelo privilégio dado ao clero e à nobreza, sendo que os trabalhadores
aprendiam apenas pelo ensino oral aquilo que era necessário para a sua própria sobrevivência,
sem terem, portanto, acesso à aprendizagem voltada ao “[...] mundo letrado e culto”
(CARVALHO, 2004, p. 21).
Nesse mesmo período, a percepção da sociedade no que tange à igualdade de todos os
indivíduos não permitia ainda àquele considerado diferente, ou seja, às pessoas que
apresentavam qualquer deficiência, fazer parte do contexto social, porque a sociedade tinha
uma concepção fundamentada no princípio do homem formado à imagem e semelhança de
Deus, o que possibilitava a exclusão daqueles que não fossem considerados normais ou
perfeitos, posto que se diferenciavam do ideal divino.
Somente na Idade Moderna é que a concepção de igualdade entre os homens foi
considerada. Segundo Carvalho (2004, p. 22):
Foi a partir de 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que se obteve
uma concepção de indivíduo diferenciada da até então existente. Assim, conforme assegura o
artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, todos os seres humanos nascem
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livres e iguais, tanto em relação à dignidade quanto aos direitos que possuem (UNESCO,
1948).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos possui a intencionalidade de ampliar
para todos os países o direito de todas as pessoas, inclusive das pessoas com deficiência, para
que participem da sociedade de forma livre e digna como todo cidadão, independentemente
das dificuldades que possam apresentar, assegurando a possibilidade de a sociedade conviver
com a diferença.
A declaração dos Direitos Humanos impulsionou outras discussões que
desencadearam processos de melhoria da situação das pessoas com deficiência, como, por
exemplo, em 1959, a Declaração dos Direitos da Criança. Por iniciativa de países da Europa,
bem como dos Estados Unidos, foram instituídos acordos que garantiram o cumprimento dos
direitos humanos, a fim de que pudessem também refletir futuramente em uma melhoria
econômica e social, direcionando-se, tais preocupações, a diferentes segmentos da sociedade.
Uma compreensão mais humana por parte da sociedade em relação à condição das
pessoas com deficiência permitiu, portanto, um olhar também diferenciado em relação ao
processo de inserção social dessas pessoas. Assim, com os avanços científicos, no final da
década de 1960, diversas iniciativas foram propostas visando a inserção das pessoas com
deficiência em todos os âmbitos da sociedade. Essas iniciativas tinham como finalidade o
reconhecimento da importância de se satisfazer suas necessidades sociais, psicológicas e
físicas, proporcionando a abertura de instituições sociais, e, inclusive, da escola, a esses
indivíduos. Caminhando para um movimento que, pela forma como se efetivou, seria
marcado ainda por formas de segregação, a sociedade e as instituições sociais não
acreditavam que as pessoas com deficiência poderiam conviver de maneira igualitária com
aqueles considerados normais. Além disso, havia ainda certa resistência em aceitar a
convivência com essas pessoas. Conforme assevera Garcia (1989 apud SILVA, 2009):
instituições, todos os serviços possíveis, já que a sociedade não aceitava receber pessoas
deficientes nos serviços existentes na comunidade”.
Nesse mesmo período houve um avanço no que diz respeito à educação, quando em
1961 a Lei de Diretrizes e Bases n° 4.024 discute a matrícula de crianças excepcionais – como
eram denominadas – no ensino regular. A existência prévia desse atendimento é explicitada
por Kassar (2005, p. 49):
diferenciadas (classes especiais) que funcionavam em escolas regulares, o que ainda mantinha
um viés de segregação.
Foi também a partir da década de 1980 que o debate sobre a educação inclusiva
conquistou espaço na sociedade, pois se passou a construir uma nova proposta de inserção
social das pessoas com deficiência. Com a Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, que coloca em seu Artigo 208, inciso III, como dever do Estado a garantia de um
atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino, o Brasil começa aos poucos a incluir as crianças e jovens com algum
tipo de deficiência nas salas de aula regulares das escolas comuns.
Nos anos de 1990 as reflexões e também as práticas inclusivas ampliaram-se e deram
novos passos para sua concretização dentro do contexto escolar e na sociedade geral.
Com o passar do tempo, novos movimentos em busca da conscientização da
população vêm sendo criados a fim de despertar a necessidade de aprendermos a conviver
com as diferenças, possibilitando a todos uma inserção plena nos diferentes setores sociais.
No que diz a respeito à educação inclusiva, percebe-se que está ligada intimamente à
concepção de uma educação de qualidade para todos, sem qualquer distinção, tal como se
verifica na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Da década de 1990 até os dias atuais passos importantes foram dados em relação à
educação inclusiva, sempre tendo como maior objetivo a inserção total dos indivíduos com
necessidades especiais na sociedade e nas escolas de ensino regular. A atual Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional 9394/96, coloca, por exemplo, no artigo 58, que a educação
especial é uma modalidade de educação escolar que deve ser oferecida aos educandos com
necessidades especiais preferencialmente na rede regular de ensino, o que retira a
possibilidade de que eles participem exclusivamente da educação especial, de forma
segregada dos demais alunos do ensino regular.
Atualmente o Brasil tem na política educacional a defesa da pessoa com deficiência
inserida nas escolas de ensino regular, desde a educação infantil até a educação superior,
sendo as escolas especializadas consideradas como um apoio, quando isso se fizer necessário.
Segundo o documento da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva (BRASIL, 2008, p. 10):
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Nesse processo, parece ser fundamental, ainda, que a equipe pedagógica da escola e,
mais especificamente o pedagogo, esteja envolvido com os professores que vivem situações
de inclusão em sua sala de aula, porque, como as pesquisas têm evidenciado, a inclusão não
pode ser responsabilidade somente do professor que está em sala de aula, mas sim da escola
como um todo (CARVALHO, 2004; MANTOAN, 2009).
Metodologia
Diante do exposto, o presente trabalho tem como questão central verificar qual o papel
desempenhado pelo (a) pedagogo (a), atuante na equipe gestora de 6 de ensino fundamental
da rede privada de ensino de Ponta Grossa, em relação à inclusão de alunos com deficiência
no ensino regular.
A questão norteadora conduziu-nos, portanto, para a definição dos seguintes objetivos:
a) Compreender o papel desempenhado pelo (a) pedagogo (a) no contexto da escola
inclusiva.
b) Identificar as concepções do (a) pedagogo (a) sobre o processo de inclusão
educacional.
Para o desenvolvimento do trabalho, apoiadas em autores como Carvalho (2004),
Mantoan (1997; 2004), Sassaki (2002), entre outros, optamos por utilizar a pesquisa
exploratória, a qual tem por finalidade proporcionar um estudo mais aprofundado sobre o
tema abordado. Segundo Selltiz (1967 apud GIL, 1996) essa pesquisa pode envolver
levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas relacionadas com o problema pesquisado
e análise de exemplos que levem à compreensão do fenômeno.
A pesquisa exploratória foi empregada para colaborar no esclarecimento da
problemática levantada, facilitando, assim, novas descobertas. Além disso, para o
desenvolvimento do estudo, delimitamos à participação de seis escolas de ensino fundamental
da rede privada, instituições localizadas na região central da cidade ou em suas mediações.
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No contexto em que se discute sobre práticas de inclusão a clareza sobre o papel social
da escola assume função determinante, especialmente se compreendermos sua capacidade de
colaborar para a transformação e a mudança da realidade. Nessa perspectiva, ela assume suas
funções com o intuito de desenvolver práticas que atendam às demandas sociais. Sobre a
função social da escola, Libâneo (2006 p.39) esclarece que:
[...] a educação é uma atividade mediadora ‘no seio da prática social global’, ou seja,
uma das mediações pela qual o aluno, pela intervenção do professor e por sua
própria participação ativa, passa de uma experiência incialmente confusa e
fragmentada (sincrética), a uma visão sintética, mais organizada e unificada.
de Diretrizes e Bases da Educação (1996), em seu artigo 3º, promove a garantia de princípios
que a educação nacional tomará como base. Percebemos que a função social da escola
ultrapassa o imediatismo das ações e fortifica práticas e concepções a serem construídas pelas
futuras gerações, influenciando nas mudanças a serem efetuadas na sociedade.
Os princípios defendidos pela Lei de Diretrizes e Bases defendem uma educação de
qualidade, porém entendemos que isso só se efetivará quando forem promovidos e alcançados
todos os outros aspectos do mesmo artigo. Um deles é o direito à inclusão, ao entender a
igualdade de condições para o acesso e a permanência do aluno no processo educativo, bem
como o respeito à liberdade e o apreço à tolerância.
Sabemos que o papel assumido pela escola muitas vezes é fruto de uma reprodução
das concepções e políticas excludentes que existem na sociedade, porém é preciso também
entender de que maneira a escola pode se concretizar como transformadora da realidade
social. Nesse sentido Enguita (2004, p.13) esclarece que:
na sociedade e, portanto, nas instituições escolares. Carvalho (1997, p. 203) também relata a
necessidade da escola estar em um processo contínuo de mudanças e reformas em suas ações
educativas, difundindo e contribuindo para a formação de uma nova visão de escola, uma
escola que, de acordo com sua função social, favoreça o desenvolvimento de todos os alunos,
de acordo com as características que apresentam e do entorno ao qual pertencem.
Em termos gerais, a autora destaca a importância de se ampliar a função da escola e
tornar o seu papel ativo na promoção da inserção plena de todos os indivíduos, não somente
como uma obrigação, ou seja, por cumprimento da legislação, mas por reconhecer a inclusão
como uma necessidade e um direito que deve ser defendido por todos, inclusive por aqueles
que fazem parte do ambiente escolar.
Nesse sentido, compreendemos a inclusão como um processo que requer mudanças e
reestruturação da escola, tanto no âmbito físico – proporcionando acessibilidade – quanto no
conjunto de propostas educacionais que contribuam para produzir o ensino e a aprendizagem.
De acordo com Mantoan (2004, p.23), é necessário que a inclusão se efetive, portanto, como
uma:
Considerações Finais
Dessa forma, o trabalho realizado pelo pedagogo, segundo Almeida e Soares (2010), é
o de propiciar uma organização da escola em que seja possível modificar, transformar e
construir juntamente com toda a equipe escolar estratégias, metologias de ensino, definição de
conteúdos, instrumentos de avaliação, entre outros, responsabilizando-se em articular todos
esses elementos. A ele cabe intervir na reflexão do grupo de professores, auxiliando-os – a
partir da prática que desenvolvem, de referenciais teóricos e metodológicos, e, das
necessidades levantadas – a buscar novas possibilidades ou alternativas para o trabalho
pedagógico que desenvolvem.
Destacamos, a função do pedagogo como imprescindível no contexto escolar,
realizando atividades tanto no auxílio dos professores, no que tange especificamente à
docência, ou seja, aos métodos de ensino, ao planejamento, à organização da sala de aula,
quanto em relação ao processo que extrapola a sala de aula e interfere na mediação de
encaminhamentos pedagógicos realizada entre as escolas e Secretaria de Educação.
Cabe ressaltar que, tendo em vista o processo de inclusão, o papel do pedagogo,
enquanto participante da gestão da escola, é também o de colaborar para sua efetivação,
favorecendo o desenvolvimento de práticas pedagógicas que interfiram tanto na docência,
quanto na promoção de medidas de acessibilidade, na garantia de participação democrática,
desenvolvendo uma educação de qualidade.
Porque busca a qualidade do trabalho pedagógico, parece ser pertinente que o
pedagogo considere a inclusão como uma ação consciente da escola, desenvolvida a partir de
práticas que vão além da obrigatoriedade, a qual causa a inclusão a qualquer custo, sem
alterações estruturais e pedagógicas, avançando para uma proposta efetivamente inclusiva.
Dessa forma, compreendemos que a inclusão requer alterações no sentido de tornar o
processo de ensino-aprendizagem efetivo, como real instrumento de transformação social,
promotor de direitos e do reconhecimento de todos enquanto cidadãos, independentemente de
suas diferenças.
REFERÊNCIAS
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