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O PAPEL DO PEDAGOGO EM RELAÇÃO À INCLUSÃO ESCOLAR

KAILER, Priscila Gabriele da Luz1 - UEPG

Grupo de Trabalho – Diversidade e inclusão


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Este trabalho tem como objetivo conhecer em posto de vista teórico as narrativas que
envolvem as ações do (a) pedagogo (a), enquanto gestor sobre o processo de inclusão
educacional. Tendo como suporte os princípios norteadores da pesquisa bibliográfica (GIL,
1996) e a revisão de literatura nacional dos últimos anos, realizando a investigação através de
autores que tratam da Inclusão como Carvalho (2004), Mantoan (1997, 2004), Sassaki (2002),
entre outros. Incluindo as pesquisas realizadas com consulta a artigos em revistas,
dissertações, teses, projetos e legislações que abordam a questão da inclusão social. Para o
desenvolvimento do trabalho foi necessário, inicialmente, fazer um estudo sobre o histórico
da inclusão social e as influências exercidas por algumas mudanças nos dias atuais . Em
seguida, discutimos a inclusão social e o direito do indivíduo que apresenta alguma
deficiência ter acesso à educação, à saúde, ao lazer e ao trabalho, apontando também algumas
mudanças necessárias no âmbito das poliíticas a fim de possibilitar a inclusão social.
Consideramos por fim, uma análise literária do papel necessário e excepcionalmente do
pedagogo no encaminhamento de ações que facilitam o processo inclusivo e a promoção da
aprendizagem . Dessa forma, a questão que norteou o presente trabalho buscou verificar o
papel do (a) pedagogo (a), unicamente, atuante na equipe gestora de escolas em encaminhar
ações pedagógicas para o desenvolvimento de uma prática que propicie a inclusão. Com a
pesquisa, apontamos que as pedagogas, que exercem o papel de orientadoras das ações
pedagógicas, são capazes de mobilizar os agentes escolares nas ações conjuntas com a escola.
A pesquisa ainda destaca a necessidade de uma formação inicial com qualidade que permita
ao pedagogo compreender quais são as ações que o compete no desenvolvimento de uma
prática pedagógica que propicie a inclusão.

Palavras - chave: Inclusão. Inclusão Escolar. Profissional Pedagogo.

Introdução

As discussões sobre o processo de inclusão social têm se tornado cada vez mais
constantes em nossa sociedade, principalmente no âmbito da educação escolar. Entretanto,

1
Graduada em Licenciatura de Pedagogia na Universidade Estadual de Ponta Grossa, atua como pedagoga na
Educação Infantil no município.
19761

apesar do avanço dessas discussões, ainda há aspectos que podem ser repensados em relação a
como esse processo está se efetivando, tanto na sociedade, em termos gerais, quanto nas
diferentes instituições de ensino.
Vale ressaltar que o termo inclusão refere-se à inserção social de indivíduos que estão
excluídos de algum modo, da participação da vida em sociedade. Por esse motivo, falar em
inclusão implica considerar grupos ou indivíduos de origem negra, indígena, ou ainda, grupos
economicamente desfavorecidos e marcados pela desigualdade social. Implica considerar,
também, grupos ou indivíduos que apresentam algum tipo de deficiência e que por esse
motivo são segregados dos demais.
O processo da inclusão escolar de pessoas com deficiência acompanha o processo
histórico de constituição da própria sociedade, a qual, a passos lentos, vem se modificando
para incluir todos os alunos com essa condição nas escolas de ensino regular, de modo que
possa haver também maior inserção social desses alunos, e, portanto, a negação da sua
exclusão.
Por esse motivo é possível constatar atualmente uma quantidade significativa de
instituições escolares preocupadas em adequar e repensar tanto sua estrutura física – com a
construção de salas, rampas, banheiros adaptados – como também seus regimentos internos e
as formas de organização do trabalho pedagógico.
Foi, então, a partir da percepção desse contexto que surgiu o interesse de pesquisar
essa temática, mais especificamente a abordagem de inclusão de alunos com deficiência nas
escolas de ensino regular a partir do papel desempenhado pelo pedagogo. Assim, pela
especificidade da nossa graduação, sentimos a necessidade de saber como as (os) pedagogas
(os) das escolas estão encaminhando e envolvendo-se com esse processo.

Pessoas com deficiência: abordagem histórica do seu processo de inclusão

O processo da inclusão escolar de pessoas com deficiência acompanha o processo


histórico de constituição da própria sociedade, a qual, a passos lentos, vem se modificando
para incluir todos os alunos, de modo que possa haver também maior inserção social desses
alunos, e, portanto, a negação da sua exclusão.
Por esse motivo é possível constatar atualmente uma quantidade significativa de
instituições escolares preocupadas em adequar e repensar tanto sua estrutura física – com a
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construção de salas, rampas, banheiros adaptados – como também seus regimentos internos e
as formas de organização do trabalho pedagógico.
Ao tomarmos como ponto de partida o período da Antiguidade, verificamos que se
destaca uma supervalorização da mitologia e da religiosidade como norteadoras de princípios
que estabeleciam um ideal físico e mental para os indivíduos, o que fazia com que a sociedade
fosse conduzida pelo entendimento então existente. Pessotti (1984, p. 17) esclarece sobre a
visão de perfeição humana que:

A rigidez ética carregada da noção de culpa e responsabilidade pessoal conduziu a


uma marcada intolerância cuja explicação última reside na visão pessimista do
homem, entendido como uma besta demoníaca quando lhe venham a faltar a razão
ou a ajuda divina.

Tendo a educação ainda voltada para poucos, a Idade Média caracterizou-se pela forte
influência cristã e pelo privilégio dado ao clero e à nobreza, sendo que os trabalhadores
aprendiam apenas pelo ensino oral aquilo que era necessário para a sua própria sobrevivência,
sem terem, portanto, acesso à aprendizagem voltada ao “[...] mundo letrado e culto”
(CARVALHO, 2004, p. 21).
Nesse mesmo período, a percepção da sociedade no que tange à igualdade de todos os
indivíduos não permitia ainda àquele considerado diferente, ou seja, às pessoas que
apresentavam qualquer deficiência, fazer parte do contexto social, porque a sociedade tinha
uma concepção fundamentada no princípio do homem formado à imagem e semelhança de
Deus, o que possibilitava a exclusão daqueles que não fossem considerados normais ou
perfeitos, posto que se diferenciavam do ideal divino.
Somente na Idade Moderna é que a concepção de igualdade entre os homens foi
considerada. Segundo Carvalho (2004, p. 22):

A revolução francesa, com todas as idéias de igualdade, liberdade e fraternidade,


representou um marco para o período denominado pelos historiadores como
Iluminismo. Caracterizou-se pelo apego dos pensadores à racionalidade e às lutas
em favor das liberdades individuais, contra o absolutismo do clero e da nobreza. Era
a vez da burguesia.

Foi a partir de 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que se obteve
uma concepção de indivíduo diferenciada da até então existente. Assim, conforme assegura o
artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, todos os seres humanos nascem
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livres e iguais, tanto em relação à dignidade quanto aos direitos que possuem (UNESCO,
1948).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos possui a intencionalidade de ampliar
para todos os países o direito de todas as pessoas, inclusive das pessoas com deficiência, para
que participem da sociedade de forma livre e digna como todo cidadão, independentemente
das dificuldades que possam apresentar, assegurando a possibilidade de a sociedade conviver
com a diferença.
A declaração dos Direitos Humanos impulsionou outras discussões que
desencadearam processos de melhoria da situação das pessoas com deficiência, como, por
exemplo, em 1959, a Declaração dos Direitos da Criança. Por iniciativa de países da Europa,
bem como dos Estados Unidos, foram instituídos acordos que garantiram o cumprimento dos
direitos humanos, a fim de que pudessem também refletir futuramente em uma melhoria
econômica e social, direcionando-se, tais preocupações, a diferentes segmentos da sociedade.
Uma compreensão mais humana por parte da sociedade em relação à condição das
pessoas com deficiência permitiu, portanto, um olhar também diferenciado em relação ao
processo de inserção social dessas pessoas. Assim, com os avanços científicos, no final da
década de 1960, diversas iniciativas foram propostas visando a inserção das pessoas com
deficiência em todos os âmbitos da sociedade. Essas iniciativas tinham como finalidade o
reconhecimento da importância de se satisfazer suas necessidades sociais, psicológicas e
físicas, proporcionando a abertura de instituições sociais, e, inclusive, da escola, a esses
indivíduos. Caminhando para um movimento que, pela forma como se efetivou, seria
marcado ainda por formas de segregação, a sociedade e as instituições sociais não
acreditavam que as pessoas com deficiência poderiam conviver de maneira igualitária com
aqueles considerados normais. Além disso, havia ainda certa resistência em aceitar a
convivência com essas pessoas. Conforme assevera Garcia (1989 apud SILVA, 2009):

Ao longo do século XIX e da primeira metade do século XX, os deficientes foram,


assim, inseridos em instituições de cariz marcadamente assistencialista. O clima
social era propício à criação de instituições cada vez maiores, construídas longe das
povoações, onde as pessoas deficientes, afastadas da família e dos vizinhos,
permaneciam incomunicáveis e privadas de liberdade.

Tal forma de segregação, que privilegiava tanto o assistencialismo como o


atendimento clínico a essas pessoas permitiu às instituições aprimorarem sua forma de atendê-
las, pois, como mostra Sassaki (2002 p. 31), “[...] a idéia era a de prover, dentro das
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instituições, todos os serviços possíveis, já que a sociedade não aceitava receber pessoas
deficientes nos serviços existentes na comunidade”.
Nesse mesmo período houve um avanço no que diz respeito à educação, quando em
1961 a Lei de Diretrizes e Bases n° 4.024 discute a matrícula de crianças excepcionais – como
eram denominadas – no ensino regular. A existência prévia desse atendimento é explicitada
por Kassar (2005, p. 49):

A partir do inicio da república, a matrícula de crianças consideradas anormais


passou a ocorrer de forma pontual em algumas classes especiais vinculadas a escolas
públicas de modo que no final dos anos de 1920 existiam cerca de 15 classes
especiais funcionando principalmente em escolas estaduais.

Nesse período, a sociedade vivenciou um movimento conhecido como integração,


movimento que no final da década de 1960 e inicio da década de 1970 emergiu como uma
possibilidade de eliminar a exclusão das pessoas com alguma deficiência, da sociedade.
O paradigma da Integração foi um avanço se compararmos às ações da sociedade,
anteriores a ele, em que poucas possibilidades de participação foram viabilizadas. Por outro
lado, mesmo aceitando que as pessoas com deficiência participassem da vida social, de acordo
com os pressupostos desse modelo, não haviam esforços por parte da sociedade para garantir
o acesso e a inclusão total desses indivíduos. Sobre a Integração, Doré (1997, p. 175) destaca:

Historicamente, o termo integração tem sido utilizado com o objetivo de demarcar


as práticas de segregação que consistem em agrupar e retirar do ensino regular os
alunos deficientes ou com dificuldades de adaptação ou de aprendizagem.

No início do processo de integração não houve preocupação por parte da sociedade em


alterar e facilitar essa inserção, nem por meio de modificações físicas, (atualmente facilitadas
pela acessibilidade), nem por meio de novas práticas que levassem a mudanças na concepção
da sociedade sobre a deficiência. O processo de Integração dos anos de 1970 avançou e se
solidificou pelo princípio do mainstreaming, e, segundo Mantoan (1993, p.4) significa:

Integrar-se no mainstreaming, ou seja, na “corrente principal” é fazer parte do


alunado escolar, ou seja, ter acesso à educação. Pela integração escolar, o aluno tem
acesso às escolas através de um leque de possibilidades educacionais, que vai da
inserção às salas de aula do ensino regular ao ensino em escolas especiais.

Assim, nesse modelo, o processo educacional ocorria com a oferta de espaços


educacionais especiais que se encontravam tanto em escolas especiais quanto em salas
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diferenciadas (classes especiais) que funcionavam em escolas regulares, o que ainda mantinha
um viés de segregação.
Foi também a partir da década de 1980 que o debate sobre a educação inclusiva
conquistou espaço na sociedade, pois se passou a construir uma nova proposta de inserção
social das pessoas com deficiência. Com a Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, que coloca em seu Artigo 208, inciso III, como dever do Estado a garantia de um
atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino, o Brasil começa aos poucos a incluir as crianças e jovens com algum
tipo de deficiência nas salas de aula regulares das escolas comuns.
Nos anos de 1990 as reflexões e também as práticas inclusivas ampliaram-se e deram
novos passos para sua concretização dentro do contexto escolar e na sociedade geral.
Com o passar do tempo, novos movimentos em busca da conscientização da
população vêm sendo criados a fim de despertar a necessidade de aprendermos a conviver
com as diferenças, possibilitando a todos uma inserção plena nos diferentes setores sociais.
No que diz a respeito à educação inclusiva, percebe-se que está ligada intimamente à
concepção de uma educação de qualidade para todos, sem qualquer distinção, tal como se
verifica na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Da década de 1990 até os dias atuais passos importantes foram dados em relação à
educação inclusiva, sempre tendo como maior objetivo a inserção total dos indivíduos com
necessidades especiais na sociedade e nas escolas de ensino regular. A atual Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional 9394/96, coloca, por exemplo, no artigo 58, que a educação
especial é uma modalidade de educação escolar que deve ser oferecida aos educandos com
necessidades especiais preferencialmente na rede regular de ensino, o que retira a
possibilidade de que eles participem exclusivamente da educação especial, de forma
segregada dos demais alunos do ensino regular.
Atualmente o Brasil tem na política educacional a defesa da pessoa com deficiência
inserida nas escolas de ensino regular, desde a educação infantil até a educação superior,
sendo as escolas especializadas consideradas como um apoio, quando isso se fizer necessário.
Segundo o documento da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva (BRASIL, 2008, p. 10):
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A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis,


etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza
os recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e
aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular.

Tendo as escolas especiais como suporte da educação regular, ou, ainda, o


atendimento educacional especializado realizado em contra-turno na própria escola, o aluno
estará recebendo auxílio e ao mesmo tempo estará incluído nas escolas de ensino regular,
podendo conviver com outras pessoas sem isentar a importante participação dos educadores
no seu processo de escolarização. No Documento Subsidiário à Política de Inclusão vê-se que:

Pensando as escolas especiais, como suporte ao processo de inclusão dos alunos


com necessidades educacionais especiais na escola regular comum, a coordenação
entre os serviços de educação, saúde e assistência social aparece como essencial,
apontando, nesse sentido, a possibilidade das escolas especiais funcionarem como
centros de apoio e formação para a escola regular, facilitando a inclusão dos alunos
nas classes comuns ou mesmo a freqüência concomitante nos dois lugares
(PAULON; FREITAS; PINHO, 2005, p. 20).

A partir de tais considerações pode-se verificar que o Ministério da Educação defende


a inserção de todos os alunos com necessidades especiais – incluindo-se aqueles com algum
tipo de deficiência – na rede regular de ensino, em todos os níveis, o que abrange também as
instituições da rede privada. Nessa perspectiva, as escolas de educação especial,
transformadas em centros, funcionam como rede de apoio ao processo de inclusão dos alunos
no ensino regular, pois têm como objetivo auxiliar famílias e professores, visando à melhoria
do processo ensino-aprendizagem desses alunos.
A política de inclusão, tal como entendida pelo MEC, ressalta a responsabilidade do
professor do ensino regular no processo de aprendizagem dos alunos com necessidades
especiais, embora ressalte também a importância da educação especial nesse processo. Hoje
temos a oportunidade de participar de uma sociedade que tem vivido mudanças significativas,
dentre as quais a aceitação da necessidade de rever as práticas e conceitos existentes em
relação às pessoas com deficiência.
É possível verificar que alterações vêm ocorrendo nas escolas, tanto no que diz
respeito ao espaço físico, quanto em relação à compreensão e aceitação dessas pessoas. Tal
aspecto requer, entretanto, um maior engajamento da escola, que começa a perceber a
importância da formação dos professores e gestores, tendo em vista o atendimento aos alunos
com necessidades educacionais especiais.
19767

Nesse processo, parece ser fundamental, ainda, que a equipe pedagógica da escola e,
mais especificamente o pedagogo, esteja envolvido com os professores que vivem situações
de inclusão em sua sala de aula, porque, como as pesquisas têm evidenciado, a inclusão não
pode ser responsabilidade somente do professor que está em sala de aula, mas sim da escola
como um todo (CARVALHO, 2004; MANTOAN, 2009).

A Escola e o Pedagogo no Processo de Inclusão Escolar

O desafio de modificar antigas práticas de exclusão e caminhar no sentido de não


apenas aceitar a diversidade, mas principalmente de incluir, reconhecer e aprender com o
outro, ultrapassa todas as barreiras do comodismo, afinal o novo propõe mudanças em todos
os âmbitos. Conforme afirma Camacho (2004, p.12):

Se torna evidente que a aproximação aos temas da diversidade, da diferença e da


acessibilidade pressupõe uma mudança necessária de paradigma, de postulados
científicos atuais e de relação com os sistemas educativos e sociedades atuais.

Dessa maneira, é importante perceber a necessidade de refletirmos sobre a inclusão


como uma forma de desconstruirmos práticas excludentes e segregacionistas. Cabe ressaltar
que, para o atendimento à diversidade, faz-se necessária a promoção da acessibilidade e o
reconhecimento dos indivíduos como iguais em direitos, sem, entretanto, desconsiderar sua
heterogeneidade, percebendo-os, assim, como diferentes em suas peculiaridades. Jacob (2003,
p.41) destaca essa relevância e aponta a importância de se compreender a igualdade a partir da
consideração à diferença, afirmando:

A sociedade está se tornando mais complexa a cada dia: a diversidade aumenta de


forma acelerada. Com isso, imperceptívelmente, muda também a forma de
compreeender o mundo e os próprios semelhantes. É este o novo paradigma que está
nascendo: ‘viver a igualdade na diferença’, ‘ integrar na diversidade’- eis o apelo
dos líderes dos movimentos em conflito.

O reconhecimento da diversidade é antes de tudo uma valorização histórica da


sociedade, pois cada país carrega consigo uma diversidade que o caracteriza. Esse
reconhecimento, que contribui para salientar e enriquecer o desenvolvimento cultural e social,
também constrói formas de ação diferenciadas que se refletem em diferentes aspectos da vida
social.
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Entendendo que as práticas e as políticas sociais articulam-se a concepções e conceitos


implícitos e explícitos existentes em uma socidade, reconhecemos que é necessário que haja
mudanças nas práticas que favoreçam um novo entendimento, pela sociedade, sobre a
inclusão.
De acordo com Fonseca (1995 apud MANTOAN, 1997, p. 21) ser deficiente
representa apenas uma probabilidade do ser humano. Dessa forma, entendemos que esses
sujeitos não deixam de ser humanos pelas suas condições físicas, mentais ou qualquer outra
que possam vir a apresentar.

Metodologia

Diante do exposto, o presente trabalho tem como questão central verificar qual o papel
desempenhado pelo (a) pedagogo (a), atuante na equipe gestora de 6 de ensino fundamental
da rede privada de ensino de Ponta Grossa, em relação à inclusão de alunos com deficiência
no ensino regular.
A questão norteadora conduziu-nos, portanto, para a definição dos seguintes objetivos:
a) Compreender o papel desempenhado pelo (a) pedagogo (a) no contexto da escola
inclusiva.
b) Identificar as concepções do (a) pedagogo (a) sobre o processo de inclusão
educacional.
Para o desenvolvimento do trabalho, apoiadas em autores como Carvalho (2004),
Mantoan (1997; 2004), Sassaki (2002), entre outros, optamos por utilizar a pesquisa
exploratória, a qual tem por finalidade proporcionar um estudo mais aprofundado sobre o
tema abordado. Segundo Selltiz (1967 apud GIL, 1996) essa pesquisa pode envolver
levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas relacionadas com o problema pesquisado
e análise de exemplos que levem à compreensão do fenômeno.
A pesquisa exploratória foi empregada para colaborar no esclarecimento da
problemática levantada, facilitando, assim, novas descobertas. Além disso, para o
desenvolvimento do estudo, delimitamos à participação de seis escolas de ensino fundamental
da rede privada, instituições localizadas na região central da cidade ou em suas mediações.
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A Escola a caminho da Inclusão

No contexto em que se discute sobre práticas de inclusão a clareza sobre o papel social
da escola assume função determinante, especialmente se compreendermos sua capacidade de
colaborar para a transformação e a mudança da realidade. Nessa perspectiva, ela assume suas
funções com o intuito de desenvolver práticas que atendam às demandas sociais. Sobre a
função social da escola, Libâneo (2006 p.39) esclarece que:

[...] a educação é uma atividade mediadora ‘no seio da prática social global’, ou seja,
uma das mediações pela qual o aluno, pela intervenção do professor e por sua
própria participação ativa, passa de uma experiência incialmente confusa e
fragmentada (sincrética), a uma visão sintética, mais organizada e unificada.

O autor destaca a importância de a escola atender às necessidades de todos os alunos,


no sentido de não priorizar e responder aos interesses de uma parcela mais favorecida, mas de
possibilitar a todos uma educação de qualidade que favoreça a superação das desigualdades
sociais e interfira no desenvolvimento da sociedade, possibilitando também a formação mais
ampla do sujeito.
Dessa forma entendemos que a atuação da escola perpassa todos os âmbitos de
formação do indivíduo, desde a apropriação dos conteúdos escolares relacionados ao
conhecimento científico, até mesmo o seu desenvolvimento social, influenciando a formação
de valores e atitudes. Assim, Romanowski (2007, p. 7) destaca sobre os objetivos da
instituição escolar que:

[...] atualmente os objetivos abrangem mais do que letramento, a transmissão do


conhecimento. Estão expressos nos textos legais, como finalidade do ensino básico,
a formação do cidadão solidário, tolerante, participativo e ético bem como o
desenvolvimento da capacidade de aprender, a compreensão do ambiente natural e
social[...]

As considerações da autora ampliam o sentido e a função social da escola,


reconhecendo que a formação do cidadão deve se dar em torno da capacidade de participação
e da postura crítica e, não apenas da reprodução de uma realidade. O aluno passa a ser
entendido, então, como sujeito transformador de sua prática e atuante no sentido político e
social.
A mesma autora (ROMANOWSKI, 2007) ressalta que além de objetivos definidos
historicamente pela sociedade, a função social da escola relaciona-se a aspectos que são
assegurados por textos legais que fundamentam e reafirmam sua prática. Ela aponta que a Lei
19770

de Diretrizes e Bases da Educação (1996), em seu artigo 3º, promove a garantia de princípios
que a educação nacional tomará como base. Percebemos que a função social da escola
ultrapassa o imediatismo das ações e fortifica práticas e concepções a serem construídas pelas
futuras gerações, influenciando nas mudanças a serem efetuadas na sociedade.
Os princípios defendidos pela Lei de Diretrizes e Bases defendem uma educação de
qualidade, porém entendemos que isso só se efetivará quando forem promovidos e alcançados
todos os outros aspectos do mesmo artigo. Um deles é o direito à inclusão, ao entender a
igualdade de condições para o acesso e a permanência do aluno no processo educativo, bem
como o respeito à liberdade e o apreço à tolerância.
Sabemos que o papel assumido pela escola muitas vezes é fruto de uma reprodução
das concepções e políticas excludentes que existem na sociedade, porém é preciso também
entender de que maneira a escola pode se concretizar como transformadora da realidade
social. Nesse sentido Enguita (2004, p.13) esclarece que:

Um dos debates mais insistentes e repetidos em torno da instituição escolar, sempre


foi à questão de evidenciar o seu papel, que era ‘reprodutor’ ou ‘transformador’, isto
é, se contribuía para conservar a sociedade ou para mudá-la. Até certo ponto, era
trivial, pois, por um lado nenhuma sociedade poderia substituir sem formar seus
membros em certos valores, habilidade, etc. e, por isso, toda a educação é
reprodutora; mas ao mesmo tempo, nenhuma sociedade atual seria, sem a escola, o
mesmo que chegou a ser com ela, e, por isso toda educação é transformadora.

Diante dessas considerações, compreendemos a instituição escolar como insubstiuível,


capaz de reproduzir conhecimentos historicamente construídos, mas também de transformá-
los e reconstruí-los a partir da necessidade que a sociedade apresenta. Sendo assim, jamais
poderemos construir uma sociedade democrática, capaz de garantir direitos se não iniciarmos
por meio de uma educação compromissada com o seu papel de não apenas reproduzir, mas de
capacitar indivíduos para exercer cidadania, como sujeitos críticos e atuantes na sociedade.
No intuito de visualizar essa escola, Libâneo (2006) contribui reconhecendo a escola
como parte integrante da sociedade, dessa forma promover ações dentro na mesma, é
interferir nas mudanças na sociedade em geral. É nesse sentido que entendemos o papel da
escola na sociedade como uma ferramenta da inserção, pois a função social da escola deve
prever a modificação e a ampliação da participação de todos, no sentido de efetivar a inclusão
escolar.
Mantoan (1997) amplia esse conceito da função escolar no sentido de modificar os
conceitos de participação e adaptação, a fim de realizar a inclusão da pessoa com deficiência
19771

na sociedade e, portanto, nas instituições escolares. Carvalho (1997, p. 203) também relata a
necessidade da escola estar em um processo contínuo de mudanças e reformas em suas ações
educativas, difundindo e contribuindo para a formação de uma nova visão de escola, uma
escola que, de acordo com sua função social, favoreça o desenvolvimento de todos os alunos,
de acordo com as características que apresentam e do entorno ao qual pertencem.
Em termos gerais, a autora destaca a importância de se ampliar a função da escola e
tornar o seu papel ativo na promoção da inserção plena de todos os indivíduos, não somente
como uma obrigação, ou seja, por cumprimento da legislação, mas por reconhecer a inclusão
como uma necessidade e um direito que deve ser defendido por todos, inclusive por aqueles
que fazem parte do ambiente escolar.
Nesse sentido, compreendemos a inclusão como um processo que requer mudanças e
reestruturação da escola, tanto no âmbito físico – proporcionando acessibilidade – quanto no
conjunto de propostas educacionais que contribuam para produzir o ensino e a aprendizagem.
De acordo com Mantoan (2004, p.23), é necessário que a inclusão se efetive, portanto, como
uma:

[...] possibilidade que se abre para o aperfeiçoamento da Educação Escolar e para o


benefício de todos, com ou sem deficiência. Depende, contudo, de uma
disponibilidade interna para enfrentar as inovações e essa condição não é comum
aos sistemas educacionais e aos professores.

A proposta de incluir alunos com deficiência na escola regular requer mudanças


efetivas e reformas contínuas dentro de uma estrutura muitas vezes pouco flexível. Para se
obter uma real inclusão, é necessário modificar estruturas e inovar metodologias de ensino,
reformulando práticas e propondo melhorias e valores que promovam uma educação para
todos, que respeite as características dos diferentes alunos.
Compreendemos que somente a partir de mudanças e reformas educacionais amplas é
que a educação inclusiva se tornará prática real. É a partir dessas mudanças que ocorrerão
práticas capazes de responder às necessidades individuais de cada aluno, considerando as
particularidades e garantindo uma educação para todos. O sentido da reforma educacional
deve ter o intuito de modificar práticas e estruturas segregativas, em práticas que valorizem
todos os alunos. Para que haja essa educação de qualidade é necessário dar novo sentido às
mudanças educacionais, pois, de acordo com Rodrigues (2008, p. 36) “´[...] não basta colocar
os alunos na escola regular; é preciso que a escola, através de recursos e da sua organização,
possa responder às necessidades educacionais que cada aluno apresenta.”
19772

Cabe ressaltar, que se faz necessário a disponibilização de recursos, tanto materiais


quanto humanos, muitas vezes indisponíveis ou escassos nas escolas, pois assim como o
autor, consideramos que não basta colocar a criança dentro da sala de aula, é necessário dar
condições para sua aprendizagem.
Para que a escola perceba a necessidade das mudanças, é preciso uma avaliação
constante sobre as práticas inclusivas que nela estão sendo desenvolvidas, o que pode se dar
através de discussões e reflexões que devem ser mediadas pela equipe pedagógica, buscando
indentificar as especificidades do trabalho na realização de uma educação para todos e, da
mesma forma, perceber, minimizar, ou mesmo solucionar as dificuldades encontradas.
Dessa forma, Rodrigues (2008) compreende a necessidade da educação inclusiva ser
uma prática de toda a equipe escolar, pois a escola toda deve ser mobilizada para promover a
inclusão. Considerar a escola como instituição pensada e organizada para atender a todos os
alunos requer que ela se dedique a esses pressupostos, o que faz com que necessite de um
profissional que, coordenando o trabalho coletivo da escola, facilite e conduza junto aos
professores práticas que respeitem e valorizem a diversidade e a inclusão, entendendo-se
nessa discussão a inclusão de todos os indivíduos, inclusive daqueles que possuem algum tipo
de deficiência.

Considerações Finais

A importância do pedagogo, aqui entendido como o profissional que, graduado em


Pedagogia, atua colaborativamente na coordenação do trabalho pedagógico da escola, é
inegável.
Nesse sentido, Almeida e Soares (2010) contribuem com uma reflexão sobre a
identidade desse profissional, referindo-se ao pedagogo como um profissional que tem um
papel indispensável no ambiente escolar, pois é entendido como um articulador do trabalho
educativo desenvolvido pela escola.
Dessa forma, o pedagogo deve intervir colaborativamente nas ações realizadas no
contexto escolar, dentro e fora da sala de aula, contribuindo para tornar a escola um ambiente
democrático e difusor de uma educação de qualidade.
A função do pedagogo é mobilizar e definir o trabalho pedagógico para caminhar em
um sentido de efetivar uma educação de qualidade que valorize todos os alunos,
independentemente de suas características.
19773

Dessa forma, o trabalho realizado pelo pedagogo, segundo Almeida e Soares (2010), é
o de propiciar uma organização da escola em que seja possível modificar, transformar e
construir juntamente com toda a equipe escolar estratégias, metologias de ensino, definição de
conteúdos, instrumentos de avaliação, entre outros, responsabilizando-se em articular todos
esses elementos. A ele cabe intervir na reflexão do grupo de professores, auxiliando-os – a
partir da prática que desenvolvem, de referenciais teóricos e metodológicos, e, das
necessidades levantadas – a buscar novas possibilidades ou alternativas para o trabalho
pedagógico que desenvolvem.
Destacamos, a função do pedagogo como imprescindível no contexto escolar,
realizando atividades tanto no auxílio dos professores, no que tange especificamente à
docência, ou seja, aos métodos de ensino, ao planejamento, à organização da sala de aula,
quanto em relação ao processo que extrapola a sala de aula e interfere na mediação de
encaminhamentos pedagógicos realizada entre as escolas e Secretaria de Educação.
Cabe ressaltar que, tendo em vista o processo de inclusão, o papel do pedagogo,
enquanto participante da gestão da escola, é também o de colaborar para sua efetivação,
favorecendo o desenvolvimento de práticas pedagógicas que interfiram tanto na docência,
quanto na promoção de medidas de acessibilidade, na garantia de participação democrática,
desenvolvendo uma educação de qualidade.
Porque busca a qualidade do trabalho pedagógico, parece ser pertinente que o
pedagogo considere a inclusão como uma ação consciente da escola, desenvolvida a partir de
práticas que vão além da obrigatoriedade, a qual causa a inclusão a qualquer custo, sem
alterações estruturais e pedagógicas, avançando para uma proposta efetivamente inclusiva.
Dessa forma, compreendemos que a inclusão requer alterações no sentido de tornar o
processo de ensino-aprendizagem efetivo, como real instrumento de transformação social,
promotor de direitos e do reconhecimento de todos enquanto cidadãos, independentemente de
suas diferenças.

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