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orinv22, 16:55 ‘Tribunal de Justica do Estado do Maranhdo - 1° Grau Processo n° 0841914-91.2019.8.10.0001 - Procedimento Comum. Autor (a): IGOR VIEIRA DE SOUSA Réu: ESTADO DO MARANHAO. SENTENCA Trata-se de aco de procedimento comum, com pedido de tutela antecipada, ajuizada por IGOR VIEIRA DE SOUSA em face do ESTADO DO MARAN. HAO, todos jé qualificados na exordial. autor alega, em sintese, que Capitéo da Policia Militar do Maranhao, tendo sido transferido por ato sem fundamentacdo proferido pelo Comandante do Comando de Policia do Interior (CP!) da Policia Militar do Maranhao para fins de transferéncia, por necessidade do servico, do CPAI-4 /110 BPM (Timon-MA) para o CPAI-3 / 30° BPM (Buriticupu-MA), conforme Oficio n° 1963/2019 - Sec Adm - CPI, de 07 de outubro de 2019. Informa que seré substitufdo por outro Capitao, Adelton Vicente Pereira, inscrito sob a matricula 2180917, ou seja, resta demonstrada cabalmente a auséncia de necessidade e motivacdo para o ato administrative em questo. Que, ndo houve pagamento nem proviso do translado de bagagem, como determina o art. 45 e seu 5 1°, da Lei n® 4.175 de 20 de junho de 1980, que dispde sobre a remuneracao dos Policiais Militares da Policia Militar do Maranhao. Alega que, atualmente o 11° Batalhdo de Policia Militar, sediado em Timon, possui 09 oficiais da ativa lotados me seu quadro, sendo o demandante o oficial que possui menos tempo de atividade da unidade dentre todos os oficiais, a excecdo apenas de Comandante da unidade, o Ten Cel Ribeiro que assurniu o comando da unidade desde o dia 21 de maio de 2019, conforme BG n° 126, de 08 de julho de 2019. Que no mesmo posto do demandante, de Capitao, o 11° Batalhao possui atualmente 06 oficiais em seu efetivo pronto, que o demandante nao € 0 mais antigo dentre eles, nem o mais moderno. Informa também que cuida dos seus pais, Vitorino Vieira Gomes, com 70 anos de idade (idoso), portador de diabetes mellitus, tipo |, insulino dependente, hipertensdo arterial, neuropatia, calculo renal (conforme anexo) e Francisca Pereira itp esta jus.brpjeConsuitaPublica/DetalheProcessoConsuitaPubicaldocumentoSemLoginHTML.seam7ca=ae04196418217163913d4081... 1/7 o7niza, 1688 Tribunal de Justa do Estado do Marana «1° Grav de Sousa Gomes, com 58 anos de idade, e aplica insulina diariamente de dois tipos: NPH e Regular, durante duas vezes ao dia em seu pai que tal procedimento & realizado pelo demandante. Alega que possui a guarda de uma filha de 5 (cinco) anos de idade, convive atualmente com o militar em regime de guarda compartilhada com base no Termo de Acordo da Sessdo de Mediacdo, do Centro de Mediacao e Cidadania (CMC) ~ CEUT, registro n° 256/2019 (em anexo), estando também em processo de divércio consensual, guarda, partilha de bens e alimentos. Ademais, a sua filha menor, Maria Eduarda Vieira Pinheiro de Sousa, estuda no Instituto Educacional Sao José, matriculada no Nivel | da Educa¢o Infantil (conforme anexo) frequentando ativamente as atividades escolares, vale frisar que estamos no meio do 2° semestre letivo. Diante de todos esses fatos, torna-se invidvel ao autor residir em outra cidade, sem qualquer motivo ou necessidade, pelo que requer a suspensdo da decisdo em questo. Ao final, requer o deferimento do pedido de tutela antecipada, para suspender os efeitos da decisio que determinou a transferéncia do autor do CPAI-4 /110 BPM (Timon-MA) para o CPAI-3 / 30° BPM (Buriticupu-MA), conforme Oficio n° 1963/2019 - Sec Adm - CPI, de 07 de outubro de 2019. No mérito, requer a procedéncia do pedido mediante a anulacao do ato administrativo combatido. Em decisdo interlocutéria de Id n° 24538781, o Juizo deferiu o pedido de tutela proviséria de urgéncia. Em deciséo de Id n° 34781062, a Terceira CAmara Civel do Tribunal de Justica do Maranhao, indeferiu o pedido de efeito suspensivo no agravo de instrumento, mantendo a decisao do 1° grau intacta. O Estado do Maranhéo apresentou contestago (Id n° 25656812). autor apresentou réplica (id n° 56076774). Em parecer de Id n° 72536357, 0 Ministério Publico opinou pela desnecessidade de intervencao do feito. Vieram-me os autos conclusos. E o breve relatorio, hits: jus.bripe/GonsutaPublca/DetaheProcessoConsultaPublcaldocumentoSemLoginHTML seam?ca=2004194419217%6391340081... 2/7 orinv22, 16:55 ‘Tribunal de Justica do Estado do Maranhdo - 1° Grau Decido. Inicialmente, observo que os autos do processo encontram-se suficientemente maduros para prolatacao da sentenga, de modo que aplico a espécie 0 disposto no art. 355, inciso | do CPC para o julgamento antecipado da lide, nado havendo necessidade de mais produgo probatéria: O ato de remogao do autor, ao meu entendimento, é desprovido da devida e indispensdvel fundamentacao, sendo que o art. 2° da Lei Estadual n® 8,959/2009 dispée que os atos administrativos devem observar, entre outros principios, o da motivagdo, nao constando no aludido diploma legal, que as autoridades militares estariam excluidas dessa exigéncia. Apesar dos militares nao gozarem da garantia da inamovibilidade, 0 ato administrativo que determina a remocdo do servidor, deve ter a motivagdo como pressuposto de validade, nao se podendo conceber em um Estado Democrético de Direito, a remocao imotivada de servidores publicos, de modo que a inobservancia da devida motivacao, permite o controle judicial. E imperioso entender que motivo difere de motivacao, até porque o motivo antecede a pratica ato, correspondendo aos fatos, as circunstancias que levam a administragao a praticar 0 ato, jd a motivagao é um ato ou efeito de motivar, dar uma justificativa ou expor as razées, ou seja, é a demonstragao, por escrito, no proprio ato administrativo, de que os pressupostos de fato (motivo) realmente existiram. Nesse viés, cito o magistério da professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro (Direito Administrativo, 24, ed. Sao Paulo: Atlas, 2011. p. 212): “motivo é 0 pressuposto de fato e de direito que serve de fundamento ao ato administrativo e que a motivacao éa exposicao dos motives, ou seja, é a demonstragdo, por escrito, de que os pressupostos de fato realmente existiram.” Ainda confirmando o que fora explanado, cito a jurisprudéncia do Superior Tribunal de Justica: ADMINISTRATIVO, RECURSO ESPECIAL, CONCURSO PUBLICO, EXAME PSICOLOGICO. CRITERIOS SUBJETIVOS E AUSENCIA DE MCTIVAGAO DO ATO QUE DECLAROU O itp estima jus.brpjConsuitaPublica/DetalheProcessoConsuitaPubicaldocumentoSemLoginHTML seam 7ca-ae04190418217163913dd081... 317 oriiiz2, 16:55 “Tebunal de Justia do Estado do Maranhso - 1° Grau CANDIDATO NAO RECOMENDADO. NULIDADE DA AVALIACAO. NECESSIDADE DE NOVO EXAME. L.] 2. Ao assim proceder, o acérdo recorrido contrariou a jurisprudéncia desta Corte que exige a adocao de critérios ‘objetivos nos testes psicoldgicos e a possibilidade de reviséo do seu resultado, como também a que requer que todo ato administrativo seja devidamente motivado, nos termos do artigo 50, |, da Lei 9.784/99, o que, obviamente, s6 é possivel com a obtencao, de uma forma clara, motivada e compreensivel, das razées pelas quais 0 candidato foi considerado inapto no certame. Uma vez declarada a nulidade do teste psicotécnico, deve o candidato se submeter a outro exame. Precedentes: RMS 32.813/MT, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, Dje 24/05/2013; REsp 991.989/PR, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, Dje 03/11/2008; MS 9.944/DF, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Sedo, DJ 13/06/2005; AgRg no RMS 31.067/SC, Rel. Min. Sebastido Reis Junior, Sexta Turma, Dje 22/08/2012; AgRg no RMS 27.105/PE, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 28/09/2011; AgRg, no REsp 1.326.567/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, Dje 21/11/2012. 3. Recurso especial provido, para determinar a submissdo do candidato a novo exame psicotécnico, a ser aplicado em conformidade com as normas pertinentes, a partir de critérios de avaliacdo objetivos, resguardada a publicidade e motivacao a ele inerentes. (ST) - REsp: 1444840 DF 2013/0322994-9, Relator: Ministro BENEDITO GONGALVES, Data de Julgamento: 16/04/2015, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicacao: Dje 24/04/2015) (grifamos) Cito também a jurisprudéncia pacifica do Tribunal de Justiga do Estado do Maranhdo: Ementa: REMOGAO EX OFFICIO. AUSENCIA DE MOTIVAGAO. NULIDADE. 1. A remogao de servidor, em que pese ser ato discricionario, deve ser fundamentada, pena de nulidade. 2. A motivacSo constitui requisito necessario a forma: ato admi lido e eficaz, pelo que para a observancia da legalidade, impessoalidade,¢ moralidade, principios basilares da Administracao Publica. 3. Aordem de remocio deve ser acompanhada dos motivos de fato e de direito que expressem o interresse do servi 4, Remessa conhecida e improvida. Unanimidade. (Acérdao itp petimajus.brpjeConsuitaPublica/DetalheProcessoConsultaPubicaldocumentoSemLoginHTML.seam7ca=ae041904182171e3913d4081... 4/7 ori, 1685 “rbunal de Jusga do Estado do Marana 1° Grau n° 98.640/2011. T|-MA. Orgao julgador: Quarta Camara Civel. Relator (a): Desembargador Paulo Sérgio VELTEN PEREIRA. Data: 04/02/2011) (grifo nosso) Ressalta-se ainda que o autor possui guarda compartilhada de uma filha de cinco anos, estando matriculada na escola localizada na cidade de lota¢ao. Informa ainda que, apés a sua separacdo, a sua filha por conta da situacdo, faz tratamento e acompanhamento psicolégico semanalmente, e que necesita da presenga ativa do genitor que possui responsabilidade direta nessa relacao Monoparental, conforme declaracao da Psicdloga Dra. Sara em anexo. A motivagdo, como regra, elemento obrigatério dos atos administrativos. Até nos atos discricionarios em que ha negacao e limitacao de direitos e interesses - assim como naqueles que imputem ou agravern encargos - a motivaco é algo que se impéem. O ato atacado foi exercido sem a devida motivacdo para embasé-lo, bem como no houve demonstracSo do fomento ao interesse puiblico, o que viola, no caso em apreco, o direito do autor. A remocao de funciondrio sem a indicacdo dos motivos que estariam a respald4-la, abre perigosa margem para que o Executivo atue com excessos ou desvios ao decidir, competindo ao Judicidrio a glosa cabivel. Cito in verbis 0 art. 50 da Lei n° 9.784/1999 (Lei do Processo Administrative no ambito da Administracao Publica Federal), que apesar de ter natureza federal, consoante manso entendimento da abalizada doutrina e jurisprudéncia, aplica-se por analogia aos processos administrativos dos demais entes federativos, fornecendo elementos hermenéuticos ao julgador: CAPITULO XII DA MOTIVAGAO Art. 50, Os atos administrativos deverao ser motivados, com indicaco dos fatos e dos fundamentos juridicos, quando: |-neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; lI-imponham ou agravem deveres, encargos ou sangées; A remogo ex oficio deve-se da no interesse da Administracéo, sendo que tal interesse deve (como nao poderia deixar de ser) ter indole publica. Tal interesse puiblico (social) que justificaria a remocao de offcio de um servidor, teria que estar devidamente fundamentado no ato de remocao — fato que nao ocorreu no indigitado ato. hitpspjesima jus.bripje/ConsultaPublca/DetalheProcessoConsutaPublicaldocumentoSemLoginHTML seam ?ca=a00418d6192171039134d081... 5/7 orinv22, 16:55 ‘Tribunal de Justica do Estado do Maranhdo - 1° Grau Deveras, é inquestionavel que o principio da motivacdo exige que a Administragao Publica indique os fundamentos de fato e de direito de suas decisdes e, a sua obrigatoriedade, se justifica em qualquer tipo de ato, porque se trata de formalidade necesséria para permitir 0 controle da legalidade dos atos administrativos. Face ao exposto, julgo procedente o pedido, confirmando a decisio liminar anterior, para anular 0 ato que determinou a transferéncia do autor do CPA\- 4/110 BPM (Timon-MA) para o CPAI-3 / 30° BPM (Buriticupu-MA), conforme Oficio n° 1963/2019 - Sec Adm - CPI, de 07 de outubro de 2019. Sem custas ao réu em decorréncia da isenc&o legal (art. 12, | da Lei Estadual n° 9.109/2009). Condeno o réu em honorarios de sucumbéncia que arbitro em R$ 3.000,00 (trés mil reais), conforme o disposto no § 8%, do art. 85 do CPC. Decorrido 0 prazo do recurso voluntario e ndo havendo impugnacao da sentenca pelas partes interessadas, encaminhem-se os autos ao Tribunal de Justica para o reexame necessario, com supedaneo no art. 496, inciso |, do CPC. Intime-se. ‘Sao Luis (MA), data do sistema. MARCO ANTONIO NETTO TEIXEIRA JUIZ DE DIREITO hitpspje.ima jus.bripje/ConsultaPublca/DetalheProcessoConsutaPubicaldocumentoSemLoginHTML seam ?ca=ae0418d6192171039134d081... SIT orinv22, 16:55, ‘Tribunal de Justica do Estado do Marana - 1° Grau Assinado eletronicamente por: MARCO ANTONIO NETTO TEDXEIRA 16/08/2022 14:08:35 https://pje.tima jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam, ID do documento: 73805370 22081614083512100000069008493 IMPRIMIR GERAR POF hitpspje.sima jus.bripjeConsultaPublca/DetalheProcessoConsutaPublicaldocumentoSemLoginHTML seam ?ca=ae0418d6192171039134d081... 7/7

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