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PFM - DO - 2006-2007

Caso prático n.º 12


Ricardina e Sílvia construíram casas geminadas. Por erro grave dos electricistas,
aconteceu porém que a electricidade consumida nalgumas divisões de Sílvia procedia da
instalação de Ricardina, e foi esta que a pagou à EDP. Nem Ricardina poderia recusar-se a
fazer o pagamento, nos termos das disposições legais relevantes. Terá algum crédito sobre a
vizinha?
Enriquecimento real- vantagem concreta
Enriquecimento patrimonial- o excedente que se verifica na esfera do enriquecido

Caso prático n.º 13


Jerónimo foi pescar para a ilha do Bugio. Leopoldo queria fazer o mesmo, mas,
como não tinha barco nem lhe davam boleia, seguiu clandestinamente no barco de
Jerónimo. E com tanta sorte e eficiência que só foi descoberto já no fim da viagem de
regresso. Pode Jerónimo exigir-lhe o pescado?
O enriquecimento sem causa, previsto nos artigos 473 e ss, refere-se a uma
deslocação patrimonial que passa da esfera jurídica do empobrecido para o enriquecido.
O enriquecido fica obrigado a restituir ao empobrecido o benefício que
injustificadamente obteve à custa dele. Neste caso, penso que esteja em causa um
enriquecimento por intervenção, pelo uso de propriedade alheia reservada em exclusivo
ao seu proprietário. ou ingerência, que é uma categoria autónoma do enriquecimento sem
causa. O que ocorre é um desvio de uma vantagem destinada ao empobrecido, a favor do
interventor (enriquecido). É o uso, consumo, fruição ou disposição de bens alheios, neste
caso, a utilização não autorizada do barco de Jerónimo por Leopoldo.
CONSEQUÊNCIAS DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA.
Restituição 479 restituição em espécie, mas não podemos fazer isso aqui, pelo que
aplicamos aparte final do 479, nº1, o valor correspondente- nº2. Aplicamos 480 alínea b
porque ele tem conhecimento disto desde o momento entra no barco- só há obrigação de
restituir quando se verifica alguma das duas alíneas do 480 porque protege-se o enriquecido
de boa-fé.
Outra situação que também deverá verificar-se (são duas coisas que temos que
verificar):
Como se calcula a obrigação de restituir?
Comparamos o enriquecimento e o empobrecimento

Há que ter em atenção a Teoria do conteúdo da destinação: quem explora sem


autorização um direito absoluto, adquire algo que, de acordo com o conteúdo da destinação
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desse direito, pertence ao respetivo titular. Alguém retira vantagens de direitos que estavam
exclusivamente reservadas ao titular desses direitos.
Temos duas situações- uso do barco e o peixe obtido pelo uso do barco.
Pressupostos a analisar: Enriquecimento; Empobrecimento; Às custas de outro
1º Pressuposto: enriquecimento- teoria do conteúdo da destinação- ver o direito
infligido e vantagem contida nesta destinação – que foi o uso do barco- uso e
consumo são vantagens inscritas no domínio exclusivo do destinatário.
Enriquecimento pode ser visto de duas maneiras: - 1) termos reais,
individuais- isto é partindo da vantagem concreta que o enriquecido conseguiu
perceber; - 2) termos patrimoniais- medindo variação positiva da posição do enriquecido
de forma a detetar esse excedente que passou a existir no património do enriquecido e
não existia antes.
A Vantagem real é o uso do barco, enriquecimento em sentido real – ML
chama enriquecimento concreto e MC chama enriquecimento abstrato.
O que está em causa é o uso do barco – usamos enriquecimento abstrato. No
enriquecimento concreto/patrimonial – vale o património do Leopoldo depois e antes da
viagem não autorizada. O património em termos líquidos do Leopoldo não aumentou a
vantagem esgota-se no tempo- enriquece enquanto esta a ser transportado não se
concretiza no inventário patrimonial do Leopoldo, só aconteceria se disséssemos que
Leopoldo tinha ido noutro barco e pagar- tínhamos enriquecimento patrimonial-
poupança do bilhete. No patrimonial temos vantagens duradouras. Poupança de despesa
para ser real é necessário demonstrar que poupou.
Teoria do conteúdo da destinação surge como forma de oposição a essa
maneira de perspetivar enriquecimento- enriquecimento não está naquilo que poupou ou
aumento, está no facto do enriquecido ter tido vantagem que OJ não lhe atribuía.
Em regra, não é sempre assim, não é necessário perguntar o valor da despesa
poupada porque ESC não se interessa por isso. Até porque o valor da despesa poupada
pode ser uma mas vantagem considerada ser diferente- atendemos aquilo que
efetivamente foi a vantagem obtida pelo enriquecido. Há casos que temos em conta a
poupança de despesas- vamos excecionalmente ter em conta o enriquecimento
subjetivo- enriquecimento para pessoa e concreto – ex: 481- vamos ter em conta
enriquecimento subjetivo, também em casos de enriquecimento forçado.
Enriquecimento em sentido real era o uso do barco, em patrimonial valor do
peixe. Custo de bilhete para uso do barco era ex: 50- supor que valor comercial do peixe
era 30 – enriquecimento patrimonial de 80.
Enriquecimento patrimonial- o que poupou corresponde ao que teria no mercado
ter usado barco igual era de ex: 50 e preço do peixe é de 30. Em termos de
enriquecimento temos 80.
Outro pressuposto
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Empobrecimento-verdadeiro pressuposto? Há quem entenda que não- hipóteses


como esta em que empobrecimento seja ingerência numa afetação a outra- pode não ter
havido um empobrecido, proprietário não ter diminuído.
Empobrecimento pode ser visto em termos patrimoniais ou em termos reais –tal
como no enriquecimento.
MC termos concretos ou abstratos – valor daquela vantagem exclusivamente
afeta ao titular do direito e que foi para terceiro. Igual ao enriquecimento real.
ML – na grande maioria das hipóteses não há empobrecimento e não é
pressupostos de RSC – argumenta que o enriquecimento não está preocupada com
situação do empobrecido ao contrário da RC. Problema está no a mais na esfera do
empobrecido- repor justiça corretiva. Formas diferentes. Uma no lesado outra no
enriquecido.
MC com doutrina tradicional defende que tem de haver sempre empobrecimento
mas temos de normativizar o critério, o empobrecimento de interferência para MC é
empobrecimento normativa- perda da faculdade jurídica de excluir terceiros daquilo que
é nosso- empobrecimento visto em abstrato e coincide sempre com enriquecimento em
abstrato.
Outro pressuposto
As custas de outro- luz da teoria do conteúdo da destinação necessário que
vantagem de empobrecido se inscreva nas vantagens que OJ atribui a determinada
pessoa- uso do barco exclusivamente reservado a proprietário ou que este autorizar.
Se o enriquecimento patrimonial exceder o enriquecimento real, o excesso
pertence ao enriquecido, pois consegui-o através do su trabalho, das suas qualidades, do
seu tempo etc.. O que deve ser ressarcido é a vantagem que foi recebida e que o direito
reservava a outra pessoa. Aqui não se pode dizer que o peixe foi obtido às custas do
Jerónimo. Ter o peixe não é uma vantagem que o direito reserva a ele. Apenas a
utilização do barco é que é. A parte do peixe poderia ser resolvida por: regime de posse
de má-fe, prof acha que não na mesma 1281
Meter isto no cc. Há quem diga RC, mas não se verifica pelo facto de não haver
dano. Poderíamos considerar uma gestão imprópria de negócios. Há um instituo jurídico
autónomo qu enão tem um regime completo mas que a lei não deixa de aludir no art.
472. PO maioria de razão, aplicamos nos casos em que ele sabe que o património é
alheio pelo que jerónimo poderia aprovar essa gestão de negócios impropria, obrigando
o gestor a restituir tudo o que conseguiu. Contudo, aprovando a gestão teria que haver
compensação de custos e remuneração do gestor. Meter esta duas opções na resolução
de um caso.
Peixe foi obtido às custas de Jerónimo. Recorrer à teoria do conteúdo da
distinção- artigo 395. Teoria do conteúdo da destinação- não pode ser sobretudo em
termos causais, deve ser vista em termos naturalísticos. Não podemos dizer que
Leopoldo não conseguia peixe sem o barco logo peixe é do dono- não há nexo de
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causalidade mas antes nexo de imputação- perguntar se aquela vantagem ainda esta de
forma individual contida no âmbito da destinação protegida.
Propriedade do barco é para o proprietário pode dispor, transformas, destruir mas
não atribui ao proprietário nenhum direito universal a tudo aquilo que possa ser obtido
através do barco- evidente que para se conseguir obter aquele resultado foi necessário
não apenas dispêndio de tempo mas também emprego de determinadas qualidade e sorte
do enriquecido. E todos estes fatores, tempo, sorte, qualidade… que respeitam a
enriquecido e sobrepõe à vantagem de uso do barco.
Pressuposto às custas de outro não estava verificado o pressuposto quanto ao
peixe. Mesmo que não chegássemos agora a esta conclusão chegaríamos por outra via.
Outro pressuposto:
Falta de causa justificativa e título legitimador. No enriquecimento por
intervenção – tem de haver autorização do uso e do consumo de bem alheio e nesse caso
não se verificava. Todos os pressupostos relativamente à vantagem de uso do barco
Agora ver consequências- o que deve ser restituído

Caso prático n.º 14


Efigénia pretendia pagar a renda de € 400 a Florinda, sua senhoria. Ao fazer o paga-
mento — por transferência bancária, como sempre — Efigénia enganou-se a escrever o NIB,
de modo que o dinheiro foi parar à conta de Gertrudes. Coincidência das coincidências,
Efigénia devia € 200 a Gertrudes! Quid juris?

Caso prático n.º 15


Dâmocles contratou Eliseu para varrer e lavar o pátio em volta do seu armazém.
Combinaram o preço de € 80. Eliseu, por engano, varreu e lavou também o pátio de Félix,
por pensar que aquele espaço era ainda de Dâmocles. Só no fim do trabalho é que se
descobriu o lapso. Félix estava fora e, se tivesse assistido à coisa, nem teria permitido a
limpeza, porque dois dias depois seriam (e vieram a ser) descarregadas no seu pátio várias
carradas de areia e pedra destinadas a obras no armazém. Quid juris?

Caso prático n.º 16


Segismundo, que é jóquei, pegou sem autorização no cavalo de Teobaldo e
ganhou com ele uma corrida, recebendo o prémio de € 5.000. Quando devolveu o
cavalo, este estava bastante cansado e magoado nas patas. Teve de ser tratado para não
adoecer, o que ficou em cerca de € 500. Que pretensões de Teobaldo teriam acolhimento
jurídico?
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Podemos averiguar 3 problemas:


-500 Euros tratamento de animais assumidos por terceiro, pelo proprietário- um
empobrecimento;
-Uso não autorizado de cavalo alheio- considerado em termos abstratos;
-Prémio – enriquecimento patrimonial – acréscimo surge no património do
Segismundo que não estava la antes e não tem contrapartida na esfera do empobrecido. Nada
permite supor que Teobaldo tivesse ganho premio.

Temos um enriquecimento direto, mas também por intervenção, Teria como fim a
recuperação de um direito afetado pela aquisição do enriquecido.

Quanto aos 500 euros – responsabilidade civil  500 não colocam problema de ESC,
responsabilidade civil aquiliana quanto a utilização da propriedade alheia. Não há dolo, não
há intenção lesiva, há forma lesiva quanto ao uso do cavalo. Mesmo que haja apenas
negligencia haverá sempre RC porque há dano. Dano aqui cavalo magoada não é em si
mesmo só 500 euros.

Despesas de tratamento são reconstitutivas, artigo 562 – reconstituição natural feita


pelo lesado. Há dano resolvido por via do dano – artigo 562. Não era tão bem mas Podia
também ser artigo 480 – coisa deteriorou-se depois embora se pode discutir – não deixava de
ser problema de RC. RC porque há ilicitude, dano, facto, nexo de causalidade.

Uso do cavalo – igual ao uso do barco – via do terceiro limite quer por via do
conteúdo da destinação – os 1000 que era o uso objetivo do animal teriam de ser prestados
ao dono. Prémio – mais discutível – relativamente à questão de saber se na deve ser
reconstituído todo o enriquecimento mesmo para alem do enriquecimento legal – discutível.
Duas questões – cavalo e perícia do cavaleiro. 479/1- Situações de intromissão consciente
tinha de restituir. Mas isso excederia – todo o premio reverter para dono do animal sem ter
em conta qualidades do enriquecido, autores defendem que restituição preço que pagou para
inscrever cavalo mas tabe compensação pelo trabalho e tempo dispêndio para
enriquecimento. Outro autores- ML – com base na teoria do conteúdo da destinação-
recusam que enriquecimento seja todo restituído- este lucro ainda que seja através de uso de
bem alheio na verdade não esta compreendido no conteúdo da destinação do bem, não
retirou premio que direito objetivo reservava ao dono do cavalo. Mas pressupostos às custas
de outrem. Há outras opções de resolução, abrir aqui pdf inês

Caso prático n.º 17


Valéria furtou 10.000 m3 de água de uma conduta da EPAL, que usou na sua
exploração agrícola. Suponha que a EPAL fornece água aos agricultores da zona a € 0,50 por
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m3, sendo certo que nessa estação não houve qualquer falta de água no abastecimento da
EPAL. Que valor lhe deve Valéria?

Caso prático n.º 18


Xavier era possuidor de má fé de um terreno agrícola de Zulmira. Tratou de lá fazer
um furo de captação de água, que lhe saiu — materiais e mão-de-obra incluídos — por cerca
de € 1.500. Este valor é bastante elevado, porque as empresas especialistas da zona fazem o
mesmo por cerca de €1.000. Mas a coisa correu bem, porque foi encontrada muita água, que
valorizou o terreno em mais de €20.000. Chegando porém a triste hora de devolver o prédio
a Zulmira, Xavier pretende ganhar qualquer coisinha com o furo. Quanto?

Caso prático n.º 19


Suponha agora, no caso anterior, que Zulmira tinha recebido o terreno por doação
ignorando em absoluto a origem do furo e sem que o doador dele tivesse conhecimento. E
Xavier tinha abandonado o terreno antes dessa doação. Quando Zulmira tomou conta do
sítio, destruir o furo foi uma das primeiras coisas que fez, para alargar a casa ali existente.
Aparece agora Xavier a pedir uma «indemnização». Quanto?

Caso prático n.º 20


Por lapso seu, António entregou à Boncentrados de Bomate, SA., mais duas carradas
de tomate do que esta lhe havia comprado. Os administradores da BB aperceberam-se da
coisa, não tocaram no tomate a mais e deixaram-no nos depósitos à espera que António
aparecesse. É claro que, quando António deu pelo lapso, já o tomate se tinha tornado
imprestável para consumo. Naquela zona, as carradas de tomate vendem-se a € 1.900, mas
António produ-las a menos de €1.000, por os seus terrenos serem muito férteis. Quid juris?

Caso prático n.º 21


Adérito fotografou de avião o bonito palácio de Belmira. Gastou cerca de €1.000
com o voo e as fotografias, mas vendeu-as a uma revista por € 5.000. Quid juris?
Enriquecimento por intervenção. Pressupostos de enriquecimento aqui que não
estão verificados – para além do empobrecimento, também o conteúdo da destinação.
Questão – saber facto de Belmira ter direito à coisa- problema é saber se vantagem
consistente em beneficiar da contemplação daquela propriedade esta exclusivamente
reservado a Belmira. Se fosse foto da sala, já seria- direito reservado do próprio. Falhava nos
termos do conteúdo da destinação- ideia da correspondência- vantagem perseguida ao círculo
de vantagens que direito de propriedade visava violar de forma exclusiva ao dono- falhando
aqui falha o pressuposto “as custas de outra”. Semelhantes ao caso da sombra- sombra para
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exterior alguém beneficia dessa sombra não é por isso que enriquece às custas do
proprietário. Levanta problema do conteúdo da destinação.

Caso prático n.º 22


Asdrúbal fez reparações na casa de Belarmino, que lhe pagaria por isso € 15.000. A
casa valia € 60.000 e passou a valer € 80.000 após as reparações. Belarmino nunca pagou a
Asdrúbal. Aliás, Belarmino também não conseguiu pagar a sua dívida de € 80.000 ao banco
CCC, que tem, como garantia, uma hipoteca sobre a casa de Belarmino. CCC promoveu a
penhora e venda judicial da casa, por € 80.000, conseguindo pagar-se integralmente. Não há,
porém, outros bens no património de Belarmino, e Asdrúbal pretende exigir € 15.000 ao
banco, pois só à sua custa se valorizou a casa em € 20.000. Quid juris ?  

Caso prático n.º 23


O caso dos rissóis caros
O ladrão L furtou rissóis da mercearia de M, comendo-os já fora da loja ainda antes
de ser descoberto. Os rissóis são comprados por M a T, a €0,50. Naquela zona, muitas
mercearias compram desses rissóis a T. M vende-os a € 1,00. Todos os outros merceeiros os
vendem a €0,80. M não tem quaisquer despesas com os rissóis além do preço por que os
paga. O furto de L não afectou as vendas de M, já que houve rissóis suficientes para todos os
clientes interessados, até à reposição do stock, e o próprio L não os compraria. Quid juris?

Caso prático n.º 24


O caso do estacionamento de Hamburgo1
A condutora C estacionou num parque pago. Antes de entrar, porém, declarou a D,
dono do parque e do terreno em que este se situa, que não se comprometia a pagar o preço
pedido por D, que não iria pagá-lo e que lhe era indiferente a circunstância de o seu
comportamento ser ilícito. Durante o tempo em que C ali manteve o carro, houve sempre
lugares disponíveis. Quid juris?

1
BGH, 14 de Julho de 1956, reproduzida na colectânea BGHZ 21, pp. 319-336, e em várias revistas jurídicas.

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