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K.L.

KREIG
K.L. KREIG
K.L. KREIG
A todos que amaram e perderam e amaram novamente. Está
lá. Você só precisa estar aberto para isso.
K.L. KREIG
Eu o amo desde que consigo me lembrar.
O menino desajeitado de grandes olhos castanhos e cabelo rebelde que se transformou em um
homem inebriante. É como se ele tivesse inventado o estilo despojado e possui uma arrogância
que enlouquece as mulheres.

Killian Shepard.
Shep.
Nós crescemos juntos. Tocamos a música Ghost in the Graveyard. Tivemos a nossa própria
banda de rock. Não importava que ele fosse cinco anos mais velho que eu. Não importava que
ele olhasse para mim como se eu fosse uma irmã mais nova, mesmo quando me tornei uma
mulher. Nem sequer importava que ele me deixou para trás quando foi para a faculdade e
começou sua vida adulta.

Ele iria voltar.


Ele sempre foi destinado a ser meu.

Tudo bem, ele voltou. Mas em vez de cheirar a promessas, ele fedia a traição. E me destruiu no
dia em que se casou com minha irmã ao invés de mim.
Então fiz a única coisa que uma garota como eu poderia fazer nessa situação.

Eu me vinguei.
Casei com o irmão dele, Kael.
Agora nós somos uma grande e fodida família feliz.
K.L. KREIG
A Teoria do Cisne Negro é uma metáfora que descreve um
evento que acontece como uma surpresa, resulta em grande
impacto no meio ambiente ou em nossas vidas pessoais e tende a
ser racionalizado após o fato com o benefício da retrospectiva. Por
sermos humanos, tentamos inventar explicações para uma
ocorrência que não necessariamente tem uma, então isso faz
sentido para nossos cérebros pequenos. Tentamos usar esse
evento e essas explicações para prever eventos futuros
semelhantes. Para aprender com eles. Lidar melhor com eles,
talvez. Impedi-los de acontecer de novo, suponho.

No século XVI, quando a própria expressão foi criada, o cisne


negro era considerado uma impossibilidade, presumiam que não
existia. Portanto, a Teoria do Cisne Negro em si não tem mérito.

Mas impossibilidades existem. Sou a prova viva da Teoria do


Cisne Negro1 e de que às vezes não há racionalização de
eventos. Não há simplificação do complexo. Algumas coisas
acontecem simplesmente porque acontecem. E no final, saber os
motivos, não muda absolutamente nada. O estrago já está feito.

~ Maverick DeSoto Shepard, 2016

1
Faz referência ao título do Livro Black Swan Theory
K.L. KREIG
PLAYLIST
Minha inspiração musical para escrever Black Swan Affair:

“I’ll Be Waiting” by Lenny Kravitz


“Away from the Sun” by 3 Doors Down
“Waste My Time” by Saint Asonia
“Incomplete” by Backstreet Boys
“Unsteady” by X Ambassadors
“So Far Down” by Thousand Foot Crutch
“Not Meant to Be” by Theory of a Deadman
“Falling Apart” by Papa Roach
“Love Song” by Tesla
“Remedy” by Adele
“All I Want” by Staind
“The Heart Wants What It Wants” by Selena Gomez
“In Chains” by Shaman’s Harvest
“Like I’m Gonna Lose You” by Meghan Trainor
“Going Under” by Evanescence
“Not a Bad Thing” by Justin Timberlake
“Torn to Pieces” by Pop Evil
“I’ll Never Let You Go (Angel Eyes)” by Steelheart
“Through the Ghost” by Shinedown
“Forever” by Papa Roach
“Wait for Me” by Theory of a Deadman
“Cut the Cord” by Shinedown
“Best Is Yet to Come” by Red
“Just a Dream” by Nelly
K.L. KREIG
PRÓLOGO
Maverick

Dias Atuais

Meu vestido vende falsas verdades. A maquiagem cobre as


mentiras. Sorrisos falsos e palavras suaves divertem e
enganam. Três quilates na minha mão esquerda cegam todos,
exceto eu.

Eu sei a verdade.

Observo-me, desde o cabelo perfeitamente penteado até os


dedos dos pés com manicure francesa que aparecem nos meus
saltos altos. Eu me encaro no espelho de corpo inteiro, sem
reconhecer a mulher superficial que me olha de volta.

Uma carranca desce pelo canto de sua boca. A condenação


obscurece seus olhos verdes incomuns. A tristeza brinca nas
linhas finas de seu rosto e na leve curvatura de seus ombros nus.

Ela está me julgando.

Ela deveria.

Sou uma pessoa horrível, desprezível.

Em menos de dez minutos, vou deixar meu pai me levar por


um corredor forrado de flores frescas e laços de seda pregados nos
cantos de todos os bancos.
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Vou até o final, deixarei papai beijar minha bochecha com
lágrimas embaçando sua visão e me entregar a outro homem.

Vou pegar a mão do meu noivo na minha, olhar em seus


olhos de cachorrinho transbordando de alegria e me comprometer
para sempre com alguém que é nobre, leal e gentil.

Prometerei amá-lo, honrá-lo e respeitá-lo todos os dias da


minha vida.

Vou trocar votos de estarmos juntos na doença e saúde para


sempre, na frente de Deus, nossa família e amigos, para um bom
homem, por despeito e vingança. Uma armação. Como um grande
foda-se para o homem que realmente amo, mas não posso ter.

Vou me casar com um homem que realmente respeito e


amo... mas apenas como meu melhor amigo.

Quem faz isso?

Uma cadela destrutiva e egoísta. É quem faz isso.

Deixo meu olhar vagar por todo o comprimento do meu


corpo, passando pelo vestido de noiva de renda com bordados à
mão que abraça minhas curvas arredondadas. O mesmo vestido
que minha melhor amiga chorou no segundo que saí do provador,
me dizendo “é esse”.

Não escolhi rosa, marfim, creme ou mesmo algo não


convencional como cinza.

Ah não. Escolhi o branco puro.

O símbolo da pureza.

Uma risada irônica escapa dos meus lábios pintados de


vermelho.

Sou tudo menos pura. Minha alma está perdida. Meu


coração está congelado. Sou um demônio na pele de um anjo,
prendendo um homem para o resto da vida, que poderia ter
qualquer mulher que quisesse, mas por algum motivo me quer.
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E por quê?

Porque sou masoquista, eu acho. Embora eu devesse correr


para o mais longe possível, não consigo fazer nada além de correr
na direção do homem que amei por toda a minha vida: seu irmão.

O único homem que realmente quero, embora ele tenha me


traído da pior maneira possível.

Ainda há tempo, Maverick. Faça a coisa certa.

Eu deveria cancelar. Dizer a Kael que tudo isso foi apenas


um grande erro. Confessar que não estou apaixonada por ele como
uma esposa deveria estar. Dizer a ele que quando fizer meus votos,
em vez dele, imaginarei seu irmão parado na minha frente. Devo
deixá-lo encontrar o amor verdadeiro porque ele nunca será isso
para mim.

Porra.

Eu poderia muito bem escrever minha própria passagem


para o inferno. Se continuar com isso, é exatamente onde vou
queimar pela eternidade. Já sinto as chamas da mentira lambendo
as solas dos meus pés.

Faça a coisa certa pelo menos uma vez em sua vida esquecida
por Deus, Mavs.

Encontro meus olhos no espelho mais uma vez. Já sei que


não vou ouvir essa pequena parte de mim que implora para ser
justa. Eu não posso. A maior parte de mim está contaminada com
vingança, raiva e a necessidade de magoá-lo um pouco. A única
maneira de cancelar isso é se...

Uma batida na porta me assusta e eu pulo.

Está na hora.

Porra. Está na hora.

Respiro calmamente. Solto o ar lentamente. Afastando-me


dos meus olhos enganadores, vou até a porta e a abro depois de
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apenas uma breve hesitação, esperando encontrar meu pai do
outro lado.

Mas em vez de cabelos grisalhos e linhas de riso profundas


emoldurando um sorriso suave, sou saudada com um olhar de
chocolate escuro derretido e lábios finos e raivosos.

Ele está aqui.

Meu “se” chegou.

“Killian?” Eu respiro, a esperança crescendo em mim como


uma onda. Discretamente belisco meu braço para ter certeza de
que não é um sonho. Não. Olho para os dois lados do corredor para
descobrir que estamos sozinhos. “O que você está fazendo aqui?”

Ele entra e fecha a porta. Então ele fica bem no meu espaço,
agarrando meu rosto com suas mãos monstruosas. Minha alma
suspira, e fecho meus olhos para me concentrar no toque que me
paralisa.

Está acontecendo.

Está realmente acontecendo.

Ele finalmente veio atrás de mim. É quase tarde demais, mas


isso nem importa.

Ele está aqui.

Beije-me, beije-me, beije-me, grito silenciosamente.

Quando não sinto seus lábios nos meus, abro minhas


pálpebras. Killian está olhando para mim com confusão em seu
rosto. Meu coração entristece. Ele está parado aqui, me tocando,
mas todo um abismo ainda nos separa.

“Eu te amo”, digo rapidamente.

São as mesmas palavras que falei com ele no dia do seu


casamento, há dois anos. Com minha irmã.

Implorei que ele me escolhesse. Me amasse. Casasse comigo.


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Mas ele me massacrou, casando-se com ela.

“Não faça isso, pequena”, ele implora, com sua voz


tensa. “Estou implorando para você não fazer isso.”

Eu costumava adorar esse nome carinhoso... agora


odeio. Cada vez que ele diz, lembra-me exatamente o que ele pensa
de mim.

“Deixe-a” exijo. “Diga-me que você vai deixá-la e não farei


isso.”

Seu rosto se contorce. Seus olhos se fecham. Sua cabeça cai


pesadamente em seu pescoço. É a mesma resposta que ele sempre
me dá.

Ele não está aqui por você, Maverick. Ele nunca esteve.

Eu me afasto do seu aperto, empurrando-o para longe. O


meio sanduíche que comi há uma hora ameaça fazer uma
reaparição. “Saia,” eu me engasgo, apontando meu dedo em
direção à porta.

Ele endireita seus ombros largos, ficando ereto em seus dois


metros de altura. “Está sendo imprudente e imatura. Você não está
apaixonada por ele.”

“Foda-se. Você não sabe de nada.” Ele odeia quando eu


xingo. Diz que é ‘pouco feminino.’ Bem, foda-se ele e a porra do
cavalheirismo dele. Foda-se agora se tornou minha palavra favorita
do caralho.

“Maverick…”

“Não”, sussurro, perto de me descontrolar, o que jurei que


nunca faria na frente dele de novo. “A menos que você esteja aqui
para finalmente admitir que se casou com a irmã errada, então dê
o fora.”

“Apenas espere. Isso é tudo que estou pedindo.”


K.L. KREIG
“Esperar? Esperar o quê, Killian? Esperar que cresça de
novo em você as bolas que Jilly cortou e enfiou embaixo do
travesseiro? Esperar você dizer a ela que sabe qual é o gosto da
minha buceta ou como não pode esquecer que fiz você gozar com
a maior intensidade da sua vida quando te dei um
boquete? Esperar você confessar que tudo em que consegue pensar
é me foder e não consegue suportar a visão dela em sua
cama? Esperar até ela ser atropelada por um carro para ficar livre
e assim poder ficar comigo? Diga-me... o que exatamente devo
esperar?”

“Você está sendo rude e petulante.” Meus olhos


acompanham o cruzamento de seus braços. Odeio estar tremendo,
sei bem como é a sensação de cada músculo e saliência sob aquele
smoking. O gosto dele.

“Bem... sangrar por dentro tende a me tornar sarcástica e


amarga.”

Sua mandíbula bem barbeada flexiona e seu olhar fica


duro. Ele está aqui me implorando para não me casar com seu
irmão, mas isso é tudo que vou conseguir. Lamentos, promessas
vazias, sem compromisso. Nada. Sempre nada.

Uma onda de incrível — quase debilitante — tristeza, toma


conta de mim, ameaçando me afogar em uma vida de tristeza
permanente com a perspectiva de ficar sem ele da maneira que nós
dois queremos.

Eu não entendo. Não entendo como chegamos aqui...


até este momento. Não sei como as coisas chegaram a esse ponto,
mudando nosso curso ou por que ele simplesmente não admite que
cometeu um erro se casando com alguém que o trata como um
monte de merda inútil.

Killian Shepard me ama. Ele sempre amou, essa não é a


projeção neurótica de uma mulher psicótica alimentando-se de sua
própria doença mental. É a verdade. É e sempre foi a verdade. O
que torna sua própria farsa de casamento com minha irmã ainda
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mais confusa. Ela deve ter uma vagina de ouro e poderes para
hipnotizar. Só pode ser. Não conheci uma bruxa maior do que
minha irmã, Jillian.

“Você precisa sair.” Antes que eu caia de joelhos e faça mais


papel de boba do que já fiz.

Ele abre a boca para, sem dúvida, tentar alguma outra tática
para me fazer mudar de ideia, mas a voz do meu pai berra atrás
dele.

“Shep, aí está você. Você precisa voltar com os caras.”

Nenhum de nós se move. Eu me sinto congelada,


morta. Vazia.

“Está pronta, Tenderheart2?”

Estremeço por dentro com o apelido de infância do meu pai


para mim. Que irônico que ele me deu um nome de menino, mas
tenta constantemente me transformar em uma dama. É uma causa
perdida da qual gostaria que ele simplesmente desistisse.

“Sim, papai”, respondo uniformemente, meus olhos nunca


deixando os de Killian.

Não deixe isso acontecer, eles imploram.

Não me faça escolher, presumo que seja sua resposta.

Foda-se, eu digo. Foda-se você e sua honra perdida.

Vejo a cabeça de papai espreitar em torno do corpo largo de


Killian. “Vamos, querida, está quase na hora do show.” Quão
apropriado. Eu não poderia encenar uma porra de uma peça triste
melhor, mesmo se eu mesma a tivesse escrito. Encontro seus olhos
alegres cheios de rugas e adoração e sorrio o mais brilhantemente
que posso enquanto me permito chorar por dentro.

2
Significa coração mole, no sentido meiga e doce.
K.L. KREIG
Então, passo por Killian Shepard, pego a mão de meu pai, e
o deixo para trás, querendo saber como deixarei de amar um
homem e me apaixonar por outro. Tentei por anos e ainda não sei.
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CAPÍTULO UM
Maverick

Dias atuais

Eu não consigo respirar.

Literalmente.

Não há ar.

Eu inspiro profundamente.

É inútil. Tudo o que ouço é um chiado patético e meu futuro


se despedaçando.

O preto contorna minha visão, a escuridão me puxando.

Coloco minha cabeça entre as pernas abertas em uma


tentativa de chegar mais perto do chão, onde rezo para que a
escuridão abençoada me leve finalmente. Eu quero que ela me
leve. Se ele morrer, não quero viver.

Oh Deus.

Isso não pode estar acontecendo. Por que isso está


acontecendo? Por que os médicos não estão saindo? Já se
passaram seis horas.

Isso não pode ser bom, pode?


K.L. KREIG
Um zumbido distante penetra minha cabeça, ficando mais
alto a cada segundo.

Você merece isso, Mavs, ela sussurra docemente em meu


ouvido.

Karma, aquela vadia implacável. Seu tenor sarcástico


atravessa o zumbido incessante com clareza.

Você causou isso. Você merece isso.

Eu mereço?

Eu não sei. Talvez. Talvez essa seja a única maneira de


analisar os erros e os pecados do passado. Perder a única pessoa
que amo neste mundo. Começo a soluçar incontrolavelmente,
meus gritos abafados pela minha posição.

“Maverick, acalme-se”, ele diz severamente ao meu lado. Ele


pega minha mão, mas seu toque queima. Eu me afasto, sibilando
como um animal acuado pronto para atacar.

“Ei” ele diz mais suavemente desta vez. O tom suave e


calmante que ouvi em toda a minha vida ecoa ruidosamente nessas
quatro paredes brancas e insossas que mantêm o caos, o
sofrimento e as vidas destroçadas. Soa como pregos sendo enfiados
em meus ouvidos. “Vai ficar tudo bem. Ele vai ficar bem.”

É sério?

Está falando sério?

Ele foi baleado! Atingido por um lunático de merda no


trabalho, e ele está me dizendo que tudo vai ficar bem naquela voz
estranhamente calma como se eu tivesse dez anos e meu hamster
tivesse acabado de morrer.

Eu o odeio. Odeio que ele esteja aqui, falando,


respirando, vivendo, e o homem que eu quero mais do que
qualquer coisa está lutando para voltar para mim.

“Apenas respire. Devagar e com calma. Você vai desmaiar.”


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Sua mão pousa no meu ombro e aperta com amor, de forma
reconfortante.

Eu me enfureço.

Dou um sobressalto e perco o controle. “Eu não quero você


aqui.” Minha voz está estranhamente uniforme, mas
venenosa. “Isto é culpa sua.”

Meu comportamento é irracional, mas como alguém reage


quando o amor da vida dela está lutando pela dele? Preciso
transferir a agonia de esmagar os ossos e o medo debilitante que
está ameaçando me dominar. Estou sufocando. Afogando-me
lentamente em um tormento de partir o coração e uma vida inteira
de arrependimentos e decisões erradas.

Não tivemos tempo suficiente. Não o bastante.

Sua boca se abre e fecha. Sem dizer uma palavra, ele se


levanta, agarra meus ombros e me força a voltar para a cadeira de
plástico duro que estou sentada há horas e horas. Eu nem sinto
mais. Meu corpo está tão entorpecido quanto minha
alma. Ajoelhado na minha frente, ele pega minhas mãos, agarra
com força e apenas respira comigo.

Meus ombros tremem com terror silencioso e pensamentos


mórbidos. Pequenas picadas de miséria correm em massa pelo
meu rosto. Isso machuca. Eu sofro. Cada parte de mim dói. Eu
retiro o que disse. Não estou entorpecida. Não sou nada além de
uma bola distorcida de dor.

O passado me atinge enquanto luto para lembrar de cada


toque, cada palavra, cada memória. São tantos. Muitos.

Nossas vidas estão eternamente entrelaçadas. Nossos


futuros juntos já redigidos. Eles já estavam escritos desde o dia do
meu nascimento.

Ele não pode morrer.


K.L. KREIG
Estávamos apenas começando nossas vidas juntos. Do jeito
que deveria ser.

Eu não posso continuar sem minha alma gêmea.

Lancei meu olhar lacrimejante para o homem à minha frente,


aquele que tanto me ama, e cuspi palavras venenosas e
odiosas. Palavras que não quero dizer, mas não posso retornar
agora que foram lançadas. “Eu queria que fosse você”, digo sem
coração, insensivelmente.

Eu ignoro a dor em seus olhos. Machucado pelas minhas


palavras infligidas. Ele já está devastado o suficiente depois de
como as coisas terminaram entre nós semanas atrás, e aqui estou
eu... aumentando isso com minha birra sem coração.

Eu gostaria de poder me importar.

Estou destruída. Nunca sobreviverei a isso se ele for tirado


de mim.

“Se isso poupasse até mesmo um momento de dor, Maverick,


então eu também queria que fosse eu”, é a sua resposta calma e
sincera.

Ele não se move. Ele não solta seu aperto, nem um


pouquinho. Ele está me segurando aqui, me amarrando a um lugar
do qual não tenho mais certeza se quero fazer parte.

Ele não se move, eu também não.

Nós dois nos sentamos assim, apoiados um no outro, orando


como nunca oramos antes.
K.L. KREIG
K.L. KREIG
CAPÍTULO DOIS
Maverick

Onze meses e meio atrás

Estaciono meu carro no estacionamento desolado e escuro,


giro a chave e fico sentada por alguns momentos, reunindo meu
juízo para o dia seguinte. O brilho da minha aliança de noivado
reflete na luz da rua, chamando minha atenção. Estendo minha
mão e a estudo, ignorando a unha francesa que agora cresceu.

É impressionante. Uma joia de três quilates quase perfeita,


rodeada por um quilate de diamantes pavé, tudo revestido em
platina. A aliança de casamento possui outros dois quilates de
diamantes redondos que abrangem todo o comprimento do círculo.

Foi comprada com amor. Foi dada com confiança. Nenhum


dos quais eu mereço.

Fico olhando para a peça cara, ainda sem acreditar que fiz
isso.

Eu sou casada.

Casada.

Com Kael Shepard.

Meu melhor amigo desde que comecei a andar.


K.L. KREIG
Irmão do homem que eu realmente quero.

Agora sou a Sra. Shepard. Irônico. É o nome que sempre


quis. Isso simplesmente não é exatamente como imaginei
conseguir.

Não consigo me lembrar de um único segundo do dia do meu


casamento depois que saí da conversa com Killian. Não me lembro
de papai me levando. Não me lembro dos votos que recitei ou da
alegria da multidão enquanto Kael e eu saíamos marido e
mulher. O gosto do nosso bolo de casamento esqueci, mesmo duas
semanas depois. Os acordes da nossa primeira música são apenas
ruído ao longe. A sensação dele se movendo dentro de mim em
nossa noite de núpcias era como se estivesse acontecendo com
outra pessoa enquanto eu observava de cima, desligada.

Esta situação é tão complicada que me esforço para entender


isso na maioria dos dias. Estou me autodestruindo. E não sei como
parar isso.

Não parei de andar em uma montanha-russa emocional por


mais de dois anos. Desde o dia em que Killian Shepard se casou
com minha irmã mais velha. Em um segundo, ainda estou em
choque e no próximo, quero morrer. Externamente, estou fazendo
o papel de recém-casada perfeita e feliz, mas por dentro tudo o que
sinto é um isolamento aflito e solitário. Acho que isso
provavelmente se chama desespero.

E estou com raiva. Com raiva pra caralho.

O tempo todo.

Com Killian. Com Jilly.

Com Kael por se casar comigo, recusando-se a ver o que está


bem na frente de seu rosto de merda.

Com esta cidade esquecida por Deus e a vida à qual me sinto


acorrentada.
K.L. KREIG
Mas principalmente estou com raiva de mim. Por que não
posso libertar um homem que declarou seu amor por meio de
palavras enigmáticas, mas mostrou sua verdadeira face por meio
de ações reais? Por que não posso retribuir o amor de um homem
que me preza mais do que o ar ou a vida ou seu precioso Camaro
1969 restaurado? Se eu pudesse, voltaria no tempo e mudaria
tantas coisas. A primeira coisa seria: eu nunca me apaixonaria
perdidamente por Killian Shepard. Mentiroso. Traidor. Sabotador.

E o sentimento de culpa? Deus... a culpa. Essa emoção tem


todo esse cenário desprezível embrulhado em um pacote
mediocramente bonito e arrumado, amarrado com um laço
brilhante de infâmia.

Ansiar pelo marido de alguém é uma coisa. Ansiar pelo


marido de alguém quando você agora está casada ― com
o irmão dele ― é levar a imoralidade a um nível inteiramente
novo. Mas essa sou eu. Sempre consigo encontrar maneiras novas
e interessantes de contornar os limites do comportamento social
aceitável.

Tristeza e arrependimento me
consomem. Completamente. Inteiramente.

Esta aliança representa minha própria traição. Minha


própria duplicidade. Minha autodestruição. Deveria pertencer a
outra pessoa. Qualquer outra menos eu.

Eu amo Kael. Eu amo. Não consigo imaginar um dia na


minha vida sem ele. A última coisa que quero fazer é machucá-lo,
mas não sei se poderei amar outra pessoa do jeito que amo
Killian. Cometi um erro grave, que mudou minha vida, que não fará
nada a não ser trazer dor às pessoas que amo. Desta vez, fui longe
demais e não sei como consertar.

Solto um longo suspiro, sabendo que não há respostas a


serem encontradas. Nenhuma que eu queira enfrentar de qualquer
maneira.
K.L. KREIG
Olho para o relógio. São apenas 4:30 da manhã. Merda, eu
preciso entrar. Encenar às vezes é difícil e, depois das duas últimas
semanas, hoje será um verdadeiro teste de como aperfeiçoei
minhas habilidades de atuação, porque estou de volta à merda,
Iowa.

Dusty Falls.

População 5.339 de acordo com o último censo. Não somos


exatamente como Cheers, mas muito próximos. Todo mundo sabe
seu nome. É especialmente verdade para mim, dado quem é meu
pai.

Olhando pelo espelho retrovisor, dou um sorriso falso e o


testo.

“Você se divertiu?” Eu simulo a fala, observando minha


própria reação.

“Tão bom!” Eu respondo.

Ai. Foi terrível. Pareço uma farsa, como um piano


desafinado.

Mais uma vez.

“Você se divertiu?” Tento de novo.

“Oh meu Deus, foi tão fantástico!” Digo ao meu reflexo,


injetando-me com falso entusiasmo.

Eh. Terei que diminuir o sotaque de garota do interior e irei


me aperfeiçoando. Apenas um pouco.

Saindo do meu carro, ando pela calçada em direção à


enseada com uma única luz brilhando. Aquele é o meu. Fico em
silêncio por apenas um momento. Respiro o cheiro dos doces
açucarados, já sinto o cheiro de assado. O orgulho cresce por pelo
menos uma coisa na minha vida que fiz certo. Olho para o letreiro
em néon que projetei, ainda não está aceso para o dia, e sorrio.

Cygne Noir Patisserie.


K.L. KREIG
Padaria Black Swan. Minha ideia. Meu bebê. O único
consolo em que posso mergulhar completamente. “Senti sua falta”,
sussurro, segurando a chave do meu negócio com força em meu
punho.

Abrir um negócio, uma padaria francesa nessa cidade, uma


pequena cidade que atende pessoas modestas, foi uma aposta
enorme, mas está indo bem. Muito melhor do que qualquer um
esperava. Bem, exceto Kael, claro. Ele sempre pensou que era
exatamente o que esta cidade pequena precisava.

Ele estava certo.

Vejo um movimento lá dentro e balanço minha cabeça. A voz


estridente de MaryLou me irrita ― quero dizer, me cumprimenta
― no segundo em que entro pela porta de vidro. “Como foi?”

Eu diria que a virada da fechadura ou o som de sinos


batendo contra a estrutura de aço me delataram, mas isso seria
mentira. Aposto que MaryLou está aqui desde antes das 4h ― uma
pantera esperando nos arbustos por sua chance de atacar.

Tenho temido muito essa interação. As vinte perguntas, o


interrogatório, o olhar perspicaz, como o de um falcão. Ela vai
observar cada torção dos meus dedos, ouvir cada inflexão em meu
tom ou rastrear minha mão enquanto coloco uma mecha de cabelo
rebelde atrás da orelha. Ela vai ler algo em tudo que eu faço.

Ela é muito perceptiva, mas é claro... ela sabe a verdade. Ela


sempre soube a verdade. Ela é minha melhor amiga desde a
primeira série, quando salvei a vida dela.

Bem... é assim que ela vê as coisas. Tudo o que fiz foi evitar
que seu cabelo na altura da cintura fosse cortado quando Petie
Marshall enfiou não um, não dois, mas três maços gigantes de
chiclete nele, bem nas raízes. Ela estava no banheiro tentando
arrancá-lo, junto com punhados de seu cabelo loiro avermelhado
quando eu a levei para o refeitório, pedindo um pouco de pasta de
amendoim à lanchonete. Meia hora e algumas centenas de fios
K.L. KREIG
mais leve, ela estava sem goma. Ela ficou cheirando a amendoim
por dias, não importa o quanto lavasse, mas pelo menos ela
manteve seus lindos cabelos. Os que ela ainda tem até
hoje. Exatamente como era na primeira série. A menina precisa de
uma repaginada.

“Uau, uma garota não consegue nem tomar uma xícara de


café antes do interrogatório começar?” Eu digo, jogando minhas
chaves no balcão com um impulso. Acho que ainda não estou
pronta para dar meu sorriso falso.

“Aqui.” Ela me oferece uma xícara fumegante de café preto e


boas maneiras.

“Beijando a bunda da chefe?” Eu a observo por cima da


borda da minha xícara enquanto tomo um longo gole da bebida
quente e doce. Tem gosto de uma xícara de açúcar com um pouco
de café. Do jeito que eu gosto. Uau, senti falta deste lugar.

Ela bufa. “Eu não gosto do gosto de bunda.”

Sorrio. Senti falta de brincar com MaryLou James nos


últimos quatorze dias. “É por isso que somos amigas.”

“Então, como foi isso?”

“O que exatamente você quer dizer com ‘isso’?’” Pergunto,


ganhando tempo. Kael e eu voltamos há dois dias de nossa lua de
mel de duas semanas na exclusiva Ilha Calivigny, perto da costa
de Granada. Era o paraíso. Eu deveria ter desfrutado de nossa
casa privada, luxuosa, totalmente equipada, praia de areia fina e
pôr do sol incomparável, mais do que eu desfrutei.

Meu peito aperta com força. É exatamente a lua de mel que


imaginei ter com Killian.

“Bem, não estou falando sobre a vista da sua varanda


privada.”

“Por que não? Era espetacular.” Eu tomo outro gole e espero


ela morder a isca.
K.L. KREIG
“A bunda nua e dura do seu marido estava enquadrada
nela?” Ela pergunta, suas sobrancelhas arqueadas balançando.

“Talvez”, provoco.

“Você tem uma foto?” Sua voz fica uma oitava mais
alta. Sorrio mais forte.

“Possivelmente.” Digo.

“Oh merda.” MaryLou se abana com as duas mãos e todo o


meu corpo treme. Ela tem um fascínio profano pelo traseiro de Kael
desde a nona série, quando ela jura que fomos surpreendidas por
três veteranos dirigindo em uma noite de sexta-feira. Eu continuo
dizendo a ela que não foi Kael. Era David Brandt. Kael não estava
dirigindo, mas não importa o que eu diga, ela não vai ouvir.

“Eu acho que acabei de ter um mini orgasmo. Sério.”

“Oh. Meu. Deus.” Grito. Amasso um guardanapo de papel e


jogo nela. “É o meu marido que você está cobiçando.”

“Ei, não posso evitar que você se casou com um homem


ridiculamente bonito. E isso é o mais protetor que já ouvi sobre
Kael. Acho que o sexo foi mais do que bom, hein?”

“Hasius Crepes, sua vadia.” Posso xingar em excesso, mas


se ao menos pronunciar o nome de JC em vão, não estou
brincando, o gosto de lava aparece magicamente na minha
boca. Um efeito colateral ruim da minha infância.

“Odeio quando você diz isso. Você é uma mulher adulta


agora.”

“Bem... odeio seu rosto.”

Ela sorri amplamente, mostrando seus dois dentes da frente


ligeiramente tortos. “Isso é ridículo, Mavs. Você pode fazer melhor
que isso.”

Sento no banquinho de madeira atrás do balcão. “Eu


sei. Estou cansada. Não levanto tão cedo assim há duas semanas.”
K.L. KREIG
“Sim, você está em coma sexual há quatorze dias
consecutivos.”

Isso não é exatamente verdade, mas não a corrijo. Já me


sinto culpada o suficiente do jeito que está. Acredite ou não,
embora Kael e eu tivéssemos brincado bastante, não tínhamos
dormido juntos antes de nos casarmos. Não é que eu seja
antiquada ou estivesse me guardando porque certamente não era
virgem. É que uma grande parte de mim não estava disposta a
cruzar essa linha com ele, machucá-lo ainda mais se eu não
andasse por esse caminho. E foi tão... estranho fazer sexo com meu
melhor amigo, um garoto que costumava enfiar sapos pela janela
aberta do meu quarto à noite para me assustar pra caralho. Mas,
felizmente, Kael foi compreensivo, do jeito que ele sempre é. Ele me
garantiu que teríamos uma vida inteira para nos conhecer ‘dessa
maneira.’

Além disso, organizamos o casamento juntos contando com


a sorte, nos casamos apenas seis semanas depois de ficarmos
noivos. Eu não queria nada sofisticado e certamente não queria um
noivado longo e prolongado. Embora se eu tivesse prolongado,
talvez tivesse recuperado os meus sentidos antes que fosse tarde
demais.

“É só nisso que você pensa? Sexo?” Pergunto.

“Diz a mulher que provavelmente transou dia e noite desde


que partiu. Sei que se fosse eu não deixaria aquele traseiro quente
sair da cama nem para comer. Bem... exceto se ele quisesse
comer...”

“Tudo certo, então.” Eu a paro antes que ela se aprofunde


ainda mais. Então mudo de assunto, não querendo falar de minha
lua de mel idiota, sexo de qualquer maneira. “O que aconteceu na
noite de Cinquenta tons de cinza?” Pergunto, realmente me
indagando se ela deixou seu marido, o encanador Larry, açoitá-la
com os chicotes que ela comprou em uma loja de sexy shop online.
K.L. KREIG
E pelo rubor que vejo, mesmo na penumbra, eu diria que ela
não apenas deixou, ela gostou. “Sua vagabunda.”

“Ei, não critique antes de experimentar.” Ela ri, jogando o


guardanapo de volta para mim, que eu consigo desviar.

“O que mais você fez?”

Os ombros de MaryLou sobem e descem rapidamente. Muito


rápido.

“Vamos”, imploro. “Não me deixe entregue à minha


imaginação.” Quando ela morde o lábio e desvia o olhar, não
consigo resistir. “Grampos de mamilo? Alguns plugs anais,
talvez?” Seus olhos voltam quando menciono os plugs
anais. “Plugs anais?” Praticamente grito em descrença.

MaryLou James é tão rígida quanto parece, e até eu enchê-


la de álcool suficiente para que assistisse Cinquenta Tons de
Cinza comigo no mês passado, ela nunca tinha sido exposta a nada
além de baunilha.

“Você foi de sexo missionário e palavras doces para açoites e


plugs anais no espaço de duas semanas? Que porra é essa,
MaryLou? Daqui a pouco vai me dizer que ficou pendurada.” Seus
olhos tremem. Foi suave, mas eu vi. “Oh inferno. Simplesmente
pare. Não quero saber mais.”

Posso ter esquecido de mencionar que Larry, o encanador,


também é meu primo e é como um irmão para mim. Em
retrospecto, eu nunca deveria ter seguido essa linha de
questionamento.

Eu me levanto e atravesso as portas de vaivém para a


cozinha. Em pouco tempo, tenho todos os suprimentos de que
preciso para começar os croissants de chocolate, um de nossos
campeões de vendas. MaryLou já fez duas porções de brioches e
sinto o cheiro das baguetes assando que usaremos nos paninis da
hora do almoço.
K.L. KREIG
“Napoleões e tortas de maçã estão prontos. Os damascos não
vieram, então tentei aquela fazenda orgânica em Greenwood e eles
me venderam doze quilos de groselhas de uma só vez.”

“Mesmo? Temos tentado negociar com eles preços decentes


nos últimos três meses. Eles não se mexiam.”

“Bem, acontece que a irmã do chefe de Larry, Patty O'Shea,


é casada com o filho da namorada do proprietário, Burt
Leeland. Ela não anotou o sobrenome dele, então nunca ligamos
os pontos.”

Sorrio. Isso é Iowa rural.

“Bom, então. Ainda bem que resolvemos tudo. Adoraria


comprar mais ingredientes localmente, se pudermos. Como eles
estão?”

Ela para de encher o filtro de café com nosso sabor do dia,


que cheira a Snicker Roo, e me encara. “Eu vou te dizer se você me
contar como foi sua lua de mel. E sem besteira desta vez. Não
pense que eu não sabia o que diabos você estava fazendo com sua
pequena tática de diversão.”

Deixo cair uma mecha de cabelo em meu rosto. “Eu posso


tentar, sabe. Responda minha pergunta.”

“Mavs.” É tudo o que ela precisa dizer. Meu nome nesse tom
dela.

Desligo a batedeira industrial e respiro fundo antes de dizer:


“Foi... bom.”

“Bom?” Sua voz goteja com incredulidade.

“Sim. Agradável.”

“Sexo com o cara mais gostoso do planeta foi


simplesmente... bom?”

Eu sei por que ela está agindo assim. Kael Shepard é


deslumbrante. Alto. Magro, mas forte. Olhos deslumbrantes da cor
K.L. KREIG
de uísque envelhecido, cílios grossos, maçãs do rosto
proeminentes. Uma bunda que não se dispensa em um
quarto. Mãos grandes e dedos grossos, pelos quais sou uma idiota
total. Mas sua aparência devastadoramente boa não muda o fato
de que ele ainda é meu melhor amigo e que todo o meu apetite
sexual está em outro lugar. Ou seja, no seu irmão.

Encolho um ombro. “Foi estranho, sabe.” Ela pisca, então eu


elaboro. “Eu acho que é como imaginei que seria o sexo com meu
melhor amigo. Foi agradável, mas não sei...”

...ele não é Killian, deixo sem dizer.

Seu suspiro diz tudo. Ela está decepcionada comigo. Bem, o


clube da merda está aceitando novos membros. Um é um número
terrivelmente solitário. “Então, bom é bom, hein?” Ela diz com
sarcasmo.

“Estou tentando, ML” digo baixinho. “Só não tenho certeza


de como consertar essa bagunça que fiz.” Meus olhos ardem. Pisco
para afastar o sentimento. Se eu soltar uma lágrima, uma
cachoeira inteira jorrará. Não conseguirei parar.

“Talvez não precise de conserto, Mavricky”, ela responde com


a mesma suavidade. “Talvez só precise de cuidados.”

Se fosse assim tão fácil.

Eu não respondo e nós duas ficamos em silêncio, nos


preparando para o dia que virá. Mas não consigo tirar suas
palavras da minha cabeça.

Não pode ser tão fácil... pode?


K.L. KREIG
K.L. KREIG
CAPÍTULO TRÊS
Maverick

Onze meses e meio atrás

Pequenas cidades.

Elas são incestuosas, alguns dizem. Vidas entrelaçadas,


passados ligados, destinos já determinados.

Em alguns aspectos, ‘eles’ estão certos. Não a parte


incestuosa, claro, mas não existe anonimato, mesmo que você
queira. Todo mundo conhece todo mundo. As pessoas estão bem
no seu encalço. Eles fofocam. Julgam. Formulam opiniões sobre
quem você é simplesmente porque enviaram flores no dia do seu
aniversário e ouviram ‘rumores’ de quando você perdeu a
virgindade em Harbor Park (mentira, aliás).

Você não pode dirigir um quilômetro sem acenar para uma


dúzia de pessoas que conhece. Não pode sair correndo atrás do
leite ou dos ovos sem esbarrar em um primo distante ou em alguém
de sua turma de graduação do ensino médio que você nunca
gostou, mas que irá ficar de conversa fiada por trinta minutos
sobre merdas que você não dá a mínima. Sua tia Marge tem uma
hemorroida gigante? Que agradável. Uma visão que eu não
precisava, mas obrigada por compartilhar.
K.L. KREIG
Você descobre segredos e vexames sobre seus amigos,
vizinhos e comunidade que nunca quis saber.

E eles descobrem o seu.

Meu primeiro dia de volta a um lugar que geralmente me


enche de prazer e realização foi tudo menos confortável hoje. Eu
me senti como um inseto sendo estudado no
microscópio. Esmiuçada. Cercada. Tenho certeza de que sou
assunto de fofoca em cada esquina e no Big Stan's Diner, dois
quarteirões adiante.

Mas quanto mais eu repasso minhas mentiras, mais fácil


fica. Com cada história que eu contava sobre jantares românticos
ao luar ou o melhor coquetel de rum que já provei ou mesmo as
picadas de aranha com que acordei uma manhã, mais começo a
acreditar que tive a lua de mel dos meus sonhos. Com o homem
com quem sonhei ter isso.

Isso até Samantha Humphries entrar.

Sam, ou Hamhock como ela é conhecida em certos círculos


devido ao formato de seu nariz, sempre teve tesão por Kael. O
sentimento não era mútuo, mas isso não impediu Hamhock de
viajar em seu pequeno mundo delirante.

Conheço Hamhock, assim como a maioria dos meus 59


colegas de escola católica, desde antes do jardim de infância. Mas
estamos muito distantes de sermos amigas. Sua inveja da riqueza
de minha família sempre foi um assunto delicado. Bolsas,
financiadas por pessoas como meu pai, pagaram por sua educação
paroquial. A família dela lutava para sobreviver enquanto a minha
saía em férias exóticas todos os verões. Ela fazia compras na Pretty
Nickel, uma loja local de artigos baratos; eu tinha roupas de grife
(que raramente usava, só para constar). Na verdade, ela era tão
pobre que as pessoas na cidade apelidaram-na de os centavos de
‘Humphries’ e, quando passavam de carro em sua casa, jogavam
as moedas de cobre em seu quintal. Eu fiz isso uma vez. Não
consegui dormir naquela noite, me senti muito mal.
K.L. KREIG
Mas tudo isso empalideceu em comparação com o que eu
tinha e quem ela realmente queria.

O carinho e a atenção de Kael Shepard.

Sam nunca superou seus sentimentos por Kael, e o fato de


que agora estou casada com ele provavelmente dói nela o mesmo
tanto que dói em mim quando penso que Killian é casado com
minha irmã. Exceto que no meu caso, Killian realmente me
ama. Então, quando ela viu as joias ofuscantes adornando minha
mão esquerda, isso não apenas trouxe garras, mas também a
raiva. No segundo que seus olhos caíram para a minha mão, eles
endureceram e eu sabia que a merda estava prestes a ficar feia.

“Eu ouvi que você casou, mas então eu disse à minha mãe que
deve ser um daqueles rumores de cidade pequena. Não há nenhuma
maneira de que a Maverick DeSoto que eu conheço se case com um
homem bom e honesto como Kael Shepard quando ela ainda está
apaixonada pelo marido de sua irmã. Mas acho que me enganei.”

Ouço um suspiro atrás de mim ao mesmo tempo em que a


conversa na padaria morre. Instantaneamente, como uma agulha
sendo puxada de um disco.

“Dê o fora daqui,” MaryLou grunhe com raiva. Depois de


conduzir Hamhock até a porta de forma não tão gentil, MaryLou grita
atrás dela: “E os porcos não são bem-vindos, a menos que você
queira estar no menu.”

Quando ela murmura, “Bunda gorda com nariz de porco”,


entre dentes, uma risada abafada corre pelo pequeno bistrô.

“Ela é apenas uma vaca ciumenta”, Elda Hansen, uma cliente


regular de oitenta anos de idade anuncia. Vários outros
concordam. Elda sorri com simpatia quando meus olhos se movem
em sua direção. Eu reúno um sorriso fraco de volta, tentando manter
minha cabeça erguida enquanto a vergonha ameaça me arrastar
para baixo.
K.L. KREIG
MaryLou então insistiu que ela assumisse a frente enquanto
eu permanecia na parte de trás até fecharmos às 14h. Ela tem um
olho melhor na cozinha e eu sou melhor com os clientes, mas
depois daquele episódio, fiquei tão abalada que não tinha como
reunir mais mentiras alegres.

Tudo o que continuei pensando nas horas seguintes foi em


como Elda estava certa. Sam estava com ciúmes. Mas,
infelizmente, Sam também estava certa. Casei com um homem
bom e honesto enquanto ainda estou apaixonada por outro. Ela só
teve coragem de falar. Por mais que eu não goste dela, tenho um
respeito totalmente diferente por ela agora. E pelo menos sei o que
metade da cidade realmente pensa.

Depois que fechamos o dia, MaryLou puxou seu estoque de


whisky Jim Beam de emergência, praticamente forçando duas
doses daquele remédio pela minha garganta. Whisky Jim, Jack ou
Johnny podem não resolver os problemas do mundo, mas eles
fazem um ótimo trabalho enterrando a verdade feia por um tempo.

Duas horas e uma garrafa de vinho depois, agora estamos


sentadas à mesa da minha cozinha, e MaryLou diz as palavras
mais duras e sinceras que já me disse. Sua franqueza é o que eu
adoro e detesto nela.

“Você é uma mulher casada agora, Mavs. Você escolheu ser


a esposa de Kael Shepard.”

“Eu sei.”

“Ele é louco por você. Esse homem tem estado ao seu lado
toda a sua vida, não Killian. Killian é um cara sem escrúpulos e
covarde.”

“Mais uma vez, eu sei disso”, digo com um pouco de irritação


em meu tom. Ela poderia me fazer sentir pior sobre mim mesma?

Ela me encara por alguns instantes. “Se você não achava que
poderia se apaixonar por Kael, não deveria ter se casado com
K.L. KREIG
ele. Se acha que não tem essa habilidade agora, deve fazer a coisa
certa e acabar com isso antes de causar mais danos.”

“Essa doeu.” Aparentemente sim.

“A verdade dói muito, não é?”

Aceno em concordância porque minha garganta está muito


obstruída pela emoção. Meus dentes cavam em minha bochecha
com tanta força que provavelmente vou ter uma úlcera amanhã.

Ela se estende sobre a mesa, segurando minha mão na


dela. É difícil vê-la através das lágrimas agora cobrindo minhas
pupilas.

“Não é tão ruim se apaixonar por seu marido, Maverick.”

“Como você faz isso quando está apaixonada por outra


pessoa?” Eu sussurro, querendo desesperadamente que alguém ―
qualquer um ― me dê essa resposta. Se eu recebesse a chave para
deixar de amar um homem que não é nada além de destruição, eu
a usaria. Num piscar de olhos. Então jogaria essa merda de chave
no rio Keg para não ficar tentada a desfazê-lo.

“Simples. Você tem que deixá-lo ir primeiro.”

“Não é tão simples, ML. Se fosse, eu já teria feito.” Só uma


mulher que não está desesperadamente ansiando por um homem
que ela não pode ter, pensaria em termos tão ingênuos.

“É tão simples assim, Mavricky. Quer saber o que eu acho?”

“Não. Mas isso não vai impedi-la de me dizer de qualquer


maneira.”

Meu comentário sarcástico não diminui sua afirmação nem


um pouco. “Eu acho que até o segundo em que você caminhou por
aquele corredor na igreja, esperava por um milagre.”

Desvio o olhar, envergonhada com minha transparência.


K.L. KREIG
“Mas onde acho que está falhando é que você tem um. Ele
está bem na sua frente e se não se controlar e perceber o presente
que Deus lhe deu em forma de Kael Shepard, vai acabar perdendo-
o também.”

Eu não respondo. Mais uma vez, ela está certa. Kael é um


homem incrível. Ele me quer. Ele se casou comigo. Ele me
ama. Ele. Quaisquer que sejam as desculpas de Killian para
desistir de nós, elas não são suficientes. Ele está perdido para mim
para sempre. A verdade é que ele está perdido para mim há anos. É
hora de começar o processo de luto e começar a aceitar. Mas a dor
desse pensamento me pesa tanto, que sinto que não consigo
respirar fundo.

“Não tenho certeza se há espaço para mais alguém,


MaryLou”, digo honestamente.

“Isso porque você não tentou abrir espaço para mais


ninguém. Você precisa expulsá-lo. Ele está ocupando um espaço
que não é mais dele. Agora vamos. Vamos experimentar aquela
receita de Religieuse sobre a qual você estava tagarelando.”

“Sim. Ok.”

Duas horas cozinhando e bebendo passam. Bem, beber mais


do que cozinhar. Quando MaryLou saiu há uma hora, tínhamos
conseguido matar quase outra garrafa inteira de vinho. Larry veio
buscá-la enquanto seu irmão seguia atrás com meu carro. Uma
vantagem em morar em uma cidade pequena, eu acho. As pessoas
não pensam em fazer pequenos favores como esse para os outros.

Perdendo-me no uísque, no vinho e nas risadas, estou agora


suficientemente embriagada e meu dia difícil parece uma memória
distante. Claro, não é. E que venha o amanhã, terei mais um
arrependimento a adicionar ao meu montante crescente: uma
merda de uma ressaca.

Estou tirando mais uma porção de massa choux do forno


quando a porta da garagem abre, indicando que Kael está em casa.
K.L. KREIG
Casa.

Kael está em casa.

A nossa casa: uma modesta casa vitoriana de dois andares,


simples e antiga, que já era minha e que agora
compartilhamos. Como marido e mulher, não dois colegas de
quarto.

Uau. Vou demorar um pouco para me acostumar com isso.

Crescendo, Kael e eu passamos tanto tempo juntos que era


como se praticamente vivêssemos um com o outro de qualquer
maneira. Isso não é diferente, Mavs. Exceto que é. Ele agora está
dormindo na minha cama, nu, não acampado no chão em uma
pilha de cobertores e travesseiros, assistindo a reprises na TV Land
até adormecermos.

Quando ouço seus passos, mantenho o foco no creme duplo


que comecei a bater, gritando por cima do ombro: “Ei, como foi seu
primeiro dia de volta ao trabalho?”

Sinto o calor de seu corpo antes dele encaixar sua frente nas
minhas costas. Mãos pesadas pousam em meus quadris ao mesmo
tempo em que seus lábios pousam em meu pescoço
exposto. “Longo. Senti sua falta.”

“Senti sua falta também”, digo a ele baixinho, sabendo que é


o que devo dizer.

“O que você está fazendo?” Ele respira na minha


orelha. “Estou ficando com água na boca.”

Tento esquecer o quanto ele soa como Killian quando


respondo: “Religieuse. Estou pensando em colocá-lo no menu, mas
preciso aperfeiçoar o crème pâtissière primeiro.”

Estou na terceira porção do creme. A primeira coagulou. A


segunda não deu certo, mas desta vez, acho que finalmente o
aperfeiçoei. Pena que fiz isso impulsivamente.
K.L. KREIG
“Deus, adoro quando você fica toda francesa comigo, Mavs.”

Sorrio, mas sai mais como uma bufada quando ele coloca
outro beijo quente e de boca aberta na minha nuca. Meu estômago
se agita um pouco quando seus dentes apertam minha
pele. Quando ele passa a língua ao longo da linha do meu pescoço
até minha orelha, não consigo suprimir um leve gemido.

“Você cheira incrível. Como açúcar e noz-moscada. E talvez


um pouco de vinho.”

“MaryLou veio.”

“Humm. Isso explica tudo.”

“Quer um copo?” Pareço ofegante e carente e,


aparentemente, é tudo o que Kael precisa de encorajamento.

“Não. Eu quero algo totalmente diferente.”

Ele estende a mão e pega um dedo cheio de creme. A gosma


desaparece de vista e acho que ele vai degustar, mas pulo quando
ele começa a pintar o creme gelado ao longo do comprimento do
meu ombro.

Está quente hoje. E tão úmido. Agosto em Iowa pode ser


insuportável. As temperaturas estão se aproximando de cem
graus. A sensação térmica há apenas uma hora era de quarenta
graus Celcius. Está tão quente que o ar-condicionado funciona 24
horas por dia e ainda não consegue amenizar.

Então, tenho meu cabelo enrolado jogado em um


emaranhado bagunçado no topo da minha cabeça e um vestido de
verão curto sem alças tentando o meu melhor para ficar fresca,
mas agora minha temperatura interna dispara dez graus. Não só
Kael está mordiscando seu caminho ao longo da minha clavícula,
sua mão direita serpenteia por baixo do meu vestido e cava em
minha calcinha.
K.L. KREIG
“Isso é bom pra caralho”, ele murmura avidamente. Não
tenho certeza se ele está falando sobre o recheio ou o dedo que está
empurrando para o sul.

“Kael, o que você está fazendo?” Eu me contorço,


respondendo ao seu toque. Minha mente pode entender que estou
dormindo com meu melhor amigo, mas meu corpo... ele não está
nem um pouco confuso. Ele está bêbado. Graças a essa bebedeira,
agora estou com tesão. E ele quer o prazer devastador que ele está
oferecendo. Mesmo que seja estranho, admito que Kael é um
amante muito talentoso.

“Você sabe... eu te conheço tão bem, Maverick.” Respirações


quentes sopram em minha bochecha e caem no meu pescoço, não
fazendo nada para conter os arrepios que agora me envolvem. “Eu
sei que você não pode ficar parada por mais de cinco minutos. Você
rói as unhas quando está entediada. Você é uma moleca que é
estranhamente viciada em brilho labial e carrega cerca de trinta e
duas variedades em sua bolsa enorme.”

“Oh, merda”, suspiro quando ele junta outro dedo com o


primeiro. Estou começando a ficar muito molhada e muito
excitada.

“Mas mesmo com tudo que sei sobre você”, ele murmura,
“não sei o que te faz gotejar de desejo. Não sei o que te deixa tão
excitada que faz você entrar em combustão em minhas mãos.”

Seus dedos se movem vagarosamente para dentro e para fora


enquanto ele fala. É como se ele estivesse tentando aprender cada
cume irregular dentro de mim. Ou me deixar louca. Quando seu
polegar começa a roçar levemente meu clitóris, minha cabeça cai
para trás em seu ombro. Selvagem. Definitivamente selvagem.

Eu deveria parar com isso. Por ele. Eu não deveria querer


isso... deveria?

“Eu quero esses segredos, Maverick. E seu corpo vai me dizer


tudo que preciso saber.”
K.L. KREIG
Sua carícia é suave como um sussurro enquanto ele traça
uma linha na parte superior do meu vestido, sobre a ligeira curva
dos meus seios. É lento e lânguido, faz minha pele
formigar. Prendo a respiração quando ele se curva um pouco para
me provocar, antes de descer mais, liberando um seio, que agora
está inchado e dolorido.

Ele circula bem de leve ao redor do meu mamilo sensível,


fazendo minhas costas arquearem e minha respiração ficar presa.

Doce Senhor. Preciso de mais.

“Humm, um toque suave faz você estremecer. Vamos ver o


que mais faz.”

Pare. Diga a ele para parar. Mas Deus, eu não posso. Não
quero dizer a ele não como fiz nas últimas três vezes que ele tentou
fazer amor comigo. E vamos encarar os fatos: a maneira como
estou respondendo aos seus cuidados não é exatamente um recuo.

A mão entre as minhas pernas ainda faz sua mágica, eu


silenciosamente observo enquanto ele se inclina para frente para
mergulhar um dedo no ganache que planejei cobrir as formas de
massa de choux. Ele traz um dedo coberto de chocolate e circula
ao redor do meu mamilo. Eu suspiro alto quando ele aperta e puxa.

Palavras sexys e obscenas gotejam em meu ouvido. “Oh


merda, sim. Isso faz sua buceta pulsar, Swan.”

Não há como negar. Senti o aperto em torno dos dedos


dentro de mim tanto quanto ele.

“Você gosta de um pouco de dor com o seu prazer?”

Eu gosto disso. Gosto muito. Quando não respondo, ele


aperta novamente e sufoco um sim.

“Você sabe o quão sexy é você molhada para mim?” Ele


geme. “Porra. Eu quero dobrar você sobre este balcão,
Maverick. Quero arrancar sua calcinha encharcada, subir este
vestido sobre sua bunda nua e enfeitar suas bochechas com as
K.L. KREIG
marcas de minhas mãos. Quero enrolar seu cabelo lindo entre
meus dedos e puxar sua cabeça para trás para que eu possa ver
seus olhos enquanto deslizo para dentro de você e marco minha
esposa como minha. Então você nunca irá esquecer.”

Engulo.

Puta merda.

Minha cabeça está girando. Meus ossos estão líquidos.

Alguém deixou um sósia Kael de fala obscena entrar na


minha casa? O que diabos aconteceu no trabalho hoje? Em todos
os meses que temos sido um ‘casal’ oficial, ele nunca falou comigo
assim. Ele me tratou como vidro... ou como uma noiva que pode
fugir a qualquer segundo. Mesmo em nossa lua de mel, ele foi terno
e gentil.

“Eu quero fazer essas coisas pecaminosas no seu corpo,


Swan.”

E Deus, quem diria que o apelido de infância que ele deu


para mim poderia ser tão sexy quando ronronado no meu ouvido?

Kael habilmente me excita, mais ousado e mais


quente. Estou queimando. Já latejando por liberação, mas ele
exige uma resposta. “Diga-me que você quer isso, Mavs.”

Eu concordo.

Quero dizer a ele que quanto mais pecador, melhor, mas não
tenho chance. Com uma mão forte, ele empurra meu rosto em sua
direção para que possa capturar meus lábios em um beijo
acalorado. É forte, uma marca clara de propriedade, mas é tão
sensual ao mesmo tempo que faz meus dedos se curvarem. Sinto
uma mancha pegajosa de chocolate no rosto, mas estou muito
envolvida em uma névoa de sexo alcoólico para me importar.

Eu quero isso.

Preciso disso.
K.L. KREIG
Você pode ter isso... pare de pensar tanto.

Minha respiração acelera meus espasmos sexuais quando


ele intensifica o ritmo, aumentando a intensidade. A brincadeira
acabou. Ele está falando sério.

“Sim, Mavs”, ele ofega contra meus lábios, me encorajando.

Sim, Mavs. Tão apertada, quente e macia. Goze para mim,


Pequena. Eu quero sentir sua buceta apertar meus dedos com força.

Porra, Maverick. Pare.

Fique com Kael.

Sua grossa ereção se contrai na parte inferior das minhas


costas. Uma apertada no clitóris, agora refém entre dois dedos, faz
meus joelhos tremerem. Eu imploro por mais.

“Sim, tudo bem, baby”, ele sussurra suavemente.

Jesus Cristo, tão bom pra caralho, Maverick. Ele agarra meu
quadril com tanta força que vai marcar. Eu quero hematomas.

Não por favor. Não.

Aperto meus olhos, completamente desorientada. Meu corpo


se move junto com os dedos bombeando para dentro e para fora,
para dentro e para fora. Dedos que exigem tudo de mim, enquanto
o passado e o presente brincam cruelmente de cabo de guerra.

“Venha até mim.”

Venha até mim.

“Tão perto. Me dê isto. Eu tenho você.”

Me dê isto. É meu.

Seu ritmo aumenta, implora, e já sinto um orgasmo caindo


sobre mim. O outro lado do meu vestido está puxado para baixo,
meu mamilo rolando entre os seus dedos hábeis. Estou à deriva
naquele espaço entre ontem e hoje. Invisível. Confusa. Querendo.
K.L. KREIG
“Você está bem aí.”

Porra, sim, você está quase.

Eu estou quase. “Vou gozar”, falo em uma respiração curta


e irregular. Deus, estou gozando. Minhas mãos vão para seus
antebraços e meus dedos cavam em sua pele.

Estou gozando, Killian. Oh, Deus... estou gozando, digo a ele


enquanto me deixo voar, cavalgando a intensa onda de êxtase que
atinge meu corpo como um tsunami.

Estou caindo, caindo, começando minha descida para a toca


do coelho de êxtase e obscuridade quando seu corpo fica tenso e
ele me libera como uma brasa quente. Estou suspensa no ar,
tentando desesperadamente alcançar esse prazer que agora está se
esvaindo rapidamente.

Então estou sendo sacudida. Olho para cima, piscando


rapidamente, para encontrar olhos duros e uma mandíbula tensa.

Ah não. Merda. Oh droga. Eu disse o nome de Killian?

Kael puxa meu vestido de volta no lugar, sem se preocupar


em me limpar primeiro. A substância açucarada gruda no interior
do tecido fino como uma pasta, moldando-se em volta dos meus
mamilos ainda duros como celofane.

“O que está errado?” Pergunto, completamente sem


fôlego. Assustada pra caramba.

Ah Merda. Oh não não não. Por favor, me diga que eu não...

“Companhia.”

Hã? “Companhia?”

“Companhia”, ele repete, claramente irritado.

Oh, Deus misericordioso. Obrigada,


Senhor. Obrigada. Obrigada.

“Quem está aqui?”


K.L. KREIG
“Quem você acha?” Ele diz irritado.

Quem eu acho? Quem eu acho? É difícil pensar em qualquer


coisa, exceto no fato de que eu estava no precipício de um orgasmo
infernal que eu realmente queria. Eu precisava daquele orgasmo,
caramba. Não dou a mínima para quem está aqui; estou a cerca de
dois segundos de pegar sua mão e colocá-la de volta na minha
calcinha, forçando-o a terminar o que começou.

Kael pega um pano de prato pendurado na alça do forno e


enxuga vigorosamente a bagunça do meu rosto. Ele está sendo
rude. Isso dói. Eu sei que terei uma listra vermelha na minha pele
quando ele terminar.

Todo o seu comportamento mudou de sexy e brincalhão para


completamente zangado. Meu cérebro ainda está tentando
entender o que está acontecendo quando me atinge. Apenas uma
pessoa o faria reagir assim.

Killian.

Oh merda.

Killian.

Prendo minha respiração com o som de batidas dos dedos


na porta da frente. Kael e eu trocamos um olhar, provavelmente
ambos pensando a mesma coisa.

Bem-vindo de volta à porra do mundo real.


K.L. KREIG
K.L. KREIG
CAPÍTULO QUATRO
Kael

Dezenove anos atrás

Eu a observo do outro lado do playground, imaginando se


ela precisa da minha ajuda. Ela é uma das garotas mais briguentas
que conheço e não acho que ela ficará muito feliz se eu correr para
resgatá-la, mas posso ver que ela está ficando mais chateada a
cada minuto. Eu vi em primeira mão do que ela é capaz quando
alguém a irrita. Não é bonito.

Tommy Johns e seu ajudante, Mark Flinn, estão


encurralados pela pilha gigante de neve no canto do quintal. Eles
estão de costas para mim, mas eu reconheceria essa postura em
qualquer lugar. Pernas abertas, braços cruzados, ombros
inclinados, cabeças inclinadas. Modo de intimidação, armados e
prontos.

Eles são idiotas. Meu pai lavaria minha boca se me ouvisse


usar essa palavra. Não tenho permissão para xingar, mas ele faz
isso o tempo todo... então pensei, que se dane. O que ele não sabe
não o machucará.

Outros trinta segundos se passam. Eu os miro na minha


cabeça, um por um, rezando para que eles fiquem entediados e vão
embora. Embora Mavs esteja tentando ignorá-los, é claro que eles
K.L. KREIG
não vão embora sem obter algum tipo de reação dela. Os valentões
da terceira série geralmente escolhem os mais jovens e mais fracos
do que eles. Como alunos do jardim de infância que choram por
suas mães durante o recreio. Hoje, porém, o jardim de infância e a
primeira série estão em uma viagem de campo para o Art Center
em Des Moines, então sua presa é limitada e eles voltaram seus
olhos para ela.

Sei que ela sabe se cuidar, mas ainda não gosto disso. Nem
um pouco. Isso deixa meus instintos de proteção em alerta
máxima. Aos dez anos, não sei de onde vêm esses sentimentos
quando se trata de Maverick DeSoto, mas eles sempre existiram,
desde o momento em que ela nasceu. Esse sentimento não irá
embora. Na verdade, eles parecem ficar mais fortes a cada ano.

Dizendo a mim mesmo que estou fazendo isso mais para


protegê-los do que a ela, decido perambular por perto, mesmo que
isso signifique que terei que ouvir reclamações dela sobre isso a
caminho da escola para casa pelo resto da semana. Ela não sabe
ainda, mas ela é minha e eu protejo o que é meu. É como meu pai
ensinou a mim e a meu irmão.

À medida que me aproximo cada vez mais, o que ouço faz


meu sangue ferver. Meus punhos cerram com força. “Novilha,
novilha. Seu nome significa novilha.” Tommy Johns canta em uma
voz desafinada.

Eles estão chamando-a de vaca?

Oh, inferno não.

“Cale a boca”, ela diz em uma voz calma, como se o que eles
estão dizendo não a incomodasse. Exceto que eu sei que sim,
porque aqueles olhos verdes com os quais eu sonho estão
semicerrados e suas bochechas estão rosa escuro.

Para quem está olhando, podem pensar que ela está apenas
com frio. Eu a conheço melhor. Quando ela está apenas com frio,
o rosa fica mais brilhante, quase como maçãs cristalizadas na
K.L. KREIG
parte mais proeminente de seu rosto. Quando ela está
envergonhada, é mais um leve rubor que começa na linha de seu
cabelo e desaparece por baixo da gola de sua camisa. Do mesmo
tom que suas sapatilhas de balé. Mas quando ela está se
preparando para dar um tapa na cara de alguém, o que já fez
comigo antes, é mais da cor de chiclete mascado antes que todo o
açúcar acabe. As pontas das orelhas ficam um pouco mais
escuras, como o do sabor de framboesa.

A cor dela agora me diz que é melhor esses dois idiotas


tomarem cuidado ― ela está pronta para apagar a luz de alguém.

“Você ao menos sabe o que é uma novilha, novilha?” Mark


Flinn provoca, seguindo a liderança do ‘buraco’.

Chamamos Tommy Johns de ‘buraco’ nas suas costas,


porque ele ficou preso em um poço abandonado quando tinha cinco
anos. O idiota achou que poderia dançar lá embaixo com um rolo
de corda amarrado no tronco de uma árvore. Só que ele tinha cinco
anos. Ele não conseguiria dar um nó para salvar sua alma. Ele
ficou naquela masmorra escura e úmida por quase dois
dias. Quase morreu. Não sou uma pessoa má e espero que Deus
não me castigue por pensar isso, mas não acho que o mundo seria
um lugar pior sem o ‘buraco’.

“Não... ela é burra demais para saber o que é uma novilha”,


o ‘buraco’ diz.

Em câmera lenta, Maverick levanta os olhos do túnel que


está cavando. Parada, seus olhos ardentes não deixam o rosto de
Tommy, ela limpa a neve presa em suas luvas e em seus
jeans. Observo a pequena porção de água congelada flutuando no
chão, sabendo que ‘buraco’ está prestes a cair lá, provavelmente de
cara.

O que significa que Mavs será enviada para a sala do


diretor. Mais uma vez. E ela ficará de castigo. Mais uma vez. Talvez
até seja expulsa da escola, coisa que ela já fez antes. Isso
provavelmente a deixará suspensa, porque não há como isso
K.L. KREIG
acabar sem sangue agora. Com apenas sete anos e na segunda
série, ela já é um problema, a maldita palavra toda maiúscula, com
u ‘P’ maiúsculo.

“Por que você não foge para um canto e lambe o esterco


de novilha dos seus sapatos fedorentos, buraco”, Mavs responde,
dando um passo adiante.

Que merda.

Ela realmente vai fazer isso.

Não importa que ela esteja certa. ‘O buraco’ mora em uma


fazenda de gado a oito quilômetros da cidade. E seus sapatos
cheiram mal. Já os cheirei antes no refeitório. Normalmente
prendo a respiração quando estou perto dele.

Agora tenho cerca de dois segundos e meio para tomar uma


decisão aqui: deixo esta cena se desenrolar ou resolvo o assunto
com minhas próprias mãos, salvando Mavs de si mesma. Ela
precisa muito ser salva. Pelo menos ela me tem. Ela precisa de mim
mais do que ela jamais saberá.

Então faço a única coisa que posso ― a mesma coisa que fiz
em toda a minha vida com essa garota imprudente, que faz o que
der na telha, garota irritante. Minha garota.

Estendo a mão, seguro as costas do casaco de inverno do


‘buraco’ e dou o primeiro soco.
K.L. KREIG
CAPÍTULO CINCO
Maverick

Onze meses e meio atrás

Quando eu tinha onze quase morri.

Era dia de ano novo.

Jilly e eu recebemos, cada uma, o par mais perfeito de patins


de gelo de couro branco no Natal. No típico jeito arrogante de Jilly,
ela torceu o nariz para o presente e jogou os patins no canto do
armário.

“Oh meu Deus, Jilly, você não ama os patins? Eles são meu
presente favorito!” Eu grito.

“Amá-los? Eu odeio o frio. Isso deixa minha pele seca”, ela diz
com sua voz esnobe.

Ela nunca os tirou da caixa. Nenhuma vez.

Eu, por outro lado, amava o meu. Como de costume, cada


uma de nós tinha uma pilha gigante de presentes de que não
precisávamos e a maioria provavelmente nem usaria. Os patins
foram os menos caros de meus presentes naquele ano, mas eu os
valorizei como se tivessem sido mergulhados em ouro.
K.L. KREIG
Lembro daquele ano como se fosse ontem.

Ambos, Killian e Kael, estavam distantes. Killian fez


dezesseis anos em setembro e tirou sua carteira de motorista. Ele
nunca mais ficou por perto. Ele abandonou nossa banda local, que
pensamos ter batizado com inteligência de DeSheps, uma
combinação de nossos sobrenomes. E como ele era o baterista e
nenhum de nós sabia tocar bateria, DeSheps acabou logo em
seguida.

Kael havia começado o ensino médio naquele ano e estava


começando a mudar. Ele estava no futebol, o que ocupava muito
do seu tempo. Quando isso acabou, ele imediatamente começou a
jogar basquete. Ele não voltava da escola regularmente, até pelo
menos dezenove horas e depois ele tinha lição de casa. Tinha sorte
quando o via uma vez por semana.

Senti muita falta não só do garoto por quem me apaixonei,


mas também do meu melhor amigo. Lembro especificamente de me
sentir como se fosse a criança que foi abandonada enquanto eles
cresciam. E minha irmã era uma vadia delirante, como sempre,
nunca me dando a mínima.

Eu estava sozinha por dentro. Acho que foi isso que me levou
a sair naquele dia, mesmo sabendo que não deveria. Eu era
inteligente o suficiente para saber disso.

Estava frio e com neve no início da estação, de forma terrível,


e os lagos e riachos congelaram antes do normal. Mas tivemos uma
maré quente nas duas semanas que antecederam o Natal. As
temperaturas atingiram quatro graus Celsius e até 10 graus em
alguns dias. Nessa temperatura, o gelo fino derrete rapidamente.

Eu estava morrendo de vontade de experimentar meus novos


patins, implorando todos os dias. Meus pais me disseram que
não. “Não é seguro, Tenderheart”, papai disse. Ele até chegou a
esconder meus patins, porque me conhecia. Ele sabia que eu faria
o que quisesse, quando quisesse. Mas eu conhecia todos os seus
K.L. KREIG
esconderijos. Levei três minutos para localizar a caixa no galpão
na prateleira de cima, atrás de uma caixa de enfeites de Halloween.

Então, naquela manhã, enquanto papai ia caçar veados e


minha mãe tinha uma ressaca de véspera de Ano Novo, amarrei os
cordões dos patins, joguei-os por cima do ombro e saí.

Quando eu era criança, adorava o isolamento da zona rural


de Iowa, especialmente porque morávamos em oitenta mil metros
quadrados nos arredores da cidade. Ao lado do Shepards.

Adorei o silêncio. A paz. A liberdade. A concentração que


senti dentro de mim quando simplesmente me sentei, ouvi e tomei
o ar fresco e limpo. Adorei a cor do céu, o som dos grilos cantando,
o crepitar das fogueiras à noite. Tudo sobre morar no campo me
fazia sentir inteira e presente. Era um equilíbrio que eu não
conseguia encontrar em nenhum outro lugar.

E naquele dia, no segundo em que cruzei nosso terreno


aberto e coloquei os pés na densa floresta atrás de nossa casa, me
escondendo do mundo real, me senti melhor. Calma. Como se eu
tivesse entrado em um sonho.

Sim, patinar no gelo era exatamente o que eu achava que


precisava.

As memórias do que aconteceu a seguir são confusas.

Eu me lembro da emoção quando saí das árvores e


contemplei meu paraíso particular. Lembro da emoção que
percorreu meu corpo enquanto amarrava meus patins com força
em volta dos tornozelos. Eu ainda posso sentir o ar que estava
quente, mas a brisa gelada em minhas bochechas, me lembrando
que ainda era inverno. A textura do gelo liso quando dei meus
primeiros passos ainda reverbera por mim às vezes.

Então, o resto fica relativamente em branco. Lembro de


tremer. Eu estava molhada. Congelando. Rígida. Meus pulmões
doíam. Meus dedos das mãos e dos pés estavam pesados e
K.L. KREIG
dormentes. Minha mente ficou muito confusa. E eu estava sendo
carregada em um par de braços fortes.

“Aguente firme, Maverick DeSoto. Eu peguei você. Tenho


planos para você, e sua morte não está incluída.”

Essa voz. Não consegui abrir os olhos. Parecia que meus


cílios estavam colados por camadas de gelo grosso, mas eu
reconheceria essa voz em qualquer lugar.

Eu estava nos braços de Killian. E estava segura. Inclinei-


me mais perto do seu calor, deixei sua vida penetrar lentamente
em mim e deixei a escuridão me levar antes de acordar com o bipe
constante das máquinas.

Passei três dias no hospital. A hipotermia baixou minha


temperatura para 32 graus e eles me conectaram a uma máquina
de hemodiálise para reaquecer meu sangue. Ninguém sabe ao certo
quanto tempo fiquei na água, mas o suficiente para que meus
órgãos apresentassem sinais de desligamento precoce, então deve
ter sido um bom tempo.

Tive sorte naquele dia. Sorte que eu não me afoguei e ainda


mais sorte de ter sido encontrada em uma parte remota de terra
onde ninguém deveria estar.

Acontece que Killian, Kael e alguns de seus amigos estavam


andando de snowmobile3 e passaram na hora certa. Alguém viu
meu gorro de malha laranja brilhante se projetando no meio da
água.

Jilly sempre me criticou por aquele gorro. Ela disse que eu


poderia ser localizada da estação espacial nele. Que eu deveria
usar algo mais feminino e parar de agir como um menino. Mas
adorava aquele gorro. Foi um presente de Killian no meu
aniversário no ano anterior. Ele o comprou de uma senhora da

3
Moto de neve
K.L. KREIG
cidade que tricotava e vendeu barato. Ele disse que eu ficava bem
de laranja.

Foi nesse dia que ganhei outra chance na vida.

Esse gorro me salvou. Killian me salvou.

E quando ouvi promessas silenciosas naquela voz


implorando para que eu vivesse, esse também foi o dia em que
soube que estava perdidamente apaixonada por Killian Shepard.

Eu nunca olhei para trás.

A tensão em nossa mesa é palpável. É quase como se você


pudesse estender a mão e tocar em seu pulso. Quando Killian e
Jillian, ou os ‘Illians’ como todos agora se referem a eles, entraram
em nossa cozinha há meia hora, o olhar de Killian imediatamente
foi para o meu peito.

“Nós interrompemos alguma coisa?” Ele perguntou com uma


voz firme.

Achei que ele estivesse falando sobre o estado dos meus


mamilos protuberantes, que ainda latejam, mas, ao abaixar o
olhar, percebi que havia ganache acima da linha do meu
vestido. Era óbvio para onde a trilha levava. E pela primeira vez,
senti algo frio na base do meu pescoço. Quando estendi a mão e
limpei, o dedo voltou com uma bola de creme.

Meu rosto corou antes de Kael interromper e dizer que sim,


na verdade, eles haviam interrompido algo e falou que os
encontraríamos no Red Rooster (também conhecido como The
Bloody Cock) em meia hora para o jantar.

Quando eles saíram pela porta, fiquei com o início de uma


dor de cabeça, uma dor de insatisfação um pouco mais ao sul e um
marido irritado. Eu sabia que enfrentar Killian era inevitável, mas
eu esperava adiar isso por mais alguns dias, pelo menos. Ou até
K.L. KREIG
meses. Dando-me tempo suficiente para iniciar o lento processo de
tirar Killian Shepard do meu coração, como eu deveria ter feito no
segundo em que ele disse ‘aceito’ para outra pessoa.

“O que você vai querer?” Kael se inclina e me pergunta, com


sua voz tensa.

Meu estômago revira enquanto mantenho meu rosto


plantado atrás do menu. O vinho que bebi antes azedou. Sinto o
olhar avaliador de Killian sobre nós, observando. Eu posso
realmente sentir sua raiva vazando lentamente sobre a mesa. É
úmida e sufocante. E sua mandíbula não deixou de ficar tensa
desde que nos sentamos. Fico com raiva que ele esteja
com raiva. Ele não tem direito. Ele é quem quis que as coisas
fossem assim. Mas o que está feito está feito e não pode ser
desfeito, tanto quanto eu gostaria. Por todos nós.

“Não sei ainda”, respondo. Tudo o que vejo é uma grande


mancha preta na minha frente. Não importa, não preciso olhar o
menu. Existem dois restaurantes decentes em Dusty Falls. Somos
regulares em ambos. O que significa que conhecemos o menu
muito bem.

“Então, como foi a lua de mel? Conte”, o timbre sensual de


Jilly ressoa. Talvez seja assim que ela atraiu Killian. Talvez aquela
voz o tenha enfeitiçado como uma ninfa do mar e uma vez
capturado, ele não consegue sair da sua cadeia de titânio sem vida.

Kael arranca o menu de minhas mãos e o coloca sobre a


mesa. Ele joga um braço por cima do meu ombro, puxando-me até
que estou praticamente sentada em seu colo. Não preciso olhar
para ele para saber que está direcionando sua resposta para o
irmão, não para Jilly. Eu escolho manter meu olhar em qualquer
lugar, menos nas duas pessoas sentadas à nossa frente.

Um cruzamento entre um suspiro e uma risada me escapa


quando Kael responde presunçosamente: “Foi... aventureiro.”
K.L. KREIG
Não foi tal coisa. Quando meus olhos se fixam em Killian por
instinto, ele não está olhando para mim. Está direcionando ao seu
irmão um olhar duro, quase odioso. Mas há algo mais flutuando
por trás de seus olhos. Parece dor. Tenho que desviar o olhar antes
que eu comece a chorar.

“Parece que foi sexy”, acrescenta Jilly, completamente sem


noção. Ou talvez ela não seja. Talvez ela apenas aja como
tal. Talvez o tipo de Killian não seja uma mulher forte e corajosa
que pode dirigir um quadriciclo, filetar um peixe recém-pescado ou
abrir seu próprio negócio. Talvez seja do tipo fraca, dependente e
chorosa, com garras de gato, uma língua afiada e um gosto para
Louis Vuitton.

“Foi”, digo, de repente furiosa que Killian pensa que ele tem
o direito de se mostrar bravo e chateado por eu ter me casado e
que realmente tive a audácia de fazer sexo. Com. Meu. Marido. “Na
verdade, quase não saímos do quarto.”

Essa parte é um pouco verdadeira. Acho que nos primeiros


três dias fiquei tão perturbada com o que fiz que fiquei doente. Era
isso ou o sushi que comemos no avião. Eu culpei o sushi, é claro.

Olho para Kael, muito ciente de que ele agora está olhando
para mim junto com os ‘Illians.’ Quando vejo um largo sorriso e um
brilho em seus olhos, eu imediatamente correspondo. Então eu
derreto um pouco quando ele se inclina e me beija nos lábios. É
doce e genuíno, não um foda-se para seu irmão, mas um eu te amo
muito em vez disso.

Meu nariz queima um pouco. Eu não mereço este


homem. De qualquer maneira, forma ou circunstância.

As palavras de MaryLou passam pela minha cabeça. Isso


porque você não tentou abrir espaço para mais ninguém. Acho que
talvez ela esteja certa. Eu não abri. É hora de tentar com o homem
que atualmente está olhando para mim como se eu fosse o único
fósforo que ilumina seu mundo inteiro.
K.L. KREIG
“Bem, se não são os irmãos Shepard. O que traz vocês em
uma noite de quarta-feira?”

Graças a Deus... um bote salva-vidas a caminho em forma


de Patsy Leddy. Com uma piscadela e um beijo na minha
bochecha, Kael encara nossa garçonete. “Estamos comemorando,
é claro. Mavs e eu acabamos de voltar de nossa lua de
mel. Estávamos informando meu irmão e sua adorável esposa
aqui.”

“Sim, parabéns. Já era hora de vocês dois finalmente se


casarem. Sempre pensei que vocês deveriam ficar juntos.”

Eu mordo meu lábio, forçando meus olhos a permanecerem


em Patsy em vez de desviarem para Killian. Ela estava na mesma
série de Kael, mas foi para a escola pública. Ela é um amor total,
não há um osso malicioso em seu corpo. Se ela está dizendo isso,
não é porque ouviu rumores e está tentando ser maldosa como
Hamhock; é porque ela realmente acredita nisso.

“Obrigado, Pat. Como está o Tommy? Ele está ficando longe


de poços abandonados?” Kael se volta para mim e sorri como uma
criança em uma loja de doces.

Patsy ri, levando a piada de bom humor. Ela pode não ter ido
ao Saint Bernadette, mas todo mundo conhece a história de como
Kael Shepard nocauteou Tommy Johns com um único soco na
mandíbula e não só foi suspenso por três dias, mas ficou de castigo
por um mês. Fiquei furiosa com Kael. Eu deveria ter sido a única
a bater. Eu queria ser a única a socar o ‘buraco’ em sua bunda
naquele dia. Ensinar a ele uma lição. Até hoje, ainda não ligo para
Tommy Johns, mas Kael e Tommy se dão muito bem. Então,
novamente, Kael é magnético. Ele se dá bem com qualquer pessoa.

E agora, Patsy está noiva de Tommy o ‘buraco’ Johns. Eles


vão se casar no dia seguinte ao Natal. “Não há muitos poços
abandonados na esquina de Main e Lake. E você sabe que agora
ele é apenas Tom.”
K.L. KREIG
“Sim, certo. Ele sempre será o ‘buraco’ para mim, no
entanto.”

Ela ri de novo e pergunta “Agora, o que posso fazer para os


recém-casados comerem?”

Kael olha para mim primeiro. Eu dou a ele um sorriso


suave. “Hank fez seu bolo de carne foda esta noite?” Eu pergunto
a ela.

“Você sabe que sim.”

“Então ficarei com isso.”

Kael pede a mesma coisa. Killian pede um hambúrguer,


malpassado. E Jillian pede uma salada.

“Sem molho. Sem azeitonas. Sem cebolas. Sem


croutons. Sem queijo. Quero pimenta amarela, se vocês
tiverem. Se não tiverem pimenta amarela, diga-lhes para não
colocarem pimentão amarelo porque não é a mesma coisa. Ah, e
certifique-se de que os tomates estejam na lateral do prato. De
lado. Se eles não estiverem de lado, vou mandar tudo de volta.”

O rosto de Killian fica mais tempestuoso a cada exigência


brusca. “Então... você está apenas querendo um prato de comida
da Gucci”, ele diz para sua esposa. Gucci era o dragão barbudo4 de
estimação dos meninos Shepard que morreu no ano passado. Ele
vivia principalmente de alface.

“Shep, pare.” Ela faz para ele uma cara feia. “Você sabe que
estou tentando perder alguns quilos.” Jillian veste cerca de
tamanho P/34. No primeiro dia do seu período. O resto do tempo
ela é tamanho 32.

Kael limpa a garganta e meus lábios estão pressionados com


força. Nós dois estamos reprimindo uma risada, o que vai deixar
Jilly totalmente irritada.

4
É uma espécie de lagarto.
K.L. KREIG
“Ah, e traga-nos garrafas de cerveja Miller Light também”,
Kael diz antes que Patsy decida sair.

“Você não tem nenhum peso extra para perder, Jillian”,


Killian resmunga.

“Você não sabe nada sobre ser mulher, Shep. Vou me sentir
melhor se perder cinco quilos.”

“Então, agora, dois quilos se transformaram em cinco?”

“Bem, todo mundo sabe que os dois primeiros são apenas o


peso da água.”

“Aparentemente, nem todos”, Killian murmura enquanto


rasga as bordas do seu guardanapo de papel em pedaços. Eu odeio
saber que é um sinal de sua raiva crescente e que sua própria
esposa não tem a mínima ideia.

“Diga a ele, Maverick,” ela diz.

“Dizer o quê?” Respondo de volta, chateada por ela estar


tentando me arrastar para essa conversa estúpida. E esta é mais
uma diferença entre minha irmã e eu. Sou curvilínea e visto
tamanho quarenta e dois e, embora algumas vezes, quando vejo
celulite na parte de trás das minhas coxas, gostaria de ser menor,
meu peso nunca foi um problema para mim.

“Você sabe. Diga a ele como é bom quando você perde alguns
quilos.”

Cadela.

Deixo minha boca se curvar em um sorriso doce. “Bem, não


sei, Jilly. Estou perfeitamente confortável com meu próprio corpo.”

Kael e Killian começam a rir. Jilly apenas bufa e volta sua


atenção para a mesa atrás de nós. Quando seu olhar volta para o
meu, já posso ver as bobagens que ela vai espalhar por aí. Em vez
de fazer qualquer coisa produtiva com sua vida, minha irmã vive
K.L. KREIG
do seu fundo fiduciário e considera ser a própria Gossip Girl de
Dusty Falls como seu trabalho de tempo integral.

“Você ouviu que Sally Jameson ficou com aquele Isaac


Newton?”

Sim. Temos um Isaac Newton. Sua mãe é professora de


ciências na escola pública e aparentemente escreveu sua tese de
doutorado sobre as visões de Sir Isaac Newton sobre espaço, tempo
e movimento. Ela obviamente se tornou uma grande fã.

“O que há de errado com Isaac?” Minha mandíbula agora dói


por causa de todas as réplicas que estou respondendo.

“Jillian”, Killian a avisa.

“Bem, ele está totalmente abaixo dela, é claro. Quero dizer...


ele é um mecânico, pelo amor de Deus”, ela diz em um sussurro
que é mais como um grito. Acho que metade do restaurante
provavelmente ouviu o que ela acabou de dizer. Estou tão
envergonhada que gostaria que o chão me engolisse. Ela. Poderia
engolir ela pelo menos.

“Uau”, Kael murmura ao meu lado. Killian parece que está


pronto para explodir, seu guardanapo quase destruído.

Eu já mencionei que minha irmã é uma vadia egoísta, sem


classe, que não é nada como eu? Não? #fato.

“Sim, um cara talentoso que possui seu próprio negócio. Não


é fácil ter seu próprio negócio, sabe”, eu a desafio alto o suficiente
para vingar Sir Isaac.

“Eu sei.” Ela encolhe os ombros como se não tivesse


rebaixado indiretamente o que eu faço. Afinal, sou apenas uma
padeira humilde. Suas palavras. Não minhas. “Só estou dizendo
que ele trabalha com as mãos o dia todo.”

Oh, como eu a odeio. Não posso acreditar que


compartilhamos uma única célula do mesmo DNA. Cada vez mais,
estou convencida de que sou adotada.
K.L. KREIG
De repente, não aguento mais. Dela. Dos olhares não tão
astutos de Killian, de cada toque que Kael está me dando. Desta
tensão esquecida por Deus. Está dificultando minha
respiração. Não tenho ideia de porque os ‘Illians’ simplesmente
apareceram sem avisar, mas aposto minha metade da herança de
DeSoto no fato de que foi Jilly empurrando Killian para fazer
isso. Ela gosta de demonstrar que é casada não apenas com o
homem que ela sabe que amei durante toda a minha vida, mas
também com um dos homens mais sexys que já existiu em Dusty
Falls. Ela desfila pela cidade com Killian Shepard como se ele fosse
um maldito cavalo premiado. Estou surpresa que ela não o tenha
amarrado ainda. Talvez isso também aconteça no quarto. Nem
quero pensar nisso.

“Preciso usar o banheiro”, digo, empurrando Kael para que


ele se aproxime e me deixe sair. Rezo enquanto serpenteio pelas
mesas meio cheias de clientes para que ninguém me siga. Eu não
preciso do calmante de Kael ou das escavações maliciosas de Jilly
ou das tristezas de Killian. Preciso de cinco minutos para mim
mesma, para desacelerar a fervura que arde em mim por dentro.

Tomando meu tempo na cabine, fecho os olhos. Respiro


longa e profundamente, tento exalar toda a angústia que sinto
crescendo. Penso em meu lago. Uma paz imediata se instala sobre
mim. Você pensaria que depois de uma experiência de quase morte
na água, eu a evitaria como uma praga, mas não evito. Eu ainda
vou lá às vezes, mesmo depois de adulta.

Quando estou lavando as mãos, me sinto um pouco


melhor. Pelo menos acho que aguento o resto do
jantar. Evidentemente, não pensei em todo esse casamento até o
fim. Fiz um bom trabalho evitando passar o tempo com os Illians
nos últimos dois anos, mas agora será uma tarefa impossível, já
que sou casada com Kael.

Quando ouço a porta abrir atrás de mim, meu coração


acelera. Tenho certeza de que é Jilly, mas vejo o reflexo de ninguém
menos que Sally Jameson no espelho.
K.L. KREIG
“Ei”, ela me cumprimenta.

“Ei, Sal.” Pego três toalhas de papel porque são muito finas,
mesmo dobrando não vai funcionar, então me viro para encarar a
mulher que minha irmã sem coração acabou de caluniar. Pela
expressão em seu rosto, ela também ouviu.

“Eu estou muito...”

“Oh não, você não. Nem mesmo se desculpe por aquela


vaca.”

Sally Jameson é cinco anos mais nova que eu e é filha do


promotor distrital. Ela é brilhante, alegre e passou por um
relacionamento de merda após o outro. Isaac pode ser um pouco
peculiar, mas ele é um homem gentil com um bom coração. Eu,
pelo menos, espero que dê certo para eles.

“Não sei como você a atura.”

Eu bufo. “É um desafio.”

“Você é mais pacífica do que eu seria. Acho que conseguiria


colocar fogo nela agora.”

“Uau.” Sorrio. “Que crueldade.” Minha irmã e eu podemos


ser polos opostos e ela pode ter me destripado ao se casar com
Killian, mas ela ainda é minha carne e sangue. Não importa o que
aconteça, sempre haverá uma parte de mim que nunca poderá
cortá-la completamente por causa desse vínculo tangível. Família
é família. Sempre. Há um ser humano decente debaixo das suas
grossas camadas de arrogância e soberba. Tenho que acreditar
nisso. Eu tento acreditar, de qualquer maneira.

“Apenas sendo honesta. E para constar, parabéns pelo seu


casamento. Já dei boas espiadas em Kael. Vocês ficam ótimos
juntos.”

Sinto uma pontada no estômago. O vinho pode coalhar? O


sorriso que forço em meus lábios dói. Tento muito soar
K.L. KREIG
despreocupada quando digo, “Falando nisso, acho melhor
voltar. Kael pode ligar para um grupo de busca em um minuto.”

Deve ter funcionado. Ela ri. É fofo. Passo ao redor dela e


começo a abrir a porta.

“Ei, Maverick.”

“Sim?” Eu me viro, a tagarelice da conversa agora fluindo


pela porta parcialmente aberta.

“Posso estar completamente errada ao dizer isso, mas quem


se casa com aquela mulher não pode ser digno de você.”

Oh.

Porra.

Inferno.

Droga de cidades pequenas.

“Obrigada”, resmungo. Tento forçar os cantos da boca para


cima novamente, mas eles parecem pesados como chumbo e não
se movem. Quando ouço o estalo da trava atrás de mim, eu me
encosto na parede do corredor surpresa ao encontrar uma lágrima
escorrendo pelo meu rosto. Limpo essa lágrima e as outras que a
segue.

A única coisa que quero fazer agora é entrar no meu carro e


dirigir. Sem destino. Sem pensar. Sem culpa. Sem nada. Quero
fugir, mas a única pessoa de quem realmente quero fugir sou
eu. Eu gostaria que isso fosse possível. Se fosse, eu já teria me
perdido há muito tempo.

Algumas respirações profundas depois, estou sentada de


volta em meu lugar ao lado de Kael. Seus grandes olhos castanhos
percorrem meu rosto, preocupação franzindo sua testa.

“Você está bem, Swan?” Ele sussurra docemente.


K.L. KREIG
Eu aceno, focando toda a minha atenção no pedaço de carne
nada apetitoso esperando na minha frente junto com uma cerveja
que não vou beber. Sinto o calor de sua palma na minha coxa antes
que ele me dê um aperto reconfortante. Forço um breve sorriso,
que parece acalmá-lo... por enquanto.

Nós quatro comemos em silêncio por alguns minutos. O


abençoado silêncio que eu precisava. Estou apenas começando a
pensar que posso sair daqui sem arrancar as raízes do cabelo loiro
descolorido de alguém quando o anúncio abrupto ― e muito
inesperado ― de Jilly afunda meu mundo mais uma vez.

Seus talheres batem contra o prato antes que ela o empurre


para longe, sua salada meio comida zombando de mim pela garfada
cheia de purê de batata que acabei de enfiar na boca. Ela faz um
show agarrando a mão de Killian e olhando para ele com amor
antes de se virar para mim e dizer, “Eu queria que vocês fossem os
primeiros a saber que está na hora.”

“Hora de quê?” Eu respondo uniformemente, não gostando


do brilho de gato que pegou o canário no rosto da minha irmã. Eu
coloco meu garfo na mesa, enfiando-o sob o meu prato com medo
de pegá-lo e furar seus olhos com o que ela vai dizer.

Com um largo sorriso no rosto, ela diz algo que me deixa com
o coração doente.

“Killian e eu estamos finalmente prontos para uma


família. Oficialmente, começamos a tentar engravidar.”

Eu paro de respirar. Tenho certeza que sim. Eu pisco, pisco,


pisco. Continuo piscando. Talvez se eu piscar por muito tempo e
rápido o suficiente, eu magicamente me transportarei para outro
lugar e hora onde isso não machuque tanto.

Killian está tentando chamar minha atenção. Eu o vejo na


minha periferia curvando sua cabeça, silenciosamente implorando
para que eu olhe para seus olhos de chocolate traidores, beijados
por Judas e devoradores de sonhos.
K.L. KREIG
Eu não vou olhar.

Porra. Não posso. Não posso engolir a conversa silenciosa


que teremos se eu fizer isso.

Sinto muito, Pequena.

Eu não dou a mínima.

Eu também e odeio quando você xinga.

Te odeio.

Eu te amo. Por favor me perdoe.

Eu não posso.

Você irá.

Não. Não posso ouvir mais desculpas e palavras não ditas.

Depois de encontrar minha voz que havia sumido, parabéns


indiferentes são trocados. Da minha parte, pelo menos. Kael
parece genuinamente ― talvez muito genuinamente ― feliz. Então
sou forçada a passar o resto do meu jantar com Jillian balbuciando
sobre as cores do berçário, nomes de bebês e escolas particulares.

Naquela noite, depois de uma rodada de sexo tentando-


esquecer-minha-vida-fodida-e-do-Killian-Shepard, vou para a
cama envolta nos braços de Kael, quente por fora, mas
mortalmente fria no lugar que é mais importante.
K.L. KREIG
CAPÍTULO SEIS
Maverick

Onze meses atrás

“Quando você vai voltar?” Tento muito esconder a decepção


na minha voz, mas é difícil. Sinto falta dele.

“Em breve.”

“Defina breve”, insisto. Ele está dizendo isso há semanas. Ele


conseguiu um emprego em Pensacola, Flórida, três meses atrás,
deixando a empresa de construção do meu pai, pegando todos nós
de surpresa. A DeSoto Construction Industries é a maior, mais bem-
sucedida e mais poderosa empresa de construção de infraestrutura
de transporte em todo o Meio-Oeste. Killian era um grande vendedor
com o conhecimento político necessário para atrair grandes clientes
e mantê-los felizes.

Todos os homens da Shepard trabalham para a DeSoto


Construction, na verdade. Arnie Shepard, pai de Killian, é o Diretor
Financeiro e também faz parte do conselho. Kael começou
recentemente como advogado corporativo e Killian trabalha com
vendas. Inferno, três quartos de Dusty Falls são empregados por
K.L. KREIG
Richard DeSoto. Até eu trabalho para meu pai como diretora de
projetos.

“Mavs, você precisa ser paciente.”

Paciente? Passei minha vida inteira me afogando em


paciência, esperando por este homem. Ele se mudou para frequentar
a faculdade. Então ele volta, mas eu ainda era ‘muito jovem.’ Então
foi minha vez de ir a faculdade, e embora eu voltasse para casa da
Universidade de Iowa para estagiar para meu pai no verão, Killian
ainda não me tocou. Até uma noite, atrás das caixas de grãos no
início deste verão, quando tudo mudou.

“Dois meses depois de eu voltar da faculdade, você me deixa


aqui sozinha. Tenho sido paciente há quase vinte e três anos,
Killian. Estou cansada de ser paciente. Estou cansada de
esperar. Estou cansada de me esconder. Não entendo por que você
teve que se mudar.”

“Já conversamos sobre isso, Pequena. Preciso provar que sou


bem-sucedido por mim mesmo, não pelo nome de seu pai. Eu não
quero estar sob suas asas minha vida inteira como meus pais. Eu
não quero isso para nós.” O sustento de toda a família de Killian
depende de Richard DeSoto e ele não está disposto a contrariar meu
pai. Embora isso me deixe com raiva, de certa forma, não posso
culpá-lo.

“Eu sei.” Suspiro, sabendo que ele está certo. “Sinto muito. Eu
só...”

“Não se desculpe. Além disso, você sabe que ele ainda não
pode descobrir sobre nós. Ele está começando a ficar desconfiado.”

Killian e eu não estamos tecnicamente ‘juntos, juntos.’ Não


namoramos como outros casais. Nós ficamos no
escuro. Esgueiramos como um casal de amantes. É ridículo. Isso me
irrita, na verdade. Mas meu pai não apoia nada além da amizade
entre Killian e eu. E o que meu pai quer, ele consegue. Odeio
desagradar meu pai, mas há uma grande parte de mim que
K.L. KREIG
simplesmente não se importa mais. Não é escolha dele quem eu
amo. É minha escolha.

“Então, quando você vai voltar para me ver?”

“Vou tentar voltar no próximo fim de semana.”

“Tentar?”

Sua expiração é pesada e longa. “Maverick, você sabe o que


vai acontecer no segundo que eu colocar os pés nessa cidade. Meu
pai já está na minha bunda para voltar ao DSC.”

“Bem. Então eu irei até você. Não posso esperar mais.”

“Isso não é inteligente. Alguém vai descobrir.”

‘Alguém’, significa meu pai.

“Você não quer que eu vá?” Pergunto, minha voz um pouco


trêmula.

“Baby”, ele persuade, “não é isso e você sabe disso. Eu quero


ficar junto com você. Ainda não é o momento certo. Será em breve. Só
não agora.”

Meus olhos vagam para a janela do meu quarto, as cortinas


totalmente puxadas para cima. Eu vejo a chuva cair. É reconfortante
e purificador. Geralmente alimenta minha alma ouvir o tamborilar
suave das gotas atingindo as calhas de metal e saber que está
encharcando as raízes do milho e da soja que crescem ao longo das
estradas sinuosas de nossa cidade rural. Mas hoje meu humor está
de acordo com o clima. Sombrio e tempestuoso. Tenho uma sensação
iminente de desgraça que simplesmente não consigo abafar, e
aconteceu no segundo em que Killian pisou naquele avião em Des
Moines.

“Sinto tanto sua falta.”

Sua voz fica baixa e fraca. “Eu também sinto sua falta,
Pequena.”
K.L. KREIG
“Eu quero me casar com você.”

“Eu quero você grávida dos meus bebês.”

Fico tonta quando temos essa conversa. Nosso


relacionamento romântico pode ser novo, mas conheço Killian
Shepard minha vida inteira. Eu sei o que ele quer, como ele
pensa. “Quantos?” Eu cutuco, já sabendo a resposta.

“Cinco. Todos meninos. Vou mantê-la grávida por seis anos


inteiros.”

Agora estou sorrindo de orelha a orelha, minha tristeza quase


esquecida. “Você tem que se casar comigo primeiro.”

“Paciência é uma virtude.”

“A virtude é superestimada.”

“Não. Virtude é o que torna quem você é, Maverick. Deus,


nunca perca isso. Essa é uma das coisas que me atraiu em primeiro
lugar.”

Minha garganta fica obstruída. “Eu te amo, Killian.”

“Eu adoro quando você diz meu nome assim.” Consigo


praticamente ouvir o sorriso em seu tom.

“Como o quê?”

“Com fôlego e desejo.”

“Desejo muito. Vou te mostrar o quanto no próximo fim de


semana, se você voltar para casa.”

“Que tal você me mostrar agora? Deixe-me ouvir”, ele desafia


com um gemido suave.

Gosto de um bom desafio. “M'kay.”

Deslizo meus dedos para baixo, baixo, baixo...


K.L. KREIG
Sou sacudida na melhor parte da minha memória quando
MaryLou brinca “Sabe... talvez seja exatamente disso que você
precisa.” Não... o que preciso é reviver minha fantasia em paz.

“Do que você está falando?”

Levanto meus olhos da minha tarefa para observá-la colocar


meticulosamente uma única framboesa, perfeitamente, em cada
um dos minis cheesecakes na bandeja na frente dela.

A Sra. Kenner está almoçando hoje cedo na loja para a


Federação do Clube das Mulheres e encomendou trinta e três
desses, junto com uma quantidade igual de quiches individuais de
presunto e queijo. Também temos dois pedidos de catering
menores para atender, então admito... estou
despedaçada. Arrasada, tanto faz. E estou mais irritada do que
tenho o direito de estar por causa das notícias que me derrubaram
ontem. Era eu quem deveria ter filhos com Killian... não ela.

MaryLou para o que está fazendo e ergue os olhos. Ela me


encara por dois segundos inteiros antes de começar a rir. “Já faz
alguns dias, não é?”

Sim. Mas o que estou me referindo e o que ela está se


referindo são duas coisas diferentes. “Cai fora, MaryLou.” Pego
meu saco de confeitar e um biscoito, mas aperto a massa delicada
com muita força, fazendo com que se esfarele em minha mão. Ela
agarra meu pulso e o empurra para baixo no balcão, lutando com
ela, esmago mais uma dúzia de biscoitos no processo. “Que diabos,
vadia?” Eu grito.

Isso a faz rir mais alto. “Você pode fazer mais. São apenas
ovos e açúcar.”

“Essa não é a questão.”

“Acho que é exatamente esse o ponto”, ela diz com


naturalidade. Pegando um punhado dos discos multicoloridos
K.L. KREIG
agora destruídos, ela os deixa cair lentamente entre seus dedos
abertos, de volta para a estação de trabalho. Nós duas observamos
a bagunça diante de nós como se fosse entregar misticamente
respostas para todos os problemas não resolvidos do mundo...
como o que acontece com todas as pessoas que desaparecem no
Triângulo das Bermudas e houve realmente um encobrimento do
governo de um acidente de OVNI na Área 51? Ou talvez, apenas
talvez, porque agora sou a Sra. Kael Shepard e não a
Sra. Killian Shepard.

“Você precisa explodir tudo que você pensava que sabia e


começar do zero.”

O que? Recomeçar? Fingir que nunca amei Killian Shepard?

É isso que ela está sugerindo?

Não há como essa resposta estar nas migalhas diante de nós.

E como faço isso? Como isso é possível depois de todo esse


tempo? Ele está gravado em mim tão forte e profundo, ele está
realmente tecido em todas as minhas células.

Não. Não há como fingir. Não há como esquecer. Há apenas


compartimentalização. Existe o antes e o agora. Passado e
presente. Killian contra Kael.

Tenho tantas coisas maldosas na ponta da minha língua,


esperando para serem ditas a única pessoa que sinto que posso
descontar tudo em cima dela e ela ainda vai me amar
incondicionalmente. Mas isso não é justo com ela. Especialmente
quando ela está apenas tentando ajudar.

“Eu simplesmente não consigo acreditar que ele está


realmente fazendo isso.”

“Por quê?” Ela responde de volta.

“Por quê? Ele não a ama. Ele mal consegue olhar para
ela. Por que ele teria um filho com ela?”
K.L. KREIG
“Eu não quis dizer por que ele está tendo um filho. Eu quis
dizer por que você se importa, Maverick? O que quer que você tenha
com Killian terminou no dia em que ele voltou para Dusty Falls e
ficou na sua frente na casa de seu pai com sua irmã em seu braço
e anunciou seu noivado. Você merecia a cortesia de não apenas um
aviso prévio, porra, mas uma explicação. Você não teve
nenhuma. E mesmo que você conseguisse essas coisas, não teria
sido bom o suficiente. Nada do que ele dissesse seria bom o
suficiente para justificar o que fez. Corte a porra do cordão,
querida. Ele não vale a pena. Se ele quer procriar com aquela
bruxa e criar um bando de bruxinhas, isso é problema dele, não
seu.”

Meus lábios querem se curvar em um sorriso, então eu os


deixo. Assim como o de MaryLou. Quando um ruído que soa
estranhamente como uma risada escapa da minha garganta, ela
corresponde. Então, em dez segundos, nós duas estamos dobradas
de tanto rir com lágrimas escorrendo pelo nosso rosto.

“Um bando?” Eu pergunto com respirações engasgadas.

“Sim... um bando”, ela responde em um tom de gemido tão


alto que minhas pernas não me seguram mais e eu deslizo para o
chão rindo muito mais. Logo, ela está sentada ao meu lado e
estamos com falta de ar.

“Eu acho que você quer dizer um clã”, corrijo quando posso
finalmente sugar o oxigênio novamente.

“Clã, ninhada, bando. Não faz diferença. Tudo que imagino


é um monte de pequenas vassouras alinhadas contra a parede do
vestiário, em vez de sapatos.”

Isso reinicia nossa gargalhada. “Oh meu Deus, você é


terrível.”

“Talvez.” Ela enxuga as lágrimas que se acumulam sob seus


olhos. “Mas não me diga que você não pode imaginar a mesma
coisa.”
K.L. KREIG
“Eu posso”, digo a ela. Infelizmente, eu posso.

O último riso do meu ataque diminui e o último sorriso


desaparece. O único som que resta no ambiente é a nossa
respiração acelerada, junto com meus pensamentos
selvagens. MaryLou envolve sua mão na minha, segurando
firme. Nenhuma de nós se move para olhar a outra.

“Eu te amo, Maverick. Eu vou te amar para sempre. Sempre


estarei com você. Mas tenho que ser honesta. Estou cansada de ver
você passar por isso. Uma das coisas que mais admiro em você é o
fato de nunca permitir que ninguém a reprima. Sinto falta daquela
garota. Aquela que anda com a cabeça erguida e o dedo médio mais
alto. A mesma que dirigiu até Des Moines para conseguir um
empréstimo para um pequeno negócio para este lugar porque
queria ser avaliada por seus méritos e não por causa do nome de
seu pai. Você poderia facilmente ter usado o dinheiro dele ou seu
fundo fiduciário, mas não o fez. Isso me deixa triste ― não,
com raiva ― me deixa com raiva ver você se afundar em memórias
como a porra de uma amante
abandonada. Você foi rejeitada. Supere isso, porra. Muitas
pessoas já estiveram em seu lugar antes e não apenas
sobreviveram, mas também prosperaram. Lembra de Penny Lane?”

“Dos Beatles?” Pergunto, confusa.

“Jesus, não. Você e sua música antiga. Penny Lane, a garota


que morava em Honeybrook?”

Na minha cabeça, estou revirando os olhos. “Não.”

Ela acena com a mão como se estivesse espantando uma


mosca. “Não é importante. De qualquer forma, o importante é que
Penny Lane estava noiva de Ludwig Vandenberg. Eles reservaram
a igreja. Ela escolheu o vestido de noiva. Eles até compraram as
passagens de avião para a vovó Lane vir da Louisiana para a
cerimônia. Então Penny foi para Londres para um semestre de
estudos no exterior e quando ela voltou, Ludwig não apenas a tinha
K.L. KREIG
traído, ele se casou com a adúltera. E você sabe com quem ele se
casou, Mavs?”

Eu poderia me importar menos com quem Ludwig de Penny


Lane se casou, mas pergunto por que, se não fizer isso, MaryLou
ficará sentada muda até que eu faça pergunta. “Quem?”

“A irmã dela, é claro.”

Eu giro minha cabeça em sua direção. “Você está inventando


essa merda.”

“Não”, ela fala sem expressão. “Larry conhece o irmão da


namorada de Penny.”

Uma força desconhecida puxa minhas sobrancelhas para


cima. “Namorada? Você não acabou de me dizer que ela estava
noiva de um cara?”

“Sim.” Ela fala tão alto que machuca meu tímpano. “Quando
a vida lhe dá limões, você não faz limonada. Isso é para os
fracos. Não. Você espreme, chupa-os até secar e depois joga as
cascas usadas de volta na cara da vida com um gigante foda-se e
um gesto pedindo mais.”

Eu bufo antes de perceber que ela está falando


sério. Seriamente, confesso “Acho que já posso ter feito isso.”

“Não. Você não fez. Você acha que se casar com Kael foi um
dedo médio para Killian, mas está errada. Você poderia ter se
casado com qualquer um, mas se casou com Kael. E você se casou
com Kael porque o ama, Maverick. Se realmente der uma boa
olhada no que está em seu coração, sim, você está ferida, mas por
trás da dor e traição é onde está o verdadeiro amor, Mavs. Você
apenas tem que desenterrar. E dá-lo de presente para
o homem certo desta vez. Um digno de você. E esse não é o irmão
Shepard mais velho. Nunca foi.”

Meus olhos lacrimejam. Ela me puxa até minha cabeça cair


em seu ombro. Costumávamos sentar assim no parquinho às
K.L. KREIG
vezes, quando éramos pequenas. Costas contra a parede de
tijolos. Todas as outras garotas queriam causar drama, mas
MaryLou e eu... não tínhamos estômago para isso, mesmo
assim. Planejamos como iríamos conquistar o mundo quando
crescêssemos. Nós proibiríamos vestidos, chicletes e qualquer
sapato, exceto tênis. Nós queimaríamos cada par de meias. Nós
estenderíamos o recesso por duas horas e interromperíamos os
estudos sociais porque os estudos sociais eram estúpidos. E
faríamos da sobrevivência ao ar livre uma aula obrigatória. Todos
deveriam saber como enfiar um anzol e carregar o cano de uma
arma.

Quando minha melhor amiga fala novamente, a vibração de


sua voz passa por mim, junto com suas palavras. “Sempre haverá
uma parte de você que ficará triste por causa de Killian, Mavricky,
e está tudo bem. Mas esse tipo de tristeza é como um câncer em
crescimento lento. Em breve, irá consumi-la totalmente e sufocar
todo o seu bem. Não deixe Killian Shepard extinguir sua alma. Ele
não vale a pena.”

Depois de um pouco de silêncio, recomeço. “Eu sei.” E


eu farei isso. Tudo o que ela diz está certo. Continuar a amar
Killian é o equivalente a consumir um quilo inteiro de Ben & Jerry's
de uma só vez. Você conhece todas as razões pelas quais deve parar
com essa merda depois de uma colher, mas não consegue parar de
dar mordida após mordida porque é muita tentação. Então,
quando está olhando para o recipiente vazio, você se odeia ainda
mais, desejando poder voltar no tempo para fazer tudo de
novo. É exatamente assim que me sinto. Eu me odeio por ainda
amá-lo, mas por algum motivo não consigo parar.

“Uh... alguém aqui?” Uma voz chama. MaryLou e eu nos


olhamos. Ela me dá um sorriso inexpressivo e enxuga minhas
lágrimas com os polegares antes de nós duas aparecermos ao
mesmo tempo.

“Sim, o que você precisa, Carol?” Pergunto, orgulhosa de que


minha voz não falhou ou vacilou.
K.L. KREIG
Carol olha de um lado para o outro entre nós antes que fale,
“Há alguém aqui para ver você, Maverick. Devo dizer que está
ocupada?” A última coisa que tenho vontade de fazer é colar um
rosto sorridente e fingir que me importo, mas negócios são
negócios. Não posso deixar que meus problemas pessoais arrastem
para baixo tudo o que conquistei.

“Não. Eu irei lá.”

“Vou terminar aqui”, MaryLou diz quando começo a ir para


a frente.

“Obrigada.”

Enquanto empurro as portas, no entanto, congelo no meio


de um passo quando eu vejo os tons ruivos de Killian Shepard,
tamborilando seus dedos metodicamente na bancada enquanto ele
espera. Com barba para fazer de alguns dias e manchas escuras
sob os olhos, parece cansado. Mas ainda assim tão bonito. Ele é
tão lindo que me deixa sem fôlego ― e, aparentemente, sem células
cerebrais ― toda vez que vejo este homem deslumbrante.

Pedras giram na boca do meu estômago enquanto nos


observamos em silêncio. Já se passaram duas semanas desde o
pequeno jantar de boas-vindas que tivemos no Red Rooster. Não o
vi ou ouvi falar dele desde então. Tem sido uma bênção e uma
maldição.

Ciente de onde estamos, olho para trás para ver que ele está
sozinho, sem esposa por perto.

“O que você está fazendo aqui?” Eu exijo tensa, deixando a


porta de vaivém fechar atrás de mim.

É segunda-feira, no meio da manhã. A multidão fica escassa


quando o café da manhã acaba e é muito cedo para o almoço, mas
estou bem ciente de que todos os olhares do meu estabelecimento
estão sendo direcionados a mim. Incluindo o de Carol. Eu deslizo
meu olhar para ela. Quando estreito meus lábios, ela sabe que
K.L. KREIG
cometeu um erro crítico. Ela deveria ter me dito que o ‘alguém’ aqui
para me ver era meu cunhado.

Sim... cunhado. Lembre-se disso.

Cu.

nha.

do.

Ele é apenas um simples cunhado. Sim... um que você já


experimentou com sua boca toda.

Porra.

Quando ele não responde imediatamente, pergunto


novamente, “Killian, do que você precisa? Está tudo bem com
Jilly?” Faço a última pergunta soar tão sincera que poderia ganhar
um Oscar. Isso o faz ficar atento. Eu gostaria de poder parar o
sorriso de autossatisfação que está curvando meus lábios neste
exato momento, mas até a gravidade perde.

“Ela está bem.”

“É bom ouvir isso.” Sim. Katharine Hepburn, encarnou em


mim. Quase posso sentir meus dedos agarrando aquela estatueta
pesada agora. “Então, como posso ajudá-lo?”

Por um segundo, ele parece surpreso com a minha


indiferença. Ele se recupera rapidamente, no entanto. “Eu, ah... eu
queria falar com você sobre um trabalho de bufê.”

Mentiroso.

Killian colocou os pés na Cygne Noir Patisserie exatamente


três vezes. Uma vez, quando cortamos a fita no dia da estreia. No
dia seguinte, quando Kael e eu anunciamos nosso noivado. Você
pode imaginar como foi isso. E agora.

Ele está aqui por um motivo, mas, como sempre, é sobre ele.
K.L. KREIG
O vermelho começa a se infiltrar nas bordas da minha
visão. Como ele ousa ter a audácia de mostrar a cara aqui,
inventando uma desculpa esfarrapada de bufê. Mesmo que ele
tenha um assistente, ele é o maldito presidente de vendas da
DeSoto Construction. Ele não tem apenas um assistente, mas dois.

“Ok.” Eu jogo junto. “Deixe-me pegar meu bloco.” Eu tenho


um bem no bolso do meu avental, mas viro minhas costas para ele
principalmente para recuperar a compostura. Meus movimentos
são espasmódicos e irados quando abro uma gaveta e pego uma
caneta e bloco de papel. Quando me viro, não olho para ele
enquanto caminho até uma mesa no canto perto da janela da
frente. Preciso manter esse teatro o mais público possível.

“Existe algum lugar onde possamos conversar que seja talvez


mais... privado?” Ele pergunta baixinho enquanto desliza para a
cadeira em frente a mim. Olhando para a mesa próxima, onde
estão muito interessados em nós, ele lança um sorriso megawatt
antes de pousar seu olhar de volta em mim. Reviro meus olhos
quando os ouço suspirar. Traidores.

“Por quê? Não sabia que pedir croissants ou quiches era


alimento secreto?”

Sua única resposta é suspirar. Pesadamente.

Coloco minha caneta bem sobre o papel, olho para ele


esperando estar com um olhar neutro. Se são jogos que ele quer
jogar, que seja então. Decido que já estou falta dele. Eu cansei de
suas mentiras. Arrastando-me enquanto me agarro aos seus
sapatos, me destruindo e esfolando meu orgulho no processo.

Eu mereço mais. Dele. De mim. Para mim.

“Queria falar com você sobre a outra noite.”

Bem, eu não.

“Então você não tem um pedido de bufê?” Pergunto


suavemente.
K.L. KREIG
Ele se esquiva. É momentâneo, mas é tudo de que
preciso. Eu sabia que ele estava mentindo. “Eu quero, sim, mas...”
Ele deixa sua frase vagar, parece confuso com a forma como o
estou tratando.

Meus olhos se voltam para a calçada quando sinto os cabelos


do meu pescoço se arrepiarem. Ótimo pra caralho. Olhando para
mim não é outra senão Hamhock e um amigo dela. Eles estão do
lado de fora do Mitzi's Nails and Tanning, enquanto Hamhock
aponta, não tão sutilmente, em nossa direção enquanto tagarela a
mil por hora.

Eu vejo o desprezo em seus rostos daqui.

Não importa que eu não esteja fazendo nada de errado. Não


importa que ele tenha vindo até mim e não o contrário. Nem
importa que estejamos em público para que todos vejam, não
fomos pegos nos escondendo atrás das roseiras nos fundos. Os
rumores não precisam da verdade; só precisam de uma gota de
suco para alimentá-los.

Eu volto minha atenção para Killian, esquecendo-me do


nosso público judicioso. Quanto mais cedo eu acabar com isso,
melhor. “Então por que não vamos fazer isso?”

“Mavs...”

“Este não é o momento, Killian”, sussurro em uma voz


baixa. “E certamente não é o lugar.” Levantando meu tom alguns
pontos, encerro toda profissional. “Agora ... se você puder me dizer
o tipo de evento e o número de pessoas, posso lhe dar algumas
ideias sobre as opções.”

A expressão resignada rastejando em seu rosto quase me faz


sentir mal.

Quase.

MaryLou está tão certa. Não há razão boa o suficiente para


o que ele fez comigo. Eu confiei nele e ele não apenas quebrou
K.L. KREIG
isso... explodiu tudo. Por um lado é bom. Mesmo que ele deixasse
Jilly hoje, estivesse de joelhos na minha frente implorando por
perdão, não tenho certeza se poderia perdoá-lo. Ou se eu quero
mais.

Passei a maior parte da minha vida sofrendo por esse


homem. E veja onde isso me levou. Sou uma massa sólida e suja
de raiva e amargura. Não sou melhor que ele, casando-me com
alguém por quem não estava apaixonada, não importa os
motivos. Na verdade, em muitos aspectos, sou pior, porque eu
genuinamente amo Kael, e Killian sempre tolerou Jilly, mesmo
quando criança.

Pode demorar um pouco. Até anos. Mas juro aqui e agora


que vou tirar Killian Shepard da minha alma. Vai doer como um
inferno. Eu vou tropeçar. Vou cair. Machucarei minhas mãos e
joelhos no processo. Então, vou me levantar, sacudir a poeira e
tentar novamente. Eu nunca estive mais determinada a cortar esse
controle invisível que Killian tem sobre mim de uma vez por todas.

Farei isso por mim, mas principalmente, farei isso pelo meu
novo marido.

Kael merece eu inteira ― não uma mulher pela metade.


K.L. KREIG
CAPÍTULO SETE
Kael

Quinze anos atrás

Depois de dois meses, finalmente descobri o pequeno


esconderijo secreto de Maverick DeSoto. Ela tem me evitado cada
vez mais ultimamente. Desaparece por horas sem dizer uma
palavra.

Quando ela aparece, pergunto para onde foi. Ela se


esquiva. Eu fico com raiva. Ela foge. Eu grito atrás dela. Depois,
ela me perdoa e voltamos ao normal. Até que acontece tudo de
novo.

Estou farto e cansado disso.

Dela me abandonar.

Ter segredos.

Brigas. Não somos nós.

Então, hoje estou seguindo-a. Ela desenvolveu uma espécie


de padrão. Acho que ela nem está ciente disso. Mas eu
estou. Todas as terças-feiras de manhã ela simplesmente se
K.L. KREIG
levanta e desaparece. Sextas-feiras também. E às vezes, aos
sábados, só a vejo à tarde. Isso é o que realmente me deixa louco.

O Tastie's abre exatamente três meses por ano. Junho, julho


e agosto. Eles fecham aos domingos porque o proprietário não
trabalha no ‘dia sagrado’. E eles estão abertos apenas até o meio-
dia aos sábados. Nos últimos três verões, todos os sábados de
manhã, Mavs e eu caminhamos 800 metros até a cidade,
esperamos em uma longa fila do lado de fora da loja, que não é
maior que um banheiro químico e observamos a máquina velha e
intrincada fazer buracos no donut fresco diante de nossos
olhos. Quando chega a nossa vez, cada um de nós dá ao Sr. Higgins
duas moedas. Ele sorri com aquele sorriso dentuço dele, em
seguida, balança as bolas de massa frita com canela e açúcar antes
de encher nossos sacos extras.

Enchemos a cara no caminho para casa, sempre prometendo


a Killian e Jilly que guardaríamos um pouco para eles. Nós nunca
guardamos. Nós dois pensamos que se eles quiserem, podem
levantar suas bundas e andar conosco. Eles nunca andaram.

Tastie's é um point de verão em Dusty Falls. Tradição. E


Mavs está quebrando isso sem nem ao menos uma explicação. Eu
já passei os últimos dois sábados sem um donut do Tastie’s e estou
ficando irritado. Preciso descobrir o que é tão importante que ela
está abandonando nosso ritual semanal. E na verdade, meio que
machuca meus sentimentos, ela não vai compartilhar o que quer
que esteja escondendo. E compartilhamos tudo.

Portanto, esta manhã, ao amanhecer, estacionei atrás do


galpão do DeSoto e esperei. O orvalho ainda grudando nas folhas
de grama encharcou a parte de cima das minhas meias de corrida,
mas foi bom porque o calor e a umidade já haviam se instalado.

Não tenho certeza de quanto tempo esperei. Uma hora


talvez. Então eu a vi esgueirar-se para fora da porta lateral da
garagem. Seu cabelo longo e escuro estava puxado para trás em
um rabo de cavalo elegante e ela usava seus shorts jeans cortados
K.L. KREIG
de costume e uma das camisetas DeSheps que tínhamos feito. Ela
tinha uma mochila e eu me perguntei o que havia nela.

Eu a observei olhar ao redor para ter certeza de que estava


sozinha. Quando ficou satisfeita, correu pela planície aberta do seu
quintal até que as árvores que ocupam toda a extensão da
propriedade entre nossos dois lotes engoliram seu pequeno corpo.

No segundo em que seu pé atinge o chão da floresta, vou


atrás dela. Eu mantenho distância, é claro. Não quero assustá-
la. Mais como se eu não quisesse irritá-la. Não é preciso muito para
detoná-la como um foguete. É divertido assistir e faço isso várias
vezes de propósito, mas se ela me vir agora, posso nunca descobrir
o que ela está tentando esconder. De vez em quando, ela olha para
trás, mas as árvores são tão densas que é fácil se esconder atrás
de uma antes que ela me veja.

Pelo que parecem horas, nós serpenteamos nosso caminho


sobre troncos caídos e apodrecidos e cerca de duzentos carvalhos,
avançando cada vez mais fundo no bosque úmido, tranquilo e
exuberante. Já estivemos nesta floresta muitas
vezes. Explorando. Construindo fortes de madeira. Observando a
vida selvagem. Jogar Ghost in the Graveyard ou simplesmente
esconde-esconde. Apenas sendo crianças, eu acho. Eu amo isso
tanto quanto ela. Sou quase tão bom quanto Maverick. Mas só
vamos tão longe porque há uma linha invisível nessas partes que
você não cruza.

As propriedades DeSoto e Shepard fazem divisa com a do


Velho Riley, um recluso que possui mais terras do que nossas duas
famílias juntas. Ele é uma lenda aqui no sul de Iowa. Como os
deuses gregos, só que o Velho Riley está longe de ser um homem
mítico de beleza. Eu o vi uma vez na cidade quando ele saiu do
Markell Sundry. É assustador pra caralho. Ele parecia um homem
das montanhas com cabelo desgrenhado, despenteado e uma
espessa barba grisalha até o umbigo. Sua camisa de flanela estava
rasgada e a camiseta que ele usava por baixo era supostamente
branca. Suponho. Seus jeans tinham buracos e não eram do tipo
K.L. KREIG
moderno. Tenho quase certeza de que podia sentir seu fedor
nojento do outro lado da rua. Minha mãe me repreendeu, dizendo
que era apenas minha imaginação.

Mas, como acontece com qualquer folclore, as histórias se


multiplicam e crescem até serem completamente
rebuscadas. Como se ele fosse supostamente mais rico do que
aquele cara dono daquela grande empresa de informática que tem
uma maçã como logotipo. Ou que cada peça de mobília que ele
possui está cheia de dinheiro porque ele não confia no governo. Ele
supostamente atira em cães e gatos vadios por esporte e os enterra
sob uma pilha de terra onde adiciona uma nova pedra para cada
cadáver escondido embaixo. Eu acho que há milhares de pedras
naquela pilha. Nunca vi em primeira mão. Também ouvi que ele faz
colares com dentes de ratos e pratica vodu regularmente. Existem
centenas de contos ainda mais ridículos.

Mas o boato mais alucinante é que ele tem toda a sua


fronteira forrada com armadilhas enterradas sob o mato e a sujeira
para que não possam ser detectadas. Alguns dizem que são
explosivos e que explodiriam sua perna. Outros dizem que são
armadilhas caseiras com dentes tão afiados que podem partir seu
tornozelo em dois, antes que você sinta alguma coisa. Ainda outros
dizem que ele colocou feitiços vodu em toda a cerca do seu terreno.

Talvez fossem apenas boatos. Talvez não. Mas a única coisa


que todos sabiam era, que se você enfiasse uma unha do pé nas
terras do Velho Riley, ele saberia e você estaria praticamente
morto.

Em todas as vezes que estivemos em nosso pequeno


santuário, Mavs e eu nunca cruzamos essa linha imaginária. Nós
brincávamos com a ideia, mas cada um de nós acabava ficando
com medo.

Então, o fato de estarmos agora perambulando em um


território desconhecido ― na propriedade do Velho Riley ― me
assusta como nunca. Não vou mentir. Quanto mais nos
K.L. KREIG
aprofundamos na floresta, mais meu estômago borbulha e mais
preocupado eu fico. A cada passo que dou, tenho certeza de que a
agonia vai me rasgar um segundo depois. Quero me virar e fugir
mais do que tudo, mas não estou prestes a perder Maverick, então
sigo em frente.

É isso que ela está fazendo? Arriscando sua própria vida? Se


o velho Riley nos pegar, quem sabe o que diabos ele pode
fazer. Tudo o que sei é que não quero acabar do outro lado de um
cano de espingarda com metade do meu rosto estourado, em uma
cova sem marca debaixo de uma floresta densa. Nem quero que
Mavs também tenha o mesmo destino. Assim que chegarmos, darei
a Maverick DeSoto uma lição, direi tudo que está em minha mente.

Mais uma vez, ela prova que precisa de alguém para cuidar
dela. Garota descuidada e imprudente. Aposto toda a minha
coleção de cartões de beisebol e até mesmo meu premiado cartão
oficialmente assinado de Ken Griffey Jr. que os pais dela não têm
ideia de para onde ela foge. Seu pai teria um ataque de merda. Ele
é muito protetor com suas filhas, e é por isso que ele me puxou de
lado quando eu tinha oito anos e me pediu para ficar de olho em
Mavs o tempo todo. Ele sabia que ela precisava disso. Assim como
ele sabia que podia contar comigo.

Imaginando quando essa tortura vai acabar, tento respirar


fundo. Isso queima meus pulmões, que agora parecem
úmidos. Sem nenhuma brisa, é absolutamente sufocante nesta
floresta. Minha boca está seca e meu estômago está roncando. Se
eu soubesse que caminharíamos tanto tempo, teria trazido uma
garrafa de água e algo para comer. Eu me pergunto se ela tem
alguma comida naquela mochila dela.

Mais à frente, vejo as árvores cobrindo minha visão. Acelero


meu ritmo para não perde-la porque não tenho ideia do que está
do outro lado desta prisão de árvores em que agora me encontro
trancado. Demoro mais alguns minutos para alcançá-la, no
entanto. Eu pratico as palavras na minha cabeça o tempo todo,
minha fala agora aperfeiçoada. Primeiro, ela vai receber uma
K.L. KREIG
bronca; então vou jogá-la por cima do ombro, se necessário. E
vamos sair correndo daqui o mais rápido possível antes de sermos
descobertos.

Estou tão furioso com ela que estou tremendo. Minha boca
está aberta; minhas palavras raivosas prontas para sair. Mas
agora…

Agora, com minha camiseta encharcada de suor grudando


em mim como tinta e minha boca franzindo por falta de saliva,
estou na mortalha das árvores e apenas observo, as palavras
mortas na minha língua.

Eu fico boquiaberto em admiração.

Bem no centro de um campo gramado coberto de mato está


o lago azul mais espetacular que já vi. Não é tão grande. Eu poderia
atravessá-lo a nado no tempo que levo para dar algumas voltas em
nossa piscina local. Salgueiros e gramíneas altas e onduladas se
erguem nas bordas, dando-lhe um tipo de vibração tranquila e
isolada. Ao ouvir o coaxar de sapos, vejo dezenas de nenúfares no
canto mais distante. Este paraíso parece deslocado no meio do
nada, mas ainda assim... não parece.

Vejo a mochila que Mavs usava, agora aberta, jogada


descuidadamente no chão. As alças ficam penduradas na água,
causando pequenas ondulações na borda. Mas o que me fascinou
mais do que a visão impressionante deste refúgio desconhecido é a
própria Mavs.

Ela está ajoelhada em uma rocha plana e gigante que se


projeta do centro da água, a apenas 60 centímetros das margens
gramadas. Ela ri e murmura enquanto se inclina sobre a água
precariamente, jogando pedaços de pão rasgados ao acaso para
dois lindos cisnes brancos. Eles os devoram com avidez.

O sorriso que ela tem literalmente divide seu rosto em dois. É


cegante. De tirar o fôlego.

Ela é de tirar o fôlego.


K.L. KREIG
Os cisnes ― claramente um casal ― a rodeiam, esperando
por mais. Sua risada os aproxima. Não acho que seja a comida. Eu
acho que é ela. Ela é um ímã. Ela não tem ideia do poder que exala
e exerce sobre as pessoas. Sobre mim. Os cisnes parecem
confortáveis perto dela. Como se eles a
conhecessem. Verdadeiramente. Como eu conheço.

Por longos minutos, simplesmente fico olhando. Ela


canta. Fala com eles. Ela até os nomeou. Nunca a vi tão feliz ou
relaxada. Tenho quatorze anos e ela apenas onze. Sei que tenho
toda a minha vida pela frente com aventuras que não posso
compreender. Mas enquanto estou aqui com estrelas em meus
olhos e maravilha em meu coração, eu sei, sem sombra de dúvida,
que não importa quantas pessoas eu conheça ou quantas garotas
capturem minha atenção...

Eu sempre voltarei para ela. Sempre serei atraído por ela.

Meu cisne.

Agora entendi.

Mavs sempre se sentiu uma estranha. Ela não é uma garota


feminina como sua irmã ou seus pais querem que ela seja. Ela
prefere pescar e caçar do que tocar em uma boneca. Inferno, ela
arrancou a cabeça de cada uma das Barbies de Jilly quando tinha
apenas seis anos ― depois que ela cortou seus cabelos até ficar
careca. Tive problemas graves por causa disso. Ela fica mais
confortável com jeans rasgados e camisetas vintage largas do que
as caras que sua mãe compra para ela. Ela passaria cada minuto
ao ar livre, se pudesse. Acampamentos sob as estrelas em apenas
um saco de dormir ― nenhuma barraca é necessária.

Agora, aqui, pelo brilho em seus olhos, que vejo a quatro


metros de distância, ela está disposta a arriscar a ira do Velho Riley
porque, mesmo sem ela dizer isso, posso afirmar que está se
sentindo em casa. Finalmente encontrou o único lugar onde sente
que pode ser ela mesma sem julgamentos.
K.L. KREIG
Mas o que ela ainda não entende é que sempre teve esse
lugar.

Ela sempre terá.

Comigo.
K.L. KREIG
CAPÍTULO OITO
Maverick

Dez meses e sete dias atrás

“Oi, querida.”

“Oi”, digo por cima do ombro.

A porta de tela bate antes de sua voz sussurrar na minha


bochecha. “Você não está sendo comida viva aqui?” Seus lábios
pousam suavemente na minha pele. Ele deixa os lábios demorarem
como se estivesse me respirando depois de um dia longo e difícil e
sou o único bálsamo que pode dar alívio. Eu me permito me
concentrar apenas nesse sentimento e nada mais até que ele o leve
embora. Quando se vai, fico um pouco triste. Eu o quero de volta.

“Um pouco”, respondo, dando um tapa em alguém que


acabou de tirar um frasco cheio de sangue da minha coxa.

Os mosquitos estão horríveis este ano. Tivemos mais do que


o dobro da chuva que normalmente temos na primavera. Os
campos ficaram com água parada por semanas, o que não só
causou atrasos no plantio das safras, mas também foi o criadouro
perfeito para mosquitos. O condado queria eliminar alguns focos
K.L. KREIG
de alguns dos piores pontos com um inseticida organofosforado
para tentar controlá-los, mas encontrou grande oposição não
apenas por parte dos fazendeiros, mas também de um grupo de
mães que ‘não querem que seus filhos contraiam câncer em cinco
anos dos produtos químicos que acabarão em nossa água potável.’

Minha opinião é que todos vamos morrer de alguma coisa,


então apenas borrife os filhos da puta para que todos possamos
aproveitar o ar livre com o pouco tempo que resta. Mas no final,
eles não o fizeram. Já faz dez minutos que estou fora de casa e
recebi meia dúzia de mordidas.

“Eu tentei aquele novo repelente orgânico que MaryLou


estava falando.” Ela não iria calar a boca sobre isso até que eu
usasse.

“É mesmo?” Ele ri enquanto eu espanto outro demônio


sugador de sangue voador. “Como isso está funcionando para
você?”

Estico o pescoço para olhar para o meu marido e


praticamente derreto com a adoração que vejo brilhando em
mim. Isso faz meus olhos arderem um pouco. Kael agarra minha
mão, trazendo-a aos lábios sorridentes enquanto digo: “Estou
voltando para o pesticida indutor de câncer.”

Ele ri antes de beijar minha bochecha, anunciando. “Sua


mãe passou no meu escritório hoje.”

Eu gemo. Claro que ela foi. Quando não consegue o que quer
de mim, ela vai direto para Kael. Tenho evitado ela nas últimas
duas semanas. Sei o que ela quer e não tenho estômago para
pensar nisso.

Três semanas se passaram desde que Killian me visitou na


padaria. Jilly me ignora, como sempre, exceto se ela precisar de
algo. E minha mãe? Bem, ou ela não consegue sentir a tensão
entre nós quatro quando estamos juntos ou simplesmente não se
importa. Eu votaria no último. Portanto, um jantar em família para
K.L. KREIG
comemorar a pequena declaração de Jilly é a última coisa que
quero fazer.

“Deixe-me adivinhar. Estou tentando entrar em contato com


Maverick. Ela está me ignorando, como sempre. Achei que talvez
você pudesse colocar algum juízo nela. Você sempre consegue”,
zombo de minha mãe imitando sua voz soando superior.

Ele desliza para o assento ao meu lado com facilidade. Ele


ainda está vestido com as roupas que foi para o trabalho, sua calça
meio aberta, gravata pendurada com a camisa desabotoada. Ele
deve estar morrendo de calor.

“Resume bastante a nossa conversa.”

Fico quieta. Um rápido lampejo amarelo no quintal chama


minha atenção. No momento em que olho, ele se foi. Em seguida,
aparece novamente um pouco à esquerda.

Vagalumes. Eu amo vaga-lumes. Costumava pegar muitos


jarros deles quando era criança. Então eu os liberaria no dia
seguinte porque me sentia mal por viver enquanto eles morriam
lentamente.

“Você não pode ignorá-la para sempre, Mavs. Nós


precisamos ir.”

“Eu não quero.” Droga, quero acrescentar, mas não


digo. Vou soar como uma pirralha mimada se eu disser.

“É importante para sua mãe, Swan”, ele diz.

Eu vejo mais vaga-lumes acenando seus chamados de


acasalamento para os outros por um tempo antes de
responder. Vivian DeSoto alcançou seu objetivo. Eu vou. Ela tem
Kael do seu lado e não quero decepcioná-lo. As coisas têm estado
bem entre nós nas últimas semanas. Sinto que pela primeira vez
estou realmente tentando. “Quando?”

“Domingo.”
K.L. KREIG
Viro minha cabeça em sua direção, sorrindo
suavemente. Por dentro, porém, estou ansiosa. Não acho que estou
pronta para ver Killian novamente ainda. Eu preciso de mais
tempo. Esse maldito cordão é tão grosso que preciso de uma broca
de petróleo para cortá-lo. Talvez devêssemos nos mudar para o
Texas. “Ok. Se é o que você quer.”

“Acho que vai ser bom.”

“Bom?” Levanto uma sobrancelha. Jantar com minha


família é o oposto de bom. Terei que ouvir meu pai tagarelar sobre
como eu poderia usar o DSC algum dia se simplesmente voltar. Ele
vai ser mais sutil do que minha mãe, que vai dizer que posso fazer
melhor do que assar pão o dia todo. E então terei que fingir que
estou feliz por minha irmã quando eu sentirei tudo menos
felicidade.

“Bom. Tolerável. Eles querem convidar meus pais também.”

“Mesmo.” Eu afirmo, mas é mais uma pergunta. Os DeSotos


e os Shepards já foram inseparáveis. Eles trabalhavam
juntos. Tiravam férias juntos. Passávamos os fins de semana
juntos. Nossas mães eram ativas na igreja e em tantos comitês que
perdi a conta.

Então, quando Arnie Shepard se aposentou alguns anos


atrás, eles meio que se separaram. Arnie e Eilish Shepard
começaram a passar metade do ano na Flórida, em sua casa de
repouso e, quando estavam em casa, parecia que sempre tinham
outra coisa para fazer. Eu me sinto mal por meus pais. É quase
como se eles tivessem perdido seus melhores amigos de trinta
anos. “Eu não sabia que eles estavam de volta ainda.”

“Eles voltam no sábado.” Ele parece feliz.

Cada família tem seus problemas. Os Shepards não são


diferentes. Seu relacionamento com o pai tem sido tenso nos
últimos anos, embora ele não fale muito sobre isso. Mas Kael ama
K.L. KREIG
sua mãe como nenhum homem que já vi. Ele odeia quando ela se
ausenta por tanto tempo.

“Bom. Estou ansiosa para vê-los.” Sempre me senti mais


confortável com os pais de Kael do que com os meus, de qualquer
maneira. Eilish, uma ruiva irlandesa atrevida, me ama como uma
filha. Ela me aceita pelo que sou e pelo que quero fazer. Na próxima
semana, sei que vou receber um telefonema dela. Ela vai insistir
para que eu leve uma caixa inteira de éclairs e croissants. Em
seguida, ela fará seu famoso corned beef assado, um monte de
caixa de bolo de batata irlandês chique, e nós nos sentaremos no
gazebo e nos deleitaremos com carboidratos. Minha mãe não toca
em um carboidrato há doze anos.

“Você quer ligar para ela ou eu ligo?”

Eu respiro até inflar a barriga. Então inspiro, sem


pressa. “Eu vou. Vou acabar com isso antes de domingo.”

Kael ri. Quando bato em outro mosquito, ele pergunta, “Quer


que eu pegue aquele repelente e algumas cervejas?”

“Certo. Parece bom.”

Cinco minutos depois, ele retorna à nossa varanda de trás,


vestindo nada além de um short de ginástica preto largo. Duas
garrafas de Michelob Ultra estão em uma das mãos e um repelente
de insetos na outra.

Ele coloca as cervejas na mesa de madeira caiada entre


nossas duas cadeiras Adirondack, mas não as abre ainda. Em
seguida, passa a se borrifar com o repelente, passando lentamente
a névoa sobre um braço antes de trocar de mãos e fazer o
seguinte. Sento e observo enquanto ele cobre generosamente seu
torso antes de descer para uma coxa.

Ele é como Killian em muitos aspectos, mas percebo que


essas semelhanças são apenas superficiais. Ambos compartilham
o mesmo queixo quadrado e maçãs do rosto cinzeladas. A cor dos
olhos deles é apenas um tom ou dois diferente, com Kael sendo
K.L. KREIG
mais claro, mas a cor do cabelo é exata. Kael é alguns centímetros
mais alto que Killian. Ele é mais magro, porém, enquanto Killian é
um pouco mais forte.

Mas onde Killian é implacável, Kael é compassivo. Kael é


extrovertido e falador, Killian mais reservado. A seriedade dele
contrasta com a personalidade divertida de Kael. E onde Killian
aparentemente faria qualquer coisa por si mesmo, Kael faria
qualquer coisa por mim.

Eu penso no dia em que ele me seguiu até meu lago. Bem, o


lago do velho Riley, mas rapidamente, na primeira vez que vi o lago
pensei nele como meu. Nós tínhamos um entendimento, o velho
Riley e eu. Ele não era nem de longe o monstro que todos
criavam. Ele era apenas um velho solitário cuja esposa havia
morrido dez anos antes.

Então, quando um dia tropecei com ele na floresta, não


consegui respirar. Ele estava curvado sobre um animal chorando e
por uma fração de segundo pensei que todos os rumores ao redor
da cidade sobre ele eram verdade. Tive certeza de que eu estaria
morta junto com o animal que ele estava massacrando. Mas então
nossos olhos se encontraram e eu sabia que nenhum dos rumores
era digno de crédito. Ele acenou para que eu o ajudasse a libertar
uma bebê raposa vermelha que havia sido pega em uma armadilha
de caça ilegal.

Acontece que o velho Riley, ou William, como ele me pediu


para chamá-lo, era um homem peculiar, incompreendido e
adorável, que reverenciava os animais tanto quanto eu. Ele levou
aquela raposa de volta para sua casa e cuidou dela até ficar bem,
antes de deixá-la solta novamente. Então ele me mostrou seu
lago. Disse que além de sua Lilly, sua esposa morta, eu era a única
que sabia sobre isso, embora isso não fosse inteiramente verdade.

Kael pensou que estava fazendo um bom trabalho em ser


furtivo naquele dia ― o dia em que ele me seguiu. Eu já o tinha
visto atrás do galpão, esperando por mim. Pensei em tentar
K.L. KREIG
despistá-lo. Eu poderia, mas não fiz. Sabia que era apenas uma
questão de tempo antes que ele descobrisse de qualquer maneira.

Fiquei rindo o caminho todo. Parecia que uma manada de


elefantes estava batendo forte atrás de mim. Eu não acho que um
surdo poderia ter deixado de nota-lo. Quando chegamos ao lago,
sabia que ele estava atrás da segurança das folhas e arbustos, me
observando. Ele nunca saiu. Ele foi paciente até que eu estava
pronta para sair e me seguiu de volta para fora. Ele nunca
mencionou esse dia. Mas toda vez que ia para aquele local, eu o
sentia lá... seguindo... me protegendo, acho. Era como se ele
soubesse que eu não estava pronta para compartilhar. Ele estava
bem com isso, algo que apreciei muito.

Então, no verão seguinte, quebrei minha perna quando caí


em minha bicicleta. Eu não estava acamada, mas certamente não
poderia andar o caminho que levava para chegar ao meu paraíso
particular. Eu chorei e chorei, todos pensaram que era porque eu
estava com dor. Eu estava, mas a dor não era na minha perna, e
sim no meu coração. Apenas Kael sabia o verdadeiro motivo.

Charlotte havia colocado ovos. Nove deles. E eles estavam


prestes a eclodir quando tive meu acidente.

Kael não disse uma palavra. Mas dois dias depois ele voltou
com fotos. Então, sem que eu sequer pedisse, ele foi ao meu lago
todos os dias naquele verão para verificar os ovos, relatando
quando eles eclodiram. E junto com o velho Riley, eles construíram
uma cerca de proteção ao redor do ninho, tentando proteger os
filhotes quando eles estavam mais vulneráveis aos predadores. No
final, apenas dois dos nove conseguiram. Mas não tenho certeza se
qualquer um teria vivido se não fosse por Kael cuidando deles.

Ao longo dos anos, houve incontáveis atos de bondade


altruísta como este. E acho que talvez eu os tenha dado como
garantidos. Kael Shepard tem me amado como nenhum outro
homem jamais amou. Até Killian. Principalmente Killian.
K.L. KREIG
Simplesmente nunca vi, por que a aura de outra pessoa
estava me cegando.

Agora, enquanto o vejo lutar para conseguir borrifar a parte


de trás das pernas, sei que deveria oferecer ajuda, mas não
ofereço. Estou congelada em meu assento, boquiaberta com sua
masculinidade crua. Fico maravilhada enquanto ele se move com
beleza e graça, seus músculos tensos fluindo sob a pele
bronzeada. Minha boca saliva um pouco. Não acho que seja pela
cerveja.

Então faço algo que deveria ter feito há muito tempo. Desde
a primeira vez que disse sim a um verdadeiro ‘encontro’ com Kael
Shepard há apenas oito meses.

Deixo de ser amiga e me coloco no lugar de mulher.

E quando faço isso... abro aquela porta que eu havia selado


por outro homem por vinte e seis anos e o vejo através de uma lente
inteiramente nova, o que vejo me surpreende. Perco o chão, na
verdade.

Meu corpo de repente parece fraco e necessitado.

Meu núcleo está começando a esquentar, e não é porque está


quase trinta e três graus hoje.

É por causa de Kael.

É quase como se eu visse meu marido pela primeira vez como


o espécime masculino incomparável que ele realmente é.

Ele é lindo. Tão lindo que enfraquece os joelhos, para ser


totalmente honesta. Ele não é trincado como aqueles caras que
você vê nas revistas de musculação. Suas coxas são poderosas,
mas magras. Sua pele mantém o brilho saudável dos raios do
verão. Ele não tem tanquinho como os romancistas escrevem. Ele
é definido, no entanto, e facilmente vejo o contorno dos músculos
logo abaixo de sua pele tensa.
K.L. KREIG
Sua barriga contrai e seu bíceps se projeta quando ele
levanta o braço e tenta endireitar as costas. Devo ter feito barulho
porquê de repente ele está olhando para mim, e seu sorriso fica
cada vez maior quanto mais ele olha.

“O que?” Eu pergunto a ele sem fôlego.

Isso faz com que ele dê uma risada. Parece mais o estrondo
sexy de uma motocicleta girando à distância. “Eu gosto do jeito que
você está olhando para mim, Swan.”

Esse apelido. Caramba, fica mais sexy cada vez que ele diz
da maneira que significa que ele me quer nua.

“Ah é? Como é isso?” Eu inclino minha cabeça para trás e a


descanso contra minha cadeira. Levanto minhas pernas,
cruzando-as no estilo indiano. Como estou usando outro vestido
de verão, a maneira como estou sentada agora dá a Kael uma visão
clara da minha calcinha. Estou usando roupas íntimas nude e
simples do dia a dia, mas você pensaria que estou usando
calcinhas transparentes, pela forma como ele está me olhando. Eu
sinto a queimação do seu olhar me deixando mais quente, mais
úmida. Acho que ele também vê, porque ele olha vagarosamente de
volta pelo meu corpo, como se tivesse saído para um passeio de
domingo.

Seu olhar para. Cai nos meus seios. Um... dois... três
segundos. Agora eles doem também. Pulsam. Meus mamilos
parecem ultrassensíveis pressionando contra o tecido de algodão
fino. Juro que sinto cada fio individualmente. Minha língua sai
para umedecer meus lábios agora secos. Ele se concentra nisso e
engole em seco. Seu pomo de Adão balança algumas vezes.

Como nunca percebi o quão excitada isso me deixa?

Quando nossos olhos finalmente se reconectam, algo


diferente ― novo ― surge entre nós. E se eu não sentisse o calor de
seu desejo nos três metros que nos separam, certamente o veria na
K.L. KREIG
tenda enorme para seis pessoas que agora está armada em sua
bermuda.

“De que maneira estou olhando para você?” Eu insisto


novamente, deixando meus olhos caírem propositalmente no
volume duro que agora parece estar me pressionando.

O som da lata de metal encontrando o chão de madeira sob


seus pés nem me perturba. Ele avança ― não, anda ― com a graça
de um jaguar até onde estou esperando sua resposta. Desejando
desesperadamente. Abrindo bem as pernas, ele se inclina e apoia
os joelhos na minha cadeira. Em seguida, suas palmas encontram
os apoios de braço e ele se inclina até que seu nariz esteja a um
centímetro do meu. Meus olhos têm que se esforçar para mantê-lo
em foco, é o quão perto ele está.

“É a maneira que imaginei você olhando para mim durante


toda a minha vida, Maverick.”

Deus do céu. Calafrios se espalham por todo o meu corpo.

“Como... como assim?” Pergunto, me contorcendo


descontroladamente sob o seu olhar. Estou tão incrivelmente
excitada agora.

O hortelã de seu hálito me lava de desejo antes que suas


palavras roucas saiam. “Com olhos famintos.”

Santa Maria misericordiosa.

Não estou nem perto de estar com fome. Estou


faminta. Voraz. Eu poderia comer um cavalo, estou faminta por ele
agora. É uma sensação estranha, mas inebriante.

Eu não quero deixar isso acabar.

Estendo a mão e deixo minha unha arranhar sua rigidez. Só


uma vez. Lentamente. Raiz à ponta. A respiração afiada que ele
suga me faz estremecer, do couro cabeludo ao dedinho do pé. Seu
olhar semicerrado me queima com partes iguais de amor e
luxúria. Eu não fiz isso por ele ainda. Ele é muito cavalheiro para
K.L. KREIG
pedir e eu ainda tenho minha cabeça enterrada firmemente no mar
tenebroso da negação de que, de fato, acabaríamos aqui.

Silenciosamente, ele me encoraja, mas também me dá uma


saída, se é isso que eu quero. Como sempre, ele está deixando a
decisão sobre o quão longe iremos diretamente em minhas mãos.

E esta noite, quero dar a ele o que sempre me deu livremente.

Eu mesma.

Meu olhar fixa firmemente nos dele, eu agarro sua coxa, meu
polegar bem no interior de sua virilha. Quando eu o movo meio
centímetro, provocando sua excitação, seus lábios se abrem e meu
nome sai em um sussurro rouco. Sentindo-me cem por cento no
controle, acaricio sua perna enquanto desço até sentir a
viscosidade de sua pele. Ele está suando. Eu também não noto
mais os insetos se alimentando de mim. Procuro minha própria
refeição.

Percorro o caminho de volta, agora debaixo de sua cueca, até


que o prêmio que estou perseguindo esteja ao meu alcance. Então
eu vacilo.

Doce Senhor dos Senhores.

Foco.

A boca de Kael se abre e sua voz se agita quando ele diz, “Não
pare agora.” Parece um comando, mas não é. Ele está
implorando. Ele nunca implora. Eu amo isso.

“E os vizinhos?” Eu provoco. Nossa casa fica nos limites da


cidade. O lote é maior do que a maioria e os velhos muros e cercas
que se alinham de cada lado nos dão imensa privacidade. Mas se
Helena Winters, a viúva de oitenta e um anos à nossa direita,
decidir que precisa podar o canteiro de flores que está encostando
na nossa cerca ao lado, há uma tábua quebrada onde ela poderia
conseguir espiar. Não seria a primeira vez que ela tentaria
espionar.
K.L. KREIG
Uma expressão tortuosa agora aparece nos lábios do meu
marido. “Eu acho que Helena poderia aprender uma lição ou duas
em bisbilhotar, não é?”

Sorrio ao mesmo tempo que ele se engasga quando fecho


meu punho em torno de sua ereção maciça e aperto. “Eu não
poderia concordar mais.”

Ele agora está de pé. Meu rosto está quase no nível de sua
virilha. Em vez de puxar sua bermuda para baixo, movo o tecido
preto de uma perna em direção à sua cintura. Seu pênis salta
livremente. Seus dedos grossos envolvem o material solto, evitando
que interfira em nós. Eu deslizo minha mão pelo seu pau e aperto
a base.

O tempo desacelera. Só um pouco.

Sugo uma respiração curta. Por algum motivo, estou


nervosa.

O olhar dele diz tudo. Porra, faça isso. Por favor.

É tudo que preciso.

Foco minha atenção para baixo e gemo um pouco quando eu


o vejo. Ele é como crack para os sentidos
visuais. Intoxicante. Inebriante. Emocionante. Já pulsando
loucamente na minha mão. Quando passo o polegar sobre as gotas
cremosas que já se acumulam na ponta e massageio ao redor, sua
cabeça cai para trás em um gemido alto, longo e suplicante.

Então minha cabeça se inclina para frente. Cheiro de terra e


produtos químicos atacam meu nariz. Minha boca se abre e se
fecha em torno dele. Seus olhos rolam. Minha língua gira. Uma
mão encontra meu cabelo e tece dentro do meu coque aleatório. Eu
chupo e o puxo para o fundo da minha garganta. Ele pragueja sem
parar.

Faço tudo de novo, desta vez segurando suas bolas


levemente. Eu o acaricio suavemente entre meus dedos... em
K.L. KREIG
seguida, certifico-me de que meus lábios cobrem meus dentes com
segurança enquanto os arrasto de volta em seu longo
comprimento.

Eu corro a ponta da minha língua por seu pau, gemendo


quando sinto um sabor salgado que jorra dele. Eu sinto a vibração
disso todo o caminho até a mão segurando a base de seu
eixo. Aperto essa mão. Então a que está no meu couro cabeludo faz
o mesmo. Dói, mas parece incrível.

Estou tão molhada agora que vou deixar uma mancha na


cadeira. Minha mandíbula já está dolorida de sua largura
espessa. E o latejar entre minhas pernas é como um tambor
batendo no ritmo do meu coração.

Ele desliza um dedo sob meu queixo e puxa suavemente para


que meus olhos levantem. Nossos olhares se fixam. Ele quer essa
conexão. Precisa, talvez.

Ok. Por mim tudo bem.

Eu o vejo me olhando.

Gosto disso mais do que me lembro de ter gostado antes.

Vá em frente, ele pede silenciosamente.

Nada vai me parar, eu transmito calmamente.

“Você parece tão incrível com meu pau enterrado em sua


boca, Swan. Tão bom. Eu sinto que estou sonhando.” A última
parte é tão melancólica que tenho vontade de chorar. Mais do que
nunca, quero que ele se sinta bem. Sinta-se amado.

Movo minha cabeça mais rápido. Eu chupo até minhas


bochechas ficarem vazias. Até eu senti-lo inchar. Até eu saber que
ele está perto. Ele assume, então. Aumenta o ritmo e eu deixo. Ele
fode minha boca como se fosse meu dono. Nesse momento, ele
é. Eu sou toda dele.

“Oh, porra, sim. Gosta disso.”


K.L. KREIG
Ele está lá, pulsando dentro da minha boca. Ele tenta se
afastar. Não vou deixar. Coloco minha mão livre em seu traseiro,
agarro e o seguro para mim. Ele lê minhas intenções, dizendo que
está tudo bem em deixar ir.

Com mais um impulso descontrolado até que eu quase


engasgo, ele geme.

Em um estrondo baixo, ele goza. Esvazia-se na minha


língua, na minha garganta. Eu engulo. E engulo novamente. Até
que cada gota dele tenha sido consumida e seu gemido suave pare.

Depois do seu último estremecimento, eu o liberto da minha


boca com um leve estalo, desejando que já não tivesse
acabado. Sua bermuda cai totalmente para baixo, mas ainda está
ereto.

Mexo minha mandíbula um pouco para aliviar a leve


dor. Desejando estender a mão e aliviar a dor que espreita bem no
meu centro também, mas não faço. Isso é tudo sobre Kael, que
agora está curvado sobre mim. Ofegante, encostando a testa no
antebraço, que está apoiado no revestimento novo que instalamos
duas semanas antes do casamento. Eu coloco minha cabeça para
trás e olho para ele, um pequeno sorriso no meu rosto. Um que ele
imediatamente espelha.

Ele se abaixa para acariciar minha bochecha. É


carinhoso. Idolatria pura. O fato de sua mão tremer levemente faz
meu sorriso ficar ainda maior. Meu coração está amoroso e leve.

“Acho que ouvi um barulho nos arbustos ali”, digo a ele. Não
tenho certeza se ouvi ou não, mas me sinto positivamente tonta
agora. Sinto vontade de rodopiar para fora com os braços abertos
e a cabeça jogada para trás durante uma tempestade. Eu
simplesmente adoro meu marido com todas as minhas forças, mas
mais do que isso... não pensei em Killian nenhuma vez. Pela
primeira vez nos últimos seis meses que estive íntima de Kael,
nenhum pensamento se desviou para ele. É bom ver uma pontada
de luz através da mortalha de escuridão em que estou mergulhada.
K.L. KREIG
Para finalmente respirar algo que não parece completamente
contaminado por ele.

“Você ouviu, hein?” Sua risada ainda é ofegante. Isso faz


meu sangue zumbir. Eu me sinto poderosa.

“Acho que demos a ela um show.”

Ele olha para a cerca, em seguida, de volta para mim. Esse


sorriso me mata. “Acho que é um show que eu gostaria de
experimentar novamente.”

“Ah é?”

“Sim”, ele me diz baixinho, ficando um pouco sóbrio.

“Então vamos”, prometo, meu humor combinando com o


dele.

Dando um passo para trás, ele estende a mão com a palma


para cima. “Venha.”

“Onde?” Eu pergunto, colocando a mão nele.

Ele facilmente me puxa para seus braços. “Chuveiro. Então,


uma boa dose de loção de calamina para os vergões que você tem
por toda parte.”

“Oh.” Por que isso me deixa um pouco desapontada?

“E depois”, ele sussurra contra meus lábios inchados, “vou


passar a noite inteira fazendo amor com minha esposa
incrivelmente sexy.”

Meu sorriso volta. “Você não está com fome?” Kael ainda
trabalha para meu pai. Alguns anos atrás, ele foi promovido a co-
advogado. Ele passa muitas horas que são cansativas às vezes. Já
são quase vinte horas e trinta minutos e ele está em casa há cerca
de meia hora. Duvido que ele tenha comido.

“Absolutamente faminto, Swan.” Ele balança as


sobrancelhas para cima e para baixo, me fazendo rir. Ele me pega
K.L. KREIG
em seus braços e grito por dentro, sabendo que este é um novo
começo para nós.
K.L. KREIG
CAPÍTULO NOVE
Maverick

Dias Atuais

“Aqui.” Eu ignoro a xícara de café que está sendo estendida para


mim. “Maverick, você precisa colocar algo no estômago”, implora
Arnie Shepard. Ele está tão aborrecido quanto o resto de nós, mas
me pergunto se ele tem o direito de estar. Acho que não.

“Eu não posso lidar com nada no meu estômago agora.”

“Ele vai ficar bem.”

Seu tom confiante me irrita. Me enfurece. Estou cansada de


ouvir a mesma merda. Parece simplório e banal. A verdade é... não
sabemos o que está acontecendo por trás dessas portas fechadas
que nos separam dele. Não conhecemos a habilidade dos médicos
que trabalham para salvar sua vida. Não sabemos de nada. E
quanto mais esperamos, mais coisas ruins temos que imaginar em
nossas cabeças.

A minha imaginação não pode piorar.

“É o que todo mundo diz.” Mantenho meu olhar firmemente


no tapete embaixo de mim. Eu me pergunto quantos oceanos as
lágrimas presas nele encheriam se pudesse separá-las das fibras
de dor que agora estão enroladas.
K.L. KREIG
Muito, aposto.

O mundo inteiro provavelmente seria inundado.

Meu olhar passa de Arnie para a face zombeteira do relógio


na parede.

7:03hs.

Eu vejo os segundos passarem, deixando esperança


esmagada em seu rastro e incerteza em seu futuro.

Oito horas.

Já se passaram oito longas e torturantes horas.

Quatrocentos e oitenta minutos insuportáveis.

Tivemos uma atualização. Uma hora atrás.

Ele ainda está em cirurgia. Assim que soubermos de mais


alguma coisa, avisarei você. A enfermeira robusta nos deu uma
notícia que não era novidade em um tom que tentava ser solidária,
mas beirava a preparação. Ela parecia ter visto seu quinhão de
famílias enlutadas e estava entorpecida de dor.

Perguntei a ela se a cirurgia normalmente demoraria


tanto. Eu sinto muito. Eu não sei mais nada.

Vadia mentirosa.

Ela sabe de alguma coisa. Ela simplesmente não vai


dizer. Atrasar a dor não a torna melhor. Apenas a mantém
equilibrada no fio de uma faca, a ponta afiada cavando mais fundo
a cada nova respiração que você respira. De qualquer forma, o
resultado final é o mesmo. Você está dividido em dois. Um é apenas
um processo mais lento que o outro.

“Você tem que manter a fé, querida”, diz Arnie com voz
resignada. Não tenho certeza se ele está tentando convencer a si
mesmo ou a mim. Eu o ouço suspirar acima de mim. Vejo seu
K.L. KREIG
corpo sair para fora da minha linha de visão, me deixando sozinha
mais uma vez.

Bom.

É o que eu quero.

Não quero conforto.

Eu não mereço isso mais do que qualquer outra pessoa


aqui. Todos nós temos nossas cruzes para carregar, nossa
participação nos eventos que se desenrolaram. Cada um de nós
desempenhou um papel, alguns maiores do que outros.

Por que eu alguma vez considerei desistir de nós, é uma


culpa tão sufocante que não posso suportar o peso enorme disso. É
absolutamente esmagador. Eu fico olhando para o corredor onde a
enfermeira desapareceu e me pergunto: ele está vivo? Ele está
lutando? Talvez ele já esteja morto e eles estão nos deixando nessa
porra de sofrimento um pouco mais enquanto tentam descobrir a
série de palavras que acham que vai confortar, mas não vai. Não
pode. Nunca irá. Por que tentar?

Levanto e não olho para ninguém enquanto saio do lugar que


parece um caixão cuja tampa está fechando lentamente. Deixo
todos para trás, ignorando meu nome sendo chamado
repetidamente. Eu preciso de ar. Preciso de algo. Qualquer coisa,
menos sofrimento desesperado.

Eu paro na máquina de café. Examino minhas


escolhas. Fico parada por tanto tempo que alguém bate no meu
ombro.

“Com licença senhorita. Posso pegar algo para você?” Uma


gentil voz feminina pergunta.

Um milagre? “Não sei”, respondo suavemente, sem olhar


para ela.

“Aqui”, ela diz, colocando algumas moedas na fenda. Ela


aperta alguns botões e abre o dispensador alguns segundos
K.L. KREIG
depois. Me dá um copo de papel. Está quente. Olho para baixo, o
líquido é escuro e tem cheiro de açúcar. Isso me lembra dele. Eu
me afasto, nem mesmo tenho certeza de ter agradecido. Espero que
sim. Eu tomo um gole. É amargo e parece cinza na minha
língua. Isso congela no meu estômago. Vai parar na próxima lata
de lixo que eu passar.

Ando sem rumo pelos corredores esterilizados. Por quanto


tempo, não tenho certeza. Mas quanto mais me enterro no interior
do hospital, mais imaginações indesejáveis eu coleciono. O
antisséptico adere aos pelos dentro do meu nariz. Gemidos de
agonia chafurdam em meus ouvidos. A realidade esmaga meus
pés. Fica ensopada em meus sapatos, manchando minhas meias
de preto. A energia em todo este lugar é triste e mortalmente
silenciosa, embora haja uma atividade frenética em todos os
lugares.

De alguma forma, acabo na capela. Eu nem tenho certeza de


onde estou. Em que andar estou. Como cheguei
aqui. Estranhamente, está vazia. Estou feliz. Afundo em um banco
duro na sala mal iluminada onde inúmeras outras pessoas antes
de mim oraram, imploraram, tentaram trocar suas vidas pela de
outra pessoa.

Não faço nenhuma dessas coisas. Já rezei para esvaziar a


mente. Eu implorei até minha alma secar. E Deus já sabe que
trocaria qualquer coisa pela vida dele, incluindo a minha.

Então, em vez disso, observo as velas tremeluzirem e


relembrar velhas histórias.

Em minha mente, volto no tempo e me lembro de quando já


fui feliz. Tudo começou com ele. E vai acabar com ele se ele se
for. Eu sorrio enquanto deixo as lágrimas rolarem mais uma vez
quando imagino seus amorosos olhos castanhos.
K.L. KREIG
K.L. KREIG
CAPÍTULO DEZ
Maverick

Dez meses atrás

O som do baixo do ‘Back in Black’ de AC/DC ressoa, a batida


estabelecendo um novo ritmo para o meu coração. Deixo vibrar
através de mim. Aproveito para me perder nisso. Esta noite, no
Peppy's, é noite de karaokê. Era para ser um evento mensal nas
noites de sexta-feira, mas de alguma forma se tornou mais um
evento a cada duas semanas. Acho que de alguma forma Kael
popularizou isso alguns meses atrás.

“Cerveja ou um coquetel Captain esta noite?” A pergunta de


Kael sussurrada em meu ouvido me faz estremecer de luxúria. Eu
sinto seu sorriso conhecedor contra minha bochecha. Uma mão
sobe pelo meu lado. Ele descansa o polegar embaixo do meu
peito. Agora, estou praticamente tremendo. Ele começa a rir,
silencioso e sexy.

Viramos a esquina na semana passada. É verdade que não


tivemos muito sexo, mas tivemos o melhor sexo que já tivemos
depois que eu o chupei na varanda de trás. Foi duro e sujo no
chuveiro, antes de se tornar doce e sensual no quarto. Ele cumpriu
sua promessa de fazer amor a noite toda. Quatro horas chegou
bem cedo na manhã seguinte. E acontece que Helena pode muito
K.L. KREIG
bem ter visto nosso pequeno show porque ela não me olhou nos
olhos desde então. Ela se movia mais rápido do que qualquer
pessoa de 81 anos com problemas no quadril deveria se mover
quando nos encontramos na caixa de correio. Ela estava
claramente tentando se esquivar de mim.

“Cerveja”, digo a ele com um sorriso. Quero manter minha


cabeça limpa esta noite, esperando uma repetição. Algumas
pessoas juram que beber melhora seu desempenho, mas acho que
embaralha demais os sentidos. Eu quero sentir cada golpe lento
em mim. Sentir o prazer glorioso até o topo e deixá-lo cair sobre
mim, deleitando com a onda de euforia muito rápida que é tão
difícil de alcançar e ainda mais curta quando muito álcool flui por
você. Quero realmente desfrutar em fazer amor com meu marido,
não apenas passar por isso como tenho feito desde que nos
casamos.

“Cerveja, então, Swan.” O canto de sua boca levanta com a


nossa piada interna enquanto ele se afasta.

“Vocês e seus provérbios estranhos.”

Eu apenas dou de ombros, os olhos colados nas costas de


Kael.

Quando eu tinha seis anos, ele roubou uma bebida pesada


da geladeira da garagem do pai e me enganou para que eu
bebesse. Ele me disse que era ‘cerveja’ e veja... Eu amo
cerveja. Meus pais não compravam porque diziam que ia
‘apodrecer seus dentes.’ Eu geralmente não era ingênua, mesmo
aos seis anos, mas ele sabia que eu seria uma otária para essa
pegadinha. Mas a piada era com ele. Ele ficou com o rosto cheio de
espuma e o resto da ‘cerveja’ acabou encharcando o solo da
floresta.

“Você parece feliz, Mavs. O mesmo acontece com Kael. E


quero dizer felicidade de recém-casado, de estou-tendo-a-porra-
dos-melhores-dias-da-minha-vida.”
K.L. KREIG
Afasto o olhar da bela bunda do meu marido, que está
perfeitamente moldada em seus jeans escuro, devo acrescentar,
quando MaryLou desliza um dedo sob minha boca e a fecha. Ela
sorri. Eu também. Sinto que alcança meus olhos e mergulha em
minha alma.

“Eu estou.” Viro para MaryLou, colocando meu pé direito sob


a coxa da minha perna esquerda, e aproveito os poucos minutos
que teremos a sós à noite toda para despejar minha alma. Eu fico
de olho em Kael e Larry apenas no caso. “Alguns dias são mais
difíceis que outros.”

A boca de MaryLou se curva em um sorriso triste. “Como


segunda-feira?”

“Sim, como segunda-feira.” Na segunda-feira passada foi o


trigésimo primeiro aniversário de Killian. Eu não liguei. Não
mandei mensagem. Nem mesmo enviei uma postagem impessoal
no Facebook. Eu fingi que era um dia normal em Dusty Falls. Eu
me dei um tapinha nas costas, mas me preocupei com essa decisão
a noite toda, me perguntando se eu tinha ferido seus
sentimentos. Ele pensaria que eu estava agindo infantilmente? Eu
me importo se ele achar isso? Odiei que a resposta foi sim.

“Haverá dias como esses, eu acho.”

“Eu suponho. Mas posso dizer honestamente que sinto que


finalmente estou dando passos de bebê para frente, em vez de ficar
parada. Então é isso, pelo menos. Isso é bom.”

“Um centímetro é um centímetro, Maverick. Contanto que


seja para frente, é um movimento na direção certa.”

“Eu sinto que esta concha vitalícia que Killian tem ao meu
redor está finalmente se quebrando. E quanto mais rachaduras eu
recebo, mais espaço para Kael eu pareço ter. Ele está se infiltrando,
pouco a pouco.” Da maneira que um marido já deveria ter feito, não
acrescento.
K.L. KREIG
Eu olho para pegar Kael me observando. Ele é
intenso. Quase como se soubesse do que estamos falando. Eu
quero estender a mão e esfregar a dor em meu peito. Não me movo,
entretanto. Deixo meus lábios se erguerem de forma
tranquilizadora. Kael faz o mesmo.

“Estou feliz”, MaryLou diz.

“Eu também”, murmuro para ela, querendo dizer isso com


cada fibra de mim.

Nossa conversa muda para o menu da padaria enquanto os


caras voltam com uma bebida em cada mão. Eles as colocam na
mesa e noto que o copo de MaryLou parece calmo. E não
borbulhante como estaria se fosse cerveja. Então noto que ela
achou algo extremamente fascinante na mesa.

“Ei”, eu cutuco enquanto Kael desliza para o meu lado e joga


um braço em volta do meu ombro. Eu me inclino para o beijo
possessivo que ele planta na minha bochecha. “Ei”, digo
novamente, um pouco mais alto desta vez. MaryLou não levanta os
olhos, então eu a chuto por baixo da mesa.

“Ai.” Ela se abaixa para esfregar sua canela. Olhos zangados


encontram os meus. Bom. Pelo menos eu tenho a atenção dela.

“O que é isso?” Eu aponto para o copo dela.

“O que é o quê?”

Eu alcanço, mas ela é mais rápida. Ela agarra o copo e puxa


o braço para trás, derramando o líquido no processo. Ela acha que
agora tem a vantagem sobre mim. Eu vejo em seu sorriso
maroto. Ela deveria me conhecer melhor.

Mergulho meu dedo no líquido agora na mesa e coloco na


minha boca. É nojento. Eu sei. Não tenho certeza de como essas
mesas são limpas e há algumas coisas desagradáveis que podem
acontecer neste canto mais isolado do bar. Mas ei... já tive coisas
piores na minha boca.
K.L. KREIG
“Você é doente”, ela pragueja. “Você tem alguma ideia de
quais germes de bunda você pode ter acabado de enfiar na
boca? Ouvi dizer que Andrew Bolger estava transando com Holly
Brummer exatamente nesta mesa no fim de semana passado. Ela
ficou aqui em cima e tudo.”

Kael e Larry riem. Eu ignoro sua diversão. Se isso fosse


verdade, ela teria escolhido outro lugar. Ainda assim, pretendo
usar o enxaguante bucal de cortesia no banheiro em um minuto.

“E você está bebendo água. Por quê?”

Não é que eu me importe que ela esteja bebendo água. Não


estou prestes a ficar completamente bêbada esta noite, mesmo que
uma ressaca de dois dias fosse uma boa desculpa para sair da
reunião familiar de domingo. Portanto, não preciso de companhia
para beber. Mas MaryLou pode beber mais do que qualquer
homem aqui. E a garota é viciada em gin Seagrams, então o fato
dela estar bebendo água é altamente suspeito.

“Você está grávida?” Eu pergunto. Estou pasma. Essa é a


única razão pela qual ela estaria bebendo água. Por que ela não me
disse que está grávida? Percebo Larry desviar o olhar. Isso me
apunhala.

“Não”, ela responde rápido. “Mas estamos tentando de


novo.” Alcançando o outro lado da mesa, ela une nossos dedos. Eu
a deixo, mesmo que eu queira me afastar apenas para machucá-la
do jeito que estou sofrendo agora. Que minha melhor amiga
escondeu algo tão grande de mim, dói mais do que posso articular.

Uau.

Primeiro Jilly. Agora, MaryLou.

Eu me sinto como se tivesse sido abandonada durante toda


a minha vida. Com homens. Com amor. Agora com bebês. A
felicidade de todos se aglomera ao meu redor até que me sinto
sufocada.
K.L. KREIG
Kael aperta meu ombro. Ele sabe que estou chateada. “Ei,
Larry, que tal uma rodada de dardos?” Larry, o idiota sem noção,
diz não. Kael desliza para fora, pega a bebida de Larry e sai
correndo. Ele sabe que Larry o seguirá como um cão de caça
quando houver álcool envolvido.

Quando eles se vão, pergunto: “Por que você não me


contou?” Eu não posso evitar a mágoa de cobrir minhas
palavras. Eu tento. Realmente tento.

Ela apenas me encara até que meu cérebro denso funcione.

Ah.

Entendi.

“Você poderia ter me contado”, digo a ela com


firmeza. “Compartilhamos tudo.” E quero dizer tudo. Desde
aprender a usar absorventes internos juntas, a praticar o beijo
francês uma na outra quando tínhamos dez anos, até a paixão pelo
mesmo menino. Não há uma mulher em todo o condado que não
tenha uma queda por Killian Shepard.

“Eu sinto muito. Eu deveria ter contado. Você tem passado


por muita coisa. Eu não queria adicionar mais isso.”

“Você poderia ter adicionado isso. Você deveria,


MaryLou. Somos melhores amigas. Não quero que sinta que não
posso ficar feliz por você só porque estou passando por minha
própria merda. Eu estou. Feliz por você, quero dizer.”

“Eu sei.” Ela está arrependida. “Mas a maior parte de mim


está apenas com medo. É como se eu começasse a contar às
pessoas, isso se tornará uma pressão real e...”

Ela não precisa dizer mais nada. MaryLou estava grávida


quando se casou. Aos cinco meses, ela perdeu o bebê. Ambos
ficaram arrasados. Fiquei arrasada por eles. Mas eles tentaram
novamente. Duas vezes mais. Sem sucesso, eles desistiram. Meu
coração sangra continuamente por ela.
K.L. KREIG
“Ei”, digo. Eu vejo seus olhos azuis claros através de seus
cílios. “Eu acho que você fará um bom uso desse balanço sexual
então.” Quando ela ri, uma pequena lágrima rola por sua
bochecha. “E então, quando você terminar, ele pode apenas colocá-
la de cabeça para baixo e deixar fermentar um pouco.”

Ela me dá um tapa falso. “Você é terrível.”

“Sim. Mas posso dizer pelo brilho em seus olhos que você
acha que é uma boa ideia.”

Ela lutou contra um sorriso por cinco segundos antes de


sussurrar conspiratoriamente “Eu nunca pensei sobre isso.”

“Bem, veja... é para isso que servem as melhores amigas.”

“Obrigada, Mavricky.” Seu alívio é palpável. O peso dos


segredos é um peso que MaryLou não consegue suportar. Eu
gostaria de ser assim.

“Sem problemas, querida.”

Nossa atenção se volta brevemente para nossos


homens. Kael parece presunçoso e arrogante. Larry um pouco
mais irritado. Acho que sabemos quem está ganhando.

“Ei, o karaokê vai começar em alguns minutos. Vamos ao


banheiro antes de perdermos Paulie cantando ‘Walk Like an
Egyptian.’”

Paulie, nosso farmacêutico da cidade de 45 anos, não apenas


canta uma boa interpretação da música mais famosa dos Bangles,
mas também coreografa uma pequena dança. Ele até traz seu
próprio pandeiro e revira os olhos melhor do que Susanna Hoffs. E
como ele ainda não perdeu a moda dos anos 80, ele é muito
divertido de assistir. Ele geralmente consegue o primeiro lugar
para começar a noite de karaokê com um estrondo, trocadilho
intencional.

“Boa ideia”, digo.


K.L. KREIG
Eu a sigo até o banheiro feminino. Conversamos através das
paredes da baia, como sempre fazemos. Depois de lavarmos nossas
mãos e eu enxaguar suficientemente minha boca com a versão
genérica do enxaguante bucal Scope, vejo MaryLou ajeitar o cabelo,
jurando ser uma amiga melhor. Eu quero estar lá para ela como
ela está para mim. Posso entender por que ela não me contou. Eu
tenho estado muito egocêntrica ultimamente.

“Estamos bem?” Ela pergunta, olhando para mim atrás dela.

“Claro. Por que não estaríamos?”

Ela se lança em meus braços e me abraça com a força de


uma jiboia. Ela respira fundo e sei que ela vai se desculpar
novamente. Eu a corto. “Não faça isso. Está tudo bem. Não estou
brava.”

Ela sai do abraço. Planta um beijo pegajoso nos meus


lábios. “Eu gosto muito de você, sabe disso, certo?”

“Digo o mesmo.”

Quando saímos do banheiro, estou olhando para trás. Fico


histérica enquanto MaryLou pula em um pé, tentando puxar um
longo fio de papel higiênico que está preso no sapato. Estou tão
focada nela que quase sou jogada para trás quando bato em uma
parede sólida e maciça. Mãos quentes agarram minha cintura para
evitar que minha bunda encoste no chão pegajoso.

“Eu estou...” começo. Mas quando estico meu pescoço para


frente e para cima, meu pedido de desculpas cai em um penhasco
de confusão. Acho que não é uma parede que eu encontrei.

É Killian.

O cheiro de Burberry Brit se mistura com roupa de couro


através de mim dois segundos tardes demais. Isso torna meus
joelhos fracos. Isso faz meu coração disparar. Isso me faz querer
coisas que sei que não deveria.

Porra.
K.L. KREIG
Maldito seja. Eu estava indo tão bem.

Na maioria das vezes.

“O que você está fazendo aqui?” Eu exijo. Estou com raiva


que ele está aqui. Furiosa, na verdade.

Uma das razões não ditas pelas quais Kael e eu viemos aqui
juntos, é que Jillian se recusa a se rebaixar a vir ao Peppy. E
porque Jillian se recusa a vir, Killian também não pode. Se ele
estivesse comigo, eu nunca o controlaria assim. Ele sabe disso.

“É um lugar público, Pequena.”

E por que ele não parece nem um pouco surpreso em me


ver? O idiota sabia que estávamos aqui. “Não me chame assim”,
digo rispidamente.

Percebo que MaryLou está observando silenciosamente atrás


de mim, a porta do banheiro agora bloqueada por nós três. Então
ela entra em ação mais rápido do que o brilho de um vaga-lume.

“Vamos, Maverick.” Passando por mim, ela passa o braço


pelo meu. Ela me pega no meio do corredor quando Killian agarra
a minha mão balançando atrás de mim. Seu aperto é
firme. Inflexível. Queima da maneira mais odiosamente
deliciosa. Tenho flashes de memória dessa palma se curvando
perfeitamente em volta da minha bunda enquanto ele entrava em
mim por baixo. Pelo olhar faminto desenhado em seu rosto, ele está
se lembrando da mesma coisa.

Merda. Eu preciso dar o fora e fugir. Rapidamente.

Exceto que Killian não tem intenção de me deixar ir.

Ele me puxa para um lado, MaryLou para o outro. Os dois


estão puxando com tanta força que me sinto como o Gumby5.

5
Gumby é uma franquia americana de animação de um boneco de argila verde.
K.L. KREIG
“Killian, por favor”, eu imploro. Simplesmente não podemos
ser apanhados sozinhos no corredor escuro. Especialmente por
Kael. Eu não posso acreditar que ele não viu Killian entrando.

“Dois minutos. É tudo que peço. Por favor, Maverick.”

Meu olhar cai em cascata entre MaryLou e Killian. A


aparência em ambos os rostos é a mesma, mas tão diferente. Ele
está me implorando para pecar. Ela está me implorando para
escolher a salvação. “Dois minutos”, digo a ele. “Começando
agora.”

Eu sou uma pecadora, então. Coloque na minha conta.

MaryLou suspira audivelmente, mas solta minha mão. Eu


posso dizer no segundo que ela se foi, porque a energia restante
neste pequeno espaço fechado fica carregada em mil
quilowatts. Minhas axilas começam a suar.

“Um minuto e cinquenta segundos” eu anuncio, cruzando os


braços, na esperança de impedir Killian de ver como ele está me
afetando. Maldito seja o inferno. Cinco segundos em sua presença
e todo o progresso que fiz está evaporando como orvalho. Como
uma pessoa pode ter tanto poder, tanto controle sobre mim?

“Devo ter perdido sua ligação na segunda-feira.” Ele diz isso


com uma curvinha em sua boca, sua indiferença serve para
esconder a dor. Está claro como o dia em seus olhos escuros. E
assim, sinto-me arrependida e pequena. Eu odeio que ele possa me
fazer sentir assim com uma simples declaração ou olhar. Eu odeio
que ele ainda tenha esse efeito sobre mim. Eu odeio que Killian me
faça de marionete, segurando cordas em partes de mim que não
consigo descobrir como cortar... não importa o quanto eu tente.

“Meu telefone quebrou.” Sua curvinha vacila. Meu


arrependimento se aprofunda. “Isso é tudo que você queria? Um
pequeno impulso para o ego?” Minha pergunta está cheia de
veneno. É pungente em minhas papilas gustativas.
K.L. KREIG
Ele a ignora. E com a próxima punhalada intencional de
suas palavras, me faz sentir ainda pior do que já me sinto. Como
se isso fosse possível. “Eu estava ansioso pelo meu chocolate. Acho
que este é o primeiro ano que fico sem uma de suas famosas
criações.”

Minha cabeça pesada cai. Eu respiro profundamente. Corro


minha língua sobre meus dentes enquanto examino o chão escuro
e pontilhado.

Mesmo quando estávamos longe um do outro, eu fazia algo


para o aniversário de Killian todos os anos. Eu nunca falhei. Tudo
começou como uma torta de lama quando eu tinha quatro anos. E
por lama, não quero dizer pudim de chocolate chique com biscoitos
esfarelados por cima.

Lembro-me da luz em seus olhos e sua risada gutural


enquanto ele fingia comê-lo. Em pouco tempo, a torta acabou e ele
me convenceu de que engoliu cada mordida, mas conseguiu
derrubar tudo no chão atrás dele. Ele pode ter apenas agradado
uma criança de quatro anos, mas fiz a mesma coisa no ano
seguinte. E então, a cada ano depois, até aprender a assar. Então
fiz disso uma verdadeira tradição. Eles sempre foram de
chocolate. Seu favorito.

No ano passado, passei horas aperfeiçoando um bolo de


chocolate derretido polvilhado com uma mistura de açúcar em pó,
canela e raspas de noz-moscada fresca. Eu mesmo entreguei em
seu escritório. Eu sabia que estava errada. Ele se casou. Não
estava mais disponível. Não era mais meu. Eu deveria ter
interrompido uma tradição que se tornou apenas nossa, porque
não éramos mais apenas nós. Não havia mais ‘nós’, ponto final.

É por isso que eu sabia que não poderia fazer isso de novo
este ano.

Cortar o cordão é uma merda.


K.L. KREIG
“Mavs, por favor. Eu...” Sua cabeça cai na parede com um
baque surdo. Seu olhar flutua para o teto, em seguida, de volta
para mim. Ele parece tão triste e perdido quanto eu me sinto na
maioria dos dias. “Eu sinto sua falta. Muito.”

Eu me sinto tão confusa. Repassei cada momento, me


perguntando onde erramos. O que eu fiz? O que não fiz? Por que
não fui o suficiente? Eu dei tudo a ele e ele me deixou.

Seja forte, Mavs. Seja corajosa. Seja tudo menos massa em


suas mãos tão hábeis. Eu penso em Kael. Se ele está se
perguntando onde estou. Se ele sabe que estou de volta aqui ―
sozinha ― com seu irmão.

“Você tem menos de um minuto agora.” Tenho que dar o fora


daqui antes de nos deixar fazer algo que não deveríamos. Meus
lábios não tocam os de Killian há mais de dois anos e meio. Desde
que ele anunciou seu noivado. Estou fisicamente dolorida por ele
agora. Mais do que nunca.

Ele se endireita e dá um passo em minha direção. Eu dou


um para trás, balançando minha cabeça. Inspirando
profundamente, ele pergunta. “Podemos encontrar algum tempo
para ficarmos juntos? Apenas nós dois? Eu gostaria de conversar.”

Desde que ele se casou com Jillian, tento limitar meu tempo
a sós com ele. Principalmente sozinhos. Nenhum de nós parece ser
capaz de impedir que nossos desejos ou pensamentos se
dispersem. Acho que ambos sabemos que se ficarmos confinados
em algum espaço a sós por qualquer período, nos tornaremos
adúlteros acima de tudo. E essa é uma linha que não vou
ultrapassar.

“Não acho que seja uma boa ideia.”

“Por quê?” Ele se aproxima de mim. Eu fico parada desta


vez. Eu me detesto agora.

“Você sabe por quê, Killian.”


K.L. KREIG
“Você ainda me ama”, ele sussurra. É rouco, quente e
convidativo. E tão verdadeiro. “Eu vejo isso toda vez que você olha
em minha alma. Ninguém nunca olhou para mim do jeito que você
olha, Maverick.”

Seus olhos oscilam entre os meus e meus lábios, que agora


acabei de molhar. Sinto uma mão roçar meu quadril e sei que não
é um transeunte. Este corredor parece estar deserto na pior hora
possível.

Então ele se abaixa e passa a boca pelo meu queixo. Um


flash. Apenas um toque... o salto de uma pedra em cima da
água. Quando o ouço inspirar e gemer, quase viro minha cabeça e
coloco minha boca na dele, terminando a tortura que ambos temos
vivido. Movo minha cabeça para trás, acabo de deixar claro minha
recusa.

Eu engulo. Difícil. Dói forçar a saliva a passar pela bola


confusa e retorcida de emoção no meio da minha garganta.

Senhor, se você está ouvindo... por favor, me dê força. Preciso


da tua ajuda.

“Eu pertenço a Kael agora”, consigo empurrar em uma onda


de ar quase inexistente.

Ele se inclina para trás. Muito longe, mas não o


suficiente. Eu ainda não me movo quando o calor de sua raiva
goteja sobre minha testa e pelo meu rosto. “Você pertence a
mim. Sempre me pertenceu.”

Então por que você se casou com outra pessoa? Eu quero


gritar. Por que você me tratou como se eu nem tivesse
importância? Por que você quebrou cada promessa que já fez? Por
que você simplesmente não me diz por que diabos você fez isso?

Como se pode amar tanto alguém e odiá-lo com igual paixão


ao mesmo tempo? Ele é um bastardo tão insensível, presunçoso e
hipócrita. Ele não pode me ter, mas ninguém mais pode? Bem,
foda-se. Foda-se ele.
K.L. KREIG
“Isso diz o contrário”, eu respondo, empurrando o dedo entre
nós que mantém meu voto de monogamia e o para sempre ao seu
irmão. Pego sua mão e aponto para a aliança circulando seu quarto
dedo. “E isso também.”

“Isso não mente”, ele retruca com veemência, achatando a


outra palma entre meus seios. Bem em cima do meu coração, que
bate erraticamente sob o calor de sua mão.

Que tipo de jogo mental distorcido ele está jogando? Há


anos? Estou cansada disso. Estou farta dele. É como se para ele
fosse um esporte me manter ligada a ele. Quanto tempo posso
pendurá-la antes dela quebrar? Mal sabe ele que suas ações
egoístas estão ajudando a retirar ele do meu coração. Espero que
a porta machuque sua bunda ao sair.

Coloco meu braço debaixo de nós em um movimento rápido


e o empurro para longe. “Acabou o tempo.” Eu viro, praticamente
corro para longe, mentalmente tentando ver através do nó que ele
colocou dentro de mim. Eu me pergunto quando ficará mais
fácil. Se alguma vez ficará mais fácil.

Eu não volto para a mesa. Eu mantenho meus olhos focados


à frente, nem mesmo olhando naquela direção, com medo de que
meu rosto corado me denuncie.

Peppy's agora está lotado. A expectativa para a noite que se


aproxima zumbe no ar. Eu ando pela multidão. Peço desculpas
enquanto tiro as pessoas do caminho, indo direto para o bar. Eu
percebo, enquanto espero para ser notada, que Paulie começou seu
show. Droga. Isso significa que Kael e Larry estarão de volta à
mesa, esperando por mim.

Minhas costelas pesam. Minha mente gira. Meu coração está


batendo forte contra meu peito, com tanta força que acho que
posso ter hematomas internos. Eu gostaria de ter um interruptor
K.L. KREIG
para desligar tudo. Cada ferida. Todo desejo. Cada coisa. Estou tão
perdida no que acabou de acontecer... no que quase aconteceu que
quase não ouço Cathy chamando meu nome, perguntando o que
eu preciso.

“Tequila jose silver e Sprite. Faça um duplo. Copo pequeno”,


digo sobre a comoção. Suas sobrancelhas franzem. Ela conhece
meu pedido usual. Não é isso. Mas, como um bartender obediente,
ela sai e faz o que peço, sem perguntas. Um minuto depois, eu
tenho um copo frio na minha mão e metade do conteúdo na minha
garganta. Sinalizo para outro, desejando que meu zumbido seja
instantâneo, em vez de vinte minutos a partir de agora.

Eu pulo quando uma mão gentilmente agarra meu pescoço


um segundo antes de fazer cócegas na minha bochecha. Minha
orelha sendo suavemente mordida. “O que há de errado, Swan?”

“Nada”, respondo quando Cathy coloca outro drinque na


minha frente. Ela desvia sua atenção brevemente para Kael antes
de passar para o próximo cliente.

“Mesmo? Por que fazer uso de bebidas fortes?”

“Eu...” congelo. Não quero mentir para Kael. Isso não é


maneira de começar um casamento. Mas não quero que ele saiba
que eu estava apenas brincando com Killian no escuro no fundo do
bar, se ele ainda não souber. Que quase o beijei. Que ainda estou
pensando em beijá-lo. E não posso dizer pelo tom dele se ele quer
ou não.

“É MaryLou, não é?”

As pálpebras dos meus olhos se fecham. De alívio ou culpa,


não posso ter certeza. Você tem certeza, meu eu interior me castiga
silenciosamente. Ele está me dando uma saída, então o que eu
faço? Faço a coisa certa? Oh merda, não. Isso seria muito
difícil. Agora, simplesmente não consigo lidar com mais nada
difícil.

Pecadora de coração negro. Esta sou eu.


K.L. KREIG
Então pego o presente que ele está me dando.

Eu pego e corro.

“Sim.” Não tenho certeza se ele está me ouvindo, mas ele


sente o aceno da minha cabeça.

Kael pega o copo ao qual estou atualmente agarrada como


uma boia. Arranca de meus dedos. Coloca para baixo antes de me
girar suavemente. Os clientes estão se acotovelando em ambos os
lados para obter sua próxima dose entorpecente, mas Kael me
protege. Me protege. Como sempre. Quando ele pega meu rosto
com as mãos e inclina para cima, o movimento faz com que uma
gota d'água perdida escorregue do canto do meu olho. Ele a enxuga
com o polegar.

“Baby, não chore.”

“Eu não vou. Eu estou apenas…”

“Magoada?” Ele cutuca.

“Sim.” Não é tecnicamente uma


mentira. Eu estava ferida. Eu estou sofrendo. Só não pelos
motivos que ele pensa.

“Este é um grande passo para eles. Tenho certeza de que ela


simplesmente não quer ter esperanças e depois fazer com que
todos saibam sobre isso, se isso não acontecer com eles
novamente.”

“Eu sei”, consigo dizer.

Eu deveria estar pensando em MaryLou. Sobre Kael. Sobre


qualquer coisa, exceto no que estou. Em vez disso, quero dar uma
olhada. Ver se Killian ainda está aqui. Assistindo. Esperando por
outra oportunidade para atacar.

De certa forma, eu gostaria que Kael soubesse que ele estava


aqui. Talvez então Killian nos deixasse em paz. Talvez eu deva
apenas dizer a ele? Seja corajosa. Faça a coisa certa. Encaro seus
K.L. KREIG
olhos inocentes e amorosos e sei que preciso vomitar tudo. Conte
tudo a ele. Eu quero merecer a maneira como ele está olhando para
mim agora. Abro a boca para fazer exatamente isso quando J Ton
― também conhecido como Johnny Littleton ― chama o nome de
Kael.

A multidão enlouquece. E quero dizer, de pé, batendo


palmas, gritando, torcendo selvagemente. O lugar é uma
loucura. O sorriso que surge no rosto do meu marido é
absolutamente infantil. Glorioso. Eu caio nisso, esquecendo tudo o
que aconteceu minutos atrás.

“O que está acontecendo?” Sorrio enquanto ele nos arrasta


pela multidão em direção ao minúsculo palco de meia-lua. Quando
chegamos à frente, alguém coloca uma cadeira bem perto do pouco
espaço aberto. Kael gesticula para que eu me sente, em seguida,
inclina-se e me beija com força, devagar e muito, muito
intensamente. Os assobios o estimulam e ele volta para pegar mais
um. Estou ofegante. Úmida, em todos os lugares que se pode estar
úmida.

Ele pula no palco onde J Ton colocou um banquinho. Ele


entrega um violão a Kael. Os olhos travessos de Kael se fixam nos
meus no segundo em que ele se senta e coloca o violão em seu colo.

Isso é exatamente o que ele fez na noite em que me pediu em


casamento. Ele não só pode tocar violão como um profissional,
como também tem uma voz de manteiga derretida. Ele subiu no
palco e me transformou em uma bagunça chorona quando cantou
‘I'll Be Waiting’ de Lenny Kravitz.

Se você nunca ouviu essa música, começa com ele cantando


sobre como ele sabia que outra pessoa partiu o coração da
garota. Diz que vai dar tempo a ela. Diz que é ele quem a ama de
verdade. Como ele estará esperando até que ela esteja pronta. Kael
nunca tirou os olhos de mim o tempo todo. Cada nota
perfeitamente sintonizada, cada palavra assustadora foi cantada
apenas para mim. Quando terminou, ele pulou, caiu de joelhos na
K.L. KREIG
minha frente, tirou um diamante de três quilates do bolso e quase
chorou ao desnudar sua alma para mim.

“Eu sei que não faz muito tempo, Swan. Mas, ao mesmo
tempo, faz. Estive ao seu lado a vida inteira. Ninguém te conhece
melhor do que eu. Você respira, eu também. Você se magoa, eu
também. Quando você sorri... porra, Mavs, é difícil ver através das
estrelas me cegando. Cada vez que você ri, eu me apaixono um
pouco mais por você, se é que isso é possível. Quero estar com você
até ficarmos grisalhos e enrugados e não dou a mínima se o que
dissermos ofende as pessoas. Ninguém vai te amar como eu,
Swan. Sua alma pertence a mim. Tudo que você precisa está aqui,
olhando diretamente para você. Se você não está pronta, eu
entendo. Mas saiba que estarei esperando. Vou esperar o quanto for
preciso. Contanto que você precise. Mas se você está... então me tire
do meu sofrimento e seja minha esposa. Eu prometo que não vai se
arrepender um único segundo de nossa vida juntos.”

Sorri e chorei com sua proposta sincera e comovente. Como


uma garota pode dizer não a isso? Ninguém em sã consciência o
faria. Cada mulher e metade dos homens no bar naquela noite
estavam com os olhos embargados. Eu não poderia ter o homem
que eu realmente queria e aqui estava um homem que realmente
me queria. Me amava tanto que eu podia realmente sentir o calor
disso ao meu redor. Eu estava envolvida no momento; Eu disse
sim.

Kael já era um nome familiar, mas depois daquela noite,


pessoas das cidades vizinhas começaram a aparecer nas noites de
karaokê de sexta-feira apenas para ver se haveria uma repetição
da apresentação.

Acho que ele escolheu esta noite para fazer isso. Eu meio que
me pergunto se é coincidência ou não?

Com uma piscadela e um sorriso malicioso, Kael dedilha as


cordas, me arrastando de lá para cá. Ele limpa a garganta e
anuncia, “Esta música é para minha nova esposa louca e gostosa,
K.L. KREIG
Maverick Shepard. Não há ninguém com quem eu prefira passar o
meu tempo do que você, Swan.” A última parte é dita baixa e
abafada, com promessas do que está por vir depois.

Todas as mulheres desmaiam. Incluindo eu.

Então ele começa a cantar.

“Oh merda”, murmuro antes de cobrir minha boca com a


mão. Eu estou flutuando enquanto as palavras roucas da balada
de Saint Asonia ‘Waste My Time’ são filtradas em uma sala que
agora está zumbindo baixinho de antecipação.

As letras são suaves e bonitas. Mais uma vez, nosso mundo


se estreita. Eu e ele. Ele está me dizendo que sou aquela pessoa
com quem ele só quer se deitar na grama fria sob um céu iluminado
pela lua e simplesmente não fazer nada. O nada que é perfeito. O
nada que não é nenhuma perda de tempo, mas se torna momentos
que vivem dentro de você sempre, não importa o que mais esteja
acontecendo ao seu redor. Você sabe que está com a pessoa certa
quando pode fazer isso. Apenas ser. Eu sempre, sempre me senti
assim com Kael. Há uma sensação de conforto e tranquilidade com
ele que não tenho com mais ninguém. Nem com Killian.

Com essa percepção, de repente aquelas rachaduras sobre


as quais falei para MaryLou se alargam e se espalham. Eu
praticamente as sinto serpenteando ao meu redor, me
abrindo. Muito de Kael inunda em mim em um único segundo,
tanto que faz minha respiração ficar difícil. Eu afundo nas palavras
que ele está cantando. Vivo em sua alegria. Dou mais um passo
adiante.

A música termina cedo demais. A sala está quieta. Nem


mesmo uma fungadela ou tosse. Nós nos encaramos até que ele
professa, “Eu vou te amar até o dia que eu morrer, Mavs.” Eu
sussurro de volta, minha voz desaparece. Meu rosto fica
vermelho. Meu coração está cheio e batendo forte no meu peito.
K.L. KREIG
Nossa conexão se quebra quando uma voz masculina
profunda grita, “Obrigado por fazer o resto de nós parecer mal,
cara”, e todo o bar explode em risadas, assobios e conversas
ensurdecedoras. Então, alguém começa a entoar “Bis, bis” e todos
os outros se juntam.

Kael olha para mim e levanta uma


sobrancelha. Silenciosamente pede permissão. Nesse segundo, a
única coisa que quero fazer é levar meu marido para fora, abrir o
zíper de suas calças e chupá-lo até que esteja seco e gasto. Mas ele
é um showman também, e posso dizer que ele está ansioso para
fazer isso. Então encolho os ombros e sorrio. Levanto meu dedo
indicador indicando mais um.

J Ton se aproxima e ele e Kael conversam calmamente. Kael


lhe entrega o violão. Poucos segundos depois, as notas familiares
de ‘I'll Never Let You Go’ da banda dos anos oitenta soam alto nos
alto-falantes. Kael agarra o microfone mais uma vez e começa a
não apenas dar um show, ele continua a me derreter no processo,
com uma música que ele costumava cantar provocativamente para
mim quando éramos adolescentes. Ele até cai de joelhos durante o
refrão, como sempre fazia.

Todos estão de pé. Mãos levantadas. Isqueiros e telefones


celulares no ar. Cantando cada palavra. É como voltar dez anos no
tempo. A única coisa que falta nele é o cabelo comprido e uma faixa
xadrez vermelha.

Sorrio.

Ele ri.

Damos mais passos de bebê para frente.

E nem penso em olhar em volta para ver se Killian ainda está


lá.

Eu não me importo mais.


K.L. KREIG
K.L. KREIG
CAPÍTULO ONZE
Maverick

Dez meses atrás

“Ouvi dizer que você teve uma ótima atuação na sexta à


noite”, Jilly diz em um tom malicioso que ela tem aprimorado.

Foda-se ela.

Porra. Este é o último lugar que eu quero estar. Kael e eu


mal deixamos o quarto desde que chegamos em casa na sexta à
noite. Na verdade, nem conseguimos dormir na primeira
rodada. Eu pulei nele no segundo em que estávamos no
carro. Minha mão estava dentro de sua calça antes da porta
fechar. Eu tinha seu pau já duro preso entre meus lábios antes de
sairmos do estacionamento. Pensei que conseguiria fazê-lo gozar
antes de chegarmos em casa. Mas o cara tem a resistência de um
touro premiado. Em vez disso, ele me fez montá-lo no segundo em
que entramos na garagem, nós dois muito impacientes para
entrar. Eu gozei com um grito que tenho certeza que foi ouvido das
janelas abertas de Helena. Opa. Agora já era.

Kael sabe lidar com Jilly, no entanto. “Oh, tenho certeza que
aumentaram de proporção. Foram apenas algumas músicas.” Ele
escova seus lábios contra minha têmpora. Eu sorrio.
K.L. KREIG
“Oh, não aumentaram de proporção, querido” digo
presunçosamente, olhando minha irmã com alegria. Eu me
pergunto de quem ela ouviu essa história? Killian? Ele ficou e
assistiu, então? Ele foi testemunha do que senti, da mudança
óbvia no relacionamento de Kael e eu? Se estava, não consigo ler
seu rosto. Ele tem me evitado desde que chegamos aqui e
desapareceu há dez minutos com o celular pressionado contra o
ouvido. Ele sempre trabalha. O tempo todo. Ele é determinado,
admito, mas imagino que seja para se afastar da esposa.

“Ele estava quase tão brilhante quanto na noite em que me


pediu em casamento”, acrescento. Uma noite que nunca parei para
apreciar. Isso me deixa triste porque nunca terei de volta aquela
noite.

“Obrigado, Swan” Kael sussurra contra a concha da minha


orelha.

Jilly desvia o olhar, com raiva. Com inveja, provavelmente.

Nunca consegui entender, mas minha irmã sempre teve algo


contra mim. Se estou feliz, ela tenta destruir isso. Ela pegou o
homem que eu amava; no entanto, isso ainda não parece tê-la
satisfeito.

A história que ela conta sobre como Killian a pediu em


casamento tem que ser exagerada ou simplesmente inventada. É
tão extravagante. Killian nunca teria feito nada
parecido. Contratar uma banda mariachi? Ele odeia bandas
mariachi. A comida mexicana dá azia. E ele não é um apresentador
em nenhum sentido da palavra. Mas ele sempre fica em silêncio
quando ela conta sua história. Ele nunca afirma ou
desmente. Apenas fica mudo e faz caretas.

“Então, Kael, como está indo o contrato do Condado de


Mills?” Meu pai pergunta. “Precisamos garantir esse projeto,
filho. O bônus potencial nesse caso é enorme.”
K.L. KREIG
Kael endurece ligeiramente ao meu lado. Ele nunca fala
sobre trabalho comigo. Nunca. É como um grande buraco negro
em que ele não quer que eu me afunde com ele. Meu pai é exigente,
determinado e implacável. Às vezes me pergunto se tudo o que ele
faz é honesto. Quando trabalhei para ele por dois anos, não vi um
comportamento totalmente inescrupuloso, mas às vezes era
questionável. Os contratos governamentais são complicados. Você
está falando sobre milhões e milhões de dólares dos contribuintes
em jogo. É muito fácil embaralhar esse dinheiro com um simples
truque de mão que os auditores levariam anos, ou nunca, para
descobrir.

“Existem alguns obstáculos com os requisitos de conclusão,


mas estamos trabalhando nisso, Richard. Não se preocupe. Eu
sempre faço isso.” Não me passou despercebido o fato dele ter
falado a última parte como se estivesse dizendo a meu pai para dar
o fora.

“E o processo da Frigid Airways? Você conseguiu o


depoimento?”

Agora, este eu estou familiarizada. Uma pequena companhia


aérea está processando a empresa do meu pai porque um pedaço
da pista foi danificado durante o pouso, fazendo com que um
Cessna Crusader de oito passageiros perdesse o controle e
caísse. Felizmente, ninguém ficou gravemente ferido, mas como a
DeSoto Construction foi responsável por colocar aquela parte
específica da pista de pouso, eles foram citados no processo.

Quando Kael remove seu braço ao redor de mim e se inclina


para frente, iniciando um monte de jurisdiquês, eu não poderia me
importar menos com a minha atenção se voltar para minha mãe.

Ela está ansiosa. É tão óbvio. Quero perguntar a ela por que
ela nos deixou entrar em seu pequeno espaço sagrado em primeiro
lugar, se ela vai precisar de uma garrafa inteira de Xanax para
passar por isso. Seu olhar continua voando para o luxuoso tapete
branco puro agora emaranhado com dezenas de pegadas. Espero
K.L. KREIG
que, quando os pais de Kael chegarem, diminua um pouco a
tensão, mas já que isso vai multiplicar o tapete esmagado por mais
duas almas, eu duvido.

A elegante sala de ‘estar’ que estamos ocupando atualmente,


é um santuário em que não tínhamos permissão para entrar
quando crianças. Nunca entendi por quê. É apenas um
cômodo. Sempre me perguntei se aquilo era algum tipo de
santuário. Este espaço continha as cinzas sagradas de
alguém? Artefatos preciosos? Segredos de família? Jilly e eu fomos
pegas várias vezes entrando sorrateiramente aqui. Tentamos cobrir
nossos rastros. Todas as vezes, falhamos. De alguma forma, minha
mãe sempre descobria. Ela tem uma adoração por tapetes, pelo
amor de Deus. Venerar, um tapete. Quem limpa a porra do
tapete? É tapete.

À medida que a discussão enfadonha avança, aproveito a


oportunidade para escapar da minha família por alguns
momentos. Certificando-me de apertar os dedos dos pés com mais
força nas fibras abaixo, vou até a cozinha para pegar um copo de
chá gelado. Apesar de todos os defeitos de minha mãe, ela faz um
chá muito doce. São apenas 10h, mas parece que vai fazer um
verdadeiro calor hoje, um pouco incomum para o final de
setembro. Um copo de chá frio é o antídoto perfeito para o calor.

Estou no meio da cozinha quando vacilo. Killian está parado


à esquerda, perto da geladeira. Nem mesmo a meio metro de
distância. Me encarando. Seus olhos ardem. Eu sei que é para
mim. Quero me virar e fugir de volta para a segurança dos braços
de Kael, mas caramba... quero muito aquele chá. Estou com tanta
sede que minha boca dói. E não vou deixar o jeito que Killian está
me examinando de cima a baixo me parar. Por mais que eu
desejasse evitá-lo pelo resto de nossas vidas é simplesmente
impossível. Só preciso desenvolver barreiras suficientes para que
ele não consiga mais me penetrar.

Caramba. Escolha de palavras ruins.


K.L. KREIG
“Você está deslumbrante.”

“Obrigada”, respondo firmemente, tentando contorná-


lo. Mas ele gentilmente envolve seus dedos ao redor da curva do
meu braço enquanto eu passo, me parando.

“Não...” ele engasga suavemente. “Não vá ainda. Por favor.”

Não faça isso, eu me treino. Não olhe para ele. Não dê a ele
essa satisfação. Infelizmente, sempre que ele me toca, qualquer
resolução que construo derrete como um cubo de açúcar na água.

Minha cabeça vira, embora eu ordene que fique para


frente. Quando meu olhar pousa nele, seu piercing está tão perto
que eu deveria me sentir violada. Fico parada por segundos,
minutos. Não sei porque o tempo agora parece irrelevante.

Eu o observo . Realmente olho para ele, profunda e


longamente.

Estava escuro na sexta à noite, mas à luz do dia ele parece...


derrotado.

Ele tem mais linhas de preocupação circulando seus olhos e


testa. As ranhuras emoldurando sua boca parecem mais grossas,
contornando seu rosto jovem. Seus olhos... eles estão escondendo
fantasmas, segredos. Ele parece ter envelhecido dez anos desde
que se casou. Ele merece, Mavs. Às vezes, a cama em que você deita
está cheia de cacos de vidro e falsidade, dói pra caralho dormir nela
noite após noite. Eu deveria saber.

“Eu não estou concordando com a coisa do bebê. É sobre


isso que venho tentando falar com você. Eu só queria que
soubesse”, ele começa a sussurrar.

Eu aplaco a esperança agitando dentro de mim. Ele não


pertence mais a esse lugar, e se eu continuar deixando-o suspirar
outra maldita respiração, nunca vou apagá-lo. “Talvez você e sua
esposa devessem estar na mesma página então”, retruco
bruscamente.
K.L. KREIG
“Você conhece sua irmã quando ela coloca alguma coisa na
cabeça.”

Rapaz, sério mesmo.

“O que você quer, Shep?” Eu finalmente me obrigo a


perguntar.

“Eu não gosto quando você me chama assim”, ele diz


rispidamente em um rosnado baixo.

Que porra é essa? Até sua esposa o chama de Shep.

“Por quê? Todo mundo o chama assim.”

“Você não é todo mundo. Você é como ninguém, Maverick.”

Nossos olhos permanecem colados um no outro. Eles saltam


para frente e para trás, avaliando. Era uma vez, quando ele dizia
algo assim, isso agitava minha barriga. Eu repetia as palavras por
dias, sempre encontrando novos significados poéticos. Agora tudo
o que ele faz é misturar confusão, raiva e arrependimento até ficar
marrom, escorrendo e cheirando a merda.

Suspiro pesadamente, cansada dessa viagem de cabeça


fodida. “Voltando à minha pergunta original, o que você
quer, Shep?”

Seus olhos se endurecem com o uso do apelido que ‘todo


mundo’ usa. Ele se inclina em minha direção até que eu acho que
ele vai me beijar. Meu corpo inteiro fica tenso, sem saber se quero
seu rosto com meu batom ou minha marca de mão.

“Eu quero tudo que eu não posso ter”, ele me diz com
veemência.

A marca de mão, sem dúvida.

“De quem é a culpa?” Respondo uniformemente, orgulhosa


de mim mesma por segurar isso por tanto tempo. “Você me
deixou. Você se afastou de tudo que tínhamos. Sem
respostas. Sem explicações. Sem dúvidas. Sem nada. Mesmo
K.L. KREIG
agora. Não recebo nada de você, exceto... não, nada. Você não me
merece.”

“Você não sabe de nada”, ele praticamente troveja. “Tudo o


que faço é por você. Com você em mente.”

O que. Está. Realmente. Porra... porra?

“Isso soa como uma frase de uma música. Ou um filme


realmente ruim de Kevin Costner”, digo.

Seu meio sorriso é autodepreciativo. Habilmente tentando


me convencer de que dormir com minha irmã e depois casar com
ela foi por mim. Não foi. Não foi por ele também. Estou convencida
disso. Mas com certeza não foi por mim.

Saindo do seu aperto, recuo um passo. “Pare de me


enlouquecer. Você é casado com minha irmã. Sou casada com seu
irmão. Você precisa superar isso. Eu superei.” Eu concordo com a
mentira com uma facilidade surpreendente.

“Superar o que?” Ele pergunta com uma voz sombria,


entrando no espaço vazio que acabei de criar entre nós.

Maldito seja ele. Por que ele continua fazendo isso? Estou
tentando o meu melhor para apagar esse amor profundo por ele e
os sonhos que ele destruiu. Estou tentando o meu melhor para dar
cem por cento de mim ao meu casamento e amar Kael da maneira
que deveria. Ainda assim, ele está determinado a interferir nisso
sempre que puder.

Por quê? Por que agora, quando eu teria desistido de tudo


por ele apenas algumas semanas atrás... no dia do meu casamento
para começar?

Agora, é tarde demais. Eu aceitei isso. Ele precisa fazer o


mesmo.

Minha visão embaça. Eu luto para segurar cada gota de


lágrima que ameaça escapar. Se alguém não merece minhas
K.L. KREIG
lágrimas, é ele. “Nós”, sussurro, minha voz implorando. “Você
precisa nos deixar ir. Por favor. Estou te implorando.”

Deixe-me superar você, eu quero gritar no topo dos meus


pulmões contraídos.

“Nunca. Estou muito perto agora.”

Muito perto? Muito perto de quê?

“Não me peça para desistir de você. Eu faria qualquer


coisa por você menos isso, Maverick...”

Esse jeito doce, suave e áspero com que ele sussurra meu
nome traz uma lembrança indesejável, que tentei enterrar, de volta
à superfície. Seus braços me prendiam com força, gemendo meu
nome contra o meu pescoço enquanto ele deslizava dentro de mim
pela primeira vez. Estou me afogando em ontem, nem mesmo
percebendo que a mão de Killian está a meio caminho do meu rosto
quando a voz sólida e rígida de Kael ressoa atrás de mim: “Shep,
sua esposa está procurando por você.”

O braço de Killian cai sem cerimônia para o lado enquanto


seus olhos voam por cima do meu ombro, em seguida, de volta para
mim. Ele não parece chocado ou arrependido. Ele parece
chateado. “Sim. Eu estava pegando uma garrafa de água da
geladeira para ela.” Eu recuo e olho para baixo para ver que ele, de
fato, tem uma garrafa água na mão oposta.

Kael bufa, percebendo isso também. “Evian não é mais bom


o suficiente? Ela precisa de água de grife também agora?”

“Você conhece Jilly”, ele retruca amargamente. Ele nem


tenta mais disfarçar seu desdém pela própria esposa.

O braço quente e forte do meu marido envolve minha


cintura, puxando-me em seu peito. Seus lábios pousam na minha
têmpora antes que ele cutuque o urso. Cruelmente, bem entre os
olhos. “Sorte minha que me casei com a irmã certa. Mavs não tem
um osso pretensioso em seu corpo.”
K.L. KREIG
Oh. Golpe baixo.

O rosto de Killian fica duro como uma pedra. Seus olhos de


chocolate dilatados agora inundam com chamas laranja,
perfurando seu irmão mais novo. Socos estão prestes a serem
lançados e eu estou prestes a ser um dano colateral.

Quando sinto Kael enrijecer ao meu lado, se preparando


para uma briga, eu me intrometo para desarmar a situação antes
que fique fora de controle. Odeio ser a barreira entre esses dois
irmãos que já foram próximos. Pelo menos, posso dizer que a
animosidade entre minha irmã e eu não era o resultado dela ter
roubado meu futuro marido. Nossa guerra começou muito antes
disso.

“Ei”, digo, virando-me levemente para o meu marido,


bloqueando qualquer ataque no corpo de Killian. Eu agarro seu
rosto entre minhas mãos, forçando sua cabeça rígida para baixo
para encontrar meu olhar. Quando seus olhos pousam em mim,
eles amolecem um pouco, mas ainda estão cheios de raiva. “Eu
preciso falar com você sobre uma coisa.” Sua mandíbula apenas
flexiona e eu rapidamente adiciono suavemente, “Em particular.”

Eu não o deixo responder. Sem olhar para trás para Killian,


pego sua mão e o puxo atrás de mim. Nós caminhamos para a
lavanderia logo depois da cozinha e eu fecho a porta atrás de
mim. Eu me inclino contra a madeira grossa enquanto Kael
espreita para o lado oposto, parando na janela com vista para a
floresta densa atrás da propriedade palaciana dos meus pais. Seus
músculos estão tensos. Sua respiração está acelerada, se a rápida
ascensão e queda de suas omoplatas for qualquer indicação.

Eu odeio a estranheza agora pairando pesadamente entre


nós.

“Sobre o que você quer falar?” Ele pergunta distraidamente,


passando a mão pelo cabelo, deixando-o em pé. Traços de raiva
tornam sua voz já rouca ainda mais rouca.
K.L. KREIG
Seria sempre assim quando nossa família estivesse
junta? Desajeitado? Desconfortável? Tensão tão espessa que você
poderia cortar o centro com uma colher, deixando o resto intacto?

Sim, contanto que você esteja apaixonada pelo irmão dele e


ele esteja apaixonado por você. Você causou isso, Maverick. Se você
tivesse feito a coisa certa desde o início...

Quando estamos sozinhos, apenas nós dois, quase podemos


fingir que ambos entramos neste casamento com intenções
honrosas, quando ambos sabemos que não. Eu queria outra
pessoa. Ele me queria, independentemente.

Mas quando estamos com nossas famílias, fingindo ser esse


casal recém-casado sólido e loucamente apaixonado ― ou talvez
seja apenas eu que finjo ― nós nos desmanchamos. Deixamos
outros puxarem nossos fios perdidos; tentando nos desfazer pelas
costuras. Se permitirmos, eles nos arruinarão. E não quero acabar
quebrada, triste e cheia de nojo por alguém que amei desde o dia
em que nasci.

Não vou deixar Killian ou minha irmã ou mesmo eu destruir


este casamento.

“Nada”, finalmente respondo. Sua cabeça gira, seu intenso e


ardente olhar caramelo colado rapidamente ao meu. O olhar de
conflito que vejo ― sinto ― quase me dobra os joelhos. Isso o
machuca. Eu estou machucando ele. Muito.

Nunca falamos sobre os sentimentos entre seu irmão e


eu. Nem uma vez. E eu tenho que me perguntar por que ele nunca
me confrontou sobre essa vergonha suja, especialmente antes de
me pedir em casamento. Eu costumava pensar que era estupidez
cega ou negação irracional, mas agora acho que é porque Kael é
um bom homem. Possivelmente um homem melhor do que jamais
imaginei.

Ele me ama incondicionalmente. Não importa o que. É uma


constante com a qual posso contar.
K.L. KREIG
Emoções batem em mim. De repente, sou tomada por uma
necessidade insaciável de acalmar sua dor, provar meu valor como
sua escolhida companheira de vida. Ser o que ele precisa, deseja e,
mais importante, merece.

Juro trabalhar mais no que precisa ser consertado dentro de


mim. Por mais que queira ou deva, você não consegue parar de
amar alguém só porque diz a si mesma para fazer. Eu gostaria que
funcionasse assim.

Nesse intermeio, ele precisa da garantia de que estou ligada


a ele e apenas a ele. Que estou nisso a longo prazo. Que ele tomou
a decisão certa ao se casar comigo. E ele precisa disso agora, não
depois.

Alcançando atrás de mim, desfaço o zíper que segura meu


vestido, deixando-o cair no chão. Seus olhos rastreiam cada
movimento meu, extasiado quando abro meu sutiã e o deixo cair
em meus braços, fico em pé diante dele com calcinha verde-menta
e saltos pontudos vermelhos de dez centímetros que gritam ‘foda-
me agora.’

“O que você está fazendo?” Ele pergunta, sua voz rouca.

Deixo meus olhos caírem para seu pau, feliz em ver o volume
pesado agora proeminente em sua calça bege. “Eu acho que isso é
bastante óbvio”, respondo atrevidamente, sem me mover um
centímetro... esperando para ver o que ele fará a seguir.

“Você quer que eu te foda na lavanderia dos seus pais?” Ele


pergunta em descrença, sua testa franzida.

Deus me ajude, eu quero. Não percebi até este exato segundo


o quanto eu quero isso. Quero ele. E quero que ele me queira
independentemente de qualquer merda fora deste momento.

Tento injetar confiança em minha resposta quando não sinto


nem uma grama dela. Estou com medo de que ele me
recuse. “Sim.”
K.L. KREIG
“Qualquer um pode estar do lado de fora daquela porta,
ouvindo”, ele acrescenta em um desafio, inclinando a
cabeça. Ambos sabemos a quem ele se refere.

“E?” Eu presunçosamente rebato de volta o desafio em


minha voz.

Seus olhos brilham antes de se fecharem. Eu vejo sua


garganta trabalhar para engolir. Ele tem que tentar duas
vezes. Quando seu olhar voraz desce pelas minhas curvas
praticamente nuas, parando por longos segundos nos meus
mamilos duros e tensos, minha barriga treme. Todo o meu ser
vibra de fome por meu marido.

“Deslize sua mão sob essa calcinha e acaricie um dedo por


essa buceta, Mavs. Se você estiver molhada o suficiente, eu vou te
foder. Bem aqui e agora.”

Uhhh... ok? Isso me fez jorrar.

Sabendo que se eu fizer isso, estou prestes a conseguir o que


quero, obedeço, deslizando meu dedo do meio pela minha espessa
excitação antes de mostrar a ele que estou, de fato, desesperada
por ele.

“Chupe isso.”

Espera. O que? Pisco rapidamente, tentando ter certeza de


que ouvi direito. Kael já falou sujo comigo antes, muitas vezes, mas
ele nunca foi tão dominador ou autoritário. E o fato dele ter
escolhido este lugar e hora para virar esse lado dele não me passou
despercebido.

Ele abre bem as pernas musculosas, encosta as costas no


parapeito da janela e cruza os braços. “Se você quer que eu dobre
você sobre este balcão e te foda até que não consiga andar reto,
coloque esse dedo em sua boca, Maverick. Agora.”

“Merda”, eu respiro. Estou tão excitada agora.


K.L. KREIG
É preciso um terceiro incentivo silencioso ― sua sobrancelha
arqueando ― antes de eu finalmente obedecer. Levando meu dedo
brilhante à minha boca, eu realmente gemo quando o cheiro
almiscarado toca minha língua. Minha boca saliva, mas apenas
porque o estrondo primal que sai do fundo de sua garganta é a
coisa mais sexy que já ouvi.

“Tão gostosa”, ele murmura. Com a palma para cima, ele


comanda, “Venha aqui.”

Eu praticamente corro, deixando meu vestido da Gap em


uma bola perto da porta. Não ter que me preocupar com rugas ou
poeira em uma roupa de dois mil dólares é o motivo de eu fazer
compras em lugares como o Gap, ao contrário de minha irmã.

“Você é tão bonita.” No segundo em que ele me abriga em


seus braços, ele dá uma chuva de beijos na minha mandíbula,
garganta e clavícula antes de descer. “Tão perfeita e bonita,
Mavs. Eu não consigo superar o fato de que você é realmente
minha.”

“Eu sou,” admito com uma longa lufada de ar quando seus


lábios se fecham em torno de um mamilo atrevido, sugando com
tanta força que tenho que sufocar um suspiro.

“Eu nunca vou conseguir o suficiente disso. Eles são


perfeitos.” Uma trilha fresca é deixada para trás enquanto ele faz
seu caminho para o meu outro seio dolorido. Minhas mãos voam
para a parte de trás de sua cabeça, segurando-o contra mim
enquanto ele se banqueteia.

Doendo por toda parte, eu me contorço e me movo, tentando


me aproximar dele. Meu corpo inteiro parece líquido, sem peso. A
energia que nos cerca vibra com eletricidade potente. Tanto que
tenho certeza que todos fora dessas quatro paredes devem sentir o
que está acontecendo aqui. Nunca me senti tão desinibida e
devassa em minha vida.
K.L. KREIG
Ele puxa a renda em volta dos meus quadris. “Vou estragar
isso e comer minha esposa primeiro.”

“Deus, sim” eu imploro, querendo isso mais do que oxigênio.

O ar frio atinge meu núcleo aquecido ao mesmo tempo que


Kael cai de joelhos e espalha primeiro minhas pernas, depois meus
lábios abertos. Sem nenhum aviso, ele mergulha de cabeça.

No primeiro golpe de sua língua de trás para frente, eu gemo


alto, “Oh merda, Kael.” Meus joelhos dobram sob o peso do prazer
empurrando para baixo em mim enquanto a sensação de sua boca
me faz subir. Os sentimentos contrastantes são confusos e
emocionantes. Eu os persigo, precisando sentir essa emoção mais
do que qualquer coisa.

Quando ele desliza um dedo para dentro, eu agarro os fios


de seus cabelos curtos, tentando segurar qualquer coisa para me
apoiar. Ele está fazendo coisas diabólicas no meu clitóris com sua
língua bem no centro da lavanderia e não tenho mais nada para
me segurar além dele.

Como se sentisse minha situação, ele aumenta o aperto em


meus quadris com o outro braço e murmura contra mim “Eu
peguei você, Maverick. Eu sempre pego. Solte-se”, antes de voltar
para terminar o trabalho.

Eu suspiro. Eu me contorço. Grito baixinho enquanto ele me


empurra para lugares que eu quero que ele me leve. Quando ele
enfia um segundo dedo dentro e o engancha para frente, eu
grito. Nítido e alto.

Estou quase lá quando Kael chega atrás dele e mexe em


alguma coisa por alguns segundos antes do zumbido da secadora
começar. “O que você está fazendo?” Eu ofego, completamente sem
fôlego, chateada porque meu orgasmo agora está correndo na
direção oposta.

Ele para tudo e olha para mim. Lábios molhados. Olhos


selvagens. Porra, ele é sexy. “Não me importa se eles sabem o que
K.L. KREIG
estamos fazendo, mas não quero que ouçam. O som de você se
desfazendo pertence a mim. Só a mim.”

“Oh.” Entendo seu significado não dito. “Ok.”

“Agora seja uma boa menina e goze na minha cara, Mavs,


para que eu possa te foder forte.”

Deixo um sorriso curvar lentamente meus lábios, amando


esse lado sujo e desbocado do meu marido. “Seu rosto tem que
estar enterrado em minha buceta para que isso aconteça, Kael.”

Sorrio. Mas dura pouco porque minha provocação teve


efeito. A boca de Kael está de volta em mim e se eu pensei que ele
estava focado antes, ele está absolutamente feroz agora. Com uma
intenção sincera, ele me devora. Não há outra maneira de
descrever.

E então eu gozo. Duramente. Longo. Provavelmente tão alto


que eu poderia acordar os mortos se a secadora não estivesse
zumbindo ao fundo. Um calor incandescente corre do meu meio
até a extensão da minha espinha, desce pela extensão dos meus
braços e pernas. Eu o persigo enquanto ele se espalha e irradia
através de cada célula, até que não sou nada além de uma massa
liquefeita de total felicidade e saciada.

“Santo Deus”, suspiro, tentando engolir ar fresco em meus


pulmões. Agora estou sentada na bancada de mármore, a pedra
fria tentando roubar o calor ainda fluindo pelo meu sangue. Kael
está furiosamente tirando suas roupas, também sem se preocupar
com rugas ou sujeira enquanto as joga no chão.

Meus músculos estão tensos e acho que é por causa do


clímax cruelmente lindo que acabou de me rasgar. Não é. É a fome
crua que Kael tem em seu rosto. É tão brutal, é enervante.

“Eu pensei que você fosse me dobrar”, digo, tentando aliviar


o clima pesado. Ele se aproxima de mim, agarra meus quadris e
me arrasta, então estou empoleirada na borda. Tenho que apertar
os músculos da barriga para me manter ali.
K.L. KREIG
“Prefiro ver seu rosto quando eu fizer você gozar novamente.”

“Ah é?” Eu suspiro quando ele percorre a cabeça do seu pau


através da umidade entre as minhas pernas, empurrando
levemente. Kael é poderoso e grosso. Cada vez que ele está dentro
de mim, ele me estica até o ponto de ruptura.

“Oh merda, sim”, ele responde presunçosamente,


pressionando mais um centímetro provocador.

Meu Deus, ele é tão gostoso.

Eu corro meus dedos pela ligeira trilha de cabelo em seu


peito nu e bronzeado. Seu abdômen ondula enquanto eu desço por
eles para agarrar a base do seu pau. “Esse é um objetivo muito
elevado, marido, mas não tenho certeza...”

Suas narinas dilatam. Não tenho certeza se é por causa do


meu uso da palavra marido ou se é um desafio que ele viu diante
de si e que vai encarar e enfrentar. Em geral, não sou o tipo de
garota com orgasmo múltiplo, não importa o quanto ele tente. Não
é ele. Ele provavelmente pensa que é. É assim que sou. Mas Kael
adora um bom desafio. E ele está levando isso muito a
sério. Inclinando-se, os lábios dele ficam a um centímetro dos
meus, ele sussurra “Eu estou certo. E sou muito
generoso, esposa.”

Com essa promessa, com sua boca presa à minha, Kael entra
em mim. Duro e abrupto. Estou tão molhada e pronta para ele que
desliza com facilidade. Ele me fode com golpes rápidos e seguros
antes de mudar para movimentos longos e lânguidos. Ele alterna
suavemente, me equilibrando no fio de uma faca, não importa para
onde ele está me levando. Nos últimos meses, passei a apreciar o
quão incrível Kael é, não apenas como amigo, mas como
amante. Quanto mais ele está dentro de mim, mais parece que o
estive perdendo o tempo todo.
K.L. KREIG
Por mais que Killian ainda esteja ocupando terreno, Kael o
adquire rapidamente. Eu acredito que estou realmente me
apaixonando por meu marido, lenta mas seguramente.

“Você é fenomenal”, ele elogia baixinho. “Tão escorregadia,


tão quente, tão irreal. Tão minha.”

“Não pare”, eu imploro. Nunca pare.

Ele acabou de dá outra estocada, no seu caminho para me


mostrar que pretende me dar aquele segundo orgasmo, quando
ouvimos passos se aproximando da porta. Ele para no meio da
ação e coloca a mão sobre minha boca antes que eu possa
protestar.

Uma batida leve acompanhada de outra batida


prolongada. “Coração, está tudo bem aí?”

Ah Merda. Eu me sinto como uma garota de dezesseis anos


sendo pega beijando JC Ferrera no balanço da varanda dos
fundos. Exceto que, em vez da mão de JC no meio da minha blusa,
desta vez, estou totalmente nua com o pau do meu marido
enterrado dentro de mim e apenas uma
frágil porta destrancada entre nós e a autoridade. Não estou
fazendo nada imoral, mas provavelmente é considerado rude foder
no meio do dia na casa de seus pais com eles em casa. Mesmo para
pessoas casadas.

“Livre-se dele ou ele vai ficar de olho.” Kael fala arrastado


com uma risada.

Kael remove sua mão e sorri, retomando seus impulsos, mas


desta vez eles são agonizantemente lentos e profundos e parecem
tão incrivelmente bons, eu quase gemo minha resposta para meu
pai.

“Você não pode estar falando sério” sussurro, desejando ter


modéstia ao meu alcance. Seu sorriso apenas se alarga e ele faz
algo giratório com os quadris que não tinha feito antes, me fazendo
choramingar. “Pare.” Agarrando duas nádegas, tento parar seus
K.L. KREIG
movimentos, mas tudo o que ele faz é algemar meus pulsos entre
os dedos e arrastá-los para trás, não me dando um segundo para
recuperar o fôlego.

“Maverick, está tudo bem?” A voz preocupada do meu pai


ressoa.

Porcaria. Eu conheço esse tom. Ele está a cerca de dois


segundos de abrir a porta. Crescendo em uma casa com três
mulheres, meu pai aprendeu muito rapidamente a não apenas
invadir. Meus dois minutos estão quase terminando.

“Sim Papai. Tudo bem”, consigo falar.

“Tem certeza? Você parece... chateada.”

Chateada? Estou tão longe de estar chateada, é ridículo.

“Por favor pare. Só por um segundo” imploro a


Kael. Felizmente, ele me dá um alívio. Mas apenas um leve. Eu me
pergunto onde este homem perverso que agora está movendo seus
quadris para frente e para trás preguiçosamente esteve todo esse
tempo.

Esforçando meu cérebro por uma mentira inocente, o som


da secadora me dá a desculpa de que preciso. “Kael derramou água
em sua camisa. Nós apenas jogamos na secadora”, grito,
esperando soar convincente.

Deve ter funcionado. “Oh. Bem, Arnie e Eilish acabaram de


chegar e sua mãe deu o aviso de quinze minutos, então...”

Eu rolo meus olhos para seu ritual estúpido. Nos próximos


quinze minutos, é melhor estarmos todos sentados ao redor da
mesa em nossos lugares designados, palmas das mãos cruzadas,
olhos fechados, prontos para recitar a oração da hora das refeições.

Seguro um gemido quando o dedo de Kael pousa no meu


clitóris hipersensível e começa a esfregar pequenos círculos. Não
posso fazer nada para detê-lo porque minhas próprias mãos ainda
estão presas, então tento o meu melhor para ignorar o calor
K.L. KREIG
crescendo em mim mais uma vez, mas porra, isso é tão bom. “Uh,
sem problemas. Estamos quase terminando.”

“Está bem então. Se apresse.”

Kael ri baixinho em meu ouvido. “Você ouviu o homem. É


melhor nos apressarmos.”

Ainda podemos ouvir os passos de meu pai quando Kael bate


sua boca na minha e começa a me foder sem piedade, me levando
como se ele me possuísse. E ele possui. Sinto que estou me
tornando sua, pedaço por pedaço quebrado. Minha mente não está
em nenhum outro lugar, mas nele e nas coisas pecaminosas que
ele está fazendo comigo, me fazendo sentir.

“Minha garota safada”, ele murmura. “Deixando-me comer


você, foder bem debaixo do nariz de nossas famílias. Isso te deixa
com tesão, não é?”

Sim. Deus, sim. Um milhão de vezes, sim.

Eu aceno, incapaz de encontrar minhas cordas vocais no


momento, muito menos usá-las.

A respiração de Kael aumenta; seu aperto aumenta. Ele está


perto. Eu conheço os sinais. Sinto o inchaço de seu pau. Ouça o
engate em suas exalações. “Você gosta quando falo assim com
você, Swan.”

Não é uma pergunta, mas eu respondo, “Sim”, de qualquer


maneira.

“Eu sei”, ele respira em meu ouvido. “Sua pequena buceta


quente aperta deliciosamente em torno de mim.”

Minhas paredes internas reagem e ele geme, baixo e como


um lobo. Deus todo-poderoso, esse som é quente.

Segundos depois, estamos ambos no topo olhando para


baixo. O aperto de Kael é doloroso. Seu polegar trabalha aquele
feixe de nervos furiosamente, implacavelmente. Habilmente. O
K.L. KREIG
tempo todo ele me fode como se houvesse apenas nós nesta casa
grande.

“Você está chegando perto, Swan.” Tão perto. Tão perto que
posso sentir o gosto. “Goze para mim. Goze comigo, Mavs. Porra,
agora mesmo.”

Seu olhar intenso me persuade. Mas seu pau, seu toque, faz
o efeito. O fogo abrasador aumenta até explodir. Então estou
gozando. Gozo primeiro, com ele logo atrás. E tudo que posso fazer
é manter meus olhos abertos e nele enquanto onda após onda
aguda de euforia passa por mim.

Com uma mandíbula tensionada e lábios carnudos, meu


marido é mais do que bonito. Ele é magnífico. Eu sou a inveja da
maioria das mulheres solteiras ― e algumas das casadas ― em
Dusty Falls, mas neste momento singular, quando ele joga a
cabeça para trás e geme sua libertação feliz, ele está absolutamente
deslumbrante.

E ele pertence a mim.

E quando ele abre os olhos semicerrados, me prendendo com


um sorriso saciado, perverso e alegre, que me diz sem palavras que
sou tudo para ele, vejo um homem totalmente diferente.

Um que sempre conheci, mas nunca deixei entrar


totalmente.

Aquele que me dá tudo dele enquanto eu me contenho.

Um que não suporta a ideia de me perder. Jamais.

Ele é quem sempre andou ao meu


lado. Sempre. Silenciosamente. Firmemente. Sem exceção. Sem
expectativas.

Ainda recuperando o fôlego, ele confessa, “Eu te amo,


Swan.” Ele pressiona lábios carnudos e vermelhos na minha testa,
me envolvendo com força em seu abraço. “Eu não acho que você
compreende o quão profundo é o meu amor por você.”
K.L. KREIG
“Eu acho que sim”, sussurro em seu peito suado, finalmente
entendendo.

Não havia dúvida sobre o que ele encontrou na


cozinha. Duas pessoas que ainda se importam muito uma com a
outra, dado o fato de ambas serem casadas. Esta união foi minha
oferta a ele. Minha abnegação. Mais uma vez. Era tanto para mim
quanto para ele. Talvez mais. Era outra maneira de tentar
erradicar esse veneno que infecta nosso relacionamento, nosso
futuro. Para abrir espaço para nosso próprio amor. Ele me deu o
que eu não tinha o direito de pedir a ele. Ele deu livremente. E eu
o amo muito por isso.

“Eu te amo, Kael.”

Quero dizer isso. Eu realmente o amo. E embora eu tenha


dito essas palavras a ele inúmeras vezes ao longo dos anos, a
maneira que acabei de dizer agora é diferente de como já disse
antes.

Pela reação de Kael, ele sabe disso.

“Cristo, Maverick.” Sua voz falha. Seus braços me apertam


até que é difícil respirar. Juro que seu corpo está tremendo.

“Eu...”, quero dizer que sinto muito. Por tudo. Por todos
esses anos perdidos. Por machucá-lo. Por amar Killian. Por todos
os meus fracassos e deficiências como amiga, como esposa. Mas
não quero estragar um momento de ternura que ainda não
experimentamos como um casal verdadeiro, então me contento
com outro “Eu te amo” e espero que ele ouça o pedido implícito de
desculpas que estou lhe dando.

Enquanto Kael recua, segura meu rosto e abaixa sua boca


na minha, vejo tudo o que ele quer que eu veja.

Compreensão.

Devoção.

Perdão.
K.L. KREIG
Nós: para sempre.

Do jeito que sempre foi.

Com seus lábios fundidos aos meus, não há dúvidas em


minha mente do que está batendo descontroladamente no centro
do meu peito. No fundo do meu ser.

Estou me apaixonando pelo meu marido.


K.L. KREIG
CAPÍTULO DOZE
Maverick

Nove meses e meio atrás

Em qualquer ponto da minha vida, estive apaixonada,


enfeitiçada, ou simplesmente obcecada por Killian Shepard. É
complicado explicar como é difícil bloquear os sentimentos que
você teve pela mesma pessoa por vinte e alguns anos. Não é como
uma torneira que você pode fechar. E mesmo se você tentar, ainda
há aquele gotejamento lento que não consegue desligar. Está lá,
constantemente em segundo plano. No final das contas, acho que
você aprende a ignorar o gotejamento lento e irritante. Na maior
parte, pelo menos. Mas às vezes, esse gotejamento é tudo que
ouve. Tudo em que você pode se concentrar. É muito desgastante,
até torná-lo neurótico.

Como agora.

Kael está fora da cidade a negócios esta noite e fiquei sozinha


para me lamentar e relembrar. E por alguma razão, eu me encontro
voltando para a época em que Killian me encontrou na carroceria
da caminhonete de Robbie Reams. Pelo que eu sei, Kael nunca
descobriu e por isso, sou grata. Não foi meu melhor momento.

Era meu aniversário de dezessete anos. Kael estava na


faculdade, mas Killian trabalhava para meu pai como assistente de
K.L. KREIG
vendas. Duas semanas antes do início das aulas, meus amigos, em
sua infinita sabedoria, decidiram que me dariam uma festa para
comemorar não apenas meu aniversário, mas o início de nosso
último ano.

Como seu pai era fazendeiro, Kimmy Reams tinha acesso


não apenas a alguns cestos de grãos rurais abandonados, mas
também a um irmão mais velho, Robbie, que ficou muito feliz em
receber um bando de menores com 13 galões da cerveja mais
barata conhecida pelo homem. Especialmente porque ele tinha
uma queda por mim.

“O que você vai estudar no próximo ano?” Robbie pergunta


inocentemente, me entregando uma garrafa de água. Abro e tomo
um gole antes de responder.

“Dupla especialização. Negócios e finanças.”

Ele limpa algumas gotas perdidas que caíram na minha


perna. Seu polegar permanece. Eu deixei, separando meus lábios
para pegar um pouco de ar. Ele sobe em direção à minha saia curta
e acaricia a pele logo abaixo da bainha. Eu estremeço quando atinge
a parte interna da minha coxa.

Com os olhos semicerrados, ele pega minha água, tampa e


coloca de lado. Nós deitamos na grama. O céu está escuro. As
estrelas estão começando a aparecer, uma por uma. E Robbie
Reams apenas colocou sua mão na minha. Minha cabeça está
zumbindo. Minha mente confusa e sem graça de toda a cerveja que
bebi. Eu ouço sua cabeça virar na minha direção. Eu faço o
mesmo. Seus olhos brilham ao luar. São bonitos.

“Eu sempre soube que você era inteligente, Maverick.”

Eu soltei um sorriso. “Obrigada, Robbie.”


K.L. KREIG
O tempo passa. Bebemos mais. Falamos. Flertamos. Os
casais começam a formar pares, desaparecendo. A multidão
diminui. Meu estômago está agitado. Meus ouvidos zumbem. Então
os lábios de Robbie estão roçando os meus e eu o estou beijando de
volta. Suas mãos seguram meu seio e eu deixo. A próxima coisa que
sei é que estou na caminhonete de Robbie. Shorts
desabotoados. Blusa aberta e empurrada para cima. Sua boca
faminta se entregando aos meus seios enquanto dedos ansiosos se
movem entre minhas pernas.

Não tenho certeza do que diabos estou fazendo, mas sei que
não deveria fazer. Por que parece que estou descendo uma rua de
mão única sem saídas por quilômetros?

Estou à beira da indecisão, mas hesito apenas alguns


segundos, antes que meu cérebro se turve com o incrível prazer que
Robbie está me fazendo sentir. Estou afundando nele quando em um
minuto Robbie está lá, levando meu corpo a novas alturas, e no
próximo ele se foi.

Então estou sendo erguida em um par de braços


fortes. Percebo que Robbie Reams está no chão, sangue escorrendo
de seu nariz e boca. Atordoado. Bravo. Mas ele não faz nenhum
movimento para me pegar. Idiota.

Juro que uma voz murmura, “Estou com você.”

Sou jogada suavemente em um carro. Couro e testosterona


subiram para me encontrar. Sinto meu short sendo abotoado, minha
blusa puxada de volta para baixo. Um cinto de segurança fica preso
no meu colo. Demoro mais alguns segundos para me livrar da névoa
de luxúria e álcool, mas no minuto em que estamos dirigindo pela
estrada escura e empoeirada, eu sei.

“Que porra é essa, Killian.”

“Não. Fale. Nada. Comigo. Agora.” Seu comando é nivelado,


deliberado. Intransigente e cheio de turbulência. Abro a boca para
dizer mais alguma coisa, mas quando ele vira a cabeça em minha
K.L. KREIG
direção e me lança um olhar que é nada menos do que raiva, eu a
fecho com força. Agora não é a hora, eu acho.

Vinte minutos depois, diminuímos a velocidade e entramos no


estacionamento da escola primária. Está escuro. Deserta. Estranho.

“O que você está fazendo aqui?”

“Eu faço as perguntas”, ele grita.

“Como você me achou?” Ele me ignorou o dia todo ― logo no


dia do meu aniversário ― mas convenientemente aparece quando
estou com outro cara? Que diabos?

“Eu disse” ― ele se vira em seu assento ― “Eu faço as


perguntas.”

“Você não é a porra do meu pai, Killian. Eu posso cuidar de


mim mesma.”

“Ficando grávida?” Ele ruge. Seus olhos estão selvagens. Sua


mandíbula endurece. Nunca o vi tão zangado. Nunca. Sobre
qualquer coisa.

A vergonha me assalta e meu burburinho começa a


diminuir. Uma dor de cabeça se instala. Meu estômago
embrulha. Não posso dizer a ele por que deixei Robbie Reams
avançar por vingança. Que eu estava magoada, agindo porque ele
não tinha me ligado ainda. Que o tempo todo eu estava imaginando
que era ele.

Eu alcanço a maçaneta da porta, estou farta dele. Terminei


esta conversa. Vou caminhar oitocentos metros para casa, mesmo
que esteja escuro, assustador e os animais possam me levar para
fora da vala. Metade de mim está fora do carro, metade ainda dentro
quando sou impulsionada para trás e sendo puxada pelo console do
seu interior. Meu quadril fica dolorido onde trava a marcha. Então
estou em seu colo, montando nele, sua ereção cutucando meu centro.
K.L. KREIG
“Diga-me o que diabos você pensa que estava fazendo” ele
exige, com o peito arfando, tom duro, olhos... não sei. Querendo,
talvez?

Estamos tão perto que respiramos o ar um do outro. Talvez


tendo os mesmos pensamentos. Killian já me segurou antes, mas
nunca assim. Nunca possessivamente, como se eu fosse dele.

Eu não consigo evitar. Eu não sei se é o álcool ou os


feromônios saindo dele, mas movo minha pélvis para frente e para
trás, esfregando contra o que eu sei que é grosso e longo. Ele
geme. Seus olhos se fecham como se doessem. Ele respira fundo e
segura, antes de respirar de volta. Quando as palmas das mãos
pousam em meus quadris, elas estão firmes, mas não me impedem,
então continuo.

Então seus olhos se abrem e prendem os meus. E quando o


fazem, sei que não imaginei nada. Ele me quer. Santo Deus, Killian
Shepard me quer. E quando ele sussurra meu nome, como se
estivesse fazendo uma oração durante a missa de domingo, fico
completamente desfeita. Todos os meus hormônios adolescentes
saem para brincar.

Eu bato minha boca na dele. Ele me permite. Gemendo, ele


deixa sua língua conhecer a
minha. Intimamente. Completamente. Ele tem um gosto doce. Como
o conhaque do meu pai. Uma mão quente segura minha bochecha e
estou perdida. Acho que ele também está perdido comigo, porque
não estou enganada que sua pélvis está se movendo com a
minha. Já estou chegando ao orgasmo, o real, muito melhor do que
o imaginado. Mas então sua boca fica mais lenta. E ele está se
afastando. Ele parece dividido. Naufragado. Com remorso, talvez. A
mão em meu quadril aperta, sinalizando para eu parar.

Estou ofegante. Ele também.

“O que está errado?” Eu pergunto. Mais como um guincho.


K.L. KREIG
Seus braços me envolvem e me apertam, então sou forçada a
colocar meu rosto na curva do seu pescoço ou sufocá-lo no encosto
de cabeça. É uma escolha óbvia. “O que está errado?” Murmuro
novamente, confusa com o porquê de minhas roupas ainda não
estarem fora.

Sem dizer uma palavra, ele abre a porta e balança as pernas


para fora. Ele se levanta e eu me agarro a ele, não estou pronta para
isso acabar. Ele dá a volta no carro, abre a porta e me desliza para
o banco do passageiro. Depois que me afivela e fecha a porta, ele
fica lá por provavelmente um minuto inteiro antes de bater com o
punho no aço acima de mim, me fazendo pular.

Então ele está de volta para dentro. Ele liga o carro enquanto
eu fico lá, perplexa. Ele dirige devagar, com cuidado. Em completo
contraste com a tensão que agora sinto caindo sobre mim do lado
dele do carro. Quando ele para na minha garagem, deixa o motor
ligado e diz uniformemente, “Tome uma aspirina e beba um copo
d'água antes de dormir. Beba Gatorade pela manhã. Já falei com
seu pai. Ele vai cobrir...”

“Você fez o que?” Eu respiro. Tem gosto de cerveja e fogo.

“Maverick”, ele avisa. “Você não tem ideia do caralho...”

“Você não tinha o direito, Killian.”

“Eu tenho todo o direito!” Seu rugido me assusta e eu me


encolho no canto da minha cadeira, com medo dele pela primeira vez
na minha vida. “Você quase deixou aquele filho da puta...” Ele para,
se recompõe antes de murmurar, “Você age como a porra de uma
adolescente, Maverick. Você é emocionalmente imatura e não tem
ideia do que quer.”

Ele está respirando rápido. Os nós dos dedos estão brancos,


enrolados no volante como cera derretida ao sol.

“Você está errado”, digo a ele suavemente. “Sei exatamente o


que eu quero.” Quando ele não diz nada, acrescento: “É você,
Killian. Eu quero você.”
K.L. KREIG
Ele não olha para mim. Por um longo tempo, ele fica olhando
para a frente, piscando lentamente como se suas pálpebras não
funcionassem. Seu peito se expande e desaba, mas sua respiração
mudou. Ainda é rápida, embora não seja mais de raiva. É de
desejo. Posso ser uma adolescente, porra, mas até eu sei a
diferença. Isso é o que ele parecia há poucos minutos, com sua
língua na minha garganta.

Finalmente ele me encara. Nós apenas olhamos um para o


outro. Espero que ele faça algo, diga qualquer coisa, mas ele apenas
engole. Quando abre a boca, é para me esmagar. “Você é muito
jovem, Maverick.”

Eu lanço meu olhar desafiador para seu jeans, que ainda está
tenso. “Você me quer.”

Ele move a mão do volante para o colo, cobrindo as


evidências. “Vá para a cama”, ele responde claramente, como se
apenas sua opinião importasse. Nosso confronto dura tantos
segundos que eu perco a conta. E sei que o perdi antes mesmo de
tê-lo.

“Você deveria ter me deixado com Robbie Reams. Pelo menos


ele teve a coragem de pegar o que queria.”

Então abro a porta e não olho para trás, mesmo quando ele
diz: “Se Robbie Reams encostar a porra de outro dedo em você, ele
está morto. Lembre-se disso da próxima vez que ficar bêbada e
quiser agir como uma criança.”

Quase tomei a pior decisão da minha vida naquela noite,


deixando Robbie tirar algo de mim que eu queria
desesperadamente dar de presente para Killian. Mas eu estava
bêbada. Robbie me queria. Killian não. Pelo menos foi o que pensei
na época.
K.L. KREIG
Mas percebi na manhã seguinte, enquanto cuidava da minha
ressaca, que por mais louca, humilhada e confusa que eu estava
naquela noite, Killian me salvou de cometer um grande erro.

Killian deveria ser o meu primeiro. Meu único. Em vez disso,


depois daquela noite, ele se recusou a simplesmente reconhecer
que eu existia ― até que nos tornamos grandes demais para ignorar
anos depois.

O maldito passado e seu eco constante fica mais alto e mais


irritante e, antes que eu saiba o que estou fazendo, estou ajoelhada
no meu armário, as fibras do tapete cavando em meus joelhos
nus. A caixa que jurei nunca mais tocar está na minha mão. A
tampa está fechada. O conteúdo do passado me olha fixamente.

Cartões de aniversário. Um desejo de melhora quando


quebrei minha perna. Uma amostra solitária de nossos dias
DeSheps, assinada por nós quatro.

Saindo de um momento memorável, está uma pedra preta e


lisa que ele me deu depois que meu roedor gerbil morreu. Ele me
disse que não queria me ver chorar por outro animal de estimação
perdido. Ele me fez chamá-la de Wilson, por causa daquela
estúpida bola de vôlei em Cast Away. Eu a mantive ao lado da
minha cama até o dia que ele anunciou seu noivado com Jilly.

Passo os dedos levemente no dente-de-leão que está por


cima, toda murcha e quebradiça. Caules, raízes e folhas secas e
enegrecidas se quebram, espalhando-se por toda parte. A voz de
Killian ecoa ao longo dos anos, como se o momento estivesse
acontecendo de novo em tempo real.

“Para você, Pequena.” Sua voz profunda desliza sobre mim,


fazendo minha barriga parecer estranha.

“O que é isso?” Viro a coroa tecida em minhas mãos. Deixa


aquele cheiro pungente de erva em meus dedos, que a maioria das
pessoas odeia. Eu não. Eu amo isso.
K.L. KREIG
“Seu presente de aniversário, é claro.”

Esse foi meu décimo terceiro aniversário. Lembro de ter


ficado inicialmente chateada por ele ter me feito uma coroa de
dente-de-leão. Era um presente de criança, não para uma agora
adolescente, mas de alguma forma o fato dele ter feito isso com
suas próprias mãos, comigo em mente, porque ele sabia o quanto
eu amava dente-de-leão, acabou com aquele mau humor.

Um pedaço de papel amarelado e enrolado chama minha


atenção. Eu cuidadosamente movo o conteúdo para o lado para
pegar a ponta de um bilhete que Killian me deu antes de ir para a
faculdade “Aquele que você ama está mais perto do que você
pensa. ”

Na época, achei que era um sinal de que deveríamos ser, ele


e eu. Que ele me amava tanto quanto eu o amava, mas ele
simplesmente não podia me dizer ainda. Agora, eu me pergunto se
foi profético de uma forma totalmente estranha. Que aquele que eu
deveria amar de verdade estava sempre escondido à vista de
todos. Mais perto do que você pensa.

Kael.

Eu olho para a caixa quadrada que contém a história antiga


de outro homem. Memórias caem ao meu redor como chuva
negra. Parte de mim lamenta os muitos planos perdidos, agora
neste minúsculo lugar de descanso de papelão de quinze por trinta
centímetros. O resto de mim está quase apático, finalmente
aceitando que o futuro nunca foi realmente nosso para tomar.

O toque do meu celular me arrasta, me tirando e gritando do


passado para o presente. Ele é meu marido. O homem em
quem deveria estar pensando, em vez daquele que continua a me
atormentar.

Gota a gota.
K.L. KREIG
Passos de bebê.

Fodidos passos de bebê.

No segundo toque, coloco a tampa de volta, me perguntando


por que não posso simplesmente deixar essas memórias dolorosas
irem. Eu sei que preciso. Fazer isso irá dissolver outro fio que une
Killian e eu. Mas a ideia de abandonar permanentemente os
resquícios de nossa história ― tempos que foram bons ― fere meu
coração a ponto de doer de verdade. Então, escondo meus
fantasmas de volta, coloco a placa de volta no lugar e corro para
pegar meu telefone na hora certa.

“Você parece sem fôlego”, a voz grave de Kael soa do outro


lado da linha.

“Sim, ah, eu estava no banheiro. Desculpe.” Minha


consciência me rói pela mentira inocente. Uma das razões pelas
quais eu não estava interessada em Kael sair da cidade é porque
muito tempo sozinha não é um bom lugar para eu estar agora. Isso
me deixa pensando muito... para lembrar de coisas que eu deveria
estar esquecendo em vez disso.

“Sem problemas. Como foi o seu dia?”

Eu me acomodo de volta na cama, colocando minha cabeça


no meu travesseiro ortopédico. “Tem certeza que quer saber?”

“Não perguntaria se eu não quisesse, baby.”

Aos poucos, deixo meus músculos relaxarem, desejando que


minha mente volte ao aqui e agora. Eu respiro fundo antes de
começar. “Bem, as vacas de Wesley Harvey se soltaram de alguma
forma. Fiquei na Rodovia 28 por três horas até que conseguiram
pegá-las novamente.”

Ele ri. É reconfortante e aquece. Apenas ouvir sua voz parece


corrigir os erros dentro de mim. “Pena que eu perdi isso. O que
mais.”
K.L. KREIG
“Ouvi dizer que eles mudaram Abigail LeMonte para o
hospital.” Abigail é uma mãe solteira de três filhos que foi
diagnosticada com câncer de pâncreas há apenas três meses. Ela
vai morrer, deixando três adolescentes sem pais. É trágico.

“Oh, sinto muito em ouvir isso, Swan. Eu sei o quanto você


gosta dela.”

“Eu odeio quando coisas ruins acontecem a pessoas boas.”

“É por isso que precisamos viver o momento, certo?”

“Sim”, eu concordo calmamente. Estou tentando, quero dizer


a ele. É difícil e às vezes escorrego para trás,
mas estou tentando. Por favor, não desista de mim.

“Então, como posso te animar? Alguma coisa boa aconteceu


hoje?”

Deus, eu amo muito este homem. Ele trabalha


incansavelmente para garantir que eu não seja nada além de
feliz. Eu gostaria de merecê-lo. Torcendo um fio solto na ponta do
meu dedo, eu respondo “Hmmm... ganhei cinco dólares em um
bilhete de raspadinha.”

Eu ouço o sorriso em seu rosto quando ele provoca: “Sua


jogadora. Não gaste tudo em um só lugar.”

E assim ele me faz sentir melhor. “Pena que o Tastie's não


está aberto. Poderíamos gastar tudo em donuts. Comer até
ficarmos doentes.” Como estamos em meados de outubro, nosso
refúgio de infância favorito agora está fechado para o ano.

“Você está me dando água na boca”, ele diz, gemendo.

“Mesmo?” Eu baixo minha voz, esperando que soe


sensual. “O que mais posso fazer para te dar água na boca?”

“Porra, Swan. Você não tem ideia do quão duro você acabou
de me deixar.”
K.L. KREIG
Sorrio, afundando minha cabeça ainda mais no
travesseiro. “Conte-me.”

“Por quê? Você quer que eu goze enquanto você escuta?”

Uau. De repente está quente aqui? Eu puxo minha camiseta


para pegar um pouco de ar.

“Não. Eu gostaria de assistir”, digo de volta. Pareço um


pouco ofegante. Ok, muito ofegante.

“Você quer que eu mude para uma ligação FaceTime, então?”

“Você iria?”

Ele solta um grunhido longo e profundo que me faria despir


se ele estivesse em casa. “Você é uma garota muito safada, sabia
disso?”

Sim, estou definitivamente quente. Minha pele está corada e


estou muito úmida entre minhas coxas.

“Achei que você gostasse de mim desse jeito”, provoco.

“Eu não gosto.” Estou me preparando para desafiá-lo


quando ele acrescenta: “Eu adoro isso.” Há uma pequena pausa
antes dele dizer: “Cristo, estou com saudades, Mavs.”

A suavidade em torno dessas últimas palavras me deixa


sóbria. “Eu também sinto sua falta, Kael”, sussurro, genuinamente
falando sério.

Demorou semanas para me acostumar a tê-lo aqui, dia após


dia. Agora ele se foi apenas uma noite e esta velha casa parece fria,
vazia e solitária. Ele só saiu esta manhã, mas já sinto sua
falta. Mais do que eu esperava. “A que horas você acha que estará
em casa amanhã?”

“Voltarei para casa depois da minha reunião. Estarei aí


quando você terminar na padaria. O que acha?”

“Você não precisa ir para o escritório primeiro?”


K.L. KREIG
“Foda-se o escritório.”

“Prefiro que você me foda em vez disso”, rebato.

Sua risada é sombria. Um pouco perversa, até. “Acho que


isso pode ser arranjado.”

“Você estará nu e pronto, esperando que eu monte você


quando entrar pela porta da frente?”

“Droga, Mavs”, ele respira com dificuldade. “Se é isso que


minha senhora quer, não seria muito cavalheiresco de minha parte
negar a ela, seria?”

Eu sorrio. Dentes e tudo. “Meu cavaleiro de armadura


brilhante?”

“Brilhante e tudo.”

Rimos e conversamos por mais alguns minutos antes dele


me dizer “Por mais que eu não queira, tenho que correr,
querida. Tenho um jantar de negócios em trinta minutos e ainda
preciso tomar um banho rápido.”

A campainha toca no momento em que digo com relutância,


“Tudo bem.”

“Eu te mando uma mensagem mais tarde, ok?”

“Vai mandar mensagens obscenas?” Eu brinco.

Ele solta uma risada. “Oh sim. Vai ser tão pervertido que
você vai precisar de um banho depois.”

Essa promessa sexy cria um pequeno fogo entre minhas


coxas. Mais tarde não chega logo. “Mal posso esperar. Eu te amo,
Kael.”

Em vez de dizer de volta, ele diz: “E nunca vou tomar esse


presente como garantido, Maverick. Nunca. Você sabe que me deu
tudo que eu sempre quis, não é?”
K.L. KREIG
A culpa me pica. Aceito que sempre me corroerá. “Eu sei”,
respondo baixinho.

Sinto-me a um ano-luz de distância de onde estava há


apenas um tempo. Estou feliz e calorosa em todo o corpo e não
quero que esse sentimento acabe. Eu quero implorar a ele para
dispensar o jantar e passar o resto da noite no telefone como
costumávamos fazer, então eu fico com os pés no chão hoje, não
perdida no passado. Mas ele tem obrigações e preciso respeitar
isso.

“Até amanhã.”

“Contando os segundos, Swan.”

“Eu também.”

Aperto o botão de desligar enquanto o toque impaciente da


campainha ecoa pela casa uma segunda vez. Sentando, observo
minha camiseta dourada da Hawkeye e o short de algodão preto
que já viu dias melhores. Penso em não responder. Não estou me
sentindo muito sociável. Tudo o que quero fazer é me enroscar com
uma taça de vinho e um bom livro e deixar esse sentimento de
contentamento permanecer. Fico ali deitada por mais alguns
segundos, pensando que meu visitante não convidado deve ter
entendido quando a campainha toca pela terceira vez.

“Droga”, murmuro, pulando da cama e indo em direção às


escadas. Vinte segundos depois, me sentindo um pouco mal-
humorada, abro a porta sem me preocupar em verificar quem está
do outro lado. Um erro grave, descubro quando meus olhos
pousam em outros muito familiares. Os parecidos com os do Kael,
que habilmente me fizeram esquecer os últimos trinta minutos.

“Oi”, diz Killian. Seu sorriso é leve e genuíno. Minha barriga


estremece. Eu volto no tempo para quando eu tinha treze anos
novamente e ele me deu aquelas ervas daninhas estúpidas.

Porra.
K.L. KREIG
Merda.

Um pequeno passo para frente, cinco gigantes para trás.

Maldição... por que ele está aqui?

“Oi”, digo de volta uniformemente. Eu não me movo. Não me


ofereço para deixá-lo entrar. Apenas fico aqui, esperando. Ele olha
para além de mim, depois volta.

“Posso entrar? Eu tenho algo para Kael.” Um envelope pardo


entra na minha vista quando ele o levanta e sacode como se para
provar que não está mentindo.

“Ele está fora da cidade.”

Suas sobrancelhas franzem momentaneamente antes de


suavizar de volta. Eu o estudo. É realmente possível que ele não
saiba que Kael está viajando a negócios? Eles trabalham no mesmo
lugar, apenas portas abaixo uma da outra.

Não. Certamente ele sabe. Este é mais um de seus


truques. Sabotar Maverick enquanto Kael está fora. Meu
temperamento aumenta. Bastardo pretencioso e egoísta.

“Onde ele está?” Ele pergunta, passando por mim sem


esperar por um convite.

“Fique à vontade”, murmuro baixinho.

Olhando por cima do ombro, ele levanta um lado do


lábio. Ele me ouviu. Tanto faz.

Eu o sigo virando o corredor até a


cozinha. Relutantemente. Desejando realmente que ele não
estivesse aqui. E apenas um pouco preocupada com isso. E que
estamos sozinhos. E poderia ser... longa... a... noite... se é isso que
queríamos.

Santa Maria Mãe... ele precisa ir.


K.L. KREIG
“Aqui”, digo asperamente com minha mão estendida. “Vou
colocar no escritório dele. Algo mais?”

Seus olhos voam entre os meus e minha palma aberta. Ele


agarra o envelope, talvez pensando que, se desistir, perderá sua
moeda de troca. Então ele não faz. Então ele não esconde o fato de
que está verificando cada centímetro de mim. É uma leitura lenta
e deliberada. Cabelo bagunçado até unhas pintadas de rosa
claro. Quando seu olhar ― agora quente e ansioso ― pousa no meu
novamente, sua voz está rouca. “Você não respondeu minha
pergunta.”

Eu cruzo meus braços, tentando esconder meus mamilos


protuberantes e conter o rubor se espalhando por mim. Eu começo
a morder meu lábio, batendo o pé ansiosamente. “Ele está em
Minneapolis. Por quê?”

“Minneapolis”, ele repete, mais uma pergunta para si mesmo


do que qualquer outra coisa. Seus olhos perdem o foco por alguns
segundos antes dele balançar a cabeça.

“O que está errado?” Eu pergunto, instantaneamente


preocupada.

“Nada.” Ele responde rapidamente, mas sua inflexão o


denuncia.

Ele realmente não sabia.

“Você não sabia sobre esta viagem?”

Balançando a cabeça, ele responde “Não. Deve ser algo que


seu pai o mandou fazer, eu acho.” Ele está confuso e está fazendo
um trabalho de merda em esconder.

Agora, tudo que quero fazer é ligar de volta para Kael e


perguntar sobre o que ele realmente está fazendo. Ele me disse que
iria trabalhar nos detalhes de um contrato para o Arsenal da
Guarda Nacional de Minnesota. Disse algo sobre o financiamento
do governo para demolir alguns prédios antigos em mau estado e
K.L. KREIG
reconstruir a infraestrutura. Achei a viagem estranha, já que ele
raramente viaja a trabalho, mas ele disse que havia complexidades
que eles precisavam resolver pessoalmente em vez de uma
teleconferência. Mas se fosse esse o caso, Killian saberia. Killian
está envolvido em todos os negócios da DSC, assim como Kael.

E ele claramente não sabe.

Eu decido lidar com Kael separadamente, não deixando


Killian saber que Kael obviamente manteve um segredo de nós
dois. A última coisa que preciso é que Killian se agarre a isso e use
como uma barreira entre nós, tornando um grande problema algo
que certamente tem uma explicação válida.

“Bem. Então, você ainda quer entregar isso?” Aponto para os


papéis que ele está mantendo como reféns.

Aquele maldito sorriso volta. “Você está tentando me


apressar para fora daqui, Pequena?”

Meus ombros, sobrancelhas e os cantos da minha boca se


erguem ao mesmo tempo. “Pega.”

Quando ele ri, não posso deixar de me juntar a ele. A tensão


que estava aumentando fracassa. Na maioria das vezes. Decido
que sempre haverá um pouco de desconforto entre nós. Por causa
do que uma vez foi e não é mais ou poderá ser novamente.

“Tem uma cerveja?”

Eu fico tensa. Ele percebe.

“É só uma cerveja, Maverick. Só uma cerveja.”

Eu fico indecisa. Tê-lo aqui quando Kael não está, não é uma
boa ideia. Não agora. Provavelmente nunca. Mas, por outro lado, é
estúpido pensar que nunca teremos momentos em nossa vida em
que não estaremos sozinhos. Precisamos começar a lidar com
isso. Amadurecidos. Sem tentação de pecar.

Portanto, este é um teste ― um que pretendo passar.


K.L. KREIG
“Ok.” Pego dois Michelob Ultras da geladeira e entrego um a
ele, com cuidado para soltar a garrafa antes que seus dedos
tenham a chance de tocar nos meus. Na minha pressa, quase cai
no chão, mas Killian o pega a tempo. Ele sorri, sabendo exatamente
o que eu fiz. Mais uma vez, dou de ombros e sorrio de volta.

“Posso me sentar ou preciso beber e ir embora?” Ele


pergunta provocativamente.

“Depende de quão sedento você está”, brinco suavemente.

Ele não se senta. Em vez disso, ele abre a tampa e leva a


garrafa aos lábios, dando um longo gole. Ele me observa enquanto
faz isso e tento me forçar a não notar como sua garganta funciona
quando ele engole. Ou como estou ficando quente de repente. Eu
tomo minha própria bebida, apenas um gole, quebrando o contato
visual antes que eu não consiga.

“São o que eu acho que são?” Seu olhar se desviou para o


balcão onde um prato de biscoitos de nozes de macadâmia está. É
o favorito de Kael. Killian também.

“Sim senhor.”

Seus olhos brilham. Merda. Escolha de palavras


ruins. Claramente sou péssima em testes.

Preparando-me, faço uma nota mental enquanto me viro


para agarrar o prato, para evitar dizer isso novamente para
ele. Mantendo meus olhos grudados em sua garrafa de cerveja,
entrego os biscoitos, que ele pega silenciosamente. Ele coloca o
prato na mesa da cozinha antes de pegar um.

Nenhum de nós fala. Parece ter passado alguns minutos,


mas provavelmente são apenas alguns segundos. Killian quebra o
silêncio com: “Será sempre tão estranho entre nós?”

Renúncia.
K.L. KREIG
Eu ouvi isso. Está fraco, mas está lá. É a primeira vez que
ele reconhece que terminamos e, embora eu saiba disso, mesmo
que queira na maioria dos dias, dói mais do que pensei que faria.

“Espero que não”, consigo dizer.

“Eu odeio isso.”

“Eu também.”

Killian prende o biscoito entre os dentes e sai da cozinha. Eu


acho que talvez ele esteja saindo sem se despedir, mas ele segue
seu caminho através da sala de estar até a grande janela que dá
para o quintal e a varanda ao redor.

Enquanto ele está ali desfrutando de sua guloseima, não


consigo deixar de lembrar que fantasiei sobre esse exato momento
quando comprei esta casa. Quando vi aquele assento na janela
onde o sol da manhã entrava e proporcionava privacidade quase
completa aos nossos vizinhos, imaginei Killian lendo para mim
ali. Fazendo amor comigo. Criando nosso primeiro bebê em cima
daquelas almofadas grossas.

Isso não vai acontecer, no entanto. No fundo da minha alma,


eu sabia que isso não aconteceria quando comprei esta casa para
começar. Killian já era casado com Jilly na época. Eu sinto que
envelheci uma vida no um ano e meio desde que entrei pela
primeira vez por aquela porta da frente. E ver Killian lá agora me
faz perceber o quão longe eu realmente cheguei nos últimos meses,
porque em vez de desejar que ele fosse o único a realizar minhas
fantasias, agora acho que quero que Kael o faça.

Faço outra anotação mental. Fazer Kael me foder naquele


exato local que Killian está agora de pé. Eu preciso apagá-lo de
cada parte de mim, incluindo meus sonhos desvanecendo.

“Você se lembra da noite em que te encontrei com Robbie


Reams?”
K.L. KREIG
Que diabos? “Como eu poderia esquecer?” Na verdade, eu
não poderia. Não esqueci. Eu estava simplesmente pensando nela
em menos de uma hora atrás.

“Eu queria matá-lo”, ele continua, ainda olhando pela


janela. “Por ter a porra da boca dele em você. Por tocar o que era
meu.”

“Eu não era sua.” Odeio o fato de que minha voz falha. “Você
até disse isso naquela noite. Eu era ‘muito jovem’, lembra?”

Ele olha para mim então. Olha em mim. Bem no fundo, onde
não posso esconder os sentimentos por ele que tentei em vão
esconder. “Você era muito jovem. Sempre muito jovem.”

Minha boca se abre. “Acho que somos uma tragédia


romântica clássica.” Parece que estou menosprezando o que
tínhamos. Não estou, mas não sei mais o que dizer. Cada palavra
era verdadeira. Eu lambo meus lábios. Seu olhar segue. “Killian”,
respiro, de repente desconfortável por estarmos sozinhos. “Isso não
tem sentido. O que está feito está feito.”

Ele vira seu corpo em minha direção, mas não se


aproxima. O biscoito acabou. A cerveja também. Como se estivesse
se preparando para a batalha, ele se levanta em toda a sua altura
e me pergunta “E se não foi feito, Maverick? E se tudo isso”, ele
acena com a mão ao redor da sala, “pudesse ser desfeito?”

Estou cansada. Tão malditamente cansada dessas idas e


vindas. Isso está me deixando tonta e com náuseas. Meus joelhos
cedem e eu descanso minha bunda contra o encosto do sofá. Eu
olho para o chão, estudando a madeira gasta sob meus pés
descalços. É original. Quase cem anos. Desgastado, mas em bom
estado. Precisa ser restaurada, no entanto. Vou falar com Kael
sobre isso quando ele chegar em casa. Eu deveria ter feito isso
antes de me mudar, mas estava ansiosa demais para escapar do
controle de meu pai.

“Maverick, olhe para mim.”


K.L. KREIG
Eu me recuso a obedecer. Não dessa vez. Eu deveria ter me
recusado a deixá-lo entrar. Recusado a cerveja. Dizer a ele para
levar a porra do biscoito. Droga. “E se eu não quiser que seja
desfeito?” Pergunto sem olhar para ele. Se, neste exato instante, eu
recebesse um desejo, eu o usaria nisso? Voltaria e faria Killian
meu, apagando todo o sofrimento que ambos passamos? Eu
escolheria deixar o que construí com Kael para ser dele? Três
meses atrás, teria dito sim. Inequivocamente. Agora,
entretanto? Essa resposta é um pouco obscura.

“Você não quer dizer isso.”

Meus olhos se fixam nos dele. “Por que você se casou com
Jillian? E sem besteira desta vez. Tudo o que você já me deu são
respostas idiotas. Quero uma de verdade. A verdade. Você a
ama? Você sempre a amou? O que tínhamos era mesmo real?”

Um olhar zombeteiro toma conta de seu rosto. Sempre que


perguntei isso antes, ele permaneceu completamente
impassível. Como um pedaço de mármore entalhado. Agora,
porém, ele está realmente deixando a emoção vazar.

“Nunca tive nada mais real do que o que tive com você. Você
é tão real quanto possível, Maverick.”

“Então por que?” Eu imploro. “Por que você me


deixou? Por ela, de todas as pessoas?” Me mataria vê-lo andando
por aí com outra pessoa ― qualquer outra pessoa ― mas eu preferia
ter arrancado meu próprio braço do que vê-lo com ela.

Ele se move para se sentar. “Não” grito. “Não sente. Não


fique confortável. Não faça nada, exceto responder. A porra. Da
pergunta.”

“Qual?” Sua boca se contrai.

Ele quer uma saída. Bem, ele não vai ter. Ele teve mais de
dois anos e meio de eliminações. “Todas elas.” Ele não vai
responder. Como todas as vezes anteriores. Já vejo isso em seus
olhos.
K.L. KREIG
Ele pega o pacote que deixou cair sobre a lareira. O pacote
enruga um pouco quando ele aperta o punho. “Nem tudo é o que
parece, Maverick.”

Mais merda simbólica. Levanto, estou farta dele. “Você


precisa ir, Shep.”

Olhos duros queimam em mim. “Quero dizer. Você acha que


quer respostas, mas às vezes, é a verdade que destrói, Pequena,
não as mentiras. Tentei protegê-la minha vida inteira e isso...
lamento não poder protegê-la disso.”

“Isso é uma mentira. Você me guiou em toda a minha


vida. Me manteve pendurada em seu anzol enquanto você fodia
outras mulheres, incluindo minha irmã. Você disse que tinha
acabado com meu pai, mas voltou da Flórida como um homem
noivo e dois degraus acima na escada. Jesus, quão ingênua eu fui
para não saber exatamente o que você estava fazendo? Você não
conseguiu o que queria comigo porque meu pai não aprovaria,
então você mudou para a filha que poderia.”

Sua mandíbula se contrai, junto com cada músculo do seu


corpo. “Você está absolutamente errada.”

“Diga-me que você não estava fodendo Jilly e eu ao mesmo


tempo?”

“Maverick…”

Sim... foi o que pensei.

“Diga que estou errada”, exijo, sentindo meu rosto corar de


humilhação. “Fale. Eu. Estou. Errada.”

Sua cabeça baixa. Ele está respirando com dificuldade


agora. Meu peito dói. Eu quero chorar.

“Vá. Por favor. E não faça isso de novo. Eu não posso mais
fazer isso. Se comigo foi real, como você afirma que foi, então você
me deixará ir.” Assim como estou fazendo com você.
K.L. KREIG
Nossos olhos se encontram e meus joelhos enfraquecem com
a dor que estou testemunhando bem diante de mim, mas eu não
posso... simplesmente não posso. Estou além do meu ponto de
ruptura. Verdade seja dita, já estou quebrada. Eu preciso de
alguém para me recompor, não me rasgar em pedaços
irreconhecíveis.

“Por favor”, eu imploro, meus olhos se enchendo de


lágrimas. Os dele também. “Por mim, Killian.”

Ele engole, longo e forte. Se o nó na garganta dele for


parecido com o meu, eu entendo. Quando ele passa, agarra minha
mão, me dizendo suavemente contra minha bochecha: “Ele nunca
vai te amar como eu.”

Seus lábios encostam na minha pele. Eles são quentes,


macios. Eles demoram. Uma lágrima corre pelo meu rosto. Sinto
outra e acho que pode ser dele. Ele me solta e continua em direção
à porta da frente.

“Você está errado”, digo dolorosamente para suas costas


recuando. “Ele me ama mais do que a si mesmo. Eu gostaria de
poder dizer a mesma coisa de você.”

Foi doloroso. Era para ser. Eu machuquei. Ele precisa se


machucar também.

Ele para. Permanece congelado por vários longos


momentos. Seus ombros caem, mas ele não se vira. Ele não
contesta nem nega. Não tenho certeza de como me sinto sobre
isso. Então ele sai. A porta bate suavemente atrás dele e não
importa que sejam apenas oito e meia. Subo as escadas, tiro
minhas roupas e me arrasto para a cama, com lágrimas escorrendo
pelo rosto, com o meu nariz entupido.

A corda que ele amarrou em mim está se desfazendo, fio após


fio se desfaz. Eu os ouço desamarrando, cada vez mais rápido
agora. Sinto a picada da mordida de cada uma contra minha pele
tenra enquanto se separam.
K.L. KREIG
Amanhã, cortarei outra. Amanhã, vou queimar essa porra de
caixa. Amanhã, vou queimar ainda mais memórias, fingindo que
não existem. Amanhã, vou deixar outra parte preciosa dele ir.

Esta noite, porém... esta noite vou me permitir chorar.


K.L. KREIG
CAPÍTULO TREZE
Maverick

Nove meses e uma semana atrás

Sinto olhos gananciosos em mim do outro lado da sala


lotada. Seu olhar queima em mim, me deixando quente e
carente. Eu me posiciono contra a parede mais próxima, cruzo
meus pés e vejo meu marido. A maneira flagrante como ele está
devorando minhas curvas é inebriante. Meu sangue já vibra
intensamente com o álcool. Agora zumbe para nada além dele. Sua
boca levanta em ambos os lados, o sorriso conhecedor fazendo seus
olhos dourados brilharem.

“Eu quero você”, murmura.

“Você pode me ter”, murmuro de volta.

“Jesus Cristo, por que você não está fodendo os miolos dele
em algum lugar?” MaryLou fala lentamente enquanto se acomoda
ao meu lado. “Ele está me deixando com tesão olhando para você
assim.”

Levo meu coquetel aos lábios, tomando um gole


generoso. “Se dependesse de mim, teríamos ficado em casa e
K.L. KREIG
assistido à maratona de Halloween na TNT como sempre
fazemos. Mas Kael queria vir.”

Esta noite é a festa anual de Halloween organizada por Jared


e Marta McQueen. Kael é um dos amigos mais próximos de Jared,
bem como seu advogado pessoal. E Jared é uma das poucas
pessoas na cidade que não trabalha para Richard DeSoto. Isso
porque ele tem 29 anos, os McQueen também são um dos poucos
que não precisam do dinheiro dele.

Jared possui pouco mais de dez mil acres de terras agrícolas,


que ele herdou na tenra idade de dezenove anos, depois que seus
pais morreram em um acidente de avião de dois lugares. Ele é o
dono de tudo. Sem empréstimos. Sem ônus. Sem conglomerados
corporativos. E com o valor atual de US $ 13.000 por acre, isso o
torna o agricultor independente mais rico de toda
Iowa. Provavelmente do meio-oeste.

Mas, além da nova casa de dois mil metros quadrados que


estamos comemorando este ano, os McQueen são pessoas pé-no-
chão. Jared ainda dirige a caminhonete da fazenda de seu pai: uma
bela norte-americana verde-hortelã 1979 que ele deu o nome de
sua irmã Gayle, que também morreu muito jovem aos onze
anos. Ela se afogou em apenas trinta centímetros de água quando
mergulhou em um lago raso e quebrou o pescoço. Foi
horrível. Gayle era apenas dois anos mais nova que eu na época
em que morreu.

“Obrigada pela semana passada”, digo, sabendo que ela


entende o que estou falando.

MaryLou se estica e pega minha mão na dela. Ela dá um


aperto reconfortante. “Por nada.”

Ela ficou ao meu lado, sem julgar como de costume,


enquanto eu olhava para o barril em chamas em seu quintal e me
acovardava. Cada vez que tentava destruir o passado, era atingida
por um ataque de ansiedade. Meu relacionamento com Killian pode
ter terminado, mas eu simplesmente não conseguia fazer
K.L. KREIG
isso. Ainda não. Ainda há muitas boas lembranças que não estou
pronta para abandonar. Tenho que acreditar que um dia essas
superarão as ruins.

Foi outra decisão errada? Eu não sei. Não posso nem dizer
mais.

“Você perguntou a Kael sobre Minneapolis?”

“Não”, digo distraidamente. A atenção de Kael foi desviada


de mim por Vanessa Hammer, que está vestida esta noite com uma
fantasia de coelhinha da Playboy. Orelhas, cauda e decote
profundo que exibem seus bens e gritam que sou uma vagabunda
de merda. Eu tinha ouvido histórias sobre ela e Kael
namorando. Quando perguntei para Kael, sua sobrancelha se
ergueu e ele perguntou se estávamos realmente abrindo essa
discussão. “Reviravolta é um jogo justo, Swan,” ele disse
sombriamente. Eu mudei de assunto imediatamente.

Em todos esses anos, nunca tive ciúme de outra mulher


quando se trata de Kael. Posso não ter gostado de todas, mas
nunca foi ciúme.

Até este exato segundo.

Hã.

Como se sentisse o que estou pensando, MaryLou anuncia


em voz alta para que qualquer pessoa nas proximidades possa
ouvir: “Ouvi dizer que ela teve um trabalho malfeito nos seios no
mês passado. Olhe para a direita e para a esquerda.”

“MaryLou”, repreendo, afastando-me de Vanessa Hammer


com medo de que ela agora esteja nos encarando.

“Oh pare com isso.”

Ela empurra meu rosto de volta para Kael e Vanessa,


segurando-o lá. A atenção de Vanessa ainda está totalmente focada
em Kael. Eu mordo de volta a necessidade de espreitar até lá e
reivindicar meu marido, embora eu não tenha certeza do porquê.
K.L. KREIG
“Viu?” Ela sussurra em meu ouvido. Empurrando o ciúme,
eu me concentro em seu peito. Eu me sinto estranha bebendo nos
seios de outra mulher, mas quanto mais meus olhos vão e voltam,
mais claro fica.

“Meu Deus. Eu vi.”

“Ok, agora que acabamos com isso, por que você não
perguntou a ele?”

“Perguntei o quê?” Falo distraidamente, totalmente


preocupada com a esfera esquerda disforme em que meus olhos
estão agora colados. Eu inclino minha cabeça, tentando dar uma
olhada melhor. Pobre Vanessa Hammer. Agora eu entendo
totalmente seu dilema. Desvie do óbvio. Seu decote é fantástico,
mas olhe um pouco mais para baixo e... droga. Mesmo o sutiã
acolchoado que ela está usando não consegue suavizar essa
merda.

“Kael”, ela responde impacientemente. “E pare de


olhar. Jesus.”

“Foi você quem me disse para olhar.” Minha voz é um


sussurro baixo.

“Eu disse olhar, não encarar. Agora, pela terceira vez... por
que você não perguntou a Kael sobre Minneapolis?”

Eu finalmente tiro minha atenção dos seios de Vanessa, que


parecem um experimento científico que deu terrivelmente errado,
e viro para MaryLou.

Quando cheguei em casa no outro dia, pretendia perguntar


a Kael sobre sua viagem, mas ele me distraiu por estar
esparramado em nossa escada de madeira. Ele estava casualmente
se apoiando nos cotovelos. Pés empoleirados dois degraus
abaixo. Pernas relaxadas para os lados.

E ele estava animado. Pronto. Nu. A fantasia de cada garota


ganhou vida, bem ali.
K.L. KREIG
Um sorriso arrogante abriu seus lábios enquanto ele me
chamava com o dedo indicador. O que uma garota pode fazer a não
ser tirar vantagem dessa situação? Meus joelhos ainda têm
hematomas leves de quão forte eu o montei ali mesmo, naquele
local exato. Em seguida, ele bateu ovos mexidos e bacon para nós
e me alimentou na cama. Tudo estava tão perfeito, eu não queria
estragar o momento. Mencionar Killian teria fodido tudo.

“Eu decidi não perguntar.”

“O que? Por que não?”

Respiro profundamente. Como responder isso? MaryLou


sabe o quanto fiquei chateada com isso. “Porque sim. Senão terei
que dizer a ele que Killian veio e não sei como ele vai reagir.”

“Mas nada aconteceu.” Ela me imobiliza com força,


estreitando os olhos. “Aconteceu?”

“Não”, respondo rapidamente. “Nada aconteceu.” Eu não


contei a ela sobre as observações ambíguas de Killian. “Além disso,
eu confio em Kael. Se ele disse que tinha uma reunião de negócios,
ele teve. Se eu começar a fazer vinte perguntas como uma esposa
paranoica, vai parecer que não confio nele e ele é a única pessoa
em quem confio cem por cento.”

“Ai”, ela brinca, batendo seu ombro contra o meu.

“Você sabe o que quero dizer, ML.”

“Eu sei. Estou feliz. Vocês chegaram muito longe em um


curto período. Você está realmente se apaixonando por ele, não
está?”

Encontro Kael novamente. Ele agora está cercado por três


caras, rindo com a cabeça jogada para trás, uma cerveja pela
metade na mão. Ele está magnífico, mesmo usando aquele jeans
ridículo e correntes de ouro. A camiseta branca lisa que é dois
tamanhos menores que se estende por seus músculos fortes, a
K.L. KREIG
maneira certa de explorar seu tom e definição. Ele sempre se
parece bem. Minha boca enche de água.

A cada dia que passa, eu percebo o que sempre tive bem na


minha frente, e apesar dos sentimentos confusos por Killian ainda
chacoalhando, eu me apaixono por Kael mais e mais.

“Eu estou”, digo a ela em voz baixa.

“Sabe, eu me lembro quando ele veio atacando o Peppy's


naquela noite. Eu soube então que você estava em apuros.”

Sorrio. “Você quer dizer a noite em que ele me agarrou e me


beijou na frente de todos?” Na mesma noite ele exigiu que eu fosse
a um encontro com ele.

“Essa mesmo”, ela diz, com sua voz leve.

Eu caio de volta nessa memória e sorrio.

Ian passa um dedo pelo meu braço. Seu rosto está tão perto
do meu que posso ver cada mancha negra em seus olhos
cristalinos. Sempre que ele fala, o cheiro do seu uísque azedo flutua
entre nós.

“Então... talvez você e eu pudéssemos...”

Um barulho alto batendo na frente do bar interrompe a


proposta de Ian. Por cima do ombro, noto um Kael ardente
examinando o lugar. Meus ombros ficam retos quando ele se
concentra em mim. Seu olhar perturbado continua voltando para Ian
Summerfield, que esteve flertando comigo a noite toda.

Kael odeia Ian. Ian sente o mesmo. Eu realmente não gosto do


Ian. Não dessa forma, pelo menos. Eu o beijei uma vez quando tinha
quinze anos. Era desleixado e ele usava os dentes de maneiras que
eram o oposto de sexy. Mas eu tinha esperança de testar se o tempo
e a experiência mudaram isso. Tem sido bom receber atenção de um
K.L. KREIG
homem que claramente me quer. Aquele que está disponível. Um que
não esteja casado com minha irmã.

Eu vejo Kael me observando, seu ritmo acelerando. Quanto


mais perto ele chega, mais eu vejo. Mal controla a fúria. Então ele
está na minha frente, o peito arfando em respirações rápidas. Seus
lábios geralmente cheios estão pressionados em uma linha fina e
semelhante a uma corda. Olhos que normalmente me lembram um
copo de uísque convidativo ou caramelos que endureceram após
passar muito tempo no micro-ondas.

“Saia.” Ele lança seu comando para Ian sem ao menos um


olhar cortês.

Ooohh... ele está louco.

Quem diabos o chamou, afinal? Dá para ver seu mau humor


há dezesseis quilômetros da estrada em Hudson.

Ian resmunga alguma coisa, mas aparentemente decide que


não valho a pena apanhar por um urso raivoso quase duas vezes
seu tamanho. Tanto faz. Posso encontrar outra pessoa para
acariciar meu ego ferido. Preciso de muito carinho agora. De
preferência entre as pernas.

“O que você está fazendo aqui, Kael?” Tento gritar sobre o som
de ‘Just A Little Bit’ de 50 Cent, mas acho que minhas palavras se
misturam. ‘Só um pouco’. Sorrio da minha própria piada, que só eu
ouvi. Sorrio tanto que começo a escorregar da banqueta. É uma
porra escorregadia.

“Você faz meu nome soar como um palavrão”, ele responde,


agarrando meu cotovelo em seu aperto inflexível para me firmar. Não
tenho ideia de porque ele está tão chateado. Uma garota pode se
embebedar e ficar em paz, não é?

“Quem chamou você?” Tento sair do aperto de Kael, com a


intenção de pedir outro drink de Jack e Coca. Eu me afasto com
tanta força que quase caio de novo, mas seus reflexos felinos
reaparecem e ele me estabiliza mais uma vez.
K.L. KREIG
Eu olho para cima para vê-lo me encarando. “Por que você
está aqui?” Exijo, agarrando a barra pegajosa do bar como uma
tábua de salvação. “Não estou pronta para ir.”

“Estou aqui porque você precisa de mim. E, sim” ― ele puxa


minha mão da madeira surrada ― “você está pronta.”

“Acho que sei quando estou pronta e não estou...”

Acontece tão rápido que nem vejo. Em retrospecto, essa


provavelmente era sua intenção. Fico atordoada em silêncio quando,
bem ali no meio do bar, no meio da cidade, na frente de dezenas de
pessoas que nós dois conhecemos, ele coloca a palma da mão na
minha nuca e coloca sua boca na minha.

Este não é o beijo de um melhor amigo. Não é calmo e


doce. Não sugere nem remotamente ser platônico. É um beijo de
posse e desejo. É uma necessidade crua e não adulterada. E eu
quero ser desejada. Eu preciso ser o ar que alguém respira. Mesmo
que esteja contaminado com todos os tipos de erros.

Quando suspiro, Kael mergulha sua língua dentro. Está


procurando e acha com certeza. Ele duela comigo. Eu luto para ver
o que ele fará. Ele responde apertando o punho no meu cabelo e
gemendo. É inesperado, mas tão sexy que meus dedos afundam em
sua jaqueta e eu o puxo para mais perto, engolindo avidamente seus
ruídos eróticos. Sua mão viaja para a parte inferior das minhas
costas e quando me pressiona contra ele, sinto a dureza entre suas
coxas aumentar.

Muito cedo, seus lábios se vão, mas eu sinto o peso de sua


respiração soprando em meu rosto com cada expiração forte. Assim
como estou fazendo. “Você está pronta agora, Swan?” Ele acaricia
meus lábios trêmulos. Ou talvez sejam os dele que estão
tremendo. É difícil dizer. Meus olhos estão fechados quando eu
aceno um sim. “Bom.”

Ele enfia meus braços em meu casaco de inverno e o fecha até


meu queixo. Juntando nossos dedos, ele me leva para fora. A noite
K.L. KREIG
fria de janeiro suga meu oxigênio, mas Kael não percebe minha falta
de ar, nem diminui a velocidade enquanto me arrasta atrás dele
para seu Ford F-150 preto.

Depois que ele me acomoda, o cascalho gira enquanto ele


deixa Peppy's para trás em sua poeira irracional. Ele mantém os
olhos na estrada. Sua mandíbula flexiona e relaxa. Ele está
louco? Com remorso? Deus... ele está excitado?

Eu sento aqui, quieta. Minha mente bêbada cambaleando. Eu


quero dizer alguma coisa. Sobre o beijo. Sobre a maneira como está
agindo, como se eu tivesse magoado ele ou algo assim. Sei que Kael
tem sentimentos por mim. Sei que vão além da amizade. Mas em
todos os anos que o conheço, ele nunca cruzou a linha de sugerir que
somos algo diferente do que somos ― não depois que no meu baile
de formatura, eu disse a ele que nunca seríamos nada além de
amigos porque eu estava apaixonada por outra pessoa.

Na viagem interminável de dez minutos, a tensão é


grande. Então fico inquieta. Eu limpo o lixo da minha bolsa. Passo
um protetor labial ChapStick de cereja. Conto meu troco. Organizo
meu dinheiro, certificando-me de que todos os presidentes fiquem do
mesmo jeito e que as notas vão de um para vinte.

Eu faço tudo ao meu alcance para não olhar para o meu


melhor amigo que estava apenas enfiando sua língua na minha
boca. Mas também não consigo parar de pensar na sensação de
seus lábios nos meus. Eles ainda formigam um pouco. Eu coloco
meu cotovelo contra a janela e despreocupadamente descanso um
dedo contra meus lábios, tentando fazer a sensação parar.

Finalmente paramos do lado de fora da casa que comprei no


verão passado. A mesma que Kael veio para me ajudar a
consertar. Ele pintou. Quebrou o piso e colocou um novo no chão. Ele
substituiu toda a parede da cozinha para torná-la mais
moderna. Então, depois de um longo dia de suor e às vezes um
pouco de sangue (dele) e lágrimas (minhas), ficamos na frente da TV,
K.L. KREIG
pedimos comida chinesa e adormecemos em um mar de cobertores
e travesseiros, como nos velhos tempos.

Sem uma palavra, Kael deixa o veículo ligado, mas eu ouço a


demanda silenciosa para ficar parada enquanto ele sai e corre pela
frente. Ele abre a porta, estende a mão, que eu pego, e me ajuda a
descer.

Ele ainda não olha para mim. Eu quero que olhe?

Não gosto desse constrangimento agora entre nós. Não quero


que nada mude entre nós. Pretendo dizer a ele para esquecer o que
aconteceu e que também esquecerei.

Ele dá alguns passos comigo até a porta da frente, pega


minha bolsa e tira as chaves. Ele empurra a da casa na fechadura
e se vira. Destranca, mas não abre a porta. Em vez disso, ele gira
para mim.

“Kael...” Pare. Seja o que for, por favor, pare.

Ele me olha direto nos olhos. “Eu quero você, Maverick


DeSoto.”

“Kael”, tento dizer com mais força desta vez. “O que acabou
de acontecer foi...”

“Não foi um erro. E se você dizer isso, vou


enlouquecer. Apenas ouça.” Quando ele vê que vou ficar quieta,
continua. “Eu quero você. Estou doente e cansado de fingir que
não. E senti você corresponder. Agora mesmo. Com nossas
respirações se misturando e seu gemido em meus lábios. Eu senti
isso.” Ele bate no peito com o dedo indicador três vezes para pontuar
as últimas três palavras.

Eu também senti algo. Não tenho certeza do que foi, mas sei
o que nunca pode ser. Não importa se eu deveria estar ou não, ainda
estou apaixonada por seu irmão.

“Estou bêbada”, anuncio como se ele não soubesse.


K.L. KREIG
Metade de sua boca se levanta. É adorável. E muito
sexy. Pare com isso, Mavs. Ele é seu melhor
amigo. “Sim. Está. Mas, mesmo bêbada, você não pode fingir o que
acabamos de sentir.”

“Kael”, digo. Como se dizer apenas o nome dele várias vezes


fosse suficiente para transmitir minha mensagem. Ou evitar que
meus pensamentos se desviem perigosamente.

Agarrando meu rosto entre suas mãos congeladas, o espaço


entre nós desaparece em um instante. Agora estamos nos tocando,
muito perto um do outro. Ele acaricia meu lábio inferior. Está úmido
do protetor labial que apliquei há alguns minutos. Seus olhos
rastreiam seus movimentos, que agora são quase hipnóticos. Sua
próxima declaração é rouca, áspera e envia a vibração de milhares
de borboletas pela minha barriga.

“Eu quero beijar esses lábios, Maverick. E não o beijo de um


amigo de uma garota há quase trinta anos. Mas como amante. Eu
quero morder, chupar, possuir e devorar. Sempre que eu
quiser. Como quiser.”

Eu não quero isso... quero? Qual seria a sensação de ser


totalmente propriedade do meu melhor amigo? Minha cabeça está
tão cheia de confusão no momento, não tenho certeza, mas a palavra
convidativa se arrasta nas bordas.

Os lábios de Kael caem na minha testa como fizeram


inúmeras vezes antes. Só que desta vez, sinto a sua fome
desencadeada. Como um homem sente por uma mulher.

Eu gemo. Ele geme também.

“Oh porra, Mavs. As coisas que quero fazer com você.”

“Que coisas?” Eu pergunto, morrendo de vontade de


saber. Sabendo que não deveria.

“Coisas perversas. E sujas. E pecaminosas. Porra, coisas tão


ruins que você vai implorar por mais.”
K.L. KREIG
“Kael.” Desta vez, seu nome é um apelo. Para quê, ainda, não
tenho certeza. Parar? Começar? Desacelerar? Eu não sei. Se eu
disser que sim, se der uma sugestão de sim, tudo entre nós
mudará. Tudo. Eu não aguento perdê-lo também. Não sobreviveria
perdendo os dois homens Shepard.

Um arrepio percorre todo o meu corpo. Seus braços se


apertam. “Saia comigo”, ele exige no meu ouvido.

Eu coloco minhas mãos sob seu casaco. Meu corpo se derrete


em seu calor.

“Nós saímos o tempo todo.” Meu nariz está escorrendo


agora. Eu fungo, nada feminino.

“Assim não. Eu quero te cortejar.”

Sorrio. Isso soa tão engraçado vindo da boca do garoto que eu


conhecia, que teve catapora na língua e nas partes íntimas. Mas
quando ele pressiona uma indicação da sua espessura em minha
barriga, eu paro. Desta vez, sufoco esse gemido.

“Eu... não acho que deveríamos”, rebato.

“Um encontro.” Eu não digo nada e ele exige novamente, “Um


encontro, Swan. Isso é tudo que estou pedindo.”

“Por quê? Porque agora? Depois de todo esse tempo?” Dói


quando engulo. Dói pensar. É meio doloroso ter esperança.

“Você não estava pronta.”

“E se eu não estiver pronta agora?”

“Você está, Mavs.”

Sua resposta é tão certa, tão confiante, que ele até conseguiu
me convencer. Ele coloca suas mãos debaixo da minha jaqueta. Seu
toque é bom. Bom demais. Tão errado.

“Ok”, digo por fim.

Seus músculos enrijecem. “Sim?”


K.L. KREIG
Eu aceno, meu nariz esfregando contra o seu casaco. Deixo
um pouco de meleca para trás. Então meu rosto está mais uma vez
em suas mãos. Seus lábios são como fantasmas nos meus desta
vez. Há paixão contida, mas promessa sem reservas. Isso é
bom. Talvez mais do que bom. Eu quero mais, eu acho.

“Sábado à noite”, ele grita por cima do ombro enquanto corre


para o carro como um adolescente.

“É uma semana inteira de espera” eu gemo, meio que só


querendo acabar logo com esse encontro. Tenho certeza que será
como todas as outras vezes que saímos e ele verá que seus
sentimentos por mim não são realmente o que ele pensa que são. E
vou me convencer de que os redemoinhos em meu estômago são dos
cinco coquetéis que tomei e não do desejo que desfrutei. Então,
poderemos voltar a ser apenas nós.

“Eu preciso de tempo para planejar, Swan.”

“Planejar o quê?” Eu grito. Ele agora está em seu carro e seu


sorriso é contagiante.

“Você verá”, ele murmura.

Nós fomos naquele encontro. Em seguida, outro depois


disso. E outro e outro até que quase não passamos algum tempo
separados, o que não era muito diferente de antes, exceto que Kael
Shepard me ‘cortejou’ como nada que eu já experimentei antes. E
eu caí nessa. Talvez eu sempre tenha sentido mais por ele do que
imaginava. Estava apenas enterrado sob a capa impenetrável de
outro homem.

De repente, me lembro de algo sobre aquela primeira noite


em que nossa amizade mudou. Algo que esqueci
completamente. Achei que tivesse visto MaryLou por cima do
ombro de Ian uma vez, mas quando olhei de novo, ela não estava
K.L. KREIG
lá. Achei que fosse uma invenção da minha imaginação confusa,
mas agora...

“Foi você, não foi?”

“Eu o que?”

“Não se faça de boba comigo, MaryLou Colinda James.” Ela


detesta seu nome do meio. Cospe fogo quando eu o uso. “Foi você
quem ligou para Kael naquela noite que eu estava no Peppy's com
Ian, não foi?”

Ela se endireita e se inclina até nossos narizes se


beijarem. Há chamas em seus olhos verde. As chamas me atacam
quando ela responde sem se arrepender, “Você está certa, porra.”

Colocando a mão entre nós, eu a coloco contra seu peito e


empurro. “Por que você faria isso?”

“Você está brincando comigo, Maverick? Você estava se


autodestruindo. Definhando por um homem que jogou você fora
como lixo quando Kael sempre ficava de lado admirando você pelo
tesouro que você é.”

Estou atordoada. Eu me sinto enganada. E talvez um pouco


grata. Ainda estou confusa com essas emoções conflitantes, sem
decidir qual delas escolho para seguir adiante.

“Oh merda”, murmuro, dando um passo para trás.

Seu olhar segue o meu e MaryLou solta uma série de


palavrões que envergonharia uma freira. “O que eles estão fazendo
aqui?”

E esta era outra razão pela qual eu não queria vir esta
noite. Era uma vez, Jilly e Marta McQueen eram melhores
amigas. Então elas tiveram uma briga. Ninguém vai dizer por quê,
mas o boato era que Marta não aprovava o que ela fez debaixo do
meu nariz com Killian. Eu as vi pela cidade algumas vezes
ultimamente, então eu estava me perguntando se consertaram as
coisas. Acho que o fato dela estar aqui responde a isso.
K.L. KREIG
Jilly para pra falar com Marta, beijando-a nas duas
bochechas como se ela tivesse crescido europeia ou algo assim,
enquanto Killian se aproxima para pegar uma cerveja na
geladeira. Ele fica ao lado, sozinho, verificando os foliões.

Eu vejo o minuto em que ele localiza Kael porque tudo sobre


ele muda. Sua postura. Seu comportamento. A cara dele. Ele
começa a procurar o lugar por mim. Quando seu olhar finalmente
alcança o meu, ele parece... momentaneamente feliz. Mas então
sua boca se abaixa e ele se inclina contra a porta que estava
segurando. Ele leva a lata aos lábios, mas nunca desvia o olhar de
mim.

“Foda-se essa merda”, MaryLou balbucia, antes de gritar:


“Ei, Larry, Kael!” Nossos maridos ouvem sua voz estrondosa,
mesmo acima do zumbido da confusão, e quando suas cabeças se
voltam para nós, ela segue com, “Hora da lápide brilhante!”

“Oh garota”, murmuro baixinho. A lápide brilhante é uma


tradição em Dusty Falls. Há uma pequena cidade a vinte e quatro
quilômetros de distância na Rodovia 169, que você perderia se
piscasse os olhos dirigindo por ela, chamada Saint Peters. Saint
Peters tem quatro casas antigas e uma pequena igreja católica ―
chamada, você adivinhou, Saint Peters ― onde frequentei o jardim
de infância até a segunda série. E na colina atrás da Basílica de
Saint Peters está um antigo cemitério com cerca de cem lotes. Em
uma noite sem nuvens, com a lua batendo perfeitamente, uma das
lápides realmente brilha na estrada. É assustador e lindo.

Eu sei exatamente o que MaryLou está fazendo... e eu a amo


por isso.

Por um segundo, acho que Kael vai protestar. Ele odeia


viagens bêbadas para lápides brilhantes, mas então ele avista
Jilly. Dois segundos depois, ele olha para Killian. Nos observando.

“Oh, inferno, sim. Estamos dentro”, ele grita. Antes que eu


perceba, ele está ao meu lado, espalmando minha nuca, lábios
tomando os meus em um beijo possessivo e cheio de fome. Larry
K.L. KREIG
pega outros dois casais, que é tudo o que cabe na minivan, e logo
estamos saindo, cada um segurando duas cervejas. Kael
cumprimenta Jared quando passamos. Dizemos nosso adeus. Kael
diz que podemos voltar mais tarde, mas nós dois sabemos que não
voltaremos.

“Não vou enfiar minha bunda nua nessa lápide”, Larry


anuncia enquanto caminhamos para a porta dos fundos.

“A porra do seu traseiro irá bater em Leila esta noite”, Kael


responde suavemente. Leila Goulding. 29 anos. Morreu em 1849.

“Aposto que Leila viu mais bundas do que meu


ginecologista”, MaryLou diz, passando o braço em volta do marido.

“Ela viu mais bolas, com certeza.” Larry bate na bunda de


MaryLou. “Eu juro que fico com formigamento por dias depois que
eles tocam aquele arenito em ruínas.”

“Talvez isso vá esquentar essas bolas.” Kael bufa uma risada


quando Larry o empurra de brincadeira no peito.

Rindo e brincando, todos nós saímos, deixando a festa


McQueen em pleno andamento para trás. E embora eu não olhe
para trás, não preciso. Sinto o peso do olhar de Killian. Está
carregado e abrasador.

E ainda assim, muito bem-vindo.


K.L. KREIG
K.L. KREIG
CAPÍTULO QUATORZE
Kael

Onze anos atrás

“Vá embora”, ela exige com os dentes cerrados.

“Não.” Eu poderia me importar menos se ela me quer aqui


ou não. Estou abandonando as aulas por ela. Ela precisa de
mim. E, como sempre, ela não vai admitir. Garota teimosa,
insistente. Jesus Cristo, ela simplesmente me irrita às vezes.

“Estou cansada, Kael.”

“Então eu vou deitar com você. Chega pra lá.”

Ela não se move. Cruza os braços e vira sua boquinha


inchada para baixo. Como se isso fosse fazer qualquer coisa,
menos me incendiar mais. Então eu me inclino, levanto-a contra
protestos e gentilmente a coloco a cerca de cinco centímetros, com
cuidado para não empurrá-la. Então me acomodo, puxando-a em
meus braços vazios.

Oh merda. Minha alma suspira longo e alto. Estou surpreso


que ela não tenha ouvido. Estou absolutamente derrotado por essa
coisa pequena, mas poderosa, que finalmente estou segurando de
novo. Este último ano na faculdade, longe dela, foi doloroso. As
K.L. KREIG
festas. As garotas. Os jogos. Eu não preciso de nada disso. Nem
quero. A única coisa que eu quero agora é ficar com uma pirralha
mimada enquanto ela agarra um punhado da minha camisa e
puxa.

“Ei”, grito, abrindo os dedos que ela agora firmemente torceu


no meu peito.

“Ei o que? Você é um bebê.”

Esfrego a dor no meu mamilo primeiro e entrelaço nossos


dedos para que ela não possa fazer isso de novo. “Deixe-me descer
e dar alguns puxões rápidos nos cabelos da sua buceta. Veja se
seus olhos não vão lacrimejar.”

“Kael.” Ela me bate. Dói, mas sorrio. “Isso é nojento.”

Jesus. Se ela acha isso nojento, ela não iria gostar de dar
uma olhada no que acontece dentro da minha mente suja. Com
seus seios empinados pressionados em meu peito e o calor de sua
buceta atualmente queimando meu jeans, ela é o epítome da
ignorância.

Eu e meu pau? Sim... tenho tido uma conversa franca com


ele desde que entrei neste quarto, a vi espalhada em sua cama em
um shortinho curto e uma regata quase
imperceptível. Branca. Transparente. Mesmo agora estou falando
com ele.

Ela se contorce contra mim. Eu gemo.

“Fique quieta” digo, estendendo a mão para parar a perna


que está rastejando perto demais do meu pau. Foda-se,
cara. Trabalhe comigo aqui.

“Por quê?” Ela inclina a cabeça para cima, aquela doce


inocência estampada nela. Ela não tem ideia.

Sem noção.

Tão sem noção, porra.


K.L. KREIG
“Achei que você estivesse cansada.”

“Eu estou”, ela responde de volta antes de fechar os olhos


prontamente.

Ela relaxa a mão sobre meu coração e finge dormir enquanto


eu finjo que não estou olhando diretamente para sua camisa
aberta. Porra. Eu vejo um pouco do marrom do mamilo. Minha
boca enche de água. Eu me forço a olhar para qualquer lugar,
menos lá, quando tudo que eu realmente quero fazer é tirá-la desta
camisa, passar a língua em seu pescoço e chupar esse mamilo
perfeito até que ela esteja se contorcendo debaixo de mim.

Há tantas coisas depravadas que quero fazer com seu corpo


fenomenal de quase dezesseis anos. Mas repito as palavras que
acabariam comigo e com meus planos futuros: menor de idade,
menor de idade, menor de idade.

No estado de Iowa, aos dezenove anos, eu poderia


tecnicamente ser acusado de estupro se ao menos encostar a porra
de um dedo impróprio nela antes do seu décimo sexto aniversário,
o que será em três semanas.

Mesmo assim, ela não me deixa tocá-la, no entanto. Ela não


pensa em mim dessa maneira. Nunca pensou. Ela tem uma
‘queda’ adolescente pelo meu irmão, enquanto eu fui oficialmente
nomeado de ‘amigo’. E isso dói mais do que qualquer cabelo
puxado em meu corpo. Inferno, eu mesmo os arrancaria, um por
um, se ela olhasse para mim do jeito que olha para Killian. A merda
disso é... Killian retorna alguns de seus sentimentos. Eu vejo a
maneira como ele olha para ela com o canto do olho quando acha
que ninguém está olhando. Terei uma vida inteira de tortura se
esses dois se unirem. Isso vai acabar comigo.

Mas nunca desistirei de lutar por ela. Sempre. Killian não


conhece Mavs como eu. Ele nunca conhecerá. Não sabe que ela
pula na cama trinta centímetros de distância depois de desligar a
luz. Ou que come feijão verde direto da lata, frio, não porque está
impaciente, mas porque gosta assim. Ou que ela tem uma pequena
K.L. KREIG
contração no olho direito quando está se preparando para vomitar
sua marca pessoal de sarcasmo.

Não. Ela é minha. É só uma questão de tempo. Ele não pode


tê-la.

Tentando o meu melhor nível para ignorar aquela pedra


negra dele que ela mantém em sua mesa de cabeceira, eu assisto
ao filme mudo na TV Land. Gilligan’s Island. Deus, como eu amo
as peculiaridades dessa garota. Programas antigos. Filmes
antigos. Música antiga. Roupas velhas. Ela é um clássico por
completo. Muito diferente de sua família esnobe.

“Como está a boca, Swan?”

“O que você acha?” ela diz, com os olhos ainda fechados.

“Eu acho que você precisa de mais analgésicos para conter


esse atrevimento. É isso que eu penso.”

Olhos brilhantes da cor de folhas de grama depois de uma


chuva forte se abrem e olham para mim. “Você não deveria ser mau
com um paciente após a cirurgia. Isso é contra as regras”, ela
retruca. Eu posso dizer que é difícil para ela falar.

“Você não fez cirurgia, Mavs. Você só teve dois dentes do siso
arrancados.”

“Bem, eles me deram anestesia e sempre que você recebe


anestesia, é tecnicamente considerada uma cirurgia.”

Eu não discuto. É inútil.

“O que eu posso fazer?”

“Nada”, diz ela humildemente. Eu empurro um pedaço


daquele cabelo chocolate espesso e brilhante que eu amo tanto
para trás da orelha. Seus olhos se fecham desta vez. Ela parece
feliz e em paz. Ela parece tão certa ao meu lado. Meu Deus, eu a
amo. Ela está amadurecendo e se tornando uma mulher linda.

“Com fome?”
K.L. KREIG
O ombro dela levanta. Isso quer dizer sim.

“Não poderei comer comida sólida por mais três dias”, ela
murmura.

A mandíbula da minha garota está inchada e começando a


amarelar em um lado onde ela claramente sente dor. Se pudesse
carregar toda a sua dor, eu faria. Em um piscar de olhos.

“Que bom que eu trouxe sua guloseima não sólida favorita,


então.”

Ela parece como se abriu uma caixa de surpresa, usando


minha barriga como alavanca. Praticamente tira todo o ar dos
meus pulmões. “Você não fez isso!”

Seus olhos brilham. Literalmente. Como poeira estelar ou


feixes de laser. E seu sorriso? Jesus. Faria qualquer homem são
fazer coisas estúpidas, insanas para mantê-lo lá. Ela parece tão
animada que eu quero beijá-la, colocar minha boca na dela, tirando
tudo que me segurei de tomar todos esses anos. Em vez disso,
coloco a mão sob a cabeça e sorrio. “Eu fiz.”

Ela pula de joelhos, seu ‘cansaço’ e ‘cirurgia’ quase


esquecidos. No momento, ela parece ter a mesma idade de quinze
anos, afirmando que não posso tocá-la por nada. Ela não está
pronta.

Mavs pula em cima de mim, jogando as mãos em cada lado


da minha cabeça. Ela agora está bem posicionada com sua buceta
escaldante a meros centímetros do meu pau que endurece
rapidamente.

Oh... porra.

Respire, pervertido. Apenas respire.

Então ela mergulha, seu nariz tocando o meu. “Cadê?” ela


cutuca de brincadeira. Ela começa a se mexer novamente. Eu não
aguento. Se ela mexer até mesmo a menor fração, não ficará sem
noção por muito mais tempo. Eu aperto minhas mãos em volta da
K.L. KREIG
cintura dela, tentando não imaginá-la nua... montando em mim...
aqueles seios incríveis saltando... cabeça jogada para trás em
êxtase... buceta apertada me sugando...

Santo Deus vivo, eu a quero.

“Freezer”, engasgo.

Eu nem mesmo disse a palavra toda antes de sua porta se


abrir e ela correr pelo corredor, descendo os degraus para a
cozinha. Tenho cerca de quarenta e cinco segundos antes que ela
volte. Uso esse tempo para repreender o adolescente indisciplinado
de jeans que se recusa a obedecer. Estou duro pra
caralho. Bastariam dois golpes e estarei gozando em seus lençóis
brancos imaculados.

Lentamente, eu inalo. Respire. Repito. Respiro


novamente. Uma terceira vez.

Sem efeito. Com cada respiração que inspiro, sinto o cheiro


dela. Ela está ao meu redor. Madressilva. Rosas. Tulipas. Eu não
tenho a porra da ideia de que tipo de flor ela cheira, mas eu sempre
associo isso a ela.

Eu me apoio contra a cabeceira da cama e jogo um


travesseiro no meu colo no mesmo segundo que Mavs entra de
volta. Felizmente inconsciente, ela se instala ao meu lado, me
entrega uma colher e liga a TV.

Comemos seu sorvete favorito ― bomba de morango, uma


mistura cremosa que contém Pop Rocks com cobertura de
chocolate ― em silêncio. Logo, nós dois estamos rindo de Mary Ann,
que está tentando cantar ‘I Wanna Be Loved by You’, mas continua
esquecendo a letra. Eu amo esse episódio. É aquele em que Mary
Ann bate com a cabeça e pensa que é Ginger.

Depois de um tempo, Mavs coloca a tigela de sorvete


derretido em sua mesa de cabeceira e coloca a cabeça no meu
ombro. “Obrigada, Kael.”
K.L. KREIG
“Pelo que, Swan?” Eu jogo meu braço ao redor dela e seguro
meu gemido quando ela se aconchega.

“Por ter vindo. Eu sei que você deveria estar na escola.”

“Se for uma escolha entre você e as Estatísticas, você sempre


ganha.”

Ela estica o pescoço, olhando para mim. Sorri. Move-se


alguns centímetros para me beijar inocentemente na
bochecha. Seus lábios são macios. Flexíveis. Doce do sorvete, mas
eles são tão bons. Minha mão livre involuntariamente serpenteia
em seu cabelo. Eu inclino sua cabeça para trás. Seus olhos saltam
um pouco.

Eu quero prová-la. Deus todo-poderoso, como quero minha


boca na dela.

“Eu tenho outra surpresa para você.”

Seu sorriso me hipnotiza. Me encanta.

“Não pode ser melhor do que a bomba de morango.”

“Oh, mas é” eu provoco, batendo em seu nariz.

Esse sorriso se alarga. Estou vidrado. Nela.

“O que poderia ser melhor que isso?” É minha imaginação


ou ela parecia ofegante? Seus olhos dilataram um pouco? Seus
músculos relaxaram um pouco mais comigo?

“North by Northwest.”

“Sério!” Ela grita, jogando os braços em volta do meu


pescoço, enterrando o rosto na curva.

Por favor, não me monte novamente. Não tenho certeza se


posso aguentar sem ir para a cadeia.

“Cadê?”
K.L. KREIG
“No banco do meu carro”, digo a ela. Como um idiota ― ou
talvez fosse uma bênção ― esqueci o DVD quando entrei. Estava
mais preocupado com o derretimento do sorvete. “Que tal
assistirmos outro episódio de Gilligan's Island e vou buscá-lo. Isto
é... se você não estiver muito cansada.”

“Não estou muito cansada.” Mas ela está. Parece que está
morrendo.

Meus lábios encontram o caminho para sua testa. Eles


demoram muito. “Está na hora de um analgésico?”

Ela hesita. Finalmente, “Talvez.”

“Ok. Fique aqui e descanse. Vou pegar um pouco de água


para você.”

Acabei de sair da cama quando ela agarra minha mão e a


puxa até que eu olho para ela. O tempo está suspenso enquanto
ela apenas olha para mim e respira. Parece que quer dizer algo,
mas não consegue.

“O que está errado?” Eu pergunto, sem saber o que


fazer. Meu coração está batendo forte no meu peito.

“Nada. Eu só...” Ela para. Lambe seus lábios rosados. Meu


pau começa a crescer novamente. “Quanto tempo você vai ficar?”

Eu ficaria o tempo que ela pedisse. “O fim de semana está


bem?”

Estou iluminado por dentro quando ela sorri. Seu sorriso


não é normal, é grande e hipnotizante, mas ainda toma conta de
todo o seu ser. Ela se ilumina como Vênus. Seus olhos brilham e
eu juro que ela brilha como a lua cheia em uma noite clara quando
olha para mim assim. É disso que preciso. O que estou sentindo
falta.

Ela pisca devagar e lentamente. “Perfeito. Amo você, Kael.”


K.L. KREIG
Meus olhos se fecham brevemente, querendo que suas
palavras significassem mais do que significam. “Também te amo,
Swan.” Mais do que você compreende.

Eu quero beijá-la. Sentir seus lábios se movendo contra os


meus pela primeira vez. Certificar-me de que ela saiba que foi feita
para ser minha. Quando eu fizer isso... quando finalmente tiver
meus lábios fundidos aos dela... será o último beijo que darei. Eu
pretendo beijar uma mulher pelo resto da minha vida. Apenas
uma. Maverick DeSoto.

Olhando seus olhos inocentes, eu me lembro que ela está


longe de estar pronta para isso.

Eu sorrio suavemente e aperto sua mão, pego a água e a


seguro enquanto ela se apoia em meus braços.

Assistimos Cary Grant em North by Northwest quatro vezes


naquele fim de semana.

É uma felicidade perfeita.


K.L. KREIG
K.L. KREIG
CAPÍTULO QUINZE
Maverick

Sete meses e sete dias atrás

“Onde estamos indo?” Eu pergunto pela oitava vez.

E pela oitava vez, Kael responde pacientemente, exatamente


da mesma maneira que ele fez das sete vezes anteriores, “É uma
surpresa, Swan.”

Mas eu já sei. Assim que entramos na I-35, eu descobri. Não


há muito entre o Canadá e nós, exceto dez mil lagos.

Kael está me levando para um ‘fim de semana


prolongado.’ Hoje é o nosso aniversário de casamento de quatro
meses e sete dias. Ele faz as coisas fora do tradicional. É uma das
qualidades mais cativantes nele. Então ele tirou o dia de
folga. Conseguiu que me cobrissem na padaria durante todo o fim
de semana. Ele até fez as malas para mim, dizendo que sabia
exatamente do que eu precisava.

Ele pega minha mão, beija minha palma e coloca nossos


dedos entrelaçados em seu colo. Na parte superior da coxa. Perto
do seu pau. Um pau que é mais talentoso do que jamais imaginei.

Bem... talvez eu tenha imaginado. Uma ou duas vezes.


K.L. KREIG
Nunca vou esquecer a primeira vez que o senti pressionado
contra mim. Eu era jovem, imatura, inexperiente. Não tinha ideia
do que uma garota poderia fazer para excitar tanto um garoto que
seu pau iria inchar de flácido a duro como pedra em menos de
cinco segundos.

Eu estava a quatro dias em recuperação da retirada dos


dentes de siso. Lembro de acordar de um sono induzido por
remédios. Kael estava aninhado atrás de mim. Estávamos no meu
quarto com a porta fechada, com uma reprise de Gilligan's
Island ao fundo. Meus pais confiavam em Kael implicitamente e,
embora nenhum outro garoto pudesse escapar deslizando uma
unha do pé no meu quarto sem um acompanhante, Kael sempre
podia.

O braço de Kael me tinha ancorado em seu torso. Sua perna


estava pendurada sobre a minha. Nossos corpos estavam colados
do ombro à canela. Sua respiração medida e uniforme fez cócegas
em minha orelha. Deitar em seus braços parecia mais diferente do
que nunca. Comecei a me aquecer. Ruborizar. O calor de seu corpo
me esquentou da cabeça aos pés. Eu me contorci, tentando ficar
confortável quando senti isso. Estava duro. Tão duro, grosso e
longo. Quando me contorci para assegurar ao meu inexperiente
cérebro de quase dezesseis anos de idade que não estava sentindo
o que pensei que estava, ele gemeu meu nome, ainda dormindo
profundamente.

Fiquei imóvel como um animal ferido, sem saber o que fazer


a seguir. Aquele calor se espalhando por mim estava ficando mais
quente a cada segundo que passava. Especialmente entre minhas
pernas, onde começou a doer e a desejar algo que nunca havia
desejado antes. Eu ainda estava apaixonada por Killian, mas pela
primeira vez, imaginei como seria beijar meu melhor amigo. Beijá-
lo de verdade. Não um beijo na bochecha ou como daquela vez que
ele tentou me beijar quando eu tinha dez anos. Mas um verdadeiro
beijo de língua, de respiração pesada com paixão.
K.L. KREIG
“Você está acordada, Swan?” Ele sussurrou em meu ouvido
segundos depois. Eu fingi que não estava. Então ele se levantou,
foi ao banheiro e ficou lá por uns bons dez minutos. A porta não
fez nada para disfarçar o que estava acontecendo do outro
lado. Sua respiração rápida e grunhidos baixos rapidamente
denunciaram.

Essa foi a minha primeira suspeita. Kael tinha sentimentos


por mim. Sentimentos reais, além de gostar de comer bomba de
morango e assistir a filmes antigos juntos. A luxúria era óbvia, mas
quando me lembro da maneira como ele me segurava, acho que
sempre soube que era mais profundo do que os hormônios
adolescentes desenfreados.

Ele passou cada minuto comigo por quatro dias inteiros. Eu


não tinha percebido o quanto eu senti falta dele naquele ano até
que ele estava deitado na minha cama, assistindo TV e me
idolatrando como se fosse a única coisa que ele queria
fazer. Construímos um forte de cobertores e passamos o dia todo
de sábado embaixo dele, jogando jogos bobos, conversando,
cochilando quando eu precisava tomar um analgésico. Ele fez
gelatina de uva: minha favorita. Ele garantiu que eu tivesse Kitty
McGoo, a gata de pelúcia que ele me deu quando tirei minhas
amígdalas aos sete anos. E comemos dois litros inteiros de bomba
de morango em quatro dias. Ele cuidou de mim como se eu já fosse
dele.

Talvez eu já fosse.

“Você está terrivelmente quieta aí. O que você está


pensando, baby?”

Eu deixo meus olhos percorrerem seu perfil. Mandíbula forte


e angulada. Nariz aristocrático. Lábios carnudos e
beijáveis. Cabelo ondulado, macio e espesso. Impressionante. Meu
rosto corresponde ao dele quando abre um sorriso. Ele sabe que
estou olhando.

“Lembra quando eu tirei meus dentes do siso?”


K.L. KREIG
Ele ri. Realmente gosto de fazê-lo rir. “Foi totalmente
inesquecível, Swan.”

“Por que você diz isso assim?” Eu pergunto, virando para


encará-lo. Puxo um pé até o assento e descanso meu queixo no
joelho dobrado.

“Assim como?”

“Eu não sei. Com aquele sorriso malicioso?”

“Que sorriso malicioso?” Ele pergunta, o canto da boca se


inclinando para cima.

“O que você não está me dizendo?” Sorrio, cutucando-o no


braço. Quando eu o vejo ajustando seu pacote, realmente relaxo.

“Você sabe quantas vezes eu me masturbei naquele fim de


semana, Swan?” Ele agarra meu pulso e arrasta minha palma para
seu pau. Está duro. Vinte centímetros de glória absoluta. É tão
espesso que não poderia envolver minha mão completamente,
mesmo se quisesse. Eu aperto meus dedos em torno dele, as unhas
arranhando o jeans. Minhas partes femininas começam a latejar.

Sua palma aquece o topo da minha mão enquanto ele


começa a me guiar para cima e para baixo. “Oh porra,
Maverick. Você não tem ideia.” Acho que tenho uma ideia. Quando
ele olha para mim, suas pupilas estão maiores. Mais escuras. O
marrom de sua íris um pouco mais turva. A pele de seu rosto
parece mais tensa. “Eu perdi a conta depois de dez.”

“Você fez isso?” Pergunto com uma risada sem fôlego. Eu me


inclino e mordisco seu pescoço. Ele geme. Meus dedos se
apertam. “Você está certo. Eu não fazia ideia.” Bem, não fazia ideia
que ele cuidou de si mesmo tantas vezes.

“Por que... oh porra”, ele respira com voz rouca quando meu
polegar acaricia a cabeça de seu pau. “Por que você acha que eu
usei um travesseiro como uma fralda o tempo todo?”
K.L. KREIG
Eu me lembro disso muito bem. Rindo em sua orelha, pego
o lóbulo entre os dentes. O metal de seu zíper está entre meus
dedos. Eu começo a puxar para baixo, mas ele me impede. “Qual é
o problema, querido?” Eu sussurro. “Não está pronto para uma
pequena viagem de aventura hoje?”

A mão segurando a minha dá um aperto, passa pelo meu


cabelo e me puxa de volta para que ele possa tomar minha boca
em um beijo punitivo, ao mesmo tempo mantendo os olhos na
estrada. Sua língua mergulha dentro, varrendo em golpes longos e
entorpecentes. Sinto o carro mudar, puxo para a
direita. Começamos a desacelerar antes que ele me deixe recuperar
o fôlego.

Viramos à direita. Direita novamente. Não tenho ideia do que


estamos fazendo enquanto minha boca está subindo e descendo
em seu pescoço, passando por sua mandíbula. Nossos dedos estão
novamente duelando contra seu jeans. Os meus ao sul, sua luta
ao norte. Ele está ganhando, caramba. Então ele está me soltando
enquanto estaciona o carro. Pisco algumas vezes para clarear
minha névoa, percebendo que estamos em uma loja de
conveniência perto da interestadual.

Kael salta para fora e abre minha porta. Eu sorrio para ele
enquanto pega minha mão na sua. “Com sede?” Eu provoco,
rindo. Quando ele nos levava para a escola, sempre tínhamos de
sair a tempo de parar no posto de gasolina local para comprar seu
Biggie de noventa gramas, cheio com metade de Coca-Cola e
metade de refrigerante Dr. Pepper.

“Porra, sedento”, ele murmura. Muito sério, devo


acrescentar. Com nossos dedos travados, ele me arrasta para
dentro, ziguezagueando entre os corredores até chegarmos aos
banheiros na parte de trás. Ele tenta a porta dos homens
primeiro. Fechado. Ele amaldiçoa. Ele tenta o das mulheres. A
porta se abre facilmente.
K.L. KREIG
Ele me conduz para dentro de uma cabine para uma pessoa
e nos fecha. Quando ele gira a fechadura, eu pergunto, “O que você
está fazendo?”

“Sendo aventureiro”, ele responde simplesmente.

“Oh”, é tudo que consigo pensar em dizer.

Então ele está em cima de mim. Lábios fundidos aos


meus. Mãos varrendo minhas curvas. Abrindo meu
jeans. Puxando-os para baixo, junto com minha calcinha. Estou
sendo erguida no ar e minha bunda atinge a cerâmica fria, mas
isso não faz nada para esfriar a chama que agora está queimando
fora de controle dentro de mim.

Depois de envolver minhas mãos em torno da pia, Kael me


espalha amplamente, fica de joelhos, e com travessura escrita em
seu rosto, nunca afasta seus olhos dos meus enquanto ele começa
a me comer ali mesmo no banheiro feminino em Casey's. Em
segundos, ele me faz contorcer. Em minutos, estou desfeita.

Fogo escaldante explode em minhas veias, aquece meus


músculos. Não me faz nada além de uma satisfação
desossada. Ainda estou cantando seu nome quando ele invade e
conquista. O rosnado no fundo de sua garganta quando ele
empurra pela primeira vez dentro de mim é tão sexy que gozo
novamente quase imediatamente.

“Eu nunca vou me cansar disso, Swan. Porra”, ele range


contra minha orelha. “Tanto tempo que esperei por você.”

“Oh, Deus”, eu ofego quando seu polegar serpenteia entre


nós. Seus dedos fazem meu corpo zumbir e meu sangue
cantar. Seus dentes arranham ao longo do comprimento do tendão
tenso em meu pescoço e quando ele suga aquele ponto logo abaixo
da minha orelha, eu me sinto apertar em torno dele.

“Sim, é isso. Goze de novo, Mavs.”


K.L. KREIG
Para uma garota que não era capaz de atingir o orgasmo
mais de uma vez, se é que alguma vez isso aconteceu, Kael me
transformou em uma ninfa. Ele trabalha em mim habilmente
agora. Cada. Micro. Segundo. É como se ele tivesse aberto alguma
comporta ― uma caixa de Pandora sexual ― e não posso detê-lo
agora. A propósito, isso não é uma reclamação. Apenas uma
observação. Aprendi a apreciar a maneira como ele sutilmente
controla meus desejos e minhas reações a ele.

Minhas unhas enrolam, agora cravando em seus ombros. Eu


não o largo nem para salvar minha vida, empoleirada na ponta de
uma pia e no limite da sanidade com o que ele faz comigo.

“Oh, sim”, ele elogia quando eu finalmente caio em queda


livre. Ele está bem atrás de mim, lançando-se em mim em ataques
de punição. Eu amo quando Kael me solta ― outra coisa que passei
a apreciar nos últimos meses. Seu corpo paralisa. Seus grunhidos
são rosnados sexys. Ele me agarra com a quantidade certa de
dureza. Está quase machucando, mas não está. É o suficiente para
me marcar sutilmente como sua propriedade, embora não o
suficiente para me marcar.

Ele se acalma e suas mãos sobem para encontrar minhas


bochechas. Com a respiração ainda forte, ele me beija docemente,
mas sem sentido, então se afasta e olha nos meus olhos. Ele não
faz uma tentativa de nos separar ainda, embora nós dois tenhamos
acabado de ouvir a batida na porta e um apelo urgente para ‘se
apressar.’

“O que?” Eu pergunto.

Seu sorriso é terno. Eu tremo um pouco quando ele coloca


uma mecha de cabelo atrás das minhas orelhas. “Desculpe.”

Desculpe? Por que diabos? Isso foi quente. “Pelo quê?”

“Por não ter controle quando se trata de você. Eu tive o


suficiente de distância para durar uma vida inteira. Eu precisava
estar dentro de você.”
K.L. KREIG
Deus. As coisas que ele diz às vezes são ridiculamente
românticas.

Eu envolvo meus braços em sua cintura, puxando-o para


mais perto. Ele está amolecendo e desliza com o movimento
repentino. Agora, o ar fresco se mistura com a bagunça entre
minhas pernas, mas eu não me importo nem um pouco. “Eu não
sinto muito. Você também não deveria sentir.” Eu fecho os cinco
centímetros entre nós, levando seus lábios levemente entre os
meus. “Eu amei.”

“Sério? Mesmo sendo...”, ele considera nossas condições


nada higiênicas “...aqui?”

“Você está de brincadeira? Aposto que esta pia viu mais ação
do que Sylvester Stallone.”

Sua risada me aquece. “Eu aposto que você está


certa. Devemos deixar nosso entalhe em algum lugar.”

“Vamos fazer!” Eu bato palmas de empolgação.

As batidas estão ficando mais urgentes, então eu o empurro


um pouco para trás enquanto deslizo para fora da borda da
pia. Minha bunda agora está dormente e minhas coxas estão
formigando. Kael não se limita a pegar algumas toalhas de papel,
o que seria o caminho mais prático. Não... ele corre para pegar um
grande maço de papel higiênico em vez disso.

“Mais suave”, ele diz com uma piscadela.

E é por isso que eu deveria ter amado esse homem o tempo


todo, em vez de Killian. Não são grandes gestos, mas as pequenas
coisas que parecem tão mundanas e inconsequentes que se
encaixam em nossas memórias para sempre. Quando todo o resto
desaparece com o tempo, são esses que brilham, imortais. Este é o
cerne de quem é Kael. Minhas necessidades vêm primeiro. Meu
conforto. Meu prazer. Ele quer o melhor para mim. Sempre foi. Por
que eu não vi isso antes?
K.L. KREIG
“Kael?”

Ele abandona sua própria limpeza, os olhos fixos nos meus


“Swan?” O olhar em seu rosto é puro êxtase absoluto. Sentindo
uma queimadura começar em meus olhos, coloco meus braços ao
redor dele. Aperto. Forte. Inquebrável. Somos inquebráveis.

“Eu te amo.”

Ele gentilmente passa as mãos pelo meu cabelo, alisando-o


de volta no lugar. Seu toque é lento e determinado. Reverente é a
palavra que me vem à mente. Com os lábios contra minha têmpora,
ele sussurra em um suspiro: “Eu te amo mais.”

Eu não duvido disso. Isso deveria me fazer sentir mal, mas


tudo o que faz é me deixar bêbada com ele.

Corremos para nos recompor e Kael arranha uma marca


grosseira na pintura tingida de pêssego da parede com suas
chaves. Ele insiste em uma selfie primeiro para marcar essa
memória, então abre a porta e nos leva para fora, de mãos dadas,
indiferente ao fato de uma mulher de meia-idade estar parada ali
com uma jovem que está segurando sua mão entre as pernas. Ela
parece absolutamente chocada por termos tido a audácia de
sermos vistos juntos em plena luz do dia, depois de uma ― bem,
vamos apenas chamá-lo do que é ― foda diurna no banheiro Casey.

“O banheiro masculino está fora de serviço,” Kael anuncia


suavemente quando passamos. Nem dois segundos depois ― sem
acreditar ― a porta dos homens se abre. Saindo um homem que
claramente aproveitou seu tempo sozinho, embora a próxima
pessoa não vá gostar tanto. A boca da mulher abaixa ainda mais
antes que ela empurre a garota para o banheiro e ordene que ela
não toque em nada. Nós rimos como adolescentes, fugindo de seu
olhar de condenação.

Com a mão ainda na minha, ele diz: “Vamos comer alguns


lanches enquanto estamos aqui.”
K.L. KREIG
Pegaremos mais estrada. Significa comer porcaria. “Oh,
inferno, sim.”

Poucos minutos depois, com os braços cheios de


refrigerantes, barras de chocolate, nozes e bolachas, jogamos tudo
no balcão e esperamos que o atendente contabilize. Sorrio quando
vejo o que Kael escolheu. Várias tiras planas de caramelo. O tipo
exato que costumavam vender em nossa piscina no verão. Com
sabor de banana. Ele era mais um amante de morango, mas ele
escolheu banana. Meu favorito. Então, quase me dobro quando os
vejo. Há muito pop. Três pacotes deles.

“O pop não é muito?” Eu provoco. Não como Pop Rocks


desde os dezessete anos.

Ele enrola o braço em minha cintura, puxando-me para o


seu lado. “Eu pensei que você amava isso.”

“Eu amo. Na bomba de morango.”

Inclinando-se, acho que ele vai me beijar bem na frente do


caixa e dos fregueses atrás de nós, ele sussurra atrevidamente:
“Podemos fazer nossa própria bomba com eles.”

Meus olhos voam para o grande homem parado atrás de


nós. Ele está rindo, nem mesmo se preocupando em desviar o
olhar. “Ok”, respondo sem jeito, sem entender o que ele quer dizer.

Kael me beija então. E ele faz uma grande produção


disso. Língua. Gemidos. Mesmo um pequeno mergulho para
trás. Eu ouço alguns suspiros e sussurros, mas mantenho meus
olhos bem fechados. Quando ele me solta, meu rosto está em
chamas. Kael está sorrindo. O caixa está boquiaberto. O cara atrás
de nós está rindo.

“Recém-casados,” Kael oferece em voz alta. Com o canto do


olho, vejo a mulher que estava fora do banheiro, nos olhando com
desdém enquanto ela contorna a filha para fora.
K.L. KREIG
“Parabéns. Cara de sorte,” o robusto atrás de nós diz com
apreciação.

O aperto de Kael aumenta. “Eu sei disso.” Mas ele não disse
isso a ele. Ele disse isso para mim. Suave, sexy e com tanto amor
que me deixa liquefeita. Sorrio tanto que meu rosto parece que vai
se dividir em dois.

Deus, quem sabia que eu poderia ser tão feliz depois de ser
esmagada poucos meses antes? Mas eu sou. Quanto mais tempo
eu passo como esposa de Kael Shepard, mais leve e feliz me
sinto. Mais acho que talvez fosse para acabar assim o tempo todo.

Pegamos nossas guloseimas e voltamos para a estrada. Duas


horas depois, estamos entrando na garagem de uma pousada
vitoriana pitoresca, toda em tijolos, a apenas alguns quarteirões do
centro de Saint Paul, Minnesota. A varanda envolvente é invejável,
com lâmpadas suspensas de ferro forjado a cada poucos metros e
móveis grandes e confortáveis onde você pode se perder.

Kael desliga o motor e volta seu olhar para mim, aquele


sorriso firmemente intacto. “Eu sei o quanto você ama isso.”

Eu amo. Adoro a intimidade de um ambiente tão


pequeno. Aquela atenção individual que você recebe dos
proprietários. O café da manhã fabuloso e exagerado que eles
fazem. O conforto de casa longe da sua própria cama.

Eu me inclino para o interior e beijo sua


bochecha. “Obrigada. Isto é perfeito.”

Neste momento, não há absolutamente nada que possa


superar isso. Ficar longe de Dusty Falls e da merda que deixamos
lá é exatamente o que nós dois precisávamos.
K.L. KREIG
CAPÍTULO DEZESSEIS
Maverick

Sete meses e sete dias atrás

“O que você quer fazer hoje?” O carinho suave dos dedos de


Kael levemente em meu braço nu me dá arrepios. Eu tremo e ele
ri, me segurando mais perto.

“Não pare”, digo baixinho quando ele envolve sua mão na


minha cintura.

“Seu desejo é uma ordem, Swan”, ele responde


atrevidamente, já passando os dedos sobre a minha pele mais uma
vez.

Eu suspiro, totalmente imersa. Estamos enrolados na


cama. Nus. Felizes. Vivendo o momento.

Depois de chegar ontem à tarde, fomos recebidos por Sheila,


a hoteleira robusta, que nos contou tudo sobre seus cinco filhos
adultos (todas meninas) e seis netos (todos meninos). Ela também
nos informou que se ouvíssemos algum barulho incomum, era
apenas Pierre LeMars, o proprietário original ― que se enforcou no
sótão depois que sua esposa e filha se afogaram em um acidente
de barco. Ele é aparentemente seu fantasma residente e amigável,
ela nos assegurou. Kael apenas deu de ombros, mas eu estava um
K.L. KREIG
pouco nervosa enquanto ela nos conduzia por uma grande
escadaria de dois níveis. A energia mudou. Olhos invisíveis
estavam em mim. Eu estava convencida de que passei por uma
nuvem de ar frio.

Eu apertei a mão de Kael com tanta força que ele


estremeceu. Todo aquele nervosismo evaporou, no entanto, no
segundo em que ela abriu a porta da suíte real ― um dos quatro
quartos da velha mansão ― e nos acomodou em um quarto muito
imponente e espaçoso.

Uma enorme cama de trenó de aparência antiga ficava no


meio, coberta por um edredom marfim e um monte de almofadas
neutras. O banheiro ostentava um box amplo de vidro e uma
banheira de hidromassagem funda que acomoda quatro
pessoas. Havia uma torre grande com um teto semelhante a uma
catedral à nossa esquerda. Uma pequena mesa e duas cadeiras
estavam no centro da área envidraçada. Seria ótimo para uma
xícara de café aconchegante pela manhã ou um coquetel à noite. E
as vistas da torre eram espetaculares.

Mas o que me atraiu como um ímã foram as paredes. Acima


do revestimento branco estava o papel de parede mais original que
já vi. Segredos escritos a partir dele. Eles ecoaram suavemente em
meu ouvido. Eu podia sentir uma dor assustadora irradiando das
palavras estrangeiras antes mesmo de Sheila falar. Minha
respiração prendeu quando ela me disse que era uma réplica de
uma carta de amor escrita por uma jovem italiana que se
apaixonou por um soldado americano durante a Segunda Guerra
Mundial.

“Esta carta foi supostamente encontrada no bolso do jovem


soldado por seu irmão. O soldado morreu nos braços do irmão
devido a vários ferimentos à bala no peito. E o boato é que em uma
estranha reviravolta de eventos, a jovem acabou se casando com o
irmão”, Sheila sussurra para mim enquanto Kael verifica o banheiro.
K.L. KREIG
Ela se casou com o irmão dele? Meu coração bate forte. Isso é
algum tipo de coincidência estranha ou eu deveria estar aqui
ouvindo a história dela? Vendo suas palavras? Sentindo sua dor?

“Ela estava feliz?” Eu pergunto distraidamente, traçando


meus dedos sobre a impressão suavemente apagada. Ela amou o
segundo tanto quanto o primeiro?

“Gosto de pensar que todos nós acabamos no lugar que


deveríamos estar eventualmente”, Sheila responde
melancolicamente. “A soma total de nossas escolhas nos leva ao
nosso destino.”

Isso é verdade, eu me pergunto? Ou essas escolhas


realmente mudam nosso futuro? Eu quero acreditar nela. Quero
acreditar que estou aqui nesta sala por um motivo diferente das
pilhas de más decisões que tomei.

“Você acha?” Eu me viro e olho para essa mulher que não


conheço, mas que irradia essa pureza inata que é invejável. Talvez
possa lavar todos os meus pecados. Talvez seja por isso que estou
aqui. Ela olha nos meus olhos como se soubesse exatamente o que
estou pensando. O que fiz. Ela pode ver dentro da minha culpa e me
libertar?

Ela estende a mão para envolver suavemente os dedos em


volta do meu braço e sorri calorosamente. “Eu acho.”

Eu nunca desejei poder falar outro idioma até então. Eu me


perguntei sobre ela. Essa mulher. Embora eu não pudesse ler as
palavras, elas pareciam desamparadas, melancólicas. Os rumores
eram verdadeiros? Eles viveram uma vida longa e gratificante
juntos? Ou ela olhou para ele e sempre pensou naquele que ela
perdeu? É possível perder o amor da sua vida e encontrá-lo
novamente nos lugares mais inesperados?
K.L. KREIG
Quatro meses atrás, eu teria dito não. Mas agora, acho que
a resposta é talvez.

Mesmo neste momento, enquanto estou nos braços de Kael,


ainda estou pensando nela. Esperando que ela tivesse seu feliz
para sempre. Sentindo que eu realmente poderia conseguir o meu
quando não há muito tempo, eu me senti sem esperança. Imagino
que foi assim que ela se sentiu quando descobriu que seu amante
americano havia morrido.

“Terra para Maverick.”

“Hmmm” eu murmuro distraidamente contra seu peito. Eu


giro os poucos fios de cabelo que ele tem entre seus peitorais ao
redor do meu dedo indicador.

“Se importa em vestir algumas roupas e fazer alguma coisa


ou você quer ficar deitada na cama, nua, o dia todo?”

Nu parece um bom plano para mim.

Eu inclino minha cabeça para cima. “Quer dizer que você


não tem todo o fim de semana planejado, minuto a minuto?”

Ele ri. Kael pode fazer coisas fora do tradicional, mas ele é
um planejador, enquanto estou mais confortável
improvisando. Por mais que ele sinta vontade de fazer do meu jeito,
isso me deixa igualmente ansiosa para planejar cada segundo da
vida. Isso não deixa espaço para a espontaneidade. Não tenho
certeza se sou assim para irritar minha mãe, que é o golpe mortal
da espontaneidade ou se nasci assim. E embora minhas
tendências impulsivas tenham me colocado em mais de uma
confusão, sinto que elas também podem ter me levado ao meu
verdadeiro destino.

Kael.

“Não estou usando nada neste fim de semana”, ele me diz.

Sim... está nu.


K.L. KREIG
“Humm. Eu gosto do som disso”, eu brinco. Minha mão
serpenteia para baixo dos lençóis, mas não atinge o alvo
pretendido.

“Por mais que eu queira sua mão em volta do meu pau,


Swan, você não quer sair e ver a cidade histórica de Saint Paul?”

Eu corro minha língua ao longo de sua garganta,


sussurrando em seu ouvido, “Eu estava meio que curtindo a
sugestão de nudez e relaxamento.” Tento quebrar seu aperto, sem
sucesso.

“Poderíamos simplesmente ter feito isso em casa”, diz


ele. “Vamos lá querida. Eu quero te mostrar a cidade. Você vai
amar.”

Por mais que eu tenha ido a Minneapolis, nunca passei um


tempo andando por aí. Mas agora, não me importo em sair da
cama. Eu quero viver nesta bolha que criamos pelo maior tempo
possível antes de termos que voltar para casa e enfrentar nossas
vidas reais. Por mais que eu progrida na erradicação de Killian da
minha alma, é um processo trabalhoso. De alguma forma, não
estar na mesma vizinhança, sabendo que ele não está a apenas dez
minutos de distância, torna mais fácil esquecê-lo.

“Está frio”, eu lamento, me aconchegando mais perto. É


dezembro em Minnesota. Ainda não nevou, mas as temperaturas
são cerca de dez graus mais baixas aqui do que em Dusty Falls.

“É por isso que trouxe seu suéter favorito. Ouvi dizer que a
Catedral de Saint Paul é considerada uma das mais ornamentadas
de todo o país. Eu sei o quanto você ama igrejas antigas.”

Eu empurro meu cotovelo, descansando minha cabeça na


palma da minha mão. Eu corro minha outra mão, que agora está
livre, sobre meu peito, passando pelo meu corpo, acariciando
minha bunda antes de usar meu dedo e polegar para beliscar meu
mamilo.

Ele geme, longo e necessitado.


K.L. KREIG
“Você realmente quer deixar isso?”

Então estou de costas, minhas mãos estendidas acima da


cabeça. Ele está perfeitamente encaixado entre minhas pernas. Já
sinto o quão rápido ele está engrossando. Sua respiração acelera e
seus olhos ficam escuros.

Sim.

Eu ganhei.

Só que ele não faz nenhum movimento para usar o


equipamento impressionante com o qual foi abençoado. Está a
poucos centímetros da base e se contrai como um louco. “Por mais
que eu queira dizer o contrário e por mais que seus romances me
contradigam, não posso te foder fisicamente o dia todo. Você sabe
disso, certo?”

Já fizemos sexo três vezes desde que saímos de Dusty Falls,


menos de vinte e quatro horas atrás. Uma rapidinha em um
banheiro público sujo. Fizemos amor lento ontem à noite depois de
um jantar italiano íntimo na rua. E uma rodada áspera e suja esta
manhã, quando Kael sussurrou todas as coisas pecaminosas que
ele tem sonhado em fazer ao meu , enquanto me fazia gozar
repetidamente com sua boca primeiro, seguido por seu talentoso
pau. Tenho certeza de que gritei seu nome mais de uma vez. Aposto
que gritei tão alto que até Pierre LeMars me ouviu.

Só de pensar nisso me deixa toda excitada e incomodada de


novo. Eu mexo, tentando alinhá-lo do jeito que preciso. “Importa-
se de testar essa teoria?” Eu provoco, minha respiração agora
entrecortada. Eu movo meus quadris para baixo e inclino minha
pélvis para cima. Quase lá…

Kael mergulha até que sua boca roça a minha quando ele diz
“Não. Eu me importo em exibir minha mulher sexy pra caralho pela
cidade, então voltar aqui e foder a noite toda em cada superfície
deste quarto.”

Eu paro de me mover. “Oh? A noite toda, você disse?”


K.L. KREIG
Ele ri, embora seus lábios agora cubram os meus. Eu solto
minhas mãos para poder enrolá-las em seu pescoço. Eu as enterro
em seu cabelo. Passo minhas unhas ao longo de seu couro
cabeludo enquanto ele me beija lento e firmemente.

“Agora, vamos lá”, ele me diz, recuando cedo demais. “Se eu


tiver que ficar aqui por mais tempo e sentir o cheiro de pãezinhos
de canela e café de avelã, vou começar a comer meus membros.”

Eu sorrio. “Você pode me comer em vez disso”,


ofereço. Abnegadamente, é claro.

Rindo, ele balança a cabeça e se afasta de mim. Ele está duro


como pedra. Eu mordo meu lábio inferior, deixando meus olhos
beberem na visão erótica do meu marido completamente nu. “Você
é uma tentadora perversa, sabia disso?”

“Eu sei.” Levanto até meus cotovelos, perfeitamente ciente de


meus mamilos rígidos apontando em sua direção. “Mas
aparentemente não sou tentadora ou perversa o suficiente.”

“Oh, confie em mim, Swan. Você é”, ele diz. “Acontece que eu
tenho um autocontrole enorme.” Depois de um selinho rápido e
forte, observo sua bunda rígida se afastar. Eu suspiro quando ele
desaparece no banheiro, me deixando para trás. Meu corpo inteiro
lateja de necessidade não satisfeita.

“Chuveiro, Mavs,” Kael grita do outro quarto.

“Chuveiro, Mavs,” eu zombo baixinho.

“Eu ouvi isso, garota arrogante.” Ele enfia a cabeça entre a


porta e estende a mão. “Que tal eu me oferecer para lavar suas
costas?”

Isso me anima. “Só minhas costas?” Eu pergunto,


deslizando para fora dos lençóis macios e caminhando em direção
a ele. Os ladrilhos do chão estão frios em meus pés no segundo que
passo do tapete para o banheiro.
K.L. KREIG
Quando ele me pressiona contra sua nudez viril, ele
sussurra: “Seja uma boa menina e posso fazer qualquer coisa por
você.”

Minha pele estremece quando arrepios começam.

“Qualquer coisa?” Eu olho em seus olhos castanhos


brilhantes, um grande sorriso no meu rosto.

“Sim”, ele responde suavemente, colocando os cabelos


rebeldes atrás das minhas orelhas. É um movimento
suave. Provavelmente ele já fez isso mais de cem vezes antes, mas
parece tão diferente agora. Pelo menos para mim. Estou
entendendo que sempre significou algo mais para ele. “Qualquer
coisa.”

A maneira como ele diz essa palavra é sinistra. Presságio,


até. Como se ele fosse matar, mentir, trapacear e roubar por
mim. “Eu acho que você quer dizer isso.”

Seus lábios se curvam ligeiramente antes de se


achatarem. O momento passa de divertido para sério em um
instante. “Nunca quis dizer mais nada.” Então, o momento passa
antes que eu possa piscar novamente e ele se ilumina, todo bem-
humorado novamente.

Menos de quarenta e cinco minutos e mais dois orgasmos


(meus) depois, estamos descendo as escadas teatrais. Estou
aliviada por não sentir nenhum ar frio ou a sensação de estar
sendo perseguida de maneira invisível. Seguimos pelo grande salão
onde dois convidados estão sentados lendo o jornal e desfrutando
de seu café. Dizemos educadamente bom dia, mas continuamos
andando.

“O café da manhã acabou?” Eu sussurro para Kael, notando


que já são quase 10h.

“Sim, Swan”, ele sussurra de volta.


K.L. KREIG
“Ah, os recém-casados.” Sheila sorri quando entramos na
luxuosa sala de jantar. As paredes de damasco escuro são lindas,
junto com a mesa de jantar ornamentada para dez pessoas, que
acomoda apenas dois talheres.

“Espero que não tenhamos causado muitos problemas para


você por estarmos atrasados”, eu me desculpo enquanto me sento.

“Oh, nada. Sem problemas, querida. Posso estar velha, mas


me lembro como é ser um recém-casado.” Ela pisca
conspiratoriamente antes de passar por uma porta de vaivém,
provavelmente para a cozinha.

“Por que você não me disse que tínhamos que estar aqui em
um determinado horário?” Eu repreendo Kael, sabendo muito bem
que o café da manhã deve ter sido servido há um bom tempo.

Ele se inclina, pegando meu queixo entre o indicador e o


polegar. “Porque nós não tínhamos. Eu quero que este fim de
semana seja divertido e relaxante, não no calendário de ninguém,
mas no nosso. Ok?”

“Ok”, digo, um pouco sem fôlego. Ele coloca seus lábios


castamente nos meus enquanto Sheila retorna segurando uma
bandeja recheada com quiche, salsicha, batatas fritas, frutas, uma
pilha de torrada francesa em pó polvilhada com açúcar a um metro
de altura e os rolos de canela que Kael gosta.

“Isso parece incrível. Obrigado, Sheila”, Kael diz à nossa


anfitriã.

“É um prazer. E eu cuidei de tudo para você, exatamente


como pediu.” Com uma piscadela, ela vagueia de volta para a
cozinha. Sem palavras, Kael pega meu prato e começa a enchê-lo
com pedaços de tudo. Ele pega os pedaços de abacaxi da fruteira
porque sabe que não gosto deles.

Eu apenas o observo, esperando. Quando ele me entrega


meu prato e pega o dele sem dar uma explicação, sorrio. “Sem
nada, hein?”
K.L. KREIG
Ele me olha, sua boca e sobrancelhas arqueando
simultaneamente. “A liderança está boa o suficiente?”

Os cantos da minha boca se estendem em um sorriso


gigante. “Nenhuma mulher em seu perfeito juízo reclamaria sobre
o seu homem assumir a liderança.”

“Bom.” Ele pisca brincando e depois se senta com tanta


graça que eu suspiro.

Comemos em silêncio por alguns minutos antes de algo me


atingir. Eu deveria manter minha boca fechada. Eu digo às minhas
cordas vocais para não pressionar nenhum ar. Não
funciona. Vomito a pergunta para a qual desejo uma resposta há
quase um mês. “Então, como vão as coisas com aquele contrato da
Guarda Nacional?” Eu pergunto, tentando parecer indiferente. Eu
consigo. Acho que sim.

Kael me olha astutamente.

Não.

Não consegui parecer indiferente.

“Por que você pergunta? Você nunca me pergunta sobre o


trabalho.”

Me pegou.

“Sem razão. Acho que apenas vir aqui me fez pensar nisso.”
Pensamento rápido, Mavs. Muito bem.

Ele mantém meu olhar firme e me responde com uma


expressão séria, sem inflexão. Nada que me faça pensar que ele
estaria mentindo. “Está atrasado.” Mas há algo na maneira
como ele diz sua resposta ― como se tivesse sido praticado ― que
faz minhas bandeiras vermelhas tremularem ao vento.

“O que aconteceu?” Eu pressiono, querendo ver o que ele vai


dizer.
K.L. KREIG
Seu ombro sobe e desce ao mesmo tempo em que sua boca
desce. “Você conhece o governo”, é sua única resposta. Ele volta
para seu café da manhã, indicando que nossa conversa acabou.

Eu não quero que acabe. Quero fazer mais


perguntas. Descobrir o que ele está escondendo, porque agora
estou convencida de que tem alguma coisa. Em quaisquer
circunstâncias normais, eu terminaria assim. Os contratos
federais são os piores. Eles são competitivos e prolongados e
perdemos muito mais do que ganhamos. Nós dois sabemos disso.

Mas não posso ignorar esse sentimento em meu


instinto. Aquele que grita que está escondendo algo de mim. Algo
importante. Abro minha boca para empurrar o problema, uma
única palavra derrama em vez disso, quando Kael começa a sorrir
em seu prato. “O que?”

“O que, o que?” Ele pergunta, me olhando por baixo daqueles


cílios ridiculamente longos que eu invejo mais a cada ano.

“Por que você está sorrindo assim?”

Ele pousa o garfo, dedicando toda a sua atenção a


mim. “Tipo o quê, Swan?”

Seu sorriso é uma epidemia infectando o ar. Com uma única


respiração, eu também pego. “Gostou disso.” Eu aceno dois dedos
para ele. Quando ele ergue uma sobrancelha, acrescento: “Tipo...
como se você tivesse engolido raios de sol.” Ele parece... triunfante,
quase.

“Eu sei que você gosta da palma da minha mão.”

Eu me inclino para trás e cruzo os braços. Um pouco mal-


humorada. “Passa muito tempo na palma da sua mão, não é?” Eu
jogo de volta. Muito mal-humorada.

Ele solta uma risada, seguido por um aceno de cabeça. “Oh


sim. Minha mão conhece cada cume e veia do meu pau muito,
K.L. KREIG
muito bem. Nós nos tornamos quase inseparáveis quando eu
estava me aproveitando de fantasias com você todos esses anos.”

Minha boca se abre. Eu gaguejo quando ouço o agudo “oh


meu” de Sheila atrás de mim. Kael não está nem um pouco
perturbado. Ele mantém aquele sorriso de Cheshire plantado
firmemente em seus lábios. O som repentino da porta de vaivém
batendo no batente da porta, para frente e para trás, indica a saída
rápida de Sheila, já que nossa conversa tomou um rumo
deliciosamente lascivo.

“Você fez isso de propósito” digo. “Você a viu.” Ele tem uma
linha de visão direta para aquela cozinha.

“Não tenho ideia do que você está falando.” Kael empurra


sua cadeira para trás e vem puxar a minha. Ele agarra minhas
mãos e me ajuda a levantar, envolvendo-me em seu abraço. “Agora,
quero sair com minha esposa e fazer com que todos os homens que
encontrarmos tenham inveja de mim.”

Eu sorrio ridiculamente, todo o resto esquecido.

Ele pega meu casaco, que eu pendurei nas costas da cadeira


e me veste. Ele me fecha. Alcançando meu bolso, ele remove
minhas luvas brancas fofas e as desliza em minhas mãos, uma de
cada vez. Seu terno cuidado comigo é doce e cativante. Depois de
terminar, ele coloca com eficiência sua própria roupa de inverno.

Pegando meu rosto com suas mãos agora revestidas de


couro, ele pressiona um beijo em meus lábios. “Pronta?”

“Pronta.”

Só quando estamos saindo pela porta da frente, de mãos


dadas no frio dia de inverno, é que percebo que ele furtivamente
redirecionou toda a nossa conversa.
K.L. KREIG
K.L. KREIG
CAPÍTULO DEZESSETE
Maverick

Sete meses e sete dias atrás

Passamos a manhã caminhando pelo movimentado centro


de Saint Paul. Tivemos o café mais divino em uma confeitaria de
propriedade local. Eu fiquei conversando com a proprietária sobre
como seu parceiro está se mudando para Londres e ela está
debatendo se deve comprá-lo ou vendê-lo. Kael eventualmente me
arrastou para longe, mas não antes de eu conseguir sua receita
para a melhor rotação de queijo e uva que eu já
experimentei. Trocamos endereços de e-mail, prometendo manter
contato.

Em seguida, fomos para uma livraria pitoresca onde Kael me


deu tempo para vagar pelas prateleiras lotadas e escolher de tudo,
desde thrillers que saíram no ano passado até as primeiras edições
de clássicos do século dezoito. Esses estavam trancados a sete
chaves, é claro. Mais um lugar de onde ele tem que me arrastar.

Finalmente, depois de um almoço não convencional com


sorvete premiado de um lugar chamado Greenery Creamery,
chegamos à Catedral de Saint Paul. Quando paramos no
estacionamento, noto todos os carros e fitas azul-marinho e marfim
penduradas nas lindas portas altas vermelhas.
K.L. KREIG
Merda. Sábado à tarde em uma igreja católica. Claro. “Há
um casamento acontecendo. Não podemos entrar.”

Kael zomba, desligando o motor. “Claro que podemos,


Swan. Um casamento é uma celebração.”

“Sim, é costume ser convidado”, grito enquanto ele sai do


carro e fecha a porta. Em seguida, ele me força a sair do veículo
agarrando bem atrás dos meus joelhos, onde ele começa a fazer
cócegas até que eu esteja como massa em suas mãos. Poucos
minutos depois, Kael tem um braço confortável em volta dos meus
ombros, a outra mão segura na minha.

Somos oficialmente penetras de casamento, sentados em


nossos jeans e suéteres alguns bancos atrás dos convidados
elegantemente vestidos nesta igreja de tirar o fôlego, assistindo a
uma cerimônia de partir o coração.

As lágrimas se equilibram em meus cílios. O noivo está uma


bagunça total. A noiva está a um fôlego de perder o controle. E eu
mal estou me segurando quando a primeira gota d'água escorre
pela minha bochecha.

Eu não conheço esse casal. Não sei suas vidas, suas


histórias ou o quanto eles tiveram que trabalhar para chegar a este
momento. Mas o que eu sei é ― enquanto eu sento aqui e vejo duas
pessoas claramente apaixonadas enredar suas vidas juntas para
sempre ― estou cheia de um grande arrependimento.

Eu desperdicei meu dia.

Eu fiquei na frente de Kael, repetindo os mesmos votos que


este casal está dizendo agora, e desejei coisas que nunca deveria
ter desejado.

Agora desejo coisas totalmente diferentes. Eu gostaria de ter


a chance de olhar profundamente na alma de Kael ao falar
verdadeiras palavras de amor e devoção. Eu gostaria de poder fazê-
lo entender como ele meticulosamente remendou minhas partes
quebradas. Gostaria que ele soubesse que serei eternamente grata
K.L. KREIG
pelo presente inesperado que ele me deu. Deu a nós. Eu desejo
refazer tudo isso. Nosso namoro, nosso casamento, nossa lua de
mel, nossa primeira vez. Nossa vida inteira juntos.

Eu rapidamente limpo o remorso do meu rosto enquanto a


multidão se levanta e aplaude o Sr. e a Sra. Stanley
Needlemeyer. Credo. Pobre garota. Quando o casal feliz passa por
nós, eles estão tão perdidos em sua própria bolha que poderíamos
ser alienígenas de quatro cabeças e eles nem perceberiam. Ficamos
parados enquanto a festa de casamento passa por nós em seguida,
com a menina mais fofa no vestido azul marinho mais adorável e
sapatos de couro combinando. As pétalas do pequeno buquê que
ela está voando para frente e para trás voam para o chão atrás
dela. Ela grita e sai correndo pelo longo corredor quando um
menino de alguns anos em um elegante terno azul-marinho corre
atrás dela. Seguindo em seus calcanhares está uma mulher
enlouquecida, provavelmente a mãe.

“Cassie, Aiden!” ela grita. “Pare neste instante.”

Cassie começa a se mexer agilmente entre os bancos, Aiden


logo atrás dela. Nenhum deles retarda um segundo.

Kael aperta minha mão e quando meus olhos encontram os


dele, eles se iluminam com... antecipação? Para o nosso? Esse
pensamento teria me petrificado apenas alguns meses atrás. E não
porque eu não quisesse filhos. Sempre quis ter minha própria
família. Mas porque eu sempre os imaginei com Killian ao
invés. Agora... agora, porém, minha imagem está começando a
lentamente se transformar e torcer.

Quando Kael deixa seus lábios caírem na minha têmpora, eu


expiro em total contentamento. Deus, como eu poderia não saber
que tinha esses sentimentos malucos por ele antes? Muitos anos
perdidos. “Boa ideia que tive, hein?”

“Eu terei que admitir a você esse ponto, sim” eu concordo


com um sorriso.
K.L. KREIG
“Vamos. Podemos nos esgueirar por trás, sem ser
detectados. “Ele puxa minha mão. Eu o paro, no entanto.

“Não. Vamos dar os nossos parabéns ao feliz casal.”

Ele pisca algumas vezes antes de um sorriso largo assumir


seu rosto. Ele concorda. “Eu gosto do jeito que você pensa.”

Balançando as sobrancelhas, digo com entusiasmo: “Talvez


possamos conseguir um convite para a recepção? Eu posso colocar
aquele pequeno vestido preto sexy que você trouxe e deixar todos
os homens com inveja.”

Ele me envolve em seus braços. “Ah sim, mas então você


pareceria a noiva. E toda noiva merece ser o centro das atenções
em seu dia especial.” Dando um beijo rápido em meus lábios, a
celebração desaparece enquanto ele continua em um timbre baixo
e promissor: “Além disso, tenho algo planejado para esta noite com
você naquele pequeno vestido preto sexy.”

“A surpresa de Sheila?”

“Não. É minha surpresa. Sheila acabou de me ajudar com


algumas pontas soltas.”

Este homem. Ele é tão bom para mim. Bom demais.

Eu envolvo meus braços na cintura de Kael e aperto-os com


força. Enterrando minha cabeça em seu peito, inalo uma golfada
de seu perfume masculino e colônia picante, me perguntando como
diabos eu tive tanta sorte.

“Kael?”

“Mavs?”

“Você talvez, ah, queira renovar nossos votos algum


dia?” Não vai compensar o que tirei de nós da primeira vez, mas
talvez me dê uma segunda chance de fazer certo.

Ele fica imóvel. A maioria dos convidados já saiu da igreja ou


está circulando pela entrada. Então, não há ninguém por perto
K.L. KREIG
quando ele puxa um pouco para trás e segura meu rosto com suas
mãos grandes. Quando vejo as gordas gotas de água em seus
olhos, os meus também borram.

“Você quer renovar nossos votos?” A surpresa em sua voz me


mata.

De repente, sinto um rubor. Meu estômago vira como se uma


rede cheia de peixes estivesse nele. Não posso falar, então aceno
com a cabeça, derramando todas as gotas que se acumularam em
minhas pálpebras.

“Mavs.” Sua voz falha. Ele para e engole. Fecha os olhos por
um breve momento. “Eu renovaria meus votos com você todos os
dias pelo resto da minha vida se isso fosse o que você quer. Minha
vida sempre foi prometida a você.”

Eu mordo meu lábio, tentando como o inferno segurar um


soluço. “Eu quero”, sussurro com voz rouca. Eu quero mais do que
tudo.

Kael coloca sua testa suavemente na minha. Suas pálpebras


se fecham. Ele respira fundo. “Basta dizer a data e a hora, Swan.”

É mais fácil me recompor quando ele não está olhando para


mim com tanto amor que ainda não sinto que mereço. “Eu sei que
você gosta de algo não tradicional, mas eu gostaria de fazer isso no
nosso aniversário de um ano. Eu quero pequeno e íntimo. Talvez
até só nós.” Eu não quero drama e o passado me encarando.

“Gostaria disso.” Ele deve sentir o mesmo.

“Ok. É um encontro então.”

“É um encontro então” ele repete, ofegante e doce. “Um que


eu não perderia por nada na minha vida.”
K.L. KREIG
Mais tarde naquela noite, entramos no Barrington's, um bar
chique a poucos quarteirões da nossa pousada. Um calafrio
percorre minha espinha por causa do frio intenso lá fora. Acho que
a temperatura caiu quinze graus desde esta tarde. Há alguns flocos
de neve no ar e, embora eu precise voltar para a padaria, não me
importaria se acordássemos com trinta centímetros de neve,
ficando um dia a mais aqui. Não tenho pressa em voltar para Dusty
Falls e tudo o que nos espera lá. Passar um tempo ininterrupto
com Kael, longe de tudo ― vamos ser brutalmente honestos, longe
de Killian ― é como se um enorme peso tivesse sido tirado do meu
peito.

Não vejo nada além de Kael. Como deveria ser.

“Oh, olhe, há uma bela mesa isolada nos fundos.” Um lugar


perfeito para tirar um sapato e correr meu pé descalço pela coxa
de Kael até que seus olhos se dilatem e se encham. Até que seu
pau fique tão duro, que ele me faça fazer uma punheta nele
embaixo da mesa. Ele se recusou a me tocar antes, fazendo-me
tomar banho sozinha. Ainda estou um pouco zangada com
isso. Ele disse: “A antecipação aumenta os sentidos, Swan. E eu
quero todos os seus sentidos tensos como um arco quando voltarmos
para o nosso quarto.” Bem, eu posso amarrar seus sentidos em
nós também.

“Vamos pedir uma bebida primeiro”, ele sussurra contra


minha bochecha. Com uma mão na parte inferior das minhas
costas, Kael nos manobra ao redor para o outro lado da longa barra
de granito e ordena suavemente. “Vou querer um Babyface
Nelson.”

“Um Babyface Nelson? O que é isso?” Eu pergunto, olhando


para ele. Aquela covinha sexy aparece quando ele
simultaneamente torce o canto do lábio e pisca.

O barman acena com a cabeça e pega uma garrafa de Jack


Daniels. Minha testa se contrai. Kael nem gosta de Jack. Mas não
sai da prateleira. Em vez disso, o barman o puxa para frente, como
K.L. KREIG
uma alavanca ou interruptor, e a parede à nossa esquerda, que é
pintada inteiramente de preto, se abre com um sussurro suave.

“Obrigado, cara” Kael diz.

“Meu Deus. O que é isso?” Eu pergunto maravilhada,


olhando para a escada aberta na nossa frente.

Kael me conduz para frente, minha mão agora presa na


dele. Quando caminhamos pelo espaço aberto, ele se fecha,
fechando-nos, abafando o barulho. Estamos agora no patamar de
uma estreita escada de madeira mal iluminada. Os degraus estão
velhos e gastos. Curvados um pouco no meio de tantos anos de
uso. Uma porta cinza de aço fechada na parte inferior nos prende
para dentro.

“Onde estamos?” Eu sussurro. Ele ecoa alto, soando como


se tivéssemos entrado em uma lata.

“O portal para o céu”, Kael responde suavemente.

Eu giro e agarro as lapelas de seu casaco. Deslizando na


ponta dos pés, eu pisco meus olhos sedutoramente. “Você me disse
esta manhã que era entre minhas lindas coxas.”

Nuvens de tempestade rolam em seus olhos castanhos,


aprofundando-os em um preto como tinta. Ele dá um passo em
minha direção. Eu recuo. Ele dá outro passo novamente, mas eu
não tenho para onde ir porque minhas costas agora estão niveladas
com a parede de tijolos. Soltando as palmas de cada lado da minha
cabeça, ele pressiona sua metade inferior totalmente em mim. Ele
está tão duro. Isso me tira o fôlego.

“Eu quero tanto te foder agora”, ele me diz. Seu tom é baixo
e rouco. Gutural. Sim, gutural e pecaminoso como o inferno.

“Aqui?” Estou ofegante. Ofegante.

Olhos escuros de aço e determinados de luxúria perfuram os


meus. “Sim.”
K.L. KREIG
Minha temperatura corporal sobe. Estou tão quente e
excitada agora que sinto que estou derretendo na parede. Meus
olhos vão para as portas de cada lado de nós. “Bem aqui? Nesta
escada?”

“Sim”, sua voz rouca sussurra contra a minha


orelha. Minhas pálpebras se fecham. Meus lábios se abrem em um
suspiro. Uma de suas mãos desliza pela parte externa da minha
coxa. Encontrando pele nua, ele agora a está rastreando de
volta. Logo ele vai descobrir a surpresa que eu estava guardando
para mais tarde. “Oh merda, Swan”, ele grunhe longo e baixo
quando atinge minha buceta nua e descoberta. Minha buceta nua,
descoberta e pingando.

Então sou eu quem amaldiçoa quando ele empurra dois


dedos gananciosos dentro de mim. E eu engasgo roucamente seu
nome quando ele começa a me tocar com dedicação pura e focada
ao meu prazer.

É tão bom que tudo o que posso fazer é aguentar a viagem.

Estou plenamente ciente de que estamos perigosamente


expostos. Meu vestido está puxado até a cintura, minhas partes
íntimas em plena exibição enquanto o dedo do meu marido me fode
em um lugar público. Qualquer um pode passar por qualquer uma
das portas. A qualquer momento. Mas isso também aumenta
minha necessidade... aprofunda este elemento primário dentro de
mim para me conectar com ele em todos os níveis possíveis.

“Tão molhada”, ele murmura como se estivesse com


dor. “Tão terrivelmente molhada, Mavs.” Deus do céu, estou. O
som da minha pele sendo trabalhada é selvagem e decadente.

Eu coloco a mão entre nós para que eu possa segurar sua


ereção sobre a calça. Ele geme e pulsa duas vezes em rápida
sucessão quando meus dedos envolvem sua cintura. Eu o acaricio
para cima e para baixo. Ele incha mais a cada passagem.
K.L. KREIG
“Eu deveria ter dobrado você sobre a cama e levado você na
frente daquele espelho até o chão antes de sairmos”, ele grunhe
contra minha boca relaxada.

“Você deveria ter feito isso”, consigo dizer. Estou tão perdida
em nós, nos lugares que ele está me empurrando, que ajo sem
pensar. Com minha mão livre, eu desfaço o único nó de lado
segurando as duas metades do meu vestido. Eu puxo o material,
expondo meu sutiã preto transparente. Mal cobre meus mamilos
duros.

“Puta merda, Swan.”

Cada nervo formiga com uma sensibilidade inimaginável


enquanto ele se concentra em meus seios. A maneira como ele olha
para mim é eletrizante. Como se eu fosse a última refeição que ele
comerá na terra, então ele aproveitará ao máximo cada mordida.

Nunca parando sua diabólica carícia interna, Kael mergulha


e prende um mamilo protuberante entre os dentes. Ele chupa
rápido e forte sobre o tecido fino. Eu grito, meu doloroso prazer
alcançando meus ouvidos em ondas curtas. Então ele chupa com
a mesma força, molhando a taça.

Meu sexo aperta, então eu sinto cada empurrão e arrasto de


seus dedos contra minhas paredes. Não é o suficiente. Nada é
suficiente.

Enrolar uma perna em torno dele me abre mais para ele. Ele
tira vantagem da minha nova posição adicionando um terceiro
dedo. No segundo em que seu polegar começa a acariciar meu
clitóris, começo a tremer.

“Kael, Deus. Eu vou gozar.”

“E você vai me fazer estragar essas calças se continuar


assim.” Com cada toque, eu circulo bem sobre sua glande
sensível. Bom Deus, gostaria que minha boca estivesse nele
agora. “Maverick, foda-se, isso é bom.”
K.L. KREIG
Eu me sinto bêbada agora. Alta, livre, inebriada. Tão
malditamente descarada que eu quero seu pau me fodendo na
parede, em vez de sua mão. Sem sua objeção, abro o botão de sua
calça e arrasto seu zíper até a metade. De repente, o ruído de metal
contra concreto soa pouco antes de o riso chegar aos nossos
ouvidos. Nós dois congelamos.

“Merda,” Kael murmura.

Meu núcleo parece vazio quando ele rapidamente retira os


dedos e puxa meu vestido de volta. Mas ele não se move para
trás. Em vez disso, ele agarra meu rosto entre as palmas das mãos,
a umidade cobrindo minha bochecha, e esmaga seus lábios nos
meus. Ele me beija com paixão, desejo e séria frustração. Os pés
batem contra a madeira. As vozes se aproximam. Alguns assobios
são ouvidos. Voltados para nós, tenho certeza. E ainda assim, Kael
continua me beijando. Ele só para quando ouvimos a porta secreta
se fechar, nos deixando sozinhos mais uma vez.

Pressionando nossas testas juntas, ele resmunga, “Eu quase


te fodi agora. Malditas consequências.”

O ar está carregado, crepitando. Me acenando com a


respiração suspensa por ser perversamente ruim.

“Foda-me,” eu o pressiono, sem fôlego. Jesus, o que estou


dizendo? Sexo em público?

Ele se inclina ligeiramente para trás, seu olhar agarrando o


meu. Seu olhar ardente. Tão quente que todo o meu ser está em
chamas. Sem dizer nada, ele abaixa a mão. Quando ouço seu zíper
se separar, deixo meu vestido cair novamente. Eu sinto seu pau,
duro e aveludado, contra meu abdômen apenas um segundo antes
que ele passe a grossa coroa pela minha umidade. Ele envolve a
palma da mão na parte de trás da minha coxa e a enrola em torno
da dele para que meu calcanhar encoste em sua panturrilha. O
fôlego sai de dentro de mim quando ― olhos nunca deixando os
meus ― ele mergulha em um impulso vicioso.
K.L. KREIG
“Oh Deus.”

Meu orgasmo, que havia diminuído com a nossa


interrupção, retrocede. É nítido, instantâneo. Isso me pega de
surpresa, Kael tem que bater sua boca na minha para engolir meus
lamentos.

Ele me fode com força, quase insensivelmente. Seus quadris


batem, implacáveis e contundentes, seus ossos púbicos batendo
contra os meus com cada movimento áspero.

“Puta merda, Mavs”, ele respira, me empalando mais duas


vezes antes de soltar um longo e ardente gemido. Gasto, seu corpo
fica frouxo contra o meu. Seu peso faz minhas omoplatas cravarem
nas ranhuras da parede atrás de mim. O peso parece bom, então
eu não o empurro de volta. Devemos nos mover. Nós não nos
movemos. “Aquilo foi…”

“Sim”, ofego em concordância. Meus olhos estão bem


fechados. Minha pele goteja de suor. Meu coração está batendo
forte contra minhas costelas. O cheiro de sexo vagando no ar é
inconfundível. “Aquilo foi.”

“Não use o banheiro” ele diz, grunhindo. “Eu quero meu gozo
grudando em suas coxas.” Ele fala essas palavras sujas em meu
ouvido. Santa mãe, as coisas que ele diz às vezes.

“Isso é meio homem das cavernas”, eu provoco enquanto ele


doce, mas eficientemente, volta a fechar meu vestido. Ele até
amarra o laço bem e bonito antes de enfiar-se de volta nas calças.

Ele se inclina para trás e pressiona seus lábios suavemente


nos meus. “Culpado. Você me faz perder completamente a cabeça,
Maverick. Sempre fez.”

Eu sorrio, toda brilhante. Transbordando positivamente de


todos os sentimentos por ele. “Então, ah... onde você estava me
levando, meu marido, antes de me foder quase até a morte em uma
escada secreta?”
K.L. KREIG
Ele expele uma lufada de ar que lava meu rosto. Ainda cheira
a hortelã que ele comeu depois do jantar. “Eu adoro ouvir isso,
sabe.”

“O que?” Estendo a mão e passo meu dedo ao longo de sua


mandíbula forte, amando a sensação de barba por fazer sob a pele.

“Marido. Eu amo ser seu marido, Maverick. Sempre quis


isso e houve um tempo em que...” Ele para. Joga seu olhar para o
chão rapidamente. Retorna para o meu. O calor que havia neles
antes foi substituído por algum tipo de dor. “Houve um tempo em
que pensei que talvez isso não aconteceria.”

Meu sorriso cai e minha respiração fica presa no fundo da


garganta. É por isso que cada vez que ele está dentro de mim,
parece que está tentando marcar não apenas minha alma, mas
também meu espírito? Ele está preocupado que eu mude de ideia
e corra para ficar com Killian, se tiver a chance? Eu poderia? Eu
gostaria de ser capaz de dizer com 100 por cento de certeza que a
resposta é não, mas a verdade é... não tenho certeza. Killian
sempre estará enrolado em torno de mim de alguma
forma. Independentemente de eu ter sucesso em cortar o controle
que ele tem sobre mim, sua marca sempre será deixada para
trás. Simplesmente não há nada que eu possa fazer sobre isso.

O tempo fica meio lento enquanto procuramos as almas um


do outro. O que ele vê? Ele vê uma mulher que mudou nos últimos
meses? Ele vê uma mulher que tem realmente caído no amor com
o homem diante dela? Ou ele vê alguém que ele pensa que o traiu
com seu irmão de todas as pessoas? É o que sinto quando olho
para ele agora. Mesmo que Kael e eu não fossemos uma coisa até
que Killian e eu terminássemos, sinto como se o tivesse traído de
alguma forma. Suponho que sim, de certa forma.

Nós dois sabemos disso. Nós dois pensamos isso. Nenhum


de nós vai reconhecer isso, no entanto.

Meu coração bate acelerado. Esta é a parte em que nos


aproximamos dessa linha ambígua. Mas nós a
K.L. KREIG
cruzamos? Mencionamos seu nome e arrancamos a crosta
finalmente ou vamos contorná-la novamente?

Sinceramente, não sei o que dizer, então fico muda e apenas


espero.

Ele se inclina. Toca seus lábios levemente na minha


testa. Em seguida, recua rápido demais. “Vamos” ele diz, pegando
minha mão. “Eu queria mostrar a você um verdadeiro bar ao vivo
dos anos 20, que é tão exclusivo que você não pode entrar a menos
que conheça as pessoas certas.”

Contornamos então.

“Ok.” Enquanto dou um breve sorriso e coloco minha palma


na dele, deixando-o me levar escada abaixo, eu tenho que me
perguntar sobre esse círculo, no entanto. Ele fica cada vez menor
e menor. Nós estamos com as bordas lisas e finas.

Elas são frágeis.

Estão quebrando.

Em breve não haverá mais nada.

Então não teremos escolha a não ser entrar bem no centro,


onde os sentimentos feridos estavam enterrados sob nossos pés,
esperando para serem desenterrados como fantasmas em um
cemitério.
K.L. KREIG
CAPÍTULO DEZOITO
Maverick

Dias Atuais

Perdi o controle do tempo.

Há quanto tempo estou nesta sala? Deve ser um santuário,


mas parece um navio afundando no meio do oceano. O oxigênio é
precioso e cada inspiração superficial será, eventualmente, a
minha última.

Já se passaram minutos? Séculos?

Eu não sei.

Não tenho certeza se me importo.

Várias pessoas entraram e saíram da capela. Eu os observo,


silenciosamente. Eles se sentam ou se ajoelham. Alguns acendem
uma vela. Alguns não. Eles sussurram em oração. Choram
suavemente. Imploram e pedem por seus entes queridos. Eles
acham que não os ouço, ou talvez não se importem. Talvez eles
pensem que se todos nós nos unirmos em uma demonstração de
união, isso salvará pelo menos um de nossos entes queridos que
estão lutando por suas vidas.
K.L. KREIG
Mas a menos que seja o meu ― a menos que seja ele ― eu
não me importo.

Insensível. Egoísta e sem coração. Diga o que quiser sobre


esse pensamento. Isso não me torna uma pessoa má. Tudo o que
isso me torna é humana.

Posso não saber há quanto tempo estou sentada aqui sem


noção dos segundos e minutos, mas já faz tempo suficiente para
saber que as pessoas que passam por este refúgio se dividem em
dois campos.

Vida ou morte.

Perda ou esperança.

Desafio ou derrota.

Eu sei em que campo estou.

Eu sou um desafio. O desafio sou eu. Se ele morrer, eu


saberei. Vou sentir nosso vínculo quebrar nas profundezas do meu
ser. E agora, enquanto minha alma parece esmagada, não parece
morta. Eu sei que vou me sentir seca e estéril se ele me deixar aqui
sozinha.

Então, enquanto ele luta, eu também luto pela força onde


sou fraca. Eu luto pela esperança para substituir o desespero. Eu
luto por nós, porque se ele superar isso, vai precisar de mim ao seu
lado mais do que nunca.

O barulho suave da porta se abrindo me alerta que não estou


mais sozinha. Espero que ninguém tenha me encontrado. Não
tenho estômago para nenhum de seus rostos agora. Nenhum.

Com o canto do olho, vejo uma velha frágil arrastando os pés


até o pequeno altar na frente. Ela estende a mão trêmula e, pouco
depois, ouço a fricção distinta de um fósforo sendo aceso. Acho que
aquele pedacinho de madeira vai se desintegrar antes que ela
acenda o pavio da vela, mas ela consegue. Assim que a vela
K.L. KREIG
ascende, ela gira lentamente e está se sentando no primeiro banco
quando me vê.

Ela se endireita.

Endireito meus ombros.

Nos olhamos silenciosamente.

Eu posso ler sua dor.

Acho que talvez ela possa ler a minha também.

O brilho de um crachá preso à blusa reflete a


luz. Provavelmente voluntária. Ela está muito velha para trabalhar
aqui.

De repente, meus olhos ardem, coçam e ficam


borrados. Tento impedi-los. Não há esperança. Por alguma razão
desconcertante, ela conseguiu desencadear uma avalanche de
solidão angustiante que sou incapaz de manter dentro de mim.

Então ela vem na minha direção.

Ela é uma estranha, mas não é. Sinto-me atraída por ela por
algum motivo estranho e inexplicável. Ela deve sentir o mesmo
porque se senta e desliza até que nossas coxas praticamente se
tocam.

Ainda assim, ela olha para mim e eu para ela.

Sem dizer uma palavra, ela coloca a mão em cima da


minha. É fria e úmida. Eu sentiria sua idade apenas pelas mãos,
mesmo que minha visão não funcionasse.

A lágrima ziguezagueiam pelo meu rosto. Escorre pelo meu


pescoço, encharcando a gola da minha camisa. Mal posso vê-la
agora através de seu fluxo interminável, cada grande gota
empurrando as outras para fora do caminho para dar lugar às que
estão atrás delas.
K.L. KREIG
Ela aperta seus dedos contra os meus. Seu simples toque
humano envia paz e calma por toda a minha alma. Em seguida, ela
murmura com uma voz mais sólida do que sua idade poderia
emprestar “Eu sei que parece, querida, mas você não está
sozinha. Você pode deixar ir. Eu entendi você.”

Então eu perco. Perco-me completamente, porra. Ele me


disse isso tantas vezes ao longo dos anos que sinto como se fosse
ele sentado aqui, falando comigo, me tranquilizando por meio
dessa aparição. Dizendo-me para ser forte, para não perder as
esperanças. Que o tempo que passamos juntos foi muito curto e
ele está voltando para mim.

Algumas pessoas chamam de besteira, mas eu acredito na


intervenção divina. Eu senti isso quando tropecei no Velho Riley,
estava destinado a nos encontrar. Senti isso quando estava prestes
a morrer naquele lago gelado aos onze anos. Eu senti isso
quando ele cuidou de mim todos esses anos.

E com minha cabeça agora apoiada no ombro de uma


senhora, soluçando incontrolavelmente, eu sinto isso agora.

Sinto ele agora.

Eu me afundo na segurança que ele sempre me deu,


recusando-me a acreditar que haja qualquer resultado além de
uma longa vida juntos. Aquela vida que sempre imaginamos.
K.L. KREIG
CAPÍTULO DEZENOVE
Kael

Oito anos atrás

“Não posso acreditar que deixei você me convencer disso”,


resmungo, ajustando o dispositivo de estrangulamento em volta do
meu pescoço ― também conhecido como minha gravata. Acho que
devo me acostumar com isso. Como advogado, não tenho dúvidas
de que devo vestir terno e gravata diariamente, embora prefira
jeans, um Henley e minhas velhas botas Chukkas.

“Oh, pare de reclamar.” Ela empurra minhas mãos e bufa,


assumindo o trabalho lamentável que estou fazendo de massacrar
este pedaço de material fino e escorregadio para ter alguma
aparência de um nó.

“Eu quero dizer isso, Swan. Como você me fez concordar com
essa ideia ridícula?” Eu sei como. Ela piscou aqueles malditos
cílios. Uma vibração. Isso foi tudo o que foi preciso. Não foi nem
mesmo uma vibração, realmente. Foi apenas uma...
uma olhada. Ela é a armadilha de mel em que
caio. Cada. Porra. De vez. Sem falha.

Mavs para o que está fazendo e olha para mim. Seus olhos
estão arregalados. Incrivelmente lindos. Ela colocou um pouco de
rímel e aplicou nas pálpebras uma cor relativamente neutra, mas
K.L. KREIG
o que quer que seja, faz brilhar um pouco. Um toque de gloss
brilhante cobre seus lábios. E é isso. Nenhuma outra maquiagem
embeleza seu rosto. Simples. Puro. Tão discreto, mas tão ela. Ela é
um paradoxo completo. Sensual, mas inocente. Doce, mas tão
selvagem que faz minha cabeça girar.

“Eu peguei você em um momento de fraqueza?” Ela diz de


brincadeira.

“Eu sempre sou fraco perto de você”, murmuro, estendendo


a mão para limpar uma mancha escura de seu dente da frente. Eu
deixei meu dedo acariciar sua bochecha antes de forçá-lo de volta
para o meu lado.

Para ser honesto comigo mesmo, nós dois sabemos por que
estou aqui. Além do fato de ser impossível de negar algo a ela, é
simples: manter os outros caras fora de sua calça. E com a seda
azul bebê que abraça as curvas que ela está usando, os caras vão
querer rastejar para dentro desse ponto quente e provar um
pouco. Não é culpa deles, no entanto. É dela. Ela é tão linda que é
como entrar em sua própria loucura pessoal porque você sabe que
não pode tê-la. Eu sei. Eu estive em meu próprio inferno pessoal
por anos com ― e sem ― esta mulher. E a questão é... ela não tem
noção de tudo isso. Ainda.

“Tem certeza de que estou bem?” Ela pergunta, mudando


sua atenção para o decote precário nesse vestido pecaminoso. Uma
mexa de seu cabelo desliza para baixo, para baixo, abaixo no vale
de seus seios e desaparece dentro do tecido frágil. Inferno de todos
os fodidos. Eu me pergunto o que ela pensaria se eu jogasse um
moletom sobre ela antes de sairmos.

Ela tenta em vão puxar os dois pedaços mais perto, mas tudo
que ela consegue fazer é inflar seus seios empinados ainda
mais. Na minha cabeça, gemo, tentando como o inferno manter
minha ereção sob controle. Haverá um monte de garotos afogando
o ganso em seus quartos, com certeza. Queima meu interior saber
que não sou o único fantasiando sobre Maverick DeSoto.
K.L. KREIG
Incapaz de aguentar mais, eu pego suas mãos e as empurro
para os lados, segurando com força. “Pare. Você está... Cristo,
Mavs.” Eu a puxo para mim e descanso minha testa na
dela. “Aqueles idiotas do colégio vão ter imaginação por dias se
lembrando de como você está. Você é o sonho de todo
homem. Molhado ou seco”, termino em um sussurro. Que merda
estou dizendo? Qualquer sonho envolvendo Maverick será
molhado. Sujo e molhado.

“Kael,” ela meio que ri, meio que suspira.

“O quê, Swan? Basta ir do jeito que está.”

Sua cabeça inclina para trás, aquele olhar arregalado


cortando para mim mais uma vez. Sua expressão é ilegível. Ela
pisca aqueles grandes olhos verdes de corça várias vezes antes de
responder suavemente “Obrigada.”

“De nada” eu resmungo. Deus, se você está aí, acho que vou
precisar de uma grande ajuda esta noite, cara. Por favor, não me
deixe foder com ela, deixando escapar de como estou perdidamente
apaixonado por ela. “É melhor nós irmos. Já estamos uma hora
atrasados.”

Seus lábios se curvam. Em seguida, ela dá aquele suspiro


que faz soar o alarme para pessoas normais, como a vida ou a
morte de algo. Só que para Mavs, significa que ela se lembrou de
algo que quer lhe contar. Normalmente sem importância. Me
assustou profundamente nas primeiras vezes que ela fez isso. E
quando faz isso enquanto estou dirigindo na estrada, acho que um
veado vai pular na nossa frente ou o apêndice dela explodirá. Ela
quase nos fez cair uma vez com esse suspiro repentino que ela dá.

“Eu quase esqueci! Seu corpete.”

“Oh inferno, não.” Eu agarro sua mão bem a tempo,


enquanto ela tenta correr para longe. “Já é ruim o suficiente eu ir
ao seu baile de formatura quando tenho idade legal para beber. Eu
não estou... ah, ah, ah”, coloco um dedo contra sua boca aberta,
K.L. KREIG
secretamente saboreando a sensação macia de seus lábios, “sem
argumentos. Não vou usar a porra de uma flor com essa merda
branca solta na lapela até me casar.” Recusei um smoking
também, optando por um terno preto convencional.

“Mas é tradição”, ela lamenta.

“Não se preocupe, baby. Você quer que eu vá ou não?”

Os cantos de sua boca se curvam em um beicinho. Jesus


Cristo, eu quero beijar isso dela, mas sei que não devo. Eu tentei
isso uma vez quando ela estava na quinta série. Eu tinha treze
anos. Ela tinha dez anos. Foi a única vez que coloquei meus lábios
nos dela. Minha cabeça estava flutuando nas nuvens até que o
tapa que ressoou pela floresta me trouxe de volta à terra com força
e dor. Então ela disparou em cima de mim mais rápido do que um
coelho e eu não a vi novamente por três dias. Demorou cerca de
uma dúzia de desculpas antes que ela falasse comigo
novamente. Ela me fez prometer que nunca faria isso de novo.

Prometi.

Eu menti, no entanto.

E vou tentar novamente, mas o timing é tudo. Sair da zona


de amizade é complicado. Se empurrar na hora errada, vou perder
minha melhor amiga para sempre. E não posso arriscar perder
Mavs. Jamais. Eu sei que agora é a hora de buscar ter paciência,
não um compromisso. Por mais que eu queira que seja, estou indo
para a faculdade e começando o curso de direito e ela irá para a
faculdade em breve, agora não é o momento certo para nós.

“Bem. Faça da sua maneira então”, ela diz, cruzando os


braços.

“Eu farei”, digo, cruzando os meus braços também,


facilmente combinando com sua teimosia.

Ela sorri. Eu sorrio.

Ela ri. Eu também.


K.L. KREIG
Tudo está bem.

Dez minutos depois, terminamos com as fotos e estamos


livres para sair. Vivian até nos deixou ficar na sua ‘sala de estar’
por alguns momentos. Mavs propositalmente tropeçou para que
ela caísse no tapete imaculado. Sua mãe ficou louca.

Fodida Vivian e seu tapete precioso. Ela o limpou mais


rápido do que eu poderia piscar, qualquer pensamento de capturar
o momento importante do último baile de sua filha mais nova foi
esquecido. Me mata que Maverick permaneça no último degrau da
lista de prioridades de sua mãe. Vivian e Richard DeSoto não
são maus pais, eles apenas têm outras prioridades que não são
seus filhos. Quando ela for minha, vou adorá-la como a rara
preciosidade que ela é.

“Vamos.” Eu coloco meus dedos maiores entre os seus


pequenos e a arrasto em direção à porta. Poucos minutos depois,
estamos passeando pelas portas duplas do Saint Bernadette's
High, minha mão possessivamente na parte inferior de suas costas.

Quando chegamos à academia, a festa está a todo vapor. A


pista de dança está lotada. As pessoas estão do lado de fora,
conversando em pequenos grupos. Mas rapidamente, cabeças
estão girando. Olhos esbugalhados. Línguas abanando. Mentes
masculinas giram com pensamentos sujos sobre o que está por
baixo de seu vestido delicioso e como tirá-la dele.

Meus olhos viajam sobre ela, minha visão desta altura é


espetacular. Mas santo Deus misericordioso. Onde está a porra do
favor que pedi antes, porque não é isso. Seus mamilos são como
balizas malditas, orgulhosamente protuberantes contra o tecido
daquela peça estranguladora que ela está usando. Quando ela
desceu as escadas, equilibrando-se desajeitadamente em seus
sapatos elegantes, meu pau inchou tão dolorosamente que tive que
abotoar o paletó para esconder as evidências.

Meus dentes cerram e meus dedos apertam ao redor dela,


colocando-a mais perto de mim. Estou quase pensando em jogar
K.L. KREIG
meu casaco por cima dela, mas acho que os botões bateriam bem
no nível do peito, chamando ainda mais atenção do que ela já está
atraindo. Eu pego alguns idiotas com tesão olhando para ela e eles
imediatamente desviam os olhos. Bom. Tenho a sensação de que
terei uma carranca estampada no rosto a noite toda.

“O que está errado?” Ela pergunta, toda inocente e


totalmente alheia.

“Nada” digo. Minha mandíbula já está doendo. “Vamos pegar


algo para beber.”

Abrimos caminho por entre a multidão. Meus dentes se


apertam enquanto eu jogo avisos implícitos maldosos para todos
aqueles que balançam uma vara em um raio de cem metros. Acho
que todo mundo está começando a entender a mensagem bem alto
e claro.

Ela é minha.

Ela sempre será minha.

Ficamos ali com nossos pequenos copos de plástico cheios


de um ponche doce horrível e apreciamos o ginásio decorado de
maneira extravagante. Parece tão pequeno e sem importância
agora do que quando estávamos tentando chegar às regionais de
basquete masculino apenas quatro anos atrás.

“Você fez isso?” Eu pergunto, gesticulando para os balões


dourados, verdes e roxos amarrados juntos para formar um arco
ao redor da entrada do ginásio. Vejo uma cabine fotográfica no
canto com vários chapéus, jiboias e outras porcarias. Meus olhos
viajam sobre recortes de máscaras coladas na parede, em seguida,
para as contas multicoloridas em volta do pescoço que alguém
jogou sobre sua cabeça no caminho para cá. Eles também se
juntaram aos seus seios, caindo bem naquele ponto doce entre
seus montes. Parece que ninguém se cansa deles.

Pooooooorra.
K.L. KREIG
Vai ser uma longa noite.

Ela me presenteia com um olhar fulminante, me fazendo


rir. “Inferno, não, eu não fiz isso” ela pigarreia. Essa é minha
garota.

“Estou surpreso que você quis vir.”

Seu ombro nu e delicado sobe e desce. “MaryLou foi


implacável até que cedi. É inútil lutar com ela quando fica assim.”

Do outro lado do salão uma pequena terrorista acena para


nós. Ela e Larry estão na fila para a cabine de fotos. Eu não ficaria
surpreso se eles estiverem casados e com três filhos quando
completarem 25 anos. Estou pensando que a parte de casado é
uma ideia nova. As crianças? Eu quero também, mas não há
pressa nisso. Preciso da minha cota de Mavs primeiro.

Mavs toma um gole de sua água com açúcar, tentando


parecer indiferente. “Então... Killian está de volta, hein?”

E assim, meu coração afunda como uma pedra, levando meu


estômago com ele. Não... não é uma pedra. É a porra de uma rocha
de cinco toneladas. Do tipo em que a gravidade desce montanhas
durante avalanches. O tipo que esmaga, matando esperanças e
sonhos, tirando vidas. Sim... desse tipo.

“Sim. Voltou na semana passada.”

“Papai disse que vai trabalhar no DSC?”

Esse fio de esperança em sua voz faz minha pele pinicar a


ponto de coçar. Eu deslizo um dedo entre a gola da minha camisa
e garganta. Eu puxo, soltando a filha da puta para que eu possa
respirar. “Sim”, eu respondo com firmeza.

A obsessão de Maverick por Killian parecia apenas crescer


em vez de diminuir. E, caramba, a dele também. É exatamente por
isso que estou aqui neste verão, estagiando na DeSoto
Construction. Eu quero estar de volta a esta cidade assim como
quero ficar um tempo no meu time atlético depois de uma corrida
K.L. KREIG
de oito quilômetros, mas o movimento de Killian frustrou isso. E
Maverick está aqui até o outono, quando ela começa a faculdade. E
de jeito nenhum vou deixar os dois sozinhos, desprotegidos
durante todo o verão. Não vai acontecer.

“Ei, Maverick”, alguém com uma voz profunda grita por


trás. Eu me viro e fico cara a cara com Bruce Chutney, também
conhecido como Bola única. Bruce vem de uma longa linhagem de
fazendeiros e cometeu o erro castrador (literalmente) de pisar em
um cabo de força de alta tensão enquanto estava ligado. Qualquer
fazendeiro dirá que isso é uma grande burrice. Ele tem sorte de não
estar morto em vez de apenas ter uma noz cortada no incidente,
quando a perna de sua calça jeans ficou presa no roteador e o
sugou. A história continua, ele segurou sua preciosa vida por
quase três horas até que seu pai ficou preocupado e veio ver como
ele estava.

“Oi Bruce”, Mavs responde docemente.

“Você, uh... você quer talvez, uh...” O olhar de Chut varre


para o meu brevemente, então de volta para Mavs como se eu não
existisse. Como se eu não estivesse aqui como seu par. E por que
ele pensaria que eu sou? Todos na cidade sabem como somos
unidos. Como amigos. Como amigos de merda. “Uh, dança comigo
mais tarde?” Ele termina gaguejando. Parece que o idiota perdeu
mais do que a bola esquerda naquele acidente. Como sua
habilidade de interagir com o sexo oposto sem molhar as calças.

“Desculpe,” eu falo exatamente quando Mavs está se


preparando para responder. Provavelmente aceitando. “O cartão
de dança dela está cheio para a noite.”

Um pequeno suspiro escapa da garganta de Mavs quando eu


a puxo para mim e envolvo um braço forte em volta de sua
cintura. Então eu a sinto brilhar, iluminando o lado direito do meu
rosto enquanto continuo a olhar para o bola única, que ainda não
entendeu a pista.
K.L. KREIG
Graças a Deus estou aqui esta noite. Eles podem ser capazes
de olhar, mas vou quebrar a porra dos dedos deles se sequer
pensarem em toca-la. Nem mesmo uma dança. Ela é minha. A
noite toda. Eu não fico com ela com muita frequência, então vou
aproveitar ao máximo quando fizer isso.

“Oh sim. Uh, ok. Certo. Eu, uh... te vejo por aí


então.” Cristo, quase sinto pena do pobre coitado. Quase.

Assim que ele está fora do alcance da voz, Mavs se vira para
mim. “Que raio foi aquilo?”

“O que?”

“O quê? 'O cartão dela está cheio para a noite.'” Ela abaixa a
voz, fazendo uma imitação horrível de mim enquanto cita o que eu
acabei de dizer.

“Eu não soo assim” provoco, tentando ao máximo não me


abaixar e tomar seus lábios em um beijo punitivo, mostrando para
cada idiota aqui que ela já está comprometida. Mostrando a ela que
já está comprometida. E não com Killian.

Paciência, Shepard.

“Você não parece o quê? Como um namorado possessivo e


ciumento?”

Meus molares se fecham. Cada palavra dessa afirmação é


verdadeira, exceto a última. O que eu mais quero. O título que
temo nunca ter. É difícil manter meu tom leve quando estou
fervendo por dentro, mas consigo. “Eu estava te fazendo um favor,
Swan.”

“Um favor?” Ela não pede uma explicação quanto me desafia


a prosseguir. Então é o que eu faço.

“Sim, um favor. Eu poderia apenas imaginar isso agora.” Eu


estendo minha mão no espaço vazio à nossa frente, evocando uma
imagem para ela. “Você dança com aquele pobre idiota e ele vai se
apaixonar por você.” Verdade. “Ele vai cortejar você. Então você vai
K.L. KREIG
se apaixonar por ele.” A porra do inferno. “E logo, depois que vocês
dois se casarem”, sobre meu corpo morto e sem vida, “você
descobrirá que ele não apenas perdeu um testículo naquele
acidente, mas os nadadores do outro estão flutuando em uma
piscina morta.” Essa parte pode ser verdade. “Credo, nenhum
pequeno bola única estará correndo pela fazenda.”

Conforme eu pinto este quadro de como sua vida seria com


o Chut bola única, seu sorriso fica cada vez mais amplo. No final
do meu elaborado conto de fadas, ela está rindo tanto que vejo
lágrimas se formando nos cantos de seus olhos.

“Viu? Foi um favor.”

“Sim. Eu posso ver isso.” Ela diz ainda rindo.

Só então, ‘You and Me’ de Lifehouse começa a filtrar pelos


alto-falantes. Eu não pergunto, apenas arrasto Mavs para a pista
de dança e a coloco contra mim enquanto começo a nos balançar
com a música. Ela enrijece por apenas um segundo antes de
relaxar, músculo por músculo, até que ela esteja totalmente
pressionada contra mim.

Enquanto inalo seu cheiro inebriante, absorvendo essa


criatura linda, selvagem e incrível em meu corpo, sei que o Bola
única é apenas a ponta do iceberg. Haverá mil Bolas únicas em
uma porra de caixas de surpresas por aí.

Eu sei que ela vai para a faculdade em breve. Sei que ela será
submetida a outras tentativas. Isso me enoja, ela ser convidada
para festas de fraternidades, pode ter seus drinques batizados,
pode ser abusada e não porque ela não é inteligente, mas porque
ela é tão atraente e magnética. Também sei que não poderei fazer
nada a respeito. Só posso esperar e rezar para que ela não encontre
outra pessoa.

Esse pensamento envia fragmentos gelados de pânico


disparando em minhas veias e, em vez de ficar persistindo em meus
pensamentos por alguns minutos para que eu possa me convencer
K.L. KREIG
a sair da borda, faço algo precipitado e estúpido. Algo de que vou
me arrepender por anos. Suas palavras me cortaram em dois, me
assombrando e me enfurecendo cada vez que as repasso em minha
mente.

“Saia comigo.”

“O que?” Ela pergunta preguiçosamente.

Eu paro o balanço e me inclino para trás para capturar seus


olhos. “Saia comigo.”

Ela me encara sem expressão. Claramente confusa.

“Um encontro, Swan. Saia em um encontro comigo. Um de


verdade.”

Suas sobrancelhas se contraem. Eu juro que ela para de


respirar. Ela abre a boca uma vez, sua língua se preparando para
formar palavras, mas repensa. Então ela se aproxima de
mim. “Kael, eu... não posso.” Ela parece genuinamente triste. Por
mim, suponho.

“Por quê? Me dê uma boa razão.”

Inclinando a cabeça, ela responde lentamente como se eu


tivesse dano cerebral, “Porque somos amigos.”

“Amigos vão a encontros. O tempo todo. Amigos até se


apaixonam e se casam. E vivem felizes para sempre”, eu acrescento
idiotamente.

“Eu não posso”, ela quase sussurra agora. Jason Wade


ainda está cantando ao fundo e agora, se ele estivesse em pé na
minha frente, eu daria um soco na garganta dele. Eu acho que suas
palavras sentimentais e melodia hipnótica me suavizaram para
acreditar que eu poderia falar docemente com ela para ser
minha. Eu deveria saber melhor. Nada com essa garota é fácil.
K.L. KREIG
“Isso não é bom o suficiente.” Ela tenta se desvencilhar de
mim. Eu a seguro. Aperto meus braços e cavo meus dedos em suas
costas. “Diga-me o porquê.”

Seus olhos estão em qualquer lugar, menos nos meus. “Eu


não quero machucar você.”

Cada músculo do meu corpo fica tenso. Do couro cabeludo


ao calcanhar. Aquela sensação de mal-estar que eu tive antes na
boca do estômago com a menção do nome de Killian fica
pior. Muito, muito pior.

“Você não vai” eu grito. Você irá. “Diga-me”, eu a persuado


suavemente. Não posso suportar olhar em seus olhos quando ela
arruína a vida que eu já planejei para nós, então encosto minha
bochecha na dela e sussurro novamente, “Você pode me dizer
qualquer coisa, Mavs.”

Eu sinto sua garganta trabalhar para engolir. Seu hálito


quente abana o lóbulo da minha orelha quando ela confessa
baixinho, assim que a última nota de Lifehouse é tocada: “Estou
apaixonada por outra pessoa.”

Isso doeu como um filho da puta. Nem vou tentar


negar. Sinto como se uma faca tivesse acabado de ser alojada entre
minhas costelas, a ponta perfurando meu coração. Ela fica lá,
queimando quente enquanto a pele ao redor está marcada com a
agonia que suas palavras infligem.

“Bem”, finalmente digo a palavra pesada, “acho que é um


motivo.”

“Kael”, ela começa pressionando as mãos entre nós,


tentando escapar novamente.

Mas eu seguro. Não posso olhá-la nos olhos ainda. Não


posso testemunhar a pena que sei que verei deslizando pelo seu
rosto. “Está tudo bem. Compreendo.”
K.L. KREIG
Quero perguntar quem é. Quero fazê-la pronunciar o nome
do homem que sempre teve aquele pedaço dela que eu não
tenho. Mas não quero, porque não quero ouvir o nome do meu
irmão sair de sua boca novamente. Então, eu a seguro durante
outra música, colo um sorriso de plástico do caralho e continuo o
resto da dança em uma névoa de dor e fúria em partes iguais.

Quando deixo-a logo depois das duas da manhã, estou


pensando em dirigir direto para a casa de Killian e espancá-lo até
virar uma polpa de sangue. Conversamos sobre Maverick uma
vez. Só uma vez. Foi quando eu tinha quatorze anos. Eu disse a ele
que a amava e que queria me casar com ela. Eu estava
reivindicando-a, desde aquela época. Mas ele também. Sua
resposta após minha declaração de propriedade foi simples e
enigmática “E se não for isso que ela quer?” Mas não foram as suas
palavras que me deram a dica, porque era uma pergunta justa.
Foi como ele as disse. Possessivo. Com ciúmes. Determinado.

Quando eu era mais jovem, teria dado ao meu irmão tudo o


que ele quisesse. Teria feito qualquer coisa para agradá-lo. Isso é o
quanto eu o idolatrava. Mas naquele dia no lago quando Mavs me
hipnotizou, ela me mudou. Percebi que havia outra pessoa que eu
queria adorar mais.

E se eu pensasse por um único segundo solitário que poderia


arrancar dele os sentimentos que ele tem por Maverick, teria ido
agora atrás dele. Passei a noite toda me torturando com o irmão
que costumava exaltar, até perceber que ele era um
competidor. Mas eu sei que é inútil. Acho que ele lutaria por ela
tão longa e brutalmente quanto eu. Ela vale a pena e nós dois
sabemos disso. Então, em vez disso, dirijo os quinhentos metros
da garagem de DeSoto até a casa dos meus pais, onde vou passar
o verão. Eu vasculho minha caixa de CDs. Observo Lifehouse
queimar e derreter em uma poça de plástico na pia. Ouço a bronca
da minha mãe no dia seguinte, quando ela me castiga por ter
estragado tudo.
K.L. KREIG
Então faço uma promessa. Não vou desistir dela. Eu
também não vou desistir de qualquer um dos dois. Maverick é tudo
que eu sempre quis e não posso simplesmente jogar fora esse
sonho até que meu pesadelo se torne realidade. E enquanto eles
não estiverem juntos, ainda tenho uma chance.
K.L. KREIG
CAPÍTULO VINTE
Maverick

Cinco meses atrás

Vejo o disco girar, assistindo de um a dez passar


rapidamente em um borrão de cores.

“Oito”, Kael grita quando o botão de plástico para o disco de


girar. Ele está deitado de lado, a cabeça apoiada na palma da mão,
um coquetel balançando nos dedos da outra mão. Ele tem agido de
forma estranha a semana toda ― distraído, se eu tivesse que dar
uma opinião sobre isso. Ele diz que é trabalho, mas não tenho
tanta certeza. Eu esperava que um jogo divertido e relaxante LIFE
o deixasse mais leve. Costumávamos brincar o tempo todo quando
crianças. Eu chicoteava sua bunda, embora ache que ele
realmente me deixava vencer na maioria das vezes. Mas não acho
que esteja funcionando. É nosso segundo round e ele parece mais
tenso do que nunca.

Obediente, movo meu carro amarelo de seis passageiros por


oito quarteirões, contando-os em voz alta enquanto ando. Eu gemo
sobre todos os ladrilhos de Life que estou abandonando no
caminho, vendo se consigo tirá-lo de lá. Novamente, eu caio no
chão. Ele está estoico, olhando para o tabuleiro, claramente
perdido em pensamentos. Meu oito me leva além do espaço ‘Casar’,
K.L. KREIG
mas tenho que parar para ter um cônjuge. Quando eu tiro uma
figura rosa e coloco sua espingarda, ele nem pisca.

Kael deixa cair seu copo no chão e toma sua vez. Eu tive que
fazer a jornada da faculdade enquanto Kael disparou para fora do
portão com sua carreira e está meio nível à minha frente, seu carro
vermelho pesado com uma esposa e três filhos já. Ele cobre o
espaço amarelo com seu pedaço de plástico, nem mesmo se
preocupando em lê-lo. Eu apareço e o movo, anunciando “Outro
menino.” Eu coloco uma figura azul na única fenda vazia que
resta. “Eu não sabia que tínhamos tantos filhos? É melhor
começarmos.”

Com isso, seus olhos disparam para os meus, agarrando-os


com tal intensidade que rouba um fôlego, talvez dois. Esta é a
primeira vez que ele se envolve em alguma coisa fora de sua cabeça
na última hora. Ele levanta para se sentar, deslizando seu copo
para que o conteúdo não derrame. “Nós não conversamos sobre
isso ainda, sabe.”

Engulo.

“O que? Crianças?”

Sua cabeça se move para cima e para baixo. Devagar e


sempre. Eu puxo minha camiseta folgada da Old Navy, de repente
me sentindo quente, embora esteja a um grau Celsius lá
fora. “Quero dizer, sei que você quer filhos. Eu sei que quero
filhos. E eu estava apostando alto quando disse que o Bola única
não os daria a você.”

Eu observo seu rosto, procurando por um sorriso, pensando


que é uma coisa horrível para ele dizer. Bruce Chutney está casado
há cinco anos com Carrie Ann Miller, uma mulher doce, três anos
mais jovem. Ele vem de uma grande família. Carrie Ann
também. Os fazendeiros tendem a criar grandes famílias para
ajudar nas tarefas e deixar seus legados, mas cinco anos depois,
estão naquela grande casa de fazenda vazia no lado sul da cidade,
sozinhos.
K.L. KREIG
Então, o canto de sua boca dispara, fazendo seus olhos
dançarem. “Você é terrível”, digo a ele, empurrando seu ombro com
tanta força que ele cai. No caminho para baixo, ele consegue me
agarrar, levando-me com ele. Ele belisca meus lados, me fazendo
cócegas até que estou gritando como um porco preso, implorando
para ele parar. Sinto a umidade encharcar minha calça de ioga e
percebo que derramamos sua vodca em nossa briga. Quando ele
relaxa, estou com falta de ar. Principalmente porque 86 quilos
estão em cima das minhas costas, espremendo meus pulmões.

“Ouvi dizer que eles estão grávidos”, é falado direto no meu


ouvido. Meu coração para. Simplesmente para, bem ali, na minha
cavidade torácica. Sinto que deu sua última batida. Estou certa
disso. “Encontrei Bruce no banco outro dia e ele me contou as boas
notícias.”

Oh merda. Começa novamente. Bate com tanta força contra


meus ossos que dói, levando alguns pulsos para voltar ao ritmo
normal. Deixo minha testa afundar no tapete embaixo de mim, me
castigando por achar que ele estava falando sobre Killian e Jilly. E
que a notícia me destruiu totalmente.

Por quê? Por que depois de sete meses de casamento não


posso simplesmente deixar isso passar? Por que tenho que me
importar com o que eles fazem, para onde vão, se procriam ou
não? Por que ― porra por que ― ainda estou me agarrando à ideia
de agarrá-lo pelo cabelo, quando sei, sem sombra de dúvida, que
estou apaixonada pelo homem que atualmente está me
esmagando?

Meu corpo vira e agora Kael monta em mim, olhando para


baixo com preocupação. “Eu machuquei você?” Ele pergunta tão
docemente que me mata.

Minha testa se contrai. “Não. Por quê?” Oh, estou esfregando


meu peito. Bem no centro. Tentando aliviar a dor surda que se
instalou ali. Digo ao meu cérebro para fazer minha mão parar de se
K.L. KREIG
mover em pequenos círculos sobre o meu coração. Meus dedos
diminuem a velocidade, então finalmente param.

“Você ouviu o que eu disse?”

“Uhhhh... sim. Isso é ótimo para eles”, murmuro.

“Também acho. Ele parecia feliz.”

É esse o problema com Kael? Ele quer filhos e tem medo de


que eu não queira? Ele tem medo de que tudo isso seja uma
realidade alternativa surreal em que nos encontramos
temporariamente? Nós somos isso?

O sorriso em seu rosto é quase triste. Ele se inclina,


colocando todo o seu peso nos antebraços. Seus dedos fazem um
túnel em meu cabelo, nos ancorando como um só. Estamos peito
a peito. Ele encosta sua testa na minha. Ele faz muito isso. Como
se pudesse transferir o amor que tem para mim por meio de uma
conexão simples. Por osmose. E o engraçado é... parece que
sim. Sempre me sinto mais calma quando ele me toca de alguma
forma. Ele é aquela atração gravitacional que me mantém aterrada
em todas as coisas reais e verdadeiras.

Acaricio suas costas, subindo e descendo, em movimentos


lentos e calmantes. “O que há de errado querido?” Eu persuado
suavemente. Já fiz a mesma pergunta meia dúzia de vezes esta
semana. Encontro a mesma resposta curta, “Trabalho.”

Ele respira fundo, sua exalação pesada girando em meu


rosto. Tem cheiro de canela, vodca e um toque de medo. Seu corpo
treme um pouco e o homem confiante com quem estou sempre
acostumada parece ter desaparecido. Sua voz está tão baixa que
me esforço para ouvi-lo. “Você está feliz, Maverick?”

De alguma forma, sua pergunta não me pega de surpresa. É


apenas uma questão de tempo antes de precisarmos ter uma
discussão franca e muito dolorosa. Talvez essa seja uma das razões
pelas quais o fantasma de Killian paira sobre nós. Porque nós dois
K.L. KREIG
nos recusamos a reconhecer que ele existe. Talvez, se nos unirmos,
possamos erradicar seu domínio sobre nós para sempre.

“Muito”, asseguro simplesmente, com sinceridade. Apesar


da melancolia persistente sobre Killian, eu me estabeleci nesta vida
com Kael e estou mais feliz que nunca. Estou começando a me
sentir como uma recém-casada de verdade. Talvez sete meses
depois, mas os necessitados não podem escolher.

“Porque se você não está feliz, se mudou de ideia e não é isso


que quer...”

“Pare,” interrompo com raiva. “É exatamente onde eu quero


estar. Bem aqui com você.”

“Às vezes, sinto que isso não é real, Swan.”

“Kael”, murmuro em uma nuvem de pesar. O tom de sua voz


é como um tiro no centro do meu coração. Passo meus braços em
volta dele e puxo até que fique diretamente amarrado comigo. Ele
é pesado. É difícil respirar. Eu não me importo. Nem finjo que não
sei do que ele está falando. Estou cansada de fingir. Eu infundo
minha voz com força e confiança, valorizando o que digo. “Nós
somos reais, Kael. Nós somos reais. Mais real do que qualquer
coisa na minha vida.” É verdade.

“Às vezes, quando vou para a cama à noite com você


enrolada em mim, estou convencido de que vou acordar e você terá
sido apenas um sonho incrivelmente fantástico. Isso me corrói o
tempo todo. Eu me preocupo se vou abrir meus olhos e você terá
ido embora.”

Lágrimas brotam. Elas rapidamente rolam em meu cabelo,


exceto do meu lado direito. A gota de umidade salgada percorre a
pele engessada de nossas bochechas. Eu fiz isso com ele. Para
nós. Como faço para corrigir isso? O que eu faço?

“Não irei embora. Nunca”, consigo dizer através da


rouquidão em meu peito, agora por um motivo totalmente
diferente. Eu o aperto com mais força. Tento fazê-lo acreditar em
K.L. KREIG
mim. “Eu prometo. Eu te amo muito, Kael.” Sei que não posso viver
sem você. “Sei que é aqui que devo estar.” Espero que ele entenda
o que não estou dizendo.

Ele respira uniformemente no meu ouvido, falando


baixinho. “Eu quero filhos. Queria esperar e apenas desfrutar de
ser marido e mulher por um tempo, mas esperei uma vida inteira
por você, Mavs. Tenho esse desejo dentro de mim, ver sua barriga
crescer com nosso bebê, sabendo que juntos criamos uma vida que
faz parte de você, parte de mim, para sempre nós.”

Depois que nos casamos, levei semanas para respirar fundo


sem entrar em pânico. Era muito parecido com os estágios de luto,
deixar Killian ir e aceitar minha vida com Kael. Negação, raiva,
tristeza quase debilitante. Então, eu os repetiria sem nenhuma
ordem específica. Gradualmente, porém, mudei para a
aceitação. Mais do que aceitação, na verdade. Percebi, que nos
braços deste homem altruísta e incrível, é onde eu deveria estar o
tempo todo. Disso estou convencida.

Sei que progredi muito desde aquele dia em que entrei na


igreja. Não sou perfeita. Não tenho certeza se algum dia serei, como
minha reação esta noite acabou de atestar. Eu não percebi o quão
longe eu tinha chegado até este exato segundo, entretanto... até
enfrentar a decisão de nos unir para sempre, com nosso DNA
combinado em uma pequena vida humana, que nós dois seremos
responsáveis por amar e criar. Não posso dizer mais nada a não
ser “Ok.”

Kael quebra meu aperto, recuando para olhar dentro de


mim, onde encontrará certeza. A solenidade foi substituída por
uma alegria pura, inalterada e perplexa. “Ok?”

Eu concordo. Mais lágrima cai, embora um sorriso surja em


meu rosto. Ele retira as do lado esquerdo com o polegar antes de
fazer no lado direito. “Por que você está chorando, Swan?”
K.L. KREIG
“São lágrimas de felicidade”, sussurro. E elas são. Na
maioria. Aquelas que não estão cheias de remorso por plantar e
nutrir aquele núcleo de dúvida sobre nós de qualquer maneira.

“Você realmente quer começar a tentar?”

“Quero.” Realmente quero.

“Deus, eu te amo, Maverick Shepard.”

Sorrindo com os olhos lacrimejantes, pego seu rosto em


minhas mãos e asseguro-lhe com a voz mais forte e genuína que
posso reunir “Eu te amo, Kael Shepard. Acredite nisso, por favor.”

O desejo instantaneamente extingue suas poças âmbar


líquidas, mas o fogo por trás da chama ardente as fazem brilhar
intensamente. É hipnotizante e estonteante saber que ele me quer
tanto. Sempre.

Desembaraçando uma das mãos, ele a desliza lentamente


pelo meu corpo, do lado de fora do meu agora dolorido seio. Ele
brinca em torno do meu mamilo, mas é apenas uma provocação
porque ele continua se movendo para baixo no meu torso. Ele
então desliza entre nós. Sob o elástico da minha calça. Entre a
seda da minha calcinha e minha pele nua. Sobre meu monte,
através da umidade da minha buceta.

“Meu Deus.” Minhas costas arqueiam para fora do chão


quando ele empurra um dedo ágil para dentro.

“Quero começar agora.”

Eu começo a rir, mas solto um suspiro áspero de ar em vez


disso, quando ele arrasta o dedo molhado para o meu buraco
enrugado, circulando-o. “Kael”, imploro, não tenho certeza do que
estou implorando, mas não paro de implorar de qualquer
maneira. “Estou... estou tomando pílula.”

“Então nós praticamos”, ele oferece em


resposta. Observando-me com fome crua, puxa minha roupa
confortável pelas minhas longas pernas. O material pegajoso pega
K.L. KREIG
em meus pés. Eu começo a rir quando ele puxa e o tecido se estica
com seus longos braços.

“Impaciente?”

“Entusiasmado”, ele responde com aquele sorriso sexy, uma


vez que finalmente me livrou da roupa. Eficientemente, ele está
com minha camiseta sobre minha cabeça e meu sutiã
desabotoado. A última peça de roupa a se juntar à pilha, é minha
calcinha sem babados.

Ele se senta de cócoras, os olhos passando vagarosamente


pelo meu corpo nu. Eu torço sob seu olhar, dolorida, me sentindo
carente em todos os lugares que seu olhar beija ao longo da minha
pele. Incapaz de suportar mais, estendo minha mão com a palma
para cima. “Venha aqui.”

Seus olhos voltam para os meus. Eles brilham de


felicidade. Esse sorriso se transforma em um sorriso delicioso. Isso
assume todo o seu ser. Em seguida, assume o meu.

Em um flash, suas roupas somem, jogadas a esmo para


todos os lados. Cobrindo-me com seu corpo duro como pedra, ele
me beija até que todos os nervos ganham vida e todos os ossos
parecem fracos e pegajosos. Ele empurra dentro de mim com um
propósito focado, até que eu grito seu nome uma e outra vez. Ele
faz amor comigo por horas a fio, fazendo meu corpo cantar, minha
alma voar alto e meu coração fundir-se ao dele.

“Acho que temos essa coisa de fazer bebês bem cuidada”,


digo a ele, cansada na calada da noite, enquanto ele me abraça
com força. Em vez de subir para a cama, no estilo Kael, ele insistiu
que fizéssemos um forte e dormíssemos aqui no chão juntos. Era
quase como se ele precisasse daquela conexão do nosso passado,
então eu não podia discutir. Também precisava disso.

“Humm, acho melhor continuarmos para não perder o


foco.” O calor passa por mim onde seus lábios encontram minha
têmpora.
K.L. KREIG
“Estou no jogo.” Eu me aconchego mais perto, sentindo-me
saciada e confusa em todos os lugares. “Estarei aqui quando você
acordar”, prometo suavemente, colocando um beijo suave no peito
embaixo da minha bochecha.

Seu aperto em mim aumenta. “Eu acredito em você.”

“Boa noite, Kael.”

“Boa noite, Swan.”

Em vez de jogar o jogo Life ― que nunca terminamos por falar


nisso ― a merda está se tornando real e estou delirantemente feliz
com isso. Meu coração está explodindo de suas bordas. Vamos
fazer um bebê. Um bebê. E não estou em pânico, nem me sentindo
mal, nem desejando estar conversando com outra pessoa.

É quando eu sei: em vez de olhar por cima do ombro, vendo


meus passos se desvanecerem, desejando poder eternizar as
memórias que vieram com cada impressão, estou realmente
colocando um pé na frente do outro, fazendo novas ― impressões e
memórias, que vão pavimentar minha nova vida.

E estou animada com isso.


K.L. KREIG
CAPÍTULO VINTE E UM
Maverick

Quatro meses atrás

Este ano nossa família teve um susto danado. E deixe-me


dizer a você, não há nada que reúna mais as facções destruídas de
uma família do que a temida palavra ‘câncer’. Não importa o quão
longe você esteja na proximidade, crenças ou moral, há duas coisas
que garantem o reagrupamento de uma família: uma nova vida e o
fim de uma.

Durante um jantar familiar rotineiro de domingo, notei um


galo no pescoço do meu pai. Ele se projetava do lado esquerdo e
mal era visível a olho nu, mas eu sempre fui fascinada por essa
marca de nascença em particular em sua garganta, no formato
perfeito de uma ferradura. Ele me disse quando eu era pequena
que era seu amuleto da sorte, que sabia que isso significava que
ele estava destinado a grandes coisas. Eu costumava desejar ter
um também.

E este caroço estava bem abaixo daquela marca de


nascença. Era grande o suficiente para distorcer levemente a
forma, o que chamou minha atenção. Aparentemente, já estava lá
há algum tempo e meu pai o ignorava. Mas fui implacável até que
K.L. KREIG
ele visitou seu médico local, que o encaminhou a um especialista
em Des Moines, que, após alguns exames iniciais que não foram
conclusivos, soltou palavras como linfoma e leucemia. Depois de
várias semanas cutucando, cutucando, escaneando e fazendo
biópsias, ele foi diagnosticado com tireoidite de Hashimoto, uma
doença autoimune que faz seu corpo ligar-se sozinho, destruindo
sua própria tireoide. Alguns remédios simples e testes frequentes
para ter certeza de que estavam funcionando corretamente foram
tudo o que precisou para voltar ao normal.

No entanto, aqui estamos nós novamente. De volta ao


hospital. Dando voltas. Assustados como o inferno. Mas desta vez,
é muito, muito mais sério do que nós pensamos. Eu roo minhas
unhas. Balanço minha perna. Aperto meus dedos até que fiquem
dormentes. Espero por uma palavra. Qualquer palavra. Alguma
novidade. Qualquer coisa.

Eu odeio hospitais. Odeio o cheiro. O ambiente estéril e


frio. A sensação de desolação que toma conta de seus sentidos. A
dor e o sofrimento que permeiam cada parte de você até que sinta
um enorme peso de meses ou anos que não serão eliminados.

Um flash de cor desvia minha atenção de mastigar a pele em


carne viva do meu polegar. Killian. Em sua camisa enorme
vermelha. Passando pelas portas da sala de emergência com
pressa.

Ele examina a sala brevemente antes de seu olhar


preocupado pousar em mim. Com três passos largos, ele diminui a
distância entre nós e, sem nem perguntar, envolve seus braços ao
meu redor. Ele me segura perto. Afaga meu cabelo. Sussurra que
vai ficar tudo bem.

“Alguma notícia ainda?” Ele respira.

Eu não fui abraçada pelo corpo grande de Killian em mais de


três anos. E parece... estranho. Diferente do que pensei que seria
depois de todo esse tempo. Estou acostumada com a estrutura
esguia de Kael. Aquela pequena aspereza que ele tem no fundo da
K.L. KREIG
garganta quando cantarola no meu ouvido. Estou acostumada com
aqueles cinco centímetros extras que ele tem a mais que
Killian. Como me sinto perfeitamente bem nas profundezas de seu
corpo.

“Ele ainda está em cirurgia”, murmuro no peito de


Killian. Ele me solta, mas segura minhas bochechas entre as
palmas das mãos. Seu polegar acaricia levemente meu
queixo. Minha pele formiga lá. Minha respiração acelera quando
percebo que estamos perto. Perto demais. Sua respiração cai em
nuvens pesadas sobre meu rosto enquanto ele olha entre meus
olhos e lábios. Por uma fração de segundo, tenho medo de que ele
vá me beijar. Por apenas um fio, sinto que o deixaria.

Só que é por um breve, segundo fugaz.

Então acabou. Estou me afastando, quebrando seu


aperto. Seus olhos mudam, pousando em minha mãe. Ele sai do
meu lado ― relutantemente, posso dizer ― para ir até ela, puxando-
a para um abraço terno. Ela funga. Eu meio que me pergunto se é
falso, mas o vermelho de seus olhos e a expressão do seu rosto me
dizem que não é. Ela ama meu pai da sua própria maneira
estranha.

“Onde está Kael?” Killian pergunta como se de repente


percebesse que meu marido não está presente. Graças ao bom
Deus, ele não está atrás daquela demonstração flagrante e
inadequada de afeto que acabamos de compartilhar.

“Minneapolis”, respondo distraidamente.

Como ele fez meses atrás, suas sobrancelhas franzem em


confusão e eu acrescento: “Ele está a caminho. Estará aqui em
breve.”

Papai foi levado ao pronto-socorro local de Dusty Falls há


três horas com dores no peito. Desta vez, palavras como ‘ataque
cardíaco fulminante’, ‘inconsciente’ e ‘danos graves’, foram as
frases usadas. Eles imediatamente o transferiram para Des
K.L. KREIG
Moines, a mais de uma hora de distância. Mamãe e eu entramos
em meu Chevy Malibu, seguindo a ambulância por cento e noventa
quilômetros até o Hospital Mercy, onde estão alguns dos melhores
especialistas em cardiologia de Iowa.

Uma equipe cirúrgica o levou embora e estamos esperando


desde então.

“Você já falou com Jilly?”

O músculo em sua mandíbula salta algumas vezes antes que


ele responda. “Ela está no aeroporto. Conseguiu embarcar em um
voo antecipado. Sai em uma hora e meia.”

Sinto os músculos da minha mandíbula se


contraírem. Nosso pai pode estar morto em uma hora e
meia. Aparentemente, Jillian voou para Chicago para passar o dia
com alguns amigos. “Comprar.” Ah, sim... isso foi dito com muito
sarcasmo. E Deus não permita que ela alugue a porra de um carro
e dirija as cinco horas necessárias para ficar com seu pai, que pode
estar morrendo. Ela estaria na metade do caminho para casa
agora. Isso é o que eu teria feito. Então, teria dirigido como um
morcego fugindo do inferno para chegar e ficar ao lado dele.

Meu relacionamento com meus pais é estranho. Tenso é


provavelmente uma descrição melhor. Eles são meus pais e eu os
amo independentemente de suas falhas ou defeitos. Eles me deram
a vida. Criaram-me bem. Ensinaram-me moral, valores e nunca
me faltou nada. Eles podem não apoiar muitas das minhas
decisões; por outro lado, não necessariamente apoio as deles,
então acho que é justo.

Mas há algo faltando em nossa dinâmica familiar e sempre


tive dificuldade em identificar exatamente o que é. Não é
amor. Eles me amam. Tenho certeza de que meu pai daria a vida
por mim. Minha mãe? Ela poderia dar também, mas eu não
apostaria minha padaria nisso. Acho que talvez seja porque eles
geralmente se colocam em primeiro lugar. Seus desejos. Seus
K.L. KREIG
anseios. Seus objetivos. Seus amigos. Seu negócio. Suas
instituições de caridade. Sempre fomos uma reflexão tardia.

Pelo menos, é como eu me sentia. Mas Jillian não vê as


coisas da mesma maneira que eu. Ela era uma criança
estúpida. Ainda é. Acho que é por isso que ela tem um
relacionamento melhor com eles do que eu, principalmente com
minha mãe. Ela faz por prazer. Ela se curvou a eles onde eu me
rebelei. Se quisessem que ela fosse para a esquerda, ela o faria,
felizmente. Sem perguntas. Eu, entretanto? Argumentaria dez
minutos sobre a prudência de seguir pela esquerda. Por que não
reto, direita, para trás, para frente, para cima, para baixo ou
lateralmente? Por que esquerda? Isso enfurecia minha mãe. Papai,
por outro lado, achava que isso me tornaria mais experiente em
negócios.

E fez. Só não o negócio que ele queria para mim, que era
dirigir o DSC. Quando eu era pequena, me imaginava no
comando. Até conversamos sobre isso. Eu visitava papai em seu
grande escritório de canto, sentado atrás de sua mesa enorme em
uma cadeira enorme. Ele parecia tão importante. Parecia tão
autoritário. Ele falava; as pessoas reagiam. Eu
queria isso. Respeito. Poder.

Mas tudo isso mudou quando Killian voltou. Só que ele não
voltou por mim ― ele voltou por Jillian. Para o meu pai. Por outra
vida que não me incluía. E só uma masoquista se sujeitaria a
trabalhar diariamente com seu ex-amante que se tornou
cunhado. Nunca esquecerei minha conversa com papai no dia em
que entreguei minha demissão. Ele dificultou para mim,
desafiando minhas escolhas, mas acabou concordando. Ele sabia
como eu posso ser teimosa quando quero algo. Ele me ensinou
bem.

Duas semanas depois, saí do DSC com o coração pesado,


mas a alma leve. Mais tarde, disse a papai que a padaria tinha sido
um sonho meu por muito tempo, quando, na verdade, foi uma
K.L. KREIG
decisão inesperada no segundo em que meu olhar cheio de ódio
pousou na mão da minha irmã entrelaçada com a de Killian.

“Ei.” A referida mão traidora circunda o topo da minha. Os


dedos de Killian deslizam para minha palma e apertam. Eu não me
afasto. Eu sei... ainda estou aparentemente muito fraca quando se
trata dele. “Você sabe que provavelmente o diabo está expulsando-
o enquanto falamos, por causa de toda a dor que seu pai está
causando a ele agora, não é?”

Eu meio que bufo, enxugando uma cachoeira de


lágrimas. “Você provavelmente está certo,” eu minto.

O medo permanece rígido como uma rocha gigantesca no


fundo do meu estômago. Meu pai vai morrer. Eu vi isso em seus
rostos no pronto-socorro de Dusty Falls. Foi
compaixão. Simpatia. Quando viram a palidez de sua pele, eles
sabiam, assim como eu, que estaríamos planejando um funeral nas
próximas vinte e quatro horas.

“Não estou pronta para perdê-lo ainda.” Minha respiração


fica presa em um soluço.

“Eu sei”, ele oferece suavemente. Ele entende o


relacionamento complicado que tenho com meus pais melhor do
que ninguém, exceto talvez Kael.

Sentando-se, ele me puxa para ele, jogando um braço por


cima do meu ombro. O sofá em que estamos permite que sua coxa
fique confortável com a minha. Em quaisquer circunstâncias
normais, isso seria aceitável: meu cunhado me confortando
platonicamente em um momento de angústia. Mas não somos
normais. E nosso passado é tudo menos platônico. Isto está
errado. Deixá-lo me abraçar com ternura. Inclinar-me para
ele. Deitar minha cabeça em seu ombro. Apertar uma das mãos
com a sua. Mas preciso de uma âncora e agora, ele é.

“Vai ficar tudo bem, Pequena.”


K.L. KREIG
Não respondo. Sei que ele está apenas me acalmando. É a
frase alternativa usada durante a crise. O que todos querem
ouvir. O que as pessoas dizem porque não há mais nada a ser
dito. Então ficamos quietos. Não nos movemos, exceto por nossas
respirações, que agora estão sincronizadas uma com a outra. Eu
fico tensa quando ele sussurra, “Sei que isso me torna um idiota,
Maverick, mas porra... é tão bom segurar você em meus braços
novamente. Não importa as circunstâncias.”

A culpa se espalha por mim, fazendo minha pele formigar e


meu rosto ficar em chamas. Eu avalio a sensação de seus dedos
subindo e descendo levemente no meu braço, o cheiro único de
amadeirado e Killian pressionando em minhas narinas, a textura
de seu corpo contra o meu peito e percebo que não sinto falta disso
tanto quanto pensei que sentia. Eu anseio por tudo com Kael
agora, mais do que ar. “Killian...” tento me afastar, mas seu aperto
fica tenso.

“Não faça isso. Só mais alguns minutos. Por favor.”

Eu não posso. Não posso fazer isso com Kael depois de tudo
que ele fez por mim. Não é justo. Para ele. Para mim. Para qualquer
um de nós. Estou me afastando quando sinto o peso do olhar de
meu marido me empurrando para as almofadas. Oh. Merda. Eu
posso apenas imaginar como parecemos todos entrelaçados. Eu
levanto meus olhos para encontrar seu olhar terrivelmente odioso
não em mim, mas em seu irmão.

“Kael”, eu choro, pulando para cima e em seus braços. Eles


se enrolam em volta de mim, mas são duros e frios. O abraço
parece forçado. É a destruição da alma. Eu começo a soluçar e eles
amolecem. Então me esmagam contra ele. Uma palma cobre
minha cabeça e a outra envolve confortavelmente minha
cintura. Eu enrolo minhas pernas em volta de sua cintura e ele me
carrega pela sala de espera antes de afundar em uma cadeira, eu
ainda em seu colo.
K.L. KREIG
“O que disseram?” Ele pergunta bruscamente, mas eu o
ignoro.

“Não foi nada”, eu o asseguro. “Eu estava chorando. Ele


estava me confortando, era tudo.”

“Não quero falar sobre Killian, Maverick. Fale-me sobre o seu


pai.”

Eu me afasto o suficiente para olhar em seus


olhos. Enrolando meus braços em volta do seu pescoço, enterro
meus dedos em seus cabelos. “Eu te amo. Você, Kael. Por favor,
não duvide disso.”

Suas pálpebras parecem pesadas enquanto se fecham


lentamente. Ele molha os lábios antes de abri-los novamente. Um
pouco da ira foi embora, mas eu vejo que ainda está fervendo,
endurecendo as bordas externas de sua íris em um chocolate
escuro. “Seu pai.”

Eu engulo em seco, passando aquele caroço grosso agora


sentado no meio da minha garganta. Ele não quer falar sobre o que
viu? Bom. Este não é o momento ou lugar de qualquer
maneira. Mas estou cansada de pisar em ovos perto dele. Teremos
essa conversa mais cedo ou mais tarde. Então vamos exorcizar
Killian de uma vez por todas.

“Ele teve um ataque cardíaco fulminante. Ele está


inconsciente desde que a ambulância o pegou em seu
escritório. Eles o levaram para uma cirurgia no segundo em que
chegamos aqui. Não é bom, Kael. Nós nem conseguimos dizer
adeus’, eu engasgo.

Seu rosto se abaixa quando ele diz baixinho com sinceridade


“Sinto muito, Swan.”

Só então, ouço o nome de minha mãe ser chamado. Eu olho


para vê-la, Killian ao seu lado, parada na frente de um homem de
cabelo grisalho em uniforme verde e um longo casaco branco. Suas
K.L. KREIG
mãos estão enfiadas nos bolsos. Seus ombros caídos. O médico
cansado está ao lado de um homem que não pode faltar.

Um padre.

Oh Deus, não.

Então minha mãe grita. É um barulho penetrante que nunca


esquecerei.

Suas pernas se dobram.

Killian a pega.

Minha visão embaça.

Um soluço escapa de algum lugar dentro de mim.

Meu marido me mantém unida enquanto a vida como eu a


conheço se estilhaça ao meu redor.

Meu pai se foi.


K.L. KREIG
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Maverick

Três meses e três semanas atrás

Os próximos dias passam em um borrão de condolências,


caçarolas e choro. Aparentemente, meus pais tiveram seus
funerais planejados e pagos, então nossas decisões sobre música,
enredos funerários, caixões e até mesmo leituras na missa foram
mínimas. Franklin Parrish, o diretor funerário da funerária
Parrish, Winewsky & Billings, era um antigo colega de classe de
meu pai. Ele cuidou dos menores detalhes para nós com
compaixão e empatia. Sinceramente, não sei como não ficar
emocionalmente destroçado lidando com a morte e a tristeza todos
os dias. É preciso uma alma especial para ajudar os outros nos
piores momentos de suas vidas, mantendo a sua intacta.

Kael tem sido uma rocha. Eu não poderia ter passado por
isso sem ele. Ele está comigo a cada segundo de cada dia. Nunca
sai do meu lado. Insisti em ficar na casa dos meus pais com a
minha mãe. Ele insistiu em ficar comigo. Ela estava perturbada,
não lidando bem com a morte do homem com quem havia passado
os últimos quarenta e três anos. Eu gostaria que ela tivesse
demonstrado seu amor por ele em vida tanto quanto o fez na morte.
K.L. KREIG
Mas Kael cuidou não só de mim, mas de minha mãe como
se fosse sua. Ele fez questão de que ela comesse e saísse da
cama. Ele a levou para a casa funerária. Ajudou-a escolher o terno
que meu pai usaria para seu descanso final.

E eu? Ele me segurou quando chorei até dormir à noite. Ele


ajudou a me lavar esta manhã ― o dia em que estamos dizendo
nosso último adeus ao meu pai ― quando eu caí em uma poça no
chão de ladrilhos do chuveiro e chorei incontrolavelmente. Ele me
vestiu quando tudo que pude fazer foi olhar para aquele vestido
preto como se caso eu o colocasse, seria eu quem iria acabar no
chão.

Mas eu não fiz. Consegui atravessar a viagem de carro até a


casa funerária. Consegui passar pela missa em Saint
Bernadette’s. Consegui ficar ao lado do túmulo e me afastar com
os joelhos trêmulos, sabendo que, assim que todos fossem embora,
eles baixariam os restos mortais de meu pai e o cobririam com
terra.

Agora estou aqui, no almoço obrigatório em que as pessoas


trocam histórias sobre a vida do meu pai e depois seguem em frente
com as suas próprias vidas quando saírem pela porta. A conversa
neste pequeno espaço, que está ecoando em todo volume, é quase
ensurdecedora. Eu quero estar em qualquer outro lugar. Quero
voltar no tempo para apenas alguns dias atrás, quando papai e eu
tomamos uma cerveja na minha soleira e contei a ele a história da
cevada. Ele riu. Então me perguntou como meu negócio estava
indo, pela primeira vez sem fazer uma observação sobre minhas
escolhas.

Eu penso naquela conversa. Foi agradável. Fácil. Eu me


senti mais conectada a ele naquele momento do que quando
criança. Meu pai não era um homem emotivo, de forma alguma,
mas estava cheio de sentimentos crus quando me disse “Eu te amo,
Coração. Mais do que você sabe. Sua mãe também. Apenas nem
sempre mostramos isso muito bem.”
K.L. KREIG
Eu repassei aquela conversa ― a última conversa que
tivemos ― cem vezes nos últimos seis dias. É quase como se ele
soubesse que nosso tempo estava acabando.

“Como você está, Mavricky?” Sinto uma mão em meu ombro


e inclino meu rosto para cima, grata por sair da minha própria
cabeça por um tempo. O canto da minha boca tenta se levantar,
mas os músculos não estão cooperando.

“Por que temos quinze saladas de Marshmallow Fluff e


nenhuma de alface? Papai odiava marshmallows.”

MaryLou agarra a cadeira vazia ao meu lado, os pés


raspando obscenamente alto no chão enquanto ela a puxa. Ela se
senta. Inclina para a frente com o queixo na palma da mão,
perguntando: “Você quer uma salada de alface? Porque se quiser,
vou preparar para você a maior, pior e melhor salada de alface do
planeta.”

Agora vem aquele sorriso. Pouco, mas está lá. “Você faria,
não é?”

“Muito bem.”

Afasto o prato de comida que apenas empurrei em vez de


comer. “Eu não posso.”

“Eu sei.” Ela agarra minha mão e segura. “Eu sei.”

Olho para a multidão. Há tantas pessoas aqui; Acho que a


cidade inteira fechou de luto. Não dou a mínima para a maioria
deles, a companhia atual excluída. Metade deles estão aqui apenas
para serem vistos de qualquer maneira. Não é como se Richard
DeSoto fosse o homem mais fácil de se conviver. Não só comigo.

Minha atenção pousa em Jillian do outro lado da


sala. Normalmente o centro das atenções, ela está sozinha em um
canto. Parece triste, perdida e sozinha. Está pálida. Ela perdeu
peso. Suas roupas caem desordenadamente de seus ossos finos e
frágeis. Ela está uma bagunça. Eu me pergunto o que é menor que
K.L. KREIG
o tamanho 0. Menos 1, talvez? Estou tão longe desse número que
honestamente não tenho a menor ideia.

“Eu meio que sinto pena dela”, MaryLou


surpreendentemente anuncia. MaryLou odeia minha irmã com
paixão, e empatia é a última emoção que ela já sentiu por ela. Mas
agora, acho que ela precisa.

“Eu também. Ela está sofrendo muito.” Jilly se afastou


completamente de todos, desde que papai faleceu. Isso por si só
não me surpreende. A morte amarra ou rompe uma família. Ela
escolheu romper. O que me surpreende é como ela está mantendo
Killian à distância. Ela dormiu em seu antigo quarto no corredor
da casa da nossa família. Ela se recusa a deixá-lo ficar. Recusa-se
a falar com ele quando liga ou passa por lá. Nem queria que
estivesse ao seu lado hoje, mas ele colocou o pé no chão e disse a
ela para parar de agir como uma maldita pirralha mimada. Todo
mundo lida com a dor de maneiras diferentes, eu acho, mas a coisa
toda está além de bizarra.

“Você viu Kael? Não aguento mais essa falsidade. Só quero


ir para casa, tomar banho e beber uma garrafa de vinho.” Dormir
na minha própria cama na segurança dos braços do meu
marido. Estou completamente esgotada de tudo, incluindo
gentilezas. Acho que vou encontrar Killian primeiro, porém, e pedir
a ele para passar a noite na casa da mãe. Não me importo se Jilly
protestar. Ela claramente não está em condições de cuidar de
ninguém, inclusive dela mesma.

“Eu não vi. Quer que eu o encontre?”

“Não.” Empurro meus pés inchados de volta em meus saltos


pretos e levanto meu corpo cansado. “Eu preciso me mover antes
de me fundir com este plástico.”

Sua boca se curva em um sorriso triste. “Ligue se precisar


de alguma coisa?”

“Você sabe que sim.”


K.L. KREIG
“Não se preocupe com a padaria, Mavs. Eu cuido disso.”

“Obrigada”, é tudo que posso dizer. Estivemos fechados a


semana toda. MaryLou insistiu que abríssemos amanhã e que ela
cuidaria de tudo. Eu concordei sabendo que provavelmente é o
melhor. Não tenho ideia de quando voltarei, mas não é amanhã.

Saio em busca do meu marido, deixando minha melhor


amiga para trás. Vou direto para Arnie e Eilish, pedindo a eles que
garantam que minha mãe volte para casa. Eles concordam
prontamente. Encontro minha mãe. Digo adeus a ela. Digo a ela
que estarei com ela amanhã bem cedo.

Demoro mais quinze minutos para tecer meu caminho


através da multidão, porque estou sendo interrompida. Eu não
localizo Kael ou Killian. Uma rápida caminhada pelo templo mostra
que ele está vazio. Eu perambulo pelos corredores, até verifico o
banheiro masculino. Nada.

Empurrando as portas externas, o ar frio de março me atinge


diretamente no rosto. Eu levo um momento para me arrastar e
limpar minha cabeça. Então examino o estacionamento, notando
algumas pessoas circulando, mas não vejo nenhum sinal dos
homens Shepard. Estou prestes a voltar para dentro quando o
estrondo profundo e raivoso de Killian chega ao virar do
corredor. Meus cabelos se arrepiam quando eu me aproximo,
espionando descaradamente.

Mas assim que eu chego na esquina de tijolo, Kael voa em


torno dele e esbarra em mim, quase me derrubando. Ele está
respirando com dificuldade. Seu rosto está vermelho como uma
beterraba. Os olhos estão brilhantes e selvagens. Ele está
claramente chateado.

“O que está errado?”

Agarrando-me em um aperto de urso, ele espreme o ar de


mim. “Nada. Sinto muito por ter deixado você por tanto
tempo. Você está bem?”
K.L. KREIG
Meus olhos se levantam sobre o ombro de Kael e se fixam
naqueles que me lembram dos longos dias de outono, quando
costumávamos juntar pilhas de folhas e pular nelas. “Você está
chateado. Pelo que posso ver.” Não tenho certeza de com qual
irmão Shepard estou falando agora. Killian é uma réplica de
Kael. Eles não podem se dar bem por apenas um dia?

Os lábios de Kael encontram meu pescoço e ele apenas os


pressiona lá, deixando-os permanecer enquanto ele me inspira. Os
olhos de Killian brilham com ciúme inconfundível. “Você está
pronta para ir?” Ele murmura contra mim.

Eu apenas aceno, meu olhar não é capaz de romper com meu


passado.

Kael me libera, mas imediatamente desliza sua mão na


minha e começa a caminhar em direção ao estacionamento, nem
mesmo se despedindo de Killian.

Estamos a uns bons vinte passos de distância quando me


lembro. “Espere”, digo, me soltando de seu aperto. Eu corro para
Killian e paro, provavelmente perto demais. Sinto os olhos do meu
marido fixos em nós. Killian também percebe, mas não cede à
tentação de se gabar. “Eu preciso que você fique em casa esta noite
e cuide da mãe.”

“Você vai para casa?”

“Sim”, respiro levemente. “Eu preciso de um tempo.”

“Você está aguentando firme?” Ele pergunta com tanta


preocupação que meus olhos ardem de lágrimas. Ele levanta a
mão, mas a abaixa um segundo antes de me tocar. Eu tremo
quando um dedo roça meu braço na descida. Eu mordo meu lábio
para parar a queimadura picando como mil sóis atrás de minhas
pálpebras.

Acenar com a cabeça é tudo que consigo fazer.


K.L. KREIG
Killian olha para seus pés
momentaneamente. “Ok. Certo. Algo mais?”

Eu balanço minha cabeça e começo a me afastar quando faço


algo completamente altruísta. Eu me viro e digo a ele “Sim, há mais
uma coisa.”

“Qualquer coisa. Diga.”

Olhando-o nos olhos, lembro do quanto ele ainda me


ama. Está lá e é lindo, mas doloroso ao mesmo tempo. Mas a morte
faz você reavaliar sua própria vida. Suas escolhas. Seu futuro. Eu
sei. Venho fazendo isso há dias, sempre voltando à mesma
conclusão: estou onde deveria estar. Então respiro fundo e exijo,
“Cuide de Jillian. Ela está um caco.”

Aquele tique da mandíbula está de volta. Posso dizer que ele


esperava algo diferente. “Ela está sendo teimosa.”

“Você é o Rei dos Obstinados, Killian.”

“Se você é a Rainha da Vontade, Maverick.” Minha boca se


contorce, fazendo com que o canto de sua boca se torça e seus
olhos escuros brilhem um pouco. “Mais alguma tarefa impossível,
Pequena?”

“Tenho certeza que vou pensar em uma ou duas. Dê-me um


momento.”

“Tenho certeza que vai”, ele retruca inteligentemente,


lutando contra um sorriso.

Eu fico parada por apenas mais um segundo antes de dizer


foda-se. Todos nós perdemos um homem que amamos. Por
respeito a Kael, trabalhei duro para manter distância de Killian
desde aquele dia no hospital, mas ele é família e tenho certeza que
está sofrendo de sua própria maneira. Eu me inclino e rapidamente
envolvo meus braços em torno dele, mais rápido do que posso
piscar. Antes mesmo que ele tenha tempo de retribuir o abraço,
estou recuando e murmurando, “Obrigada.”
K.L. KREIG
Vejo seu pomo de adão balançar, subindo e
descendo. “Qualquer coisa por você, Maverick.” Não deixo sua voz
rouca me afetar.

Com um sorriso rápido, volto para meu marido. Eu jogo


meus braços em volta do seu pescoço e seguro com força,
sussurrando em seu ouvido que eu quero que ele me leve para casa
e faça amor comigo. Faça-me esquecer por um momento que tenho
esse buraco dentro de mim agora, que nunca será totalmente
preenchido.
K.L. KREIG
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
Kael

Quatro anos e três meses atrás

“Ei, Swan.”

“Oi”, ela responde um pouco sem fôlego.

Levanto de uma banqueta e sinalizo para Candi como de


costume. “Você está a caminho?”

É quinta à noite. Nossa tradicional saída para drinks e


dardos. Uma que começamos nos verões anteriores, quando
estávamos em casa da faculdade.

E nas últimas semanas, retomamos essa tradição, porque


Maverick voltou para casa. Ela se formou com louvor na
Universidade de Iowa há quatro semanas. Começou a trabalhar
para o pai em uma posição bastante inicial, mesmo quando ela me
disse que não tinha certeza se era isso que queria fazer.

Também não tenho certeza se quero que ela trabalhe para o


pai. Inferno, tenho tentado encontrar uma maneira de sair do DSC
sozinho, mas fiquei. Se houvesse uma chance no inferno de
Maverick voltar para Dusty Falls após a formatura, eu estaria aqui
K.L. KREIG
porque este é o nosso tempo juntos. Depois de todos esses anos de
espera e definhando por ela, é a nossa vez.

Sua educação está para trás, seu futuro brilhante e


ilimitado. Ela está de volta ao alcance do braço. Posso cortejá-la,
amá-la abertamente, namorar com ela, casar com ela. Pretendo
fazê-la ver que tudo o que ela precisa, sempre esteve esperando
pacientemente por ela. Tudo o que sempre desejei está finalmente
ao meu alcance.

Mas sei que preciso diminuir meu ritmo com ela. O que tem
sido difícil de fazer, mas é minha única opção. Devagar e sempre,
para pegar a garota, é isso que pretendo fazer. Quero que ela veja
que não pode viver sem mim mais do que eu posso sem ela. Ela me
ama, sim, mas não está apaixonada por mim ainda, sei que é
porque ela não deu a nós uma chance.

Portanto, este verão é sobre como mudar a perspectiva e a


percepção. Vou fazer o meu melhor para alterar a forma como ela
me vê. Como ela nos vê. Abrir seus olhos para que entenda que
podemos ser melhores amigos, amantes e companheiros para toda
a vida. Eu pretendo não apenas pegá-la, mas mantê-la e torná-la a
mulher mais feliz e amada do mundo.

Como em todos os outros verões, começamos exatamente de


onde paramos. Eu passo tanto tempo com ela quanto permite, só
que agora comecei a dar dicas sutis. Sobre nós. Sobre o
futuro. Sobre mais. Com os olhares tímidos e os olhos trêmulos
que ela me deu, pensei que realmente estava fazendo progressos,
mas então meu estômago começa a queimar.

Não sou o único que pensa que ‘está na hora.’

“Oh, droga. Eu sinto muito. Eu, ah... não posso esta noite,
Kael.”

Aperto meus dentes. Essa queimadura começa a arder,


alimentada pelas brasas da suspeita agitando dentro de mim.
K.L. KREIG
Mantendo minha voz firme, pergunto “Quer dizer que você já
está rompendo com a tradição das quintas à noite? Eu estava
ansioso para tomar uma surra nos dardos.” Na verdade, eu estava
ansioso para passar um tempo com ela. Particularmente não gosto
de perder, mas se isso significa que tenho Mavs ao meu lado por
algumas horas, sofrerei a derrota com prazer.

Sua risada parece forçada. “Eu sinto muito. Só... algo mais
surgiu. Mas na próxima quinta, estarei lá e terei o maior prazer em
sacudir o seu traseiro até que você não consiga sentar.” Ela
adiciona a última parte rapidamente, tentando me acalmar. Não
funciona. Normalmente, eu riria e a provocaria, mas em vez disso,
quero pressioná-la. Fazer vinte perguntas até ela contar o que de
repente a deixou tão ocupada. Receio já saber a resposta para
todas as vinte. Eu me conformarei com, “É um encontro.”

“Sinto muito, Kael.” Agora ela parece genuinamente


arrependida.

“Ei, não é grande coisa. Vou ligar para Killian. Ver se ele quer
se juntar a mim.”

Oh sim, eu joguei. Larguei a isca. Espero que apodreça ali


mesmo no chão.

“Oh, ah...”, ela gagueja. “Tenho certeza que ele adoraria.”

Já sinto o cheiro do estrago. Eu odeio conhecer Maverick tão


bem. Conheço cada inflexão, cada tique-taque revelador, o que
cada dificuldade de sua respiração significa, exceto aquela que eu
quero saber mais intimamente. Temo que nunca possa aprender
essa parte dela, assim como temo que Killian irá.

Estou totalmente doente.

“Falo com você amanhã?”

“Sim. Te amo. Desculpe de novo.”

“Também te amo, Mavs.” Muito, porra. Como você pode não


ver isso?
K.L. KREIG
Fico olhando para o telefone em minhas mãos, a tela agora
preta. Eu não deveria fazer isso, mas não consigo parar. Eu me
amaldiçoo o tempo todo que meus dedos passam pelos meus
contatos. Eu me odeio quando toco seu nome.

Ele atende no quarto toque. “Se for sobre negócios, temo que
tenha que esperar.”

Um canto da minha boca se contrai. Provavelmente parece


um sorriso de escárnio. Foda-se... é um. “Não é sobre negócios. Eu
queria ver se você está livre para uma bebida.”

“Uma bebida?” Ele parece surpreso.

“Sim, uma bebida. Cheia de álcool e tudo. Por minha conta.”

“Esta noite?”

É verdade. Killian e eu éramos inseparáveis, mas nosso


relacionamento está tenso dos dois lados. É difícil acreditar em
cada palavra do irmão que também quer a mesma coisa que você. A
mesma mulher, a mesma vida, o mesmo tudo. Ele provavelmente
sente o mesmo.

Dou uma risada que beira ao sarcasmo. “Sim, esta noite. Por
quê? Tem planos? Um encontro quente talvez?”

Isca jogada mais uma vez. Só que conheço Killian. Ele não
vai cair. Ele não é tão exteriormente transparente. Mas eu conheço
meu irmão tão bem quanto Mavs. Killian não sai com ninguém há
meses. Exceto Maverick. Eu sei disso, não por causa dela, mas
porque ele não se interessa por ninguém. Seu pau não funciona
com mais ninguém e eu sei... sei que é por causa de Mavs. Porque
ela tem esse efeito nas pessoas. Ela é uma vela brilhante em seu
mundo escuro. Uma fantasia viva e vibrante ganhando vida.

“Eu não posso esta noite.” Curto. Objetivo. Sem


elaboração. Muito parecido com o Killian.

“Talvez depois que você terminar com o que quer que tenha
planejado? Eu posso esperar.” Killian tem pressionado para
K.L. KREIG
ficarmos mais juntos ultimamente, então o fato dele estar me
rejeitando é revelador.

Juro que ouço grilos cantando no silêncio do outro lado da


linha. Finalmente, “Eu adoraria, Kael, mas esta noite
simplesmente não posso.”

Está confirmado então. Meu pior pesadelo ganhou vida. Meu


intestino está agora envolvido em um inferno selvagem de
ciúme. Imagens deles juntos esta noite passam pelo meu cérebro
em uma câmera lenta agonizante.

“Em alguma outra hora?”

“Sim, claro”, consigo dizer. Eu coloco minha mão no bolso,


tocando minhas chaves, luto contra o desejo de dirigir até a casa
dela, seguindo-os como um perseguidor apaixonado de
merda. Mesmo não posso descer tão baixo. Vê-los juntos dessa
forma me quebraria completamente.

“Vejo você na primeira hora da manhã para revisar o


contrato de DeVries.”

“Sim.” Jogo o telefone em cima do balcão sem me despedir,


enojado com o que estou sentindo. Assim que ele para de pular, ele
toca novamente e por um breve momento, espero que seja Maverick
dizendo que mudou de ideia. Eu o pego, observando o nome na
minha tela. Vanessa. Toco em ignorar e jogo de volta, com mais
força desta vez, indiferente se quebrar.

Jesus fodido Cristo, isso está me destruindo. Tenho vinte e


cinco, quase vinte e seis anos. Certamente não sou puro, mas
limitei as mulheres em minha vida por causa de Mavs. Porque tudo
o que posso ver nelas é ela.

Houve um período em que eu meio que desisti da noção de


nós, não acreditando que isso se tornaria realidade. Vinte e cinco
anos é muito tempo para se esperar por qualquer pessoa, então
comecei a sair com Vanessa. Eu sou um homem. Posso estar
apaixonado por uma mulher que não posso ter agora, mas não sou
K.L. KREIG
a porra de um santo. No entanto, toda vez que eu estava dentro de
Vanessa, ficava cada vez mais difícil, até quase se tornar
insuportável. Mesmo que tenha sido estúpido, senti como se
estivesse traindo Maverick, então terminei alguns meses atrás.

Vanessa tem me ligado desde então. Ela é implacável. Como


uma vadia sanguinária.

“Você parece como se alguém atropelou seu gato”, Candi


murmura enquanto aparece na minha frente. Eu coloco a mão no
copo frio e tomo um longo gole, esperando que esfrie o fogo na
minha barriga. Sei que não vai.

“O único gato bom é um gato morto”, digo enquanto bato o


vidro contra a madeira. Seu olhar horrorizado me
envergonha. Esqueci que Candi é voluntária na Humane Society e
faz parte de uma equipe que resgata animais abusados. “Uh... não
falei sério.”

Seus lábios já finos pressionam juntos. A linha que faz me


lembra de um Etch A Sketch.6

“Desculpe. Foi um dia horrível. Eu amo gatos.” Sou alérgico,


então não me importo particularmente com gatos, mas não sou
cruel. Não os desejo mortos também. “É melhor me trazer outro
destes. Vou precisar.”

Acenando em compreensão, ela me deixa sozinho para me


afundar na minha miséria.

Aquele toque incessante volta. Eu simplesmente ignoro. Ele


para, mas recomeça imediatamente. Frustrado, desligo meu
telefone e termino minha cerveja. Eu respiro
profundamente. Tento segurar minha sanidade, mas até mesmo
essa merda está se desgastando muito rápido.

6
Etch A Sketch (conhecido como Traço Mágico no Brasil) é um brinquedo de desenho mecânico composto por uma tela plana
cinza numa moldura plástica vermelha, com dois botões giratórios nos cantos inferiores da moldura.
K.L. KREIG
Minha imaginação começa a correr selvagem e desenfreada
com o que eles farão esta noite.

Mavs vai rir com aquela risada que ela faz, que te atrai e
mantém você fascinado. Ela vai jogar a cabeça para trás e expor
aquele pescoço elegante que implora por seus lábios. Killian não
será capaz de resistir. Afinal, ele é apenas um mero mortal. Um
homem que é movido por uma necessidade básica de reivindicar a
mulher que pensa que lhe pertence.

Puta que pariu, não consigo respirar.

Eu o imagino beijando-a, tirando a blusa primeiro, depois o


sutiã. Vejo o mamilo duro que ele toma em sua boca, gemendo ao
redor quando o sabor dela explode em sua língua. Eu imagino seus
dedos se movendo dentro dela antes que ele tire o resto de suas
roupas até que ela esteja nua e tremendo, implorando a ele para
aliviar aquela dor entre suas pernas com seu pau.

Imagino-o fazendo tudo que eu quero fazer.

A névoa da negação começa a se formar. Meu olhar cai


desanimado para a madeira pegajosa sob meus dedos, incapaz de
ficar fisicamente mais em pé. A esperança é arrancada do meu
espírito, como uma maldita fita sangrenta. Cem mil abelhas
zumbem em minha cabeça e quando isso para, a desolação passa
a residir dentro de mim.

Meu irmão sabe o que sinto por Maverick. O quanto eu a


amo. Mas ele a ama também, não é? É disso que se trata. Ele está
tão apaixonado por ela quanto eu e tão teimoso quanto eu quando
vai atrás de algo que deseja. Ela não vale a pena desistir. Sei
disso. Ele também.

E ele ganhou.

Este é o momento de fazer a mim mesmo as perguntas


difíceis. Posso ficar aqui se eles ficarem juntos? Devo ficar de
joelhos, esfolar-me e implorar que ela me escolha? Eu deveria ter
insistido mais, mais intensamente, não esperado tanto tempo por
K.L. KREIG
que eu estava com medo de que nossa amizade se tornasse
estranha e eu a perdesse para sempre? Posso viver minha
vida com Maverick DeSoto sabendo que sempre seremos amigos e
nada mais? Posso viver minha vida sem ela, sentindo como se
tivesse um pulmão removido e nunca mais vou respirar
completamente? Inferno, posso viver sem ela, afinal?

Eu gostaria de ter as respostas. Simplesmente não quero.

Honestamente, não sei quanto tempo fico aqui sentado,


minha visão imaginária deles ficando mais realista a cada
segundo. Em algum momento, sinto minhas pernas molhadas e
percebo que sou eu. Estou chorando. Como um maldito bebê.

O brilho do meu telefone na luz fraca chama minha


atenção. Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu o
procuro. Está ligado. Meus dedos estão discando e ela atende no
primeiro toque. Estou entorpecido enquanto fazemos planos para
nos encontrar. Estou entorpecido quando ligo o carro e lentamente
saio do caminho de cascalho atrás do bar em que estou
estacionado. Estou entorpecido enquanto dirijo pelas ruas de
Dusty Falls. Estou entorpecido enquanto dirijo para casa da
Vanessa mais tarde.

Na verdade, continuo entorpecido por um bom tempo.


K.L. KREIG
CAPÍTULO VINTE E
QUATRO
Maverick

Dois meses e meio atrás

Estou na cozinha verificando o jantar, cantarolando junto


com a última melodia cativante de Fifth Harmony. Foi um dia
agitado na padaria e estou feliz por ter colocado o jantar na panela
elétrica, caso contrário, teria sido uma tigela grande de cereal
Cap'n Crunch's Oops! Todas as frutas vermelhas para cada um de
nós. Melhor. Invenção. Sempre, por falar nisso. Todas as
frutas? Brilhante.

Estou com um humor incomum hoje. É uma sensação boa


depois de passar tanto tempo sendo aérea. Já se passaram quase
dois meses desde a morte do meu pai. Todos nós estamos
encontrando nosso novo normal com uma peça-chave de nossas
vidas faltando agora. É difícil, mas estamos marchando porque,
que outra escolha temos?

Por votação unânime, Killian assumiu o comando da


DSC. Ele tentou me dizer que aquele lugar era meu. Foi o que meu
pai sempre quis, mas não pertenço mais àquele lugar. Amo minha
padaria, minha liberdade, minha nova vida. Além disso, não está
no meu sangue como se fosse eu ou do meu
K.L. KREIG
pai. Independentemente do que disse quando saiu para se mudar
para a Flórida, ele sempre quis fazer seu nome no DSC. Acho que
secretamente queria mostrar a meu pai que era digno de sua
filha. De mim. Sempre soube que ele era. Espero que se sinta
assim agora, mesmo que seja tarde demais.

Minha mãe parece melhorar a cada dia. Ela retomou


algumas das atividades do clube. Ela me disse algumas semanas
atrás que agora está co-liderando o grupo de apoio às viúvas na
igreja. Isso parece ter dado a ela um propósito e um motivo para
sair da cama pela manhã, então funciona. Passei mais tempo com
ela nos últimos dois meses do que nos últimos dois anos
juntos. Ela se suavizou e, à sua maneira, pediu desculpas por não
ser a melhor mãe que poderia ser. Prometeu fazer melhor.

E Jillian? Ela ainda está distante e retraída. Seu sarcasmo


quase desapareceu. Ela se transformou em uma criança
abandonada, apenas uma casca de si mesma. Acho que ela e
Killian passam mais tempo separados agora do que juntos. Passei
minha vida inteira desejando que Jillian fosse outra pessoa e agora
que ela é, não tenho certeza se gosto disso. Fico esperando que a
irmã que detestei todo esse tempo volte com força total e ela... não
é a mesma. Surpreendentemente, estou realmente começando a
me preocupar com ela.

Também se passaram quase três meses desde a conversa de


Kael e eu sobre ter um bebê. A alegria de começar uma nova vida
caiu no esquecimento com a realidade de ter perdido alguém. Não
conversamos sobre isso desde então. No entanto, parei de tomar a
pílula e não temos usado proteção.

Tenho que admitir que fiquei dividida quando minha


visitante mensal apareceu há poucos dias. Eu quero dar este
próximo passo com Kael, só não tenho certeza se estou pronta para
a alegria da maternidade quando ainda estou de luto pela perda do
meu próprio pai. Eu decidi que se acontecer, acontecerá. Não vou
me estressar.
K.L. KREIG
Quanto a Kael e eu, não tenho certeza se as coisas poderiam
estar melhores entre nós. Ele não trabalha tantas horas. Está em
casa para jantar por volta das seis ou seis e meia na maioria das
noites. Ele é amoroso e atencioso como sempre. Mas também
parece mais focado em algo. Não consigo definir exatamente o que
é, no entanto. Ele sempre foi protetor comigo e com as questões
com meus pais ― questões que ele assumiu como suas ― mas eu
me pergunto se a morte do meu pai o atingiu com mais força do
que ele admite.

Afastando os pensamentos tristes, ligo o rádio o mais alto


possível, deixando a batida da música me dominar. Eu me pego
balançando minha bunda e cantando a plenos pulmões sobre valer
a pena.

Minha tela do celular se acende, vibrando ruidosamente


contra o granito. Eu dou uma olhada, franzindo a testa para o
nome no identificador de chamadas. Eu paro de me mover,
ofegando levemente, e debato se devo atender. Discuto comigo
mesma enquanto a vibração continua. Estou pegando o celular
quando a voz de Kael soa brilhantemente, “Oi”, enquanto ele entra
pela porta da garagem. Abandono a ligação, deixando-a ir para o
correio de voz e rapidamente aumento o volume do rádio.

Meu olá sai como um guincho quando seus braços envolvem


minha cintura. Lábios quentes percorrem ao longo do meu pescoço
e me lembro do dia em que ele fez isso há muito tempo, pouco
depois de nos casarmos. Eu meio que gostaria de estar fazendo
crème pâtissière em vez de pescar uma carne assada na torradeira,
para que ele pudesse espalhar o creme em mim de novo. Só que
desta vez, eu não pensaria em ninguém além dele enquanto ele o
lambe vorazmente. Eu sentiria apenas seus dedos enquanto
torcem meus mamilos e bombeiam dentro de mim. Ouviria
apenas sua voz em meu ouvido enquanto ele me ordena para
gozar. Pensaria apenas em Kael quando ele me levasse à beira do
orgasmo e ficaria em cima dele com tanta força que tremeria com
a força de seu aperto.
K.L. KREIG
Tiro a tampa no fogão e respiro profundamente, o cheiro de
carne assada e vegetais enchendo meus sentidos. “Você parece
estar de bom humor”, digo sem fôlego enquanto meu lóbulo é
capturado entre seus dentes.

“Eu estou”, ele sussurra comigo a seu alcance. Seus dentes


se levantam, mas seus lábios envolvem a pele. Em seguida, sua
respiração goteja sobre a frieza que ficou para trás, me fazendo
estremecer. “Carne assada?”

Seu aperto afrouxa o suficiente para que eu possa virar em


seus braços. Eu coloco a escumadeira e giro, enroscando meus
braços em volta do pescoço dele. “Você parece desapontado.”

“De modo nenhum. Adoro carne assada.”

Eu inclino minha cabeça, estudando-o. “Mas?”

Suas sobrancelhas sobem. “Como você sabe que há um


mas?”

“Porque o conheço há vinte e seis anos, doutor. Eu conheço


essa bunda dura... firme”, passo uma mão por suas costas e agarro
sua bunda sólida, “sei o que é bunda quando vejo uma.” Caímos
na gargalhada antes que ele dê um beijo ardente em meus lábios.

“Então, você está em casa cedo”, digo, agora muito sem


fôlego e pronta para um jantar de um tipo totalmente diferente.

Mas seus olhos. Eles me impedem de deslizar minha mão ao


redor de seu quadril. Agora que estou olhando diretamente para
eles, vejo um pouco de cautela.

“O que está errado?”

“Não há nada de errado, Swan.”

“Então, e aí? Você tem aquele olhar preocupado e cauteloso


como quando você teve que me dizer que estavam cancelando
o Teen Angel. O que aconteceu?”
K.L. KREIG
Um sorriso autodepreciativo aparece. Seus cotovelos
apertam minha cintura e sinto seus dedos nas minhas costas. Ele
está me prendendo, então não posso escapar. “Às vezes, odeio que
você me conheça tão bem.”

Alerta vermelho. Meu pulso dispara. Definitivamente algo


está acontecendo. “Não, não mesmo. Você adora. Agora conte. Tem
alguma coisa a ver com DSC?”

“Não, Maverick,” ele responde rápido. Muito rápido. Depois


de uma rápida olhada para fora da janela, ele respira fundo e
anuncia “Mas há algo que eu queria contar a você, na verdade.”

Em circunstâncias normais, eu iria dar um sorriso


presunçoso e provocá-lo, mas meus sentidos estão formigando
como faíscas acesas. O momento parece pesado, elétrico. Ele está
nervoso.

Eu mantenho minha voz firme quando insisto “O que é?”

Ele olha nos meus olhos. Mantém o olhar com tanta força
que é como se fôssemos ímãs. Poderoso e inquebrável. Em
literalmente um segundo, vou me perguntar se somos.

“Recebi uma oferta de emprego.”

Eu apenas fico olhando. Pisco e olho e pisco um pouco


mais. Oferta de emprego? Mas ele já tem um emprego. “Como
assim, você tem uma oferta de trabalho? Você tem um emprego,
Kael. Aqui, em Dusty Falls. Você trabalha
para a empresa do meu pai.” Eu suspiro, um pensamento
repentino me atinge. “Killian demitiu você?” Ele faria isso? Ele
abusaria do seu poder dessa maneira?

As narinas de Kael dilatam e um canto de sua boca curva


para cima, mas não está nem perto de parecer como um sorriso.

“Porque se ele fez isso, eu vou...”

“Não, Swan. Ele não me despediu. E não preciso de você


para lutar minhas batalhas”, ele acrescenta amargamente.
K.L. KREIG
Enrijeço um pouco, tentando não deixar isso me
incomodar. “Bem, então o que aconteceu? Por que você recebeu
uma oferta de emprego? Eu não entendo.”

E onde? Não é como se houvesse muitos lugares para um


advogado trabalhar em Dusty Falls.

Ele nunca desvia o olhar ao dizer uniformemente, “Eu


aceitei.”

Meu cérebro leva alguns segundos para entender o que ele


acabou de dizer. Eu pensei ter ouvido ele dizer que aceitei. E
quando percebo que ele disse, de fato, essas duas palavras, o vento
parece sair de meus pulmões.

“Você fez o quê?” Eu forço essa pergunta na última lufada de


ar que me resta, porque sinto que não consigo respirar direito. Eu
o afasto com toda a minha força. Ele me deixa, cambaleando para
trás, destemido. “Como você pôde fazer isso sem me consultar
primeiro? DSC precisa de você, Kael. Agora, mais do que nunca.”

Sua mandíbula está rígida. Seu olhar firme, cavando em


mim com resolução desenfreada. “Eles não querem. Todos são
substituíveis, inclusive eu.”

Segundos atrás, eu estava pensando que Killian o


demitiu. Agora, meus pensamentos desviaram 180 graus. “Killian
nunca aceitará sua renúncia.”

Seu comportamento não muda nem um pouco. “Ele já fez


isso.”

É por isso que ele ligou há apenas alguns momentos


atrás. Tem que ser.

“Como você pôde fazer isso?” Respiro com força.

A determinação restringe suas feições. Ele balança a cabeça


levemente quando me diz, “Isso é o melhor para nós, Swan.”
K.L. KREIG
“Melhor para nós?” Repito em total descrença e choque. Sim,
choque. Deve ser isso que está deixando meus membros dormentes
e minha mente desligada. Não. Está girando. Girando, girando e
cambaleando tão rápido que meu estômago se revolta. Não sei por
quanto tempo discutimos em silêncio antes de encontrar minha
coluna novamente. Então eu endireito minhas costas. Endireito
meus ombros. Pego meus pensamentos dispersos do chão,
juntando-os no único padrão que faz sentido. “Melhor para nós ou
melhor para você?”

Olhos caramelo endurecem bem diante de


mim. “Nós. Precisamos dar o fora desta cidade, Maverick, antes
que ela nos sugue e nos destrua. Antes de nos quebrar e tudo que
estamos tentando construir juntos.”

“Antes de nos quebrar? Do que diabos você está falando,


Kael?” Minha voz fica estridente mais e mais, com cada palavra que
estou lançando. “Nossas vidas estão aqui. Nossos meios de
subsistência estão aqui. Nossas memórias. Nossas
histórias. Nossa lealdade. Nossas famílias!”

Ele apenas fica parado, ereto e firme. “Exatamente.” Como


se essa palavra explicasse tudo. E suponho que sim. Uma palavra
resume o motivo pelo qual ele deseja abandonar tudo o que
conhecemos, deixando nossas vidas inteiras para trás. Uma
palavra que pode ser encontrada escondida dentro de cada uma
das razões que acabei de dar.

Killian.

Meu sangue ferve. Quente e sufocante. Bolhas estão se


formando por dentro. Suor pontilha minha testa. “Não acredito que
você fez isso sem me consultar.”

Seu olhar desliza sobre meu corpo rígido. Ele olha em


minhas mãos enroladas, depois em meu queixo. “Porque eu sabia
que você reagiria assim.”
K.L. KREIG
“Como diabos eu devo reagir quando você me diz que está
fazendo planos para nossas vidas sem mim!” Então me bate com a
força do sol ao meio-dia no equador. Por que não coloquei dois e
dois juntos antes? Por que não insisti nisso quando tinha dúvidas
sobre o que ele estava fazendo? Dúvidas que Killian plantou. “É por
isso que você estava indo para Minneapolis?”

Por favor, diga não. Por favor, diga não. Por favor, não diga
sim...

Ele nem se incomoda em parecer envergonhado quando


responde. “Sim.”

Meus joelhos estão fracos. Eles dobram um pouco, mas eu


me seguro com uma mão no balcão. A outra está empurrando no
peito de Kael enquanto ele tenta chegar até mim. “Não me toque”,
eu murmuro. Ele dá dois passos para longe.

Eu me sinto totalmente doente. Ele escondeu isso de mim


por meses. Olhamos um para o outro, o ar ficando mais denso de
raiva e mágoa.

“Com quem é o trabalho?” Eu forço a pergunta com a


garganta apertada. Minhas bandeiras estão voando alto e
vermelho-sangue. Sei quem mais está em Minneapolis e espero,
além de toda esperança, que ele não diga o que penso.

Vejo ele engolir asperamente e isso faz minha pele


formigar. “Construções Braham.”

“Meu Deus. Mas isso é...” Oh Deus, eu não posso...


respirar... estou ofegando por isso. “Isso é... Kael.” Esse é o maior
concorrente da DSC no Meio-Oeste.

Eu viro minhas costas para ele e abaixo minha cabeça,


agarrando aquele tampo de granito com tanta força que meus
dedos gritam tão alto quanto minha mente. Fecho meus olhos e me
esforço para respirar calmamente o ar de paciência e perdão. Não
está funcionando, porra. Eu me sinto inimaginavelmente traída
agora. Confusa e tão, tão traída.
K.L. KREIG
“Há quanto tempo você está trabalhando nisso?” Pergunto.

“Um tempo.”

Um tempo ― aspas no ar. Já faz meses. É por isso que ele me


levou para Saint Paul. É por isso que ele queria me mostrar o
lugar. É por isso que ele queria que eu o amasse. Jesus Fodido
Cristo. Sim. Porra, eu disse isso. E tem um gosto tão azedo quanto
vinagre em minha mente quanto o gosto da cinza da falsidade está
em minha boca.

Viro de volta, meu cabelo balançando


descontroladamente. Não quero olhar para ele agora, mas tenho
que ver seu rosto quando pergunto “Já houve reuniões com a
Guarda Nacional?”

Ele parece um pouco magoado. Não me sinto nem um pouco


mal. “Sim.”

“Quantas?”

Ele hesita apenas momentaneamente, os olhos correndo


para o chão antes de voltarem para os meus. Seu suspiro sozinho
responde à pergunta. “Apenas uma. Parou quando eu disse a
você.”

“Então por que Killian não sabia?” Eu pressiono.

Seus lábios se apertam em uma linha fina e irritada. Ele está


com raiva? Bem, foda-se. Novamente, não estou me sentindo mal.

“Foi um favor para seu pai. Eles o contataram


diretamente. Eles estavam interessados em DSC, mas seu pai não
queria enviar Killian porque ele não queria prejudicar o processo
de aquisição.” Quando permaneço em silêncio, ele acrescenta, “Foi
uma reunião secreta, Mavs. Nunca mencionei isso a Killian e não
sei se seu pai disse alguma coisa. Eu não perguntei.”

Absorvo sua explicação. Quando Kael mente, ele sempre


acaba molhando os lábios. Não tenho certeza se ele está ciente
disso, mas seus lábios estão secos como um osso agora. Quero
K.L. KREIG
perguntar a ele por que simplesmente não me disse isso desde o
início, só que eu já sei.

“Você mentiu para mim”, digo com uma voz trêmula.

“Eu não...”

“Você mentiu, porra” eu grito. “Esconder isso é o equivalente


a mentir. Somos casados, Kael. Pessoas casadas devem falar
sobre coisas grandes e transformadoras como esta. Não esconder
um do outro.”

Seus lábios grunhem de uma maneira que eu nunca vi


antes. “Mesmo? É isso que devemos fazer, Mavs? Porque
tenho coisas sobre as quais gostaria de conversar, então.”

Meu peito aperta. Ai meu Deus. É isso. O momento pelo qual


esperamos nossas vidas inteiras. A discussão que vai nos separar
ou nos unir para que sejamos inquebráveis. Eu quis chegar a esse
momento dezenas de vezes desde que nos casamos e agora que
estamos parados na soleira da porta olhando para aquele fosso de
dor, eu só quero fechar a porta e selar para sempre.

Mas eu não posso.

Porque ele é a razão de estarmos aqui em primeiro lugar.

“Basta dizer”, insisto. Eu ouso.

A distância que eu tinha certeza que estava entre nós agora


desapareceu. As pontas de seus sapatos pressionam meus dedos
dos pés descalços. Seu peito roça o meu com cada inspiração
irregular. Sua cabeça está abaixada, seu rosto perto do meu. Seus
olhos em brasa de raiva me mantêm refém mais uma vez. Quando
ele fala, sua voz é grossa, rouca e gutural.

“Sim. É sobre ele, Maverick. Sobre o assunto tabu que


fingimos não existir entre nós, mas ele está sempre aqui,
porra. Sempre entre nós. Ele é tudo o que sempre esteve entre
nós.”
K.L. KREIG
“Kael...”

Ele agarra meu queixo entre o polegar e o indicador,


beliscando para mostrar um ponto, mas não para me
machucar. “Você não acha que eu sei que ele segurou o que é
meu? Beijou o que é meu? Amou o que é meu? Fodeu o que é
meu?” Ele passa a mão livre trêmula pelo cabelo até que as mechas
se arrepiem. “Você acha que eu não sei que você deu o nome dele
à porra da sua empresa?”

Abro a boca para negar, mas não consigo. Eu fiz isso como
um foda-se às avessas para Killian. Na faculdade, li o livro de
Taleb, The Black Swan, sobre casos discrepantes e
imprevisíveis. Era fascinante. Kael me ouviu tagarelar
incessantemente sobre suas teorias sobre as propriedades
empíricas e estatísticas do quarto quadrante. Então, meses depois,
quando a traição inimaginável e imprevisível de Killian ocorreu, eu
estava cheia de rancor, vergonha e parecia apropriado. Agora
parece mesquinho.

“Jesus fodido Cristo, Maverick! Eu sei tudo e ainda não me


importo. Isso é o quanto eu te amo. É assim que você
está impregnada no centro da minha alma. É o mesmo lugar que
você estará até que eu feche meus olhos e dê meu último
suspiro. Você está enraizada aqui...” — ele bate em seu peito ― “nas
minhas entranhas, até agora eu nunca consegui me livrar de
você. Não importa o quanto tentei. Não importa o quanto eu
quisesse enquanto sabia que você estava com ele.”

Sua voz falha. Ele para. Pensa. Me lança um olhar que me


arrasta, mas não mais do que sua confissão ou as lágrimas que
agora vejo brilhando. “Enquanto ele era o sol que iluminava seu
mundo, você era a escuridão que sombreava o meu.”

Eu sugo uma respiração aguda e dolorosa. Minha alma


parece esmagada. Literalmente. Sendo pisada com um salto de
bota até que não seja nada além de uma grande massa negra de
desgosto de si mesmo.
K.L. KREIG
“Por quê?” Não consigo entender por que ele me ama. Porque
ele se casou comigo. Porque ele se importa com alguém que não fez
nada além de magoá-lo repetidamente, embora sem querer.

Por quê? Por quê? Por quê?

“Por que o quê, Swan?” Sua voz está rouca e dolorida, mas
não há como confundir seu afeto. Ainda. Mesmo agora, depois de
tudo que fiz a ele, não poderia encontrar mais amor em seus olhos,
mesmo se tentasse.

“Por que qualquer coisa? Por que você está aqui comigo? Por
que você me quer? Por que você se casou comigo?” Por favor,
explique para mim, porque eu simplesmente não entendo. Eu não
mereço isso. Nunca mereci.

Ele simplesmente balança a cabeça como se eu fosse a


pessoa mais densa do planeta. “Porque eu tenho amor suficiente
por nós dois. Sempre tive.”

É isso aí.

Meus joelhos cedem. Eu caio sem cerimônia em uma pilha


no chão e soluço. Também não caio quieta. Eu lamento. Meu corpo
treme de vergonha e desgosto. Com aversão por não ter sido o que
ele precisava.

Braços fortes me rodeiam. Eles me levantam e me


carregam. Ele me acomoda, me abraça, me conforta. Ele me ama e
me perdoa, acariciando meu cabelo. Beijando minha
têmpora. Abraçando-me até que meus soluços diminuam para
apenas estremecimentos ocasionais. Ele traz um lenço de papel ao
meu nariz, me fazendo explodir. Seu amor por mim é tão profundo
e ilimitado quanto o céu azul claro.

“Você se lembra daquela primeira vez que te segui até o lago


do Velho Riley?”
K.L. KREIG
Aceno, certa de que minha voz não funcionará. Todo o meu
ser está fraco e não apenas meus músculos. Minha alma e meu
coração também.

“Eu sabia que você sabia.” Ele ri. Gosto da sensação de seu
corpo tremendo sob mim.

“Você era tão furtivo quanto um urso”, sussurro de


volta. Minha voz parece que foi esfregada com uma lixa grossa. Eu
torço meus dedos em sua camisa, segurando firme como se fosse
a única coisa me prendendo à terra. Pode ser.

Kael desliza dois dedos sob meu queixo e os levanta. “Eu


estive apaixonado por você minha vida toda, Maverick. Mesmo
antes de saber o que era amor. Mas naquele dia...” Ele engasga. O
meu choro recomeça. “Deus, naquele dia eu vi você deixar a
verdadeira Maverick DeSoto sair completamente e eu pensei... Ela
é tudo que eu quero. Ela tem que ser minha. Quero que ela seja
minha. Foi o dia em que soube que nunca amaria outra pessoa do
jeito que já te amava.”

Oh, a culpa. Como está me comendo viva. Seus dentes


afiados fixam-se com força e rapidez. Eles são inflexíveis. Ele me
ama daquela maneira dolorosamente linda que eu amei Killian. É
quase insuportável ouvi-lo confessar.

Seus olhos procuram os meus. Por longos segundos, ele


penetra aquele lugar tão profundamente dentro de uma pessoa,
que é difícil deixar que alguém o encontre, muito menos
mencionar. “Não podemos evitar quem amamos, Maverick”, ele me
diz baixinho.

E este é o homem altruísta que conheço. Ele sabe o que eu


sinto por Killian e está me dizendo em suas próprias palavras que
está tudo bem. Mas isso não está. Meu amor por seu irmão foi um
fardo que ele teve de carregar sozinho por toda a vida. Sempre amei
o homem errado. Entreguei tudo de mim a alguém que eu não
deveria. Deveria ter sido Kael. Sempre Kael.
K.L. KREIG
“Eu sinto muito.”

Um sorriso triste surge em seus lábios. “Não há necessidade


de se desculpar, Swan. Mas estou farto. Não vou compartilhar você
com ele. Não mais. Se tivermos alguma chance de fazer isso, temos
que dar o fora de Dusty Falls. Temos que fazer novas memórias em
um lugar onde eu não me sinta sufocado por aqueles lembretes
diários de que ele ainda quer você.”

Ele tem razão. Claro que tem. Ainda assim…

“Eu sei que fiz isso errado, Maverick. Eu sei disso. Deveria
ter discutido isso com você primeiro. Deveria ter lhe dado esse
direito e, por isso, sinto muito. Mas eu sabia que você precisaria
de um empurrão e isso não muda o fato de que é disso que
precisamos. Ambos. Eu realmente acredito nisso.” Sua mão forte
circunda meu queixo, inclinando-o de volta. “Dito isso, se você me
disser que isso é um obstáculo para nós, recusarei a oferta. Vamos
ficar aqui e vou trabalhar incansavelmente para garantir que você
só me veja.”

Eu posso realmente sentir o quão difícil foi para ele


dizer. “Você faria isso por mim?”

O sorriso que aparece em seu rosto é rápido e meio


triste. “Acho que já estabelecemos que eu faria qualquer coisa por
você, Swan.”

Eu mordo meu lábio, minhas emoções por todo o maldito


lugar. Estou magoada, com raiva e como sempre, sinto uma
vergonha imensa. Estamos em outra encruzilhada. Uma à qual nos
dirigi diretamente, com esses sentimentos subjacentes que ainda
tenho por seu irmão e que ele ainda tem por mim. Eu não sei o que
fazer. Qual estrada escolho? Ambas são igualmente assustadoras.

“Mas e minha mãe? Ela ainda está tão frágil.”

“Ela tem os Illians.” Isso atrai um pequeno sorriso de nós


dois. “E seus amigos, sua comunidade. Ela vai ficar bem.”
K.L. KREIG
“E a padaria?”

Estou realmente considerando isso?

“MaryLou pode comandá-la. Pague a ela uma taxa de


administração. Inferno, venda para ela. Sei que é o seu bebê,
Maverick, e não quero parecer insensível, mas você é brilhante,
talentosa e obstinada. Você pode abrir uma padaria em qualquer
lugar ou fazer o que quiser.”

Em seguida, ele enfia a mão no bolso da calça e tira um


cartão de visita, entregando-o para mim. Eu o viro em minhas
mãos.

Mia Banks-Cyrus, proprietária

Doces Greenbrier

É da padaria que visitamos em Saint Paul.

“Onde você conseguiu isso?” Pergunto.

“Eu lembrei que ela disse que seu parceiro estava se


mudando. Passei por ali quando estava lá no dia em que seu pai...”
Ele faz uma breve pausa. Eu mordo meu lábio. “De qualquer
forma, ela disse que quer encontrar outro parceiro. O certo. Ela se
lembrou de você e está interessada em falar com você. Se você for,
é claro.” Os cantos de sua boca curvam ligeiramente quando ele
acrescenta, “A decisão é sua, Maverick. Nós ficamos ou vamos?”

Isso tudo é tão opressor que é difícil de digerir. Kael quer se


mudar. Para longe. De tudo e de todos. Começar de novo em
uma cidade grande e estranha.

Mas posso fazer isso? Ele me deu muito e nunca pediu nada
de mim em troca. Nunca. Posso dar a ele uma coisa que claramente
significa muito para ele? Posso realmente abandonar minha
vida? Sair de nossa casa? Nossos amigos?
K.L. KREIG
A grande questão, porém, é posso deixar Killian? Essa é
a única pergunta que ele realmente está me pedindo para
responder.

E essa resposta neste exato segundo é: eu não


sei. Sinceramente não sei, já que o pensamento nunca passou pela
minha cabeça. Talvez tenha acontecido de passagem, mas nunca a
sério. E se eu não quiser ― se eu não puder ― o que isso significa
para nós?
K.L. KREIG
CAPÍTULO VINTE E
CINCO
Maverick

Dois meses e meio atrás

“Uau”

“Sim.”

“Hã.”

“Eu sei.”

“Estou... uau.”

“Você não está ajudando.”

“Eu sei, eu sei. Apenas... deixe-me respirar por cinco


segundos”, ela diz. MaryLou aperta a ponta do nariz. Aperta os
olhos fechados. Em seguida, os abre. A intensidade me corta. “Não
entendo por que você está hesitando, Maverick.”

“O que?” Este é o conselho dela? Depois de ‘inspirar’ por


cinco segundos? Me matou dizer isso, mas eu disse a Kael na noite
passada que precisava pensar sobre isso por alguns dias. Ele ficou
desapontado, eu poderia dizer. Deus, doeu ver sua dor. Mas ele
teve meses para chegar a um acordo e eu fui pega de surpresa cerca
K.L. KREIG
de doze horas atrás. Doze horas sem dormir, acompanhadas agora
por uma forte dor de cabeça. Ainda dói que ele estava se
esgueirando pelas minhas costas. Mentindo descaradamente sobre
porque estava fazendo viagens para fora da cidade. Na verdade, me
dói que ele não tenha confiado em mim antes. Mas acho que meio
que mereço isso.

MaryLou gira em torno de nossa superfície de trabalho


coberta com farinha branca, pedaços de massa e me agarra pelos
ombros. “Sim, quero dizer que ele está certo. Você precisa sair
deste lugar.”

“Eu não...”

“Sim, você não. Isso é parte do problema, Maverick.” Esse


suspiro saindo de sua boca é profundo e pensativo. Ah, e eu
mencionei irritante pra caralho? Agarrando minhas mãos, ela me
arrasta até duas cadeiras de plástico alinhadas contra a
parede. Ela me empurra em uma e senta na outra, de modo que
ficamos cara a cara, joelho com joelho.

“Você percorreu um longo caminho, Mavs. Você


fez. Finalmente encontrou uma maneira de deixar aquele idiota ir
e fazer uma vida com Kael. E mesmo com a morte do seu pai, você
ainda é brilhante, inteligente e mais feliz do que nunca...
honestamente... nunca. Dou-lhe todo o crédito por isso, porque
só você pode se fazer feliz. Mas enquanto você coloca todo esse foco
em Kael, Killian ainda está respirando no fundo. E esse hálito é
tóxico, Mavs. É um maldito veneno. Ele vai estrangulá-la
lentamente e você nem mesmo saberá por que não pode ver, nem
sentir o cheiro, nem sentir o gosto até que seja tarde demais.”

Ela faz uma pausa para respirar um pouco antes de começar


de novo. “Eu não sei qual é a história de Killian e francamente, não
dou a mínima para uma dúzia de fazendeiros. Mas há uma coisa
que eu sei.”

MaryLou abaixa o queixo e levanta as sobrancelhas para que


seus olhos fiquem colados nos meus.
K.L. KREIG
“O que?” Eu digo em um tom sarcástico, cansada de sua
teatralidade.

“Ele está esperando até que possa ter você de volta.”

Começo a balançar minha cabeça. Não acredito que isso seja


verdade. Se Killian me quisesse de volta, não estaria sentada aqui
discutindo arrancar toda a minha existência e movê-la para outro
homem. Eu seria casada com ele. “Eu não...”

“Ah, ah, ah.” Ela espreme o dedo pegajoso em meus lábios,


me calando.

“Ei!” Eu empurro sua mão suja e esfrego minha boca,


franzindo a testa para a geleia de amora que agora está manchando
meu queixo.

“Novamente, esse é o seu problema, Maverick. Você sempre


diz ‘não.’ Faça uma vez. Faça”, ela enfatiza.

“Faça”, repito mais para mim mesma do que para ela.

“Sim. Faça.”

Encaro minha amiga de longa data que está me dizendo para


fazer as malas e me mudar do único lugar que conheci como se
fosse simples assim. E suponho que para MaryLou, é. Ela sempre
faz decisões complicadas parecerem tão racionais e fáceis.

Por outro lado, porém, acho que sempre as torno difíceis


demais.
K.L. KREIG
CAPÍTULO VINTE E SEIS
Maverick

Um mês e vinte dias atrás

“Uma festança”, minha mãe diz com um sorriso tenso. Ela


está desconfortável aqui. Está escrito em toda a sua postura e
coluna rígida. Ela está segurando a taça de vinho da ‘casa’ na mão
com apenas um leve toque de nojo. Não escapou da minha atenção
que ela não tomou um gole, a qualidade muito abaixo de seus
gostos refinados. Mas ei... ela está aqui e por isso, acho que deveria
ser grata.

Deixo meu olhar fluir sobre a multidão no Peppy's. Kael


alugou o lugar por uma noite e está pagando por toda a
festa. Nosso último grande agito antes da mudança para Saint Paul
na próxima semana.

“Sim.” Eu tomo um gole do meu Jack com coca cola, Jack


duplo. “Grande festa.”

As últimas semanas foram um turbilhão. Por dois dias,


depois da minha conversa com MaryLou, ponderei sobre uma
palavra dela: faça. De qualquer coisa, essa palavra me atingiu bem
no peito. Acertou, emperrou e não consegui me livrar dela. Aquela
palavra começou a corroer cada desculpa que eu tinha até que não
K.L. KREIG
eram nada. Até que é como se nunca tivessem existido e nunca
houvesse dúvida alguma.

Lembrei de como me senti mais livre do que nunca naquele


fim de semana que Kael e eu passamos longe de Dusty
Falls. Lembrei da paz que se estabeleceu ao meu redor sabendo
que poderíamos andar pelas ruas e ser apenas nós, Kael e Maverick
― um casal normal e casados, em vez do irmão, irmã ou filha de
alguém ou ex-amante evitado.

Uma vez que eu classifiquei a traição que senti sobre Kael


manter sua caça ao emprego em segredo, sabia que a única decisão
que eu poderia tomar era seguir meu marido. Por que duvidei
disso? Eu o amo. Quero ter bebês com ele. Quero uma vida com ele
e só ele. Mas o mais importante é... quero que ele seja feliz. Kael
esperou pacientemente por mim todo esse tempo e ele merece uma
vida livre dessas malditas correntes que Killian amarrou em torno
dele. E eu também.

Depois da minha epifania, concordei de todo o coração em


seguir Kael para onde ele quisesse. Minnesota, Paris, Londres,
Maldivas. Eu tentei muito pelas Maldivas, acredite em mim. Boa
tentativa. Mas os invernos de Minnesota são gélidos.

“Como está Kael?” Minha mãe pergunta.

“Bem. Ontem foi seu último dia na DSC. Ele começa seu
novo trabalho na segunda-feira.” Dizer que ele está estressado
seria um eufemismo. Ele está trabalhando até dez ou onze horas
todas as noites. Ele me prometeu que não será assim em Braham,
mas eu sei como funciona um novo emprego. Leva tempo para se
atualizar, e tempo equivale a dias longos. Mas tudo bem,
também. Estive em contato com Mia várias vezes e vamos nos
encontrar para um coquetel na terça à noite para discutir uma
possível parceria em sua padaria.

Também falei sobre vender meu bebê, Cygne Noir Patisserie,


para MaryLou. Ela está em cima do muro. Ela está nervosa. Eu
entendo. Fiquei nervosa por ser proprietária de uma empresa. Por
K.L. KREIG
enquanto, ela concordou com um aumento para administrar as
operações do dia a dia. Publicamos um anúncio para contratar
alguém para substituí-la. Eventualmente, vou convencê-la de que
é sua única opção. Sei que Kael e eu não vamos voltar e não posso
dirigir um pequeno negócio como esse de longe.

“Teve sorte em encontrar um lugar?”

“Temos alguns agendados para ver na próxima semana.” Até


então, Braham está nos hospedando na Suíte Ordway no Saint
Paul Hotel, um hotel impressionante e sofisticado que mais parece
um castelo do que um lugar para pendurar seu casaco à noite. E o
quarto? É fantástico. Provavelmente nunca vou querer sair.

“Você está animada?” Eu desvio minha atenção da multidão


de pessoas bebendo, dançando e conversando com minha
mãe. Procuro escárnio ou ciúme. Não vejo nenhum. Vejo apenas
uma preocupação genuína por sua filha. E apoio à sua decisão.

“Nervosa”, admito. Incrivelmente nervosa. E embora eu


saiba no fundo do meu coração que esta é a atitude certa para nós,
ainda me entristece um pouco ter chegado a esse ponto. Estamos
fugindo de uma vida inteira, trocando pele velha, por causa de uma
pessoa em cinco mil habitantes dessa cidade. Uma agulha em um
palheiro que fica nos cutucando, não importa o quanto nos
mexamos para desalojá-la.

“Eu acho que é a decisão certa, Maverick.”

Estou quase atordoada em silêncio. Sei que deve ser difícil


para ela ver Kael deixar a empresa do seu falecido marido. Não
importa o que Kael esteja tentando me fazer acreditar, é uma
grande perda para DSC. “Você acha? Por quê?”

Minha mãe, que tem evitado contato visual comigo durante


toda essa conversa, conecta seus olhos aos meus. Neles, vejo
profundidade e anos de experiência esperando para serem
passados para a próxima geração, para que não cometamos os
mesmos erros. Ela sorri. É suave, mundano e meio
K.L. KREIG
maternal. Hã. “Eu sei muitas coisas, Maverick. E sei que não fiz
um bom trabalho em compartilhá-las com você. Mas isso... isso eu
sei, é o que vocês dois precisam para florescer e crescer no casal
que sempre foram feitos para ser. Seu pai teria aprovado.”

Merda. Essas lágrimas parecem estar cada vez mais prontas


ultimamente. Eu pisco para longe, não querendo estragar a
noite. “Obrigada, mãe”, é a minha resposta rouca.

“De nada, querida.” Então ela me surpreende ainda mais me


dando um abraço. Nosso. É breve, mas inclui braços completos e
contato corporal. Não um falso com um tapinha nas costas duplo
e alguns centímetros entre nós.

Quando nos separamos, um braço pesado balança em volta


de mim, puxando-me para um ― ecaa ― corpo suado. “Ei, docinho”,
uma voz baixa ressoa em meu ouvido.

“Ei J”, digo de volta, sem ar, preciso falar direito porque J
Ton está me esmagando.

“Onde está o seu homem-brinquedo? Precisamos dele.”

Dou um gemido. É hora do karaokê. “Eu não sei.” Na


verdade, eu não vejo Kael há algum tempo.

Os ‘Illians’ chegaram há cerca de uma hora. Killian pairou


sobre o bar, pedindo bebida após bebida. Tentei ignorá-lo,
realmente tentei, mas senti seus olhos em cima de mim, como uma
película grossa cobrindo minha pele. Eu nunca retornei seu correio
de voz na noite em que Kael voltou para casa e derrubou meu
mundo. Ele tentou inúmeras vezes desde então. Até apareceu na
padaria, mas Carol agora foi instruída sobre as visitas surpresa de
Killian. Ela disse a ele que eu estava ‘indisposta.’ Ele bufou e saiu.

Mas quando olho ao redor, não apenas não vejo Kael, eu não
vejo o homem que ambos estamos tentando escapar. “Deixe-me
dar uma olhada”, digo a ele. Em seguida, para minha mãe: “Já
volto.” Eu coloco minha bebida quase vazia e saio em meio à
multidão.
K.L. KREIG
Abro caminho pela multidão e chego ao corredor que leva aos
banheiros. Eu fico na ponta dos pés, dando-me mais um
centímetro, e examino o ambiente. Há tantas pessoas aqui, é como
salmão nadando contra a corrente. Todo mundo parece o mesmo.

“Ei”, pego Leigh David, um antigo colega meu


passando. “Você viu Kael... ou Killian?” Eu adiciono
rapidamente. Tenho a sensação de que onde quer que Kael esteja,
encontrarei Killian.

“Ei, Mavs. Parabéns pela mudança. Parece um bom


negócio.”

“Sim, sim,” eu concordo rapidamente. “Kael? Você o viu?”

“Uh, sim. Acho que o vi sair com Killian.” Ele aponta o


polegar em direção à saída de emergência.

“Ótimo.” Eu finjo sorrir. “Você está se divertindo?”

“Muito. Esta é uma grande festa.”

Uhhhh… qualquer festa grátis é uma grande


festa. “Obrigada”, eu digo rapidamente, correndo em direção à
porta dos fundos. Eu a empurro, saindo em um beco que está mal
iluminado.

No segundo que estou fora, eu os ouço. Suas vozes fluem da


minha esquerda. Eles estão agitados, com vergonha de
gritar. Exatamente como no dia do enterro do meu pai. Suas vozes
desencarnadas fluem ao virar da esquina.

Leva apenas cerca de cinco passos antes que eu os sintonize


completamente. Fico com minhas costas contra a parede, ouvindo.

“Acabou agora. Ela precisa saber”, resmunga Killian.

“E a que propósito isso serviria?” Kael atira de volta.

Tenho que presumir que a ‘ela’ que estão se referindo sou


eu. Por que meu coração está acelerado, acelerando enquanto meus
ouvidos se esforçam para ouvir a resposta de Killian?
K.L. KREIG
“Ela merece a verdade, Kael.”

O que acabou? Que verdade?

“E que verdade é essa?” Kael repete meus pensamentos.

“Que essa porra toda foi obra do pai dela!” Ele ruge tão alto
que meu corpo vibra.

A risada de Kael é aguda e curta. “Do pai dela? Não,


Killian. Foi obra do nosso pai. E sua. Não se esqueça de que você
não estaria aqui agora se não tivesse engravidado Jillian em
primeiro lugar. Richard pode ter puxado o gatilho, mas você
carregou a arma, irmão.”

O que? Kael deve estar enganado.

Espero que Killian negue. Diga a Kael que ele não tem ideia
do que está falando. Jillian nunca ficou grávida de um filho de
Killian. Se ela estivesse, teria colocado um anúncio no jornal local
para anunciá-lo.

Ele não fala nada, no entanto. Ele fica em silêncio.

De repente, meus pulmões parecem sobrecarregados com


uma tonelada de água.

Jillian estava grávida? Quando?

“O que diabos você acha que ela vai fazer com tudo isso
agora, Killian?” Kael argumenta veementemente. “Nos
perdoar? Todos nós temos as mãos sujas aqui. Você, eu, Jillian,
nossos pais. Os pais dela. Pelo amor de Deus... Richard está
morto! Essa merda está tão longe de nós que só iria machucá-la
neste momento.”

O que diabos está acontecendo aqui? Eu quero gritar que


estou aqui, estou aqui, estou aqui! Eu quero correr ao virar a
esquina e socar os dois até que parem de falar em enigmas e
derramar o segredo que parece que todo mundo sabe, menos eu.
K.L. KREIG
Killian não responde. Pelo que parece uma eternidade, tudo
que eu ouço são os sons de carros passando na rua principal, a
ocasional gargalhada barulhenta de um bêbado e a batida do meu
coração batendo tão forte contra minhas costelas que estou
surpreso por eles não ouvirem também. O silêncio em que todos
gritamos no volume máximo. É tão alto que quase não aguento.

Quero dar mais um passo, mas não posso. Meus músculos


estão travados. Quando Kael fala, seu tenor goteja com puro
desprezo. “Você acha que se contar a verdade, vai recuperá-la? Não
é, seu filho da puta?”

A resposta de Killian é fria e uniforme. “Se você não contar a


ela, Kael, eu juro por Deus que vou.”

Me contar? Me dizer o que? O quê, porra? Apenas diga!

Eu ouço uma briga. Sapatos esmagando cascalho. Um


baque, seguido pelo som de respiração ofegante. “Você está certo
sobre uma coisa. Isso acabou. Faça qualquer merda que sinta que
tenha que fazer, Killian. Eu não dou a mínima. Mas se você
respirar uma palavra sobre isso com Maverick, eu juro por Deus,
porra, irmão ou não, vou arruiná-lo. Ela está feliz. Ela finalmente
está feliz pra caralho e você não vai tirar isso dela. Você me
escutou?” A voz de Kael é baixa e ameaçadora, carregada com
ameaça.

“Eu já estou arruinado. E você não vai tirá-la de mim.” A voz


de Killian soa rouca... como se talvez suas vias aéreas estivessem
sendo cortadas.

Deve ser por isso que Killian estava tentando falar


comigo. Eu penso em seus comentários enigmáticos naquele dia
em que Kael estava fora da cidade há tantos meses: Você acha que
quer respostas, mas às vezes é a verdade que destrói, Pequena, não
as mentiras. Tentei proteger você minha vida inteira e isso... lamento
não poder protegê-la disso.
K.L. KREIG
Quando Kael responde ao seu irmão, é mais um rosnado do
que qualquer outra coisa. “Ela é minha esposa. Minha. Não
sua. Enfie isso na sua cabeça dura, irmão. E eu posso levá-la para
onde eu quiser.”

“Ela deveria ser minha esposa, não sua.”

Respirar se torna quase impossível. O calor rasteja sobre


cada centímetro da minha pele, acumulando-se como fogo líquido
no centro do meu peito.

Minha cabeça está girando. Esta é a primeira vez desde que


Killian ficou na minha frente com Jilly, anunciando que ia se casar
com ela em vez de mim, que ele admitiu que sempre deveria ter
sido eu. Como havíamos conversado. Como eu sempre
soube. Killian queria que eu fosse sua esposa, não Jillian.

Então por que não sou? E o que nossos pais têm a ver com
tudo isso?

E outras perguntas começam a surgir, sufocando as que


estão diante delas. Igualmente importantes, como: Esta mudança
é coincidência ou estrategicamente planejada? É realmente sobre
Kael e eu começando uma nova vida juntos ou Kael só queria me
tirar da cidade para manter algum tipo de segredo sórdido de mim?

E as respostas... elas parecem tão claras, é como se eu


estivesse olhando através de uma lente de aumento. Seja o que for
que Killian deseja intensamente que eu saiba, Kael não quer com
igual fervor. Claro que isso foi planejado metodicamente. Como
não poderia ser? Kael quase admitiu.

Todos nós temos as mãos sujas aqui. Você, eu, Jillian, nossos
pais. Os pais dela.

Eu sufoco um soluço, colocando minha mão na boca.

O que eu faço? O que diabos devo fazer com isso? Estou


pesada, presa na indecisão. Acontece que não tenho que
K.L. KREIG
decidir. Eu me encolho quando um berro alto flutua atrás de
mim. “Maverick, o que você está fazendo aqui?”

Ótimo timing, Larry.

“Merda”, ouço Kael murmurar. Segundos depois, ele aparece


por trás da parede de tijolo, Killian em seus calcanhares. Os raios
do poste de luz solitário os atingem com perfeição e eu posso ver
cada emoção que eles estão sentindo. A culpa, a preocupação e a
raiva estão escritas nas linhas duras de seus rostos. Ficamos ali
olhando um para o outro, meus olhos saltando para frente e para
trás entre eles. Eu ignoro Larry quando ele roça no meu ombro.

“Ei.” Kael tenta ser alegre. Grande e enorme falha. Ele dá um


passo em minha direção. Eu estendo minha mão, palma voltada
para ele.

“O que está acontecendo?”

“Nada”, ele responde uniformemente.

“Nada? Mesmo? Essa é a sua resposta?” Minha pressão


arterial sobe enquanto meu olhar muda para Killian. Ele está
trabalhando sua mandíbula para frente e para trás com tanta força
que provavelmente está gastando o esmalte dos dentes, mas seu
olhar nunca desvia do meu. “Qual é exatamente a hora de eu
saber?” Eu pergunto a ele incisivamente.

“Maverick...” Kael começa, mas quando eu viro minha


atenção de volta para ele, ele se cala rápido.

Voltando para Killian, pergunto novamente. Quase imploro,


“Diga-me, Killian. Você me deve muito isso.”

Ele hesita, olhando para Kael. “Todo mundo está aborrecido,


Pequena. Não foi nada. Apenas uma discordância.”

Ele está protegendo suas apostas. Querendo saber o quanto


eu ouvi. Bem, foda-se os dois. Não vou deixar este lugar, e nem
eles, até que receba algumas respostas malditas.
K.L. KREIG
“Se essa palavra ― nada ― sair de qualquer uma de suas
bocas de novo, eu juro por Deus que alguém vai se machucar”, digo
com os dentes cerrados. Meus dedos se enrolam em minhas
palmas, as unhas roendo a pele fina.

“Uh, acho que já vou indo”, ouço Larry dizer preocupado à


minha esquerda. Boa escolha, Larry. Eu não me incomodo em
responder. Nem Kael ou Killian. Então nós três nos
enfrentamos. Eu não planejo me mover um centímetro até saber a
verdade.

Kael dá outro passo sutil em minha direção, sua voz de


barítono suave e persuasiva. “Mavs…” Ele parece que está pronto
para quebrar. Bem, eu também. Sinto como se fosse me partir ao
meio.

“Por favor, não”, sussurro. A represa que tenho usado para


conter novas lágrimas se rompe e a água jorra pelas paredes
quebradas. “Não minta para mim. Não agora. Por favor, Kael.”

Seu rosto empalidece. Mesmo com pouca luz, vejo o sangue


esvair-se dele. Em seguida, sua postura cai. Sua cabeça
pende. Acho que até vejo seus olhos brilharem antes que ele os
esconda de mim. Na verdade, eu sei que sim. Quando minha
atenção se desloca para Killian, ele apenas parece resignado. E
triste. Muito, muito triste.

A Teoria do Cisne Negro.

De acordo com Nassim Nicholas Taleb, um pequeno número


de eventos do Cisne Negro explica quase tudo em nosso mundo,
desde o sucesso de ideias e religiões, à dinâmica de eventos
históricos e elementos de nossas próprias vidas pessoais. Sente-se
e faça um balanço de sua própria vida. Quantas coisas correram
de acordo com o plano?

A vida é incomum. Eventos extremos ocorrem. Eles são


imprevisíveis e impactantes, nossos cérebros humanos trabalham
horas extras tentando explicar esses fenômenos.
K.L. KREIG
Isso é exatamente o que estou tentando fazer neste exato
segundo. Racionalizar, porque sei que os dois homens que mais
amo neste mundo estão prestes a me estilhaçar em pedaços.

Foi então que eu soube que a traição de Killian ao se casar


com minha irmã não era meu evento Cisne Negro. Eu pensei que
fosse, mas não é. Foi simplesmente uma consequência. É isso,
bem aqui. O que quer que eles tenham escondido de mim é maior
do que isso. Muito maior e de longo alcance. De fato, até agora era
totalmente imprevisível e seu impacto será sentido por toda a vida.

Por todos nós.


K.L. KREIG
CAPÍTULO VINTE E SETE
KAEL

Três anos e onze meses atrás

Killian de volta.

O desgraçado do Killian está de volta. Aqui. Em Dusty


Falls. No DSC. Eu o observei passar pelo meu escritório. Ele não
virou a cabeça. Não parou para dizer oi. Eu nem sabia que ele
estava vindo. Mas isso não é surpresa. Killian e eu não somos mais
exatamente unidos.

O fato dele estar andando pelos corredores do DSC não é um


bom sinal. Ele se foi há pouco mais de quatro meses e se ele está
se encontrando com Richard DeSoto, isso só pode significar uma
coisa.

Ele está voltando.

Porra.

Porra.

Porra, porra.

Se Richard o contratar novamente, estou fora daqui. Posso


não ter Maverick. Posso nunca tê-la. Na verdade, agora percebo
que provavelmente sempre foi um sonho irreal. Amor não
K.L. KREIG
correspondido e tudo. Mas simplesmente não tenho estômago para
sentar dia após dia torturante vendo a mulher que amo estar com
meu irmão. Não posso saber se ela está na cama dele, usando seu
anel, gerando seus filhos. Eu simplesmente não posso.

Ela está enrolada em todos os meus pensamentos e


sentimentos, então alguém poderia pensar que eu teria ido atrás
dela no segundo em que a sola do sapato de Killian bateu no
primeiro degrau daquele avião 747. Bem, estaria errado. Ele pode
ter estado fora de sua vista, mas estava claro que ele não estava
fora de sua mente.

Na verdade, tenho passado cada vez menos tempo com ela,


porque simplesmente não aguento mais ficar perto dela e não dizer
o quanto está lentamente me matando. Não posso implorar que ela
me escolha quando sei que ela o quer, mas também não consigo
mais manter esses sentimentos de amor desesperado que tenho
por ela dentro de mim. É muito difícil. E se contar a ela, eu a
perco. E ponto final. E também não consigo lidar com isso. Eu
sacrificaria tudo que eu quero por ela, apenas para mantê-la em
minha vida, porque a vida sem ela é insuportável, mas com Killian
de volta...

…tudo muda.

O ácido sobe pela minha garganta. Tem gosto de ódio,


fracasso e perda. Eu olho em volta do meu escritório espaçoso,
observando tudo em que trabalhei nos últimos dois anos. É tudo
sem sentido. Elogios. Promoções. Dinheiro. Há uma dúzia de DSCs
por aí e posso ser facilmente detectado por qualquer um deles. Ou
por outra empresa para esse assunto. Não voltei para minha cidade
natal para ser o cachorro de colo de Richard DeSoto. Essa era a
última coisa que eu queria. Não. Voltei para Dusty Falls por um
motivo, e apenas um motivo.

E agora esse motivo é irrelevante. Perdido para mim para


sempre.
K.L. KREIG
Sei disso há meses ― desde que Maverick voltou da faculdade
e começou a sair secretamente com Killian. Só levei um tempo para
aceitar isso. Precisei ver meu irmão novamente agora mesmo, para
enfiar aquela maldita carta do Querido John direto no meu
coração, então eu não tenho escolha a não ser ler as palavras que
venho evitando há anos.

Maverick está apaixonada pelo meu irmão. Não por mim.

Isso me mata ― me dizima ― mas eu tenho que deixá-la ir. Se


Maverick quer Killian, por que ela não deveria tê-lo? Se ele a faz
feliz, quem sou eu para interferir nisso? Tudo que eu quero ― tudo
que sempre quis ― é vê-la feliz. Eu esperava que fosse comigo, rezei
tantas vezes que perdi a conta. Mas se não for, não é. Que assim
seja. Vou aceitar isso como um homem. Killian estava certo anos
atrás. Aparentemente, não sou o que ela quer. Ele é.

Mas eu tenho certeza que, como Cristo, não tenho que ficar
à margem e ter isso enfiado na minha garganta diariamente
também. Não… sairei de Dusty Falls. Essa noite vou atualizar meu
currículo. Vou colocar algumas sondagens para fora e continuar
com minha vida. Inferno, posso nem esperar tanto. Eu calculo
mentalmente quanto tenho de economia. Provavelmente o
suficiente para sobreviver alguns meses.

Sim. Sim, é a coisa certa. Amanhã darei minhas duas


semanas para Richard; então serei poeira no vento.

Decisão tomada e com os pulmões tão tensos que sinto que


vou sufocar, tento voltar minha atenção para o contrato à minha
frente. As palavras se misturam. Apenas quando eu as coloco em
foco, elas se misturam novamente. Na própria definição de
insanidade, continuo tentando exatamente a mesma coisa, mas o
resultado final é o mesmo. O barulho do meu telefone um pouco
depois é um alívio bem-vindo da minha futilidade. “Sim?” Eu digo
suavemente quando pego o fone.

“Kael, preciso de você em meu escritório.”


K.L. KREIG
“Agora?” Eu pergunto, confusão puxando minhas feições,
tenho certeza.

“Agora.”

Richard desliga antes que eu responda. Uma curta


caminhada depois, estou de pé em sua porta aberta e a tensão que
vem do seu aconchegante escritório de canto é tão densa que é
sufocante. Ela gruda no meu terno, pesada como a umidade. Ele
repousa atrás de sua mesa, uma carranca no rosto. Não
surpreendentemente, Killian se senta rigidamente em uma cadeira
de visita. O que me surpreende, porém, é que nosso pai está
sentado na outra.

“E aí?” Eu pergunto, meu olhar oscilando entre os três.

Ele acena para a porta. “Feche e sente-se. Eu preciso que


você faça alguns papéis.”

“Papéis?” Eu praticamente grunho. Claro, seu idiota de


merda. Fazer papéis. Bem, Richard, esta é minha última tarefa no
DSC, porque acabei de decidir que não posso nem ficar mais um dia,
muito menos outros quatorze.

Recuperar minhas emoções é como lutar contra um robalo


de 11 quilos. Eu consigo, mas mal. Fazendo o que ele pede, tranco
nós quatro juntos e puxo uma cadeira entre meu pai e meu irmão,
tomando cuidado para ficar fora da distância de sufocamento de
Killian.

Quando sento, Richard olha para meu pai. “Arnie, você quer
explicar ou devo?”

Agora estou confuso como o inferno. O que meu pai teria a


ver com Killian trabalhando aqui? Todos os olhos se voltam para
meu pai e agora que olho de perto, ele está positivamente
pálido. Toda a sua cor se foi. Seu rosto está contraído. Seus olhos
estão arregalados e desolados. Os pêlos dos meus braços se
arrepiam.
K.L. KREIG
Esta reunião não tem nada a ver com Killian.

“Pai, o que há de errado?”

“Eu, uh...” Ele para e engole com tanta força que ouço. Ele
mantém o olhar zangado de Richard. Esses dois são amigos desde
que me lembro; só que eles parecem tudo menos amigáveis
agora. Eu olho para Killian e seu olhar não está no pai, mas no
chão. Seus dentes estão rangendo e ele está segurando os braços
da cadeira com tanta força que a madeira pode rachar. O que quer
que eles precisem me dizer, é grande. É ruim. E sou o último a
saber.

Estendo o braço e pego a mão do meu pai. “Seja o que for,


pai, apenas diga. Está tudo bem.”

Killian bufa. Eu o ignoro, focando no pai. Lágrimas brotam


dos olhos do homem que admirei por toda a minha vida. Meu
modelo. Meu professor. Meu protetor. Meu mentor e agora meu
amigo. Mas quando ele começa a me dizer por que estou sentado
no escritório de Richard DeSoto, sendo solicitado a redigir papéis
legais, fico em choque.

“Eu peguei algo que não era meu”, ele começa.

“Isso é um eufemismo”, murmura Killian baixinho.

Eu deslizo meu olhar para Killian, em seguida, volto para o


pai. Meu pai é o homem mais honesto que conheço. Não há como
o que ele disse ser verdade. “O que você quer dizer com pegou algo
que não era seu? O que?”

“Ele roubou mais de vinte milhões de dólares do DSC, é isso”,


Killian zomba quando meu pai se fecha.

“Ele o quê?” Eu gaguejo, não acreditando em uma palavra


que sai de sua boca agora.

“Sim, sabe. Pegar o que não é seu secretamente e toda essa


merda”, meu irmão grunhe.
K.L. KREIG
“Você está mentindo”, respondo, me levantando da
cadeira. “Isso tudo é um grande erro. Um problema de
contabilidade. Todos nós sabemos que Margie é completamente
incompetente.” Eu começo a andar, olhando para Killian, que não
tem um semblante simpático em seu olhar duro. Richard é um
reflexo exato do meu irmão e quando meu olhar finalmente pousa
no meu pai, vejo que é tudo verdade. Cada maldita palavra disso.

Eles não estão mentindo para mim.

Não há um erro de contabilidade.

Minha mente gira em torno de férias, carros, roupas, os anos


de educação católica e, como gerente financeiro, o acesso que meu
pai teve para preparar os livros de contabilidade da maneira que
quisesse.

Porra.

Puta. Merda.

“Pai”, resmungo, implorando para que isso não fosse


verdade.

“Sinto muito, filho. Estraguei tudo.”

“Você estragou tudo?” Eu pergunto rispidamente.

De alguma forma, me encontro sentado de volta em minha


cadeira, ainda olhando para meu pai. Eu rebobino os últimos
minutos em minha mente. Repito novamente. Repito e repito.

Oh meu Deus do caralho.

Isso não está acontecendo. É um pesadelo. Estou prestes a


acordar suando frio, meu coração batendo forte, meu sangue
bombeando rápido e furiosamente. Mas não consigo. Eu
permaneço colado a este local, preso em um pesadelo vivo e
respirando.
K.L. KREIG
Isso é real. Meu pai é um criminoso. Um criminoso
de colarinho branco. Então, um pensamento me ocorre. “Você vai
para a cadeia. Porra, você terá acusações federais contra você.”

Lidamos com contratos governamentais. Uma grande parte


de nossos negócios são contratos municipais, estaduais e federais,
o que significa que ele pode ser indiciado sob a lei federal. As
penalidades serão mais duras. Eles farão dele um exemplo. Este
escândalo não só vai abalar Dusty Falls. Será nacional. Será
comentado no noticiário noturno e apresentado em programas
como 20/20 e Nightline por anos. Nossa família será arrastada
pela lama. Nosso nome arruinado. Minha mãe... bom Deus. Minha
doce e inocente mãe. Isso vai destruí-la.

E a construção DeSoto? Jesus Cristo. Isso afundará a


empresa que Richard DeSoto construiu com sangue, suor e a base
desta comunidade. Nenhuma outra entidade governamental vai
contratá-lo novamente. Nunca. Ele será eliminado. Vai falir em
dois anos. A fofoca vai viajar através de gerações, embelezada com
cada nova notícia.

“Ninguém vai para a cadeia”, diz Richard. “Fora dessas


quatro paredes, ninguém vai descobrir sobre isso. Arnie está se
aposentando antecipadamente. Problemas de saúde. Killian está
voltando para o DSC e vai pagar a dívida de seu pai, mais
juros. Você vai redigir um contrato de trabalho para Killian. Você
encontrará uma maneira de garantir que o contrato mantenha a
boca de Killian fechada e diga apenas o necessário no tribunal se
precisar, mas não revela o suficiente para colocar todos nós em
uma maldita cela de prisão pelo resto da vida.”

Eu fico boquiaberto com Richard DeSoto, incapaz de


acreditar no que estou ouvindo. “Você quer que eu enterre o
desfalque? Um ato criminoso?”

Ele não responde, mas seu silêncio é tudo de que


preciso. Claro que sim. Ele pensou em todas as ramificações assim
como eu. Isso não só arruinará nossas famílias, mas também
K.L. KREIG
destruirá Dusty Falls. Incontáveis pessoas dependem do DSC para
seu sustento e se cair, Dusty Falls se tornará uma cidade fantasma
virtual. Meu pai roubou 20 milhões, mas ele o está deixando fora
de perigo, ileso. Mas alguém está pagando o preço, não é?

Meu irmão.

“Quais são os termos?” Meu Deus, nem acredito que estou


perguntando isso.

“A dívida será paga integralmente quando ele atingir


quarenta milhões em vendas. Então, se isso levar dois anos ou dez,
bem...”

“Quarenta milhões?” Duas vezes a quantia que meu pai


roubou?

“Foi a oferta de Killian para impedir que seu pai passasse o


resto de seus dias apodrecendo em uma cela de prisão.” Richard
olha para Killian, à espera de uma resposta. Killian apenas acena
com a cabeça.

Quais são exatamente os sintomas do choque? Pele fria e


úmida? Respiração irregular? Confusão, ansiedade, náusea? Suor
escorrendo por suas bolas? Bem, verifique, verifique, porra,
verifique. Verifique todas as caixas malditas. Eu estou lá.

“Você concordou com isso?” Finalmente pergunto ao meu


irmão.

Por muito tempo, apenas me encara. Ele não está de volta


aqui por causa de Maverick. Está de volta porque nosso pai fodeu
seu empregador e meu irmão mais velho está pagando a fiança dele
da única maneira que sabe. Ele quer estar de volta aqui tanto
quanto eu quero que ele esteja. Eu vejo isso agora.

Não posso acreditar que nos encontramos nesta


situação. Nunca, em um milhão de anos, eu poderia ter previsto
isso. Ele também não.

“Sim. Elabore os papéis, Kael.”


K.L. KREIG
“Mas...”

“Faça isso”, ele late. Em seguida, seu tom suaviza quando


estende a mão e aperta meu pulso. “Por favor. Apenas faça.”

Por alguns segundos, sou levado de volta no tempo, quando


idolatrava meu irmão mais velho. Ele era mais
esperto. Calmo. Fiel. Ele me intimidou como todos os irmãos mais
velhos fazem, mas também me protegeu e me amou ferozmente. Eu
sinto falta disso. Sinto falta dele. Mas com Maverick entre nós,
nunca poderemos ser os mesmos novamente.

Então eu aceno. Apenas aceno, então digo, “Ok. Eu vou fazer


isso.” Porra, estou prestes a cometer um crime também. Jesus
Cristo. Eu poderia ir para a prisão. Ser banido da ordem. Passar
anos sendo refém do cara grande. Esfrego minhas mãos no rosto,
tentando absorver o que estou prestes a fazer. Quando eu levanto
meus olhos para meu pai, ele vê minha luta interna e vejo seu
remorso. Agora, não é o suficiente.

“Há só mais uma coisa, Kael” Richard diz enquanto estou


entorpecidamente fazendo meu caminho em direção à porta.

Eu viro, mas não falo. Apenas espero por isso.

“Preciso que você redija um acordo pré-nupcial.”

Eu pratico direito empresarial. Contratos, valores


mobiliários, impostos, direitos de propriedade intelectual, divisão
em zonas. Essas são coisas com as quais estou familiarizado. Um
advogado com formação em direito de família estaria mais
familiarizado com todas as questões conjugais. Eu estudei, claro,
tive que estudar, mas não tenho experiência prática com isso.

“Um acordo pré-nupcial? Para quem?”

“Para Killian e minha filha...”

Juro que paro de respirar. Meus pulmões não estão


funcionando. Meu corpo não consegue se mover. Estou tendo
dificuldade para me concentrar enquanto meus ouvidos zumbem
K.L. KREIG
com a negação. Mas então sou salvo ao mesmo tempo que perco o
equilíbrio quando ele pronuncia o nome de Jillian em vez de
Maverick.

“Jillian?” Eu esclareço. “Não...” eu me paro bem a


tempo. “Jillian?”

“Sim. Killian e Jillian vão se casar.” Richard sorri. Como se


isso fosse conhecimento comum, todos nós deveríamos saber e nos
entusiasmar.

Eu bufo, deixando escapar, “Desde quando?” E essa


pergunta é dirigida diretamente ao meu irmão. Agora ele sabe que
eu sei. Sobre Maverick. Sobre seu caso sórdido. Sobre sua traição
não intencional.

“Jillian e Killian estão esperando”, acrescenta Richard.

“Esperando? Esperando o quê ?” Estou seriamente sem


noção aqui.

“Por um bebê, é claro.”

“Um bebê?” Percebo que estou repetindo tudo o que Richard


está me dizendo, mas que droga. Estou totalmente descrente de
tudo o que aconteceu nos últimos dez minutos. Quando tento
encontrar os olhos de Killian, desta vez, ele desvia o olhar.

Estou encantado agora. Killian traiu Maverick com sua


irmã? Ele está esperando um bebê? Com Jillian? E agora ele vai
se casar com ela?

Puta que pariu.

Tenho mil sentimentos sem nome percorrendo meu corpo


agora. Tantos que eu não consigo pegar todos, mas aquele que eu
agarro enquanto tudo gira é a fúria. Fúria quente e violenta.

Esse bastardo traidor. Independentemente de eu querer


reconhecer ou não, Maverick está apaixonada por Killian e ele
simplesmente a jogou fora como se ela não importasse.
K.L. KREIG
Ele a traiu.

Com. A. Irmã.

Santa fodida mãe.

Eu andei pelo corredor há poucos minutos, pronto para


deixá-lo ter tudo que eu sempre quis, porque é isso
que Maverick quer. E embora não seja eu, quero que ela tenha tudo
que seu coração deseja.

Mas ele não a merece.

Ele obviamente nunca gostou dela.

“Parabéns, Killian. Essa é a melhor notícia que ouvi o dia


todo.” Isso o traz de volta. E olhamos nos olhos um do outro pelo
que parece um minuto ininterrupto. Sua raiva combina com a
minha. “Vou começar a trabalhar nesses documentos
imediatamente, Richard.”

Eu saio da reunião, as emoções confusas agora se


desfazendo. A raiva ainda é crua e ardente. Eu quero sacudir meu
pai. Quero exigir que ele me diga o que diabos pensava que estava
fazendo roubando do seu melhor amigo e por que ele agora está
nos tornando criminosos.

Mas mais do que qualquer coisa, eu quero dar um soco na


porra da cara de Killian porque isso vai absolutamente esmagar
Maverick. A última coisa que quero é vê-la magoada por alguém,
mas especialmente por isso. Traída pelo amante e pela própria
irmã? Jesus Cristo. Eu nem consigo imaginar. Ninguém merece
isso.

Junto com a raiva, porém, sinto uma série de outras coisas.

Desgosto.

Descrença.

Luto.
K.L. KREIG
Vergonha.

Gratidão.

Mas acima de tudo... esperança. Esperança: um novo


alento. Um novo começo. Uma oração que foi atendida no momento
em que decidi jogar a toalha.

Isso poderia ser uma nova chance para mim? Para nós? Com
Killian não mais disponível, é possível que eu possa fazer com que
ela me veja mais do que apenas seu melhor amigo?

Não sei, mas com certeza vou tentar porque, por mais que
isso vá esmagá-la, recebi um presente e não irei desperdiçá-
lo. Estarei lá para confortar Maverick, para levá-la ao que tenho
certeza que será o pior momento de sua vida, mas a esperança
de que minha chance com ela não esteja totalmente perdida já está
crescendo.

Vou dar um tempo a ela. Claro que vou dar todo o tempo que
ela precisa para colocar seu coração despedaçado de volta no lugar,
mas então eu vou entrar. E não vou desistir até que ela esteja na
segurança de ambos os meus braços e meu coração.

Eu nunca vou machucá-la como Killian. Nunca.


K.L. KREIG
CAPÍTULO VINTE E OITO
Maverick

Cinco semanas atrás

Já se passaram duas semanas desde que Kael deixou Dusty


Falls para começar no seu novo emprego. Duas semanas de
intervalo. Duas semanas de incerteza, nosso futuro no limbo. Duas
semanas e ainda não tenho ideia do que vou fazer.

Pegados em flagrante, Kael e Killian permaneceram naquele


beco sombrio e divulgaram toda a sua história sórdida e
inacreditável. Sobre as mentiras, o engano, os atos ilegais e imorais
de que ambos participaram. De alguma forma doentia, entendo por
que os dois mentiram, mas fatos são fatos.

E os fatos são: Kael mentiu para mim. Ele me enganou por


anos. Ele confessou que sabia sobre Killian e minha irmã todo esse
tempo. Até elaborou um acordo pré-nupcial. Ele sabia o quão
arrasada eu estava com aquele casamento, mas ele ainda não disse
nada. Não sei como perdoá-lo por isso. Tudo o que tenho feito é um
exame de consciência, mas não há respostas precisas a serem
encontradas. Minha confiança foi destruída. Não sei como
consertar novamente.

Todo mundo que deveria me amar mentiu para mim. Kael,


Killian, meu pai. Até Jillian. Killian confessou que Jilly também
K.L. KREIG
sabia sobre o desfalque, então ela mentiu também. Até minha mãe
estava nisso. A única inocente em todo este escândalo é Eilish
Shepard. Kael e Killian me asseguram que ela não sabe de
nada. Eu acredito neles. Ambos arriscaram uma pena na prisão
para proteger o pai. Não é exagero pensar que eles iriam até os
confins da terra para fazer o mesmo por sua mãe.

“Ei, eu interrompo?” Pergunto quando ela atende.

“Oh não.” A respiração pesada de MaryLou do outro lado da


linha é uma revelação mortal. O único exercício que ela faz é
aeróbica no quarto.

“Por que você atendeu o telefone? Volte a fazer bebês.”

“Eu não estou...” Crack.

“Ele acabou de dar um tapa na sua bunda?”

“Pare com isso”, ela grita em um sussurro alto. Larry ri e


MaryLou grita.

“Falaremos de manhã”, digo a ela. Preciso desligar o telefone


antes de ouvir gemidos ou o zumbido de uma vibração ao fundo.

Estou me preparando para desligar quando ela diz: “Larry


pode esperar. Estarei aí em dez.”

Eu suspiro. Quero que ela deixe o marido com bolas


azuis? Egoisticamente, sim. Mas também não tenho certeza do por
que estou ligando. Estou falando. Estou pensando. Estou
totalmente emocionada. Não há mais nada a fazer a não ser tomar
uma decisão. Uma que eu não consigo fazer. O sabor da traição é
amargo e difícil de se livrar.

Eu olho pela janela da minha cozinha, olhando para a noite


escura. “Não. Eu nem estou em casa. Estou dirigindo por aí.”

“Tem certeza, Mavricky? Podemos nos encontrar em algum


lugar.”

“Não. Esqueça. Vejo você pela manhã.”


K.L. KREIG
“Ok. Tem certeza?”

“Tenho certeza.”

Nós desligamos. Eu fico aqui por alguns minutos, pensando


que deveria estar na cama. São quase vinte e duas horas, tenho
que acordar às quatro da manhã. Mas o vazio desta casa e meu
coração estão pesando tanto sobre mim que me sinto como se
estivesse me afogando em sua opressão.

Pegando minhas chaves do balcão, me encontro no meu


carro, dirigindo propositadamente pela cidade. Então, estaciono
em um gramado familiar, eu faço uma ligação e espero, enquanto
relembro uma noite que não tenho nada que repetir, esperando por
alguém que não tenho nada que esperar...

“Não deveríamos estar aqui.”

“É exatamente onde deveríamos estar”, digo a ele em voz


baixa. Estamos ziguezagueando ao nosso redor por muito
tempo. Está na hora. Eu deslizo pelo banco até que não se consegue
colocar um pedaço de papel entre nós.

“Alguém pode nos ver.”

“Não há outro carro em todo o parque”, retruco. “E, além disso,


está escuro e estamos tão longe da estrada que ninguém vai ver.”

“Maverick”, ele sibila quando minha mão vai para a


protuberância crescente em seu jeans. Eu agarro. Acaricio. Eu fico
molhada entre minhas pernas e minha boca enche de água. Eu
começo a puxar para baixo o zíper, os dentes de metal se separando
para revelar um pau tão grande que parece encolhido em sua cueca
preta.

Eu não olho para ele, em vez disso, mantenho minha atenção


focada no prêmio implorando para ser lançado. Eu quero, no
K.L. KREIG
entanto. Quero olhar em seus olhos enquanto pego seu pau na
minha mão, na minha boca. Eu quero vê-los enevoados com seu
desejo por mim enquanto ele incha e goza. Mas eu não quero. Porque
se eu fizer isso, meu medo é que ele pare com isso. E estou cansada
de parar. Esta noite ele vai ser meu. Se eu conseguir, será meu para
sempre.

Sua respiração acelerou agora. Está rápida e superficial. Sua


cabeça bate suavemente contra o encosto de cabeça. Ele não está
me impedindo, então eu continuo. Eu deslizo minha mão dentro do
elástico de sua cueca e ousadamente deslizo a cueca para baixo
sobre seu pau, no qual fica ereto e imponente.

“Deus”, eu murmuro.

“Pooorra”, ele diz ao mesmo tempo quando eu envolvo meus


dedos em torno dele.

Ele é grosso e enorme, uma veia grossa corre ao longo da parte


inferior do seu pau. Eu acaricio a partir da base e seu pau treme na
minha mão. Quando chego à ponta que parece o topo de um
cogumelo, passo o polegar sobre a gota brilhante de umidade que
vaza.

“Maverick, Jesus Cristo.” Sua mão se fecha em meu


cabelo. Ele puxa minha cabeça para trás e coloca sua boca na
minha. Ele enfia sua língua dentro, varrendo em golpes longos e
exigentes. Ele morde meu lábio inferior até doer tanto que estou
gemendo seu nome. Ele pega e comanda, me dominando do jeito que
sempre imaginei. Então ele me mantém imóvel, seus olhos selvagens
perfurando-me. “Coloque meu pau em sua boca.”

Eu quero aquilo. Quero, mas caramba, esperei quase vinte e


três anos por ele. Por isso. “Eu quero sentir você dentro de mim.”

“E eu estarei dentro de você, Pequena, mas preciso afundar


dentro dessa boca primeiro. Eu fantasiei mil vezes ao longo dos anos
com você me chupando. Não me faça implorar.”
K.L. KREIG
Deus. Sua confissão. Vibra por toda a minha pele, arrepios
inclusos. O lado do meu lábio se contorce em jogo. “Acho que
gostaria de ouvir você implorar pelo menos uma vez.”

Seus olhos se fixam nos meus e ele sussurra um apelo simples


que nunca, jamais, esquecerei. Sempre me lembrarei da maneira
como seus lábios se apertaram quando ele disse isso. Vou ouvir a
vibração grave e ansiosa de sua voz quando cair no sono à noite. E
a maneira como sinto tudo o que ele está sentindo por mim quando
diz com sinceridade: “Por favor”, ficará marcado em minha alma
para o resto da vida.

Ele guia minha cabeça para seu colo. Seus movimentos são
lentos, suaves e ele mantém sua mão em volta do meu cabelo
enquanto eu o agarro com mais força em antecipação.

Eu não provoco. Entro com um propósito. Envolvo meus lábios


em torno de sua circunferência e empurro meu caminho para baixo
até que ele esteja o mais longe que posso levá-lo. Eu me arrasto de
volta, trabalhando minha língua contra sua pele aveludada. Eu faço
isso uma e outra vez, levando-o ao frenesi. Até tirar aqueles gemidos
e súplicas de seus lábios, que estive morrendo de vontade de ouvir
minha vida inteira. Ele enrijece. Os músculos de suas coxas
endurecem. Eu sei que ele está a segundos de gozar em minha
garganta quando ele usa meu cabelo como alavanca, me puxando.

“O...”

Um beijo ardente desfaz esse pensamento. Suas mãos


começam a tirar minha blusa. Está sobre minha cabeça. Meu sutiã
está fora. Ele está faminto, sugando meu pescoço, meus mamilos e
minha barriga trêmula, enquanto ele desce meu short e calcinha
pelas minhas pernas até que estou completamente nua. Ele se livra
de sua própria camisa e tem uma camisinha enrolada em seu pau
duro antes que eu possa contar até cinco. Sua própria bermuda está
enrolada sob seus pés, junto com sua cueca, e então, com minhas
costas contra o assento de couro, ele está pairando sobre mim,
gloriosamente nu. Eu corro minhas mãos sobre ele, amando a
K.L. KREIG
sensação de seus músculos se contraindo e flexionando enquanto
eu passo sobre eles. Deus do céu, ele é lindo.

“A primeira vez que eu gozar com você, será junto”, ele me diz
apaixonadamente enquanto trabalha seu pau entre minhas dobras
molhadas e começa a empurrar para dentro.

Está acontecendo. Isso está realmente acontecendo.

“Oh merda, Killian.” Meus olhos querem rolar na minha


cabeça enquanto ele entra. Eu quero chorar com o quão fantástico é
ele esticando meus tecidos apertados até que se ajuste como se nós
tivéssemos sido feitos apenas para isso. Mas eu também não
fujo. Nós ficamos presos um ao outro, nenhum de nós é capaz de
escapar.

“Porra, você é gostosa. Tão bom, Maverick. Tão molhada, tão


apertada. Então... foda-se.” Sua voz está tensa, contradizendo seus
movimentos. Ele é lento e decidido, colocando fogo em cada
terminação nervosa enquanto entra e sai em um ritmo frustrante. Eu
posso dizer que ele está se segurando. Posso dizer porque seu corpo
está tremendo com o esforço.

“Foda-me. Forte.” Eu quero que ele deixe ir. Leve-me. Possua-


me.

Seu olhar escuro se alarga um segundo antes que ele volte,


seus quadris batendo contra os meus, me fazendo ofegar e querer
mais. Mas, em vez de se mover, ele se mantém imóvel. “Eu não estou
te fodendo, Maverick.”

“Mas...”

Pegando minhas bochechas, ele coloca o polegar sobre minha


boca. Suas doces palavras me fazem chorar. “Eu vou fazer amor
com você lentamente, Pequena. Esperei muito para aceitar você
como se fosse um ato sem sentido. Isso significa mais para mim do
que você pode imaginar. Vou adorar seu corpo, amar seu coração,
possuir sua alma e me certificar de que você se lembrará desta noite
para o resto de sua vida.”
K.L. KREIG
Nunca será possível esquecer, queria dizer isso. Em vez
disso, “Eu te amo, Killian,” irrompe junto com um pequeno
soluço. Nunca me senti tão amada como agora. Ou tão feliz.

Ele pressiona seus lábios nos meus, beijando-me tão


lentamente quanto faz amor comigo. “Eu te amo, Maverick. Eu
sempre te amei.”

“Você está bem?” Ele pergunta, deslizando para dentro do


meu carro. A porta se fecha com um clique retumbante e, no
momento em que isso acontece, sinto sua presença sugar todo o
espaço em meu pequeno veículo. Meu estômago revira algumas
vezes. Eu começo a respirar um pouco mais forte.

“Sim”, respondo, agora positivamente sem fôlego.

Ele me encara, tentando descobrir por que liguei para


ele. Por que pedi para ele vir. Por que estamos aqui, de todos os
lugares.

O que você está fazendo, Maverick?

“Preciso de um pouco de ar.”

Eu pulo para fora, sem me preocupar em ver se ele está me


seguindo. Dou a volta na frente do meu carro e me encosto no
capô. Ainda está quente ao toque. Não demorou muito para chegar
aqui. Eu ouço os grilos acariciando suas pernas, junto com o fluxo
suave do rio não muito longe.

Killian dá um passo ao meu lado, com cuidado para deixar


uma quantidade adequada de espaço, seja o que for. Um estado de
distância pode nem mesmo ser apropriado o suficiente.

“Como está o novo emprego?”

“Eu não sei. Ele está me dando espaço.” Nós mandamos


mensagens algumas vezes, mas além de uma curta conversa que
K.L. KREIG
tivemos algumas noites atrás, o que pode ter me levado a vir aqui
esta noite, eu não falei com Kael desde que ele se foi. Passei a noite
de sábado na casa de MaryLou e esperei para ir para casa no
domingo até que soube que Kael havia partido para a outra
cidade. Eu também não vi ou falei com Killian desde aquela noite.

“O que estou fazendo aqui, Maverick?”

Eu não sei. Não sei, porra. “Eu não sabia para quem mais
ligar.”

Sua expiração é pesada quando ele pega minha mão. Seus


dedos se enrolam nos meus. Eles são
quentes. Tranquilizadores. Eu não deveria deixá-lo me tocar. Eu
deveria estar com Kael agora. Em Saint Paul, resolvendo as coisas
entre nós. Eu deveria estar em qualquer lugar menos
aqui. Isolada. No escuro de Harbor Park, sozinha com um homem
com quem ainda me preocupo muito, exatamente no mesmo lugar
em que consumamos nosso relacionamento.

Estupidez em seu auge, bem aqui.

“MaryLou está ocupada?”

“Sim”, respondo baixinho. Ela está transando com o marido


no estilo Cinquenta Tons, tentando fazer com que os pequenos
nadadores se agarrem a seus óvulos esquivos. Ela provavelmente
está de cabeça para baixo enquanto falamos.

Sua pergunta é tensa e cheia de ansiedade. “Como faço para


acertar as coisas entre nós, Pequena?”

Hmm. Eu gostaria de saber.

De onde estamos empoleirados, temos uma vista perfeita da


Swinging Bridge, uma das pontes suspensas mais antigas de
Iowa. Passei muito tempo neste parque. Naquela ponte. A maioria
dos meus amigos recusou-se a cruzá-la quando eram pequenos
porque o balanço os assustava. Quanto mais pessoas na ponte,
mais oscilação. Mas eu não. Eu ansiava pela liberdade que sentia
K.L. KREIG
quando estava balançando de um lado para o outro, mesmo que
fosse sutil. Agora, como uma adulta, quando eu cruzo essa ponte,
ela não tem o mesmo fascínio que costumava ter quando eu era
pequena. Parece menor e funcional, não imponente e
potencialmente encerrando a vida.

“Você se lembra quando Kael e eu pulamos do penhasco


suicida?” O penhasco do suicídio fica do outro lado da ponte
giratória. É a única maneira de chegar aos altos penhascos que se
erguem acima do rio Keg a cerca de 12 metros.

Killian ri baixinho. “Sim, eu me lembro.”

Ele estava lívido. Ameaçou me colocar sobre o joelho e bater


na minha bunda até deixa-la vermelha se eu pulasse. Mal sabia ele
que só alimentava meu fogo. Eu tinha apenas treze anos na
época. Kael tinha dezesseis anos. Killian dezoito. Foi uma das
últimas coisas que fiz com Killian antes dele ir para a faculdade em
agosto.

“Você estava tão bravo.”

Ele fica quieto por alguns segundos. Sua mão deixa a minha
enquanto ele cruza um braço sobre o outro. “Eu ainda tenho
pesadelos com você se afogando, Maverick. De empurrar o ar para
os pulmões cheios de água. Aquele tom horrível de azul em seus
lábios. De como seus membros ficaram rígidos. Cristo, se fosse do
meu jeito, você nunca teria nem mesmo tomado banho
novamente.”

Sorrio, mas ele não. Eu viro minha cabeça para estudar seu
perfil. Ele está falando sério. Nunca parei para pensar em como
minha quase morte o afetou. A gravidade daquele dia me atinge
com força. “Sinto muito, Killian. Eu não fazia ideia.”

“Porra, se Kael não tivesse insistido em irmos por ali,


então...” Ele deixa aquela pequena notícia no ar. Eu nunca, nunca
soube disso. Não sei como eles me encontraram naquele dia. Estou
chocada ao saber que, embora Killian possa ter me puxado da
K.L. KREIG
água, Kael foi o responsável por me salvar. Eu me pergunto por
que ele nunca mencionou isso?

Estou presa nessa memória até que o comentário de Killian


me traz de volta para ele, “Você é sempre tão teimosa. Sobre
tudo. Mas graças a Deus você é. Estou convencido de que essa é a
única razão pela qual você não morreu naquele dia.”

Eu lanço um sorriso, seu elogio indireto fazendo meu sangue


esquentar. “Sabe como sou.”

Ele luta contra um sorriso. Ele perde. Quando desliza os


olhos em minha direção, minha respiração falha. Ele ainda está tão
bonito ao luar hoje à noite como era na noite em que me disse que
me amava. A noite em que ele cumpriu sua promessa e nos
despedaçamos juntos. Na mesma noite ele roubou tudo de mim,
algumas partes que ele ainda tem.

De repente, me sinto extremamente triste.

“Você vai me dizer por quê?”

Aquele sorriso de derreter calcinha cai como se estivesse


quente. “Por que o quê, Maverick?” Ele finge não saber o que estou
perguntando, mas sabe.

Eu decido que é isso. Se ele não me disser desta vez, não vou
perguntar de novo. Eu irei para o meu túmulo sem nunca entender
por que uma noite de promessas sussurradas acabou com a
bagunça quebrada que é hoje.

Talvez seja por isso que liguei. Talvez seja disso que preciso
para ver através dos últimos vestígios desse cordão. Talvez eu
precise disso antes de consertar o que há de errado com Kael e
eu. Decido, de qualquer maneira, esta noite é o meu encerramento.

“Por que você me traiu com Jillian? Por que você não me
amou o suficiente?”

Seus músculos se contraem. Sua língua se lança para


umedecer os lábios. Ele inspira uma grande quantidade de ar. Ele
K.L. KREIG
se afasta de mim para olhar para a escuridão à frente. É a mesma
coisa que ele fez todas as vezes que perguntei. Eu conto os
segundos conforme eles passam até chegar a 120.

Você sabe quanto tempo agonizante pode levar 120 segundos


para passar? Torturantemente, infinitamente, lento. Tão lento, na
verdade, você sente cada batida do seu coração enquanto ele marca
o tempo com os batimentos do ponteiro dos segundos.

Bem... é isso.

Franzindo os lábios, saio da frente do carro e vou em direção


ao lado do motorista, mas sua voz baixa me congela no lugar. “Eu
não traí você, Maverick.”

Então isso me inflama. Minha risada é cortante e


desagradável. Eu giro para trás e praticamente fico furiosa,
avançando até que estou bem na cara dele. “É isso mesmo?”

Ele não move um fio de cabelo. “É isso mesmo.”

“Você é um maldito mentiroso, Killian. Você não é apenas


um trapaceiro, você também é um maldito mentiroso. Eu ouvi você
e Kael no beco naquela noite. Eu ouvi cada porra de palavra.” Eu
paro e limpo uma lágrima que teve a audácia de molhar meu rosto.

“Você não sabe o que ouviu.”

Eu o empurro. Duas mãos em seu peito empurrando com


tanta força que ele está caindo para trás. Mas em um flash, ele se
endireita e meus pulsos estão algemados entre nós. Ele está
apertando com tanta força que estremeço.

“Você a engravidou.” Puta merda, isso dói dizer.

Seu peito sobe e desce rapidamente. Seus olhos estão


praticamente ferozes. “Você não sabe do que está falando.”

“Você não negou.”

Silêncio.
K.L. KREIG
“Você não negou”, repito. Em minha mente, isso foi
diferente. Eu queria que fosse forte, exigente. Saiu fraco, patético
e todo rouco em vez disso.

“Maverick, por favor. Não faça isso.”

“Basta dizer.” Sinto seu coração disparar sob a palma da


minha mão. “Eu amava você, Killian. Esperei por você. Queria me
casar com você. Achei que você queria as mesmas coisas que eu. A
mesma vida que eu.”

“Sim”, ele me diz com um apelo apaixonado. É tão cheio de


desejo e verdade que quase acredito nele. “Porra... eu ainda amo.”

Minha cabeça começa a tremer. É violento e


espasmódico. Tento me desvencilhar de seu aperto antes que a
tristeza profunda que sinto por dentro me desfaça. Ele apenas me
puxa para mais perto, com mais força.

“Mentiroso”, sussurro roucamente, meus músculos


começando a enfraquecer e falhar. “Você é um mentiroso. Um
maldito mentiroso”, murmuro em seu peito enquanto deixo minha
cabeça cair. Ele envolve seus braços em volta de mim e me aperta
enquanto molho sua camisa com minha angústia.

“O bebê não era meu, Maverick”, ele diz suavemente em meu


cabelo enquanto coloca seus lábios na minha cabeça. “Eu não fiz
sexo com Jillian.”

“Então por que?” Eu pergunto, toda entorpecida. O que ele


está dizendo não faz sentido. Eu me importo com qual é a resposta
agora? Não faz nenhuma diferença. “Por que você se casou com
ela?” Pergunto de novo de qualquer maneira.

Seu peito se expande profundamente algumas vezes. “O


bebê era do meu pai.”

Eu me afasto. Ele me deixa inclinar para longe, mas ele não


me deixa ir. “O que?”
K.L. KREIG
“O bebê era do meu pai”, ele disse mais devagar dessa
vez. Tão lento que parece confuso.

Meu Deus. Oh meu... “O quê?...”

“É verdade.”

Jillian estava grávida do filho de Arnie?

“Ele... ele...” Oh meu Deus... ele...

“Não, Maverick. Se ele a tivesse estuprado, estaria


apodrecendo em uma cela de concreto agora. Eu teria me
assegurado disso.”

“Então foi consensual?” Que porra é essa? Jillian estava


tendo um caso com Arnie
Shepard? Chocada. Completamente. Destruída.

“Sim”, ele range os dentes cerrados.

“Você sabia?” Eu suspiro bruscamente. “É por isso que você


foi para a Flórida?”

“Porra, não, eu não sabia. Você acha que eu teria deixado


isso continuar debaixo do meu nariz?”

“Não, eu... claro que não.”

“Eu fui para a Flórida exatamente pelos motivos que te


contei. Eu precisava ser meu próprio dono, Maverick. Abrir meu
caminho sem a interferência de nenhum de nossos pais. Estava me
afogando aqui sob eles. Eu estava me saindo bem lá. Em um
minuto, estava fazendo planos para nós e no próximo, todo o meu
maldito mundo estava em ruínas a minha volta.”

Eu rolo tudo isso na minha cabeça. É uma bagunça confusa


e ainda estou sem entender. “Eu não entendo, Killian. Não entendo
por que você simplesmente não deixou que seu pai recebesse o
que merecia? Ele roubou do meu pai. Ele teve um caso com uma
garota com menos da metade de sua idade. Uma garota que parecia
uma filha, pelo amor de Deus. Por que você o estava protegendo?”
K.L. KREIG
“Por que você acha?”

Eu digo a única coisa que faz sentido. “Eilish?”

Ele concorda. “Porra, eu sabia que meu pai não merecia,


mas eu simplesmente não podia fazer isso com ela, Pequena. Ela
teve uma infância fodida e meu pai era tudo que ela tinha. Para
melhor, para pior, ele era. Era o mundo dela.”

Lembro bem da história deles. Era uma que Eilish me disse


muitas vezes. Como se conheceram quando Arnie estudou no
exterior em um verão na Irlanda. Ela veio de uma família
pobre. Seu pai era um alcoólatra abusivo. Sua mãe se foi há muito
tempo. Ela trabalhou em três empregos tentando sobreviver, mas
seu pai bebia e jogava tudo fora. Arnie entrou em um pub em que
ela trabalhava como garçonete certa noite e, de acordo com os dois,
foi amor à primeira vista. Ela me contou muitas vezes como ele a
salvou de uma vida de miséria. Eles se casaram seis semanas
depois de se conhecerem e quando ele voltou para os Estados
Unidos, ele a trouxe com ele. Ela tinha dezoito anos; ele tinha vinte
anos.

Killian se endireita e me solta, caminhando em direção ao


rio. Eu o sigo. Estamos parados na margem, olhando para as
águas negras lá embaixo e espero que ele esteja pronto para me
contar toda a história.

“Jillian me ligou em pânico absoluto uma noite. Disse que


estava em Pensacola e precisava me ver. Eu a peguei e a trouxe de
volta para minha casa. Depois de algumas horas, ela finalmente se
acalmou o suficiente para me contar tudo. O caso deles foi
breve. Ela se arrependeu. Ele também. Mas então ela não teve
mais menstruação e Richard encontrou o teste de gravidez porque
ela era estúpida o suficiente para fazer isso quando estava na casa
de seus pais.” Ele para e esfrega o rosto algumas vezes com as
mãos. “Ela entrou em pânico. Ele exigiu saber de quem era e ela
disse a primeira pessoa que lhe veio à mente.”

“Você”, murmuro.
K.L. KREIG
“Sim, eu. E você sabe, apesar de todas as suas falhas, sua
irmã não estava disposta a ir contra suas crenças e abortar aquele
bebê. Ela estava morrendo de medo, mas queria mantê-lo. Eu a
respeitava por isso, mesmo que estivesse com raiva pra caralho
com o que ela fez. Com o que ele fez.”

Penso em Jillian tendo que lidar com essa situação


praticamente sozinha. Posso imaginar a pressão do meu pai para
ela se casar e não manchar o nome DeSoto com um filho
bastardo. Ele era tradicional. Também posso imaginar como ela
deve ter se sentido encurralada por não querer desagradar nossos
pais. Eu me encontro sentindo um pouco de pena dela, mesmo que
tenha sido culpa dela.

“De qualquer forma, eu disse a ela que íamos resolver


alguma coisa, mas que não iria me casar com ela porque te amava.”

“Você disse isso a ela?” Eu pergunto, meu coração batendo


um pouco mais rápido.

“Sim.”

Empatia? Sim... isso foi de curta duração.

“Alguns dias depois, recebo um telefonema de Richard. Eles


aparentemente estavam investigando meu pai por quase um
ano. Ele me disse que eu tinha duas opções: ele entregaria tudo a
um promotor federal ou eu poderia voltar para o DSC, fazer a coisa
certa me casando com Jillian e ele convenientemente enterraria as
provas.”

“Meu pai chantageou você?” Eu pergunto em total


descrença, a bile no meu estômago revirando.

“Ele me pressionou, vamos colocar dessa forma.” Ele se vira


totalmente para mim agora, se dirigindo a mim diretamente. “Eu
poderia ter dito não, Maverick. Eu poderia ter dito não e visto tudo
se desenrolar. Ver meu pai ir para a cadeia. DSC teria pegado fogo,
o escândalo seria demais para eles aguentarem. Eu estava tão
chateado com a posição em que seu pai e Jillian me colocaram,
K.L. KREIG
quase fiz isso. Quase paguei pra ver. Mas então pensei nas
consequências. Como isso afetaria pessoas inocentes, incluindo
você, minha mãe, e eu sabia que poderia carregar o peso de todo
aquele caos ou engolir tudo e simplesmente fazer a porra toda ir
embora com algumas condições próprias.”

“Por que você simplesmente não me contou tudo isso?”

“Você não sabe quantas vezes eu sentei na frente de sua casa


à noite querendo arrombar a porta e fazer exatamente isso. Mas,
porra ... eu estava cometendo um crime, Maverick. Eu não poderia
arrastar você nisso.”

Olho para baixo. Relutantemente, eu entendo. Eu mordo


meu lábio e empurro a pilha de sujeira sob meus pés. “Por que ela
não esfregou na minha cara?”

Ele sabe que estou perguntando sobre a gravidez. Ela


certamente esfregou o casamento deles na minha cara a cada
oportunidade que teve, então tinha que haver um motivo para ela
não ter feito isso com o bebê.

“Ameacei não ir em frente. Eu precisava de tempo para


pensar. Eu queria ser o único a te dizer. Nunca consegui encontrar
as palavras certas. Então…”

Seus olhos brilham ao luar. São lágrimas. Mas não é para


Jillian, eu sei disso.

“Quando ela abortou?” Esta é a parte que não estou


entendendo. Eles ficaram noivos seis meses antes de se casarem.

“Dois meses e meio antes do casamento.”

“Então por que você fez isso? O bebê foi a única razão pela
qual você estava se casando com ela, certo?”

Ele espera a luz se acender. Quando isso acontece, é


cegante. “Você estava preso.”
K.L. KREIG
“Sim”, ele concorda. “A papelada já estava assinada. Se eu
não casasse com Jillian, anularia meu contrato de trabalho com o
DSC. Se eu me divorciasse dela antes que os termos do meu
contrato fossem cumpridos, isso o anularia. A única maneira de
deixar o DSC e sua irmã com sucesso era atingir aquela meta
enorme de vendas o mais rápido possível.”

Uma memória surge. Uma para a qual preciso de uma


resposta. “Então, naquele dia na cozinha dos meus pais, você me
disse que estava perto. É isso que você quis dizer?”

Acho que ele se aproxima mais. Não tenho certeza. Eu sei


que sua voz diminui. “Sim.”

Meus pés avançam alguns centímetros. “Então o que você


teria feito?” Eu pergunto humildemente. Os faróis de um carro
fazendo a curva nos iluminam brevemente. Nós dois ficamos
quietos enquanto ele passa e continua.

“Eu estaria livre para deixar o DSC.”

“Você teria deixado?”

Ele está perto o suficiente agora, sua mão pousa no meu


quadril. Seu polegar começa a circular ao redor do meu quadril
enquanto ele responde “Sim.”

“E quanto a Jilly?” Eu descanso a palma da mão no braço


que está me segurando.

Sua respiração se espalha pelo meu rosto. Está quente e


cheira a rum. “Eu ia me divorciar dela. Ela sabia que isso era
temporário. Ela sempre soube.”

“Ela te ama?”

“Sim”, ele afirma com naturalidade.

“Então, quando meu pai morreu...”


K.L. KREIG
“Eu já tinha os papéis do divórcio redigidos. Dois dias antes
de sua morte, fechei esse negócio. Richard sabia que eu estava indo
embora. Jilly também.”

Minha cabeça está girando agora. Isso explica sua mudança


repentina de comportamento. Espero que a empatia volte. Não
acontece.

“E Kael?”

O corpo de Killian fica tenso. Ele enrola seu outro braço em


volta de mim e me puxa para ele, então tenho que esticar meu
pescoço. “O que tem ele?” Ele parece zangado, assim como Kael faz
quando menciono o nome de Killian.

“Ele sabia que você estava se divorciando de Jilly e deixando


o DSC?”

Por favor, diga não.

“Ele sabia.”

Meu coração afunda. Ele cai no chão aos meus pés,


sangrando todo o caminho. O espaço vazio em meu peito dói tanto
que mal posso respirar. Kael estava tentando me afastar de Killian
antes que essa coisa toda explodisse. Se ele conseguisse o que
queria me levando para longe, eu nunca saberia.

Quase não quero perguntar, quase não consigo engolir uma


verdade que poderia me sangrar até secar, mas preciso saber até
onde vai a decepção com todos. Incluindo a do meu marido. “Ele
sabia sobre o bebê? Que não era seu?”

Seus lábios se estreitam. Seus dedos flexionam contra


minhas costas e ele brevemente arrasta o olhar por cima do meu
ombro. A cada segundo que passa, os alfinetes e as agulhas me
equilibram para cavar mais fundo na minha pele. É insuportável a
espera.
K.L. KREIG
Tudo que eu pensava que sabia sobre meu marido era uma
mentira? Meu corpo inteiro se inunda de alívio quando ele
responde, “Não. Ninguém fora de mim, Jillian e meu pai sabiam.”

Killian concentra toda sua atenção em mim então. Seus


olhos correm pelo meu rosto, ele relaxa, enquanto me estuda por
tanto tempo que meu coração começa a bater em dobro. Colocando
uma mecha de cabelo rebelde atrás da minha orelha, ele segura
meu queixo com ternura. Ele manuseia meu lábio inferior e sua
respiração acelera também. O amor está derramando
absolutamente dele. É de tirar o fôlego, penetrante e
quente. Exatamente como costumava ser: sem reservas e sem
contaminação por eventos que o envenenaram.

“Eu quero você, Maverick. Estou apaixonado por


você. Sempre estive e quero que estejamos juntos. Quero me casar
com você e me mudar daqui e esquecer que esses anos
insuportáveis de separação aconteceram.”

Ele abaixa o rosto para o meu, dando-me o tempo de que


preciso para me virar, se não for isso que eu quero.

Deus me perdoe, eu quero.

Eu fecho meus olhos, deixo-o inclinar sua boca sobre a


minha e me beijar pela primeira vez em quase quatro anos. Quando
eu me inclino para ele em vez de me afastar, ele dá um gemido
profano e pega minha outra bochecha em sua mão também.

Então ele está me beijando com a mesma paixão e febre de


que me lembro. Ele me pega e me carrega de volta para o meu
carro, me colocando no capô. Ele se enfia entre minhas pernas e
ataca meus lábios, meu rosto, meu pescoço. Ele arranha minha
clavícula com mordidas de amor enquanto passa as mãos pelo meu
torso e segura meus seios através da minha camiseta regata fina,
xingando quando encontra meus mamilos duros através do meu
sutiã sem bojo. Minhas pernas envolvem sua cintura e ele balança
sua ereção no meu centro. Ele murmura meu nome tantas vezes
que eu perco a conta. Estou perdida para tudo, exceto para ele e
K.L. KREIG
esse sentimento familiar que ele desenterrou em mim, querendo
que nunca acabe.

Mas então ele para. Ele inclina sua testa na minha, trabalha
para pegar seu fôlego, e eu me lembro imediatamente de Kael. De
como ele faz isso quando suas emoções transbordam. De
quanto ele me ama. Do fato de ser casada e prestes a cometer o
pecado mais imperdoável possível.

Killian recua, uma expressão de dor nas linhas duras do seu


rosto. Ele passa os dedos pelo meu cabelo e dá um beijo doce em
meus lábios. “Eu sei que é errado perguntar isso a você. Eu sei que
vai doer em Kael, e realmente sinto muito por isso, mas não o
suficiente, eu acho. Fica comigo, Maverick. Divorcie-se dele e seja
minha. Eu não quero uma noite sórdida. Não quero ser um segredo
sujo. Eu quero o para sempre. Com você.” Quando não respondo
imediatamente, ele rapidamente acrescenta com uma
peculiaridade de sua boca, “Estou quase implorando, pequena.”

A maneira como ele está me adorando me dá vontade de


chorar. Ele me quer. Ele nunca parou de querer. Ele quer se casar
comigo e realizar todos os meus sonhos.

O conflito dentro de mim é tumultuado e muito real. De


qualquer maneira, qualquer decisão que eu tomar, alguém vai
acabar ferido. Começo a ver embaçado sob a umidade que
jorra. Tudo que pensei que queria está me olhando bem nos
olhos. É tangível. Posso estender a mão e pegá-lo.

Tudo o que tenho a fazer é dizer sim.

“Por favor”, ele implora intensamente. “Por favor,


Maverick. Não quero mais viver sem você.”

Sua boca encontra a minha novamente e sinto aquele beijo


por todo o meu corpo. Enrolo meus braços em volta do pescoço
dele, inclinando minha cabeça para aprofundar nossa
conexão. Uma que senti muita falta.

Tudo o que tenho a fazer é dizer sim.


K.L. KREIG
CAPÍTULO VINTE E NOVE
Maverick

Quatro semanas e cinco dias atrás

Introspecção é difícil.

Ninguém quer reconhecer suas falhas, seus verdadeiros


sentimentos. Desejos versus anseios. Certo versus errado. É muito
mais fácil na maioria das vezes manter esses pensamentos
dormentes e seguros onde eles estão. Especialmente quando
alguém que você ama se machuca no final.

Mas a verdadeira introspecção ― não apenas a superficial ―


não é apenas difícil, é torturante. Percorrer o escuro e se arrastar
pela lama, pelo bem, pelo mal, pelo desagradável, exige muita
coragem. Virar aquelas pedras cobertas de musgo, mesmo aquelas
que você não quer virar, é um trabalho exaustivo e árduo.

Porque o que encontramos quando cavamos tão fundo?

Respostas, é claro.

Respostas às perguntas que estávamos fazendo o tempo


todo.
K.L. KREIG
E uma vez que as encontramos, temos que fazer algo com
elas ou qual foi o objetivo de todo o exercício angustiante para
começar?

Passei as últimas duas semanas cavando e vasculhando a


lama, lembrando cada pequeno detalhe da minha vida com dois
homens incríveis que sempre amei, apenas de maneiras muito
diferentes.

Kael e Killian cometeram erros. Eles mantiveram segredos de


mim que não deveriam. Mas eu os perdoei porque eles também se
sacrificaram muito ao mesmo tempo. Killian me sacrificou, sim,
mas Kael sacrificou tudo, incluindo seu orgulho, para estar comigo
quando ele sabia que eu ainda estava apaixonada por seu irmão. E
esse sacrifício também não pode ser esquecido. Nem o que ele fez
quatro noites atrás.

Eu penso na conversa que Kael e eu tivemos algumas noites


atrás às duas da manhã. Foi pesado e doloroso e ele fez algo
completamente inesperado. Totalmente altruísta, como
sempre. Ele me deu uma saída.

“Há quanto tempo você sabia?”

“Sabia o que?” Ele se esquiva.

Eu suspiro, cansada de jogos de merda. Cansada de


mentiras, segredos, de ficar no escuro. De espancar arbustos com
espinhos que sempre me fazem sangrar. “Que Killian estava se
divorciando de Jillian.”

O silêncio me devora. Quero que ele me diga que não


sabia. Que não iria manter algo assim em segredo, mas parte de
mim também não pode culpá-lo. Ele sabe como Killian se sente e me
dizer que Killian ficaria livre da chatice que é minha irmã seria como
me servir em uma bandeja de prata para sua competição. Tenho que
admitir de má vontade que provavelmente teria feito a mesma coisa
se estivesse no lugar dele.
K.L. KREIG
“Ele me disse no dia em que redigiu os papéis.” Então, dois
dias antes do meu pai morrer.

“Você que redigiu?”

Ele bufa uma risada. “Não. Ele nem perguntou.”

Isso me faz sentir um pouco melhor. Eu acho. Talvez não.

“Maverick...” ele começa, mas então para. Agora o silêncio nos


empurra para baixo. É espesso, quente e sufocante. Sinto o mesmo
pressentimento que senti em Saint Paul há tantos meses. E agora
isso também faz sentido.

“Eu quero que você saiba que eu faria qualquer coisa por
você. Eu nunca vou amar outra mulher além de você, Swan, mas
se...” Ele amaldiçoa entre dentes e aquela coisinha no meu estômago
parece como um nó me torcendo. Quando ele fala novamente, sua
voz é quase um sussurro. “Eu sei que você o ama. Sei que você
nunca parou de amar. E se ele é quem te faz feliz, se ele é quem você
quer, então entenderei.”

Meus olhos lacrimejam e queimam. Meu coração dá uma


queda livre de trezentos metros. “Você está...” Oh meu Deus. “Você
está me dizendo para ficar com Killian?” Eu pergunto em descrença.

Seu gemido é cheio de tanta dor que sinto, mesmo através das
centenas de quilômetros que nos separam. “Porra, não. Não
estou dizendo para você ficar com ele porque me despedaça em mil
pedaços só de pensar nisso. O que estou dizendo é que se é isso
que você quer, Maverick, então vou aceitar. Vai doer pra caralho,
mas...”

“Você só quer que eu seja feliz”, finalizo por ele quando para
de falar.

“Sim”, ele engasga.

“Não importa o que?”


K.L. KREIG
“Não importa o que aconteça, Swan.” Estou soluçando
silenciosamente enquanto ele continua “Siga seu coração, e se isso
te levar de volta a mim, saiba que vou passar cada um dos meus
dias sufocando você com amor, mas se isso levar a Killian...” Ele faz
uma pausa para tomar uma respiração profunda. “Se levar a ele,
então eu sei que ele fará o mesmo.”

Seguir meu coração.

Meus dedos vagam sobre a caixa surrada em minhas


mãos. Aquela que mantive escondida com memórias de
antigamente e um pulso que eu juro que nunca parou de bater. Eu
rastreio o coração que desenhei no topo. Esboçado o M ama K no
centro dele. Eu desenhei uma flecha apontada. Eu o coloquei de
volta na rocha ao meu lado.

Inclinando minha cabeça para trás, fecho meus olhos,


deixando o calor do sol entrar em mim. Isso é bom. Fortalecendo-
me para o que precisa ser feito. Eu respiro fundo e expiro tão
devagar, adiando o inevitável.

Minha alma foi revistada até ficar em carne viva.

Eu tenho minhas respostas.

Agora tenho que fazer alguma coisa com elas.

Hoje vai ser o dia mais difícil da minha vida e o mais feliz. Eu
tenho que dizer adeus a um homem, esmagando-o, enquanto faço
o outro o homem mais feliz da terra quando ele descobrir que é
meu para sempre.

Realmente, com cada respiração que tomei nos últimos vinte


e seis anos, amei Killian Shepard. Mas com cada batida do meu
coração, eu sinto as batidas de Kael em sincronia.

Abrindo meus olhos, é tão brilhante que sou forçada a


apertar os olhos enquanto deixo meu olhar vagar sobre a água que
K.L. KREIG
brilha com os raios do sol. Faz alguns anos que não volto, mas
parece que estou voltando para casa, mesmo que seja diferente.

Meus cisnes já se foram e, com exceção de alguns sapos


coaxando nos nenúfares do outro lado do lago, o lago parece sem
vida. Mas eu sei que não. Eu sei que por baixo da superfície, ele
fervilha de vitalidade. A vida continua, mesmo que mude. E
embora eu saiba que estou prestes a mudar a vida de um homem,
um homem que sempre amarei, realmente acredito que sua vida
seguirá em frente e ele se permitirá mudar com ela. Ele tem força
e resiliência para fazer isso.

Killian me deu tempo, assim como Kael. Com esta sendo a


maior decisão da minha vida, é hora de fazer o que
preciso. Escolher entre dois homens incríveis, que me fazem feliz,
não é uma decisão a ser tomada no capô de um carro na calada da
noite.

Mas enquanto olho para longe, meu coração está


acelerado. Ele sempre soube a resposta. Sua presença sempre me
cercou, mesmo quando eu não pensei que estivesse.

Eu me levanto, limpo a sujeira grudada no meu short e


vagarosamente caminho de volta pela floresta. Eu caminho direto
para o meu carro e entro, evitando encontrar ou fazer cortesias com
minha mãe ou Jillian.

Depois que eu realmente pensei sobre isso, foi fácil perdoar


Kael e Killian. Eles estavam protegendo a família. A minha deveria
ter feito o mesmo, especialmente Jillian. Vou perdoar as duas com
o tempo. Mas aquele relógio ainda está correndo rápido e alto e eu
preciso esperar devagar e silenciosamente antes de estar
pronta. Apesar de tudo, elas são uma família. A única que
tenho. Em algum momento vamos conversar e resolver as coisas,
mas esse dia não é hoje.

Com foco singular, eu dirijo pela cidade, parando inquieta


em todos os sinais vermelhos. Finalmente eu paro na garagem de
Killian. Desligando o motor, fico ali sentada por alguns momentos,
K.L. KREIG
organizando meus pensamentos. Como se estivesse em sincronia,
no segundo que abro a porta do meu carro, a porta da frente dele
também se abre, e Killian está em toda a sua glória viril.

Ele é tão lindo que dói olhar para ele. Bermuda xadrez
abraça seu quadril e coxas bem delineados. Uma camiseta azul
bebê se estende sobre seus ombros largos. Ela cobre seu torso
perfeitamente definido. Ele é todo homem, nisso não há disputa.

“Você está aqui.” O sorriso em seu rosto o inflama mais


brilhante do que a Aurora Boreal.

“Estou aqui.”

Com o coração batendo forte nas minhas costelas, subo


lentamente a calçada, subo as escadas e deslizo facilmente em seus
braços, como fiz tantas vezes antes.
K.L. KREIG
CAPÍTULO TRINTA
Kael

Quatro semanas e cinco dias atrás

Apostei e perdi.

Guardei um segredo imperdoável de Maverick e eu a perdi


para sempre.

Sabia o que estava fazendo quando a pedi em casamento. Eu


sabia que ela ainda amava meu irmão. Sabia que Killian e Jillian
acabariam se divorciando. E se isso acontecesse, ele viria para
ela. Eu só pensei... porra. Pensei que se eu a amasse o suficiente,
não faria diferença. Que ela me escolheria. Me amaria. Que iria me
querer quando chegasse a hora dela decidir. Porque eu sempre
soube que esse dia chegaria. Não havia nenhuma maneira de
Killian deixá-la ir sem uma briga de cães que acabaria com um de
nós do outro lado do desespero.

Conheça a miséria. Este sou eu.

Ficar sem ela é um inferno absoluto. Como se uma parte


vital de mim tivesse sido cortada e o buraco estivesse se abrindo,
a dor escorrendo de uma ferida que nunca vai fechar. Eu estendo
K.L. KREIG
a mão sonolento e ela não está lá. Meus braços parecem frios e
vazios, minha vida sem sentido. Acordo de manhã e mal consigo
me forçar a sair da cama para o meu novo trabalho. Eu não posso
comer. Não consigo pensar. Não consigo funcionar.

Não consigo fazer nada.

Tenho chutado minha própria bunda diariamente pelas


palavras que forcei para fora da minha garganta com cada grama
de poder em mim. Mas se eu não... se tivesse implorado para ela
voltar para mim em vez de libertá-la, eu nunca saberia se ela estava
fazendo isso por obrigação com nossos votos ou porque ela
realmente me amava o suficiente para me escolher. É a mesma
razão pela qual não a forcei e a convenci na primeira vez que ela
escolheu Killian.

Eu quero que ela me queira por mim. E ponto final.

Não há nada de errado com isso, suponho. Eu mereço,


até. Mas agora... agora estou questionando se implorar não era o
caminho que eu deveria ter seguido. Posso ter apenas metade dela,
mas metade é melhor que nada.

Eu me movo na cama do hotel, tentando ficar confortável.

Impossível.

Cada movimento envia fragmentos de agonia zunindo por


mim. Não há analgésicos suficientes para aliviar a dor de saber que
ela está com meu irmão.

Incapaz de lidar com a realidade que se tornou a minha vida,


escapo para minhas lembranças, mergulhando em uma memória
particularmente lasciva de nosso fim de semana em Minnesota
quando éramos felizes...

“O que exatamente você planeja fazer com eles?” Ela


pergunta, acenando para o pacote de doce de Pop Rocks na minha
K.L. KREIG
mão, sua risada rouca e cativante. Ela envolve meu pau, puxando
sem piedade.

“Eu disse a você, Swan, nós vamos fazer nossa própria


bomba.”

Subo na cama, admirando a perfeição de suas deliciosas


curvas nuas estendidas para mim. Jesus, ela é perfeita. Na maioria
dos dias, não posso acreditar que a tenho. Rezo todas as noites para
poder ficar com ela.

Espero que ela me perdoe por esconder isso dela, mas temos
que sair de Dusty Falls se quisermos sobreviver como um
casal. Minha única esperança é que, quando chegar a hora, ela veja
que estou fazendo isso com a melhor das intenções, não com
subterfúgio.

“Ei”, sua voz me atrai de volta.

“Ei o que?”

“Eu só estava me perguntando se você vai realmente tirar


vantagem de mim ou se vai ficar olhando para o espaço a noite
toda? Quero dizer, você prometeu manter contato com meus
namorados dos livros mais cedo.”

Deus, como amo essa mulher. Eu sorrio, prendendo minha


boca na parte interna de sua coxa. Ela grita quando eu mordo um
pouco forte demais. “Definitivamente, vou tirar vantagem. Embora
se você for assim tão fácil, não tenho certeza se estarei
aproveitando.”

Sorrio quando ela bate no meu ombro, fingindo estar


brava. “Eu não sou fácil.”

“Não se preocupe, Swan, eu gosto de você fácil.” Eu abro suas


pernas, gemendo enquanto corro um dedo por sua buceta
gotejante. “Mas eu te amo assim”, resmungo, inalando seu perfume
como se fosse meu sangue vital.
K.L. KREIG
“Assim como?” Ela se contorce quando enfio um único dedo
dentro dela, testando o quão excitada ela está por mim. Tão
excitada. Meu pau lateja com a necessidade de ter sua pele quente
e úmida em mim.

“Carente. Seu corpo se contorcendo”, respondo. Rasgando o


saco de Pop Rocks com os dentes, jogo uma pilha na minha língua,
os minúsculos cristais azuis já começando sua festa crepitante. Eu
a vejo me observando, me perguntando o que vou fazer a
seguir. Acho que ela já sabe.

Mergulhando de volta para baixo, eu varro seus lábios abertos


com meus dedos e coloco minha língua em seus lábios sensíveis à
esquerda de seu clitóris. Os cristais dos doces estalam e derretem
ainda mais rápido. Ela choraminga e se contorce com a sensação,
mas eu envolvo um braço em seus quadris e a seguro. “Diga-me
como é”, exijo, despejando mais na minha boca para atacar o lado
oposto.

“Eu não sei... estranho, acho.” Ela engasga quando eu entro


novamente, gemendo, “Kael, por favor.”

Desta vez, dois dedos entram nela e ela grita enquanto eu a


fodo com os dedos, decidida a conseguir um orgasmo rápido. Mavs
é tão responsiva, ela já está apertando em torno dos meus dedos.

“Por favor, o que?” Com o doce agora acabado, chupo seu


clitóris entre os dentes antes de segurá-lo levemente.

Ela agarra um punhado de cabelo e puxa para cima enquanto


se senta e fica cara a cara comigo. “Por favor, tudo.”

Isso me atinge bem no centro do meu peito. Eu a amo tanto


que dói. Sem nunca perder o ritmo, começo a prender aquele
pequeno nó que se curva à minha vontade. Em apenas alguns
momentos, ela cede e antes que tenha a chance de gozar, eu a
levanto e mergulho em meu pau duro, declarando enquanto fodo nós
K.L. KREIG
dois ao esquecimento, “Eu vou te dar tudo o que você quiser, Mavs. É
só pedir. Tudo o que você precisa fazer é pedir.”

Eu acordo abruptamente, trabalhando para desacelerar a


corrida do meu coração. Quero mergulhar de volta em outra
memória dela, um lugar do qual não quero sair, um lugar onde
agora quero viver permanentemente, mas algo me acordou.

Eu pisco na escuridão, ouvindo sons fora do lugar quando


ouço.

Uma respiração lenta à minha direita.

E então eu sinto também. Segurando meu


braço. Mergulhando em minha própria alma.

Não pode ser.

Fico imóvel por vários segundos, me perguntando se minha


imaginação está acelerada ou se ela está realmente aqui, ao meu
lado. Quase quero cair no sono para poder continuar sentindo a
veracidade do momento, mas preciso saber. Sou eu ou é possível
que ela seja real?

Reunindo coragem que não tenho, consigo virar a cabeça no


travesseiro, orando o tempo todo.

É então que começo a chorar como a porra de um bebê.

Maverick está enrolada ao meu lado, dormindo. Suas mãos


estão enfiadas sob o rosto. Suas pálpebras tremem ligeiramente
com seus sonhos. Ela parece em paz e feliz e tão linda que eu perco
o controle, chorando mais forte.

O que isto significa? Ela voltou para mim? Ou ela veio


oficialmente me pedir o divórcio? Puta que pariu. Neste ponto, não
quero saber. Não tenho estômago para a resposta.
K.L. KREIG
Sento-me apenas para absorvê-la, mas ou o movimento ou
as dificuldades da minha respiração a mexem. Em seguida, seus
olhos escuros estão piscando abertos. No segundo em que a névoa
do sono se dissipa, ela está de pé e em meus braços. Agarrada ao
meu pescoço. Soluçando na minha bochecha. Cortando meu
suprimento de ar.

E então eu sei.

Ela voltou para mim.

“Sinto muito”, digo a ela repetidamente.

“Eu também”, ela responde a cada pedido de desculpas que


dou.

“Deus, eu te amo, Maverick. Diga que você vai ficar.” Eu


pareço carente e patético. Inúmeras palavras não podem
mensurar. Eu sou carente e patético. Sou uma bagunça retorcida
de emoção crua agora. Meu corpo está tremendo, mas minha alma
finalmente está em paz. É uma combinação estranha de se
experimentar ao mesmo tempo.

“Vou ficar. Eu vou ficar”, ela continua repetindo até que


nosso ar seja preso e nosso tremor diminua.

Não quero deixá-la sair de meus braços, mas preciso ver seu
rosto quando perguntar isso, então me sento contra a cabeceira da
cama e a puxo para cima do meu colo.

“Por quê?”

Jesus, tenho que saber por que ela me escolheu em vez de


um homem que ela amou durante toda a sua vida. O que eu
praticamente empurrei em seus braços na outra noite. Eu queria
que ela me escolhesse, sim, mas estou em completo choque agora
que ela escolheu.

Seu rosto está tão manchado de lágrimas quanto eu imagino,


mas aquele sorriso. Maldição. Esse sorriso de tirar o fôlego que ela
K.L. KREIG
me dá me deixa mal o tempo todo. “Sei que você quer que eu diga
algo profundo e romântico...”

Eu a corto. “Não preciso de letras ou romance, Swan. Só


preciso saber que você é minha. Para sempre. Só nós dois e mais
ninguém.”

“Eu sou. Eu escolho você.” Ela para pra inspirar e sei que
não vou gostar do que ela tem a dizer, mas sei que vou ouvir. Eu
devo muito a ela. Minha suspeita é confirmada quando seus olhos
caem rapidamente para o meu colo. Quando se levantam, meus
dedos se enrolam em torno de seus quadris, lembrando-a de que
ela apenas se comprometeu a ser minha. Ou talvez seja para me
lembrar, porque sei que as próximas palavras que saírem de sua
boca vão doer.

“Eu amo Killian. Não vou negar isso.” Porra, isso doeu como
uma mãe. “Mas percebi que o amor por si só não é suficiente.” O
calor de suas mãos cobrindo meu rosto é pura felicidade e tão
necessário agora que posso desmoronar. “E neste último ano,
também percebi que existem diferentes tipos de amor. Há o tipo
sonhador que você sempre pensou que queria e há o estável que
você nunca entendeu, mas no segundo que você se permite sentir...
não é nada como você poderia ter imaginado em seus sonhos mais
selvagens.”

Maverick se abaixa e aperta seus lábios nos meus. Eu quero


devastá-la. Jogá-la de costas e fazer amor com ela até que ambos
estejamos repletos de emoções que não podemos conter. Mas esta
é a hora dela. Quero que ela fique com isso. Há mais coisas que ela
precisa dizer. Eu sinto isso e preciso de todas as palavras.

“Eu te amo, Kael. Simplesmente não existe eu sem


você. Nunca houve”, ela sussurra contra minha boca
molhada. “Percebi que a única pessoa que sempre, sem falta,
esteve ao meu lado é você. E o pensamento de não ter isso ― de
não ter você ao meu lado todos os dias ― matou algo dentro de
mim.”
K.L. KREIG
Isso está acontecendo? Estou realmente segurando-a,
ouvindo ser professadas as palavras que sempre quis que ela
dissesse, mas nunca pensei que diria?

“Você me escolhe?”

Ela sorri. É brilhante e agita meu pau com algo feroz.

“Quando pensei sobre isso, não havia escolha, realmente.”

Seu rosto fica embaçado quando ela se inclina. Lábios


quentes roçam minha bochecha e, porra, não posso deixar de rolar
minha pélvis ligeiramente quando seu núcleo se alinha comigo
perfeitamente.

“Quero um homem louco que me derreta com canções de


amor e que assista North by Northwest comigo cem vezes, embora
eu saiba que ele odeia.”

Agora ela mudou para o meu queixo, beliscando levemente


enquanto fala. Ela deve estar me sentindo como uma pedra
embaixo dela. Eu quero que ela sinta.

“Quero fazer fortes de almofadas até que estejamos muito


velhos e decrépitos para nos levantarmos do chão. Quero encontrar
uma nova Tastie para caminhar nas manhãs de sábado. Quero
fazer sexo em banheiros à beira da estrada e falar sobre nada e
tudo com o homem que sei que não posso viver um dia sem, porque
nunca estive sem ele até recentemente. E eu estava miserável,
Kael.”

Eu gemo quando ela se afasta, mas estou tão hipnotizado


pelo amor brilhando como estrelas em seus olhos que não consigo
me mover. Ou respirar. Mal consigo pensar quando ela passa um
dedo pelo lado da minha bochecha. Não percebo que está úmida
de novo até sentir a mancha de umidade fria. A curva suave de sua
boca é a única coisa que me liga à terra.
K.L. KREIG
“Eu pensei que o amor de Killian me definiu, mas seu amor
me mudou para sempre. Sinto muito por ter demorado tanto para
descobrir isso.”

Oh inferno... isso foi muito profundo e romântico.

Não aguento mais o espaço entre nós. Eu coloco meus


braços em volta dela e seguro fortemente. Ela também.

Minha Maverick.

Minha cisne.

Minha esposa.

Mavs e eu ficamos separados por exatamente dezesseis dias,


doze horas e sete minutos. Sei disso porque eu não conseguia
parar de contar a porra do tempo enquanto minha vida ficava turva
sem ela. Então, exatamente dezesseis dias, doze horas e oito
minutos depois, ela estava em meus braços.

Eu liguei dizendo que estava doente nos últimos dois dias ―


algo que nunca fiz. Ainda não saímos do quarto do
hotel. Dormimos dias inteiros e conversamos as noites até que
nossas gargantas doeram. Ela me contou tudo. Algumas histórias
foram chocantes. Outras não.

O fato de Killian ter pedido a ela para me deixar por ele? Não
foi chocante.

O fato dela ter me escolhido? Francamente... ainda estou


tentando entender.

O fato de que ela o beijou em Harbor Park? Dói, mas não


choca. Eu acho que de certa forma ela precisava que o ‘FIM’ fosse
escrito para que ela pudesse fechar aquele livro para sempre.

Mas a revelação de que Arnie Shepard era o pai do bebê de


Jillian? Foi como se um choque elétrico tivesse me atingido com
K.L. KREIG
força total no testículo. Eu não esperava por isso. Eu tenho que
reconhecer, Killian, ele sacrificou muito ― não, ele
sacrificou tudo ― para salvar um homem que não merecia. Mas eu
entendo por que ele fez isso.

Sinceramente, gostaria de pensar que, se estivesse no lugar


dele, teria tomado a mesma decisão, o mesmo sacrifício. Mas não
tenho certeza se teria. Ele abnegadamente desistiu de
Maverick. Ele devia saber que estava arriscando perdê-la para
sempre, mas ele fez isso de qualquer maneira. E sei como é um
soco no estômago saber que ela não é sua. Já andamos no lugar
um do outro muitas vezes para contar ao longo dos anos, então,
independentemente do fato dele ter tentado roubá-la debaixo do
meu nariz, sempre terei um certo respeito por ele.

Maverick suspira contra mim, aconchegando-se mais perto,


resmungando algo em seu sono. Ela está exausta depois que passei
as últimas três horas me empanturrando dela. Seu joelho roça meu
pau e ele imediatamente começa a ficar a meio mastro. Eu quero
acordá-la e ter mais algumas rodadas, minha necessidade por ela
é imensa depois de me separar por tanto tempo.

Mas também preciso dormir um pouco. Amanhã será um dia


inteiro. Vou tirar o resto da semana de folga. Nada legal depois de
apenas algumas semanas no trabalho, mas Gaylen insistiu ―
muito claramente ― que eu ficaria com minha esposa pelo resto da
semana e parasse de fingir que estava com a porra da gripe.

Desenvolvi uma grande camaradagem com meu novo chefe,


que há meses vem me cortejando do DSC. Ficamos amigos depois
de nos encontrarmos em um bar em uma conferência, há dois
anos. Eu finalmente contei a ele sobre minha situação com
Maverick e Killian. Foi ele quem me fez ver que deixar Dusty Falls
era a minha única opção para salvar meu casamento. Caso
contrário, não tenho certeza se teria considerado, sabendo como
isso perturbaria Maverick. Há muitas boas lembranças em nossa
cidade de infância, mas as ruins estavam começando a ofuscá-
las. Comecei a ver que ele estava certo.
K.L. KREIG
Quando ficou claro que Killian não iria deixá-la ir depois que
se divorciou de Jillian, eu tive que nos tirar de lá. Foi o único
movimento egoísta que fiz na minha vida, mas eu faria isso
repetidamente. Não era para manter segredos de Mavs, era para
mantê-la para mim. Estou feliz que ela me perdoou por não confiar
nela para falar sobre isso, em vez de apenas avisá-la. Tudo o que
posso dizer é que fui um homem cego ― literalmente cego ― pelo
amor a uma mulher. Ela afetou minha visão de todas as maneiras
concebíveis e inconcebíveis.

Então, amanhã vamos procurar uma casa e começar a


planejar nossa nova vida em Minnesota. Juntos. E nada ou
ninguém vai tirá-la de mim novamente.
K.L. KREIG
CAPÍTULO TRINTA E UM
Maverick

Dias atuais

Estou caindo. Está tão escuro que não consigo ver nada
enquanto passo por nada e por tudo.

Eu caio…

...e caio...

...e continuo caindo, sabendo que a qualquer segundo vou


chegar ao fundo do poço.

Mas não consigo. Eu apenas continuo caindo.

Estou perdida. Muito perdida.

Tão sozinha e tão perdida.

Por que estou tão sozinha?

Ouço meu nome. “Maverick.” Eu não sei de onde está


vindo. Ouço de novo. É urgente, exigente. “Maverick.” Abro mais
meus olhos. Tento ver quem está me chamando, mas não adianta,
então eu os fecho novamente e apenas espero o fim chegar.
K.L. KREIG
Então estou sendo balançada. Uma picada surge na minha
bochecha, lentamente me tirando do horror que pensei que minha
vida tinha se tornado.

“Maverick!”

Eu pisco meus olhos abertos, percebendo que estava


sonhando. Parecia tão real. Parecia tão real. As feições a trinta
centímetros da minha gradualmente entram em foco e vejo o rosto
doce da única pessoa que desejo ver.

“MaryLou”, soluço, lembrando-me de onde estou e por que


estou sentada em uma capela às escuras. “Você está aqui.” Eu me
levanto e jogo meus braços em volta dela. “Você está aqui, você está
aqui”, continuo repetindo.

“Estou aqui”, ela fica repetindo. Então ela me arranca. É


preciso um grande esforço porque estou agarrado a ela como nunca
me segurei em nada antes. Agarrando-me com firmeza pelos
braços, ela chega bem na minha cara. Garante que estou
prestando atenção.

“Ele está vivo, Maverick. Ele superou a cirurgia.”

Soluços instantâneos me atormentam. “Ele está vivo?”

“Ele está vivo!”

“Ele está vivo”, repito. A negação e a exaltação lutam


ferozmente. Minha mente está pregando peças doentias? Eu ainda
estou sonhando?

“Sim. Ele está em recuperação e está sendo transferido para


a UTI. Eles disseram que os próximos dias são críticos, mas as
balas miraculosamente erraram todos os seus órgãos vitais. Ele
está vivo. Ele vai conseguir. Eu sei isso.”

“Ele está vivo”, murmuro. Então meu corpo reage. Estou


levantando daquele banco. Eu vagamente percebo que a velha se
foi, mas não me importo. Empurro as portas da capela. Eu corro
K.L. KREIG
pelos corredores. Vou fazer o elevador subir mais rápido, o tempo
todo falando baixinho...

“Ele está vivo.”

“Ele está vivo.”

“Ele está vivo.”

Eu coloco uma mão protetora sobre minha barriga e


sussurro para a pequena vida crescendo dentro de mim. A que
acabei de descobrir esta manhã e sussurro: “Papai está vivo.”
K.L. KREIG
CAPÍTULO TRINTA E
DOIS
Kael

Dias atuais

Está dolorido pra caralho todas as partes do meu corpo. Arde


como um filho da puta em chamas.

Minha cabeça.

Minha pele.

As pontas dos meus dedos e a parte de trás dos meus


joelhos.

Meu maldito coração parece que está trabalhando hora extra


para me levar de um minuto para o outro.

Minhas pálpebras têm que ser feitas de lixa. Não consigo


obter nenhum alívio.

“Kael”, uma voz familiar chama suavemente.

Deus, aquela voz. Essa voz assustadoramente linda do


caralho. Minha pele queima onde uma mão agora repousa no meu
ombro, acariciando suavemente meu braço antes de começar de
novo. É o toque dela. Eu o reconheceria em qualquer lugar. Até
K.L. KREIG
meus sonhos se transformaram em crueldade, imitando minhas
horas de vigília.

“Kael, por favor, abra seus olhos”, ela persuade.

Não. Eu não posso fazer isso. Não vou abrir meus olhos para
vê-la desaparecer como tantas vezes antes. Um bip distante e
incessante tenta descascar outra camada da minha fantasia,
mergulhando-me mais uma vez em uma realidade horrível. Aquela
sem Maverick. Eu me agarro ao meu mundo de faz de conta só
mais um pouco. Eu me mexo. Acho que gemo. Há um farfalhar e,
em seguida, o calor corre em minhas veias, me entorpecendo de
dentro para fora.

Sim. Eu quero ficar aqui com ela.

“Kael, por favor.” Sua voz falha como se ainda estivesse


aqui. Como se ela ainda se importasse. “Eu preciso saber que você
é real, vivo e está conosco.”

“Maverick”, eu gemo.

“Sim.” Ela parece animada. Essa pequena mão agora


circunda a minha e aperta. Contato com a pele. Eu suspiro na
porra do céu absoluto. “Estou aqui. Por favor, abra seus olhos.”

“Você não é real”, digo a ela claramente, minha visão ainda


felizmente escura.

Então eu sinto sua respiração fantasmagórica sobre meu


rosto um segundo antes de seus lábios pousarem nos meus. Eles
se movem com cautela e devagar. Mal me tocando, mas são tão
macios e flexíveis, parecem tão reais que sufoco um soluço.

E abro meus olhos.

Esmeraldas atemporais com bordas vermelhas olham para


mim. Eles estão largos e com medo. Tento piscar, mas seu rosto
vermelho e manchado não está sumindo. É apenas um
borrão. Tento levantar minha mão, precisando tocá-la, para
enxugar a infelicidade que vejo correndo por ela. Jesus, preciso ter
K.L. KREIG
certeza de que ela não é uma invenção da minha imaginação, mas
minha mão está pesada e não está respondendo.

“Você está aqui”, eu respiro. É uma pergunta.

Sua boca se levanta, mas é rápido. “Estou aqui. Estou


aqui. Como você está se sentindo?”

Como estou me sentindo? Como estou me sentindo,


porra? Exultante. Minha esposa está aqui.

Aquele barulho de bipe fica mais alto. O antisséptico de


repente perfura minhas narinas. A frieza do ar começa a se infiltrar
na minha pele. Não quero desviar o olhar do seu lindo rosto. No
segundo que eu simplesmente sei que ela vai embora. Mas aquela
sensação de mau presságio cai sobre mim, como uma onda rebelde
que não consigo parar.

É pegajoso e pinica na pele. É medo. Reconheço suas garras


geladas antes de afundarem. Só que desta vez não é porque perdi
Maverick. Eu não perdi. Eu me lembro disso agora. Ela voltou para
mim. É por causa dos tiros rápidos e dos gritos de terror
penetrantes que ainda permanecem em meus ouvidos.

Puta merda.

Eu levei um tiro.

Um tiro em meu local de trabalho pelo homem que tínhamos


acabado de dispensar três horas antes por assédio sexual a outro
funcionário. O mesmo que descobrimos que tinha três queixas
contra ele em três estados diferentes. Eu mal tinha um mês de
trabalho em Braham quando o inferno absoluto começou.

Não sei quantas vezes chumbo quente foi injetado em meu


corpo, mas sei que foi mais de uma vez. A agonia que senti antes
de desmaiar era insuportável. Mas a tristeza por saber que eu
nunca voltaria a pôr os olhos em Maverick era debilitante.

Estou vivo, no entanto. Não sei quantos outros estão


compartilhando minha sorte. Acho que não consigo pensar nisso
K.L. KREIG
agora. Sobre os comos ou porquês de sobreviver. Olhando para
minha linda esposa, tudo que eu quero está aqui. Maverick está ao
meu lado e Deus poupou minha vida para que eu pudesse vê-la
novamente. Ele respondeu às minhas orações enquanto eu deixava
a dor me dominar, pensando que estava dando meu último
suspiro.

Eu começo a chorar, o que faz Maverick chorar ainda mais.

“Está tudo bem, Kael.” Ela deita a cabeça levemente no meu


ombro, com cuidado para não me empurrar. A dor fica lá,
deslizando sob minha pele, apenas esperando a morfina
passar. Mas eu ignoro, concentrando toda a minha atenção e
esforço em minha esposa soluçante.

“Eu estou vivo.”

Seu corpo treme enquanto ela repete: “Você está vivo. Você
está vivo.”

Estou vivo pra caralho.

Minha esposa está ao meu lado... e estou vivo.

Esse é o último pensamento em minha mente quando deixo


o que quer que eles injetem em minhas veias me arrastar para a
escuridão mais uma vez.
K.L. KREIG
EPÍLOGO
Kael

Um ano e três meses depois

Está de volta.

Aquela sensação horrível de pânico que torce minhas


entranhas em nós. O vazio desliza sobre mim e me sinto impotente
para detê-lo. Estou pairando à beira de algo que é maior do que eu
quando estou vagamente ciente da queda da cama. Dos lençóis
deslizando pelas minhas coxas. De dedos subindo de volta. Mas
quando aquela mão minúscula circunda minha ereção de aço e
aqueles lábios doces envolvem a ponta e suga, meus olhos se
abrem e prendem as piscinas cor do mar mais hipnotizantes que
existem. Eles estão acesos com o amor incondicional, vítreos com
uma luxúria inconfundível.

Então eu sei que estive sonhando. Novamente. Meu pesadelo


perpétuo estrelando aquelas poucas semanas insuportáveis em
que pensei que minha vida havia acabado. Literalmente e
figurativamente.

“Bom dia”, ela sussurra, girando sua língua pela minha


fenda antes de me chupar de volta.
K.L. KREIG
“Oh, porra, sim.” Eu coloco a palma em sua cabeça e aperto
a base do meu pau com a outra mão, desejando que minha
semente fique parada por alguns minutos para que eu possa me
aquecer no prazer profano que é sua boca.

Eu luto contra o instinto natural de fechar meus olhos,


precisando mergulhar em um momento que eu não tinha certeza
se faria novamente.

Desde que voltei da beira da morte, não queria deixá-la fora


de minha vista, mesmo durante o sono. Ser baleado no local de
trabalho por um louco tende a ter um impacto profundo na vida de
uma pessoa. Mas atrevo a dizer que não estava nem perto da ideia
de perder o amor da minha vida para outra pessoa.

Francamente, preferia estar morto se isso tivesse


acontecido. E eu sei que tenho sorte de ter sobrevivido a três
ferimentos de bala. Quatro pessoas não conseguiram escapar
naquele dia em que um ex-funcionário perdeu a cabeça e
descarregou mais de duzentos e cinquenta cartuchos nos
escritórios da Braham Construction antes de tirar a própria vida.

Poucos dias antes do nosso aniversário de um ano, quando


pensei que tinha tudo, quase perdi tudo.

A ligeira torção de minhas bolas me traz de volta, de


pensamentos pouco agradáveis, para ela. E para o fato de que vou
gozar em cerca de cinco segundos, no máximo. Eu coloco minhas
mãos sob seus braços e a arrasto pelo meu corpo até que esteja
posicionada corretamente. “Monte em mim, Swan.”

Seus olhos verdes são sexys. Ela é totalmente fascinante


quando está excitada. “Mas eu quero que você goze na minha
boca.” Ela está sem fôlego enquanto obedece ao meu comando e
sua buceta engole todo o meu comprimento, fazendo meus olhos
rolarem. Doce e misericordioso Jesus. Obrigado por ela.
K.L. KREIG
Agarrando sua nuca, eu a puxo para minha boca. “Não dessa
vez. Passei seis semanas sem você em meu pau, Maverick. Eu
estarei dentro de você sempre que puder.”

Oh, sim, estou sorrindo como um filho da puta agora e não


é porque estou incrivelmente feliz quando estou enterrado na
buceta doce da minha esposa. Eu estou, mas não é por isso.

Eu sou pai.

Avery Jameson Shepard, nascida em 3 de junho.

“Eu vou gozar”, minha esposa anuncia em meu ouvido assim


que nossa garotinha começa a se agitar ao fundo.

Eu assumo agora; viro para que eu possa acertá-la bem no


local que sei que a deixa selvagem. “Bom. Vamos juntos.”

“Oh Deus, Kael.” Seus gemidos e puxões eróticos são minha


ruína. Eu gozo violentamente, esperando que ela esteja comigo,
rezando para não deixar hematomas em sua pele clara onde a
agarrei como um touro.

Enquanto recupero o fôlego, meu olhar viaja para a selfie


emoldurada de nós no banheiro do Casey há muito
tempo. Estávamos no pós sexo e sorrindo como tolos. Mavs tem
dois polegares para cima e esse brilho em seus olhos eu vim a
conhecer muito bem. Felicidade de estar saciada. A foto está na
minha mesa de cabeceira, um lembrete constante de quanto amo
essa mulher louca e impulsiva.

“Cristo, como eu te amo, Swan”, digo a ela suavemente,


acariciando o cabelo agora úmido em sua testa.

Ela suspira. Está contente e feliz. “Quer tanto se casar


comigo de novo?”

“Sim, sobre isso...”

Ela aparece, ainda montada no meu pau amolecido, com a


boca aberta. Rindo, pego seu rosto e, com meus polegares
K.L. KREIG
enganchados sob seu queixo, fecho-a. “Eu acredito que disse que
renovaria meus votos com você todos os dias pelo resto da minha
vida.”

Isso me rendeu um sorriso duplamente largo. “Você disse.”

“E que minha vida sempre foi prometida a você.”

“Você disse isso também.” Eu não apenas gostei do tom


sensual que sua voz assumiu. Começo a engrossar de novo quando
seus quadris começam seu giro sedutor e atraente, mas uma
olhada no relógio mostra que não temos tempo para outra rodada,
tanto quanto eu gostaria que fosse de outra forma.

Beijando-a rapidamente, eu nos levo para a beira da cama e


me levanto, tirando-a do meu colo. Eu a viro e golpeio sua bunda,
guiando-a em direção ao banheiro. Eu conheço aquele gemido de
Avery. Temos menos de quatro minutos antes que ela comece a
chorar.

“Vamos levantar, Swan. Precisamos tomar banho e deixar


Avery pronta para não nos atrasarmos.”

Como é possível que um pacote pesando cerca de cinco


quilos tenha dobrado o tempo que leva para sair pela porta?

Maverick tenta fugir do meu aperto para pegar nossa filha,


mas eu a conduzo para o chuveiro em vez disso. “Ela ficará bem
por alguns minutos. Deixe-me lavar você.”

Ela relutantemente cede, mas eu a faço aproveitar nosso


pouco tempo sozinhos. É mais difícil ter isso hoje em dia, mas não
estou reclamando. Quando saímos do banho, Avery está chorando
e meu celular começa a tocar. Olhamos um para o outro e apenas
sorrimos, muito felizes por estarmos vivendo uma vida louca e
estressante.

“Vou pegar Avery. Você precisa se preparar”, digo a ela com


um beijo em seus lábios carnudos.

“Ela provavelmente está com fome.”


K.L. KREIG
O telefone para, mas o grito de Avery agora ficou estridente
e irritado. “Então vou ganhar um tempo enquanto você seca o
cabelo.”

“Boa sorte.” Ela ri. “Vou ser rápida.” Observá-la enrolar uma
toalha em torno de suas curvas deliciosas, ainda mais
pronunciadas com o nascimento de Avery, me deixa triste. Ela me
bate e me diz para ir. Eu corro para pegar nossa garotinha,
tentando sem sucesso acalmá-la. Finalmente desisto. No meu
caminho para Maverick, eu congelo na porta do nosso quarto.

Maverick está de costas para mim, falando baixo. Sua


cabeça muda na minha direção devido à agitação de Avery. Meu
celular está pressionado em seu ouvido e, pela expressão em seu
rosto, sei exatamente com quem ela está falando.

“Aprecio isso, Killian. Sei que Kael também vai.”

Ela faz uma pausa, ouvindo meu irmão do outro lado da


linha. Um sorriso triste aparece em seus lábios. Como o homem
generoso que é, Killian graciosamente aceitou a decisão de
Maverick. Até tenta manter contato de vez em
quando. Principalmente em dias especiais, como hoje. Mas eu sei
que é difícil para ele. Como não pode ser? Ele não tem a mulher
que desejou por toda a sua vida. Sei como é.

“Obrigada. Significa muito que você ligou.” Outra


pausa. “Sim, ela está com fome. Você quer falar com Kael?” Ela me
olha enquanto espera por sua resposta. “Ok. Tchau”, ela diz
suavemente.

Surpreendentemente, ela me entrega o telefone. Nós


trocamos e ela sai silenciosamente com Avery, que se acalmou
substancialmente agora que sabe que estará agarrada ao seio de
Maverick em alguns segundos. “E aí cara. Como você está?”

“Ocupado. Trabalhando muitas horas.” A voz do meu irmão


parece fria e tensa. Sempre acontece quando falamos hoje em dia.

“Eu aposto. Heard DSC ganhou o projeto O'Hare.”


K.L. KREIG
“Sim. Um grande golpe.”

Conversa fiada. “Assim…”

“Sim, então, eu só queria dizer que estou pensando em você


e Maverick hoje e... que estou feliz por vocês dois.”

Não digo nada por um ou dois segundos. Ele é um homem


maior do que eu jamais poderia ter sido nesta situação. De jeito
nenhum eu poderia ter ligado com meus parabéns. “Obrigado,
Killian.”

“Bem…”

Sim, nossas conversas ainda são afetadas e estranhas. Eu o


liberto. “Ei, eu tenho que correr. Nós vamos nos atrasar. Nos
falamos em breve?”

“Certo. Parece bom.”

Eu desligo e só demoro alguns segundos antes de entrar em


ação. Me vestir. Fazer as malas. Cueiros. Arrotos. Trocar de
roupa. Fraldas. Eu me movo com uma eficiência que dominei nos
últimos meses, mesmo assim, leva mais de uma hora e meia para
estarmos os três sentados no carro. Estamos dez minutos
atrasados, mas estamos melhorando em fazer malabarismos entre
um recém-nascido e nós mesmos.

Meia hora depois, paramos em frente à igreja. Avery está


dormindo profundamente em sua cadeirinha com a barriga cheia
e um macacão limpo, depois de golfar no vestido que Mavs
comprou apenas para hoje. “Devemos fazer isso?” Eu pergunto.

“Claro que sim.”

Ela está absolutamente radiante. Deus, sou um homem de


sorte.

Pegamos nossa filha e rapidamente entramos na Catedral de


Saint Paul. Outra coisa que uma experiência de quase morte tende
a fazer? Aprofunda sua fé. Eu tinha um monte de merda para lidar
K.L. KREIG
depois do tiroteio. Mavs tinha muita coisa acontecendo não só com
a perda de seu pai, mas também descobrindo todas as nossas
traições e cuidando de mim por meses enquanto eu lentamente me
recuperava.

O último ano foi o melhor, mas provavelmente o pior, da


minha vida. Casei com a mulher dos meus sonhos. Depois quase
a perdi. Eu vi a beira da morte e testemunhei o milagre da
vida. Mudei, comecei um novo emprego e comecei o trabalho
número três depois que me recuperei dos meus ferimentos. Mavs
vendeu seu negócio para MaryLou e agora é mãe em tempo integral
na primeira casa que compramos juntos.

Tem sido muita merda para lidar. Mas o padre Reddick nos
ajudou a superar isso e nos aproximamos. E por causa disso, ele
concordou em fazer uma cerimônia especial de renovação e vamos
apenas falar o que quisermos livremente. Ele sabe tudo o que
passamos. Bem... a maior parte de qualquer maneira.

“Pronto?”

“Estamos prontos”, digo a ele.

O padre R. tira com ansiedade a cadeirinha das minhas


mãos. Lanço um olhar para ele para não acordar Avery. Ele apenas
pisca, indo embora. Eu o ouço arrulhando para ela. Eu apenas
balanço minha cabeça.

Nossas mãos entrelaçadas, nós abrimos nosso caminho


através da igreja enorme e árida. Isso é tão diferente da última vez
que prometemos nossas vidas para centenas de familiares e
amigos. Esse dia ainda vive na minha memória. Como ela me tirou
o fôlego.

É a visão que qualquer homem só acreditaria se visse por si


mesmo, quando Maverick desceu o corredor de braço dado com seu
pai, eu chorei. Lágrimas de pura alegria e gratidão saltaram em
K.L. KREIG
meus olhos e não fui capaz de me livrar delas desde então. Tenho
estado aqui com ela ao meu lado pensando que sou o filho da puta
mais sortudo do mundo. Ela é uma visão, sim. Isso está certo, mas
vou me casar com Maverick DeSoto. Eu sei que ela está nervosa,
incerta até. Não sou um idiota de merda em saber que seu coração
não está 100 por cento nisso, que ainda está partido por causa de
Killian, mas eu tenho tanto amor por dentro, sei que vai ser o
suficiente para nós dois.

A voz estrondosa do padre Tiegs nos ordena que nos voltemos


um para o outro e para darmos as mãos. Não consigo girar rápido o
suficiente.

“Kael Shepard e Maverick DeSoto, vocês vieram aqui


livremente e sem reservas para se darem um ao outro em
casamento?”

Eu sei que sim. Fico dolorido ao pensar que Mavs não, mas
respondemos em uníssono, “Sim.”

“Vocês vão honrar um ao outro como marido e mulher pelo


resto de suas vidas?”

Eu não vou apenas honrá-la. Vou adorá-la, reverenciá-la,


certificar de que não falte nada a ela. “Vamos.”

“Você vai aceitar os filhos que Deus lhes der com amor e criá-
los de acordo com a lei de Cristo e sua Igreja?”

Ela hesita. É pequeno, mas está lá. Eu começo a responder


“Nós vamos.” Ela está meio segundo atrás.

“Visto que é sua intenção se casar, junte suas mãos direitas


e declare seu consentimento perante Deus e sua Igreja.”

Eu olho para o padre Tiegs. Ele balança a cabeça indicando


que é hora de falar as palavras que memorizei. Dou meio passo para
Mavs, olho profundamente em seus olhos e repito os votos católicos
brandos, mas há muito mais que quero dizer. Quero dizer a ela que
não há nada que eu não faça para deixá-la feliz pelo resto de seus
K.L. KREIG
dias. Eu quero dizer a ela que ninguém pode amá-la com a
profundidade que eu amo. Gostaria de fazer com que ela entendesse
que não está cometendo um erro ao se tornar minha esposa, porque
não há nada na minha vida que eu valorize mais do que ela.

Ela repete os mesmos votos, mas enquanto diz as palavras,


sei que seus pensamentos estão distantes. Eu enterro esse
sentimento desesperador nas profundezas da minha mente. Ela é
minha agora; isso é tudo que importa.

Naquele dia, ela pode ter prometido sua vida a mim, mas
hoje ela vai prometer seu amor. Hoje eu tenho tudo.

Paramos em frente ao altar. O padre R. hesita um pouco


antes de se colocar diante de nós. Avery está aninhada com
segurança no chão aos nossos pés, ainda cochilando. Felizmente.

Há exatamente quatro pessoas presentes fora o nosso padre.

Mavs.

Eu.

Avery.

E nosso filho que ainda vai nascer.

Nós descobrimos ontem que Mavs está grávida de novo. Nós


dois estamos na lua. Eu sei que é cedo depois de Avery, mas
queremos uma grande família e não há razão para esperar. Se
qualquer coisa, a vida nos ensinou que você precisa pegar o que
quiser pelos chifres com toda a força dentro de você. Nosso tempo
aqui é passageiro.

Eu me sinto com sorte a cada dia depois que Maverick me


perdoou e voltou para mim, embora eu saiba que ela demorou um
pouco para resolver isso. Portanto, não é para ferir os sentimentos
de ninguém ou deixá-los de fora, mas parecia certo que o dia em
K.L. KREIG
que nos dedicamos novamente um ao outro seja apenas para nós
e nossos filhos.

O padre R. faz algumas orações e bênçãos. Então é a nossa


vez de falar com o coração.

Pegando ambas as mãos nas minhas, eu


começo. “Maverick... nem sei por onde começar.” Ela já está
chorando. Eu também. “Quero dizer que sempre soube que
acabaríamos neste exato momento com tanto amor um pelo outro
que é difícil conter, mas admito que perdi a esperança no caminho
algumas vezes.” Isso faz sua respiração engatar em um soluço. Eu
continuo, no entanto.

“Eu poderia ficar aqui e repetir essas palavras ― eu te amo


― até que eu não tenha mais voz, mas no final, elas são apenas
palavras. O que é muito mais importante são minhas ações para
mostrar a você que a cada momento de cada dia, você é meu
tudo. Meu sol e minha lua. Minha luz e escuridão. Meu único amor
verdadeiro. Vou garantir que você nunca se arrependa de ter me
escolhido, Swan.”

A maquiagem que ela trabalhou tanto para colocar está


borrada. Seus olhos estão vermelhos. O rímel está acumulado sob
os cílios inferiores. Ela está uma bagunça. E ela é a criatura mais
adorável que já vi.

Depois de algumas respirações profundas, ela me diz o que


eu queria ouvir há dois anos. Hoje não é a data exata do nosso
aniversário, mas eu meio que gosto assim. Agora temos dois dias
especiais para comemorar.

Mavs esfrega os lábios algumas vezes antes de exalar com a


boca em um círculo bonito. Então ela começa.

“Quando penso em você, Kael, sempre tenho a sensação de


paz e conforto.” Sua voz falha. Seus olhos marejados
novamente. Nenhum de nós vai passar por isso sem rostos e
narizes manchados. “Você sempre esteve ao meu lado. Cuidando
K.L. KREIG
de mim, me protegendo, me amando. Silenciosamente erguendo
nossa vida por nós, para que estivesse pronta no momento
certo. Você nunca desistiu, mesmo quando deveria. Eu...”, ela para
pra respirar fundo algumas vezes. Quando ela afunda os dentes
superiores no lábio inferior, eu aperto suas mãos, encorajando-a a
continuar com um sorriso suave. Ela o devolve e meu coração dá
um salto.

“Não facilitei as coisas para você, mas você aguentou firme e


nunca saberá como sou grata por sua perseverança ou como você
me faz feliz a cada dia. Já tivemos muitos marcos, mas eles não
fazem uma vida; são todas as pequenas coisas que fazem a ponte
entre um evento monumental e outro. Você me deu mil pequenas
coisas, Kael, sei que por causa delas somos inquebráveis e
eternos.” Então ela encolhe os ombros antes que suas últimas
palavras me quebrem da melhor maneira possível que um homem
pode ser quebrado. “Eu segui meu coração e isso me trouxe de
volta a você.”

Ela para de falar e pode ser justo dizer que ela não é a única
que está uma bagunça.

Padre R. pigarreia. Bom. Pelo menos eu não sou o único


maricas aqui. Ele estende as mãos e nossas alianças de casamento
brilham sob a luz que penetra pelos vitrais. Alguns momentos
depois, com elas firmemente colocadas de volta no lugar onde
ficarão para sempre, eu a beijo. Muito longo e provavelmente muito
inapropriado para um ambiente de igreja, mas foda-se. Não tive
essa chance na primeira vez que me casei com ela. Não vou
desperdiçar essa segunda chance.

Mavs e eu lutamos por muitos obstáculos para chegar a este


ponto ― até mesmo um ao outro. Especialmente um ao outro, eu
acho. Difícil, nem sequer começa a descrever o que foi necessário
para nos trazer aqui. Mas eu sei que com a mão de minha esposa
na minha e minha filha na outra, enquanto voltamos para casa
para comemorar em nossa própria maneira particular, cada
K.L. KREIG
segundo daquela luta valeu a pena. Não vou perder um único
segundo do tempo nesta terra com ela.

Nenhum.

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