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* etagBO227 gee Proced.. {B42 2 A cao'do Homem Grego : ‘AIMHN TIEOYKE TIAEL TIAIAEIA BPOTOIS: Werner Jaeger" Tiadigio | nrunae iina *\Martins:Fontes”’* ‘SGo Paulo 1995 238 A PRIMEIRA GRECIA ment . No podemos nega @ nos 1s poems que néo tém o nome de,Cirno, ainda que se encontrem ivro das sencengas. Com.efeico, aparece’ umn fragmento de Sélon imediatamence antes do epilogo, isto é, entre os versos ‘Assim, & com base, em primeito lugar, no livro inteico das miéximas dedicadas a Cirno que devemos formar a nossa idéia de Tedgnis. A six figura aparece nele de modo perfitamente cecimpreensivel, Por isso devemos encarar com reservas as méxi- mas a Cimno espalhedas pelo resto da colesio..A respeito delas a critica estd sempre indecisa, pois, semi-o contexto original para fi ufdo. Quanto is demais nfo estimos em coadigdes de resolver, com os meios de que dis- ‘pomos, se pertencem ou nfo a Tedgnis, Merece referencia espe- los poemas de tim poeta megético qualquer, que parecem ter sido deslocados do prélogo de uma colesfo.inde- pendence de poemas. Sio habitualmence atribufdos a Tebgnis,ea jovialidade eo calor pr6prio dos banquetes neles manifestados sio enttecortados pelos relmpagos da tormenta persa, que se aproxi- ma, Se pertencerh a Teds abemos, jeas de Mégare que o divro-de Ci dos meados do séc. VI. B & ness te deve cer vivido aré 490 ou 480: . correspondem:a esta Epoca.as cir- LUTA E TRANSFORMAGAO DA NOBREZA 239 €evidentemente diverso daquele que o livro de Cirno revels, ¢, pela maneira de utiliaé-lo,ndo'parece tio errada, como {geralmente se julga, a admissfo de um segundo poeta megicico alérn de Tedgnis, Todavia, a base dos pequenos contatos déites poemas com o prélogo de Te6gnis é paca 8 poder fiindat’Sobie ela uma hipétese segura. Codifcago da tradicto pedaghgica atten livro de Tedgnis pertence a0 mesmo g@- inddos Brge de Hestodo e das mésximas ‘OUR Kax, “cnsinamentos"”. A palavea surge ho fim do prélogo, imediatamente antes do inicio das-méximas propriamente ditas: Pois jo ti coma amigo, & Ciro, qiero en- cobres aprendi, ainda trang fato de néo nos apresentar as Beitoals de Tedgnis, mas sii @ tradiglo da sua’ classe. A ~~ tentativa d: colocar em verso os preceitos da antiga aris- tocnicia € 0 poema atima’ citado (p. 64), "Os ensinamentos de Qiron”. Fécilides ofecece-nos regiras getaispara a'conduca préti- cada vida, A originalidade de Teégnis aparece claramente, quan- “ose Conthapte aquele oii a Hesfodo. Quer ensinar a formiacio in- tegial dos nobre, aqueles pecetosendos que até agora 6 _- oralmeinte fora’ trinsmitidos dé geragio em geracio. Deste modo opée-se consciente e completamente & tradigao nial codifi- cada tio’ Ergaa de Hesiodo. ° Ojovem'é quein se dirige été lizads a6 poeta pelos lagos do eros, & eviderite que estés'formsm,’ para o poeta, o pressuposto es- Seiicial da sud rélago éducadéia. A sua unio deve aptesentar ‘algo de tipico ads olhos-da classe’ que ambos pertencem. F sig- aificacivo que da pi ‘Vez que encaramos de peito'a culeura ‘da ndbreda! ar asculino como fenémeno de impottancia tio dec (ao ‘qquerem« um problema to debatidd’em' néssos (io € nossa intengiio Ties cae chm adhe ign, 3a recut ” 240 7 A PRIMEIRA GRECIA desceever.¢ estadar por si mesmo a situagto social, Importa ape- ras mostrar como este fenémeno tem o seu Iugaé e a sua raiz na vida do povo grego, Néo se deve. esquecer que o eros do homem mondukdg Hpac: Mas os postas € of itenienses que 0 Imenconai'¢ czars sf soba nobres, desde Sélon'~ em cujos poemas 0 amor dos adolescentes aparece ao lado do amor das mulheres e dos esportes nobres como tim dos maiorés bens da vvida — até Plato. Sempre a nobreza’ helénica esteve profunda~ pendéncia de determinadas condigées s tices, A’ pac tic deste ponto de vista € facil de cornpreender toino esta for- ma erética foi tida por degradanté em vast circulos da vide ‘Brega, enquanto em outras camadas sotiais grande expansio ecesceve vinculada as mais altas concepeBes sobre a perleigio e a nobreza humanas. B ficil de compreender como péde surgir'a france. admiragio ~ por uma figura distinta, uma educagio adequada ¢ um movi- ‘mento nobre, niima raga de homens acostumados, desde tempe imemoriais, a considerat estes valores como a mais alta exceléncia © Estado espartatio considerou o eras vim importante fator da sua iplamenee difon- LUTA E TRANSFORMAGAO DA NOBREZA 241 GeveorhE a telagdo do amante com o,amado podia ser comparada A autoridade educadora dos pais em relacfo aos flhos: Alids, at ° mesmo 1 superava‘em miltiplos aspectos,ina.idade em que 0 jo- vem comeca a libert za, etn Tedgnis, que mergulha.a raiz no mesmo citculo de vida, nasce integralmente deste impulso educador cujo aspecco mos, devido & sua apaixonada, gravidade motal. E com teiste amargura que ele o manifesta no final do seu livro. Dei-e aa com es pss Yar sobre tras e mares, Ere todes as fase angers tees rds rt boces das psoas. Jovens encantadores te cantarzo 0 nome 2 nue das flatitas, E mesmo dps tua descida ao Hades continuards a andar bor Hellas ples ills, eainavesards 0 mar para ser canta ple bs ‘ment fituras, enquanto deraren a Terra ¢ 0 Sol. Entéo jd nade serei Para tie, como atm garcto, we iludirds con palarnas * Durante muito tempo, nfo sofren qualquer perrurbagio a sevens cvboinda destes banquetes acscoctiticos, animados pelo 70s. Nos dias de Teégnis, pocém, as coisas jé tinham mudado. Qs ppoemiss de Sélon deram-nos a saber a lua dos nobres pela conser ‘vaso da sua posigio em face do poder cada vez maior das classer oa vio representa a ind adminiscragio asc perigosaé para o Excado, que € causa de, exigén feitas pela massa, longamente oprimida. Foi ante este perigo quis sntgiu a ética de Estado de Sélon, que com o seu pensiinhento po- ico procura dominar os extremos e preservar da tiraria o Estd- A poesia'de Tedgnis pressupte também 4 luta de classes. No iiclpio das suas maximat éstao Vacios grandés por mas mais ex- ‘que esclarecen a sieuacio social.O ptimeiro é uma clegia, ao estilo de Sdlon. No seu tom, no seu pensamer.cd e no seu vooa impera 0 niodelo do grande aiteniense". Mas enquanto ‘também da nobreza e eriraizado na sua classe, Ihe re- 8 Vesos 39052, 242 A PRIMEIRA GRECIA conhece as fraquezas 20 lado das exceléncias, Te6gnis toma exclu sivamente responsiveis os outros partidos pelo ml rar 0 seu poder. © poeta prevé que 6'Estado, nessa alcre ainda em paz, cairé em guerra civil, cujo tertno serf a tirania. A dnica via salvadora é o regresso sigualdade ¢ 20 governo dos nobtes. E isto j€ néo tem at Um éeguado poema complera este quiadro sombrio. De fate, & mesma a cidade, mas as pessoas tornarams onbras, Hlomens ser mbna id da que soja lei oa jsiga, qu cts co- brian o sue nndez came groseias vests. de pele de cara vivian como slaagens fora de cidade, so agora, Cirmo, as pessoas importantes; 0 gue «antes 0 eran no passa bnje de pobres diabos. Eipetdcul insaportvel! ra meabies des ‘eh ies as no od cif le, ated perdi sb ama 2 frande, a perfldia ea iimpostar?. a Seria uin erro deisite de ver que este docunitnte de édio © desprezo se éncontra impregiado também de um ressenP@N> profando, Baéca en ver aeé que ponto tg © realismo da sua ct Sea fi ima vivacidade. Maior outorga & forma da elegia uma n 9, Verso 55-68 LUTA’E TRANSFORMAGAO DA NOBREZA 243, importincia ainda que Sélon, na.desccico da injustiga:reinante, fem 0 modelo. dos. Erge'de Hesfodo, que influenciow:tainbém cvidentemence,a escruturagio do livro de Te6gnis em das partes fandamentais, enquadzadas por um prélogo.e um eptlogo. Esta semelhance no €.meramente fotmel: deriva da anslogia da'sua sicuaslo interna. Assim como Hesfodo fandamenta a sua ética do ‘trabalho numa doutrina geral ticada da experigncia da briga com, seu imo Perses a propésito da heranca, da qual. surge a idéia da justiga, assim também a doutrina de. Teégnis sobre a: nobreza provém da sua luca espititual contta a revolucio social.-As quei- xas contra.a violaco do direito enchem a primeira parte do poe- ma de Hesfodo tal como do poema-de Teégnis. E:em ambos se * desdobra uma vasta série de argumentasées..O paralelo continua pela segunda parce do livro de Teégais. As suas méximas bréves estéio moldadas pela sabedoria proverbial dos Erg, A. analogia nifo & nada perturbada pelo fato de déscobricmos na segunda par- te do livro de Tedgnis alguns fragmentos longos, qué ampliam a brevidade des mistimas até a forma reflexiva de uma elegia curca. Amos os potas si0 levados por impulso pessoal ¢ pelas neces. sidades de ocasido a formular as suas verdades em proposigBes de Yalidade universal, de acordo com.o estilo arcaica. A diference de valor encte as diversas-pares do-poema é compensada, para.a nossa sensibilidade moderna; pela forgada intimidadé pes. soal ¢ pela intensidade de,emogio, de tal modo que é fécil incor- rer no erro-de nfo ver que’ esta expressio dos sentimentos fntimes i iva, uma.nornia geal, ¢ de julgar conhecimento, parte j& nds conduz:& colegio de!mximas propriamente ditas. que. formam. 9. cédigo da &tica a injustiga © a perfidia da classe agora dominance ‘provi de ni cer qualquer medida" para. é bre'do que nio 0. i quem possui-a tradigio, Estamos num. 10. Verio 60; avai, pepsin jute’ de en com eles reer gts expects pate das misma. ot jufto reguidor: 244 APRINEIRA GREGIA tempo em que-énecessério'mant#-la no mundo,’ através da sua formulagio em: formas iperenes. E:preciso que ela Se" tore guia dls javensibem-dispostos parm deles fazer axe "Gs maus (carol, Betot), em que'6 poeta etigloba todos.os que ni pertencem 2 uma estitpe nobre; por‘éitro rnobres (deja, 082.01) s6 se acham entre os ia & fardemen- tal na’sua educagéo. Ble a uttina dos seus predecessores, ¢ & 2 parte do livro consagrada as méximnas. A par- ro-estd entee uma e outia coisa: entre o-antincio € Expie nela‘o fundamento da sua! exigéncia: conser: ‘Ya-te entre.os nobres, nfo te mistures com a gente vulgar: F pin ‘Weomcores-negras a degradacgo desta tltima,-A’' z conduta exprime o que entende por manter- bres, pois eudo 0 que preténde ensinar 20 seu sno que recebeu da autoridade dos verdadeiros nobies, ‘Niio é nossa intenglo seguir emi todos os detalhes 0 curso das ‘dias da parce'do poema consagrada as miéximas. Todas as suas palavras ¢ exigéncias’auferenn o seu vigor e peculiar urgéncia do inente que se desptende da descricio do estado das réla: is. Comega com timia série dé méximas, onde previne cont ade dos maus ¢ ignébels, porque sio falsose infis, Aconselha« ‘tet poucos amigos, homehis de wii s6:cara, em ‘“quenrse possa confiar na desventura. ‘Toda “ic iedade uma crise de confianiga: Os que tém'co ‘unem-se estreitamente porque a traigo esprit proprio Tedgnis diz que, em ocasiéo.de discérdl homem 90, de Aquiles e Pitroclo,'¢-que pertence 20 mais antigo estégio da ediicaco atistocritica 0 culto do-bomm exemplo. ‘Mas, sob a pressio da situaiéo desesperafedarnobres mrordea politica, a antiga doutrina do alto valor do bom exemplo ¢ da conduta nobre,conyerte-se no elogio.da heteria politica, na.Gcica de partido. Isto se segue da:posigio de -destaque alcangada pela props como ‘exemplo.as'amizades ideais- de LUTA TRANSFORMAGHO DA NOBREZA 245 cexigéncia de uma justa excolha das amizades, ¢ da necessidade de w ‘oda prova, como, condicio primeirade qualquer ani ssivel que 0 poeta o tenha sprendido de seus pais, visto que a.luta da sua classe jé tem uma longa histéria. Bm todo ‘aso, esta Juba teve @ sua influéncia na ética atistocrética. A difi- culdade dos tempos acarrecou a estreiteza dos espititos. Por mais ‘Que aquela ética fosse diferente da. nova, introduzida por Sélon ¢ supetadora das oposigGes sociais, o¢ nobrés nio.tiveram oitro re ‘medio senfo insetir-se de qualquer modo no todo. Podiam,consi- detar-se um Estado secret, injustamente submetido ao Estado, e-— aspinar a testauracio do ‘com atengao, a verdade é que se converteram num simples parti- )- Se, porém, 0: considerarmos. © do em Luci pelo poder, que esté intimamente coeso no seu esforgo © que se serve do sentimento de.classe para obstar a sua completa extinglo, A antiga exigéncia de uma boa escolha das amizades ‘tansforma-se em exagerado exclusivismo politico. £ uma conse- sqigncia da fraqueza dos nobres. No ‘encanto, deve-se reconhecet ‘que a exigtncia de fidelidade, ainda mais quands se refere sobre- tudo & fidelidade politica de classe, @ 2 lealdade incondicional onservam, apesar de tudo, como fiindamentes da amizade, um alto valor nioral. & nele que se funda o espfcito de grupo, inspi- sador de jufeos como este: As niias pessaasriemose secrtenente nna das ontrat ¢ enganams. Estt ucagio de classe iifo se pode com- pata & grandeza da idéia de Bstado em Sélon. Nio podemos du- vvidar, porém, da seriedade da sua exigncia: para chegar a set Gte206s é preciso ser nobre nao 6 pelo nescimento, mas também pela conduta. Tedgnis considera a distingio a forga da sua classe, 0 tltimo baluarte da sua Inta pela sobrevivéncia, (O que é dito sobre 2s prescrigdes para uma escolha correta. ivadles € caracterfstica predominante em toda a educaggio de ‘Teégnis. Bsta ética atistocritica é frato das novas condigdes so- Cais, Sem embargo, nfo se deve encendec como atividade estrita- ica. Te6gis aconselha o seu jovern amigo'a adaptar-se mente as citcunstAacias vigentes. Segue pla via média, como 246 7 A PRIMEIRA GRECIA an fego, Nao €.a atitude herdica de Sélon, eqbidistance dos dois extremos em luta, mas sim uma ago deslizante, de modo cer 6 menor alvo ao risco pessoal, Importa a Cimno ter umes astuto € saber acomodar-se as circunstincias da vida. do de que um homem nobre continua sempre no- para o povo sem cabeca; é,um firme baluarte, em- i conteadicio alguma, mas é 0 que segue da Contra. Kevidente, prem, que jf no se eaca aqui de anciga &- imente perturbedora é sobrecudo a crise amente ligada com a prépria raiz da te- ificago essencial da vida econtmica, A findava-se na posse de propriedades co da moeda afetou-lhe a espe Des- ~ vé pelas palavras de Hesfodo. Ea unio dos dois conceitos mostra ‘que a estima social e a propriedade exterior estavam inclufdas nz peimiciva ate © resultado da nova ética social foi a dissolucio deste con- ceito de are. Onde quer que seja atacado ou alterado 0 antigo conceito de arete~ em Tirten e Sion principalmente ~ manifes- case até que ponto ela se encontrava ligeda & AoPeOG) ¢ quio grave seria para ela.e dissolugZo uunidade. 2'(OABoc, — luca,com. os Messénios consistia priacipalmente na, bravura lados, fem muito maior valor que,a riquezs.e codes os icacera a.virtude mais alta, das concepybes ancigas, pedia aos deuses que lhe concedessem riquezas, embora justas, ¢ nelas fundava as suas esperancas de arete e de cor A desigualdede econémica no era queza: a posse de membros sfos escolher entre a crete eas fiqueda juncacem 0 dinheito ea vulgaridade. Eos pole dacitardo 1 Sélon quando este'prefere uma Pobiema fasta, Aqui'se v8, com toda a clareza, a transformacis dé antigo coficeito.de rete, sol a pressio das condigSes do temgo: E com Sélon que nasce a liber te feagmentos gue agoraanalisarnos: Neled-encara a relaglo do esfor~ go humano com ariqueza, a partir do ponto de vista da justice € da ordenagio divina do mundo. Tedgnis separs-as duas partes do ‘poema de Sélon, fazenco detas dois poemas independentes,e des- que no pensamento de Sélon as mancém-unidas" paz deum seconhecimence religioso desse tipo. parce da elegié de segunda, TEOGNIS, 248 A PRIMEIRA GRECIA samento de Sélon; que reconhece a aslo de" Deus'no fato de os bens injustos nfo gérarem tims prdsperidide duiradoura, desperca em Tebghis reflexes de fadole muito niais subjeciva: E cérté qué esta de acéedo éom ‘Sélon: Mas o$ homens se déixamn enganar facilmente, porque inuitas vézes 0 castigo faz-se ésperat longo tempo: Nota-se’aqi a inapatiéncia de’ qiiem espera a vinganca divina coritra os seus itimigos e pensa que talvet no a posia ver pessoalrhente, ‘Tedgnis tarnbéri no’ capea nas vat parte da elegia de Sélon 0 tobl apesar da exisitncia desea severa jt lon tragom né primeira parte, tantas vezes fricasse 0 esforgo pari’6 bem, sem quié as faltas dos insensatos envolvam quaisquer conse- qliéncias ruins. Esca contradigio moral nfo suscita nele nenhuma reflexio. Nao contegue ver'o assunto pelo prisma da divindade, como Sélon, para compreender, a partir desse elevado ponto de ‘vista, a necessidade de uma compensacéo superindividual no caos dos esforgos ¢ desejos humanos. As considerasées de Sdloit apenas suicicam em Tedg: 1umor resignado ¢ melancélico. Bsta, ppelas suas préprias experi@ncias, profundamente convencido de ‘que o Homem nunca é responsével pelos seus @xitos ou fracassos. ‘Os homens ‘aada mais podem fazer do que entregar-se 2 vontade dos ~ deuses. Em nada podem: conttibuir para a detezminagio do seu’ proprio destino, Até na riqueza, no sucesso e nas honmas se encon- "= rk o.germe da desventura. Nio temas outro remédio, portanto, seniio implorat Tycbe. De que serve o dinheiro 20 homem yalgar, se no tem o espirito reto! Sé\pode precipité-lo ta perdicao. ica coisa que esta co Homem verdadeiramente nobre, 108 das suas-riquiezss, é a tiqueza ince livres da segunda iga divina, cuja'imagem $6- " ”satos ¢ desleais companbeiros de LUTA E TRANSFORMAGAO DA NOBREZA 249 va das snstsas havia inscrite-fa sua foia sibmetc “te subjugada, poi conheceu ainda hoje ei, no sentir do poets, « antenédora da aucén- ica justiga. f certo que o ideal de ju riga se restringe e passa de f verdadeira vituide do Bstado a vircude de tina 6 classe ~ 0 que i ‘ada tem de stixpreendente para Te6gnis, Tafnbém aqui 0 novo-— Tima ‘ileima barreira: a inquebrantével crenga no sangue. B ela que o leva a exigir, como o dever mais: alto, a manutengio da sua pureza. Levanta a vor contra os insen~ — jue jalgam poder restau rar a fortiina por meio'ds casamento com filhas de plebeus; ou dando as filhas 20s fllos dos noivos-tices. Pare exolber os aninais era, carn, bres en canals, bles tenes & sperornobrea Nequelas waite, prtin; scificames som bettagio nas priptia san- ie. A riqiteamisture asesirps". Também esta Bnfase intensa ia selego da raga e da geneclogia é sinal de que a ética-da nobreza fentrou ent novo perfodo. Converte-se em ins uta consciente contra 0 podes E natural que em Atenas, io'se pudessem por a servigo da pura reagio 05 espftitos mais profandos, émbora pertencessem a nobreza, ta su maioria. Jé Sélon se.op6s a isso. Mas, otide quer ‘que houvesse um nobre a lutar’pela sua sobrevivéncia ¢ pela sua idliossincrasia, foi seu éspélho i ica de Teo de Mégara. Muicas das suas idéias reviveiam em fase posterior, na Jaca da burguesia coneca o proletatiado, E, em éltima aslise, a ‘sua fé manteye-se ou decaiu com, a questo do direito'e da neces- sidade de uma aristocracia em geral, quer em outra grande tradigio qualqn aristocrética da conservagio da raga foi principalmente culeivada por Esparta ¢ pelosigrandes educadores do Bstado do séc. 1V, 12, Veror 1886 250 e A PRIMEIRA GRECIA Oporcunamence n6s.adiscutiremos com maior detalhe, Foi entfo. aque ela.ccanscenden as fronteiras de uma classe e se vinculou cexiglricie de uma educasio estatal para a totalidade do povo. A fi aristoosttica de Pindaro~ indaro transporta-nos da rude uta dos nobres pela sus po- siglo social (que nio étravada s6 na pequena Mégera) para 0 apogeu da anciga existéncia ariscocrética. Temos dee problemas desta cultira tais ‘como aparccem em Teé; {ranspormos os umbrais de um mundo mais elevado. revelagio de uma grandeza e de uma beleza distantes, mas dignas de ee ¢defhonsa,) Mostra-nos o ideal da-nobreza.helénica ‘no momento da sha migisalca glévia, quando ainda possula a Force necesséiria para fazer prevalecer o prestigio dos tempos miticos so bre ayulgare grave realidade do séc. Ve quando ainda era capsz de acrair 05 olhares da Grécia inteim para as competigies de ia e Delfos, de Neméia e do Istmo de Corinto, e de fazer esquecer todas as oposigées de estirpe e de bairrismo pelo elevado ‘ unnime sentimento das seus criunfes. & preciso encararsob.es- te prisma a esséncia da antiga aristocracia, grega para se com- wporténcia na formacio do homem grego herdados, nem & reelaboracfio de uma ética baseada na propriedade. O nobre € o criador do alto ideal de Homem que ‘ainda hoje se revela aos admiradores da escultura dos petiodos ar- caicoe clissico, muito mais vezes admirada do que intimamente fito humane. Eraio momento propici ‘que a fé da velha Grécia num mundo gen do divino na forma humana elevade 3" nivel terreno, e ro qual foi posstvel conceber'a propria consagea- foe santificago mediante a Iuta da nossa natureza mortal pare se LUTA E TRANSFORMAGAO DA NOBREZA 252 aproximar do modelo dos deuses emforma humana, qué os artis- {38 punhsm ante os'nossos os, de acbedo com as les daquela perfeicio, A poesia de Pindaro € arcaica, “Ma5-ela o' € num sentide muito diverso das obras dos seus conteimpériineos ¢ mesmo'dos ppoetas pré-cléssicos mais antigos. Perco dele, os iambos de Sélon parecém modernos quanto 20 vocabulétio e a6 seatimento, A va riedade, a abuindncia, ' légica ¢ a severs amplidio'da poesia de Pindaro no paisam da veitimental exterior e “scomédada ‘aos, {oma histérica de vida, Quilido, a partir da “antiga” caleama da Poi, 2c aptdiamos de Pao, femos a impreso de se di unidade da evolugéo espiricual due da epoptia de Homero ia em linha ceta para a lirica individual e para a filosotia ica da narureza, e de ingressarmos em outro mando. Comé m Hesfodo, que de resto era um discfsulo tio décil de Homezo ¢ do penssmento jGnico, tem-se muitas vezes a impressio de se abrir subicamente ante o nosso olhar ume Anviguidadé enterrada ‘no solo materno sob os fundamentos da epopéia, eambém e ainda ‘mais em Pindaro nos encontramos num mundo do qual nada se- biam os Jonios do tempo de Hecateu e Hericlito, muado que em muitos aspectos ¢ mais antigo.que Homero e a sua, cultura hhumana, onde aparecem jé os primeires clarées da,primiciva constelagio do pensamento jénico. B que, por mais que.a fé aristoctitica de Pfadaro tenha em comum com a epopéia, 0 que em Homero aparece jé.quase s6 como jovial brincadeira tem para Pinidaro.a mais grave sériedade. Iso, naturalmente, depende em parce da diferenga entre a poesia pica e.0s hinos pindticos. Nos segundos trata-se de preceicos séligiosos; na primeira, de uma coloride narrasio da vida: Mas esta diferenca de atitud poé- tica nifo tem origem-apenas na forma ¢-na intengfo:externa do poema, mas sim na {atiina e profunda vinculacio de Pindaro & ariscocracia que descreve. Foi s6 poz Ihe pertencer essencialmente aque ele péde oferecer-nos a poderosa imagem do seu ideal; que descortinamos nos seus poemas. : 202 A PRIMEIRA GRECIA yA.obra de Pindaro tinhs, na Aintiguidade, volume. muito ‘maior do'que aquele.que’ chegou até nés. Um feliz achado feito como foram chamados depois, mas a deles. Também nos hinos aos ven- cedores das competigdes de Olimpia, Delfor Istmo e Neméia se revela 0 sentimento religioso dos concursos, ‘exemplo’ que neles vigora constitui 6 acme da: mundo atiscocrético, : ses. Foi porventura nos jogos fiinebies celebraddis em hontai de Pélops, semethantes aos gue a Iade de Patroclo, que as festividades olfmpicas e as pos 5 tiveram origem. £ sabido que o8 jogos fiinebres também: ser cele bbrados periodicamente, como os de Adrasto'em Sicyon, embora 0 cater destes fosse diferente. Festas assim podiaim tet sido cele” bbradas muito cedo em honta dos Zeus Olimpico. E a'descobierti; ‘nos mais aritigos santudrios, de oferendas com figutis de cavalo ‘permite supor a existéncia de corridas de carrés nos ais vos cultos dagjieles lugares, mito tempo antes do que'a tiadiciox relativa acs jogos alimpicos nos diz sobre’s primeiro triunfo de Coroibos na cottidas pedestres. No decurso dos séctilos at celebravamn-se periodicamente oucras és festa com gundo 0 modelo da que no témpo'de Pfadard se celebtava. em = Olfmpia, mas inanca nenbuma delas alcangou a i 11, O desenvolvimento das competicées, desde até os complicados programss que 9s hinos refletem, foi dividido pela tradiclo posterior em fases. perfeita- mente detetminadss. Mas no € indiscuttvel 0 Nfo nos vamos ocupar-aqui, porém, da 08 de competi¢io nem do aspecto técnico da gi as primitivas las eram originariamente pedprins da aristocracia, ~ depreende-se da.natureza das coisas e confirma-o a poesia. Isto & lum pressuposto essencial paca a concepsio.de Pindaro. Embora animicas necessérias a elesCom © tempo, io entanto, os. mem. bros da Sergusie foram genhando as mesmas qualidades ¢ che- ‘garam a triuafar‘nas lucas. Foi s6 mais tarde que o atletismo pro. fissional venceu aquelaestrpe de lutdores de aleo fel, borate ‘no esforco perseverance e numa tradicio inquebrantével, é 56 en. ‘lo € que as lamenragSes de Xenéfanes sobre a supervalorizagi da forgafisica brita € sem espftico acharam eco, cardio mas sistente. No momento em que o espftito foi considerido +19 ow até inimigo do cotpo, foi degradado sem esperanca de sl or is velha agonfstica, que perdeti o seu lugar de dlestaque na vida grega, pesistisse como simples esporte durante longos eéculos. iamente,nada Ihe éra mais estra- ho do qus.o conceito te intelectual de forga ou eficién- ia “fsicaty A tinidede do fisco ¢ espicieual que nes obras-primas « para nds. ésté irremediavel- ‘para chegarmos 8 compte- agonistico, embora a realida- « de nunca Ihe tena correspondido. Nao é fécl-precisar até que onto Kenéfanes tinha raxio. Mas a arte ngs ensina o suficience Pata vermos que ele'niio.cra um intérprete qualificado daquele ja incorporagio.na imagem da divindade foi a tacefa principal da aite‘eligiosa da época, Oshinos de Pindaro estio vinculados #é momento supremo da vida do hoimem: agonistico, as vitérias de:Olimpia ou das ou. ‘tras grandes lucas da época. O poema pressupdie a vitrin¢ consa. gru-se a fertejé-la, sendo habitualmente catitado por um coro de Jovens por‘ocasiio, ou pouco depois, do regresso.do.vencedor. fo, dos cantos triunfiis& sua ocasito exterior cem sent. do religioso, como os hinos aos deuses. Nao é que isto seja dbvio. Assim que surgity, em.conexiia:com a. epopéia alheia ao culto, ‘uma poesia individial por meio da.qual 0 Hémem buscava ex. ee A PRIMEIRA GRECIA primi os seus sentimentos ¢ idéias, aparecen também nos livros Que desde os tempos mais recuados eram consagrados a0 louvor dos deuses ¢-cantados no culco (¢ paralelamente nos cantos dos hheréis), um espfrito mais live. Isto introduziv vitias mudancas na sua antiga forma convencional: ou o poeta aceitava as suas pré- prias idéies religiosas ¢ fazia assim do canto wma expressio dos sentimentos pessoais, ou, como nas Iiticas j8nica ¢ eélica, usava.os hhinos e as preces como simples formas para manifesta os mais profundos sentimentos do er hurnano frente a um fx sobre-hums- hho. Um passo posterior, que mostra 0 progeesso.do sentimento dividual na propria meerépole, foi a cransformagio, operada em ins do séc. VI, dos livros ao servigo dos deuses em cantos consa- fcagio do Homem...f 0 préprio Homém que se Torna aqui objero dos hinos. Isto, nauralmence, s6 era possivel com a divinizacio do Homem, realizada nos vencedores olimpi- rly e era cada ver cos. Mas a secularizagio dos hinos & ‘mais ffvola 8 “musa que gana Ceos contemporfineo, SimBnides de cidlmente 0s hinos aos-vencedores, bem como a outros generos de ‘poesia profana circanstancial, ¢ com o seu sobrinho Baiqut lides, inferior em importincia, mas @milo dele e de Pindaro, i i inos aos vencedores se comvercem numa espécie de poesia. re cica dos concarsos,em que o homem luca para atingir a perfeicio da sua humanidade, sob 0 ponto de vista de tama interpretagao religiosa e écica da vida, corna-se 0 criador sa.que penetra de modo inaudito fo mais fundo dda exisencia humana e parece elevar-se até os mais-altos e miste: tioses problemes do seu destino, E niio hé nenburn poeta que se mova com a liberdade soberana deste grave mestre consagrado & rnova arte celigiose, que a si.mesma se impés a ei-da sua livre su- jeigio. E é s6 nesta forma que, pata-cle, tem diceito & exietencia ‘om hino dedicado aos vencedores humanos, Uma vez.que 9 acre batou aos seus inventores e o fez seu por meio destes transforma~ Bes essenciais, pode sustentar a sua conviegfo de que era ele 0 ‘inico qué compreendia o verdadeiro significado do aobre objeto que se vorava, B esta eransformagfo dos hinos triunfas que lhe LUTA.B-TRANSFORMAGAO DA NOBREZA 255 permite dac nova validade Aqueles.ideais, auma época totalmente adver ao ser animada pela aucacia odeoctiga nies rma do, canto alcanca a sus. “verdadeira natureza”, Erm relagio ao vencedor, longe’ de sentir uma dependBacia indigne de um poeta.ou de se colocara servico dos seus desejos como um artifice, sim ‘a poesia a0 espitito iersito de onde ela brotou nos tempos primitives, ¢ exalea-a, ‘tian tie se volte constance: q ica" e Ihe fiz ceéséar as ‘noted; ria prefere 0 canto, o compaitheito mais proprio das co- —~toas ¢ das vittades méstulas. Afirma que louvar o nobre é “a flor da justiga". Mais: 0 canto ¢ freqilencemente considerado a"divi- da que 0 poeta tem'para com o-vencedor”. A areta = deveinas es- crever a palavra a forma severa sia d6riea fesson@acia da lingua pindérica ~, a arte que trivinfa na’ vieGria'no quer “esconder-se silenciosa no seio da terra", mas pede que a éteinidem nas'pala~ ‘ras do poeta Piadaro é 6 aucéncico poeta, 20 contato'do qual to- os 28 coisas deste mundo cotidiano e banal recobram,'como por igica, ofrescor e o sentido da.sua fonte de origem: A:palavia ~ diz no seu canto 20 eginera-Timasarco; vencedor nd luca de infin- tis ~ sbrevive as fate, quando a Mngua,com vues ened pelas Cerits, bebe na mais profndo do cong. Conhecemes pouco da-anciga Iitica coral para determinar- ios com egungt lag de Pino no cu dai ce que ele ctiou algo de.novo e nio-& possivel “detivac” dela.a'sua poesia, A elaboragio da epopéia e a is aaa em lirica pela antiga poesia‘eoral, que tomoudo macerial micico 256 A PRIMEIRA GRECIA da poetia épica eo transladou'para'fotmélitiéa, move-se em sen aie 20 dé Pindaro,embord a litiguagem deste the'deva Poderfémes ance fala de urn réssurgimento do esptico hheico da pica ¢ da sua aiténtic glotificagdo Uos eis, na lit- Safo, e esta subiordiniagéo do poeta'a unt ideals comm tina consigtacio quase sacerdotal, de gp deste herofsmo dit Antigiuidade ee gree Es ‘de Pindaro sobre a é:séacia da sua poesia derruma tanh etna sobre ssn Formas A HIS filolégica dos hinos dedicou muita avengio a este problema. ae ‘Wilemowite e a sua geragio abandonaram este taram-se de preferéncia & verificacio da mii ilo. No sentido aidade de forma que ulerapasse a unidade de estilo, No sent dz ume dgidaconsrugto eaquemtsic, €evidense que nfo cise, Mas 6 para além desta simples evidéncia que o problema ganha precisamenté o seu.mais alco interesse. Hoje ninguém pode mais pensar numa entrega genial espontinea aos dtames da fantasia, © inos pindéricos, isto reragfo, na presen da forma total dos hinos pindércos, oi xd ono cons a tendnca das lias _geragies ano se LUTA E TRANSFORMAGAO DA NoBRIZA 21. fixivem 36 na originalidade da sua acte, has também, ead vee ‘mais, no seu elemeinto téenico e profisional. ° Se partimos da conexio irisepardvel entre'o vencedor ¢ 6 Poems, tal como a estabélectmés acima, suingeri-nos diversas Possibilidadies pelas quais a fantasia do' poeta podia aproptias'se do sew objeto. Poidia desvendar as innpressGesreiis da hita ow dat tiglo das corridas ‘de éatros em Delfos. Pfadaro nio parece ter restado’ muita atengio a este aspecto da uta, $6 0 menciona em nals. Pens mais'no préprio esforge da luca qué na aca a manifestagio suprema da areta huinitia: B és ‘que determina a forma dos éeus poemas. © ‘que mais’ ‘Por consaguinte, cer plena consciéncia deta convicgio, ‘mésmo para o posta grego, ¢ apesic’ segras do género, a formna da dua ineuiézo ‘anilise, a raiz da sua forma pessoal de exposigio, ~ Seed a propria consciéncia poética de Pindaro 0 nosso ime- thot guia. Sente-se Ermulo dos esculecces e ds arquitetos © € es. fora deles que muivas vezes vai buscar as suas metifoias, Recor.

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