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OCLUSÃO

Aplicabilidade na dentística

• As forças oclusais verticais agindo sobre os


DEFINIÇÃO
dentes posteriores devem ser maiores do que
A oclusão é o relacionamento estático e dinâmico entre aquelas que agem sobre os dentes anteriores;
os componentes do sistema estomatognático. Estuda o • As resultantes das forças oclusais devem agir
relacionamento entre as superfícies oclusais dos dentes perpendicularmente ao plano oclusal.
superiores e inferiores. Tal relacionamento entre dentes • Presença de uma guia anterior bem-definida.
depende das estruturas que compões o sistema • Em todos os movimentos mandibulares deve
mastigatório. O tratamento restaurador deve haver, através da guia anteriores, a desoclusão
proporcionar ao paciente a harmonia oclusal. de todos os dentes posteriores, em protusão,
→ PATOLOGIA OCLUSAL: deformação ou distúrbio de trabalho e balanceio.
funcionamento de qualquer estrutura no sistema
mastigatório.
BIODINÂMICA DA OCLUSÃO IDEAL
→ OCLUSÃO IDEAL: é a saúde sustentável em todo o Deve envolver avaliação da anatomia, fisiologia e
sistema mastigatório, meta final. biomecânica da ATM.
A articulação temporomandibular possui um disco
OCLUSÃO IDEAL articular interposto entre duas superfícies articulares
É considerada ideal quando restabelece a estabilidade com grande liberdade de movimentos entre as
estrutural entre osso, dentes, músculo, tecido mole e superfícies ósseas. Os ligamentos e os demais
ATM, por meio da distribuição harmônica das forças, e componentes da articulação podem ser afetados por
quando propicia harmonia funcional, não culminando desvio. Dessa forma, é possível entender o que uma
em patologia aos tecidos bucais. As características da interferência oclusal pode gerar nos componentes do
oclusão ideal são: sistema mastigatório. A continuidade de funcionamento
nas condições de desvio gera hiperatividade porque
• Contatos bilaterais simultâneos na posição final
essa dinâmica não permite que a musculatura possa
de fechamento de todos os dentes posteriores;
completar seu ciclo completo de relaxamento e
• Movimentos excursivos da mandíbula, realizados
contração. Assim, é clara a importância do
pelos dentes anteriores (protrusão) – guia incisal
relacionamento entre dentes, ATM, musculatura e
eficiente, capaz de desocluir todos os dentes
padrões funcionais do movimento mandibular. Se esse
posteriores;
conjunto não é observado, é possível que danos ao
• No lado de trabalho, realização da desoclusão
sistema estomatognático sejam provocados e resultem
pelos caninos com relações de trespasse
em disfunção temporomandibular
horizontal e vertical adequadas;
• No lado de balanceio nenhum contato posterior
deve ser observado;
• A resultante da força oclusal deve ser dissipada
o mais próximo do longo eixo dos dentes,
propiciando equilíbrio entre dente, osso alveolar
e estruturas periodontais;
• Coincidência entre a relação cêntrica (RC) e
máxima intercuspidação habitual (MIH),
originando a posição de relação de oclusão
cêntrica (ROC).
→ CRITÉRIOS E PRINCÍPIOS DE OCLUSÃO IDEAL: estão
relacionados com as forças oclusais, são eles:
• A distribuição das forças oclusais no arco dental
deve ser simétrica bilateralmente;
→ Entender que as relações oclusais englobam as
posições e os movimentos mandibulares;
→ As restaurações em dentes posteriores devem
oferecer uma oclusão em harmonia com as
relações maxilomandibulares do paciente.
→ São necessários um preciso diagnóstico e um
plano de tratamento apropriado, além de
considerar a existência de fatores genéticos;
→ Um dente restaurado deve fornecer
estabilidade aos dentes adjacentes e
oponentes, evitando migrações ou extrusões –
PRINCÍPIOS DE OCLUSÃO E DENTÍSTICA em posição de fechamento, o dente restaurado
não deve tocar de maneira mais intensa ou
A superfície oclusal dos dentes comumente pode ser interferir no fechamento dos outros dentes.
alterada em decorrência de lesões de cáries ou fraturas. → Deve direcionar as forças oclusais
É impossível realizar um procedimento restaurador sem paralelamente ao longo do eixo do dente.
influenciar a condição oclusal do paciente. As técnicas
→ Antes de restaurar um dente, é importante
aplicadas desde o preparo de um dente destruído até a
examinar as condições oclusais do paciente.
sua completa restauração, deve respeitar esses
→ Quando diagnosticada a ausência de
princípios para garantir o sucesso e a longevidade da
disfunções, pode fazer a restauração na
recuperação do dente.
posição condilar de intercuspidação máxima
→ OCLUSÃO MUTUAMENTE PROTEGIDA: é fundamental do paciente (Oclusão Cêntrica (OC).
para prevenção das patologias estritamente → Restabelecer contatos estáveis com a
relacionadas com a oclusão uma vez que protegem restauração para evitar uma instabilidade
os anteriores de qualquer contato na posição oclusal.
estática da mandíbula e, da mesma maneira, os
dentes anteriores protegem os posteriores nos RELAÇÃOES OCLUSAIS
movimentos excursivos da mandíbula.
A relação oclusal entre maxila e mandíbula pode ser
CONSIDERAÇÕES OCLUSAIS NA TÉCNICA analisada por meio da relação de abertura e
RESTAURADORA fechamento bucal, e pela observação da relação de
oposição dente a dente nos movimentos de
As restaurações devem ser esculpidas dentro de padrões deslizamento. Assim, o relacionamento interoclusal pode
oclusais, permitindo contatos suaves e simultâneos ser estático ou dinâmico.
entre os dentes opostos; portanto a localização e a
→ OCLUSÃO ESTÁTICA: é definida como a ocorrência de
extensão da escultura devem obedecer a critérios de
contatos dentários sem o movimento mandibular, ou
oclusão. A análise visual clínica dos contatos oclusais,
seja, é toda a posição livre de movimentação.
dente a dente, é um importante fator indicativo das
→ OCLUSÃO DINÂMICA: descreve todos os contatos
correções necessárias para o estabelecimento da
dentais que ocorrem quando a mandíbula está
oclusão ideal. Esses procedimentos às vezes são
realizando movimentos excursivos
multidisciplinares e podem ser denominados como
“nivelamento oclusal”. POSIÇÕES MANDIBULARES
→ É necessário restabelecer uma harmonia de
oclusão ao paciente; A cinemática mandibular depende da saúde de
músculos, ligamentos e de como os dentes de ambos os
→ São necessários conhecimentos sobre os
arcos se relacionam. Determinadas posições e certos
princípios oclusais – presença de padrão
movimentos mandibulares servem para que esta possa
oclusal adequado facilita e orienta os
ser executada de forma a consolidar o funcionamento
procedimentos restauradores. No entanto, um
fisiológicos do sistema.
padrão oclusal patológico requer o
restabelecimento da normalidade; → RELAÇÃO CÊNTRICA (RC): diz respeito a posição de
repouso dos côndilos na cavidade glenóide apoiada
pelo disco articular e estabilizados pelos músculos e
ligamentos. Nessa posição os côndilos estão
ocupando a posição mais superior e anterior da
fossa mandibular. Essa relação não está
vinculada à presença ou não de dentes.

→ DIMENSÃO VERTICAL: determinada arbitrariamente


a partir de dois pontos anatômicos de referência,
um localizado acima e outro abaixo do mento. A
dimensão vertical deve ser restabelecida, quando
necessário, em situações como: mordida aberta
anterior (perda dos dentes posteriores), superfícies
oclusais desgastadas, uso de próteses totais por
longos períodos.

→ MÁXIMA INTERCUSPIDAÇÃO HABITUAL (MIH): ou


oclusão cêntrica, é uma posição mandibular
decorrente da relação entre os dentes dos dois
arcos e é onde ocorre o maior número de contatos
dentários. É uma posição de acomodação
decorrente de interferências oclusais que desviam a
mandíbula para lateral e/ou anterior. A ocorrência • Dimensão vertical de repouso: corresponde à
dessa posição pode ocorrer, inclusive, devido à altura do terço inferior da face, em que os tônus
impossibilidade de os côndilos assumirem seu dos músculos elevadores e abaixadores
posicionamento correto dentro da fossa encontram-se em equilíbrio, com os lábios se
mandibular. Por ser uma posição dentária, é muito tocando levemente, havendo dentes ou não.
variável.

• Dimensão vertical de oclusão: ocorre quando


os músculos elevadores da mandíbula se
encontram contraídos em sua máxima força. Se
refere à posição vertical da mandíbula em
relação à maxila quando os dentes superiores e
inferiores estão em contato.

→ RELAÇÃO DE OCLUSÃO CÊNTRICA (ROC): é uma


posição na qual há coincidência da relação cêntrica
(côndilos na cavidade glenóide) e da MIH (contatos
dentários). Nessa posição, há harmonia do sistema
estomatognático.
• Espaço Funcional Livre (EFL): diferença entre
DVR e a DVO. Este espaço é significativo para a
fonética do paciente.
MOVIMENTOS MANDIBULARES
Os movimentos mandibulares são classificados em:
• Bordejante: quando a mandíbula desloca-se da
posição de intercuspidação máxima para a
posição de retrusão máxima. → FUNÇÃO EM GRUPO: na ausência da guia canina,
recomenda-se a função em grupo. Chama-se função
• Intrabordejante: quando é executado dentro
em grupo quando, no lado de trabalho, pelo menos
dos limites bordejantes da mandíbula e não exige
dois dentes posteriores, preferencialmente pré-
ação máxima dos componentes do sistema
molares, e o canino fazem contato. Nesse movimento
mastigatório.
mandibular lateral, ocorre o deslizamento das
Esses movimentos são subdivididos em contactantes e
vertentes lisas das cúspides vestibulares dos dentes
não contactantes, pois a mandíbula pode executá-los
inferiores contra as vertentes triturantes das
com ou sem contato dentário.
cúspides vestibulares dos dentes superiores em mais
→ GUIA INCISAL: estabelece a guia anterior junto com de uma cúspide.
a guia canina. Tem fundamental importância no
restabelecimento de um padrão oclusal adequado,
uma vez que os dentes anteriores têm a função de
proteger os dentes posteriores nos movimentos
excursivos da mandíbula. Está ligada à combinação
de trespasse vertical e horizontal dos dentes
anteriores e pode afetar a morfologia da face
oclusal dos dentes posteriores.
Caso apenas um dente
posterior faça contato no
lado de trabalho, não será
mais denominado de função
em grupo, e sim de
interferência em trabalho.

→ PROTUSÃO: a borda dos incisivos inferiores desliza


→ GUIA CANINA: componente lateral da guia anterior. na concavidade palatina dos incisivos superiores
Ocorre quando se dá o movimento mandibular finalizando o movimento em topo. Esse deslizamento
lateral com desoclusão de deslizamento em uma é determinado pela guia incisal. No movimento
única cúspide, do canino inferior sobre a protrusivo também ocorre o deslizamento dos
concavidade palatina do canino superior, e a côndilos sobre as eminências articulares. Nesse
liberação de todos os dentes posteriores e movimento mandibular, os dentes anteriores
anteriores do lado de balanceio e de trabalho, com promovem a desoclusão dos posteriores.
exceção do canino. Reduz a extensão e o tempo de
contato dos dentes posteriores, comparada com a
função em grupo. Assim, o desgaste natural dos
dentes será menor.

→ LADO DE TRABALHO: aquele para o qual a mandíbula


está se movimentando. Nesse movimento, ocorre o
deslocamento horizontal da mandíbula para fora, • Closure stoppers: entre a cúspide e a fossa (nas
com deslizamento das vertentes lisas das cúspides vertentes, no perímetro da fossa), dessa forma
vestibulares inferiores sobre as vertentes não serão geradas forças patológicas sobre os
triturantes das cúspides vestibulares dos dentes elementos dentários e movimentação dental.
superiores. A desoclusão no lado de trabalho pode
ocorrer a partir da guia canina ou da função em
grupo.
→ LADO DE BALANCEIO: denomina a movimentação de
deslocamento horizontal da mandíbula que se opõe
ao lado de trabalho. Não deve haver contato dos
dentes posteriores no lado de balanceio para que
não ocorra maior atividade muscular na região.
CONTATOS OCLUSAIS
→ SENTIDO VESTIBULOLINGUAL: os pontos A (VEVI x FATORES DE OCLUSÃO E CARACTERÍSTICAS
VIVS) e C (VEPS x VILI), em decorrência da DO PLANO OCLUSAL
localização topográfica, dão origem a forças que
podem resultar em movimento vestibular do dente Durante os movimentos mandibulares, diversos fatores
superior, deslocamento lingual do inferior, ou podem influenciar a natureza dos contatos dentários
deflexão mandibular. O ponto B (VIVI x VIPS) posteriores, especialmente o plano oclusal. O plano
introduz forças que podem resultar em movimento oclusal é definido como “um plano imaginário que passa
lingual dos dentes superiores, vestibular dos pelas bordas incisais dos incisivos centrais inferiores e
inferiores ou deflexão mandibular. Para que haja a ponta da cúspide disto-vestibular dos segundos
equilíbrio e distribuição adequada das forças, os molares inferiores”. O plano oclusal basicamente é
importantes pontos B devem estar presentes, a fim constituído pelas curvas de compensação, uma
de anular aquelas exercidas pelos contatos A e C. anteroposterior, chamada curva de Spee e uma látero-
lateral, chamada curva de Wilson:
→ CURVA DE SPEE: curvatura das superfícies oclusais,
começando na ponta do canino inferior, seguindo
pela ponta das cúspides dos pré-molares e molares
até encontrar a borda superior do ramo da
mandíbula.

→ SENTIDO MESIODISTAL: é possível observar o


princípio de equilíbrio por meio de três pontos. → CURVA DE WILSON: curvatura no plano frontal, de
vestibular para lingual, que passa pelas cúspides
• Equalizers: relação que se estabelece entre uma
vestibulares e linguais dos dentes posteriores
cúspide e a fossa do dente antagonista, em que
bilaterais à arcada dentária; é côncava na arcada
apenas suas vertentes se tocam em três pontos,
inferior e convexa na superior, resultando das
sem que a ponta da cúspide alcance o fundo da
inclinações axiais dos dentes posteriores. Ela resulta
fossa. O contato do dente com seu antagonista
da inclinação interna dos dentes posteriores
deve ser um contato de três pontos;
inferiores, caracterizando-se por ter as cúspides
linguais inferiores mais baixas do que as cúspides
vestibulares na mandíbula. Na arcada superior, as
cúspides vestibulares são mais altas do que as
palatinas, devido à inclinação externa dos dentes
posteriores superiores.

INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS


MORFOFUNCIONAIS DA ANATOMIA DENTAL
NAS DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES
As interferências oclusais originadas por escultura
INTERFERÊNCIAS OCLUSAIS: inapropriada ou problemas posicionais dos dentes
aumentam consideravelmente a atividade muscular,
→ INTERFERÊNCIA EM PROTUSÃO: o contato entre
elevando a magnitude e a frequência das contrações
dentes posteriores nos movimentos protrusivos é
musculares da mandíbula. Se o paciente sofrer uma
considerado interferência e prejudica a ação
desordem emocional, gerada por estresse, associada a
adequada dos guias anteriores. Os contatos
este desconforto local da restauração, pode
envolvem geralmente cúspides de suporte contra
desenvolver um bruxismo. A pressão anormal sobre os
cúspides de não suporte, sendo óbvia a escolha
dentes, gerada pelo bruxismo ou apertamento dental,
sobre onde desgastar, ou seja, a cúspide de não
pode diminuir os limiares de propriocepção do ligamento
suporte. O ajuste é considerado concluído quando
periodontal, dificultando a ação reflexa protetora.
todas as interferências que prejudicam um
Pequenos desajustes oclusais em função do atrito
movimento suave são removidas.
funcional durante a mastigação, em combinação com a
reposição adaptadora dos dentes, poderiam gerar uma
relação oclusal harmoniosa. É importante garantir que
ao ocluir, os contatos cêntricos, envolvendo as vertentes
internas triturantes, estejam em harmonia com a ATM,
ou seja, nesta posição de fechamento em cêntrica, as
→ INTERFERÊNCIA DO LADO DE BALANCEIO: para forças mastigatórias deveriam ser absorvidas pela
avaliação de interferência no lado de balanceio, é parte central avascular do menisco, contra a parede
necessário, em um primeiro momento, avaliação em posterior do tubérculo articular.
relação cêntrica. Todos os contatos de balanceio
ENCERAMENTO DENTAL
devem ser removidos. O desgaste inicia-se no arco
superior. Por exemplo: contato prematuro no lado As desarmonias oclusais podem desencadear mudanças
de balanceio envolvendo cúspides de suporte dos no sistema estomatognático, na tentativa de acomodá-
dentes superiores e inferiores. las. É necessário fazer uma profunda análise oclusal e
estabelecer um minucioso plano de tratamento,
considerando o efeito da morfologia oclusal na função
mastigatória. Existem duas técnicas básicas:
→ ENCERAMENTO REGRESSIVO: corta-se e remove-se
as superfícies de um bloco de cera até esculpir a
→ INTERFERÊNCIA DO LADO DE TRABALHO: é necessário forma do dente;
observá-lo a partir da MIH, a fim de observar a guia → ENCERAMENTO PROFRESSIVO: caracterizado pela
lateral. O desgaste deverá ser realizado nas adição de cera multicolorida.
cúspides vestibulares dos dentes superiores e TRAUMA DE OCLUSÃO
vertentes linguais dos inferiores.
→ PRIMÁRIO: provoca lesão no periodonto de inserção
ou de sustentação íntegro pela ação de forças
oclusais excessivas, com ausência de doença
periodontal inflamatória. Esta lesão é reversível e
não há perda de inserção periodontal. A correção
pode ser feita eliminando-se a causa, ou seja,
minimizando a força oclusal excessiva, como aquela
que é causada pelo contorno inapropriado da
restauração na face oclusal do dente. Integridade
das estruturas periodontais.

→ SECUNDÁRIO: na presença de doença periodontal ou


inflamação do periodonto de inserção ou
sustentação, quando submetido às forças oclusais,
fisiológicas ou exageradas que lesionem o
periodonto, tem-se um trauma oclusal secundário. É
frequente em pacientes com periodontites
avançadas e dentes com inserções reduzidas. O
contorno das restaurações oclusais e proximais,
nestes casos, exercem papel fundamental no
prognóstico do caso. Comprometimento das
estruturas periodontais.

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