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DAaspP Lu St PR PP > 5.01.09 06-4 "3 Biens caste 23 "en | cams, SP" Bones, 105, ‘.Amsaiede 9 Crten Ponca) 2 cnogien 4, Uepues Sanat’ Sines Semtex ote The indian po oon 1. Nis: Flowate da ngugen 401 [DRETOS RESERLADOS PARAA UNGUA PORTUGUESA: (BU Ceara 4 Ca, a Pann eston Mat Pi roth ae 93h hae Ca 0st oS SmanasisFoe or) 702077" Sto Pao Se Pris areola pura lea aaes 8 ASA a taanle nn PAIXOES A oferenda obliqua Imaginemos um sabio, Especialista na andli- se dos rituais, ele se apropria desta obra,” a'menos ‘Wood ¢ publleada em igits numa obra innlada Derida: 4 Critcal ‘Reade, David Wood (xg, asl Blackwell, Oxford, UK, Cambridge, EUA. ‘A-obra compreendia 12 tnssos, ene ob quals ete, que devel, em [plllo esponder aos cuts. Na vaio anglosaa do Reader e330 onjunto de tababos. fora concebid entretanto, menos. como uma IBuodugto ou comentin, menos ainda come uma homensigem: tat antes, coor oto inca com o espa de uma discuss ec. (Os parilpartes cram Geofey Bennington, Rober Bemascont, che] Haar, lene Harvey, Maated Prank, John iewelyn, Jea-buc Nancy, (Chastopher Nor, Richar! Roy, Joi Sallis, David Wee, Caml se, hoje re pate jsiiendo pb seraneanente, ‘as Bdinont Gale, caves dalsensles, Sau le om (Beat 0 noma) ¢ ‘Khgra.Apesat de tudo que 08 separ, parccem se responder ¢talves 36 ‘scarce no ten de una mesina tinea coafgur, S96 3 ane ‘rel desses tls, sca poste er es ensaios sobre om ome dado cate rin ie Foden go rae dade Gren, ‘eteninla, palecaimis, iptonmla, pseudonimi), porarto, 20 Ame Fecal, Qu mesmo a0 name devo sabre 9 qe aves se doo (ar ou reflen) go nome, 20 name do nome, tao a9 sobrenome quae $0 rome do dewr (dar on reaber), que, ninguém jamais o sabérd, ela the tenha sido oferecida. Em todo caso, ele faz dela coisa sua, acredita reconhecer nela o desenrolar ritualizado de uma ceriménia, ou até mesmo de uma liturgia, e isso se torna um tema para ele, um objeto de | anilise. O rito, por certo, no define um campo. Hi rito por toda parte. Sem ele, nfo hi sociedade, nao hé institui¢ao, no hé hist6ria. Nao importa’ quem possa ser especialista na andlise dos rituais, pois esta no é uma especialidade. Esse sabio, digamos, esse analista também pode ser, por exemplo, um sociélogo, um antropélogo, um historiador, se quiser, um critico de arte ou de literatura, até mesmo um filésofo. Vocé ou eu. Em algum grau, gracas & experiéncia e de modo mais ou menos espontineo, cada um-de n6s pode desempenhar o papel.de-analista ou de critico dos ritos, ninguém est totalmente livre disso. Alias, para desempenhar. um papel ‘nessa obra, para desempenbar um papel'onde quer. que seja, & preciso estar inscrito nia légica do rito &, do mesmo tempo; justamente para proceder bem, para evitar 08 erros e as transgréssdes, set capaz de analisé-la até certo ponto. E preciso compreender suas notmas ¢ interpretar suas regras.de funcionamento: Entre 0 auttor,€ o' analista, seja qual for a distancia, sejam quais forem as diferencas, a fron- teira parece, portanto, incerta. Sempre permedvel. Ela deve mesmo ser transposta num certo ponto para que haja uma andlise-e também para que haja um comportaniénto adequado e normalmente.ri- tualizado. Mas um “leitor critico” (critical reader) obje~ taria, com razo; ‘que nem todas as anilises so equivalentes: ndo haveria uma diferenga essencial entre, de um lado, a anélise daquele ou daquela que, a fim de patticipar comme il faut de'um rito, portanto, deve compreender suas normas, e uma anilise que nfo visa se adequar ao sito, mas aim explicé-lo, “objetiva-lo”, dar conta de seu principio e de seu fim? Mais exatamente, uma diferenga titica? Talvez, mas o que € uma diferenga critica? Pois, afinal, se ele deve analisar, ler, interpretar, 0 participante deve, ele também, manter uma cera posicao critica. E, de certa maneira, “objetivante”. Embora sua atividade muitas vezes se aproxime da passividade, senéo da peixio, 0 participante realiza atos criticos e criteriolégicos: requer-se uma discriminacao atenta por parte de quem, por ‘uma azo ou outta, se torna parte interessada no processo ritual (o agente, o beneficiario, o padre, © sacrificante, o aderecista, até mesmo o excluido, a vitima, 0 vilao, ou o pharmakos, que pode ser 2 propria oferenda, pois a oferenda jamais é uma simples coisa, porém jé um ciscurso, ao menos 2 possibilidade de um discurso, 0 inicio de uma simbolicidade). O participante deve fazer esco- has, distinguir, diferenciar, avaliar. Deve realizar alguma kringin. O proprio “espectador”, aqui o leitor, neste volume ou fora dele, encontra-se nesse sentido na mesma situag4o. Em vez de opor © ctitico 20 nao-critico, em vez de escolher ou decidir entre critico no-critico, a objetividade e seu.contrério, seria preciso, portanto, de um lado, marcat as diferencas entre os criticos e, de outro, situar 0 nfo-critico em um lugar que j& nao seja oponivel, talvez.nem mesmo exterior ao critico. Por certo, 0 critico € 0 no-critico nfo sao idénti- cos, mas talvez permanegam, no fundo, a mesma coisa, Em todo caso, participam disso. Suponhames, portanto, que. esta obra: seja. apresentada (entregue, oferecida, dada) a um leitor-analista preocupado com. a objetividade. Esse analista talvez estefa entre nés: nao importa © destinatério ou o destinador deste livro. Pode- mos imaginar isso sem abrir um crédito ilimitado a tal leitor. Em todo caso, o analista (evidentemen- te, escolho esta palavra pensando no uso que dela faz Poe)’ estaria certo, talvez por imprudéncia, de aqui estar diante do desenrolar codificado, previ- sivel e presctito de uma cerimOnia. Ceriménia seria provavelmetite a palavra mais certa e mais rica para reunir todas as caracteristicas do evento. Portanto, como eu poderia, como vocés poderiam, como nés poderiamos, como eles poderiam nao ser cerimonioso? O que é, exatamente, uma ceriménia? Ora, eis que, na desctigao e na andlise do ritual, em seu deciframento ou, se preferirem, em sua leitura, surgiria de repente uma dificuldade, uma espécie de disfuncdo, outros diriam uma crise, traduza-se: um momento critico. Talvez ele jf estivesse afetando o propria desenrolar do proceso simbélico. Que crise? Ela era previsivel ou imprevisivel? E-se’a crise mencionada fosse concernente ainda ao proprio conceito de crise ou de critica? Os fil6sofos encontram-se reunidos nesta obra segundo procedimentos académicos e edito- Hais que "os sio familiares, Sublinhemos a deter- minagio critica, impossivel posto que aberta, aberta 2 vocds, justamente, por este pronome pessoal: quem. é “nds”, quem somos nés, a0: certo? -Esses filésofos, -universitirios de diferentes paises, so conhecidos.e se conhecem: quase todos'.(aqui deveria seguir-sé-uma descrigao detalhadade cada um deles, de seu tipo e de sua especificidade, de seu grupo sexual — uma Unica mulher —, de-sua nacionalidade, de seu status socioacadémico, de seu passado, de suias publicagdes, de seus interes- ses etc,). Portanto, haviam combinado, pela inicia- tiva de um deles, que:ndo pode ser qualquer um € cujos interesses com certeza nao'sio desinteres- santes, reunir-se e- participar de-um livro cujo niicleo (relativamente: determinado, portanto in- determinado, poder-se-ia'dizer secreto, até certo ponto — e a crise permanece por demasiado aberta para ainda merecer este nome de crise) sera este ou aquele (relativamente determinado etc., 10 relativamente identificavel, em principio, por seu trabalho, suas publicagdes, seu.nome proprio, suas assinaturas, Deixemos “assinaturas” no: plu- ral, pois é imposstvel, de safda,e ilegitimo, se bem que legal, excluir.a multiplicidade delas). Ora, se uma dificnldade critica se apresenta neste caso e, embora ainda. nio.esteja certo, corre o risco de colocar em dificuldade os programas do rito ou de sua anilise, ela no diz respeito necessariamen- te ao contetido, as teses, &s avaliagdes positivas ou negativas, quase sempre sobredeterminadas 20 infinito, em:suma, & qualidade dos discursos de uns e outros, aquilo que traduzem ou. aquilo que fazem de sua relagao com o titulo, com. pretexto ov com 0 objeto do livro. Ela diz respeito ao fato de que se acreditou dever perguntar, propor, oferecer (por razGes que podem ser analisadas) a0 suposto: signatétio dos textos que estio no nticleo do livro (“eu", pois nao?) intervir, como se diz, ‘contribuir", 0 que significa trazer seu tributo, mas fazé-lo livremente,.no livro. Quanto ao grau dessa liberdade, logo mais teremos algo a dizer, a questo € quase toda esta, O editor da obra, chefe de protocolo ou mestre-de-ceriménias, David Wood, ‘havia sugerido que 0 livro fosse aberto aqui mesmo por um texto de algumas paginas que, sem responder de fato a todos os outros, pudesse figurar sob o titulo-significativo de “A oferenda obliqua” (An oblique offering). © qué? De quem? Para quem? (@ seguir). Ora, de repente, dizfamos, o desenrolar do tito corre o risco de nao mais estar conforme com uu sua automaticidade, quer dizer, com a primeira hipétese do analista, H4 uma’ segunda hipétese. Qual? Em um determinado lugar no sistema, um dos elementos do sistema (um “eu”, ainda que nem:sempre, e um “eu” “sem-ceriménia”’, nfo sabe mais 0 que deve fazer. Mais precisamente, sabe que deve fazer coisas contraditérias e incom- pativeis. Contradizendo-se ou contrariando-se a si propria, esta dupla obrigagao corre o risco, con- seqiientemente, de paralisar, de desviar ou de colocar em perigo a'realizacao bem.sucedida da cerim6nia. Mas a hipstese desse risco iria de encontro ou, pelo contratio, ao encontro do desejo dos participantes, supondo-se que no haja mais do que um, que haja‘um tinico desejo comum a todos ou que cada um tenha em si apenas-um desejo nao-contraditério? Pois € possivel imaginar que um ou mais participantes, até, mesmo-o pr6- prio mestre-de-ceriménias deseje, de alguma ma- neira, 0 fracasso da mencionada ceriménia. De maneira mais ou menos secreta, 6bvio, e € por isso que ser preciso que digamoso segredo, que no © revelemos, mas, com. base no exemplo dese. segredo, que nos pronunciemos sobre © segredo em geral. © qué é um segredo? Certamente, mesmo se esta obra no corres- ponder em nada a uma cerim6nia secreta, imagi- na-se que n&o haja cerim6nia, por mais ptiblica e exposta que seja, que nfo gire em torno de um segredo, mesmo se for o segredo de um n&o-se- gredo, ou ento, o que se chama em francés um 12 “segredo de polichinelo”, um segredo que no € segredo para ninguém. Na‘primeira hipstese do analista, a ceriménia se desenrolaria normalmente, conforme o rito; ela atingiria seu fim ao prego de um desvio ou de un suspense, que, além de nfo a ter ameacacio em nada, talvez também a tivesse confirmado, consolidado, aumentado, suavizado ou intensificado por uma expectativa (desejo, primicia de sedugio, prazer preliminar do jogo, preltidio, aquilo que Freud chama Vorlusi). Mas 0 que aconteceria na segunda hipétese? Talvez seja essa a pergunta que, & guisa de resposta ¢ em sinal de infinito reconhecimento, eu mesmo gostaria de fazer, por minha vez e:logo de inicio, a todos os que tiveram a generosidade de contribuir para esta obra. Tanto na amiizade quanto na cortesia, haveria um duplo dever aio seria exatamente evitar, a qualquer prego, 4 linguagem do rito e também a linguagem do dever? A duplicidade, 6 ser-duplo desse dever no se conta como 1+ 1=2,ou1l+ 2, mas, pelo contiario, se aprofunda em abismo infinito. Um gesto “de amizade” ou “de cortesia” no seria nem amigvel nem cortés se obedecesse pura’e simplesmente a uma regra ritual. Mas esse_ dever de fugir & regra da conveniéncia ritualizada pede também um comportamento além da propria linguagem do dever. Nao se deve ser amigo ou cortés por dever. Aventuramo-nos tal proposicio, | provavelmente, contra Kant. Haveria, pois, um ! dever de nao. agir segundo 0 dever em conformi- dade; nem com o dever, diria Kant (pflictmassig), B nem mesmo por dever (aus Pflich#)?:Como um tal ever, um tal contra-dever, nos endividaria? Com | relagao.2 qué? Com relacao a:quem? i Levada a sério, essa hip6tese em forma de | pergunta seria suficiente para provocar vertigem. | Ela faria tremer, poderia também paralisar beira | do abismo, ali onde vocé estaria s6, completamen- | te 86, ou jé requisitado por um corpo a corpo com “outro, um outro que procuraria em vao deté-lo ou precipité-lo no vazio, para, salvé-lo ou para perdé-lo. Supondo-se, voltaremos a isso, que al- guma vez se tenha escolha a esse respeito. Uma vez que jé corremos 0 tisco de no saber mais onde poderia nos levar a evidéncia, ousemios dizer, 0 duplo axioma implicado na hipétese ou na questo pela qual foi preciso, efetivamente comegar. Provavelmente seria gros- seiro parecer fazer um gesto, por exemplo, res- pondendo um convite, porsimplesdever. Tampouco seria amistoso responder a um arhigo por dever. Nao seria melhor responder a um convite ou aum amigo em conformidade com o dever, pflichth- massig (de preferéncia por dever, aus Pflicht, citamos outra vez a Grundlegung zur Metaphysik der Sitten, de Kant, nosso “critical reader’ exem- plar, devedores que somos, como herdeiros, com relagao a0 grande filésofo da critica). De fato, isso somaria & caréncia essencial uma falta a mais: acreditar tornar:se irrepreensivel, 20 jogar com a aparéncia, ali onde faz a intengao. Quanto ao “é preciso” da amizade, assim como ao da cortesia, nao basta dizer que ele ndo deve ser da ordem do 4 dever. Ele nem mesmo deve assuimir @ forma de uma regra, ‘menos ainda de'uma regra ritual. A partir do momento em que se submetesse 2 ne- cessidade de aplicar a um caso a generalidade de um preceito, o gesto de amizade'ou de cortesia destruir-se-ia a si préprio.’Setia vencido, abatido e destrufdo pela rigidez regular da regra, em outras palavras, da norma. Axioma do qual nao se deve deduzir que somente se chega 2 amizade.ou & cortesia (por ‘exemplo respoadendo ao convite, ou mesmo ao pedido ou 4 pergunta de um amigo) transgredindo todas as regras e indo contra todos os deveres. A contra-regra também é uma regra. Um leitor eritico talvez ficasse surpreso 20 ver aqui a amizade e a cortesia regularmente associadas, ambas diferenciadas de uma s6 vez do comportamento ritualizado. Pois aqui a hipétese disia respeito, no caso da cortesia, no caso. da determinagdo aguda desse valor, quer ela esteja ligada ou nao a uma ou a outra tradigio cultural (ocidental ou nao), a0 que tem por injuncio agir além da regra, da norma e, portanto, do rito. A contradigao interna do conceito de cortesia, como de todo conceito normativo que ele exemplificas- se, € que implica a regra e a invengdo sem regra. Sua regra é que se conheca a regra, sem nunca se ater a ela. ¥ falta de cortesia ser apenas cortés, ser cortés por cortesia, Portanto, aqui temos uma regra —e essa regra € recorrente, estrutural, geral, isto 6 singular e exemplar a cada vez — que pede que se aja de maneira a no fazé-lo apenas de acordo 6 com a regra normativa nem mesmo, em virtude da regra mencionada, em respeito a ela. ‘Vamos direto ao assunto:’ trata-se do concei- to de dever, e de saber se, ou até que ponto, pode-se confiar nele, naquilo que ele estrutura na ordem da cultura, da moral, da politica, do direito, até da economia (sobretudo quanto & relagao entre a divida e o dever)’; quer dizer, se e até que ponto pode-se confiar naquilo que o conceito de dever, ordena em todo discurso responsivel sobre a decisao sesponsavel, em todo discurso, toda légi- ca, toda ret6rica' da responsabilidade. Ao falar de discurso responsdvel sobre 2 responsabilidade, j4 implicamos que 0 proprio discurso deve'se sub- meter As normas ou a lei da qual: fala. Essa implicagao parece inelutavel, mas continua des- concertante: qual poderia ser a.responsabilidade, a qualidade ou a virtude da responsabilidade, de um discurso conseqiiente que pretendesse ‘de- monstrar que uma responsabilidade nunca pode- tia ser assumida sem equivoco e sem contradic4o? que a autojustificativa de uma decisio é impossivel e nao poderia, a priori e por razdes estruturais, de maneira alguma responder por si propria? Dissemos: “n'y allons pas par quatre che- ‘mins’ llocugdo francesa quase intraduzivel, que invoca a cruz ou o crucial, 0 cruzamento dos caminhos, 0 quatro e a forquilha da encruzilhada (quadrifurcum) para dizer: procedamos direta- 7 Texpresaio comespondente em francés € Ny allons pas par quatre ‘chemins eset corneriada no pardgrafo segulete pelo aut. QV) 16 mente, sem desvio obliquo, sem artimanha.e sem cAleulo: trata-se do conceito de [...) e de saber se Lu". © que supde uma palavra de ordem tio imperativa? Que se possa e que se-deva abordar de frente um conceito ou um problema de maneira n&o-obliqua. Haveria um conceito ¢'um problema Gisto ou daquilo, do dever, por exemplo, pouco importa por enquanto), isto é, alguma coisa deter minavel por um saber (“trata-se de saber'se”) € que se encontra 4 frente de vocés, af na frente (problema), in front of you; dai a necessidade de, abotdar de frente ou de cara; de modo ao mesmo tempo direto, frontal e -capital, aquilo que se encontra em frente dos olhos, da boca, das mos (e nfo As costas) ce vooés, af'na frente, como um objeto pro-posto ou pré-posto, uma quiesto a ser tratada, um sujeite proposto; portanto, da mesma forma (isto é, entregue, oferecido: em prinefpio se oferece sempre em presenga de, nao é mesmo? em principio). Seguindo a semantica de problema, tratar-se-ia. também de um ob-sujeito adiantado como um quebra-mar ou como © promontério de um cabo, uma arnadura ou-uma vestimenta de protecao. Problema também diz, em certos con- textos, as desculpas apresentadas para se esquivar ou se desculpar, mas ainda uma outra coisa qué aqui talvez nos interessasse mais: por metonimia, por assim dizer, problema pode vir a designar ‘aquele que, como se diz em francés, d4 cobertura, endossando a responsabilidade de um outro ou se fazendo passar pelo outro, falando em nome do outro, aquele que se coloca 3 frente ou atras de ‘quem alguém se dissimula. Estamos pensando 7 aqui na paixio de Filoctetes, em Ulisses, 0 obliquo —e na terceira pessoa’(terstis),. a6 mesmo tempo testemtnha (testis) inocente; ator participante, | mas também atorao.quial se:faz.desempenhar um | papel, instrumento € delegado, agindo:por repre-| sentagéo, a saber,’ crianca problemdticd, Neop- | télemo.? Desse ponto.de vista, a.responsabilidade) seria problemdtica & medida suplementar que’ _poderia sers vezes, talvez mesmo sempre; aquela que’se assume no por si, em seu:préprio nome e ‘frente ao outro (a mais.classica definico metafisi- ‘ca da responsabilidade), mas aquela.que se deve assumir por um outro, no lugar, em nome do outro ‘ou em seu nome como outro, frente. 2. um outro, eum outro do outro, a.saber, 0 inegavel mesmo da ética, “A medida suplementar’, diziamos; mas devemos ir mais longe: medida que a responsa- bilidade -ndo: apenas”.ndo diminui; mas,: pelo contrério, surge numa. estrutura que. também'€ suplementar, “Ela é -sempre. exercida. em meu nome como em nome. do outro; ¢'isso-em nada afeta sua singularidade, .Esta se:toloca.e deve tremer no equivoco.e na inseguranga exemplar desse “como”, Se a experiéncia da responsabilidade no se reduzisse do dever ou da divida; se 0 “fespon- dei" da responsabilidade nao mais se anunciasse em um conceito sobre o qual seria necessario “saber se...";-8e tudo isso desafiasse 0 espaco do problema e voltasse nao apérias do'lado de'ca da forma pro-posicional da resposta como também do lado de cf'da forma "questo" do pensamento 18 ou da linguagem, entao é porque, desse modo, jé no € ou ainda nao.é problematica ou questiona- vel, portanto critica, isto é, dz ordem da decisio judicativa, e nao mais poderfamos, sobretudo ndo deveriamos aborda-la de modo direto, frontal, rojetivo, ov mesmo tético ou temitico. Esse “nio- o-fazer", esse “sobretudo-nio-dever”, que parece se retirar do, problema, do projeto, da questo, do tema, da tese, da critica, absolutamente nao seria uma caréncia faltosa, um enfraquecimento no rigor Iégico ou demonstrativo, muito pelo contré- slo (supondo, alias, que o imperative do rigor, stricto sensu, do mais estrito rigor, esteja ao abrigo de qualquer questao)®, Houvesse caréncia, tanto no qué se refere-A justiga quanto a leitura, ela sobreviria antes do lado em que se quisess¢ fazer ‘comparecer um certo “ndo-c-fazer”, “sobretudo- néo-dever-fazé-lo” perante algum tribunal filosé- fico ou moral, isto é, perante uma instancia 20 mesmo tempo critica e juridica. Exigir mais fron- talidade, mais tese ou mais tematizaglo, supor que aqui se tenha a medida, nada parece 20 mesmo tempo mais violento e mais ingénuo. Como esco-. Iher entre a économia ou a discrigao da elipse & qual se credita uma escritura, 2 uma a-tematicida- de, uma explicitagao insuficientemente temética, da qual se cré poder acusar um filésofo? 9 1 Em vez de abordar a questo ou 0 problema de frente, de modo direto, sem.rodeios, 0 que provavelmente seria impossivel, inapropriado ou ilegitimo, deverfamos proceder, obliquamente? J4 © fiz muitas vezes, chegando a reivindicar a obli- qiiidade pelo nome,’ confessando-o mesmo, al- guns pensariam, como uma falta a0 dever, uma vez que se associa com freqiiéncia a figura do obliquo & falta de franqueza ou de retidao. £ provavel que tenha sido pensando nessa fatalida- de, uma tradi¢io do obliquo na qual de algum modo estou inscrito, que, para me convidar, me encorajar ou me obrigar a participar deste volume, | David Wood me propés intitular estas poucas paginas de “A oferenda obliqua” (An oblique offering). Ele até ja havia impresso o titulo anteci- padamente. no. projeto da Table of Contents do manuserito geral, antes que eu tivesse escrito uma | linha deste texto.* a Saber-se-4 algum dia se esta “oferenda” é a minha ou a dele? Quem assurne essa responsabilidade? A questao é tio séria e intratavel’ quanto a responsabilidade pelo nome dado ou pelo nome usado, pelo nome que se recebe, ov pelo nome que se dé. Perfilam-se aqui os paradoxos infinitos daquilo que se chama com tanta tranqiiilidade de narcisismo: supde que X, alguma coisa ou alguém (um rastro, uma obra, uma instituigéo, uma crian- ca), use o teu nome, isto é, 0 teu titulo. Tradugio ingénua ou fantasma comum: deste teu nome a X, portanto tudo aquilo que retorna 2 X, de modo direto ou indireto, em linha direta ou obliqua, retorna a ti, como um-beneficio para’ teu narci- sismo. Mas como ndo és tetr'nome nem teu titulo e que, como:0 nomie’ou 0 titulo, X passa mito bem semi ti, e sem tua vida, a saber, sem'o local para onde alguma coisa pudesse retornar,’ como af estio a definigao e a propria possibilidade de ‘qualquer rasiro, de qualquer nome e de qualquer titulo, teu narcisismo fica frustrado @ priori quanto aquilo de que ele se beneficia ou espera se beneficiar, Inversamente, supde que X recuse teu nome ou'teu titulo; supSe que, por uma razéo qualquer, X selivre dele e escolha para sium outro nome, fazendo uma espécie de desmame reitera- do do ‘desmame original; entao, teu narcisismo, 7 Girone, se farkgn, pelo uso cloqul do promote possessive esa patos So ang, pe Shar peste lg, provenidae fo uso do proncie postive na terra esos do Engler OU) 2 duplamente. ferido,'ficasd:por isso! mesmo:ainda mais enriquecido:.aquele que-usa, usou, ou tera usado teu.nome parece bastante livre, poderoso, criador e auténomo para viver $6 e radicalmente passar bem sem tie sem teu nome. Retorna a teu nome, no mais secreto de teu nome, poder desa- parecer, em teu nome. E, portanto, nao voltar asi, © que €-a coridigio do dom (por exemplo, do nome) como também de toda expansio de si, de toda elevagio de si, de toda auctoritas. Nos dois casos dessa mesnia paixio dividida, € impossivel. dissociar o maior beneficio ¢ a maior privagio. Conseqiientemente, € impossivel construir um conceito nio-contraditério ou coerente do narci- sismo, e, portanto, dar um sentido unfvoco ao eu. £ impossivel falé-lo ou agi-lo, como “eu” e, segun- do a-expressio de Baudelaire, “sem-ceriménia”. © segredo do arco ou da corda instrumental (newra) conforme Filoctetes, conforme a paixiio segundo Filoctetes: a crianga.€ 0 problema, sempre, eis a verdade. Refletindio bem, °o oblique nao parece ser a melhor figura para todos 'os procedimentos que tentei qualificar assim. Sempre me sent! pouco & vontade com relagio a essa palavra que utilizei, porém, com tanta’freqiiéncia. Mesmo se o fiz de maneira sobretudo negativa, antes para romper do que para’ prescrever, para evitar ou dizer que se deveria evitar,'e com a qual, aliés, no se poderia deixar de evitar © enfrentamento ou o confronto direto, 2 abordagem imediata. Portanto, confissio ou autocritica: dever-se-ia somrir 4 hipétese da mais hiperh6lica hybris, a saber, a hipdtese de que-esse “leitor eritico® (critical reader) seria,em suma, um “leitor autocritico" (autocritical reader) (critica de si, mas critica de quem,’ a0 certo? A quem o refletido remeterie aqui?), um leitor que se porta € se transporta’ por si’ mesmo, sobretudo jé nao precisando de.‘mim” para isso, de um'eu que, ele Prprio, j4 no precisaria de ninguém para fazer todas as perguntas ou todas.as. objegées criticas que se queira. (Aliés, ria sintaxe de “K: um leitor critico”, sempre serd dificil saber quem € 6 leitor de quem, quem é o sujeito, quem é 0 texto, quem € 0 objeto, e quem oferece o que — ou quem — a quem.) Hoje, o que seria -preciso criticar no obliquo. € provavelmente a figura geométrica, 0 compromisso ainda mantido com a primitividade do plano, da linha, ‘do’ Angulo, ‘da diagonal e, portanto, do Angulo reto entre a vertical e a horizontal. © obliquo permanece comio.a escolha de uma estratégit ainda frustrada, obrigada a cuidar do mais urgente, um célculo geométrico para desviar o quanto antes tanto a abordagem frontal quanto @ finha reta: 0 caminho suposta- mente mais curto de um ponto.a outro, Até sob sua forma ret6rica e nessa figura de figura que se chama a oratio obliqua, esse deslocamento parece ainda muito direto, linear, econdmico,.em suma, em conivéncia com 0 arco diagonal. (Alusio late- ral ao fato de que-um arco As vezes est. estendido e também a paixio de Filoctetes; dizer que um. arco est’ estendido pode significar, conforme 0 contexto, que sua corda esté esticada e pronta para propulsar a arma, a saber, a flecha mortifera, ou ry9 que ele: é oferecido, dado, entregue,. enviado; handed on, over to). Portanto, esquegamos 0 obli- quo. Seria uma maneira de nao responder ao convite ‘de David: Wood € de totlos os que ele representa aqui? Eu deveria responder-lhe? Va saber. O que € um convite? © que é responder 2 um convite? Isso representa o que, para quem? Um. convite deixa livre, sem o que se torna obrigacao. Nunca deveria subentender: vocé tem obrigagio de vir, vocé deve, é-preciso..Mas 0 convite deve ser insistente, no indiferente. Nunca deveria su- bentender: vocé tem 2 liberdade de nio vir e se nfo vier, azar, nao importa. Sem a pressio de um certo desejo — que ao mesmo tempo diz “venha” € deixa a0 outro, contudo, sua liberdade absoluta —, o.convite imediatamente volta atrds e se torna inospitaleiro. Portanto, ele deve desdobrar-se € se redobrar ao mesmo tempo, ao mesmo tempo deixar livre e tomar.como-refém: goipe duplo, golpe redobrado.’£ possivél ‘um convite? Acaba- mos de vislumbrar as condigdes em que ele existiria, caso exista, e mesmo que exista; alguma vez se apresenta de fato como tal, atualmente? Aquilo que vislumbramos do convite (etaii- bém do apelo em geral) aciona de um s6 "golpe” a l6gica da resposta, da resposta ao ccnvite e da scsposta simplesmente. Aquele que meditar sobre a nécessidade, a genealogia e, portanto, também sobre os limites do conceito de responsabilidade niio pode deixar de se perguntar, a um dado momento, o que quer dizer “responder” e “respon- siveness’, palavra preciosa para‘a qual nfio.encon- tro‘um equivalente preciso’em francés: E de se perguntar se “responder” tem um opdsto que consistiria, dando crédito a9-senso comum, em nao responder, & poss‘vel umia decisdo a respeito do “responder” e da “responsiveness”? Hoje, em muitos lugares, pode-se presenciar. um esfor¢o simpatico.¢ inquietante.e ‘dele: partici- pati para restaurar a: moral.e sobretudo: para tranqiilizar 0s que tinham sérios motivos' para se inquietar 2 esse respeito.: Certos. espititos, .que acreditaram ter reconhecido-em'“A” Desconstru- 40, como se houvesse uma e-uma tinica, uma forma moderna de imoralidade, de amoralidade ou de isresponsabilidade (etc.: discurso demasia- damente conhecido, gasto,, mas que nao acaba, no insistamos), outros, mais sérios, menos apres- sados, com’melhor disposicio: para com:A Dita Desconstrugao, pretendem ‘hoje 0: contrario. Eles: desvendam sinais encorajantes ¢. cada vez: mais numerosos (as vezes, devo confessar, em alguns textos meus) que seriam testemunhas de uma atengo permanente, extrema, direta ou obliqua, em todo caso cada vez mais intensa, com relaglo a essas coisas que se cré poder identificar sob os belos nomes de “ética", “moral”, “resporisabilida- de”, “sujéito” ete. Antes de voltar’’ nao-resposta, seria preciso declarar, ca maneira mais direta, que, se 0 senso do dever e da responsabilidade fosse respeitado, ele ordenaria 0 rompimento com esses dois moralismos, com essas duas restauragdes da moral, incluindo af, portanto, 2 re-moralizacao da 26 desconstrugio, que parece naturelmente mais.ten- tadora do que aquilo a que ela justamente se opde, mas que. corre o:risco, a cada instante, de se tranqitilizar para tranqiillizar 0 outro, 'e de obse- quiar.o.consenso com um-nove sono dogmitico. E que ninguém se-apresse’a dizer que € em nome de uma responsabilidade -mais alia e de uma exigéncia. moral mais intrativel que se declara o pouco gosto, por.desigual que-seja, em relacao a esses dois moralismos, Provavelmente, é sempre com base na afirmagio de.um certo excesso que se pode pressentir 2 imoralidade bem conhecida, até-a hipocrisia recusativa.dos moralismos, mas nada permite garantir que.os melhores nomes ou as figuras mais justas para essa a‘irmacdo sejam a ética, 4 moral, a politica, a responsabilidade, 0 sujeito. Alids, séria moral e responsavel agir mo- ralmente porque se tem o senso justamenite (subli- nhemos também esta palavra) do dever e da responsabilidade? £ evidente que nao, isso seria facil demais e, justamente, natural, programado pela natureza: € pouco mioral ser moral (respon- sivel etc.) pordue se tem’o senso da moral, da eminéncia da lei etc. (problema bem conhecido do “respeito” pela lei moral, eld propria “causa” do respeito no sentido kantiano, cujo interesse todo reside no Baradoxo inquietante, gravado no cere de uma’ moral incapaz de dar conta da inscrigo, jistamente, num afeto (GefiihD ou numa sénsibilidade, daquilo que nao deve estar af ins- crito, ou’ que deve apenas imper'o sactificio de tudo 0 que obedeceria somente a essa inclinagio sensivel; sabe-se que 0 sactificio e a oferenda 27 sacrificial esto no cétneé da moral kantiana, sob seu nome (Opferung, Aufopferuing); cf., por exem- plo, A critica da razao pratica, L. I, capitulo 1110 sactificavel af pertence semore & ofdem do motive sensivel, do interesse secretamente “patolégico”, que, diz Kant, & preciso “humilhar” diante da lei moral; esse conceit da oferenda sacrificial, por- tanto do sacrificio em geral, supde todo o aparato das distingGes “criticas” do kantismo: senstvel/in- teligivel, passividade/espontaneidade, intuitus deri- vativus/intuitus originarius etc; dé-se 0° mesmo. com 0 Conceito de paixéo; 0 que se procura aqui, a paixlio segundo Derrida, seria um conceito’ nao. “patolégico”, no sentido kantiano, da paixio). Portanto, tudo isso ainda continua aberto, suspenso, indeciso, question4vél até mesmo para além da questio, ¢ na verdade, para usar outra figura, absolutamente aporético. O que é a etici: dade da ética?'a moralidade da moral? O que 6 a responsabilidade? O que € 0 “o'que €?” neste caso? etc, Essas questOes s%io sempre urgentes. De certa maneira, devem continuar urgentes ¢ sem respos- ta, em todo caso sem resposta geral e regulamen- tada, sem resposta, a nao ser aquéla que se liga singularmente, a cada vez, a0 evento de uma decis%o sem regra e sem vontade, no curso de uma nova prova do indecidivel. Que ninguém se apres- sea dizer que essas quest0és ou essas proposigoes 4 esto inspiradas por uma preocupagao que se pode, com justiga, chamar de ética, moral, respon- No eiginal, la paston soon iat (N) sfvel etc. Por'certo; ao assim falar ('Que ninguém .”), esté-se dando armas. aos fun- cionérios da antidesconstrugao, mas, ‘afinal de contas, nio'é preferivel& constituigso de uma euforia consensual. oy, pior ainda, de uma comu- nidade de desconstrucionistas tranqilizadores, tran- hilizados, reconciliados com o mundo na certeza ética, na boa consciéncia, na satisfagao do servigo prestado e na consciéncia do dever cumprido.(ou, com heroismo.ainda maior, a cumprir? A nfo-tésposta, portanto, Evidentemente, sein- pre sera possivel dizer, e com razdo, que a nao- resposta éuma resposta, Tem-se sempre, dever-se-ia ter sempre 0 direito dé nao responder, e essa liberdade faz parte da prépria responsabilidade, isto €, da liberdade que se acredita dever sempre associar a ela. Deve-se ter sempre a liberdade de aio responder a.um apelo ou a um convite — faz bem lembrar isso, lembrar-se da esséncia dessa liberdade, Aqueles que pensam que a responsabi- lidade ou © senso de’ responsabilidade seja algo bom, uma virtude primeira, até mesmo o préprio Bem esto convencidos, no entanto, de que € preciso responder sempre (por si, a0.outro, pe- rante 0 outro e perante a lei) e de que, aliés, uma. nflo-resposta € sempre uma modalidade determi- nada no espaco aberto por uma responsebilidade Jinelutdyel. Portanto, nada mais haveria a dizer | sobre a nfo-resposta? Sobre ela ou a seu respeito, | sendo.em seu favor? | Apressemos o paso e, para tentar convencer | mais depressa, tomemos um exemplo, quer seja 2» vélido ou ndo, perante a'lei. Qual:exemplo? Este aqui: Com certeza, quando digo este exemplo, jé digo mais e outra:coisa, digo-algumia coisa que’ ultrapassa.o tode ti, o este do-exemplo: O proprio} exemplo, enquanto tal, ultrapassa tanto-sua singus laridade quanto sua identidade:£ por isso que nag h4 exemplo justamente quando ‘houver' apenas isso, 6. provavel..que’ jé tenha' insistido demais _nisso, tomando exemplos diversos. Evidentemen- te, a exemplaridade‘do exemplo nunca é a exem- plaridade do exemplo. Jamais teremos a certeza de pér fim a éssa velhissima brincadira de crianga a qual se pegam todos os discursos, filoséficos ou nlc, que alguma vez interessaram 3s desconsiru- gdes, nem mesmo através da ficcAo performativa que consiste em dizer, relangando'o jogo: “tome- ‘mos exatamente este exemplo”. Por exemplo,/se respond. ao convite ‘que me foi feito para responder 0s textos aqui reuni- dos.e que me'dao-a honra-ou on obséquio: de mostrar interésse por algumas de:minhas publica- Ges anteriores, nao irei acumular as faltas.e me conduzir, portanto, de maneira irresponsavel, as- sumindo as més responsabilidades? Que faltas? 1.__Inicialmente, confirmar uma situagao, subs- crévé-la e fazer como se me encontrasse & vontade mim lugar tio estianho, como se fo findo'eu considerasse normal ou na- tural tomar a palavra aqui, como se.esti- véssemos & mesa, no meio de 12 pessoas » que, em‘suma, falam*de:“mim”. ou se dirigem.a “mim’y:"Bu’, que; 20 mesmo 30 tempo; sou 0: décimo segundo, enquanto faco parte: do grupo,:.um/dentre outros, mas. também, j4, assim: redobrado ou desdobrado, 0: décimo terceiro, enquan- to nfo sou!.um-exemplo dentre outros na série dos:-12, 0” que .eu :pareceria_se pretendesse responder-a todos estes ho- meris €.a esta mulher 20 mesmo tempo, se pretendesse comecar por-responder, negligenciando; assim, 2 estratégia to sébia .tdo ‘singular, téo: generosa e tho pouco complacente: ao mesmo tempo, to sobredeterminada, de cada um dos It'ou:12 discursos?:Ao falar por tiltimo, ‘20: mesmo tempo como -conclusAo © introdugao;:ndo vou corter o zisco insen- sato nem, tomar.a:atitude odiosa que consistitia em tratar todos estes pensaclo- res como disefpulos, ou mesmo apésto- los, dentre os quais alguns seriam meus ‘preferidos, ¢, outros, malvados traidores ‘em potencial? Quem seria Judas aqui? C _que deve fazer alguém que nao quer ser ‘@ que sabe nao ser (mas como ter certeze dessas coisas € como se subtrair a essas matrizes?) nem um, apéstolo (apostolos, um enviado de Deus) nem Jesus nem Judas? Pois, ao contar O niimero dos participantes reunidos, exatamente 12 (ainda se espera alguém?), e depois 20 notar as palavzas "oblique offering’ ¢ “paixdio”. na, carta, yelo-me um pouco tarde a divida de que David Wood talvez 2 32 fosse-o encenador perverso de um mis- tério—e de que a“ oblique offering”, que nifo era:menos sua do:que minha, tinha de fato um sabor irdnica e sarcasticamen- te eucaristico (nenhum vegetariano — conhego pelo-menos dois entre os con- vivas. — nunca. poderia romper com 0 cardter sublime do canibalismo mistico): © “este 6 meu corpo, ele vos € dado, guardai-o em meméria de mim” n&o € 0 dom mais obliquo? Nao é 0 que comentei durante 0 ano,.em Glas ou em seminé- ros recentes, sobre 0.“comer-o-outro” € a “ret6rica do canibalismo”? Razes.em demasia para n3o responder. Isto nao é uma Ceia,'¢ a amizade irénica que nos reGne consiste em sabé-lo, mesmo olhan- do de soslaio, com um “squinty eye’, para o canibalismo enlutado. Se eu tespondesse dé fato, estaria colo- cando-me na situagio'de alguém que se sente capaz de résponder, ele tem res- posta para tudo, pretende estar em con- digdes de responder a todos, a todas as quest6es, toda objecao ou critica; nao percebe: que ‘cada um dos textos aqui reunidos tem 2 propria forca, a propria logica, a propria estratégia singular, que seria preciso reler tudo, reconstituir a obra e 0 trajeto, os motives € os argu- mentos de cada um, a tradicao discursiva © os numerésos textos preparados etc. °° Pretender fazer do. isso, ¢ fazé-lo em algumas: paginas, dependeria. de uma bybris.e:de-uma:ingenvidade sem fun- damento—e,de inicio, ce uma flagrante falta de respeito:pelo discurso, pelo tra- balho-e.pela oferenda.do outro. Razdes 4 em demasia para no responder. 3." Vislumbrathos, désses dois argumentos, que uit Getta ndo-resposta’ pode ser testemuntid dessa’ polidez (sem regra) da qual”"falivdmios ‘acima e, por fim, do fespeitd ‘pélo’ Outro; quer dizet, também de’ umd exigéntia’ de responsabilidade. “Talvez $€ diga‘ que A ndo-resposta seja a sidlhor resposta, que ela ainda seja uma @ in! Sinal'dé résponsabilidade. ‘Talvez. Aguardémos, todavia, De qual- Quer ‘mod6, pensase_né orgulho, na célfiplacendia, ‘tha ségurarica elementar que havetia a0 responder, quando 2 boa cedlucagao ensina as ctiangas que nao devem. “responder” (em todo caso, no sentido e na ‘wadigo dos bons miodos franiceses) quando 8 aciultos’se' dirigem ‘alas fazendo-lhes repreensOes ou cicas; de qualquer modo, nao thes fazetin perguntas, j ‘4 A-asoginciajpresungosa de que nfo se dard jamaisrespostaalgumanio se baseia apenas'no:fato de que ela pretendé se medir,pelo-discurso do outro, situé-lo, ccompreendé-lo-e’até-circunscrevé-lo, res- 1, pondendo,-assim, ao outro e perante o 33 outro. ©: respondao: supée, "tanto com leviandade’ quanto com arrogancia, que pode’ résponder‘ao ‘outro-e- perante 0 outro-porque, antes de mais:nada, ele é capaz de responder porsi'e poritudo que | pode fazer/dizerou escrever: Responder | porsi:seria aqui ter a presungao de saber | tudo, que se pode fazer, dizer ou escre- ver, reuni-lo numa sintese significativa e coerente, assinalé-lo'com uma tinica ¢ a mesma chancela (sejam quais forem o género, o'lugar ou.a data, a forma dis- scursiva, a estratégia contextual etc.), co- locar que.o mesmo. "penso” acompanha todas as “minhas” representagdes, que formam, elas proprias, um tecido siste- mitico, homogéneo e subjetivavel de “teses’, “temas”, “objetos", .“narragdes", “crfticas’ ou “avaliagdes", cuja meméria total ¢ jintacta, algum, “eu” teria, cujas premissas, e.conseqiléncias todas algum " conheceria etc;. seria, também pre- sumir, que a descorisiniczo, seja da mes- ma ordem que. a critica-cujo conceito e cuja histéria ela desconsr6i. Por certo, nunca se.desencorajardo tantas ingenui- dades dogméticas, porém sao razbes a mais para nao'responder,para:ndo fazer como se fosse’ possivel' responder 20 outro, perante 0 outro e por'si: A réplica serd: certamente; mas entio'a nag-res- posta ainda é umd resposta,:a’mais edu- cada,'a mais modesta; 2 mais’cautelosa, 1 sea’ mais-respeitosa — com relago a ou- trem e 2 verdade,. A. ndo-resposta seria ainda uma forma respeitével de polidez de respeito, uma forma responsavel do exercicio'atenio da responsabilidade. De qualquer’ modo, ‘isso confirmaria que nao’se pode’du nao'se deve nao respon- der. Nao, se’ pode,"ndlo se deve nada responder.’ O déver'e o poder estio co-implicados’ aqui de forma estranha. -Talvez. Aguardemos um pouco. » Seguindo os: quatro argumentos’preceden- tes, eu ‘evitaria’as faltas (faltas de cortesia, faltas morais etc:) nio-respondendo, ‘respondendo de forma ‘eliptica; respondendo-de forma obliqua. Eu teria dito 2 mim: é melhor, € mais justo, € mais decente, mais moral também, nao responder, mais respeitoso com relagao ao outro, mais responsavel pérante o imperativo'do pensamento critico, hi- pereritico e sobretudo''desconstrutivo”, que exige ceder-o menos'possivel.aos'dogmas e as pressu- posig6es.’Mas-entio,"se eu seguisse todas essas boas razbes'e se; acreditando ainda que a nao-res- posta seja a melhor resposta, decidisse nao res- ponder, correria riscos ainda maiores. Quais? 1.,..De. inicio, primeira’ injiria. ou, injustiga, ‘ parecer nao levar suficientemente a sério 25 pessoas €.05.textos. que aqui se ofe- recem, manifestar.com relagio’ a eles 35 36 uma ingratidao sidadmissivel @ uma indi- ferenca ‘censtirivel : Em seguida, explorar_as.“boas razoes” para nao, responder.a fim de. fazer um ‘uso ainda estratégico do siléncio: pois ha uma arte da n&o-resposta ou da resposta diferida que é uma retérica da guerra, uma artimanha polémica. O siléncio po- lide pode se tornar a arma mais insolente € a ironia mais mordaz. Sob o pretexto de esperar até que sé tenha relido, mie- ditado, trabalhado para comegar.a res- ponder. com’ seriedade.(o que seria de fato necessirio e poderia levar uma eter- nidade); a:ndo-resposta como .resposta adiada: ou como resposta iludivel, até mesmo absolutamente ‘elfptica; sempre pode colocar. éonfortavelmente:ao abri- {go de qualquer obje¢a0..E, sob o pretex- to de no se sentir capaz de responder ao outro € porsi, ndo.se estaré minando, fa teoria € na .pratica,. 0. conceit -de responsabilidade;,na verdade a propria esséncia do socius? ‘Ao justificar a 'no-tesposta por mieio'de todos esses argumentos, ainda se faz referéncia a regras, a normas’gerais;de- sobedece-se, portanto, a0 principio de cortesia:€ de responsabilidade que lem- ~bravamos acima: ‘nunca’se acreditar de- sobrigado de qualquer divide e, por isso, niunca agir simplesmente de acordo com ‘uma regra, conforme o dever nem mes- mo por dever, ainda menos “por corte- sia”. Nada seria mais imoral e mais grosseizo. . Nada seria pior do que_substituir uma resposta insuficiente, por certo, mas tes- temunba ainda de um esforco sincero, modesto, acabado; resignado, por um interminvel discurso. Este fingirla ofere- cer, em vez de uma resposta ou de uma nao-tesposta, um performative mais ou menos performante e mais ou menos metalinglifstico sobre todas essas ques- tes, nZo-questdes ou nfo-respostas, Uma operagio desse tipo ficaria exposta as criticas mais justificadas, ofereceria seu corpo e entregaria, como que em sacri- ficio, o corpo mais vulnerdvel aos corpos mais justos. Pois sofreria de um duplo defeito, acumularia duas faltas aparente- mente contraditérias: 1. a pretensfo de mestria ou de sobrevéo (meta-lingiisti- co, meta-l6gico, meta-metafisico etc.), € 2. 0 tomar-se-obra de arte (performance ou_pertormativo literario, ficgao, .obra),. jogo estetizante de um discurso do“qual se esperava uma resposta séria, pensante ou filos6fica, 37 ae ssivel’ ee 4 questio' por meio da gual nos dare poste seé préciso ‘responder ou nao, responder, ‘se € neces- satio,, ‘possivel ou, impossivel: Essa aporia sem fim za, porque nos ata diiplamiente (devo #¢ nao devo, devo nao, ’necessatio e impossivel cic). Num mesmo lugar, sobre'o mesmo disposi- tivo, eis aqui as maos'atadas ou pregadas. O que fates? Mas também o que acontece, uma vez que isso. nao ‘impede que ‘se fale, que se continue'a descrever a situagao, que haja a tentativa de se fazet ouvir? Qual a hatuireza dessa linguagem, uina vez que ela nao pertence mais, simplesmente, nem. W questo nem 2 resposta cujos limites ‘acabamos de verificar e’ainda estamos verificando? Em‘que consiste essa verificacto, que nao’acontece sem: algurn sacrificio? Chamar-se-4 a isso testermunho, 39 em um sentido que nao seria esgotado nem pelo martirio nem pelo atestado nem pelo testamento? E com a condigao de que, como qualquer teste- munho, isso nao seje redutivel, precisamente, verificagao, & prova ou A demonstragio, em tima palavra, ao saber? Dentre outras coisas, para voltar ao inicio da cena, verificamos que o analista, aquele a quem haviamos dado esse nome, nao mais pode descre- ver ou objetivar o desenrolar programado de um rito, menos ainda de uma oferenda sacrificial, Ninguém quis desempenhar 0 papel do sacrifica- vel ou do sactificante, e todos os agentes (padres, vitimas, participantes, .espectadores, leitores), além de se recusarem a agir, mesmo se quisessem fazer 98 gestos Presci9s, seriam, ‘detidos ‘diante de or- dade religiosa que dcorre tr sua identidade ameacada; a uma sociabilidade filosdfica, enquanto 'suipde a ordem (de preferéncia.circtilar) ‘do, apelo,, da pergunta eda resposta. Alguns dirao que € 0 proprio principio da comunidade que assim se vé exposto & disrupcao. Ouitros dirao, que a ameaca de disrupgao nada ameaa, que ela sempre foi a corigem institutiva ou constitutiva do laco religioso ou filoséfico, do lago. social’ em geral: a comuni- dade vive ou se alimenta dessa vulnerabilidade, € bem isso, Se 0 analista, de fato, encontra limites ao seu trabalho de objetivagao cientifica, € bastan- te normal: ele € parte interessada do processo que desejaria analisar, pode virtualmente af desempe- nhar (quer dizer, também’ af arremedat) todos os r papéis/-Esse'limite «dé»positivamente. a condicao de:Suiatinteligéncia; dersua leitura, de’suas inter- prétagbes, Mas qual:seria'a:condi¢ao'dessa condi- ¢40?"Ela-consiste'em'que © pr6prio. leitor critico esteja-exposto a prior e'sem fim a alguma lftura critica 8.0". . ‘© que pode escapar a essa verificagao sacri- ficial, assegurando assim 0 proprio espago deste disctirso, por exemipl? Nenhumia questio; nenhu- iia réspéstayTiénbiumieresponsabilidadé.Digamos giie haluni'ségrédo ai: Testemuntiemos: b4 segre- do at: Por hoje ficieni6s neste’ ponto, mas nao seni algun exercicidde andar ‘apofitico sobre a eiséncia'é'a’ exiStEhtia de uni tal sepredo. O apofatico aqui nao diz respeito'necessariaimente & tedlogia negativa, apesar dé tambert tornia-ta pos- sivel,Aquilo que téntamos por a ptova é’a possi- bilidade;- ha'verdade}2 impossibilidade-de que ‘qualqué? testemitinho fique seguro de si'mesmo, enunciando-se sob esta form einesta gramética: “Testefritinheinids que. “estemunhamos, um segredo, sem. conteido, sem contetido separavel de sua experiéncia perfor- mativa, de seu 'tracado" peifdrmativo (nao ‘diremos ‘seu entinciadé pétformiativo 6u de'sua argumentiigao proposiciénal € résérvamos diversas quest6es sobre a performatividdde em geral). Digamos, portanto: ‘hd. segredo ai, Nac:se trataria de um segredo técnico ou artistico reser- vado a qualquer.um;-tal como um estilo, uma artimanha, a assinavura do talento ou.a marca de a ia genio, esse savoir,faire que se acredita incomuni- c4yel, -intransmissivel, :ndo-ensindvel; sinimitavel. Nao. se-trataria, tampouco.desse segredo:psicofisi- co, arte escondida.nas profundezas da,alma; hu- mana’ da qual fala Kant quando:'se ,refete 20 esquematismo transcendental e & imaginacio (eine verborgene Kunst in den Tigfen der menschlichen Seele)," . Ha segredo af.Nio se trata jidetags seared como representacio, dissimuladg: por.um, sujeito consciente nem sequerido contetidoxde-uma representacio inconsciente, algum motivo secreto ‘ou -misterioso.que oimoralista’:, ou.0 psicanalista teria. a.are de detectar, em-outras:palavras,.de des-mistificar. Esse. segredo.nem:mesmo, seria, da ordem da subjetividade absoluta, conforme o sen- tido, pouco ortodoxo; 4 respeito,de uma, historia da metafisica; que Kierkegaard atribui a existencia (estética, ética, religiosa a ou 6) distinguidas por iekeguaré. He nio‘sera:nem sacio nem profino Ha segredo af. Porém, leyandc que,acabamos de, sugerir, 0 estar-al do. segredo no concerne mais ao privado do que ao publico. Nao uma interioridade privada qué seria preciso desvendar, confessar, declarar, isto ¢, pela qual seria preciso responder do prestar' conitas e'tema- tizar as claras. Quem-alguma vez avaliaria‘o:grau exato de uma tematizagio: para julgé-la,, enfim, suficiente? E hi violéncia pior do.que aquela que 42 | } consiste.em:requerer a resposta,em exigir que se preste contas-de-tudo'e;'além disso; de preferéncia tematicamente? Pois esse segredo nao € fenome- nalizavel,,.Nem, fenomenal..nem .numenal. ‘Nao mais que a,religia0, estejamos certo disso, a filo- sofia, a moral, politica ou o direito nao podem aceitaro respeito incondicional a esse segredo. Essas insténcias sao, constituidas como instancias io de contas, isto é, de respostas, umidas, £ provavel que do da confissao,,0 segredo proiissional, 9 segredo militar, 0 Segredo, de. fabricagao,'0 ségredo de Estado). Mas 0, dfreito ao,segredo, em todos esses casos, € umn .direito. condiciqnal. Pois, neles o segredo ¢ compantihayel e'limitado pelas condi- ges dadas. O segredo se torne simplesmente um problema. Pode,e deve ser declarado em outras condigdés,, Em. todo lugar onde so requeridas uma resposta e uma responsabilidade, 0 direito a0 segredg torna:se. condicional.. Nao hd, segtedo, apenas.problema para. esses saberes que’ sio, nnesse caso, no apenas a filosofia, a ciéncia e a técnica, mas também a religi4o, a moral, a politica 60 direito. id segredo. Ele nao concerie nem Aquilo 4 qué uma’ religito revelada (@ saber, um mistétio da paix) inicia ou aquilo que ela revela nem a ‘uma doutd ignordncia (numa confraria cristt pra- ticando. uma espécie de teologia negativa), nem 20 conteddo iniciético de ina doutrina \esotérica Gor exemplo, numa comynidade'pitagérica, pla- % tOnica ou neoplaténica).Em todo :caso, :nao:se reduz a eles, pois-o8/torna-possiveis.:O:segredo nfo € mistico. + ANP. ae Ha segredo. Mas ele ‘hao se dissimula. Hete: rogéneo em relagao a0 éscondido; ao dbscuro, ‘20 noturno, ao invisivel, 20 dissimul4vel, até mesmo a0 niio-manifesto em geral, ele nao é désvenidavel: Permanece inviolivel até quando s¢ actedita to revelado, Nao que se‘esconda ara seinpré sluma cripta indecifrivel, otf ards dein 'Véu' absoluto: Simplesmefite' excede 6 jogo do velidar/desven- dar: dissimulacao/revelacao, ‘noite/dia, esque merito/andmnésii, terta/céu ete. ‘Poftanto, nad pertence a verdade, riem'& Vetdade ¢omo homoio- sis ou adequacao, nein 4 Verdlade conio meméria (tnémosyn®, aletbela), neta A verdade data, nem 2 verdade protnetida, neth &-verdade inadessivel Sua’ rlao-fenomenalidade 1ia6, tefh relago, em mesmo negativa, com a fenomienalidade* Sua 'te~ serva nao € midis da“‘ordem ‘dd’ intimidade que gostamos’ de chamizr Secreta, ‘do’ tiuité pioximio ow muito préprio ‘que aspira ‘ol inspira tantos discursos profundos (o .Gebeimnis ou, mais fico ainda, o inesgotavel Unbeimliche). - Com certeza, poder-se-ia dizer esse segredo sob outros nomes, quer sejam achados, quer sejam dados a ele. Alias, isso acontece’@ cada instante. Ele permanece secreto sob todos os nomiés ¢ é sua irredutibilidade ao proprio nome que o faz secre- to, até quando on fait Ja verité'a seu réspeito, conforme.a exptessao:t4o, original dé Agostinho. O segredo € que aqui elé é'chamado segredo, 4 colocando-o, por uma. vez, em-relagao.com todos osisegredos que tém o mesmo nome, mas que. nao se reduzem:a ele. O-segredo: seria também a homontmia;-nio tanto um: recurso oculto da ho- monimia,-masia possibilidade funcional da homo- nimia ou-da mimesis. > Ha segredo. Pode-se sempre falai dele, ¢ isso nao basta para rdmpé-lo. Pode-se falar dele ao infinito, contar historias a seu resBeito, dizer todos os discursos'que ele prépara e as hist6rias que deséneadeia ‘ou \énéadela, ‘pois muitas vezés 0 segtedo ‘faz’ periskrem "historias secretas e até desperta o gosto por elas. O Ségredo permaneceré secreto, mudg,impassivel-como. arkhéra, como Khéra, estranho. a qualquer histéria, tanto no sentido de Géschichte ou de res gestae quanto no_ sentido, dé saber € de relato hist6rico’ (qpistém2, historia rerum gestarum), a qualquer periodiza- ¢4o,'2 qualquer epocalizacao. Ele se cala, nflo para deixat uma palavra na reserva ou na retaguarda, mas porque permanece estrinho & palavra, sem que'se Bossa dizer} sintagiia distinto, “o segredo €/0 que, na'palavra, 6 estranho 2 palavra”. Ele nao esta na palavraltafto quanto é estfanho a ela. Nao responde a pilavra, nao diz “eu, 0 segredo*, nao corresponde, fad résponde: stem por ele nema ninguém ném perafite‘Seja’quém for ou perante Beja 0 que for: Nao“fedposta absoluia, a qual nem [mesmo sé poderia’ pedit'a conta ou vim adianta- {mento por conta, ‘dar'tetibo; désculpas ou “dis- | Counts’, tants rtinianhas, sempre, para envolvé-lo | num processo' fildséfico, éi¢o, ‘polities, juridico 5. eté.0 segredornfiondé lugar'e processovalgum: Nemmesmo € um\"efeito:de iségredo", Ele pode dar-Ihe:Jugar'na aparéncia (€ até o faz:sempre); pode'se.prestar a isso; mas nunca'seirende'a'isso. ‘A ética da discuss&io sempre! pode nao respeitar (ela the deve respeito, embora'isso' pareca dificil ou contraditério, pois 0 segredo € intratével), mas nunca o submeterd. Alids, discussdo alguma seria _aberta ou desenvolvida sem ele., Quer 0, respeite- ‘mos, quer nfo, o segredo fica 14, impassivel, a distancia, fora, de alcance, No .que.nao, se. pode, déixar de respeité-lo, quer.desejemos, quer. ndo, quer saibamos, quer nao. Af nfo hé mais'tempo'nem lugar, “ Uma confidéncia,’ para terminar, Talvez eu apenas quisesse confiar ou confirmar meu gosto (provavelmente incondicional) pela literatura, mais precisamenie, pela escritura literaria, Nao, que eu ame a literatura em geral nem que a prefira.ao que quer que seja, por exemplo, come, pensam m vezes aqueles. que nao discerem, por fim nem uma nem outra com relacdo a filosofla, Nao que eu_queira reduzir tudo 2 ela\,¢ menos. ainda a filosofia, No fundo, pasgo sem a literatura, de fato, com bastante facilidade, Se, precisasse me retirar para. uma ilha, no. fundo seriam os livros de hist6ria, de memérias que proyavelmente levaria comigo e que:leria a minha maneira, talvez para deles fazer literatura, a. menos que fosse 0 inverso, e isso seria verdadeiro a respeito dos outros livros (arte, filosofia, religiic, ciéncias himanas ou na- turais,- direito etc.). Entretanto, se, sem amar a 46 literatura ein geral-e’por ela'imesma, amo'algumia coisa: nela qué nao sé reduzde modo algum'a uma qualidade estética,a uima-fonte de fruicio formal; isso’ seria em lugar do'segredo. Em lugar de-um segredo absoltto.. Ai estaria, a. paixtio. Nao ha paixio, sem, segredo, este, segredo, mas nlo ha segredo sem paixto, Em lugar do segredo: af, entretanto, onde mudo esta dito e o resto nada mais € senio 0 ,resto, nem mesmo literatura, J me: acontecew:com:freqiéncia insistir na necessidade de’ distinguir ‘entre: a literatura e as belas-letras ou a poesia; Alliteratura é uma invengio moderna, inscreve-se em convengdes € instituicbes que;retendo apenasiesse traco; asseguram-lhe em ptineipio 0 :direito a.dizer tudo, -A literatura liga, assim, seu destino auma determinada ndo-censura, a0 espaco:da liberdade democritica (liberdade de imprensa; liberdade de:opiniaio.etc.), Nao hé de- mocracid sem: literatura, no’ hé literatura sem democracia. Sempre 6 possivel nao querer saber nem.de-umna ‘nem: da-outray:mas'ninguém deixa de passarsem elas sob-qualquer regime; € possivel nio.as:considerarj'nem uma nem a outra, como bens incondicionais e direitos indispensaveis: Mas nao € possivel,.em caso algum, dissocié-las uma da outra, Nenhuma‘anilise seria capaz disso. Cada vez que:uma obra literdria’é censurada, a demo- cracia corre perigo} e todo mundo esta de acordo quanto: a: isso: “A possibilidade da ‘literatura, a autorizagao que uma sociedadé lhe dé,'0 fato de levantar suspeitas-ou terrofva seu respeito, tudo isso vai junto:—-politicamente —com © direito a7 ilimitado. de: fazer todas:as perguntas, .de:suspeitar de todos. 0s. dogmatismés, de analisar::todas:-as pressuposigées, quer “as .da -ética, quer» as. da politica: de-.responsabilidade. Mas essa ‘autorizacao’ pata dizer tudo coristi- tui, dé modo paradoxal, o autor ém autor ndo-res- ponsavel perante ‘seja quem for, hem mesmo perante si, pelo que dizem ¢ fazer, por exerniplo, aS pessoas ou Os persoridgens’ de suas obras, portanto, pelo que seadmite que ele proprio tenha escrito, Essas “vozes* falam, deixam:ou evocam até nas literaturas sem:ninguém:e-sem’petsona- gem. Essa autorizagZo -para. dizer. tudo (que vai junto, ‘entretanto, com a democracia como hiper- responsabilizacio aparente' do “sujeito") recontie- ce um direito & ndo-resposta absoluta; ld onde.nao, poderia ser 0 caso de responder, dé poderou de dever responder. Essa nao-resposta’é:mais origi: néria e mais secreta-do que‘as:modalidades-do. poder e do dever, pois no:fundo.é heterogénea.a, elas. Ha uma condigao hiperbélica da:demoeracia’ af que parece contradizer um.cérto conceito ‘de- terminado e historicamente limitado da menciona~ da democracia, aquele que’ liga a0 conceito de sujeito calculavel, contével;:imputavel, responsé- vel'e devendo — responder, devendo — dizer.a verdade, devendo testemunhai segundo a'fé.jura~ da (‘toda a:verdade, nada alémvda verdade”), perante 2 lei, devendo!desvendar 0 segredo;: ex- ceto no caso de’algumas situacdes determindveis e ‘regulamentadas. pela lei .(confissao, segredo profissional do médico,. do-psicanalista ou do 8 advogado, segredo da Defesa nacional ou segredo de Estado em geral, segredo:de fabricagao etc. Essa contradi¢ao indica também a tarefa (tarefa do pensamento, tarefa te6rico-pratica também) para toda democracia vindoura. ~ Ha na literatura, no segredo exemplar da literatura, uma chance de dizer tudo sem tocar no segredo. Quando se permitem todas as hipéteses, sem fundamento ¢ até 0 infinito, sobre o sentido de um texto.ou as inteng6es finais de um’ autor, cuja pessoa nao’ é mais representada do que: no-represéntada por um personagem ou por um narrador,”* por uma frase poética ou ficcional, que se separam de sua fonte presumida ¢ permanecem assim au secret,’ quando jé-nao faz mais sentido decidir sobre um segredo por trés da superficie de uma manifestaco textual (essa é uma situago que chamo texto ou astro), quando € 0 apelo desse segredo que remete, entretanto, a uma coisa ou a ovtra, quando € isso mesmo que mantém nossa paixdo na expectativa e nos prende um ao outro, entHo 0 ségredo nos apaixona. Mesmo se nao houver segredo, se ele no existir, oculto atrés do que quer que seja. Mesmo se o segredo nao for secreto, mesmo se jamais. houver existido um segredo, um tinico segredo. Nem um, | { — Serd possivel dlgum dia acabar coma obli- | qiiidade? © segredo, se é que existe, nao se oculta | no desvio de um Angulo, ndo se expde 2 um sexto | Tet et pnt pie wp | Reacts Seiten wee aay 9 SBD /FFLCH/USP sentido ou a um olhar suspeito. Ele.nao se vé, pura e simplesmente, Nao mais qué uma palavra, Desde ‘que haja palavra, €'isso pode: ser'dito a:respeito ; Go rastro em geral, e da chance que ele representa, | a intuico, ela mesma, direta nao tem:mais chance | alguma. Pode-se denunciar, acabamos de fazé-lo, | a palavra ‘obliquo?, nao'se pode negar a indirecao) destinierrante, desde que tiaja'rastro. Ou, se voces! preferirem, apenas se pode negé-lo. Sempre é possivel procurar persuadir 0 se- gredo, fazé-lo dizer coisas, fazer crer, que. h ou que nao ha segredo af. Pode-se mentir, enganar, seduzir, servindo-se dele, Pode-se brincar com,o segredo como se fosse um simulacro, um chamariz ‘ou um estratagema a mais. Como se fosse um ‘efeito”. Pode-se alegé-lo como um recurso, inex- pugndvel. Pode-se tentar ganhar, assim, um poder fantasmatico sobre o outro. 1ss0 acontece todos os dias. Mas o proprio. simulacro atesta ainda uma possibilidade que.o ultrapassa, Nao o ultrapassa em diregio a alguma comunidade ideal, mas antes em diregao a uma solidao sem qualquer medida em comum coma de um sujelto isolado, de um solipsismo do ego cuja esfera de pertinéncia (Bi gentlichkeit) daria lugar a alguma_apresentagio analdgica do alter ego e a alguma génese-consti- tuinte da intersubjetividade (Husserl), ou com a de uma Jemeinigkeit do Dasein cuja solidao, diz- nos Heidegger, é ainda uma modalidade do Mit- sein. A solidao, 0 outro nome do segredo do qual © simulacro ainda presta testemunho, no é nem da consciéncia, nem do sujeito, nem do Dasein, 50 nem mesmio.do Dasein em seu poder-ser auténti- co, cujo testemunho ou atestado Heideger analisa (Bezeugung,. cf. Sein. und Zeit, paragrafos 54 e seguintes). Ela os'torna possiveis, mas'o que ela’ tora’ possivel nao poe fim ao segredo. Este nao se‘deixa levar nem encobrir pela relagdo com o outro, pelo estar-com ou por alguma forma’ de “lago social”. Embora os tome possiveis; ele no responde. a isso, ele €.0 que no responde. Nenhuma ‘responsiveness. Sera isso chamado a morte?-A morte dada? A morte recebida? Nao vejo razio alguma: para nao ‘chamar isso a vida, a existéncia, 0 rastro. Eno 0 contratio. Portanto, se o simulacro ainda é testemunha de uma possibilidade que 0 ultrapassa, essa ultra- passagera resta, ela (€) 0 resto, ela’ o resta, embora justamenté ndo se possa confiar aqui em nenhum testemunho determindvel, nem em qualquér valor garantido ‘do. testemunho, em outras’ palavras, como o nome indica, na: histéria de nenhum martirio (martyria). Pois jamais se reconciliaré — é impossivel e nao se deve fazé-lo — o valor de um testemunho com o do saber ou o da.certeza. Jamais se reduziré — é impossivel e nao se deve fazé-lo — um 40 outro. Eis que*resta, segundo Derrida,” a solidio absoluta de uma paixdo sem mattirio. ulbo de 1991 Ro orignal, salon mot. (NT) owe (© que omarradorsugere de fate a respelto da andlise « do analista ex carta roubada, mas ecbrenudo ss prmselspiglnas de Os crimes da ‘rua Morgue Para confers maior seuidade a0 conceto.ndo-regular do sralia, ele faz pense que ete ulimo devera apr alem do alco, sé mesmo além da regra: "No entanto, ealelar nfo ¢ 6 mesmo que nals Mas nos casos que ce encontem fora ds likes da simples regras é que se revlas hailldade do analista, Bee faz, em stncio (i ‘Mice, 3, JD, sblinhe), um grande ndmero de observagbes © Inferéncas,Seus companhelrs talvexfagam outo tanto L.) Vertcar- sed, com efello, que o homem engenhoso € sempre imagleoso, ‘Enquanto que 0 Yerdadeimmente imaginative nto deta jrnals de set anal." (Edgar Allan Poe — Antologia de cones de Agar Allan Pe, “Tadugio de Brenno Silvers, 1 edigfo, Rio de Janelo, Civlagto rast, 1959, pp. 685. ("Yr to calculates no intel 0 analyze (Burt mars beyond helt of mare rules that te sel of the ‘anabet te evinced. He males, slonce, a has of observations and tnforences. 8, porbaps do Bis compantons Il be found, th fact, ‘hat the ingenious are alaass fanciful, and the uly imaginative never othente thar analytic) bn A carta roubada, Dupin ca Chamfort ‘edenunela como uma “oui a “convention” segundo a qual & zo tema sera a unto par excellence the reason par excellence, © ‘como Ua “wapaga clentfics" propriameate francesa 9 aplicicio do termo “andlse™ apenas as “operagbes algerie", Notemos logo, uma ver que ete seri nosso tema, que essas tosis ene onmarrador e Dupin secntecem em segredo, mum "ugar secreto". Como eles, com ele, fetamios “au sere", como se diz era francs, e “dans le secre, 0 Que flo quer dizer que sibarsosejao que for. Pelomencs,eprecsameste, & o.que o narador (aos) dt; a forma eset epublleada por Poe: 0 segeedo 6 dio duas vezes (até 0 enderego é dado: "numa modesta Tartare Monimarre” at an obscure Mbrary in the rue Mont. marie’, depols “num recanso desolado o resvado do Raubourg St. Germain” Um a retred-and desolate portion of the Rewbou St. Germain’, depois "em sua pequena biblioteca ou gabtnae de lira, tua und 33°("tn bs litle back Worary, or bookleet 1° 33, ue Dunes, Raubourg St. Germain’) sem que por ls © prépaio sepredo tenha sido sequer arranhado ern asomento algur. Esto porgue se tata de msto, ¢ no rst do disauso, e no dscurio de inscrigo, de ‘uanscielo ou, se qusermos seguira convengo, de esrta ena escriza de tecture, ea Ieritira de eo, ena fieqlo de narrate, e colocado 1a boca de um namador 20 qual, por todas esas raztes acumuladas, ‘nada nos abriga a dar exédio, Que um sepsedo possa ser deciarado ‘em oe: desvendado, em outs palavras, que osegredo sea manifesto, fis que bf (es gibb e res sempre a tadualy,aqul mesmo ete. TT expresso comespondente em pormguts & “estar por dentro do ‘asunt. ONT) 52 2. Ynteressousme profundamente « pequena hiséla de famiia que cle fe contov pormenoradamente, com toda a fanquezs com que ut franets fala quando ele préprio é 0 tema da conver.” Idem, p. 68) ‘Je fs projondément intrest pars pete bsoie de fale, gu me Yyaconia minutieusement avec cat candewr et cat abandon — ce Sms fon th ml, 9 ote propre de tout Prangate guard dparls doses progres afr (Cours Compe de Bgar Alan Poe, Tadacton, de Baudelae, BbllothAque de la Pléade, Y-G.Le Dantee (dr), p. 11) (tas deal insorstd tee famybutory which he detailed fo sme wth all te candor which a Frenchman indulges uberever mere lf ‘Sthesheme") Ser sufeerte alae rans, ter aprenido a fla Francs, 07 ou te se tomadcldadio fancés pam se apropriar daqulo que 6, confome a taduglo io pestoal de Baudelatee —tndugho. male propslante que aproplada —, le propre de tout Frangas? 3. On dort ne pas devo diel de waduatr para o inglés, reat Nz por ‘goo: dehar o francis no texto, mesmo se fosee por economia, fazer guia economia de una alice enc, inlet, fncera daqulo que, em ‘eras Seas lings cultuals determinadas (eeras, portato, 9 todas © nem tocas igualmente),eneana o dever na diva. Antes que ‘os engajeros hls, ne podemos disralznos de um sentiment sare ‘qual é ei saber se ¢ ou nto condlctonado por uma lingva ou una cultura, Provavelmente € mais que um sentiiento (ao send mals ‘comu do terme, no senda da sensblidade e do "patlogiea™ de que ant fal), mas sonimos bem este paredoxo: um gesto permanecera ‘amoral (permaneceria aquée da afmacio doadors lmada,inaley- livel ou ineslulante, sen seapropriagto possve, pls qual se deve sedi 2 eeade ou's morlidade da fies), se tvese sdo realizado or deer no senda de “dever de restiigSo”, por um dever que s¢ Feduaia A qltagio de uma divide, pot um dever como deverdevolver agullo que fol emprestado ou tomado erpresiado. A morlidade pura deve exceder todos os cilelos, consientes 0 Inccsclentes, todas 8 pretenstes, todos os projeros de resuigto ou de reapropriagto, Este ‘mesmo sentimento os ds, talvez sem nada dita, que 6 precio I stéa. do dever, pelo menos do dever como distda,o dever nada deve, ele sieve nis ever, em todo caso, ele devera nada dever, Mas hum ever sem dvi? Como ous, como tad um dizer que nos da ue ‘um dever deve nada dever para ser, ou fazer aqullo que ele deve se, (08 aqulo que deve fazer, sto , um dever, ses deve Aqui se anunela ‘uma ruprura dlsereta eslencosa com a cultura e a lingoager, e 550 6 so seria es dever. Mas sa dvi, a economia da dita, continua a assombrat tod deves, fentdo dlremos que 0 dever pede que te aja alm do dove que, ence exes dole devere, nenhuma medida em comum deve resitir 20 Imperauvo doce as iniraidveldoprimelo? Agora, quer: demonsta lgoma van qu eos azrombragl da divida pose oa dove sls pare de inguletar 0 sectimento do deve? Era inquletide nao deve nos ‘preven Indefinidamente contra a boa conscinta? la odo nos as © met ou o dime dever? aqui que coascénea eo conhecimento 53 eolglco-emnicos slo indlspenstvels, embora nto devarn ter, enguanto tl, askin palavra. Devorios nos santentiagul com sefertoclas Indleavas Caqut estabeloce'a regra"urt lugar um cero ‘none linitade de pighnas, um cer tempo, umn deadline, sn. 0 tempo ¢ o espago regrades de urna eerimdnla miterioes). Deverse-a cruar estas referdnias entre she tana, se postive, olocklas em rede ‘Uma tajetéia moto aeidentada rovocat Kae voltae, por exemplo, ‘enue a determinaglo do dever em A criiea da razdo prea cu Os furdamantos da meiafiica dos courses, 2 deverainagao da diva e a culpable na metafisica kantana do deo} a mectaglo de Sein und Zett sobre o."estemanho” (Bezeugunp), 0 apelo (Ry) © 9 | "Schuldgietré criginiio ¢, pot exeimpo, a Sepinda distrtago de A -genealogia da moral sobre "a culpa (Schuld) “md conteénca® ‘Scblecbisgeutson) © que te hes asemelia (ind Veruandie) Niewsche comera (parigrafo 2) porrelembrar af “a longa histla da ‘tiga da responsabilidad le lange Geschichte von der Herkunf der ‘Verntwortleicel) © penguna (parigiafo fs “estes genealogii da ‘moral sequer suspeturam, 20 mens em sanho, que, por exemple, © oneito moral essencal de ‘culpa’ Caum. Batpel. ener moraliche Hauptbegri Scbuld tera soa orgers no cancel lntelamente material de vida’ (Sebulden". No mesmo movimento, Netsche ‘elembea Garigafo 6) 0 carter de crueldade (Grausamkol) do imperavo ‘ategrico para.o "velo Kant. Freud nfo estat longe, em Totem ¢ ‘aby, sobre a8 rlipides. do pal eas rligiSes do fo, sobre a crgem dp senens da const mon, abe of srs ea conden. enque eas aupser, sabre o advent da lel couteteint CAiganos do ‘us dtormsnado conceto da demccraia) ase volts acdentadss, pvtanto, ene todos estes texas cannes « mcages de um po aparetzmers ders, mat verde rut prximos —e mals proximos de nosso tempo, pocexemplo, das roposieges mals recente de Emule Benveniste (Ze vocabulaire des {nstutons indo-eurcptennes OD, Pars, Min, 1969, captsulo 16." Prl, lemprunt et dete’ 00 de Chasis Malamoud (Lien de se, nocd morte 1s eprbsersatons dela dena en China, au japon atdans le monde ‘ndter, Edtions de TEHLESS, Pars, 1988). Ainda que dé modo mals obliga, dons ctapbes excieario melhor x alegto na qual deveiancs, ‘mas mio. podemas engajurnes aqul. Uma de Benveniste (Oquoret ‘Comptes, pp, 185-185), x cutra de Malamoud (Geveres Compliey, pp. 7, 8,33, 1, Cada uma delas ls se prolongs: bastante, com cee, ‘na obra destes dels autores 1. Benveniste: "O sentido do latin dbo ‘deve?’ parece remular da composigio do terme em di + babes, composiclo que no debea ‘qualquer divi, uma vez que o peifeto em Int arcalco € ainda ital (por exemmplo, em Plaato). O que que dace debed? A interpe- tage cocrente¢ ter algura cols (que se segura) de alguém € mato smal, talvez demals. Pols uma dileldade se aprerenta de imedist: ‘low pode explicar& construgto com o dative, dabere aliquid lic ‘Em latin, ao contro do'que poder parecer, debere nto consi a cexpresto prépria para ‘devel; no sentido de ‘ter wma divide. A designagio tend, foils, da ‘did’ € aas alent, para dae ee iva, saldar urna divida presolpordividas’. Deberena senda de tet ‘vidas 6 pouenfreqlente! fo passa de um emprego devado. © sentido de debere out, ainda gue também se eaduza por ‘deve. Podesse ‘dever ‘agua ‘coi em-a ter tomade emprestdo: por ‘exemplo, 0 alupuel de uma casa, que se ‘deve, embora do consutua 2 restvigdo de uma quanta emprestada, Bn virade de ssa form720 fedesis consmugio, dabeo deve ser inerpetsdo ennvorme 0 valor que tle tmz do prefixo de to é tomado de, reurado de’ ponanto "er (aber) sigoroa cola que fo retrada (de) dealguée. ots tnerpretao Iter responde a'um emprego efeive: debeo & empregado em circunstinclas em que se deve dar alguma colsx que fetormas alguém e que x prépris pessoa det, mas sem ater tormdo femprestado iteralmerte; debere ett algura cols tomada dos bens, ‘sdiremas de um out. Smprega-se debere, por exemplo, par ‘ever © solde da tropa, ao flat do chefe, ot 0 suprimenta de sige para wa dade. A cbrigacaa de dar reula Somente do fato que se detém oque erence a um cuto. # porque debvo nko € de longa data temo brépro pars a ‘dvi. Por out lado hd uma flagto ese entre ‘vida, "emprstine, © ‘tomar emprestado' que ée als mutua Pecunia: muwam pecurdar soluere ‘pagar uma did’. O adjelvo musuus define a relaco que ‘sracteriz 0 tomar empresado. Ble tem uma forma;io e uma etino- Toga cara Se bam que © veiby rota 220 teuln asousidds ent wales enco, a elagto com mutucs& cera, Bvocaremos aléza disso mms, por af eencontraremos uma grande famfla de palaveasindoesro- pélas que, com sifixos divers, marca a nogio de ‘eciprocidade’.O ‘cei mutuusindica xo mesmo tempo empresa ov Nomar empres+ (ace, de acordo com a mancin’ de determinar a expressio. Tat-se semprede diahelro (Pecunia) restido exatamente como foleceblso" ‘Malamood: "Nas lingua européias modernas que acabarnos de evoca, aparece portuntoo enveto parestesco ene as formas do verbo ‘dere, quer se tate da obrigagto propramente dita ou da cbrigapto coma ‘robablldade, e aquelas que slgnifcam ‘estar em civida. ste paren {asco se manifesta ora no fato de-que-dever, empregado de modo absolut, €equivalete a ‘ser devedor, estar em divi’, com, se for © ‘19, um complemenio substantive que Indica em que coasise a dinda (devo oem francos) ora no préprio nome dx ‘divide’ que, de modo ‘als ou menos perceptive para © locator nto edmolégico, dev: do verbo ever a divida € 0 ‘devo, que langado 20 ‘debt, 0 texn0 ‘Francés detiacontinua latin dab que, por sva ver endo partplo passado de debere‘dever, & empregado no sentido de dete. Nz dvds ce combinam o dever e'a culpa: conexdo que coloca em ceviddnela a hlstéla das Iinguas germAnlcas 0 alemlo Schuld slgnfica 39 mesmo tempo ‘divide’ e 'clp2’, © scbuldlg a0 mesmo tempo ‘alpado’¢ ‘devedor’. Ora, Shuld deriva da forma get sid que, por sua ver, es ligada 20 verbo shulan Yer a cbrigacioy, ‘estar em 55 56 vida’ (ee trad, no Bvangelho, c verbo grego opbele, que tem as duns acepodes) tambéen ‘estar efi’. De ouro lado, do mesmo ‘alco germinico "sl, mas com osto tatamento de nicl, deivam. © verbo alent. colin ‘dover (azee)” « 0 Jeglts shall que; hoje spectlizado na expressto do faruosgafiavs, numa [ase mal S63 da lingua, ever no sentido pen. Agrpamentos dase Upo, mais ou menos densos, mals ou menot ‘iculados, aparece sumerosaslnguasindo-europélas, Nem sempre dereha mesa congue en snopes pedis As anflses Inguisicas de Jacqueline Pigect para o ponds, eas de ‘Viviane Allecon par 0 chinés mosmem, com todas a3 nuanees que 26 lmpdem, que a esfera da divida moral € niidamence distina daquela principio expleaiva dos daveres (1 Bnretani, também a noo de evédko pode se presar aos jogos’ da polisemts basalembar que em fancts croyance e crdance #80, 2 riger, uma ics pales, que em seta Glatbiger ign 20 mesmo tempo ‘erent’ eee? has a rela ene ftrocrdte crotreé metios ecunda,ieologleamente, que aque que une devira deen dee. ‘Que-© homer, segundo o brmanieno, nasga"enquasio diva’, que cea divds jaa area de ba condipto de moral, nto sigiiea que ‘a nanureea do homem sea determinada por um pecado erignal Como A palavma skates ry, ‘dvi’, pode bs veneseolorinse em ‘ulpa, c# ‘ésfos alates do sécslo passado lnfluenciados ver pela arcbighl- ade da palava Schuld, 20 mesmo tempo “évidse ‘culpa’, sugeriram fazer delvar mado mesiro radial inéo-eurcpeue latins res acosade, ‘oulpade’. A etimologi € ertine, e sera igualmente enganosa ama similiude ene a divida fundamancl eo pecad odinal-A iia no & ‘em o signe nema conoequdncia de rma queda, nem, ali de qualquer evento que ej la ato resula de umconzato, ras coloce logo de inicio ‘homem na condi, fo extato de devedo, Este peSpio esata se ‘concrete se diver en wma se de deveres ode cvs parcial, {que slo invocades, os Cédigs hindus, para jusicar as regras de de> Postivo que organiza o regime da cvida mater: exemplo mals concretoe, pademes des, a melhor dustagao dessa "conexto reunite dos cfus edater’ que seria a divide, sto-nos dados porHou Chingng, que nos most maravilhosameate coma ohomem Compr seu destizo, depostanco na Tesoursi celeste'a moeda fas eum verdadelr stele” 4. Sobre ext “probe” e.2 conllguragto semantica do cabo, do capital éa capital. da frente (no duplo sentido de “rents” — por nemo, da fente mist ou do “er frente’ no enfentamento'e na onftentaglo ~ eda aaa avangada do resto, a forehead), do front (da ontels, permitome renter em partculae 4 Liautre cap, seguldo por La démocrase ajournte (Paris, Minuk, 1990. Sobre « figura do (pucira-mar, ef Foreone le swecal,éhude pour les dessins et portraits anton Artaud, Pats, Calimard, 1986, € "Some Statements ard ruts. em D, Carroll 64), The Staies of “Toeory", New York, Columbia University Press, 1990. 5.A ctianga £0 problema, Como sempre. ¥ 0 problema € sempre a Infancia, Nio que seja necessrio dstingulr aqui, como jf © zeros ‘ator, oa trasigio de Gabriel, Marcel, ene problema e mista. O mists estas lgndo aqu sobretudo a ura cera problematcidade da ‘eanga. Male adie, avez tentemos dsingsir 0 segredo tanto do ‘bits quanto Go problema, Na tragécia de Séfocles que temo 920 ome, Plocetes fz potato este to suplernentar da palava problema: D sabato, o euplente, prétese, aqullo ov aquele que ve colocs & _frone arn se proteger dissimulandose,aqullo (aque) que vem ne Iga ou em nome da auto, a resporsablldade delegada ou desviada no momento em que, sbandonado pelos seus depots que uma plaids Ge serpente hava deteada em ses corpora ferda porlenta, Ploctetes linda guards o eegredo do arco de Hérecles, um arco invencivel do {gal ele srs separido proveciamente, No momento, temse necessi- ede da arma e do aegredo, Agindo sémpre de vis, depots de virios Servios e eotatagemas, tem fazer fence em momento algur, Ulises fordena gue ae apoderem dele. Plocetes acus, potesia ov se quel Espanace dante das oforendas,jé alo reconhece wma cianga ¢ Jarnenta sus aos. "Os minhas mios (O betr), como vos tata Ei {que esas sem 0 voiso amado aco, els que sols a cara desse homens! ‘Tes compo nada fente nem de euddvel nem de lve, para que me tenluasjogado sas uma vex tals ere capturado na 2 zee, 20 te siesmalaresstris desta cana Neoptélemol (abn problema sat. ‘paidid. 9, qve me era desconhecida, que se sssematha ‘area a mir € ‘io pouso a (1 depots de me teres ciregado de lapos, pretendes me fos Gene promontério, nde me langate outro, sem amigos, sem pia. nasoldto, um mero ene ob vives! (.] HE elza tempo estou ‘eto para vés. Como & que hoje, er abominade pelos davies 80 ‘ou para dum enfermo que cheir mal? Como, no da em que embarco, | Spomivel que se quelmem oferendas aos deuses, ue se las ofererart | Ubagbee No em esse o mato que se nba outiora para me rej” jp. 1.008-1035; wadopto de P Mazon ergo, ed-G. Bud) | 6, Pemmome, ese respeio, emereraotrntamesro conjunto do segredo, | a ertenureda Palo ed Bucarsta em Glas, Pars, Gallée, 397, pp. Ge segues > 37 7. Uidteetme da palara“obliquo com mula frequéncl, com demastada freqdéncs, desde hé muko tenpo. Jf nto me lembro onde nem em ‘que contexto. Em Marges com cetera (9 "laxas" de Tympar) e em las, em ido cato, Muto receatemenie,¢ de modo rato lasiterte, fem Force de lot Le "Fonderont myssque de autor” (blleaao Diingie em Deconsmuetion and the Postby of fst, Cardozo Lay Rese (New Yor), 11 GS), jubo-agonts ce 199, pp 928, 934, 94.947, passin. Texdugio ingles etomaa er. Comal M. Rosenfeld D. Gay (Carson edteres), Deconstruction an the pass of asia Nova Yor, Tends, Rosledge 1992), em Dura lepine Par, Calle 195, 6 Sem he pedi sutras, cea ever cae gus fragments a carta ‘qe ele me envio no dit 28 deralo de 1991.0 lator deci st que orto a cara Gncosve o ato *Obliguat do OED (CxfordEnglch ‘Dietonar que acorpantou o envi) tert presto a lien «oxo denotera.Tahezeu ftvesee pronurcidspasie“oblquo dante ‘oma conversa anenie qual Davia Wood asim selena: Pvgmentos par comparthar, poranto, no decorer da cerns, « David os asr-de “pata, sain como cash ditingul ems aur cea Calvez pars asset, au. autou oe ives par dar alana Shakespeare {40 fatasma de Mareo Anions) 0 louvor« sasinat, incense € trent, "fo rae io bury (is ram, le la do io, rtf rae nora bury Deri, but, (bu aba, a cen} Eb aqu, porano 0 fagrecte cs cara do da 28 de mo de 193, seu ‘pene da pablo Gorma/a piso) "Dear Jacq, dr you lon base {sion yo at your word sng my pace oblique ofring' 0

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