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Manual do Curso de Licenciatura de Gestão de Recursos

Humanos

Economia Social e Cooperativismo

ENSINO ONLINE. ENSINO COM FUTURO 2023


ENSINO ONLINE. ENSINO COM FUTURO

2º ANO : Economia Social e Cooperativismo


CÓDIGO ISCED1-RH11

TOTAL HORAS/ 2 150


SEMESTRE
CRÉDITOS (SNATCA) 6
NÚMERO DE TEMAS 4
Universidade Aberta - UnISCED

Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade da Universidade Aberta ISCED (UnISCED), e contêm reservados


todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob
quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou
outros), sem permissão expressa da Universidade Aberta ISCED (UnISCED).

A não observância do acima estipulado infractor é passível a aplicação de processos judiciais


em vigor no País.

Universidade Aberta ISCED (UnISCED)


Vice-Reitoria para Área Académica

Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa


Beira - Moçambique
Telefone: +258 23 323501
Cel: +258 82 3055839

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E-mail:unisced@isced.ac.mz
Website:www.unisced.ac.mz

i
Agradecimentos

A Universidade Aberta ISCED (UnISCED) e o autor do presente manualagradecem a colaboração


dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:
Pela Coordenação Vice-Reitoria Académica da UnISCED

Pelo design Direcção de Qualidade e Avaliação da


UnISCED

Ruth Simoco, Mestrada em Administração.

Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação a


Distancia (IAPED)

Pela Revisão

Elaborado Por: Estrela Eduardo Soda Charles

ii
Visão geral 1

Benvindo à Disciplina/Módulo de Economia Social e Cooperativismo ............................. 1


Objectivos do Módulo ....................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo.................................................................................. 1
Como está estruturado este módulo................................................................................. 2
Ícones de actividade .......................................................................................................... 4
Habilidades de estudo ....................................................................................................... 4
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 7
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................. 8
Avaliação ........................................................................................................................... 8

TEMA – I: INTRODUÇÃO À ECONOMIA. 11

UNIDADE Temática 1.1 Historial da economia e os problemas económicos .................. 12


Introdução....................................................................................................................... 12
Desenvolvimento ............................................................................................................ 14
Sumário ........................................................................................................................... 30
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 31
Exercícios de AVALIAÇÃO ................................................................................................ 33
UNIDADE Temática 1.2 Factores de Produção e a Fronteira de Possibilidades de
Produção ......................................................................................................................... 33
Introdução ....................................................................................................................... 33
Desenvolvimento ............................................................................................................ 34
Sumário ........................................................................................................................... 44
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 44
Exercícios de AVALIAÇÃO ................................................................................................ 44
UNIDADE Temática 1.3 As acções do Estado e os Elementos básicos da procura e oferta
de bens ou serviços ......................................................................................................... 45
Introdução....................................................................................................................... 45
Desenvolvimento ............................................................................................................ 46
Sumário ........................................................................................................................... 64
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 65
Exercícios de AVALIAÇÃO ................................................................................................ 65
Bibliografia .................................................................................................................... 187

TEMA – II: Economia Social 66

iii
UNIDADE Temática 2.1 Origem e evolução da economia social ..................................... 67
Introdução....................................................................................................................... 67
Desenvolvimento ............................................................................................................ 67
Sumário ........................................................................................................................... 74
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 75
Exercícios de AVALIAÇÃO ................................................................................................ 76
UNIDADE Temática 2.2 Economia social e os diferentes conceitos a ele relacionados . 76
Introdução ....................................................................................................................... 76
Desenvolvimento ............................................................................................................ 77
Sumário ........................................................................................................................... 93
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 94
Exercícios de AVALIAÇÃO ................................................................................................ 95
Bibliografia ...................................................................................................................... 96

TEMA – III: Organizações da Economia Social 96

UNIDADE Temática 3.1 Organizações da economia social, principais características e


fonte de financiamento................................................................................................... 96
Introdução....................................................................................................................... 96
Desenvolvimento ............................................................................................................ 97
Sumário ......................................................................................................................... 105
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 105
Exercícios de AVALIAÇÃO .............................................................................................. 107
UNIDADE Temática 3.2 Principais Organizações da economia social ........................... 108
Introdução ..................................................................................................................... 108
Desenvolvimento .......................................................................................................... 109
Sumário ......................................................................................................................... 126
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 127
Exercícios de AVALIAÇÃO .............................................................................................. 129
Referências Bibliográficas ............................................................................................. 129

TEMA IV: COOPERATIVISMO 130

UNIDADE Temática 4.1 Surgimento, princípios e valores do Cooperativismo .............. 132


Introdução ..................................................................................................................... 133
Desenvolvimento .......................................................................................................... 134
Sumário ......................................................................................................................... 141
Exercícios de AUTO AVALIAÇÃO .................................................................................... 141
Exercícios de AVALIAÇÃO .............................................................................................. 143
UNIDADE Temática 4.2 Conceito e importância das cooperativas ............................... 144
Introdução ..................................................................................................................... 144
Desenvolvimento .......................................................................................................... 145

iv
Sumário ......................................................................................................................... 154
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 154
Exercícios de AVALIAÇÃO .............................................................................................. 155
UNIDADE Temática 4.3 Ramos e classificação das cooperativas .................................. 156
Introdução ..................................................................................................................... 156
Desenvolvimento .......................................................................................................... 157
Sumário ......................................................................................................................... 164
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 164
Exercícios de AVALIAÇÃO .............................................................................................. 165
UNIDADE Temática 4.4 Cooperativas de nova geração ................................................ 165
Introdução ..................................................................................................................... 165
Desenvolvimento .......................................................................................................... 166
Sumário ......................................................................................................................... 170
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 171
Exercícios de AVALIAÇÃO .............................................................................................. 171
UNIDADE Temática 4.5 Cooperativismo em Moçambique........................................... 172
Introdução ..................................................................................................................... 172
Desenvolvimento .......................................................................................................... 172
Sumário ......................................................................................................................... 184
Exercícios de AVALIAÇÃO.............................................................................................. 184
Bibliografia .................................................................................................................... 185
Exercícios de preparação para o exame........................................................................ 185

Índice de Figura

Figura 1:Economia e os temas abordados ................................................................................ 14


Figura 2: Principais problemas económicos .............................................................................. 22
Figura 3: Factores de produção ................................................................................................ 36
Figura 4: Evolução da economia social ..................................................................................... 73
Figura 5: Financiamento das organizações da economia social ............................................. 103
Figura 6: Classificação das cooperativas................................................................................. 161
Figura 7: Bandeira do cooperativismo.................................................................................... 163

Índice de Gráfico .........................................................................................................................v


Gráfico 1: Fronteira de possibilidades de produção ................................................................ 38
Gráfico 2: principais pontos da FPP ......................................................................................... 39
Gráfico 3: FPP e escolhas ......................................................................................................... 41
Gráfico 4:Deslocação da FPP para a direita ............................................................................. 42
Gráfico 5: Deslocação da FPP para a esquerda ........................................................................ 43
Gráfico 6: FPP e o custo de oportunidade ............................................................................... 44

v
Gráfico 7: Curva da procura ..................................................................................................... 53
Gráfico 8: deslocação da curva da procura para a direita ....................................................... 56
Gráfico 9: Deslocação da curva da procura para a esquerda .................................................. 56
Gráfico 10: curva da oferta ...................................................................................................... 58
Gráfico 11: Deslocações da curva da oferta para a direita e para a esquerda ........................ 61
Gráfico 12: Equilíbrio procura e oferta .................................................................................... 62
Gráfico 13: Escassez de bens ................................................................................................... 63
Gráfico 14: Excesso de bens ..................................................................................................... 64

Índice de Tabelas

Tabela 1: Opções de produção ................................................................................................. 38


Tabela 2: Procura do leite......................................................................................................... 52
Tabela 3: factores que afectam a curva da procura .................................................................. 56
Tabela 4: Preço e quantidades oferecidas................................................................................ 58
Tabela 5: Diferença entre economia do mercado, economia solidária e economia estatal 87
Tabela 6: Diferença entre empresas e OES ............................................................................... 97
Tabela 7: Organizações da economia social ........................................................................... 110
Tabela 8: Diferença entre associações, cooperativas e Fundações........................................ 124
Tabela 9: Diferença entre cooperativas, associações e sociedades comerciais ..................... 146
Tabela 10: Direito e deveres dos associados ..................................................................... 162

vi
Visão geral

Bem-vindo à Disciplina/Módulo de Economia Social e Cooperativismo

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Economia Social e


Cooperativismo deverá ser capaz de: compreender os principais
conceitos económicos e as leis que sustentam o mercado de bens e
serviços, identificar e diferenciar os diferentes tipos de
organizações sociais, conhecer o seu funcionamento, compreender
a importância do cooperativismo num contexto de globalização dos
mercados.

No final deste modulo esperamos que tenha capacidade de:


• Compreender o conceito de economia social, terceiro sector
e os outros relacionados;
• Diferenciar as principais funções do mercado e do Estado e
Objectivos interprete-as de forma adequada;
Específicos Diferenciar os diversos tipos de instituições da economia
social.

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 2º ano do curso de


licenciatura em Gestão de Recursos Humanos da UnISCED. Poderá
ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e
consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão
bemvindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá
adquirir o manual.

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Economia Social e Cooperativismo, para estudantes


do 2º ano do curso de licenciatura em Gestão de Recursos

1
Humanos, à semelhança dos restantes módulos da UnISCED,
estáestruturado como se segue:

Páginas introdutórias

▪ Um índice completo.

▪ Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,


resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção
com atenção antes de começar o seu estudo, como componente
de habilidades de estudos.

Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.

No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são


incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.

Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros


exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos
e actividades práticas, algumas incluindo estudo de caso.
Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos da UnISCED, pensando em


si, num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio
de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem,
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu
módulo para você explorar. Para tal a UnISCED disponibiliza na
biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos
relacionado com o seu curso

2
como: Livros e/ou módulos, CD, CDROOM, DVD. Para além deste
material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter
acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as
possibilidades dos seus estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios
de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro
apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.

Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação


mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo
a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção
e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do
módulo. Pelo que, caro estudante fazer todos os exercícios de
avaliação é uma grande vantagem.

Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza
didácticoPedagógico, etc., sobre como deveriam ser ou estar
apresentadas. Pode ser que graças as suas observações que, em
gozo de confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo
venha a ser melhorado.

3
Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes icones servem para identificar diferentes
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança
de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar.
Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro
estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos,
procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação


crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as


de estudo de caso se existir.

4
IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,
respectivamente como, onde e quando...estudar como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à
noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana?
Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio
barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada
hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada
ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando
achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos
de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-
se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o
intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das
actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume
de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando
interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por
fim ao perceber que estuda tanto, mas não aprende, cai em

5
insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que
está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros
ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página trocada ou

6
invertidas, etc.). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento
e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone,
sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando
a preocupação.

Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes


(Pedagógico e Administrativo) é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante
– CR, etc.

As sessões presenciais são um momento em que você caro


estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do
seu CR, com tutores ou com parte da equipa central da UnISCED
indigitada para acompanhar as suas sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou administrativa.

O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%


do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem
com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver
hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos
programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


auto avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.

7
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.

Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os


mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,


contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.

O plágio1é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es). Uma


transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor,
sem o citar é considerada plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autoriais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante da UnISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e consistente.

Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com


um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamento de
avaliação.

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

8
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e
aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.

Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e


decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.

A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.

Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)


trabalhos e 1 (um) (exame).

Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados


como ferramentas de avaliação formativa.

Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em


consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.

Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de


Avaliação.

9
TEMA – I: INTRODUÇÃO À ECONOMIA.

Introdução
O primeiro tema do módulo de Economia Social e Cooperativismo é
introdução à economia. É neste tema que o estudante poderá
desenvolver ou compreender os diversos conceitos económicos, o
surgimento do estudo da economia, a importância do estudo.

O estudante terá ainda a oportunidade de analisar as principais funções


económicas do mercado, nomeadamente a função da procura e a
função da oferta.

Neste Tema e não só, o estudante será convidado a efectuar análises


gráficas e por meio de exemplos hipotéticos iremos determinar as
quantidades de equilíbrio de um determinado produto.

Objectivos Específicos:
Ao terminar o estudo deste tema, você será capaz
de:

▪ Compreender o surgimento da economia e sua importância;

▪ Diferenciar os bens dos serviços;


Objectivos ▪ Identificar e explicar os principais problemas económicos;
Específicos
▪ Identificar os principais factores de produção;

▪ Compreender a importância do estudo da fronteira de possibilidades de


produção;

▪ Determinar o equilíbrio de mercado de determinado bem.

11
Unidade temática 1.1: historial da economia, objecto de estudo e
problemas económicos;

Unidade temática 1.2: Factores de produção e a Fronteira de


possibilidades de produção;

Unidade temática 1.3: as acções do estado e os elementos básicos da


procura e oferta.

12
UNIDADE Temática 1.1 Historial da economia e os problemas económicos

Introdução

Na presente unidade temática o estudante irá compreender o historial


da economia, o objecto de estudos, a importância do estudo da
economia e os principais problemas económicos existentes.
A partir dos estudos dos conteúdos desta unidade temática, o estudante
será capaz de entender e analisar os principais fenómenos económicos
da sociedade

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

▪ Compreender o conceito e importância do estudo da economia;

▪ Identificar o objecto de estudo da economia;


Objectivos ▪ Identificar e compreender a essência dos principais problemas económicos.
Específicos

1.1.1 Porque estudar economia


O presente módulo (economia social e cooperativismo) irá iniciar
exactamente com o estudo da economia. Para que o estudante
compreenda o funcionamento da economia social e as várias
instituições a ela associadas deve antes de tudo perceber o que é a
economia como surgiu o estudo da economia, o seu objecto de estudo,
é neste contexto que preparamos a presente unidade de estudo.

Antes de iniciarmos com o estudo ou o historial da economia é


necessário ter uma ideia do que é que se estuda em economia, ou
melhor porque estudar economia.

Se o estudante for a rua e questionar as pessoas o porquê de estudar


13
economia certamente encontraria várias respostas que podemos
destacar as seguintes:

“Para saber poupar...”

“Para saber gerir o salário...”

“Para entender a inflação2, o desemprego.”

“Para compreender as políticas do Governo...”

Podemos assim observar que as respostas a estas perguntas são várias


e todas elas correspondem a uma parte dos conteúdos leccionados em
economia. Assim, podemos verificar que a economia está presente nas
nossas actividades do dia-a-dia, quando acordamos e temos que pensar
como vamos a escola, o que vamos comer, como iniciar determinado
processo de produção, etc. etc.

A importância do estudo da economia pode ser resumida nos principais


assuntos ou temas tratados nesta ciência.

2
Inflação é a subida continua e generalizada do nível de preço. Isto é, quando um
conjunto de bens e serviços aumenta o preço durante um determinado período este
fenómeno chama-se inflação.

A economia estuda o comportamento dos mercados de bens e serviços


(como produzir, quais os custos de produção, qual o processo de
produção usado etc.), explora o mercado financeiro (determinação da
taxa de juro, da taxa de câmbio, do nível de notas e moedas a
disponibilizar a economia)

A economia analisa questões de crescimento e desenvolvimento


económico, porquê alguns países ou pessoas tem um nível de
rendimento maior que os outros, as economias procuram explicações
para o combate a pobreza.

A economia estuda o comércio internacional, as trocas comerciais entre


países, as formas de estabelecer as relações comerciais sem prejudicar
14
as economias envolvidas.

A economia estuda as políticas governamentais para o uso eficiente dos


recursos disponíveis, Moçambique dispõe de vários recursos naturais
como usa-los de forma eficiente para reduzir a pobreza e as
desigualdades sociais.

Portanto podemos verificar que a economia é uma ciência abrangente


e as áreas de intervenção são tão vastas que dificilmente poderíamos
colocar todas nesta unidade.

A figura 1 resume os vários temas que são abordados na economia,


atenção que estes temas não se esgotam apenas nesses. Podemos
observar que a economia estuda a inflação, o desemprego, o
crescimento e desenvolvimento económico, o mercado financeiro entre
outros.

Figura 1: Economia e os temas abordados

Fonte: Elaborado pelo autor do manual

Agora o estudante deve estar a colocar se a seguinte questão:

Como iniciou o estudo da economia? Quando é que o homem começou


15
a preocupar-se com os assuntos económicos?

Para responder a esta questão vamos agora avançar para o historial da


economia.

1.1.2 Historial e definição da economia

O termo economia provém do grego: Oikós (casa) e nomos (norma ou


lei), que significa Governo da casa.

Antigamente as sociedades estavam organizadas em pequenos grupos


(famílias ou casa) que tinham como principal objectivo produzir para a
alimentação e proteger-se dos seus inimigos e dos animais. Assim, a
economia era tratada como o Governo de cada grupo de sociedade,
cada casa.

Alguns anos depois, por volta do século XVII, com o desenvolvimento


das sociedades, a economia passou a designar-se economia política
dada a sua abrangência política e as questões sociais mais importantes
nesta altura.

Nesta época, (da antiguidade ao renascimento) as questões económicas


de maior relevância era uma posse territorial, servidão, arrecadação de
tributo, cunhagem de moeda, comércio internacional, etc. E todas as
questões económicas eram tratadas no âmbito político, filosófico e do
direito.

A partir do século XVIII (altura que se verifica a revolução industrial),


começou a se verificar níveis desiguais de desenvolvimento nas
sociedades, por um lado alguns países apresentavam um nível
decrescimento e desenvolvimento muito elevado, dado o aumento da
produção devido ao melhoramento das máquinas e as novas inovações
realizadas. Por outro lado, existiam países que tinham um nível de

16
crescimento quase inexistente. Esta situação levou ao economista e
filósofo escocês Adam Smith a iniciar um estudo com o objectivo de
descobrir a origem e a causa da riqueza das nações. Tendo assim
publicado em 1776 a obra a riqueza das nações que marcou o início de
uma nova época para o estudo da economia: a era dos clássicos.

Com os clássicos a economia deixou de ser designada economia política


e passou somente à economia. Algum tempo depois Adam Smith teve
os seus seguidores e todos fundamentavam as suas definições em
quatro pontos: a formação, a acumulação, distribuição e consumo da
riqueza.

A variedade dos pontos ou assuntos abordados na economia leva-nos a


uma dificuldade na definição da própria economia, por serem vastos os
assuntos abordados na economia torna-se difícil ter uma única
definição de economia.

Adam Smith definiu a economia como a ciência que estuda a origem e


causa da riqueza das nações.

Paschoal Rossetti define Economia como a ciência que estuda a acção


económica do homem como envolvendo essencialmente o processo de
produção, geração e apropriação da renda, o dispêndio e a acumulação.

Lionel Robbins define economia como a ciência que estuda as formas


de comportamento humano, resultantes da relação existente entre as
ilimitadas necessidades a satisfazer e os recursos que embora escassos
se prestam a usos alternativos.

Samuelson e Nordhaus definem a economia como o estudo da forma


como as sociedades utilizam recursos escassos para produzir bens e
serviços com valor e para os distribuir entre indivíduos diferentes.

17
Todas as definições dadas acima são válidas. Contudo, como forma de
uniformizarmos as definições a usar no presente módulo, consideremos
a seguinte definição mais abrangente:

Economia é uma ciência social que estuda a forma como as sociedades


utilizam recursos escassos para produzir deforma eficiente diversos
bens e serviços e distribui-los entre os vários membros da sociedade.

Na definição dada acima é importante frisar alguns pontos ou palavras


nomeadamente: ciência social, recursos escassos, produção eficiente.
Bens e serviços.
A economia é uma ciência social – pois estuda e analisa o
comportamento do homem inserido na sociedade.

Recursos escassos – são os diversos recursos disponíveis na economia,


mas que não estão disponíveis livremente para o seu uso, isto é, para
que o homem use este bem é necessário que este disponha de algum
valor monetário para os obter. São bens que por outro lado são finitos,
isto é, não estão disponíveis de forma infinita na natureza.

Produção eficiente – para compreender o significado de produção


eficiente tem que distinguir a palavra eficiência e eficácia.
Eficiência refere-se ao acto de atingir os objectivos minimizando os
custos e recursos e eficácia é apenas o alcance dos objectivos sem ter
em conta os custos e outros danos que pode se causar a natureza e não
só. Assim, podemos agora perceber que produção eficiente, é aquela
que atinge o objectivo (produz o bem ou serviço), reduz os custos e
preocupa-se acima de tudo com a sustentabilidade da produção e com
aspectos ligados a natureza e ao mio ambiente. Bens e serviços – os
bens diferenciam-se dos serviços por serem palpáveis ou tangíveis
enquanto os serviços não são tangíveis. Podemos dar exemplo do
18
caderno escolar, é um bem e a consulta médica é um serviço.

1.1.3 Objecto de estudo da economia e os principais problemas


económicos Conforme referimos na secção 1.1.2 a economia
preocupa-se essencialmente com a forma como a sociedade utiliza
os recursos escassos para a produção de diversos bens e serviços.
Assim sendo, podemos afirmar que a economia existe porque existe
a escassez de bens. Suponha que os bens existentes na economia não
fossem escassos que estes existissem na economia de forma abundante e
que o homem poderia usa-los sem se procurar com o seu término, isto
significaria que cada um poderia ter e fazer o que quisesse, nesta ordem de
ideia o estudante não precisaria estudar pois não precisaria comprar bens e
serviços, não precisaria comprar carros etc., e não haveria a necessidade de
estudar a economia.

As pessoas preocupam-se com o estudo da economia pois os bens são


escassos e necessitam de formas eficientes de uso dos recursos, neste
caso, a economia existe porque existe a escassez. A escassez é a
essência da existência da ciência económica, constitui o objecto de
estudo da economia.

Tendo em conta que o homem necessita de bens é necessário que este


saiba como deverá produzir esses bens, quando deverá produzir, onde
e para quem estará a produzir. Estas questões o que, como, quando,
onde e para quem produzir são as principais questões que a economia
tenta responder e são considerados principais problemas económicos
que todos (empresas, pessoas individuais e os Governos) devem
responder. Vamos de seguida analisar cada um destes problemas:

1. O que produzir

Esta é a primeira questão e a mais importante, pois pode condicionar as


respostas às outras questões. Para responder a esta questão temos que
ter em conta não só os factores financeiros que dispomos, mas
tambéma questão cultural, demográfica, geográfica de cada país.

19
Um país ou uma empresa não pode optar por produzir um bem que é
totalmente incompatível com as questões culturais ou demográficas
deste país, pois os custos serão muito maiores. Por exemplo
Moçambique tem condições climáticas e naturais que favorecem a
produção de camarão, em relação à Zimbabwe, logo, se Moçambique
optar pela produção do camarão terá custos de produção relativamente
menores que o Zimbabwe.

A questão o que produzir está relacionada com a escolha que deve-se


fazer entre a produção de bens de consumo (bens finais prontos para o
consumo exemplo: camisolas, arroz, mesa, etc.) ou bens de capital
(bens que são usados para a produção de outros bens, exemplo: a
maquina de costura é usada para a produção de vestuários, o
computador é usado para produzir manuais de ensino etc. etc.). Cada
país deverá escolher o que irá produzir pois esta perante o mesmo lote
de recursos e não podemos produzir todos os bens simultaneamente e
nas quantidades que desejamos.

2. Como produzir

Como já vimos os recursos que dispomos para a produção de bens e


serviços são limitados (temos pouca mão-de-obra qualificada, temos
recursos financeiros limitados e as maquinarias também são limitadas),
assim sendo, ao decidir como produzir temos que ter em conta a
combinação de recursos que não tornam os custos muito elevados para
o país ou empresa.

Neste caso temos que escolher quais os meios a usar na produção?


Usaremos tractores para a produção de milho ou usaremos homens?

3. Onde produzir

A localização do sector de produção depende muito das necessidades


do país ou da empresa. A fábrica pode estar localizada próximo a
matéria-prima, próximo a mão-de-obra, próximo aos clientes ou ainda

20
em um local que facilita o escoamento do produto (próximo de
estradas, portos, caminhos de ferro etc.). Neste caso, para a tomada de
decisões sobre onde produzir deve ter em conta os custos que a
empresa irá suportar em todo ciclo produtivo.

4. Para quem produzir

Para melhor responder esta questão temos que ter em conta que as
pessoas que compõem uma sociedade têm rendimentos diferentes,
tem hábitos e costumes diferentes assim sendo, é necessário saber
para que público estamos a produzir determinado bem, para as
pessoas de alta renda (logo os padrões de produção devem ser
bastante criteriosos em termos de qualidade dos factores usados),
para a população de baixa renda? Para uso doméstico ou para uso
industrial? Para o consumo interno ou para exportação? A resposta a
estas perguntas irá ditar os factores a usar a qualidade da matéria-
prima etc.

5. Quando produzir

Esta questão está relacionada com o factor tempo. É necessário que a


empresa tenha em conta o tempo em que irá produzir. No verão ou no
inverno? No tempo chuvoso ou no tempo seco? A resposta desta
questão depende do tipo de produto a ser produzido e dos custos que
estão envolvidos em cada sessão.

Existem determinados bens que torna-se mais rentável e de menor


custo produzir no verão para provavelmente vender no inverno, como
é o caso das camisolas, dos casacos etc.

1.1.4 Relação entre os principais problemas económicos

As questões vistas no ponto 1.1.3 não podem ser analisadas de forma


isolada, estas estão relacionadas entre si.

21
No dia-a-dia todos necessitam de diversos bens e serviços desde o
simples pão que comemos até a construção de grandes infraestruturas
como pontes estradas, escolas etc. para a implementação de qualquer
actividade económica é necessário em primeiro lugar que o país decida
o que irá produzir tendo em conta que os factores que usamos para a
produção dos bens são escassos a primeira questão que se coloca é o
que produzir, produzimos computadores ou milho?

Depois de decidir o que iremos produzir devemos nos preocupar em


saber como iremos produzir? Para o
caso do milho poderemos usar a enxada ou poderemos usar o tractor,
neste caso, temos que decidir como produzir. A seguir a esta questão
surgem outras questões onde produzir? Será que produzimos próximo
à matéria-prima ou próximo ao consumidor para evitarmos custos
elevados de transportes?

Temos ainda outras questões por responder durante o processo de


transformação dos bens e serviços, como é o caso de quanto produzir?
Para quem produzir? Será que produzimos 1.000 toneladas ou é melhor
produzir 500 toneladas e alocar a mão-de-obra para a produção de
outros bens? Será que produzimos para a população de baixa renda
(onde procuramos usar factores de produção também acessíveis e mais
baratos para que o preço por sua vez seja também mais baixo) ou
produzimos para a população de renda alta investindo mais na
qualidade?

Antes de iniciarmos um processo de produção é necessário que as


principais questões estejam respondidas facilitando assim o processo
de produção dos bens.

A figura 2 a seguir mostra a relação entre as cinco principais questões


económicas.

22
Figura 2: Principais problemas económicos

Fonte: Elaborado pelo autor do manual

1.1.5 A Relação da Economia Com as Demais Ciências


Com a Biologia: quem exerce a actividade económica gera serviço,
objecto das ciências biológicas. O trabalho gera recursos económicos
para a alimentação e sobrevivência humana.

Com a Moral: a moral tem por objectivo o honesto, a economia tem por
objectivo útil, isto é, a actividade humana em busca de prosperidade
material. A honestidade com o crescimento económico.

Com o Direito: o direito e a economia são ciências sociais, tendo como


objectivo o homem.

Com a Contabilidade: essa traz luz à economia, sobre inúmeros


problemas que se interferem; ambas tratam de juros, empréstimos,
bancos, bolsas. A contabilidade age sobre o ponto de vista técnico e a
economia mostra as razões teóricas para as suas conclusões sobre
determinado fato.

Com a Geografia: essa se utiliza de matemática, física e biologia, as


quais fornecem a economia inúmeros elementos.

Com a História: a história também é uma ciência social. A história


23
económica é o prefácio da economia política.
Com a Sociologia: mostra os fenómenos económicos interdependentes
com os sociais.

Muitos autores consideram a economia política como um ramo da


sociologia.

Com a Matemática: cálculos gráficos

Com a Lógica: uso da razão, raciocínio.

Com a Estatística: classifica, analisa, critica e interpreta dados relativos


aos fatos económicos.

Com a Administração: a administração é o processo de tomar e colocar


em prática decisões sobre objectivos e utilização de recursos.

1.1.6. Sistemas económicos


O sistema económico é o que caracteriza o espírito, a forma e a
substância da actividade económica localizada no espaço e no tempo.
Existe uma lógica geral pela qual a economia funciona e conjunto de
princípios que regem o seu funcionamento. Os três tipos de sistemas
económicos são:

Sistema de Economia de Mercado ou descentralizado – é o sistema


baseado no mecanismo de mercado que tem como objectivo principal
alcançar o lucro máximo. Tem o seu fundamento na liberdade individual
dos agentes económicos não sujeita a orientação ou o mero controlo
estatal. Apesar da existência da política económica governamental o
centro das decisões é a nível das empresas privada que decidem sobre
as formas de concorrência, administra as quantidades e os preços dos
bens produzidos. Os consumidores é que escolhem os produtos que são
colocados a sua disposição no 7 mercado. Este sistema carece de
qualquer mecanismo central, os preços são livres e há liberdades de
escolha.

24
Sistema de Direcção Central e Planificada – distingue-se pela
propriedade estatal dos meios de produção e pela planificação
centralizada da economia, tendo como objectivo fundamental a
satisfação das necessidades da população, defendendo por isso uma
política de redistribuição de rendimentos que reduzem as diferenças
entre os indivíduos na sociedade. O estado através dos órgãos
especializados administram a produção geral, determina os objectivos
e prazos dentro dos quais elas devem concretizar, organizar os
processos e métodos de produção controlando os mecanismos de
distribuição e dimensionando o consumo. A planificação global tem em
princípio o objectivo de racionalização máxima dos recursos disponíveis
na economia.

Sistemas Mistos – este sistema é uma combinação dos dois sistemas,


com elementos de mercados e dirigismo.

Nenhuma das sociedades contemporâneas encaixa a um dos sistemas


extremos. Nunca houve uma economia 100% de mercado (embora a
Inglaterra no século XIX se aproximasse).

1.1.7. Agentes Económicos

Os agentes económicos são pessoas de natureza física ou jurídica que,


através de suas acções, contribuem para o funcionamento do sistema
económico, tanto capitalista quanto socialista. Podem ser:

Empresas: agentes encarregados de produzir e comercializar bens e


serviços, ligados por sistemas de informação e influenciados por um
ambiente externo. A produção se dá pela combinação dos factores
produtivos adquiridos junto às famílias. As decisões da empresa são
todas guiadas para o objectivo de conseguir o máximo de lucro e mais
investimentos;

Família: inclui todos os indivíduos e unidades familiares da economia e


que, no papel de consumidores, adquirem os mais diversos tipos de

25
bens e serviços, objectivando o atendimento de suas necessidades. Por
outro lado, são as famílias os proprietários dos recursos produtivos e
que fornecem às empresas os diversos factores de produção, tais como:
trabalho, terra, capital e capacidade empresarial. Recebem em troca,
como pagamento, salários, alugueis, juros e lucros, e é com essa renda
que compram os bens e serviços produzidos pelas empresas. O que
sempre as famílias buscam é a maximização da satisfação de suas
necessidades;

Governo: inclui todas as organizações que, directa ou indirectamente,


estão sob o controle do Estado, nas suas esferas estaduais ou
municipais. Por outra, o governo actua no sistema económico,
produzindo bens e serviços, através, por exemplo, da EDM,
Electricidade de Moçambique, etc.

1.1.8. Tipos de Economia

A economia pode ser classificada quanto aos resultados, Economia


Positiva e Economia Normativa.

Tipos de economia

Economia positiva parte da ciência económica que se interessa pela


descrição, usando metodologia da teoria de certos aspectos como elas
são e como se apresentam e ela divide-se:

Economia Descritiva: trata da identificação do fato económico. É a partir


dos levantamentos descritivos sobre a conduta dos agentes económicos
26
que se inicia o complexo de conhecimento sistematizado da realidade
no campo da economia positiva.

È a tarefa de levantamento e descrição dos fatos que se dedica a


economia descritiva; é através dela que a realidade começa a ser
submetida a um criterioso tratamento no sentido de que possam se
analisados as relações básicas que se estabelecem entre os diversos
agentes que compõem o quadro da actividade económica.

Teoria Económica: a teoria económica é o compartimento central da


economia, compete-lhe dar ordenamento lógico aos levantamentos
sistematizados fornecidos pela economia descritiva, produzindo
generalizações que sejam capazes de ligar aos fatos entre si, desvendar
cadeias de acções manifestadas e estabelecer relações que
identifiquem os graus de dependência de um fenómeno em relação a
outro. Surgiram então em decorrência conjunto de princípios, de
teorias, de modelos e de leis fundamentadas nas descrições
apresentadas.

A teoria económica adopta duas posições distintas na apresentação e


análise do fenómeno económico,estas posições são conhecidas
como microeconómica e macroeconomia.
A microeconómica é aquela parte da teoria económica que estuda o
comportamento das unidades, tais como os consumidores, as indústrias
e empresas, e suas inter-relações.

A macroeconomia estuda o funcionamento da economia em seu


conjunto. Seu propósito é obter uma visão simplificada da economia
que, porém, ao mesmo tempo, permita conhecer e actuar sobre o nível
da actividade económica de um determinado país ou de um conjunto
de países.

Economia Normativa não se preocupa com a realidade, mas sim com


as formas consideradas óptimas de servir. A preocupação é emitir o

27
juízo de valor, propor novas situações de organização.

Política Económica: os desenvolvimentos elaborados no


compartimento da teoria económica, tem a finalidade de servir a
política económica. Nesse terceiro compartimento é que serão
utilizados os princípios, as teorias, os modelos e as leis. A utilização terá
a finalidade de conduzir adequadamente a acção económica com vistas
a objectivos pré-determinados. Quando empregamos a expressão
política económica governamental estamos nos referindo as acções
práticas desenvolvidas pelo governo com a finalidade de condicionar,
balizar e conduzir o sistema económico no sentido de que sejam
alcançados um ou mais objectivos politicamente estabelecidos.

1.1.9. Bens e Serviços

Podemos dizer, de forma global, que bem é tudo aquilo que permite
satisfazer às necessidades humanas. Os bens podem ser:

Bens livres: aqueles cuja quantidade é ilimitada e podem ser obtidos


sem nenhum esforço na natureza. Por exemplo: a luz solar, o ar, o mar.
Esses bens não possuem preços.

Bens económicos: são relativamente escassos, têm valor no mercado,


e supõem a ocorrência de esforço humano para obtê-lo. Por exemplo:
um carro, um computador etc.

Os bens económicos são classificados em dois grupos:

Bens materiais: como o próprio nome já diz são todos aqueles de


natureza material, que podem ser armazenados e são tangíveis, tais
como roupas, alimentos, livros, televisão etc.

Bens imateriais ou serviços: consideramos aqui tudo que é intangível.


Por exemplo, serviço de um médico, consultoria de um economista ou
serviço de um advogado, que acabam no mesmo momento de produção
e não podem ser armazenados.
28
Os bens materiais classificam-se em:

Bens de consumo: são aqueles usados directamente para a satisfação


das necessidades humanas. Estes bens podem ser: de consumo durável,
tais como: carros, móveis, electrodomésticos; e de consumo não
durável, como, por exemplo, gasolina, alimentos, cigarro.

Bens de capital: são todos os bens utilizados no processo produtivo, ou


seja, bens de capital, que permitem produzir outros bens. Por exemplo:
equipamentos, computadores, edifícios, instalações etc.

Tanto os bens de consumo quanto os bens de capital são classificados


como:

Bens finais: são bens acabados, pois já passaram por todas as etapas de
transformação possíveis.
Bens intermediários: consistem nos bens que ainda estão inacabados,
que precisam ser transformados para atingir a sua finalidade principal.
Por exemplo: aço, vidro e borracha usados na produção de carros.

Os bens podem ser classificados, ainda, em:

Bens públicos: são bens não exclusivos e não disputáveis. Referem-se ao


conjunto de bens fornecidos pelo sector público, tais como: transporte,
segurança e justiça.

Bens privados: são bens exclusivos e disputáveis. São produzidos e


possuídos privadamente, como, por exemplo: televisão, carro,
computador etc.

Podemos dizer então que bem é tudo o que tem utilidade para satisfazer
uma necessidade ou suprir uma carência, enquanto o serviço implica
numa actividade intangível que proporciona um benefício sem resultar
na posse de algo.

Sumário
29
Nesta Unidade temática vimos o surgimento da economia,
primeiramente era tida como o Governo de uma casa, pois as
sociedades assim estavam organizadas, entretanto, a medida que o
homem se desenvolvia, desenvolvia-se também a economia e os vários
temas abordados nesta ciência. Vimos ainda que a economia esta
presente nas nossas vidas e em todas as actividades que exercemos. A
economia é importante não só para os governos, mas também para
cadacidadão, na resolução dos problemas de cada indivíduo.
Ainda nesta unidade temática o estudante analisou o objecto de estudo
da economia e os vários problemas que devem ser resolvidos ou
respondidos.

A unidade termina com o estudo da relação entre os vários problemas


económicos o que produzir, quando, onde, como e para quem e a forma
como a sociedade se organiza para resolver estes problemas.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Explique qual a importância do estudo da economia.


2. Qual o significado etimológico da palavra economia e porque foi
designada Governo da casa.
3. Explique o que aconteceu para a economia passar de economia
política à economia quando é que ocorreu essa mudança.
4. Quem foi Adam Smith e qual foi a contribuição dada por ela à
economia?
5. Dê 5 definições de economia de autores diferentes.
6. Defina os seguintes conceitos:
a) Ciência social,
b) Recursos escassos,
c) Eficiência,
d) Eficácia,
30
e) Bens,
f) Serviços.
7. Identifique os principais problemas económicos e explique cada
um deles de forma detalhada.
8. Os principais problemas económicos estão relacionados entre
si? Justifique a sua resposta.
9. Explique como as sociedades podem organizar se para resolver
os principais problemas económicos.

10. Diferencie bens dos serviços.

Respostas indicativas
1. Nesta questão o estudante deverá explicar a importância do
estudo da economia. Para tal poderá analisar os vários
pontos, temas ou assuntos abordados na economia. Deverá
consultar a secção 1.1.1

2. Para melhor responder esta questão reveja o ponto 1.1.2


da presente unidade temática.
3. Para melhor responder esta questão reveja o ponto 1.1.2 da
presente unidade temática. Reveja o parágrafo relacionado
a Adam Smith.
4. Para melhor responder esta questão reveja o ponto 1.1.2 da
presente unidade temática.

5. Para melhor responder a esta questão o estudante deverá


não só ler e perceber as definições que estão no ponto 1.1.2
da presente unidade temática como também poderá
consultar qualquer bibliografia relacionada. Nota: procure
dar outras definições que não constam no módulo.
6. Para melhor responder esta questão reveja o ponto 1.1.2 da
presente unidade temática.
7. Para melhor responder esta questão reveja o ponto 1.1.3 da
presente unidade temática.
8. Nesta questão o estudante deverá explicar qual a
31
consequência de iniciar um processo produtivo sem o estudo
exaustivo dos principais problemas económicos. Deverá
ainda explicar se é possível respondermos a questão onde
quando como sem responder a castão o quê? Reveja o ponto
1.1.4 para melhor responder.
9. Para melhor responder esta questão reveja o ponto 1.1.5 da
presente unidade temática.
10. Para melhor responder esta questão reveja o ponto 1.1.1 da
presente unidade temática.

Exercícios de AVALIAÇÃO

1. Na secção 1.1.3 vimos que a escassez é o objecto de estudo da economia.


O que entende por escassez. Se a escassez não existisse será que a
economia existiria?
2. Suponha que o estudante é o presidente do País e pretende decidir sobre
a produção do país. As opções existentes são de produção de dois bens
(arroz e tractores), explique de forma detalhada como responderia a cada
uma das principais questões económicas. Atenção: não responda apenas
a escolha mas também justifique. Por exemplo ao escolher o local de
produção deverá justificar porquê da escolha, estará próximo a matéria-
prima? Próximo ao consumidor? Deverá ainda comparar a sua escolha com
as outras opções existentes.

3. Analise as formas existentes de resolução dos problemas económicos.


Identifique duas vantagens e duas desvantagens na implementação de
cada um destes sistemas. Tendo em conta que Moçambique já
implementou os dois sistemas.
4. Explique porque a economia é uma ciência que não tem um conceito único
e unânime.
5. Os bens são escassos porque os homens desejam muito mais do que os
homens podem produzir. Comente a afirmação.

32
UNIDADE Temática 1.2 Factores de Produção e a Fronteira de Possibilidades de

Produção

Introdução

Depois de termos analisado o historial da economia, a definição e as


principais questões económicas vamos nesta secção estudar os factores
de produção a fronteira de possibilidades de produção.

Toda a economia dispõe de determinados factores de produção e é com


base nestes que cada economia e sociedade conseguem determinar o
seu nível de produção. Esta secção é importante pois o estudante verá
as questões relacionadas com as escolhas e o custo de oportunidade de
uma determinada economia.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

▪ Identificar os factores necessários para a produção de determinados bens


e serviços;

▪ Definir a Fronteira de possibilidades de produçãoe


os seus
Objectivos

33
Específicos determinantes,

Definir custo de oportunidade relacionar com a


Fronteira de
possibilidades de produção;

Identificar os factores que fazem com que a Fronteira de Possibilidade de


produção desloque para cima ou para baixo;

Desenvolvimento

1.2.1 Factores de produção


Para a produção dos bens e serviços é necessário que as economias
disponham de recursos de produção ou factores de produção.

Factores de produção são todos os recursos usados durante o processo


produtivo. São todos os instrumentos quer da natureza, quer humanos
ou materiais que usamos para poder transformar determinadas
matérias em bens úteis para a satisfação das nossas necessidades.

Os factores de produção podem ser resumidos em quatro a saber:

1. Terra

2. Trabalho;

3. Capital e;

4. Tecnologia

Terra

O factor terra refere-se as reservas naturais renováveis ou não usadas


com o objectivo de produzir bens e serviços. Por exemplo para a
produção do milho usamos a terra para a sementeira nestes casos, a
terra é um dos factores de produção.

34
A terra refere-se ao recurso natural da sociedade que inclui não só o
subsolo como todos os seus minerais, os rios, as florestas, lagos, fauna
e outros.

Trabalho

O factor trabalho refere-se a força humana apta para o trabalho. Isto é,


o factor trabalho corresponde ao número de pessoas que se dedicam a
produção de determinado bem. Por exemplo se para a produção de 200
hectares de milho precisamos de 50 trabalhadores significa que os 50
trabalhadores constituem a foça laboral e é o factor trabalho.

Capital

O factor capital refere-se ao conjunto de riqueza acumulado pela


sociedade. São todos os instrumentos usados pelo homem com o
objectivo de melhorar a sua produção.

Rossetti (2003) indica que o factor capital sempre foi usado pelas
economias por mais rudimentares que fossem. O exemplo dado por
este autor foi a existência ou a criação de instrumentos como arco
flechas, barcos, e outros instrumentos usados com o objectivo de
melhorar a exploração económica do meio ambiente.

O desenvolvimento de instrumentos e meios de produção associado as


primeiras manifestações de construção de infra-estruturas mostram o
processo de desenvolvimento do capital (acumulação de riquezas com
o objectivo de fazer mais riqueza).

De forma resumida podemos dizer que o factor capital refere-se as


máquinas, equipamentos, ferramentas, infra-estruturas económicas
(energia, telecomunicações, transportes), infra-estruturas sociais
(educação, cultura, segurança, etc.) e todos outros instrumentos ou
objectos que se destinam a produção de novas riquezas.

35
Tecnologia

A capacidade tecnológica é definida como o conjunto de conhecimentos


e habilidades usados no processo de produção.
(Rossetti, 2003).

Os conhecimentos tecnológicos incluem todos os conhecimentos


adquiridos relacionados com o factor terra (conhecimento sobre as
fontes de energia renováveis, sobre o solo, os conhecimentos sobre o
próprio processo produtivo, a combinação dos materiais até a produção
final. Assim sendo, a capacidade tecnológica constitui um dos principais
factores de produção por estabelecer a ligação entre todos os factores
de produção (ligação inter-factores).

Figura 3: Factores de produção

Fonte: Elaborado pelo autor do manual

Para obtermos o produto final necessitamos de misturar ou usar


conjuntamente os factores de produção terra, trabalho e capital.

1.2.2. Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP), ou Curva de


Possibilidades de Produção (CPP)

A curva de possibilidade de produção é um gráfico que mostra as


quantidades máximas de produto que podem ser produzidas por uma
economia dados os factores de produção disponíveis.

A CPP mostra as quantidades que podemos produzir tendo em conta os


factores disponíveis, isto é, se tivermos 10 trabalhadores, 5 máquinas e
36
15 hectares de terra qual é a quantidade máxima de tomate e de arroz
que podemos produzir? A CPP dá-nos a resposta a esta questão.

De forma resumida podemos dizer que a CPP mostra as várias


combinações alternativas entre dois bens X e Y que um país pode
produzir admitindo que todos recursos estão a ser usados para a
produção (não há recursos que não estão em uso, isto é, há pleno uso
dos factores de produção).

Exemplo:

Sabe-se que Moçambique dispõe de 10 trabalhadores, 5 máquinas e10


hectares de terra. Supondo que o país esteja a usar plenamente todos
estes recursos as quantidades máximas de cada produto que pode ser
produzida esta resumida natabela que se segue.

Tabela 1: Opções de produção


Opções Açúcar Máquinas de
de calcular
produção
A 250 0

B 200 250

C 150 450

D 100 600

E 50 700

F 0 750

Fonte: Elaborado pelo autor do manual

O gráfico 1 a seguir correspondente a estas opções está representada


abaixo e corresponde a FPP.

Gráfico 1: Fronteira de possibilidades de produção

37
Tendo em conta que este país produz apenas dois bens, se o país
aloca todos os seus recursos para a produção de açúcar este irá
obter 250 toneladas do mesmo e 0 máquinas de calcular
representado pelo ponto A no gráfico.
Por outro, se o país aloca todos os seus recursos para a produção
de máquinas de calcular este terá um nível de produção de 750
máquinas, representado pelo ponto F no gráfico. Estes pontos
(A e F) designam- se pontos de especialização, pois o país
especializa-se na produção de apenas um bem e com base nesta
produção poderá trocar com outros bens produzidos por outros
países.

Note que todos os pontos ao longo da recta da FPP (ponto A, B,


C, D, E, F) são pontos onde a combinação de bens é feita de
modo a usar ao máximo todos os factores de produção.

A questão que se coloca logo a seguir é: o que acontece com os


factores de produção e os níveis de produção quando se o país
estivesse a produzir fora da recta da FPP? Nos pontos B e C
representados no gráfico abaixo.

38
Gráfico 2: principais pontos da FPP

O ponto A e o ponto D mostram pontos de especialização. No ponto A


o país especializa se na produção do açúcar (só irá produzir açúcar,
todos os factores de produção estarão alocados para a produção do
açúcar) e no ponto D o país especializa se na produção de máquinas de
calcular (só irá produzir máquinas, todos os factores de produção
estarão alocados para a produção das máquinas).
O ponto B mostra uma situação em que o país não utiliza plenamente
os seus factores de produção chama-se ponto de ineficiência (pode por
exemplo não estar a usar a terra na sua totalidade, se tiver 100
hactares pode estar a usar por exemplo apenas 50, no caso das
maquinas podemos estar perante maquinas obsoletas ou ainda
podemos estar a produzir com um número menor de trabalhadores.
Neste ponto, podemos verificar que a produção de açúcar é de
150toneladas e a produção de máquinas é de 250, enquanto que
poderíamos aumentar a produção de máquinas para 450 se
estivéssemos a usar plenamente os recursos disponíveis ou ainda
aumentar a produção do açúcar para 200 toneladas. Conforme mostra
o gráfico acima.

O ponto C mostra um ponto inatingível, um ponto que dificilmente


alcançaríamos usando os factores de produção que temos. Para
alcançarmos este ponto teríamos que aumentar os factores de
produção disponíveis.
39
1.2.4 A CPP e as escolhas de uma sociedade

Conforme vimos na secção anterior a CPP mostra as combinações de


bens que podem ser produzidos tendo em conta os recursos produtivos
de que dispomos. A questão da escolha está patente na CPP pois não
será possível produzir mais dos dois bens usando os mesmos recursos
produtivos.

Gráfico 3: FPP e escolhas

Para melhor entender a questão das escolhas voltemos ao gráfico para


podermos produzir 250 de açúcar não podemos produzir nada de
máquinas e se quisermos produzir 250 de máquinas de calcular
significa que apenas produziremos 200 de açúcar. Assim podemos
observar que a CPP é um menu de escolhas de produção e esse menu
é limitado pelos recursos de que dispomos para a produção e quanto
mais recursos forem alocados na produção de um bem menos serão
alocados para a produção do outro bem.

1.2.5 Deslocações Da FPP

As possibilidades de produção de um país podem alterar de acordo com


a alteração de alguns fenómenos que condicionam a produção. Esta
alteração pode ser de forma positiva (aumentar as quantidades
produzidas) ou de forma negativa (reduzindo as quantidades
produzidas de cada bem).
40
A FPP pode-se deslocar para cima ou para a direita quando aumenta um
dos factores de produção (terra, trabalho, capital e tecnologia), isto é,
se o pais tem maior nível de trabalhadores ou se tem um maior nível de
maquinarias as possibilidades de produção irão aumentar e a FPP irá se
deslocar para cima conforme mostra o gráfico abaixo.

Gráfico 4:Deslocação da FPP para a direita

A deslocação para cima da CPP mostra um crescimento económico para


o país.

A FPP pode-se deslocar para baixo ou para a esquerda quando os


factores de produção reduzem isto é, quando ocorre um fenómeno
que implique a redução de um dos factores de produção como por
exemplo cheias, incêndios que podem danificar as máquinas usadas
na produção e reduzir o número de trabalhadores, deslocando assim a
FPP para a esquerda conforme mostra o gráfico abaixo.

41
Gráfico 5: Deslocação da FPP para a esquerda

1.2.4 CPP e o custo de oportunidade


O conceito de custo de oportunidade é provavelmente um dos
conceitos mais usados em economia.
Este conceito surge pelo facto dos recursos serem escassos e as
necessidades ilimitadas. Dada a limitação dos recursos é necessário que
cada pessoa tome decisões de como aplicar o seu tempo e dinheiro.
Quando o estudante decide estudar, ir ao ISCED estará de certa forma
a prescindir alguma actividade, haverá sempre uma oportunidade
perdida. Dentre o vasto leque de coisas perdidas podemos escolher a
melhor delas e esta é que representará o custo de oportunidade.

Custo de oportunidade é definido como o custo da melhor alternativa


sacrificada.
O conceito de custo de oportunidade pode ser ilustrado usando a CPP
conforme veremos a seguir.

42
Gráfico 6: FPP e o custo de oportunidade

Esta CPP mostra a produção do açúcar e de maquinas de calcular. Sendo


o custo de oportunidade o valor perdido ou o valor sacrificado para
aumentar a produção do outro bem podemos calcular o custo de
oportunidade de aumentar a produção do açúcar de 150 para 200, isto
é, aumentar a produção do ponto C para o ponto C. Neste caso,
podemos verificar que quando aumentamos a produção do açúcar de
150 para 200 toneladas perdemos (reduzimos) a quantidade produzida
de maquinas de calcular de 450 para 250, o que significa que o custo de
oportunidade de aumentar a produção de açúcar em 50toneladas é a
perda de 200ton de maquinas de calcular.

Sumário

Nesta Unidade temática 1.2 estudamos e discutimos


fundamentalmente os factores de produção, a Fronteira de
possibilidades de produção e o custo de oportunidade.
Vimos que para produção de qualquer bem é necessário que o país
possua determinados factores de produção. Precisamos da terra, do
trabalho, do capital e da tecnologia para a produção dos bens e serviços.
Estes factores devem ser alocados aos bens que se pretende produzir e
obter assim as quantidades produzidas, que serão representadas pela
FPP.
43
A medida que forem alterados os factores de produção a FPP pode se
deslocar para a direita ou para a esquerda. Para a direita quando
aumentam os factores de produção, isto é, quando temos maiores
quantidades produzidas, diz se neste caso que a economia esta em
crescimento e quando as quantidades dos factores reduzem a FPP
desloca se para a esquerda.
Vimos ainda o custo de oportunidade e relacionamos a FPP, quando
prescindimos da produção de um bem em benefício do outro bem.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Defina o que é microeconómica;


2. Identifique os principais conceitos empregues na
microeconómica e o conceito de mercado;
3. Explique o conceito de equilíbrio da oferta e da demanda.
4. A partir dos conceitos estudados explique os vazios de
mercado que existem em Moçambique.

UNIDADE Temática 1.3 As acções do Estado e os Elementos básicos da procura e


oferta de bens ou serviços

Introdução

A presente unidade temática estará dividida em dois grupos no primeiro


grupo o estudante irá compreenderas acções e funções do estado e por
outro lado analisaremos as principais funções do mercado.

Nas unidades temáticas anteriores analisamos as principais questões


económicas o que, como quando onde e porque produzir e vimos
também que o mercado é responsável pela determinação dos bens e da
quantidade a produzir. Nesta unidade temática o estudante irá
compreender as principais funções do estado e como funciona o
sistema de o processo da procura e oferta de bens e serviços.

44
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz
de:

▪ Compreender as funções do estado;

▪ Analisar o mecanismo de mercado;


Objectivos ▪ Compreender o conceito de mão invisível;
Específicos
▪ Definir e representar graficamente a função da procura e oferta de um bem

ou serviço;

▪ Compreender o funcionamento da lei da procura e da oferta;

▪ Determinar o preço e as quantidades de equilíbrio de um bem;

▪ Identificar situações de excesso e de escassez dos bens e serviços a partir


da função da procura e da oferta

1.3.1 Introdução
Certamente o estudante já esteve envolvido num processo de compra

de um bem ou serviço. Quando saímos para comprar pão, quando


compramos um bilhete de avião quando subimos um táxi etc. Vejamos
o exemplo da compra do pão, ate a fase da compra do pão o estudante
provavelmente não tenha reparado mas este processo envolveu uma
serie de fases e determinado numero de equipamentos envolvidos para
a sua produção. Para a produção do pão a padaria teve que adquirir
amassadeiras, fornos, lenhas, padeiros, vendedora etc. etc.
Ao mesmo tempo podemos observar que o Governo desempenha
também um papel fundamental neste sector pois este cria as normas de
higiene e segurança que devem ser seguidas pelos padeiros, cria outros
regulamentos para esta área de actuação, cria incentivos às padarias e
cria mecanismos de aumentar a produção de trigo etc. etc. Podemos
assim observar que tanto o mercado (os produtores dos bens e serviços)
assim como o estado desempenham cada um dos papéis fundamentais

45
todos com o objectivo de melhorar e facilitar as transacções no
mercado.
A presente unidade temática ira analisar o mecanismo de mercado e as
acções do Estado, o papel do Estado na vida económica e as funções
básicas da procura e da oferta.

Desenvolvimento

1.3.2 O mecanismo de mercado


Para que o estudante perceba o mecanismo de mercado deverá lembrar
as definições dadas na unidade temática 1 sobre a economia de
mercado e a economia centralizada ou dirigida.
Lembre-se que foi dito que actualmente os países não funcionam de
forma extrema em cada um dos sistemas de mercado, neste sentido
para lembrar que as economias são mistas e para a actuação na
actividade económica todos são actores fundamentais, isto é, nenhum
indivíduo, organização ou Estado isoladamente é responsável pela
resolução dos problemas económicos.
Para que um processo de produção inicie e termine na comercialização
milhões de indivíduos, organizações e o próprio estado devem estar
envolvidos.
Numa economia de mercado as acções são coordenadas por um sistema
de preços e mercados.
O Estado apenas regula a economia, mas o processo de produção e
venda não segue um plano governamental ele é guiado pelo mercado.
Para entendermos melhor o mecanismo de mercado é necessário
primeiro definirmos o próprio mercado.
Mercado é um lugar físico ou imaginário onde vendedores e
compradores encontram-se e transaccionam bens e/ou serviços a um
determinado preço.

46
Quando refere-se que os preços são determinados no mercado referese
ao mercado não como local de venda dos bens e serviços mas mercado
como um mecanismo pelo qual os vendedores e os compradores
integram para determinar os preços e trocar bens e serviços.

1.3.2 O mecanismo de mercado e a mão invisível

O conceito de mão invisível foi introduzido por Adam Smith no seu livro
a riqueza das nações. Ester autor chegou a conclusão de que quando o
mecanismo de mercado funciona (quando os vendedores e os
consumidores conseguem estabelecer os preços de venda e os
processos de produção e distribuição ocorrem normalmente) o
interesse privado pode levar a um ganho público. Adam Smith chegou a
conclusão que quando o mercado funciona perfeitamente cada
indivíduo do mercado ira de certa forma preocupar-se com o seu ganho
individual e nessa procura irá de certa forma criar um ganho público.

Por exemplo quando um empresário de uma determinada zona constrói


uma estrada (movido por interesses próprios e egoísmo pessoal e a
satisfação individual) esta de certa forma a promover um ganho público
pois todos os residentes ao seu redor poderão usar a estrada.

Neste caso, a mão invisível representa o bem-estar criado pelo indivíduo


à sociedade de forma involuntária.

No entanto, para que a mão invisível funcione realmente deverá o


mercado estar a funcionar em pleno sem falhas, mas como sabemos o
mundo e a vida não é assim tão perfeita, nenhuma economia deixa as
questões dos bens públicos para que sejam resolvidos pela mão invisível
existem sempre uma intervenção do estado exactamente porque as
economias não funcionam em perfeitas condições, isto é porque há
falhas no mercado.

47
As falhas no mercado podem ser na forma de monopólios (quando num
determinado mercado existe apenas um único vendedor, o preço é
estabelecido apenas pelo vendedor e não há interacção para a
determinação do preço pelo mercado), logo a formação dos monopólios
constitui uma falha de mercado uma falha de funcionamento do
mecanismo de mercado, que supõe a concorrência perfeita (muitos
vendedores e muitos compradores e bens homogéneos).

Uma segunda falha do mercado ocorre quando há externalidades no


mercado, quando as acções de determinadas empresas prejudicam ou
beneficiam a comunidade. Quando as acções de uma empresa
beneficiam uma comunidade diz-se que estamos perante
externalidades positivas. Por exemplo quando uma empresa investe em
pesquisa de um determinado medicamento para a cura da malária, a
empresa terá o lucro da venda dos medicamentos mas esse lucro será
apenas uma fracção menos quando comparado com os benefícios
sociais que a comunidade ira beneficiar com o medicamento.

Quando as acções de uma determinada empresa prejudicam a


comunidade estamos perante externalidades negativas. Por exemplo
quando uma empresa produtora de vinho ao longo do seu processo de
produção polui os rios cria à comunidade uma externalidade negativa,
a comunidade terá a agua contaminada, a quantidade de pescado
reduz, etc.

1.3.3 Intervenção do estado na economia

Devido a existência das falhas de mercado torna se necessária a


intervenção do estado na economia de modo a proporcionar os bens
públicos às comunidades e reduzir as falhas de mercado, regular a

48
formação dos monopólios, regular as possíveis externalidades
negativas, garantir a segurança pública, empreendimentos públicos, os
serviços de meteorologia etc.

Os governos agem também na tributação dos indivíduos e distribuição


da renda aos mais pobres. Na essência o governo actua no mercado
desempenhando determinadas funções que veremos na secção a
seguir.

1.3.4 O estado e as suas funções

Devido as falhas do mercado o Governo é forçado a intervir na economia


para garantir que as actividades económicas sejam desenvolvidas de
forma eficiente. Nesta intervenção o estado desempenha várias
funções desde a manutenção da ordem social, à segurança pública e a
determinação de políticas económicas.

As principais funções do estado podem resumir se nas seguintes:

1. Função social – o estado exerce a função social ao proteger os


indivíduos do desemprego (criando politicas de combate ao
desemprego, subsidio de desemprego etc.), garantindo a justiça
social e satisfazer as necessidades colectivas dos cidadãos. O
estado exerce também a sua função social ao combater as
externalidades negativas que podem advir do processo normal
de produção.
2. Função política – o estado tem como uma das funções manter a
ordem social, usando o conjunto de instituições de que dispõe
como a polícia, o tribunal, o exército etc. A função política inclui
também a Promoção da equidade – o estado promove a
equidade ao usar os impostos e os programas de despesa para
redistribuir os rendimentos a grupos específicos.

3. Função económica – o estado tem a função de evitar e corrigir


desequilíbrios que possam criar crises económicas, isto é, o
estado deve criar condições para a promoção do crescimento
49
económico, do pleno emprego, reduzir a inflação criar equilíbrio
nas relações comerciais internacionais. Para que estes
objectivos sejam alcançados o estado desenha e implementa
politicas macroeconómicas, politica fiscal (determinação de
impostos a sua redução ou aumento), politica monetária
(controlo da quantidade de moeda em circulação), politica
cambial etc. Estas políticas macroeconómicas têm como
principal objectivo reduzir o desemprego e inflação.

Para além das três funções acima referidas o estado pode intervir
em vários domínios da vida social de forma a garantir a segurança
económica e social das comunidades.

1.3.5 Procura de bens e serviços

A análise da procura e da oferta de bens e serviços é importante para


que o estudante perceba questões como a escassez, os excessos, a
determinação de preços e como os preços podem variar de acordo com
as alterações das condições de produção e de procura.

A teoria da procura e da oferta explicam as variações dos preços dos


bens e serviços.

A procura ou demanda de um determinado bem é definida como a


quantidade de bens que os compradores estão dispostos a comprar.

Quando determinado consumidor desloca-se ao mercado para adquirir


determinada quantidade de bens e serviços este faz em primeiro lugar
uma lista das quantidades a adquirir e conjuga estas quantidades com o
preço dos mesmos.

Para o consumidor quanto mais baixo for o preço do bem, maior serão
as quantidades que este irá adquirir e mais satisfeito este ficará. A
relação entre o preço e a quantidade procurada é designada função de
procura ou curva da procura.

50
EXEMPLO:

Considere a função de procura de leite apresentada na tabela abaixo.


Para cada preço descrito, corresponde determinada quantidade
procurada. Por exemplo, com o preço de 4mt por pacote de leite, a
quantidade procurada é de 10 pacotes de leite. Se o preço do leite sobe
para 5mt o consumidor não estará disposto a comprar a mesma
quantidade, neste caso como podemos observar na tabela a quantidade
consumida de leite é de 9 pacotes, no entanto quando o preço do leite
baixa para 2mt os consumidores estão dispostos a aumentar a
quantidade de leite consumida neste caso, estes irão consumir 12
pacotes de leite.

A análise detalhada do preço e da quantidade consumida de um


determinado produto leva-nos a conclusão de que quando o preço
aumenta o consumidor está disponível a adquirir cada vez menos
quantidades e quando o preço diminui o consumidor está disposto a
consumir ou adquirir cada vez mais quantidades. Neste caso, podemos
afirmar que o preço de um bem e as quantidades procuradas e
consumidas pelos consumidores tem uma relação inversa. Esta relação
negativa é traduzida na Lei da procura

A lei da procura determina que quando o preço de um bem ou serviço


aumenta, mantendo-se o resto constante, os compradores tendem a
consumir uma menor quantidade desse bem ou serviço. De forma
similar, quando o preço baixa, mantendo-se o resto constante, a
quantidade procurada aumenta.

Preço Quantidade procurada


(MT por pacote) (pacotes por ano)
P Q
A 5 9
B 4 10
C 3 12
D 2 15
E 1 20

51
Tabela 2: Procura do leite

Curva de procura é a representação gráfica da função de procura. O


gráfico abaixo mostra a curva da procura.
Gráfico 7: Curva da procura

O eixo horizontal representa a quantidade procurada de leite, enquanto


o vertical representa o preço de Factores que justificam a relação
negativa entre o preço e a quantidade procurada leite. Note que o preço
e a quantidade procurada relacionam-se de forma inversa. Isto é, a
quantidade procurada diminui quando o preço aumenta e vice-versa. A
teoria económica estabelece que a relação entre o preço e a quantidade
que os consumidores procuram é negativa.

Depois de analisarmos a lei da procura surge uma questão: Por que


razão o preço e a quantidade procurada se relacionam inversamente?
Existem duas razões que explicam esta relação inversa entre o preço e
a quantidade que os compradores tendem a consumir.

1. Efeito substituição

Efeito substituição mostra que quando o preço de um


determinado bem aumenta os consumidores tendem a
substituir o consumo deste bem que aumentou o preço por um
outro bem que desempenha as mesmas funções (bens
substitutos) e que o preço é relativamente baixo. Por exemplo:

52
se o preço do frango aumenta, os consumidores podem
substituir o consumo deste bem por um outro bem substituto,
como por exemplo o consumo de carne de vaca.

2. Efeito rendimento

A segunda razão da inclinação negativa da curva de procura é o


efeito rendimento. Quando o preço de um bem ou serviço
aumenta, ficamos relativamente mais pobres do que
anteriormente pois, com o mesmo rendimento, somos
compramos menos bens e serviços. Normalmente o rendimento
de cada consumidor (salário) é fixo durante um determinado
tempo. O que significa que se o preço de um bem ou serviço
aumenta com o mesmo nível de salário agora o consumidor irá
adquirir menores quantidades.

Determinantes da curva da procura

A procura de um bem ou serviço é influenciada por diversos factores


dos quais podemos destacar:

• Rendimento dos consumidores: com aumento do rendimento,


os consumidores tendem a comprar uma maior quantidade de
bens e serviços, mantendo os restantes factores o resto
constante. Neste caso podemos afirmar que o aumento do
rendimento (salário, lucros, juros ou renda), pode levar a um
aumento da quantidade procurada e a redução do rendimento
a uma redução na quantidade procurada;

• Dimensão do mercado: a dimensão do mercado é medida pelo


tamanho da população. Quanto maior for a população, maior
será a quantidade procurada para cada nível de preço e
viceversa;

53
• Os preços e disponibilidade de produtos relacionados: os
preços e disponibilidade de bens relacionados influenciam a
procura de um bem ou serviço. Dois casos devem ser
considerados: bens substitutos e bens complementares. Para
bens substitutos, a procura de um bem ou serviço tende a
diminuir quando o preço do seu substituto diminui e vice-versa.
Para bens complementares, a procura diminui quando o preço
do seu complementar aumenta.

• Gostos e preferências: os gostos representam uma variedade de


influências culturais, históricas, psíquicas e fisiológicas que
determinam as quantidades de bens e serviços que os indivíduos
procuram. Por exemplo, consumir carne de porco é vulgar para
os cristãos, mas é tabú para os muçulmanos, por isso em zonas
onde há abundância de muçulmanos a procura pela carne de
porco é menor relativamente a zona onde há maior abundância
de cristãos.

• Influências específicas: as influências específicas referem-se a


todos os factores que podem condicionar a procura de um
determinado bem ou serviço. Por exemplo: a procura de guarda
chuvas é geralmente maior nos dias de chuva. A procura de
automóveis é reduzida em Nova Iorque onde o transporte
público esta devidamente organizado.

Deslocações da curva da procura para fora e para dentro

Cada um dos determinantes analisados anteriormente influencia a


curva da procura e podem causar deslocações desta para fora (direita)
ou para dentro (esquerda).

As deslocações para direita indicam que as quantidades procuradas


aumentaram e as deslocações para a esquerda mostram uma redução
na procura.

54
Os consumidores aumentam as suas quantidades consumidas quando
aumentam qualquer um dos factores que influenciam a procura. Isto é,
quando aumenta o nível de rendimento ou salário, quando aumentam
os gostos e preferências quando aumentam a dimensão do mercado e
assim sucessivamente.

O gráfico 8 abaixo mostra uma situação em que há aumento da procura


a curva da procura irá deslocar se para a direita.
Gráfico 8: deslocação da curva da procura para a direita

Quando os factores relacionados a procura (rendimento, gostos e


preferência, dimensão do mercado etc.) reduzem os consumidores
reduzirão as suas quantidades procuradas.

O gráfico abaixo mostra uma situação em que há redução das


quantidades procuradas a curva da procura irá deslocar se para a
esquerda.

Gráfico 9: Deslocação da curva da procura para a esquerda

55
A tabela abaixo mostra os factores que fazem com que os consumidores
aumentem ou reduzam as quantidades procuradas.
Tabela 3: factores que afectam a curva da procura
Factores Variação Variação nas quantidades
procuradas
Aumento Aumenta as quantidades
procuradas
Rendimento
Redução Redução das quantidades
procuradas
Aumento Aumenta as quantidades
Gostos e procuradas
preferências Redução Redução das quantidades
procuradas
Aumento Aumenta as quantidades
procuradas
Riqueza
Redução Redução das quantidades
procuradas
Aumento Aumenta as quantidades
Dimensão do procuradas
mercado Redução Redução das quantidades
procuradas
Preço dos Bens Aumento Aumenta as quantidades
substitutos procuradas
Redução Redução das quantidades
procuradas
Preço dos Bens Aumento Redução das quantidades
complementares procuradas
Redução Aumenta as quantidades
procuradas

1.3.6. FUNÇÃO OFERTA

Na função procura descrevemos as escolhas dos consumidores, para


analisarmos as escolhas dos produtores ou das empresas vamos
considerar a função oferta. A função oferta descreve como as empresas
produzem e vendem os seus bens e serviços.

A função de oferta (ou curva de oferta) de um bem ou serviço mostra a


relação entre o preço de mercado e a quantidade de um determinado
56
bem ou serviço que os produtores estão dispostos a produzir e vender,
mantendo o resto constante.

Lei da Oferta: A lei da oferta indica que quanto maior for o preço de um
bem ou serviço, maior será a quantidade que os produtores estão
dispostos a produzir e vender, mantendo o resto constante.

Exemplo: considere os dados referentes ao preço e as quantidades


produzidas do leite.

Tabela 4: Preço e quantidades oferecidas


Preço Quantidade oferecida
(MT por pacote) (milhões de pacotes por ano) Q
P
A 5 18
B 4 16
C 3 12
D 2 7
E 1 0

Os dados da tabela mostram que com um preço muito baixo (1MTn), os


fabricantes de leite preferem produzir outros bens que lhe darão
maiores lucros e que com o aumento do preço mais quantidades de leite
serão produzidas.

A teoria económica sustenta que a curva de oferta tem uma inclinação


positiva. Uma hipotética função de oferta de leite é apresentada na
figura abaixo
Gráfico 10: curva da oferta

Q
57
Determinantes da oferta

Para melhor entender os determinantes da curva de oferta, tenha em


mente que os produtores oferecem qualquer bem ou serviço pelos
lucros que eles obtêm ao produzirem e venderem tal bem ou serviço.
Por exemplo, mantendo o resto constante, com preços mais altos, os
produtores estarão dispostos a produzir e vender mais porque é mais
lucrativo fazê-lo.

Os determinantes da oferta podem ser resumidos em:

• Custo dos factores de produção;

• Progresso tecnológico;

• Preço de bens relacionados;

• Políticas governamentais;

• Influências especiais

Custo dos factores de produção;

Um dos factores mais importantes que influencia a curva de oferta é o


custo de produção. Será lucrativo produzir um bem ou serviço se o custo
por unidade de produção for inferior ao preço desse bem ou serviço.
Quando o custo por unidade de produção é maior que o preço, os
produtores irão produzir poucas quantidades ou mesmo abandonar a
produção de tal bem ou serviço. Exemplo quanto mais baixo for o preço
da farinha, maiores serão as quantidades de pão que os produtores irão
produzir e vender. E quanto mais alto for o preço da farinha menores
quantidades os produtores estarão dispostos a produzir e vender.

Progresso tecnológico;

O progresso tecnológico (a evolução da tecnologia) torna o preço dos


factores de produção cada vez mais baixos. Por exemplo o preço para a
aquisição de um computador nos anos 80 (inicio da sua invenção) era
muito elevado, com a expansão da tecnologia o uso intensivo deste
58
factor o preço deste bem foi reduzindo. Logo podemos afirmar que
quando um bem foi produzido usando nível tecnológico ainda recente
e não expandido o custo deste mesmo bem será elevado e quando a
tecnologia se expande o preço do bem torna se cada vez menor.

Preço de bens relacionados


Os produtores estão sempre atentos às alternativas para as quais os
seus activos (factores) de produção podem ser usados. Especialmente,
os produtores estão atentos em saber se vale a pena usar os seus
factores de produção para produzir diferentes modelos de carros ou um
outro bem. Por exemplo, se o preço de carro de modelo A diminui, os
produtores de carro irão reduzir a produção do modelo A e aumentar a
produção do modelo C que é relativamente mais lucrativo.

Políticas governamentais

Os governos normalmente desenham e implementam leis que podem


influenciar a curva de oferta. Por exemplo, as leis ambientais e de saúde
podem determinar que tecnologias podem ser usadas num certo país,
que por sua vez influenciar a curva de oferta. As leis fiscais e de salário
influenciam os custos dos factores de produção, especialmente a mão-
de-obra. As políticas e acordos comerciais também têm um efeito sobre
a curva de oferta. Quando um acordo comercial abre o mercado do país
A para o país B, os produtores do país A podem aumentar as
quantidades produzidas pois, o mercado para expor os mesmos
aumentou.

Influências especiais

Várias influências especiais afectam a oferta dos bens e serviços no caso


da agricultura, as condições meteorológicas influenciam a curva de
oferta de produtos agrários e seus derivados.

59
Deslocações da curva da oferta

Assim como na procura a quantidade que os produtores estão dispostos


a produzir também é influenciada pelos seus determinantes.

Quando os determinantes aumentam, isto é, quando aumentam os


custos de produção, as quantidades de bens a produzir serão menores
uma vez que torna se mais caro produzir pois a matéria-prima para a
produção agora é mais cara. Neste
caso a quantidade produzida irá diminuir e consequentemente a curva
da oferta ira deslocar se para a esquerda. Conforme mostra o gráfico 11
b).

Quando estamos perante redução dos custos de produção, a empresa


ou economia poderá produzir maiores quantidades e neste caso as
quantidades produzidas e oferecidas são maiores e teremos uma
deslocação da curva da oferta para a direita. Conforme mostra o gráfico
a).
Gráfico 11: Deslocações da curva da oferta para a direita e para a esquerda

1.3.7 Equilíbrio entre a procura e a oferta

Depois de analisarmos separadamente a procura e a chegou a hora de


juntar as duas funções e determinar o equilíbrio de mercado.

Do lado da procura vimos que quanto maior for o preço de umas bem
menores serão as quantidades que este irá adquirir e quanto menor for
60
os preços maiores serão as quantidades que este irá adquirir. Para o
lado da oferta temos o inverso quanto maior for o preço do bem os
produtores estão dispostos a fornecer quantidades cada vez mais
elevadas e quanto menor for o preço em vigor no mercado os
produtores estão dispostos a oferecer menores quantidades. No
entanto, quando vamos ao mercado o preço que lá se encontra é único.
Não existe preço para os produtores e preços para os consumidores. A
questão que se coloca é: como é estabelecido o preço do mercado?

O preço de mercado resulta da intercepção entre a curva da procura e


a curva da oferta e designa-se preço de equilíbrio. O preço de equilíbrio
igual as quantidades procuradas e as quantidades oferecidas. Neste
ponto tanto os produtores assim como os consumidores estão
satisfeitos com o preço.

O gráfico abaixo mostra a intercepção da curva da procura e da oferta


de bens e serviços. Podemos observar o preço de equilíbrio (P*) e a
quantidade de equilíbrio (Q*).

A função procura pode ser representada pela letra d que provem de


demanda que significa procura e a função oferta pode também ser
representada pela letra s que provem de supply que significa oferta.
Gráfico 12: Equilíbrio procura e oferta

61
Excedentes e escassez de bens e serviços

O equilíbrio analisado acima mostra que no mercado não temos


excedentes de bens e nem escassez deste bem. Isto significa que ao
nível de preço de equilíbrio todos os consumidores que procuram bens
e serviços no mercado encontram.

No caso em que se verifica escassez de bens ou excesso consideram se


casos de desequilíbrio no mercado.

Exemplo: suponhamos que as quantidades procuradas sejam maiores


que as quantidades oferecidas, isto é, nem todos os consumidores
conseguem os bens que necessitam, há escassez de bens no mercado o
que acontecerá?

A figura que se segue ilustra essa situação, podemos verificar que as


quantidades procuradas são maiores que as quantidades oferecidas,
neste caso os produtores terão a tendência de subir o preço praticado
até um nível em que o número de consumidores que procuram este
bem a este nível de preço baixe. Isto é, o preço ira aumentar e alguns
compradores irão desistir de procurar por este bem a este preço (irão
preferir outros bens) e o nível da procura ira se estabilizar até que a
escassez de bens de elimine e o preço em vigor no mercado se
estabilize.
Gráfico 13: Escassez de bens

62
Em caso de excesso de bens e serviços disponíveis no mercado. Os
produtores por temerem que os produtos deteriorem ou passem do
prazo irão preferir baixar o preço, e como já vimos pela lei da procura
quanto mais baixo for o preço maiores quantidades os consumidores
estarão dispostos a adquirir.

Neste caso, a quantidade procurada irá aumentar (dada a redução do


preço) até ao ponto em que os produtores já não estarão mais dispostos
a baixar o preço, isto é, até ao ponto de equilíbrio. Conforme mostra o
gráfico que se segue:
Gráfico 14: Excesso de bens

Sumário

Na presente unidade temática estudamos a importância e as razões de


intervenção do estado na economia. Diferenciamos as várias formas de
falhas de mercado. Estudamos a mão invisível e o mecanismo de
mercado, vimos que o mercado não funciona sempre com base no
mecanismo de mercado e na mão invisível e que é necessária a
intervenção do Estado para corrigir determinadas falhas.

63
A intervenção do Estado é feita através das várias funções por este
desempenhadas.
Ainda nesta unidade temática vimos as principais funções do mercado,
a função da procura e a função da oferta. Analisamos cada uma das
funções, os seus determinantes, a forma de representação gráfica e por
fim vimos como é determinado o equilíbrio de mercado e as várias
situações de excesso e de escassez que podem existir na economia.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Defina mercado e dê exemplos.


2. Qual foi o autor que introduziu o conceito de mão invisível? Qual
é o significado desde conceito.
3. Explique porque o mecanismo de mercado e a mão invisível não
funcionam na sua plenitude.
4. Identifique as principais formas de falha de mercado e explique
detalhadamente cada uma delas.
5. Identifique e explique as principais funções do estado.

Respostas indicativas

1. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto 1.3.2 e


1.3.5

2. Para esta questão o estudante deverá definir a mão invisível e dar


exemplos de acções que correspondem a este conceito.

3. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto 1.3.2


4. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto 1.3.2
5. O estudante deverá explicar a importância da intervenção do
estado na economia e dar exemplos concretos em que a
intervenção do estado na economia é necessária.

64
Exercícios de AVALIAÇÃO

1. Explique a essência da lei da procura.


2. Identifique e explique os factores que influenciam a inclinação da
curva da procura.
3. Identifique três determinantes da procura e explique dois a sua
escolha.

4. A lei da procura determina que quando o preço de um bem ou


erviço aumenta, mantendo-se o resto constante,
os compradores tendem a consumir uma menor quantidade desse bem ou
serviço. O que é que justifica a relação inversa entre o preço e as
quantidades procuradas?

5. Enuncie a lei da oferta e os determinantes da oferta.


6. O mercado é normalmente definido como um lugar real ou
económico, de encontro entre a procura (consumidores) e a oferta
(produtores) para a realização de trocas de bens. Apresenta de
forma clara as condições básicas para que exista um mercado.

65
TEMA – II: Economia Social

Introdução
Depois de termos visto no tema 1 os aspectos relacionados com a
economia em si. Iremos neste tema estudar a economia social.

Neste tema o estudante irá primeiro diferenciar a economia da


economia social e depois estudar aspectos relacionados com a
economia social. A sua génese e evolução, a sua definição.

Teremos neste tema uma unidade temática específica que ira abordar a
economia social e os vários conceitos a ela relacionados como é o caso
de terceiro sector e economia solidária.

Objectivos específicos:
Ao terminar o estudo deste tema, você será capaz de:

▪ Compreender o surgimento da economia social e sua importância;

▪ Analisar a evolução da economia social focando os principais


acontecimentos
e datas marcantes para esta ciência;
Objectivos
Específicos ▪ Diferenciar a economia social da economia solidária;

▪ Diferenciar a economia social do terceiro sector;


▪ Identificar as principais características da economia social;

▪ Identificar a área de actuação da economia e compara-la com a área de


actuação do estado e do sector privado.

Para que o estudante alcance eficientemente os objectivos traçados


para este tema será dividido em duas unidades temáticas
nomeadamente:

Unidade temática 2.1: origem e evolução da economia social.

66
Unidade temática 2.2: economia social e os diferentes conceitos a ele
relacionados.

UNIDADE Temática 2.1 Origem e evolução da economia social

Introdução

Na presente unidade temática o estudante irá analisar a génese da


economia social e a sua evolução.
Veremos nesta unidade temática o surgimento da economia social e o
enquadramento desta ciência ao longo dos vários anos.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:


▪ Compreender a génese da economia social;

▪ Identificar as principais fases da evolução da economia social;

Objectivos ▪ Identificar as características de cada uma das fases da economia social;

Específicos

2.1.1. Evolução histórica da economia social

Caeiro (2008) indica que o conceito de economia social surgiu por volta
de 1830 quando Charles Dunoyer publicou em paris um tratado de
economia social, surgindo na mesma década na universidade de Lovaina
um curso com a designação economia social.

Algum tempo depois surgiu a escola socialista cujos precursores foram


os socialistas utópicos3 com grande contributo de Marcel Mauss (1872-
1950) e Benoit Malon (1841-1893) defensores de uma economia de
socialização voluntaria.

Vários exemplos que reflectem a economia social no Sec. XIX podem ser
retratados:
67
3
Socialistas utópicos foram os primeiros socialistas, datam do Sec. XIX, pretendiam
formar uma sociedade igualitária, por isso o nomes socialistas utópicos (utopia é algo
imaginário, algo que não existe difícil de se concretizar. O termo socialista utópico foi
atribuído pelos seus opositores marxistas (socialistas científicos). Apresar de serem
intitulados socialistas utópicos as ideias apresentadas por estes possuíam
frequentemente uma base cientifica e princípios guiados pela ciência.

• A formação da escola social-cristã reformista por Fréderic Le


Play (1806-1882) que inaugurou uma sociedade de economia
social e uma revista com o mesmo nome;

• Surgimento da escola liberal dirigida por Charles Dunoyer (1786-


1862) que coloca sua perspectiva teórica na liberdade da
economia e no afastamento da intervenção do Estado com
recurso ao princípio da auto ajuda. Mais tarde Leon Walras
(1834-1910) juntou se a escola liberal pela importância que esta
tinha nas associações populares;

• John Stuart Mill (1806-1873) na Inglaterra defende a superação


do proletariado através das associações de trabalhadores.

O auge da economia social francesa foi marcado por Charles Gide (1847-
1932). Este autor defendia que o espírito do solidarismo poderia abolir
o capitalismo e proletariado sem sacrificar a propriedade privada. Ele
defendia ainda que a cooperação e a ajuda mútua podem por si só
promover a transformação do homem.

Caeiro (2008) indica que a evolução da economia social do ponto de


vista académico pode ser dividida em cinco períodos nomeadamente:

1. A génese da economia social (1791-1848)

Este período é marcado pela revolução Francesa e foi inspirado pelos


ideais da liberdade, da fraternidade e da igualdade, tendo como
resultado o início do movimento associativo ligado ao proletariado e as
organizações obreiras4.

68
Nesta época as cooperativas começaram a dar os primeiros passos no
sentido de aumentar o emprego reduzir as desigualdades sociais. O fim
deste período é marcado pela tomada de paris (a comuna de paris5). A
comuna de paris (Governo socialista) incentivava a formação de
associações proletárias e das cooperativas como forma de melhorar as
condições de vida dos operários e aumentar o bem-estar da
comunidade.

2. A questão social e o movimento operário (1850-1900)

Com o fim da comuna de paris (1871) o Estado volta a assumir o seu


papel e os valores do associativismo começam a declinar aos poucos,
forçando assim o papa Leão XIII, a intervir sugerindo que a se
regressasse aos tempos antes da revolução e de novo ao associativismo
das profissões que se designavam corporações6

3. Os regimes totalitários e a contestação ao liberalismo (19011945)

Os movimentos totalitários surgem no início do século XX (lembre-se


que o inicio do século XX foi marcado pela 1ª guerra mundial 19141918
e pela revolução Russa de 1917). Estes movimentos contestavam o
liberalismo e defendiam um maior papel do Estado na condução da
sociedade. Vários movimentos totalitários surgiram nos primeiros anos
do século XX onde podemos destacar:

• O Fascismo italiano

• O nazismo alemão; O
estado novo português e;
O tenentismo Brasileiro.

Durante o período do totalitário as cooperativas foram se


fragmentando, transformando se em ramos sectoriais de algumas
actividades. Com as duas guerras mundiais os movimentos operários
desfazem-se criando dificuldade de continuidade das associações e
69
cooperativas.

A grande depressão iniciada em 1929 e o newdeal nos estados unidos


foram elementos determinantes para a mudança da mentalidade e o
retorno às preocupações sociais.

4. O estado providência e os direitos sociais (1945-1975)

Este período foi marcado pela importância da intervenção do Estado na


economia defendido por John Maynard Keynes no seu livro teoria do
juro, do emprego e da moeda.

Keynes defendia que para superar a crise causada pela grande


depressão, o estado não deveria ter um papel de apenas regulador da
economia, mas sim deveria ter um papel mais interventivo na economia
de modo de criasse mais postos de trabalho, mais produção. Assim
sendo o papel do estado intensifica se e o conceito de economia social
fica relegado para o segunda instancia.

Sendo o estado agora responsável pela resolução das falhas de


mercado, o termo economia social passa a ser empregue em sentido
mais amplos que o seu original iniciando a questão de análise
socioeconómica, ou seja o termo economia social passa a compreender
não só a questão de associativismos mas também passa a designar a
vida em sociedade dos indivíduos e dos grupos sociais.

Caeiro (2008) indica que as dispersões de conceitos de economia social


teriam surgido nesta época.
Nos anos 70, a crise do estado providência levou a que a problemática
da economia social voltasse a ser debatida o que marcou o período que
se segue.

5. A crise do estado providencia e o redimensionamento da economia


social (1975-2006)

A partir dos anos 1970 o Estado providencia defendida por Keynes entra
70
em crise, a principal causa é a crise do mundo capitalista, com o fim da
guerra fria o mundo é marcado por dificuldades financeiras que
colocaram em causa o carácter social do estado.com problemas
financeiros o estado deixa de desenvolver actividade de carácter social
que antes eram desenvolvidas. Nesta época e dada a crise do estado
providencia a problemática da economia social volta a ser tema de
debate e mais uma vez de forma predominante na franca, tendo como
base a proximidade dos movimentos cooperativos e mutualidades 7

francesas.

Neste período de crise do estado providencia os movimentos


associativos e a economia social volta a ter a importância na sociedade.
Nesta época assiste se ao desenvolvimento de apoio financeiro à
economia social e as suas organizações, um aumento de emprego e
desenvolvimento de associações locais e cooperativas dos mais
variados tipos.

Em 1975 nasce o comité nacional de coordenação das actividades


mutualistas, cooperativas e associativistas (CNLAMCA) que lança em
1978 em Bruxelas um debate europeu sobre a economia social.

Segundo o historiador francês André Guélin Economia social é um tema


que existe desde o século XIX, contudo os estudos sobre esse tema
apenas foram produzidos a partir de 1980. As razões para que a
economia social passasse a ser analisada e merecer destaque no campo
científico a partir de 1980 são praticamente duas:

1. A partir de 1975-76, surgem fenómenos novos provocados por


uma serie de mudanças principalmente de ordem económica e
cultural. A crise do sistema capitalista criou um quadro
dramático na classe trabalhadora e criou uma serie de iniciativas
para salvar o emprego ou criar novos empregos aos
trabalhadores. Entre 1980-1985 foram criadas varias

71
cooperativas de trabalhadores na Europa. O número crescente
de cooperativas criadas trouxe uma nova visão da economia
social.

2. Inicio de estudos científicos económicos e sociológicos que


levaram a

Em 1981 o Governo francês cria a delegação interministerial para


economia social reconhecendo assim o poder político e a importância
da economia social.

Como podemos observar pelas fases da evolução da história da


economia social está ligada a França, no entanto a história da economia
social pode ser descrita pelas acções desenvolvidas nos outros países
apesar de não com tamanha intensidade como na perspectiva
francófona.

Em Portugal a economia social está ligada a tradição de acções de


misericórdia que assumiram uma componente de intervenção junto às
populações de mais desfavorecidas nos séculos XVIII.

A tabela a seguir mostra de forma resumida as diferentes fases da


evolução da economia social. Podemos observar as principais cinco
fases e os pontos marcantes de cada uma das fases.

72
Figura 4: Evolução da economia social

Fonte: elaborado pela autora do manual

Sumário

Na presente unidade temática estudamos a importância e as razões de


intervenção do estado na economia. Diferenciamos as várias formas de
falhas de mercado. Estudamos a mão invisível e o mecanismo de
mercado, vimos que o mercado não funciona sempre com base no
mecanismo de mercado e na mão invisível e que é necessária a
intervenção do Estado para corrigir determinadas falhas.
A intervenção do Estado é feita através das varias funções por este
desempenhadas.

73
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Explique o ano e o contexto que surge a economia social.


2. Identifique três exemplos que demonstram a existência
da economia social no século XIX.
3. Em que ano se verificou o auge da economia social,
quem foi o precursor e o que o mesmo defendia.
4. Quando surgiram os movimentos totalitários e o que
defendiam os seus seguidores?
5. A partir dos anos 1970 o Estado providencia defendida
por Keynes entra em crise. Explique os motivos que levaram a
esta crise.

Respostas indicativas
Tendo em conta que a presente unidade apenas trata de um
único ponto: a génese e evolução da economia social. Para
responder as questões acima o estudante deverá ler com
atenção as principais fases da evolução da economia social que
constam nesta unidade temática.

Exercícios de AVALIAÇÃO

1. Os socialistas utópicos defendiam a socialização voluntaria.


a) Explique a essência desta da frase acima. O que significa socialização
voluntaria.
b) Quem foram os socialistas utópicos e como eles se diferenciavam dos
outros.
2. Explique de forma detalhada as razões para a atribuição da expressão
socialistas utópicos a estes autores.

74
3. Keynes defendia que para superar a crise causada pela grande depressão,
o estado deveria ter um papel de apenas regulador da economia, mas
deveria ter um papel mais interventivo na economia de modo de criasse
mais postos de trabalho, mais produção. Comente a afirmação e indique
em que fase a economia social encontrava-se nesta época.

4. Economia social é um tema que existe desde o século XIX, contudo os


estudos sobre esse tema apenas foram produzidos a partir de 1980.
Explique as razões para este facto.

UNIDADE Temática 2.2 Economia social e os diferentes conceitos a ele relacionados

Introdução

Na presente unidade temática continuemos a analisar a economia


social. Vamos definir a economia social, indicar as principais
características da economia social e a importância para as comunidades
e para o país. Veremos ainda nesta unidade temática a distinção entre
a economia social e os vários conceitos a ele relacionados. Como é o
caso da economia solidária e do terceiro sector.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

▪ Definir economia social;

▪ Identificar as principais características da economia social;


Objectivos ▪ Compreender a importância da economia social,
Específicos
▪ Diferenciar a economia social da economia solidária e do terceiro sector.

75
Desenvolvimento

2.2.1. Economia e economia social

O conceito de economia social deriva da terminologia francesa e remota


as pratica de solidariedade interclassiatas 8 enquanto reacção as
transformações económicas e sociais da revolução industrial.

Para continuarmos com o conceito de economia social é necessário


antes diferenciar este conceito e o conceito de economia. Ora vejamos,
no tema anterior definimos a economia como a ciência que estuda a
forma como as sociedades usam os recursos escassos para produzir
cada vez mais bens para a satisfação das suas necessidades, neste caso,
pode se definir a economia como uma ciência social, e sendo economia
uma ciência social não há necessidades de diferenciar a economia da
economia social, assim o diz Caeiro (2008). O mesmo afirma que torna-
se redundante falar em economia e economia social pois aquela já
engloba esta.

Alguns autores tentam diferenciar a economia da economia social,


indicando que a economia social é um ramo da economia que se dedica
ao estudo das questões sociais, aquelas que não são resolvidas nem
pelo estado e nem pelo mercado (os produtores que tem objectivo de
aumentar a produção e reduzir os custos).

No presente manual torna-se necessário distinguir estes conceitos, pois,


apesar de a economia ser uma ciência social, em princípio esta foca
questões relacionados com o mercado e com o comportamento dos
produtores e compradores na sua actuação no mercado e economia
social estuda questões económicas, mas foca às organizações da

8
Interclassismo é a prática política e social que rejeita a política de luta entre classes
sociais diferentes, defende e promove a cooperação entre as pessoas que comungam
os mesmos interesses, independentemente da sua categoria ou classe social.
76
economia social onde o principal objectivo não é o lucro mas sim a
satisfação das necessidades da comunidade envolvente.

A economia como social situa–se

1. Numa perspectiva metodológica diferente da economia ortodoxa


face à definição do problema económico, em que desaparece a
dicotomia homem económico–homem social e em conjunto com
os problemas de afectação de recursos se analisam também os
relativos à distribuição, condições de produção, desemprego,
pobreza e qualidade de vida (Monzón, 1992, p. 12).

2. Numa palavra, a economia social situa–se na área da liberdade e


da função social do ter e do ser ao serviço da comunidade humana
e do desenvolvimento harmonioso da sociedade numa
perspectiva de promoção, simultaneamente, individual e
colectiva.

Nós vemos a economia social como o conjunto das actividades com


dimensão económica e não de natureza económica, realizadas por
entidades privadas sem fins lucrativos, com objectivos sociais. Devemos
considerar economia social as diferentes entidades privadas sem fins
lucrativos, cujo produto é a solução dos problemas sociais. Podemos
depois ser exigentes e considerar apenas as que desenvolvem
actividades mais próximas do mercado. Em qualquer dos casos uma
instituição deveria ter condições para existir sem o financiamento
governamental.

O valor intrínseco do produto é uma coisa importante para mim, o


produto não é um mero instrumento para a obtenção de lucros, é algo
válido por si próprio e válido numa perspectiva social. O problema que
se põe é o que fazer com esse diferencial positivo e aí eu admito que
possa haver uma distribuição porque penso que a economia social não
tem de ser a priori contrária à ideia de lucro. A economia social só
verdadeiramente existe quando uma empresa desenhada segundo um
modelo concorre no mercado como uma forma alternativa, uma maneira
alternativa de estar no mercado.

77
Quando se fala em economia social a primeira questão que aparece é o
que realmente é ou significa. Na secção anterior fizemos referência a
distinção entre a economia e a economia social, vimos que torna se
difícil distinguir estes dois termos uma vez que a definição de economia
já inclui a parte social por ser uma ciência social.

Caeiro (2008) indica que uma das principais causas para a dificuldade de
definir economia social e o seu campo de actuação está relacionado
com a distinção entre a economia pública e a economia privada. Tanto
a economia pública como privada tem campos de actuação bem
definidos e concretos o mesmo não acontece com a economia social
pois as actividades desenvolvidas pela economia social não tem um
espaço de intervenção preciso. Isto é, a economia social pode ser
desenvolvida e implementada tanto pelo estado assim como pelas
entidades privadas, tornando assim difícil de definir o âmbito de
actuação da economia social.

Alguns autores, como é o caso de Monzon (1992) citado por Caeiro


(2008) referem que a economia social tem um campo de actuação que
vai para além da problemática de afectação de recursos escassos da
economia ortodoxa 9 , a economia social analisa também questões
relativas a distribuição de rendimento entre elementos da sociedade, as
condições de trabalho, a pobreza e a qualidade de vida.

Outras definições de economia social mostraram que a economia social


esta estritamente ligada a função social e ao serviço da comunidade
humana.

Caeiro (2008) define economia social como um conjunto de actividades


com dimensão económica e não de natureza económica com objectivo

9
Economia ortodoxa corresponde a escola de pensamento clássico e neoclássico. Que
comungam a não intervenção do Estado na economia, o uso pleno dos factores de
produção. O precursor da economia clássica foi Adam Smith.

78
sociais. Considera economia social as diferentes entidades privadas sem
fins lucrativos cujo produto é a solução dos problemas sociais.

Barea 1992 citado por Caeiro (2008) define economia social como um
grupo de empresas e instituições que para além da diversificação
jurídica e heterogeneidade de funções, está ligado através de uma ética
comum assente na solidariedade e na prestação de serviços aos seus
membros e no interesse geral, sendo as cooperativas a sua
representação mais genuína.

Guélin (1998) citado por Lechat (2002) define economia social como um
conjunto de organismos produtores de bens e serviços, colocados em
condições jurídicas diversas no seio das quais porem a participação dos
homens resulta de sua livre vontade onde o poder não tem por origem
a detenção do capitalismo e onde a detenção do capital não
fundamenta a aplicação dos lucros.

No Brasil, o termo economia social é usado para designar políticas


públicas em áreas de educação, saúde e moradia popular. (Lechat,
2002).

Após as definições podemos observar que a economia social tem um


campo de actuação próprio que nem a economia pública nem privada
actuam. Apesar de produzir bens como se uma empresa se tratasse esta
não tem como objectivo o lucro. Assim verificamos que a economia
social encontra se entre o estado e a economia de mercado, quer no
que diz respeito a resolução de problemas que o estado não pretende
resolver como a produção de bens que beneficiam a determinados
grupos com o mesmo interesse, assim como a economia privada não os
pretende como é o caso de produção sem fins lucrativos.

2.2.3 Características da economia social

O que caracteriza a economia social são os princípios que esta possui


que estão ligados a questões jurídicas, económicas e sociológicas do seu

79
campo de actuação. Estes princípios podem ser resumidos em quatro a
saber:

1. Identificação recíproca das pessoas e das actividades a ser


desenvolvida – as pessoas devem identificar-se uma a outra em
seus comportamentos e nas actividades que exercem.
2. Igualdade entre os membros – independentemente da
participação financeira de cada membro nas actividades
desenvolvida deverá haver igualdade de repartição dos
rendimentos nas instituições da economia social. Note que nem
todas as organizações funcionam em 100% nesse critério,
contudo não deixa de ser uma característica pois a maioria das
instituições assim o faz;

3. Possibilidade de divisão dos excedentes entre os membros de


forma proporcional a sua participação na actividade;

4. Propriedade colectiva dos benefícios provenientes da


actividade.

Da análise do conceito de economia social, resultam quatro princípios


determinantes:

a) Finalidade de prestação de serviços aos membros da colectividade;

b) Autonomia da gestão;

c) Processo de decisão democrática e

d) Primado do trabalho e das pessoas sobre o capital e a repartição do


rendimento.

Pode então, afirmar – se que a economia social recobre duas realidades


que se interligam, a saber "uma forma alternativa de estar na economia
(nem pública, nem privada capitalista) e o trabalho social ou assistencial
sobre as camadas da população em processo de exclusão" (Nunes;
RETO; Carneiro et al, 2001, p. 6). A sua designação advém do seu fim

80
ser o bem–estar social, o desenvolvimento local e a solidariedade,
situando–se, por conseguinte, na área da liberdade e da função social
do ter e do ser ao serviço da comunidade humana e do desenvolvimento
harmonioso da sociedade numa perspectiva de promoção,
simultaneamente, individual e colectiva.

Face ao que fica dito, devemos entender a economia social, com base
num conjunto de valores que evidencia uma finalidade social da sua
actividade e racionalidade própria dos agentes, ou seja, ausência da
finalidade do lucro na sua actuação, preocupação pela procura não
solvente, pela satisfação de necessidades sociais onde surgem aquelas
que não são satisfeitas pelo mercado.

2.2.4. Importância da economia social

A economia social tem uma importância primordial na promoção da


justiça e da equidade.

Tendo em conta a evolução dos mercados e a intensificação da


competitividade entre as empresas, estas têm a tendência em produzir
bens cada vez mais lucrativos e por outro lado temos o estado que
mostra se incapaz de providenciar determinados serviços de cariz social
surge a economia social para implementar estas actividades.

A importância da economia social tem sido verificada em vários ângulos


de actuação. O próprio Governo reconhece a importância da economia
social para as comunidades e para o país por isso muitos Governos
tendem a legislar este sector dando maior autonomia as organizações a
ela relacionadas.

A importância da economia social para o país pode ser resumida nos


seguintes pontos:

✓ Ajudar o Governo a atingir as metas macroeconómicas,


principalmente o combate ao desemprego.

81
✓ Aumento do sentimento de solidariedade e ajuda mútua. As
organizações da economia social arrecadam de forma voluntaria
criando no cidadão um espírito de ajuda mútua e solidariedade.
✓ Criação ou produção de bens a preços mais baixos em relação
aos preços de mercado;
✓ Redução da criminalidade, uma vez que estas organizações
empregam pessoas sem experiência, algumas sem um nível de
escolaridade desejada em outras instituições.

2.2.5. Economia social e outros conceitos a ela relacionados


Nos últimos anos o conceito de economia social tem sido alvo de muito
debate, principalmente pela dificuldade de diferenciar este conceito
com os demais relacionados como é o caso de terceiro sector e
economia solidária.

Nesta secção iremos diferenciar a economia social de outros conceitos


relacionados. Iniciaremos com a análise de cada um dos conceitos.

Terceiro sector

Terceiro sector refere-se basicamente a hierarquização dos sectores da


economia, pois ao referir terceiro parte-se do pressuposto que existe de
antemão o primeiro e o segundo sector, que neste caso encontram se
acima do terceiro. Podendo assim referir que na economia existem três
principais sectores:

• Primeiro sector – é representado pelo Estado


• Segundo sector – representado pelo mercado
• Terceiro Sector - representado pelo sector social

O terceiro sector compõe as instituições de carácter privado, sem fins


lucrativos, apresentando uma gestão autónoma mas que actuam na
esfera pública como forma de satisfazer as necessidades globais.

82
O conceito de terceiro sector surge na escola anglo-saxónica10 onde
considera-se que as instituições do terceiro sector organizações sem
fins lucrativos, que se apresentam em acções de solidariedade.

As organizações sem fins lucrativos caracterizam se pelo carácter


privado, não distribuidor de lucro (nenhum dos seus membros pode
receber qualquer lucro gerado pela sua actividade, o que significa que
havendo lucro este deverá ser reinvestido na própria organização), auto
governadas (criam o seu próprio sistema de gestão das suas actividades,
sem necessidade de controlo de organizações externas) e voluntarias
(voluntárias pois parte do seu rendimento é proveniente de
contribuições voluntárias). Estas organizações apresentam uma
coerência institucional, isto é, realizam reuniões regulares, são regidas
por regulamentos e procedimentos de funcionamento e algum grau de
permanência organizacional. São instituições privadas (que podem ou
não receber financiamento governamentais)

Economia solidária

O uso do termo economia solidária surgiu no século XX na década 90 na


França e se alastrou por outros países da Amarica do Sul. Este termo é
utilizado como forma de destacar a solidariedade e diferenciar o
individualismo da economia de mercado.

A economia solidária é também um conceito que adquiriu grande


importância na França e em outros países. Este conceito está
estritamente ligado a questões da doutrina social da igreja. As principais
características deste conceito são a intervenção ecológica, o
desenvolvimento local e a autogestão como forma de organização
interna. Este conceito teve a sua génese na franca e teve o seu

10
Anglo-saxónicos - refere-se aos países das Américas que tem como principal idioma
o inglês e que também possuam laços históricos, étnicos, linguísticos e culturais com o
Reino Unido.
83
desenvolvimento com a Agencia de Ligação para o Desenvolvimento de
uma Economia Alternativa (ALDÉA).

Laville e Roustang (1999), citado por Lechat (2002), indicam que a


economia solidária surgiu para reduzir o fosso entre o económico, o
social e o político. Estes autores consideram que a economia social
surge como articulação destas três dimensões.

A principal característica da economia solidária é a solidariedade, a


autonomia e o financiamento de micro projectos artesanais.

O que difere a economia social da economia solidária é:

Economia solidária pode ser desenvolvida por cidadãos individuais,


fazendo algo que seja útil a todos, com o objectivo de aumentar as
ligações sociais, acumular o capital,
melhorar o meio ambiente e defender o próximo.

Relação entre os conceitos terceiro sector, economia social e economia


solidária

O conceito de Terceiro sector, economia social e economia solidária tem


vários aspectos em comum (a realidade social) e neste caso torna se
difícil de distinguir cada uma delas e muitas vezes essa distinção torna-
se muito subjectiva e pode até ser desnecessária a sua distinção.

A economia solidária pode ser considerada uma renovação e


reactualização da história da economia social.

2.2.6. Economia social, sector público e privado

Apesar do campo de actuação da economia social ser bem distinto do


campo de actuação do sector privado e do sector público, a economia
social está extremamente relacionada com estes dois sectores.

As organizações da economia social funcionam como empresas (sector


privado) pois participam na produção de bens e /ou serviços (produzem
bens e serviços de utilidade colectiva), entretanto estas também podem
84
agir na esfera pública ao fornecer alguns bens públicos em benefício de
uma determinada comunidade

A relação entre a economia social e o sector público pode ser


claramente explicada por umas das principais funções do estado: a
redistribuição do rendimento e a regulamentação da economia.

Na função redistribuição a economia social tem um papel activo, estas


funcionam como um meio para melhorar as desigualdades de
rendimento, reduz o foco entre os que possuem rendimentos altos e os
que possuem rendimentos baixos as actividades desenvolvidas por este
sector, melhoram as condições de vida dos membros permitindo que as
diferenças de rendimento não se façam sentir ou reduzam os seus
efeitos na sociedade.

No que respeita a função regulação, a economia social mostra se


também de tamanha importância uma vez que esta contribui para a
redução do nível de desemprego, podendo a economia social contribuir
para o crescimento de determinados sectores de actividades com níveis
de produção baixo.

A economia social contribui também nas acções do Estado e esta tem


interesse que se mantenham estas acções pois conseguem mobilizar
recursos de uma forma que o estado não conseguiria.

Cairo 2008 indica ainda que a economia social pode ser analisada sob
duas vertentes:

Francófona - que define a economia social como um conjunto de


instituições sem fins lucrativos, com personalidade jurídica própria que
produz serviços fora dos que são fornecidos pelo mercado, cujo
excedente não pode ser apropriado pelos agentes económicos que as
controlam ou financiam.

Vertente anglo-saxónica os lucros também não podem ser distribuídos


pelos membros. Neste caso, devem ser entidades privadas, devem ser
85
formalmente organizadas com estrutura e objectivos definidos, possuir
autonomia de gestão e possuir capacidade de mobilização de
fundos/recursos voluntários.

Lechat (2002) define a economia social como um conjunto de


actividades económicas cuja lógica é distinta tanto da lógica do mercado
capitalista quanto da lógica do estado.

O quadro que se segue resume os principais pontos que diferenciam a


economia de mercado da economia solidária e da economia estatal.

Tabela 5: Diferença entre economia do mercado, economia solidária e economia estatal


Economia do mercado Economia solidária Economia estatal
economia capitalista

Centrada no capital ena Centrada no factor Supõe uma autoridade


acumulação do capital humano central e formas de
propriedade institucional

Funciona a partir de Funciona através de Funciona a partir de


relações competitivas favorecimento das regras
tendo por objectivo o relações onde o laço institucionalizadas,
alcance de interesses social é valorizado princípios
individuais através da desenhados por
um Governo.
reciprocidade.
Adopta formas
comunitárias de
propriedade
Fonte: Adaptado de Lechat (2002)

2.2.7. Os actores da economia social: as famílias, as empresas e as instituições

As famílias

As famílias são por definição e do ponto de vista económico, as unidades


de consumo. E, é neste contexto que as vamos observar.

86
É do trabalho que a maioria das famílias adquire os seus recursos e o
salário constitui o núcleo fundamental para a promoção do seu bem–
estar, do qual grande parte se destina ao consumo. Efectivamente, o
trabalho constitui o factor principal de rendimento, mas não só,
também o lazer é imprescindível. Este reflecte a parte do dia em que o
trabalhador não exerce actividade, contribuindo para garantir ou
manter o seu bem–estar. E, é nesta dicotomia, trabalho–lazer que a
família vai gerindo o seu bem–estar.

Por este motivo, a família vai de forma sistemática definindo a sua


decisão de trabalhar ou não (nomeadamente, através de um ou outro
dos seus membros) em função da vantagem comparativa que atribui
ao trabalho face ao lazer. Isto significa que um dos membros do casal
pode, em determinadas conjunturas, optar por reduzir ou deixar o
mercado de trabalho. E quando é assim, é a mulher na maior parte das
vezes que toma tal decisão.

A realidade dos vários países, e a qual Portugal também não foge, é a


determinada pela globalização. E por sua influência, os mercados têm
nos últimos anos tendência suplementar para a flexibilização do
mercado de trabalho associada a uma desregulação crescente, pela sua
informalização e acentuada fragmentação. No que se refere à
flexibilização ela é caracterizada pela procura de mão–de–obra
altamente qualificada e pela margem significativa de trabalhadores sem
qualificação que se mantém no desemprego ou em situações precárias
de emprego. Já quanto à informalização, ela advém do crescente
aumento da economia paralela, da subcontratação, trabalho a tempo
parcial involuntário. No que se relaciona com a fragmentação, ela é
imposta pela crescente individualização das relações económicas e
proliferação do trabalho atípico e muitas vezes precário.

O carácter acentuado destas realidades, a par com uma ausência ou


reduzida intervenção do Estado na regulamentação do mercado de
trabalho, condiciona o emprego e a estabilidade económico–financeira
87
daqueles que menos qualificações ou menos capacidade têm para se
impor no mercado de trabalho mais exigente e com melhores salários.

É por via dessas observações que a economia social tem vindo a adquirir
um espaço significativo nos contextos das famílias e ao mesmo tempo
tem assumido funções que estavam tradicionalmente atribuídas ao
Estado ou às empresas de forma geral. Garantindo, assim, condições
para promover a inclusão social daqueles que não conseguem assumir
um espaço na economia capitalista e concorrencial que caracteriza o
mercado de trabalho contemporâneo.

É através da economia social que o espírito do empreendedorismo


social se tem feito sentir e contribuído para a dinamização do mercado
de trabalho, e bem assim como resposta à incapacidade do mercado e
essencialmente do Estado para assegurar o pleno emprego, como o
havia conseguido nos anos 1930 a seguir à Primeira Guerra Mundial.

As empresas

As empresas constituem o núcleo essencial da produção de bens e


serviços. E, em última instância, são elas que determinam o salário dos
trabalhadores e, por assim dizer, das famílias. No que se refere ao
salário e à sua fixação, e numa lógica economicista, depende da
produtividade marginal do trabalho, pelo menos teoricamente. A
produtividade marginal, enquanto traduz o suplemento de produção
aquando do acréscimo do factor trabalho, implica que este se encontre
fundamentalmente ligado à produção. Efectivamente, uma
produtividade elevada implica um salário elevado, reflectindo esta uma
determinada hierarquia de produtividade e de salário. De outra parte,
o posto de trabalho e o salário são dependentes de outras
circunstâncias para além da produtividade: da componente
educacional, individual ou colectiva e da experiência do trabalhador.

Tal como a família, também as empresas são organizações sociais. E


neste domínio relevam as regras de funcionamento, principalmente no
88
sentido da promoção da cooperação entre trabalhadores e
empregadores. E tal cooperação é tanto mais necessária quanto à
partida, pois nem o trabalhador conhece o empregador nem este
conhece o empregado (não sabe se é pontual, se terá capacidade de
integração no grupo de trabalho, etc.).

Temos referido a questão da empresa no seio da economia de mercado


e, portanto, com relação ao facto deste se preocupar acima de tudo
com a concorrência e a competitividade, sistema pelo que os mais
debilitados na sociedade têm grandes dificuldades de integração.
Muitas vezes, aqueles com problema individual ou social acabam por
ser excluídos de uma economia onde a maximização do lucro domina o
espírito do empresário. Logo, a componente social da economia acaba
por ser a âncora para a promoção da inclusão social, do emprego e da
garantia de satisfação de necessidades consideradas mínimas por parte
dos indivíduos. É a economia social que, em face das características
dominantes da sua organização, promove a constituição de empresas
onde o mais importante não é a maximização do lucro, a concorrência
e a competitividade, mas apenas a possibilidade de garantir um posto
de trabalho, um salário e a satisfação de necessidades básicas e sociais
mínimas. É para além disso, a economia social, um ponto determinante
para a aquisição de cidadania e participação por parte dos indivíduos,
sobretudo daqueles que estão, de uma forma ou de outra, afastados da
esfera social.

As instituições

Mais do que as empresas, são as instituições sociais quem têm um papel


decisivo no âmbito da economia social. Para além de proporcionar
modelos de gestão diferentes e da repartição do poder entre os seus
membros, também elas têm um contributo diferente: não são públicas
nem privadas. No seu conjunto, e como se verá de seguida, são as
associações, e no caso português, em especial as IPSS, as mutualidades,
algumas fundações e acima de tudo as misericórdias quem exerce a
89
dinâmica fundamental no desenvolvimento da economia social. São as
instituições quem detém o verdadeiro espírito da economia social e por
via dele impulsionam a intervenção social na promoção do emprego, do
bem–estar social, da saúde, do desenvolvimento regional e local e a
inclusão dos mais desfavorecidos.

2.2.8. Economía do bem-estar

A economia do bem-estar analisa as condições nas quais a solução de


um modelo de equilíbrio geral pode ser a óptima. Isto requer, entre
outras condições, uma designação óptima dos factores entre os bens.

Fala-se que uma designação de factores produtivos alcança um óptimo


aparato quando a produção não se pode reorganizar para aumentar a
produção de um ou mais bens sem diminuir a produção do outro. Por
tanto, numa economia de dois bens, a curva de contrato da produção é
o lugar geométrico do óptimo de aparato dos factores produtivos
desses dois bens. Pelo tanto, numa economia de dois indivíduos, a curva
de contrato de consumo é o lugar geométrico dos bens dos indivíduos.

✓ A curva das possibilidades da utilidade

Ao traçar a curva de contrato de consumo desde o espaço da produção


ao espaço da utilidade, obtêm-se a curva das possibilidades da utilidade,
que mostra as diversas combinações de utilidade que recebem os
indivíduos A y B (u A e u B) quando a economia está em equilíbrio geral
de intercâmbio. O ponto sobre a curva de contrato de consumo no que
a TMS XY para A e B é igual à TMT XY representa o ponto do óptimo de
Pareto na produção e no consumo sobre a curva das possibilidades da
utilidade.

Ao tomar outro ponto sobre a curva de transformação pode-se elaborar


um diagrama da caixa de Edgeworth e uma curva de contrato de
consumo diferentes. Com esta base pode derivar-se uma nova curva das
possibilidades da utilidade, e outro ponto do óptimo de Pareto na

90
produção e no consumo. Este processo pode repetir-se
indefinidamente. Ao unir os pontos resultantes do óptimo de Pareto na
produção e no intercâmbio pode derivar-se a curva de possibilidade da
grande utilidade.

✓ A função do bem-estar social

A única maneira de estabelecer o ponto do óptimo de Pareto sobre a


curva de possibilidade da grande utilidade que maximiza o bem-estar
social é aceitar o conceito da comparação interpessoal da utilidade para
traçar as funções de bem-estar social. Uma função de bem-estar social
mostra as diferentes combinações de u A e u B que proporcionam à
sociedade o mesmo grau de satisfação ou bem-estar.

O bem-estar social máximo obtêm-se no ponto onde a curva de


possibilidade da grande utilidade é tangente a uma curva de bemestar
social.

✓ Competência perfeita e eficiência económica

Para alcançar o óptimo de Pareto na produção e na distribuição devem


cumprir-se de maneira simultânea as três condições seguintes:

• (TMST LK) X = (TMST LK) Y

• (TMS XY) A = (TMS XY) B

• (TMS XY) A = (TMS XY) B = TMT XY

Estas condições são satisfeitas quando todos os mercados da economia


são de competência perfeita.

✓ Externalidades

Uma externalidade é uma divergência entre os custos privados e os


custos sociais, ou entre a ganância privada e a ganância social. Nos casos
de falhas do mercado, a procura de ganâncias privadas não contribui ao
bem-estar social máximo, incluso se existe competência perfeita em
todos os mercados.

91
Externalidades (ou efeitos sobre o exterior) ocorrem quando empresas
ou indivíduos impõem custos ou benefícios a outros que estão fora do
mercado. Podem ser externalidades positivas ou negativas (poluição,
barulho)

Sumário

Nesta Unidade temática 2.2 estudamos questões relacionadas com a


economia social, a sua definição, importância principais características
e por fim relacionamos com a economia solidária e com o terceiro
sector.

O conceito de terceiro sector surge na escola anglo-saxónica onde


considera-se que as instituições do terceiro sector organizações sem
fins lucrativos, que se apresentam em acções de solidariedade.

As organizações sem fins lucrativos caracterizam se pelo carácter


privado, não distribuidor de lucro (nenhum dos seus membros pode
receber qualquer lucro gerado pela sua actividade, o que significa que
havendo lucro este deverá ser reinvestido na própria organização), auto
governadas (criam o seu próprio sistema de gestão das suas actividades,
sem necessidade de controlo de organizações externas) e voluntarias
(voluntárias pois parte do seu rendimento é proveniente de
contribuições voluntárias).

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Em que contexto surge o termo economia social.


2. Diferencie a economia da economia social.
3. Dê três diferentes definições de economia social. Qual o ponto
comum existente nestas definições.
4. Identifique as principais características da economia social.
92
5. Diferencie a economia social e a economia solidária.
6. Diferencie a economia social e o terceiro sector.
7. Identifique as principais características da economia social.

Respostas indicativas

1. Para melhor responder esta questão consulte o ponto 2.2.1


2. Para melhor responder esta questão consulte o ponto 2.2.1
3. Para melhor responder esta questão consulte o ponto 2.2.1
4. Para melhor responder esta questão consulte o ponto 2.2.3
5. Para melhor responder esta questão consulte o ponto 2.2.5
6. Para melhor responder esta questão consulte o ponto 2.2.5

7. Para melhor responder esta questão consulte o ponto 2.2.3

Exercícios de AVALIAÇÃO

1. Tendo em conta a definição e características da economia social. Explique


por palavras suas a importância destas organizações para a sua
comunidade. Identifique duas instituições da economia social inserido na
sua comunidade, caracterize-as e mostre a importância para comunidade e
a economia.

2. A economia social, a economia solidária e o terceiro sector, podem ser


consideradas expressões sinónimas. Comente a afirmação.

3. Qual é a relação que existe entre a economia social e o sector público?

4. Identifique e explique duas principais características que diferenciam a

economia social do sector público e do sector privado. 5. Defina a

Contabilidade Geral

93
TEMA – III: Organizações da Economia Social

Unidade Temática 3.1 As organizações da economia social, principais


características e fintes de financiamento e

Unidade Temática 3.2 Principais organizações da economia social.

UNIDADE Temática 3.1. Organizações da economia social, principais


características e fonte de financiamento

Na presente unidade temática iremos definir as organizações da


economia social, as principais características, formas de financiamento
e as dificuldades enfrentadas por estas organizações para o
financiamento das suas actividades.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz


de:

▪ Compreender o conceito e as características das organizações da economia social;

Objectivos ▪ Identificar as principais formas de financiamento dessas organizações;

Específicos ▪ Identificar as outras formas modernas de financiamento das organizações da


economia social.

Introdução

3.1.1 Conceito de organizações da economia social

Organização da Economia social (OES) refere-se as organizações com ou


sem personalidade jurídica, privadas, autónomas relativamente ao
Estado, com formas de auto governo, de adesão voluntaria.

94
A principal missão das OES é contribuir para relações mais sólidas dos

seres humanos entre si e com o meio ambiente em que vivem,


produzindo para isso, bens e serviços que considerando a globalidade
da actividade essas organizações são bens públicos (menos pobreza,
mais coesão social, ambiente protegido e de melhor qualidade, etc.)
bens e serviços esses que são produzidos com base em activos que em
grande parte, são geridos em regime de propriedade comum. (Ribeiro
& Santos, 2013)

Lopes (2008) indica que as empresas da economia social são


organizações de pessoas que realizam actividades com o principal
objectivo de satisfazer as necessidades das partes e não
necessariamente de remunerar os investimentos capitalistas.

A questão que se segue é será que podemos considerar as organizações


do sector social como empresas? Vejamos a definição de empresas.
Empresa é uma unidade económico-social, integrada por elementos
humanos, materiais e técnicos, que tem o objectivo de obter utilidades
através da sua participação no mercado de bens e serviços. Nesse
sentido, faz uso dos factores produtivos (trabalho, terra e capital).

O principal foco das empresas é o lucro. Assim as organizações da


economia social estão distanciadas do conceito de empresa pois a
principal característica destas não é o lucro.

A tabela que se segue mostra as principais diferenças entre empresas e


as OES

Tabela 6: Diferença entre empresas e OES


Empresa Organizações da economia social

Objectivo é o lucro Principal objectivo não é o lucro

Tem número de sócios Não há limite de sócios. Quem se


identificar com os objectivos estatutos
limitados
pode fazer parte

95
Há divisão de dividendos Em principio não há divisão de
excedentes11.

Decisões são tomadas pelos As decisões são tomadas em


proprietários das acções e assembleia.
normalmente quem tem a
maioria das acções.

Depois de termos diferenciado as empresas das OES continuemos com


as definições para melhor compreender as OES.

O sector da economia social é um conjunto de empresas privadas


organizadas formalmente com autonomia de decisão e liberdade de
adesão.

As organizações da economia social têm um papel muito importante na


economia moderna, pois são estas organizações que oferecem serviços
essenciais que muitas vezes nem o Estado e nem os privados fornecem
de forma eficiente. Estas organizações surgem como iniciativa da
sociedade civil a função principal é incentivar e organizar a acção
colectiva com vista ao desenvolvimento de laços sociais entre os
membros e outros que compõem a sociedade onde estão inseridas.

As Organizações da economia social produzem bens e serviços


normalmente em áreas onde há falhas de mercado de produção,
nomeadamente, bens públicos, parques de diversões creches
comunitárias, ou em áreas privadas, mas que forneçam preços mais
baixos e que priorizem as pessoas de baixo rendimento.

11
Para este caso existem algumas excepções que veremos mais adiante na unidade
3.2 que analisará cada uma das principais OES.
96
3.1.2 Principais características das organizações da economia social

As Principais características das organizações da economia social são:

1. Organização formal - As organizações da economia social


nomeadamente as associações, cooperativas, fundações etc.
Devem ter personalidade jurídica, organizadas formalmente. As
organizações da economia social devem estar de alguma forma
institucionalizadas, legalmente ou não, com regras ou
procedimentos de funcionamento que irão garantir a sua
permanência por um período de tempo considerável.

2. Instituição não-governamental – as instituições da economia


social são privadas e não estão ligadas as instituições do
Governo.

3. Livre adesão dos membros – as organizações da economia social


não podem impedir a entrada de novos membros.
4. Valorização dos membros em relação ao capital por ele investido
– nas organizações da economia social há predomínio do factor
trabalho sobre o capital, isto é, dá-se ênfase a qualidade do
serviço prestado, ao desenvolvimento do trabalhador sem ter
em conta o capital investido por cada membro.
5. Democratizações na tomada de decisão – as decisões são
tomadas com base no princípio de uma pessoa um voto,
independentemente do valor correspondente ao capital. As
decisões das organizações são tomadas em assembleia e cada
membro tem direito ao voto independentemente da
percentagem de capital ou volume de negócio que
movimentam.

6. Interesse pela comunidade – nas organizações da economia


social os interesses a serem salvaguardados não são
necessariamente dos membros
97
mas de toda a sociedade de todos os membros da comunidade.
7. Voluntariado – as instituições ou OES tem uma maior parte de
mão-de-obra voluntária, uso de equipamentos e maquinaria
doada e/ou usada de forma voluntária.

8. Autonomias de gestão – as instituições que compõem a


economia social são autónomas em relação ao Estado na gestão
das suas actividades. As instituições da economia social ou do
terceiro sector realizam a sua gestão própria, isto é, não são
controladas pelo Governo.
9. A não maximização do lucro – as organizações da economia
social não têm o lucro como objectivo principal, podendo em
alguns casos prever a distribuição dos excedentes entre os
membros e em outros casos o reinvestimento. A distribuição dos
lucros ou excedentes realizados não estão directamente
relacionados com a percentagem das acções dos associados.

3.1.3. Fonte de financiamento das Organizações da Economia Social

Carolina (2013) indica que as Organizações da Economia Social (OES)


têm três principais fontes de financiamento:

1. Financiamento público – proveniente do Estado e dos fundos


comunitários.
2. Fundos próprios – quotas de associados/cooperantes, prestação
de serviços e vendas.
3. Doações – trabalhos voluntários, infra-estruturas e doações
financeiras.

Muitas organizações têm uma diversificação de financiamento facto


que aumenta a capacidade de sobrevivência face aos períodos de
redução orçamental do Estado. Para um maior esclarecimento é
importante mencionar as vantagens e

98
as desvantagens de cada um dos sistemas de financiamento.

Fundos públicos

As OES financiadas pelos fundos públicos tem como principal vantagem


a baixa voracidade dos rendimentos, associada a procedimentos
tipificados que não exigem grande esforço na angariação.

Os fundos públicos garantem maior segurança em relação aos fundos


privados uma vez que estes não são alterados no curto prazo. Contudo
existem desvantagens para este tipo de financiamento pois exigem
maior competência para a gestão dada a exigência na prestação de
contas e podem também complicar a gestão pela reprodução dos
modelos burocráticos das organizações públicas.

Uma OES que funciona com fins públicos podem ainda correr o risco de
sofrer um certo desvio ou alteração nas actividades por elas
desenvolvidas, pela passam dos objectivos sociais para a questão da
necessidade da população.

Fundos próprios

Uma estratégia de fundos próprios associada à prestação de serviços


e/ou produtos, não relacionados com a missão social das organizações,
promove uma maior fonte de receita de forma mais rápida.

No entanto, muitas organizações resistem a esta estratégia, receando


enfraquecer o apelo a doações. Há, pois, quem identifique nesta prática
uma potencial perda de legitimidade junto dos públicos que se revêm
na causa social das organizações, mas recusam a sua eventual
componente comercial. Zimmerman e Dart(1998) citado por Amador
(2013).

O financiamento por fundos próprios e a execução de actividades


comerciais fora do âmbito social requerem uma estrutura de gestão
mais profissionalizante e pode ser alvo de grandes debates quando a

99
questão é a concorrência desleal sentida pelas empresas comerciais que
não possuem benefícios de uma instituição da economia social
(subsídios estatais, isenção de impostos).

A questão de execução de actividades comerciais pelas empresas da


economia social tem levantado muito debate e alguns legisladores tem
sugerido a aplicação da legislação de empresas lucrativas para as
associações que exercem actividade que podem ser consideradas
lucrativas.

Estratégia de financiamento assente nas doações As

doações podem ser divididas em três tipos:

1. Doações individuais;
2. Doações de empresas e
3. Doações de fundações.

O financiamento por doações permite uma maior afectação de recursos,


tem inerente um conjunto de incentivos fiscais bem como requer um
esforço por parte dos trabalhadores, da direcção e voluntários a nível
de competências técnicas. Isto é, os funcionários devem possuir
competências técnicas para a gestão dos fundos.

Tem como principais desvantagens o forte investimento necessário na


angariação de fundos nomeadamente ao nível do marketing.

No âmbito do qual são praticadas técnicas consideradas como pouco


éticas, como por exemplo, a utilização de solicitadores subcontratados
para campanhas de angariação.

Apesar de ser tida como uma estratégia de construção de legitimidade


pública, e não apenas de suporte financeiro, a angariação de fundos é
associada por certos autores a um tendencial desvirtuamento da missão
social. Tal associação decorre de uma possível alteração de objectivos e

100
prioridades de intervenção originais de forma a adequálas às
prioridades e expectativas de potenciais doadores.

Os impactos na missão social distinguem-se consoante o tipo de doação


em causa. Se, por um lado, a volatilidade das doações adquiridas através
do sector empresarial é menor do que no caso das doações individuais,
por outro lado, as doações por parte de Fundações potenciam apoios a
nível de objectivos organizacionais que são, no entanto, organizados
através de uma agenda de prioridade preconcebida por parte destes
investidores.

Figura 5: Financiamento das organizações da economia social

3.1.4 Dificuldades de financiamento das OES e formas modernas de


financiamento

A dificuldade de financiamento nas OES tem levado ao surgimento de


novas ideias para superar este problema.

As novas formas inovadoras de financiamento são designadas


investimento social tais como obrigações de impacto social.

O termo “investimento social” surge no contexto anglo-saxónico e


refere-se a um investimento monetário numa iniciativa de política

101
social, o que proporciona ao investidor um retorno financeiro. (Carolina,
2013)

Obrigações de impacto social através das quais os investidores recebem


dividendos por cada iniciativa que consiga resolver problemas
específicos, em áreas tão diversas como o comportamento anti-social,
crime, toxicodependência ou educação.

O retorno do investimento é da responsabilidade do Estado ou através


de uma organização pela qual o serviço é entregue. Este tipo de solução
tem tido uma forte aceitação no Reino Unido.

O sucesso deste tipo de investimento desencadeou, também, a criação


de um banco específico de apoio a projectos sociais – o Big
SocietyCapital – que congrega um conjunto de investimento financeiro
de diferentes bancos e que foi lançado pelo Primeiro ministro britânico
a 4 de Abril de 2012. (Carolina, 2013)

As plataformas de crowd funding correspondem também as umas


formas alternativas de financiamento assentam em financiamento de
“multidões” (crowd), ou seja, provêm de financiamento colectivo no
qual um grupo de pessoas financia uma ideia ou um projecto. Este
modelo consiste numa forma que se pretende simples e transparente
através de uma comunidade online. São diversos os modelos de
crowdfunding. Por um lado, uns mais próximos da ideia inicial de
incentivo a doações sem qualquer tipo de contrapartida. Por outro lado,
e aqui reside a principal distinção, são conhecidos outros modelos que
se aproximam da lógica das obrigações de impacto social, no qual os
investidores podem obter retorno financeiro.
(Carolina, 2013)

102
Sumário

A presente unidade temática é a primeira deste tema, organizações da


economia social. Nesta unidade temática, definimos as Organizações da
economia social e diferenciamos as OES das empresas. Mais adiante
analisamos as principais características das OES, as principais formas de
financiamento onde destacou se os fundos públicos próprios e doações.
Na última secção desta unidade temática analisamos as formas
alternativas de financiamento das OES tendo em conta as dificuldades
desta em obter financiamento pelas três vias normais.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Defina OES e indique a sua principal missão.


2. Defina empresa e compare-as com as OES.
3. Qual é a importância das OES para a economia.
4. Identifique as principais características das OES e explique três a
sua escolha.
5. Identifique as principais fontes de financiamento das OES.
6. Explique o surgimento do termo investimento social.
7. Identifique as formas de financiamento alternativas para as OES.

Respostas indicativas

1. Nesta pergunta não pretende-se que o estudante apenas


transcreva uma definição, mas que o estudante analise as
diversas definições dadas e crie uma definição para as OES. Para
Maios esclarecimentos poderá consultar a secção 3.1.1

2. Identifique no mínimo três diferenças entre uma empresa e

uma OES. Para mais detalhes poderá consultar o ponto 3.1.1

103
3. Para melhor responder esta questão consulte a secção 3.1.2 da
presente unidade.
4. Para melhor responder esta questão consulte a secção 3.1.3 da
presente unidade.
5. Para melhor responder esta questão consulte a secção 3.1.3 da
presente unidade.
6. Para melhor responder esta questão consulte a secção 3.1.3 da
presente unidade.
7. Para melhor responder esta questão consulte a secção 3.1.3 da
presente unidade.

104
Exercícios de AVALIAÇÃO

1. As Organizações da economia social produzem bens e serviços normalmente em


áreas onde há falhas de mercado. Concorda com a afirmação? Justifique a sua
resposta indicando as áreas onde há falhas de mercado e porque existem estas
falhas.

2. OES é um conjunto de instituições que produz bens e serviços para a


comunidade. Explique porquê motivo estes bens não são produzidos pelas
empresas ou pelo Estado?

3. As OES não necessitam de diversificar as suas fontes de financiamento uma vez


que estas conseguem financiamento facilmente através de doações. Comente a
afirmação.

4. Explique por que motivo os fundos públicos garantem maior segurança às OES
em relação aos fundos privados.

5. Compare cada uma das formas de financiamento das OES nos seguintes pontos:

a) Facilidade de acesso.

b) Voracidade no curto prazo.

c) Exigência na gestão dos fundos.

d) Afectação dos recursos nas actividades.

6. O financiamento das OES por fundos próprios tem sido alvo de grandes debates
quando a questão é a concorrência desleal. Comente a afirmação.

7. A angariação de fundos é associada por certos autores a um tendencial


desvirtuamento da missão social. Comente.

105
UNIDADE Temática 3.2 Principais Organizações da economia social

A presente unidade temática ira analisar as principais organizações da


economia social. Vamos nesta unidade temática identificar as principais
organizações da economia social, os seus princípios e características.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capazde:

▪ Identificar as principais organizações da economia social;

▪ Diferenciar as principais organizações da economia social;


Objectivos ▪ Identificar as características e os princípios de cada uma das organizações da
Específicos economia social.

Introdução

Depois de compreender a origem e o conceito de economia social e


analisarmos as características comum às várias organizações da
economia social importa agora diferenciar cada tipo de organização da
economia social, as principais características de cada organização da
economia social.

Nesta unidade temática iremos analisar as principais organizações da


economia social nomeadamente as associações, as cooperativas e as
fundações.

106
Desenvolvimento

3.2.1 . Organizações da economia social

Antes porem é importante salientar que os tipos de organizações da


economia social podem ser específicos a determinados países ou
podem ainda ter características diferentes de país para país.

Em Portugal as instituições da economia social mais comuns são as


misericórdias, as mutualidades, as cooperativas, as fundações e as
instituições particulares de solidariedade social (IPSS).

Na Espanha podemos encontrar um novo tipo de organização as


sociedades anónimas laborais.

Na França apenas encontramos três modalidades: as cooperativas, as


mutualidades e as associações.

Os Estados Unidos da América integram ainda as organizações sem fins


lucrativos e as organizações cuja propriedade é dos trabalhadores.

De uma forma geral e harmonizada entre os países, as principais formas


de expressão de organizações da economia social são as Associações,
Cooperativas, Fundações e Mutualidades.

3.2.1.1 Ramos das organizações da economia social

As OES dividem-se em dois grandes ramos: um com maior orientação


para o subsector do mercado ou empresarial, constituído por
cooperativas, mutualidades e outras empresas sem fins lucrativos,
nomeadamente empresas de inserção; e um outro subsector de “não
mercado” organizado em torno de associações, fundações e entidades
voluntárias não lucrativas de acção social.

Tabela 7: Organizações da economia social


Organizações da economia social

107
Subsector do mercado Subsector de “não-mercado”
ou empresarial

Cooperativas, mutualidades e Associações, fundações e


outras empresas sem fins entidades voluntárias não
lucrativos lucrativas de acção social
Cunha e santos 2011 citado por Amador 2013

O grupo de Instituições da economia social (mais afastados do mercado)


tem características próprias e princípios comuns, estas tem como
finalidade a prestação de serviços, tem uma gestão autónoma e
democrática, dão prioridade ao social em relação ao capital e por fim
estas não tem como objectivo o lucro e caso o tenham este serve para
ré - investimento dentro das actividades desenvolvidas pela associação.

As principais organizações da economia social são:

1. Associações;
2. Cooperativas;
3. Fundações
4. Mutualidades;

Vamos de seguida analisar cada uma destas instituições.

3.2.2 Associações

O ser humano, por sua natureza, está sempre interagindo com seus
semelhantes. Isso se percebe na família, no trabalho, nas relações
sociais etc.

Muitas vezes as pessoas se reúnem ou se agrupam de forma natural, a


fim de juntas atingirem seus objectivos de maneira informal.

Outras vezes, as pessoas se organizam de maneira formal para, com a


união, ter mais força e maior poder de negociação.

Há exemplos bastante simples deste tipo de organização social, tais


como: moradores que se reúnem para promover melhorias em seu
108
bairro, pais que se organizam para arrecadar fundos para a festa da
escola de seus filhos etc.

A estas iniciativas, onde indivíduos ou empresas reúnem esforços e


recursos com responsabilidade, é dado o nome de associativismo.

O associativismo é um sistema que se baseia no trabalho e não no lucro


e tem o objectivo de superar dificuldades, solucionar problemas e gerar
benefícios comuns aos associados e suas comunidades.

As associações, baseiam-se na ajuda mútua e não na concorrência.

Podemos definir associação como uma organização formada por duas


ou mais pessoas com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos
que possuem objectivos comuns e lutam para o alcance dos mesmos.

As associações podem ter carácter social, educacional, assistencial,


ambiental etc.

A principal característica das associações é a não distribuição dos lucros


entre os integrantes (membros). As rendas provenientes da actividade
desenvolvida são destinadas a finalidade descrita no estatuto da
associação.

As associações são regidas por estatutos podendo ou não haver capital


social na sua constituição.

3.2.2.1 Princípios e tipos de associações

A associação é uma forma de organização da economia e sendo assim


os princípios do associativismo não diferem dos princípios das OES
vistos na secção anterior.

109
a) Tipos de associações

O termo associação pode agregar vários modelos de organizações:


associações, institutos, clubes etc. Neste sentido a tipicidade das
associações torna-se abrangente. Podemos ter associações de pais e
encarregados de educação de uma determinada escola ou uma
associação das escolas privadas de Moçambique. O âmbito de actuação
das associações também pode variar muito desde a actuação local
dentro de um condomínio até uma associação de âmbito nacional ou
internacional.

A tipicidade da associação varia de acordo com o objectivo para a qual


a associação foi criada. Isto é, a finalidade da associação que pode ser
para a prestação de serviço social ou cultural, neste caso teremos
associações culturais (associação dos músicos de Moçambique,
associação dos escritores, associação para o desenvolvimento da
comunidade, etc.).

Podemos ainda encontrar associações que lutam pelos direitos das


classes específicas trabalhadores e ou empresários. Temos por exemplo
a associação dos enfermeiros de Moçambique, a associação dos
engenheiros, associação dos empresários de Marracuene etc.

Podemos ter associações que lutam pela defesa do ambiente, clubes de


serviços, clubes desportivos, associações religiosas etc.

Como podemos ver o tipo de associação está ligado ao objectivo para


qual a associação foi criada sendo assim vários os objectivos e os tipos
de associações.

Entretanto, Cardoso (2014) indica alguns tipos mais comuns são:

110
✓ Associações filantrópicas12

Reúnem voluntários que prestam assistência social a crianças, idosos,


pessoas carentes. Seu carácter é basicamente o da assistência social.

✓ Associações de pais e mestres

Representam a organização da comunidade escolar com vistas à


obtenção de melhores condições de ensino e integração da escola com
a comunidade. Em algumas escolas se responsabilizam por parte da
gestão escolar.

✓ Associações em defesa da vida

Normalmente são organizadas para defender pessoas em condições


marginais na sociedade ou que não estão em condições de superar suas
próprias limitações. Associação de meninos de rua, crianças com
necessidades especiais.

✓ Associações culturais, desportivas e sociais

Organizadas por pessoas ligadas ao meio artístico, têm objectivos


educacionais e de promoção de temas relacionados às artes e questões
polémicas da sociedade tais como racismo, género, violência.
Fazem parte desse grupo os clubes desportivos e sociais.

✓ Associações de consumidores

Organizações voltadas para o fortalecimento dos consumidores frente


aos comerciantes, à indústria e ao governo

✓ Associações de classe

Representam os interesses de determinada classe profissional e/ou


empresarial. Ex.: Associações Comerciais, FIEMG.

12
Filantrópico refere-se a alguém que possui amor pela comunidade. Que presta
serviços a comunidade principalmente aos mais carentes.
111
✓ Associações de produtores

Incluem-se as associações de produtores, de pequenos proprietários


rurais, de artesãos que se organizam para realização de actividades
produtivas e/ou defesa de interesses comuns e representação política.

3.2.2.2 Associativismo empresarial

O associativismo empresarial é um tipo de associação onde as empresas


utilizam a cooperação para melhorar as estratégias de produção e
venda e ocupar uma melhor posição no mercado.

O principal objectivo deste tipo de associações é defender os interesses


dos associados (empresários) e aumentar as actividades económicas
desenvolvidas por estes numa região.

Os empresários unem-se e constituem associações empresariais como


forma de aumentar a sua capacidade de produção, reduzir os custos e
tornar-se cada vez mais competitivo. Assim podemos observar que o
associativismo pode servir de ferramenta para o crescimento
empresarial de uma determinada região.

Os principais motivos que levam os empresários a cooperarem são:

• Partilha de ideias e experiências – a partilha de ideias e


experiências pode ser um motor para a redução de custos de
produção. A empresa tendo a experiência de outras empresas
nos procedimentos de produção ou venda poderá facilmente
decidir qual é o melhor procedimento a usar e desta forma evitar
os possíveis prejuízos financeiros que poderia ter ao
implementar uma estratégia não eficiente.

• Elaboração de pesquisas de mercado – a pesquisa ou


investigação de determinados produtos tem custos excessivos e
estes podem reduzir quando partilhados por várias empresas
beneficiarias do estudo. É neste âmbito que as empresas

112
cooperam na elaboração de pesquisas e campanhas
promocionais;

• Procura de formação profissional - a formação profissional tem


como principal objectivo melhorar a gestão do negócio, a
qualidade do trabalho e no atendimento dos clientes;

• Partilha de custos para obtenção de maiores lucros – o custo é


partilhado em actividades que podem ser realizados em
comum como a pesquisa, as formações, a publicidade etc.

• Maior poder de negociação junto de fornecedores – quando


maior for a capacidade de produção de uma empresa, quanto
maior forem as quantidades de matérias-primas a adquirir maior
será o poder de negociação que esta empresa terá. Assim,
quanto maior for o número de empresários que se une maior
será a sua capacidade de produção e de negociação com os
fornecedores.

• Procura de sinergias – sinergia é o efeito multiplicador do


associativismo. Quando duas empresas individualmente
produzem 110 toneladas (50 e 60 toneladas) em conjunto
poderão produzir 200 toneladas.

• Procura de independência e convergência de interesses.

Benefícios do associativismo empresarial

Os benefícios do associativismo empresarial estão relacionados com os


factores motivacionais que levam ao associativismo. Assim, podemos
observar que o associativismo para além de aumentar os lucros e a
competitividade das empresas estas podem beneficiar-se de:

113
• Economias de escalas13;

• Maior poder de negociação;

• Redução dos custos de produção;


• Redução do risco de falência;
• Maiores possibilidades de financiamento.

Formas de associativismo empresarial

As empresas poderão juntar se e cooperar sob diversas formas:

• Acordos Produtivos Locais;


• Clusters;
• Consórcios Empresariais;

• Parcerias Estratégicas e Alianças Estratégicas; Núcleos


Sectoriais.

✓ Acordos Produtivos Locais

Acordos Produtivos Locais são formados por um conjunto de empresas


agentes económicos em geral políticos ou sociais localizados num
determinado território (mesmo local), que estabelecem relação de
cooperação entre si com objectivo de aumentar a produção de
determinados bens.

Os acordos produtivos locais são cooperações realizadas entre vários


membros da sociedade (Governo, ONG, empresários, bancos,
instituições de ensino etc.), sempre localizados na mesma área
geográfica com o objectivo de aumentar o nível de produção e
aumentar a sua competitividade.

13
As economias de escala ocorrem quando a empresa possui um sistema de produção
que permite a minimização de custos, o uso pleno de todos os factores de produção
e uma maior produção.
114
✓ Clusters

Clusters significa aglomerados – é uma associação de empresas que


possuem uma determinada forma de concorrência nos seus produtos,
normalmente são empresas que apresentam semelhança nos seus
produtos ou serviços, estas semelhanças podem ser no formato, na cor,
no processo de produção.

Estas empresas juntam se em aglomerados e desta forma podem


aumentar o seu nível de produtividade, informações e tecnologias.

✓ Consórcio empresarial

O Consórcio empresarial ocorre quando várias empresas unem se com


a finalidade de executar um empreendimento. Cada uma das empresas
é responsável apenas por uma parte do empreendimento as clausulas
estão sempre previstas por um contrato. Os consórcios são muito
comuns na construção civil. Várias empresas unem se para executar
uma grande obra.

✓ Parcerias ou alianças estratégicas

Parcerias ou alianças estratégicas são acordos estabelecidos entre duas


ou mais empresas com vista a alcançar um objectivo comum. Estas
empresas juntam os seus recursos e coordenam toda a produção. Um
exemplo de aliança estratégica é: uma empresa de venda de roupas de
ginástica poderá fazer uma aliança estratégica com uma associação de
Ginásios ou com alguns professores de ginástica para que estes usem as
suas roupas e recomendem aos estudantes o uso dos seus produtos.

✓ Núcleos sectoriais

Núcleos sectoriais distinguem-se de outras formas de associação por


representarem a união de empresários de um mesmo sector que se

115
reúnem para discutir problemas comuns e encontrarem soluções
conjuntas.

3.2.2.3 Associações em Moçambique

As associações em Moçambique são reguladas pela lei 8/91 de 18 de


Junho. Esta lei reforça o que já está plasmado na constituição da
república no artigo 1 do artigo 76 – o direito a livre associação.

A constituição das associações em Moçambique baseia-se nas seguintes


regras14.

Constituição – pode constituir-se associações de natureza não lucrativa


cujo fim esteja conforme os princípios constitucionais em que assenta a
ordem moral, económica e social do país e não ofendam direitos de
terceiros ou do bem público.
Secretismo – as associações não podem ser secretas.

Membros constituintes – as associações podem ser constituídas


livremente por cidadãos maiores de 18 anos de idade e em pleno gozo
dos seus direitos civis. Aos cidadãos menores de dezoito anos é
garantida a liberdade associativa na constituição de organizações
juvenis, desde que a estrutura directiva das mesmas seja composta por
membros com idade superior a dezoito anos.

Requisitos para a constituição da associação


Adquirem personalidade jurídica pelo reconhecimento, desde que
cumulativamente reúnam os seguintes requisitos:
a) Sejam constituídas por um número de fundadores não inferior a
dez;
b) Os respectivos estatutos observem o disposto na lei das
associações;

14
Retirado da Lei 8/91 de 18 de Junho
116
c) Comprovem a existência de meios necessários para o seu
funcionamento de acordo com respectivos estatutos.

Reconhecimento
O reconhecimento das associações será feito pelo Governo ou pelo seu
representante na província, quando a actividade da associação se
confine ao território desta.

O despacho de reconhecimento deve ser proferido num prazo de


quarenta e cinco dias e será publicado no Boletim da República; bem
como os respectivos estatutos.

A recusa do reconhecimento só poderá ser feita por despacho


devidamente fundamentado. Do qual caberá recurso para o Tribunal
Administrativo no prazo de quinze dias, contar da data da sua
notificação.

Filiação

As associações poderão filiar-se livremente em associações ou


organismos internacionais cujos fins sejam consentâneos com os das
próprias associações.

Extinção

As associações reconhecidas extinguem-se nos termos definidos nos


respectivos estatutos ou por decisão judicial.

A decisão judicial de extinção da associação será proferida em acção


movida pelo Procurador da República do correspondente escalão
territorial com fundamento em:

a) Existência de menos de dez dos seus membros por tempo não


inferior a um ano;

b) Por declaração de insolvência;

117
c) Por a prossecução dos seus fins se ter esgotado ou tornado
impossível;

d) Por se constatar ser o seu fim real oculto ou contrário a moral publica
ou ainda ser o seu fim real diferente do fim declarado nos respectivos
estatutos.

Isenções fiscais

Compete ao Conselho de Ministros estabelecer as isenções fiscais e de


taxas bem como outros benefícios a conceder às associações declaradas
de utilidade pública.

Exemplo de algumas associações moçambicanas

Associação dos deficientes moçambicanos (Ademo)

Associação para o desenvolvimento agro-pecuário comunitário


(Agrodec)

Associação moçambicana para o desenvolvimento das mulheres de


carreira jurídica

Associação cultural das mulheres de Moçambique;

3.2.3 Cooperativas15

3.2.3.1. Definição

As cooperativas são associações de pessoas que se agrupam


voluntariamente para a satisfação de um interesse comum, para a
constituição de uma empresa dirigida democraticamente, fornecendo
uma parte equitativa do capital necessário e aceitando uma justa
participação nos riscos e benefícios da empresa, e no funcionamento do
qual os membros participam activamente. (OIT16, 2007, citado por Cairo
2008).

15
O estudo das cooperativas será desenvolvido no tema quatro cooperativismo.
16
Organização internacional do trabalho
118
O código cooperativo de Portugal no seu artigo 2 define as cooperativas
como pessoas colectivas autónomas, de livre constituição de capital e
composição variáveis, que, através da cooperação e entreajuda dos
seus membros, com obediência aos princípios cooperativos, visam, sem
fins lucrativos, a satisfação das necessidades e aspirações económicas,
sociais ou culturais daqueles. (Cairo 2008) As cooperativas apresentam
um forte cariz popular e são independentes em relação a actividades
que desenvolvem. As cooperativas são a as instituições da economia
social que mais se aproximam do sector privado.

Para além do seu papel social as cooperativas desempenham um papel


fundamental no desenvolvimento económico pois estas usam de forma
eficiente os recursos locais de que dispõem, criam emprego.

As cooperativas podem surgir para eliminar não só o problema de


desemprego de uma determinada zona, mas também para intensificar
o nível de produção de determinado ramo de actividades,
normalmente são sectores intensivos em mão de obra e os membros
associam se como forma de superar os desafios enfrentados pela
tecnologia.

Os membros das cooperativas também podem unir-se com objectivo de


superar problemas de comercialização e/ou problemas técnicos de
produção que para a sua resolução exigem um investimento financeiro
elevado.

O que diferencia as cooperativas das outras instituições da economia


social são os princípios que tiveram origem no movimento cooperativo
designadamente nos congressos de paris (1937) e Viena (1966) e o
congresso do código cooperativo em 1997:

a) A liberdade de adesão sem discriminação em função do sexo, raça,


idade, condição económica e social e convicções políticas e
religiosas;

119
b) A democracia interna, com órgãos sociais eleitos por meios
democráticos, atribuindo a todos os membros da cooperativa o
direito de voto;

c) A participação económica dos membros que devem contribuir


equitativamente para o capital das suas cooperativas e receberem
uma remuneração limitada;
d) A autonomia e independência das cooperativas que deve ser
assegurada mesmo no caso de acordos com outras entidades;
e) A educação, formação e informação;
f) O desenvolvimento da cooperação com outras entidades
cooperativas à escala nacional e internacional; e
g) O interesse pela comunidade

3.2.3.2. Fundações

Fundação é um fundo autónomo que tem por finalidade acção definida


nos seus estatutos pelo seu instituidor ou instituidores.

Na fundação o elemento essencial é o património destinado a realização


de certos fins que ultrapassam o âmbito da própria entidade (as
actividades são em benefício de terceiros).

Exemplo de Fundações Moçambicanas

Fundação para o desenvolvimento da comunidade - é uma organização


privada, sem fins lucrativos, que trabalha para conjugar esforços de
todos os sectores da sociedade com o propósito de promover
desenvolvimento, democracia e justiça social16.

16
Http://www.fdc.org.mz
120
Fundação Joaquim Chissano é uma organização privada, sem fins
lucrativos, dedicada a Promoção da Paz, do Desenvolvimento
Económico e cultural de Moçambique.17

As fundações são entidades de direito privado com fins altruísticos,


dotadas de personalidade jurídica. São criadas por vontade de um
instituidor que pode ser pessoa física ou jurídica capaz de designar um
património no acto da sua constituição. São administradas seguindo
vontade de seus fundadores e criadores.

Outras organizações da economia social

Para além das principais organizações da economia social vistas,


associações, cooperativas e fundações podemos ainda encontrar outros
tipos como as mutualidades, Misericórdias e as Instituições particulares
de solidariedade social (IPSS). Vamos de seguida definir cada tipo de
organização.

Mutualidades

As associações mutualistas são associações que têm


como característica principal a dependência das quotas dos membros.

Os principais objectivos das mutualidades são a concessão de benefícios


de segurança social e de saúde e outros fins de protecção social e a
promoção da qualidade de vida.

Os objectivos das mutualidades são alcançados através de


desenvolvimento de actividades de gestão e de equipamentos e
serviços de apoio social e actividades que visem o desenvolvimento
moral, intelectual, cultural e físico dos associados e famílias.

17
Http://www.fjchissano.org.mz
121
Misericórdias

As misericórdias são instituições da economia social comum em


Portugal e são as mais antigas formas de economia social para este país.
A primeira misericórdia foi criada a 15 de Agosto de 1948, pela Rainha
D. Leonor.

Estas instituições ganharam destaque com a crise social e económica


que se alastrava na época criando dificuldade para as instituições
ligadas a igreja católica como os hospitais, albergues, irmandades,
mercearias desenvolverem as suas actividades e as actividades
desenvolvidas por estas organizações passam a ser geridas pelas
misericórdias, principalmente a administração dos hospitais.

Ao longo do tempo as misericórdias sofreram algumas alterações nas


actividades desenvolvidas. Tendo sido criada a união das misericórdias
portuguesas em 1976 agora com uma vasta área de intervenção que vai
da assistência na área da saúde à acção social nos seus mais variados
aspectos.

Instituições particulares de solidariedade social (IPSS)

As IPSS são reguladas pelo decreto-lei n 119/83 de 25 de Fevereiro. Estas


instituições não têm fins lucrativos, constituem se por iniciativas de
particulares com finalidade de dar expressão a solidariedade e justiça
entre os indivíduos.

As IPSS prestam serviços que vão do apoio a criança e jovens a família,


a integração social e comunitária, a protecção da saúde, da educação e
formação profissional dos cidadãos e a resolução de problemas
habitacionais dos cidadãos.

As IPSS podem assumir várias formas como: associações de


solidariedade social, voluntários da acção social, fundações de
solidariedade social e irmandades de misericórdias.

122
Diferenças básicas das principais organizações da economia social

A associação é considerada a doutrina base e inspiradora para a


formação de outros modelos, entretanto existem algumas diferenças
entre as principais organizações da economia social.

Tabela 8: Diferença entre associações, cooperativas e Fundações


Associações Cooperativas Fundações

Finalidade Têm por finalidade Têm finalidade Fins alheios,


a promoção económica, seu
conforme
de principal objectivo
assistência é viabilizar o desejo do
social, negócio produtivo instituidor. Fins
educacional, de seus associados
imutáveis, isto
cultural, junto ao mercado.
representação é, as finalidades
política, defesa de não podem ser
interesses de
classe. alteradas. É
possível que
algumas regras
do estatuto
sejam
modificadas,
desde que não
afectem as
finalidades.

Actividades É adequada para É mais adequada Exerce


exercitadas levar adiante uma para desenvolver actividades que
actividade social. uma actividade beneficiam
comercial em terceiros.
média ou grande
escala de forma
colectiva.

123
Membros Os associados não Nas Existe um
são propriamente cooperativa instituidor que
os “donos” da s os associados são determina os
associação. Podem os donos do objectivos da
ou não ser os património e fundação.
beneficiários das os
acções. beneficiários dos
ganhos que o
processo por eles
organizado
propiciará.

Património O património O património O património é


acumulado pela beneficia os disponibilizado
associação em caso próprios membros. na constituição
da sua dissolução Os excedentes da fundação e é
deverá ser podem ser da propriedade
destinado a outra distribuídos entre do fundador.
instituição os próprios
semelhante, membros.
conforme
determina a lei.

Capital inicial Não há exigência de Há exigência de O capital inicial é


capital inicial ou de património inicial alocado pelo
recursos mínimos
para constituição, o ou de recursos instituidor e
capital inicial é um mínimos para deve ser
instrumento de
constituição suficiente para o
gestão constituído
ao longo da vida da cumprimento
associação dos objectivos
sociais da
fundação

Alienação Os bens das Os bens das Via de regra os


dos bens associações podem associações podem bens imóveis
ser alienados ser alienados e os são inalienáveis.
resultados
distribuídos.

124
Fonte: Adaptado de Cardoso, 2014

Sumário

Na presente unidade temática vimos as principais organizações da


economia social nomeadamente as associações, as cooperativas e as
fundações, definimos ainda outras formas de organização da economia
social não muito comum em vários países mas que são usados em
alguns como é o caso das mutualidades, das instituições de particulares
de solidariedade social que são comuns em Portugal, as sociedades
anónimas laborais comuns na Espanha e as organizações sem fins
lucrativos.

Vimos ainda que as principais organizações da economia social estão


divididas em dois principais ramos: o ramo ligado ao mercado, neste
ramo agrupamos as OES com actividades que mais se relacionam com o
mercado e o outro ramo que é o ramo do não mercado onde estão
agrupados as OES que exercem actividades não directamente
relacionadas com o mercado, neste caso temos associações, as
fundações e outras entidades não voluntarias.

Ainda nesta unidade analisamos cada uma das OES as associações


definimos, vimos os vários tipos de associações e o associativismo
empresarial, onde respondemos a questão: porque as empresas
cooperam? Quais são os principais benefícios da cooperação entre as
empresas.

Depois analisamos as associações em Moçambique como estas devem


ser constituídas, a legislação nacional e mostramos alguns exemplos de
associações moçambicanas.

Esta unidade termina com a análise das cooperativas e das fundações


onde salientamos os principais conceitos e as principais diferenças entre
elas.
125
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Identifique as principais formas de organizações da economia


social.

2. Identifique os principais ramos das organizações da economia


social e as instituições que compõem cada ramo.
3. Defina associativismo.
4. Identifique as principais características das associações.

5. Diferencie o associativismo empresarial do associativismo


tradicional.
6. Identifique e explique os principais motivos que levam as
empresas a cooperarem.
7. Identifique três benefícios das empresas ao formar uma
associação empresarial.

8. Identifique e explique as formas de associativismo empresarial


que conhece.
9. Identifique e explique os princípios do cooperativismo.

Respostas indicativas
1. Nesta questão o estudante deverá identificar e explicar as
formas de organizações da economia social, canis as
instituições que compõem as OES. Para mais
esclarecimento poderá consultar o ponto 3.2.1
2. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto
3.2.1.1
3. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto
3.2.2.2
4. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto
3.2.1.1
5. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto
3.2.2.2
126
6. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto 3.2.2

7. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto


3.2.2
8. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto
3.2.2
9. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto
3.2.2

Exercícios de AVALIAÇÃO

1. As organizações da economia social não diferem de país para


país. Pois todas têm o mesmo âmbito que é social. Comente
a afirmação.
2. Identifique as principais características do grupo de
Instituições da economia social mais afastados do mercado.
3. As associações podem ser formais ou informais. Diferencie
cada uma delas e dê exemplos destes tipos de associações
na sua comunidade.
4. Identifique o tipo de associações que conhece e que estão
inseridas na sua comunidade.
5. Explique por palavras suas como o cooperativismo pode
aumentar a produção e as vendas de uma empresa?
6. Moçambique é um país em que o sistema financeiro ainda
não está desenvolvido. Explique como o associativismo
empresarial poderá aumentar as possibilidades de
financiamento para as empresas.
7. Explique porque em Moçambique as associações não podem
ser secretas?
8. Os cidadãos menores de 18 anos não podem constituir uma
associação. Comente.

127
9. De exemplo de algumas associações moçambicanas. A nível
local, a nível nacional e as que tem cooperações
internacionais.
10. Para além do seu papel social as cooperativas desempenham
um papel fundamental no desenvolvimento económico.
Explique
11. Diferencie as associações, cooperativas e fundações nos
seguintes aspectos:
a) Finalidade.
b) Actividades exercidas.
c) Membros.
d) Património.
e) Capital inicial.
f) Alienação dos bens.

TEMA IV: COOPERATIVISMO

Contextualização do tema
O presente manual denomina-se economia social e cooperativismo,
sendo que o presente tema cooperativismo é um tema fundamental no
manual.
No presente tema iremos analisar os vários pontos relacionados com o
cooperativismo, iremos definir, compreender o surgimento, os
principais valores os ramos e classificações das cooperativas e por fim
as cooperativas em Moçambique.

Este tema conta com cinco unidades temáticas nomeadamente:

Unidade temática
4.1 Surgimento, princípios evalores do cooperativismo.

128
Nesta unidade temática o estudante poderá compreender quais as
razões para a existência do cooperativismo, os princípios básicos que
orientam o cooperativismo e os valores do cooperativismo. Esta
unidade temática é importante e constitui a base para a compreensão
das unidades temáticas seguintes.

Unidade temática 4.2 conceito e importância das cooperativas. Nesta


unidade temática o estudante poderá responder dentre outras as
seguintes perguntas: porque as empresas cooperam, porque as pessoas
cooperam as suas actividades, qual a importância da cooperação? Qual
a importância das cooperativas para a economia. Ainda nesta unidade
temática o estudante terá a oportunidade de compreender o papel do
estado no desenvolvimento das cooperativas, a relação que existe entre
o estado e as cooperativas.

Unidade temática 4.3 ramos e classificação das cooperativas. Esta


unidade temática divide as cooperativas em ramos de actividades,
tendo em conta os diversos ramos de actuação do homem poderá
também surgir diversos ramos do cooperativismo. Ainda nesta unidade
temática veremos como os associados podem participar activamente
das actividades na cooperativa, os direitos e deveres dos associados, o
dia mundial do cooperativismo e a respectiva bandeira mundial.

Unidade temática 4.4 cooperativismo de nova geração. Esta unidade


temática é reservada ao estudo de um determinado tipo de
cooperativismo, as cooperativas de nova geração. Estas na essência não
diferem das cooperativas tradicionais, apenas há uma actualização dos
princípios de acordo com a actividade desenvolvida por estas.

A última unidade temática 4.5 está reservada ao estudo do


cooperativismo em Moçambique, nesta unidade temática o estudante
irá compreender o quadro legal do cooperativismo em Moçambique,
como podem ser constituídas as cooperativas e o desenvolvimento das
cooperativas ao longo do tempo.

129
Resultados esperados neste tema:
Ao terminar o estudo deste tema, você será capaz
de:

▪ Compreender o surgimento, princípios e valores do cooperativismo;

▪ Compreender a diferença entre a associação, cooperativas e sociedades

comerciais;
Objectivos
Específicos ▪ Estabelecer a relação entre o Estado e as cooperativas;

▪ Identificar
os ramos do
cooperativismo;

▪ Classificar as cooperativas de acordo com as actividades desenvolvidas;

▪ Diferenciar as cooperativas tradicionais das cooperativas de nova


geração;

▪ Diferenciar os princípios das cooperativas tradicionais das cooperativas


de nova geração;

▪ Compreender a evolução do cooperativismo em Moçambique;

▪ Compreender o quadro legal das cooperativas em Moçambique.

UNIDADE Temática 4.1 Surgimento, princípios e valores do Cooperativismo

Na presente unidade temática o estudante ira compreender o


surgimento do cooperativismo, os princípios e os valores do
cooperativismo.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

130
▪ Compreender o surgimento do cooperativismo;

▪ Definir cooperativismo;

Objectivos ▪ Identificar e compreender os princípios e objectivos do cooperativismo.


Específicos

Introdução

A presente unidade temática marca o início do estudo do


cooperativismo. Antes mesmo de iniciarmos com o estudo do
surgimento do cooperativismo é necessário compreender o significado
da palavra cooperar.

Cooperar é agir de forma colectiva com os outros, trabalhando juntos


em busca do mesmo objectivo. A prática da cooperação educa a pessoa
desenvolvendo uma mentalidade mais aberta, flexível, participativa,
humana e solidária. (Gawlak & Albino, 2007).

A cooperação esta presente em quase todas as nossas actividades, na


escola, quando estudantes formam grupos de estudos, com objectivos
de preparar-se para o exame, na igreja, nas organizações de eventos
etc.

Tendo em conta que a cooperação esta presente em todos os


momentos da vida do ser humano é importante compreender quando
surge o cooperativismo e quais os princípios e valores que orientam.
Temas que serão desenvolvidos na presente unidade temática.

Na presente unidade temática o estudante ira compreender o


surgimento do cooperativismo, os princípios e os valores do
cooperativismo.

131
Desenvolvimento

4.1.1 Cooperativismo

A experiência da cooperação sempre esteve presente na vida do


homem como ser social, mesmo para garantir a sua sobrevivência na
natureza. Entretanto, o cooperativismo reconhecido formalmente
surgiu com o capitalismo, no início do século XIX, o principal objectivo
do cooperativismo era de combater os efeitos negativos do capitalismo
para os trabalhadores.

Com o surgimento do capitalismo 18 os trabalhadores sentiram a


necessidade de organizar-se em sindicatos e partidos operários como
forma de se distanciar das longas horas de trabalhos e de baixos
salários.

A primeira cooperativa de que se tem registo surgiu em 21 de Dezembro


de 1844 em Manchester, na Inglaterra. Esta cooperativa surge com o
início da revolução industrial quando as novas máquinas substituirão o
modelo artesanal. Neste âmbito 28 tecelões do bairro de Rochdale
decidiram criar uma sociedade de consumo baseada na ajuda mútua –
a sociedade dos equitativos pioneiros de Rochdale.

A cooperativa de consumo de Rochdale marcou o início da história do


cooperativismo e hoje como veremos mais adiante já existem
cooperativas ligadas a vários sectores de actividades e abrangem
milhões de cooperados.

18
O capitalismo foi marcado pela revolução industrial no século XVIII, onde com a
invenção de novas maquinas (máquina à vapor, maquina de tecelagem etc.) a mãode-
obra perdeu grande poder de troca e iniciaram as grandes jornadas de trabalho e os
salários baixos.
132
4.1.2. Razões para a existência do cooperativismo

Depois de analisarmos a origem do cooperativismo podemos agora


colocar a questão: porque as pessoas juntam-se e cooperam as suas
actividades?

Uma das razões ou explicações do cooperativismo é a luta pela


concorrência. Quando estamos perante pequenos produtores de
determinado bem estes podem juntar-se de modo a competir de igual
forma com outras empresas de grande porte do mesmo ramo.

Uma outra razão ou explicação é garantir uma única voz e ter um maior
poder de intervenção na definição das políticas públicas para o sector
em que estão envolvidos.

Podemos assim observar que o cooperativismo é uma forma de


proteger os membros associados ou então de torna-los mais fortes na
defesa dos seus interesses.

4.1.3. Princípios básicos do cooperativismo

Gawlak & Albino (2007) indicam que os princípios cooperativismos


foram desenhados pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI) 19 e
podem ser resumidos nos seguintes:

1. Princípio da livre adesão

Proíbem-se às cooperativas de injustificadamente e arbitrariamente


impedirem a adesão que quem for.

“Cooperativas são organizações voluntarias, abertas a todas as pessoas


aptas a utilizar os seus serviços e dispostas a assumir as

19
A Aliança Cooperativa Internacional (ACI) foi fundada em 1895, é um organismo
mundial que tem como função básica preservar e defender os princípios
cooperativistas. Sua sede está localizada em Bruxelas, na Bélgica, e se organiza
através de quatro sedes continentais: América, Europa, Ásia e África.
133
responsabilidades de membro sem discriminação de sexo, condições
sociais, políticas, raciais ou religiosas”

A livre adesão está associada a determinados critérios de adesão e


algumas restrições a saber:

I. Critérios de adesão

a) Conhecer a doutrina, filosofia e os princípios cooperativistas –


todo individuo que pretenda aderir a uma cooperativa deverá
conhecer a doutrina, filosofia e os princípios cooperativistas de
modo a enquadrar se facilmente e juntos lutar para o mesmo
objectivo.

b) Conhecer os objectivos, o estatuto e a estrutura da cooperativa


– os objectivos da cooperativa irão indicar a área de actuação e
os estatutos o modo de funcionamento da cooperativa factores
importantes a conhecer no momento de adesão.

c) Conhecer os direitos e deveres do associado

d) Ter o firme propósito de ser um associado fiel, actuante e


participativo.

e) Ser um empreendedor e acreditar na cooperativa – acreditar nos


valores da cooperativa e olhar para ela como sua propriedade,
pois na essência será o dono, junto com outros.

II. Restrições à entrada

a) Interesses conflituantes – a primeira restrição que pode ocorrer


no momento da adesão a uma cooperativa são os interesses

134
conflituantes. O objecto ou actividade exercida pela cooperativa
não deve conflituar com outras actividades exercidas pelo
membro. Os membros não podem ter interesses secundários
para além dos que são conhecidos e estabelecidos na
cooperativa.
b) Actividades paralelas – qualquer pessoa que possua actividades
paralelas às da cooperativa não poderá fazer parte dela.

c) Impossibilidade técnica de prestação de serviços.

Os pontos acima arrolados indicam algumas restrições e critérios de


adesão gerais, contudo, cada cooperativa tem estatuto e regimento
interno com normas quanto à adesão de novos associados.

2. Princípio da administração democrata

Cada membro da cooperativa tem direito a voto e a participar na gestão


da mesma.

A cooperativa é administrada conforme a vontade dos associados. Eles


é que definem as prioridades com base nas necessidades e objectivos
estabelecidos.

“As cooperativas são organizações democráticas geridas pelos seus


membros, os quais participam activamente na formulação das suas
políticas e na tomada de decisões. Os homens e mulheres que exerçam
funções como representantes eleitos são responsáveis perante o
conjunto dos membros que elegeram. Nas cooperativas do primeiro
grau os membros têm iguais direitos de voto (um membro, um voto),
estando as cooperativas de outros graus organizadas também de forma
democrática”

135
3. Princípios do parâmetro do regime económico

Na cooperativa podem ser distribuídos excedentes resultantes da sua


actividade e podem pagar juros pelos
títulos de capital detido pelos cooperadores.

“Os membros contribuem equitativamente para o capital das suas


cooperativas e controlam-no democraticamente. Pelo menos parte
deste capital é normalmente propriedade comum da cooperativa. Os
cooperadores recebem normalmente se for o caso uma remuneração
limitada pelo capital subscrito como condição para serem membros.”

Os excedentes das cooperativas podem ter dois destinos: um para o


desenvolvimento da própria cooperativa através do aumento das
reservas ou apoio a outras actividades aprovadas pelos membros.

4. Princípio da autonomia e independência

Este princípio implica que qualquer parceria ou relação com o Estado


não deve implicar uma subordinação das cooperativas ao poder
político, e qualquer parceria com uma empresa privada não pode
implicar a perda da soberania da cooperativa.

5. Princípio da educação e formação

A cooperativa deve ter um papel educativo para os seus membros. Este


princípio é centrado na identidade da cooperativa.

“ As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus


membros, dos representantes eleitos, dos dirigentes e dos
trabalhadores de modo a que possam contribuir eficazmente para o
desenvolvimento das suas cooperativas. Elas devem informar ao
público particularmente os jovens e os líderes de opinião, sobre a
natureza e as vantagens da cooperação”.

136
6. Princípio da intercooperação

As cooperativas devem funcionar em redes e apoiar-se uma às outras.


A intercooperação entre as cooperativas pode ser formal ou informal

7. Princípio do interesse pela comunidade

Este princípio revela a essência da cooperativa que é resolução dos


problemas da comunidade. As cooperativas contribuem para o
desenvolvimento da comunidade com a geração de empregos,
produção serviços e a preservação do meio ambiente.

“As cooperativas trabalham para o desenvolvimento


sustentável das suas comunidades, através de políticas
aprovadas pelos membros”.

4.1.4. Valores cooperativos

Os valores cooperativos estão associados aos princípios que


caracterizam as cooperativas. Estes valores são divididos em dois
grupos: um grupo de valores que diz respeito às cooperativas e outro
grupo de valores que esta directamente relacionada com os próprios
cooperadores.

4.1.4.1. Valores relacionados com a cooperativa:

A auto ajuda – os membros das cooperativas devem ter o espírito da


auto ajuda, cada um deve procurar superar os seus problemas e os do
grupo de forma positiva. Utilizar os próprios meios para a superação dos
problemas do grupo.

A responsabilidade individual – apesar de agir em colectividade cada


membro é responsável pelo sucesso da cooperativa. Cada membro é
responsável pela gestão.

A democracia – cada membro da cooperativa tem direito ao voto, tem


direito a opinião e a inclusão na gestão das actividades.
137
A igualdade – As cooperativas normalmente são guiadas pelo princípio
de um membro um voto e a divisão dos seus excedentes não tem em
conta o capital social e nem a actividade desempenhada pelo membro.
Todos os membros têm iguaisvalores e direitos.

E equidade – a expressão equidade remete-nos a questões de igualdade


social, económica e financeira. O cooperativismo acredita na igualdade
de género, igualdade económica de todos os associados. A equidade é
a persistente busca pela justiça e é com base neste valor que as
cooperativas operam.

A solidariedade – solidariedade é um ato de bondade com o próximo,


uma união de simpatias, interesses ou propósitos entre os membros de
um grupo. Os membros das cooperativas devem ser solidários uns com
os outros.

4.1.4.2. Valores associado aos próprios cooperadores:

Os valores relacionados aos cooperadores estão relacionados a cultura


individual de cada um dos membros.

Honestidade – os membros das cooperativas devem ser verdadeiros nas


suas acções e palavras. Devem não mentir, não fraudar, não enganar
aos membros da cooperativa, aos membros da comunidade ou a
qualquer outro ser.

Responsabilidade social – a responsabilidade social surge quando


alguém ou empresa age em prol do bem-estar da sociedade livremente
sem nenhuma imposição, quando empresas ou pessoas individuais, de
forma voluntária, adoptam posturas, comportamentos e acções que
promovam o bem-estar dos outros. O membro da cooperativa deve
possuir esse valor fazer o bem a sociedade sem exigências e sem
obrigatoriedades.

138
Transparência – a vida e as actividades exercidas pelos cooperadores
devem ser transparentes, mostrando a honestidade das suas acções e
de modo a não criar suspeitas a sociedade de envolvimento em
actividades ilícitas ou de carácter duvidosa.

Altruísmo – o cooperador deve ser um ser humano dotado de


solidariedade, deve ter um pensamento e atitude caridosa. O altruísta é
aquele indivíduo que pensa nos outros ou que pensa mais no outro que
em si é contrário de egoísta.

Sumário

Como vimos na presente unidade temática, o cooperativismo esta


presente até nas pequenas actividades desenvolvidas pelo ser humano,
a cooperação é adoptada não só pelos seres humanos, mas podemos
observar comportamentos de cooperação nos animais. Assim, o estudo
do cooperativismo torna se importante e contribui para o
desenvolvimento e crescimento das actividades desenvolvidas.

Os princípios básicos do cooperativismo orientam os membros das


cooperativas permitindo que estes não se desvinculem do seu foco
principal.

Os valores do cooperativismo são aplicados tanto para as cooperativas


assim como para os membros, o espírito da ajuda mútua deverá
permanecer no desenvolvimento de todas as actividades.

Exercícios de AUTO AVALIAÇÃO

1. Qual é o significado da palavra cooperar?


2. Quando surgiu o cooperativismo e qual era o objectivo
principal?
3. Quando e onde surge a primeira cooperativa?

139
4. Identifique e explique as razões que levam o homem a juntarse
e cooperar as suas actividades.
5. Identifique e explique os principais
princípios do cooperativismo.

6. Identifique os princípios que estão subjacentes as seguintes


afirmações:
a) Qualquer indivíduo poderá ou não filiar se a uma
cooperativa;
b) O conhecimento dos direitos e deveres dos membros das
cooperativas é fundamental para o bom funcionamento da
mesma;
c) Os membros são donos e gestores das cooperativas;
d) Qualquer pessoa que possua actividades paralelas às da
cooperativa não poderá fazer parte dela;
e) A cooperativa é administrada conforme a vontade dos
associados;

f) Os excedentes das cooperativas podem ter dois destinos: um


para o desenvolvimento da própria cooperativa através do
aumento das reservas ou apoio a outras actividades
aprovadas pelos membros;

g) O estado não deve interferir nos princípios, nas actividades


e nem na gestão das cooperativas;
h) A cooperativa deverá incluir nas suas actividades a
componente formação não só dos membros mas também de
outros elementos da comunidade;

i) As cooperativas contribuem para o desenvolvimento da


comunidade com a geração de empregos, produção serviços
e a preservação do meio ambiente.
7. Identifique e explique três valores do cooperativismo, ligados a
cooperativa e ligados aos cooperado.

140
Respostas indicativas
1. O estudante deverá explicar por palavras suas o significado de
cooperação. Para melhor responder a esta questão poderá
consultar o ponto 4.1.1
2. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto 4.1.1
3. Para melhor responder a esta questão poderá consultar o ponto
4.1.1
4. Para melhor responder a esta questão poderá consultar o ponto
4.1.2
5. Para melhor responder a esta questão poderá consultar o ponto
4.1.3

6. Para melhor responder a esta questão poderá consultar o ponto


4.1.3
7. Para melhor responder a esta questão poderá consultar o ponto
4.1.3

Exercícios de AVALIAÇÃO

1. Porque a população sentiu a necessidade de cooperar e


se organizar em cooperativas no capitalismo? Porque
não houve essa necessidade no socialismo?
2. Tendo em conta as razões do surgimento do
cooperativismo podemos assumir que o cooperativismo
só existe devido a existência da concorrência entre as
empresas. Concorda com a afirmação? Justifique a sua
posição.

3. O princípio da livre adesão significa que toda a


cooperativa não pode recusar o ingresso de um membro
mesmo que o mesmo não se identifique com as
actividades e os estatutos da cooperativa. Comente.

141
4. As cooperativas contribuem para o desenvolvimento da
comunidade com a geração de empregos, produção
serviços e a preservação do meio ambiente. Comente.
5. Um indivíduo que exerce que tem um historial de fuga ao
fisco poderá fazer parte de uma cooperativa? Comente a
sua resposta

tendo em conta os valores associados a esta afirmação.


6. O cooperativismo acredita na igualdade de género,
igualdade económica de todos os associados. Comente

UNIDADE Temática 4.2. Conceito e importância das cooperativas

Introdução

Na presente unidade temática o estudante irá compreender o conceito


e a importância do cooperativismo. Nesta unidade temática o estudante
fará a ligação entre os conceitos já abordados nos temas anteriores
como a associação e as sociedades comerciais e o cooperativismo, isto
é, o estudante deverá comparar estes conceitos para melhor
compreender o cooperativismo.
Esta unidade temática aborda também uma questão fundamental que
é a relação que se estabelece entre o estado e as cooperativas, como o
estado poderá contribuir para o desenvolvimento ou não das
cooperativas, como as cooperativas articulam as suas actividades com
as políticas públicas desenhadas pelo Estado.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

142
▪ Compreender o conceito de cooperativa;

▪ Diferenciar cooperativa das associações e das Empresas;


Objectivos ▪ Compreender a importância das cooperativas;
Específicos
▪ Compreender como o Estado poderá influenciar no desenvolvimento das

cooperativas.

Desenvolvimento

4.2.1 Definição de cooperativa

A cooperativa é uma mistura de associação e empresa. É um


entrelaçamento de duas componentes a associação e a empresa. Por
isso podemos encontrar em alguma literatura a indicar-se a cooperativa
como uma associação ou como uma empresa, entretanto esta não pode
ser enquadrada na totalidade como uma empresa ou como uma
associação.

A Aliança Cooperativa Internacional define a cooperativa como uma


associação autónoma de pessoas que se unem voluntariamente para
satisfazer necessidades e aspirações económicas, sociais e culturais
comuns através de uma empresa de propriedade conjunta e
democraticamente controlada.

Namorado (2005) indica que a cooperativa é:

✓ Uma associação que se projecta numa empresa.


✓ Uma empresa impulsionada por uma associação.
✓ Uma associação cujo princípio activo é uma
actividade empresarial.
✓ Uma empresa com atmosfera associativa.

4.2.2 Diferença entre cooperativa, associações e sociedades

143
comerciais (empresas)

Na definição de cooperativa vimos que esta possui elementos de uma


empresa e de uma associação.

O quadro a seguir mostra a diferença entre as cooperativas, as


associações e as sociedades comerciais (empresas)20

Tabela 9: Diferença entre cooperativas, associações e sociedades comerciais


COOPERATIVAS ASSOCIAÇÕES SOCIEDADES
COMERCIAIS

Definição È uma organização È uma È uma organização


organização de ou sociedade de
de pessoas que se
pessoas que se capitais com fins
organiza para organizam para lucrativos.
exercer uma fins não
económicos.
actividade
económica.

Membros Os membros têm Não necessita de Não necessita de um


um elo de ligação elo de ligação
um elo de ligação
comum entre os comum, a realização
comum. membros. do capital social é
que é importante.

Bens fornecidos Fornecem serviços Tem fins Os sócios procuram


em benefício altruísticos e não obter lucros,
comum (membros
da cooperativa). lucrativos em beneficiando-se uns
benefício a sobre outros
comunidade

Ganhos/lucros Com os ganhos Não há ganhos Com os ganhos


beneficia-se a (lucros) beneficia-se
prestação de
o sócio, o titular do
serviços. capital

20
Adaptado de Verde Azul consult 2007
144
Principal Oferecer serviços Realizar Obter margens de
objectivo em operações com actividades lucros os mais
margens justas sociais, culturais, proveitosos possíveis
numa base de desportivas e de

preços os mais assistência,


sem fins
razoáveis possíveis
lucrativos
Distribuição de Devolve-se aos Não gera O lucro alcançado
excedentes membros nas
excedentes nem distribui-se entre os
proporções das
suas actividades e lucros sócios,
serviços proporcionalmente
ao capital subscrito e
realizado

Capital social O capital social Não há capital O capital social


subscrito e realizado
subscrito e social
é determinante para
realizado não a gestão e a tomada
determina a gestão de decisões e o sócio
por si só não toma
ou tomada de
decisões.
decisões, mas sim o
membro

Assembleias O quórum é O quórum é O quórum é baseado


no no capital
baseado no número baseado
de
número
de
membros
membros

145
Quotas Não é permitida a Não tem È permitida a
transferência de
transferência das quotas
quotas-partes
partes
quotas-partes a
terceiros ou
estranhos, a não ser
no caso de
transmissibilidade
por morte ou
incapacidade par os
seus herdeiros
tendo sempre em
conta o elo de
ligação que deve
preexistir dentro
dos membros da
cooperativa

Número de É ilimitado É ilimitado O número de sócios


membros pode ser limitado ou
ilimitado, conforme o
tipo de sociedade

Objectivos Estão dependentes Os objectivos são Os objectivos


das necessidades a prossecução e centram-se no lucro e
dos membros defesa dos não estão
interesses dos dependentes do
associados sócio

Gestão/adminis É administrada com É administrada È administrada por


tração a participação de um número reduzido
com a
todos os membros de pessoas
participação de
todos os
membros

146
Organização Organiza-se por Organiza-se Organiza-se por
apoio internamente internamente da
internamente
tendo em conta a meio
meio de prossecução dos competência
mútuo interesses dos
associados.

4.2.3. Importância das cooperativas

As cooperativas são um instrumento fundamental para o


desenvolvimento económico de determinadas áreas principalmente as
com elevada competitividade. Estas têm um impacto positivo nas
comunidades rurais, através da utilização de estruturas participativas e
dinamizam o meio em que actuam.

Hoje, as cooperativas no mundo movem as economias, é assim que, de


acordo com estatísticas das Nações Unidas, por exemplo, no Brasil 40%
da produção agrária são feitos pelo sector cooperativo. Em países
desenvolvidos de orientação capitalista por excelência, como os Estados
Unidos da América, Noruega e Nova Zelândia, cerca de 80 a 99% da
produção de leite são feitos pelo sector cooperativo. Este sector cobre
a área financeira também. Assim, no quadro do Conselho Mundial das
Uniões de Crédito, 49.000 cooperativas servem 177 milhões de
membros em 96 países e 4200 bancos no âmbito da Associação
Europeia de Bancos Cooperativos servem 149 milhões de clientes no
fornecimento de energia eléctrica. Os EUA contam com mais de 900
cooperativas que servem aproximadamente 37 milhões de pessoas.
CORREIO DA MANHÃ – 21.11.201121

A Assembleia-Geral das Nações Unidas, através da Resolução nº

21 http://www.portalocplp.org/organizacoes/ampcm

148
64/136, de 18 de Dezembro, sublinha que as cooperativas têm um
impacto sobre a redução da pobreza, a geração do emprego e a
integração social. Neste quadro, proclamou 2012 como ano
internacional das cooperativas, reiterando o contributo destas no
desenvolvimento socioeconómico, com realce nos países menos
desenvolvidos, como é o nosso caso. CORREIO DA MANHÃ –
21.11.201122

As cooperativas permitem o aproveitamento e desenvolvimento de


recursos nativos contribuem para o desenvolvimento de formas de
comportamentos democráticos e reforçam o interesse da colectividade,
aspectos inerentes à ideia de desenvolvimento local, onde os
empresários são mobilizados de forma democrática, permitindo que
sejam sujeitos do seu próprio crescimento.

De forma mais detalhada podemos referir a importância das


cooperativas nas seguintes dimensões:

1. Como gerador de emprego

As cooperativas têm um papel fundamental na luta contra o


desemprego, estas valorizam a mão-de-obra local. O cooperativismo
viabiliza novas formas de negócios, de geração de rendas incluindo a
justiça social.

A cooperativa é “ a cooperativa é o melhor caminho para o homem do


campo ter acesso à tecnologia, ao crédito e à assistência especializada
para competir com os grandes conglomerados que integram o
agrobusiness”. “As cooperativas são também uma saída para os
excluídos de outros sectores” o cooperativismo funciona como um
defensor da democracia e da paz, pois é capaz de abrigar e incluir no
mercado de trabalho jovens saídos das universidades e sem oferta de

22
http://www.portalocplp.org/organizacoes/ampcm

149
emprego, funcionários demitidos de empresas estatais, das privatizadas
e das empresas privadas ou públicas por força do redimensionamento
ereestruturação organizacional do sector produtivo, entre outros.

2. Como aliados do Governo

O cooperativismo tem um papel fundamental na dinamização da


democracia, servindo assim de aliado aos Governos comprometidos
com a defesa da democracia.

3. Como impulsionador do desenvolvimento

As cooperativas contribuem para o desenvolvimento ao mobilizar


mecanismos que permitam fortalecer os membros de uma comunidade
ou região.

Com base no cooperativismo muitos países reestruturaram a sua base


produtiva, aumentando o bem-estar dos membros.

Muitos países têm a noção da importância do cooperativismo no


desenvolvimento das suas economias e o Governo cria mecanismos
para o crescimento das mesmas. Um exemplo que pode ser dado é a
indonésia que criou um ministério para questões de cooperativismo,
designado ministério das cooperativas e pequenas e medias empresas.

Conforme salienta a FAO – Organização das Nações Unidas para a


Alimentação agricultura15, o cooperativismo é identificado como um
instrumento importante dentro das políticas de desenvolvimento para
as camadas da população economicamente mais desfavorecidas, sendo
um meio eficaz para assegurar um desenvolvimento integrado capaz de
atender ao conjunto das necessidades imediatas da população.

A definição e importância do cooperativismo pode ser resumida na


seguinte frase da AMPCM23, 2011 Quando uma pessoa ou grupo de

23
Associação Moçambicana para Promoção do Cooperativismo Moderno
150
pessoas enfrenta um problema de ordem económica, ou de natureza
social, ou de colocação dos seus produtos ou serviços no mercado, a
alternativa é a união dessas pessoas.

As cooperativas aglutinam as vertentes económicas e sociais para


alcançar o objectivo que se pretende.

4.2.4. Relação entre o estado e as cooperativas

A relação entre o estado e as cooperativas é um elemento fundamental


no desenvolvimento das actividades das cooperativas.

Esta relação pode ser mais ou menos conturbada dependendo de vários


factores e dependendo também do sector em que esta inserido a
cooperativa, dependendo da heterogeneidade e multiplicidade dos
ramos, pela diversidade das dimensões, pelas variedades da actividade
desenvolvida, pela cooperação com as outras cooperativas nacionais e
internacionais e principalmente pelo poder económico de cada sector
onde a cooperativa esta inserida e também pela influencia que as
cooperativa possui na comunidade, o poder social que a cooperativa
detêm.

Por outro lado, a relação estabelecida entre o estado e as cooperativas


também irá depender da atitude assumida pelo estado para as
cooperativas, esta atitude pode variar da ignorância até a imposição de
algumas regras. O estado pode estar indiferente para uma cooperativa
ou pode envolver nas suas acções.

A orientação política de um Estado também influencia o tipo de relação


a estabelecer se entre o estado e as cooperativas. Se estivermos
perante um estado liberal ou neoliberal (onde reina o capitalismo, a
obtenção do lucro nas actividades) as cooperativas podem ser vistas
como não capitalistas e podem correr o risco de ser banalizadas ou até
eliminadas.

151
Se o estado for socialista, e não se subordine as lógicas capitalistas as
cooperativas podem ser valorizadas e ser apoiadas socialmente em
tempo útil. Neste caso o estado poderá criar políticas de apoio às
cooperativas.

Se o estado assume uma posição intermédia social-democrata este


pode adoptar uma posição imediatista, valorizando a utilidade social
das cooperativas, a capacidade que estas possuem de proteger os mais
fracos e atenuar os efeitos do capitalismo.

Do lado das cooperativas, não é do interesse destas que o estado esteja


ausente ou totalmente permissivo, interessa as cooperativas que o
estado assuma-se como vigilante e que garanta que as cooperativas
operem sem perder a sua identidade, protegendo-as.

A relação entre o estado e as cooperativas pode também ser analisada


através da relação entre as cooperativas e as políticas públicas.

4.2.5 Cooperativas e políticas públicas

A relação que se estabelece entre as cooperativas e as políticas publicas


varia dependendo da heterogeneidade do sector. As cooperativas
podem assumir uma atitude de forma a aliar-se as políticas ou
distanciar-se. Contudo como forma estratégica a associação deverá
procurar envolver se sistematicamente na aplicação das políticas
publicas.

A relação estabelecida entre o estado e as associações deve ser


harmoniosa e baseada em redes programadas de parcerias. Essas
parceiras ganham importância principalmente em dois campos: o
desenvolvimento local e a inserção social. No desenvolvimento local a
parceria entre o Estado e as cooperativas criam sinergias contribuindo
para o desenvolvimento das comunidades onde estão inseridas. No que
se refere a inserção social a cooperativa faz parte dos princípios da
cooperativa, criar uma inserção social e o estado tem também essa
152
função se as duas organizações unem se podem criar melhores
resultados para a sociedade.

Sumário

Nesta Unidade temática 4.2 estudamos e discutimos o conceito e


importância o cooperativismo. Vimos que o cooperativismo pode
contribuir para o desenvolvimento de uma comunidade pois as
populações podem a partir do cooperativismo aumentar a sua produção
e beneficiar a população mais carenciada.
Vimos ainda nesta unidade temática a importância do papel do estado
para o desenvolvimento das cooperativas, dependendo do regime
económico usado por cada uma das instituições estas podem contribuir
para o desenvolvimento ou não das cooperativas.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Defina cooperativa.

2. Explique porque as cooperativas não podem ser totalmente


enquadradas como associação ou como empresa?

3. Diferencie as cooperativas, associações e as sociedades


comerciais quando
a) Definição
b) Membros
c) Bens fornecidos
d) Ganhos/lucros
e) Principal objectivo
f) Distribuição de excedentes
g) Capital social
h) Assembleias
i) Quotas
j) Número de membros
k) Objectivos
l) Gestão/administração
153
m) Organização

4. A relação entre as cooperativas e o estado pode ser mais ou


menos conturbada dependendo de vários factores.
Identifique estes factores.
5. Explique por palavras suas a relação que pode se estabelecer
entre as cooperativas o Estado e as políticas pública.

Respostas indicativas

1. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto 4.2.1 da


presente unidade temática.
2. Nesta questão o estudante deverá responder porque as
cooperativas não podem ser empresas ou porque as
cooperativas não podem ser associações. Para mais
esclarecimento consulte o ponto 4.2.1 e 4.2.2
3. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto 4.2.2 da
presente unidade temática.
4. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto 4.2.4 e
4.2.5 da presente unidade temática.
5. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto 4.2.4 e
4.2.5 da presente unidade temática.

Exercícios de AVALIAÇÃO

1. As cooperativas são um instrumento fundamental para o


desenvolvimento económico de determinadas áreas

154
principalmente as com
elevada competitividade. Comente
2. As cooperativas permitem o aproveitamento e
desenvolvimento de recursos nativos contribuem para o
desenvolvimento de formas de comportamentos
democráticos e reforçam o interesse da colectividade.
Comente.

3. A relação estabelecida entre o estado e as cooperativas


depende da atitude assumida pelo estado para as
cooperativas. Explique que atitudes podem ser e como estas
atitudes podem influenciar as actividades das cooperativas.
4. A orientação política de um Estado também influencia o tipo
de relação a estabelecer se entre o estado e as cooperativas.
Comente e explique como esta relação pode variar de
acordo com a orientação política.
5. As cooperativas não dependem do fundo público por isso
não é do interesse destas que o estado esteja presente.
Comente.
6. No desenvolvimento local a parceria entre o Estado e as
cooperativas criam sinergias contribuindo para o
desenvolvimento das comunidades onde estão inseridas.
Comente dando exemplos concretos de uma cooperativa na
sua comunidade.

155
UNIDADE Temática 4.3 Ramos e classificação das cooperativas

Introdução

Na presente unidade temática o estudante irá analisar os diversos

ramos do cooperativismo, classificar as sociedades cooperativas.


Veremos ainda que por serem vastas as áreas de intervenção, ou as
áreas em que os homens cooperam entre si, tornam se vastos os
ramos do cooperativismo, entretanto no presente manual definem
alguns considerados mais relevantes.
Nesta unidade o estudante terá ainda a oportunidade de conhecer o dia
considerado mundial do cooperativismo, a bandeira mundial e como os
membros das cooperativas podem participar das actividades
desenvolvidas por elas.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

▪ Identificar os diversos ramos do cooperativismo;

▪ Classificar as sociedades cooperativistas;


Objectivos ▪ Compreender o papel dos cooperados nas cooperativas, os deveres e direitos
Específicos dos cooperados;

▪ Conhecer o dia mundial do cooperativismo e a sua respectiva bandeira.

Desenvolvimento

4.3.1. Ramos do cooperativismo24

As cooperativas são classificadas em ramos, de acordo com o seu


objecto ou área de actuação. Assim podemos ter os seguintes ramos do
cooperativismo:

156
✓ Cooperativas Agro-pecuário

Composto por cooperativas de produtores rurais ou agro-pastoris e de

pesca, cujos meios de produção pertençam ao associado. Essas

cooperativas geralmente cuidam de toda a cadeia produtiva, desde o

preparo da terra até a industrialização e comercialização dos produtos.

✓ Cooperativas de Consumo

Composto por cooperativas dedicadas à compra em comum de artigos


de consumo para seus associados. A primeira cooperativa do mundo era
desse ramo e surgiu em Rochdale, na Inglaterra, no ano de 1844.

✓ Cooperativas de crédito

Composto por cooperativas destinadas a promover a poupança e


financiar necessidades ou empreendimentos dos seus associados. O
ramo está organizado em cooperativas de crédito rural, crédito mútuo.

✓ Cooperativas de educação

Composto por cooperativas de professores, por cooperativas de alunos


de escola agrícola, por cooperativas de pais de alunos e por
cooperativas de actividades afins

✓ Cooperativas especiais

Composto por cooperativas constituídas por pessoas que precisam ser


tuteladas ou que se encontram em situação de desvantagem

✓ Cooperativas habitacionais

Composto por cooperativas destinadas à construção, manutenção e


administração de conjuntos habitacionais para seu quadro social.

157
✓ Cooperativas de infra-estrutura

Composto por cooperativas cuja finalidade é atender directa e


prioritariamente o próprio quadro social com serviços de infraestrutura.

✓ Cooperativas de mineração

Composto por cooperativas com a finalidade de pesquisar, extrair,


lavrar, industrializar, comercializar, importar e exportar produtos
minerais.

✓ Cooperativas de produção

Composto por cooperativas dedicadas à produção de um ou mais tipos


de bens e mercadorias, sendo os meios de produção propriedade
colectiva, mediante a cooperativa como pessoa jurídica, e não
propriedade individual do associado.

✓ Cooperativas de saúde

Composto por cooperativas que se dedicam à preservação e


recuperação da saúde humana. O Ramo de Saúde está subdividido nos
seguintes sectores: Médicos, Psicólogos, Odontológicos e serviços afins,
bem como usuários desses serviços.

✓ Cooperativas de trabalho

Composto por cooperativas de trabalhadores de qualquer categoria


profissional, para prestar serviços, organizados num empreendimento
próprio.

✓ Cooperativas de transporte

Composto por cooperativas que actuam no transporte de cargas e de


passageiros,

158
✓ Cooperativas de turismo

Composto por cooperativas que prestam serviços turísticos, artísticos,


de entretenimento, de desporto e de hotelaria, ou atendem directa e
prioritariamente o seu quadro social nessas áreas

Como podemos ver, os ramos do cooperativismo são vastos,


dependendo da actividade a ser desenvolvida pode existir
cooperativismo para tudo e para todos. Basta utilizar a criatividade, ter
ousadia e visão de futuro, estudar a viabilidade e, principalmente,
constituir a cooperativa por associados que acreditem neste tipo de
empreendimento. As privatizações e serviços terciarizados criam
oportunidades favoráveis para a constituição de cooperativas. O
segmento onde actuam.

4.3.2 Classificação das Sociedades Cooperativas

As cooperativas podem se classificadas de acordo com o grau. Assim


temos cooperativas do 1º, 2º ou 3º grau.

✓ Cooperativa Singular ou de 1º grau

Objectivo: prestação directa de serviços aos associados. Constituída por


um mínimo de 20 pessoas físicas. É permitida a admissão, em carácter
de excepção, de pessoas jurídicas, com as mesmas ou correlatas
actividades económicas das pessoas físicas. (Gawlak, 2007)

✓ Cooperativa Central ou de 2º grau

Objectivo: organizar em comum e em maior escala os serviços das


filiadas, facilitando a utilização recíproca dos serviços. Constituída por,
no mínimo, três cooperativas singulares. Pode, excepcionalmente,
admitir pessoas físicas. (Gawlak, 2007)

159
✓ Confederação ou cooperativas do 3º grau

Objectivo: organizar, em comum e em maior escala, os serviços das


filiadas. Constituída de, no mínimo, três cooperativas centrais e ou
federações de qualquer ramo. (Gawlak, 2007).
Figura 6: Classificação das cooperativas

Gawlak, Albino 2007

4.3.3 Participação do Associado na Vida da Cooperativa

A cooperativa torna-se forte quando os associados assumem e


usufruem dos seus serviços, pois ela é a extensão de sua actividade.

A participação dos associados no empreendimento cooperativo se dá de


forma organizada e com muita responsabilidade, onde todos devem
assumir o papel de verdadeiros donos, tendo em mente que a

160
cooperativa não é uma casa de caridade, nem simplesmente uma casa
de comércio, e sim uma prestadora de serviços aos associados, com
objectivos económicos, sociais e culturais.

A presença e a participação na busca de conhecimentos, qualificação e


profissionalismo fazem parte do objectivo cultural da cooperativa. Esta
busca do saber propicia um crescimento pessoal e facilita a descoberta
de valores e talentos. É nesta fase que surgem os verdadeiros líderes,
capazes de assumir as funções de administração e fiscalização.

A participação torna-se mais clara, quando estabelecidos os direitos e


deveres do quadro social.
Tabela 10: Direito e deveres dos associados
Gawlak, Albino (2007)

Direitos dos Associados Deveres dos Associados

161
• Votar em todos assuntos da • Ser um associado exemplar.

assembleia-geral.
• Operar com a cooperativa.

• Participar de todas as operações e


• Participar das assembleias, opinar e
serviços prestados pela
votar.
cooperativa.

• Integralizar as quotas-partes em dia.


• Solicitar esclarecimentos ao
Conselho de Administração e ao • Respeitar as
Conselho Fiscal quando houver decisões
dúvidas. tomadas colectivamente.

• Receber as sobras na proporção • Respeitar as


das operações realizadas durante decisões
o exercício. tomadas colectivamente.

• Oferecer sugestões. • Conhecer e cumprir o estatuto, os


regulamentos e as normas da
• Participar dos comités educativos
cooperativa.
ou de comissões.

• Saldar seus compromissos


• Solicitar demissão do
financeiros.
quadro social.

• Zelar pelo bom nome e património


da cooperativa.

4.3.4 Dia mundial do Cooperativismo e a bandeira mundial26

O dia internacional do cooperativismo foi instituído em 1923 no


congresso da Aliança Cooperativa Internacional (ACI)27, Sendo a partir
de então comemorado no primeiro sábado de Julho de cada ano.

A Bandeira do Cooperativismo, com as cores do arco-íris, foi criada


pela ACI em 1923.O Conselho de Administração da ACI28 em sua
reunião, na Cidade de Roma, em Abril de 2001, concordou em alterara

162
Bandeira. O motivo da alteração foi promover e consolidar
claramente a imagem cooperativa, já que a mesma bandeira era
usada por grupos não cooperativistas, o que causou confusões em
diversos países.

A bandeira que substitui a tradicional é de cor branca eleva impressa o


logótipo da ACI no centro, de onde emergem pombas da paz.

Cada cor do arco-íris tem um significado:


• Vermelho – coragem.
• Alaranjado - visão de futuro.
• Amarelo – família e comunidade.
• Verde – crescimento como pessoa e como cooperado.
• Azul – necessidade de ajudar os menos afortunados.
• Anil – auto e mútua ajuda.
• Violeta – beleza, calor humano e coleguismo.

Figura 7: Bandeira do cooperativismo

26
Retirado do manual de cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Brasil. 2012.
27
ACI – Aliança Cooperativa Internacional Nasceu em 1895, sendo uma organização não-
governamental que congrega cooperativas dos cinco continentes, com sede em Genebra
(Suíça).
Tem como objectivo fortalecer o cooperativismo no mundo inteiro, estimulando a
integração do Sistema Cooperativo e actualizando os Princípios do Cooperativismo e
zelando pela preservação dos seus Valores.
Deve também incentivar a propagação da Doutrina, Filosofia e Educação
Cooperativista.

163
Sumário

Nesta Unidade temática 4.3 estudamos e discutimos os ramos do


cooperativismo, a sua classificação e mostramos como os cooperados
podem contribuir para o desenvolvimento da cooperativa, quais os seus
direitos e deveres.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Identifique os ramos do cooperativismo que conhece.


2. Explique por palavras suas porque os ramos do
cooperativismo podem ser infinitos.

3. Explique como podem ser classificadas as cooperativas.


4. Quando é que comemora-se do dia mundial do
cooperativismo. De exemplo da data para o ano 2015.
5. Identifique três direitos e três deveres dos membros das
cooperativas.
6. Explique o significado das cores da bandeira mundial do
cooperativismo.

Respostas indicativas
1. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto
4.3.1.

2. Para esta questão o estudante deverá consultar o ponto


4.3.2 e explicar porque não identificamos todos os ramos
do cooperativismo aqui no manual.
3. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto
4.3.2.
4. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto
4.3.4.
5. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto
164
4.3.4.
6. Para melhor responder a esta questão consulte o ponto
4.3.4.

Exercícios de AVALIAÇÃO

1. A cooperativa torna-se forte quando os associados


assumem e usufruem dos seus serviços, pois ela é a
extensão de sua actividade. Comente a afirmação.

2. De exemplos de algumas cooperativas do 1, 2 ou 3 graus


que conhece em Moçambique e no mundo.
3. De cada ramo do cooperativismo vistos na presente
unidade temática de exemplo de um tipo de cooperativa
a nível nacional que se enquadra em cada uma delas.

UNIDADE Temática 4.4. Cooperativas de nova geração

Introdução

Depois de termos analisado as cooperativas tradicionais nesta unidade


temática o estudante verificará que para alem das cooperativas
tradicionais existem outras formas de associativismo que são as
cooperativas de nova geração.
Nesta unidade iremos diferenciar as cooperativas tradicionais das
cooperativas de nova geração indicando os conceitos e as características
destas.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz


de:

165
▪ Diferenciar as cooperativas tradicionais das cooperativas de nova geração;

▪ Identificar as principais características das cooperativas de nova geração;


Objectivos ▪ Identificar e comparar os princípios das cooperativas de nova geração e as
Específicos cooperativas tradicionais.

Desenvolvimento

4.4.1. Conceito de Cooperativas de nova geração

As cooperativas de nova geração correspondem um novo movimento


cooperativista. Surgiu na América no início dos anos 90. A missão destas
cooperativas é adicionar valor produzido pelos associados e retornar
esse valor aos cooperados através de preços acima do mercado.

A agregação do valor dá-se através do processamento industrial de um


produto específico e a estratégia de marketing está baseada em
posicionamento em nichos de mercado. É um modelo de acção colectiva
de produtores agrícolas que não é baseado na auto ajudou motivos
sociais, mas sim motivado pelo interesse económico e pelo desejo de
gerar resultados.

4.4.2 Características ou princípios das cooperativas de nova geração

1. Número definido de cooperados – a definição do número


limitado dos cooperados deve-se ao facto da cooperativa ter
que definir a sua escala de produção de acordo com o estudo de
mercado e com base na definição da produção emite direitos de
uso a cada associado, controlando assim o nível de produção.

2. Proporcionalidade na distribuição do capital – o capital da


cooperativa é determinado antes da cooperativa iniciar o seu
funcionamento, isto é, a cooperativa procura investimentos de
cada cooperado em proporção ao volume de entrega de
166
produtos, emitindo títulos de entrega. Os direitos são
proporcionais aos investimentos

3. Acções transferíveis e apreciáveis – os títulos de entrega podem


ser transferidos entre os membros da cooperativa, entretanto a
cooperativa controla a entrada de novos membros.

4. Contrato de comercialização – ao associar se a cooperativa cada


associado assina um contrato de comercialização que o obriga a
entregar a quantidade predeterminada de produto na data e na
qualidade especificadas pela cooperativa.

5. Controlo proporcional ao investimento – o controlo das


actividades e a intervenção em processos de gestão é
proporcional ao investimento realizado por cada cooperado.

6. Capitalização feita pelos cooperados - o cooperado


compromete se a entregar a sua produção à cooperativa e esta
adiciona valor ao produto entregue.

7. Administração das cooperativas é


profissionalizada e contratada.

8. Objectivo do empreendimento é a obtenção do lucro.

Vantagens das cooperativas de nova geração

• Único propósito – a cooperativa moderna evita resolver os


problemas de todos os produtores e concentra-se em uma única
actividade económica onde apresenta condições de competir e
gerar resultados;

167
• Controlo da produção – a cooperativa da nova geração
consegue controlar a sua produção e qualidade através de um
número definido de membros.

• Incentivo para o investimento de capital de risco - a


cooperativa redefine a sua relação contratual com os
cooperados, dando-lhes incentivos para contribuir com capital
de risco, ou busca novas fontes de capital próprio no mercado,
mas, neste caso, a cooperativa corre o risco de perder o controlo
dos associados sobre empresa;

• Proporcionalidade: os associados devem contribuir com capital,


dividir o lucro (resultados, excedentes) e ter direito a voto na
cooperativa, proporcional ao uso do capital;

• Fidelidade dos Associados: ao assinar o contrato de


comercialização com a cooperativa e investir capital de risco, o
associado tem uma relação contratual forte e estável com a
cooperativa. O sucesso produtivo e financeiro da cooperativa
passa a ter grande impacto sobre o lucro da actividade agrícola
dos associados;

• Orientação para o Mercado: com base numa relação contratual


forte e estável com os associados, a cooperativa adopta uma
orientação para o mercado, visando satisfazer seus clientes ou
consumidores e agregando valor à commodity, i.e. ao produto,
ao bem ou aos serviços.

Cooperativas tradicionais e as cooperativas de nova geração

Como vimos as cooperativas de nova geração tem uma ligeira diferença


com as cooperativas normais. A questão que se coloca aqui é: será que
as cooperativas de nova geração afastam-se totalmente dos princípios
que orientam as cooperativas tradicionais?

168
A resposta a esta pergunta é não, se analisarmos cada um dos princípios
das cooperativas de nova geração podemos observar que estes não
deixam de lado os princípios das cooperativas tradicionais, mas sim
aperfeiçoam alguns princípios, tornando-os mais realísticas as
necessidades dos seus associados. Analisemos alguns dos princípios:

• O princípio da adesão livre e voluntária e o número ilimitado de


membros – para este princípio considerada base nas
cooperativas tradicionais, foi de certa forma reformulado nas
cooperativas de nova geração uma vez que estas contam com a
impossibilidade técnica para a prestação de serviços a um
número ilimitado de cooperados. Por isso a indicação de número
limitado de forma a conseguir obter um produto final com
qualidade e poder coloca-lo no mercado a um preço acima do
perco do mercado.

• A variação de números de sócios nas cooperativas de nova


geração poderia criar diferenças nas quantidades produtivas e
certa irregularidade no fornecimento desses bens para o
mercado.

• No caso da saída dos cooperados esta dependente apenas da


venda dos direitos.

• Princípio da administração – nas cooperativas de nova geração


a administração é conferida com base na competência. Pode
parecer que se tende a desviar do princípio das cooperativas
tradicionais de que todos os membros da cooperativa tomam
decisões, entretanto esta não se distancia tanto uma vez que são
os próprios cooperados que escolhem ou elegem as pessoas que
vão gerir/administrar a cooperativa. De forma delegada todos os
membros tomas as decisões na cooperativa.

169
• Princípio da transferência das quotas – esta possibilidade
permite ao cooperado não ficar eternamente ligado a
organização. A transferência é feita pela entrega dos títulos.

• Quanto ao objectivo da cooperativa – o objectivo das


cooperativas tradicionais é a satisfação das necessidades dos
cooperados, este objectivo não é deixado de fora nas
cooperativas de nova geração apesar de estas terem a questão
do lucro patente. Ora vejamos tanto nas cooperativas
tradicionais assim como nas cooperativas de nova geração a
prestação de serviços de interesse da comunidade mantêm,
acrescenta se apenas nas cooperativas de nova geração o factor
eficiência produtiva.

Sumário

Nesta Unidade temática estudamos e distinguimos as cooperativas


tradicionais e as cooperativas de nova geração. Vimos nesta unidade
que apesar das cooperativas de nova geração terem alguns princípios
modernizados e adaptados as necessidades das empresas ou dos
cooperados, estas não deixam a essência e os princípios das
cooperativas tradicionais.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Defina cooperativas de nova geração.


2. Quando é que surgiram as cooperativas de nova geração e
qual é o objectivo destas.
3. Explique como dá-se a agregação de valor nas cooperativas
de nova geração.

170
4. Diferencie as cooperativas de nova geração das cooperativas
tradicionais.
5. Identifique as características ou princípios das cooperativas
de nova geração.

Respostas indicativas
1. Para melhor responder a esta questão consulte a secção
4.4.1
2. Para melhor responder a esta questão consulte a secção
4.4.1
3. Para melhor responder a esta questão consulte a secção
4.4.1
4. Para melhor responder a esta questão consulte a secção
4.4.2
5. Para melhor responder a esta questão consulte a secção
4.4.2

Exercícios de AVALIAÇÃO

1. Explique porque o capital da cooperativa de nova geração é


determinado antes da cooperativa iniciar o seu
funcionamento.
2. Identifique três vantagens das cooperativas de nova geração
e explique-as.
3. Os princípios das cooperativas tradicionais
foram

totalmente eliminados ou ignorados pelas cooperativas de


nova geração. Comente.
4. Explique qual é a essência para a limitação do número de
associados nas cooperativas de nova geração.

171
UNIDADE Temática 4.5 Cooperativismo em Moçambique

Introdução

Depois de termos analisado o conceito, as características e os princípios


do cooperativismo chegou o momento de estudarmos o cooperativismo
em Moçambique.
A presente unidade temática irá abordar questões relacionadas com o
cooperativismo em Moçambique, o surgimento, o desenvolvimento do
movimento cooperativista em Moçambique, o quadro legal das
cooperativas em Moçambique o explicar como pode-se constituir uma
cooperativa em Moçambique.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz


de:

▪ Compreender o surgimento e a evolução do cooperativismo em Moçambique;

▪ Diferenciar as várias fases do desenvolvimento do cooperativismo em


Objectivos Moçambique;

Específicos ▪ Descrever o quadro legal do cooperativismo em Moçambique;


▪ Explicar como constituir uma cooperativa em Moçambique.

Desenvolvimento
4.5.1 Movimento associativo em Moçambique25

A história do movimento associativo em Moçambique está relacionada


com as diferentes fases da história de Moçambique.

Antes da independência todas as actividades humanitárias eram


desenvolvidas pelas igrejas, com a revolução estas actividades passam
a ser implementadas pelo Governo até aproximadamente os anos 80.

Seguiu-se para Moçambique um período de sérios problemas

172
económicos, devido á introdução da nova moeda, a guerra civil entre os
guerrilheiros da Renamo e o Governo e outros factores de
relacionamento internacional.

Esta crise generalizada, incluindo um longo período de calamidades


naturais, fez com que houvesse intervenções massivas da parte de
doadores internacionais que por seu turno, envolveram organizações
internacionais na implementação de programas humanitárias.

Em 1988, depois de um longo período de programas de emergência, e


favorecidas pela abertura do Governo, a maior parte das Instituições
religiosas associaram-se ao trabalho humanitário realizado pelas
organizações internacionais. Quase na mesma altura, grupos leigos
começaram a organizar-se em moldes associativos dando uma
contribuição aos programas sociais e de desenvolvimento em prol das
comunidades de base.

Em 1990, o Governo amadureceu a necessidade de reconhecimento do


movimento associativo não somente para as questões de
desenvolvimento, mas também para o processo de paz que estava
correndo naquele momento, e convidou pela primeira vez os primeiros
grupos associativos que operavam no País a colaborar e encontrar

25
O Movimento Associativo moçambicano numa governação democrática Grupo de Pesquisa-
Moçambique. Publicações Kappa. 1995.

173
formas de oficializar as suas actividades. Foi o primeiro passo da parte
do Governo em reconhecer as exigências de descentralizar os seus
programas sociais. Existiam na altura somente onze organizações entre
religiosas e leigas que duma forma semi-legal operavam no social e em
programas de emergência em curso no Pais.

A sua maioria estava sediada em Maputo, e associada a ONG´s 26

estrangeiras, por falta duma legislação oficial sobre o movimento


associativo.

Esta união de esforços encorajou o surgimento de outras organizações


não-governamentais. Além disso, todas se juntaram numa acção de
advocacia para como Governo pressionando-o ao estabelecimento dos
procedimentos legais para o reconhecimento do movimento associativo
de Moçambique.

As organizações existentes foram confiadas também as tarefas de


convidar as agências doadoras na utilização das capacidades locais de
forma a transferir gradualmente os serviços das ONG´s internacionais
para as nacionais.

Todo este esforço levou à promulgação da Lei 8/91que dava direito à


constituição do associativismo em Moçambique.

Em Junho de 1992, favorecidos pela nova lei, e depois de um longo


período de preparação na identificação de todos os tipos de associações
existentes no Pais, realizou-se o primeiro seminário nacional, em
Maputo, que viu a participação de 80 ONG´s nacionais e mais de 120
participantes entre internacionais e membros do

26
ONG´s - Organizações Não Governamentais são entidades sociais, sem fins
lucrativos, organizadas para atender necessidades de terceiros, desde o combate à
fome, à violência, à protecção dos direitos humanos até a inspecção de actividades
parlamentares, de forma totalmente independente do governo.
As ONG estão representadas em formas de associações, fundações, mutualidades e
todasoutras formas de organizações da economia social.
174
Governo. Para a ocasião foi editado o primeiro Directório das ONG´s
moçambicanas. Após este evento, o mesmo movimento tornou-se
fortalecido e considerado pelo Governo, pelas agências internacionais e
pelas comunidades de base como um inter - locutor importante e como
uma referência compulsiva. Quatro meses depois, em 4 de Outubro de
1992, em Roma, assinou-se o Acordo Geral de Paz.

4.5.2 O desenvolvimento do movimento associativo e sua evolução após o


Acordo de Paz.

Numa primeira fase houve, por parte das ONG´s nacionais, na execução
de programas sociais e de desenvolvimento em favor das comunidades
mais desfavorecidas, uma imitação das ONG´s internacionais, tendo em
conta que operavam em Moçambique um número de 120 a 150
organizações. Houve muita discussão sobre a terminologia a ser
utilizada por parte das organizações moçambicanas: associações,
ONG´s, grupos de solidariedade, grupos espontâneos agremiações,
etc., e, devido à forte presença internacional que denominava ONG aos
grupos humanitários que operavam no Pais, o mesmo termo tornou-se
comum para qualquer associação emergente.

De oitenta ONG´s em Junho de 1992, até 1995 Moçambique já estava a


caminhar para aproximadamente 300 ONG´s. A dificuldade de
encontrar o número exacto de ONG´s é dada pelo facto que existem
associações que tem propósitos e actividades ainda não claras e bem
definidas e não se encontram a trabalhar em áreas específicas, por falta
de fundos.

Ao mesmo tempo encontram-se, neste período, tendências de união


entre as ONG´s da mesma área, por exemplo: os grupos de trabalho do
fórum da mulher, o fórum da criança, os grupos de acção social, o INDER
(no desenvolvimento rural), e várias ONG´s dedicadas à educação cívica,
com a tendência de se confrontarem e de criar condições para uma
futura agremiação.
175
Também neste período, a nível de cada província, estão consolidando-
se os Fórum das ONG´s que operam como ponto de referência e de
unidade de todos os grupos humanitários e ao mesmo tempo praticam
advocacia com outras forças paralelas do Governo, dos partidos
políticos e das Instituições religiosas.

4.5.3 Associação Moçambicana para Promoção do Cooperativismo


Moderno27

Associação Moçambicana para Promoção do Cooperativismo Moderno


(AMPCM) é uma entidade jurídica dotada de autonomia administrativa,
financeira e patrimonial, sem fins lucrativos e de utilidade pública,
estabelecida em 2010, com estatutos próprios reconhecidos e
publicados no BR nº 15, III Série, de 14 de Abril de 2010.

Missão

Desenvolver e promover o modelo cooperativo moderno (canais de


transacções sustentáveis e controlados pelos membros) como forma
sustentável de promoção da riqueza.

Objectivo global

Promoção e prática de todos os actos que possam contribuir para o


desenvolvimento do movimento cooperativo moderno como forma
viável e sustentável de promoção da riqueza, incentivando o progresso
técnico, económico, prisional e social dos associados e para a defesa dos
seus interesses.

27
http://ampcm-mz.com/quem.php
176
4.5.4 Quadro legal das cooperativas em Moçambique

A lei das cooperativas é a lei base para a constituição das cooperativas


e o funcionamento das mesmas.

A antiga lei das cooperativas a cooperativa previa um modelo de


cooperativa do tipo tradicional baseada na economia centralizada não
consentânea com a economia de mercado adoptada pela constituição
da República de Moçambique.

A nova lei das cooperativas inclui na definição das cooperativas não só


o conceito da cooperativa tradicional, mas também as de nova geração
incluindo o aspecto empresarial e económico.

Algumas mudanças ou inclusões na nova lei das cooperativas:

Artigo 5 (Operações com Terceiros)

Há a possibilidade das cooperativas realizarem operações com terceiros


a título complementar, do mesmo modo que o faz com as cooperativas,
desde que não se desvirtue as suas finalidades e as posições adquiridas
pelos seus membros, assim como em participar em sociedades
comerciais.

O montante resultante dessas operações será escriturado em separado


do realizado com os cooperativistas.

Artigo 6 (Acto Cooperativo)

Diferencia um acto de comércio puramente dito de um acto praticado


pelo cooperativista com a cooperativa e vice-versa, pois este último,
não possui as mesmas características de um acto de comércio.

Diferenciando-se desta forma o acto cooperativo de um acto de


comercio normal, justifica-se que os actos cooperativos não sejam
sujeitos a impostos. Primeiro porque a relação que a cooperativa
estabelece com um membro é de prestação de serviços, em que este
177
último procede à entrega de bens. Essa entrega não se traduz em
nenhuma compra e venda, mas pura e simplesmente uma entrega em
que o cooperativista confere mandato á cooperativa para usar, vender
ou transformar pela melhor rentabilidade.

Sendo assim aquelas entregas não podem estar sujeitas a impostos, pois
o produto entregue ainda continua pertença do cooperativista
contrariamente os actos de comércio.

Parcerias das cooperativas com outras entidades

Prevê se a possibilidade da cooperativa poder entrar em projectos com


entidades que não sejam cooperativas, como sejam consórcios,
contratos de associação em participação, joint venture, etc. Esses
empreendimentos podem ser geridos por um investidor ou parceiro
que não seja a cooperativa ou o membro.

Requisitos para a constituição

As cooperativas quer do primeiro, quer de grau superior, constituemse


através de um contrato de sociedade que pode ser celebrado por
documento escrito assinado por todos os membros fundadores, com
assinatura reconhecida presencialmente pelo notário, devendo ser
celebrado por escritura pública, no caso em que entrem bens imóveis.
O número de membros mínimo para formar uma cooperativa é de 5.

Realização do Capital

Prevê-se a possibilidade do capital social poder ser realizado em


dinheiro, bens e serviços, abrindo-se a faculdade de 50% do capital
social pode ser realizada em bens, direitos e serviços.

Mesmo assim, dá-se a possibilidade do capital subscritoser realizado


integralmente no prazo de 3 anos

178
Valor do Capital Social

Não se estabelece o valor de um capital mínimo obrigatório transfere se


essa faculdade aos que pretendam constituir a cooperativa,
estabelecendo-o nos estatutos.

Fundo social

O fundo social das cooperativas é constituído:

• Pelo capital social;


• Pelos juros obtidos dos empréstimos e aplicação de capitais
realizados fora do âmbito do acto cooperativo;

• Pelos excedentes retidos, inclusive os escriturados em contas de


participação do membro para autofinanciamento operacional
da cooperativa, quando previsto nos estatutos ou por
deliberação da Assembleia-geral;

• Pelas operações realizadas com terceiros, previstas na presente


Lei;

• Por quaisquer doações, legados ou subsídios que recebam a


título gratuito;

• Outras por deliberação de Assembleia Geral, inclusive para


cumprimento das exigências legais para reservas.

Títulos de Capital

Título de capital é um documento que certifica a contribuição de um


membro na cooperativa atestando a sua qualidade de cooperativista.

Esse documento comporta dentro de si todos os direitos e obrigações


que a cooperativa e os cooperativistas detêm na sua relação.

Prevê-se a possibilidade de a cooperativa poder, quando existirem


excedentes do exercício, pagar juros ao valor do capital representado
no título de capital.

179
Há uma limitação da taxa de juros, estatuindo-se que nunca deve ser
superior a taxa de referência estabelecida pela autoridade monetária
Moçambicana.

Órgãos Sociais

São órgãos sociais da cooperativa a Assembleia Geral, Conselho de


Direcção e Conselho Fiscal.

Mandato dos Órgãos Sociais

Prevê-se a possibilidade de reeleição dos membros dos órgãos sociais e,


ao mesmo tempo estabelece uma obrigatoriedade de renovação de
uma parte deles.

Os membros dos órgãos sociais são eleitos para um mandato de três


anos, renováveis por um a três períodos idênticos sendo, contudo,
obrigatória, por cada renovação do mandato da Direcção de, no
mínimo, um terço dos seus membros e por cada renovação do manda
todo Conselho Fiscal, só é permitida apenas a reeleição de um terço dos
seus membros.

Assembleias Delegadas

A opção de representação por delegados às assembleias gerais é uma


forma de ultrapassar a impossibilidade que muitas vezes se tem em
reunira totalidade dos cooperativistas, nas reuniões, devido a sua
dispersão geográfica e custos relacionados com a realização da
assembleia geral.

A lei prevê a possibilidade das cooperativas modernas e de nova


geração, em que o peso do volume de negócios, operações e produções
que os cooperativistas mantêm com a cooperativa, sejam valorizadas e
reconhecidas. Com este método, é-lhes permitido eleger um maior ou
menor número de delegados dependendo do nº de membros existentes

180
numa determinada região, o volume de negócios e de operações
realizadas com a cooperativa.

Votação

Incorpora aquilo que é o novo pensamento das cooperativas,


respondendo e dando solução a um foco de conflitos e ate de
desmotivação em negócios competitivos.

Esta previsão não abandonando o princípio da singularidade do voto

(cada cooperativista vê o seu voto assegurado, porque o texto da Lei é


no sentido de que “cada cooperativista dispõe de, pelo menos, um
voto”) e atendendo o volume de operações realizadas entre os
cooperativistas para com a cooperativa, prevê-se a possibilidade de se
adoptar o voto proporcional às operações realizadas em que um
cooperativista poderá ter direito a mais de um voto.

Para que a cooperativa não acabe sendo controlada por um pequeno


grupo de membros, estabeleceu-se uma limitação ao número de votos
proporcionais, ficando fixada uma proporção máxima de sete votos.

Gestão

A cooperativa é gerida e administrada por uma Direcção, composta


totalmente ou com mais de dois terços, por membros da cooperativa,
sendo:

Nas cooperativas com mais de trinta cooperativistas por três membros,


sendo um presidente e dois vogais, um dos quais substituirá o
presidente nos seus impedimentos e faltas, quando não houver
vicepresidente;

Nas cooperativas com e até trinta membros por apenas um presidente,


que designará quem o substitui nas suas faltas e impedimentos.

181
Competências

Estabelece-se a possibilidade da direcção delegar os seus poderes


executivos a pessoas que não sejam cooperativistas, mas que sejam
profissionais que tragam uma mais-valia na gestão e rentabilização dos
negócios da cooperativa sem, contudo, abrir-se mão de todos os
poderes, nomeadamente aqueles que implicam a salvaguarda da gestão
democrática.

Despesas

Prevê-se a forma como se custear as despesas e o princípio do rateio


das despesas na proporção directa da fruição dos serviços.

Reservas

Prevê-se a obrigatoriedade de constituição de uma reserva legal


adiantando-se a percentagem nunca inferior a 5% dos excedentes
anuais - até que deixe de ser obrigatório; Para além da reserva geral a
lei estabelece a obrigatoriedade de constituição de uma reserva
destinada a educação cooperativa e a formação cultural e técnica dos
cooperativistas, dos trabalhadores da cooperativa e da comunidade.
Revertem para esta reserva:

• A parte dos excedentes anuais líquidos provenientes das operações


comos cooperativistas que for estabelecida pelos estatutos ou pela
Assembleia Geral numa percentagem nunca inferior a 1,5%;

• Os donativos e os subsídios destinados ao fim da reserva;

• Os excedentes anuais líquidos, provenientes de operações realizadas


com terceiros, que não tenham sido destinados a outras reservas
indivisíveis.

182
4.5.5. Como Constituir uma Cooperativa

Uma cooperativa de sucesso é uma organização moderna, constituída


por pessoas comprometidas, individual e colectivamente, com a
realização de objectivos em comum.

Antes de constituir uma cooperativa é necessário responder às


seguintes questões:

• Há realmente a necessidade de sua constituição?


• As pessoas estão realmente interessadas?
• Existe mercado, presente e futuro, para os produtos e/ou
serviços que serão oferecidos?

• Há número suficiente de interessados para


viabilizar cooperativa?

Estas são perguntas básicas, que deverão ser feitas antes de tomar
qualquer decisão.

Se essas questões tiverem respostas afirmativas, sugere-se:

• Compreender o que é uma cooperativa e o seu funcionamento;


• Conhecera legislação cooperativista;
• Desenvolver um estudo de viabilidade económica;
• Pesquisar se existem cooperativas do mesmo ramo e
actividades na região; se houver, é aconselhável manter o
contacto para verificar se há a possibilidade de novas adesões;

• Elaborar estatuto social de acordo com os objectivos


pretendidos;

• Identificar lideranças para a composição da direcção;


• Definir o local da sede da cooperativa,

Observa-se que algumas cooperativas são constituídas por lideranças


que lutam por interesses individuais. O sucesso dessas cooperativas é
183
duvidoso, pois as lideranças e associados, de modo geral, devem buscar
interesses comuns e não individuais, o que vem a comprometer o
empreendimento.

Portanto, a cooperativa deve nascer na base, e todas as pessoas


deverão estar conscientes de suas responsabilidades, acreditando e
participando activamente, como verdadeiros empreendedores, em
busca de resultados económicos, culturais e sociais.

Sumário

Nesta unidade temática analisamos o desenvolvimento do


cooperativismo em Moçambique. Vimos o historial do
movimento associativista em Moçambique e relacionamo-la as
diferentes fases da história de Moçambique desde a
independência e os regimes económicos aplicados.
Uma grande ênfase no desenvolvimento do cooperativismo em
Moçambique foi dada após o acordo geral de paz onde
Moçambique começou a receber varias ONG´s que
desenvolviam trabalhos comunitários tendo este fenómeno
despertado o espírito de cooperativismo dos moçambicanos.
Vimos o quadro legal das cooperativas, o que diz a lei em relação
a sua constituição, capital social etc.

Exercícios de AVALIAÇÃO

1. Explique em que contextos surgem as primeiras acções


humanitárias internacionais em Moçambique.
2. Em que ano o governo de Moçambique tomou a consciência
da importância do movimento associativo. Em que contexto
e qual foi a atitude tomada pelo governo.
184
3. Quando é que o Governo de Moçambique deu o primeiro

passo no reconhecimento da necessidade de descentralizar


os seus programas sociais. Quantas Organizações existiam
nessa altura?

4. Quando é que surge a primeira lei sobre o associativismo em


Moçambique?
5. Quando é que realizou se o primeiro seminário nacional do
cooperativismo em Moçambique. Quantas ONG´s estiveram
presentes?

6. O cooperativismo em Moçambique está relacionado com a


historia de Moçambique e teve grande influencia na
assinatura dos acordos de Roma. Comente a afirmação.
7. Para que a cooperativa tenha sucesso esta deve nascer da
base. Comente a afirmação.

Exercícios de preparação para o exame

1. Defina economia e explique por palavras suas a importância do


estudo desta ciência.
2. Identifique e explique os principais problemas económicos e
explique três a sua escolha.

3. A fronteira de possibilidades de produção (FPP) é o lugar


geométrico que mostra várias combinações de bens e serviços
que uma economia pode produzir,
a) Explique a razão da sua inclinação negativa.

b) Tendo em conta a definição da FPP, o que pode-se dizer


quanto ao desempenho económico de Moçambique.

185
c) Usando a FPP, explique o que aconteceria com o nível de
produção na economia caso houvesse um progresso
tecnológico?

d) Aponte, além do progresso tecnológico, três factores que


afectam negativa ou positivamente a FPP de uma
determinada economia. Represente graficamente.
4. Explique o significado de mão invisível.
5. Refira e explique outros factores que determinam a procura por
um determinado bem ou serviço.
6. Explique a importância da intervenção do estado na economia.
7. Explique o contexto de surgimento da economia social.
8. Identifique as principais fases da evolução da economia social e
as principais características de cada uma das fases.
9. Identifique os principais conceitos relacionados com a economia
social e explique cada um deles.

10. Qual é a relação que existe entre a economia social e o sector


público?
11. Identifique e explique as vantagens e as desvantagens das
principais formas de financiamento das organizações da
economia social. Suponha que tem uma organização da
economia social qual das fontes de financiamento usaria?
12. Explique por que motivo os fundos públicos garantem maior
segurança às OES em relação aos fundos privados.
13. As principais organizações da economia social são associações,
cooperativas e fundações. Diferencie cada uma delas nos
seguintes aspectos:
a) Finalidade;
b) Actividade exercida;
c) Membros;
d) Património;
186
e) Capital social;

14. Identifique três benefícios das empresas ao formar


uma associação empresarial.
15. Moçambique é um país em que o sistema financeiro
ainda não está desenvolvido. Explique como o
associativismo empresarial poderá aumentar as
possibilidades de financiamento para as empresas.
16. Quando surgiu o cooperativismo e qual era o
objectivo principal?
17. Tendo em conta as razões do surgimento do
cooperativismo podemos assumir que o
cooperativismo só existe devido a existência da
concorrência entre as empresas. Concorda com a
afirmação? Justifique a sua posição.
18. O cooperativismo acredita na igualdade de género,
igualdade económica de todos os associados.
Comente.

19. Explique por palavras suas porque os ramos do


cooperativismo podem ser infinitos.
20. De exemplos de algumas cooperativas do 1, 2 ou 3
graus que conhece em Moçambique e no mundo.
21. Explique como dá-se a agregação de valor nas
cooperativas de nova geração.

22. Identifique três vantagens das cooperativas de nova


geração e explique-as.
23. Explique qual é a essência para a limitação do
número de associados nas cooperativas de nova
geração.

187
Bibliografia

Bibliografia Recomendada

• Cardoso, Univaldo Coelho. (2014). Associação. Série empreendimentos colectivos.


SEBRAE. Brasília.

• Filho, G. C. F. (2002). Terceiro sector, economia social, economia solidária e economia


popular: traçando fronteiras conceituais. Bahia Análise & Dados. Salvador. V. 12, nº 1,
P. 919

• Filipa moreira Ribeiro e Sofia Ferreira Santos. (2013). A fiscalidade e as organizações da


economia social. Vida económica. Porto.

• Gawlak, A., & Ratzke. F. (2007). Cooperativismo: primeiras lições. Serviço nacional de
aprendizagem do cooperativismo (Sescoop)3a. Ed. Brasília.

• Lechat, N. M. P. (2002) Economia social, economia solidária, terceiro sector: do que se


trata. Revista de ciências sociais Civitas. Ano 2, nº 1.
- Bibliografia Complementar

1. Cardoso, Univaldo Coelho. (2014). Associação. Série


empreendimentos colectivos. SEBRAE. Brasília.

2. Filho, G. C. F. (2002). Terceiro sector, economia social, economia


solidária e economia popular: traçando fronteiras conceituais.
Bahia Análise & Dados. Salvador. V. 12, nº 1, P. 919

3. Filipa moreira Ribeiro e Sofia Ferreira Santos. (2013). A


fiscalidade e as organizações da economia social. Vida
económica. Porto.

188
4. Gawlak, A., & Ratzke. F. (2007). Cooperativismo: primeiras lições.
Serviço nacional de aprendizagem do cooperativismo
(Sescoop)3a. Ed. Brasília.

5. Lechat, N. M. P. (2002) Economia social, economia solidária,


terceiro sector: do que se trata. Revista de ciências sociais
Civitas. Ano 2, nº 1.

6. Lopes, J. S. (2008). Reflexões sobre a economia social. Associação


para o desenvolvimento económico e social (SEDES).

7. MANKIW, N. GREGORY. (2001). Introdução à Economia. Rio de


Janeiro: Editora Campus.

8. Namorado R., (2005). Cooperativismo – um horizonte possível.


Universidade Federal do Paraná. Brasil.

9. NEVES, JOÃO LUÍS CÉSAR. (2001). Introdução à Economia. 6ª


Edição. São Paulo

10. Osmar Araújo e Ana Carolina Barros Pinheiro Carrenho. (2009).


Diferença entre associação e fundação. Instituto para o
desenvolvimento do investimento social.

11. Paul A. Samuelson & William D. Nordhaus (2012) economia 19


edição McGraw-Hill

12. Rossetii, José Paschoal. (2003). Introdução à Economia. 20ª


Edição. São Paulo: Editora Atlas.

13. Samuelson, P. A. e Nordhaus, W. D. (1999). Economia. 16a


Edição. Lisboa: Portugal, 1999.

14. Secretaria de Desenvolvimento Agro-pecuário e


Cooperativismo. (2012). Cooperativismo. Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasília.

189
Sites Consultados:

1. Amador Carolina. (2013). Sustentabilidade Financeira das


Organizações da Economia Social: novas soluções socialmente
inovadoras em época de crise. IV Colóquio Internacional de
Doutorandos/as do CES | "Coimbra C: Dialogar com os Tempos e os
Lugares do(s) Mundo(s)" | 6-7 Dezembro | FEUC, Coimbra.
Disponível em:
http://cabodostrabalhos.ces.uc.pt/n10/documentos/5.4.3_Claudia_A
mador.pdf

2. Caeiro, J. M. C. (2008). Economia social: conceitos, fundamentos e


tipologia. Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa (ISSSL).
Universidade Lusíada de Lisboa Rev. Katál. Florianópolis v. 11 n. 1
p.
61-72 jan./jun. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rk/v11n1/06.pdf

3. http://www.ces.uc.pt/publicacoes/oficina/ficheiros/213.pdf

4. http://www.jn.pt/Dossies/dossie.aspx?content_id=3447465&d
ossier=Economia%20Social&page=2

5. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414 -
49802008000100006

6. http://www.publico.pt/economia/noticia/a-economia-social-
ehttp://www.publico.pt/economia/noticia/a-economia-social-e-
economia-1596492economia-1596492

7. http://www.cases.pt/0_content/actividades/obesp/OBESP_Co
nceito_de_Economia_social_09_DEZ_2011.pdf

8. https://periodicos.ufsc.br/index.php/katalysis/article/view/523
4/4578

9. http://www.eesc.europa.eu/resources/docs/eesc-2007-11pt.pdf

190
Legislação consultada
lei 8/91 de 18 de Junho.

191

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