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Direitos Humanos e Gearo Da Paz Fascculo 5
Direitos Humanos e Gearo Da Paz Fascculo 5
em paz?
Cássia Regina Xavier de Andrade
Rosamaria de Medeiros Arnt
5
É possível viver em paz?
Cássia Regina Xavier de Andrade
Rosamaria de Medeiros Arnt
Objetivos
• Ampliar o conceito de paz e relacioná-la com os Direitos Humanos;
• Compreender a paz como a integração entre paz individual, paz social e paz
ambiental.
O que é paz?
A paz vem sendo estudada e definida com mais propriedade a partir da segunda
metade do século XX. Talvez estejamos na atualidade mais sensíveis à violência, não
importa que dimensão assuma. As tecnologias, aproximando os fatos de qualquer
Violência
Podemos pensar em violência física. Esta todos nós com-
preendemos, assim que vemos uma cena de alguém sendo
agredido. Há a violência verbal, quando em meio a gritos
nos dizem desaforos, nos desqualificam, nos “xingam”.
Encontramos este tipo de violência muitas vezes no trânsi-
to, nas ruas e mesmo dentro de casa, entre familiares.
Podemos pensar que há violência quando não há
diálogo, quando os valores humanos são desrespeitados,
quando agimos longe dos preceitos de afeto e cuidado
(ver fascículo 4).
Assim, dizemos que há violência quando os seres
humanos estão afetados de tal forma que suas realiza-
ções afetivas, corporais e mentais estão abaixo de suas
realizações potenciais (Jares, 2007).
Um exemplo de violência é o bullying, associado a
violência nas escolas. Bullying é uma palavra da língua in-
glesa. Bully quer dizer valentão, brigão. Bullying se refere
a atitudes agressivas exercidas por uma ou mais pessoas
por meio de palavras, gestos ou agressões físicas. São in-
tencionais e se repetem, causando desde desconforto até
angústia e dor. Sempre intimidam, muitas vezes geram
medo e ocorrem quando as pessoas não têm a possibilidade de se defender. Eviden-
ciam relações desiguais de força ou poder.
O bullying tem sido estudado em diversos ambientes humanos, como escolas,
faculdades/universidades, família, local de trabalho, entre grupos sociais, bairros.
Muitas vezes convivemos com este tipo de violência e silenciamos, ou por medo ou
por minimizarmos os danos que causam. A diferença entre brincadeiras e atitudes
violentas muitas vezes é sutil, como um apelido pejorativo ou uma maneira desres-
peitosa de relacionamento.
Conflito
É importante fazermos a distinção entre conflito, agressão ou qualquer comporta-
mento violento. Violência e conflito não são a mesma coisa.
Por conflito entendemos um processo de incompatibilidade, discordância, opo-
sição entre pessoas, grupos ou estruturas sociais. Nos conflitos identificamos interesses,
valores ou aspirações contrárias.
Conceituando desta forma, será que é possível vivermos sem conflitos? Será
que concordamos sempre com as pessoas dos grupos que participamos?
Como agimos quando discordamos, quando nossos desejos são antagônicos,
divergentes?
Paz interior
A paz invadiu o meu coração
De repente, me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais
A Paz 6. Thich Nhat
Gilberto Gil Hanh, monge
vietnamita, indi-
cado ao Premio
Pode a paz invadir nosso coração? De onde ela vem? Onde ela está? Como Nobel da Paz em
a alcançamos? É possível comprar paz? Como é sentir-se em paz? Leonardo Boff 1967 por Martin
Luther King por
(2006) nos alerta para sermos sinceros: há violência no mundo porque carregamos seus trabalhos e
violência dentro de nós. ações pela paz no
Vietnã. Exilado,
E a paz? Haverá mais paz no mundo se a carregarmos dentro de nós? vive atualmente
Thich Nhat Hanh6 (2003)nos diz que a paz está em nós e em tudo o que fa- em uma pequena
comunidade na
zemos e vemos. O problema é que não entramos em contato com ela. Tudo, para França, onde
ele, pode ser fonte de alegria e paz, desde que aprendamos a viver conscientemente leciona, escreve
e atua no auxilio
o momento presente. a refugiados do
Viver o momento presente significa um tipo especial de atenção, de manter-se mundo todo.
consciente do que se faz, enquanto se faz. Você já percebeu como nós não lembra-
mos tudo que fizemos ao longo do dia? Esquecemos até o que pensamos há poucos
minutos atrás. Pois viver o momento presente significa parar com o automatismo da
ação. Significa sair do esquecimento, da dispersão e da confusão.
Sim, a paz interior, como a felicidade (ver fascículo 1), depende de nossa atitude pe-
rante a vida, perante os outros e principalmente em relação às nossas dificuldades. Quantas
vezes já observamos duas pessoas enfrentarem o mesmo problema, com atitudes mentais
completamente diferentes, obtendo resoluções mais facilmente para uns que para outros?
Não há receitas prontas para a paz interior... Ou talvez haja muitas receitas a
serem experimentadas, até que façamos as escolhas daquelas que mais nos agradam
ao “paladar”. Os caminhos de transcendência, ou de espiritualidade, nos trazem
orientações para vivências como a meditação, as práticas de atenção plena, a oração
que nos proporcionam, com tempo e com e exercício contínuo, a paz.
Paz social
Paulo Freire, que tem nos acompanhado neste curso em diversos temas, vincula a
paz à justiça social. Leonardo Boff (2006) também nos diz que nenhuma sociedade
terá futuro se for construída sobre uma injustiça estrutural e histórica.
A expressão justiça social relaciona-se à garantia de uma existência digna para todos,
considerando integralmente as necessidades humanas. Justiça social tem a ver com igualda-
de, com iguais oportunidades para todos. Ora, sabemos quão longe da realidade está a justiça,
a equidade. Por isso, para pensarmos em paz social é preciso o aprofundamento no conhe-
cimento dos Direitos Humanos e como eles são uma conquista para a humanidade, preci-
sando com mais força e competência alastrar-se por todos os povos, todas as classes sociais.
Andamos pelas ruas e muitas vezes nos incomodamos com pessoas pedindo
ou vendendo coisas, nos abordando. No dia 6 de fevereiro, numa emissora de te-
Será que temos a consciência de como outras culturas têm conceitos, hábitos,
tradições que podem nos ensinar?
Qual a vantagem de conhecermos a diversidade cultural em nosso estado,
país ou no mundo?
Qual a relação do “saber ver” com a paz social?
“Saber ver”, é antes de mais nada, saber ver as pessoas que vivem conosco, mas tam-
bém as pessoas que habitam um mesmo espaço comunitário, onde a vida social acontece.
Será que temos o hábito de conhecer as pessoas que vivem em nosso bairro,
que trabalham no mesmo local que nós, na mesma escola?
Fernando Braga da Costa (2004, p. 58-9), psicólogo, na sua dissertação de mes-
trado, em São Paulo, na USP, pesquisou sobre o que chamou “homens invisíveis”. Por
9 anos trabalhou como gari na cidade universitária e conta, em seu livro, que um dia,
no intervalo entre aulas no Instituto de Psicologia, foi preciso que eu pas-
sasse dentro do prédio daquela faculdade. Imaginei, então, que vestindo
É interessante observar como o autor ficou impressionado por não ser reco-
nhecido por pessoas com quem convivia, como colegas e professores. Claro, não foi
reconhecido porque não foi sequer visto.
Sobre isso, há muito a ser feito, pensado, vivenciado especialmente nas ci-
dades. Por onde podemos começar? No próximo fascículo teremos este tema de-
talhado. Mas, por enquanto, talvez possamos olhar, ver um pouco mais as pessoas
que nos rodeiam, prestando atenção, ouvindo. Há um universo em cada ser vivo e,
consequentemente, em cada ser humano. Vamos refletir sobre isso?
Saber ver também nos leva a questionar as razões históricas e geográficas das in-
justiças sociais. Há uma longa trajetória em nosso país, nos países que vivem conflitos
e guerras. Há ligações entre o presente e o passado. É preciso lucidez para pensar nas
consequências de cada decisão política, econômica que se espalham pelo mundo todo.
Vivemos em tempos marcados pelo individualismo, consumismo e competi-
ção que geram descaso em relação ao outro, estando ele próximo ou distante. A paz
social, a paz com os outros nos aponta a necessidade da cooperação, do cultivo de
uma vida mais simples, do respeito, da solidariedade. A paz social também nos faz
pensar que a natureza, da qual somos parte e dependemos para viver, vem sendo
descuidada, desrespeitada. Assim, ligamos a paz com a paz ambiental.
Paz ambiental
Anda!
Quero te dizer nenhum segredo
Falo nesse chão, da nossa casa
Vem que tá na hora de arrumar...
O Sal da Terra
Beto Guedes
Além do lixo, que outros cuidados e atitudes poderiam ser assunto para cam-
panhas públicas vinculadas à educação ambiental?
Sabemos que não é mais possível ignorar as questões climáticas. Nos primeiros
dias de fevereiro de 2013, nevascas no hemisfério norte fazem governos suspenderem
as aulas e recomendarem às pessoas que não saiam de casa. O estado do Ceará passa por
uma seca, a pior dos últimos 40 anos, com muitas cidades em estado de emergência.
Somos dependentes do clima, dos recursos naturais e do equilíbrio da vida na Terra.
As questões ambientais, para serem equacionadas, precisam de esforços e ações
em diferentes níveis. Mas como a paz social, individualmente podemos pouco. Há a
urgente necessidade de acordos entre nações que revertam em políticas públicas de
preservação da vida no planeta. Reuniões com esta temática vêm sendo feitas, com
poucos resultados, principalmente pela falta de adesão de países que consomem
sozinhos grande parte dos recursos do planeta, como os Estados Unidos.
Vamos refletir sobre isso?
Como você vê a paz ambiental?
Que comportamentos novos adotamos, nos últimos 5 anos, tendo
em vista a paz ambiental em nosso planeta?
Há mudanças perceptíveis em nossa comunidade com referência à
paz ambiental?
Paz armamentista
Por fim, a paz armamentista, militar.
Nos acontecimentos que trouxemos no início deste fascículo, tirados de notí-
cias de jornais, temos as armas entendidas como parte da solução dos conflitos. Nos
Estados Unidos, pessoas entusiastas por armas lotaram feiras em todo o país para
comprar armas de assalto, que eles temem logo ser proibidas, depois do massacre de
crianças em uma escola em Connecticut. Neste país o porte de armas é permitido.
Síntese do fascículo
Neste fascículo, enfrentamos o desafio de pensarmos juntos, um pouco mais, so-
bre esse estado de felicidade interna e plural que denominamos de PAZ. Afinal, a paz
não é um consenso universal e, sim, um sentido a ser gradativamente construído por
meio do diálogo. Não há receitas, nem garantias. Buscamos, então, alguns conceitos
e notícias, nos postamos em estado de reflexão sobre eles, e encontramos: confron-
tos, violência, intolerância, discriminação, injustiças e desigualdades sociais. Será que
paz é somente uma ideia que se contrapõe à guerra, às ações bélicas? Ou será a paz a
ausência da violência de qualquer tipo? Daí discorremos sobre: (1) violência, tanto a
física como a verbal; tratamos sobre o bullying; (2) conflito, distinguindo-o da agressão
e da violência propriamente dita; o lado positivo do conflito; (3) os princípios de não-
agressão e da não-violência.
Necessitamos compreender de forma mais profunda o sentido da paz, além de
criarmos a consciência, como indivíduos e cidadãos, de como podemos contribuir
para alcançá-la. Por fim, descrevemos os aspectos multidimensionais da paz: (1) inte-
rior, (2) social, (3) ambiental e (4) armamentista, e os inter-relacionamos. Tudo ainda
está para ser feito, a cada dia. Afinal, é possível viver em paz?
Atividades
1. Como você entende a paz? O que ela significa para você?
2. Qual a diferença entre conflito e violência? É possível a vida sem conflito?
3. Como a paz pode ser conquistada a partir da compreensão dos Direitos Humanos?
4. Você consegue, no seu dia a dia, “enxergar” os outros a seu redor?
5. Como o aumento populacional, a utilização inadequada dos recursos naturais,
a produção de lixo e as questões climáticas podem influenciar negativamente
para o estabelecimento de um estado de paz?
Autores
Cassia Regina Andrade Xavier: graduada em Estudos Sociais pela Universidade Estadual
do Ceará (Uece), pós-graduada em Educação Biocêntrica e Psicologia Transpessoal. Autora dos
livros Gestos, Palavras e Músicas e Educação Biocêntrica: vivenciando o desenvolvimento orga-
nizacional. Co-autora do livro Educação Biocêntrica e o Movimento de Construção Dialógica.
Organizadora do livro Mariana: um facho de luz. Presidente do Conselho de Administração do
Instituto Nordeste Cidadania.
Rosamaria de Medeiros Arnt: Doutora em Educação pela PUC/SP, pós-doutorado na Uni-
versidade de Barcelona com o tema “Cenários de Aprendizagem e Docência Transdisciplinar”.
Membro do Grupo de Pesquisa Ecotransd/CNPq e pesquisadora visitante na Universidade
Estadual do Ceará (UECE), junto à Pró-Reitoria de Extensão, coordenando o projeto “Rede de
Agentes de Cidadania: caminhos para a vivência dos direitos humanos e geração da paz”.
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