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Proto-Carismatismo no Protestantismo Brasileiro: o caso de Miguel Vieira Ferreira e a Igreja Evangélica Brasileira Proto-Charismatism in Brazilian Protestantism: the case of Miguel Vieira Ferreira and the Brazilian Evangelical Church Sérgio Luis Marlow' Wanderley Pereira da Rosa® RESUMO O presente artigo analisa a historia da origem e desenvolvimento da Igreja Evangélica Brasileira (IEB) —um exemplo de Proto-Carismatismo no Protestantismo Brasileiro - fundada em 11 de setembro de 1879 por Miguel Vieira Ferreira. Tal denominagZo surgiu de um cisma da Igreja Presbiteriana do Brasil e teve como ponto de partida a experiéncia ex- titica de conversio do dr. Miguel. Este acontecimento seri analisado & luz do conceito de “sagrado selvagem” proposto pelo professor francés Roger Bastide. PALAVRAS-CHAVE Miguel Vieira Ferreira; Igreja Evangélica Brasileira; Protestantismo Brasileiro; Carismatismo; Sagrado Selvagem. Doutor em Historia pela Universidade de So Paulo, Pés-doutorando junto a0 Pro- agrama de Pés-Graduag3o em Histéria da Universidade Federal do Espirito Santo, Bolsista FAPES/CAPES. Vita, Espirito Santo, Brasil * Doutor em Teologia pela PUCIRI, Diretor-Geral da Faculdade Unida de Vit6ria onde também Ieciona Historia do Cristianismo no curso de graduagio em Teologia ¢ De« mocracia e Esfera Pablica no Mestrado profissional em Cigncias das Religides. 574 | _REFLEXUS XD 24, 2020/2 ABSTRACT This article analyzes the history of the origin and development of the Brazilian Evangelical Church (EB) — an example of Proto-Charis- matism in Brazilian Protestantism — founded on September 11, 1879 by Miguel Vieira Ferreira. This denomination arose from a schism of the Presbyterian Church of Brazil and had as its starting point the ecstatic experience of conversion of dr. Miguel. This event will be analyzed in the light of the concept of “wild sacred” proposed by the French profes sor Roger Bastide KEYWORDS Miguel Vieira Ferreira; Brazilian Evangelical Church; Brazilian Protestantism; Charismatism; Wild Sacred. Introdugio A hist6ria dos protestantismos, num sentido lato, tem sido marca- da por duas grandes tendéncias: ora, pende-se para um tipo de religidio discursiva, racional, altamente institucionalizada ¢ burocritica, com uma teologia repleta de miniicias e dogmatica, ora privilegia-se uma religiio “do espirito”, da experiéncia emocional, dos sentidos, das re- velagdes e vises como caminho preferencial para acesso a Deus. Se & verdade que essas duas tendéncias caminharam paralelas, também é verdade que elas se esbarraram, por vezes convergiram e se influencia- ram mutuamente, numa relagZo tensa e dialética. Tentativas de conci- Tiago desses dois movimentos levaram, frequentemente, a fracassos que geraram cismas constantes. Pressupondo a raiz humanista da Reforma, com uma proposta de teologia critica ¢ racional, os “movimentos do espirito” surgem mais como reago, como momento segundo, uma resposta de pessoas e gru- pos ansiosos por uma religido do “corago”, O resultado, quase invaria- velmente, tem sido 0 sectarismo deste grupo. Esse fenémeno marcaré de forma indelével a historia dos protestantismos Roger Bastide analisa esses “movimentos do espirito” nas religies propondo o conceito de “sagrado selvagem” como categoria de andlise REFLEXU! evista de"T sncias das Religives S78 ogi Ele propde que a manifestagZo do “sagrado selvagem"” ocorre como rea- ‘do a processos de profunda institucionalizagdo das empresas religiosas, uma volta & experiéncia mistica em estado puro, O tempo e a necessidade de continuagao do movimento acabam por acarretar um novo processo de institucionalizagao num constante ir ¢ vir. O protestantismo brasileiro em seu alvorecer testemunhou um exem- plo tipico desse ciclo de exilio e volta do sagrado selvagem. Ele ocorreu, mais precisamente, no seio da entio principal denominagio protestante de missio, a Igreja Presbiteriana do Brasil. Um dos seus mais destacados convertidos, o dr. Miguel Vieira Ferreira, foi o protagonista do primeiro importante cisma ocorrido no seio desta igreja, de corte carismatico & que existe ainda nos dias de hoje, a Igreja Evangélica Brasileira, O texto em tela se propde apresentar este acontecimento e analisé-lo a luz do conceito de “sagrado selvagem” proposto por Bastide, 1. Miguel Vieira Ferreira — notas biograficas Miguel Vicira Ferreira nasceu em 10 de dezembro de 1837, em Sao Luiz do Maranho numa importante e abastada familia da regido.’ Obteve © diploma de fisica e matematica na Escola Central do Rio de Janeiro apés ‘© que, iniciou carreira no exéreito, tendo servido no Corpo de Engenharia e também participado da comissto responsavel pela demarcagao dos limites entre o Brasil eo Peru. Apés deixar o exército, recebeu uma patente ho- noréria de coronel.’ Com fortes conviegdes republicanas ¢ liberais, Miguel Ferreira participou, junto com seu pai, o Tenente-Coronel Fernando Luiz ¥ Conta-se entre seus parentes seu tio senador © membro do Supremo Tribunal, Joa- uim Vieira da Silva e Souza, ¢ seus primos senador Luis Antonio, Visconde Vieira de Souza e Gomes de Souza, 0 “Souzinha”, conhecido como 0 génio matematico do Brasil. Cf, LESSA, Vicente Themudo, Anais da I Igreja Presbiteriana de So Paulo (1863-1903). So Paulo: Cultura Cristi, 2010. p. 144. O pesquisador Paulo Barrera Rivera apresenta com razoivel quantidade de detalhes os lagos familiares do Dr. Mi- uel Vieira Ferreira. Cf. RIVERA, Paulo Barrera. A Reinvengio de uma Tradigd0 no Protestantismo Brasileiro: a Igreja Evangética Brasileira entre a Biblia ea Palavra de Deus. REVISTA USP, Sio Paulo, 67, p. 78-99, setembro‘novembro 2005, Cf. VIEIRA, David Gueiros. 0 Protestantismo, a Maconaria e a Questio Religiosa no Brasil. Brasilia: UNB, 1980. p. 152, 153. 576 | _REFLEXUS XD 24, 2020/2 Ferreira, ¢ seu irmio, Luiz Vieira Ferreira, em varias iniciativas para a pro- pagaciio dos ideais republicanos, visando o fim da Monarquia. O historiador francés Emile-Guillaume Leonard, que esteve no Bra- sil durante 3 anos (1948-1950) como professor de Historia Moderna e Contempordnea da USP, registrou em seu O Protestantismo Brasileiro que Miguel Ferreira era “cientista e homem de negécios, agronomo, idedlogo e filantropo” e, continua Leonard, “conhecido por diversas pu- blicagdes, pela sua atividade em prol da Repiblica, da qual foi um dos mais ardentes partidarios desde 1870, pela fundagiio de uma espécie de universidade popular, a “Escola do Povo””* ‘Nao obstante seus ideais positivistas, seu racionalismo e sua rejeigao ao cristianismo durante sua juventude, como nos informa David Gueiros Vieira’, Miguel Ferreira e seu pai demonstraram interesse pela questo religiosa ao comegarem a frequentar a capela presbiteriana do Rio de Ja- neiro a partir de maio de 1873, tendo sido li recebidos pelo missionirio estadunidense Alexander Blackford, entio pastor daquela igreja. Black- ford municiou Miguel Ferreira com livros sobre o cristianismo e, como: resultado de sua acolhida, diversos membros da familia Vieira Ferreira passaram a frequentar assiduamente a Igreja Presbiteriana. Ainda assim, Miguel Ferreira paralelamente, estudava o espiritismo, chegado ao Bra- sil em 1857, tendo, inclusive, participado de sessdes espiritas. Cerca de um ano apés comegar a frequentar a Igreja Presbiteriana, Miguel Vieira Ferreira teve a experiéncia que mudaria sua vida e in- troduziria no protestantismo brasileiro o elemento mistico-carismatico. Quem registrou este acontecimento foi o pastor Alexander Blackford. A seguir, reproduzimos trechos da carta enviada por Blackford a seu c mité americano, datada de 24 de abril de 1874. O texto da missiva, a LEONARD, File-Guillsume. 0 Protestantismo Brasileiro. Sio Paulo: ASTE, 2002. p. 76. Entre as diversas publicagées citadas por Leonard podemos destacar artigos escritos para diversos jorbastais como, O Artista e O Liberal, ambos da ent30 provincia do Maran. E também para o jomal 4 Repiiblica, fundado em conjunto com companheiros da mayonara, figuras ilustres, que nutriam igualmente ideas li- berais e epublicanos, dente eles, Quintino Bocayuva, Joaquim Saldanha Marinho, Francisco Rangel Pestana, Cristiano Benedito Ottoni e Francisco Leite Bittencourt, Sampaio. Cf. VIEIRA, 1980, p. 153, 154 © Cf. VIEIRA, 1980, p. 154 REFLEXU! evista de"T logia¢ Cigncias das Religides si de descrever a experiéncia carismatica de Miguel Ferreira, traz informa- ‘g6es adicionais acerca dele e de sua familia. Domingo, 5 de abril nds celebramos a Ceia do Senhor e recebe- mos e batizamos quatro convertidos (vindos da Igreja) de Roma... O caso de um destes quatro convertidos é particular e constitu uma ma- nifestagdo pouco comum do poder direto de Deus sobre os homens. Trata-se de um homem inteligente, ativo ¢ possuidor de uma instra- ao impar. No més de maio ou de junho do ditimo ano, seu pai, um homem também muito inteligente e aposentado das Forgas Armadas veio assistir nosso culto: era a primeira vez que ele assistia a um off- cio protestante. (..) Quando eles sairam o velho me disse: “Este dis- curso exprimiu @ minha maneira de ver". A partir deste momento, 0 pai eo filho e outras pessoas da familia assistiam muito regularmente as reunides, enquanto as criangas freqiientavam a Escola Dominica.” E continua Blackford a respeito deste processo marcante: 0 filho era todavia um inerédulo declarado e ensinava, aberta € em alta vor. suas ideias, nas conferéncias puiblicas que ele proferia, A noite em uma escola onde era o ditetor, que publicou mais tarde. Evidentemente, ele era sincero e queria conhecer a verdade. Aceitou todos os livros que nés Ihe fornecemos, em portugués ¢ em espanhol sobre as evidéncias do cristianismo. E eu soube depois, através de seu pai que durante um certo tempo eles tinham pasado longas horas, A noite, a ler, estudar e discutir a matéria: o filho no se proclamava nem se acreditava mais um puro materialista. Ele tinha ouvido falar do espiritismo e havia feito leituras sobre o mesmo. Diante do des- prezo que teve por este sistema, decidiu, um dia do més de fevereiro Ultimo, tentar, por si mesmo algumas experiéncias. Dia 20 do mesmo més, veio a0 meu escritério em um estado extremo e doloroso de excitagdo mental, Disse-me que havia feito: mostrou-me uma certa "LEONARD, Fmile-Guillaume, Iluminismo num Protestantismo de Constituigo Recente. Sio Bernardo do Campo: Programa Ecuménico de Pos-Graduagio em Cién- cias da Religio, 1988, p. 28. Na obra de Léonard temos como fonte o depoimento do pastor Alexander Blackford a respeito dos acontecimentos ocorridos na vida de Miguel Ferreira Vieira. Ao mesmo tempo, a palavra Iluminismo nio & empregada por Léonard no sentido habitual de supremacia da razo. Aqui, ela significa simplesmen+ te misticismo. 578 | _REFLEXUS XD 24, 2020/2 quantidade de escritos, alguns em palavras ininteligiveis, o restante em sinais, tragos e garranchos que eram para mim rabiscos sem signi- ficado, os quais sua mao havia sido forgada a tragé-los por um poder invisivel e imesistivel. Pensava poder ler e interpretar a maior parte: a tradugo que ele me deu era uma estranha mistura de verdades ¢ das mais extravagantes insanidades que, todavia, tinham evidentemente ppara ele toda a forga de validade. Convencieme logo que o argumento era imttil em seu caso: assim, evitei-o.* Apés a descrigao de como 0 havia conhecido e se aproximado aos poucos dele, o missionério registra, enfim, a experigncia extitica que marcaria a conver io de Miguel Vieira Ferreira ao protestantismo. Dois dias mais tarde fiquei surpreso por vé-lo em seu lugar no culto de domingo, O sermao versou sobre a simpatia de Jesus. Ele ou- ‘viu com calma, mas com profuunda atengdo, Foi entio que se produziu nele u’a manifestagdo muita estranha 4 mentalidade da comunidade. Terminado 0 culto, encontraram-no em seu lugar, incapaz. de movie ‘mentar as mios ou os pés e de abrir os olhos. Seu corpo nao estava rigido, mas permanecera na posigo na qual ele se encontrava ou em que 0 colocaram. Permaneceu assim aproximadamente uma meia hora e, durante esse tempo abriu os olhos apenas uma vez e por um instante somente. Entretante, quando voltou a si sabia perfe © que fora feito ou dito ao redor dele. ‘Suas primeiras palavras foram, entre outras: “Agora aceito a blia como a Palavra de Deus, verdadeira e inspirada e Cristo como um divino Salvador e quero professar a fé nesta Igreja Presbiteriana.” Estas, vverdades ¢ outras foram firmemente afirmadas por ele: todavia durante dias ele parecia plenamente persuadido que tinha visdes e que recebia inspiragoes diretas, divinas ou espirituais ¢ injungdes proféticas” Ato continuo, Blackford passa a uma tentativa de andlise do ocorri- do, niio obstante ele negar que deseja fazé-lo: Dois ou trés dias apés, abandonou suas experiéncias espiritas, como iniiteis, pecaminosas e ilusérias. A véspera de seu ataque de T LEONARD, 1988, p. 29 * LEONARD, 1988, p. 29,30 REFLEXU! evista de"T logia e Ciéncias das Religies 579 domingo ele nio havia dormido nada e muito pouco durante diversos dias e diversas noites antes. Estava convencido que, durante seu es- tado letargico, seu espirito esteve fora de seu corpo, olhando-o, cons- ciente de tudo que se passava, Nao pretendo, no momento, analisar os fatos © no posso nem mesmo dar uma ideia adequada. Minha impressdo como testemunha ocular é a de que seu conhecimento de tudo o que se passava ndo provinha de scu senso corporal. Acredita que Deus amparou-se dele para Ihe mostrar seus ettos. Disse que, ogo que a convicgo da existéncia do poder e da onipresenga de Deus tomou posse de sua alma, parecia que se esvanecia; mas quando ele viu o Cristo como um Salvador divino, sentiu-se perdoado, tudo se fez paz ¢ 0 amor ¢ a confianga encheram seu espirito. Precisou de varios dias para encontrar a sua calma habitual, cor- poral e espiritual; sua familia ¢ seus amigos estavam muito preocu- pados com o resultado. Para mim, foi-me impossivel duvidar, desde © comego que o Espirito de Deus ndo operasse nele, Nao julguei ne- cessario examinar, com distingSes exatas até que ponto sta extraor- dindria experiéncia poderia ser efetivamente do poder divino ou pro- veniente da fraqueza humana, de ideias pré-concebidas de Tutas da incredulidade © dos poderes espirituais hostis, resolvidos a manter seu poder sobre aquele que tinha sido outrora seu fie aliado. Conven- cemo-nos de que o resultado evidente ~ uma calma ¢ humilde f8 em nosso Salvador — foi uma vit6ria da Palavra ¢ do Espirito de Deus eis, porque nés o recebemos na igreja visivel de Deus. O orgulho inerédu- Jo que nao se reconhecia nenhum superior no universo, senta-se hoje em paz.aos pés de Jesus." Para além do curioso relato dos acontecimentos daqueles dias, cha- maa atengdo a forma algo surpresa com que Blackford faz o seu registro. Num momento ele parece sugerir, ainda que nas entrelinhas, que o éxtase do dr. Miguel era resultado de uma exaustio fisica, “a véspera de seu ata- que de domingo ele no havia dormido nada e muito pouco durante di- vversos dias e diversas noites antes.” Ao mesmo tempo, reputa ao Espirito Santo a causa da experiéneia vivenciada pelo seu mais novo disefpulo: ‘Convencemo-nos de que o resultado evidente— uma calma e humilde f em nosso Salvador — foi uma vitéria da Palavra e do Espirito de Deu: LEONARD, 198%, p. 30 580 | _REFLEXUS XD 1.24, 2020/2 2. José Manoel da Conceigiio — 0 padre protestante Nao era a primeira vez que Alexander Blackford se deparava com experiéncias misticas em seu ministério, Antes de Miguel Vieira Ferrei- 12, 0 missionério se debatera para compreender o que se passava com seu mais dileto convertido: 0 ex-padre catdlico, José Manoel da Conceigao, que viria a ser o primeiro pastor brasileiro. Vale 4 pena aqui uma breve descrigdo da histéria envolvendo Conceigao. Em Rio Claro, interior de So Paulo, Blackford teve o primeiro con- tato com o padre José Manoel da Concei¢0''. Conceigdo era conhecido nas cidades do interior nas quais foi péroco como o “padre protestante”, em fungio de suas ideias e pregagdes. Erudito, 0 padre Conceigdo tra- duzira do alemao, a pedido dos editores protestantes do Rio de Janeiro, 0s irmaos Laemmert, a Nova Historia Sagrada do Antigo e Novo Testa- ‘mento com eles manteve contato frequente. A leitura da Biblia em sua juventude e a relagdo que mantivera com protestantes ingleses e alemi que trabalhavam na fabrica de ferro de Ipanema, em Sorocaba, provoca- ram nele profundo impacto”. Apés varios encontros com 0 missionirio americano, Elizabeth, a esposa de Blackford, convidou o padre Conceigao a tornar-se protestan- te", Seguiu-se um periodo de lutas pessoais e muito estudo, Finalmente, José Manoel da Conceig%o rumou, juntamente com Blackford, para o Rio de Janeiro, Numa igreja presbiteriana do Rio repleta, pregou pela primeira vez. em 9 de outubro de 1864, No dia 23 do mesmo més foi A importineia de José Manoel da Conccigao é destacada por Emile Léonard: “O hhomem que abriria ao protestantismo o interior do Brasil - conquistando no apenas individuos isolados, mas familias extensas e sélidas — assegurando assim, seu esta- belecimento, foi um padre.” LEONARD, 2002, p. 63 Cf. MATOS, Alderi Souza de. Os Pioneiros Preshiterianos do Brasil (1859-1900): mis- sionérios, pastorese leigos do século 19. So Paulo: Editora Cultura Crist, 2004, p. 298, Cf. FERREIRA, Jillio Andrade. Historia da Igreja Presbiteriana do Brasil: em co- ‘memoragdo ao seu primeiro centenirio. Volume I. Sio Paulo: Casa Editora Presbi- teriana, 1959. p. 30-31. Cf. também RIBEIRO, Boanetges. Protestantismo no Brasil Mondirquico (1822-1888): aspectos culturais da aceitagdo do protestantismo no Bra- sil, Sao Paulo: Pioneira, 1973. p. 142 “ Cf, RIBEIRO, Boanerges. O Padre Protestante, Sio Paulo: Casa Editora Presbiteria- 1a, 1979. p. 107. REFLEXU! evista de"T logia ¢ Cigncias das Religides 381 batizado pelo reverendo Blackford e fez sua piiblica profissio de f pro- testante'’, O agora ex-padre José Manoel da Concei¢o foi ordenado em 17 de dezembro de 1865, por ocasio da formagao do presbitério do Rio de Janeiro, em ceriménia ocorrida na igreja de Sdo Paulo. Foi o primeiro brasileiro a tomnar-se pastor protestante™. Mesmo apés o batismo protestante e a ordenagdo pastoral, Concei- ¢4o cultivava um sentimento de culpa por ter sido padre, 0 que gerou nele uma profunda crise espiritual ¢ existencial”. Além disso, ele nio se adaptava aos métodos dos missionérios americanos. Suas lutas interiores Jevaram-no a percorrer, na maioria das vezes a pé, as varias cidades do interior paulista nas quais atuara como padre. Boanerges Ribeiro destaca as dificuldades de Blackford em com- preender essas crises pelas quais passava Conceigdo, Segue um registro do missiondtio: A17 de fevereiro 0 Sr. Conceigdo chegou do Rio em estado de mente sem divida perturbado, No dia seguinte recebi carta de Simonton ¢ Chamberlain, com declaragdes que denunciavam néle decidida aberrago moral ou mental. Tanto os fatos mencionados na carta como sua conduta em So Paulo convenceram-me de que era algo mental. Depois de muitas palestras, a 22 de fevereiro éle ad- mitiu tudo © que eu poderia exigir quanto ao aspecto moral do caso. De entao até 27 pareceu muito melhor ¢ iniciou algumas tradugdes, a meu pedido, A 27 desapareceu sem deixar indicagio alguma do rumo que tomava: apenas um bilhete dizendo-nos que no mais 0 esperdissemos em casa A3 de margo comuniquei os fatos ao Dr. Furtado, chefe de po- licia em exercicio, que prometeu oficiar aos delegados de toda a Pro- vineia pedindo noticias déle."* © Ch MATOS, 2004, p. 299. “ Cf, RIBEIRO, 1979, p. 138-141 7 CE. A respeito dessa crise, ele registrou: “Eu tinha como alimento as minhas ligri- ‘mas, a escuridio da noite como amiga e toda minha alma submersa em mar de dores. Fu tremia ao ver os homens. Vagabundo e fugitiva, ev me escondia de todos.” LEO- NARD, 1988, p. 22, 23. Cf. Também RIBEIRO, 1979, p. 117. " RIBEIRO, 1979, p. 145, 582 | _REFLEXUS XD 24, 2020/2 E Ribeiro completa: “eis ai perplexo 0 nosso pregador””. Ao que tudo indica, as crises de Conceigdo tinham a ver com um sentimento de culpa por ele achar que, ao longo dos anos de sacerdicio catélico, ele ha- via induzido as pessoas ao erro. Mas, ao mesmo tempo, expressavam os sentimentos de um corago mistico, profundamente religioso, de alguém que foi, a0 longo de sua jornada espiritual, tornando-se um apéstolo a exemplo dos grandes taumaturgos medievais, tal qual um So Francis- co de Assis. Boanerges Ribeiro informa que Conceigo tornou-se como ‘uma figura lendaria: “cada vez que regressava a um lugar viam-no mais ‘magro, mais mal vestido, mais disposto a curar doentes ¢ a pregar”.”” E, continua em outro trecho: “Entre 0 povo comegava a correr de boca em boca a narrativa de milagres feitos por éle; ja adquiria fama de santo e mi- lagreiro.” Carregava em si as marcas tipicas dos pregadores messianicos, como destaca Silas Luiz de Sousa: uma pregago que proclamava uma nova era, itinerancia, pobreza apostolica, taumaturgia®. Todas essas so caracteristicas que o aproximavam do povo, das pessoas mais simples € explicam, em grande medida, seu sucesso como evangelista. Assim vi- ‘yeu até seus tiltimos dias. Acolhido pelo Major Fausto de Souza, em seu liltimo dia de vida, foi levado a uma enfermaria para receber cuidados médicos. “Era um homem pobre e mal vestido. Velha calga de zuarte, camisa de algodiozinho, e surrado paleté de alpaca preta. Pés descalgos. Osos a flor da pele, e olhos febris”.”? Morreu na noite de natal de 1873. Essa atmosfera que envolveu a vida de José Manoel da Concei- ‘40 causou profuunda perplexidade nos missionirios, especialmente em Blackford. Silas de Souza encerra sua breve biografia de Con di- zendo que “no catolicismo era o padre protestante. No protestantismo, agiu como um mistico da tradigao medieval ¢ moderna, isto é era um pastor catélico.”® O impacto que 0 misticismo de Concei¢ao causou so- bre Blackford ¢ bastante evidente. E provdvel que a impressionante con- versio do dr. Miguel tenha trazido & mente do missionario lembrangas ® RIBEIRO, 1979, p. 146. » RIBEIRO, 1979, p. 200. 21 CE SOUZA, Silas Luiz de. José Manoel da Conceigdo: o padre-pastore 0 inicio do protestantismo brasileiro, Rio de Janeiro: Novos Didlogos, 2011, p. 71-76. » RIBEIRO, 1979, p. 211 » SOUZA, 2011, p. 78 REFLEXU! evista de"T logia¢ Cigncias das Religides 58 de sua relagdo com o padre protestante, especialmente, se considerarmos que essa conversdo ocorreu apenas quatro meses apés 0 falecimento de José Manoel da Conceigao. A par disso, Emile Léonard afirma que “.. as relagdes com o grande mistico que era Concei¢ao mostraram que o Rev. Blackford tinha atragdo pelas experiéncias religiosas extraordind- rias, mesmo que ele niio as compreendesse sempre”. 3.A Igreja Evangélica Brasileira (IEB) Retomando a histéria de Miguel Vieira Ferreira, apés a experién- cia mistico-carismatica durante o culto na Igteja Presbiteriana, ele tor- nou-se membro desta denominagao, tendo sido eleito presbitero em 14 de setembro deste mesmo ano (1874) na comunidade presbiteriana de Barreira (Rio de Janeiro). A partir dai tornou-se um dos mais fervorosos propagandistas da igreja presbiteriana, assumindo a tarefa de tradugdo de obras protestantes, além de dedicar-se a pregagdes em comunidades presbiterianas no Rio, So Paulo e Minas Gerais.** A énfase de suas pregagdes era seu testemunho de conversio, Se- gundo Léonard, Vieira Ferreira “pretendia fazer uma espécie de mode- lo obrigatério assegurando que no ha cristio verdadeiro sendo aquele que recebeu a graca de uma visio direta de Deus”.”* Ou, como resumiu ‘Themudo Lessa, “Deus fala e quer falar de viva voz aos homens” Este foi o motivo e ponto central na discérdia que se seguiu entre a igreja presbiteriana e 0 dr. Miguel. Apés consultarem 0 Board americano, 0 presbitério assumiu sua posi¢ao oficial: Deus ndo fala mais diretamente aos homens, Fle o faz através das Escrituras Sagradas.* Em toro desta questo, haverd a clissica discussio que, num futuro préximo, mareara as cisdes entre as chamadas igrejas histéricas e as novas, pentecostais, primeiro no contexto estadunidense, depois no Brasil. A esse respeito, % LEONARD, 1988, p.31, CE também VIEIRA, 1980, p. 155. ® Cf LEONARD, 2002, p. 77, Rivera destaca as qualidades de orador de Miguel Fer- reira. Cf RIVERA, 2005, p, 84 2% LEONARD, 1988, p. 32 27 LESSA, 2010, p. 146. Cf. LEONARD, 1988, p. 32 584 | _REFLEXUS XD 24, 2020/2 Paulo Rivera destaca a répida assengao do dr. Miguel na igreja presbite- riana, tornando-se, pouco tempo depois de sua conversio, pregador em ‘rias igrejas. Por consequéncia, na opinitio deste autor, Vieira Ferrei- ra no teve tempo suficiente para assimilar as doutrinas presbiterianas, especialmente quanto & mediagdo central da Biblia na proclamagio da palavra divina” Ora, como era de se esperar, Miguel Ferreira recusou-se a negar suas convicgdes religiosas, baseadas em sua propria experiéncia de conversio e, como se recusava a se submeter a decisdo da igreja, acabou suspenso do prebiterato a 6 de feverciro de 1879. Emile Léonard informa que cle ainda se manteve por alguns meses fiel 4 igreja que o acolhera. Contudo, em 11 de setembro deste mesmo ano, juntamente com 27 membros da igreja presbiteriana, ele fundou a Igreja Evangélica Brasileira (IEB), a primeira denominagao de viés mistico-carismatico no contexto protes- tante brasileito®. A 29 de setembro, ele foi definitivamente cortado da comunhio da igreja presbiteriana.” ® Cf. RIVERA, 2005, p. 89. > © site da Igreia Evangelica Brasileira, «esse respeito,traz a seguinteinformayao “A Taraja Evangélica Brasileta, fundada na Terva por determinagao de Deus, em 11 de setembro de 1879, por intsrmédio do Doutor Migusl Vieira Ferreia..”, Dis ponivel em htp:www grjacvangclicabrasileira.com brhistoric htm. Acesso om 03/12/2019. Podemos também dizer que foi a primeira igreja evangelica genuina- mente brasileira, st fundada por brasletos, sem a paticipagio de missionirios cstrangeiros, que cxiste ainda hoje, E ber verdade que hi pesquisas mostrando a fundagio de uma igreja evangélica, também de corte carismitico, anterior a axeja Evangélica Brasileira Tratase da Tgreja do Divino Mestre, fundada por Agostino Jose Pereira, um negro letrado que lidsrou cerea de 300 pessoas, todas negra, Tam- bm cla uma comunidadeearismatica, © movimento, liderado por Agostinho Pere ra tinha um vigs de lutae rebeligo contra a eseravidio e a opressdo na qual viviam Os negros enegras no Brasil, Caso interessantssimo que merece ainda mais pesquisa © exposigo, Contudo, no ha indicis de exstencia de uma cormanidade evangética nos dias atuais que seja uma continuagaohisérica da lreja do Divino Mestre. CF. DE JESUS, Alexanto Silva. Identidades Representag@es no Brasil Inpéri: 0 caso do Divino Mestre (1846), Dissertagio de Mestrado em Histria do Brasil. UFPE, 2003 bitpsrepositoro.ufpe brbitstreamy/123456789/7807/ arquivo 735_l pdf, CE. DE CARVALHO, Marcus J. M, Rumorese rebelides estratépias de resistencia escrava no Recife, 1817-1848, Tempo, Vol. 3 ~ n° 6, Dezembro de 1998; Cf. DE CARVA- LHO, Marcus I. M, “Fil €screm sujeitos, de quem jé foram senhores": « ABC do Divino Mestre. Afro-dsia, 31 (2004), 327-334 31 CE LEONARD, 1988, p. 32,33 REFLEXU! evista de"T logia ¢ Cigncias das Religides 585 Apés sua morte, ocorida em 20 de setembro de 1895, Miguel Vieira Ferreira foi substituido na lideranga da igreja por seu irmao, o coronel Luis Vieira Ferreira. Como comum em movimentos religiosos, apés a morte do seu lider e fundador, os figis acabam se dividindo em disputas facgdes. Nao foi diferente na Igreja Evangélica Brasileira, Essas dissen- ‘Ges tiveram duas frentes. A primeira, envolvia um fiel afio-descendente de Miguel Ferreira. Antiescravagista que era, o dr. Miguel atraiu para sua igreja diversas pessoas negras. Um destes, Bebiano Eugénio de Cas- iro, estando em Sao Paulo, enviou telegrama para a comunidade do Rio informando que havia sido consagrado pastor por uma revelagdo divina. ‘Tempos depois, excluido da IEB e proibido de usar o nome da igreja, ele adotou para o seu grupo o nome de Igteja Catélica Militante Triunfante.”* A segunda, e mais grave, envolvia seus familiares e pessoas do seu circulo mais intimo. Ocorre que o dr. Miguel tivera um filho de seu se- ‘gundo casamento, recebido como fruto de uma revelagdo e de uma pro- messa de que ele seria o seu sucessor e, por isso mesmo, 0 chamaram Israel, Por este tempo, o menino estava com 12 anos. Ao que parece, 5° CF LEONARD, 1988, p45. 0 texto de File Léonard, no sabemos se por erro dele ow da tradugio, registra ume data errada para a morte do dr, Miguel, 1885. A data correcta, aprescntada aqui, consta no histrico exposto no site da TEB. Disponivel em hup/wwws.igrejaevangelicabrasileira com br/hstorico.htm, Acesso em 03/12/2019, © CE LBONARD, 1988, p. 46, 47. ™ Este episédio, bastante polémico, foi registrado por Emile Léonard. Apés 0 rom- pimento com a igreja presbiteriana, o dr. Miguel, j a frente da Igreja Evan Brasileira, apartou-se de sua primeira esposa para contra segunda ndpeias com uma cvelha sua, de origem inglesa, D. Elizabeth Burgum, © easamento teria sido reali- zado em obedincia a uma revelagdo de que deste casamento nasceria 0 seu filho © sucessor. Seus adversérios aproveitaram da ocasiao para atacarem Miguel F em seus jomais. A polémica parece terse estendido por mais de um ano. Cf. L NARD, 1988, p, 34, 35. Fm sea livro O Cristo no Siri, ode. Miguel faz referéncia um destesstaques partidos da Igreja Catéica, Ele nos conta que num texto do jomal catélico O Apéstolo diz-se que “levantou-se um pastor protestant, aguele mesmo aque viu S. Gabriel © 0 aconsethou que botasse para fora sua mulher e cassasse com outra (...). Cego de fanatismo, inspirado pela intolerancia protestante, odiando a Igre- ja catia porque condena sua vida desregrada..". Ao que o d. Miguel respondeu {que “O Apéstolo falando com verdade, no poderi apresentar entre os eigos © 08 clérigos uma vida mais regular do que tem sido @ minha desde a minha infincia". FERREIRA, Miguel Vieira. O Cristo no Fir. Rio de Jancro: Igreja Evangélica Bra- sileira, 1991, p, 108, 109 e nota 67, 586 | _REFLEXUS- Ano XI 24, 2020/2 alguns chegaram a cogitar que ele assumisse 0 pastorado imediatamen- te, Mas, prevaleceu o grupo que apoiou o coronel Luis Ferreira para a sucesso ¢ 0 menino deveria ser criado por este, sendo preparado para 0 futuro pastorado. J4 na juventude, o rapaz foi enviado para concluir seus cestudos nos Estados Unidos, no famoso Instituto Biblico Mount-Hermon School, fundado pelo evangelista Dwight Moody. © pastorado de Luis Ferreira, 0 “Segundo Ministério” como dizem 05 figis, nfo ocorreu sem muitas resisténcias dos antigos seguidores do dr Miguel. Luis Ferreira imprimiu suas marcas na igreja, com forte influéncia feminina, especialmente por parte de sua esposa, de sua segunda filha, Sarah, e da filha desta, Maria." Fez também modificagdes na arquitetura do antigo projeto do templo deixado por seu itmao, o que gerou citimes & criticas por parte dos mais antigos.” Léonard cita uma passagem registra- da pela filha Sarah em que ela destaca que a maioria dos fii. submetia-se & diregdo de seu cajado mas estavam sempre prestes 4 comparar seus atos com os do primeito ministério, Os murmirios cram constantes... A pessoa do Dr. Luis foi constantemente combatida por um irmdo ou por outro sob pretexto de que suas opiniGes eram contrérias as do Dr. Miguel.” Luis Vieira Ferreira morreu em 6 de janeiro de 1908. Mais uma vez houve disputa em torno da sucesso, Os mais antigos defendiam a imediata volta do jovem Israel Ferreira, o “Filho da Promessa”. Sarah, reivindicando para si o titulo de primeira Filha da Igreja, proclamou que recebera por revelaco a indicagao do braco direito de seu pai, Viriato Stockler. Com 0 retorno de Israel Vieira Ferreira ao Brasil, em 26 de ju- ho de 1908, este foi proclamado evangelista e, mais tarde, Stockler foi 55 CE LEONARD, 1988, p. 48; 54,55. 2% © site oficial da denominagdo omite estas informagdes e espiritualiza 0 processo de sucesso: “Assumiu, entdo, a diregio do Povo do Senkor, por deliberagiio undnime dos irmdos, 0 Dr. Luiz Vieira Ferreira, que @ 9 de janeiro de 1898, foi aclamado se~ gundo Pastor da Igreja". Disponivel em htip:iwww-igrejaevangelicabrasileira.com, bribistorio.hum. Acesso em 04/12/2019, 8 CF LEONARD, 1988, p, 50-54 % LEONARD, 1988, p. 54. CF. também https/www.igrejaevangelicabrasilera.com.br! revisrael htm. Acesso em 03/12/2019. REFLEXU! evista de"T logia ¢ Cigncias das Religides 587 excluido da Igreja Evangélica Brasileira. Assim, Viriato Stockler, tendo Sarah ao seu lado, comandou uma comunidade rival. A celeuma chegou aos tribunais de justiga que acabou decidindo em favor da comunidade do rey. Israel Vieira Ferreira, “reconhecido pelo Povo do senhor como eleito por Cristo, como pastor da Igreja Evangélica Brasileira.” Com a morte dos lideres rivais, a comunidade antagonista acabou desapare- cendo, Israel Ferreira pastoreou a IEB até sua morte, em 31 de janeiro de 1959. Desde essa data até os dias atuais, a lideranga da denominagZo coube a duas pessoas, Dr. Anténio Prado (de 1959 a 1974 como mode- rador, ¢ de 1974 a 1999, como pastor eleito) ¢ Dr. Paulo Ferreira Novo (1999 até os dias atuais)."* 4, A divinizagao do dr. Miguel Vieira Ferreira ca construgao de uma tradigao ‘Uma das caracteristicas do protestantismo € o seu carater discursivo ¢ institucionalizado. Sem desconsiderar as evidentes diferengas entre os varios ramos da Reforma, em geral, dada suas raizes no movimento hu- manista, a Reforma Protestante propds essa religito racionalizada, dis cursiva e pouco mistica'", No lugar de oferecer uma experiéncia com 0 sagrado, as religides protestantes ofereciam um discurso sobre o sagrado. Dai as muitas reagdes internas por parte dos figis que, ressentidos des- sa auséncia da experiéncia mistica, organizaram movimentos sectirios ® LBONARD, 1988, p. 5: © CE htp:iwww.igrejaevangelicabrasilera.com.bvhistorico him. Acesso em 03/12/2019. Adroaldo Almeida, em disseragdo de mestrado defendida na Universidade Federal do Maranhiio em 2005, lstou 26 terplos da TEB naquele ano, em 10 Estados e no DF. Cf ALMEIDA, Adroaldo José Silva. O Anjo Reificado: sentidos do carisma ¢ do poder na Tgreja Evangélica Brasileira. Dissertagdo de Mestrado. UFM, 2008. p. 168, 169, Insistimas que a Reforma Protestante ndo pode ser vista como um bloco, como se fora um tinico movimento, Propostas alternativas a essa religido racionalizada e dis cursiva na busca por uma religiio da experiéncia pessoal e do “coragio” podem ser encontradas em alguns grupos anabatistas, ainda no século XVI, no movimento pietista alemdo a partir do séeulo XVII, no metadismo inglés do século XVI, nos grandes avivamentos ocorridos nos Estados Unidos nos séculos XVIII e XIX entre outros. O objetivo aqui ¢ enfatizarmos o tipo especifico de protestantismo no qual ‘ocorreu a conversio de Miguel Vieira Ferreira. 88 | REFLEXUS - Ano XI 24, 2020/2 em busca de uma relago direta, primitiva, com o sagrado, A expres- so “sagrado selvagem” de Roger Bastide, aponta exatamente para essas es dos figis pela busca de uma conec¢do imediata com aquilo que é numinoso.” Em scu famoso texto, Bastide destaca o cardter ameagador que as experiéncias religiosas pessoais representam para as instituigdes eclesias. Ser que a crise das organizagdes religiosas nfo advitia de uma no adequagdo, crucimente vivenciada, entre as exigéncias da expe- rincia religiosa pessoal e os quadtos institucionais nos quais quise- ram moldé-la—com vistas, muitas vezes, o retirar-Ihe o seu poder ex- plosivo, considerado perigoso para a ordem social?® (grifo nosso) Ainda em linhas gerais, sem descer ao nivel das caracteristicas dis- tintivas dos muitos protestantismos, devemos insistir na afirmacdo de que o protestantismo é uma proposta de religido logico-discursiva, ao contririo do catolismo, essencialmente mistico." Vale ressaltar que a espoliagao simbélica nas religides urbanas, com a necessidade de estruturagdo de uma explicagao racional da realidade a construgio de uma linguagem, de um discurso que interprete o real, ocasiona o distanciamento dos figis de seus simbolos religiosos. Ora, 0 protestantismo de missio no Brasil se desenvolveu como religidio urbana ¢, acrescente-se a isso, polémica, dada a necessidade de se contrapor a0 catolicismo, construindo seu proprio discurso, isto é, um arcabougo teo- Togico que desse forma 4 sua prépria identidade.** Notadamente, a implantagao do protestantismo no Brasil reviveu a necessidade de afirmagdo de um discurso polémico em seu embate com © catolicismo dominante. Assim, os missiondrios primavam por servigos religiosos em que o discurso era central e oferecia uma explicagdo ligica, © BASTIDE, Roger. 0 Sagrado Selvagem e outros ensaios. S30 Paulo: Compasnhia das Letras, 2006. p. 251, ® BASTIDE, 2006, p. 250, 251 Cf, MENDONCA, Antonio Gouvéa. A volta do sagrado selvagem: misticismo e éx- tase no protestantismo do Brasil. In: VVAA. Religiosidade Popular e Misticismo no Brasil, Sio Paulo: Paulinas, 1984. p10 “5 Cf, MENDONGA, 1984, p- 11 REFLEXU! evista de"T logia ¢ Cigncias das Religides 589 racional da superioridade do protestantismo sobre o catolicismo. Mendon- ‘¢a lembra que no protestantismo “a racionalizago do mito e a abolig&o progressiva do rito produziram especialistas da argumentago em tomo de ‘verdades””.“ Além disso, no protestantismo, a vida do fiel é pautada exclusivamente pela Biblia que é sua (nica “regra de {é ¢ prética”, maxima repetida em todos os rituais de batismo. A Igreja Presbiteriana do Brasil, denominago na qual ocorreu a conversio do dr. Miguel, defendia (e de- fende) que a revelagio divina estava contida ¢ limitada ao texto biblico. O caso de Miguel Vieira Ferreira e a implantago da Igreja Evangé- lica Brasileira podem ser analisados & luz desse carter racionalista do protestantismo com o consequente “exilio do sagrado”."” Ao abordar a experigneia de conversao do dr, Miguel, Paulo Rivera destaca esse itine- ririo protestante de doutrinagao do ne6fito como proceso racionalizante centrado na Biblia. Da conversio, experiéncia sempre incompreensivel, extraord niiria e fascinante, passavacse & educagao crist que - sem querer se constitufa em desencantadora dessa experiencia. A pregagdo evange- lizadora levava 0 ouvinte a crise emocional da conversio, mas logo 0 integrava & comunidade religiosa em que tudo se explicava racional- mente a partir da Biblia." E ele conclui afirmando que: protestante ¢ resultado, assim, da catequese desencantando a conversio, 0 ordindrio apagando ou enfraquecendo 0 extraordinario, © racional explicando o itracional, as ideias claras substituindo as ex- plicagdes magicas. I por isso que o protestantismo foi sempre terreno fértl para religides reencantadoras da experiéncia religiosa.” Mas, porque esse processo de doutrinago domesticago nao sur- tiu efeito no dr. Miguel? Pesquisadores do tema apontam para diferen- tes motivos. Em primeiro lugar, como jé vimos, para o fato de que sua © MENDONCA, 1984, p. 12. # Cf. MENDONCA, 1984, p. 13 * RIVERA, 2005, p. 88. © RIVERA, 2005, p. 88 590 | _REFLEXUS - Ano XI 24, 2020/2 nomeago para presbitero (ancidio) se deu em menos de cinco meses apés asua conversio, fato absolutamente incomum na IPB, mesmo para aque- les dias, Como consequéncia ndo houve tempo para que ele fosse ade- quadamente catequisado nos prineipios presbiterianos. Rivera diz que ‘mais precisamente, nao tinha assimilado que no protestantismo a me- diagio legitima é a mediagao da Biblia”.®° Em segundo lugar, Adroaldo Almeida sugere que sua apressada nomeago se dera com o intuito de vestir nele uma espécie de camisa de forga, uma forma de controle de seu discurso.* Assim que foi ordenado comegou a pregar em diversas igrejas no Rio de Janeiro, So Paulo e Minas Gerais. Suas pregagSes eram quase todas centradas em sua experiéncia de éxtase, ficando a Biblia em segun- do plano. Nessas pregagdes acentuava-se sua compreensio de que sua conversio no se limitava a aceitago da Biblia como Palavra de Deus € de Jesus Cristo como seu salvador. Ele via nela um chamado divino, uma missio a ser cumprida. “A missdo seria dada por Deus, diretamente a ele, através de visdes ¢ intimagies proféticas”.** As condigdes para 0 conflito ruptura estavam postas. Como temos visto, religides altamente institucionalizadas tendem a criar mecanismos de controle sobre o discurso como forma de poder, criando nos figis a sensago de seguranca, com verdades estabelecidas € conhecidas de todos. Bastide apontou para esse cariter explosive ameagador que o elemento mistico representa para a religigi institucio- nal. Max Weber apresenta um contraste entre o sacerdote, servigo de uma tradigao constituida, e o profeta, aquele que recebe uma vocagio pessoal, sendo sua autoridade resultado desta revelago ou de seu caris- ma.* Mendonga nos ajuda a entender esse processo de exilio ¢ retorno do sagrado no seio do protestantismo, Em fungdo de sua caracteristica racionalista como ja apontado, o cendrio protestante tem sido palco de constantes movimentos de reagSes misticas ao longo de sua histéria. Os 5° RIVERA, 2005, p. 89. Cf, ALMEIDA, 2005. p. 65, 2 CE. RIVERA, 2005, p. 89. ® Cf. ADROALDO, 2005, p. 64 % BASTIDE, 2006, p. 251 85 CE WEBER, Max. Kconomia e Sociedade. Vo. 1. Brasilia: Editora UNB, 1998. p. 303, S91 movimentos carismiticos que primam por revelagdes divinas diretas, imediatas, curas e milagres apresentam essas manifestagdes como 0 mo- mento em que o “sagrado selvagem” se liberta das amarras da burocraci eclesidstica na qual foi aprisionado. Nesse sentido, “a volta do sagrado de seu exilio, reintroduz.o religioso puro no discurso ideologico”.%* Num segundo momento, surge a critica a religido tradicional, expressa numa profecia que, se por um lado denuncia, por outro lado, aponta um novo caminho, Para que esse novo caminho seja trilhado, faz-se necesséria a ruptura. Com o estabelecimento do novo grupo religioso, com o passar do tempo, impde-se a necessidade de organizagio, momento no qual a0 “sagrado selvagem” comega-se a impor regras e discursos num processo que Mendonga chama de “sacerdotalismo”.*” Nasce uma nova tradi¢ao. Esse constante ir e vir do “sagrado selvagem” pode ser representado pelo grafico abaixo: se — Sagoo Senge” \ ES \ J xtc ei intits J eed Esse ciclo tem marcado a hist6ria do protestantismo. Contrastando ‘como papel que mistico desempenha no seio do catolicismo, Mendonga 5 MENDONCA, 1984, p. 13. 5 MENDONCA, 1984, p. 13. 592 | _REFLEXUS XD 24, 2020/2 afirma que neste o mistico se nutre da Igreja e serve de inspirago aos figis. No protestantismo, ao contrario, o mistico insere o elemento deses- tabilizador na instituigao, enfraquecendo-a. Assim ele conclui: “E por isso que o misticismo protestante é a marca de sua instabilidade insti- tucional, ao passo que 0 misticismo eatélico geralmente & o caminho de sua revitalizagao”.* Esses dois movimentos podem ser identificados na historia da Igreja Evangélica Brasileira, Num primeiro momento, 0 “sagrado selvagem” corporificado na experiéncia extatica de conversdo do dr. Miguel, num segundo momento, a necesséria “invengdo de uma tradigao”, conforme conceituado por Eric Hobsbawm, que da forma e ordem a nova denomi- nagio, visto que: “a invengdo de tradigdes é essencialmente um processo de formalizagao e ritualizagao, caracterizado por referit-se ao pasado, mesmo que apenas na imposigdo da repetigao”. © 11 de setembro & celebrado pelos figis como a data em que o dr. ‘Miguel fundou a IEB (1879), a “verdadeira igreja” para cumprir a obra de Deus na terra, Para essa nova igreja, foi copilado um novo texto sagra- do O Novissimo Testamento ou Testamento Eterno (NTTE), resultado. da jungdo de textos e memérias de Miguel Vieira Ferreira e de seus dois sucessores na lideranga da igreja: seu irmfo Luiz Vieira Ferreira e seu filho Israel Vieira Ferreira, o “Filho da Promessa”. Entio, na historia da IEB, para que essa nova tradigao se consolide, alguns elementos so necessérios: uma nova narrativa sobre o mito funda- dor; a exaltago do lider acima de todos os demais; um novo texto sagrado. Primeiro, o papel que teve a Igreja Presbiteriana na vida e conversio de Ferreira é diminuido. Sua experiéncia extatica de conversao é relacio- nada a passagens do livro do profeta Daniel no qual se Ié que um dia Deus levantaria o Grande Principe Miguel. Ora, para os figis ndo ha diivida de que essa passagem é uma referéncia ao dr. Miguel. Naquele dia, assen- tado no banco daquela igreja presbiteriana, ele teria sido levado ao céue 14 recebido 0 chamado ¢ a missao de fundar a verdadeira igreja na terra. 5 MENDONCA, 1984, p. 13 ® HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence. (Orgs). A invengiio das tradigdes. 2 ed. Rio de Janciro: Paz.¢ Terra, 1997, p. 10. © CE RIVERA, 2005, p. 89. REFLEXU! evista de"T logia ¢ Cigncias das Religides 39: Para alguns ele tomou-se ai o continuador da obra do Espirito Santo ou até o prério.*" A fundago da TEB foi consequéncia de uma ordem direta de Deus. Em segundo lugar, décadas apés a sua fundacdo, os figis da IEB passaram a se referir ao dr. Miguel como o “Grande Principe Miguel”, titulo utilizado em momentos especiais com grande solenidade. O dr. Miguel transubstanciou-se numa espécie de divindade. A par disso, Ri- vera afirma que: “Ferreira no é mais apenas o fundador. As geragdes posteriores o tornaram o elo entre o céu e a terra, entre o mundo visivel ¢ 0 mundo invisivel, entre o imanente ¢ 0 transcendente, entre @ origem ea realidade atual.”" Por iiltimo, a surpeendente produgio de um novo texto sagrado, 0 NTTE, constituido de 12 volumes e lido nas igrejas e casas dos figis a0 lado da Biblia. A intengo de produzir esse texto surgiu no terceiro pas torado, de Israel Vieira Ferreira, com o intuito de se preservar uma tra- digo, Israel reputa ao proprio Miguel a intengo de produzir esse novo texto sagrado, tendo recebido dos eéus os dons para isso. Ao que tudo indica, essa preocupacao em se definir um texto sagrado que estabele- se 0s limites da revelago ecoavam o trauma dos primeiros meses de pastorado de Israel Ferreira, atingidos pelo cisma temporirio causado por sua prima, D. Sarah. Rivera ainda nos ajuda a entender 0 proceso de “sacerdotalismo’ ‘com consequente institucionalizagio da IEB, fechando o ciclo do ir e vir do “sagrado selvagem”, Segundo este autor, o NITE passou a ter papel central nas Escolas Dominicais ¢ cultos da igteja aumentando, assim, © CE RIVERA, 2008, p. 93 © Cf, ALMEIDA, 2005, p89, 90. © RIVERA, 2005, p.90 Esse autorainda afrma que nos cultos & comum os figs conta- rem que receberam revelagées, visbes ou sonhos nas quais sempre aparece o Grande Principe Miguel como forma de leitimagdo da experigncia recebida, C®. RIVERA, 2005, p. 92 Cf, RIVERA, 2008, p. 95, Rivera destaca que nio hé nenhum indicio de que houves se intengio do dr. Miguel em produzir esse texto. Também acentua 0 carter deine ditismo de tal obra na histbria do protestantismo latino-americano, Por fim, eselarece que a compilagio e publicagio deram-se apenas no quarto pastorado, de Antonio Prado, em 1967. © Cf LEONARD, 1988, p. 56, 57 594 | _REFLEXUS XD 24, 2020/2 o cariter discursivo da mesma. Os cultos so ordeiros e abstratos, o canto controlado, as oragdes restritas a homens adultos e mais se parecem a discursos logicos. Weber destaca o proceso de “rotinizagao do carisma” que ocore quando de uma relagdo extracotidiana ¢ efémera, esta relagdo toma-se permanente. Neste momento, diz ele “a dominagio carismitica, que, por assim dizer, somente in statu nascendi existiu em pureza tipico-ideal, tem de modificar substancialmente seu carter: tradicionaliza-se ou ra- cionaliza-se (legaliza-se)...”. Ato continuo, Weber destaca que esse pro- cesso ocorre especialmente “quando desaparece a pessoa portadora do carisma e surge a questio da sucesso”. Ainda Weber, sobre as pos- siveis solugdes para o dificil problema da sucessio, aponta como uma das alternativas a “ideia de que 0 carisma seja uma qualidade do sangue , portanto, seja inerente ao eld do portador, especialmente aos parentes mais proximos: carisma hereditario”.* E, mais importante ainda, qual o papel as revelagdes desempenham na IEB nos dias de hoje? Ora, como vimos, a revelagdo como principio fundamental da verdadeira relagdo com Deus, esté na origem das pre~ gages de Miguel Vieira Ferreira e da inauguragdo da Igreja Evangélica Brasileira. Recorrendo mais uma vez a Rivera, este autor nos conta que a revelagio ainda ocorre na IEB, mas de forma pouco frequente. Além do mais, quando ocorrem sdo sempre referéneias ao fundador ou ao Filho da Promessa, o pastor Israel. Portanto, “a revelago, quando acon- tece, estd sempre a servigo da tradigdo ja estabelecida”.” A produgdo do TE teve esse papel de interdito sobre qualquer revelago diferente daquelas que haviam sido dadas aos trés primeiros pastores, todos da familia Vieira Ferreira CE RIVERA, 2008, p. 96,97 © WEBER, 1998, p. 161, 162. Poderiamos aqui também considerar a proposta de Durkheim de que entre “o mago e os individuos que o consultam, como entre esses proprios individuos, ndo existem lagos duradouros que fagam deles membros de um mesmo corpo moral (.). mago tem clientela, nio igre (..)." DURKHEIM, Emi- le. As Formas Elementares de Vida Religiosa:o sistema totémico na Austria. Si0 Paulo: Paulus, 2008. p. 76. Dai a necessidade de transigdo da magia para a religido, se quer passar do estigio extracotidiano © © WEBER, 1998, p. 163 © RIVERA, 2005, p. 98 Revista del 395 logia ‘Conclusiio Aexperiéncia de conversio do dr. Miguel Vieira Ferreira e a funda- ‘40 da Igreja Evangélica Brasileira é um interessante caso/objeto de ana- lise para aqueles/as que querem se debrugar sobre as tensdes inerentes 4s religides que precisam lidar com a necessidade de construgdo de uma estrutura organizacional e, ao mesmo tempo, cultivarem aqueles aspec- tos mais propriamente religiosos no que possuem de sagrado, de trans- cendente, de mistico/magico, numa palavra, de numinoso, Em maior ou menor grau, as religides, especialmente as urbanas precisam, em algum momento, enfientar esssa dialética. No caso da Igreja Evangélica Brasileira, vimos que a tradigdo nas- ceu da revelagiio, assim como 0 sacerdotalismo-institueionalizagao suce- deu 0 momento mistico-magico do “sagrado selvagem”. © “retorno do sagrado selvagem” consubstanciado na experiéncia extitica de conversdo de Miguel Vieira Ferreira e nas primeiras décadas de histéria da IEB, cheias de revelagdes e visdes dio lugar, aos poucos, a uma igreja ordeira e regrada, num processo de domestivagdo do sagrado posto a servigo de uma tradigio. Referéncias ALMEIDA, Adroaldo José Silva. O Anjo Reificado: sentidos do carisma ¢ do poder na Igreja Evangélica Brasileira. Dissertagao de Mestrado. UFM, 2005. BASTIDE, Roger. O Sagrado Selvagem e outros ensaios. Sio Paulo: Companhia das Letras, 2006. DE CARVALHO, Marcus J. M. “Facil é serem sujeitos, de quem jé foram senhores”: 0 ABC do Divino Mestre, Afro-Asia, 31 (2004), 327-334. 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