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TENSOES VERTICAIS DEVIDAS A CARGAS APLICADAS NA SUPERFICIE DO TERRENO 8.1 Distribuicdo de Tensées Figura 8.1 Distribuigdo de tensdes ©) com a profundidade Mecanica dos Solos 152 Bulbo de tensées Espraiamento das tensées das tensdes imediatamente abaixo da atea catregada diminuem a medida que 1 profundidade aumenta, porque a érea atingida aumenta com a profundidade. A Figura 8.1 (@) indica, qualitativamente, como se di a distribuicio dos acréscimos das tensdes em planos horizontais a diferentes profundidades. Na Figura 8.1 (b) esté representada a vatiacio dos acréscimos da tensio vertical 20 longo da linha vertical, passando pelo eixo de simetria da area carregada, Unindo-se os pontos no interior do subsolo em que os acréscimos de tensfo sio de mesmo valor (um mesmo percentual da tensio aplicada na superficie), tém-se linhas, como as indicadas na Figura 8.2, que sio chamadas de bulbos de tensdes. Algumas vezes, encontram-se referéncias a “bulbo de tensdes” como a regifio do subsolo em que houve actéscimo de tensfio devido cs a0 carregamento. Tal emprego da expressio é incorreto. Na reali- dade, existem tantos bulbos de tensdes quantos niveis de actéscimo de tensio que se queira considera, wee! | Uma pritica corrente para estimar 0 valor das tensGes a uma certa profundidade consiste em considerar que as tensdes se espraiam segundo fireas crescentes, mas sempre se mantendo uniformemente distribuidas. Considere-se uma faixa de comprimento infinito, de largura 2L, uniformemente carregada com uma tensio 6,, como se mostra na Figura 8.3, Admitindo-se um fingulo de 30 graus, a uma profundidade 2, a rea carregada seri 2.L+2.<.1¢30° A tensio uniformemente distribuida atuante nesta rea, que corresponde A carga total aplicada, vale: 2b Ov D2 21g" Se a frea cartegada for quadrada ou circular, os efleulos setfio semelhantes, considerando-se o espraiamento em todas as diregdes. Este método, embora titi em certas circunstincias, e mesmo adotado em alguns cédigos de fandagdes em vittude de sua simplicidade, deve ser entendido como uma estimativa muito grosseita, pois as tensdes, a uma certa ptofundidade, nio sio uniformemente distribuidas, mas concentsam-se na proximidade do eixo de simetria da frea carregada, apresentando uma forma de sino, como mostra a Figura 8.1 ‘© método de espraiamento é contraditério consigo mesmo, pois nio satisfaz. ao prinefpio da superposicio dos efeitos. De fato, consideremos que a faixa carregada seja constituida de duas faixas distintas. Para cada uma delas, as tensdes numa certa profundidade seriam determinadas pela regea Gitada, como se mostra na Figura 84, A resultante das duas faixas seria a somatéria dos valores determi-nados para cada uma. Esta solugio, ainda que apresente uma tensfio na parte central maior do que nas latetais, 0 que seria coetente, é diferente da anterior, que considera o efeito simultineo de toda a faixa. Tal fato é inaceitavel. A aplicacio desta regra poderia indicar tensdes na parte central, em pequena profundidade, maior do que a tensio aplicada na superficie, o que é totalmente inaceitével. 8.2 Aplicacdo da Teoria da Elasticidade A Teotia d Jasticidacle tem sido empregada para a estimativa das tensdes atuantes no interior da massa de solo em virtude de carregamentos na superficie, e mesmo no interior do terreno. © emprego da ‘Teoria da Elasticidade aos solos & questiondvel, pois o comportamento dos solos nio satisfaz aos requisitos de material elistico, principalmente no que se refere a reversibilidade das deformagdes quando as tenses mudam de sentido. Entretanto, quando ocorrem somente acréscimos de tensio, justifica-se a aplicagio da teoria. Por outro lado, até determinado nivel de tensdes, existe uma certa proporcionalidade entre as tensdes e as deformacées, de forma que se considera um Médulo de Blasticidade constante como representative do material. Mas a maior justificativa para a aplicacio da Teoria de Elasticidade é 0 fato de nio se dispor ainda de melhor altetnativa e, também, porque cla tem apresentado uma avaliacio satisfatéria das tenses atuantes no solo, pelo que se depreende da anilise de comportamento de obras. Solugao de Boussinesq Boussinesq determinou as tensdes, as deformagdes ¢ os deslocamentos tica, homogénea e isotrépica, num semi-espaco infinito de superficie horizontal, devidos a uma carga pontual aplicada na no interior de uma massa elé supetficie deste semi-espago, Na Aula 9, sera apresentada a solugio de Boussinesq para o estudo dos deslocamentos. No que se refere as tens6es, interessam, no momento, os acréscimos das tensdes verticais resultantes, em Aula 8 Tensdes Verticais Devidas a Cargas 153 Figuea 8.4 Espraiamento de tensées com carga dividida em duas faixas Mecanica dos Solos 154 Figuea 8.7 Tensdes num ponto no interior da massa Figura 8.6 Tensées na vertical abaixo do ponto da carga qualquer ponto, da aplicacio da carga pontual Q, na superficie. A equagio de Boussinesq para este acréscimo de tensio & aene(? +2) 3 sendo ze rdefinidos como se indica na Figura8.5. Esta expresso pode ser escrita da seguinte forma: Esta tiltima expressio mostra que, mantida a telacio 1/2, a tensio inversamente propotcional ao quadrado da profundidade do ponto considerado. Na vertical abaixo do ponto de aplicagio da carga (¢ = 0), as tensdes so: = 1000N | Toso ere 00 oY 40 10 2 Profundidade (m) 4 16 18 2 Ce) 0,48-Q 100 Como mostra a Figura 8.6, as tens 120 guadrado da profundidade, sendo infinita no ponto de aplicagio. Note-se a semelhanga deste grafico com o da Figura 8.1, que seria experimental variam inversamente com 0 Carregamento em areas retangulares: Solugao de Newmark Para o célculo das tenses provocadas no interior do semi- espago infinito de superficie horizontal por carregamentos uniformemente distribuidos numa firea retangular, Newmark desenvolveu uma integragio da equacio de Boussinesq, Determinou as tenses num ponto abaixo da vertical pasando pela aresta da frea retangulat. Verificou que a solugio era a mesma para situagdes em que as relagdes entre os lados da fea retangular ea profundidade fossem as mesmas, Definiu, entio, as seguintes relagdes com os parimetros como ilustrado na Figura 8.7. Em fungio destes parimetzos, asolugio de Newmark se expressa pela equagio: = a] Emme? en? + DV? 20? +2) gg 2a? en? + dem | Qt en? ele mn®) (m2 +n? 41) m+n? +1~ mn? Esta expressio s6 est4 reproduzida aqui para mostrar como as solugdes Ga teoria da elasticidade so muito trabalhosas(). Mas se consideratmos que a tensio num ponto qualquer é fungio sé dos parimetros me 1, toda a expressio entre chaves pode ser tabelada, de forma que se tem: sendo um coeficiente de influéneia que depende s6 de m€ me que se encontra na Tabela 8.1, € também no Abaco da Figura 8.8. Alguns livros publicam Abacos semelhantes com diferente formato. Observa-se que o maior valor de I é 0,25, e que ele corresponde a valores dem en muito elevados, ou seja, 4 situagio em que as dimensdes do retingulo de carregamento sfio muito grandes em relagao A profundidade em que se quer caleular 0 actéscimo da tensio, O valor 0,25 se justifiea, Carregando- toda a superficie, o actéscimo de tensio em qualquer ponto seria igual & tensio aplicada na superficie (I = 1). Se 0 catregamento for feito s num quadrante (um quarto da area total), o coeficiente de influéncia é, naturalmente, 0,25. Como a solugio de Newmark se refere a um ponto na vertical pela aresta de um retangulo, nenhum carregamento isolado pode apresentar I > 0,25, Para o célculo do acréscimo de tensio em qualquer outro ponto que no abaixo da aresta da rea retangular, divide-se a tea carregada em retingulos com uma aresta na posicio do ponto considerado, ¢ considera-se G) Sess pretender empregar esta equagto para criar uma planithacletnica para céleulo de Ja partir de me n, deve-se considerar que, para elevados valores de me n, 0 ‘denominador do segundo termo entte parénteses pode se tomar negativa; neste cas0, ‘ Angulo cuja tangente esta sendo indicada deve estar no intervalo entre T/2e % endo entre R20, como automaticamente o computador consderaria Para se levar isto em considerago, pode-se aerescentar, dentro do paréntese do segundo membro, um ter czirotermo com a expressio Xx [(D-abs(D)]/(2D), sendo D =m? + n? +1 mtn? Aula 8 Tenses Verticais Devidas a Cargas 155 Figuna 8.7 Definigéo dos pardmetros men 028 024 023 oz oz oz 019 08 oaz 036 oss ona 013 oz on 010 0.09 008 oor 008 0.08 004 098 oo oor 2,00 3 4 567891 2.3 4 S67eo 2 3 456789 ou 10 10 ooo Figura 8.8 Tensées verticais induzidas por carga uniformemente distri buida em Grea retangular (solucdo de Newmark) Tz ou m A Aula 8 ream OS a4 05 068 07 08 08 OT 0.005 0,008 0.073 0,017 0,520 0. 120 50.027, Tensdes Verticais 0,009 ~0,018 0.028 0,033 0,030 0,043 0,047 0,050 0,083 0,013 0,026 0.037 0,047 0,056 0,063 0,069 0,073 0,077, Devidas a Cargas 040.017 0,033 0,047 _0,060__0,071 0.080 0,087 0,003 0,098, 0,020 0,035 0,058 0.071 540.085 0,103 0,170 0.716 157 0.072__0,043 0.063 TO? O11? 0,125 0,131 (0,024 0,047 0,069 0,087 0,103 0,117 0,128 0-137 0-144 Beas Bos eos 000 Nee Be Htiy bbs oer a ose O00 ale O ee te 08s — oO 0s ROO 20,079 0,057 0,083 0,108 0.736 0,743 0,187 0,168 0.178 Ts —0.030 0,059 0,086 0110 0131 0,149 0,164 0,176 —0-105_ Zo 0,031 0,061 0.089013 0.135 0,153 0,160,181 0-102 250031 —0.062 0,080 0.115 0137 0.755 0-170 0.783 0,194 30 062 0 7 i 788 01710 i 500.032 0.082 _ 0,000,115 0.137 0.158 0,172 0.165 0100, 70,0 0,032 0,062 —0,090_—0.115 0.137 0,186 0,172 0,185 0.106 2 0,032 0, O15 0137 0756 OF, 785 0756 Taz ou m= bre i245 202530500 0,028 0,028 0,030_0,0a1 0,037 0,039 0,042 0,032 0,032 0,055 0,057 0,080 0,061_0.062.0,062 0,062 0,062 _0,062— (0'3__0,079 0,083 0,086 0,089 0.090 0,090 0,090 0,090 0,080 94 0401 0,106 0,100,113 0.115 0,178 0,115 0,115 0,115 0420 0,126 0.131 0.135 0.197 0.137 0,137 0,137 0.137 BE s sO OSes O sO ORO 70,14 0,157 0.164 0,160 0,170 0,171 0,172 0,172 0,172 0,160_0,168 0.176 0,161 0,183 0.184 0-185 0, 7 = (030.168 0.178 0,185 0,102 0,104 0,195 0,106 0,198 0,106. Tio 0.175 0;788 0,183 0,200 —0'209 0,208 01704 0,205 —0'205- “ig 0.185 _0,19_0,205 0.912 0218 0.216 0217 0.718 0218 150,830,208 0,215 0,230,228 0,228 0,220 0,230 200,200 0,912 0,323 0,252 0,256 0,238 0,238. 0,240__0.240- TEs 07020715 0208 0.758 0240 0740244 0,284 —0.24- =30—0303—0 216 —0328—0788—0 91 —D92—o2ae Oar oar Valores de Tem 30 —o701—0,217 02000280 —0.244 0.248 O09 —O.2a9 2a funsdo demen 10902080718 030 0740 0.244 0247 O10 0500720. paraa equasio de 0,205 0,218 0,230 0.240 0,244 0.247 0,249 0,250 0.250. Newmark Tabela 8.1 separadamente o efeito de cada revingulo, No caso de um ponto ao interior da area, como o ponto P no caso (2) da Figura 8.9, a agio da area ABCD é a soma das agdes dle cada uma das éreas AJPM, BKPJ, DLPK e CMPL, No caso de ponto externo, como o ponto P na situagio (b) da Figura 8.9, considera-se a agio da area PKDM, subtraem-se os efeitos dos retingulos PKBL e PICM ¢ soma-se o efeito do retingulo PJAL, porque esta area foi subtraida duas vezes nos retingulos anteriores. Aplicagao da solugéo 2 de Newmark para iD (b) qualquer posigao IN \ \ Agy oo 0110 = 0.05 Figura 8.10 Tenses verticais induzidas por carga uniformemente distribuida em érea circular Outras solugées baseadas na Teoria da Elasticidade ‘Também baseadas na Teoria da Elasticidade, estio disponiveis soluc para diversos tipos de carregamento, Poulos ¢ Davis teuniram no livro Elastic Solutions for Seil and Rook Mechanics, John Wiley, 1974, solugdes para diversos carregamentos, desenvolvidos por diferentes autores. Freqiientemente, estas solucées so apresentadas em forma de bulbos de tenses, como o reproduzido na Figura 8.10, que apresenta os coeficientes de influéncia (cocficiente que, multiplicado pela tensio aplicada na superficie, fornece a tensio atuante no ponto), para 0 céleulo das tenses verticais no interior do solo devidas a carregamento uniformemente distribuido numa firea circular, na superficie do terreno, Abacos semelhantes sio disponiveis para outros esquemas de cartegamento, como faixas de comprimento infinito, representando atetros rodovidrios. Por outro lado, sao também disponiveis abacos para 0 cileulo de tensdes horizontais, tensdes principais e tensdes cisalhantes, permitindo a obtencio de todo o estado de tensdes devido a cada carregamento, Abaco dos “quadradinhos” baseado na solugao de Love Quando a configuragio da érea carregada na superficie do terreno é muito irregular, emprega-se 0 “Abaco dos quadradinhos”, também devido Newmark, que se baseia no seguinte principio: quando sobre a superficie do terreno se aplica uma pressio em toda a sua extens ., em qualquer ponto, a qualquer profundidade, o acréscimo de tensio provocado é igual & pressio aplicada na superficie. Pode-se dizer que esta tensio € igual & somatéria dos efeitos provocados por carregamentos em dreas parciais que cubram toda a superficie. Cada uma destas areas contribui com uma parcela do actéscimo de tensio. A superficie do terreno pode ser dividida em diversas reas, cada qual responsavel por um certo acréscimo de tensio, © mais pritico é dividit a superficie do terreno em pequenas areas, de tal forma que todas contribu- su igualmente pata a tensio provocada no ponto considerado. A divisio da superficie do terreno em 200 reas de igual influéncia no acréscimo de ten- sio numa certa profundidade da origem ao conhecido “Abaco dos quadradinhos”, embora as areas na realidade no sejam quadradas, mas se- tores de anel circular, como mostra a Figura 8.11 Para a construcio do abaco, considera-s¢, inicialmente, 0s taios de que, se carregados na superficie do terreno, provocam, num ponto na vertical passando pelo centro do circulo e a uma certa profundidade estabelecida, acréscimos de tensio correspondentes a 10%, 20%, 30%, ete. da ptessio aplicada, definindo-se assim os circulos do abaco. Este procedimento divide superficie do terreno em 10 reas, cuja influéncia é de 10% do efeito do carregamento em toda a Area. A seguir, & s6 dividir cada anel em 20 setores iguais. Todo o terreno ficou dividido em 200 éreas de igual efeito. Note-se gue 0 abaco esti relacionado a uma dimensio que, em escala, representa a profundidade do ponto para o qual se pretende estimar 0 acréscimo de tensio devido ao carregamento feito na superficie Para o tragado do abaco, emprega-se a equasio de Boussinesq para tensdes verticais, integrada por Love para a determinagio do acréscimo de tensio reulo Aula 8 Tensdes Verticais Devidas a Cargas 159 160 Abaco de influéncia para célculo da tenséio vertical, num ponto a profundidade AB Ne valor de inf indo pelo centro de uma Area circular vuniformemente carregada. A expressio obtida por Love é a seguinte: a 1 - sendo Ro raio da area carregada ez a profandidade considerada, como mostra a Figura 8.11 ‘Tendo sido possivel dividir a superficie do terreno em 200 pequenas ‘reas, cuja influéncia sobre 0 ponto considerado seja a mesma, pode-se dizet {que 0 carregamento em cada uma delas provocaré um acréscimo de tensio no ponto considerado igual a 0,005 da tensio aplicada, pois 200 x 0,005 da ptesstio aplicada & a prépria pressio aplicada e é a pressio que ocorre no ponto em virtude do carregamento em toda a superficie. Considere-se que se conhece a planta de uma edificagio com formato irregular e que se deseje conhecer a influéncia desta edificagiio em um ponto no subsolo, a uma certa profundidade. Desenha-se a planta da edificagao na ‘mesma escala em que foi construido o abaco (AB = profundidade), de forma que o ponto considerado fique no centeo do Abaco. Na Figura 8.12 apresenta-se um exemplo. Contam-se, entio, quantos “quadradinhos” foram ocupados pela planta. Como cada “quadradinho” carregado provoca no ponto 0,5% da tensio aplicada, o mimero de “quadradinhos” vezes 0 valor de influéncia (0,005) vezes a tensio aplicada indica a tensio provocada por todo o carregamento da superficie Ao se contarem os “quadradinhos”, faz-se uma compensagio para as frgies de “quadradinhos” abrangidos pela edificacio. B conveniente desenhar a planta do prédio cm papel vegetal. Desta forma, deslocando-se a planta para outra posicio ¢, contando-se os “quadradinhos” sobrepostos, determina-se a tensio provocada nesta nova posicio. A tensio determinada é sempre no ponto situado na projegio do centro dos cfrculos, na profundidade ditada pela escala do desenho. Pata determinar as tensdes em outras profundidades, deve-se desenhar outro abaco ou outra planta da edificagao, de maneira a ‘compatibilizar as escalas. 8.3 Consideracées sobre 0 emprego da Teoria da Elasticidade As tensdes verticais no interior do macico, determinadas pela Teoria da Elasticidade, nio dependem do médulo de elasticidade do material ou de seu coeficiente de Poisson, o que é apresentado como uma grande vantagem, pois permite sua aplicagio a qualquer solo. Entretanto, nao deve ser esquecido que as dedugdes se referem a materiais homogéneos ¢ isotrpicos. Com freqiténcia, 0s solos sio constituidos por camadas com médulos bem distintos, ¢ mesmo solos de constituigio homogénea apresentam médulos crescentes com a profundidade. A rigor, as solugdes vistas nesta aula no se aplicariam 4 estes casos Existem solugdes da teoria da elasticidade para sistemas constituidos de camadas com diferentes médulos de elasticidade. Quando a camada superior é muito menos deformavel, as tenses que ocorrem na camada inferior ficam Aula 8 Tensdes Verticais Devidas a Cargas 161 Figuna 8.12 Exemplo de aplicagdo do ébaco dos “quadradinhos”” Mecanica dos Solos 162 Figuea 8.13 muito reduzidas; é como se a camada superior tivesse um efeito de haje, distribuindo as tensdes lateralmente. Seria 0 caso tedtico, por exemplo, de uma camada de areia compacta, com elevado médulo, sobre uma argila mole, de médulo muito baixo. Entretanto, a experiéncia indireta (medida de recalques, por exemple) indica que 0 efeito do maior espraiamento devido & clevada rigidez. da camada superior nao ocomre. O efeito de laje, na teoria, se faz as custas de tensdes de tragio em zonas da camada superior, sendo que as areias nio apresencam qualquer resisténcia 4 tracio. Métodos que consideram camadas de rigidez diferente sto empregados em Meciinica dos Pavimentos, com propriedade, pois as camadas de bases ¢ revestimentos asfilticos apresentam elevada resisténcia A tragio. Apesar de reconhecidas as limitagdes da ‘Teoria da Elasticidade, as solugdes apresentadas nesta aula tém sido empregadas mesmo para solos nio homogéneos. A justificativa para isto é 0 fato das anilises com este procedimento conduzirem a solugdes bem sucediidas e comprovadas, com razoaivel aproximagio, pelo acompanhamento das obras. Exercicios Exercicio 8.1 Uma construcio industrial apresenta uma planta retan- gular, com 12 m de largura ¢ 48 m de compsimento, ¢ vai aplicar ao terreno uma pressio uniformemente distribuida de 50 kPa. Determinar 0 acréscimo de tensio, segundo a vertical pelos pontos A, B, Ce D,a 6 mea 18 m de profundidade aplicando a solugio de Newmark. Calcule, também, para 0 ponto F, fora da area carregada 2 24 1 oF Solugo: Para o ponto central, A, a rea carregada é subdividida em 4 fireas parciais, de 6 x 24 m, ficando o ponto A na borda de cada uma. Pata os pontos B e C, a érea carregada é subdividida em 2 areas parciais, enquanto que para o ponto D aplica-se diretamente a solugio de Newmark. Na tabela a seguit, estio os coeficientes obtidos da Figura 8.8, ou da Tabela 8.1. Para a profundidade de 6 m: Ponto Area _né de areas nda érea otal Tenséo, kPa A 6x24 4 1 4 0208 082 44 B 12x24 2 2 4 9289 048 24 cc 6x48 2 1 8 0204 Oat 208 D 12x48 1 2 8 0240024 12 Note-se que, para esta profundidade, o acréscimo de tensio no ponto B é cetea de 58% do acréscimo correspondente ao centro da area, Na aresta da area carregada é cerca de 30% desse valor. Para a profundidade de 18 m: Ponto Area__.dedreas__m [da drea [total A 6x24 4 083 1,98 0,092 0.37 B 12x24 2 0.68 1,33 0,185 0,31 cc 6x48 2 0.33 266 0,097 0,19 D 12x48 1 0.66 2,66 0,165 0,165 ‘Tensio, kPa 185 155 a5 a2 Neste caso, o acréscimo na vertical pelo ponto B é pouco menor do que © actéscimo no centro na vertical pela aresta (84%) e o acréscimo na bord 44% do acréscimo no centro, Nesta profundidade, as tensdes ja se espraia- ram consideravelmente. Para o ponto E, fora da dea carregada, considera-se 0 efeito do carrepa- mento na atea EFGH, menos os carregamentos nas areas EFIJ ¢ EKLH, somando-se, a seguir, o efeito da area EKDJ, que havia sido subtraido duas vezes na operacio anterior. Os resultados estio indicados na Para a profundidade de 6 m: Retanguio Area ma __‘Ida area EFGH jexss 38 (RAT FW Oxta eo) 208 EKLH exta 1 30208 KDI exe ot 1 0,178 tabela abaixo: Efeito da 4rea efetivamente carregada: AG = 50 x (0,247 ~ 0,205 ~ 0,203 + 0,175) = 0,7 kPa. B interessante analisar a conteibuii (0 telativa de cada parcela. Veja-se, por exemplo, a importincia da pequena érea EKDJ. Para a profundidade de 18 m: Retangulo Area m da area EFGH 18x84 0,208) EFI 6x84 0,33 0,098 EKLH 6x18 0,33 0,086 EKDI 6x6 _0,33 0,044 Aula & Tensdes Verticais Devidas a Cargas 163 Mecanica dos Solos 164 Figuaa 8.14 Efeito da Area efetivamente catregada: AG = 50 x (0,203 ~ 0,098 - 0,086 + 0,044) = 3,15 kPa. E curioso notar que o efeito na vertical pelo ponto E é maior a 18 m de profundidade (3,15 kPa) do que a 6 m de profun- didade (0,7 kPa), Exercicio 8.2 Calcule os acréscimos de tensio do exercicio anterior, pela pritica do “espraiamento das tensdes”, © compare os resultados. Solugao: A dea carregada, na superficie, é igual a 12 x 48 = 576 m% Considerando-se um espraiamento com um Angulo de 30°, a dren afetada 2.6 m de profundidade fica sendo: A= (12 +2 tg 30" x 6) x (48 + 2.x tg 30? x 6) = 18,93 x 54,93 = 1.040 m2, O aceéscimo de tensiio média, numa firea de 19 por 55 m, na profundi- dade de 6 m, seria: AG = 50 x ($76/1.040) = 27,7 kPa. Este valor € cerea de 32% inferior ao determinado pela ‘Teoria da Elas- ticidade para o centro da rea ¢ 15 a 130% superior ao correspondente a0 contorno da dea carregada. O ponto E niio teria softido acréscimo de ten sto pois estaria fora da area atingida pelo espraiamento. Cilculo semelhante para a profundidade de 18 m indica que o retangulo cattegado teria dimensdes de 32,8 m pot 68,8 m, area de 2.256 m?, e que o acréscimo de tensio seria de 12,8 kPa em toda a fea, que neste caso inclui © ponto E, Exercicio 8.3. A Figura 8.14 apresenta o perfil do subsolo num local da cidade de Santos, préximo & praia. cola, m Ch cee -20 ~ ‘cia fn compacta, cinza ‘Areia fina argiosa, compacta, cinza-escuro Projeta-se construir o Prédio Alfa, com 12 pavimentos, tendo planta retangular, com 12m de ‘em sapatas, na cota — 2,0 m, © peso total do prédio é estimado em 56.160 KN. As sapatas ttansmititio presses de 160 a 260 kPa. larguta ¢ 36m de comprimento. As fundacées sera Admitindo que cartegamento seja uniformemente distribuido na Area da planta do prédio, com uma pres média de 130 kPa, determine os acré: cimos de tensio provocados na cota ~ 14 m, que corresponde & profundids de média da camada de argila orginica mole, nas verticais dos pontos assins Iados na planta abaixo, Outro prédio, Prédio Beta, com iguais caractesisticas, seri construido 20 lado, a 6 m de distancia, como se mostra na Figura 8.15. Calcule os acrés- cimos de tensio que um prédio exerceré no local do outro. Note que o efeito do Prédio Alfa sobre a posi¢io do Prédio Beta € igual ao efeito deste em trelagio Aquele. ‘ia Beta Solugao: As fundagies se FB oo Dp 8 F encontram a 2,0 m de profundi- dade. Portanto, na cota de apli- cagio das cargas havers, inicial- mente, um descarregamento cor- respondente ao peso de terra es- ado (2 x 17,5 = 35 kPa). A Ff pressio a considera, ser, por- tanto, 130 — 35 = 95 kPa. 16 36 18 Os acréscimos de tensio se- tao calculados pela soluio de Aula 8 Tensdes Verticais Devidas a Cargas 165 Fiquas 8.19 Newmark, Para tanto, as dimen- tin Jos sdes em planta serio divididas eee ee ena por 12, por ser esta a profundi- dade da segio considerada (cota cargas. Os eiilculos relative: = ~ 14) em telagio A cota de aplicacio das 1s diversos pontos estio apresentados na Ta- bela abaixo, onde os pontos D, Be F representam, também, os pontos G, H € I, respectivamente. 1 a 8 8 8 6 oom Ponto Retangulo a@ ob om a No. Efeito do prédio: Ala __Beta_Os dois A ABDC «6 «18 05 15 4 O24 ABFE 24 18 2 15 2 AB 218 1 18 2 B BDGH 6 36 05 30 2 0274 BFIH 24 36 2 30 1 BCH 12 36 1 30 1 0,085 _ 0,308 c CERO (eter = fro) oes 2) eto cea) COPE 18 18 15 15 0215 2 cope’ 6 18 05 15 -0131 2 0,168 0,554 Mecanica dos Solos 166 continuagéo. v 2 8 # 8 6 7 8 10 Ponto Reténgulo a b m a | No. _ Eleito do prédio: Alla___Beta_Os a D Dar 12 «868 1 0,203 1 0,203 DFYG «18 36 18 0.228 DOGG 6 38 05 1 E EFOC 12 18 1 193 20,386 EFFE 30 18 25 15 0,226 2 FFD’ 18 18 15 18 -0215 2 0,022 0,408 F Foal 12 36 1 30 0203 1 0,203 FFT 90 96 25 90 0242 1 1 FUG! 18 36 15 30 140,217 Nesta tabela, a primeira coluna indica 0 ponto considerado; a 2, 0 retingulo; a 3* ea 4*, as dimensdes do retingulo; a 5* ea 6%, os parimetros me, obtidos pela divisio das dimensdes do retingulo pela profundida- de considerada; a 7, 0 coeficiente de influéncia obtido pela ‘Tabela 8.1 ou pela Figura 8.8, 0 sinal ~ indicando que se trata de uma influéncia a ser subtraida; a 8*, o ntimero de setfingulos a considerar em cada caso} a 9, 0 efeito do Prédio Alfa, nos pontos do préprio prédio; a 10", 0 efeito do Prédio Beta nos pontos do Prédio Alfa, ou vice-versa; a 11°, 0 efeito da consteucio simultinea dos dois prédios. Os coeficientes de influéncia determinados, multiplicados pela pressio aplicada, de 95 kPa, indicam os actéscimos de tensio devidos ao carrega- mento. Estes valores sio os seguintes: ‘Acréscimo de tensto (kPa) Ponto Devide ao Devide ao Devido aos proprio prédio _prédio vizinno dis prédios a 48 87 58 8 26,0 38 29,3 © 36,7 160 827 D 19.3 86 279 E 96,7 24 38,8 F 3 13 208 No Exetcicio 9.7, da préxima aula, os recalques desses prédios serio calculados. Exetcicio 8.4 Foi projetada a construgio de um aterro rodovidtio com 20 m de latgura, e 2 m de altura, Admitindo que este aterro transmita a0 terreno uma pressio uniformemente distribufda de 35 kPa, 20 longo de uma faixa de 20 m de largura ¢ comprimento infinito, determine os acréscimos de tensio a 5 m de profundidade, segundo uma segio transversal Solugio: Os acréscimos de tensio podem ser determinados pelo méto- do de Newmark, considerando uma dimensio infinita, Para cada posigio, consideram-se duas faixas; por exemplo, para um afastamento do eixo de 5 m considera-se uma faixa de 15 m e outra de 5 m, Calculam-se os parimettos ‘m, covsespondentes & largura da faixa, sendo infinito o parimetro 2, obtém- se I da solugio de Newmark, multiplicam-se os valotes de I por 2, pois ponto considerado est na aresta da faixa semi-infinita Para posigdes fora do proprio aterro, considera-se o efeito de uma faixa com largura que envolva todo 0 aterro e desconta-se a faixa niio cattegada. Na tabela abaixo esto apresentados os célculos para diversos pontos, em fungio de seu afastamento do eixo do aterto. Afastamento Largura das faxas. = m=Uz —Idafaixa ‘Iola Ao do exo (m) A (ow Dew G (kPa) ° 10 70 2 2 0240 0240 0,080 33,6 5 15 5 3 1 0,287 0,205 0,904 31.6 78 17,5 25 35 08 0,248 0,137 0,777 27,2 10 20 0 4 0 021 0 of98 17,4 125 225 26 48 OS 0249 -0,197 0224 78 16 25 5 5 1 0249 -0,205 0.088 3,1 20 20 10 6 2 0280-0240 0020 07 carregamento Os resultados indicam 0 dia- tama de pressdes apresentado na _Tenseo e Sm de protangidade Figura 8.16 Bs 0 SOS 0 Distancia ao eixo (mn) Exercicio 8.5 Um tanque metélico circular, com 14m de diimetro, foi construido com fundagio direta, na superficie, num terreno plano e horizon- tal, para estocagem de combustivel, O tanque devers transmitir a0 terreno uma pressfio de $0 kPa, Para a previsio de eventuais recalques, desejam-se conhecer os acréscimos de tensio a 3,5 ¢a 7 m de profundidade, no centro ¢ na periferia do tanque. Solug&o: Para cargas uniformemente distribufdas na superficie do ter- reno, em Areas circulares, disp6e-se da solugio apresentada em forma de bulbos de igual acréscimo de tensfo, apresentados na Figura 8.10. As situ agdes citadas no enunciado, os coeficientes de influéncia, obtidos por interpolacio entre as curvas da figura, estio mostrados na tabela a seguir. Estes valores, multiplicados pela pressio aplicada, fornecem os acrésci- mos de tensio. Aula 8 Tensdes Verticais Devidas a Cargas 167 Figueras 8.16 Mecanica dos Solos Posigio x ZA A 7 ‘aa Pa) centro a) 05 09 450 poileia = 735 05: oat 205 contro ° 7 0 10 085, 225 168 petleia 7 74 10 034 170 Exercicio 8.6 Um muto que transmite uma carga de 5 kN por metro de comptimento deve passat por um local onde existe um aterz0 com 1,2 m de espessura sobre uma argila mole com 2 m de espessura, como indicado na Figura 8.17. O aterro é de boa qualidade e suporta as cargas do muro. Diante da preocupagio com os recalques da argila mole, decidiu-se fazer uma fun- dagio superficial (sapata corrida), a 0,2 m de profundidade, para permitic maior distribuigio das tensdes, Por outro lado, cogitou-se fazer a sapata com pequena largura, 0,5 m por exemplo, de maneira a que os acréscimos de tensio na argila sejam reduzidos, conforme sugere o bulbo de tenso mos- trado na Figura 8.17. Aprecie a cortecio dessa proposta, comparando-a com a dle uma sapata com 1,5 m de largura. 1 fy ° ‘Arela compacta Fiquea 8.17 Solugdo: Acréscimos de tensio para faixas catregadas podem set calculados pela solugio de Newmark, considerando-se uma dimensio infinita, como foi Largura da Pardmetros da Fatores de Pressao sapata Profundidade area cartogada influéncia ——aplicada Ao 2am) Posies z(m) male on \ 4x1 (kPa) (kPa) ‘Superticie da argiia mole 1,0 02 = ©0077 0,808 10.0 3,08, 8 Contro da argila mole 2,0 0125 = 0,040 oteo 1001.60 Superlicie da js Mala mole 10 075 = 0,180 0,720 393 2.40 ° Centto da argia mole 2.0 0975 > oto7__ 0,429 5st 43) feito no Exercicio 8.5. A solugio para o caso presente esti esquematizado na tabela anterior, considerando-se duas posigdes: na superficie supetior da ca- mada de argila mole e no centro da argila mole, em ambas, para o eixo da area carregada. Como pressio aplicada, em cada caso, considerou-se a carga pot metro de comprimento do muro, pela dea da fundacio. Como se observa, 0 indice de influéncia pata a sapata com 0,5 m de larguta (0,308 para a superficie supetior da argila) é menor do que pata a sapata com 1,5 m de largura (0,720 para a mesma posigio). Entretanto, a pressio transmitida ao terreno no primeiro caso é trés vezes maior do que no segundo, resultando que © acréscimo de tensio sera maior (3,08 kPa con tra 2,4 kPa, na superficie ¢ 1,6 kPa contra 1,43 kPa nto centro da camada), = ee Tenséo (KP) Distancia (m) Acrescente-se a isto que, no caso da fundagio de maior largura, os acrésci- transversal ao muro, reduzindo os efeitos de recalques diferenciais que a heterogeneidade do terre- no pode provocar. © célculo em diversas posigdes ao lado do muro pode ser feito conforme o exemplo mostrado no Exercicio 8.5. O resultado dessa andlise para a superficie da argila mole esta na Figura 8.18 mos de tensio se distribuem mais suavemente na diregi Noti-se, portanto, que a solucio cogitada (fundagio de pequena largura) niio se justifica tecnicamente. Este exercicio ilustra bem que os “bulbos de tensio” devem ser sempre considerados com devida atengio para os valores das tensdes ¢ que mio existe tal coisa como “estar dentro do bulbo” ou “estat fora do bulbo de tensdes”. Aula 8 Tensdes Verticais Devidas a Cargas 169 iquea 8.18

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