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(2ª avaliação)
Ora apesar da existência clara de semelhanças entre a justiça grega e romana, é possível
igualmente notar a existência de particularidades características de cada comunidade:
- Em primeiro lugar, relativamente à balança, é possível destacar na balança
romana o fiel, que representa o pretor, o terceiro imparcial;
- No caso da espada, esta é um elemento característico da justiça grega. Para esta
comunidade, a aplicação da sanção era essencial para a realização do direito; ao
contrário do que consideravam os romanos, que definiam como mais fundamental
o processo – a punição seria uma consequência natural de “dizer o direito” ius
dicere.
- Relativamente á venda, apenas surge no Direito Romano. Enquanto que a deusa
grega (Diké), era representada a olhar para o céu, Iustitia surgia com os olhos
vendados. Considerava-se que a deusa da Justiça, “tinha de ouvir, mais do que
ver”, simbolizando a venda o julgamento imparcial. A introdução deste elemento
remete para o corte epistemológico que tem lugar em Roma nesta época – aponta
para a autonomização do Direito enquanto ciência.
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
- Dikaion (a justiça é declarada por Diké)
- Íson (Isonomia – há justiça quando a balança tem o mesmo nível)
Direito Romano:
- Joues (aquilo que é justo segundo Júpiter)
- Ius (o Direito declarado pela deusa Iustitia)
- Derectum (Balança segurada pela deusa que tem fiel e esse fiel tem de estar
direito para haver justiça)
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
(60) A Igreja como herdeira do legado político e cultural romano. A substituição
medieval de uma cultura profana por uma cultura clerical.
Neste contexto de decadência, de fragmentação, a única instituição que após a
queda do Império Romano mantém a unidade é a Igreja Católica. Dotada de uma
fortíssima organização política, social e económica, constitui a herdeira do legado político
e cultural romano. É no contexto do caos e da instabilidade, que a Igreja vem a
desempenhar um papel fundamental no que concerne á preservação da cultura, através
dos designados monges copistas e das escolas que vão surgindo em redor dos mosteiros
(escolástica).
É nestes termos que a cultura grega – profana, laica – sendo esquecida, é
substituída por uma cultura clerical, centrada nos textos das Escrituras e interessada em
estudar o pensamento dos padres (patrística).
(62) Doutrina geral da lei em S. Agostinho: lei eterna, lei natural e lei humana. O
desenvolvimento de um jusnaturalismo teocêntrico.
É a S. Agostinho que são devidas as primeiras grandes sínteses filosóficas entre o
pensamento grego e cristão, que marcam este período de transição, nomeadamente,
através da inserção [no pensamento cristão] da teoria das ideias platónicas. O
dualismo/oposição estabelecido entre o corpo (enquanto erro, mal) e alma (enquanto
ímpeto da divindade), marca o pensamento de S. Agostinho e reflete o seu platonismo.
Sendo o responsável pelo desenvolvimento da primeira doutrina geral da lei, o bispo de
Hipona distinguiu 3 tipos de leis:
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
Desenvolve-se com S. Agostinho um jusnaturalismo teocêntrico: Deus está no centro
de todas as coisas; a justiça provém da vontade divina. Deus é um ser de vontade.
(63) Voluntarismo ético-cristão de S. Agostinho e excessiva transcendentalização
da justiça a que conduz [Denota-se no pensamento agostiniano o voluntarismo ético-
cristão e uma excessiva trancendentalização da justiça. As leis humanas surgem
vinculadas à lei eterna – o princípio da justiça reside na vontade de Deus (justo é o que
Deus quer e apenas porque Deus quer).]
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
(67) O início da Idade Média e a Filosofia Escolástica. Denominador comum ao
pensamento escolástico: a matriz religiosa.
Após a morte de S. Agostinho, dá-se a Queda do Império Romano do Ocidente.
O período que se segue fica marcado pela instabilidade, fragmentação, precaridade. Em
termos culturais, no contexto da degradação e decadência, a Igreja revelou-se a única
instituição com capacidade para preservar a cultura, sobretudo através das escolas que
foram surgindo em torno dos mosteiros: nasce a filosofia escolástica.
Os 3 períodos em que se divide a Escolástica têm um denominador comum: a
matriz religiosa (/inspiração religiosa):
1.º Período [Séc. IX – de 800 (coroação de Carlos Magno) até ao final do séc. XII
– domina o pensamento de Platão através da filosofia agostiniana (o idealismo)];
2.º Período [Séc. XIII – Aristóteles pela mão de S. Tomás de Aquino, com o
realismo gnosiológico (a essência do conhecimento alcança-se através da
realidade sensível, está nas próprias coisas)];
3.º Período [Séc. XIV – Decadência da Escolástica que se começa a desagregar;
aproxima-se a época do Renascimento].
(68) S. Isidoro de Sevilha como pensador medieval de transição. Recuperação do
pensamento jurídico romano clássico: enriquecimento da noção romanística de
direito natural. Cariz pragmático dos seus estudos jurídico-políticos: a construção
de um edifício de liberdades e garantias civis e públicas no contexto de uma
monarquia visigótica.
Dos 3 pensadores medievais de transição (Boécio, Cassiodoro e S. Isidoro de
Sevilha), que procuraram assegurar a manutenção da ligação entre a antiga Roma e o
mundo medieval, S. Isidoro de Sevilha destacou-se através de obras fundamentais como
Sentenças e Etimologias. O mesmo desenvolveu um rigoroso trabalho no âmbito da
recuperação do pensamento jurídico romano clássico, analisando os textos do Digesto e
debruçando-se sobre fontes clássicas.
S. Isidoro protagoniza um enriquecimento da noção romanística de Direito
Natural. Neste ponto, o mesmo inspirou-se nos textos de Gaio e Ulpiano – o primeiro
considerava apenas a existência de Direito Positivo (o ius civile e o ius gentium); o
segundo aceitava a existência dessa instância de Direito a par de outra que o
fundamentava. Ora Santo Isidoro vai dar uma visão mais prática e a realista à noção de
Direito Natural, era necessário dar-lhe conteúdo – nesse sentido acrescenta um conjunto
de direitos aos já estabelecidos por Ulpiano (direito de matrimónio, direito de procriar,
direito de educar filhos) que vêm enriquecer e densificar a já existente noção de Direito
Natural: a liberdade; a propriedade comum de todas as coisas; a apropriação de todas as
coisas; direito de reagir contra injustiças, repelindo a violência com violência e o direito
à restituição de coisas prestadas ou depositadas.
(69) S. Isidoro como pai das medievais e modernas liberdades ibéricas: formas
condicionadas de governo.
Ora no contexto de uma monarquia visigótica, S. Isidoro de Sevilha, com o
enriquecimento da noção de direito natural, acaba por promover a edificação de um
conjunto de liberdades e garantias civis públicas que levam a que o mesmo venha ser
lembrado como o “pai das medievais e modernas liberdades ibéricas”.
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
O conjunto de princípios que vêm a ser empreendidos marcam a visão da monarquia da
Península Ibérica – na qual a forma de governo, passa a ser condicionada pelas Cortes,
que se manifestam e controlam o exercício de poder (monarquia fiscalizada).
(72) As escolas jurídicas laicas do séc. XII italiano: o studium civile de Bolonha e o
estudo do Digesto.
Apesar de algum interesse demonstrado pelas matérias jurídicas romanas nos sécs.
X e XI, só no prolongar do século XII é que a obra jurídica justinianeia foi reconstituída
na sua totalidade. O Direito Romano penetra no panorama jurídico ocidental entre o séc.
XI e XIV, sendo neste período que se dá o renascimento do realismo clássico, ao ser
descoberta uma parte do Digesto – descoberta essa que leva à criação de muitas
Universidades. Nos séculos XI e XII, dá-se a criação do Studium Civile em Bolonha, a
partir do qual se desenvolve a primeira universidade europeia que vai estudar o Direito
Romano a partir das descobertas dos textos e do Digesto.
a) Irnério e a Escola dos Glosadores [Irnério, primeiro glosador, é considerado o
verdadeiro fundador do studium civile em Bolonha. O mesmo renovou os
livros de leis, reconstituindo a ordem pelo qual o Imperador Justiniano os
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
compilou – ao adicionar-lhes palavras, dividiu-os, nascendo assim o Corpus
Iuris Medieval.]
c) A glosa de Acúrsio [Além de Irnério, outro nome que se destaca já numa fase
mais tardia e decadente da Escola dos Glosadores foi Acúrsio, que se encarregou
de compilar todas as glosas consideras mais relevantes na designada “Magna
Glosa de Acúrsio”. A mesma teve um efeito semelhante ao Corpus Iuris Civilis -
veio a ser considerada a fonte do nosso Direito atual. O mérito de Acúrsio é tal,
que a dada altura o seu estudo se sobrepõe aos próprios textos justinianeus.]
d) Os Comentadores e a (re)fundação da ciência jurídica: o método dialético e o
desvendar do espírito da norma [Num contexto crescentemente decadente da
Escola de Bolonha, os juristas passam a tratar não dos textos do Digesto, mas das
glosas sobre o mesmo, fazendo comentários. Desabrocha assim uma nova
tendência que, marcada pelo espírito sintético e sistemático das análises dos
comentadores, bem como pela recuperação do método dialético, leva á (re)criação
da ciência jurídica – é adaptado o Direito Romano às necessidades concretas do
tempo em questão.]
e) Os comentários e o sentido das normas: atualização e harmonização com o
direito canónico e com o direito estatutário das cidades italianas (e dos reinos
europeus) – o nascimento do ius commune medieval [No contexto da afirmação
do Sacro-Império Romano-Germânico na Europa (séc. XIII e XIV), surge a
necessidade de atualização e harmonização das normas com o direito canónico e
com o direito estatuário dos reinos europeus. É neste âmbito que nasce uma ordem
comum: o ius commune medieval, que surge a partir do objetivo de alcançar o
verdadeiro sentido das normas e de adequar as mesmas às populações. Esta tarefa
de sistematização e harmonização é encabeçada pelos comentadores.]
f) Os Comentários de Bártolo e as metodologias bartolistas: supervivência
[Bártolo de Sassoferrato (1313-1357) jurisconsulto medieval, foi o maior
representante da escola dos Comentadores. O mesmo foi distinguido por imprimir
na sua interpretação do Direito Romano, uma vertente mais crítica, desenvolvendo
até novos conceitos legais visando a atualização e adaptação das normas clássicas
ao direito vigente. O seu método teve tal reconhecimento que, mesmo após a sua
morte, perdurou a velha máxima: Nemo bonu jurista nisi bartolista (Ninguém é
bom jurista se não for bom bartolista.”]
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
Lei Eterna: Lei de origem divina que orienta a criação do Universo e do Homem; S.
Tomás d’Aquino identifica-a com os 10 Mandamentos que Deus deu aos homens para os
mesmos se orientarem na formação da lei humana.
Lei Natural: Lei ética - Projeção da lei eterna na consciência racional dos homens –
traduz-se na razão leva-nos a agir de acordo com o bem (evitando o mal).
Lei Humana: É uma exigência da própria lei natural para uma concretização que oriente
o Homem no sentido de fazer o bem e evitar o mal. Há uma revalorização do legislador
que, sendo humano, imperfeito e limitado, deve alcançar o bem comum, em moldes
intelectualizados, através da legislação que emana.
(78) Racionalismo tomista na compreensão da essência divina. O eudemonismo de
S. Tomás. (Eudemonismo = doutrina cujo objetivo é a felicidade humana)
Uma das grandes diferenças entre S. Agostinho e S. Tomás d’Aquino prende-se com a
posição tomada por um e outro no que toca á relação entre a vontade e a razão na
compreensão da essência divina:
S. Agostinho S. Tomás d’Aquino
VOLUNTARISMO RACIONALISMO
Em Santo Agostinho o essencial é a Em S. Tomás d’Aquino, o bem é a
vontade de Deus. O justo e o bem manifestação da vontade de Deus,
dependem da vontade divina, daquilo que enquanto ser racional, justo - o bem não é
Deus define como justo e bom. Para o o que Deus quer só porque quer, estando a
mesmo, estando o ser humano maculado razão acima da vontade. É através da razão
pelo pecado original, só poderia ser salvo que se alcança a felicidade -eudemonismo.
pela graça divina.
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
(82) Condenação do tiranicídio, mas admissão da deposição do tirano.
Contrariamente a S. Agostinho, S. Tomás d’Aquino condenava o tiranicídio, mas
admitindo a deposição do tirano no caso de o mesmo não agir com exatidão no exercício
do poder.
(83) A decadência da Escolástica e a ascensão de correntes nominalistas. O
franciscano Guilherme de Occam e a Querela dos Universais. Entre o realismo,
universalista e intelectualista, de S. Tomás, e o nominalismo, individualista e
voluntarista de Occam.
Ora no século XIV, século de transição para a Idade Moderna, no contexto de
decadência da Escolástica, o legado tomista vai sendo esquecido, ascendendo novas
ideologias, no plano jurídico – ascendem as correntes nominalistas (Guilherme de
Occam). Este período de transição é assim marcado pelo grande debate entre o realismo,
universalista e intelectualista de S. Tomás, e o nominalismo, individualista e voluntarista
de Occcam. O grande debate entre estas duas correntes prende-se com a Querela dos
Universais:
Nominalismo, Individualista e Realismo, Universalista e Intelectualista,
Voluntarista de Occam de S. Tomás
- Não admitindo a existência do Universal, - Por seu turno, os realistas consideravam
os nominalistas definiam não existir uma a existência de uma realidade universal
realidade autónoma para lá dos conceitos. além do nome – definam que no exterior
Para os defensores desta corrente, apenas de um conceito havia uma realidade com
existem seres individuais – os conceitos características do Homem.
gerais correspondem a meras construções
mentais que, através de um processo de
seleção e abstração, alcançam uma
realidade meramente conceptual.
- Surge aqui a ideia de soberania do
conhecimento individual, o primado da
experiência, …
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
No contexto da discussão acerca da propriedade privada (na qual a Igreja se
mostrou contra, definindo que tudo a Deus pertencia), Guilherme de Occam desenvolveu
uma teoria que esteve na base da origem dos direitos subjetivos modernos. A mesma
traduzia-se no poder ou faculdade reconhecida pela ordem jurídica ou pela lei, de
livremente exigir determinado comportamento de outrem. Concebia igualmente o
Homem enquanto ser livre, definindo qualquer poder tirano um atentado a essa liberdade
– é desta forma negado o poder absoluto do Papa e reforçada ainda mais a separação entre
os poderes terrenais e os espirituais.
b) Fosso que se cava entre fé e razão e entre foro espiritual e foro temporal [é ainda
mais consolidada a separação entre fé e razão. A esfera política vai-se
autonomizando, neste período, ainda mais do poder espiritual.]
c) Supremacia dos interesses do Estado frente aos da Igreja [Se na Idade Média se
assiste a uma total subordinação dos interesses do Estado aos preceitos religiosos;
na Idade Moderna assiste-se à supremacia dos interesses do Estado frente aos da
Igreja. A obra O Príncipe de Nicolau Maquiavel retrata na perfeição todo este
novo entendimento. Sendo da sua autoria o chavão que marca a modernidade “Os
fins justificam os meios” – definia que eram os fins do Estado a ter prioridade em
detrimento de quaisquer outros. Em Maquiavel, reforçam-se as tendências
nominalistas e voluntaristas de Guilherme de Occam – Paganismo Maquiavélico.]
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
(90) A neo-escolástica ou escolástica ibérica com movimento de teólogos:
Os séculos XVI e XVII, compreendendo o designado período Barroco, constituíram os
anos de transição para a Idade Moderna. Este é um tempo marcado pela
contradição/oposição entre as doutrinas que por esta altura se desenvolveram. No Sul da
Europa (Península Ibérica), assiste-se á recuperação e renovação do pensamento tomista;
já a Norte (Países Baixos, Alemanha, Inglaterra), as atenções voltam-se para as correntes
nominalistas.
a) Francisco Suárez, Molina e Soto como representantes mais destacados do
movimento da escolástica ibérica [Ora na Península Ibérica prolifera a neo-
escolástica, ou escolástica – o movimento de teólogos que, em muito influenciado
pela Contra-Reforma, tinha como objetivos fundamentais: o combate dos dogmas
da doutrina reformista e a recuperação da supremacia da Igreja. Francisco Suárez,
Molina e Soto constituíram os representantes mais destacados deste movimento.]
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
período anterior á ocupação romana designa-se de primitivo, ibérico ou pré-romano.
Apesar do insuficiente conhecimento deste tempo, promovido pela falta de vestígios, o
mesmo ficou marcado pelas assimetrias e pela falta de unidade nos mais diversos
domínios – económico, jurídico, religioso, …
b) Grupos étnicos mais representativos do período pré-romano [Apesar do
pluralismo que marcou este período é possível organizar cinco grupos/povos autóctones:
Povo com maior grau de desenvolvimento – habitava o sul da Península
Turdetanos Ibérica (atual Algarve e Andaluzia).
Iberos Habitavam a costa leste da Península.
Ocupando quase todo o território peninsular, foram-se misturando com
Celtas outras etnias dando origem, por exemplo, aos Celtiberos.
Celtiberos Dos mesmos provém os Lusitanos.
Franco - Localizavam-se na fronteira com França, concretamente com os
Pirenaicos Pirenéus.
Também entre os povos colonizadores é possível organizar alguns grupos que,
provenientes da Bacia do Mediterrânico, fixavam-se ao longo da Costa com intenções
mercantis. Estes povos eram sobretudo de influência dos Fenícios, Gregos e Cartagineses.
c) Características jurídicas (políticas e sociais) deste período
Organização Política:
Por esta altura, nos múltiplos Estados da Península Ibérica, eram adotados diversos
modelos de organização interna. Os formas mais comuns diziam respeito a:
Estados Tribais (Juntando-se em função da natureza territorial, traduziam
uma conjugação de diversas tribos. Esta forma de organização foi mais
comum entre os Celtas e os Celtiberos.)
Estados-Cidade (Dominante em zonas costeiras, traduzia clãs familiares
– pessoas que se ligavam em virtude do ascendente familiar.)
Apesar da fraca coesão social, resultante em permanentes conflitos internos, perante
ameaças externas estas comunidades políticas uniam-se em confederações com objetivos
político-militares comuns.
Organização Social:
Em termos sociais:
Homens livres (dotados de estatuto e personalidade jurídica traduziam as
classes privilegiadas.)
Escravos ou servos (classe não privilegiada – possuíam o estatuto de
meras coisas.)
Predominavam as intituladas relações de clientela (ou pré-feudais): os mais fracos
procuravam asilo junto dos mais poderosos. Era concedida proteção, em troca de
submissão – limitava-se a liberdade individual dos mais frágeis.
Características Jurídicas:
Em virtude das várias comunidades que ocupavam o território, em termos
jurídicos, predominava a diversidade dos ordenamentos. Apesar do pluralismo, é possível
identificar como aspeto comum o costume, enquanto fonte de Direito (a prática reiterada
de um comportamento com a convicção da sua obrigatoriedade). A mitologia constituía
o veículo de transmissão e sedimentação do mesmo. Apesar desta base consuetudinária,
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
há testemunhos da existência de leis escritas. É de notar que alguns dos aspetos
característicos destes direitos primitivos vigoraram mesmo depois da ocupação romana.
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
- O desenvolvimento da “rede vária”, concretamente, a abertura de estradas, que
não só significou um acréscimo de população romana, como permitiu o aumento
do volume de transações entre o Império Romano e a Península.
- A superioridade da técnica romana, demonstrada na construção de estradas,
pontes, aquedutos; nestas construções, tomavam parte ativa as populações locais,
que iam desta forma, tomando conhecimento das várias técnicas.
- Desenvolvimento da administração municipal – o principal sistema romano de
administração local.
- E por fim, o culto religioso, que unia as populações romana e autóctone na
observância dos mesmos preceitos litúrgicos. Em primeiro lugar a obediência era
devida às divindades greco-latinas, depois ao imperador e por fim surge o
Cristianismo.
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
(99) Vulgarização do direito romano: elementos que para tal contribuíram.
O aspeto anteriormente desenvolvido teve bastante influencia na vulgarização do
direito romano - o mesmo era aplicado nos povos peninsulares de uma forma muito mais
simples e desvirtuada, pela influência de elementos autóctones. É possível neste sentido
destacar uma variedade de direitos romanos vulgares – na sua origem é possível destacar
elementos como:
- A descaracterização do sistema romano clássico;
- A persistência de direitos locais e regionais e a intensificação de institutos e
princípios dos mesmos;
- A ausência de juristas e órgãos judiciais na Península, que pudessem assegurar
uma aplicação sistemática do direito romano na sua plenitude;
- A decadência do império, motivada pela fragilização do poder central.
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
(2) Optar pela territorialidade do mesmo direito, com a aplicação de um mesmo direito
por todo o território.
Não tendo existido um nacionalismo jurídico puro na Península Ibérica, os 2 povos
foram pautando as suas vivências em conformidades com as suas próprias instituições
jurídicas. Em certos domínios, da convivência entre as populações germânica e romana
foram sendo estabelecidas determinadas normas consuetudinárias. Assistindo-se à fusão
de elementos romanos e germânicos, ao nível das práticas do Direito, foi constituído um
lastro jurídico, de tal forma consistente, que vigorou até cerca do séc. XII.
d) As fontes de direito em sentido formal dos estados germânicos - Até ao séc.
V, o costume constitui a principal fonte do Direito germânico. Ora a partir daí,
em virtude da influência da cultura jurídica, começam a surgir escritos de
diferentes naturezas – poderiam ser caracterizadas de diversas formas:
i) leis populares ou dos bárbaros (direito germânico - compilações de
costumes);
ii) leis romanas dos bárbaros (direito romano - os germânicos
compilavam preceitos do Direito Romano dado seu importante auxílio na
resolução de litígios);
iii) capitulares (leis avulsas/soltas, essencialmente no âmbito do direito
público, promulgadas pelos monarcas visigodos);
iv) documentos de aplicação do direito (formulários – constituíam um
auxílio para os “pseudo-juristas”, na resolução de situações concretas;
eram sobretudo de influência romana).
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
vem defender a tese da territorialidade, assente na ideia de que seria a plicado
o mesmo Direito por todo o território. E é neste contexto que surge a tese de
Paulo Merêa, que tendo um caráter conciliatório, era baseada na tese da
territorialidade; ou seja, no entendimento de que a ordem jurídica germânica
era aplicada em todo o território. No entanto, contrariamente a Garcia-Gallo,
o mesmo defendia que os vários códigos, não teriam tido uma sucessão linear
e que o Breviário seria excluído – não visou revogar nenhum dos textos; não
se tratava de uma substituição, mas antes de um complemento. Assente no
direito romano, visava dar resposta às insuficiências do Direito germânico.
103. A ocupação muçulmana da P.I. no início do séc. VIII (final da monarquia visigoda,
com a morte de Rodrigo, sucessor – legítimo ou ilegítimo - de Vitiza
a) o peso cultural e jurídico desta ocupação (algum, em termos culturais; diminuto,
em termos jurídicos)
b) fontes do direito muçulmano: um direito de natureza confessional (aplicável
aos fiéis dessa religião)
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
a) primeiras leis gerais dos nossos monarcas (a legislação torna-se mais abundante
a partir de D. Afonso II; importância da Cúria de 1211 – primazia do direito canónico em
caso de incompatibilidade com o direito pátrio / nacional; esforço de afastamento de
costumes tidos como pouco razoáveis))
b) forais
c) concórdias e concordatas (fonte local e geral de direito canónico; importância
das colectâneas de direito canónico de âmbito regional: a capitula Martini (elaborada em
563; promulgada no II Concílio de Toledo em 572) e a Collectio Hispana Chronologica
(633); referência às colectâneas gerais de Direito Canónico, promulgadas a partir de
meados do séc. XII; extensão do âmbito de aplicação judicial do direito canónico).
d) costume
110. O período de influência do direito comum: meados do séc. XIII a meados do séc.
XVIII
111. O período de recepção do direito romano renascido e do direito canónico renovado:
meados do séc. XIII a meados do séc. XV
a) a recuperação do direito romano e a ascensão do sacro império romano-
germânico
b) regna, imperium e sacerdotium
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
116. As Ordenações Afonsinas
a) a divisão em 5 Livros e respectivo conteúdo
b) relevância do Livro II: hierarquia das fontes de direito e direito subsidiário
128. A Revolução Liberal de 1820: exigências dos revoltosos marcadas por ideais liberais
e democráticos
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Ana Beatriz Dias (2019/20)
a) influências sofridas
b) períodos de vigência
c) natureza radical dos seus conteúdos
d) princípios orientadores
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