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Roma era uma pequena cidade como qualquer outra da Antiguidade Clássica, teve como fundador Rómulo e
descendentes "Numa Pompílio, Túlio Ostilo e Anco Marzio", sendo depois o poder usurpado pelo nobre etrusco
"Tarquínio Prisco", sucedido por "Sérvio Túlio" que tenta re-institucionalizar o poder politico, mas findando com o
governo despótico de "Lucius Tarquinius Superbus" derrubado pela revolta encabeçada por "Bruto e Callatino".
Por influência grega trazida pelos etruscos, a adopção da táctica hoplite, dando prioridade á infantaria plebeia
e secundarizando a cavalaria determinou a ascensão da plebe e abriu uma brecha na superioridade do patriciado. A
organização do "exercitus centuriatus" permitiu a Roma expandir-se e transpor o "pomerium".
Foi o rei Sérvio Túlio que reorganizou a comunidade politica romana, assente na cidadania e com base no
censo, presidido inicialmente pelo "Rex" foi depois transferido em 443 a.c. para o "Censor", os plebeus podiam
ascender socialmente e conquistar um maior poder politico e o caminho era enriquecendo, na carreira de armas ou por
via do comércio, a oligarquia patrícia tinha que aceitar a ascensão dos plebeus que não se conformavam mais com
lugares subalternos.
- "Rex" - Era o titular do "imperium militae" e do "imperium domi", bem como o poder de mediação divina entre os
deuses e os homens, era um "rex sacrorum" dotado de poderes mágicos e por isso chefe da comunidade politica. Era
ele quem em vida interpretava os "auspicia". Não era eleito por um processo politico normal, mas sim escolhido pelos
deuses que revelavam a sua escolha por sinais nomeadamente o voo das aves, "auguratio", por via do "interrex"
escolhido pelo "senatus" de entre os senadores e que num prazo de 5 dias de entre um deles indicava o nome do novo
rei a propor aos "comitia curiata".
- "Senatus" - As suas competências no período monárquico eram o "interregnum", a "auctoritas" que permitia
ratificar as deliberações dos outros orgãos, o "ius belli et pacis" de concluir os tratados internacionais e
fundamentalmente como orgão de conselho e auxilio do "rex".
- "Comitia Curiata" - Teve origem nas três tribos ancestrais já existentes no tempo de Rómulo, os "Ramnes, Tities e
Luceres", aqui eram votadas as propostas de lei do rei, que uma vez aprovadas vigoravam como "leges regiae", era
também aqui que se aprovava o nome do novo "rex" proposto pelo "interrex" bem como aqui ocorria uma segunda
votação, "lex curiata de imperio", para reconhecimento e investidura do novo rei nos poderes de "imperium". Somente
com a "lex Valeria" de 300 a.c. foi possível a esta assembleia intervir a pedido do condenado para comutar a pena de
morte em pena de exílio.
- Colégio dos pontífices - Executavam os rituais litúrgicos supremos de Roma, desenvolviam o "ius" e o "fas" através
do exclusivo na interpretação dos "mores maiorum" e no exercício da jurisdição.
- Colégio dos áugures - Uma das formas de encontrar a expressão da vontade dos deuses era recorrendo aos
"auguria", procurando em todo o tipo de acontecimentos presságios, dizendo ao rei como e quando agir, podia ser
uma forma de afastar decisões nefastas afirmando que das mesmas adviriam efeitos negativos
Entende-se até ao inicio da vigência das "leges Liciniae Sextiae" em 367 a.c. sendo que depois da queda de
"Lucius Tarquinius Superbus", Roma passa a ser governada por dois chefes ao ano, ou "Praetors" ou "Consules", que
durante esse período exerciam funções e findado o mesmo respondiam por tudo o que tivessem feito no exercício do
cargo, a dualidade de pessoas também limitava o abuso do poder, podiam sofrer "intercessio" um do outro.
Em 504 a.c. o expansionismo etrusco sofre um sério revés com a derrota de "Arunte", filho de "Porsena" na
batalha de "Ariccia", frente aos gregos de "Cuma" chefiados por "Aristodemos", este facto irá ter efeitos na economia
romana até aqui em expansão, limitou a possibilidade de comercio que já se encontrava nas mãos dos plebeus e
determinou o regresso a uma economia agrícola com o inevitável retorno a uma estrutura de poder assente nos
proprietários fundiários patrícios e os plebeus não queriam voltar ao estatuto de trabalhadores agrícolas subordinados.
A tensão social aumenta com os plebeus numa situação de revolta para evitar o regresso à posição que tinham
antes da expansão comercial, o conflito entre patrícios e plebeus é aberto em 494 a.c., a luta dos plebeus chega a um
impasse com estes no monte Capitólio e os patrícios no monte Aventino. A luta pela paridade face ao Direito,
"aequatio iuris" e igualdade politica, os plebeus tinham liberdade mas eram privados de poder.
A parcialidade das sentenças estava fundada no exercício de um "imperium" pleno que caracterizava as
magistraturas e a "interpretatio" sacerdotal da vontade divina, a única maneira de alterar esta situação era vincular o
julgador a um conjunto de normas escritas que eram igualmente aplicadas quer a patrícios quer a plebeus.
Em 451 a.c. é eleito um primeiro decenvirato que não conclui o trabalho, sendo que eram somente patrícios, e
é eleito um segundo que terminou e publicou as leis decenvirais, este já incluindo plebeus, em 449 a.c. os dois novos
cônsules fizeram publicar a Lei das XII Tábuas e as três "leges Valeriae Horatiae".
Grande parte do conteúdo das lei das XII tábuas era "ius" com base nos "mores maiorum", comummente
aceite por todos, adquirindo a partir daqui meramente uma forma escrita.
"leges Valeriae Horatiae"
1ª "lex Valeria Horatia de plebiscitis", que dá força vinculativa ás deliberações das assembleias populares de todo o
"populus".
2ª "lex Valeria Horatia de provocatione", que proíbe a criação de novas magistraturas que não se encontravam
submetidas à "provocatio ad populum".
3ª "lex Valeria Horatia de tribunicia potestate", que reconheceu o carácter "sacertas" ás magistraturas plebeias e a
inviolabilidade da pessoa dos tribunos.
"provocatio ad populum"
Criado em principio pela "lex Valeria" de 509 a.c. foi criado um instituto assente na deliberação popular, uma forma
de recurso das penas mais graves, que inicialmente tomava lugar nos "comitia curiata" e depois passou para os
"comitia centuriata", permitia a um cidadão condenado à morte evitar a condenação instaurando este processo de
recurso.
"lex Canuleia"
Até à "lex Canuleia" de 450/445 a.c. o casamento entre patrícios e plebeus era proibido.
"leges Liciniae Sextiae"
Foram aprovadas em 367 a.c. e têm um significado quase mítico, pois formalizam as reivindicações históricas dos
plebeus quanto à paridade que consideravam necessária para se sentirem romanos em Roma. Entre elas talvez a mais
importante foi a abertura do consulado aos plebeus nessa mesma data
Não se deve considerar este período de republicano até porque não seria esta a vontade dos romanos, como
para se evitar aproveitamentos políticos.
O poder politico é exercido em nome da comunidade e entregue aos magistrados detentores de "imperium", ao
"senatus" detentor de "auctoritas" e ao "populus" aonde assenta a "maiestas".
As assembleias do "populus":
- "Comitia Curiata" - O "pontifex maximus" investia nestas assembleias o eleito no cargo, em ligação com a "lex
curiata de imperium", numa vestidura formal no poder de "imperium". Vinculada a tratar de questões de índole
sagrada deixa as decisões politicas para os "comitia centuriata".
- "Comitia Centuriata" - Foram as mais importantes assembleias populares de "res publica", convocadas por um
magistrado "cum imperio" e reunidas no campo "Martius". Aprovavam as declarações de guerra, elegiam "Consul,
Praetor, Dictator e Censor", aprovavam as leis aqui apostas pelos magistrados, formalizavam tratados de guerra e de
paz, e davam veredictos de vida ou de morte "iudicium".
- "Comitia Tributa" - A base destas assembleias era territorial, organizada por tribos e presidida por um magistrado
maior. Votavam leis sobre assuntos de menor relevância, elegiam os magistrados menores e os "tribuni militum", e
fixavam algumas penas pecuniárias "iudicium".
- "Concilia Plebis" - Com a "lex Hortensia" de 287 a.c. passaram a ter importantes competências legislativas na
cidade. Eram convocadas pelos magistrados plebeus, tribunos e "aediles plebis", que aqui eram eleitos, votavam os
"plebiscita" e exerciam o "iudicium" para os "crimina" puníveis com "multa".
Nota: "comitia curiata, centuriata e tributa" todo o "populus" os "concilia plebis" somente plebeus.
As magistraturas do "populus"
O "cursus honorum" organizava as magistraturas da base para o topo, "quaestor, aediles curules, praetor,
consul e censor" as magistraturas maiores tinham "imperium" e "potestas" as menores apenas "potestas" (pretor,
cônsul e censor eram as maiores mas o censor não tinha "imperium").
1º Temporalidade - Por regra o cargo era ocupado por um ano.
2º Pluralidade - O poder absoluto estava dividido pelas várias magistraturas.
3º Colegialidade e "par potestas" - Havia mais de um magistrado em cada magistratura e com "ius intercessionis"
recíproco.
4º Não repetição ou acumulação de cargos (ou repetição com intervalos temporais, excepto a censura).
No final do mandato tinham de dar conta do uso feito dos poderes conferidos sendo responsáveis por
eventuais "crimina" cometidos.
Havia dois importantes magistrados extraordinários, extra "cursus honorum", o tribuno da plebe e o
"dictator".
- "Quaestores" - Administravam o erário público, promoviam a supervisão das receitas fiscais e distribuíam os fundos
necessários para as despesas decididas pelos cônsules nos termos das directivas dadas pelo "senatus".
- "Aediles" - O plebeu foi pensado para ajudar o tribuno, guardava os arquivos e geria o tesouro depositado no monte
Aventino. Surgiu uma patrício-plebeia que estendeu a sua jurisdição ao policiamento de toda a cidade, supervisionava
a actividade dos mercados e controlava o abastecimento dos cereais, organizava as festas e os espectáculos públicos
sendo um bom elemento de propaganda.
- "Praetor" - Substituía o cônsul nos seus impedimentos, convocava as assembleias para a eleição dos magistrados
menores, apresentava leis para aprovação nos comícios, comandava por vezes o exército fora da cidade e
principalmente aplicava a justiça. Pretor Urbano, resolvia os problemas entre cidadãos romanos, o Pretor Peregrino
entre estes e peregrinos ou entre os segundos.
- "Consul" - "Suprema potestas et imperium maius: militae et domi" era o correspondente ao poder do "Rex" mas
limitado claro, sendo que nele cabiam todas as competências residuais que não coubessem expressamente aos outros
magistrados.
- "Censor" - Ocupada de inicio pelos patrícios com uma duração de cinco anos para exercer efectivamente funções
durante dezoito meses o tempo que demorava a fazer o recenseamento, era também quem exercia a censura dos
comportamentos dos romanos. Com o plebiscito Ovíneo em 312 a.c passou a ser o censor a eleger os senadores "lectio
senatus", estes agiam sempre em conjunto.
- "Dictator" - Não estava sujeito nem à "intercessio" tribunícia nem ao "provocatio ad populum" sendo que o
mandato durava durante o tempo da crise, mas nunca ultrapassando os seis meses, no fim do mandato não respondia
pelos seus actos, aquando do mesmo todas as outras magistraturas ficavam suspensas. Com medo da tirania os
romanos foram arranjando outras alternativas à sua nomeação ("senatusconsultum ultimum"). O senado deliberava
sobre a situação a enfrentar e o perfil de pessoa adequado, o cônsul indicava o nome da mesma.
- Tribuno da plebe - Visava proteger os interesses da plebe e tinha "intercessio" sobre todas as magistraturas excepto
o ditador, tinha o direito de presidir e convocar o "senatus". Estabelecia com os "concilia plebis" uma relação orgânica
convocando-os para analisar decisões politicas ou normativas.
O "senatus"
- "Senatus" - Escolhidos de inicio pelos "Consul" ou "tribuni militum" acabaram por ser escolhidos pelo "Censor".
Conduziam a politica externa, aprovavam despesas para operações militares, organizavam as províncias, fixavam os
cultos permitidos e auxiliavam o trabalho do "Consul".
1º "Interregnum", em períodos de dificuldade evitava o esvaziamento de poder.
2º "auctoritas patrum", confirmava as deliberações das outras assembleias, sendo que a partir de 339 a.c. com a "lex
Publilia Philonis" passa a ser aposta sob a proposta dos magistrados às assembleias.
3º "senatusconsultum", podia ser consultada por um magistrado a pedido deste para dar o seu parecer sobre algo, tendo
esse parecer validade jurídica, mas podendo ser interrompido por "intercessio" do "Consul" ou do tribuno da plebe.
O principado é a forma de designar uma tentativa politica de concretizar no governo de Roma uma síntese
entre instituições da "res publica" e outras de pendor monárquico, após as sucessivas guerras civis e as derivas
autoritárias de cônsules únicos e vitalícios consentidos pelo senado, não passou de uma forma pragmática de governar
assente no modelo de "Augustus" sujeita às características do titular do poder politico.
"Octavianus Augustus", exerceu o poder politico supremo a partir de 43 a.c. através de um triunvirato com um
mandato de cinco anos, depois renovado por um período de igual tempo. Em 33 a.c. esgotado o modelo ele intitula-se
"princeps" por "consensus universorum", sendo que a partir de 31 a.c. renova sem oposição os seus poderes de cônsul
único sobre a proclamada restauração das instituições da "res publica", no verão de 23 a.c. estão reunidas as condições
para levar a sua avante quando o "senatus" lhe outorga os poderes plenos do estado, já que recebera de forma não
forçada dos "comitia plebis" a "tribunicia potestas" vitalícia e dos "comitia centuriata" o "imperium proconsulare
maius".
Perdeu-se a motivação de percorrer o "cursus honorum", e com ele o sentido de estado, caiu por terra a base
jurídico-política das magistraturas, redundando o exercício do poder do "princeps" num exercício absoluto de
poderes, não houve qualquer rotura no plano sociopolítico, as instituições estavam lá mas esvaziadas.
A estrutura da "civitas" fundada nos "mores maiorum" é substituída pela "lex mundi".
O apaziguamento social resultou do aumento do número de funcionários burocratas ao serviço do "Estado" e
do crescimento económico fruto da paz que reinava.
"tribunicia potestas"
1º O poder de iniciativa na propositura das alterações "constitucionais".
2º O grau ou qualidade de "sacrosantus".
3º O poder de "intercessio" sobre qualquer acto de magistrados e do "senatus".
4º O "ius agendi cum plebe" podendo votar nos plebiscitos e convocar o senado com os poderes do tribuno da plebe.
"imperium proconsulare maius"
Adquire o comando militar supremo e uma extensão do seu poder até aos confins do Império "imperium
infinitum".
Nota: Como complemento tem também outros poderes de menor grau ou amplitude, mas igualmente importantes,
entre eles o de investir os pontífices, indicar as listas dos candidatos a magistrado a serem propostas às assembleias
"commendatio", o poder decidir o que era aceite como costume e controlar a legislação "cura legum et morum", etc.,
Gozava de imunidade absoluta "princeps legibus solutus" e expressava-se no plano normativo coma força de lei sendo
ele o "primus inter pares".
Sucessão do "princeps"
Não se socorrendo dos sistemas hereditários monárquicos, ou de eleição republicanos, ele como "primus inter
pares" assenta a sua sucessão, na sua própria vontade, favoráveis ao principio dinástico, ele indicava um vice-
"princeps" para ir aprendendo com ele como seu filho adoptivo. A sucessão deveria ser deliberada pelo senado e
confirmada pelo "populus", mas as instituições da "res publica" encontravam-se degradadas, passa a ser determinante
também a investidura pelo exército.
- Funcionalismo Público - Eram designados pelo "princeps" e não eram eleitos pelos cidadãos, concorriam muitas
vezes nos espaços das magistraturas, faziam carreira com nomeação por tempo indeterminado, exerciam funções sem
qualquer independência do "princeps" seu superior hierárquico. Ao invés do "cursus honorum" que assentava no
mérito estes eram designados pela simpatia do chefe.
A tetrarquia
Diocleciano ficou com o governo das preturas orientais, e Maximiano com as ocidentais, cada um com um
"caesares", os imperadores não deveriam envelhecer nos cargos renunciando a favor destes mantendo desta forma o
supremo comando da força armada no imperador de Roma e evitando o vazio de poder, mas isto falha e aquando da
morte de Constanço co-césar de Diocleciano para quem este já havia renunciado o poder, desencadeia-se uma luta
pelo poder com os exércitos a não respeitar os sucessores e impondo pela força a aclamação de Constantino em 285
filho de Constanço como imperador.
O Cristianismo
O édito de Milão de 313 torna o cristianismo livre e legitimo, abrindo o caminho para o tornar a religião
oficial, deixou de ser a seita perseguida por Diocleciano que punha em causa a unidade do império sob o poder de um
imperador "dominus et deus" para se tornar uma força de atracção de pessoas e classes dispersas para a órbita da coroa
romana.
O imperador reconhece a jurisdição dos bispos cristãos, doa terrenos à Igreja, apoia a construção de igrejas por
todo o território, são proibidas cerimónias pagãs e destruídos ou reconvertidos os templos considerados ofensivos, em
compensação a Igreja aceita a intervenção do imperador em matérias religiosas e da vida eclesiástica.
Parte temática
A noção de fontes de Direito
Parte-se do princípio que não há Direito sem fontes, logo estas são essenciais. O “ius Romanum” não é “ius”
por causa da sua fonte, a norma criada para ser Direito pelo poder político não é constituinte do jurídico e logo não
pode ser fonte de “ius”, em nenhum momento do designado Direito Romano Clássico o “constituens” do “ius”
correspondeu ou se identificou com as formas normativas de manifestação da “potestas”, os Romanos não
confundiam legitimidade com competência e a sua juridicidade fazia-se de “voluntas” e “ratio”, “veritas” e
“sophia”.
Logo as fontes de “ius”, de “iuris”, encontram-se separadas das fontes da “lex” no ensino do Direito Romano
assente numa periodização instrumental face ao desiderato de denunciar as leis promulgadas pelo poder politico seja
qual for a base da sua legitimação, não assentando somente no processo humano mas nas suas imputações religiosas e
carismáticas no “ius sacrum” e na “iurisprudentia”, o objectivo é denunciar como não-direito as leis injustas ou sem
preocupação de justiça.
Fonte de "ius" ≠ Facto Normativo, o “ius” não é a “lex” (pensamento fundamental para os Romanos).
Fonte de Direito = Um momento constituinte institucional que produz um norma positiva, mediante uma síntese de
“auctoritas” e “ratio”.
Fontes de Direito (em sentido amplo “ius + lex”) são o costume, lei, jurisprudência e éditos dos magistrado.
1- As fontes consuetudinárias do "ius Romanum"
Mores maiorum - Assentam numa tradição de comprovada moralidade, não dissociada da omnipresença da
religiosidade em todas as manifestações da vida social da Roma arcaica, de inicio as violações aos "mores maiorum"
eram sancionadas na esfera do "ius sacrum" não havendo distinção entre "ius" e "fas" nesta fase, algo que somente
sucedeu aquando da secularização do "ius" em 367 a.C. altura da instauração da pretura como uma magistratura
jurisdicional autónoma transitando do "ius pontificium" para o ius "praetorium" a solução justa de um conflito, sendo
que essa mesma transição da intermediação entre homens e deuses não debilitou os "mores maiorum", mesmo os
"iurisprudentes" da "res publica" não contestavam a sua "magna auctoritas" somente a vontade dos imperadores no
dominado posteriormente o conseguiu.
Tinha-se uma convicção de obrigatoriedade de uma prática reiterada de comprovada moralidade,
"consuetudo", não se tendo sequer consciência de se estar a aplicar uma regra ou norma, a hegemonia uniformizadora
dos "mores maiorum" termina com a Lei das XII Tábuas que no fundo os formalizou parcialmente mas não os
findando ai, eles eram legitimados pelo "populus".
Nota: Serviam para integrar lacunas e insuficiências da lei e abrogar tudo o que lhe fosse contrário com força
obrigatória.
2- As fontes de criação de "ius" na acção dos magistrados
Edictos do Pretor - o "edictum" era o programa das actividades a desenvolver pela pessoa que se apresentava para
exercer a magistratura de pretor, sendo fixado publicamente na apresentação da candidatura e antes do inicio das
funções, ele cria o "ius praetorium" que é a parte mais importante do "ius honorarium" e tem carácter normativo.
Eles valoravam o contexto, o elemento histórico e a relevância do meio onde os factos tinham ocorrido e das
circunstâncias que os determinaram e criavam a norma a aplicar por "auctoritas" própria.
Expedientes baseados no seu "imperium" (interpretando e corrigindo o "ius civile")
1 "stipulationes praetoriae" - "obligatio" entre o "stipulator" e o "promissor" (pergunta que carecia de resposta para
validação do negócio jurídico), quando faltava a pronunciação de um deles e entendendo o magistrado que a
"obligatio" merecia protecção impunha ele a "stipulatio" em falta.
2 "restitutio in integrum" - Situação oposta à anterior, sendo o contrato válido pelo "ius civile" mas resultando em algo
injusto ou desequilibrado o "Praetor" anula o negócio jurídico existindo uma restituição integral da situação anterior à
"stipulatio".
Após a "lex Aebutia de formulis" de 130 a.C. ele pode conceder uma "exceptio" ou uma "denegatio
actiones" ora inutilizando os efeitos do pedido do credor ou impedindo-o de exercer a sua "actio" contra o devedor
("actio" = serve para obrigar o devedor a cumprir a "obligatio").****
3 "missiones in possessionem" - É um embargo de bens, determinado como meio de coação de modo a obrigar o
visado a cumprir uma ordem por si determinada, "missio in rem" quando se destinava a uma só coisa (ou conjunto de
essa mesma coisa) e "missio in bona" se recaísse sobre o património ou um conjunto indeterminado de bens.
4 "interdicta" - Visa uma certa situação que aparenta carecer de protecção imediata, pode ser reapreciada a qualquer
momento, exibir uma coisa, proibi-la, restitui-la ou interditá-la.
O "edictum" - Acto normativo produtor de normas de carácter genérico, as suas decisões gerais ao abrigo do seu "ius
edicendi".
O "decretum" - Decisões judiciais do "princeps" nos processos "extra ordinem".
- Avocação - Poder do tribunal pelo "princeps" por sua iniciativa ou a pedido das partes.
- Recurso - Das sentenças para o "princeps".
- Delegação - De competências de jurisdição nos seus funcionários e delegados.
O "rescriptum" - Respostas dadas pelo imperador por escrito a questões jurídicas controversas a ele dirigidas sob a
forma de pareceres.
O "mandatum" - Primeiro como instruções dadas aos governadores das províncias e aos funcionários, depois como
regulamentos gerais que afectavam a vida dos cidadãos.
4- A criação de "ius" pela "auctoritas" dos "iurisprudentes"
Três etapas fundamentais da laicização/secularização da jurisprudência:
I - A positividade de preceitos de "ius civile" na lei das doze tábuas 450 a.C.
II - O "ius flavianum", revelação de regras e fórmulas até aqui guardadas em segredo 304 a.C.
- Cneu Flávio, escriba do pontífice "Appius Claudius Caecus" que era cego publica-as.
III - O ensino público do Direito.
- Em 300 a.C. "lex Ogulnia" permite o acesso dos plebeus ao colégio dos pontifícios, "Tiberius Carancanius" em 253
a.C. o primeiro a aceder ao cargo de "pontifex maximus" começa o seu ensino em público.
Secularizada a actividade dos "iurisprudentes" no séc. II a.C. esta concretiza-se em três momentos bem distintos:
I - "Respondere" - Consistia em dar às pessoas que o procuravam conselhos sobre a possibilidade de intentarem uma
"actio" ou darem pareceres em casos que envolvessem a interpretação do "ius civile".
II - "Cavere" - Elaboração de esquemas negociais, actividade de redigir formulários para os negócios jurídicos.
III - "Agere" - Actividade de assistência às pessoas que o procuravam sobre a via processual mais adequada a seguir
que era depois usada na defesa do interessado perante o "iudex".
Nota: A actividade jurisprudencial era gratuita e pública.
Mais tarde juntaram-se outras três actividades:
I - A actividade docente, ensinar o direito, depois de "Tiberius Carancanius".
II - A actividade polémica, dizer o Direito, através da "disputatio" que originou uma diversidade de opiniões.
III - A actividade literária, escrever o Direito iniciado com o "ius flavianum".
- "Institutiones" - Manuais elementares de ensino de Direito.
- "Epistolae" - Coletânea de pareceres sobre a forma de cartas.
- "Digesta" - Obras de casuística com grande extensão, funcionando como uma enciclopédia de direito vigente
sistematizada.
- Tratados - Exposições sistematizadas de "ius civile" cujo conteúdo era normalmente o comentário de obras já
publicadas de jurisprudentes anteriores
Dicotomias:
"ius" / "fas"
O "ius" prende-se à noção de direito ("ius" + "lex"), o "fas" compreende as regras ditadas pelos deuses aos reis e aos
sacerdotes para serem cumpridas pelos romanos como actos sagrados. O "ius" resulta do "fas", a sua obrigatoriedade deriva dele e
a busca dos "mores maiorum" assenta na sua "interpretatio".
"ius publicum" / "ius privatum"
Direito público e direito privado, "Ulpiano" a titulo de exemplo defendia a teoria dos interesses (IED = opinião de MRS).
"ius civile" / "ius honorarium"
Direito que tem como origem os "mores maiorum" aplicável unicamente aos "cives" ou a actividade dos magistrados
tendo como seu expoente o "ius praetorium" muito mais flexível e inclusive aplicável aos não romanos.
"ius naturale" / "ius gentium"
O conceito de direito natural traduz-se na existência de um direito fundado na natureza das coisas e em último tempo na
vontade divina, no direito justo, entendido como um direito ideal e supra positivo, integrado por princípios ou regras que curam
essencialmente do justo, permitindo aferir da legitimidade do próprio direito positivo.
Os princípios que compõem o direito natural podem ser entendidos como fixos, absolutos e intemporais, ou, antes, como
um conteúdo relativo e contingente consoante as diferentes épocas e culturas e cuja variabilidade exprimirá, aliás, a própria
variabilidade dos valores essenciais da vida, "uma realidade que existe independentemente do pensar ou querer".
O "ius gentium" por seu lado é um direito positivo aplicado a todos os povos e criado pelo "praetor peregrinus".