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PRIMEIRA PARTE

JESUS CRISTO É O
SENHOR DE MINHA VIDA
"Tende em vós o mesmo sentimento que houve
também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em
forma de Deus, não julgou como usurpação o ser
igual a Deus antes a si mesmo se esvaziou, assu-
mindo a forma de servo, tornando-se em seme-
lhança de homens; e, reconhecido em figura hu-
mana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obe-
diente até a morte, e morte de cruz. Pelo que
também Deus o exaltou sobremaneira lhe deu o
nome que está acima de todo nome para que ao
nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na
terra e debaixo da terra, e toda língua confesse
que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus
Pai"
(F ILIPENSES 2.5-11)
3

1 - JESUS CRISTO É O S ENHOR DE MINHA VIDA


A L G U N S E S TU D I O S O S D A B Í B L I A A S S I N A L A M
com a possibilidade de que a passagem de
Filipenses 2 tenha sido uma antiga canção
entoada nas reuniões da Igreja Primitiva. Não
se sabe se a mesma foi tomada da epístola, ou
se Paulo, ao escrevê-la, a incluiu ou parafra-
seou em sua carta. De qualquer modo está ali,
e portanto, é revelação de Deus para nós. Na
passagem o versículo 11 revela a mensagem
central: "e toda língua confesse que Jesus
Cristo é Senho r, para glória de Deus Pai."
A palavra-chave é: Senhor. Temos, pois,
uma passagem básica, uma mensagem central
e uma palavra-chave. Todo este estudo girará
em torno dessa palavra-chave. Para enten-
dê-la bem, devemos compreender o texto, si-
tuando-o dentro da passagem.

A SI Mesmo se Humilhou
Examinemos primeiro a passagem. "Tende
em vós...", diz Paulo, "o mesmo sentimento que
houve em Cristo Jesus." Em seguida, começa a
descrever o sentir de Cristo: "...o qual, embora
4

Deus, não considerou que o ser igual a Deus


era algo a que devia apegar-se." 1
Cristo, antes de nascer, já existia em forma
de Deus. Ele era Deus. "Noprincípio era a Pa-
lavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra
era Deus. " 2 Cristo, subsistindo em forma de
Deus, não julgou ser igual a Deus, porém,
despojou-Se, desligou-Se de Sua condição de
Deus e, ao fazê-lo, veio ao mundo como ho-
mem, na condição de homem. Deus, o Ser su-
premo de todo o Universo, o Criador, tomou
forma de criatura. Este sentir que houve em
Cristo é o que deve haver em nós.
Existem seres superiores e seres inferiores
a nós. Como homens, todos desejamos nos
superar, evoluir, crescer; ninguém deseja cair.
A seguinte pergunta o ajudará a entender o
sentir que houve em Cristo: você gostaria de
deixar de ser o que é, para se transformar em
um cachorro? Sua reação imediata seria: "Por
favor! Eu sou homem!".
Sabe o que está acontecendo com você
nesse instante? Está apegado a sua condição;
não quer desprender-se daquilo que você é.
Mas tenho mais uma pergunta: você gostaria
5

de ser uma formiga? A reação é ainda maior


porque tem que se descer ainda mais.
Deus fez-Se homem. Seu salto de humilha-
ção fazendo-Se homem é maior que o do ho-
mem fazendo-se formiga, porque afinal, ho-
mem e formiga são seres criados, enquanto
que, em Seu caso, o Criador teve de fazer-Se
criatura e descer, humilhar-Se e vir a Terra.
Estando nesta condição Ele poderia ter di-
to: "Atenção! Sou homem...mas também Sou
Deus. Eu vim para que me sirvam; portanto,
todos passem a me servir!"
Entretanto, Ele não veio para ser servido
mas, para servir. E estando como homem, en-
tre os homens, ainda Se humilhou entre eles,
tomando a forma de servo. Toda a Sua vida foi
de serviço. No aposento superior pegou a to-
alha e a bacia, ajoelhou-Se para lavar os pés
sujos de Seus discípulos. Essa tarefa, que ca-
bia ao escravo mais indigno, foi feita por Ele,
pois desceu para servir.
Sendo Deus, fez-Se homem; sendo homem,
fez-Se servo. Porém ainda existe um outro
degrau nessa descida de Cristo: sendo servo,
humilhou-Se a Si mesmo, fazendo-Se obedi-
ente até a morte, e não era qualquer morte
6

mas, morte de cruz. Cristo desceu ao lugar


mais baixo porque não há, em todo o Univer-
so, lugar pior que aquele, onde se recebe a
maldição divina. De fato, Ele carregou no Cal-
vário a maldição sobre Si; foi feito pecado por
nós. O Ser mais alto do Universo desceu até o
lugar mais baixo. Todos os nossos infernos
caíram sobre o Filho de Deus naquela cruz!

DEUS O EXALTOU
O versículo 9 continua dizendo: "Por isso
[por sentir que Cristo humilhou-Se ao extre-
mo] Deus o exaltou sobremaneira." 3 Ele Se
humilhou. Que diferente de nós! Sempre bus-
camos um pouco mais de destaque: "Senhor,
concede-me que em teu Reino me sente a tua
direita...Senhor, quem será o maior?..." Sem-
pre queremos subir. Cristo disse: "Eu lhes dei
exemplo, para que vocês façam como lhes fiz.'*
E o apóstolo Paulo apela: "Seja a titude de vo-
cês a mesma de Cristo Jesus."
O Pai exaltou a Cristo. Por quê? Por Sua
humilhação. Ele mesmo ensinou aos Seus que
aquele que se humilha será exaltado, e o que
se exalta será humilhado. Em Sua exaltação,
Cristo recebeu do Pai duas coisas: primeiro, o
7

lugar de sumo destaque. A palavra sumo tem


a mesma raiz que somar. Sumo quer dizer a
soma de todas as somas, o lugar mais elevado.
Cristo recebeu esse lugar do Pai.
Segundo, recebeu um nome que é sobre
todo o nome. É um nome tal, que diante dele
todo joelho se dobrará - dos que estão nos
Céus: anjos e redimidos; dos que estão na
Terra: homens, crentes, pecadores e também
ateus; e dos que estão debaixo da Terra:
mortos, demônios e todos os seres do Uni-
verso, seres dos infernos e dos ares. Ou seja,
todos os seres do mundo - anjos, demônios e
homens - dobrarão seus joelhos ante a men-
ção deste título supremo que o Pai deu ao Fi-
lho quando O exaltou. E toda língua confes-
sará que JESUS CRISTO É O SENHOR! Para a
glória de Deus Pai.

O NOME SOBRE TODO NOME


O nome "Senhor" é o tema central de nosso
estudo; um nome que está sobre todos os
nomes que existem no Universo. Abra a enci-
clopédia mais completa e procure o nome
mais elevado quanto a categoria ou hierar-
quia. Sobre ele há, ainda, um nome infinita-
8

mente mais importante: é o nome que o Pai


deu ao Filho ao exaltá-Lo à Sua direita. Cristo
tem centenas de nomes preciosos. A maioria
de nossas canções falam deles: o Lírio dos
Vales, a Rosa de Saron, a Estrela da Manhã, o
Esplendor de Sua Glória, o Sol da Justiça, o
Bom Pastor, o Redentor.
Isaías, inspirado por Deus, o chamou
"Emanuel". E em outra ocasião: Admirável,
Conselheiro, Príncipe da Paz. Quando nasceu,
um anjo pronunciou Seu nome: Jesus, Salva-
dor. Ao ser batizado no Jordão, o Céu se abriu
e o Pai Lhe deu ainda outro nome: Filho
Amado. Que nome!
Porém, entre os nomes de Cristo, há um
que está sobre todos os demais. É o título que
o Pai Lhe conferiu no momento em que, tendo
ressuscitado, subiu aos Céus, e foi exaltado e
assentado em trono de majestade nas alturas.
Qual é esse nome? "Senhor". Jesus é Seu nome
histórico. Cristo, Seu nome profético. A Jesus
Cristo - este personagem histórico que é o
cumprimento profético - o Pai deu o título de
"Senhor". Este é o nome mais elevado de
Cristo.
9

Sem dúvida, nos dias de hoje, "Senhor" não


parece um nome importante. A qualquer pes-
soa chama-se de "senhor": senhor Pereira,
senhor Rodrigues. Sendo este um nome tão
nobre, por que tornou-se de uso comum? Com
o tempo as palavras sofrem modificações
quanto ao seu significado. Exemplo disto
ocorre com a palavra "crer". No dia a dia lhe
damos outro significado.
Pergunto a alguém:
"Você acha que vai chover?"
"Creio que sim."
Acabamos usando "creio", no lugar de "pa-
rece". Em contrapartida, em linguagem bíbli-
ca, "creio" indica uma firme fé, nunca um ti-
tubeio.
Isto também se dá com a palavra "senhor".
Hoje, qualquer um é "senhor". Antigamente
porém, não se chamava assim a qualquer
pessoa. Era um título que poucos possuíam. E
quando alguém o tinha, era realmente digno
de respeito. Porém, como Paulo não escreveu
suas epístolas em português, mas, em grego,
avançaremos muito mais verificando a origem
da palavra naquele idioma.
10

Em grego aparece assim: Jesus Cristo é o


Kyrios. Assim consta nos manuscritos: Jesus
Cristo é o Kyrios. Como poderíamos traduzir
Kyrios para o português de tal modo que te-
nha plena compreensão? É um nome tão am-
plo e precioso que um único termo é insufi-
ciente para traduzi-lo. Requer-se a soma de
várias palavras para se chegar ao seu signifi-
cado pleno:
Chefe + Dono + Amo + Soberano + Máxima
Autoridade Kyrios (Senhor)
De modo que quando alguém confessa:
"Jesus Cristo é meu Senhor", está dizendo:
"Jesus é meu chefe, o que manda em minha
vida; é também meu dono, meu patrão, meu
proprietário; eu sou d'Ele. Tudo o que sou e
tenho pertence a Jesus Cristo; Ele é meu
amo." Relacionamos a palavra amo com seu
antônimo, escravo. Mas, desde que a escrava-
tura foi abolida, esse termo caiu em desuso.
Nos tempos de Jesus foi um termo muito for-
te. O amo era o dono da vida de seu servo.
Tinha o direito até de tirar-lhe a vida. E Jesus
é o amo. Ademais, senhor significa "sobera-
no", o que está sobre tudo. Nada escapa a seu
controle. Ele rege e é a máxima - e indiscutí-
11

vel - autoridade. Então, ao dizermos "Cristo é


o Senhor", quanto estamos dizendo!
Vejamos como se usava a palavra kyrios
nos dias do Império Romano. Essa palavra
tinha dois significados. Em primeiro lugar, no
sentido corrente (digamos, kyrios com mi-
núscula) se usava para designar a toda pessoa
rica, com muitas propriedades, que tinha es-
cravos sob sua autoridade. Na verdade, havia
muitos escravos no império, e cada um tinha
um kyrios sobre si, alguém que era seu chefe,
seu dono, seu amo, seu soberano, a máxima
autoridade de sua vida.
O oposto de kyrios é escravo. Assim como
não pode haver esposo sem esposa, nem pai
sem filho, tampouco pode haver kyrios sem
escravo. Um escravo poderia apresentar-se
diante de seu kyrios para dizer-lhe: "Que or-
dena meu kyrios ao seu servo?"
O kyrios responderia dando-lhe uma or-
dem, uma instrução qualquer:
"Vá à praça e contrate mais dez bóias-frias
para a colheita; vá ao curral e ordene a tos-
quia de cem ovelhas...".
A vida do escravo consistia em dar fiel
cumprimento às palavras que saíam da boca
12

de seu senhor. O que o senhor dizia, o escravo


atendia ao pé da letra. A atitude constante do
escravo era: "Que ordena o meu kyrios ao seu
servo?

ESCRAVOS DE JESUS CRISTO


Paulo declarou: "Eu também sou um es-
cravo, ainda que não de homens. Tenho um
kyrios; sou escravo de Jesus Cristo, pelo amor
do qual perdi tudo, mas o que perdi não signi-
fica nada, porque ganhei a Ele e Ele é o meu
Senhor". Paulo se comportava diante de seu
Senhor como um escravo fiel frente a seu
kyrios. E desde o primeiro dia de sua conver-
são. Recordemos quais foram suas primeiras
palavras quando se rendeu a Ele. Caindo ao
chão, tremendo e temeroso, disse: "Quem és tu
Kyrios?" 6 Disse isto no instante de sua con-
versão, porém seguiu repetindo essa frase a
cada dia, a cada momento de sua vida.
O Kyrios respondeu: "Levante-se, entre na
cidade..." 7 . E Paulo se levantou para fazer
exatamente o ordenado por seu Senhor. Al-
guma vez você orou dizendo: "Senhor, o que
queres que eu faça?". Todos o temos feito,
porém, qual a diferença entre Paulo e nós? A
13

diferença é que enquanto ele obedecia inte-


gralmente, nós nos levantamos e fazemos o
que queremos.
Naquela época, quando um escravo escre-
via uma carta devia assinar seu nome e
acrescentar: "escravo de ..." colocando ali o
nome de seu amo. As cartas não eram assina-
das no final, como agora, mas no começo. Em
certo aspecto era melhor, porque hoje ao re-
cebermos uma carta, a primeira coisa que fa-
zemos é virarmos a folha para vermos quem a
assina. Somente então começamos a lê-la. Por
exemplo, se alguém chamado João era escravo
de um tal André, começava sua carta assim:
"João, escravo de André a fulano de tal, o sa-
úda, etc." Observemos como Paulo assinava
suas cartas. Filipenses 1.1: "Paulo e Timóteo,
servos de Cristo Jesus..." Em grego a palavra
significa mais que servos, significa: escravos.
Eis aqui a assinatura. E Paulo não a falsificou;
estava dizendo a verdade. Eles eram escravos
de Jesus Cristo.

CÉSAR É O KYRIOS (SENHOR)


Temos analisado o primeiro significado da
palavra kyrios (senhor). Sem dúvida, no sen-
14

tido absoluto do termo, em todo o Império


Romano havia uma única pessoa digna de
possuir o título de kyrios. Essa pessoa era Cé-
sar, o Imperador. "César é o kyrios" era uma
saudação comum. Tal era a força que se quis
imprimir a essa declaração que durante certo
tempo foi uma saudação obrigatória do Impé-
rio Romano.
Quando um cidadão romano se encontrava
com outro, saudava-o levantando uma mão e
dizendo: "César é o kyrios". E o outro, por sua
vez, respondia: "César é o kyrios".
Quantas vezes por dia saudamos pessoas
dizendo-lhes: "Bom dia," "Boa tarde," "Boa
noite"? Tantas vezes eles deviam pronunciar
aquela frase: "César é kyrios". Que propagan-
da!
Muito melhor do que se fosse feita por rá-
dio ou televisão! Em todo o Império, o dia in-
teiro, por todas as partes se repetia: "César é
o kyrios...César é o kyrios".
As vezes se encontrava alguém que em vez
de responder "César é o kyrios," dizia: "Jesus
Cristo é o Kyrios".
15

"Como? Quem? Estás reconhecendo a outro


senhor, além de César?! Prendam-no! Cadeia!
À fogueira! Às feras!".
Aqueles primeiros cristãos eram homens
que preferiam confessar que Cristo era o Se-
nhor, e morrer, se necessário, a seguirem vi-
vendo negando-O. Compreendiam muito bem
as palavras do mestre:
"Quem, pois, me confessar diante dos ho-
mens, eu também o confessarei diante do meu
Pai que está nos céus. Mas aquele que me ne-
gar diante dos homens, eu também o negarei
diante de meu Pai que está nos céus." 8
Verdadeiramente César era o kyrios de to-
do o Império Romano, o chefe, o que manda-
va, o dono de todo o Império, de todo seu ter-
ritório. Ainda que alguém tivesse proprieda-
des, terrenos, etc., em seu próprio nome, isso
era apenas para permitir uma melhor admi-
nistração econômica do Império. Em última
instância, tudo pertencia a César. Quando ele
dizia: "Quero vinte hectares de tal setor da
cidade para fazer uma praça," não tinha que
pagar indenização a ninguém. Era o dono. Por
isso quando perguntaram a Cristo se deviam
pagar imposto a César, Ele respondeu: "Mos-
16

trem-me uma moeda...De quem é esta ima-


gem?"
"De César", responderam.
"Dai a César o que é de César", concluiu Je-
sus.
Todas as moedas do Império tinham a
imagem de César gravada, porque todo o di-
nheiro e o Império eram de sua propriedade.
Cada qual tinha em seu próprio poder di-
nheiro somente para tornar possível o de-
senvolvimento econômico em geral. César
havia se constituído o amo de todas as almas
que viviam sob o seu domínio. Dispunha de
cada pessoa como queria. Não era necessário
passar pelos tribunais para ser condenado à
morte. Consta que certo dia disse: "A praça
está muito mal iluminada. Quero maior ilu-
minação. Tragam quarenta tochas mais. Po-
rém, que estas sejam homens; dos cristãos
que estão no cárcere."
Trouxeram, então, quarenta cristãos,
amarraram-nos aos postes da praça, cobri-
ram- nos de alcatrão e lhes atearam fogo. Cé-
sar podia fazer o que quisesse. Era o amo, o
kyrios.
17

Que força tinha, então, a palavra kyrios


naqueles dias! Representava o soberano, a
máxima autoridade do Império. Durante os
dias desse Império, Paulo vislumbrou outro
Império que começava a tomar força e a es-
tender-se sobre a Terra: o Império de Jesus
Cristo. Onde quer que estabelecesse igrejas o
fazia sobre este fundamento: Jesus Cristo é o
Senhor. Cada pessoa que se agregava à Primi-
tiva comunidade cristã, reconhecia que Cristo
era o Senhor de sua vida.
"Há outro império...", dizia Paulo, "...outro
Reino, o Reino de Deus. E Seu trono subsiste
para todo o sempre." 9

O EVANGELHO DO REINO DE DEUS


O nome kyrios marca a tremenda diferença
entre as primeiras congregações e as nossas.
Deus hoje está restaurando este nome, vol-
tando a colocá-lo em seu devido lugar. Quan-
do este nome resplandeceu diante de meus
olhos e o Espírito de Deus me revelou Sua
transcendental importância, comecei a ler de
novo os Evangelhos. Tive desejo de voltar a
estudar como Cristo pregava, como Ele evan-
gelizava. Depois de tê-lo feito já ao longo de
18

oito anos em praças, parques, trens, hospitais,


congregações e campanhas, eu queria agora,
como um menino, aprender de Jesus a pregar
o Evangelho como Ele o fazia. Acabei surpre-
so, envergonhado e maravilhado. Eu me per-
guntei: "De onde tirei esta maneira de pre-
gar?" Jesus Cristo nunca usou nossos méto-
dos, nem nosso enfoque. Jamais pregou à
nossa maneira. Nunca perguntou: "Quem quer
ser salvo? Levante a mão...Não precisa pagar
nada." Não fez ofertas. Sua proclamação foi:
"Arrependei-vos... o Reino de Deus está pró-
ximo".
Tratava-se de um Reino. Um Reino que vi-
nha aos indivíduos. Mas como? Na pessoa do
Rei. Quando Cristo Se aproximava de alguém,
colocava-o diante de uma decisão: entrar no
Reino ou permanecer fora deste.
Como entrar? Subordinando-se, sujeitando-
se à autoridade do Rei. Cristo enfrentava aos
homens com Sua própria autoridade: "Sujei-
te-se a mim ou não; reconheça-me como o
kyrios de sua vida ou não."
SIMÃO E ANDRÉ
Alguns exemplos nos ajudarão a enten-
dermos melhor. Cristo anda pelas ruas de Ca-
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farnaum, Galiléia. Aproxima-se da orla do


mar. A certa distância estão dois homens
pescando; ganhando a vida. Cristo se detém e
os observa. Um é Pedro; o outro, André. Ao
sentirem-se observados levantam a vista e
deparam-se com o olhar de Jesus. Quando os
olhares se cruzam, Cristo lhes dá uma ordem
com toda autoridade: "Sigam-me, e eu os farei
pescadores de homens." 10 Não lhes disse:
"Olha, se vocês viessem atrás de mim eu os
faria pescadores de homens". Tampouco:
"Quem de vocês quer vir após mim? Levante a
mão." Jesus não entra em detalhes, nem em
explicações. Pedro e André deparam-se com
uma ordem. Que se faz com uma ordem? Bem,
ou a obedecemos, ou não. Não há outra alter-
nativa.
Pedro poderia ter reagido assim: "Mas, e
esse quem é? O que pretende? Eu sou dono e
senhor de minha vida. Até agora ninguém me
deu ordens. Como vem este me ordenando
que o siga?" No entanto, não foi essa a sua
atitude.
Tudo quanto Pedro e André entendem é
que devem deixar o que estão fazendo e se-
guir a Jesus.
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E quanto a converterem-se em "pescadores


de homens", certamente não haviam entendi-
do nada. Seria como se alguém me dissesse
hoje: "Vem, segue-me, vou te fazer sapateiro
de almas". Sapateiro de almas? Que é isso?
Assim soou a eles aquele "pescadores de ho-
mens". Nós, familiarizados com a linguagem
bíblica, agora entendemos o que significa
aquela expressão do Senhor. Cristo não lhes
dá explicações; simplesmente os põe diante
de um dilema. É certo que Pedro, como dono e
senhor de sua vida, faz o que quer. Porém,
agora, há outro diante dele que pretende
converter-se em dono e Senhor de sua vida. E
suas palavras ecoam com autoridade. Uma
resistência se produz no interior de Pedro e
finalmente algo se rompe nele, também em
André - suas vontades próprias. Ambos dei-
xam então suas redes e seguem a Jesus.
Que isso significa para eles? Simplesmente
uma coisa: "Agora nos sujeitamos a Jesus. Ele
é quem manda em nossas vidas." Se Pedro
tivesse de testemunhar aquela experiência,
diria: "Até aquele momento, eu era dono e
senhor de minha vida; desde então, Cristo é o
meu Senhor".
21

MATEUS
Num outro dia, no mesmo povoado, Jesus
cura um paralítico. As pessoas ficam maravi-
lhadas e O seguem. Este, ao passar por certo
lugar se detém. No caminho, em um rústico
estabelecimento, um cartaz anuncia: "co-
bram-se impostos para o Império Romano".
Há um homem sentado, cobrando, fazendo
cálculos e listas. É Mateus. Alguns esperam a
vez para pagar seus impostos. Cristo, rodeado
de gente, de detém diante dele. Mateus se
surpreende. "Que acontece? Todos vieram
pagar?" Logo descobre que todos os olhares
caem sobre ele. No meio do grupo há alguém
cuja personalidade é diferente, olhando-o com
ternura e firmeza: é Jesus. Mateus fica atento
esperando ouvir algo. Cristo não lhe disse:
"Você tem que saber quatro coisas. Primeiro,
que Deus é amor; segundo, que és pecador;
terceiro, que eu vou morrer pelos teus peca-
dos; quarto, se me reconheceres como teu
Salvador pessoal, serás salvo."
Não! Cristo pronuncia só uma palavra: "Si-
ga-me!"
Mas, coloque-se por um momento no lugar
de Mateus. Você está trabalhando; alguém
22

pára à sua frente e com autoridade lhe diz:


"Siga-me." "Mas, o que significa isto? O que
esse homem quer?" Seria inevitável certo
desconforto.
Mateus quer responder, porém, em seu in-
terior, como um eco constante segue resso-
ando essa palavra: "Siga-me!"... "Siga-me!" Ele
pensa: "Até agora ninguém havia me dado
ordens. Quem é Ele? Por que segui-Lo? Para
quê?" Quer responder, porém se detém. "Você
pode voltar mais ou menos às seis, quando
fecho o estabelecimento?" Não, não pode. Isso
é uma ordem. Não se podem colocar condi-
ções, nem questionar, nem perguntar. Se-
gue-se ou não; obedece-se ou não. "E se vol-
tasse no fim do mês, assim terei tempo de en-
tregar os relatórios e pedir demissão...?"
Há uma luta dentro dele mesmo; sua per-
sonalidade não sujeita a Deus, resiste em
obedecer. Porém, algo está cedendo e quer
romper...e finalmente se rompe. Mateus se
põe em pé, empurra a mesa e começa a seguir
Jesus. Isso é tudo. Talvez o chefe da repartição
tenha lhe dito:
"Mateus, aonde vais?"
"Seguir a Jesus."
23

"Mas, Mateus, e o trabalho?"


"Agora, Ele é meu chefe."
"Você vai voltar?"
"Não sei. Farei o que Ele me disser."
"Mas, Mateus..."
"Ele manda em minha vida."
"Mateus, você enlouqueceu?!"
Sim, para o mundo, uma loucura. Para os
que crêem e obedecem, poder de Deus. Ma-
teus poderia sintetizar sua experiência desta
maneira: "Até este momento eu mandava em
minha vida.
Agora, manda Cristo." Todo o seu ser está a
disposição de Cristo a partir desse instante.
Essa é a essência da conversão.

ZAQUEU
Em Jerico vive um homem de baixa estatura
chamado Zaqueu. 12 Ele quer muito ver Jesus,
mas não consegue: é muito pequeno. Pretende
conseguir isso de qualquer maneira. Calcula
por onde Ele pode passar, sobe numa árvore e
espera o grande momento. "Vou satisfazer
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meu desejo. Vou vê-lo como se estivesse nu-


ma platéia."
E ali vem Cristo, rodeado de gente. Avança
lentamente. Zaqueu está ansioso... Aproxima-
se...Já consegue ouvir... Toda a caravana, com
Cristo ao centro, passa bem debaixo de sua
árvore. Seu coração palpita como nunca. "Fi-
nalmente O vejo! Finalmente O escuto!"
De repente Cristo se detém bem ali. A ca-
ravana também. Cristo olha para cima. Todos
fazem o mesmo. Vêem a Zaqueu. Que vergo-
nha! Um homem como ele trepado numa ár-
vore! Cristo lhe diz: "Zaqueu...", e ele, maravi-
lhado, se pergunta: "Como sabe o meu nome?"
Aumenta a expectativa em seu coração. Segue
escutando: "...desce depressa. Devo ficar em
sua casa hoje." Não lhe diz: "Zaqueu, você po-
de me receber em sua casa?" Não, dá-lhe uma
ordem: "Desce..." e pronto, "...devo ficar hoje
em sua casa." O que Cristo estará querendo
fazer? O mesmo de sempre. Sua ordem põe
Zaqueu diante das indagações: "E este, quem
é? Está certo que faça milagres e tudo o mais
mas, em minha casa, mando eu. Por sua pró-
pria conta decide vir a minha casa, obriga-me
a descer e ainda exige que seja depressa!"
25

É como se eu lhe dissesse: "Esta noite vou


jantar na tua casa. Então, ande logo!" Você me
responderia: "Ei, um momentinho aí! Em mi-
nha casa mando eu. Você vem quando eu con-
vidá- lo." Lógico!
Zaqueu ainda está em cima da árvore. Po-
rém está, muito mais, diante da porta do Rei-
no de Deus. Assim, Zaqueu perturba-se. Não
sabe o que fazer; acocorado ali na copa da
árvore não consegue reagir, dizer nada; po-
rém, em seu interior, aquela personalidade
não-sujeita a Deus começa a trincar, a ruir,
até que, por fim, se despedaça! Desce, então,
da árvore e vai correndo para casa.
"Querida, querida! Onde você está? Rápido!
Você precisa varrer a sala e ajeitar as cadei-
ras. Prepare algo e sirva a mesa. Rápido! Que
Jesus está vindo!"
"Zaqueu, o que deu em você? - pergunta a
mulher alarmada.
"Mulher, não há tempo...Ele já está vindo
para cá!"
"Mas, quem está vindo?"
"Jesus!"
"Quem? Jesus?! E você O convidou?"
26

"Não, eu não O convidei."


"Então...?!"
"Ele mesmo Se convidou!"
"Zaqueu, espere! Pense um pouco! Você
perdeu a cabeça? Como Ele está vindo se você
não O convidou? Quem manda nesta casa?
Essa é a pergunta! Quem manda? Zaqueu
inclina a cabeça e diz de modo quase solene:
"Até hoje, foi eu, Zaqueu. De agora em di-
ante, Jesus."
Logo Cristo chega. Senta-se à mesa. Em
dado momento Zaqueu não se contém mais,
coloca-se de pé e diz ao Senhor: "A metade de
meus bens doarei aos pobres, e aos que rou-
bei devolverei quatro vezes mais".
Quem o ensinou tudo isto? Como experi-
mentou tal mudança? É que agora é outro
quem manda e ele reconhece. Cristo então
disse: "Hoje houve salvação nesta casa!... Pois
o Filho do homem veio buscar e salvar o que
estava perdido." 13 Quando o homem perdido e
rebelde - que não quer ceder à vontade de
Deus - repentinamente muda a sua atitude e
sujeita-se a Ele, encontra a salvação. Sem dú-
vida, nem todos reagem assim, pois ainda que
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Cristo ordene, Ele não obriga. A resposta vem


da parte do homem.

O JOVEM RICO
Certa vez se aproxima de Jesus um homem
muito rico e lhe diz: "Bom mestre, que tenho
de fazer para obter a vida eterna?"
"Guarda os mandamentos", diz-lhe Jesus.
"Quais mandamentos, mestre?"
Cristo enumera alguns e com certa satisfa-
ção o jovem responde: "Tudo isto tenho
guardado desde minha juventude. Que me
falta ainda?"
"Uma coisa ainda te falta, apenas uma."
"Que coisa, mestre?"
"Vende o que tens, dá-o aos pobres...então
vem, e segue-me".
Ouvindo isso o jovem se entristece. Ele é
muito rico.
Mas, Senhor, que estás dizendo? Para al-
guém receber a vida eterna precisa vender
tudo o que tem? Se eu estivesse entre os dis-
cípulos, com minha antiga mentalidade, tal-
vez tivesse dito a Cristo: "Mestre, permita-me
28

uma palavra. Isso que acabaste de dizer ao


jovem não é bíblico! Onde a Bíblia menciona
que para alguém entrar no Reino de Deus
precisa vender tudo o que possui? Acaso não
é gratuita a salvação?"
O jovem se encontra diante da porta do
Reino, quase entra, mas... não. Toma uma
atitude que parece dizer: "O que eu tenho é
meu. Eu sou o dono e senhor de minha vida e
de minhas propriedades. Assim, dá
meia-volta, olha Jesus pela última vez e se
afasta mergulhando em tristeza e trevas.
Cristo fica olhando para ele. "Pobre rapaz!
Parecia estar tão perto, porém, não pode en-
trar." E quando seu vulto se perde na distân-
cia, Cristo suspira e diz: "Digo-lhes a verdade:
dificilmente um rico entrará no Reino dos
céus."
Isto significa que para entrar no Reino de
Deus temos que vender tudo o que possuí-
mos? Entrar no Reino não é questão de ven-
der ou comprar; há um só requisito: reconhe-
cer a Cristo como Senhor da vida. Se Cristo é o
meu senhor, é Senhor de tudo o que sou e te-
nho. Porém, se não é meu Senhor integral-
29

mente, com certeza não é meu Senhor. Este é


o conflito que faz sucumbir o jovem rico.
Cristo disse a um outro jovem: "Siga-me."
"Senhor, deixa-me primeiro ir sepultar o meu
pai" 15 , pediu ele. Que diríamos nós em tais
circunstâncias? "Oh, meus sentimentos. Va-
mos orar por você. Vá para lá sem demora".
Cristo, ao contrário, disse: "Siga-me, e deixe
que os mortos sepultem os seus próprios mor-
tos."
Que exagerado me parecia, antes, o pedido
de Cristo a este jovem! Agora entendo que
Jesus pregava o Evangelho do Reino, no qual,
conversão significa total rendição à Sua auto-
ridade. Nem uma única vez Jesus abandonou
as normas, sempre exigiu tudo, ou nada.
"Eu te seguirei, mas deixa que primeiro...".
"Não. Se queres Me seguir, Estou em primeiro
lugar, e não há nada depois de Mim", adverte
Cristo.
Outro jovem ainda disse a Cristo: "Senhor,
eu te seguirei. Porém permita-me despe-
dir-me de minha família."
Que bom menino! Educado e afetuoso. Não
há mal algum em despedir-se de seus pais,
30

diríamos. Mas, Cristo lhe disse: "Ninguém que


põe a mão no arado e olha para trás é apto
para o Reino de Deus."
Jesus Cristo busca homens que se rendam
inteiramente a Ele, porque é com essa estirpe
de homens que vai edificar Sua Igreja. Todos
devem entender bem, desde o princípio que,
segui-Lo, significa reconhecê-Lo como Senhor
e Rei da vida, como autoridade suprema e in-
questionável.

ELE É O SENHOR DA TUA VIDA?


É este o Evangelho que temos pregado? Nós
nos convertemos com esta mensagem? De
onde pois, surge a fragilidade de nossas vi-
das? De onde vem a frieza de nossas congre-
gações? Temos acreditado em muitas verda-
des sobre Jesus Cristo: que Ele morreu por
nossqs pecados, que É o Salvador, que ressus-
citou, que responde às nossas orações, e que
voltará outra vez. Porém não Lhe temos en-
tregado nossas vidas, não O temos reconhe-
cido como Senhor, como nosso Amo absoluto,
como Dono de tudo o que somos e de tudo o
que temos.
31

Temos nos convertido reconhecendo Cristo


como nosso "único e suficiente Salvador pes-
soal." É de notar, sem dúvida, que na Igreja
Primitiva as pessoas não se convertiam acei-
tando a Cristo como Salvador, mas reconhe-
cendo-0 como o Senhor de suas vidas. Eu fico
maravilhado ao ler em Atos sobre a vida dos
recém-convertidos cristãos primitivos. Eu me
maravilho ao comparar seu comportamento
com os das nossas congregações. Que dife-
rença! Depois de trinta ou quarenta anos co-
mo crentes, nós nem de longe nos asseme-
lhamos a eles. O motivo é evidente: eles se
convertiam levando em conta uma outra con-
dição.
Nas pregações nós enfatizamos que Cristo
é: Salvador, Salvador e Salvador. E está certo,
porém, não era com este título que os após-
tolos anunciavam a Jesus Cristo. Em todas as
suas epístolas o apóstolo Paulo fala somente
três vezes de Cristo como Salvador (em al-
gumas outras ocasiões em que aparece o
termo Salvador, este refere-se a Deus Pai). No
entanto, usa a palavra Kyrios (Senhor) mais
de 300 vezes. Que proporção! Nós, ao contrá-
rio, apresentamos Cristo 300 vezes como
32

Salvador e três vezes como Senhor. E o re-


sultado é o estado atual de nossas igrejas.
Quando naquela época alguém se conver-
tia, entregava-se a Cristo, não era uma sim-
ples questão de dizer: "Eu o aceito como meu
Salvador pessoal", mas de reconhecê-Lo como
Senhor da vida.
Paulo afirma em Romanos 10.8,9: "... 'a pa-
lavra está perto de você; está em sua boca e
em seu coração', isto é, a palavra da fé que
estamos proclamando: se você confessar com
sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu co-
ração que Deus o ressuscitou dentre os mortos,
serás salvo."
Como ocorre a salvação? Pelo confessar,
com a boca, a Jesus como Senhor e crer no
coração que Deus o levantou dentre os mor-
tos.

O MAIOR PECADO
Qual é o maior pecado? Por que Adão e Eva
caíram? Porque mataram? Não. Eles rouba-
ram? Também não. Blasfemaram contra o Es-
pírito Santo? Não. Qual foi, então, sua malda-
de? eles viveram sujeitos à autoridade de
33

Deus até determinado dia quando, então, ti-


veram a infeliz idéia de fazer sua própria
vontade.
A linguagem popular ilustra muito bem no
que consiste o maior pecado, com a tão ousa-
da expressão: "eu faço o que me dá vontade".
Esses impulsos que tenho de fazer aquilo que
me dá vontade, parece-me que são mesmo a
essência do pecado: rebelião contra Deus. Es-
te é o pecado que predomina no mundo.
A Bíblia indica que nos últimos tempos o
pecado se multiplicará. E é verdade. As pes-
soas cada vez têm menos vergonha de fazer o
que lhes der vontade. Já não há mais respeito
aos bons costumes, nem aos mais velhos, na-
da. É um espírito que domina o mundo, tanto
entre pais e filhos, entre patrões e emprega-
dos, em todos os níveis da vida. Esse espírito
tem contagiado até mesmo a nós que nos
chamamos "membros da igreja" - pessoas que
podem ler a Bíblia, orar, testemunhar, ganhar
almas, pregar, falar em línguas e fazer muitas
boas obras e, sem dúvida, seguir fazendo o
que lhes der vontade.
"Senhor, em teu nome fizemos isto e aqui-
lo; expulsamos demônios..."
34

"Apartai-vos de mim!"
"Mas profetizamos..."
"Apartai-vos de mim, agentes da iniqüidade.
Nunca os conheci. Porque nem todo o que me
diz: 'Senhor, Senhor', entrará no Reino dos
Céus...porque qualquer um que ouve minhas
palavras e não as pratica [pode ser até que as
ouça, creia nelas, pregue-as, mas, não as pra-
tica] será comparado a um homem insensato
que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a
chuva, transbordaram os rios, sopraram os
ventos e deram com ímpeto contra aquela ca-
sa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína.
Porém, qualquer pessoa que ouve minhas pa-
lavras e as pratica será comparado a um ho-
mem prudente, que edificou a sua casa sobre a
rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios,
sopraram os ventos e deram com ímpeto con-
tra aquela casa, que não caiu, porque fora edi-
ficada sobre a rocha." 17
Edificar sobre a rocha é reconhecer Cristo
como Senhor da vida e viver cada dia eviden-
ciando este reconhecimento.
35

UM POVO DIFERENTE
Tenho uma boa notícia: Deus tem prome-
tido restaurar Seu povo nos últimos dias,
restaurar a Sua Igreja, colocar as coisas em
seu devido lugar, exaltar a Cristo ante os
olhos das nações. Deus está chamando um
povo para Si, um povo que O atenda. Enquan-
to que o mundo, nestes últimos tempos, vai de
mal a pior, com cada um fazendo o que lhe
parece melhor, numa correria desenfreada,
Deus levantará um povo que, em contraste,
viverá como Ele quer, fazendo Sua vontade,
por ter reconhecido a Jesus Cristo como seu
Senhor.
O grande escritor inglês, C.S.Lewis, em seu
livro "O Grande Divórcio", diz: "Na verdade,
só existem dois tipos de pessoas: as que afinal
dizem a Deus: 'Seja feita a Tua vontade', e
aqueles aos quais Deus, por fim, diz: 'Seja fei-
ta a vontade de vocês". A qual destes dois
grupos você pertence?

VENHA O TEU REINO


Cristo nos ensinou a orar assim: "Pai nosso
que estás nos céus! Santificado seja teu nome.
36

Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade,


assim na terra como no céu." 18
Até agora só temos pensado no aspecto es-
catológico do Reino, em seu futuro. Mas se-
guimos vivendo como nos dá vontade. Há,
porém, dois aspectos que queremos conside-
rar: um é a extensão do Reino; e isto é para
nós, agora, porque o Reino de Deus vem à
minha vida quando Cristo começa a reinar em
mim. De igual modo Seu Reino chega a meu
lar quando Cristo começa a reinar nele.
O outro aspecto é a consumação do Reino.
Isso será quando o Rei em pessoa descer e
estabelecer Seu Reino aqui sobre a Terra.
Façamos pois, nossa, esta oração: "Venha
Teu Reino". E em vez de pensar somente na-
quele dia em que Cristo virá, pensemos no dia
de hoje. "Senhor, venha o Teu Reino. Senhor,
reina em minha vida. Seja feita Tua vontade
como no Céu, assim também em minha vida,
assim também em meu lar, assim também em
meus negócios, em minha fábrica, em minha
escola, onde eu estou, onde vivo. Faça-se a
Tua vontade, Senhor. Venha o Teu Reino."
37

Nessa frase há unção. Faça a prova. Diga


com fé em teu espírito: "Senhor, venha o Teu
Reino!"
Isto é tão importante que com todo o meu
ser rogo que o Espírito Santo ilumine-o e
transforme-o diante do nome do Senhor.
Porque neste nome há poder para transfor-
mar sua vida, seu lar, sua congregação. Desde
o mais fundo de seu coração, proclame a Jesus
Cristo como Senhor de sua vida. Tudo o que
você é, tudo o que tem, traga aos pés de Jesus.
Chame a você mesmo "escravo de Jesus Cris-
to".
Porém, dois aspectos que queremos consi-
derar: um é a extensão do Reino; e isto é para
nós, agora, porque o Reino de Deus vem à
minha vida quando Cristo começa a reinar em
mim. De igual modo Seu Reino chega a meu
lar quando Cristo começa a reinar nele.
O outro aspecto é a consumação do Reino.
Isso será quando o Rei em pessoa descer e
estabelecer Seu Reino aqui sobre a Terra.
Façamos, pois, nossa, esta oração: "Venha
Teu Reino". E em vez de pensar somente na-
quele dia em que Cristo virá, pensemos no dia
de hoje. "Senhor, venha o Teu Reino. Senhor,
38

reina em minha vida. Seja feita Tua vontade


como no Céu, assim também em minha vida,
assim também em meu lar, assim também em
meus negócios, em minha fábrica, em minha
escola, onde eu estou, onde vivo. Faça-se a
Tua vontade, Senhor. Venha o Teu Reino."
Nessa frase há unção. Faça a prova. Diga
com fé em teu espírito: "Senhor, venha o Teu
Reino!"
Isto é tão importante que com todo o meu
ser rogo que o Espírito Santo ilumine-o e
transforme-o diante do nome do Senhor.
Porque neste nome há poder para transfor-
mar sua vida, seu lar, sua congregação. Desde
o mais fundo de seu coração, proclame a Jesus
Cristo como Senhor de sua vida. Tudo o que
você é, tudo o que tem, traga aos pés de Jesus.
Chame a você mesmo "escravo de Jesus Cris-
to".
39

SEGUNDA PARTE

JESUS CRISTO É O
SENHOR DA IGREJA
40

2 - E MBASAMENTO H ISTÓRICO
DO R EINO DE D EUS
A MENSAGEM DE J ESUS C RISTO : "Arrepen-
dam-se, porque o Reino dos Céus está próxi-
mo" 19 , não nasceu de uma inspiração momen-
tânea. O Reino era o tema do coração de Deus
mesmo séculos antes de Cristo vir a Terra.
Vemos isso esboçado ao longo de toda a Bí-
blia. Consideremos, pois, seu fundo histórico,
sua trajetória em todo o Antigo Testamento,
até os dias do Novo Testamento.
Muitos de meus leitores conhecem a histó-
ria do Antigo Testamento. Minha intenção não
é simplesmente relatá-la uma vez mais, po-
rém, destacar nela o desenvolvimento dos
propósitos de Deus até que Seu Reino se con-
cretize na Igreja.
Se Cristo é Senhor da minha vida e da tua, e
se formamos parte daquela comunidade que a
Bíblia chama de Igreja, então, Ele é o Senhor
da Igreja. Entretanto, se Cristo não é Senhor
de nossas vidas, não poderemos dizer que o
seja da Igreja. Quando toda a comunidade O
conhece como tal e cada um vai adquirindo a
mesma convicção, Cristo chega a ser, então, o
41

Senhor da Igreja e nela se realiza e se desen-


volve o Reino de Deus.

O DEUS DE ABRAÃO, DE ISAQUE E DE JACÓ


A história do povo de Deus começa em Gê-
nesis capítulo 12. Deus chama a um homem,
Abrão - a quem mais tarde troca o nome para
Abraão - quando está em Ur dos caldeus, e lhe
ordena: "Sai da tua terra, da tua parentela e
da casa de teu pai, e vai para a terra que te
mostrarei."
Abrão, então, tem que enfrentar a alterna-
tiva do Reino. Assim como Cristo disse a Pe-
dro e a André: "Sigam-me"; Deus disse a
Abrão: "Sai da tua terra, da tua parentela" e
Abrão saiu. É o primeiro a escutar o chamado
do discipulado. Deixa tudo e vai, sem saber
para onde. Deus abençoa Abrão e lhe diz 20 : "...
de ti farei uma grande nação, e te abençoarei".
E ainda lhe faz uma grande promessa: "...em ti
serão benditas todas as famílias da Terra".
Abraão é de idade avançada e ainda não
tem filhos, porém, crê em Jeová "...e isso lhe foi
imputado para justiça." 21 Depois de quase
vinte e cinco anos, Deus confirma Sua pro-
messa dando- lhe um filho, Isaque. Logo vem a
42

prova: Deus pede a Abraão seu filho, e ele


demonstra sua fidelidade. Então Deus jura por
Si mesmo dizendo: "...deveras te abençoarei e
certamente multiplicarei a tua descendência
como as estrelas dos céus e como a areia na
praia do mar..." "...nela serão benditas todas
as nações da terra, porquanto obedeceste à
minha voz."
É a primeira vez que Deus jura quanto à
descendência de um homem. No juramento
está prevista a Sua imutabilidade. Neste caso
o dito juramento é duplo: primeiro, multipli-
carei a tua descendência; segundo, em tua se-
mente serão benditas todas as nações da Terra.
Deus jura formar um povo para Si, da descen-
dência de Abraão.
Assim, Isaque têm dois filhos: Esaú e Jacó.
Isaque recebe a bênção dada por Deus a seu
pai e a transmite a seu filho Jacó. Deus muda o
nome de Jacó para "Israel", nome que, poste-
riormente, recebe também o povo de Deus.
Jacó tem doze filhos que se convertem nas
cabeças das doze tribos de Israel. Muitas ve-
zes aparece na Bíblia a expressão: "o Deus de
Abraão, de Isaque e de Jacó". Por quê? Porque
43

dali extrai a história do povo que Deus está


formando para Si.
Enquanto Jacó vive com seus filhos em Ca-
naã, chegam dias de fome na Terra e eles
descem ao Egito em busca de alimentos. Aca-
bam se estabelecendo ali. Passam-se quase
400 anos. Ao final deste tempo, começa-se a
ver o cumprimento da promessa: "De ti farei
uma grande nação". Cerca de setenta pessoas
haviam ido ao Egito, e depois dos 400 anos,
Israel tinha se convertido numa grande nação
com dois milhões de pessoas. Essa enorme
massa de pessoas vivia, porém, em condições
sofríveis, já que era subjugada, oprimida, e
tinha de servir ao Faraó dentro dos limites de
outra nação. Nessas circunstâncias Deus de-
cide intervir, já que não pode tolerar que Seu
povo siga, por mais tempo, servindo a outro
senhor.

MOISÉS E JOSUÉ
Deus, então, levanta a Moisés, através de
quem, com milagres, sinais e prodígios, livra o
Seu povo da escravidão do Egito. O Mar Ver-
melho se abre diante do povo para dar-lhe
passagem até o deserto. Ali, Deus lhes dá a
44

Lei, as ordens referentes aos sacrifícios, à


construção do Tabernáculo e à ordem sacer-
dotal, e a promessa de que vão adentrar e
possuir a terra de Canaã. Entretanto, pela du-
reza de seus corações e por sua incredulidade
vagam quarenta anos no deserto, e aquela
geração não herda a terra prometida.
Josué se converte no sucessor de Moisés e é
instrumento nas mãos de Deus para que o
povo de Israel - a nova geração - entre na ter-
ra da promessa.
Os cinco primeiros livros da Bíblia traçam a
história do povo de Israel desde Abraão 23 até
a chegada às portas de Canaã. Logo segue o
livro de Josué, sucessor de Moisés. Aí está
relatada a entrada em Canaã e a libertação
que Deus lhes dá - pelas mãos de Josué - das
nações que habitam a terra prometida.

CADA UM FAZIA O QUE BEM LHE PARECIA


Quando Josué morre, Deus levanta a Otoni-
el. E depois dele a uma sucessão de mais qua-
torze homens, chamados juizes ou libertado-
res. Juizes, porque internamente cumprem a
função de julgar o povo; e libertadores, por-
que, externamente, liberam o povo de seus
45

inimigos por meio da luta armada. O livro que


segue a Josué, na Bíblia, é o de Juízes. Nele é
narrada a história de Israel desde Josué até o
penúltimo juiz, Sansão.
Durante a época dos juizes, observa-se na
vida de Israel uma acentuada e progressiva
decadência espiritual, moral e política. Ao
final deste período a nação está submersa em
uma situação realmente calamitosa.
Sansão, o penúltimo juiz, está morto. Sa-
muel, ainda não está em cena. O povo decai
cada vez mais em seu nível espiritual e, con-
sequentemente, em todos os outros níveis.
Juizes 17.6 faz uma descrição exata do estado
do povo: "Naqueles dias não havia Deus em
Israel; cada qual fazia o que achava mais reto."
A falta de um governante responsável de-
termina uma anarquia geral. O dito popular:
"Eu faço o que me dá na cabeça", não é exclu-
sividade nossa. Muitos séculos atrás, outro
povo já pensava da mesma maneira. Quando
lemos os últimos capítulos de Juizes, quantas
coisas horríveis descobrimos no meio do povo
de Israel, porque cada um faz o "que lhe dá na
cabeça!"
46

Exatamente aí está a raiz do pecado. Veja-


mos como iniciam quase todos os capítulos fi-
nais de Juizes: "Naqueles dias não havia rei em
Israel...". 24 "Naqueles dias, em que não havia
Deus em Israel..." 25 E vejamos como termina o
livro: "Naqueles dias não havia rei em Israel;
cada um fazia o que achava mais reto."
Pode um livro ter conclusão mais triste?
Pode um autor terminar seu relato com uma
nota mais dissonante e pessimista? Mas, esta
é a Bíblia, a Palavra de Deus, e não diz outra
coisa senão a verdade. Não pode por um fim
de novela. Diz o que é, e essa era a real situa-
ção do povo.
Para descobrir a condição atual do mundo,
não teríamos que usar a mesma frase? Em que
reside a raiz do pecado hoje em dia? Ora, cada
um vive como quer. Não se respeitam leis, nem
normas. Cada qual anda segundo seu próprio
capricho. Essa é a essência do pecado do co-
ração humano.

NÃO HAVIA REI EM ISRAEL


O que mais chama a atenção na passagem
que estamos examinando é a primeira parte
47

da frase: "Naqueles dias [que vão desde San-


são até Samuel] não havia rei em Israel."
Até aqui, podemos notar duas etapas mais
ou menos definidas na história de Israel. Pri-
meiro, a dos patriarcas, desde Abraão até o
êxodo. Nesse período o pai da família era
quem exercia o domínio (as palavras patriarca
e pai procedem da mesma raiz), estabelecen-
do o sistema de sucessão patriarcal no go-
verno. Com Moisés começou a segunda etapa.
Os líderes da nação já não se sucederam se-
gundo o sistema patriarcal, mas Deus os foi
levantando de diferentes linhagens.
Este período (de Moisés a Samuel) foi o dos
juizes ou libertadores. Ao chegar ao fim nos é
dito que "naqueles dias não havia rei em Isra-
el". Por que esta frase aparece quatro vezes
no livro? Parece dar a entender que determi-
nada época tinha havido rei, mas que naquele
momento, por não mais havê-lo, cada um vivia
como queria. Mas, acaso tinha se visto antes
algum rei sobre a nação de Israel? Abraão,
talvez? Ou Jacó? Não. Eles foram patriarcas. E
Moisés? Um libertador. Até esses, então, não
havia antecedentes de que alguém houvera
sido rei sobre Israel. Sem dúvida, este povo
distinto a todos os demais, tinha tido um Rei.
48

Só que seu Rei não era um homem. Jeová era o


Rei de Israel!
Abraão não fez o que quis. Deus lhe disse:
"Sai de tua terra..." e ele saiu; "entregue-me
teu único filho", e ele o ofereceu. Abraão tinha
um Rei sobre si.
Moisés não conduziu a nação como tirano
ou ditador. Cada vez que abriu sua boca foi
para dizer: "Assim falou Jeová". Moisés O re-
conhecia como Deus de Israel. Ele somente
era Seu ministro. Entrava em Seus aposentos,
recebia os Seus mandamentos e ia transmi-
ti-los ao povo. Moisés se submeteu à autori-
dade que este Rei exercia sobre a nação.

A TEOCRACIA
O sistema de governo no qual Deus Se
constitui soberano, denomina-se "teocracia".
Esta palavra vem da união de duas palavras
gregas: theos (Deus) e cratos (domínio). Quer
dizer, "o governo, o domínio de Deus". Este é
o sistema que Deus elege para Israel. Deus,
porém, governa desta maneira enquanto o
povo assim o quiser. Quando este se rebela,
não há mais teocracia.
49

Chega um momento em que não há profeta,


não há um único homem que entre e fale com
Deus. Não há ministros ungidos, não se ouve a
voz de Deus e o povo vive como quer. Não
havia, portanto, rei em Israel. Daí a anarquia
em que viviam a nação e os indivíduos.
É nesse contexto que surge Samuel, o últi-
mo dos juizes. Então, uma vez mais, através
dele, começa-se a ouvir a voz de Deus: "Samu-
el, Samuel..." 28 . "Quem me chama?" É algo tão
incomum, em seus dias, Deus falar, que leva
algum tempo para ele entender que é Deus
quem o chama.
Samuel não só é juiz, mas, também, profeta
de Deus. Ele quer retornar à teocracia. Come-
ça a orientar o povo dizendo "Assim diz Jeová:
saí à batalha" ou ainda, "Jeová disse: não sai-
ais." Samuel procura que Israel viva outra vez
sob o Reino de Deus e durante certo tempo o
consegue.

JESUS É REJEITADO COMO REI


Depois de alguns anos, Israel, novamente,
quer livrar-se da teocracia: "Então os anciãos
todos de Israel se congregaram, e vieram a
Samuel, a Ramá..."
50

Os anciãos se juntam e combinam: "Devemos


fazer algo. Samuel nos diz a cada momento:
'Assim diz Deus'. No tempo de nossos pais não
era assim. Cada um fazia o que queria. Não era
melhor daquele modo? Até quando vamos tole-
rar essa estória de que: 'Deus disse isto, Deus
disse aquilo...'? Por que não lhe propomos uma
troca?"
Chegam a um acordo, vão a Ramá e cha-
mam a Samuel. Um deles toma a palavra:
"Honorável e respeitável profeta Samuel. Nós,
os anciãos do povo de Israel, reunidos de co-
mum acordo, queremos expressar-lhe nossa
gratidão pelos serviços prestados até aqui e,
devido sua avançada idade, concordamos em
conceder-lhe aposentadoria. Estamos muito
gratos por tudo. Porém, antes de seu afasta-
mento, gostaríamos de solicitar-lhe um último
favor". Samuel, surpreso, aguarda o pedido.
"...e lhe disseram: Vê, já estás velho, e teus
filhos não andam pelos teus caminhos; consti-
tua-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para
que nos governe, como o têm em todas as na-
ções." 30
Ao ouvir isso, o profeta fica muito contra-
riado: "Este povo não entende? Ignora sua
51

história? São o povo de Deus! Como se lhes


ocorre pedir um rei?" Seu coração está ma-
goado e dolorido. Samuel vai orar, buscar a
Deus.
De onde saiu isso? Como eles podem pen-
sar assim? Eles disseram: "um rei como nas
demais nações" Ah! Quando o povo de Deus
se rebaixa ao nível dos que vivem sem Deus,
quantos males começam a surgir!
"Queremos um rei como todos os outros"
Israel está vivendo em Canaã, cercada por
outras nações, que de fato têm rei, e conhe-
cem as festas que fazem quando o monarca
visita alguma de suas cidades. Todas as pes-
soas se aglomeram na praça e nas ruas prin-
cipais. O caminho real é embandeirado. Fo-
lhas de palmeira, flores, banda musical. Muito
entusiasmo. O rei está chegando! Logo apa-
recem dois ginetes; são os arautos do rei.
Soam as trombetas: "Atenção! O rei está che-
gando!" Ao longe começa a aparecer uma
carruagem que avança pelo caminho real.
Aproxima-se, é branca e está muito enfeitada.
Vem puxada por belos cavalos. Sobre a car-
ruagem há um trono, sobre o trono, um rei; e
sobre a cabeça do rei, uma coroa. A multidão
comemora, agita as mãos no alto, aclama com
52

júbilo: "Viva o rei!" Os músicos executam a


marcha real. É fabuloso ter um rei! Por que
todos têm um e nós não? Samuel, queremos
um rei, um rei como nas outras nações.
"Samuel, dá-lhes o que te pedem. Porque
me têm desprezado. Porque, em outras pala-
vras, têm dito: 'Não queremos que Este reine
sobre nós'. Pedindo um rei humano têm pre-
tendido disfarçar suas intenções. Porém, em
verdade, não querem que Eu reine sobre
eles."

UM REI CONFORME O CORAÇÃO DO POVO


Então é ungido o primeiro rei sobre Israel:
Saul. Já que o povo quer assim, Deus lhes dá
um rei conforme o coração deles. Um rei for-
moso, de belo físico e muitas virtudes, jovem,
de excelentes condições. Assim é Saul. Quem
ler sobre o início de seu reinado, ficará muito
bem impressionado com ele. Reúne todas as
condições humanas exigidas para o cargo.
Mas já no segundo ano de seu reinado,
quando Jônatas, seu filho, ataca a guarnição
dos filisteus e os põem em fuga, Saul |>assa
um comunicado por todo Israel: "Saul atacou
o exército dos filisteus". 31 É uma mentira! Jô-
53

natas o fez. Mas ele quer a glória para si; quer


ser aclamado pelo povo.
Isso não é tudo. Seu problema baseia-se em
que, ao converter-se em rei, quer agir de for-
ma independente, seguir sua própria cabeça.
O profeta, que representa para ele a voz de
Deus, disse-lhe: "Não ofereças tu o sacrifício"
e Saul espera sete dias. Como Samuel se de-
mora, Saul desobedece e oferece ele mesmo o
sacrifício. Quando Deus diz: "Não", Saul diz:
"Sim".
"Então disse Samuel a Saul: procedeste
nesciamente em não guardar o manda-
mento que o Senhor, teu Deus, te ordenou;
pois teria, agora, o Senhor confirmado o
teu Reino sobre Israel para sempre.
Já agora não subsistirá o teu reino. O Se-
nhor buscou para si um homem que lhe
agrada, e já lhe ordenou que seja príncipe
sobre o seu povo, porquanto não guar-
daste o que o Senhor te ordenou."
Mais tarde Deus disse a Saul: "Mate a to-
dos, animais e homens." Samuel, porém, des-
culpa-se e por iniciativa própria, perdoa a
alguns. Agora que Deus diz "Sim", ele diz
54

"Não". Isto é fazer o que se quer. Nisto con-


siste o maior pecado.

SAUL É REJEITADO
Deus rejeita Saul como rei de Israel. A ele e
a sua descendência, ainda que continue go-
vernando por mais alguns anos. Por quê? É
tão grave o que ele fez? Sim; quis fazer sua
própria vontade.
Triste história a de Saul! Ungido e, pouco
depois, rejeitado. Finalmente, atormentado
por demônios, e cheio de ciúmes homicidas
contra Davi. Termina sua vida fugindo de seus
inimigos. Não há voz de Deus para ele. Vive
em conflito e em tormento interior. Acaba
encurralado por aqueles que o perseguem. Em
pleno campo, ferido e a ponto de perder a ba-
talha, diz a seu escudeiro: "Arranca a tua es-
pada e atravessa-me com ela." 33 O escudeiro
não se atreve e visto que por seu orgulho não
admite ser morto pelo inimigo, crava o punho
de sua espada no chão e se lança sobre ela.
Assim termina a vida de um homem que quis
viver como melhor lhe parecia, não reconhe-
cendo o Senhor como a autoridade suprema
de sua vida.
55

UM VARÃO CONFORME O CORAÇÃO DE DEUS


Enquanto Saul ainda vivia, Deus disse a
Samuel: "Levante-se pegue o chifre, enche-o
de azeite. Hoje irás ungir a um varão, como rei
de Israel, conforme quer Meu coração". "Mas,
Senhor, se Saul fica sabendo, me matará", re-
plica Samuel.
"Vá!", ordena o Senhor.
"Aonde, Senhor?", responde com obediên-
cia, Samuel.
"À casa de Jessé".
"Jessé?"
"Sim, um de seus filhos será o rei".
"Um filho de Jessé? O filho de um camponês
vai ser o rei?"
"Vá!", determina Deus.
E Samuel vai a Belém, à aldeia onde vive
Jessé.
"Bem-vindo seja, profeta Samuel! O que o
traz por aqui?", diz Jessé.
"Uma ordem de Deus. Quero que faças
passar teus filhos diante de mim, porque Deus
me ordenou que unja a um deles como rei de
Israel.
56

Surpresa e excitaçao no coração do pai...


"Como assim? Um de meus filhos? Ungido
rei? Hoje?!"
Ele não cabe dentro de si. Sai em seguida
em busca de um dos rapazes. A quem chamar?
Qual será o melhor candidato? O primogênito,
é óbvio! Tem tudo para ser rei!
Jessé chama então ao filho mais velho.
Quando Samuel o vê não pode ocultar sua sa-
tisfação. "Sem dúvida, é este. Que belo rapaz!"
Porém Deus lhe fala: "Não é ele". (Porque o
homem vê o que está diante de seus olhos,
mas, Deus, enxerga o coração).
"Não. Não é este", declara então Samuel.
"Que estranho!", pensa o pai. "Eu acha-
va...Bem, seguramente é o segundo."
Entra o segundo filho. E Deus volta a dizer:
"Não."
Passam o terceiro... o quarto... o sétimo, e
um após outro, o Senhor repete: "Não".
"Jeová não escolheu estes", disse final-
mente Samuel e Jessé estanca, confuso.
"Acaso tens algum outro filho?", pergun-
ta-lhe o profeta. "Sim, mais um... mas, não
57

para ser rei. É um simples garoto, criado no


campo, entre as patas dos animais. É o que
cuida das ovelhas".
"Pois, chame-o!", ordena Samuel. E alguém
sai em busca do menor.
"Davi, Davi! O pai está chamando!" E ele
vai assim, de sandálias e roupa de campo, sujo
e mal arrumado. O Senhor, então, diz a Samu-
el: "Levanta-te, e unge-o, é este."
O profeta então se levanta e pega o chifre.
Davi se ajoelha diante dele e é ungido rei de
Israel em nome de Jeová. Eis aqui o escolhido
de Deus, aquele a quem Ele escolheu. Somente
alguns anos depois David irá cingir-se com a
coroa real, porém neste instante já está ungi-
do como rei, sendo um varão conforme o co-
ração de Deus.
DAVI EXALTA AO VERDADEIRO REI DE ISRAEL
No campo, sob as árvores, sob as estrelas,
Davi aprendeu a conhecer a Deus e O procla-
mou Senhor de sua vida. Seus salmos e louvo-
res O reconhecem como Rei de Israel, ao di-
zer: "Não sou eu o verdadeiro rei de Israel,
senão Jeová. A Ele devemos obediência. A Ele
devemos honrar."
58

Para Davi, cada culto é uma festa de glória;


é o momento em que o povo se reúne para
celebrar ao Senhor. Por isso proclama: "O rei
está no meio do povo. Louvai-O. É digno de
suprema adoração. A Ele se deve dar glória e
aplaudir, não a mim. Batam palmas, levantem
suas mãos, louvem-No com danças, bendigam
Seu nome. Cantem com júbilo diante do Rei de
toda a terra."
Se na História houve um homem que ensi-
nou toda a sua geração a louvar a Deus, esse
homem é Davi. E não só à sua geração, mas
também a todas as que se seguiram.

DEUS FAZ UM JURAMENTO A DAVI


Sendo Davi o rei, Deus firma seu trono para
sempre mediante o seguinte juramento: "Fiz
aliança com o meu escolhido e jurei a Davi,
meu servo: para sempre estabelecerei a tua
posteridade, e firmarei o teu trono de geração
em geração."
"...então, farei levantar depois de ti o teu
descendente, que será dos teus filhos, e estabe-
lecerei o seu reino...e estabelecerei o teu trono
para sempre." 36
59

Deus jura por aquele que interpõe imutabi-


lidade. E seu juramento é duplo: primeiro, o
reinado de Davi será confirmado; segundo, de
Sua descendência, Deus levantará alguém que
se sentará em Seu trono para sempre. Davi é
sucedido no trono por seu filho Salomão, este
tem um filho chamado Roboão que vem a
ocupar o trono do pai quando este morre. En-
tão ocorre uma rebelião. Jeroboão, um dos
generais de Salomão, vendo que Roboão não
anda nos caminhos de seu pai, rebela-se con-
tra ele e quer reinar em seu lugar. Como re-
sultado, o Reino de Israel (que até então se
havia mantido unido) divide-se em dois. Ro-
boão se senta no trono de Davi, em Jerusalém,
sobre a casa de Judá. Para ser mais preciso,
reina sobre as tribos de Judá e Benjamim. En-
trementes, Jeroboão governa sobre a casa de
Israel (as dez tribos do Norte). Porém o trono,
de fato, pertence a Roboão, por ser descen-
dente de Davi.
Nos livros de Reis e Crônicas lemos a his-
tória destas duas linhas de reis ao longo de
várias gerações. Passam os anos, os reis se
sucedem. Chega o cativeiro, logo a restaura-
ção, e aproximadamente dez séculos depois
do Rei Davi, nasce um descendente seu cha-
60

mado Jesus, de uma mulher de nome Maria,


em um povoado conhecido como Belém.

JESUS CRISTO: FILHO DE DAVI, FILHO DE ABRAÃO


Como começa o Novo Testamento? "Regis-
tro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi,
filho de Abraão." 37 Davi e Abraão são os dois
personagens que recebem juramento de Deus
quanto à sua descendência.
Este que agora nasce é filho de Davi, seu
descendente direto, Aquele de quem Deus
disse: "Levantarei alguém de tua descendência
que se sente em teu trono e que reinará eter-
namente e para sempre." Jesus é filho de Davi.
Mas também é filho de Abraão, a quem Deus
prometeu: "Em tua semente serão benditas
todas as nações da terra." Essa passagem faz
referência a Jesus, a semente de Abraão, em
quem seriam benditas todas as nações da
Terra.
Ele nasce e os anjos cantam. Vêm magos do
Oriente para adorá-Lo. Perguntam: "Onde está
o rei que nasceu?" Herodes se preocupa: "Que
rei? Eu sou o único rei." Inquieta-se, fica pre-
ocupado e quer matar a Jesus, aniquilá-Lo.
Porém não pode.
61

Jesus, aos trinta anos, começa Seu ministé-


rio público. Vai primeiro às ovelhas perdidas
da casa de Israel. A mensagem que prega é:
"Arrependei- vos, porque é chegado o Reino
de Deus". Porém, o que é arrependimento?
Ora, uma mudança de atitude. Cristo, em ou-
tras palavras, está nos dizendo: "Mudem de
atitude". "Mas, que atitude?", indagamos.
"A mesma que tiveram seus antepassados
quando disseram: 'Não queremos que este
reine sobre nós'. Mudem, arrependam-se, que
o Reino de Deus vem!"
"Que Reino?", questionamos. "O Reino de
Deus, a Teocracia", Jesus nos responde.
Notamos, pois, que quando o homem quer
por rei a outro homem, Deus permite, con-
quanto que não vá atrapalhar a Seus planos.
Começa com um homem até chegar a Jesus,
Filho de Davi, porém essencialmente Filho de
Deus. Seu propósito é o de estabelecer-Se no
trono, e isto conseguirá através do Filho. A
Teocracia é o sistema de governo eleito por
Deus para reger aos homens; a Teocracia
triunfará.
62

A ATITUDE REBELDE
Jesus anuncia o Reino de Deus. Israel como
nação o rechaça. Mantém sua atitude rebelde.
Sua expressão como povo é: "Não queremos
que este reine sobre nós... Crucifica-O, cruci-
fica-O!" "A vosso rei querem crucificar?", lhes
indagam. "Crucifica-O!", respondem.
Esta é a resposta de Israel com respeito a
Jesus Cristo. Crucifica-O, despreza-O, menos-
preza-O. Não aceita Seu reinado. Mateus, ca-
pítulo 11, nos faz sentir o lamento de Jesus
sobre as cidades de Israel. Primeiro foi às
ovelhas perdidas da casa de Israel, porám elas
o rechaçaram. Cristo então disse: "Ai de ti,
Corazin! Ai de ti, Betsaida! Porque se os mila-
gres que foram realizados em vós tivessem sido
realizados em Tiro e Sidom, há muito tempo
elas se teriam arrependido... E tú Cafarnaum:
serás elevada até o céu? Não, descerás até o
Hades!" Com estas palavras Cristo encerra Seu
ministério dirigido especialmente a Israel e
abre as portas do Reino para todas as nações.

O VERDADEIRO ISRAEL
Jesus lança sua proclamação universal:
"Venham a mim, todos os que estão cansados e
63

sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. To-


mem sobre vocês o meu jugo...Pois o meu jugo é
suave e o meu fardo ê leve.
Cristo convida a todos, porém os adverte:
"Vinde... para levar o Meu jugo, o jugo que
Israel não quis suportar sobre si".
Mesmo durante o começo de Seu ministé-
rio, Israel, como nação, resiste a Ele. Sem dú-
vida há indivíduos que respondem a Seu cha-
mado. Jesus passa perto de Pedro e André, a
quem diz: "Vinde após mim". Encontra Mateus
e o chama: "Siga-me". AZaqueu: "Desce". E
todos eles obedecem e O seguem.
Primeiro são dois, logo três, depois quatro,
doze, setenta. Está se formando o verdadeiro
povo de Deus, o Reino de Deus sobre a Terra.
O grupo básico com que começa é pequeno.
No Pentecostes não eram mais de 120. Mas,
120 discípulos que tinham a Cristo como Se-
nhor e Rei de suas vidas!
Sem dúvida, e considerando que este é um
Reino santo e eterno, tanto em sua forma ter-
rena quanto celestial, Cristo deve entregar
Sua vida para redimir "...para Si um povo pró-
prio, zeloso de boas obras." Deve morrer na
cruz para que todos aqueles que se arrepen-
64

dam e O aceitem como o Senhor de suas vidas


possam ser participantes deste Reino. Então,
mediante Sua morte e ressurreição Ele forma
a verdadeira Israel, uma Israel espiritual, um
povo que Lhe corresponde, que O reconhece
como Rei.
Israel tinha sido até aqui "o povo de Deus",
o povo que Deus tinha escolhido. Porém, logo
que Israel O rejeita, quando se cumpre o
tempo, Deus forma uma nova Israel. Não o faz
apenas com os que são filhos de Abraão se-
gundo a carne, mas, com os filhos de Abraão
segundo a fé, os filhos da promessa. São
aqueles que crêem e permanecem na mesma
fé de Abraão.
Este Reino tem um fundamento sólido. A
condição para pertencer a ele não é haver
procedido da descendência de Abraão, mas
haver nascido de cima, da água e do Espírito.
O que não nascer de novo não pode ver, nem
tampouco entrar, no Reino de Deus. Deus tem,
hoje, Sua Israel espiritual. Em sua carta aos
Efésios, Paulo declara que a parede da sepa-
ração que havia entre judeus e gentios foi
derrubada pela morte de Cristo. Já não há
mais dois povos, pois de ambos, fez um só. Um
só povo que é Seu corpo, a Igreja. Em Roma-
65

nos 2.28,29 Paulo destaca que não são judeus


os que estão circuncidados na carne, senão
aqueles que estão circuncidados em Seu co-
ração. Aquele que é nascido de novo é o ver-
dadeiro judeu para Deus.
Paulo insiste nesta verdade em Romanos
9.6-8:"Não pensemos que a palavra de Deus
tenha falhado. Pois nem todos os descendentes
de Israel são Israel. Nem por serem descenden-
tes de Abraão passaram todos a ser filhos de
Abraão. Pelo contrário: 'Por meio de Isaque
será contada a sua descendência'. Noutras pa-
lavras, não são os filhos naturais que são filhos
de Deus, mas os filhos da promessa é que são
considerados descendência de Abraão."
Agora, todos os que descendem do Filho da
promessa, Jesus Cristo, formam o verdadeiro
Israel, o povo de Deus.

O REINO DE DEUS SE ESTENDE


Quarenta dias depois de Sua ressurreição,
Cristo ascende aos céus. Deixa um grupo de
120 pessoas que constituem, naquele mo-
mento, o Reino de Deus sobre a Terra. Mas,
que farão 120 em um mundo em que existem
tantos poderes, Reinos e autoridades? Sem
66

dúvida, 120 com Cristo como Senhor absoluto


de suas vidas é suficiente.
Quando chega o dia de Pentecostes, desce o
poder do Espírito Santo e os 120 são infla-
mados por Ele. Agora a Igreja conta com po-
der: "Teu é o Reino! Teu também é o poder!"
São 120, não mais. Porém, com o poder de
Deus começam a se espalhar e a crescer. E
como crescem! Naquele mesmo dia se con-
vertem 3.000 pessoas. Pouco depois mais
5.000 varões se somam ao Reino. E assim
prosseguem. O Reino avança de forma envol-
vente. Começa a penetrar em outras nações.
Aqueles homens crêem no que Seu Senhor
lhes disse! "Foi me dada toda autoridade no
céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos
de todas as nações". Jesus não lhes disse: "Fa-
zei discípulos nas nações", mas, "de todas as
nações." E eles conseguem. Eles saem e vão
fazendo discípulos e alcançando não apenas
pequenos grupos em cada nação, mas, nações
inteiras. Mudam a história do mundo. Nações
inteiras se convertem a Jesus Cristo, porque
crêem que este Jesus tem todo o poder, que
Ele é o Senhor. Com uma fé destas quem po-
deria deter aquelas pessoas?
67

Desta convicção surge a dinâmica de ex-


pansão da Igreja Primitiva. Dali provêm esse
poder de crescimento, essa força de avanço,
esse ímpeto que os leva a novas cidades e na-
ções. Eles têm consciência de uma tremenda
verdade: "Nós agora somos o Reino de Deus
aqui na Terra. E este Reino há de estender-se
por Seu poder." E como se estende!
Os arqueólogos já descobriram mais de 170
mil crânios humanos nas catacumbas de Ro-
ma. E os que não foram descobertos? E os que
morreram queimados, atravessados por es-
padas, ou lançados às feras na arena romana?
E os que foram martirizados em diferentes
lugares? Como se estendeu o Reino de Deus
no primeiro século!
Isto custa a vida de muitos, mas o que
acontece com eles? Perdem-se? Não. Deixam o
Reino na Terra para serem trasladados ao
mesmo Reino nos céus. O ensinamento bíblico
é que a Igreja consiste em uma só família,
formada, tanto pelos que estão no Céu, como
por aqueles que estão na Terra. Enquanto
permanecemos aqui, vivemos para fazer a
vontade de Deus na Terra, como se faz nos
Céus.
68

Deus está levando Sua Igreja a esta reali-


dade: a que se expresse, a que viva na Terra
como Reino de Deus. Você, como parte da
Igreja tem a tremenda responsabilidade de
permitir que o Reino venha. Que venha à tua
vida. Que venha a teu lar. A todas as suas re-
lações. Oh, que surja sobre a Terra um povo
que honre, coroe e obedeça a Jesus Cristo co-
mo Senhor e Rei!
Pelos que estão no Céu, como por aqueles
que estão na Terra. Enquanto permanecemos
aqui, vivemos para fazer a vontade de Deus na
Terra, como se faz nos Céus.
Deus está levando Sua Igreja a esta reali-
dade: a que se expresse, a que viva na Terra
como Reino de Deus. Você, como parte da
Igreja tem a tremenda responsabilidade de
permitir que o Reino venha. Que venha à tua
vida. Que venha a teu lar. A todas as suas re-
lações. Oh, que surja sobre a Terra um povo
que honre, coroe e obedeça a Jesus Cristo co-
mo Senhor e Rei!
69

3 - OS DOIS REINOS
S EGUNDO AFIRMA O APÓSTOLO P AULO , há dois
reinos neste mundo: o das trevas e o da luz.
Vejamos o que ele escreve aos Colossenses:
"...dando graças ao Pai que nos tornou dignos
de participar da herança dos santos no reino
da luz. Pois ele nos resgatou do domínio das
trevas e nos transportou para o Reino do Seu
Filho amado...". 40
Bem, e o que é um reino? É uma comuni-
dade composta por duas classes de pessoas: o
rei, que governa, e os súditos, que obedecem e
se sujeitam à autoridade do rei. Não pode ha-
ver reino sem rei; tampouco pode havê-lo sem
súditos.
O reino das trevas tem seu rei: Satanás. O
Reino da luz também tem o seu: Jesus Cristo.
Todos nós nascemos no reino das trevas.
Adão, em sua desobediência, ao não reconhe-
cer a autoridade de Deus como Senhor e Rei
de sua vida, deixa de pertencer ao Reino da
luz e passa ao das trevas. Desde então, todo
homem que nasce da descendência de Adão,
nasce no reino das trevas. Falando dos que
vivem nas trevas Paulo disse: "...nas quais to-
dos nós costumávamos outrora viver." 41
70

A verdadeira conversão tem dois aspectos,


segundo Colossenses 1.13. O primeiro é nos
resgatar do domínio das trevas. Ali estáva-
mos, mas Deus nos tirou, nos libertou. Agora
somos livres, sim, porém não para tirarmos
proveito da carne e dizer: "Bem, antes éramos
escravos, súditos de Satanás, agora, porém,
podemos fazer o que nos der na cabeça". Se
agíssemos assim estaríamos interpretando
mal o Evangelho de Cristo.
E isto se vê claramente no segundo aspecto
da conversão: somos libertos de um reino
para sermos trasladados a outro. Deus nos
livra do reino das trevas e nos translada ao
Reino de Seu amado Filho. A verdadeira con-
versão, em seu aspecto pleno, consiste neste
translado. Por muito tempo pensei que seria
transportado ao Reino de Deus no dia em que
morresse. Que logo em seguida entraria nele.
Ou então, que quando Cristo viesse traria o
Seu Reino. Porém, Paulo não estava morto,
nem Cristo tinha voltado quando disse, usan-
do o verbo no tempo passado para indicar
algo já consumado: "Pois ele nos resgatou do
domínio das trevas e nos transportou o Reino
do seu Filho amado..." 42 .
71

A ideia de que algum dia vou entrar no


Reino, ou que, algum dia virá o Reino, criou
em nós uma concepção errada de Cristo. En-
quanto ficamos esperando esse dia chegar
vemos o Senhor como nosso Salvador, nosso
médico e ajudador. E cremos que somente
após Sua vinda Ele será nosso Rei. Por essa
razão encaramos com tão pouca seriedade
Sua autoridade, o que tem causado debilidade
e desorientação em nossas vidas. Cristo deve
reinar já. Devemos, necessariamente, ser
transportados a Seu Reino porque a verda-
deira conversão consiste nisto: ser liberado
de um Reino para ser incorporado a outro.
Mas, como se chega a pertencer a um rei-
no? Simplesmente tornando-se súdito do rei.
Como entrar no Reino de Jesus Cristo? Uni-
camente permitindo que Cristo venha a ser
Senhor e Rei de sua vida.
Se alguém nos perguntasse a que reino
pertencemos, certamente nos apressaríamos
em responder: "Obviamente, ao Reino da luz".
Contudo, e isto seja dito sem intenção de lan-
çar sombra sobre esta afirmação, é conveni-
ente esclarecer quais são algumas das carac-
terísticas destes dois reinos a fim de nos cer-
tificarmos em qual dos dois estamos. Se, em
72

função desta análise você perceber que tem


que fazer alguma correção em sua vida, será o
caso de que persevere em fazê-la; de modo
que toda dúvida seja eliminada e que possa,
então, seguir a Jesus Cristo com toda fideli-
dade.

UM REI DECORATIVO
Costumo descrever a Igreja contemporânea
como "a Inglaterra espiritual". Posso explicar.
Restam, hoje em dia, poucos países governa-
dos por um regime monárquico. A Grã Breta-
nha é um deles. Por perpetuar sua tradição
histórica, os britânicos seguem conservando
essa estrutura. É o Reino Unido da Grã Breta-
nha. Existe um rei - atualmente uma rainha -
com seu trono, sua pompa, seu palácio, sua
corte, seu séquito. Ela recebe o aplauso, a gló-
ria e as homenagens do povo. Sem dúvida,
dizem os mesmos súditos: "O rei reina, porém,
não governa."
O rei é um personagem tradicional, uma
figura decorativa. Todos aclamam: Viva o rei!
Todos honram sua figura. Porém, este não
governa. Não é a autoridade suprema. Há um
primeiro ministro, a Câmara dos Lordes e a
73

dos Comuns, e são eles que governam o país


como julgam melhor. Não quero dizer com
isso que seja bom ou mal o que fazem na In-
glaterra: simplesmente desejo explicar por-
que chamo a Igreja "a Inglaterra espiritual".
Na Igreja, quem não reconhece que Jesus
Cristo é o rei? Qualquer igreja protestante,
ortodoxa ou católica, declara: "Cristo é o Rei!"
Todos dizemos "amém!" e Lhe entoamos lou-
vores. Mas, a triste realidade que vivemos até
hoje em nossas igrejas é que Cristo reina, po-
rém, não governa. Ele é o Rei , entretanto, o
primeiro ministro é o que maneja tudo. Deus
quer trazer Seu Reino primeiramente à Igreja
para logo estendê-lo a todos os demais.
Convém refletirmos um momento. Deus
tem prometido salvar as multidões em distin-
tas cidades, povos e nações. Ele disse que
derramará Seu Espírito sobre toda carne e
haverá salvação e todo aquele que invocar o
nome do Senhor será salvo. Os milhares que
se converterem serão somados à Igreja, à co-
munidade que já existe. Se entre nós, que já
fazemos parte dessa Igreja, Cristo não gover-
na, não governará também sobre eles. Daí a
ênfase, a insistência do Senhor em que Cristo
seja o Rei desta comunidade, da Igreja atual,
74

quem a governe na prática, como também, que


seja o Senhor sobre todos os aspectos de nos-
sa vida.

A LEI DO REINO DAS TREVAS


Cada nação tem uma lei, uma constituição
que rege a vida de seus cidadãos. Isto também
ocorre na esfera espiritual. Sei a que reino, ou
a que nação uma pessoa pertence, pela lei que
rege sua vida. O reino das trevas tem uma lei
e o Reino da luz, outra. Qual é a lei do reino
das trevas? Em Efésios 2.3, o apóstolo Paulo
ressalta o sistema que domina aqueles que
vivem longe de Deus: "Outrora todos nós tam-
bém vivíamos entre eles, satisfazendo as von-
tades da nossa carne, seguindo os seus desejos
e pensamentos. Como os outros, éramos por
natureza merecedores da ira."
Aqui há uma referência direta aos desejos,
à vontade, aos pensamentos de nossa carne,
contudo, como podemos identificá-los? Quais
são os desejos e os pensamentos da carne?
Quais são as vontades da carne? Muitas vezes
tomamos a palavra carne como referência ao
sensual, ao perverso. Porém, segundo a lin-
guagem da Bíblia, a carne é nossa natureza
75

humana não regenerada, a que herdamos de


Adão, nossos impulsos, desejos, pensamentos
e vontade própria, que, depois da queda, estão
contra a vontade de Deus. O desejo de minha
carne é meu próprio desejo, por mais são e
ingênuo que me pareça. Satisfazer os desejos
da carne é fazer o que eu quero; a vontade de
minha carne é "fazer o que me dá na cabeça" e
os pensamentos da carne consistem em levar
à ação tudo o que me ocorrer. Concluo, então
que a lei que rege o reino das trevas é esta:
viva como queira, faça o que lhe der vontade,
o que você goste, o que lhe convenha, o que
lhe ocorra.

A LEI DO REINO DA LUZ


O Reino de Deus tem uma lei muito dife-
rente: viva como Ele queira.
Viva, sim, como o Senhor manda, como Ele
ordena e não como você quer. Que simples,
mas que enorme diferença isto representa!
Que lei se cumpre na sua vida? A que reino
você pertence? Como é a tua vida? Como você
quer, ou como Ele quer? Não basta cumprir
Sua vontade em alguns aspectos da vida; há
que cumpri-la em todos eles. Não se trata de
76

obedecê-Lo apenas quando nós queremos,


mas em qualquer circunstância.
Já não posso mais reger minha conduta;
minha vontade deve estar definitivamente
rendida a d'Ele. Já não posso traçar minhas
próprias normas dentro da sociedade em que
vivo, nem, tampouco, em meu próprio mundo
interior. Existe uma única lei que deve me
reger: Viver como Ele quer. Se em algum mo-
mento me encontrasse agindo contra Sua lei,
imediatamente deveria corrigir-me, dizen-
do-Lhe: "Senhor perdoa-me; é Tua lei que de-
ve cumprir-se sempre na minha vida." Mas se
sou atrevido, ou indiferente e faço o que me
convém, posso enganar a Deus? As Escrituras
declaram: "Não se deixem enganar: de Deus
não se zomba”.
E de outra parte Davi exclama: "Para onde
me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugi-
rei da tua face?" 44 A vida cristã é para ser vi-
vida de frente para o Senhor e à luz de Sua
presença, com toda transparência. Honesta-
mente, qual é a lei que se cumpre em nossas
vidas? Em relação a muitas coisas, fazemos o
que Ele quer; mas, não é verdade que com
respeito a muitas outras, fazemos o que que-
remos? E, então, a que reino pertencemos?
77

Não podemos ficar com um pé de cada lado.


Deus quer uma definição para esta situação.
Devemos estar inteiramente a Sua disposição
para viver, sempre, conforme Sua vontade.

O IDIOMA DO REINO DAS TREVAS


De acordo com o idioma que uma pessoa
fala, ou como fala, pode-se identificar sua
procedência, se, por exemplo, é francês, japo-
nês, brasileiro ou argentino. Passamos o dia
todo falando, desde que acordamos até a hora
em que nos deitamos; com todos e a cada
momento, de forma que o idioma que falamos
é algo muito importante. O idioma que falo
evidencia a que reino pertenço, pois tanto o
reino das trevas, como o da luz, tem, cada um,
sua própria linguagem.
A lamúria é o idioma do mundo das trevas.
Que linguagem se fala no inferno? Sem dúvida,
a lamúria. Ali tudo é gemido, lamento e des-
contentamento. Esse é, portanto, seu idioma.
Todos estamos na Terra como peregrinos.
Nossa pátria eterna será o Céu ou o inferno.
Ao passar por este mundo, observamos o
idioma que falamos e descobrimos de onde
somos e para onde vamos. Em nossa casa, em
78

todas as partes, que idioma falamos? Nossa


maneira de falar também denuncia quem está
reinando em nosso coração.
A lamúria é o idioma do povo derrotado,
fracassado, daquele que vive nas trevas, na
confusão, na desorientação, na perdição.
Quando dois exércitos regressam da batalha,
como voltam os derrotados? Tristes, cabis-
baixos, queixando- se, resmungando, lamen-
tando.
Em certas ocasiões, ao passar por um está-
dio de futebol, vejo os torcedores das duas
equipes rivais regressando. Não é preciso
perguntar qual delas venceu. Logo percebo,
pelas queixas dos simpatizantes, qual é o time
perdedor. Se os torcedores do "Palmeiras"
voltam reclamando, significa que o "Palmei-
ras" perdeu. O idioma que falam os identifica.
A lamúria é a linguagem do inferno. Se você
pudesse fazer uma breve viagem ao inferno na
volta, com certeza diria: "Ali todos se queixam
ininterruptamente. São lamúrias interminá-
veis."
Mas, vejamos agora que idioma falam os
que estando neste mundo, vivem no reino das
trevas. Se você prestasse atenção, ao menos
79

por um dia, na linguagem das pessoas, ficaria


surpreso.
Certa manhã, ao sair de casa encontrei uma
vizinha no corredor. "Bom dia!", eu lhe disse.
"Bom dia, Jorge", ela respondeu.
"Como vai a senhora?
"Bem, obrigada. Mas veja como nossa faxi-
neira trabalha... isso é jeito de limpar!? Dei-
xou todo o corredor sujo. Não sei para que lhe
pagamos. Estas moças de hoje nem sequer
sabem limpar! O que falta a elas é um pouco
de vergonha na cara!"
Que idioma fala essa senhora? Certamente
que o da lamúria.
Caminho mais duas ou três quadras e cum-
primento a outro vizinho.
"Bom dia, seu José. Como vai?"
"Bem, bem. Mas veja onde os lixeiros dei-
xaram as latas de lixo... Veja! Você acha que
isso é possível!? E todos os dias é a mesma
coisa! Pra quem trabalha essa gente?" E
prossegue em seu caminho queixando-se, di-
zendo algumas outras coisas que não seriam
edificantes reproduzir aqui.
80

Chego ao ponto de ônibus. Há outra pessoa


que chegou ali antes de mim. Movimenta-se
nervosamente. "Esse ônibus não vem nunca!
Ninguém respeita mais horário! Meu Deus,
veja só a hora que já é...Não se pode confiar
mesmo. Não sei por que abriram esta linha se
as empresas não têm veículos suficientes!"
Lamúrias e mais lamúrias...
Finalmente o ônibus chega. A pessoa sobe
primeiro e em seguida subo eu. O coletivo
arranca, e no mesmo instante se acende a luz
vermelha do semáforo. O motorista é obriga-
do a brecar e começa a resmungar sozinho:
"Esses faróis! Em vez de ajudar o trânsito, só
atrapalham! A esta hora deveriam deixar o
trânsito escoar... Que absurdo! Quando é que
vão aprender a fazer as coisas direito?"
Luz verde. Reiniciamos a viagem. Uma mu-
lher grita lá de trás: "Na próxima esquina,
motorista!", mas ele passa reto.
"Motorista, eu disse na esquina!", grita a
mulher contrariada.
"Na esquina não tem ponto de ônibus", gri-
ta de volta o motorista.
"Claro que tem!", ela insiste.
81

"Não, não tem."


"Tem."
Finalmente ela desce e grita para ele: "Vo-
cês motoristas de ônibus são todos iguais.
Não têm vergonha!"
Desço no próximo ponto e procuro um te-
lefone público. No orelhão há um homem fa-
lando e, a alguns passos deste, outro espe-
rando. O que está falando não demonstra ne-
nhuma pressa; o outro evidencia impaciência
e mal- estar.. Não sabe o que fazer. Está furi-
oso. Percebo que está dizendo algumas coisas
a meia voz: "Até que horas ele vai ficar aí?
Pensa que é o dono do telefone? Por que não
compra um só para ele?"
Finalmente o outro termina.
"Já estava na hora, não?"
Coloca a ficha e disca...
"Ocupado!", diz. Insiste e... novamente
ocupado! "Mas que droga! Está sempre ocu-
pado!" As lamúrias continuam. É seu idioma.
E se o telefone comer sua ficha, é melhor ta-
par os ouvidos. Muitas vezes o clima é o cul-
pado pelas nossas queixas: "Que tempo, não?"
"Ufa! Que calor!" "Que frio!" "Está nublado
82

outra vez!" "Está chovendo de novo!",


"Quando esse sol vai dar as caras?!"
Eu pergunto: o que você quer? Que nunca
faça calor, que nunca faça frio ou chova? O
problema não é o que se passa fora, mas o que
reina dentro de nós.
Abra a porta e entre em uma casa. Se você
puder se transformar num personagem invi-
sível, melhor. Porque quando um estranho
entra em uma casa todos se tornam muito
amáveis. "Boa tarde. Fique à vontade. Pode
entrar. Como vai? E a família? Mamãe, por
favor, prepare alguma coisa para tomar?" Por
isso digo, se puder entre sem que ninguém o
veja, para que tudo continue se desenrolando
naturalmente. Numa situação dessas, o que
você veria? Que idioma se fala nessa casa?
O filho se queixa com a mãe: "Mamãe,
quantas vezes já disse que preciso de uma
calça? Por que você comprou para ele e para
mim não?"
A mãe se queixa do filho: "Filho, vem co-
mer! Quantas vezes tenho que te chamar? O
que você pensa que eu sou? Sua escrava? Ah!
E outra coisa: guarde toda essa roupa! O que
você está pensando?"
83

A esposa se queixa do marido: "Tem uma


goteira. Faz quinze dias que estou te avisando
e até agora você não fez nada!"
O marido se queixa da mulher: "E, outra
vez essa comida! O dia todo trabalhando pra
chegar em casa e comer isso?!" Existem trevas
por dentro de toda essa gente e sua boca ex-
terioriza do que está cheio o coração.

O IDIOMA DO REINO DA LUZ


Qual é o idioma do Reino de Deus? O lou-
vor. Que idioma se fala no Céu? O louvor! Ali
todos louvam. Todos dizem: "Obrigado, Se-
nhor!" Glória ao Senhor! Aleluia!" Se você pu-
desse fazer uma viagem ao Céu, na volta nos
diria: "Todos ali falam o idioma do louvor.
Ninguém se queixa."
Enquanto no inferno não há ninguém que
louva, no Céu não há ninguém que se queixa.
Em cima, tudo é louvor; embaixo, tudo é
queixa.
A que país você pertence? Que idioma você
utiliza? Sua linguagem denuncia quem está
reinando em seu coração. O louvor é o idioma
do povo triunfante, vitorioso. O exército ven-
84

cedor volta da batalha cantando, aclamando.


Existe um tom de vitória em sua caminhada,
há louvor. Por quê? Porque venceram. Com
que povo você se identifica? Qual é a lingua-
gem que domina seus lábios?
As vezes, nossa conduta nos leva à confu-
são. Por exemplo, quando nos sentamos à
mesa, inclinamos a cabeça e dizemos: "Obri-
gado, Senhor, por este pão. Amém." Em se-
guida pegamos a colher, provamos o primeiro
bocado e dizemos contrariados: "Que comida
insossa!"
Como? Mal começamos a louvar e já esta-
mos nos queixando? Que idioma falamos?
Louvamos e nos queixamos! As duas coisas.
Afinal, a que reino pertencemos?
Durante o culto todos cantamos: "Ele é
digno de louvor. Oh! Senhor, como és bom
...Te adoro ... Criador do Céu e da Terra ...Ele é
o Soberano... domina todas as coisas ..." Em
seguida saímos por aí. "Este ônibus não chega
nunca!" Começam a sair queixas do nosso co-
ração.
Estamos em uma reunião louvando ao Cri-
ador do Céu e da Terra, e ao sair quei-
xamo-nos do tempo, do calor, do frio ou do
85

semáforo. Parece-nos que algumas circuns-


tâncias de nossas vidas escapam das mãos do
Deus que governa o Universo, especialmente o
vermelho dos faróis quando estou atrasado.
É claro que posso, às vezes, fazer comentá-
rios sobre o tempo, o custo de vida, ou a situ-
ação social; também é necessário que disci-
pline e corrija meus filhos, meu empregado,
ou que faça pedidos a meu patrão. Mas em
outro tom. Sem queixar-me. A queixa é um
espírito do mundo das trevas que vai tingindo
com o seu tom escuro a conversação, tudo o
que dizemos.
As pessoas nos escutam e não nos enten-
dem. Às vezes, dizemos "Aleluia! Glória a
Deus!" e outras vezes queixamo-nos, como
eles.

O "QUEIXAVOR"
Parece-me que nos acontece como aos que
vivem na cidade de Misiones, no norte da Ar-
gentina, na divisa com o Brasil. Falam um es-
panhol mesclado com português. Chamamos a
esse idioma de "portunhol", porque é metade
português e metade espanhol. Falam assim
porque são habitantes da fronteira; vivem
86

praticamente nos dois países ao mesmo tem-


po.
Qual é o idioma que falamos? O "Queixa-
vor"! Queixa e louvor. Um pouco de cada. A
que Reino pertencemos? Parece que vivemos
nos dois reinos ao mesmo tempo, com um pé
de cada lado. Por isso muitas vezes fica difícil
descobrir quem é do mundo e quem é da
Igreja. Porém, Deus está separando uma coisa
da outra. Está definindo o povo, para que cada
um, como parte desse povo, viva como deve
viver e fale como deve falar. Paulo indica-nos
qual há de ser nossa linguagem: "...dando
graças constantemente a Deus Pai por todas as
coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo.”
"Dêem graças em todas as circunstâncias,
pois esta é a vontade de Deus para vocês em
Cristo Jesus."
Dê graças sempre e por tudo. Esta é a von-
tade de Deus. Se o Senhor ordena que falemos
esta linguagem, é indigno falar qualquer ou-
tra. Deve-se agradecer sempre e por tudo,
aconteça o que acontecer.
Mas, por que? Porque o Senhor reina sobre
toda circunstância e tudo o que existe em
nossa vida encontra-se sob Seu controle. Ele
87

nos ensinou que até os fios de nossos cabelos


estão contados e que não cai uma folha sem
que Ele saiba. Como, então, vamos dar lugar à
ansiedade e à queixa? Paulo, para confirmar
isso, disse que "Deus age em todas as coisas
para o bem daqueles que o amam" (Rm 8.28).
De maneira que a única expressão digna de
um filho de Deus diante de tudo que acontece
é agradecer e louvar ao Senhor, que governa
tudo.
Certo dia um crente aproximou-se de mim
e disse: "Irmão, me aumentaram o salário,
Glória a Deus!"
"Que bom! Deus te abençoe! Alegro-me
muito."
Depois de algum tempo encontrei-o nova-
mente, mas desta vez ele estava triste, quei-
xoso. Perguntei-lhe:
"Irmão, o que aconteceu? Por que te quei-
xas?"
"Fui despedido do trabalho."
Quão importante é aprender a dar graças,
sempre e por tudo! De outro modo seguire-
mos com a "queixavor". Até o ateu agradece e
fica contente, quando as coisas vão bem. A
88

característica de um súdito do Reino de Deus


é que ele agradece por tudo. "Irmão, perdi o
emprego, Glória a Deus! Ele me dará um tra-
balho melhor!" Isso é fé; isso é louvor.
Suponhamos que uma senhora esteja na
sua cozinha lavando louça. Começa a lavar
uma linda e valiosa jarra e, de repente, ela
escorrega-lhe das mãos e cai ao chão, ficando
em pedaços. O que fazer, agora?
"Mas que estúpida, que burra! Estas mãos
de trapo que tenho...", começa a lamentar-se.
Mas como? Não deveria dar graças sempre e
por tudo? "Mas a jarra se quebrou! Tenho que
agradecer?"
Exatamente! Tem que dar graças. Assim diz
a Palavra de Deus. A jarra se despedaçou,
perdeu-se, mas que ao menos não se perca o
prazer. Mas, se ao nos queixarmos a jarra se
conserta, vamos todos começar a resmungar!
Sem dúvida alguma, queixas não resolvem
nada. Perde-se a satisfação, a presença de
Deus, a fé, e tudo continua igual. Dê graças
sempre... Esteja sempre satisfeito.
Um dia, um irmão - amigo meu - disse-me:
"Jorge, sabia que minha noiva me abandonou?
89

Glória a Deus!" Como, "Glória a Deus!? Então


você não gostava dela?", perguntei.
"Jorge, Deus sabe quanto a amo, mas Ele
me ensinou a agradecer por tudo." "Esse
aprendeu o idioma", pensei. Aprendeu a lin-
guagem do Reino e crê firmemente que Cristo
reina sobre toda circunstância, que não há
casualidade, que não há contrariedade, que
todas as coisas cooperam para o bem e, por-
tanto, dá graças sempre e por tudo.
O mundo ficará maravilhado, surpreso, ao
ver-nos dando graças a Deus sempre e por
tudo. Na adversidade ou na prosperidade, no
êxito ou no fracasso, na montanha ou no vale,
não podemos deixar de falar o idioma do Rei-
no dos Céus, nosso idioma. Este louvor, esta
expressão de gratidão está inspirada no re-
conhecimento íntimo de que Cristo reina so-
bre toda situação.
Depois de meditar sobre essas coisas, você
notará, mais do que nunca, a quantidade de
vezes que se queixa num só dia. Não será fácil
livrar- se da queixa, se estiver muito acostu-
mado a ela. Porém, se você tomar isto com um
firme propósito, com a ajuda do Espírito de
Deus e com disciplina, poderá corrigir-se
90

desse mal e aprender a dar graças sempre e


por tudo.
Devo dizer, também, que há um espírito
atrás das palavras que pronunciamos. Não é
simplesmente questão do idioma, mas tam-
bém, do tom e da ênfase com que damos sig-
nificados diferentes a nossa expressão. Ge-
ralmente, o nosso tom ao falar deixa transpa-
recer o espírito que predomina em nós. Às
vezes, escutamos alguém orar no culto com
palavras de louvor e gratidão, mas num tom
de tristeza e amargura. Ainda que dê graças,
há um quê de queixa, de lamento no que diz.
Quando conversa, embora não se queixe dire-
tamente, manifesta um espírito de queixa.
Que Deus nos purifique profundamente,
desde o mais íntimo de nosso espírito, reti-
rando toda lamentação, toda amargura que
possa haver ali oprimindo-nos, para que li-
vremente, com transparência, possamos falar
a linguagem do Reino dos Céus! Anime-se a
dizer a todo momento e circunstância, de todo
coração: "Glorificado seja a Seu nome!"
91

A BANDEIRA DE CADA REINO


Cada país tem também uma bandeira. Suas
cores e sua confecção identificam a nação. As
palavras não fazem falta. É algo que não se
ouve; pode- se ver. Se me apresento com as
cores azul e branco, em listas horizontais,
todos saberão que sou argentino. Cada país,
tem, então, uma bandeira que o distingue dos
demais. O reino das trevas e o Reino de Deus
também possuem uma bandeira. Qual é a
bandeira do Reino de Deus? O que poderão
ver em nós que, sem dizer nada, identifi-
que-nos como discípulos de Jesus?
Cristo, depois de lavar os pés dos doze, em
um clima de intimidade e afeto, disse-lhes:
"Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns
aos outros. Como eu vos amei, vocês devem
amar- se uns aos outros. Com isto todos sabe-
rão que vocês são meus discípulos, se vocês se
amarem uns aos outros.
O mundo nos identificará por esse sinal, se
tivermos amor uns para com os outros. O
mundo nos olha, observa-nos e, mesmo sem
falarmos, deve notar que pertencemos ao
Reino de Deus. A bandeira que caracteriza os
súditos deste Reino é o amor.
92

Em Cantares 2.4 a esposa (figura da Igreja)


fala do amado (figura de Cristo): "Leva-me à
sala do banquete e o seu estandarte sobre mim
é o amor."
Que bandeira Cristo pôs sobre a Igreja?
Amor. Isto deve ser o que nos diferencia. Um
historiador pagão, falando do amor que ca-
racterizava os primeiros cristãos, dizia: "Onde
forem vistas duas pessoas que, mesmo sem
conhecer-se, amam-se, ali há dois cristãos."
Afinal quando olhamos a vida da Igreja Primi-
tiva, tal qual a descreve o livro de Atos, de-
vemos reconhecer que o amor era, sem ne-
nhuma dúvida, a característica predominante
dos discípulos. Assim haviam aprendido de
Jesus. Amor. "Com a presença dele todos sa-
berão que sois meus discípulos e se tiverdes
amor uns aos outros", ensinava Jesus.
Do outro lado, está a bandeira do reino das
trevas. Qual? O egoísmo? Em vez de amar aos
outros também, amo somente a mim. Vivo
para mim, esforço-me para mim, preocupo-me
apenas comigo. Tudo converge para mim. Se
quiser saber se alguém pertence ao reino das
trevas, observe a bandeira que tremula sobre
sua vida. Se lá houver as cores do egoísmo,
93

com certeza esse alguém pertence ao reino


das trevas.

O QUE NÃO AMA A SEU IRMÃO


Para um filho de Deus, amar a seu irmão
não é uma exortação ou um conselho de Deus;
é um mandamento. É algo inquestionável.
Existem vários textos da Epístola de João en-
focando isto. Se pergunto: Em que reino você
está, no das trevas ou no da luz? Talvez você
responda: "No reino da luz, é claro!"
Sem dúvida, devo passar esta afirmação
pelo exame da Palavra de Deus: "Quem afirma
estar na luz mas odeia seu irmão, continua nas
trevas." 48 Há algum irmão que você odeia?
Existe alguém na sua congregação que você
não ame? "Oh não, irmão!", você me dirá, "Eu
não detesto ninguém, não odeio ninguém".
Veja bem... Detestar não é odiar; detestar é
um termo mais suave. É deixar de amar, não
apreciar, colocar em segundo plano. Há al-
guém a quem você menospreza? Há alguém de
quem diz: "Não aguento esse sujeito!" Pois
isso é detestar. Se você não o suporta é por-
que o detesta. E se você detesta um irmão,
94

Deus diz que você ainda está vivendo nas tre-


vas.
Segue o texto de João: "Quem ama a seu ir-
mão permanece na luz, e nele não há causa de
tropeço. Mas quem odeia seu irmão está nas
trevas e anda nas trevas; não sabe para onde
vai, porque as trevas o cegaram.”
Se você não ama, está nas trevas e tropeça
com seus irmãos. Mas não há tropeço com o
que ama, afirma o texto. De forma que, mesmo
que o outro venha como um touro enfurecido,
você pode evitar o confronto. Dois não trope-
çam, se um não quer: "Desta forma sabemos
quem são os filhos de Deus e quem são os filhos
do diabo: quem não pratica a justiça não pro-
cede de Deus; e também quem não ama seu
irmão."
E se não é de Deus, de quem é?
Muitos dizem: "Irmão, não detesto nin-
guém".
"E fulano de tal?"
"Não, não. Com ele não tenho nada. Não
tenho nada com ninguém..."
Pois esse é o problema: "não ter nada!"
Deveria ter alguma coisa! Deveria ter amor.
95

Aqui já não se diz, o que detesto, mas sim, o


que não amo. Se você não tem nada, não tem
amor. E João ressalta claramente que o que
não ama, não é de Deus. "Sabemos que já pas-
samos da morte para a vida porque amamos
nossos irmãos. Quem não ama, permanece na
morte."
Passa-se da morte à vida? Como se sabe?
"Porque um dia, há cinco anos, entreguei mi-
nha vida a Cristo em uma reunião. Seis meses
depois me batizei nas águas e agora sou
membro da Igreja em plena comunhão."
Não, o que conta não é o que aconteceu
um dia, mas o que você tem agora. Sabemos
que passamos da morte à vida, na qual ama-
mos aos nossos irmãos. Como posso saber que
permaneço na vida? Não pelo que aconteceu
há alguns anos, mas pelo que está acontecen-
do agora no meu coração. Nosso testemunho
deveria ser: "Eu sei que pertenço ao Reino de
Deus porque amo a meus irmãos." O apóstolo
João escreve: "O que não ama a seu irmão,
permanece na morte". Sem dúvida, alguém
poderia dizer: "Eu sei que tenho que amar a
meus irmãos, mas há um a quem não consigo.
Sabe por quê? Porque esse aí não deve nem
ser meu irmão!"
96

Como você pode afirmar que ele não é seu


irmão?
Como você se atreve a constituir-se em ju-
iz? E se não é seu irmão, então o que é? Seu
próximo!
E Cristo disse: "Amarás a teu próximo como
a ti mesmo"
De maneira que não há saída, ame-o como a
si mesmo, como o Senhor ordenou!
"Não, não, não. Acho que esse não é nem
sequer meu próximo!"
E o que é, então? Seu inimigo? Cristo disse:
"Amem os seus inimigos" 53 Portanto, não há
escapatória. Se é seu irmão, tem que amá-lo.
Se é seu próximo tem que amá-lo. E se é seu
inimigo, também tem que amá-lo.
Em João 3.15 lemos: "Quem odeia seu irmão
é assassino, e vocês sabem que nenhum assas-
sino tem vida eterna em si mesmo". Pergunto o
que temos feito até hoje com todos estes tex-
tos? Deus está abrindo hoje as páginas de Seu
livro diante dos olhos de Seu povo. E se não
amo a meu irmão, Deus diz que sou assassino,
e como assassino, não posso ter vida perma-
nente em mim.
97

O amor aos irmãos não é um mero afeto


emocional, um amor teórico ou amor "espiri-
tual". Não, de modo algum. É um amor prático,
real, tangível. Não basta abraçar um irmão.
Cristo quer colocar fundamentos concretos e
firmes para o Seu Reino. "Todo aquele que nele
permanece não está no pecado. Todo aquele
que está no pecado não o viu nem o conheceu”.
Esse tipo de amor que teve Cristo, que O
levou a dar Sua vida, é o que devemos ter.
Devo amar até poder oferecer minha vida por
meus irmãos. É fácil dizer: "Irmão querido, te
amo com todo meu coração." Mas, um dia, es-
se irmão querido bate a sua porta. Vem inse-
guro. Não sabe como começar a conversa. De
repente diz: "Irmão, este mês o patrão não me
pagou. Por favor, você poderia emprestar-me
algum dinheiro para que minha família possa
comer? E aí você responde: "Olha, irmão, te-
nho uma regra para questões de dinheiro:
'Não empresto dinheiro a ninguém, nem peço
nada emprestado. Então... Você entende? Deus
o abençoe!"
De onde saiu essa regra? Vejamos o que
Deus disse em Sua palavra: "Se alguém tiver
recursos materiais e, vendo seu irmão em ne-
cessidade não se compadecer dele, como pode
98

permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos,


não amemos de palavra nem de boca, mas em
ação e em verdade." 55 Esse é o tipo de amor
que Cristo nos ordena.

ESTE É SEU MANDAMENTO


Quero salientar um último texto que nos
ajudará muitíssimo com relação a este tema:
"E este é o seu mandamento: que creiamos no
nome de seu Filho Jesus Cristo e que nos ame-
mos uns aos outros, como ele nos ordenou."
Este é o mandamento de Deus. O que se faz
com um mandamento? Simplesmente, deve-se
obedecê-lo. Se Ele manda em minha vida, só
me resta obedecer. E Ele ordena que eu creia
em Seu nome e que ame a meus irmãos.
Faz alguns anos, havia um irmão a quem
não conseguia amar. Ele tinha dito tantas coi-
sas sobre mim que me era difícil encará-lo. Ia
a meu quarto e orava: "Senhor, peço-te que
me modifiques. Enche-me de amor para com o
irmão. Senhor, me abençoe. Dá-me amor, Se-
nhor." Fazia isso várias vezes. Porém, o amor
não vinha. Porque o amor não vem por orar,
mas sim por obedecer. Podia ter passado dez
anos pedindo a Deus que me enchesse de
99

amor sem chegar a experimentá-lo. Mas se


Cristo me deu o mandamento de amar, não
tenho que pedir: "Oh! Senhor, dá-me...," mas,
ao contrário, devo agir com fé, obedecendo
Sua palavra. Na obediência manifesta-se a
bênção de Deus.
Suponhamos que haja um irmão a quem
não consigo tratar com amor. O que faço?
Deus me diz que devo amá-lo. Pois então, vou
amá-lo, mesmo que não sinta nada! O que im-
porta o que eu sinta? Assim que o vir, vou
tratá-lo como se o amasse. Vou agir em obe-
diência ao mandamento.
Então, meu irmão chega e acerco-me dele
para cumprimentá-lo. Em outras ocasiões o fiz
fria e secamente. Mas, agora, em obediência a
Deus, vou cumprimentá-lo como se o amasse.
Há um mandamento; ajo de acordo com ele.
Nesse meio tempo, Satanás me diz:
"Hipócrita, hipócrita!"
Viro-me e lhe digo: "Mentiroso, mentiroso!
Não sou hipócrita, mas sim obediente."
Encontro-me com meu irmão (continuo
sem sentir nada). Cumprimento-o como se o
amasse e, ainda não terminei de abraçá-lo,
quando algo acontece dentro de mim e descu-
100

bro que o amo! O que aconteceu? Já não sinto


ressentimento! Na obediência se desata o po-
der de Deus.
Ilustremos isto com um exemplo bem sim-
ples. Suponha que você tem um aquecedor a
gás na sua casa. Um dia, você recebe um hós-
pede que nunca viu esse tipo de aquecedor e
pergunta:
"Por favor, preciso de água quente."
"Bem, é só abrir a torneira para obter toda
água quente que precisar", você responde.
Ele olha o aquecedor e vê uma pequena
chama: "Ah, mas eu preciso de muita água.
Essa chaminha não vai esquentar toda a água
de que necessito!"
"Abra a torneira!", você insiste.
A chama é pequena, mas quando seu hós-
pede abre a torneira....Vvrrummm!...O aque-
cedor se acende por completo e a água es-
quenta.
"Uau! Está muito quente! Abaixe isso um
pouco, por favor!"
Da mesma forma acontece com o amor.
Tenho uma chama de amor pequenininha por
um irmão, mas no momento em que ajo com fé
101

e obediência, quando o trato como se o amas-


se intensamente, sabe o que acontece? O
aquecedor se acende e começa a correr um
afeto caloroso por ele!
Se há uma família que você não pode amar,
comece a tratá-la como se a amasse. Se a mãe
está doente, vá até lá, entre na cozinha, colo-
que o avental e lave os pratos para ela; limpe
o assoalho e prepare a comida para seus fi-
lhos. Aja com fé. Quando voltar para sua casa
perceberá que a ama. Deus desata Sua bênção
na obediência. Amar aos irmãos é uma ordem,
não uma opção. Não nos resta outra alterna-
tiva. Amo a todos obedecendo ao Senhor ou
faço o que me der vontade e fico fora do Seu
Reino. Se realmente você quer sentir o amor
de Deus no seu coração, não espere sentir
algo para agir; faça como se amasse e quando
agir com fé, amará de verdade.
Eu vivia num bairro onde há muitos armê-
nios, árabes e judeus. Sabe o que alguns co-
mentam? "Como se ajudam esses judeus!" De
fato, eles se ajudam. Se você for à loja de um
judeu e ele não tiver a mercadoria solicitada,
ele lhe indica o estabelecimento de outro ju-
deu. Os comerciantes desse lugar dão bolsa
para os estudantes, criam cooperativas, clu-
102

bes, entidades que impulsionam o progresso


dos seus. Espero pelo tempo, não muito dis-
tante, em que o mundo diga: "Como se amam
os do Reino de Deus! Como se amam!"
Alguém comentará: "Tenho um vizinho, um
operário que comprou um terreninho e, em
seguida, os tijolos. Durante alguns meses, to-
dos os sábados, vieram alguns deles e rapidi-
nho a casa já estava levantada! É impressio-
nante como eles se amam!" Nesse dia haverá o
verdadeiro amor e o mundo o saberá.
Um outro comentará: "Tenho uma vizinha
que esteve doente, mas, você precisava ver!
Tinha a casa melhor que nunca. Cada dia vi-
nha alguém do grupo e lhe fazia todas as coi-
sas! Como se ama essa gente!"
O que se diz atualmente sobre os evangéli-
cos? "Boa gente, os evangélicos. Não fazem
mal a ninguém, não fumam, não têm vícios. É...
são boa gente, sim." Essa é a imagem que
passamos. No meu tempo de escola secundá-
ria, meus colegas (parafraseando as palavras
de um tango), diziam-me: "Não fuma, não vai
ao cinema, as corridas não lhe agradam." Essa
era a impressão que tinham de mim. Uma
imagem negativa. Um simples quadro de pri-
103

vações. Hoje o mundo não tem de nós a ima-


gem de uma comunidade dinâmica, positiva,
que se ama, que se solidariza, de tal maneira
que digam: "Eu também quero pertencer a
essa comunidade". Porém, Deus está restau-
rando Sua Igreja e as palavras de Cristo serão
uma realidade: "Com isto todos saberão que
vocês são meus discípulos, se vocês se amarem
uns aos outros."

4 - A COMUNIDADE DO REINO

O APÓSTOLO P AULO REFERE - SE a Jesus Cristo


em Colossenses 1.18 como "...a cabeça do cor-
po, que é a igreja". Esta figura é a mais impor-
tante que aparece no Novo Testamento refe-
rente à revelação do que é a Igreja. A Igreja é
um corpo. Como ele está formado? Pela cabe-
ça e pelos membros. Não pode haver um cor-
po sadio sem cabeça; tampouco pode haver
um corpo sem membros. O corpo é a cabeça
mais os membros.
104

Paulo usa duas figuras para ressaltar uma


mesma verdade: A Igreja é um Reino cujo Rei
é Cristo e cujos súditos somos nós; e a Igreja é
um corpo cuja cabeça é Cristo e, nós, os mem-
bros. Com estas figuras, Paulo está ensinando
a mesma verdade: Cristo é o Senhor da Igreja.
Ele é o Chefe, o Dono, o Amo, a máxima Auto-
ridade. Cristo é a cabeça da Igreja. Cristo é o
Rei do Reino da Luz, para onde Deus nos en-
viou.
Existe entre estas duas figuras uma grande
semelhança. O corpo humano é um pequeno
reino cujo rei é a cabeça e cujos súditos são os
membros. O corpo funciona como tal porque a
cabeça (o rei) manda e os membros (os súdi-
tos) obedecem. O rei ordena ao braço: Levan-
te!" e o braço se levanta. "Abaixe!" e ele abai-
xa. Não o diz apenas externamente, mas sim
através do sistema nervoso. Ordena aos pés:
"Caminhem!" e caminham. Diz: "Parem!" e
eles param. O que seria de um corpo se não
funcionasse como um reino? Por outro lado
um reino é como um corpo. Os súditos do rei
são os membros do reino e a cabeça é o rei. Da
mesma forma podemos perguntar: O que seria
de um reino se não funcionasse como um
corpo?
105

QUANDO NÃO HÁ HARMONIA


Às vezes os pesquisadores do campo da ci-
ência médica fazem alguns experimentos com
animais. Por exemplo: pegam um cachorro
vivo e o submetem a uma cirurgia que destrói
certos centros de locomoção no seu cérebro.
Em seguida observam seus movimentos. O
animal tem vida, move-se, mas sem ordem.
Não há autoridade em seu corpo. Os membros
não obedecem. Quer caminhar, levanta uma
pata e cai; quer levantar- se e não consegue.
Não há coordenação porque os membros não
têm uma cabeça que os dirija.
Deparar-se com um quadro desses é horrí-
vel, muito mais é observar a Igreja, o Corpo de
Cristo, agir dessa maneira. Isso acontece
quando nenhum membro da Igreja não está
sob as ordens da cabeça, que é Cristo. Cada
um atua, então, como quer, ou como melhor
lhe parece. Não existe harmonia. Há vida, há
movimento, talvez muito empenho. Porém,
não há progresso. Assim que os membros do
corpo reconhecem a cabeça e a obedecem,
incondicionalmente, podemos ter uma ima-
gem do que é a Igreja de Cristo aqui na Terra.
Graças a Deus que Ele está curando a Igreja.
Ele está levantando esse corpo doente, está
106

lhe dando vida e a Igreja está respondendo de


maneira alentadora.
Se a alguém lhe ocorresse perguntar: qual é
a Igreja verdadeira? Imediatamente pensarí-
amos naquela que tem uma doutrina sadia,
naquela que teologicamente está mais acer-
tada. Contudo, responderia com simplicidade
a essa pergunta dizendo que a Igreja verda-
deira é aquela que vive e atua na Terra como
o Reino de Deus e como o Corpo de Jesus
Cristo.

VIDA E SUJEIÇÃO
A Igreja Primitiva não tinha um livro de
doutrina, nem sequer o Novo Testamento. Mas
era a Igreja verdadeira! Estava sujeita à Ca-
beça, cada um reconhecia Cristo como o Se-
nhor de sua vida e tinha a vida do Corpo. Co-
mo, então, saber se alguém pertencia a Igreja
de Cristo ou não? Exatamente por estes dois
fatores: vida e submissão. São as duas coisas
que indicam que pertenço à Igreja.
A seguir veremos alguns aspectos práticos
do que é a verdadeira Igreja. Para isso consi-
deraremos o capítulo 2 do livro de Atos. Ali há
uma Igreja que, verdadeiramente, funciona
107

como a Igreja de Cristo dentro de uma cidade,


porque expressa e vive o Reino do Senhor.
Embora estejamos falando da Igreja como
um todo, é bom individualizar um pouco.
Porque ao referir-nos a ela, dizemos: "Sim, é
isso mesmo, a Igreja deveria ser assim". Po-
rém, quem forma a Igreja? Não está formada
por cada um de nós? Claro que sim! De modo
que se a Igreja não funciona é porque você
não funciona e eu não funciono. Não falemos,
pois, dela como algo alheio a nós mesmos e de
seus problemas, como dos problemas de al-
guma instituição estranha a nossa vida.
Por isso gostaria de particularizar um
pouco e dizer: a verdadeira Igreja é aquela na
qual cada um dos seus membros está consoli-
dando, com palavras e atos, quatro expressões
de vida que se vêm na Igreja Primitiva e que
vamos considerar nos próximos parágrafos.

1. JESUS CRISTO É O SENHOR DE MINHA VONTADE

A Igreja verdadeira é aquela na qual cada


um dos seus membros demonstra com seus
atos que Jesus Cristo é o Senhor de sua von-
108

tade: "Portanto, que todo Israel fique certo


disto: este Jesus, a quem vocês crucificaram,
Deus o fez Senhor e Cristo."
Pedro, diante da multidão reunida no dia
de Pentecostes, fez uma única coisa: apresen-
tou uma pessoa. Uma pessoa a quem eles já
conheciam como personagem histórico: Jesus
de Nazaré. "Este Jesus, a quem vocês crucifi-
caram, Deus fez Senhor e Cristo." As milhares
de pessoas que escutaram isso, compungidos
de coração, disseram a Pedro e aos outros
dois apóstolos: "Irmãos, que faremos?"
Ali estavam três mil pessoas que até aquele
dia nunca haviam procurado orientação, nem
haviam dito a ninguém: "O que tenho que fa-
zer?" Muito pelo contrário, sua atitude havia
sido sempre: "Eu faço o que me der vontade".
Porém, agora tinham uma nova atitude! Então,
veio a ordem. Pedro, como seu mestre, não
titubeou. Não lhes fez um convite sutil. Foi
uma ordem (e este é o Evangelho do Reino):
"Arrependam-se, e cada um de vocês seja bati-
zado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos
seus pecados, e receberão o dom do Espírito
Santo."
109

Em seguida, o versículo 41 (de Atos 2) res-


salta: "Os que aceitaram a sua mensagem..." -
quer dizer, os que receberam sua ordem, os
que a obedeceram, os que reconheceram a
autoridade de Cristo, neste caso através de
Pedro - "...foram batizados; e naquele dia hou-
ve um acréscimo de cerca de três mil pessoas."
Podemos dizer que ali nasceu a Igreja como
comunidade. A Igreja verdadeira, formada por
aqueles que podiam dizer de todo coração;
"Jesus Cristo é o Senhor de minha vontade."
Três mil vontades se dobraram, naquele ins-
tante, ante a vontade de Jesus. Três mil von-
tades se romperam, se renderam: Que fare-
mos? Houve arrependimento, uma mudança
total de atitude. Ante a ordem: "Arrepen-
dam-se e sejam batizados", sem demora, ar-
rependeram-se e batizaram-se.
Sim, a Igreja é um Corpo. Quantas vontades
pode haver em um corpo? O que aconteceria
se eu tivesse em meu corpo mais de uma von-
tade? Eu, Jorge Himitian, tenho uma só von-
tade que se expressa plenamente através do
meu Corpo. Se quero andar, ando; se quero
falar, falo; se quero pular, pulo. Que conflito
haveria em mim se eu tivesse duas vontades?
Se uma quisesse andar e a outra sentar-se! Se
110

um pé quisesse ir para frente e o outro se ne-


gasse a fazê-lo! E o que aconteceria se dentro
deste corpo existissem três vontades? E se
fossem mil?
Impossível! Meu corpo tem apenas uma
vontade. E quando você recebe o Corpo de
Cristo e O reconhece, pelo batismo, como Se-
nhor, imediatamente sua vontade desaparece.
Você desaparece sob as águas e se levanta
uma nova criatura que diz: "Em minha vida já
não mando eu, mas, Cristo."
A vontade é algo natural em todos nós. Ao
somar-se à comunidade dos discípulos de Je-
sus, o cristão deixa de atuar de forma inde-
pendente. Tampouco pode fazê-lo de forma
dicotômica, ou seja: conforme a sua vontade e
a vontade de Cristo. A partir do momento em
que Cristo Se transforma no Senhor de sua
vida, você passa a pertencer a Sua Igreja, há
para você uma única maneira de viver. Não se
pode estar a todo instante dizendo: "O que
faço? Isto ou aquilo?"
Você deve limitar-se, simplesmente, a fazer
a vontade de Deus, o que Ele lhe ordenou. Se
aparece uma angústia diante de uma pergunta
difícil, não pode dizer: "E agora? Digo a ver-
111

dade? Minto? O que faço?" Você não tem op-


ção! Não há dois caminhos. Agora, para você,
há uma única possibilidade: Não mentir. Já
está decidido. Cristo decidiu por você. Não
existem as duas possibilidades.
Chega a hora de pagar os impostos. Há um
documento, com uma declaração jurada, que
diz mais ou menos assim: "Dou testemunho
que os dados acima declarados são fidedig-
nos." Agora, "Que faço? Digo tudo? Ou apenas
a metade? Afinal, o que não for pago ao Esta-
do vou dá-lo para a obra do Senhor."
Não! Já está decidido. Leia Romanos 13 se
há alguma dúvida. Não se pode mentir. De
maneira que quando você declara com jura-
mento e assinaturas, o que está assinando?
Uma mentira?
Ninguém o obriga a ser cristão. A porta es-
tá aberta; você pode ir ao reino da trevas, se
quiser. Mas você não pode pertencer ao Reino
de Deus e viver por vontade própria. Você já
não manda em sua vida. Há só uma vontade
que comanda. E ainda que o ameacem de
morte, ainda que lhe tirem a casa, você tem
que fazer a vontade de Cristo.
112

Palavra dura, não é? Quem a pode supor-


tar? "Desde os dias de João Batista até agora, o
Reino dos céus é tomado à força, e os que usam
de força se apoderam dele." 61 Os covardes fi-
cam fora disso. Se você é covarde e não se
atreve a andar como o Senhor ordena, não há
lugar para você no Reino de Deus. Simples-
mente não há lugar. Você tem ideia de quantas
tentações se livra de uma única vez, quando
toma essa atitude?
Se você vai a uma loja e paga com uma nota
de R$ 50,00 e o caixa, por engano, dá de troco
uma de R$ 100,00, o que você faz? Não diz
nada? Espere um momento: essa alternativa
simplesmente não existe! Só há um caminho:
se o dinheiro não é seu, você tem que devol-
vê-lo:
"Olha, moço, o senhor se enganou."
"Você foi muito honesto! Obrigado!", ele
dirá.
E não se sinta orgulhoso por isso. Você fez
apenas o que deveria fazer! Não era seu di-
nheiro e você o entregou a pessoa certa.
Poderíamos juntar a este mais mil exem-
plos da vida diária. Mas o importante é que
113

entendamos que nossa vontade deve ser sub-


missa.
Quando Pedro disse: "cada um de vocês se-
ja batizado" ninguém pensou em lhe dizer:
"Pedro, está fazendo frio. Não posso me bati-
zar dentro de três meses, quando chegar a
Primavera?"
Não, era uma ordem. Ninguém disse: "Vou
me arrepender e aceitar Cristo, mas, isso de
batismo... poderia estudá-lo por algumas se-
manas, para orar e ver se é a vontade de
Deus?"
Como, "se é a vontade de Deus?" Se Sua
vontade já está expressa! Não há alternativa.
A Escritura não nos diz que três mil pergun-
taram: "O que faremos?" Também não nos diz
que três mil foram compungidos. Mas que três
mil receberam a Palavra, a ordem. Talvez
houvesse muitos mais que perguntaram, "O
que faremos?" Mas só três mil se renderam e
se juntaram à comunidade do Senhor. Quando
Cristo é o Senhor, há uma única maneira de
viver: à plena luz e cumprindo, a cada passo,
Sua vontade. Não se iluda. Deus não pode ser
enganado. Seu Reino é o Reino da luz. Nada se
114

pode esconder na presença d'Aquele que É a


Luz.
Um crente pode se enganar unicamente
quando ignora se o que faz é, ou não, a von-
tade de Deus. Nesse caso, seu fracasso tem
certa justificativa, porém, ainda assim, ele
tem a responsabilidade de procurar mais luz
de Deus e conhecimento de Sua palavra para
que a falta não se repita. Entretanto, fazer
algo reprovável sabendo que desagrada a
Deus é alheio à natureza de um filho de Deus.
Os únicos atenuantes que um pecado pode ter
são o erro ou a ignorância.
Ficaria por demais extenso desenvolver
este tema com maiores detalhes. É suficiente
que você saiba isto: Se você quer ser parte da
Igreja de Cristo, sua vontade deve estar com-
pletamente submissa a Ele. Os cristãos primi-
tivos tinham essa atitude, preferiam obedecer
a vontade de Deus e morrer, se fosse necessá-
rio, a desobedecer e seguir vivendo. Que ati-
tude! Obedecer a Deus, ainda que nos custe a
vida!
115

2. JESUS CRISTO É O SENHOR DE MEU TEMPO

"Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e


à comunhão, ao partir do pão e às orações.
Todos estavam cheios de temor, e muitas
maravilhas e sinais eram feitos por meio dos
apóstolos. Todos os que criam estavam jun-
tos e tinham tudo em comum. Vendendo suas
propriedades e bens, distribuíam, a cada um
conforme a sua necessidade. Todos os dias,
continuavam a reunir-se no pátio do templo.
Partiam o pão em suas casas, e juntos parti-
cipavam das refeições, com alegria e since-
ridade de coração, louvando a Deus e tendo
a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes
acrescentava todos os dias os que iam sendo
salvos."
Dedicavam-se. Que palavra linda! A que
eles se dedicavam? Em estar juntos. Se havia
uma reunião de doutrina, de ensinamento, ali
estavam todos. Se de oração, estavam todos.
Na divisão dos pães, a Ceia do Senhor, não
faltava ninguém. Parece que o lema da Igreja
Primitiva era: "Toda Igreja em todas as ativi-
dades". Por isso o texto diz: "Dedicavam-se...
116

Perseveravam unânimes todos os dias... jun-


tos."
Notemos o seguinte. Havia ali 3.000 pes-
soas que não estavam habituadas a participar
de reuniões. Em Pentecostes ou na Páscoa iam
ao templo, como bons religiosos. Talvez, al-
guns dos mais devotos, fossem ao santuário
uma vez por semana. Mas, nesse momento se
produziu uma revolução em suas vidas. Expe-
rimentaram algo completamente diferente e
começaram a reunir-se todos os dias. Todos
os dias, nos templos e nas casas. Como con-
seguiam, se tinham tantas coisas para fazer?
O trabalho, a casa, a horta, os negócios.
Quando alguém reconhece a Cristo como
seu Senhor, o ritmo, a programação de sua
vida diária, muda. Ocorre uma revolução. E foi
isso o que se pode notar neles.
Quantas vezes por semana você se reúne?
Alguns dizem: "Pastor, agradeça se vou no
domingo." Tais pessoas ainda pensam que o
fato de irem à igreja é um favor que estão fa-
zendo para a Igreja ou para o pastor.
A Igreja verdadeira é aquela na qual cada
membro declara e demonstra com sua vida
que Jesus Cristo é o Senhor de seu tempo. Se
117

Ele me tirasse, por minutos, o ar que respiro,


meu tempo não seria mais meu. Porque, o
tempo é essa sucessão de momentos que con-
trolo com relógio e calendário. É simples-
mente o desenrolar da vida. Assim, que, se Ele
é Senhor de minha vida, é também Senhor de
meu tempo, porque meu tempo é minha vida
que vai transcorrendo aqui na Terra. Isso é o
tempo. É sábio, pois, dizer a Deus: "Pai, és
meu Senhor, dono de mim e de tudo o que
tenho. O tempo que tenho também é Teu. Os
dias que tenho são Teus. As semanas, os anos,
minha vida inteira."
Quem é o senhor de seu tempo? No Evan-
gelho do Reino as palavras de Jesus soam com
muita clareza: "Busquem, pois, em primeiro
lugar o reino de Deus e a sua justiça e todas
estas coisas lhes serão acrescentadas.
O que são "todas estas coisas"? Jesus dizia:
"Não se preocupem com suas próprias vidas,
quanto ao que comer ou beber; nem com seus
próprios corpos, quanto ao que vestir." As
pessoas ao nosso redor estão em tal ritmo,
que a única coisa com a qual se preocupam é o
dinheiro que vão ganhar, o que vão comer, a
roupa que vão vestir, a casa que vão ter, o
carro que vão comprar. Esse é o ritmo de suas
118

vidas. Mas nos dias dos apóstolos, surgiu uma


comunidade na qual se inverteram os valores
da vida. Primeiro, o Reino de Deus; em segui-
da, as outras coisas. Devemos colocar nosso
tempo à disposição do Senhor, para participar
do culto congregacional, das reuniões de ora-
ção e aprendizado nos lares, para ajudar os
necessitados, abençoar novos lares, etc. Você
deve ir transformando suas atividades de
acordo com o que o Senhor manda. Não diga:
"Não tenho tempo." Quantas horas tem um
dia? Alguém tem vinte e três horas por dia?
Nenhum de nós! Todos temos vinte e quatro.
Eu também. Quem tem vinte e cinco? Nin-
guém. Todos temos vinte e quatro horas por
dia! Você diz: " Não tenho tempo." Como não
tem tempo? Tem, sim; o que acontece é que
você o ocupa com outras coisas.
"Irmão, hoje à noite teremos uma reunião."
"Olha, tenho trabalhado dez horas. Saio de
casa às cinco da manhã, volto às quatro ou
cinco. Como algo e sempre aparece alguma
coisa para fazer...e logo chega a hora de ir pa-
ra a cama. Irmão, olha, se conseguir um tempo
(isto é: "se me sobrar tempo") apareço."
119

"Irmão, no domingo à tarde atemos um en-


contro muito importante; você não deve fal-
tar." "Humm... tenho tantas coisas para fa-
zer...Bem, se eu conseguir terminar, dou uma
chegada lá."
Pelas suas respostas podemos deduzir que,
em primeiro lugar, estão suas coisas e, depois,
Deus. Se lhe sobrar tempo você irá louvar ao
Senhor.
Na minha casa há um recipiente retangular,
com uma tampa em cima. É o recipiente do
lixo. Sabe o que se coloca ali? O que sobra... o
desperdício. Se lhe sobrar tempo, ponha-o lá,
com o lixo. Não o entregue a Deus. Não vamos
fazer um culto a Deus com as sobras. Vamos
fazer um culto a Deus com as prioridades.
Porque Ele é Deus; Ele merece o melhor! Va-
mos procurar, antes de tudo, Seu Reino, pri-
meiro Sua glória. E as outras coisas? Ele vai
nos ajudar. Por que não diz a Deus: "Senhor,
Tu estás antes que tudo em minha vida e de-
monstro isto colocando-Te em primeiro plano
e ocupando-me de Tuas coisas"?
Desde então, você terá que começar a fazer
as mudanças necessárias. À medida que o
derramamento do Espírito Santo aumente e o
120

rio de Deus flua como esperamos, não nos vão


satisfazer uma ou duas reuniões por semana.
O culto a Deus, os grupos de oração, a evange-
lização, a comunhão, o amor entre os irmãos e
o discipulado vão exigir que dediquemos toda
a nossa vida. E isso, na prática, chama-se
tempo.
Quantas vezes por semana se reunia a
Igreja Primitiva? "Todos os dias... no templo e
pelas casas." 65 "Eles se dedicavam ao ensino
dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão
e às orações." Isto é, viviam para o Reino de
Deus. Viviam para uma única coisa.
Muitas vezes não conseguimos tempo por-
que somos desorganizados. As coisas desor-
ganizadas ocupam muito espaço. Se no seu
guarda-roupa você colocar o que tem em
mãos, de forma desordenada, chegará um
momento em que terá que dizer: "Aqui não
cabe mais nada." Pare com isso! Se você tirar
tudo para fora e começar a acomodar, a do-
brar e ordenar, descobrirá que lhe sobra meio
armário. E você achava que ia ter que comprar
outro...
Assim acontece também com seu tempo.
Somos desorganizados. Desperdiçamos mui-
121

tíssimos momentos livres. A mulher dentro de


casa deve ter um programa ordenado de tra-
balho; saber como vai desenvolver cada coisa.
O mesmo acontece com o homem, o jovem, o
estudante. Quando estabelecer e respeitar
uma ordem adequada, verá, então, como lhe
sobra tempo, até, para acrescentar coisas.
Para ordenar seu tempo, você tem que res-
peitar uma ordem de prioridades. Cristo é
prioridade na sua vida? Então, a Ele deve de-
dicar as prioridades de seu tempo. A partir, e
em torno disso, o resto deve ser ordenado, de
acordo com sua importância.

3. JESUS CRISTO É O SENHOR DE MEUS BENS


"Todos os que criam estavam juntos e ti-
nham tudo em comum. Vendendo suas pro-
priedades e bens, distribuíam a cada um
conforme a sua necessidade."
"Da multidão dos que creram, uma era a
mente e um o coração. Ninguém considerava
unicamente sua coisa alguma que possuísse,
mas compartilhavam tudo o que tinham."
122

Qual é a Igreja verdadeira? Qual é a comu-


nidade dos verdadeiros discípulos? Natural-
mente, aquela que vive este princípio: "Jesus
Cristo é o Senhor de meus bens e de meu di-
nheiro." A quem pertence tudo o que você
tem? A comunidade de Jesus constitui-se por
aqueles que O reconheceram como Senhor. Se
Cristo é o Senhor de sua vida, você pertence a
Sua Igreja e se Ele não é Senhor de sua vida,
então, você não pertence a Sua Igreja.
A partir do momento que dizemos que
Cristo deve ser O Senhor de sua vida, O que
manda, O dono, O amo, incluímos, é claro, tu-
do o que você possui. Porque o que você pos-
sui é uma expressão do que você é, do que
viveu, do que conseguiu, do que ganhou.
A Igreja de Cristo é aquela na qual cada
membro reconhece e honra verdadeiramente
a Jesus Cristo como dono e Senhor de tudo o
que possui.
Alguns, hoje, usam evasivas dizendo: "Bem,
isso era na Igreja Primitiva. Eles venderam
tudo o que tinham e deram a quem tinha ne-
cessidade". Um momento! Cristo disse: "Da
mesma forma, qualquer de vocês que não re-
123

nunciar a tudo que possui não pode ser meu


discípulo."
E se não sou discípulo, o que sou? "Sou
crente", alguém responde. Não, nós nos cha-
mamos "crentes", ou "convertidos", mas o
termo que a Bíblia utiliza ao referir-se aos
que pertencem ao Senhor, é "discípulo". A
palavra "convertido" não aparece nem uma
vez no Novo Testamento; a palavra crente,
apenas umas vinte vezes. Porém, o termo
"discípulo" aparece mais de 250 vezes! E não
se refere aos doze discípulos - eles, além de
discípulos, eram apóstolos - nem aos setenta,
mas a todos: "Naqueles dias, crescendo o nú-
mero de discípulos..." 69 . Aos que hoje chama-
mos "convertidos", a Bíblia os chama "discí-
pulos".
Isso está bastante claro no Novo Testa-
mento. Cristo não exagerou, nem mentiu ao
salientar: "qualquer de vocês que não renunci-
ar a tudo que possui não pode ser meu discípu-
lo."
O que Cristo quis dizer com estas palavras?
Exatamente o que disse! Se quisesse dizer
outra coisa, tê-la-ia dito! Demos tantas voltas
em torno do que Cristo quis dizer com isso!
124

Sem dúvida, está muito claro. Se você quer ser


seguidor de Cristo, Seu discípulo, tem que
renunciar a tudo que possui. Ao contrário, não
poderá sê-lo. Não pode! "Sim, mas isto deve
significar..." Significa que tem que renunciar a
tudo! Nada mais. A experiência da Igreja Pri-
mitiva assim o testemunha: "Ninguém consi-
derava unicamente sua coisa alguma que pos-
suísse."
"Senhor, tudo o que tenho é Teu. Tu és meu
Senhor. Tenho uma casa, um terreno, um au-
tomóvel, uma bicicleta, muitíssimo dinheiro,
ou muito pouco: tudo o que tenho, Senhor, é
Teu." Esta teria que ser nossa oração.
Sem dúvida, não se apresse em colocar sua
casa à venda! Primeiramente o seu coração
precisa sentir que deve ser assim. Que seja
quebrada em você, toda ligação de amor que
exista com seus bens. Que seja cada vez mais,
extirpado todo espírito de posse, já que esse
espírito é o que domina o mundo. Que seja
arrancado pela raiz, pela obra do Senhor, por
Sua ordem, por Sua palavra. Sua atitude inte-
rior e sua oração sincera deveria ser: "Senhor,
tudo o que tenho já não é meu."
125

Quando o Espírito Santo imprimir em seu


coração a verdade de que nada do que você
tem é seu, mas de Deus, diga-lhe: "Senhor,
esta casa é Tua. Eu moro na Tua casa. Obriga-
do pela casa que me emprestas para viver.
Senhor, esta cama não é minha, é Tua. Estou
dormindo na Tua cama! Tudo é Teu. E aquela
outra casa que tenho ali? O que faço com ela,
Senhor? Devo alugá-la? Tu és o dono!"
"Meu carro é Teu. Também é Teu o salário
que recebo todo mês. Como devo adminis-
trá-lo? Como queres que faça? O que é Teu
deve trazer frutos para Teu Reino, tem que
ser usado para Tua causa, para Teu povo. Tem
que contribuir para Teu Reino, e para a bên-
ção da comunidade de Teus filhos, Senhor.
Começa a dispor de tudo que tenho, porque
tudo é Teu."
Talvez Deus lhe diga: "Venda esse terreno"
ou "Faça uma doação com ele." Para que você
possa obedecer, deve estar decidido de ante-
mão. Tome essa atitude a partir de agora:
"Este Reino é de Deus, e esta casa, e este car-
ro. Tudo, tudo, tudo é do Senhor, porque Ele é
o Senhor de minha vida." Este princípio tem
que penetrar muito profundamente no nosso
126

coração. A Bíblia nos ensina que o amor ao


dinheiro é a raiz de todos os males.
Dentro desse "tudo" estão incluídos os dí-
zimos. E o que é o dízimo? Os 10% de todo seu
salário, de todo ganho que temos. Este é um
princípio de Deus. O dízimo não é algo refe-
rente apenas aos tempos do Antigo Testa-
mento. Tampouco é algo estabelecido pela Lei
de Moisés. É um princípio de Deus anterior à
Lei que se encontra em toda a Bíblia, um prin-
cípio de Deus que criou os Céus e a Terra, pelo
qual reconhecemos que tudo que existe e tudo
que temos é d'Ele e para Ele. É a maneira
concreta que temos de expressar que cremos
que Ele é o único dono de todas as coisas.
Quando você recebe seu salário no fim do
mês, deve levar em conta que tudo é de Deus.
Tudo! Se você ganha R$ 500,00. Os R$ 500,00
são de Deus. Mas nesses R$ 500,00 há R$
50,00 que você não pode sequer administrar.
O Senhor o constituiu o administrador de
90%, mas o dízimo, Ele o administra. Separe,
então, seus dízimos e entregue-os.
"O que faço com o resto, já que é para
mim?" Não. Não é para você. É para você ad-
ministrá-lo. Ele lhe dá o dinheiro, e você come
127

do dinheiro de Deus, e se veste e sua família


também, com o dinheiro de Deus. Por isso,
deve agradecer-Lhe: "Obrigado pela comida,
Senhor; obrigado pela roupa e por todos os
bens que me dás."
Suponhamos que você ganhe R$ 800,00.
Deve separar os 10% para Deus, isto é $ 80,00
(porque o dízimo não deve ser o que nos so-
bra, mas uma prioridade). Antes de começar a
gastar o dinheiro, R$ 80,00 devem ser sepa-
rados para Deus. Na verdade, todo o dinheiro
é de Deus, mas essa parte é Ele quem admi-
nistra. Ponha-a em um envelope e leve-a à
igreja.
Quanto sobrou para você? R$ 720,00. Mas
você ainda diz: "Se não consigo viver com R$
800,00 como vou viver com R$ 720,00?
Quero dizer-lhe algo ilógico para a mate-
mática, mas certo para a fé: Esses R$ 720,00
rendem mais que os R$ 800,00. Você sabia
disso? Porque esses R$ 720,00 levam a bênção
de Deus! Quando você entrega o dízimo, está
indicando que tudo é d'Ele, não apenas os R$
800,00 mas também os R$ 720,00 restantes. É
o dinheiro recebido das mãos de Deus. Em
troca, quando você fica com o dízimo que
128

pertence a Deus, está roubando. E esses R$


800,00 ficam contaminados pelo roubo. Re-
pare que ficando com os R$ 800,00 você fará
menos que com os R$ 720,00. Porque R$
720,00 com a bênção de Deus, valem mais que
R$ 800,00 sem ela.
Ainda há mais; se você for dar o dízimo
com mesquinhez e tristeza, será melhor que
não o dê. Deus ama o que dá com liberalidade.
Tenha essa atitude: "Senhor, novamente me
deste R$ 800,00. Que privilégio dar-Te o que
Te corresponde! E que prazer! Estes R$
800,00 são Teus... Aqui estão, Senhor." Você
não imagina como essa atitude honra a Deus.
Para que Deus quer esse dinheiro? Porque,
se cada um dá seu dízimo para Deus, haverá
muito dinheiro. Faremos templos melhores
com ele? A Bíblia nunca menciona que, com o
dinheiro do dízimo, templos tenham sido
construídos. Tais coisas devem sair sempre do
dinheiro das ofertas. Se a congregação quer
bancos mas confortáveis ou um novo teclado,
tem que pagá-los através das ofertas.
Então, para que Deus quer o dízimo? Seu
destino sempre foi os servos de Deus. u A Bí-
blia assim o afirma. Era para o sustento dos
129

levitas e dos sacerdotes do Antigo Testamen-


to. Desse modo, os levitas, em vez de dedi-
car-se a colher, semear, ou negociar - traba-
lhos seculares - dedicavam-se à obra espiritu-
al. O levita, ao invés de trabalhar como car-
pinteiro, por exemplo, ocupava-se dos assun-
tos referentes ao culto.
Para que Deus quer nosso dízimo hoje? Pa-
ra o sustento de Seus obreiros. Isso é o que o
apóstolo Paulo ensina em l Coríntios 9.11-14.
Não quer dizer que nós pagamos os obreiros.
Não. É Deus quem os paga. Nós damos o dízi-
mo a Deus. Isso entra no bolso de Deus. Então,
não posso fazer com o dízimo, o que me der
vontade. Não, porque ele é administrado por
Deus. E Ele chamou alguns para deixarem su-
as ocupações para serem pastores, evangelis-
tas, professores.
E se Ele os chamou para Sua obra, quem
deve lhes dar o sustento? Deus! Com que di-
nheiro? Com o dinheiro do dízimo que todos
os discípulos lhe entregam. Deus já deu um
destino para os dízimos: são para sustentar
seus obreiros.
Se você chama um carpinteiro para um
trabalho em sua casa, quem vai pagá-lo? Você
130

mesmo, que o chamou, claro. E se Deus chama


alguns para que preguem o Evangelho, sejam
evangelistas, apóstolos, professores, quem
lhes vai pagar? Ele mesmo. Quando nós não
entregamos a parte do nosso dízimo, sabe o
que estamos, de fato, fazendo? Estamos rou-
bando de Deus e evidenciando que Jesus Cris-
to não é o Senhor do dinheiro que ganhamos.

4. JESUS CRISTO É O SENHOR DE MEU LAR

"Todos os dias, continuavam a reunir-se no


pátio do templo.
Partiam o pão em suas casas, e juntos parti-
cipavam das reuniões com alegria e sinceri-
dade de coração”

A Igreja verdadeira é aquela na qual cada


membro pode dizer: "Jesus Cristo é o Senhor
do meu lar." Os cristãos da Igreja Primitiva
adoravam a Deus, comiam, alegravam-se e
estavam juntos no templo. E assim que ter-
minavam sua reunião no templo (lembremos
que o templo não era deles, mas dos judeus),
dispersavam-se e seguiam a mesma vida de
131

louvor e reuniões pelas casas. A bênção de


Deus era tanta em seus lares, que até conse-
guiam pão e vinho e ali celebravam a Ceia do
Senhor.
Nós temos a ideia equivocada de que so-
mos Igreja quando estamos todos juntos, reu-
nidos em um templo e que quando a reunião
termina e cada um vai para casa, deixamos de
ser Igreja. Desintegramo-nos, como se fôsse-
mos uma máquina formada por muitas peças
e que se pode armar e desarmar, até que vol-
temos a reunirmos de novo. Então, novamen-
te somos Igreja.
A Igreja Primitiva não tinha esta concep-
ção. Eles eram Igreja quando estavam todos
juntos e também quando se espalhavam por
todas as partes. Aquilo que eram ao se reuni-
rem, eram em todos os lugares. Não havia
diferença em sua conduta, em seu proceder,
em sua vida, quando estavam no templo e
quando estavam em suas casas; era sempre
igual. E nós? Nos encontros somos tão corre-
tos, tão amáveis. Principalmente quando co-
meça a adoração. Gosto de olhar as pessoas
que adoram. Há uma beleza celestial que as
envolve. Porém, será que elas têm a mesma
beleza em suas casas?
132

Sim, na reunião tudo é "Aleluia! Glória a


Deus! Cristo reina!" Mas, e em casa? Ou-
vem-se os mesmos "aleluias", ou somente
gritos contínuos? No culto gritamos de gozo
louvando ao Senhor. E em casa? Gritamos,
sim, mas, por que? A Igreja Primitiva tinha
uma só vida, quando se reunia ou quando se
dispersava.
Um dos aspectos mais importantes da nos-
sa vida é a nossa casa, nosso lar. " "Senhor,
venha o Teu Reino." "Amém!" "Venha!" Mas,
aonde? Tanto no Céu, como também na Terra.
A Terra é tão grande! Não posso fazer o Reino
de Deus vir sobre toda a Terra; porém, há um
pedacinho da Terra que está sob minha auto-
ridade: meu lar. E posso fazer vir o Reino de
Deus em meu lar. Se você o faz em seu lar, eu
no meu e outros nos seus, o Reino de Deus se
estenderá, estabelecendo-se sobre a Terra.
A base da sociedade é a família. Deus assim
o determinou. E se o Reino de Deus não pene-
tra profundamente em nossos lares, tudo o
que possamos experimentar será muito su-
perficial. Porque nossa verdadeira maneira de
ser é a que se mostra em casa, não a que se
deixa ver fora dela. Lá fora, até mesmo o pe-
cador é amável.
133

Alguém desenhou a um homem saindo de


sua casa para o trabalho com um sorriso es-
tampado no rosto; em seguida no escritório,
cumprimentando a secretária com muita
simpatia e atendendo aos clientes com um "É
um prazer, senhor, queira sentar-se, por fa-
vor", ou "Muito prazer em conhecê-lo. Em que
lhe posso ser útil?" E assim, durante todo o
dia, até anoitecer, quando, então, volta para
casa. Ali tira o casaco e o pendura; tira o cha-
péu e o pendura. Em seguida tira também a
máscara de homem sorridente e amável, e
também a pendura, deixando então, às claras,
seu verdadeiro rosto amargurado e rude. Fi-
nalmente, com um gesto grosseiro, diz à es-
posa: "Mulher, quando a comida fica pronta?"
E grita com seu filho: "Cale a boca!" O resto da
cena é fácil de imaginar.
O mundo está utilizando técnicas de rela-
ções públicas para conseguir uma aparência
de gentileza. Mas, não é assim no Reino de
Deus. O Senhor quer transformar radical-
mente nossa vida no lar, porque de outra
forma, em pouco tempo, cairemos na religio-
sidade e na hipocrisia. Nos cultos é tudo mui-
to lindo e maravilhoso. Todos são "aleluias",
mas em casa...melhor, fechar as janelas e as
134

portas para que os vizinhos não saibam o que


se passa ali dentro. Por que o Reino de Deus
não se estendeu até agora, aí onde você e eu
vivemos, entre os vizinhos que estão a nossa
volta? É mais fácil tratar bem a um estranho
do que a um vizinho, porque nossas vidas não
dão um testemunho digno.
Que clima reina em sua casa? Deus está
presente todos os dias? Existe louvor? Reina o
amor? Puxa, como abraçamos os irmãos nas
reuniões! Mas, e em casa? Também tratamos,
um ao outro, dessa maneira? Com amor? Essa
maravilhosa comunhão que gozamos nas reu-
niões, o clima de amor e o espírito de louvor
devem ser os mesmos também em nossa casa.
Se o gozo e o amor caracterizam as nossas
reuniões, pois então, gozo e amor devem ca-
racterizar nossos lares. Sem dúvida, há muito
tempo vivemos uma vida dupla. Nas reuniões,
"glórias"; em casa, discussões, rancores, ma-
ledicência, intrigas, inimizades, críticas, cho-
ro, menosprezo, ofensas, queixas, desobedi-
ência.
Que venha Seu Reino... E que mude nossos
lares! Porém, o lar não mudará por si só. Nem
por se orar muito. Não vai mudar porque você
jejua. Ore e jejue, sim, mas trabalhe também.
135

Seu lar estará mudado quando cada um de


seus membros reconhecer a Jesus como Se-
nhor.

QUATRO PRINCÍPIOS

Há, no Reino de Deus, quatro princípios


para a família. Se você deseja que o Reino de
Deus venha a sua casa e que seu lar seja
transformado, se você quer pertencer a Igreja
que Deus está restaurando, tem que abrir seu
coração e receber estes princípios, deixando
que criem raízes profundas em sua vida.
Sabe por que o Céu é Céu? Não porque haja
ruas de ouro ou portas de pérolas; o Céu é Céu
porque nele reina Jesus Cristo e todos os que
estão ali fazem Sua vontade. E quando Cristo
reinar com os quatro princípios em seu lar,
ele será um pequeno Céu aqui na Terra. Mes-
mo que o chão não seja de ouro, nem os tra-
vesseiros da Pérsia, mesmo que só haja um
piso de terra e paredes de papelão, sua casi-
nha parecerá, a seus olhos, um palácio, se
Cristo reinar ali.
136

O que significa o Reino de Deus entrar em


seu lar? Pois, veja bem, no seu lar existe um
trono, um lugar privilegiado e nesse trono
deve estar sentado Jesus Cristo. Cada um dos
membros do lar deve responder às ordens do
que está sentado no trono. Quando se estabe-
lece essa relação com Cristo, pode- se afirmar
que o Reino de Deus chegou a esse lar. Um lar
está formado, basicamente, por uma dupla
relação. A primeira é a relação mari-
do/mulher e a segunda, pais/filhos. Essa é a
estrutura familiar básica. O restante da famí-
lia - avós, cunhados, sobrinhos - que convive
sob o mesmo teto, deve somar-se a essa es-
trutura principal que Deus constituiu como
base. A Bíblia nunca dá instruções para os
avós ou tios; fala aos esposos, esposas, pais,
filhos porque essa é a estrutura que sustenta
a família. E os princípios de Deus para cada
uma dessas quatro partes são essenciais para
o desenvolvimento do núcleo familiar.

PARA AS CASADAS
O primeiro princípio está dirigido às casa-
das. O que lhes diz o Rei? "Esposas, sujeitem-se
a seus maridos, como ao Senhor." 74 "Esposas,
137

sujeitem-se a seus maridos, como ao Senhor".


Esta é a ordem do Senhor para as casadas, o
princípio do Reino de Deus para elas.
Por que Paulo, quando fala do lar começa
pelas casadas? É porque a primeira a subor-
dinar- se deve ser a que vem imediatamente
depois da autoridade principal.
Tomemos o exemplo de um batalhão do
exército. Dentro dele temos soldados rasos,
em seguida cabos, um tenente e um capitão.
Os soldados devem obedecer ao tenente e ao
capitão. O tenente deve obedecer ao capitão.
Se o batalhão recebe uma ordem, o primei-
ro a mostrar sujeição deve ser o tenente. Se
ele não o faz, se quando o capitão lhe ordena
alguma coisa, ele diz: "Não tenho vontade de
fazer isso", nem seus subordinados vão obe-
decê-lo, quando ele lhes der uma ordem. Mo-
ralmente, eles ficam livres para o desacato. A
autoridade, então, se quebra e a anarquia co-
meça a reinar no quartel.
Assim acontece também no lar. Se a mulher
não se sujeita a seu marido, os filhos se sen-
tem livres para desobedecer aos pais; a auto-
ridade já não existe e a rebelião reina. A mu-
lher deve obedecer a seu marido e impor, com
138

sua conduta, uma imagem de respeito e sub-


missão, reafirmando o princípio de autorida-
de. Ela deve subordinar-se ao marido para
que Cristo reine em seu lar.
Se o marido é um homem impulsivo e ira-
cundo, a mulher não se submete, vai haver
problemas todos os dias: discussões, gritos,
desentendimentos, ofensas e contendas. Se o
marido é "bonzinho" demais e "não incomoda
e faz tudo o que ela quer" para que não haja
gritos ou brigas, nem assim Cristo vai reinar
nesse lar, porque não se estará respeitando a
ordem divina para a família.

PARA OS MARIDOS
O segundo princípio está dirigido para os
maridos. Quando há que se pôr disciplina em
um lar, começamos pelos filhos. Mas, um mo-
mento! Se a casada não respeita a seu marido,
não espere que os filhos respeitem e obede-
çam a seu pai. Se o marido não trata bem a
sua esposa, não espere que os filhos o façam.
Deus começa por ordenar o matrimônio. Qual
é o mandamento do Rei para os maridos?
139

"Maridos, amem suas esposas, assim como


Cristo amou a igreja e se entregou a si mes-
mo por ela."
"Do mesmo modo vocês, maridos, usem de
consideração no convívio com suas esposas e
tratem-nas com honra, como parte mais frá-
gil e co-herdeiras do dom de graça da vida,
de forma que não sejam interrompidas as
suas orações."

O princípio do Rei para o marido é amar a


sua mulher e tratá-la como a um vaso frágil,
com especial dignidade. Deve auxiliá-la com
ternura, com delicadeza. Se o marido não ama
a sua esposa e não a trata como a um vaso
frágil, Cristo não pode reinar nesse lar.
Para nós que conhecemos as Escrituras es-
ses textos não são nenhuma novidade. Isso já
sabemos de cor. Mas nosso maior problema é
que aprendemos ao contrário. Os maridos
sabem de memória o texto que corresponde
aos maridos. Então, cada vez que há uma dis-
cussão ou briga, o marido diz para a mulher:
"A Bíblia diz: 'Casadas, estai sujeitas a vossos
maridos'."
140

E a mulher responde: "E a Bíblia diz: 'Ma-


ridos, amai a vossas mulheres...e tratai-as
como a um vaso frágil' E você está me tratan-
do como se um fosse um trapo!"
A Bíblia diz a cada um qual é sua respon-
sabilidade. "Que a esposa se submeta... que o
marido ame a sua mulher..." Se a mulher não
se submete ao marido, Cristo não reina ali. E
se o marido quer submeter a sua mulher pela
força, tampouco Cristo está presente.
A Bíblia não diz: "Maridos, submetei-vos a
vossas mulheres". Expressões como estas:
"Você vai me obedecer...Aqui mando eu!", etc.,
evidenciam que Cristo não reina nesse lar. O
Senhor diz ao marido o que ele deve fazer.
Marido, esta é a mensagem para você: "Ame a
sua mulher e trate-a como a um vaso delicado,
com carinho, com ternura, em todos os mo-
mentos".
"Eu vou tratá-la bem sempre que ela me
obedecer." Seu comportamento não deve ser
uma resposta à conduta de sua mulher, mas
sim, uma resposta ao Rei e Senhor de sua vi-
da. Quem manda em sua vida? Se Cristo é seu
Senhor, você deve comportar-se como Ele
manda.
141

A mulher também não tem direito de dizer:


"Eu vou obedecê-lo e vou me submeter, se ele
me tratar como se deve." De maneira nenhu-
ma. Pedro diz o mesmo até para as esposas
dos incrédulos. Mesmo que seu marido seja
incrédulo, ele é seu marido e, portanto, sua
cabeça. Embora ele não a trate bem, ainda
assim você tem que se sujeitar a ele e mostrar
que Deus reina em sua vida e em seu lar. A
resposta de cada um não deve estar condicio-
nada ao comportamento do outro.
A atitude do marido deveria ser: "Ela me
obedeça ou não, sendo minha esposa, Vou
amá-la e tratá-la como Cristo me ensina."
Por sua vez, a mulher teria que dizer: "Ele
me ame ou não, trate-me bem ou mal, sendo
meu marido, vou me submeter a ele e vou
obedecê-lo." As discussões em um lar se aca-
bam, quando cada um assume sua responsabi-
lidade frente ao Senhor.
Portanto, marido, devolva o texto a sua
esposa. Nunca mais ponha em sua boca o
mandamento de Deus às casadas. E você, es-
posa, devolva o texto a seu marido. Nunca
mais repita o mandamento de Deus para os
maridos.
142

Cada vez que houver conflito em casa, per-


gunte: "Qual é o mandamento de Deus para
mim? Qual é a parte que me toca? Qual é mi-
nha ordem?" (Pelo hábito de repetirmos a
ordem do outro, nem nos lembramos da nos-
sa). Aprenda de memória o mandamento.
Aprenda-o e repita- o cada vez que surgir uma
dificuldade. Vão acabar-se os problemas
quando cada um fizer a sua parte diante do
Rei. Ainda que você não goste, é uma ordem:
"Casadas, submetei-vos...Maridos, amai...".
Perceba que não diz: "Casadas, seria muito
bom que obedecessem." Não. É uma ordem! É
Cristo quem ordena. Você se dá conta de que
se solucionariam muitos problemas que temos
hoje, em casa, se nela se respeitassem os
princípios do Reino de Deus?

PARA OS FILHOS
O terceiro princípio é dirigido aos filhos.
Falamos primeiramente aos que têm que se
sujeitar, aos filhos que vivem ainda sob o teto
paterno. "Filhos, obedeçam a seus pais no Se-
nhor, pois isto é justo. [É uma ordem: Obede-
çam! 'Honra a Teu pai e a tua mãe', este é o
primeiro mandamento com promessa."
143

Filho, se Cristo reina em sua vida, se Ele é


seu Senhor, você tem que obedecer a seus
pais. O espírito que reina no mundo é o de
rebeldia, desdém e menosprezo dos filhos em
relação a seus pais.
Por isso, filho, obedeça a seu pai. Este é o
princípio do Reino de Deus para você. Mas sua
obediência não deve ser algo que o contrarie;
você não pode dizer: "Bem, se não me resta
outra alternativa, vou, então, obedecer. De
jeito nenhum. Se seu pai lhe pede alguma coi-
sa, você não pode obedecer de má vontade. O
mandamento fala em obedecer e honrar a seu
pai e sua mãe. Não apenas obedecer, mas
também, honrar. Honrar significa reverenciar,
respeitar. Temos que honrar aos nossos pais
com especial dignidade. Não é meramente
cumprir o que se diz e reclamarmos intima-
mente. Há que se obedecer com prazer, com
amor, com respeito. Honra, pois, a seu pai e a
sua mãe.
Vamos transformar nossas casas; vamos
obedecer a nossos pais; vamos fazer o que nos
dizem. Ainda que sejam injustos; ainda que, às
vezes, nos dêem uma ordem equivocada. Não
importa! É preferível que algumas coisas não
saiam perfeitas, mas que Cristo reine, a fazer
144

o que nós queremos, mesmo que tenhamos


razão, e que Cristo não reine. Filhos, honrai a
vossos pais.

PARA OS PAIS
O quarto princípio é dirigido aos pais.
"Pais, não irritem seus filhos; antes, criem-nos
segundo a instrução e o conselho do Senhor."
Pais, se vamos viver o Reino de Deus em
nossos lares, este é o mandamento do Rei pa-
ra nós. Diz o texto: "segundo a instrução e o
conselho do Senhor". Sim. Ensinando-os e
corrigindo-os. Mostrando-lhes o caminho a
seguir. Não sendo brandos e tolerantes com
seus caprichos. Eles agem assim porque são
jovens e não sabem, na realidade, o que de-
vem fazer. É nossa responsabilidade ensi-
ná-los, guiá-los e corrigi-los. Se você dá uma
ordem ao seu filho, exija que ele a cumpra.
Ainda que tome seu tempo e sua paciência.
"Filho, vá engraxar seus sapatos."
"Sim, já vou", responde; mas não o faz.
Você não pode repetir várias vezes a ordem
até que, finalmente, cansado, você mesmo o
engraxa. Não! Você deve manter a ordem até
145

que ele faça o que lhe foi pedido. Seu filho


deve saber que quem manda, quem decide é
você.
"Papai, posso ir até a casa da Marta?"
"Não, porque está chovendo."
"Ah pai, deixa vá, a chuva está fraquinha."
E assim insiste até que você, vencido pelo
cansaço, acaba cedendo. Então, sua filha des-
cobre que pode manejar a situação. Não pode
ser assim. Você deve mostrar-lhe firmeza. Que
seu sim seja sim e seu não seja não. Se você
tem uma boa razão para não deixar seu filho
fazer alguma coisa, não ceda. Mas, se você não
a tem, não lhe diga arbitrariamente que "não",
para depois em seguida, dizer "sim". Pense
duas vezes antes de responder.
O princípio do Reino de Deus para os pais é
este: Se Cristo reina em seu lar, você deve
criar a seus filhos "segundo a instrução e o
conselho do Senhor. Ensine, exorte, corrija
seu filho. Mas tenha cuidado em não abusar
de sua autoridade. O Senhor também diz: "não
irritem seus filhos". Não seja rígido e intran-
sigente com o que não deve ser. Isso produz
ira e revolta. Não dê ordens sem sentido. Não
implante um regime de severidade inflexível
146

no seu lar. Sua função é ensinar seu filho a


viver, dar-lhe a orientação que o ajude a de-
senvolver sua personalidade para logo poder
andar com as próprias pernas; e não anula-lo
e subjugá-lo até fazer dele um rebelde ou um
ser inseguro, incapaz de enfrentar a vida.
Cristo reina em sua vida? Crie, então, seu
filho na disciplina e admoestação do Senhor,
mas sem provocar-lhe a ira.
Deus vai transformar nossos lares na me-
dida em que vivamos estes quatro princípios
fundamentais do Senhor. Esposos, esposas,
pais, filhos, sujeitemo-nos ao Senhor. Rece-
bamos seu mandamento para vivê-lo. Come-
cemos a praticar estes quatro princípios.
Cristo reinará em nossos lares!
147

5 - O E VANGELHO DO REINO
Desde que Deus começou a revelar-nos a
Jesus Cristo como Senhor, tive um nova visão
de tudo o que chamamos de evangelização.
Comecei a rever toda minha maneira de pre-
gar o Evangelho e também a indagar a forma
como Cristo e Seus apóstolos pregavam. Já
não me importavam mais meus velhos costu-
mes. Pus de lado montes de mensagens e disse
a Deus:
"Senhor, ensina-me a pregar o Evangelho!"
Ao estudar o desenvolvimento da obra
evangélica na América Latina, descobri que
tem havido duas correntes predominantes,
dois enfoques diferentes na pregação: o
"Evangelho anticatólico" e o "evangelho das
ofertas".

O EVANGELHO ANTICATÓLICO
Por ser a América Latina predomi-
nantemente católica, os primeiros missioná-
rios evangélicos que chegaram a estes países
começaram pregando um Evangelho anti-
católico* 79 O Evangelho de até três ou quatro
décadas sabia mais textos bíblicos que se
148

prestavam a debater o catolicismo que sobre


qualquer outro tema. Dessa maneira surgiu
um estilo de pregação, que eu chamo "evan-
gelho anticatólico", que formou no povo
evangélico um espírito predominantemente
anticatólico. Pregar o Evangelho significou,
para muitos, por muito tempo, atacar o catoli-
cismo romano; alguns de maneira aberta, ou-
tros de forma dissimulada.
Com isto não estou querendo julgar o
comportamento dos pregadores que nos pre-
cederam. Simplesmente estou descrevendo o
que fizeram e indicando o estilo e a ênfase de
sua pregação. Provavelmente fizeram o que
era preciso naquele momento e situação.

O EVANGELHO DAS OFERTAS


Esta velha corrente anticatólica cedeu lu-
gar a outra na qual eu me encontrei envolvido
durante muito tempo e a que chamo o "evan-
gelho das ofertas". Ou seja, o evangelho da
graça mal entendida. Este enfoque, muito
corrente hoje em dia, apresenta ao pecador
todas as promessas do Evangelho, ignorando
quase completamente suas demandas. A con-
clusão de toda mensagem é: "Quem quer ser
149

perdoado por Cristo? Quem quer ser salvo por


Cristo? Quem quer ter paz? Quem quer ter
felicidade? Quem quer ir para o Céu? Quem
quer salvar-se do inferno?" Este enfoque do
Evangelho apresenta coisas certas, mas só um
aspecto da mensagem da palavra do Senhor:
os benefícios da salvação, sem as exigências
da conversão.
Há um texto que é muito usado na pregar
do Evangelho, especialmente no momento do
chamado ou do convite. Cristo diz: "Eis que
estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha
voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e
ele comigo.
Segundo a maneira como se utiliza esta
passagem, pareceria que Cristo, à porta do
coração do pecador, bate e diz: "Posso en-
trar?" E o pregador roga: "Deixe-0 entrar!
Você não quer ter paz? Abra-Lhe a porta!"
É como se a figura de Cristo estivesse do
lado de fora, no frio da noite, batendo à porta.
"Coitadinho!", insiste o pregador. "Por que
você não o deixa entrar? Abra o seu coração.
Ele está esperando, chamando". Quase diz:
"Por favor, tenha pena de Cristo..."
150

Mas, de onde tiramos isso? Do texto que


está em Apocalipse 3.20? Alguma vez Cristo
pregou assim? Alguma vez os apóstolos ter-
minaram suas mensagens dessa forma? Não!
No dia de Pentecostes, Pedro passou uma
mensagem que pôs os pecadores frente a
Cristo; seus ouvintes caíram a seus pés di-
zendo: "O que faremos?"
Por que tiramos esse trecho do Apocalipse
de seu contexto? Ele não tem relação com a
evangelização, temos que entender isso.
Também não foi dirigido a uma pessoa. Cristo
está falando à Igreja de Laodicéia. Ainda que
reunidos em nome do Senhor, deixaram Cristo
do lado de fora. A Igreja diz: "Eu sou rica, ad-
quiri riquezas" e Cristo responde: "Você não
reconhece que é miserável, digna de compai-
xão, pobre e não tem o que vestir". "Eu estou
à porta e bato. Se alguém ouvir a minha
voz..." 81 Ele está chamando à porta de uma
igreja que o deixa do lado de fora. Ele está
dando a essa igreja a oportunidade de dei-
xá-Lo entrar para ser o centro de tudo e para
que reine nela.
Essa velha maneira de apresentar o "evan-
gelho das ofertas" trouxe como consequência
uma geração de convertidos que tem a Cristo,
151

que os recebeu, mas que não se renderam a


Sua autoridade. Eles são os donos e senhores
de suas próprias vidas, são os que têm as
chaves e controlam a situação. A única dife-
rença com os incrédulos é que têm Cristo
dentro de si. E pensam que por que têm Cris-
to, têm vida eterna e paz, o que é uma verdade
pela metade, pois nunca chegaram a uma
conversão total, radical, como nos dias do
Novo Testamento.

O EVANGELHO DE JESUS CRISTO


Vejamos como Jesus Cristo pregava o
Evangelho: "Daí em diante Jesus começou a
pregar: 'Arrependam-se, pois o Reino dos céus
está próximo ',
Cristo pregava e ensinava. Porém, antes de
entrar totalmente em Sua pregação, analise-
mos o conteúdo de Seus ensinamentos.
Cristo ensinava por parábolas. As parábolas
eram ilustrações por meio das quais as ver-
dades eternas eram transmitidas. Era uma
maneira simples de transmiti-las, para que as
pessoas pudessem entender e, ao mesmo
tempo, para que se tornassem incompreensí-
veis para os incrédulos.
152

Consideremos uma série de parábolas que


encontramos no Evangelho de Mateus. Fiquei
surpreso ao me dar conta de que a maioria
delas falam de um mesmo tema:
"Quando alguém ouve a mensagem do Rei-
no..."
"Jesus lhes contou outra parábola, dizendo:
'O Reino dos céus é como um homem...' "
"E contou-lhes outra parábola: 'O Reino dos
céus...' " 85 "E contou-lhes ainda outra pará-
bola: 'O Reino dos céus...'"
" 'O Reino dos céus é como...' "
"'O Reino dos céus também...' "
" 'O Reino dos céus é ainda...' "
" 'Por isso, todo mestre da lei instruído
quanto ao Reino dos ceus...
" 'Por isso o Reino dos céus...' " 'Pois o Reino
dos céus...' 'O Reino dos céus é como um
rei...”
" 'O Reino dos céus, pois,..” " 'E também será
[o reino dos céus] 95 como..."

Sobre o quê falavam as parábolas de Cris-


to? Em sua maioria Seus ensinamentos tinham
153

um tema e sobre ele se estendiam: O Reino


dos Céus. Grande parte do que Ele falava se
referia a esse tema.
Vejamos agora a pregação de Cristo, se-
gundo o relato de Lucas:
"Mas ele disse: 'É necessário que eu pregue
as boas novas do Reino de Deus noutras ci-
dades também, porque para isso fui envia-
do'."
"Depois disso Jesus ia passando pelas cida-
des e povoados proclamando as boas novas
do Reino de Deus. Os Doze estavam com Ele"
Também aqui notamos que Ele pregava o
Evangelho do Reino de Deus.
Nossa mensagem ao mundo é o Evangelho,
a boa nova da salvação, mas não nos esque-
çamos de que este também é o Evangelho do
Reino de Deus. Porque essa boa nova é, jus-
tamente, a respeito do Reino de Deus. Não
podemos separar uma coisa da outra.
Cristo ia por todas as cidades e aldeias
anunciando o Reino de Deus:
"...e os enviou a pregar o Reino de Deus e a
curar os enfermos."
154

"...mas as multidões ficaram sabendo, e o


seguiram. Ele as acolheu e falava-lhes acer-
ca do Reino de Deus e curava os que preci-
savam de cura."
"Curem os doentes que ali houver e di-
gam-lhes: 'O Reino de Deus esta próximo de
vocês ."A Lei e os Profetas vigoraram até
João. Desse tempo em diante estão pregadas
as boas novas do Reino de Deus, e todos ten-
tam forçar sua entrada nele."
A partir de João Batista, anunciou-se o
Reino de Deus.

O EVANGELHO DOS APÓSTOLOS


Façamos uma revisão na pregação apostó-
lica: "Portanto, que todo Israel fique certo dis-
to: Este Jesus, a quem vocês crucificaram, Deus
o fez Senhor e Cristo."
Esta é a conclusão da mensagem de Pedro
no dia de Pentecostes. Ele termina dizendo
que Deus fez de Jesus, Senhor e Cristo, ou se-
ja, o Kyrios, o que domina sobre o Reino de
Deus.
Cristo pregava o Evangelho anunciando o
Reino de Deus. Ele ensinava tudo referente ao
155

Reino, em seguida apresentava a Si mesmo


aos pecadores e exigia destes uma definição.
Colocava-os frente a decisão: reconhecê-Lo
como Senhor, como Rei, ou rechaçá-Lo. Aquele
que realmente O reconhecia, começava a fazer
parte desse Reino que Ele vinha anunciando.
E isto ocorria tão somente pela fé.
Depois veio Pedro. E o que ele pregou? O
mesmo. Enfrentou aos pecadores com Cristo.
A pessoa de Cristo, como Senhor, definia o
destino dos homens. Tinham que reconhe-
cê-Lo ou rechaçá-Lo.
A questão não era que "Cristo entrasse no
coração" apenas, e que cada um continuasse
conduzindo suas próprias coisas. Não. Quando
o pecador se confrontava com a pessoa de
Cristo, entregava-se totalmente a Ele, reco-
nhecia-O como Senhor, como o Kyrios de sua
vida. Se, ao contrário, ficasse revoltado e não
acreditasse, estaria automaticamente fora do
Reino de Deus. E que mensagem pregou Feli-
pe?
"No entanto, quando Filipe lhes pregou as
boas novas do Reino de Deus e do nome de
Jesus Cristo, creram n'Ele, e foram batiza-
dos, tanto homens como mulheres."
156

Sem dúvida, Felipe anunciava, não só o


Reino de Deus, como também, o nome de Je-
sus Cristo. Isto é, apresentava o Reino e o Rei.
Que mensagem pregava Paulo, o grande
pregador e apóstolo?
"Paulo entrou na sinagoga e ali falou com
liberdade durante três meses, argumentando
convincentemente acerca do Reino de Deus."
Em Éfeso, durante três meses, parece que não
houve outro assunto. Reuniu os anciãos em
Mileto e lhes disse:
"Agora sei que nenhum de vocês, entre os
quais passei pregando o Reino, verá nova-
mente minha face."
É interessante destacar quanto tempo ele
passou pregando o Reino: "Por isso, vigiem!
Lembrem-se de que, por três anos, jamais ces-
sei de advertir a cada um de vocês, noite e dia,
com lágrimas."
Depois, Paulo chegou a Roma. Estava, ali,
preso, mas gozava de certas liberdades: "As-
sim combinaram encontrar-se com Paulo em
dia determinado, indo em grupo ainda mais
numeroso ao lugar onde ele estava. Desde a
manhã até à tarde ele lhes deu explicações e
lhes testemunhou do Reino de Deus, procuran-
157

do convencê-los a respeito de Jesus, com base


na Lei de Moisés e nos Profetas."
E o assunto de Paulo, o dia todo, era o
mesmo: o Reino de Deus. Notemos como ter-
mina o livro de Atos: "Por dois anos inteiros
Paulo permaneceu na casa que havia alugado e
recebia a todos os que iam vê-lo. Pregava o
reino de Deus e ensinava a respeito do Senhor
Jesus Cristo, abertamente e sem impedimento
algum."
Dois anos inteiros, em uma casa alugada
em Roma pregando o Reino de Deus e do Se-
nhor Jesus Cristo! Ele explicava tudo o que o
Reino de Deus abrangia - talvez, muitas das
coisas que estamos aprendendo agora - mas,
em suma, seu tema era o Reino e o nome do
Senhor Jesus Cristo, o Kyrios.

O EVANGELHO DO ESPÍRITO SANTO


Esse mesmo Evangelho foi pregado por
Cristo, por Pedro, por Felipe e por Paulo. Esse,
pois, é o Evangelho que temos que pregar.
Cristo será glorificado pelo Espírito Santo
com esse tipo de mensagem, como o fez no dia
de Pentecostes. Quando Pedro ressaltou que
Jesus era o Senhor e o Cristo; o Espírito Santo
158

atuou de tal maneira que três mil pessoas fi-


caram tocadas. O Espírito Santo tem interesse
que o Reino de Deus se estenda aqui na Terra.
Não é questão de se rebaixar a mensagem
ofertando o Evangelho, mas sim, de pregar o
Evangelho do Reino de Deus e proclamar a
Jesus Cristo como Senhor, como Rei, anunci-
ando que Sua autoridade e governo devem
estabelecer-se nas vidas das pessoas.
Em 2Coríntios 4.5, Paulo diz: "Pois não
pregamos a nós mesmos, mas a Jesus Cristo, o
Senhor, e a nós como escravos de vocês, por
amor de Jesus".
"Não pregamos a Jesus Cristo como Salva-
dor" - ainda que Ele salve -, registra Paulo,
mas sim "a Jesus como Senhor". Porque Ele é
o Senhor que salva. Ele é o Senhor que cura.
Ele é o Senhor que abençoa. "Nós pregamos a
Cristo..." - ressalta Paulo - "...como Senhor." E
sobre esta pregação de Paulo e dos apóstolos,
a Igreja Primitiva se estendeu e se expandiu e
quantos se entregaram ao Senhor!
Alguns se assustam quando pensam em
uma exigência tão radical. Ocorre-lhes que se
agora, com menos exigências, há tão poucos
resultados, com uma exigência maior haverá
159

ainda menos. Ao contrário. Há duas razões


para isso, uma da parte do homem e outra da
parte de Deus.
Quando a alguém se apresenta algo vago, a
que não é preciso responder com profundi-
dade, o interesse se perde. Há religiões reple-
tas de exigências, de normas, e que, sem dú-
vida, têm muitos adeptos porque lhes apre-
senta algo contundente, concreto, claro. Se
queremos que as pessoas se decidam, pre-
guemo-lhes algo concreto. Devemos colocá-las
frente a Cristo. Que nossa mensagem seja so-
bre a pessoa de Cristo. Porque a pessoa de
Cristo define, põe o homem frente a uma es-
colha: ou nós O reconhecemos como Senhor,
ou seguimos vivendo como queremos.
Mas também há que se considerar a parte
de Deus, que é esta: Deus tem interesse em
que Cristo seja reconhecido como Senhor. Por
isso, quando a mensagem é dada de acordo
com Sua vontade, o Espírito Santo começa a
trabalhar, a manifestar-Se, respaldando essa
ideia. Muitas vezes o pregador tem a tentação
de tornar o chamado um pouco mais convida-
tivo. "Quem quer abrir seu coração? Quem
quer receber Cristo? Com isso, talvez, mais
dez pessoas levantem a mão em sinal de acei-
160

tação, mas, quantos deles permanecerão?


Além do que o importante não é que levantem
a mão, mas, sim, que reconheçam a Cristo co-
mo Senhor. Aí sim o Espírito Santo vai traba-
lhar para trazer fé, regeneração e Salvação.
Estou persuadido que esta maneira de
apresentar o Evangelho fará surgir uma gera-
ção de discípulos que, a partir de sua própria
conversão, passará a viver plenamente o Rei-
no de Deus. Como a Igreja vai apresentar Je-
sus Cristo como Senhor, aos incrédulos, se,
dentro dela mesma, há ainda muitos que não o
conheceram? Creio que, antes de que possa-
mos lançar a divulgação desta mensagem,
Deus levará Sua Igreja a reconhecê-Lo como
Senhor na vida de cada um de seus membros.
Devemos voltar a evangelizar os crentes com
o Evangelho do Reino de Deus.
A mensagem de Cristo como Senhor não é
uma mensagem nova que deva ser guardada
em uma pasta, se é que entendemos a dife-
rença que há entre ela e o "evangelho das
ofertas" que vínhamos pregando.
O "evangelho das ofertas" anunciava que a
condição para que o pecador se salvasse era
"receber Cristo como seu único e suficiente
161

Salvador". Se alguém o fizesse já estaria salvo


e teria a vida eterna. Mas Deus está mostran-
do-nos, com o Evangelho do Reino, que em
nenhum lugar da Bíblia foi-nos dito que quem
recebe Cristo como seu Salvador já está salvo,
mas sim que a condição indispensável para
ser salvo é reconhecer a Jesus Cristo como
Senhor. Os que dizem: "Eu prego Cristo como
Salvador e quando as pessoas O aceitam como
Salvador, então, apresento-O como Senhor",
demonstram que não entenderam o Evangelho
do Reino.
Outros objetam, "Se lhes pregamos a Cristo
como Senhor e O recebem como tal, quando
vão recebê-Lo como Salvador?" Ora, estes
também não entenderam nada!
Alguns parecem crer que se aceitamos
Cristo como Senhor, Ele não nos salvará. Mas
Cristo é o Salvador. É o único e suficiente Sal-
vador. Sem dúvida, esse Salvador me salvará,
não quando eu simplesmente reconhecê-Lo
como Salvador, mas sim quando eu O reco-
nhecer como Senhor de minha vida.
A maneira de darmos testemunho de Cris-
to, de pregarmos o Evangelho, muda funda -
mentalmente à luz dessa verdade. Àquele que
162

quer ser salvo, Paulo lhe diz - e é uma verdade


respaldada por toda a Bíblia. "Se você confes-
sar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer
em seu coração que Deus o ressuscitou dentre
os mortos, será salvo."
Cristo será seu Salvador quando você O
reconhecer como seu Senhor.
Ao ouvir isso, muitos se perguntam: Quan-
do, então, me converti? Vou dar-lhe um con-
selho. Não fique preocupado em definir
quando você se converteu. Se respondemos a
Deus com sinceridade e integridade, com a luz
que tínhamos até agora, ao vir mais luz, de-
vemos responder ao Senhor com a mesma
sinceridade e integridade. Se demorei dez
anos para reconhecer Cristo como meu Se-
nhor, o novo discípulo não tem motivos para
seguir a minha trajetória. Quero dizer que ele
não tem que receber primeiro Cristo como seu
Salvador e depois de anos, reconhecê-Lo como
seu Senhor. De maneira nenhuma. O novo dis-
cípulo deve converter-se reconhecendo a Je-
sus como Senhor de sua vida. Esse deve ser
nosso enfoque na pregação e proclamação do
Evangelho.
163

COMO DEVEMOS PREGAR


Existem algumas pessoas que, ainda que
estejam de acordo com tudo que expusemos,
não sabem como colocá-lo em prática. " Então,
como devo pregar agora? O que tenho que
dizer? Qual é o enfoque que devo dar à men-
sagem para àqueles que não são do Senhor?",
perguntam.
Vejamos... A Bíblia assinala que no mundo
há dois reinos: o reino das trevas e o Reino da
luz. Um reino é uma comunidade composta
por dois tipos de indivíduos: o rei que gover-
na e os súditos que estão sujeitos ao rei. O
reino das trevas tem um rei, a quem a Bíblia
denomina "príncipe das trevas". É um espírito
mentiroso que engana as pessoas. O Reino da
luz também tem um Rei: Jesus Cristo. Ele rei-
na sobre a comunidade chamada Igreja. De-
pois de Adão, todos nós nascemos no reino
das trevas. O Reino da luz é aquele ao qual
podemos ascender através de Cristo.
No princípio, Adão e Eva foram criados na
luz de Deus; Ele era a autoridade sobre eles.
Contudo, um dia, trocaram de reino e de rei: o
dia em que obedeceram a voz de Satanás.
Desde então, todos os que descendemos de
164

Adão herdamos a mesma natureza pecamino-


sa. Paulo diz em Efésios 2.3: "Outrora todos
nós também vivíamos entre eles, satisfazendo
as vontades de nossa carne, seguindo os seus
desejos e pensamentos. Como os outros, éramos
por natureza, merecedores da ira."
Uma das mais importantes características
do reino das trevas é sua lei: "Viva como você
quer". O Reino da luz tem uma lei muito dife-
rente: "Viva como Ele quer". Para sabermos a
que Reino pertencemos, devemos perguntar:
Que lei se cumpre em minha vida? A resposta
determina nossa posição.
Vejamos o que acabei de citar através da
seguinte ilustração:

Quando criamos consciência da tremenda


verdade de que o pecado essencial do coração
do homem é fazer o que ele tem vontade, já
não faz falta indicar-lhe com tanta insistência
165

que você é um pecador para convencê-lo do


pecado. A mesma luz de Deus enfoca a essên-
cia de seu pecado e fica à vista. Você se dá
conta, pelo Espírito Santo, de que realmente
está envolvido nessa lei de trevas que rege
sua vida.
O Reino da luz é o Reino de Deus, o Reino
de Jesus Cristo. Cristo tem um Reino aqui na
Terra. Parte está no Céu, parte está aqui, mas
formado por todos os que vivem como Ele
quer, pelos que O conhecem como Senhor de
suas vidas.
O que deve fazer uma pessoa que vive no
reino das trevas e deseja entrar no Reino da
luz? Como pode sair de um reino e entrar no
outro? O apóstolo Paulo salienta que Deus
"nos resgatou do domínio das trevas e nos
transportou para o Reino do seu Filho amado."
De que forma isso pode realizar-se? Como o
homem pode ser liberto das trevas e enviado
à luz, já que o mundo das trevas é um reino
fundado sobre o poder de Satanás que tem as
pessoas aprisionadas? Não é fácil livrar-se
desse reino. Como alguém pode se libertar
dessas "correntes" e transferir-se para o Rei-
no da luz?
166

Todo cidadão sabe que está sob o domínio


ou autoridade de seu país. Um jovem argenti-
no de dezoito anos não pode dizer: "Decido
não ser mais argentino. De forma que não me
chamem para o serviço militar". Ele está su-
bordinado à autoridade de sua nação.
Certa vez perguntei a um jovem: "Quando
você vai deixar de ser argentino?"
"Nunca" - ele me disse.
"Mas um dia você vai deixar de ser argen-
tino".
"Ah, sim! No dia em que eu morrer".
Exatamente! A única maneira de poder li-
bertar-se de uma cidadania, da autoridade
que um reino, ou um país exerce sobre uma
pessoa, é justamente através da morte.
Estou usando esta figura para que possa-
mos ver a verdade essencial da Bíblia: o único
caminho para ser liberado do reino das trevas
é a morte. Não existe outra forma de livrar-se
desse reino. Não há outra maneira de receber
liberação. E não é uma questão de mudança
geográfica, de mudança de um lugar para ou-
tro, porque este reino está dentro de nós
mesmos e consequentemente as trevas nos
167

invadem por dentro. Em essência somos or-


gulhosos, egoístas, avarentos, temos inveja
dos outros, somos rancorosos. E por mais que
decidamos não o ser, por mais que decidamos
mudar, por mais que decidamos ser fiéis a
Cristo, em nossas entranhas brota uma lei que
se revolta contra Deus.
O homem é rebelde por natureza. Por isso
quer fazer o que deseja. Como pode, então,
livrar- se do que é? Há uma única porta: a
morte.
Por outro lado, como entrar no Reino de
Deus? Foi isso que Cristo respondeu a Nico-
demos: "Em resposta, Jesus declarou: 'Digo-lhe
a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus,
se não nascer de novo'. " in O que não nasce não
pode entrar. De que maneira somos cidadãos
de nosso país? Principalmente por havermos
nascido ali. A única forma de entrar no Reino
de Deus é "nascer de novo", segundo as pala-
vras de Cristo. Essa é a porta de entrada. Sig-
nifica que para alguém sair do reino das tre-
vas deve morrer e para ter acesso ao Reino de
Deus, para nele adentrar, precisa nascer.
Nicodemos perplexo perguntou: "Como isso
é possível? Como pode um homem nascer,
168

sendo velho? Como? Como se pode morrer?


Como se pode nascer outra vez?!"
A Bíblia tem a resposta. Vejamos primei-
ramente a figura bíblica e logo documente-
mo-la com o ensinamento das Escrituras. Há
uma só maneira de morrer para as trevas - e é
por meio da morte de Cristo. Paulo disse que
o nosso "velho homem foi crucificado com ele,
para que o corpo do pecado seja destruído, e
não mais sejamos escravos do pecado" 112 , e
ressalta que a maneira pela qual cada um po-
de experimentar em si mesmo essa morte é
mediante o batismo. "Portanto, fomos sepul-
tados com ele na morte por meio do batis-
mo." 113 O batismo é o ato concreto que Deus
estabeleceu, através do qual o homem que
vive no reino das trevas morre e ressuscita
(ou nasce de novo), e entra no Reino de Deus,
reconhecendo Cristo como Rei e Senhor de
sua vida.
É evidente que poucos de nós temos apre-
sentado o Evangelho assim. Temos pregado o
Evangelho pela metade, porque não tínhamos
entendido o Evangelho do Reino de Deus. Tí-
nhamos tirado do batismo seu verdadeiro va-
lor. Tiramos o brilho da verdade de Deus que
as escrituras mostram, com nossos próprios
169

conceitos e, ainda, a neutralizamos com textos


que aparentemente a contradizem.
Ainda que pareça óbvio, é necessário es-
clarecer que o batismo em si não tem nenhum
poder para salvar. A água e a cerimônia ba-
tismal não têm nenhuma virtude, nenhuma
eficácia em si mesmas. Uma pessoa pode ser
batizada e continuar vivendo no reino das
trevas. O que é, então, que dá valor ao batis-
mo? Por acaso, a água pode matar a velha vi-
da? Seria ridículo se afirmássemos isso. O que
dá valor ao batismo é a realidade da redenção.
Cristo veio ao mundo para nos salvar, iden-
tificou-se conosco, foi feito pecado por nossos
pecados. Tomou nossa carne sobre Si e mor-
reu na cruz. Ele morreu por nós. E se alguém
morreu por todos, logo todos morreram
(2Coríntios 5.14).
Todos morreram! Por Ele! É a redenção que
Cristo realizou na cruz o que torna possível
nossa redenção e salvação. Cristo não morreu
apenas. Ele morreu, foi sepultado e ao tercei-
ro dia ressuscitou triunfante dentre os mor-
tos. Esta é a redenção que Cristo operou:
morte, sepultura e ressurreição. Isso é o que
nos salva, a redenção que Cristo efetuou na
170

cruz. Sua morte tornou possível nossa morte;


Sua ressurreição, nossa ressurreição.
Entretanto, Ele morreu há dois mil anos.
Posso, hoje, tornar minha, a Sua obra na cruz?
De que forma posso apropriar-me de tudo o
que Ele realizou a meu favor? Deus estabele-
ceu o batismo, porque sobre o batismo está a
realidade da redenção. Quando o homem crê e
se batiza em nome do Senhor, aí morre com
Cristo e ressuscita com Ele para uma nova
vida.
Eu sei que esta não é uma apresentação ti-
picamente evangélica e que certas coisas que
vou seguir expondo, vão parecer, a alguns,
extremamente duras. Peço, porém, um pouco
de paciência e também de sinceridade. Depois
de considerar estes aspectos, realize um es-
tudo da Palavra de Deus com o coração aber-
to, e verifique o que realmente acontece.

O BATISMO SEGUNDO CRISTO


Cristo disse: "Vão pelo mundo todo e pre-
guem o evangelho a todas as pessoas. Quem
crer e for batizado será salvo, mas quem não
crer será condenado."
171

Para ser salvo, há que se crer e ser batiza-


do. Se alguém se batiza e não crê, pode ser
salvo? A resposta é óbvia: não! Se alguém crê
e não se batiza, pode ser salvo? É muito mais
difícil responder "não" a essa segunda per-
gunta. Provavelmente porque nós, os evangé-
licos, temos entendido esse texto ao contrário.
Temos lido: "Ide por todo o mundo e pregai o
Evangelho a todas as criaturas. O que crer e
for salvo, será batizado". Se alguém crê - quer
dizer, converte- se de verdade - nós o estu-
damos durante meses, observamos seu com-
portamento, damos-lhe algumas lições e de-
pois dizemos: "Este está salvo. Pode bati-
zar-se!"
Isso demonstra que temos deixado o ba-
tismo fora de seu lugar. Cristo disse: "O que
crer e for batizado será salvo." Se alguém se
batiza sem que o ato em si venha acompa-
nhado de arrependimento e conversão interi-
or de seu coração, sem fé em Cristo como seu
Senhor, o batismo não lhe serve para nada, a
não ser para sair molhado. Mas se diz que crê
e, em seguida se batiza, o Novo Testamento
também não aprova essa atitude.
Cristo disse: "'...vão e façam discípulos...'"
Como? "...batizando-os..." e "...ensinando-os a
172

observar a tudo o que eu lhes ordenei." 115 Co-


mo se faz um discípulo? Batizando-o. Mas nós
dizemos: "Vão e façam discípulos, ensinan-
do-lhes que guardem todas as coisas e, uma
vez guardadas todas as coisas, batizem-nos."
Por que isso? Porque não entendemos a es-
sência e o significado do batismo. Quando
uma pessoa se converte? Quando realmente se
salva? A conversão começa quando a mensa-
gem é ouvida com fé e culmina quando essa
pessoa sai das águas do batismo reconhecen-
do Cristo como o Senhor de sua vida.

O BATISMO APOSTÓLICO
O Batismo dos Três Mil
Não foi somente Cristo que ressaltou essa
verdade, mas ela foi também a prática da
Igreja Primitiva. Consideremos o primeiro
batismo cristão em Pentecostes. Pedro prega
e apresenta à multidão, Jesus Cristo. Termina
proclamando que Deus, tendo ressuscitado
Jesus, fez d'Ele Senhor e Cristo. Ao ouvirem
isso, milhares de pessoas, compungidas de
coração, dizem: "O que faremos?"
O que nós teríamos respondido? Prova-
velmente diríamos: "A única coisa que vocês
173

têm que fazer é aceitar Cristo como seu Sal-


vador pessoal e serão salvos. Não há nenhum
compromisso." Mas, não Pedro. Ele ordena:
"Arrependam-se, e cada um de vocês seja bati-
zado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos
seus pecados..." 116 . (Nós teríamos dito: "Arre-
pendam-se, para que sejam perdoados dos
pecados; e batizai-vos cada um, como teste-
munho de que já foram perdoados"). E os
3.000 são batizados naquele mesmo dia. A
verdade assinalada pela Bíblia é que o batis-
mo está unido à conversão, que é a sua con-
cretização. Mas não a conversão de apenas
aceitar Cristo como Salvador, mas sim de re-
conhecê-Lo como Senhor da vida.

O Batismo dos Samaritanos


Filipe foi à Samaria. Ali pregou o Evangelho
do Reino de Deus. Lucas diz em Atos 8.12: "No
entanto, quando Filipe lhes pregou as boas no-
vas do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo,
creram nele, e foram batizados, tanto homens
como mulheres".
Quando se batizaram? Quando acreditaram.
Filipe não foi pregar o "evangelho das ofer-
tas"; era o Evangelho do Reino. Por isso,
174

quando creram...batizaram-se homens e mu-


lheres. Se uma pessoa crê em Cristo como Se-
nhor, o que impede o batismo?
Filipe foi ao deserto e testemunhou ao etí-
ope. Principiou por Isaías. Onde terminou? As
Escrituras não nos dizem qual foi o último
ponto da mensagem, mas pelo que aconteceu
em seguida, deduzimos que foi o batismo. E
assim, o etíope se converteu em candidato ao
batismo. Mas havia um inconveniente de or-
dem prática: estavam no deserto e não havia
água. Continuaram, então, andando no veículo
que lhes servia de transporte e, de repente, o
etíope exclamou: "Filipe, olhe, aqui tem água.
O que me impede de ser batizado agora?"
Felipe não lhe disse: "Primeiro você deve
mostrar os frutos de seu arrependimento por
seis meses e, então o batizaremos". (Filipe
não era evangélico). Mas, com certeza, disse:
"Se você crê de todo seu coração, é claro que
pode batizar-se."
"Creio!" - disse o etíope e mandou parar o
carro. Ambos desceram, foram até a água e
Filipe o batizou.
175

O Batismo de Saulo
O livro de Atos dos Apóstolos relata nove
casos de batismos. Todos, exceto um, foram
realizados no mesmo momento em que se
operou a fé e o arrependimento; no mesmo
dia, no mesmo instante. A única exceção foi o
batismo de Saulo.
Ele foi o que mais demorou. Passaram-se
três dias! Três dias porque não veio ninguém
antes! Não havia quem o batizasse. Lucas
narra esse fato em Atos, capítulo 8.
Paulo mesmo relata sua conversão Atos ca-
pítulo 22. Ananias veio e lhe disse: "Irmão
Saulo, recupere a visão...O Deus de nossos an-
tepassados o escolheu...E agora, que está espe-
rando? Levante-se, seja batizado e lave os seus
pecados, invocando o nome dele." 118 Se Paulo
fosse evangélico, com certeza lhe diria: "Um
momento! Meus pecados já foram lavados
quando aceitei Cristo." Mas ele não o era e
Ananias pôde dizer-lhe, depois de três dias de
haver-se rendido a Cristo: "Seja batizado e
lave os seus pecados, invocando o nome dele".
E foi o mesmo que Pedro disse aos três mil:
"Arrependam-se, e cada um de vocês seja bati-
zado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos
176

seus pecados...". Será possível que a Bíblia re-


lacione tão intimamente o perdão dos pecados
ao batismo?

Cornélio e os de Sua Casa


Pedro vai à casa de Cornélio em Cesaréia.
Ali prega e, pelo visto, todos se rendem a
Cristo. Mas ele nem pensa em batizá-los. Ja-
mais batizaria um gentio! Deus, porém, Se
antecipa: batiza com o Espírito Santo a Corné-
lio e a todos os que estão reunidos. E se são
batizados com o Espírito Santo, alguém pode
negar-lhes a água? E no mesmo dia, foram
batizados Cornélio e toda sua família.

Lídia e Sua Família


Paulo vai a Filipos. Ali, à beira do rio, há
algumas mulheres que se reúnem para orar.
Paulo começa a orar com elas. Começa a fa-
lar-lhes e Deus abre o coração de uma mulher
chamada Lídia. Ela, com toda sua família, crê
e, em seguida, todos são batizados.
177

O Carcereiro de Filipos
O caso mais surpreendente ocorre na pri-
são de Filipos. Ali estão presos Paulo e Silas.
São açoitados e têm as costas ensanguentadas,
os corpos feridos. São atirados ao calabouço
mais sombrio e seus pés estão amarrados.
Entretanto, o que fazem? Cantam, louvam a
Deus e glorificam Seu nome! E à meia-noite,
enquanto cantavam, um terremoto sacudiu
tudo. Os presos se soltam. O carcereiro tira a
espada e tenta se matar. Paulo diz: "Não faça
isso! Estamos todos aqui! Ninguém fugiu."
O carcereiro fica impressionado. Escutou
aqueles homens cantando a noite toda e agora
se vê diante dessa atitude. Cai, então, diante
deles e pergunta: "O que devo fazer para ser
salvo?"
O que lhe responde Paulo?: "Creia no Se-
nhor Jesus e serão salvos, você e os de sua
casa." Amém!
E assim é: para ser salvo, há que se acredi-
tar. Mas a mensagem não é concluída aqui, e
através do que se passa, mostra-nos o que
significa realmente crer. Ali há um homem
que abre seu coração, crê na mensagem e, a
essa hora - à meia-noite - batiza-se. Um ter-
178

remoto sacudiu todo o cárcere, gerando con-


fusão e pânico. Sem dúvida, a Bíblia nos diz
que o carcereiro naquela mesma hora da noi-
te, lava- lhes as feridas e, em seguida, bati-
za-se com todos os seus.
"Mas Paulo, por que a pressa? Para que ba-
tizá-los à meia-noite? O homem já acreditou,
por que não esperar o dia amanhecer? Agora
está tudo confuso, escuro. O terremoto sacu-
diu a prisão e os presos estão soltos."
Paulo sabe muito bem que para entrar no
Reino de Deus, para ser salvo, é preciso crer
no Senhor Jesus Cristo e ser batizado. E esse
homem, com toda sua família, crê e é batizado
no mesmo momento.
Nós nunca agiríamos assim. Se alguém vi-
esse disposto a entregar-se ao Senhor e a ser
um discípulo de Cristo, pregaríamos e tería-
mos a mesma persistência de Paulo?

O BATISMO: REALIZAÇÃO CONCRETA DA CONVERSÃO


Para sair do reino das trevas há que se
morrer, e para entrar no Reino de Deus há
que se nascer. E a maneira que Deus estabe-
leceu para que isso possa realizar-se é justa-
179

mente através do batismo, realizado com


verdadeiro arrependimento e fé em Jesus
Cristo. Todos os casos bíblicos atestam essa
mesma verdade.
Tiramos do batismo seu verdadeiro lugar
que deve ser junto à conversão, porque é a
realização concreta, a materialização dela. E
não apenas isso. Também diminuímos o valor
do batismo, sua importância. Ensinamos e
pregamos: "O batismo não apaga os pecados;
o batismo não salva; o batismo não é necessá-
rio para a conversão, para a salvação, para a
obtenção da vida eterna." E costumamos
apresentar como exemplo o ladrão da cruz. O
que disse Cristo ao ladrão, ao seu lado, na
cruz? "Hoje você estará comigo no paraíso." 122
O ladrão não foi batizado e, certamente foi
salvo! Dessa forma temos feito da exceção,
uma doutrina. Temos fundamentado nosso
ensinamento sobre algo absolutamente ex-
cepcional, diferente de todos os outros casos.
Se alguém está pregado a uma cruz, a ponto
de morrer, também podemos dizer: "Crê e,
ainda que não te batizes, serás salvo." Mas
apenas nessas circunstâncias, não em outras.
Tiramos tanto do valor do batismo que muitos
concluem: "Para que, então, vou batizar-me?"
180

Dentro do contexto evangélico tradicional,


qual é a necessidade do batismo? Temos dito
que é um testemunho público de fé, um tes-
temunho de que realmente pertencemos a
Cristo. Sem dúvida, mas ainda que surpreenda
a alguns, devemos dizer que não há em toda a
Bíblia um texto que diga que o batismo seja
um testemunho público de fé em Cristo. Sob
um aspecto, não é a presença do público o que
dá validade ao batismo. Segundo a Bíblia en-
sina, este não é um ato para testemunho, nem
necessariamente tem que ser público. Que
público havia quando Felipe batizou o etíope?
Que público havia quando Ananias batizou
Saulo? E quando Paulo batizou o carcereiro e
sua família? O batismo é independente do pú-
blico.
Até agora temos pregado que quando al-
guém aceita Cristo deve, imediatamente, ser
batizado diante de todos. "Todos têm que
presenciar esse acontecimento" é o que dize-
mos. E claro que o batismo pode ser público.
Como no caso dos três mil, como na casa de
Samaria, como em tantos outros. Porém, a
presença do público não é essencial.
O que é o batismo segundo a educação bí-
blica? Significa, de acordo com o que Paulo diz
181

em Romanos 6.4: "...que fomos sepultados com


ele na morte por meio do batismo, afim de que,
assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos
mediante a glória do Pai, também nós vivamos
uma vida nova". A Bíblia não ensina que o ba-
tismo não salva, não perdoa, ou não limpa os
pecados, como ainda acreditávamos. A Bíblia
afirma que esse é o ato de entrega total a Je-
sus Cristo, pelo qual, ao descer às águas, sou
sepultado com Ele para a morte e erguido pa-
ra uma nova vida, pelo poder de Sua ressur-
reição.
E tudo através da fé. Não apenas me batizo
na água, submerjo em Cristo. Morro com Sua
morte e nasço por Sua ressurreição.
Nós sempre dissemos que o batismo não
salva. Pedro disse em sua primeira epístola 123
: "...e isto é representado pelo batismo que
agora também salva a vocês" (referia-se ao
dilúvio) e, então, entre traços, acrescenta: " -
não a remoção da sujeira do corpo, mas o
compromisso de uma boa consciência diante de
Deus - por meio da ressurreição de Jesus Cris-
to...". Se tirarmos, por um momento, a frase
entre traços teremos: "O batismo ..." "...salva
vocês..." "...por meio da ressurreição de Jesus
Cristo...". Não é a água o que salva, nem o ba-
182

tistério, mas a redenção operada pela ressur-


reição de Jesus Cristo.
Mas, para que a ressurreição opere é ne-
cessário o batismo; não porque limpe as
imundícies da carne (estas ele não as retira,
nem a oração, nem o arrependimento, mas
sim a morte e a ressurreição de Cristo, a re-
denção que Ele efetuou na cruz), senão por-
que é a aspiração de uma boa consciência di-
ante de Deus. Minha consciência dá testemu-
nho: "Cristo morreu por mim e eu morro por
Ele. Esta velha vida fica sepultada e levan-
to-me com o poder da ressurreição de Cristo
para uma nova vida".
Fica claro que o batismo não tem nenhum
valor se é realizado tão somente como uma
cerimônia, ou por um mero formalismo.
Tampouco vamos estabelecer como dogma o
que a Bíblia diz quanto ao batismo. Existe um
perigo real de colocar-se nele uma ênfase
exagerada. Os ensinamentos bíblicos não são
um corpo de doutrinas estáticas, nem consti-
tuem uma teologia rígida. Não chegaríamos
longe com isso. As verdades da Bíblia são fun-
cionais, dinâmicas, vivas.
183

Até agora chamamos os pecadores a entre-


gar-se a Cristo com o "evangelho das ofertas",
a levantar a mão, a passar para uma saleta
anexa, a levantar-se, etc. Agora, ao apresentar
o Evangelho do Reino, não caiamos em dog-
matismos, ou em exageros desnecessários,
mas façamos que essas verdades sejam funci-
onais, vivas, como fazia a Igreja Primitiva.
Sem fórmulas rígidas, imóveis, mas fazendo
que opere a essência dessa verdade. Existe
algo mais precioso que guiar um pecador a
passar de um reino ao outro, através do ba-
tismo, um ato tão concreto, tão contundente e
simples, estabelecido pelo Senhor?
Um irmão me contou como se realizam os
batismos na índia. A Igreja se reúne em uma
das margens do rio e todos os que vão ser ba-
tizados, reúnem-se na outra, misturados com
os que vêm assistir à cerimônia. O ministro
que batiza, coloca-se no leito do rio. A sua
direita tem a Igreja e a sua esquerda os in-
conversos. Quando chama aos que devem ser
batizados, eles saem do meio do público e
descem ao rio pela margem esquerda. E, ao
serem batizados, passam para a outra margem
para unirem-se à Igreja do Senhor. Esse é um
belo simbolismo da realidade do batismo:
184

homens libertos do reino das trevas e enca-


minhados para o Reino de Seu amado Filho.

MEROS SÍMBOLOS?
Por muito tempo fizemos do batismo e da
Ceia do Senhor, apenas símbolos. Afirmamos:
"Isto é pão; comemos o pão em memória do
corpo de Cristo". Sem dúvida, Cristo disse:
"Isto é meu corpo". O pão não é Cristo, mas
nesse momento, pela fé, não apenas comemos
o pão, mas também Cristo. Não só bebemos
vinho, mas bebemos de Cristo, bebemos Seu
sangue. Também acontece isso com o batismo,
que agora voltou a recuperar seu significado.
Eu batizei muitos segundo o "evangelho das
ofertas". Era só uma cerimônia. Havia bênção,
claro; também regozijo, porque novos se
uniam à Igreja, mas não era um batismo como
o que realizava a Igreja Primitiva.
E é tão diferente batizar, agora! Já não é
apenas dizer uma fórmula. Ponho minhas
mãos sobre o que vai se batizar e peço a graça
e a unção do céu: "Senhor, agora este homem
que está aqui e crê em Ti, vai ser batizado
para a morte. Nesse momento, a velha vida
que ele tem vai morrer". E digo para o que
185

está para ser batizado: "Agora você vai ser


sepultado junto com Cristo. Sua velha vida vai
morrer junto com Ele. Mas você vai se levan-
tar pelo poder de Deus, pela ressurreição de
Cristo! Você vai se levantar junto com Cristo,
para ressuscitar dentre os mortos, como Ele
ressuscitou". E aquele que está sendo batiza-
do, abre-se para a operação do Espírito Santo.
A fé tem algo concreto em que se segurar.
Porque não somos apenas espírito, somos
também corpo. Como ajuda à fé, ter algo con-
creto como isso! Agora, batizar é enterrar ve-
lhas vidas, para que morram pelo poder de
Cristo; tal como é erguer-se, com a unção de
Deus para uma nova vida. Isto é nascer da
água e do Espírito.
Alguém dirá: "Como? A água não é a Pala-
vra de Deus, segundo a hermenêutica tradici-
onal?" O que Nicodemos sabia sobre herme-
nêutica para identificar a água com a Palavra?
Nós fazemos essa relação porque somos de-
masiadamente eruditos. Nicodemos interpre-
tou tal como lhe disseram. Quando a velha
vida morre e é sepultada, o que acontece? De
onde volta a nascer? Da água, pelo poder do
Senhor!
186

Ali começa a nova vida. A Bíblia estabele-


ceu o batismo como um ato funcional, real,
significativo, prático, através do qual as pes-
soas passam de uma maneira concreta, das
trevas para o Reino de Deus. Devemos
dar-lhe, portanto, a importância que lhe cor-
responde.

NÃO NOS PRECIPITEMOS


Como agiremos agora? Pregaremos e en-
cheremos o batistério convidando a todos que
queiram batizar-se? Não nos apressemos. A
questão não é batizar de imediato. Devemos,
no entanto, quando as pessoas vêm, expli-
car-lhes isto claramente: "Se você quer ser
discípulo de Cristo, se quer integrar-se à co-
munidade dos filhos de Deus, tem que se ar-
repender e negar-se a si mesmo. Tem que co-
locar em segundo plano seu pai, mãe, mulher
e filhos, esposo, irmãos e também sua própria
vida. Cristo tem que vir primeiro. Você deve
tomar a cruz e seguir Cristo. Tem que renun-
ciar a tudo o que possui."
Não batizemos ninguém se não estivermos
seguros de que tenha compreendido que não
está diante de uma doutrina, mas de uma
187

pessoa viva: Jesus Cristo. Não batizemos se


não há disposição para reconhecer Cristo co-
mo o Senhor da vida. Deus vai ajudar-nos e
guiar-nos, passo a passo, nesse terreno. Tam-
bém não é preciso explicar à pessoa cada de-
talhe sobre o senhorio de Cristo para que se
batize, nem é necessário que entenda tudo. O
fundamental é que o indivíduo depare-se com
uma pessoa viva que se chama Jesus Cristo.
Ainda que não entenda nada sobre doutrina,
que entenda isto: Jesus Cristo é o Senhor. Se
até agora, o candidato ao batismo, viveu como
lhe pareceu, daqui em diante deve estar dis-
posto a entregar- se a Ele e a fazer o que Ele
lhe ordene.
Façamos que esta verdade seja viva e pro-
funda. O pecador tem que reconhecer esse
Cristo ressuscitado e glorificado como Senhor.
Quando nele ocorre essa disposição, esse en-
tendimento, essa rendição, então o batizamos.
É sepultado e ressuscita para uma nova vida.
Quando o pecador se identifica com Cristo,
morrendo e ressuscitando com Ele, passa a
pertencer ao Reino de Deus.
E há algo mais: nós, os evangélicos, temos
posto ênfase demais na experiência inicial e
muito pouco na sua continuidade. Temos in-
188

sistido que a conversão é um ato definido,


algo que ocorre num determinado momento. E
isto de fato é assim, mas temos deixado de
enfatizar outro aspecto da verdade. E certo
que um dia me batizei, que morri para a velha
vida. Mas e agora? Isso é tudo? Claro que não,
o batismo tem que se prolongar em uma ex-
periência contínua. Devemos permanecer na
graça do batismo.
Cristo disse: "Portanto, vão e façam discí-
pulos de todas as nações, batizando-os em no-
me do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensi-
nando-os a obedecer a tudo o que eu lhes or-
denei..." 125 Se batizamos o pecador e pensa-
mos: "Pronto, morreu e ressuscitou; agora
tem vida". Se o abandonamos ali, é muito
provável que sua vida fique truncada. Porque
estas verdades funcionam dentro de um con-
texto adequado, onde se celebram os ensina-
mentos do Novo Testamento e se convive em
amor. Dentro de nosso contexto não funcio-
nam. Por isso, imediatamente depois que se
batiza alguém, é imprescindível que essa pes-
soa comece a ser doutrinada e ensinada de
forma contínua. Para isso, é necessário que
cada batizado tenha um pai espiritual, ou um
guia que esteja em constante comunicação
189

com ele, que se preocupe, que realize sua


função de tutor.
Pois não nasceu uma nova criatura? Os re-
cém-nascidos necessitam de atenção especial.
Isso é muito importante. O coração do que se
batiza é terno, está aberto a Deus, recebe o
que lhe é ensinado, tem fome. Às crianças re-
cém-nascidas se deve dar leite a cada três ho-
ras! É necessário, então, um cuidado intensivo
aos que recém-nascem espiritualmente, inte-
grando-os à família de Deus.
190

TERCEIRA PARTE

I
190

JESUS CRISTO É O SENHOR


DO U NIVERSO
191

6 - JESUS CRISTO É O SENHOR


DO UNIVERSO
"P EÇO QUE O D EUS DE NOSSO S ENHOR J ESUS C RISTO ,
o glorioso Pai, lhes dê um espírito de sabedoria
e revelação, no pleno conhecimento dele. Oro
também para que os olhos do coração de vocês
sejam iluminados, afim de que vocês conheçam
a esperança para a qual ele os chamou, as ri-
quezas da gloriosa herança dele nos santos e a
incomparável grandeza do seu poder para co-
nosco, os que cremos, conforme a atuação de
sua poderosa força. Esse poder ele exerceu em
Cristo, ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o
assentar-se à sua direita, nas regiões celesti-
ais, muito acima de todo governo e autoridade,
poder e domínio, e de todo nome que se possa
mencionar, não apenas nesta era, mas também
na que há de vir. Deus colocou todas as coisas
debaixo de seus pés e o designou como cabeça
de todas as coisas para a igreja, que é o seu
corpo, a plenitude daquele que enche todas as
coisas, em toda e qualquer circunstância" (Ef
1.17-23).
O corpo de Cristo jazia no sepulcro. E, en-
tão, o poder de Deus operou nele, ressusci-
192

tando-O dos mortos. Mas essa "super grande-


za de Seu poder" não só operou em Cristo
ressuscitando-O, mas também ascendendo-0
aos céus, sentando-0 nos lugares celestiais,
reinando sobre todo principado, sobre toda
autoridade, sobre toda potestade, sobre todo
senhorio, sobre todo nome que se pronuncia,
não só neste século, mas também no vindou-
ro, submetendo todas as coisas aos seus pés.
O poder de Deus levantou Cristo e O colocou
como cabeça da Igreja, que é Seu Corpo, e
mais ainda, como Aquele que é supremo sobre
o Universo. E é precisamente a isso que que-
remos fazer referência agora, a Cristo como o
Senhor do Universo.
João, em sua visão apocalíptica, deparou-
se com os céus abertos. O Espírito o introdu-
ziu por uma porta a esse céu. E ali viu e ouviu
coisas sobre as quais lhe foi ordenado escre-
ver. Este é seu relato: "Então ouvi algo seme-
lhante ao som de uma grande multidão, como o
estrondo de muitas águas e fortes trovões,
bradando: 'Aleluia! Pois reina o Senhor nosso
Deus, o Todo-poderoso' " (Ap 19.6).
Que maravilha! Que magnífica visão! Uma
grande multidão, milhões e milhões de pes-
soas! E um estrondo, como se fosse muita
193

água, como a voz de trovões! E o que diziam?


Aleluia! Tudo se cobriu de louvores. Aleluia! E
na Terra, entre todas as nações, também se
fez ouvir a mesma palavra: Aleluia!
Mas, por que "aleluia"? Nossas aleluias,
muitas vezes têm motivos circunstanciais:
"Aleluia porque aumentaram meu salário!"
Com efeito, essas expressões deveriam ser
inspiradas em motivo maior, muito mais forte
e estável. Nos céus há alegria porque o Senhor
nosso Deus Todo-poderoso reina. Enquanto
Ele estiver sentado no trono há motivos mais
do que suficientes para dizer: Aleluia!
Finalmente, João viu culminar a esperança
de cada redimido: o Filho do homem, Jesus
Cristo, voltando pela segunda vez à Terra.
João O viu em um cavalo branco, vindo com
grande poder e glória, ao som de uma trom-
beta e rodeado de arcanjos do Céu. E em seu
manto e em sua coxa um nome escrito: REI
DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES (Ap
19.16).
Cristo, hoje, assentado no trono, à direita
de Seu Pai, já traz esse nome inscrito junto de
Si. De um lado, "REI DOS REIS", do outro,
"SENHOR DOS SENHORES". Em outros trechos
194

da Escritura Ele é chamado de: Salvador,


Mestre, Filho do homem, Filho de Deus, Leão
da tribo de Judá, Cordeiro de Deus; mas ne-
nhum destes nomes está escrito em suas ves-
tes, a não ser "Rei" e "Senhor". Esse nome se
destaca dos demais porque revela, como ne-
nhum, Sua majestade e senhorio.
Cristo, então, é Senhor de tudo o que existe
neste século e por toda a eternidade. Veja-
mos, ainda, Sua atuação em cada uma das
áreas ou esferas em que se move o Universo.
Cristo é o Senhor do Universo. Porém, não
o é simplesmente por Sua condição de divin-
dade preexistente. Quando veio a Terra e Se
encarnou, demonstrou diante dos homens o
pleno domínio e autoridade que tinha sobre
todas as esferas, em Sua condição de Homem
perfeito. Assim, Se despojou de Seu poder
para morrer na cruz, mas voltou a reconquis-
tá-lo com glória, através de Sua ressurreição.
Consideremos a sequência de Sua encarnação,
morte e exaltação, com respeito às distintas
áreas em que opera o Universo.
Para uma compreensão mais clara do que
quero apresentar, destacarei seis diferentes
esferas dentro do Universo, e a cada uma de-
195

nominaremos "reino". E notaremos a atuação


de Cristo em cada um desses reinos:

1. O REINO DA NATUREZA
Compreende o mundo material criado por
Deus, a Terra, os astros e as galáxias, os ani-
mais, as plantas e os minerais, etc. Tudo o que
tem relação com o mundo natural. Nele, Deus
estabeleceu Suas leis e os princípios que o
governam.

2. O REINO DOS VIVOS


Inclui a todo ser humano que vive sobre a
Terra: homens e mulheres de todas as raças.
Deus também estabeleceu sobre este reino,
Suas leis e Seus princípios.

3. O REINO, OU ESFERA, DOS GOVERNOS OU AUTORIDA-


DES HUMANAS
A Bíblia ensina que Deus é quem coloca e
tira reis. A revelação dada a Daniel no tempo
de Nabucodonosor, evidencia-nos exatamente
essa verdade: Deus está acima de todo reino,
rei ou governante. Ele os põe e os tira. Ele
196

endurece o coração de Faraó e estabelece


Nabucodonosor como rei ou o tira de seu lu-
gar.

4. O REINO DOS MORTOS


Quando o ser humano morre, sua alma, seu
espírito, seu interior separa-se do corpo que
volta a terra e vai para a morada dos mortos.
Na Bíblia esse lugar é chamado "Seol" e "Ha-
des" (em hebreu e grego, respectivamente),
indicando o lugar para onde vão todos os que
morrem. Logo veremos isso detalhadamente,
mas quero salientar que até o dia da ressur-
reição de Jesus Cristo, todo o que morria ia
para essa morada dos mortos.

5 . O REINO, OU ESFERA, DOS DEMÔNIOS


Os demônios são espíritos incorpóreos que
formam um reino muito vasto. Há um deles
que os comanda como um general supremo.
Seu nome é Satanás e tem sob sua autoridade
a todos os outros, organizados como um ver-
dadeiro exército. Satanás tem seus generais
em todos os países do mundo e seus coronéis
em todas as cidades. Tem seus majores, capi-
197

tães, tenentes, etc, até chegar ao "demô-


nio-raso". A Bíblia os denomina: principados,
potestades, autoridades, governadores das
trevas, hostes espirituais nos ares. Há hie-
rarquia dentro deste reino dos demônios.
6. O REINO DOS ANJOS
Também os anjos são seres espirituais sem
corpo. Existem tipos diferentes de anjos:
querubins, arcanjos, serafins, anjos que ado-
ram a Deus o tempo todo, anjos que cuidam
das crianças, anjos que estão continuamente à
disposição de Deus, como servidores e minis-
tros.
Em linhas gerais, são estas as diferentes
áreas, reinos e esferas que operam no Uni-
verso. Podemos localizar tudo o que se co-
nhece, dentro de alguma destas seis esferas.
Entretanto, poder-se-ia fazer uma classifica-
ção distinta dessa. Isso não é absoluto.

O reino da O reino O reino, ou


esfera, dos
governos
natureza dos vivos ou autori-
dades
humanos
198

O reino dos O reino, ou O reino


mortos esfera, dos
demônios dos anjos

QUEM É ESTE?
Quando Cristo veio a Terra, começou Sua
atuação pública aos trinta anos, ungido pelo
Espírito Santo. Sua manifestação ao mundo
como o Messias, como o enviado de Deus.
Quando Ele atuava, os homens e mulheres
ficavam maravilhados e confusos. Em alguns
aspectos parecia um homem como os outros:
cansava-se, tinha fome e sede como qualquer
um, tinha sono, dormia. Suas mãos se sujavam
com o trabalho. Parecia, de fato, um homem
igual a todos; podia- se tocá-Lo, apalpá-Lo.
Não tinha nada fora do comum.
Contudo, ao observá-Lo sob outra perspec-
tiva, deixava Seus observadores perplexos.
Exclamavam: "Mas, QUEM É ESTE? Não é um
homem comum. É um personagem diferente.
199

Ninguém fez o que Ele faz! Ninguém falou


como Ele fala! "Quem é?"
De vez em quando, surgia essa pergunta,
nas mentes daqueles homens. Alguns quise-
ram resolver essa questão, dizendo: "É um
profeta", ou "um vidente", ou "um homem ex-
cepcional" ou "um mestre." Mas não. Ele era
diferente. "Quem é Ele?" A pergunta ressoou
dentro de todos os que tiveram a oportunida-
de de vê-Lo. Até mesmo Seus discípulos, de-
pois de havê-Lo seguido, uma vez ou outra,
perguntavam-se o mesmo.

SENHOR SOBRE O REINO DA NATUREZA


Em certa oportunidade Jesus, depois de ter
pregado à multidão, subiu ao barco para cru-
zar o lago. Seus discípulos O seguiram. Cristo
estava cansado pela agitação do dia. Estava
com sono e acabou adormecendo. Ali deitado
parecia um homem como outro qualquer. E no
meio da travessia, o vento levantou uma tem-
pestade e o barco começou a afundar. As on-
das pareciam que iam tragar a embarcação.
Aqueles hábeis pescadores da Galiléia tenta-
vam controlá-la, mas não conseguiam. Final-
mente, olharam para o mestre que dormia.
200

"Senhor, salva-nos! Estamos morrendo!"


Cristo se levantou: "Por que vocês estão
com tanto medo, homens de pequena fé?" -
Em seguida estendeu a mão repreendendo os
ventos e o mar, e fez-se completa bonança.
Os mesmos discípulos, assombrados, per-
guntaram: "Quem é este, que até os ventos e o
mar Lhe obedecem? ...Quem é ele?!"
Este é Jesus de Nazaré, mas também é o
Verbo feito carne, o Filho de Deus vivo. É
aquele que, quando esteve na Terra, demons-
trou ser Senhor sobre o reino da natureza. Ele
mostrou Sua autoridade através de Seu mi-
nistério: Até a Natureza se submeteu ao Se-
nhor do Universo.

SENHOR SOBRE O REINO DOS VIVOS


Quando os homens O ouviam pregar e en-
sinar, diziam: "Ninguém jamais falou como
Ele. Ele não fala como os religiosos, mas como
alguém que tem autoridade." E assim era, já
que ninguém podia refutar nada do que Ele
dizia.
Certa vez veio um leproso, com o corpo
cheio de chagas, ajoelhando-se diante de
201

Cristo, disse-lhe: "Senhor, se quiseres, podes


purificar- me!" Cheio de compaixão Cristo
estendeu a mão, tocou nele e disse:
"Quero. Seja purificado!” E a lepra aban-
donou-o imediatamente. Todos ficaram mara-
vilhados.
E, então, quem é este?
Este é Jesus de Nazaré, o filho de Deus, o
Senhor sobre o reino dos viventes. Senhor
sobre o homem em sua totalidade. Senhor
sobre o corpo, Senhor sobre a alma, Senhor
sobre o espírito - Ele é Senhor! Oh! Quão
grande é o poder de Cristo sobre o ser huma-
no!
Em outra oportunidade, trouxeram-lhe um
paralítico. Jesus disse ao paralítico: "Filho, os
seus pecados estão perdoados." - Os religio-
sos, então, enfureceram-se. "Quem pode per-
doar pecados, a não ser somente Deus?"
"Para que vocês saibam que o Filho do ho-
mem tem na Terra autoridade para perdoar
pecados eu digo (voltando-se ao paralítico):
'Levante-se, pegue a sua maca e vá para casa".
E foi o que aconteceu, deixando a todos atô-
nitos: "Nunca vimos nada igual!", diziam.
202

Tinha autoridade sobre todos os seres vi-


vos: sobre seus corpos, para curar; sobre suas
almas e espíritos, para salvar.
Ocasionalmente Ele parava diante das pes-
soas e lhes dizia: "Quem dentre vocês me
acusa de pecado?" Nunca ninguém pôde le-
vantar o dedo para acusá-Lo. Ninguém pôde
abrir a boca. Todos emudeciam.
Em outra ocasião ainda, Ele desafiou: 129 "Se
algum de vocês estiver sem pecado, seja o
primeiro a atirar uma pedra contra essa mu-
lher". Todos a deixaram e se foram. Maravi-
lhados. Surpresos. Mas... QUEM É ESTE?
Ah! Este é o glorioso Jesus Cristo, o Filho
bendito do Pai, que veio a Terra e demonstrou
ser Senhor sobre todos os seres vivos - inte-
gralmente: sobre corpo, alma e espírito.

SENHOR SOBRE O REINO DOS DEMÔNIOS


Passando por uma região, certa vez, dois
homens vieram ao Seu encontro. Estavam en-
demoninhados. Muitos espíritos satânicos,
demônios, haviam se apoderado deles. 130
Eram muitos, uma legião. Os homens pela in-
fluência dos demônios eram tão violentos que
203

ninguém podia passar por aquele caminho.


Mas então Jesus aproximou-Se deles. Os espí-
ritos, então, começaram a tremer e a gritar
naqueles dos dois homens. E Cristo ainda não
tinha dito nada! Nem havia aberto Sua boca e
já estavam todos tremendo!
"Que queres conosco, Filho de Deus?"
Estavam tremendo ante a presença do Filho
de Deus. "Se nos expulsas, por favor, man-
da-nos entrar naquela vara de porcos."
Cristo, então, deu a ordem. Uma única pa-
lavra, nada mais: "Vão!", Ele ordenou. E todos
aqueles demônios saíram dos homens e en-
traram nos porcos, e toda a manada atirou-se
precipício abaixo, em direção ao mar. E toda a
população da cidade saiu ao encontro de Jesus
para ver o que havia acontecido.
"QUEM É ESTE, que até mesmo os demô-
nios O obedecem?" Então, todo o povo da re-
gião suplicou a Jesus que se retirasse, porque
estavam dominados pelo medo. "Por favor, vá
embora daqui!", disseram. Sim, pediram ao
Senhor que fosse embora porque quando li-
vrou o endemoninhado, arruinou-lhes o negó-
cio com os porcos. Sem dúvida, a pergunta do
vilarejo tinha uma resposta: Este é Jesus de
204

Nazaré, o Filho de Deus, Aquele que demons-


trou na Terra ser Senhor sobre todos os de-
mônios. No começo de Seu ministério, já havia
se encontrado com o general deles. Esteve
frente a frente, com o mesmíssimo Satanás.
Uma, duas, três vezes. Na terceira oportuni-
dade lhe ordenou: "Retire- se, Satanás!" E o
diabo teve que fugir envergonhado e vencido.
Desde o primeiro dentre os demônios, até o
último, todos se sujeitaram a Ele. As pessoas
viam o poder do Senhor atuando nessa área
também.

SENHOR SOBRE O REINO DOS MORTOS


Jesus tinha um amigo em Betânia, Lázaro.
Um dia chegou a notícia: "Senhor, Lázaro está
enfermo." Era preciso ir vê-lo imediatamente.
Mas Ele se demorou em fazê-lo. Chegou
quando já fazia quatro dias que ele tinha
morrido.
Marta, a irmã de Lázaro, disse-lhe: "Se-
nhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria
morrido." Ela sabia que Cristo tinha poder
para curar os enfermos, mas não imaginava
até onde o Seu poder chegaria. Jesus aproxi-
mou-se do túmulo.
205

"Onde o colocaram?", perguntou.


"Está ali", responderam.
"Tirem a pedra", disse Ele.
"Mas, Senhor, ele já cheira mal!"
"Retirem a pedra!", e a pedra foi retirada.
Então, Jesus orou: "Pai, eu te agradeço
porque me ouviste...Lázaro, venha para fora!"
- e o morto ressuscitou e saiu do sepulcro
envolvido em faixas de linho.
"Tirem as faixas dele!", ordenou.
Podemos imaginar a cena e a pergunta que
deve ter vindo à mente de todos? "Quem é
este, que até mesmo os mortos o obedecem?..
QUEM É ESTE?"
Este é Jesus de Nazaré: Senhor também do
reino dos mortos.

SENHOR SOBRE O REINO DOS ANJOS


Jesus estava no horto de Getsêmani orando
intensamente. 132 Ia ser entregue em sacrifício
e o sabia. Um anjo veio reconfortá-Lo. Final-
mente disse ao Pai: "Seja feita a Tua vontade,
não a minha." E bebeu do cálice amargo. Le-
vantou-se e dirigiu-se aos discípulos: "Vocês
206

ainda dormem e descansam? Basta! Chegou a


hora!" Enquanto falava aos discípulos, uma
multidão de homens se acercava com espadas,
paus e tochas. Vinham prendê-lo. Cristo adi-
antou-se em direção a eles e de cima daquele
monte, na escuridão da noite, perguntou-lhes:
"A quem vocês estão procurando?"
"A Jesus nazareno", foi a resposta.
Deu mais um passo a frente e disse: "Sou
eu", e ao dizer isso, todos os que o perse-
guiam recuaram e caíram ao chão. Nenhum
deles permaneceu em pé.
Rapidamente se levantaram, os soldados
procuravam seus capacetes, suas espadas,
suas tochas e novamente se confrontaram
com Ele.
"A quem buscam?", perguntou novamente.
"A Jesus de Nazaré" , ouviu-se.
"Já lhes disse que sou eu. Se é a mim que
procuram, deixem ir embora estes homens".
Ao verem Sua passividade, Sua entrega,
aproximaram-se d'Ele, prenderam-No e O
amarraram. Enquanto isso, Pedro sacou sua
espada e cortou a orelha de um deles.
207

"Guarde a espada!", ordenou Cristo. "Você


acha que eu não posso pedir a meu Pai, e Ele
não colocaria imediatamente ã minha dispo-
sição mais de doze legiões de anjos?"
O que disse? Todos O ouviram. Mas, quem é
este que se pedisse doze legiões de anjos, eles
viriam acudi-Lo? QUEM É ESTE?

SENHOR SOBRE O REINO DOS GOVERNOS HUMANOS


Finalmente O amarraram e O levaram di-
ante do sumo sacerdote. Em seguida a Pilatos,
Herodes e de novo a Pilatos. Este Lhe fez al-
gumas perguntas:
"Você é O rei dos judeus?"
"Tu o dizes", respondeu Jesus.
Pilatos continuou perguntando, mas Cristo
já não lhe respondia e ele se irritou: "Você
não vai me responder? Não sabes que tenho
autoridade para crucificar-Te... e para sol-
tar-Te?", Jesus estava de pé, sereno, calmo, em
paz.
"Nenhuma autoridade tu terias se ela não
te fosse dada do alto", Jesus respondeu. Pila-
tos não entendeu.
208

Entrou em seu palácio esfregando as mãos


nervosamente e perguntando-se: "Mas quem é
este? Quem é este? Eu sou o governador Pila-
tos. Tenho o respaldo de todo o Império Ro-
mano. E Ele me diz que há outra autoridade
acima de mim. Afinal... quem é esse homem?"
QUEM É ESTE? Pilatos não se canse. Este é
Jesus de Nazaré: Senhor sobre todos os go-
vernos. E você não teria nenhuma autoridade,
se ela não viesse do alto. Jesus demonstrou
muitas vezes, em Seu ministério público, Sua
autoridade sobre os governantes; fossem po-
líticos ou religiosos. Os principais sacerdotes
acercavam-se mais dele, mas emudeciam em
Sua presença. Este Jesus provou em três anos
e meio de ministério público que era Senhor
sobre todas as esferas do Universo.

SENDO RICO TORNOU-SE POBRE


De repente a cena mudou. Aquele que tinha
todo poder nos Céus e na Terra, que submetia
com Sua autoridade a homens e mulheres,
anjos e demônios, foi preso em Getsêmani. Os
homens O levaram, amarraram-nO e fizeram
d'Ele o que quiseram. Bateram n'Ele, cuspi-
ram em Seu rosto e O injuriaram. E Ele per-
209

maneceu em atitude passiva. Ele, que era Se-


nhor sobre os homens, estava sendo subjuga-
do por estes. Não reagiu com a autoridade que
havia demonstrado antes. Quando O levaram
diante de Pilatos, este lhe disse:
"E, então, você diz ter autoridade sobre
tudo? Vamos ver..." Deu ordens para açoi-
tá-Lo, e levá-Lo à cruz. Jesus, cuja autoridade
era suprema, efetivamente ficou sujeito à au-
toridade de um governante. Foi açoitado.
Carregou a cruz. No cume do Calvário deita-
ram-no sobre ela. Pregaram Suas mãos, Seus
pés e O ergueram na cruz. Seu corpo ficou ali,
pendurado, preso por três ou quatro pregos
na madeira. Ali esteve o Filho de Deus. As
pessoas passavam e diziam: "E você Se diz O
Filho de Deus? ..Desça da cruz, que acredita-
remos em você. Prove para nós!"
E já não havia mais tempo para demonstrar
nada. Aquele que era Senhor da Natureza e
que dominava ventos e mares, e as leis físicas
que regiam tudo, foi subjugado por uma cruz
de madeira e alguns pregos; e não quis sair
dali. Mas, o que aconteceu?
Começamos a compreender o que Paulo
diz: "Fez-se pobre, sendo rico." A riqueza
210

maior de Cristo não era material ou física,


senão que consistia em Sua autoridade e do-
mínio sobre tudo e sobre todos. Ele, que era
rico e que tinha tudo em Suas mãos, foi em-
pobrecendo pouco a pouco. Ele, que dominava
tudo, ficou sujeito a tudo.
Estava ali na cruz, agonizando. Os discípu-
los já O tinham abandonado. Não havia nin-
guém ao Seu lado. Olhou para o Céu; nem o
Pai olhava por Ele. Também O havia desam-
parado. Por isso exclamou em voz alta: "Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste?"
(Mt 27.46).
Nem ao menos um anjo estava ali para
confortá-Lo. Ele que havia tido o exército dos
Céus a Sua disposição, já não o tinha mais.
Quem havia sido Senhor sobre o reino dos
anjos, estava agora abandonado por todos.
E Cristo, pregado naquela cruz, entregou
Seu espírito e morreu. Mas, como? Não foi Ele
quem havia ressuscitado os mortos? Sim, mas
agora estava morto. Ele havia tido poder so-
bre a morte, mas agora ela prevalecia sobre
Ele e já não vivia mais. Despojou-Se de tudo.
211

VENCEDOR
Os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos são
uma narrativa da vida de Jesus feita por tes-
temunhas oculares. Mas também há na Bíblia,
livros de revelações; isto é, de coisas não vis-
tas pelos olhos, mas sim reveladas pelo Espí-
rito Santo. Dentre eles, encontram-se partes
das epístolas, Salmos e outros livros.
O que aconteceu com Cristo quando Ele
morreu? Sabemos o que houve com o Seu
corpo: foi envolvido por um lençol e colocado
em um sepulcro. Isso é relatado pelos Evan-
gelhos. É o que uma testemunha ocular pode-
ria ver. Mas, o que houve com Seu Espírito
quando este saiu de Seu corpo? Para onde foi?
O que fez? Onde esteve?
Aqui os livros de revelações intervém para
narrar o que a testemunha ocular não pôde
ver. O livro dos Salmos revela que quando Seu
Espírito se separou do corpo por submeter-se
à autoridade da morte, Ele também teve que ir
para a morada dos mortos; o que significa ir
para o Hades ou Seol. Por isso diz em um dos
salmos: "Pois não deixarás minha alma na
morte" 135 (SI 16.10; At 2.25-32). O Hades era o
lugar para onde iam os mortos - os pecadores
212

e os salvos. No Hades havia dois lugares, ou


compartimentos diferentes. Cristo falou sobre
isso quando referiu-se ao rico e a Lázaro em
Lucas 16.
O rico morreu e foi para o Hades, aos tor-
mentos, ao inferno. Lázaro também morreu e
foi para o Hades, mas para o lugar de descan-
so, de consolo, de espera. Ali estava Abraão, o
pai da fé e todos os que morriam na sua fé. O
rico estava na zona do sofrimento, Lázaro no
lugar do descanso. Havia um grande abismo
que dividia as duas áreas; ninguém podia
passar de um lado para o outro.
Toda essa região é chamada de Hades. Era
o império da morte cujo domínio tinha Sata-
nás. Com Sua morte, Cristo venceu e destruiu
aquele que tinha "o poder da morte, isto é, o
diabo..." (Hb 2.14,15). Durante o tempo em
que o corpo de Cristo ficou na cruz e no se-
pulcro, para onde foi Seu espírito, ou Sua al-
ma? Efésios 4.9 informa-nos que havia desci-
do primeiramente "às profundezas da terra". E
Atos 2.31 afirma que a alma de Jesus foi para
o Hades. O apóstolo Pedro nos ensina que
Cristo em Espírito "...foi e pregou aos espíritos
em prisão..."(lPedro 3.18,19 e 4.6). Ali o Leão
da tribo de Judá, Cristo, encontrou-Se com o
213

leão rugidor, o diabo, que acabava de ser ven-


cido pela morte de Jesus na cruz. Satanás teve
que entregar as chaves do Hades e da morte a
Jesus Cristo, o grande Vencedor, o SENHOR.
Em Apocalipse Jesus declara: "Eu sou o
primeiro e o último. Sou aquele que vive " (Ap
1.17,18).
Dessa forma Satanás é um inimigo vencido.
Não pode fazer nada agora. A não ser, como
espírito mentiroso que é, utilizar a mentira
contra nós. O engano é sua única arma. Suas
artimanhas, suas táticas são para colocar em
nós o espírito do erro e das trevas. Cristo
venceu o que tinha o império da morte. De
maneira que não se deve temer nada. O "leão
rugidor" está derrotado! E Cristo tem agora
em Suas mãos as chaves do Hades. Ele foi em
espírito e pregou aos que estavam encarcera-
dos. Naquele lugar, Cristo pregou aos que es-
tavam condenados e selou sua condenação. E
aos que estavam aguardando a "Esperança de
Israel", anunciou-lhes as boas novas. Abriu
esse lugar e "levou cativo o cativeiro 136 " (os
mortos na fé). Desde então, esse comparti-
mento do Hades não funciona mais. O único
lugar que ficou é o de tormento, o inferno,
para onde vão todos os que morrem sem
214

Cristo e sem salvação. Os demais têm acesso


imediato à presença de Deus. 137

A MORTE VENCEU
Passou um dia, passaram dois. No terceiro,
a gloriosa vitória de Cristo se fez pública. Pela
manhã muito cedo, o sepulcro estremeceu. A
pedra que fechava a entrada foi retirada e o
Filho de Deus ressuscitou triunfante dentre os
mortos. Cheio de glória!
Venceu sobre as leis da Natureza. Por que,
segundo elas, um corpo morto entra em de-
composição, em putrefação. Porém o salmista
já havia profetizado: "Não deixarás minha
alma em Seol, nem permitirás que haja putre-
fação". E Cristo triunfou sobre as leis da Na-
tureza. Venceu a morte. O Cristo ressuscitado
demonstrou Sua autoridade sobre ela.
Imediatamente após a ressurreição, os an-
jos vieram servi-Lo e atendê-Lo. Um tirou a
pedra do sepulcro. Outro sentou-se onde Ele
havia sido deixado e anunciou: "Não está mais
aqui. Ressuscitou." Os anjos estavam nova-
mente a Sua disposição. Ele havia recuperado
Seu senhorio sobre eles.
215

Em seguida, junto dos Seus, disse-lhes:


"Todo poder me é dado no céu e na terra." Mas,
não havia se despojado de tudo para vir a
Terra? Não havia perdido tudo? Sim, mas no
momento em que terminou o que havia vindo
fazer na Terra, principiou a reconquistá-lo.
Ressuscitando, demonstrou ser aquele que
tinha todo o poder no Céu e na Terra: sobre
todos os viventes, sobre todas as nações, so-
bre todos os reis e governantes. Paulo disse
em Romanos 13 que não há autoridade esta-
belecida, a não ser por Ele. Cristo, triunfante e
ressuscitado, reconquistou Seu senhorio so-
bre tudo quanto existe e agora é Senhor de
tudo. Desprendeu-se de tudo para possibilitar
nossa redenção e fazer-nos participantes de
Seu reino e glória. Porém, logo voltou a recu-
perar tudo e declarou-Se: "Senhor do Univer-
so".
Como tinha todo poder no Céu e na Terra,
disse a Seus seguidores: "...vão e façam discí-
pulos de todas as nações..." (porque tenho au-
toridade sobre elas) "...e eu estarei sempre
com vocês, até o fim dos tempos."
E dizendo essas coisas, o Cristo ressusci-
tado despediu-Se dos Seus. E de repente, Seus
pés começaram a desprender-se do chão, ali
216

no Monte das Oliveiras. Todos ficaram boqui-


abertos. Viam o Senhor elevar-Se ao alto. O
poder da ressurreição O erguia. E finalmente
uma nuvem O cobriu e não O viram mais. Logo
vieram anjos para dar instruções aos discípu-
los.

A CENA CELESTIAL
Mas, o que aconteceu com Cristo depois
que a nuvem O cobriu? As testemunhas ocu-
lares não puderam relatá-lo. E de novo, pre-
cisamos recorrer ao livro de Revelações para
sabê-lo.
Ah! Jesus Cristo. Aquele que veio, agora
ascendia e Se acercava das portas da eterni-
dade!
O salmista David havia visto essa cena
profeticamente. Ele ouviu alguém gritar dian-
te das portas do Céu:
"Levantai, ó portas, as vossas cabeças; le-
vantai-vos, ó portais eternos, para que entre o
Rei da Glória. Quem é o Rei da Glória".
E, de dentro, alguém perguntou: "Quem é
esse Rei da Glória? O Senhor dos Exércitos, ele
é o rei da Glória" (Sl 24.7-10).
217

E as portas da eternidade, começaram a


erguer-se, como uma gigantesca cortina, para
dar boas vindas ao que havia vencido, ao
Cordeiro imolado. E o que se viu do outro la-
do? O céu, transbordando de glória e alegria.
Havia cânticos e regozijo. Os anjos soavam
suas trombetas, cantavam, batiam palmas.
Jesus Cristo estava entrando, pelas portas da
eternidade, para a glória que Ele havia con-
quistado.
Ah! É impossível descrever a cena comple-
tamente! Mas posso, em meu espírito, ver um
pouquinho dela! Quisera poder expressar-me
em línguas angelicais para descrevê-la!
O céu estava vestido de festa, as luzes bri-
lhavam mais do que nunca, a glória de Deus
estava ali! Nunca se havia cantado como na-
quela ocasião! Jesus Cristo entrou, escoltado
por hostes celestiais. O próprio Pai não pôde
conter-se: levantou-se de Seu trono e foi
dar-lhe as boas vindas. O salmista David tam-
bém viu isto e relata assim o encontro: "Disse
o Senhor ao meu senhor: assenta-te à minha
direita, até que eu ponha os teus inimigos de-
baixo dos teus pés" (Sl 110.1).
218

Jesus Cristo, então, sentou-se no trono ex-


celso e sublime. E quando Se sentou, O Pai lhe
deu o nome que está sobre todos os nomes:
"REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES". E
esse nome ficou escrito em sua coxa.
No instante em que Ele Se sentou no trono,
os anjos começaram a tocar seus instrumen-
tos e a cantar. Iniciou-se - há cerca de dois mil
anos - uma festa com tanta glória, com tanto
louvor com cantos tão maravilhosos, que até
hoje, não foi possível detê-la! Se você não crê
nisso, abra sua Bíblia em Apocalipse 5 e verá:
"Digno é o Cordeiro que foi morto de receber
poder, riqueza, sabedoria, força, honra, gló-
ria e louvor!"... "Eis que o Leão da tribo de
Judá, a raiz de David, venceu para abrir o
rolo e os seus sete selos".
Eles continuam lá. E nós aqui, com a mesma
glória, impregnados da mesma realidade.
Mesmo que não vejamos essas coisas, com
nossos próprios olhos agora, vemos a reali-
dade transcendental e eterna com os olhos da
fé: Cristo reina e está sentado no trono!
219

A ESPERANÇA VITORIOSA DA IGREJA


Que momento histórico estamos vivendo?
Aquele a que se referia o Pai, quando disse:
Senta-te a minha direita até que teus inimigos
estejam sob os teus pés. Estamos nesse "até
que", nesse "enquanto", no qual o Pai está
colocando todos, sob os pés do Filho.
Por essa razão estamos vendo um desper-
tar espiritual em diferentes partes do mundo.
Porque o Pai tomou alguns príncipes das po-
testades dos ares e os pôs sob os pés de Jesus.
E continuará colocando outros até que não
reste nenhum. O Pai disse e vai cumpri-lo.
Tudo estará sob os pés de Cristo, para que Ele
tenha pleno domínio. Mas, o que representam
Seus pés? Pense um pouco. Cristo tem um
Corpo.
Qual? A Igreja! Ele é a Cabeça e tudo o que
estiver sob Seus pés, a quem estará sujeito?
Estará submetido à Igreja! Aleluia!
Levante-se, Igreja! Tome consciência da
hora de Deus. Contemple tudo o que o Pai Se
propôs a fazer. Renda-se a Jesus Cristo! Entre
com fé e espírito de vitória. Comece a brilhar.
Tudo aquilo que a planta de seus pés pisar,
será seu. Ele assegura com Sua palavra, por-
220

que nossos pés são os pés de Jesus. Somos o


Corpo de Cristo. Quando esse Corpo se move
sob a tutela da Cabeça, vai ali a Igreja triun-
fante, caminhando, pisoteando, esmagando e
conquistando os reinos para nosso Senhor
Jesus Cristo.
Isaías teve essa visão do Reino de Deus. De
repente, do meio das trevas, nasceu uma Luz.
Essa Luz foi se tornando cada vez mais forte,
até que ele não conseguiu mais olhar. Então
profetizou: e o crescimento de Seu império
não terá limite. 140 O Reino de Deus está em
plena expansão. Não vai ficar assim. Vai con-
tinuar crescendo. Glória a Deus! Ele está pre-
parando Seu povo agora, porque através de
Seu povo Ele irá estender Seu reino a todas as
nações.
Um grande Cristo merece um Reino vasto.
Ele tem poder para ter um grande Reino.
"Porque Seu é o reino e o poder e a glória por
todos os séculos." Oh! Se soubéssemos a res-
ponsabilidade que nos cabe quando estamos
vivendo! É o momento em que culmina o pro-
pósito de Deus para esta geração. E a Igreja,
Seu corpo, é o agente que Deus escolheu para
estender Seu Reino a povos, cidades e nações.
221

Qual é a dificuldade do mundo? Sempre a


mesma: todos querem mandar. Há alguns sé-
culos apareceu Alexandre Magno. Começou a
conquistar reinos e povos. Queria dominar
tudo. A história conta que ele conquistava na
velocidade de seu cavalo. Porém, um dia, seu
cavalo não correu mais. Levantou-se outro
império, o romano, dominando nações com a
força do ferro. E onde está hoje? O que foi
feito dele?
Há três séculos surgiu na França um ho-
mem de pequena estatura e grande inteligên-
cia: Napoleão Bonaparte, que ambicionava ser
imperador do mundo. Ganhou todas as suas
batalhas, menos a última. Durante seu des-
terro na ilha de Santa Helena, onde esperava a
morte, expressou-se assim, referindo- se a
Jesus: "Oh, Mestre da Galiléia, eu sempre ten-
tei conquistar pela força e perdi. Tu quiseste
fazê-lo por amor e venceu."
Hoje em dia, como em qualquer época da
história, povos nações e reinos se enfrentam
procurando ter supremacia, uns sobre os ou-
tros. O Norte contra o Sul, o Leste contra o
Oeste, nações subdesenvolvidas em confronto
com as desenvolvidas. Os gastos que a defesa
e a preparação de um futuro confronto elevam
222

os orçamentos das nações do mundo a cifras


incríveis. E por fim, perguntamo-nos: "Quem
sairá triunfante? Quem conseguirá o domínio
do mundo?" Posso assegurar, sem medo de
errar, que o que vai triunfar é Aquele que já
venceu: JESUS CRISTO. Ele é o Senhor! E um
dia, quando a última trombeta soar, Ele apa-
recerá com poder e glória. Porá Seus pés na
Terra e será proclamado Rei e Senhor do
mundo inteiro.
Se sabemos de antemão que o Reino de
Deus prevalecerá, por que nos preocuparmos,
como estão as coisas, agora? Se num jogo de
futebol você já soubesse o resultado previa-
mente, você se preocuparia com o desenrolar
da partida? O que importa é como vai termi-
nar, não as variações do jogo. Em um con-
fronto futebolístico não podemos saber ante-
cipadamente o resultado final, mas, em con-
trapartida, podemos conhecer o resultado do
curso da História. Deus o revelou em Sua Pa-
lavra: "O reino do mundo se tornou de nosso
Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo
o sempre."
Cristo O Vencedor, O Invicto, O Triunfante,
é quem reinará e governará sobre toda a Ter-
ra. Sua vinda está próxima. Mas antes que Ele
223

volte, Seu Reino vai estender-se com poder e


glória. Ele virá buscar Sua Igreja, a que está se
preparando para ser santa, sem mácula, para
Sua glória. Ele virá. E os que morrerem com
Cristo, quando Ele aparecer, ressuscitarão
primeiro e todos os que estiverem na Terra,
em um abrir e fechar de olhos serão levados
para junto d'Ele. E assim, estabelecer-se-á Seu
Reino aqui na Terra.
O último evento de que a Bíblia fala é o es-
tabelecimento de um grande trono branco e
alguém sentado nele. 141 Nesse dia final,
quando o Filho do homem se sentar em Seu
trono branco, no tribunal do juízo, os livros se
abrirão. Todos os mortos ressuscitarão. A
morte e o Hades entregarão seus mortos e
todos comparecerão diante d'Aquele cujo
nome está sobre todos os nomes.
À Sua esquerda haverá uma multidão in-
contável de milhões e milhões, vestidos com
farrapos e com o rosto marcado, esconden-
do-se do esplendor da glória do que está sen-
tado no trono. Eles clamarão aos montes:
"Caiam sobre nós e cubram-nos". Serão tantos
que se perderão de vista. Serão os que aqui na
Terra não reconheceram Jesus Cristo como
Senhor.
224

À Sua direita, outra multidão, vestida com


roupas brancas e coroas em suas cabeças. A
luz e a glória do que está sentado no trono os
cobrirá.
Diante do trono estarão também todos os
anjos e arcanjos. E do outro lado, todos os
demônios, desde Satanás até seu servidor
mais insignificante; todos presentes! Nesse
dia final, todos se ajoelharão. Todos se incli-
narão frente ao Senhor. Os da esquerda e os
da direita, os anjos e os demônios. Até Sata-
nás! Filipenses 2 afirma que todos o farão, os
que estão nos Céus, na Terra, e debaixo da
Terra. E todo o Universo, como um gigantesco
coro confessará que JESUS CRISTO É O SE-
NHOR.
Você e eu também vamos estar frente a es-
se trono. Mas, de que lado? À esquerda, ou à
direita? Todos dirão "Cristo é o Senhor", mas
eu direi algo mais: "Jesus Cristo é MEU Se-
nhor." Os que aceitarem Cristo como seu Se-
nhor aqui na Terra e O reconhecerem em suas
vidas, estarão à direita. Somente haverá ali
dois tipos de pessoas: os que viveram como o
Rei manda e os que viveram como eles quise-
ram. Onde você estará?
225

Nesse dia, todos os da esquerda, junto com


Satanás e todos os seus demônios, serão lan-
çados ao lago de fogo e enxofre que é a se-
gunda morte, por toda eternidade. Os da di-
reita, junto com todos os anjos, escutarão o
chamado: "Então o Rei dirá aos que estiverem
à sua direita: 'Venham, benditos de meu Pai!
Recebam como herança o Reino que lhes foi
preparado desde a criação do mundo'" (Mt
25.34).
Cristo, o Senhor, arrancará esta página da
história dos séculos... "Então virá o fim, quan-
do ele entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de
Ter destruído todo domínio, autoridade e po-
der" (1Co 15.24).
E começará uma nova era. É a esperança de
glória que temos! Então, começará a história
da glória plena de Deus, junto com os Seus
escolhidos. E reinaremos com Ele pelos sécu-
los dos séculos.
"Nome sobre todo nome é o nome de meu
Cristo; diante de tão glorioso nome todos se
prostrarão
Todas as forças da escuridão, a humanidade
de todo o mundo todos os céus e suas potes-
tades todos se prostrarão.
226

Nossos olhos O contemplam, nosso coração O


adora, nossa língua hoje proclama: JESUS
CRISTO É O SENHOR!"
(Cântico tradicional em alguns
países da América Latina)

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