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Apresentação do Caso
Paciente do sexo masculino, 26 anos, noivo, sem filhos, funcionário do serviço de entrega
de uma farmácia. O paciente relatava retraimento social desde a infância, referindo
lembranças de isolamento em sala de aula, incômodo em se alimentar na frente de colegas
e dificuldade em iniciar contato social. Em situações nas quais se sentia observado por uma
ou mais pessoas, foi sendo progressivamente acometido por tique motor caracterizado pela
contração da musculatura da face. Nestas situações, procurava esconder parte do rosto
com as mãos e encerrar contato social para sair do local. Em uma ocasião, o tique foi
notado por um colega, o que aumentou ainda mais sua esquiva à conversa com pessoas
não íntimas. Aos 14 anos de idade, em evento escolar no qual os alunos se reuniam no
pátio para cantar o Hino Nacional, o paciente foi acometido por aumento súbito de
ansiedade frente à ideia de que estava sendo observado e de crítica alheia, o que o levou a
sudorese, vertigem, com posterior queda ao solo. Após este evento, o paciente passou a
apresentar uma série de desmaios em situações de exposição a aglomerações de pessoas
nas quais poderia ser alvo de atenção, como na igreja e na escrita à lousa na escola. Há
oito anos descontinuou os estudos, pois na ocasião de uma atividade escolar na qual cada
aluno deveria se apresentar, abandonou a sala antes de sua apresentação por temor de
desmaio. Como resultado de tudo isso, passou a evitar situações em que poderia ser
observado, como frequentar restaurantes, lojas ou igreja e iniciou o uso de óculos escuros
temendo acometimento de tiques. Procurou uma série de neurologistas para investigação
dos desmaios, sendo encaminhado para psiquiatra que o diagnosticou como tendo
Transtorno de Ansiedade Social (TAS) do tipo generalizado, segundo os critérios do DSM-IV
(APA, 1994). O paciente foi encaminhado para terapia após três anos de seguimento clínico
e baixa resposta do tique e da ansiedade social ao tratamento medicamentoso.
Apresentava-se há dois anos sem desmaios, mas possuía uma série de prejuízos
funcionais inerentes ao TAS: trabalhava como entregador de farmácia somente com óculos
escuros e não fazia contato visual com clientes, não se alimentava junto com colegas e
tinha grande dificuldade em usar o telefone da empresa, não usava o banheiro público, não
entrava em lojas com vendedor, possuía grande sofrimento em se expor a ambientes em
que podia ser observado, e se dizia incapaz de entrar na igreja frente à vigência de seu
casamento, que ocorreria após dois meses da primeira sessão terapêutica.
ATIVIDADE:
1 - Elabore uma análise funcional do caso, identificando:
a) a queixa / comportamento(s) alvo(s); - O Paciente tem dificuldade em estabelecer
contato social, entra em estado de ansiedade quando percebe-se julgado e observado por
terceiros. Ele é acometido de tique motor e até mesmo desmaios quando se encontra em
situações de exposição a aglomerações de pessoas nas quais ele poderia ser alvo de
atenção. Ele procura terapia pois vai se casar e precisa enfrentar a situação de entrar na
igreja.
Perguntas:
1) Me fale sobre os seus pais? Eles tinham uma vida social?
2) Você tem irmãos?
3) Você se sentiu muito exigido quando criança?
4) Você se lembra qual foi a primeira vez que se sentiu incomodado nestas situações que
você se sentia exposto?
Tourinho (2006) propõe um tipo de análise para os fenômenos emocionais que tenta dar
conta de sua complexidade variável ao longo de um continuum, considerando relações
produzidas no nível filogenético, ontogenético e cultural. A noção de um continuum de
complexidade afirma que os fenômenos comportamentais podem ser interpretados de acordo
com o grau de complexidade em que se apresentam as diversificadas relações envolvidas.
Deste ponto de vista, fenômenos dos quais participam apenas relações de origem filogenética
apresentar-se-iam como menos complexos do que aqueles dos quais participam também
relações produzidas pelo condicionamento respondente e operante; estes, por seu turno, seriam
menos complexos ainda do que aquelas dos quais participam adicionalmente relações que têm
origem em um nível cultural. Entendendo sob este enfoque, a ansiedade poderia apresentar-se
sob a forma de um evento de maior ou menor complexidade dependendo dos tipos de relações
envolvidas.
Quando se trata dos tipos de intervenção pode-se perceber que elas enfatizam aspectos
diferentes dessas relações. Algumas intervenções enfatizam aspectos relacionados à condição
corporal, visando principalmente uma redução nos sintomas fisiológicos, a fim de garantir uma
diminuição da ansiedade. Outras propostas de intervenção são realizadas enfocando as
relações operantes não verbais envolvidas na definição de ansiedade. São intervenções
realizadas objetivando, principalmente, modificações ambientais e/ou comportamentais
relacionadas com a contingência aversiva. Por último, há as intervenções que visam também
uma modificação nas relações operantes verbais envolvidas na ansiedade. Neste caso, as
intervenções têm como objetivo principal alterar a função dos eventos verbais como eliciadores
da condição corporal característica de ansiedade.
À luz do modelo proposto por Tourinho (2006), pode-se interpretar esses diferentes tipos
de intervenção como possibilidades de alcance da terapia analítico-comportamental. Dessa
maneira, se entendemos a ansiedade como um fenômeno comportamental com diferentes
níveis de complexidade, as intervenções propostas deveriam visar as diferentes relações que se
apresentam na definição do fenômeno. Nesse sentido, não se trata de afirmar que uma
intervenção é mais eficaz do que outra, mas sim de elucidar que se deve intervir sobre as
relações que estão envolvidas, sendo elas dos níveis filogenético, ontogenético ou cultural.
No caso em questão é preciso ressaltar que o paciente tem um prazo de dois meses
para desenvolver junto com seu terapeuta um novo repertório comportamental e como
resultado conseguir superar a queixa. Desta maneira o trabalho do terapeuta deve ser
focado na modelagem do novo repertório de resposta diante da contingência aversiva. Para
isso a intervenção deve ser em reduzir os sintomas fisiológicos que são eliciados pelo
evento pré-aversivo, este trabalho irá permitir o enfrentamento do evento aversivo ao
mesmo tempo evitando o comportamento de esquiva experiencial diante de uma
necessidade de experienciar evento público/interação social .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Skinner, B. F. (1965). Science and human behavior. New York: Free Press. (Original
publicado em 1953)
https://www.scielo.br/j/prc/a/MrqdGPVCrQG7SQzZXDCWbCg/?lang=pt acessado em
2/10 as 11hs